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12 JORNAL DA UNICAMP Campinas, 11 a 17 de agosto de 2008 pesquisa, com a incorporação dos alu- nos de pós-graduação, vem contribuir para enriquecer um acervo ainda incipiente sobre produção e audição de música brasileira”, afirma Zan. De fato, causou surpresa à própria Rita Morelli que seus dois livros, ape- sar do viés antropológico, fossem re- comendados aos alunos e frequente- mente citados em trabalhos do Depar- tamento de Música. Ela é autora de In- dústria fonográfica: um estudo antro- pológico (Editora da Unicamp, 1991) e de Arrogantes, anônimos, subversi- vos: interpretando o acordo e a discór- dia na tradição autoral brasileira (Mer- cado de Letras, 2000), frutos de suas pesquisas de mestrado e doutorado. Segundo José Roberto Zan, ao mes- mo tempo em que a abordagem antro- pológica desperta grande interesse para os pesquisadores da área de música, seu grupo pode retribuir com um item a mais, que é a análise da linguagem musical. “Também estamos preocupados com as- pectos rítmicos, melódicos e harmôni- cos muitas vezes associados com o pró- prio desenvolvimento da técnica”. Zan observa que a televisão pro- moveu uma grande inovação na rela- ção entre produção e linguagem, fa- zendo com que o intérprete passou a também encenar a canção. “Nos pri- meiros momentos da TV no país, no- tamos os cantores estáticos, controlan- do a distância do microfone, o que era prioridade no rádio. O lado cênico é desenvolvido a partir da década de 60, tendo Elis Regina e Wilson Simonal como precursores”. Neste trabalho, o professor destaca a atuação do dançarino americano Lennie Dale, que se integrou ao grupo da bossa nova organizando a montagem de musicais. “Ele trouxe sua experiên- cia na Broadway para orientar a postu- ra e a gestualidade dos artistas, que se escondiam atrás do piano e do violão. Depois de Elis e Simonal, veio o gestual da Jovem Guarda e em seguida o tropicalismo, que radicalizou: ‘Divino Maravilhoso’, na Tupi, era teatral”. Orquestras de TV As orquestras, por sua vez, levaram habilidades desenvolvidas em função das necessidades no rádio para a tele- visão. José Roberto Zan lembra que arranjadores da Rádio Nacional iam ao cinema para tirar de ouvido os arran- jos de filmes musicais. “Anotavam so- bre o joelho e depois montavam as gra- des para a orquestra tocar. Numa épo- ca em que as trilhas sequer chegavam ao mercado, elas iam ao ar pela Nacio- nal logo após o lançamento do filme. Era um sucesso tremendo”. O professor Rafael dos Santos, que é pianista, observa que o projeto en- volvendo os grupos do IFCH e do IA permitirá investigar inúmeros procedi- mentos musicais das orquestras que nunca foram registrados. “Cyro Perei- ra, último maestro da famosa Orques- tra da Record, conta que arranjos eram escritos no decorrer do próprio progra- ma. De repente, ele tinha de mudar o andamento da orquestra para que se fizesse uma propaganda, entrando de- pois com uma nova música”. De acordo com Rafael dos Santos, com a extinção da orquestra que acom- panhava os festivais, Cyro Pereira foi obrigado a produzir jingles em estúdi- os, mas não suportou mais que três anos. “Para ele, era muito frustrante ficar cri- ando pequenas e repetitivas frases mu- sicais. Em suas palavras, foi salvo com a criação da Sinfônica de Campinas e o convite de Benito Juarez para que vies- se fazer os arranjos. Cyro, que também foi professor do IA, certamente terá muitas informações a nos oferecer”. A docente do IFCH ressalta, ainda, o trabalho da profes- sora Liliana Segnini, da Faculdade de Educação, que coor- denou um grande projeto de pesquisa sobre as relações de trabalho no campo da cultura, incluindo músicos e bailari- nos. Cássia Navas, professora do IA que participa da segun- da mesa, é especialista em gestão e políticas da cultura e, entre outras atividades, atua como consultora da Secretaria do Estado da Cultura. Os três documentários que abrem o seminário são da antropóloga Rose Satiko Hikiji. “Pulso”, de 2006, mostra a violonista Alessandra Raimundo, que por cinco anos foi spalla da orquestra do Projeto Guri. Em “Prelúdio”, de 2003, jovens estudantes de música falam dos sentidos deste apren- dizado em suas vidas. E “Microfone, senhora”, também de 2003, traz internos da Febem que, participando da gravação de um CD de rap, apropriam-se do microfone, atuando ora como repórter, ora como entrevistado. Os próximos A música na TV é o tema já escolhido para o seminário de setembro, que tem como prováveis participantes Fátima Pacheco Jordão, Fernando Faro e Júlio Medaglia, todos da TV Cultura, que acaba de incluir muitos programas musi- cais na grade; e, para lembrar os tempos da Record, Adilson Godoy, Solano Ribeiro, Walter Silva e Zuza Homem de Mello. O encontro de outubro vai tratar de experiências de van- guardas musicais, reunindo compositores como Arrigo Barnabé e Gilberto Mendes. Para novembro, está confirma- da a presença do antropólogo americano Anthony Seeger para falar sobre etnomusicologia, acompanhado dos brasi- leiros Samuel Araujo e Carlos Sandroni; ainda são sonda- dos Ney Lopes e Kabenguele Monanga, estudiosos das cul- turas musicais africanas. Um instante, maestro Outra atividade importante dos grupos de pesquisa “Mídia, música e contemporaneidade”, do IFCH, e “Músi- ca Popular, história, produção e linguagens, do IA, será a organização de seminários mensais. O primeiro, “Arte, cul- tura e políticas públicas”, terá duas mesas-redondas sobre este tema, às 14 horas dos dias 18 e 19 de agosto, no audi- tório do IFCH. No dia de abertura, às 12h30, serão exibi- dos os documentários “Microfone, senhora”, “Prelúdio” e “Pulso”. “Este seminário de agosto traz convidados com experi- ência suficiente para oferecer avaliações de perspectivas diferentes sobre o impacto da política cultura brasileira, hoje, nas várias modalidades do campo artístico”, informa o professor José Roberto Zan, coordenador do grupo de pesquisa do IA. Da primeira mesa-redonda participam os professores Antonio Albino Canelas Rubim (UFBA) e Rose Satiko Gitirana Hikigi (USP), e Liliana Rolfsen Petrilli Segnini (Unicamp) como debatedora e Rita de Cássia Lahoz Morelli (Unicamp) como coordenadora. A mesa do dia 19 será for- mada pelos professores Cassia Navas Alves de Castro (Uni- camp) e Célio Roberto Turino de Miranda (MinC), tendo como debatedores os docentes da Unicamp Antonio Augusto Arantes Neto e José Roberto Zan (coordenador). A professora Rita Morelli observa que a discussão da política cultural torna-se mais interessante com as presen- ças de Célio Turino e Antonio Arantes, que foram secretá- rios de Cultura de Campinas, e de Albino Rubim, professor da UFBA e presidente do Conselho de Cultura do Estado da Bahia. “Arantes criou os pontos de cultura na cidade, projeto que Turino ampliou e adotou ao ir para o MinC e que está sendo inclusive exportado. Quanto a Rubim, é au- tor de um livro bastante adotado em que faz um histórico das políticas públicas para a cultura no Brasil”. 1º seminário trata de arte, cultura e políticas públicas maestro M LUIZ SUGIMOTO [email protected] úsicos e músicas na televisão pio- neira”, mais pre- cisamente no pe- ríodo de 1954 a 1969, é o tema de um primeiro projeto que está unindo dois grupos de pesquisa da Unicamp: “Mídia, música e contemporaneidade”, do Instituto de Filosofia e Ciências Hu- manas (IFCH), e “Música popular, his- tória, produção e linguagens”, do Ins- tituto de Artes (IA). O projeto enviado ao CNPq e à Fapesp é de responsabili- dade da professora Rita de Cássia Lahoz Morelli, coordenadora do grupo do IFCH. Entretanto, servirá como embrião de um projeto temático, em parceria com o IA, visando amenizar a escassez de informações sobre produção e con- sumo de música popular no Brasil. Rita Morelli, do Departamento de Antropologia, idealizou esta primeira pesquisa inspirada no relatório “Audi- ência da TV brasileira”, produzido pelo Centro de Pesquisa de Opinião Públi- ca (Cesop), onde ela é pesquisadora. São três volumes contendo dados sis- tematizados de audiência em São Pau- lo e no Rio de Janeiro, além da listagem dos programas exibidos desde 1954 até os anos 80, compilados do acervo que o Ibope doou ao Arquivo Edgard Leuenroth (AEL). “Fiquei encantada com o trabalho do Cesop, que ainda cuidou de classi- ficar os tipos de programas, chaman- do minha atenção para a enorme quan- tidade de musicais na televisão pionei- ra. Percebe-se que havia tanto música erudita como popular, mas a maior par- te dos títulos não permite a identifica- ção de gêneros. Um objetivo da nossa pesquisa é justamente de refinar a clas- sificação”, explica a docente. Rita Morelli justifica a escolha do período de 1954 a 1969 por ser do interregno democrático, do fim do Es- tado Novo até 1964 e os primeiros anos do regime ditatorial militar. “Como a literatura acusa certo refluxo da inter- venção do Estado na área cultural, será interessante investigar o investimento que a televisão fez na música: se a pro- gramação era mais erudita ou popular e se surgia uma hierarquia entre os gê- neros populares; ou quais identidades – regionais, étnicas, etárias – foram produzidas em torno desses gêneros”. A professora informa que, além das listagens, o projeto vai recorrer a fon- tes vivas, como profissionais pionei- ros que hoje militam na Associação Pró-TV, criada pela atriz Vida Alves com o propósito de viabilizar o Museu da Televisão Brasileira – cuja inaugu- ração acaba de ser cancelada por desa- venças entre as emissoras. “Já obtive os contatos de vários músicos da épo- ca, como de George Henri, o primeiro maestro de orquestra de TV, no pro- grama ‘Antarctica no Mundo dos Sons’, que foi ao ar em 1954". O testemunho dos pioneiros, acres- centa a pesquisadora, será fundamen- tal também para verificar o vínculo tra- balhista entre músicos e emissoras. “Poderemos avaliar o impacto da tele- visão no mercado de trabalho e tam- bém em termos de direito autoral. A Sicam [Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais], primeira entidade paulistana, ganhou força com a adesão dos músicos dos festivais da Record. E, em 1978, Elis Regina criou a Assim [Associação de Intérpretes e Músicos]”. Acervo pobre Foi no final de 2006 que Rita Morelli, carregando os volumes do Cesop, propôs utilizá-los como roteiro de um projeto conjunto a José Roberto Zan, então diretor do IA e que ali criou o grupo de pesquisa em música popu- lar com o professor Rafael dos Santos. “A junção de duas grandes linhas de Um instante, Os professores José Roberto Zan, Rita Morelli e Rafael dos Santos: embrião de projeto temático O maestro Cyro Pereira: arranjos escritos durante os programas; Elis Regina: novo gestual na televisão

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12 JORNAL DA UNICAMP Campinas, 11 a 17 de agosto de 2008

pesquisa, com a incorporação dos alu-nos de pós-graduação, vem contribuirpara enriquecer um acervo aindaincipiente sobre produção e audição demúsica brasileira”, afirma Zan.

De fato, causou surpresa à própriaRita Morelli que seus dois livros, ape-sar do viés antropológico, fossem re-comendados aos alunos e frequente-mente citados em trabalhos do Depar-tamento de Música. Ela é autora de In-dústria fonográfica: um estudo antro-pológico (Editora da Unicamp, 1991)e de Arrogantes, anônimos, subversi-vos: interpretando o acordo e a discór-dia na tradição autoral brasileira (Mer-cado de Letras, 2000), frutos de suaspesquisas de mestrado e doutorado.

Segundo José Roberto Zan, ao mes-mo tempo em que a abordagem antro-pológica desperta grande interesse paraos pesquisadores da área de música, seugrupo pode retribuir com um item a mais,que é a análise da linguagem musical.“Também estamos preocupados com as-pectos rítmicos, melódicos e harmôni-cos muitas vezes associados com o pró-prio desenvolvimento da técnica”.

Zan observa que a televisão pro-moveu uma grande inovação na rela-ção entre produção e linguagem, fa-zendo com que o intérprete passou atambém encenar a canção. “Nos pri-meiros momentos da TV no país, no-tamos os cantores estáticos, controlan-do a distância do microfone, o que eraprioridade no rádio. O lado cênico édesenvolvido a partir da década de 60,tendo Elis Regina e Wilson Simonalcomo precursores”.

Neste trabalho, o professor destacaa atuação do dançarino americanoLennie Dale, que se integrou ao grupoda bossa nova organizando a montagemde musicais. “Ele trouxe sua experiên-cia na Broadway para orientar a postu-ra e a gestualidade dos artistas, que seescondiam atrás do piano e do violão.Depois de Elis e Simonal, veio o gestualda Jovem Guarda e em seguida otropicalismo, que radicalizou: ‘DivinoMaravilhoso’, na Tupi, era teatral”.

Orquestras de TVAs orquestras, por sua vez, levaram

habilidades desenvolvidas em funçãodas necessidades no rádio para a tele-visão. José Roberto Zan lembra quearranjadores da Rádio Nacional iam aocinema para tirar de ouvido os arran-jos de filmes musicais. “Anotavam so-bre o joelho e depois montavam as gra-des para a orquestra tocar. Numa épo-ca em que as trilhas sequer chegavamao mercado, elas iam ao ar pela Nacio-nal logo após o lançamento do filme.Era um sucesso tremendo”.

O professor Rafael dos Santos, queé pianista, observa que o projeto en-volvendo os grupos do IFCH e do IApermitirá investigar inúmeros procedi-mentos musicais das orquestras quenunca foram registrados. “Cyro Perei-ra, último maestro da famosa Orques-tra da Record, conta que arranjos eramescritos no decorrer do próprio progra-ma. De repente, ele tinha de mudar oandamento da orquestra para que sefizesse uma propaganda, entrando de-pois com uma nova música”.

De acordo com Rafael dos Santos,com a extinção da orquestra que acom-panhava os festivais, Cyro Pereira foiobrigado a produzir jingles em estúdi-os, mas não suportou mais que três anos.“Para ele, era muito frustrante ficar cri-ando pequenas e repetitivas frases mu-sicais. Em suas palavras, foi salvo coma criação da Sinfônica de Campinas e oconvite de Benito Juarez para que vies-se fazer os arranjos. Cyro, que tambémfoi professor do IA, certamente terámuitas informações a nos oferecer”.

A docente do IFCH ressalta, ainda, o trabalho da profes-sora Liliana Segnini, da Faculdade de Educação, que coor-denou um grande projeto de pesquisa sobre as relações detrabalho no campo da cultura, incluindo músicos e bailari-nos. Cássia Navas, professora do IA que participa da segun-da mesa, é especialista em gestão e políticas da cultura e,entre outras atividades, atua como consultora da Secretariado Estado da Cultura.

Os três documentários que abrem o seminário são daantropóloga Rose Satiko Hikiji. “Pulso”, de 2006, mostra aviolonista Alessandra Raimundo, que por cinco anos foispalla da orquestra do Projeto Guri. Em “Prelúdio”, de 2003,jovens estudantes de música falam dos sentidos deste apren-dizado em suas vidas. E “Microfone, senhora”, também de2003, traz internos da Febem que, participando da gravaçãode um CD de rap, apropriam-se do microfone, atuando oracomo repórter, ora como entrevistado.

Os próximosA música na TV é o tema já escolhido para o seminário

de setembro, que tem como prováveis participantes FátimaPacheco Jordão, Fernando Faro e Júlio Medaglia, todos daTV Cultura, que acaba de incluir muitos programas musi-cais na grade; e, para lembrar os tempos da Record, AdilsonGodoy, Solano Ribeiro, Walter Silva e Zuza Homem deMello.

O encontro de outubro vai tratar de experiências de van-guardas musicais, reunindo compositores como ArrigoBarnabé e Gilberto Mendes. Para novembro, está confirma-da a presença do antropólogo americano Anthony Seegerpara falar sobre etnomusicologia, acompanhado dos brasi-leiros Samuel Araujo e Carlos Sandroni; ainda são sonda-dos Ney Lopes e Kabenguele Monanga, estudiosos das cul-turas musicais africanas.

Um instante,maestro

Outra atividade importante dos grupos de pesquisa“Mídia, música e contemporaneidade”, do IFCH, e “Músi-ca Popular, história, produção e linguagens, do IA, será aorganização de seminários mensais. O primeiro, “Arte, cul-tura e políticas públicas”, terá duas mesas-redondas sobreeste tema, às 14 horas dos dias 18 e 19 de agosto, no audi-tório do IFCH. No dia de abertura, às 12h30, serão exibi-dos os documentários “Microfone, senhora”, “Prelúdio” e“Pulso”.

“Este seminário de agosto traz convidados com experi-ência suficiente para oferecer avaliações de perspectivasdiferentes sobre o impacto da política cultura brasileira,hoje, nas várias modalidades do campo artístico”, informao professor José Roberto Zan, coordenador do grupo depesquisa do IA.

Da primeira mesa-redonda participam os professoresAntonio Albino Canelas Rubim (UFBA) e Rose SatikoGitirana Hikigi (USP), e Liliana Rolfsen Petrilli Segnini(Unicamp) como debatedora e Rita de Cássia Lahoz Morelli(Unicamp) como coordenadora. A mesa do dia 19 será for-mada pelos professores Cassia Navas Alves de Castro (Uni-camp) e Célio Roberto Turino de Miranda (MinC), tendocomo debatedores os docentes da Unicamp Antonio AugustoArantes Neto e José Roberto Zan (coordenador).

A professora Rita Morelli observa que a discussão dapolítica cultural torna-se mais interessante com as presen-ças de Célio Turino e Antonio Arantes, que foram secretá-rios de Cultura de Campinas, e de Albino Rubim, professorda UFBA e presidente do Conselho de Cultura do Estadoda Bahia. “Arantes criou os pontos de cultura na cidade,projeto que Turino ampliou e adotou ao ir para o MinC eque está sendo inclusive exportado. Quanto a Rubim, é au-tor de um livro bastante adotado em que faz um históricodas políticas públicas para a cultura no Brasil”.

1º seminário trata de arte, cultura e políticas públicas

maestro“M

LUIZ SUGIMOTO

[email protected]

úsicos e músicasna televisão pio-neira”, mais pre-cisamente no pe-ríodo de 1954 a1969, é o tema de

um primeiro projeto que está unindodois grupos de pesquisa da Unicamp:“Mídia, música e contemporaneidade”,do Instituto de Filosofia e Ciências Hu-manas (IFCH), e “Música popular, his-tória, produção e linguagens”, do Ins-tituto de Artes (IA). O projeto enviadoao CNPq e à Fapesp é de responsabili-dade da professora Rita de Cássia LahozMorelli, coordenadora do grupo doIFCH. Entretanto, servirá como embriãode um projeto temático, em parceriacom o IA, visando amenizar a escassezde informações sobre produção e con-sumo de música popular no Brasil.

Rita Morelli, do Departamento deAntropologia, idealizou esta primeirapesquisa inspirada no relatório “Audi-ência da TV brasileira”, produzido peloCentro de Pesquisa de Opinião Públi-ca (Cesop), onde ela é pesquisadora.São três volumes contendo dados sis-tematizados de audiência em São Pau-lo e no Rio de Janeiro, além da listagemdos programas exibidos desde 1954 atéos anos 80, compilados do acervo queo Ibope doou ao Arquivo EdgardLeuenroth (AEL).

“Fiquei encantada com o trabalhodo Cesop, que ainda cuidou de classi-ficar os tipos de programas, chaman-do minha atenção para a enorme quan-tidade de musicais na televisão pionei-ra. Percebe-se que havia tanto músicaerudita como popular, mas a maior par-te dos títulos não permite a identifica-ção de gêneros. Um objetivo da nossapesquisa é justamente de refinar a clas-sificação”, explica a docente.

Rita Morelli justifica a escolha doperíodo de 1954 a 1969 por ser dointerregno democrático, do fim do Es-tado Novo até 1964 e os primeiros anosdo regime ditatorial militar. “Como aliteratura acusa certo refluxo da inter-venção do Estado na área cultural, seráinteressante investigar o investimentoque a televisão fez na música: se a pro-gramação era mais erudita ou populare se surgia uma hierarquia entre os gê-neros populares; ou quais identidades– regionais, étnicas, etárias – foramproduzidas em torno desses gêneros”.

A professora informa que, além daslistagens, o projeto vai recorrer a fon-tes vivas, como profissionais pionei-ros que hoje militam na AssociaçãoPró-TV, criada pela atriz Vida Alvescom o propósito de viabilizar o Museuda Televisão Brasileira – cuja inaugu-ração acaba de ser cancelada por desa-venças entre as emissoras. “Já obtiveos contatos de vários músicos da épo-ca, como de George Henri, o primeiromaestro de orquestra de TV, no pro-grama ‘Antarctica no Mundo dosSons’, que foi ao ar em 1954".

O testemunho dos pioneiros, acres-centa a pesquisadora, será fundamen-tal também para verificar o vínculo tra-balhista entre músicos e emissoras.“Poderemos avaliar o impacto da tele-visão no mercado de trabalho e tam-bém em termos de direito autoral. ASicam [Sociedade Independente deCompositores e Autores Musicais],primeira entidade paulistana, ganhouforça com a adesão dos músicos dosfestivais da Record. E, em 1978, ElisRegina criou a Assim [Associação deIntérpretes e Músicos]”.

Acervo pobreFoi no final de 2006 que Rita

Morelli, carregando os volumes doCesop, propôs utilizá-los como roteirode um projeto conjunto a José RobertoZan, então diretor do IA e que ali criouo grupo de pesquisa em música popu-lar com o professor Rafael dos Santos.“A junção de duas grandes linhas de

Um instante,Os professores José Roberto Zan, Rita Morelli eRafael dos Santos: embrião de projeto temático

O maestroCyro Pereira:arranjosescritosdurante osprogramas;Elis Regina:novo gestualna televisão