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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ALINA ANTUNES DA CUNHA O GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM NO SEGMENTO MUSICAL NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS: ESTUDO DOS CASOS WILSON SIMONAL E MICHAEL JACKSON Porto Alegre 2014

O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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Page 1: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ALINA ANTUNES DA CUNHA

O GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM NO SEGMENTO MUSICAL NO

BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS:

ESTUDO DOS CASOS WILSON SIMONAL E MICHAEL JACKSON

Porto Alegre

2014

Page 2: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

ALINA ANTUNES DA CUNHA

O GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM NO SEGMENTO MUSICAL NO

BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS:

ESTUDO DOS CASOS WILSON SIMONAL E MICHAEL JACKSON

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Prof. Me. Glafira Furtado

Porto Alegre

2014

Page 3: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

ALINA CUNHA

O GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM NO SEGMENTO MUSICAL NO

BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS:

ESTUDO DOS CASOS WILSON SIMONAL E MICHAEL JACKSON

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Aprovada em _____ de ___________________ de ________.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Me. Glafira Furtado

__________________________________

__________________________________

__________________________________

Porto Alegre

2014

Page 4: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

Dedico esta monografia aos

profissionais de relações públicas que

trabalham diariamente buscando

ultrapassar barreiras e atuar nos mais

improváveis ambientes.

Page 5: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora, Prof. Me. Glafira Furtado, pela confiança no

meu trabalho e pelo contínuo incentivo. Agradeço por sua parceria e amizade, por

seu grande envolvimento nesta monografia e por estar sempre disponível a me

ajudar.

Agradeço ao Max de Castro, filho de Simonal, e ao Lua Lafaiette, que me

colocou em contato com ele. A entrevista foi essencial para a singularidade deste

trabalho e sou muito grata por ter tido esta oportunidade e pela disposição do Max

de Castro em colaborar com este estudo.

Gostaria de agradecer também à minha família, que me aguentou reclamando

diariamente da minha falta de tempo. Mais especificamente: ao meu pai pela ideia

de estudar Wilson Simonal, artista que fiquei muito feliz em poder conhecer melhor e

que com certeza colaborou para o meu conhecimento musical e cultural; à minha

mãe, que sempre incentivou os meus estudos; e às minhas irmãs, que aguentaram

as minhas reclamações não só dentro de casa, mas também enquanto

trabalhávamos!

Agradeço também a todos os integrantes da minha banda pela compreensão

quando eu precisei trabalhar na minha monografia e até me ausentar em alguns

momentos e por me ouvirem, empolgada, contando a história de cada um dos

cantores que estudei enquanto lia suas biografias. Em especial ao meu namorado,

que, além disso, também foi muito compreensivo com o meu tempo limitado e que

se envolveu diretamente no meu estudo, pesquisando e conversando comigo sobre

os assuntos.

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Why are they never satisfied with

all you give?

You give them your all

They‟re watching you fall

And they eat your soul like a

vegetable

Michael Jackson (Monster)

Page 7: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo analisar a contribuição das Relações

Públicas no gerenciamento de crise de imagem no segmento musical por meio do

estudo de dois casos: no Brasil, Wilson Simonal e nos Estados Unidos, Michael

Jackson. Ele também busca fazer uma breve comparação entre o desenvolvimento

das Relações Públicas nos dois países. Para isto, mostra-se adequado um resgate

dos conceitos básicos de identidade, imagem, reputação e opinião pública, assim

como a apresentação de conteúdos relacionados ao gerenciamento de crise de

imagem, gestão de marca pessoal, assessoria de imprensa, media training e

celebridades. O trabalho aponta alguns aspectos de cunho biográfico a respeito dos

cantores estudados e aponta as diferenças e semelhanças entre as duas crises de

imagem. São apresentadas, então, sugestões exemplificando a contribuição que as

Relações Públicas poderiam fazer em ambos os casos, levando em consideração o

contexto de cada um. Percebe-se uma grande discrepância entre as duas culturas

frente ao gerenciamento de crise de imagem no segmento musical e uma

oportunidade de crescimento, no Brasil, para as Relações Públicas nesta área.

Palavras-chave: Relações Públicas. Crise de imagem. Gerenciamento de crise.

Michael Jackson. Wilson Simonal.

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ABSTRACT

The aim of this study is to analyze the contribution of the Public Relations in

the crisis management in the music business by studying two cases: in Brazil, Wilson

Simonal and in the United States, Michael Jackson. It also intends to make a brief

comparison of the development of Public Relations in both countries. For that, it is

adequate to review the basic concepts of identity, image, reputation and public

opinion, as well as presenting contents related to crisis management, personal

branding, press agency, media training and celebrities. This paper highlights some

biographical aspects concerning the singers that were studied and shows the

differences and similarities between the two crisis. Suggestions are, then, presented

exemplifying the contribution that the Public Relations could make in both cases,

considering their contexts. It is noticed a large discrepancy between the two cultures

when concerning the crisis management in the music business and also an evolution

opportunity, in Brazil, for the Public Relations in this field.

Palavras-chave: Public Relations. Crisis. Crisis management. Michael Jackson.

Wilson Simonal.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9

2 GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM E GESTÃO DE MARCA

PESSOAL ........................................................................................................ 12

2.1 IDENTIDADE, IMAGEM E REPUTAÇÃO ......................................................... 12

2.2 OPINIÃO PÚBLICA .......................................................................................... 15

2.3 GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM .................................................. 19

2.4 GESTÃO DE MARCA PESSOAL ..................................................................... 22

3 ASSESSORIA DE IMPRENSA, MÍDIA E CELEBRIDADE .............................. 28

3.1 ASSESSORIA DE IMPRENSA ......................................................................... 28

3.2 MEDIA TRAINING ............................................................................................ 35

3.3 MÍDIA E CELEBRIDADE .................................................................................. 39

4 WILSON SIMONAL, MICHAEL JACKSON E AS RELAÇÕES PÚBLICAS ... 44

4.1 WILSON SIMONAL .......................................................................................... 44

4.2 MICHAEL JACKSON........................................................................................ 53

4.3 A CONTRIBUIÇÃO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS NOS CASOS WILSON

SIMONAL E MICHAEL JACKSON ................................................................... 59

5 CONCLUSÃO .................................................................................................. 65

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 69

APÊNDICE A ................................................................................................... 75

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com a autora brasileira Kunsch (1997), a atividade de Relações

Públicas tem se tornado cada vez mais fundamental nas organizações modernas do

país, graças ao aumento da preocupação referente às relações sociais por parte

delas. Simões (2007, p. 17), também desta nacionalidade, explica as Relações

Públicas como uma “função organizacional, implicando, portanto em gestão, quer

seja da comunicação organizacional ou da relação de poder entre organização e

seus públicos”.

Por outro lado, o autor estadunidense Cameron (2014) descreve as Relações

Públicas como a prática de gerenciar o fluxo de informações entre um indivíduo ou

uma organização e seus públicos, com o objetivo de persuadi-los a possuir um certo

ponto de vista a respeito do assessorado.

A curiosidade em relação à existência de uma dissonância entre Brasil e

Estados Unidos em seu uso das atividades de Relações Públicas, especialmente

para o assessoramento de pessoas, levou a autora a escolher este tema. Devido à

sua proximidade com o segmento musical e ao seu interesse na área de gestão de

crises, ela escolheu estudar especificamente o gerenciamento de crise de imagem

no segmento musical.

Por meio deste trabalho, busca-se: Analisar a interferência do trabalho de

Relações Públicas na construção da imagem pessoal; Analisar o processo de

gerenciamento de crise de imagem a partir de Forni (2013) e Dornelles (2012);

Compreender o trabalho de media training a partir de Lucas (2007), Assad e

Passadori (2009) e Barbeiro (2011); Analisar o processo de gerenciamento de

imagem de Wilson Simonal e Michael Jackson; Comparar Wilson Simonal e Michael

Jackson frente à mídia em momentos de crise.

Para ser possível realizar-se uma comparação, entre nações, relativa ao tema

a ser pesquisado, selecionou-se um caso polêmico ocorrido com um músico do

Brasil e um, com um músico dos Estados Unidos. Os artistas escolhidos foram

Michael Jackson, estadunidense com acusações de pedofilia, e Wilson Simonal,

brasileiro considerado apoiador da ditadura em um momento delicado na política

nacional.

Ainda que seja difícil fazer uma relação entre os casos, dada a diferença do

desenvolvimento das Relações Públicas nos dois países nas épocas estudadas e o

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momento singular em que ocorreu o caso brasileiro (durante o governo militar),

acredita-se que há algumas semelhanças relevantes entre as duas crises, a serem

analisadas neste trabalho, que acabam colaborando para o estudo.

Realizou-se uma entrevista despadronizada com Max de Castro, filho de

Wilson Simonal, no dia 17 de novembro de 2014, com duração aproximada de uma

hora e 30 minutos. Buscou-se obter a visão do cantor a respeito do caso ocorrido

com seu pai, visto seu envolvimento direto com o assunto e, também, o fato de ele

estar inserido no mercado musical. Ela foi realizada via Skype, já que Max de Castro

se encontrava no estúdio Na Cena em São Paulo/SP, local onde trabalha com

publicidade. Este tipo de entrevista se caracteriza por perguntas genéricas ou

abertas realizadas em uma conversa de cunho informal para que o entrevistado

tenha mais liberdade em suas respostas (BASTOS, 2009).

Os métodos de pesquisa utilizados neste estudo são variados. A autora faz

pesquisas bibliográficas e documentais para a obtenção da opinião de diferentes

autores brasileiros e estadunidenses sobre o tema escolhido, principalmente em

relação ao tema “celebridades”, já possibilitando uma análise das visões dos

estudiosos em ambas as culturas. Beuren, citado por Lopes (2006) aponta que a

técnica de pesquisa “baseia-se em materiais que ainda não receberam um

tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da

pesquisa” (BEUREN, 2003, p. 89 apud LOPES, 2006, p. 220). Já em relação à

pesquisa bibliográfica, Tozoni-Reis (2010, p. 42) ainda explica que “vamos buscar,

nos autores e obras selecionados, os dados para a produção do conhecimento

pretendido”, realizando um debate entre estas fontes, sem a busca de dados

primários.

Para realizar a comparação entre as crises de imagem analisadas, além do

estudo da biografia dos artistas, a autora se vale, também, da técnica de análise

fílmica de um documentário sobre Wilson Simonal. A ideia “É despedaçar [...]

materiais que não se percebem isoladamente „a olho nu‟, uma vez que o filme é

tomado pela totalidade”, explicam Goliot-Lété e Vanoye (1994, p. 15).

Autores como Forni (2013), Dornelles (2012), Levine (2003) e Lucas (2004)

sustentam as discussões sobre gestão de crise de imagem. Na área de media

training, recorre-se a Lucas (2007), Passadori (2009), Rau (2010) e Walker e

Todtfeld (2008). No que se refere a celebridades, Rüdiger (2008), Turner (2014) e

Herschmann e Pereira (2003) subsidiam as referências teóricas.

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A presente monografia é desenvolvida em três capítulos. O primeiro capítulo

aborda o gerenciamento de crise de imagem e a gestão de marca pessoal. No

segundo capítulo, busca-se analisar o trabalho de assessoria de imprensa e media

training, assim como a relação da mídia com as celebridades. No terceiro capítulo, a

ênfase é dada ao gerenciamento de crise de imagem artística e aos casos Wilson

Simonal e Michael Jackson, discorrendo-se sobre a colaboração das Relações

Públicas nos casos citados.

Devido a pouca quantidade de conteúdo produzido no Brasil relacionado à

gestão de imagem pessoal e/ou artística, acredita-se que este estudo é capaz de

colaborar com futuras pesquisas sobre o assunto. O tema escolhido é visto como

inovador, capaz de trazer à tona uma lacuna existente na atuação dos profissionais

de Relações Públicas no país e de gerar novas reflexões por parte do mercado

brasileiro de Comunicação.

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2 GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM E GESTÃO DE MARCA PESSOAL

O presente capítulo discorre a respeito dos conceitos de identidade, imagem

e reputação segundo diversos autores. Ele também busca definições de opinião

pública e apresenta o processo de formação desta. Apresenta-se como executar o

gerenciamento de uma crise de imagem e também a gestão de marcas pessoais.

2.1 IDENTIDADE, IMAGEM E REPUTAÇÃO

Para compreendermos o conceito de imagem e reputação de marcas,

devemos também conhecer o significado de uma identidade. De acordo com Kotler

(2000, apud VÁSQUEZ, 2007, p. 219): “A identidade está relacionada com a

maneira como uma empresa visa identificar e posicionar a si mesma e seus

produtos”. Ela é a base a partir da qual a marca será construída, é o seu

direcionamento e posicionamento. A identidade de uma marca é quem define seus

objetivos e define quais as ações deverão ser tomadas para que a marca signifique

um conceito (VÁSQUEZ, 2007). Para a autora (2007), a identidade deve possuir

algumas características para que efetivamente cumpra o seu papel, conforme tabela

abaixo.

Tabela 1 – Princípios para que a identidade cumpra seus propósitos.

Princípio: Descrição:

Única e intransferível.

Toda identidade pertence a uma marca

específica. Não existem duas marcas com a

mesma identidade. Um produto pode ser copiado,

mas é muito difícil copiar sua identidade.

Atemporal e constante.

A identidade não tem tempo nem limite de

validade. No entanto, ela deve ser constante no

tempo. Marlboro sempre representou

individualidade, força e masculinidade por meio

do personagem do caubói.

Consistente e coerente.

A identidade deve ser sólida em seus elementos

constitutivos, ao mesmo tempo em que deve

existir correlação entre eles, sendo congruentes e

compatíveis entre si.

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Objetiva e adaptável.

A identidade deve ser direta em seus propósitos e

sua comunicação adaptada de acordo com seu

público-alvo.

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir de Vásquez (2007).

Mais objetivamente, podemos caracterizar a identidade de uma organização

como sendo uma manifestação de diversos fatores, tais como:

[...] nome, logomarca, slogan/lema, pessoas, produtos, serviços, instalações, folheteria, uniformes e demais peças que lhe dão visibilidade e que são por ela criadas e comunicadas a diversos públicos. (MACHADO, 2007, p. 48).

Tajada (1994, apud VÁSQUEZ, 2007) já aponta a identidade de uma marca

como parte essencial da comunicação, uma vez que as atividades desta área irão

ter como base aquele fator. Segundo ele, a comunicação, elemento transmissor,

teria o papel de codificar esta identidade para que houvesse, então, uma distribuição

para os públicos-alvo. A finalidade disto seria a construção de uma imagem

condizente com esta identidade.

Seguindo um pensamento afim, Iasbeck (2007) percebe a identidade como

proveniente do processo de comunicação, em que há alguém responsável por enviar

um discurso e seu receptor. Desta maneira, deve-se administrá-la, mantendo o

controle deste discurso, sempre tendo em vista dados de pesquisas de imagem.

Assim, Tajada (1994, apud VÁSQUEZ, 2007) destaca ser de causa e efeito a

relação entre identidade e imagem. A identidade seria a causa, que, comunicada,

resultaria em um efeito, neste caso, a imagem percebida:

A identidade é a concepção que a marca tem de si mesma; a imagem é a maneira pela qual o público concebe a marca. A identidade se constrói internamente; e a imagem, externamente. A identidade é objetiva; a imagem é subjetiva e simbólica. A imagem se configura com base na identidade; a identidade precede a imagem. A identidade e a imagem de marca diferem em forma e conteúdo, porém, o vínculo entre elas é a comunicação (TAJADA, 1994, apud VÁSQUEZ, 2007, p. 209).

A partir disto, haveria, então, duas possibilidades para o resultado do

processo de comunicação dessa identidade: uma imagem que coincide com a

identidade da marca (chamada comunicação ideal) ou uma que não atinge este

resultado (comunicação distorcida) (TAJADA, 1994, apud VÁSQUEZ, 2007).

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A imagem, diferentemente da identidade, depende da percepção dos

públicos. Ela pode variar de acordo com cada um deles, com sua maneira de

interpretar a mensagem recebida, e deverá refletir a identidade organizacional

(MACHADO, 2007). Carvalho (2008, p. 379) explica: “Podemos entender imagem

como a percepção, a imaginação da compreensão sobre determinada pessoa ou

organização. É o simbólico, conjunto de experiências, impressões, crenças,

sentimentos e conhecimentos”. O desafio se encontra, assim, em buscar o

alinhamento entre aquilo que a organização é e aquilo que ela representa para cada

um de seus públicos, criando, preservando e realizando a manutenção desta

imagem (MACHADO, 2007).

Para Iasbeck (2007), a fim de que se constitua uma imagem é preciso haver

uma relação comunicativa entre aquele que percebe e a marca em si. É a partir disto

que ocorrerá a criação de uma elaboração mental: a interpretação da junção das

informações que se tem a respeito da organização com os dados já existentes no

imaginário do receptor.

Porém Machado (2007) afirma que, mesmo sem haver uma interação entre os

públicos e a organização, as percepções a respeito dela já existem. Isto porque as

pessoas podem receber estímulos relativos a esta organização por meio de leituras,

de conhecidos que tiveram contato com a marca e de símbolos visuais. Ainda assim,

a autora explica que esta impressão pode se modificar após uma efetiva relação

com a organização.

Quando esta imagem é percebida de forma negativa, a reputação da

empresa/organização/pessoa é prejudicada. Isto recebe grande relevância uma vez

que o que se vende são as associações ligadas àquela marca, e não um simples

produto. Uma crise de imagem acaba por afetar diretamente a credibilidade e a

confiança dos públicos na marca (VÁSQUEZ, 2007).

A reputação vai além da imagem, da identidade e da comunicação de marca

de uma organização, que definem como se é visto, quem se é e o que se projeta de

si. Ela é construída em longo prazo, buscando-se cumprir e confirmar os

compromissos que são propostos em sua marca (ALMEIDA; BRITTO, 2012).

Ainda analisando a reputação frente à imagem, Jablin (2001 apud IASBECK,

2007) e Flynn (2007 apud IASBECK, 2007, p. 91) defendem a ideia de que “a

reputação é formada por juízos de caráter lógico e alicerçada em argumentos,

opiniões e até mesmo convicções, crenças consolidadas”. Já a imagem, para

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Iasbeck (1998 apud IASBECK, 2007) e Costa (1999 apud IASBECK, 2007) se forma

a partir de sensações e estímulos. Logo, a reputação pode ser vista como o “indício

formado que a imagem projetou” (CARVALHO, 2008, p. 379).

No subcapítulo a seguir, explora-se o conceito de opinião pública, uma

consequência dos aspectos recém-abordados de identidade, imagem e reputação.

2.2 OPINIÃO PÚBLICA

A opinião pública é um fenômeno em constante movimento. Ela se adapta ao

tempo, aos valores e à ética vigentes. De acordo com a evolução da história, ela

pode se moldar e mudar de direção, modificar conceitos e preconceitos.

Torquato (2002) aponta que a mobilidade, a heterogeneidade e a dispersão

no espaço, característicos da sociedade de massas, constituem a opinião pública.

De acordo com Blumer (1978), a massa está fisicamente separada e não é capaz de

discutir e tomar decisões de forma integrada, possui uma organização frágil. Suas

características, segundo o autor são:

Em primeiro lugar, seus participantes são originários de quaisquer profissões e de qualquer categoria social, podendo incluir pessoas com diferentes situações de classe, vocações diversas, múltiplas vinculações culturais e diferentes níveis de riqueza material. [...] Em segundo lugar, a massa é um grupo anônimo, ou melhor, é composta por indivíduos anônimos. Em terceiro lugar, existe pouca interação ou troca de experiência entre os membros da massa. (BLUMER, 1978, p. 177-178).

Devido a pouca interação entre seus membros, os integrantes da massa

acabam por agir em resposta àquilo que recebem de informação a respeito do objeto

em questão. Estas pessoas desenvolvem mais o seu senso crítico e autoconsciência

pois não recebem estímulos diretos provenientes da interação com outros

(BLUMER, 1978). Porém, eles podem ser influenciados por, por exemplo, artistas

com capacidade de compreensão a respeito destas pessoas e com o poder de

expressar estes sentimentos captados.

Mas, para que haja um objeto em vista, ele precisa estar em evidência.

McCombs (2009) afirma que nossas percepções são influenciadas diariamente pelas

notícias selecionadas pelos editores e diretores. O autor diz que o que o público

sabe é a partir de uma realidade de segunda-mão, estruturada pela agenda pública

e criada a partir dos relatos dos jornalistas. Desta maneira, explica Lippmann (1922,

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apud MCCOMBS, 2009), a opinião pública não se forma do ambiente em si, mas sim

de um pseudoambiente formulado pelos veículos de comunicação.

Chegamos, assim, ao conceito da Teoria da Agenda, que defende que as

notícias veiculadas pela mídia acabam sendo vistas como mais importantes pela

audiência (MCCOMBS, 2009):

Figura 1 – A definição da agenda pelos veículos de comunicação de massa –

Agenda-setting.

Fonte: Figura elaborada pela autora a partir de McCombs (2009).

Torquato (2002, p. 68) acompanha o pensamento da Teoria da Agenda

quando afirma que “[...] a opinião pública inexistiria se não houvesse uma tuba de

ressonância a propagar as ondas de pensamento. Portanto, a grande base de

lançamento da opinião pública é a estrutura da indústria da comunicação [...]”.

Segundo o autor, os meios de comunicação se tornam responsáveis por difundir os

fatos ambientais, que, ao chegarem ao conhecimento público, refletem-se em

cadeias de opinião.

Por outro lado, Wey (1986) acredita que a audiência dos veículos de

comunicação de massa recebe de forma quase passiva as informações e opiniões

divulgadas. Para ela:

A ação individual se traduz em escolhas que se fazem em resposta a impulsos e sentimentos vagos, despertados pelo objeto de seu interesse, característica das massas; por isso, pode ser influenciada pelas sugestões persuasivas dos meios de comunicação. (WEY, 1986, p. 25).

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A psicologia e a história das pessoas, suas crenças, princípios, valores e

estereótipos vão definir a maneira como elas percebem e julgam os acontecimentos.

E isso é o que vai acabar determinando a opinião pública (TORQUATO, 2002).

A formação da opinião pública se dá em quatro fases (CESCA, 2006). Na

primeira, surge uma controvérsia, que gera certo incômodo nas pessoas e as faz

sentir a necessidade de uma discussão. Na segunda, são usados os meios de

comunicação para se realizar estes debates públicos, buscando definir esta

controvérsia.

Em um terceiro momento, surge uma opinião comum, criada a fim de

representar todas as opiniões expressadas na discussão pública, mas que não

representa, necessariamente, a opinião da maioria. Por fim, há uma ação conjugada

(CESCA, 2006).

Figura 2 – O processo de formação da opinião pública.

Fonte: Figura elaborada pela autora a partir de material disponibilizado na disciplina de Teorias de

Opinião Pública em 2012/2.

Cesca (2006) explica que para que ocorra a discussão pública é necessário

que não haja posições muito rígidas das pessoas em relação ao assunto, como no

caso de fanatismo. Blumer (1978) se aproxima da visão de Cesca (2006) a respeito

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do resultado do debate quando afirma que a opinião pública é um produto coletivo.

Ela é representada pela tendência central entre forças antagônicas:

Como tal, não constitui uma opinião unânime com a qual cada membro do público está de acordo, não sendo também forçadamente a opinião da maioria. Ao se constituir em termos de opinião coletiva, pode ser (e em geral é isso que ocorre) diferente da opinião de qualquer dos grupos do público (BLUMER, 1978, p. 184).

O autor ainda acrescenta que a opinião pública está sempre no caminho para

uma decisão. Porém ela nunca chega a ser unânime.

A importância da opinião pública para uma empresa se dá a partir do

momento em que há um trabalho de relações públicas para conhecer estas

necessidades dos públicos e atendê-las. Estas atividades serão capazes de prever

as tendências dos públicos, colaborando para o gerenciamento da personalidade do

assessorado visando tanto seus próprios objetivos quanto a satisfação das

expectativas dos públicos (WEY, 1986).

A atividade de Relações Públicas, segundo Simões (1995, p. 96-97), recebeu

uma definição geral no chamado Acordo do México de 1978. Ele buscou explicá-la

de forma a estar de acordo com todas as associações de relações públicas. Assim,

a atividade de Relações Públicas seria responsável por algumas funções,

enumeradas na tabela a seguir.

Tabela 2 – Em que consiste a atividade de Relações Públicas.

1) Analisar as tendências da organização em relação às expectativas de interesses dos

públicos, no contexto da conjuntura em que ambos estão inseridos;

2) predizer a resultante do entrechoque da ação organizacional ante as expectativas

dos públicos no âmbito da evolução da conjuntura;

3) assessorar os líderes da organização, prevenindo-os das possíveis ocorrências de

conflito e suas causas, apresentando sugestões de políticas e procedimentos que

evitem e/ou resolvam o impasse;

4) implementar programas e projetos planejados de comunicação para com os vários

públicos.

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir de Simões (1995).

Grunig (2009, p. 82) define público como sendo “sempre um grupo

especializado e cujos membros têm interesse específico nas atividades e

comportamentos de organizações”. Além disso, o público é um grupo que se une

Page 20: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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espontânea e naturalmente, tendo como sua marca a existência de uma questão,

que será discutida, gerando uma opinião coletiva (TORQUATO, 2002).

É preciso estar atento para a divulgação de informações para os públicos.

Quando eles não possuem os dados necessários para conseguirem fazer o seu

julgamento, a tendência é que se crie uma imagem negativa do objeto em questão.

Quem não se preocupa em criar, projetar e manter uma manutenção de uma

imagem favorável estará mais sujeito ao fracasso frente à opinião pública quando

surgirem situações adversas (WEY, 1986).

Com uma opinião pública desfavorável, pode-se enfrentar uma crise de

imagem. No subcapítulo a seguir analisa-se o conceito e o gerenciamento destas

crises.

2.3 GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM

As crises podem surgir dos simples altos e baixos de uma organização e

normalmente estão relacionadas à imagem e à reputação. Segundo Forni (2013, p.

8), crise é “uma ruptura na normalidade da organização; uma ameaça real ao

negócio, à reputação e ao futuro de uma corporação ou de um governo”. Por isso, se

torna imprescindível que seja construída uma boa reputação para a marca ao longo

de sua existência, a fim de se consolidar uma boa imagem. Para que isto se

concretize, é preciso se tornar relevante para os seus públicos, cativando seus

sentimentos. Esta atividade, de construção de uma reputação, é chamada Reputting:

o processo de criar/reforçar os laços de confiança entre a organização e seus

stakeholders.

Podemos compreender “organização” como sendo “[...] um sistema aberto,

pelo que é influenciada e influencia o ambiente externo no qual se situa. Pertencem

a esse ambiente os públicos e todas as dimensões conjunturais da sociedade maior”

(SIMÕES, 1995, p. 54-55). Ela possui objetivos específicos e funciona com pessoas

desempenhando papeis determinados.

Já os stakeholders são “[...] as categorias gerais de pessoas que são afetadas

por consequências reais ou potenciais das decisões organizacionais estratégicas”

(GRUNIG, 2009, p. 84). Ou, ainda, como pessoas que possuem algum interesse na

organização (CARROLL, 1989, apud GRUNIG, 2009).

Page 21: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

20

Atualmente a comunicação entre os públicos de uma organização pode ser

considerada como uma teia, em que as informações reverberam por meio de linhas

invisíveis. Caso se esteja buscando um bom índice de credibilidade ou a prevenção

de crises, é importante que se calcule esta reverberação (LUCAS, 2004). De acordo

com Lucas (2004), não basta ser uma marca de peso no mercado para garantir a

ausência de momentos ruins para os negócios da organização, é preciso se criar

uma postura empresarial, o hábito de evitar que acontecimentos internos ou

externos interfiram na imagem desta marca.

Com a nova mídia, porém, o risco é cada vez maior. A imprensa têm

demostrado interesse em vigiar empresas e autoridades e tornar público aquilo que

antes era por poucos conhecido (FORNI, 2013).

Quanto mais visíveis se tornam as pessoas públicas – e as empresas – mais vulneráveis também ficam. Mais interesse da mídia, da opinião pública, da sociedade. Quanto mais você se expõe, mais olhares para julgar seu comportamento. (FORNI, 2013, p. 49).

É o que acontece com celebridades, por exemplo. A exposição excessiva

pode, por um lado, colaborar para o seu sucesso, mas, por outro, tornar grande a

possibilidade de um erro vir à tona e manchar sua biografia. A área da comunicação,

neste caso, se torna responsável por fazer o equilíbrio entre essa grande exposição

e a diminuição das aparições de seu assessorado (FORNI, 2013).

Dornelles (2012) afirma que é comum encontrarmos casos de má gestão de

crises de imagem hoje em dia, ainda que a existência delas seja reconhecida pelos

diferentes tipos de organizações. De acordo com a autora (2012), há

comportamentos comuns às empresas que cometem tais erros, descritos na tabela a

seguir.

Tabela 3 – Comportamentos comuns às empresas que fazem má gestão de crises

de imagem.

O elemento surpresa.

A falta de hábito de lidar com a mídia.

A carência de informações destinadas aos diferentes públicos envolvidos.

A forma negativa como seus impactos se propagam.

A incomum curiosidade da mídia acerca de episódios das mais diferentes características.

Page 22: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

21

A mobilização da opinião pública e dos governantes.

A perda de controle das iniciativas em relação ao fluxo de informações.

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir de Dornelles (2012).

Ao encontro disto, Forni (2013) afirma que a prevenção é parte do processo

de gestão de crise, e não um ato isolado. Para o autor (2013, p. 66), todo este

processo conta com momentos por ele determinados como “a prevenção, a

preparação, o desenvolvimento do fato negativo, seguido da resposta à crise

(comunicação) e da recuperação ou pós crise”. Ele definiu os elementos básicos

para uma boa gestão de crise e definiu-os como sendo:

[...] um plano de crise simples e flexível; a necessidade de liderança; um porta-voz preparado; a identificação e a necessidade de estabelecer relação com os diversos stakeholders, principalmente os envolvidos na crise; o timing da resposta, que não comporta alternativa, a não ser a rapidez; finalmente, o plano de comunicação, levando em conta, prioritariamente, a comunicação interna e a relação com a mídia (FORNI, 2013, p. 109-110).

Toda empresa precisa saber identificar potenciais crises e necessita realizar

um levantamento de suas fraquezas e seus riscos. Isto tem de ser introduzido na

cultura das organizações para que, assim, a partir das informações levantadas, elas

sejam capazes de definir a atitude correta a ser tomada caso algumas destas

vulnerabilidades se torne o fator de uma crise (FORNI, 2013).

Dornelles (2012) acredita, por sua vez, que a gestão de crise é composta por

três fases, denominadas: planejamento, gerenciamento e retomada. No primeiro

momento, antes de a situação sair da esfera privada, é preciso estar atento à

opinião do público a respeito da organização, realizando um levantamento e

planejando os rumos da comunicação organizacional e das ações de relacionamento

com o público. Quando chega o momento em que a informação se torna pública, o

momento da crise de imagem, o foco da área de comunicação deve estar no correto

posicionamento da organização frente ao ocorrido e na busca de uma recuperação

para seus stakeholders. Por fim, chega a fase de retomada, em que a empresa

deverá buscar conhecer novamente a situação da opinião pública em relação a ela e

criar ações estratégicas de comunicação com todos os diferentes públicos.

Para se administrar uma crise é preciso saber tudo aquilo que é falado a

respeito da organização. Assim, é importante que se realize um clipping, composto

por todas as publicações presentes na mídia (impressa ou eletrônica) que façam

Page 23: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

22

referência à marca. Estes materiais devem ser catalogados e analisados na primeira

hora do dia para que, no início da manhã, sejam discutidos no comitê de crise

(FORNI, 2013).

Além disto, é necessária também a realização de um mapeamento de

públicos. Deve-se definir qual o público é prioritário e com quais também será feito o

contato, em um segundo ou terceiro momento. Segundo Dornelles (2012), cada

cenário pode exigir um mapeamento diferente, com uma sequência diferente.

O principal papel da comunicação de crise acaba sendo a elaboração de uma

versão oficial para ser comunicada para a população em geral. Forni (2013) explica

que esta mensagem deve ser transparente, mas, principalmente, não deve deixar

brechas para que a imprensa faça interpretações equivocadas ou desconstruções.

É preciso tomar cuidado com a subestimação da imprensa. Ignorá-la ou não

dar a ela a devida importância durante um período de crise pode piorar o quadro e

causar danos quase irreversíveis. Em momentos de entrevista, pressa, mentiras,

fuga de perguntas mais difíceis e respostas mal-educadas não irão colaborar para

ajudar a reerguer a imagem da organização (FORNI, 2013).

Aprofundando mais o presente estudo, discorre-se, no subcapítulo a seguir, a

respeito da gestão de marca pessoal.

2.4 GESTÃO DE MARCA PESSOAL

Uma marca pessoal é a imagem que surge na mente das pessoas quando

pensam a respeito de alguém. Ela se caracteriza por refletir as qualidades, os

valores, a personalidade e os diferentes fatores que fazem a pessoa a quem dizem

respeito ser singular (MONTOYA; VANDEHEY, 2010).

De acordo com Montoya e Vandehey (2010) as pessoas criam expectativas a

respeito do outro quando conhecem a sua marca pessoal. Ela representa a sua

reputação, o reflexo do seu caráter (CHRITTON, 2014). Chritton vai ao encontro dos

autores anteriormente citados quando vê a marca pessoal como um elemento que

mostra a autenticidade de quem ela diz respeito. A autora afirma que esta marca vai

ser definida também pela maneira como os outros se lembram desse profissional,

por meio de suas ações e de como as pessoas se conectaram emocionalmente com

ele.

Page 24: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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A marca pessoal dá ao profissional a oportunidade de conhecer e mostrar o

seu valor único. Por meio dela ele será capaz de se destacar no seu trabalho e

frente ao seu público (CHRITTON, 2014). Sendo bem utilizadas, as marcas pessoais

possuem o poder de trazer sucesso profissional (MONTOYA; VANDEHEY, 2010).

De acordo com os autores, ela é capaz de assimilar o seu nome a um produto, com

uma imagem diferenciada e qualidades únicas. Por meio da marca pessoal é

possível atrair públicos mais elitizados e mantê-los consigo mesmo em momentos de

baixa no mercado.

Para conhecer, posicionar e gerenciar uma marca pessoal (personal

branding), é preciso seguir diversas etapas. De acordo com Chritton (2014), o

primeiro passo a ser seguido é definir quem se é. O segundo, também citado por

Bender (2009), é conhecer seus principais públicos, para que suas ações estejam de

acordo com as expectativas deles. Chritton (2014) também diz que é necessário ter-

se conhecimento acerca da concorrência e, depois de tudo isso, definir um perfil

para a marca pessoal, que aponte a sua promessa de valor única.

Bender (2009) também discorre sobre o fator diferenciação:

Ser diferente e ter valor, representar um conceito, uma palavra na mente dos que estão à sua volta, é o maior desafio. [...] Um adjetivo que resume todos os seus esforços, toda a sua „batalha‟, toda a sua dedicação e seus anos de estudo (BENDER, 2009, p. 54).

Para o autor, ter foco no trabalho de construção de marca pessoal é encontrar

este atributo, este conceito que traga visibilidade e diferenciação ao profissional.

Segundo ele, esta é a principal meta do trabalho de gerenciamento de marca

pessoal.

O comportamento, as interações sociais, a aparência, emitem sinais a

respeito de si todo o tempo. As roupas e acessórios são exemplos de fatores de

formação de imagem da marca. De acordo com Bender (2009, p. 58), elas causam

fortes impressões a respeito de quem as veste, comunicando que a pessoa é “um

sujeito moderno, um sujeito clássico, um cara que curte a vida ao ar livre”, por

exemplo.

As roupas fazem parte do “ecossistema de marca”, segundo Chritton (2014).

Ele é constituído por todo elemento capaz de gerar uma percepção do público que

se tem como alvo a respeito da marca pessoal. Além do vestuário, também fazem

Page 25: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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parte deste “ecossistema” a aparência de todo material relacionado à marca (cartão

de visita, site, etc.), o momento de carreira em que a pessoa se encontra, sua rede

de relacionamentos e como é a sua performance em sua atual atividade/local de

trabalho.

Bender (2009) explica que a imagem que deve ser transmitida precisa ser

condizente àquilo que se é. Sabendo o que se deseja transmitir, tem-se de ser

coerente e se sentir bem com a decisão.

Nesse território, uma gestão eficaz de marca pessoal, que saiba controlar os sinais certos e acionar os mecanismos corretos, fará toda a diferença entre vencedores e perdedores, entre estrelas do segmento e anônimos que morrerão profissionalmente, invisíveis. (BENDER, 2009, p. 53).

Para que haja uma boa comunicação desta marca, Chritton (2014) pontua

alguns fatores a serem trabalhados. Em primeiro lugar, precisa-se escrever a história

desta pessoa, então, expressar a sua marca pessoal em todos os seus meios de

comunicação tradicionais. Depois se deve, também, fazer uma comunicação de

marca nos meios digitais, na internet. Por último, torna-se importante ter um plano

de comunicação para esta marca.

Para se começar um trabalho de gestão de marca pessoal, a definição de

objetivos é um dos primeiros e mais importantes passos (BENDER, 2009). Precisa-

se fazer questionamentos continuamente a fim de se filtrar decisões e de se

visualizar um rumo para as ações, escolhendo os caminhos mais adequados. Caso

contrário, se está trilhando uma história com tentativas e erros, sem garantias, e

causando nos outros a impressão de que se está completamente perdido.

Na elaboração dos objetivos, é ideal que estipulemos prazos e metas bem

específicas. Desta maneira, criamos certo compromisso e urgência. Obrigamo-nos a

adaptar o nosso dia-a-dia de maneira que trabalhemos para atingir o que desejamos

(BENDER, 2009).

Bender (2009) defende que, para a gestão de marca pessoal, deve-se

comportar como empresa.

O investimento estratégico é avaliar suas forças e fraquezas. É observar os sinais que a sua marca está emitindo na sua rede de relações. É adotar uma postura crítica sobre os seus movimentos e as suas atitudes diárias. É pensar como uma empresa. É pensar no curto prazo e também no futuro da sua marca pessoal. É pensar em sustentabilidade. É pensar como as grandes marcas: em perpetuação de valor. (BENDER, 2009, p. 92).

Page 26: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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Atualmente as marcas se encontram em um momento de conformismo,

tornando-se muito similares umas às outras. Este aspecto é visto como uma

oportunidade de se destacar determinada marca, criando uma relação diferenciada

com o próprio segmento e com a sociedade (BENDER, 2012). Tanto para marcas

pessoais quanto para corporativas, para se atingir o sucesso deve-se trazer algo

novo ao mercado. Assim, cria-se valor. Desta maneira, os profissionais que se

sobressaem são aqueles que encontram uma lacuna em seu segmento e buscam

preenchê-la. Para isto, reforça Bender (2009), precisa-se escolher um atributo que

represente esta pessoa.

Esta qualidade deve ser única e serve para aumentar o valor da diferença.

Marcas pessoais com esta força de DNA são vistas, por exemplo, nos grandes

astros, que se apegam a um de seus atributos e o mantêm presente em todo

trabalho que fazem, fazendo-o trabalhar a seu favor (BENDER, 2009). Apropriando-

se desta diferença, o profissional alcança uma posição inatingível, um domínio desta

imagem de marca.

É importante que se aprenda com os momentos difíceis e que se mantenha o

foco. Bender (2009) afirma que os profissionais, tanto em momento de estabilidade

quanto de sucesso momentâneo, tendem a esquecer de realizar uma autoavaliação

e, consequentemente, de manter um trabalho junto à sua marca pessoal. Situações

de fracasso, comenta o autor, mostram-se como grandes oportunidades para se

revisitar a imagem da sua marca pessoal e se repensar suas ações.

A partir disto, a marca criada, juntamente com o negócio, terá um significado

ainda maior do que os dois isoladamente, indo além do segmento em que se atua.

Este trabalho de construção de marca, quando realizado com persistência, obtém

uma coerência e uma consistência, atrelando à mente das pessoas aquele

significado até o momento em que ele passa a pertencer a elas, não dependendo

mais de quem a criou (BENDER, 2012).

A respeito de celebridades, Bender (2009) afirma que elas investigam seus

atributos e seu valor percebidos por parte de seus públicos. A partir destas

pesquisas, será possível encontrar a posição da celebridade frente a concorrentes e

obter subsídios para vender sua imagem. Além disso, com uma análise das

informações coletadas, pode-se corrigir sua imagem pública criando uma estratégia

de marca.

Page 27: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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Pode-se entender esta estratégia como a forma de se ir do ponto em que se

está até onde se quer chegar. Ela está relacionada às forças que serão utilizadas

para isto, ao tempo que se leva e ao lugar. O que irá diferenciar a estratégia das

táticas a serem utilizadas é que estas estão relacionadas ao curto prazo, enquanto

aquela, ao longo (BENDER, 2009).

Bender (2009) também ressalta a importância dos relacionamentos para o

trabalho de gerenciamento de marca pessoal. Segundo o autor, o sucesso desta

marca depende, cada vez mais, da capacidade do profissional de gerar confiança

nos outros. A rede de relações é interdependente com marcas capazes de fortalecer

ou danificar umas às outras.

Bender (2009, p. 241-261) sugere, assim, dez leis relativas aos fatores mais

importantes para um trabalho de gestão de marca pessoal.

Tabela 4 – Dez leis que determinam a vida ou a morte para uma marca

pessoal.

Lei Descrição

1. O valor está na diferença Se você se diferencia, ganha valor; se você

se iguala, vira mediano.

2. Ser tudo é não ser nada Você precisa representar alguma coisa na

mente da audiência.

3. Cultive um defeito Ao contrário das marcas corporativas, em que

seria impossível cultivar um aspecto negativo

do produto, nas marcas pessoais isso torna a

marca mais próxima de todos nós.

4. Construa uma história Essas histórias embalam nossos sonhos

pessoais, dão colorido à relação que temos

com a marca e estabelecem laços mais

fortes, além do mero consumo.

5. A imagem pessoal é apenas uma

parte do processo

Nenhum produto no mundo vende somente

pela embalagem. Você precisa saber

comunicar sua diferença, sua promessa de

valor, e também como chegar lá.

6. Entenda a lógica do seu mercado Compreender a lógica que envolve sua

audiência e descobrir quem são seus

públicos.

Page 28: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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7. Sinergia é vital em personal branding Os produtos se vão, os serviços terminam,

mas as experiências perduram para sempre

na mente do consumidor.

8. Jamais subestime a audiência Você jamais vai conseguir enganar todo

mundo durante muito tempo. Sempre tome

como parâmetro a ética e a verdade,

respeitando seus princípios e valores.

9. Crie uma defesa como a do porco-

espinho

Os porcos-espinhos simplificam um mundo

complexo e o transformam numa única ideia

organizadora, um princípio básico ou um

conceito que unifica e orienta tudo.

10. Faça alguma coisa da qual se orgulhe

no futuro

Fazer alguma coisa da qual nos orgulhemos

no futuro talvez seja a mola propulsora mais

influente para qualquer virada na carreira.

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir de Bender (2009).

Com a apropriação dos conceitos de identidade, imagem, reputação e opinião

pública e tendo-se abordado a gestão de crises de imagem e de imagem pessoal,

apresenta-se, no capítulo a seguir, uma revisão teórica acerca da assessoria de

imprensa e, mais especificamente do media training, discorrendo-se, ao final, a

respeito da relação entre mídia e celebridades.

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3 ASSESSORIA DE IMPRENSA, MÍDIA E CELEBRIDADE

O presente capítulo discorre a respeito dos conceitos, atribuições e aplicação

da assessoria de imprensa e do media training. Ele também faz um resgate breve da

história das Relações Públicas e da assessoria de imprensa. Por fim, procurou-se

discorrer a respeito da mídia a partir de conceitos como espetáculo e sociedade de

massa e se relacionou os meios de comunicação com a celebridade, também a

conceituando.

3.1 ASSESSORIA DE IMPRENSA

Podemos compreender a atividade de assessoria de imprensa como sendo

responsável pelas informações que circulam entre fontes de informação e imprensa,

assim como pela gestão do relacionamento entre os dois. A função do assessor de

imprensa é suprir as demandas existentes de informações sobre uma fonte ou

organização (DUARTE, 2010). De maneira simplificada, ela representa a ligação

entre uma empresa/entidade/organização e os veículos de comunicação

(EID;VIVEIROS, 2007).

Kopplin e Ferrareto (2009, apud LOPES, 2003, p. 11) citam duas

características básicas da assessoria de imprensa: “a necessidade de divulgar

opiniões e realizações de um indivíduo ou grupo de pessoas e a existência de um

conjunto de instituições conhecido como meios de comunicação”. Hoje percebemos

esta dependência uma vez que, para legitimarmos um acontecimento, é muito

importante que o tornemos público por meio da mídia, obtendo a aprovação da

sociedade e o tornando real para audiência, para a opinião pública (MONTEIRO,

2010).

É importante que, para manter a legitimidade de uma assessoria de imprensa

como representantes de uma empresa ou organização, ela sempre trabalhe com

foco em sua credibilidade. Do contrário, estará rompendo com um relevante valor

em relação ao seu papel frente à sociedade (EID; VIVEIROS, 2007).

A assessoria de imprensa pode ajudar a empresa ou instituição a reconhecer

ameaças e instabilidades no segmento antecipadamente, permitindo que o

assessorado estabeleça um planejamento estratégico que esteja de acordo com as

expectativas de seus públicos. Para exercer sua função, a assessoria de imprensa

Page 30: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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pode funcionar de três diferentes maneiras. Ela pode ser instalada dentro da

organização, tendo seu espaço bem definido no organograma; ser contratada de

forma terceirizada; ou ainda funcionar de maneira mista, em que parte de suas

atividades é realizada dentro da organização, parte fora (LOPES, 2003).

Duarte (2010) lista os diversos produtos e serviços de uma assessoria de

imprensa, de acordo com a figura a seguir.

Figura 3 – Produtos e serviços de uma assessoria de imprensa.

Acompanhamento de

Entrevistas

Administração da AI

(Assessoria de Imprensa)

Análise do Noticiário

Apoio a Eventos

Apoio a outras áreas

Arquivo de Material

Jornalístico

Artigos

Atendimento à Imprensa

Estar próximo durante a entrevista, ajudar a verificar o desempenho da fonte, os interesses do jornalista, resolver algum problema ou dúvida e evitar armadilhas do entrevistador ou erros do entrevistado.

Ter habilidades, conhecimentos e postura de gerente em alguns momentos para administrar toda a Assessoria de Imprensa.

Avaliar sistematicamente as informações veiculadas nas diferentes mídias.

Ajudar no planejamento tendo em vista as possibilidades e interesses dos veículos de comunicação.

Colaborar na integração dos trabalhos das diferentes áreas dentro da organização.

Ter informações consolidadas e de acesso fácil.

Elaboração de artigos para a organização, visto que tais têm boa aceitação nos veículos de comunicação.

Garantir um atendimento adequado e a manutenção de uma convivência cordial com os jornalistas.

Page 31: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

30

Auditoria de Mídia

Avaliação dos Resultados

Briefing

Brindes

Capacitação de Jornalistas

Clipping e Análise

de Noticiário

Concursos

Contatos estratégicos

Entrevistas coletivas

Caracterizar com precisão e profundidade em determinado momento específico o posicionamento da imprensa com relação à organização e suas fontes ou temas.

Caracterizar a atuação e resultados obtidos no relacionamento entre organização e imprensa em determinado período.

Elaborar documento de síntese e orientação sobre um tema para ajudar a fonte a se preparar para uma entrevista ou situação específica.

Selecionar e administrar de forma cuidadosa os brindes. Às vezes a oferta pode ser entendida como uma tentativa de ”comprar” a boa vontade.

Treinar jornalistas a respeito de uma área específica.

Identificar sistemática e rotineiramente na imprensa as citações sobre a organização ou temas previamente determinados, organizá-las, avaliá-las e encaminhar ou deixar à disposição para conhecimento dos interessados.

Instituir concursos para premiação de jornalistas promovendo, indiretamente, a aproximação com a imprensa e a organização.

Manter uma rotina de contatos regulares com as redações, evitando basear a ligação no envio de releases, produto cada vez mais desgastado.

Convocar jornalistas de diferentes órgãos em momentos específicos em que há um assunto de real interesse. As redações normalmente buscam por exclusividade.

Page 32: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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Fotos

Jornal Mural

Mailing ou

Cadastro de Jornalistas

Manuais

Monitoramento

Pauta

Planejamento

Press Kit

Publieditorial

Contratar fotógrafo ou tirar fotos para acompanharem materiais como releases, publicações institucionais, relatórios, etc.

Criar jornais murais com políticas de uso bem estabelecidas para informação do público interno.

Listar e-mails de jornalistas e veículos de interesse da assessoria.

Elaborar manuais para uniformizar procedimentos da equipe.

Acompanhar sistematicamente as informações veiculadas sobre a organização, fontes e temas de interesse.

Sugerir assuntos a um ou mais jornalistas com a intenção de que se transforme em notícia.

Identificar posições, objetivos e interesses (públicos e reservados), estabelecer metas e planejar formas de atingi-las.

Reunir materiais que serão entregues como apoio a jornalistas durante uma cobertura, lançamento, coletiva, visita, buscando informar sobre determinado assunto.

Produzir material pago para ser veiculado sob a forma de matéria jornalística.

Page 33: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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Fonte: figura elaborada pela autora a partir de Duarte (2010).

Segundo Chaparro (2010), a atividade de assessoria de imprensa foi criada

nos Estados Unidos em 1906 pelo jornalista Ivy Lee, responsável por fundar, junto

disto, as Relações Públicas:

Com um bem-sucedido projeto profissional de relações com a imprensa, a serviço de um cliente poderoso, Ivy Lee conquistou, por direito e mérito, na história moderna da comunicação social, o título de fundador das relações

Relatórios

Release

Site

Textos em Geral

Treinamento de Fontes (media

training)

Veículos Jornalísticos

Visitas Dirigidas

Produzir relatórios para a avaliação permanente da atuação e demonstração dos resultados obtidos da Assessoria de Imprensa.

Elaborar material informativo com formato jornalístico produzido especificamente para servir de pauta ou informação à imprensa.

Manter o site atualizado como fonte de consulta para a imprensa, com materiais fotográficos, vídeos, informações, gráficos e outros.

Colaborar na elaboração de textos para o assessorado como palestras, relatórios e folhetos.

Capacitar a fonte para compreender e atender às necessidades do jornalista e aproveitar melhor as oportunidades de exposição.

Participar no projeto editorial e gráfico e acompanhar a produção dos veículos institucionais.

Realizar visitas a fim de aproximar os jornalistas da organização.

Produzir material pago para ser veiculado sob a forma de matéria jornalística.

Produzir relatórios para a avaliação permanente da atuação e demonstração dos resultados obtidos da Assessoria de Imprensa.

Elaborar material informativo com formato jornalístico produzido especificamente para servir de pauta ou informação à imprensa.

Manter o site atualizado como fonte de consulta para a imprensa, com materiais fotográficos, vídeos, informações, gráficos e outros.

Colaborar na elaboração de textos para o assessorado como palestras, relatórios e folhetos.

Capacitar a fonte para compreender e atender às necessidades do jornalista e aproveitar melhor as oportunidades de exposição.

Participar no projeto editorial e gráfico e acompanhar a produção dos veículos institucionais.

Realizar visitas a fim de aproximar os jornalistas da organização.

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públicas, berço da assessoria de imprensa. Ou vice-versa. (CHAPARRO, 2010, p. 4).

Amaral (2010) explica que, ao longo do tempo, os americanos foram se

tornando verdadeiramente obcecados por propaganda, relações públicas e

assessoria de imprensa. De acordo com o autor, todos procuram especialistas para

orientá-los, desde empresas e produtos até políticos e artistas (iniciantes ou

consagrados). Os profissionais destas áreas os orientam em seu comportamento em

geral: nas vestes, naquilo que falam, na forma como apresentam os produtos.

No Brasil, alguns acontecimentos históricos interferiram no desenvolvimento

da atividade de assessoria de imprensa. O governo Vargas, em 1938, foi o pioneiro

estabelecendo um serviço de atendimento à imprensa (LOPES, 2003). Em 1964, as

Relações Públicas entraram em desenvolvimento no país e, junto delas, as

atividades de assessoria de imprensa (CHAPARRO, 2010). Porém este momento

colidiu com o golpe militar de 1964, que estabeleceu um regime ditatorial no Brasil,

fato que acabou afetando diretamente este crescimento (EID; VIVEIROS, 2007).

Durante a ditadura, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) se

encarregava de garantir que a mídia estivesse sempre enaltecendo a figura de

Vargas. Desta maneira, os profissionais que trabalhavam em repartições públicas

buscavam esconder fatos da imprensa e viam os jornalistas como inimigos. Por

causa disto, até hoje ainda há empresas que demonstram desconfiança quando

procuradas por jornalistas, afetadas pelo histórico do país (LOPES, 2003).

Tendo sido danificado o desenvolvimento de suas atividades no Brasil por

causa da ditadura, a assessoria de imprensa passou a fazer parte de um

reposicionamento de governos, empresas e instituições a partir da

redemocratização, em meados dos anos 80 (EID; VIVEIROS, 2007). Neste

momento, os jornalistas passaram a defendê-la na Fenaj (Federação Nacional dos

Jornalistas) e nos sindicatos (BRANDÃO; CARVALHO, 2010).

Dado o histórico, podemos considerar as assessorias de imprensa como algo

relativamente novo no Brasil. Martinez (2010) afirma que a sociedade ainda está

tomando consciência da importância de uma imagem bem construída a partir de

pesquisa, informação, comunicação e ações coordenadas: “ainda há grande

incompreensão em relação ao trabalho das assessorias de imprensa, tanto por parte

de quem contrata como de quem é contratado” (MARTINEZ, 2010, p. 195).

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No Brasil, os jornalistas foram estimulados a entrar no mercado de trabalho

das assessorias, uma vez que criticavam a competência dos relações públicas para

exercer tal atividade. Duarte (2010) aponta que repórteres e editores preferem

trabalhar com profissionais que compreendam suas necessidades e defende que

apenas quem teve experiência em redação entende o pensamento de um editor e

como é fechar uma matéria, podendo manter relacionamentos mais eficientes e

duradouros com estas equipes. Ele explica que os jornalistas conquistaram este

espaço com facilidade, pois sabiam quais eram os interesses da imprensa e

dominavam seu funcionamento. O autor, no entanto, afirma que, mesmo que o

mercado das assessorias de imprensa esteja representado, em sua maioria, por

jornalistas, não significa que apenas estes profissionais tenham competência ou que

não haja jornalistas com dificuldade em exercer esta atividade.

Lopes (2003) também acredita que os jornalistas estejam mais preparados

em alguns aspectos para a realização de um trabalho de assessoria de imprensa.

Segundo o autor, é preciso que se tenha amplo conhecimento do comportamento da

programação de televisão e rádio e das editorias dos jornais, assim como boas

técnicas de redação empresarial, para que se prepare um release, por exemplo.

Brandão e Carvalho (2010, p. 179) apresentam outra visão a respeito da

execução da atividade de assessoria de imprensa. Eles dizem que representa uma

“distorção ética e a perda da dimensão política e social da profissão de jornalista”

afirmar que esta função só possa ser exercida por jornalistas:

Assessor de comunicação ou de imprensa não é “coleguinha” e, quer tenha formação em jornalismo, relações públicas, marketing, publicidade ou física quântica, quando está na empresa exerce as funções de relações públicas. (BRANDÃO;CARVALHO, 2010, p. 179).

França (2004) complementa que a única habilitação da comunicação que

tenha em mente um planejamento estratégico do relacionamento de uma

organização com todos os seus públicos, tendo objetivos claros de curto, médio e

longo prazos e que vise resultados premeditados são a de relações públicas. O

autor explica que a atividade de Relações Públicas se diferencia da mídia transitória

uma vez que:

[...] essa pode dar visibilidade efêmera à organização, enquanto a comunicação de relações públicas carrega consigo mensagens que visam

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formar racionalmente o conceito positivo sustentável da organização e criar um clima favorável de negócios. (FRANÇA, 2004, p. 195).

No próximo item analisa-se mais profundamente um dos aspectos citados

neste: o media training, sua importância e seu uso adequado.

3.2 MEDIA TRAINING

Como parte do trabalho de assessoria de comunicação, o media training

prepara o entrevistado para lidar com a mídia. A partir deste treinamento, a pessoa

deverá saber se comportar diante de jornalistas e ser capaz de conduzir uma

entrevista. Serão realizados exercícios que estimulem o aperfeiçoamento da

articulação do discurso e o assessorado será preparado para, por exemplo, falar

com objetividade e saber para onde olhar enquanto ocorre uma filmagem. Estas

instruções irão diminuir as possibilidades de erros e de constrangimentos por parte

do entrevistado (ASSAD; PASSADORI, 2009).

De acordo com Assad e Pasadori (2009), a assessoria de comunicação vai

além da assessoria de imprensa. Ela trabalha com a administração de informações

para todos os públicos do assessorado, e não apenas para a imprensa.

Eid e Viveiros (2007) afirmam que o media training esclarece aos executivos

as características de cada uma das mídias, como jornal, revista, rádio e televisão, e

mostra como lidar com cada uma delas por meio de treinamentos práticos. Ele deve

ser feito em um primeiro momento, não apenas na necessidade de uma crise. Desta

maneira, a empresa passa a possuir um programa de segurança. Esta qualificação

ajuda a desenvolver a relação com os diferentes públicos e com a própria opinião

pública (ASSAD; PASSADORI, 2009).

Investir em um bom relacionamento com a mídia ajuda em momentos de

crises, em emergências de comunicação e no combate aos boatos:

A divulgação sistemática dos fatos relevantes da vida da empresa e suas marcas não só permite que a opinião pública e os jornalistas a conheçam – podendo, assim, construir uma muralha de credibilidade capaz de impedir que acreditem em qualquer boato pernicioso -, como também cria uma interface permanente com a imprensa, facilitando o diálogo e os esclarecimentos necessários. (NOGUEIRA, 2007, p. 24).

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Boatos são informações, verídicas ou não, que buscam convencer e

que têm uma propagação em cadeia. Eles normalmente estão relacionados a

acontecimentos recentes e se baseiam em alguma verdade (KAPFERER, 1993).

Segundo Nogueira (2007), a mídia pode ser considerada um “público-meio”,

uma vez que representa uma intermediação entre alguém e seus públicos, tendo a

capacidade de influenciar fortemente a opinião pública. Por causa deste poder, ter

uma relação fluente com a mídia se torna de uma importância vital para qualquer

companhia. Barbeiro (2011) acrescenta que a imprensa, por causa desta influência

que exerce, é capaz de construir uma admirabilidade em relação a uma marca,

contribuindo para a credibilidade dela.

Falta às empresas um preparo estratégico para se comunicarem em

diferentes cenários e para todos os públicos. Esta capacidade, a interação com a

sociedade e a transparência têm se mostrado importantes já há algum tempo. As

corporações precisam alinhar seus interesses com as demandas da sociedade por

meio de um relacionamento estratégico com a mídia (ASSAD; PASSADORI, 2009).

Esta falta de preparo acaba refletindo em momentos como calar-se quando

é necessário um pronunciamento, o maior pecado na relação com a imprensa. Por

isto, é recomendado que seja feito um treinamento com o porta-voz antes de

momentos de crise. Desta forma, se obtém uma vantagem, com a confiança dos

jornalistas e a abertura de espaços na mídia para explicações (ASSAD;

PASSADORI, 2009).

De acordo com Nogueira (2007), quando uma empresa ignora essa

necessidade de interagir com a imprensa ela pode estar perdendo visibilidade para a

concorrência, além de não ter a oportunidade de divulgar os fatos que deseja ou

explicá-los, deixando os veículos propagarem suas próprias versões. Schiavoni

(2007, p. 47-48) enfatiza: “A relação entre as empresas e a opinião pública deixou

de ser um gesto magnânimo. Trata-se de uma obrigação. Nunca deixe sem resposta

questionamentos de jornalistas”.

Barbeiro (2011) afirma que os negócios e a mídia se encontram atrelados um

ao outro, atualmente, fato que mostra que quem não quiser se mostrar, vai acabar

sendo exposto de qualquer maneira por outros meios. Não existe mais uma

informação que seja reservada apenas para uma elite, que seja escassa.

Segundo Assad e Passadori (2009), o atual media training deve criar porta-

vozes com determinada capacidades, conforme a tabela a seguir.

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Tabela 5 – Atributos dos porta-vozes treinados com o Media Training do Terceiro

Milênio.

Responder com clareza e objetividade;

Fornecer informações com precisão;

Atender à imprensa com disponibilidade de dados;

Conhecer o assunto abordado;

Compreender o que é notícia;

Comunicar com segurança, sem medo e desconforto;

Identificar o que é importante para a matéria do veículo de comunicação;

Demonstrar espontaneidade diante dos jornalistas e públicos;

Dosar o que pode e o que não pode ser dito;

Estar à disposição da imprensa e cumprir os horários e eventos marcados com os jornalistas;

Conhecer as características e a dinâmica da empresa de comunicação em questão;

Excluir a hipótese de utilizar a assessoria de imprensa como escudo;

Atender a públicos e jornalistas com todos os atributos mencionados também nos momentos

de crise.

Tabela criada pela autora a partir de Assad e Passadori (2009).

Tojal (2007) acredita que se estando preparado para falar com os públicos e

sabendo-se relacionar com a imprensa, é possível evitar crises e também utilizar

estas capacidades para aprimorar-se a própria carreira e projetos de vida. Segundo

Assad e Passadori (2009), é recomendado que qualquer pessoa que vá fazer um

treinamento de mídia avalie se é capaz de elaborar conteúdos com início, meio e fim

para apresentar e de atrair e manter a atenção da sua audiência. Também se indica

que esta pessoa tenha criatividade e um bom vocabulário que seja, ao mesmo

tempo, compreensível para aqueles que irão escutá-lo. Schiavoni (2007, p. 48)

completa: “Em suma, o perfil da fonte ideal contempla qualidades como objetividade,

consistência, assertividade e didática”.

Assad e Passadori (2009) citam mais alguns atributos que se tornam

necessários quando se vai falar na mídia, estando presentes nos treinamentos. Um

deles é a boa aparência, que colabora para a aceitação de quem será entrevistado e

faz parte de sua apresentação. As expressões e gestos também influenciam na

percepção que se tem a respeito de alguém, eles são indicadores de sua

personalidade e estado de espírito. Quando se vai falar, é muito importante que

também se escute o entrevistador. Aqueles que interrompem perguntas não são

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respeitados, da mesma forma, quando têm a palavra. Além disso, o entrevistado

deve compreender que fala “com o jornalista” e não “para o jornalista”, o foco do seu

discurso deve estar no público, podendo ser utilizada a dimensão emocional para

promover empatia.

Thielmann (2007) afirma que gestos podem atrapalhar a entrevista se forem

muito insistentes, desviando a atenção do telespectador. De acordo com a autora, é

preciso ter-se cuidado com os sinais dados pelo corpo, ele também faz parte da

comunicação na televisão. Eles podem desmentir aquilo que se está dizendo.

Barbeiro (2011) complementa que imagem e fala devem estar integrados, visto que

muitas vezes aquela transmite mais mensagens do que esta.

As roupas também merecem certa atenção quando se vai fazer uma aparição

na televisão. Cores muito claras podem refletir a luz e acabar mostrando mais

marcas no rosto daquele que fala. Já o marrom tende a deixar aquele que o veste

com feições abatidas. O ideal é a utilização de cores mais escuras (THIELMANN,

2007). É preciso atenção também com estampas. Listras finas ou xadrez não devem

fazer parte da vestimenta para televisão uma vez que podem ativar uma vibração

visual que atrapalha o vídeo. Barbeiro (2011) também pede atenção em relação a

acessórios muito chamativos, que possam desvirtuar o foco da audiência.

O tom de voz é mais um aspecto a ser trabalhado em um media training.

Segundo Assad e Passadori (2009), um porta-voz precisa utilizar sua voz de

maneira leve, sempre pronunciando corretamente cada palavra. A forma influencia

no conteúdo que está sendo dito. Para Barbeiro (2011), deve-se relaxar a voz e

manter boas postura e respiração, estas estratégias ajudam a voz a ser externada

da maneira correta. O autor enfatiza que há um tom para ser utilizado em cada

situação e que o microfone amplifica os defeitos da fala, não se deve esperar

colaboração dele. Caso necessário, correções podem ser feitas com exercícios ou

ainda com tratamento fonoaudiólogo. Há programas de televisão que deixam de

convidar algumas pessoas devido à sua dificuldade.

Na entrevista, afirma Tojal (2007), há, muitas vezes, uma diferença de

interesses entre o repórter e o entrevistado. Enquanto este pode querer divulgar

informações que o repórter entende como não sendo relevante para o público do

veículo, aquele deseja obter declarações que o outro não pode ou não quer revelar.

Barbeiro (2011, p. 68) vai ao encontro desta ideia, caracterizando a entrevista como

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“[...] um duelo intelectual entre o entrevistado e o jornalista. Este quer que aquele

fale o que não quer falar”.

Por outra ótica, Assad e Passadori (2009) não acreditam que a entrevista

deva ser vista como uma parte no ataque e outra na defesa. Para eles:

Diferentemente do que se pensa, uma entrevista não é um duelo travado entre o jornalista e a fonte. Mas não pense que repórter e fonte têm liberdade para tratamentos puramente amistosos, como se fossem amigos de infância. Os dois são aliados apenas na determinada circunstância do intercâmbio de informações de interesse público. (ASSAD; PASSADORI, 2009, p. 61-62).

Os momentos de crise são aqueles em que o entrevistado mais precisa focar

a sua mensagem. Lucas (2007) sugere que se tente fixar o primordial, as

informações a respeito do que está sendo feito e das soluções em curso, buscando

falar nisso desde o primeiro questionamento e repetindo a mensagem algumas

vezes ao longo da conversa. Schiavoni (2007) explica que estas seriam as key

messages: três a cinco pontos relevantes em que o entrevistado deseja se

aprofundar, por ele eleitos antes da entrevista.

A pessoa que dará a entrevista deverá treinar as key messages com sua

assessoria de imprensa para se preparar. Para Barbeiro (2011), obtém-se sucesso

quanto mais key messages são reproduzidas na reportagem.

De acordo com Lucas (2007), a maneira como se posiciona nas primeiras

horas após a crise poderá definir a reação da opinião pública e o destaque que a

imprensa dará ao fato. Por isso é importante que se esteja preparado para agir

imediatamente e transparecer esta preocupação para a opinião pública. Barbeiro

(2011) afirma que não se deve aceitar condenações por parte da mídia caso esteja

ocorrendo um processo, todos são inocentes até que a Justiça se posicione. Para

Lucas (2007), o que é possível ser feito é uma otimização da opinião pública por

meio da comunicação, revertendo efeitos da crise.

A seguir, observam-se mais aspectos a respeito da mídia e da relação das

celebridades com os meios de comunicação.

3.3 MÍDIA E CELEBRIDADE

O lazer como parte de uma cultura que prioriza o bem-estar e as

necessidades da vida privada em detrimento dos problemas de trabalho, da política

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e da religião não é um fator que surge nos dias atuais. Ele já está em discussão há

muitos anos quando se fala em cultura de massa, uma cultura que segue os padrões

industriais, propagando-se de forma ampla para uma grande massa social (MORIN,

1997).

Dentro desta cultura, há um conceito de voyeurismo, que o caracteriza como

sendo um “[...]interesse intenso no que o outro, enquanto indivíduo suposto igual a

mim, faz e como o faz, diz e como o diz[...]” (CARNEIRO; CAMPOS; CORDEIRO,

2005, p. 4). Este prazer em observar a vida do outro inclui até seus sofrimentos, o

que causaria certo alívio no espectador em relação a suas próprias dores, uma vez

que ele toma conhecimento de frustrações alheias que são como as suas, ou até

piores (CRAVEIRO, [20-?]).

Morin (1997), afirma que na cultura de massa este voyeurismo se expande, o

espectador passa, então, a acompanhar fofocas e revelações a respeito da vida

privada de celebridades. Ele participa deste espetáculo, porém sempre de maneira

indireta, ele está muito próximo daquilo que vê, mas não pode tocar.

Este espetáculo se associa ao simulacro. O simulacro é uma representação

do real que acaba por tomar o seu lugar e por ser visto como tal. O espetáculo, por

sua vez, é este simulacro sendo criado para ser exposto, visando sua exibição para

o público. Estes dois fatores acabam por criar uma nova realidade:

A última consequência do mundo produzido como simulacro é a produção da própria consciência e identidade subjetivas como uma realidade virtual e fictícia: o Eu como drama da pessoa, a história como espetáculo midialmente concertado, o espírito subjetivo como irrealidade de uma ficção cenográfica. A reprodução do mundo como simulacro pressupõe o fim do sujeito e da história, o esvaziamento consumado da existência na ordem indiferenciada da cultura, concebida como segunda natureza ou natureza programada. (SUBIRATS, 1989, p. 66).

Herschmann e Pereira (2005) afirmam que as narrativas biográficas têm se

tornado um grande espetáculo graças à sua difusão nos meios de comunicação.

Este material se torna importante para os espectadores porque ele alimenta a

formação de comunidades, criando uma sensação de coletividade.

Aqueles que conseguem obter sucesso e tornam-se celebridades acabam

por, automaticamente, deixar sua privacidade e seu anonimato para trás. Segundo

Rojek (2001), a vida particular da celebridade acaba sendo, na cultura em que

vivemos, um domínio público, e é irônico o fato de estas pessoas dependerem do

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reconhecimento público enquanto, ao mesmo tempo, suas principais reclamações

estão, muitas vezes, relacionadas à falta de respeito pela privacidade por parte da

sociedade. Para o autor, o público vê a criação da celebridade como algo que não

pertence a ela, uma vez que ela precisa da legitimação daquele.

Por meio da mídia, os espectadores passam a acompanhar a vida das

celebridades – assunto que será abordado no item quatro deste trabalho – de forma

a chegarem a acreditar que os conhecem. De maneira inconsciente, as pessoas

absorvem aquilo que veem e começam a encarar a celebridade como se fosse sua

amiga. Elas dividem suas vidas com ela, seus segredos e seus sonhos. Se, por um

lado, se está consciente de que, para o famoso, se é um completo desconhecido,

por outro, cria-se uma intimidade que elimina a timidez no momento do contato com

ele, algo que não ocorre quando se lida com outras pessoas que não se conhece e

não se tem esta intimidade (SCHICKEL, 2000).

As celebridades surgem graças à estrutura dos meios de comunicação, que

são responsáveis pela grande divulgação destas personalidades. A mídia utiliza

seus recursos para reforçar a imagem e fatos relacionados a elas (NERVO, 2008).

Segundo Turner (2014), a televisão, hoje, tem demonstrado, inclusive, o poder de

criar celebridades do nada, sem que se tenha nenhuma habilidade ou característica

extraordinária que seja capaz de atrair a atração do público.

Rüdiger (2008) afirma que o desenvolvimento dos meios de comunicação

ocorrido entre as duas Guerras colaborou para o surgimento da celebridade como

um fenômeno cultural. A celebridade moderna é vista como um produto da mídia,

seguindo, assim, seus repertórios e padrões (TURNER, 2014). Rojek (2001) aponta

que a maneira como se vê as celebridades nos meios de comunicação é uma

encenação e, por isso, elas são percebidas como mágicas, sobre-humanas.

Para Rüdiger (2008), o momento em que o famoso se torna celebridade é

quando a indústria cultural passa a explorar esta impressão com suas engrenagens

coletivas. Turner (2014) complementa explicando que uma figura pública vem a ser

uma celebridade quando o interesse da mídia começa a ser transferido do relato de

seu papel público para o de sua vida privada.

Esta observação do outro existe há muitos anos, faz parte da vida em

comunidade. Rüdiger (2008) comenta que o aprimoramento das comunicações

amplificou este fenômeno, mas não é o responsável pelo seu surgimento. Isto

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acabou abrindo portas para uma massificação desta observação e para a utilização

dela para fins mercadológicos.

Pode-se observar a utilização das celebridades como marcas e de suas

imagens como produtos. Segundo Matta (2009), é preciso que se associe a

celebridade a bons atributos que devem ser lembrados pelo público no momento da

compra de CDs, DVDs e ingressos para shows, por exemplo. Assim como certos

produtos, algumas delas inclusive acabam sendo vistas como efêmeras e

perecíveis.

A celebridade precisa ser, em algum nível, comum. Ter raízes humildes, por

exemplo, cria algumas similaridades com a audiência e a faz identificar-se com

aquela (KRIEKEN, 2012). Esta personalidade não possui poder institucional, ela

mesma é uma criação da indústria cultural, mas também participa de um processo

de consumo uma vez que compartilha dos problemas da sociedade, aparentando

uma certa banalidade e acessibilidade (RÜDIGER, 2008).

A celebridade de hoje se diferencia dos heróis que antes se destacavam em

meio a uma sociedade. Rüdiger explica:

Os chamados heróis assim o eram porque, em tese ao menos, faziam-se por conta própria. As celebridades parecem ser, ao invés, criação da mídia. Aqueles se tornavam famosos por serem pessoas extraordinárias, essas por serem nomes da moda ou em evidência publicitária. Os primeiros faziam-se a si mesmos, ao menos em parte; as segundas são feitas e desfeitas, sobretudo, pelo negócio das comunicações. Os heróis eram extraordinários; as celebridades são cotidianas e banais [...]. (RÜDIGER, 2008, p. 6-7).

Turner (2014), porém, afirma que a imprensa, a televisão, mostram a

celebridade como uma qualidade inata, como se apenas alguns indivíduos especiais

a possuíssem e elas fossem descobertas pela indústria de caça-talentos. Por outro

lado, a literatura acadêmica vê as celebridades como o produto de diversos

processos culturais e econômicos. Para estes estudiosos, há uma indústria de

celebridade responsável por promovê-las e divulgá-las, fazendo parte da forma

como a mídia funciona atualmente. O autor ainda cita Marshall (1997 apud

TURNER, 2014), que percebe a celebridade como um mecanismo que conecta

consumidor, capitalismo, democracia e individualismo.

Boorstin (1971 apud TURNER, 2014) afirma que a celebridade é o

equivalente humano de um pseudo-evento. Ela é fabricada pela mídia e sua

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efetividade é avaliada de acordo com sua visibilidade na mídia. Uma aparição

pública desta pessoa se torna menos glamorosa e memorável se não há os flashes

dos fotógrafos, ainda que estes profissionais estejam cobrindo momentos comuns

como a saída ou chegada para um dia de trabalho.

Esta presença dos chamados paparazzi e suas fotos mostram o quanto estas

fotos das celebridades em sua vida cotidiana estão sem contexto ou, no mínimo,

criando um contexto próprio. Os tabloides criaram a demanda por este tipo de

cobertura midiática, mas hoje ela se expandiu para além deles. Mesmo que estes

jornais não estejam mais em evidência, o número de paparazzi apenas aumenta,

mostrando que a alma dos tabloides hoje está presente em todo o jornalismo

(SCHICKEL, 2000).

Da Matta (1979 apud HERSCHMANN; PEREIRA, 2005) aponta algumas

diferenças entre celebridades no Brasil e nos Estados Unidos. Enquanto os

americanos veem o sucesso apenas de maneira positiva, o brasileiro, com sua

cultura católica, o encara com maior dificuldade, sentindo-se até culpado. Além

disso:

Se, nos EUA, o culto às celebridades instaura uma hierarquia social numa sociedade de iguais, em países como o Brasil, marcados pelas desigualdades e exclusão social, a possibilidade de se tornar famoso (mesmo que de forma efêmera) representa, para as camadas menos privilegiadas da população, a obtenção, mesmo que temporária, da condição de cidadão. (HERSCHMANN; PEREIRA, 2005, p. 12-13).

No capítulo a seguir observa-se um caso dos Estados Unidos e um do Brasil

de crise de imagem no meio artístico, ambos envolvendo, de alguma forma, a

relação entre uma celebridade e a mídia.

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4 WILSON SIMONAL, MICHAEL JACKSON E AS RELAÇÕES PÚBLICAS

O presente capítulo apresenta as biografias de Wilson Simonal a partir de

Alexandre (2009) e de Michael Jackson a partir de Porter (2007), com livre tradução

da autora. O capítulo também apresenta trechos da entrevista realizada pela autora

desta monografia com Max de Castro, filho de Simonal (APÊNDICE A) e discorre

sobre as crises de imagem ocorridas com os cantores e suas consequências.

Analisam-se as crises frente ao desenvolvimento das Relações Públicas no Brasil e

nos Estados Unidos e sugere-se uma possível contribuição desta atividade em

ambos os casos.

4.1 WILSON SIMONAL

Wilson Simonal foi um cantor brasileiro de muito sucesso nos anos 60 no

Brasil. Sua fama era comparável à de Roberto Carlos e o artista chegou a ser

elogiado por grandes nomes internacionais como Quincy Jones. Resumindo, no final

dos anos 60, Wilson Simonal, um negro, era o homem que todo mundo queria ser,

mesmo que o racismo ainda se fizesse muito presente na cultura brasileira. Porém,

uma sequência de episódios acabou mudando para sempre este cenário e o cantor

se tornou um fantasma na história musical do país, como se sua contribuição para a

música brasileira não existisse (ALEXANDRE, 2009).

Simonal nasceu no dia 23 de fevereiro de 1938 no Rio de Janeiro. Sua mãe

trabalhava como cozinheira na capital, para onde havia ido em busca de uma vida

melhor. Maria Silva de Castro era analfabeta e havia crescido em uma fazenda em

Minas Gerais. Seu pai, Lúcio Pereira de Castro, também vindo de Minas Gerais para

o Rio de Janeiro, trabalhava como radiotécnico. Era alfabetizado e tinha um perfil

mulherengo.

Segundo sua biografia escrita por Alexandre (2009), Maria precisou criar os

dois filhos sozinha, trabalhando como cozinheira em casas de famílias com maior

poder aquisitivo. Ela passava por muitas dificuldades, inclusive para conseguir

emprego, visto que alguns patrões não aceitavam empregados com filhos. Mesmo

assim, preferia que seus filhos crescessem convivendo com os filhos das famílias

ricas e naquele ambiente do que da maneira que ela foi criada.

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Simonal abandonou os estudos na década de 50 para ajudar no orçamento

da família trabalhando. Trabalhou como “micropolícia” e também como mensageiro

de uma empresa de telégrafos. Até que um dia, cantando em uma atração de um

parque de diversões montado na praça Antero de Quental, ele conheceu Marcos

Moran e Edson Bastos. Este último era o filho de uma importante pianista, Alda Pinto

Bastos, que o ensinou a tocar violão e piano. Os três garotos começaram a pensar

em formar um grupo e a ensaiar juntos. Porém, nesta época, Simonal e Marcos

Moran foram chamados para o serviço militar.

Foi no exército que Wilson Simonal se descobriu como cantor. De acordo com

a ex-patroa de Maria, Bárbara Heliodora (SIMONAL..., 2009), o garoto tinha o desejo

de ser cantor, mas sua mãe não apoiava pois acreditava que a carreira no exército

era muito mais concreta, garantida.

Simonal montou o grupo com seus amigos Marcos Moran e Edson Bastos e

em maio de 1960 acabou deixando a carreira militar por conta do racismo que sofria

e se viu direcionado ao seu futuro musical. O grupo Dry Boys começou a aparecer

em programas de novatos e em algumas rádios e TVs do Rio de Janeiro. Porém,

com brigas constantes e frustrados com a dificuldade em obter sucesso, em 1961 o

grupo se dissolveu e Simonal iniciou sua carreira solo com o apoio de Carlos

Imperial, que comandava programas de rádio e televisão, era músico e trabalhava

com agenciamento artístico, com uma grande rede de contatos (ALEXANDRE,

2009).

Com a ajuda de Imperial, Simonal conseguiu assinar o seu primeiro contrato

com uma gravadora em 1961. Wilson Simonal já tocava nas boates cariocas quando

a gravadora Odeon lançou sua música Terezinha nas rádios populares. A música

havia sido escrita por Carlos Imperial com inspiração na sua namorada Tereza,

branca, filha de uma família de classe média. Tereza acabou se tornando, pouco

tempo depois, a namorada de Simonal.

Em 1963, Simonal começou a tocar em um dos principais pontos musicais do

Rio de Janeiro, o Beco das Garrafas, frequentado por jornalistas e pessoas

influentes:

[...] Wilson Simonal [...], quando surgiu no Beco, em 1963, provocou uma sensação que é hoje indescritível e talvez inacreditável. Ele era apenas o máximo para seu tempo: grande voz, um senso de divisão igual ao dos melhores cantores americanos e uma capacidade de fazer gato-sapato do

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ritmo, sem se afastar da melodia nem apelar para os scats fáceis que eram a especialidade de Leny Andrade. (CASTRO, 2008, p. 362).

De acordo com a biografia do cantor (ALEXANDRE, 2009), neste mesmo ano,

Tereza engravidou. Os dois, então, casaram-se e, no ano seguinte, no dia seis de

abril, nasceu Wilson Simonal Pugliesi de Castro, “Simoninha”. O casal conseguiu

comprar um imóvel no Leblon e a família mudou-se para lá.

Em 1965, Simonal, Tereza e Simoninha foram viver em São Paulo por conta

de um convite da TV Tupi para o artista estrelar um programa. Já em 1966, o cantor

assinou um contrato com a TV Record. Ele estreou na emissora participando de um

programa chamado “O Fino da Bossa”, mas, ainda neste ano, a Record lançou o

programa “Show em Si...monal”, em que Wilson Simonal era a estrela principal e

onde ele conheceu o trio que o acompanharia por muitos anos: o Som Três

(ALEXANDRE, 2009).

1967 foi um ano de muito crescimento para a carreira de Wilson Simonal. Seu

programa na TV Record foi relançado com o nome “Vamos s‟imbora” e sua música

“Nem vem que não tem” o levou direto para o sucesso. O cantor já estava tão rico

quanto Imperial e tornara-se um ícone que todos queriam copiar. Ele se orgulhava e

fazia questão de mostrar que estava sempre bem-vestido, dirigia os melhores carros,

bebia os melhores uísques e namorava as louras mais desejáveis (ALEXANDRE,

2009).

No ano seguinte, nasceu a segunda criança do casal: Patrícia Pugliesi de

Castro. A imprensa aproveitou o fato para fazer as primeiras fotos públicas da

esposa de Simonal, com sua filha no colo. O cantor buscava não expor sua família

para poupá-la, porém, às vezes, seus esforços eram vencidos pelo assédio.

Alexandre (2009), afirma que a maneira como Simonal se portava e a forma

como ele chamava a atenção para sua ostentação colaboravam para sua fama,

mas, ao mesmo tempo, tiravam a atenção do público daquilo que era para ser o

motivo de tudo isso: a música.

Enquanto outros artistas, em 1968, eram presos e usavam a sua arte para

protestar contra o regime militar, Simonal zombava deste envolvimento dos cantores

com a política e não demonstrava se importar com os rumos da civilização:

1968 foi um ano terrível para Gil, Caetano e Chico, mas para Wilson Simonal e sua pilantragem foi triunfal. Um hit atrás do outro, cada vez maiores. Mais que um cantor, Simonal se afirmava como entertainer, que

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divertia a plateia e a fazia cantar com ele, que contava com piadas entre uma música e outra. (MOTTA, 2000, p. 186).

Simonal mantinha uma agenda lotada, conforme afirma seu filho, Simoninha,

no documentário Ninguém Sabe o Duro que Dei: “Trezentos e vinte shows, ou

trezentos e quarenta shows, num ano. E isso eu estou falando 67, 68. Quer dizer, é

uma loucura” (SIMONAL..., 2009).

Um dos maiores feitos de Simonal ocorreu quando o cantor realizou o show

de abertura para Sergio Mendes no Maracanãzinho em 1969 para 30 mil pessoas.

Ele dominou o palco e o público, e houve pedido de bis mais de uma vez. A plateia

foi à loucura quando Simonal foi chamado ao palco durante o show principal da noite

e o que ficou marcado daquele dia foi que as pessoas que estavam no

Maracanãzinho ficaram mais empolgadas durante o show de abertura do que no

show de Sergio Mendes, já consagrado internacionalmente (ALEXANDRE, 2009).

Após o feito, Simonal assinou um contrato com a empresa Shell e o fato virou

notícia em diversos veículos. Foi considerado, na época, um dos maiores contratos

de publicidade já feitos no país. Por causa da grande quantidade de trabalho e de

circulação de dinheiro, o cantor criou, então, a Simonal Produções Artísticas, sua

empresa individual (ALEXANDRE, 2009). Em entrevista1 dada à autora deste

trabalho, Max de Castro, filho de Simonal, comenta sobre a Simonal Produções

Artísticas:

[...] era uma festa, todo mundo ia lá e pegava dinheiro, vales, e muitas pessoas ganharam dinheiro, assim, davam voltas nele, dizendo assim “ah, quanto é que custou o negócio?” “o negócio custou 200”, e na realidade tinha custado 80, era assim. As pessoas se aproveitavam muito dele e o ambiente desse escritório era essa coisa meio confusa e tal [...]. (Max de Castro, 2014).

E acrescenta, a respeito das pessoas na equipe que cercava Simonal:

Com certeza era o pior tipo delas [...]. Ele com certeza se juntou com pessoas que não eram as pessoas mais preparadas, com pessoas de confiança muito questionável [...]. (Max de Castro, 2014).

De acordo com Alexandre (2009), em 1969 Simonal lançou a música de maior

sucesso de toda a sua carreira no Brasil: País Tropical. Neste ano, o cantor estava

1 CASTRO, Max de. Sobre Simonal [17 nov. 2014]. Entrevistador: Alina Antunes da Cunha. Porto Alegre.

Entrevista realizada via Skype.

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tão em alta que chegou a vender mais discos que Roberto Carlos. Sua segunda

apresentação no Maracanãzinho, desta vez encerrando o Festival Internacional da

Canção, deixou o público eufórico e aos gritos, Tony Tornado (cantor e ator)

comenta: “O Simonal não concorreu nesse festival, aliás. Ele fez o espetáculo no

meio do festival e arrasou. Foi aí que ele arrasou. Foi aí que ele causou a tal da

inveja. Foi aí que começou a bronca.” (SIMONAL..., 2009).

A revista O Cruzeiro, naquele tempo, chegou a fazer uma reportagem

inusitada criticando um aspecto presente na mídia: mesmo que Simonal fizesse

shows beneficentes e ajudasse crianças carentes, falava-se muito sobre a vida

privada e a prosperidade do cantor, mas praticamente nada a respeito de seus atos

de bondade. Até suas brigas com Tereza e saídas com outras mulheres iam parar

nas colunas de fofoca. Na realidade, a maior parte do que se falava na mídia a

respeito de Simonal não tinha relação com sua música, o cantor estava sofrendo de

uma superexposição (ALEXANDRE, 2009).

Para Artur da Távola, jornalista, o sucesso de Simonal não era visto com bom

olhos naquela época em que o preconceito ainda era muito presente: “Ele era como

aquele sujeito que se meteu a branco para os brancos da classe dominante, o que

era imperdoável.” (SIMONAL...,2009). Tony Tornado também percebeu movimentos

racistas: “Diziam que ele era um crioulo de nariz empinado e tal, pô, é porque ele

não aceitava um „sim senhor‟, „não senhor‟, né. Porque ele era autossuficiente ele

não precisava aceitar um „sim senhor‟, „não senhor‟” e completa: “ [...] o Simonal

tinha três Mercedes. Era demais pra um negão” (SIMONAL..., 2009).

Agora com sua empresa, Simonal continuava a ostentar carros e adquirir

imóveis e tudo ia para a contabilidade da Simonal Produções. O cantor estava em

um ótimo momento de sua carreira, então, em 1970, foi convidado para viajar com a

Seleção brasileira para a Copa do Mundo a ser realizada no México. Com sucesso

também no país da Copa, Simonal volta ao Brasil com grande sucesso, começando

a se distanciar dos músicos que o acompanhavam e a andar com pessoas antes

desconhecidas (ALEXANDRE, 2009).

Ainda segundo sua biografia (ALEXANDRE, 2009), após uma coletiva sobre

seu sucesso no México, Simonal foi ao escritório de sua empresa e encontrou

diversas cobranças e dívidas atrasadas. O cantor percebeu que a situação estava

fora de controle, demitiu alguns funcionários e contratou um novo contador para

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organizar as finanças. Simonal nunca imaginou que pudesse empobrecer, visto que

tinha diversas fontes de receita. Mas Max de Castro, em entrevista, observa:

[...] no começo dos anos 70, 71, um show do Simonal tinha que ter umas orquestras um ballet, uma coisa assim, era um show de um grande astro da música e essas coisas custam caro, precisam ser bem administradas. Essas decisões artísticas têm que ser muito bem balanceadas com as decisões financeiras e administrativas, e isso era uma coisa que não havia. Não havia esse planejamento, as coisas foram sendo feitas, assim, meio ao sabor do tempo. (Max de Castro, 2014).

A partir deste momento o cantor começou a se incomodar. Acabou se

encrencando com os diretores da Globo por insistir em um contrato de acordo com

os seus desejos, perdeu os músicos que o acompanhavam por tratá-los mal, acabou

dispensando todos os funcionários da Simonal Produções por desconfiança e lançou

músicas e cantou em eventos nacionalistas, o que, naquela época, não era bem

visto: “Se o cara não protestasse contra, o cara automaticamente era um defensor

da causa e concordava com tudo que estava acontecendo.” (SIMONAL..., 2009),

afirma Max de Castro, filho de Simonal.

Raphael Viviani, seu novo contador que havia se mudado com a família de

São Paulo para o Rio de Janeiro para trabalhar na Simonal Produções, se viu sem

perspectiva de trabalho e entrou com um processo trabalhista contra Simonal

(ALEXANDRE, 2009).

Muito se falou a respeito do que ocorreu depois disto, mas ninguém sabe ao

certo. Segundo a biografia Nem Vem Que Não Tem (ALEXANDRE, 2009), Simonal

ficou com muita raiva de Viviani pelo processo e comentou o ocorrido com alguns

amigos seus do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS - órgão de

repressão política da época da ditadura).

Na terça-feira à noite, 24 de agosto, dois policiais surgiram na casa de

Raphael Viviani, levados pelo motorista de Simonal, pedindo que o contador os

acompanhasse até o escritório para alguns esclarecimentos. Simonal os aguardava,

e lá os policiais pressionaram o contador para que ele assumisse ter desviado

dinheiro da empresa. Frente à negativa, os agentes levaram o acusado até a sede

do DOPS, entrando por uma porta lateral, não pela porta principal. Raphael Viviani

foi colocado em uma sala e espancado, até torturado com choques. Quando os

policiais ameaçaram ir buscar a família do contador, ele aceitou assinar um

documento de confissão (ALEXANDRE, 2009).

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Dois dias depois, afirma Alexandre (2009), Raphael Viviani registrou uma

queixa contra Simonal e a notícia se espalhou, com a imprensa informando o

envolvimento do cantor em um crime relacionado ao DOPS. Simonal foi depor e

confirmou a história relatada em um documento assinado por ele e pelos policiais:

ele suspeitava que o contador fosse um terrorista que o estava ameaçando por

telefone e esta informação era recebida com credibilidade por parte dos agentes

porque Simonal já teria colaborado com o governo repassando informações a

respeito de movimentos subversivos no meio artístico: “E o Simonal foi mais ingênuo

ainda, e soberbo, e em vez de pedir desculpas disse à imprensa „é isso mesmo, eu

estou com os homens mesmo e todo mundo me adora...‟” (SIMONAL..., 2009), conta

Luiz Carlos Miele, produtor musical.

No início apenas os veículos mais alternativos focavam suas reportagens na

imagem de Simonal como informante. Os jornais normalmente exploravam a

afirmação do cantor a respeito de apoiar a direita (ALEXANDRE, 2009).

Entrevistado, Max de Castro explica o interesse de alguns em prejudicar a imagem

de Simonal, interesse este que ia além deste episódio pontual:

E aí isso tudo temperado com os ânimos quentes da época, temperado também com uma grande inveja e também um certo bode que algumas pessoas tinham dele na época, assim, dele ser um cara meio petulante, essa coisa do cara negro que anda bem vestido, de nariz empinado e que só anda de Mercedes, com loira, isso gerava um certo mal-estar. Então essa situação acabou sendo um prato cheio pra que essas pessoas que não simpatizavam com ele, que tinham esse pé atrás com ele, pudessem se ver livres da figura dele. (Max de Castro, 2014).

No dia 7 de setembro chegou às bancas uma edição de O Pasquim com uma

imagem de meia página de um dedo negro. A ideia de que Simonal seria um “dedo-

duro” começou a correr, a crescer, até, finalmente, tornar-se fato (ALEXANDRE,

2009). Artur da Távola, jornalista, comenta:

Isso traz à tona um problema que ocorre com a imprensa no Brasil e no mundo, hoje em dia, não é só no Brasil, não. É tomar o sintoma por indício, tomar o indício por fato, o fato por julgamento, o julgamento por condenação e a condenação por linchamento. (SIMONAL..., 2009).

Max de Castro, em entrevista à autora desta monografia, comentou sobre as

primeiras publicações do jornal O Pasquim:

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A princípio O Pasquim, [...] era uma mídia alternativa [...] mas tinha um papel de formação de opinião muito importante e era onde o Simonal tinha uma grande antipatia. As pessoas, os jornalistas que trabalhavam no Pasquim, não simpatizavam com o Simonal porque ele representava muito o contrário dos ideais, era um jornal de esquerda [...] e eles viam no Simonal um cara vendido ao sistema, um cara que, ao invés de usar o sucesso dele, a popularidade dele, pra falar coisas importantes, ele era um cara que talvez estivesse usando isso pra fazer uma música comercial, e ele também não tinha uma posição muito clara se ele estava a favor ou contra naquela situação [...]. (Max de Castro, 2014).

De acordo com a biografia escrita por Alexandre (2009), entre os anos de

1971 e 1972 a música brasileira estava em um momento de mudanças e Simonal

também quis se reposicionar. Com o fim do contrato com a Odeon, ele assinou com

a gravadora Philips, mas o lançamento de seu primeiro disco com ela ocorreu

praticamente ao mesmo tempo em que um policial depôs reafirmando que Simonal

era informante do DOPS e trazendo à tona novamente a pauta na imprensa, o que

provavelmente foi uma das razões pelas quais não houve muitas vendas do álbum.

Ainda em 1972, nasceu seu terceiro filho, Maximiliano Simonal Pugliesi de

Castro. Dois anos mais tarde a família começou a ter problemas mais sérios.

Simonal e Tereza brigavam com mais frequência e ela precisou ser internada

diversas vezes por sofrer de transtorno bipolar (ALEXANDRE, 2009).

Simonal se lançou como cantor de samba em 1974 e ainda tinha um cachê

alto. No entanto quando uma música de seu novo álbum começou a ter uma boa

execução nas rádios, o cantor foi preso e levado ao Rio de Janeiro. O caso recebeu

grande repercussão na mídia e a prisão de Simonal foi acompanhada por diversos

veículos de comunicação. Ele foi solto apenas nove dias depois com a imagem de

delator ainda mais explorada e com a carreira em decadência (ALEXANDRE, 2009).

Em entrevista para este trabalho, Max de Castro afirma acreditar ter sido este o

momento crucial na crise de Simonal:

Aí que nego começou a boicotar mesmo, nego que trabalhava em rádio, em televisão. Ele começou a sofrer um boicote, a ser velado, a própria classe artística não simpatizava, assim, de estar envolvido em projetos que ele estava envolvido também e daí pra frente ele começou a ter sérios problemas, e aí que eu acho que mudou muito. (Max de Castro, 2014).

Alexandre (2009) afirma que Simonal possuía alguns amigos fiéis que o

defenderam ao longo dos anos. Mas mesmo que se tentasse provar na mídia a

inocência do cantor em relação às acusações de delator, estes depoimentos e

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provas nunca tinham uma repercussão tão grande quanto a anterior. Colocar-se

contra Simonal havia ido além da esfera pessoal, já tinha se tornado uma atitude de

combate à ditadura: “A imprensa era quem menos se interessava em fazer isso,

porque isso pra imprensa era um prato.” (SIMONAL..., 2009), afirma Chico Anysio,

humorista. Aos poucos, seu nome começou a ser deixado de lado na mídia,

conforme explica o entrevistado Max de Castro:

A princípio, o cara não fala porque o cara não quer citar um cara que ele acha mau caráter, porque o cara é informante dos militares. Mas dali a cinco anos, como ele está há cinco anos sem falar nesse cara, passa a ser normal não falar dele. (Max de Castro, 2014).

Seu último single de sucesso foi lançado em 1976. O disco que veio a seguir

não teve boas vendas e em 1980 Simonal assinou com uma pequena gravadora,

lançando mais dois discos. Em 1984 o cantor lançou um compacto, que seria o

último material novo do artista por 10 anos (ALEXANDRE, 2009). Seus discos

antigos já haviam saído de catálogo e ele não era mais assunto nos jornais, revistas

e televisão: “Virou um tabu, [...] as pessoas foram muito covardes [...]” (SIMONAL...,

2009), explica Nelson Motta (jornalista) no documentário sobre o cantor.

Simonal, na realidade, não parou de fazer shows. O que ocorreu é que o

circuito que ele costumava fazer mudou e sua imagem não mais aparecia na mídia.

De grandes teatros das capitais, o cantor passou a se apresentar em feiras e

eventos em outras cidades pelo país, porém ainda para públicos grandes

(ALEXANDRE, 2009).

Segundo Alexandre (2009), nos anos 80 Wilson Simonal aumentou o seu

consumo de bebidas. Por causa do álcool, ele começou a perder a voz e, por perder

a voz, ele passou a evitar os palcos. Sem ter muito trabalho, suas dívidas

aumentaram. Sua segunda esposa, Sandra Cerqueira comentou sobre a dificuldade

de Simonal para trabalhar nesta época: “Até que acontecem os primeiros problemas.

Começavam assim, as respostas: „o release dele é maravilhoso só que a figura dele

ainda está vinculada à ditadura.‟” (SIMONAL..., 2009).

Max de Castro, comentando sobre o documentário de Simonal feito por

Cláudio Manoel, mostra que no ano de 2001, quando o ator/diretor surgiu com a

ideia, o assunto ainda era tratado como tabu:

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E ele [Cláudio Manoel] contou pra gente que ele foi até o patrocinador, levou o projeto do filme que ele tinha feito e tal, com sinopse, com tudo, com material que ele tinha levantado de pesquisa, coisas de jornal... Levou pro cara e o cara chegou, olhou, deu uma folheada, virou pra ele e falou assim: “cara, não se mete com isso, não, cara, esse pessoal aí, essa gente é muito poderosa” [...] “você vai se dar mal, sai dessa”. (Max de Castro, 2014).

Diagnosticado com uma cirrose hepática, Wilson Simonal faleceu aos 62 anos

no dia 25 de junho de 2000 em São Paulo no Hospital Sírio-Libanês. Internado lá

desde o dia 4 de abril do mesmo ano, o principal assunto do cantor em seu leito de

morte ainda era em relação à busca das provas de sua inocência e ao seu

sofrimento, causado pelas acusações (ALEXANDRE, 2009).

No subcapítulo a seguir, estuda-se mais um caso de crise de imagem no

segmento musical, porém, desta vez, de um artista dos Estados Unidos, ocorrido

duas décadas depois da crise de Simonal.

4.2 MICHAEL JACKSON

Michael Jackson foi um artista americano com uma carreira mundial, com seu

ápice no início dos anos 80, lançando o álbum mais vendido de todos os tempos:

Thriller. Sua vida era muito comentada na mídia e sua fama não se deu apenas por

suas músicas, mas também (e, em algum momento, até mais) por sua

excentricidade física e comportamental. Sua frequente “amizade” com crianças

acabou resultando em especulações e até em processos contra Michael, que

acabaram por prejudicar diretamente sua carreira (PORTER, 2007).

Michael Jackson nasceu no dia 29 de agosto de 1958, sétimo filho dos nove

que teriam Katherine e Joseph Jackson, um casal afro-americano. Sua mãe

trabalhava como balconista em uma loja de departamento e seu pai, músico

frustrado, era operador de guindaste. Quando percebeu que os filhos tinham talento

para a música, Joe começou a ensaiar com eles e deixou a banda da qual fazia

parte. Aos cinco anos de idade, Michael entrou para o grupo musical masculino de

seus quatro irmãos mais velhos (então chamado Ripples and Waves) como vocalista

principal, começando a participar dos ensaios (PORTER, 2007).

Segundo Porter (2007), Joseph, que havia sido criado com duras punições e

com brutalidade, aplicou o mesmo método com seus filhos. Quando um deles errava

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um passo de dança ou desafinava, apanhava com chibata ou cinto. O pai planejava

usar o dinheiro vindo do trabalho de seus filhos para sustentar a família.

O quinteto começou a participar de concursos amadores e a realizar a

abertura de alguns shows. Eles ensaiavam diariamente e incansavelmente,

deixando passar a sua infância. Eles começaram a fazer alguns shows fora de Gary

(cidade no estado de Indiana onde eles viviam) e em 1968 conseguiram, finalmente,

uma audição para a Motown. A gravadora, muito famosa por trabalhar com os

maiores artistas negros dos Estados Unidos, assinou um contrato com o grupo em

1969, aos 10 anos de Michael (PORTER, 2007).

Porter (2007) afirma que o The Jackson 5 teve seu disco de estreia como um

sucesso de vendas e em 1970 uma de suas músicas já era a primeira nas paradas

de sucesso, superando as vendas de Let It Be, dos Beatles. O sucesso deles

acabou obrigando-os a estudar em escolas particulares (o que não é comum nos

Estados Unidos), uma vez que suas fãs invadiam suas salas de aula e gritavam fora

de suas escolas.

Michael, que, para muitos, se destacava em relação aos seus irmãos, lançou

sua primeira música solo em 1970, e seu primeiro disco em 1972, com vendas não

muito expressivas. Com o grande sucesso do The Jackson 5, os irmãos saíam em

turnê por todo o mundo, mas, mesmo com muitos fãs, as vendas de seus discos

começaram a cair. Seu álbum solo lançado em 1975 também não apresentou

grande número de vendas (PORTER, 2007).

Ao contrário de seus irmãos, que se aproveitavam da fama para se relacionar

com o maior número de garotas possível, Michael não demonstrava interesse em

levar fãs para seu quarto de hotel. Com seu jeito afeminado, começou a haver

muitas especulações a respeito de sua sexualidade. O cantor começou, então, a sair

com algumas meninas para desmentir os boatos, fato que não modificou muito a

vinculação de sua imagem à homossexualidade (PORTER, 2007).

Em 1979, mesmo ano em que o The Jackson 5 entrava em turnê mundial,

Michael lançou seu primeiro disco de sucesso: Off The Wall, vendendo mais de 8

milhões de cópias. Porém o grande estouro de sua carreira foi a partir de 1982, com

o lançamento do álbum mais vendido até hoje, Thriller, produzido pelo renomado

Quincy Jones. Nesta época o cantor já havia se desvinculado de seu pai como

produtor e seus clipes começaram a ser veiculados no canal musical de televisão

MTV, que não contava com artistas negros em sua programação (PORTER, 2007).

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De acordo com Porter (2007), os anos 80 também foram marcados como o

início das mudanças de visual do artista. Michael, que quando criança era

amplamente xingado por seu pai por (de acordo com Joe) ser feio, também teve

problemas com sua aparência na adolescência por ter muitas espinhas e, por isso,

começou a se submeter a diversas cirurgias plásticas e, não se sabe como, a

aparentar ter a pele cada vez mais clara.

Em 1984 Michael Jackson quebrou mais um recorde: venceu em oito

categorias do Grammy (premiação musical comparada ao Oscar) daquele ano. Este

também foi o ano em que ele realizou sua última turnê com seus irmãos e em que

ele estrelou no comercial da Pepsi, peça publicitária de tanto sucesso que era

veiculada de graça em diversos canais (PORTER, 2007).

Ainda morando com sua família, Michael começou a fazer amizade com

meninos que ainda estavam na idade infantil. Ele convidava os garotos para passar

a noite na sua casa (em seu quarto) e alguns chegavam a passar um mês com o

cantor, recebendo diversos presentes e contando com altas quantias em dinheiro

enviadas às suas famílias (PORTER, 2007).

Tendo lançado o seu álbum Bad em 1987, segundo disco mais vendido

mundialmente até aquele momento (perdendo apenas para Thriller, do mesmo

cantor), Michael entrou em uma turnê mundial, levando consigo um de seus

“amigos”, um garoto de nove anos, e seus pais. Falou-se tanto sobre esta nova

companhia de Michael e espalharam-se tantos boatos que o artista precisou mandar

o menino e sua família de volta para casa.

Durante a turnê Bad, o jornalista Paul Voth resumiu exatamente a reação da mídia em relação a Michael: “Mesmo que ele estivesse triunfando em sua turnê mundial, os jornais de onde ele vivia e do exterior começaram um ataque a Michael que duraria anos. Especulações a respeito de seu nariz, sua pele, sua sexualidade – lentamente, mas definitivamente desenvolvendo uma tendência. A mídia se concentrava cada vez menos nas contribuições musicais de Michael a favor do assunto muito mais rentável que era retratá-lo como um homem esquisito com ideias e hábitos estranhos.”. (PORTER, 2007, p. 272, tradução nossa).

Incomodado também com a intromissão de sua família em sua vida particular,

Michael Jackson comprou um rancho na Califórnia, nomeado Neverland, onde

construiu sua casa e seu próprio parque de diversões e zoológico, em 1988

(PORTER, 2007).

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De acordo com a biografia escrita por Porter (2007), Michael convidava

algumas crianças para se divertirem no seu parque e escolhia um garoto por vez

(quase exclusivamente brancos) para passar alguns dias com ele em Neverland.

Normalmente o menino ficava na casa junto do cantor (dormindo com ele em sua

cama) e sua família ficava em uma casa de hóspedes dentro do terreno. Michael

dava inúmeros presentes e quantias em dinheiro a cada um desses “amigos” e suas

famílias. Ele costumava levar a criança escolhida para alguns compromissos, como

premiações, para passear no shopping e também em suas turnês. O que Michael

alegava é que ele se sentia como uma criança e gostava muito delas, por seus

corações puros e sua honestidade. Porém os boatos que circulavam pelo país e pelo

mundo eram muito negativos, duvidando das boas intenções do cantor.

Em 1992 Michael começou uma nova “amizade” com um garoto chamado

Jordie Chandler, de 12 anos. Até o ano de 1993, Jordie, sua mãe e sua irmã caçula

iam frequentemente, aos finais de semana, visitar Michael em Neverland. O cantor

os levava também em suas viagens e os enchia de presentes caros. A mãe, que

inicialmente não concordava que Jordie dormisse na mesma cama que o artista,

passou a aceitar o fato, deixando que Michael dormisse com o garoto também nos

dias em que visitou a casa da família Chandler (PORTER, 2007).

Evan Chandler, pai de Jordie, divorciado da mãe do menino, não concordou

com a estranha amizade entre Michael e seu filho, mas disse aceitar porque tirava

muito proveito deste relacionamento, recebendo presentes e dinheiro. Porém,

chegou um momento em que ele resolveu agir. Evan conseguiu a confissão de

Jordie, afirmando ter sido abusado, quando o garoto estava anestesiado na cadeira

em que o pai, dentista, faria a extração de um de seus dentes (PORTER, 2007).

Porter (2007) afirma que Jordie foi encaminhado a um psiquiatra, a quem

contou detalhes de sua relação com Michael. Afirmou, em depoimento, que Michael

o beijava na boca, praticava masturbação no garoto e tomava banho com ele,

pedindo que estes momentos fossem mantidos em segredo, além de tentar

persuadi-lo a odiar seus pais.

Em setembro de 1993, o advogado da família Chandler entrou com uma ação

civil contra Michael com sete acusações relacionadas a abuso sexual, sedução,

fraude, negligência, entre outros. No início, a maioria do público acreditava que este

era mais um caso de extorsão, mas aos poucos Michael começou a ser xingado em

alguns locais públicos aonde ia. Com o momento de turbulência, o cantor passou a

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tomar mais remédios (havia começado a tomar remédios para dor após um acidente

em que seu cabelo pegara fogo), a comer pouco e a passar mal, o que o

impossibilitou de realizar alguns shows marcados (PORTER, 2007).

Após feita uma busca em Neverland e com a descrição e o desenho de Jordie

das genitálias e nádegas de Michael, a justiça ordenou que fossem tiradas fotos

destas regiões do corpo do cantor para que fosse averiguada a verossimilhança das

ilustrações, que apontavam diversas manchas na pele de Jackson. Todas as

tentativas do artista de não atender a este pedido não funcionaram e ele teve de se

submeter a um exame e a fotografias o que, segundo Michael, foi o momento mais

humilhante de sua vida (PORTER, 2007).

Segundo Porter (2007), em janeiro de 1994, seguindo as instruções de seus

advogados e de seus conselheiros, Michael aceitou fazer um acordo com a família

Chandler, dando a eles uma alta quantia em dinheiro que, adicionada aos valores

gastos devido ao processo e aos shows cancelados, somava mais de 100 milhões

de dólares, em troca da retirada das acusações. Apesar de todos os problemas

causados pelo ocorrido, Michael não parou de “fazer amizade” com crianças, nem

de convidá-las a irem à sua casa. O artista continuava desfilando ao lado de jovens

meninos em suas turnês e em passeios em público pelo mundo.

Em maio do mesmo ano, Michael Jackson se casou com a filha de Elvis

Presley, Lisa Marie. Neste ano algumas pessoas já falavam que isto seria uma ação

de relações públicas para o lançamento de seu novo álbum ou para desmentir as

acusações de pedofilia e homossexualidade (PORTER, 2007). Porém a visão da

mídia sobre o acontecido era, em sua maioria, humorística e irônica, o que não foi

contradito pelo rápido divórcio, em 1996.

Seu disco HIStory, lançado em 1995, teve 18 milhões de cópias vendidas,

muito longe do sucesso de Thriller, desapontando Michael, que ainda buscava bater

seu próprio recorde (PORTER, 2007). Em entrevista, Max de Castro comenta:

O mercado americano é supercompetitivo [...] é uma concorrência, [...] coisa muito selvagem. E o Michael Jackson, assim, embora ele fosse um artista que tivesse um grande prestígio, as pessoas amassem ele, tivesse uma fanbase [base de fãs] extraordinária, ele não conseguiria manter a popularidade e o sucesso dele da época do Thriller, era uma coisa que era impossível de ser mantida. Devido a esse mau gerenciamento administrativo da carreira dele, isso fazia com que ele tomasse atitudes, também, erradas [...], acabasse, às vezes, lançando discos em épocas desnecessárias [...] o custo das produções, os clipes e tal, isso gerava a

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demanda de um retorno de lucro, a base era muito alta [...]. (Max de Castro, 2014).

No desejo de ter filhos e após o fracasso de seu primeiro casamento, Jackson

se casou, em 1996, com Debbie Rowe, uma dermatologista que há muitos anos

estava em sua equipe de médicos. O casal teve dois filhos (Prince Michael Jackson

e Paris-Michael Katherine Jackson) que, por mais que ambos afirmassem que

fossem biologicamente de Michael, aparentemente tinham pai desconhecido, vindos

de uma inseminação artificial, visto que não tinham nenhuma semelhança física com

o cantor, com pele e traços de caucasiano. Rowe afirmou, mais tarde, ter recebido

três milhões de dólares de Michael por seus “serviços”, seus filhos nunca a

conheceriam como mãe (PORTER, 2007).

Porter (2007) afirma que o casal se divorciou em 1999 gerando muitos custos

a Michael que, vivendo uma vida de bilionário, precisou pegar 140 milhões de

dólares emprestados de uma corporação para cobrir estas despesas. O gasto anual

do cantor estava supostamente entre 20 e 30 milhões de dólares, mais do que ele

recebia na época. Até o final de sua vida, as finanças do artista continuariam em

desordem.

Seu disco Invincible, lançado em 2001, confirmaria a decadência do cantor,

vendendo seis milhões de cópias. Em 2002 Michael teve mais um filho, desta vez de

mãe desconhecida. As frequentes acusações judiciais, relacionadas a abuso sexual

e, principalmente, a dívidas, levariam Michael Jackson a ser considerado o artista

mais frequentemente processado na história do entretenimento. Em 2003, uma

delas, de uma menino de 12 anos que afirmava ter sido molestado pelo cantor, o

levou à prisão (PORTER, 2007).

Em liberdade, Michael começou a ser ignorado por muitos outros artistas que

eram, supostamente, seus amigos. As celebridades, na maioria das vezes,

buscavam não opinar quando perguntados a respeito da inocência ou não do cantor.

Processado mais uma vez por abuso sexual em 2004, Michael conseguiu ser

inocentado de todas as acusações. Tendo limpado o seu nome na justiça, Jackson

resolveu se mudar dos Estados Unidos para uma ilha no Golfo Pérsico, não tendo a

intenção de voltar (PORTER, 2007).

Segundo Porter (2007), ainda que longe do país, Michael continuava sendo

um dos principais assuntos comentados do entretenimento e acusações

continuavam sendo feitas na justiça contra ele. O cantor vendeu Neverland e buscou

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reiniciar sua carreira com um novo produtor em 2006, voltando a fazer aparições

públicas, primeiramente em Londres. No mesmo ano, mais um jovem o acusaria de

abuso sexual, tortura, plágio, entre outros.

Em 2008, Michael Jackson relançou seu álbum de sucesso Thriller e voltou ao

estúdio para gravar novas músicas. Ele anunciou, em Londres, que faria a última

turnê de sua carreira em 2009. Havia um milhão de ingressos para este show e eles

se esgotaram nas primeiras cinco horas de vendas (PORTER, 2007).

No dia 25 de junho de 2009 (exatos nove anos após a morte de Simonal),

antes da estreia de sua nova turnê, em época de ensaios, Michael Jackson foi

encontrado morto em sua cama por seu médico, Dr. Murray. Ele teria tido uma

parada cardíaca devido ao grande e indevido uso de remédios, o que acarretaria em

mais um grande estardalhaço da mídia e em mais um questionamento a respeito do

cantor sem uma resposta definitiva, como ocorreu durante toda sua vida (PORTER,

2007).

No item a seguir, analisam-se os casos Wilson Simonal e Michael Jackson a

partir da visão das Relações Públicas, relacionando-se as crises de imagem com

uma possível contribuição da atividade.

4.3 A CONTRIBUIÇÃO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS NOS CASOS WILSON

SIMONAL E MICHAEL JACKSON

No presente subcapítulo se apresenta sugestões da possível colaboração da

atividade de Relações Públicas para o melhor gerenciamento das crises de imagem

estudadas. Para se analisar o caso brasileiro e o caso americano de crise de

imagem no segmento musical frente a esta atividade, deve-se contextualizá-la nos

dois países nas referidas épocas.

De acordo com Humberg (1997), foi só a partir da década de 80 que as

atividades de Relações Públicas e Comunicação se desenvolveram no Brasil. O

autor afirma que o fim do regime militar possibilitou e até obrigou organizações a

trabalharem o seu diálogo com a sociedade e a sua transparência. Entende-se,

então, que no momento do início da crise de imagem do cantor Wilson Simonal

(anos 70), “ninguém sentia necessidade dos profissionais de relações públicas”

(NOGUEIRA, 1997, p. 140). Segundo Nogueira (1997), não era comum se importar

com a opinião pública durante o período de ditadura no Brasil, o que realmente

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importava, na época, era ser amigo de algum ministro importante ou do próprio

presidente. Por isso, afirma o autor, as Relações Públicas ainda estavam pouco

desenvolvidas no país em 1997 quando comparadas ao jornalismo ou à

propaganda.

Já nos Estados Unidos, segundo Wey (1986), começou-se a falar em

Relações Públicas no ano de 1900, aproximadamente. A autora afirma que entre

1917 e 1919, durante a I Guerra Mundial, estas atividades eram usadas para

desenvolver o sentimento de patriotismo. A partir de 1945 as Relações Públicas se

desenvolveriam amplamente no país, sofisticando técnicas e atividades: “[...]

atualmente todas as grandes empresas e entidades têm seus departamentos de

relações públicas ou utilizam os serviços de assessorias externas, que oferecem

serviços especializados a seus clientes.” (WEY, 1986, p. 32). Destaca-se que este

texto é datado de 1983. Desta forma, compreende-se o fato de as Relações Públicas

já serem citadas durante a crise de Michael Jackson (anos 90), conforme sua

biografia escrita por Porter (2007).

Segundo Ferreira (1997):

[...] relações públicas são os procedimentos da administração, sistematicamente estruturados, que se destinam a manter, promover, orientar e estimular a formação de públicos, por meio da comunicação dirigida, a fim de tornar possível a coexistência dos interesses visados. (FERREIRA, 1997, p. 75).

A comunicação dirigida, de acordo com Kunsch (2003), possibilita uma

eficiência. Por meio dela, uma mensagem é enviada em um código (linguagem)

especificamente adequado a um público por um emissor. Desta maneira, há uma

transmissão, uma compreensão e um retorno apropriados. Este tipo de comunicação

requer uma escolha do meio de comunicação a ser utilizado e busca produzir

determinado efeito no público (FERREIRA, 1997).

Tanto no caso Wilson Simonal quanto no caso Michael Jackson foi apontado

que os profissionais da mesma classe dos artistas se distanciaram dos dois durante

suas crises de imagem. Conforme relatado, poucas celebridades se posicionavam

frente à mídia a favor de algum deles. Neste aspecto, a comunicação dirigida

poderia ter sido aplicada frente aos outros artistas, assessorando Simonal e Michael.

Segundo Fortes (2003), ela é capaz de colaborar para a fixação de relacionamentos

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articulando o direito de manifestação de diferentes opiniões relativas a um tópico de

interesse privado ou público.

Ao encontro disto, Farias (2009) afirma que as Relações Públicas possibilitam

o diálogo:

As Relações Públicas apresentam, assim, uma função dialógica, por meio da qual criam campo de pensamento que permite o equilíbrio entre interesses por meio de interpretação de significados e da ação pontual ou permanente de integração entre acontecimentos e as suas teias de representações nos espaços simbólicos de disputa e de conflito e, possivelmente, de encontro e diálogo. (FARIAS, 2009, p. 145).

As Relações Públicas também atuam na comunicação massiva. Por meio

dela, elas conseguem exercer grande influência, porém seu grau de dispersão em

relação a grupos específicos deve ser levado em conta (FORTES, 2003). A

comunicação de massa é caracterizada por se voltar para um grande número de

pessoas usando, necessariamente, veículos como televisão, rádio, jornais, revistas,

cinema e outdoors (KUNSCH, 2003).

Este tipo de comunicação é mais apontado nas biografias dos cantores

Michael Jackson e Wilson Simonal. Segundo Porter (2007), Michael dava entrevistas

e teve até sua vida acompanhada por alguns dias e documentada na televisão. Já

Simonal começou sua carreira em rádios e foi apresentador de televisão por alguns

anos (ALEXANDRE, 2009). Porém a mídia também influenciou nos momentos de

crise. Conforme descrito nos subcapítulos anteriores, Simonal foi sendo deixado de

lado pelos veículos de massa a partir da sua crise e Michael Jackson foi

amplamente comentado (de forma pejorativa) pela mídia quando recebeu acusações

de abuso sexual, assim como ao longo de sua carreira por causa de seu

comportamento e sua aparência.

França (1997) afirma que as Relações Públicas se utilizam dos critérios da

comunicação dirigida para estabelecer o relacionamento com a mídia. Portanto, é

preciso estabelecer os canais e frequências adequados. Em busca de resultados

programados, as Relações Públicas acompanham as mudanças e características da

mídia e dos diferentes públicos para equacionar corretamente esta interação. Para o

autor:

Uma das características diferenciadoras do profissional de relações públicas é possuir esse know-how de conhecimento do público e do tratamento a ser

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dado à mídia adequada a este público, de forma consciente e planejada. (FRANÇA, 1997, p. 15).

Segundo Matos (1997), a atividade de Relações Públicas preocupa-se com os

formadores de opinião e entre eles está a mídia. As Relações Públicas são capazes

de englobar a função de assessoria de imprensa, apurando informações a serem

divulgadas, conhecendo os meios adequados de divulgá-las, segmentando-as,

diversificando as informações a serem passadas à imprensa e acompanhando as

publicações.

Visto que ambos os cantores sofreram em certo momento de superexposição

na mídia, as Relações Públicas poderiam colaborar para selecionar as aparições

mais adequadas (quando dependia do artista), assim como os veículos e assuntos.

Max de Castro, em entrevista, compara as duas crises de imagem:

[Simonal e Michal Jackson] Não deixam de ter vários pontos em comum [...] o Michael Jackson sendo acusado daquela coisa de pedofilia, o Simonal sendo acusado... sempre tendo uma coisa muito pesada associada. Ao mesmo tempo que o cara é grande, que é uma coisa artisticamente quase imbatível, inalcançável, tem um outro lado que é uma coisa, trevas [...]. (Max de Castro, 2014).

Na biografia de Michael Jackson, Porter (2007) cita alguns comentários da

época que já utilizavam o termo “relações públicas”. Porém, eles eram a respeito

dos casamentos de Michael, muito divulgados na mídia, citando-os como ações para

ajudar a melhorar a imagem do cantor ou para promover seu trabalho.

As Relações Públicas, porém, não se limitam ao relacionamento com a mídia.

Conforme França e Freitas (1997):

Definir a mídia que será utilizada em um programa de comunicação é apenas parte de sua aplicação e não o papel principal de relações públicas, que se situa em patamar muito mais alto – o do planejamento estratégico da comunicação – do que simplesmente fazer publicações e eventos [...] (FRANÇA; FREITAS, 1997, p. 86).

De acordo com Kunsch (2003), alguns aspectos devem ser observados a

respeito das Relações Públicas como atividade profissional, conforme tabela abaixo.

Tabela 6 – aspectos das Relações Públicas como atividade profissional.

Identificam os públicos, suas reações, percepções, e pensam em estratégias comunicacionais

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de relacionamentos de acordo com as demandas sociais e o ambiente organizacional.

Supervisionam e coordenam programas de comunicação com públicos – grupos de pessoas

que se auto organizam quando uma organização os afeta ou vice-versa.

Preveem e gerenciam conflitos e crises que porventura passam as organizações e podem

despontar dentro de muitas categorias: empregados, consumidores, governos, sindicatos,

grupos de pressão etc.

Fonte: tabela elaborada pela autora a partir de Kunsch (2003).

O planejamento também é um aspecto presente nas atividades de relações

públicas. Ele está relacionado à função administrativa, definindo objetivos e as

ações a serem tomadas para que seja possível alcançá-los, em interação com o

ambiente (KUNSCH, 2003). Esta função administrativa é citada por Max de Castro

na entrevista concedida à autora desta monografia, apontando-a como uma falha em

comum nas carreiras dos dois cantores. De acordo com o filho de Simonal, a

comparação das crises faz sentido uma vez que ambos sofreram de uma crise

financeira devido à falta de planejamento e de boa administração de suas carreiras,

tomando decisões equivocadas para determinados momentos e, além disso, no

caso de Michael, oferecendo produtos/serviços com investimentos tão pesados, que

demandavam um lucro alto demais.

O planejamento colabora para se evitar crises, visto que ele parte da análise

das oportunidades e ameaças existentes para, a partir disto, elaborar as decisões

estratégicas, diminuindo a incerteza e os riscos (KUNSCH, 1997). Em síntese: “A

função de planejamento impede que as atividades de Relações Públicas sejam

improvisadas.” (FORTES, 2003, p. 186).

Conforme descrito no subcapítulo a respeito de Simonal, quando perguntado

sobre o caso de delação, Simonal confirmou com orgulho, mesmo que, talvez, não

fosse verdade. Já Michael Jackson, afirma Porter (2007), em entrevistas apenas

negava e dizia ser um absurdo as acusações de abuso sexual. As Relações

Públicas, de acordo com Carvas Junior (1997), são capazes de contribuir nestes

momentos de crise, tornando-se essenciais:

A atividade de relações públicas é de extrema importância para o enfrentamento de crises, pois é ela que deve assumir a responsabilidade pela coleta de informações e pela organização dos contatos com a imprensa e com os públicos de interesse. (CARVAS JUNIOR, 1997, p. 205).

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O autor completa explicando que a imprensa e os públicos de interesse não

devem receber informações erradas, incompletas ou sem fundamento. Não se deve,

também, omitir em respostas. Pode haver outras fontes repassando dados

inverídicos, que só irão complicar o momento de crise.

Fortes (2003) ainda cita a função de assessoramento praticada pelas relações

públicas. De acordo com o autor, esta função está relacionada ao planejamento, à

proposição de alternativas, ao aconselhamento e à sugestão de reformulação de

políticas, entre outros. Enquanto no caso Michael Jackson Porter (2007) cita

conselheiros do cantor, a biografia de Simonal não aponta nenhuma figura

exercendo este papel (ALEXANDRE, 2009).

Page 66: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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5 CONCLUSÃO

Toda organização possui uma identidade, uma imagem e uma reputação

frente à opinião pública. Com artistas e celebridades não é diferente. Este trabalho

buscou inserir estes conceitos, além das questões de crise de imagem, de

assessoria de imprensa e de relação da mídia com as celebridades em casos de

crise de imagem ocorridos com cantores. A finalidade foi apresentar um ponto de

vista academicamente pouco explorado das Relações Públicas, com vistas para a

imagem pessoal no segmento musical, não organizacional, além de uma análise das

atividades de Relações Públicas neste meio no Brasil e nos Estados Unidos.

A partir da revisão teórica pode-se compreender a influência direta do reflexo

da identidade, imagem e reputação nos negócios. Quando a opinião pública é

afetada negativamente em relação a uma marca (seja pessoal ou de uma

organização) as consequências desta crise podem definir o seu futuro. É importante

que se perceba que o que é consumido pelo público é mais do que um simples

serviço ou produto, é uma identificação, uma relação emocional.

Quando se fala em imagem pessoal, então, todos estes aspectos estão

reduzidos a uma só pessoa. Sua imagem precisa ser trabalhada de forma que reflita

a sua personalidade (identidade) e que cative os outros. Uma marca pessoal está

emitindo sinais o tempo todo por meio do próprio profissional e por isso a fala e as

vestimentas são fatores importantes a serem levados em conta. Esta pessoa precisa

demonstrar ter um diferencial, é necessário encontrar esta característica e trabalhá-

la frente ao mercado, para que o profissional seja único, o que no meio artístico é

essencial. Por tudo isto, o media training é essencial. Ele irá ensinar, por exemplo, o

cantor a se portar frente às câmeras, a se vestir e a falar em público, fatores que irão

construir sua imagem e reputação frente à opinião pública.

A mídia apresenta um papel importante tanto na construção de uma

reputação quanto nos momentos de crise de imagem. McCombs (2009) ressalta que

a imprensa é capaz de realizar o agendamento da opinião pública, ditando quais os

assuntos são relevantes no momento. Por isso ela não pode ser ignorada ou

subestimada. Tanto organizações quanto artistas precisam manter um bom

relacionamento com a mídia, pois ambos precisam trabalhar sua imagem frente à

população e irão utilizar esta confiança construída a seu favor em momentos de

crise.

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Ainda hoje, há muitas discussões no Brasil a respeito do segmento da

Comunicação responsável por este relacionamento, pela chamada assessoria de

imprensa. Acredita-se em uma integração das diferentes áreas, visto que cada uma

(Relações Públicas e Jornalismo) possui maiores conhecimentos em algumas

atividades específicas. Porém, conforme defendido pelos autores estudados, não há

como se realizar uma assessoria de imprensa apropriada sem o know-how de

relações públicas. Isto porque o relacionamento com a mídia não se dá

simplesmente pelo envio de matérias e releases, ele precisa ser planejado e seus

resultados analisados, atividades pertencentes ao leque de conhecimentos das

relações públicas.

Os casos aqui estudados foram o de Wilson Simonal, brasileiro, e o de

Michael Jackson, estadunidense. Em suas biografias foi possível perceber o quanto

as relações públicas estavam intrínsecas ou não na cultura artística de cada país em

cada época. Dado o histórico brasileiro, percebeu-se uma grande ausência desta

atividade e do pensamento ligando ela à crise de imagem estudada no caso

Simonal. Nota-se que na época esta atividade ainda não era reconhecida e

encarada como importante, tanto para a construção de uma carreira, quanto para

momentos de crises organizacionais no Brasil. Isto porque, além de os Estados

Unidos serem reconhecidos como o berço das Relações Públicas, o Brasil teve um

recesso no desenvolvimento desta área durante a ditadura, tempo estudado neste

trabalho. No caso de Wilson Simonal, conforme observado por Max de Castro,

entrevistado pela autora desta monografia, houve uma grande carência de

planejamento em relação às ações que eram tomadas e de um bom gerenciamento

de carreira, aspectos que poderiam ter sido explorados por um profissional de

relações públicas.

Já nos Estados Unidos, durante os anos 90, a situação era outra. Em

depoimentos e entrevistas da época relacionados à crise de Michael encontra-se o

termo “relações públicas”. O próprio artista afirmou conversar com seus advogados e

conselheiros para tomar algumas atitudes, uma das atividades exercidas nas

Relações Públicas. O próprio histórico desta área de conhecimento nos Estados

Unidos favorece o país: ela começou a se desenvolver no país logo no início do

século XX, diferente da realidade brasileira. Conforme apontado na revisão teórica,

nos anos 80 as Relações Públicas já haviam se tornado um “vício” das empresas,

utilizadas para os mais diversos objetivos e encaradas como de grande importância.

Page 68: O Gerenciamento de Crise de Imagem no Segmento Musical no Brasil e nos Estados Unidos: estudo dos casos Wilson Simonal e Michael Jackson

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Em relação aos casos estudados, a opinião de Max de Castro, dada em

entrevista para este trabalho, deixa clara a associação que pode ser feita: ambas as

carreiras estavam sendo mal administradas, o que incluiria a ausência da atividade

de Relações Públicas bem planejada e executada. Mesmo que um dos cantores

tenha contado com o apoio desta área durante a sua crise e o outro não, ainda

haveria pontos a serem melhor trabalhados nos dois casos.

Neste momento, percebe-se uma semelhança entre eles, que pode ser levada

em conta no momento em que se for assessorar um artista: por mais aconselhado

que ele seja, suas ações ainda irão depender, acima de tudo, de sua personalidade,

de sua vontade. Lidando com artistas, o ego é um fator muito presente e acredita-se

que nos dois casos ele interferiu. Wilson Simonal foi prepotente acreditando que era

amado por todos e que um simples boato ligando ele ao governo militar não iria

prejudicar a sua carreira e não buscou se redimir ou se explicar com urgência. Já

Michael Jackson, mesmo depois de ser acusado de abuso sexual de menores e de o

fato estar sendo amplamente veiculado na mídia, continuou por muito tempo

fazendo amizades com meninos e convidando-os para dormir em sua casa, como se

isso não fosse piorar sua imagem já comprometida.

No caso de celebridades, as relações públicas precisariam ter liberdade para

aconselhar e interferir diretamente em sua vida pessoal. Muito mais do que

empresários, por exemplo, artistas são perseguidos todos os dias e suas vidas são

contadas como novelas nos jornais e tabloides. É necessário que estes

profissionais, como os músicos estudados, compreendam o impacto de suas

atitudes, mesmo que em momentos privados, em suas carreiras e aceitem o fato de

que quem trabalha na indústria do entretenimento precisa calcular muito mais cada

ação que toma e possui restrições que as outras pessoas não têm.

Torna-se quase impossível uma comparação direta entre os dois casos, visto

que o brasileiro ocorreu em um momento tão singular da política, em que a imprensa

era censurada. Ainda que as Relações Públicas já estivessem consolidadas no

Brasil na época, seria muito difícil um profissional exercer a atividade de assessoria

de imprensa, por exemplo. Mesmo assim, percebe-se que as Relações Públicas,

hoje, ainda estão menos desenvolvidas no Brasil do que nos Estados Unidos, o que

revela muitas oportunidades de crescimento para a área no nosso país.

Por fim, em relação ao gerenciamento de crise de imagem no segmento

musical, conclui-se que o Brasil ainda precisa se aprimorar. O próprio tamanho e

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importância da indústria musical dos Estados Unidos, que é mundial, deve ter

acabado por exigir esta visão de negócios que eles possuem frente aos seus

artistas/produtos. É importante também que se leve em conta a pouca literatura

existente no Brasil relacionada tanto às relações públicas para profissionais

individuais quanto para o segmento musical. Percebe-se, então, neste estudo, uma

contribuição para a área de relações públicas no sentido de instigar a fuga da visão

comum destas atividades como voltadas apenas para o âmbito

organizacional/empresarial e a busca de oportunidades de seu desenvolvimento

junto ao mercado musical e artístico.

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APÊNDICE A – Entrevista com Max de Castro

Alina: Eu sei que você nasceu depois que tinham acontecido as acusações com o

Simonal, mas eu queria saber qual a imagem que você tem dele antes de tudo isso

acontecer.

Max: O negócio começou, sei lá, eu cresci sem entender muito bem, assim, o que

tinha realmente acontecido, foi sempre uma coisa meio complicada porque,

exatamente como você disse, como eu nasci depois, eu nasci no meio de um

processo, isso envolvia várias questões, tipo, sei lá, quando eu era criança, eu sabia

que o meu pai era artista, que ele cantava, que ele fazia shows, gravava discos, mas

os meus amigos, né, que estudavam na minha classe, assim, as crianças, as

pessoas mais jovens, ninguém conhecia ele, entendeu? Porque ele estava um

pouco afastado, assim, né, da mídia convencional e tal, então só conheciam o

trabalho dele, geralmente, os pais dos meus amigos, assim, todo mundo que sabia,

né, que eu era filho do Simonal sempre me falava assim “nossa, você é filho do

Simonal”, seu pai... era como ser filho de uma lenda, assim, todo mundo... de uma

lenda viva, né, porque todo mundo falava assim “nossa, seu pai fez isso, fez aquilo,

não sei o que lá, bom artista, como ele ninguém nunca foi” e aí já era um período

assim, meio de... comercialmente, ainda não era um período de decadência artística,

mas comercialmente ele já não tinha mais um status que ele teve no passado que,

né, eu não conheci, e que na época que eu comecei a me deparar e me inteirar

sobre o que ele fazia profissionalmente, ele já não tinha mais esse status de grande

estrela, né, que ele um dia já tinha tido. E aí, com o tempo, eu fui tentando, né,

descobrir, porque era um assunto muito delicado, essas coisas todas que

aconteceram com ele geraram muitos problemas pra minha família, entendeu, a

minha mãe teve muitos problemas de saúde em relação a isso, ele também, né. Isso

atrapalhou muito a dinâmica da nossa família, assim, quando eu era criança, menos,

até, e, na medida que eu fui crescendo, que eu fui conhecendo um pouco das coisas

que tinham acontecido, eu fui procurando entender, porque é uma situação cheia de

versões e de coisas misteriosas e cada pessoa fala uma coisa, então era uma coisa

confusa, assim, pra você, como filho, criança, você conseguir entender exatamente

o que tinha acontecido. Então eu só fui realmente entender, assim, esse processo

todo já quando eu era adulto, assim, já nos anos 90, assim, quando ele já estava

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bem doente e também até depois que ele morreu que eu fui ter acesso, assim, a

todas as versões da história e tal, pra poder entender, inclusive, coisas da vida

artística dele e tal que eu só fui conhecer, realmente, depois que ele morreu que eu

tive acesso, né, me tornei um artista, uma pessoa, né, fui trabalhar na mesma

profissão dele, então acabei tendo acesso ao material. Vídeo de shows, coisas que

ele tinha feito, escutado, coisas que eu nunca tinha ouvido, e aí pude ter uma

dimensão melhor, né, do trabalho dele, da grandeza do trabalho dele.

Alina: Ele não falava sobre o passado do trabalho dele, sobre como ele tinha sido

um ícone nacional?

Max: Ele falava pouco, ele, apesar de ser um artista que ficou conhecido, né, como

um showman, um cara que se comunicava com a plateia, um cara que fazia e

acontecia, em casa ele era uma pessoa normal, até uma pessoa meio tímida, assim,

introvertida. Ele falava pouco e durante muitos anos, também, não tinha os discos...

quando eu era criança nem todos os discos dele tinha, assim, em casa, era um ou

outro, mais os discos atuais, sei lá em... 79 tinha um disco lá que ele lançou em 79,

mas eu fui descobrindo aos poucos, comprando os discos, né, eu, o meu irmão, a

gente foi tendo contato, assim, descobrindo a obra, também, dele, aos poucos.

Alina: Eu queria te perguntar, porque tem muitas versões. Eu vi o documentário e li a

biografia do Simonal e parece que tem duas versões. No documentário tu e o

Simoninha dão a entender que acreditam que o Simonal mesmo bateu no Raphael

Viviani, enquanto na biografia diz que o Simonal teria mandado os policiais do DOPS

torturarem ele. Qual é a história que tu sabe de como aconteceu tudo isso?

Max: Na realidade, a história, exatamente como aconteceu, só as pessoas que

participaram, que estavam envolvidas, vão saber exatamente o que aconteceu, né.

Assim, o Simonal, a vida toda dele... por essa questão de a minha vó ter sido

empregada doméstica, né, era cozinheira, e ele ser criado só pela mãe, a mãe

solteira, né, a questão do negro, né, o preconceito, né, racial no brasil... então ele

sempre... uma coisa que guiou, no comecinho do documentário tem uma frase que

ele fala num programa, que ele fala meio em tom de brincadeira, e tal, que ele conta

uma piada dizendo que o anjo da guarda dele perguntou pra ele se ele ia ser alguém

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na vida ou se ele ia morrer crioulo mesmo, entendeu? Esse é o tipo de coisa que ele

falou num tom de brincadeira e tal, mas eu acredito que foi uma coisa que guiou a

vida dele, ele fez de tudo pra não morrer crioulo mesmo. Pra ser alguém na vida, pra

ser respeitado, né, isso é uma questão muito latente, assim, no processo de tudo

que aconteceu na vida dele, como ele construiu a vida dele. Então, ele, desde o

início da carreira dele, ele sendo a passagem, né, ele quando serviu o exercito,

quando era adolescente, né, 17 pra 18 anos, ali, ele logo ficou amigo, através do

jeito dele, da simpatia, do carisma dele, conseguiu uma maneira de ser querido

pelas pessoas e conseguir de alguma maneira usufruir, ali, de uma proximidade dos

caras que tavam acima né, dos oficiais, conseguir algum tipo de beneficio, assim,

pra não pegarem no pé dele. Depois ele sai do exército, vai cantar na noite, ele fica

amigo dos donos das boates. Ele sempre teve uma relação, assim, de um cara que

tinha relação com o poder, seja ele em que esfera que fosse, entendeu, em todas as

fases da vida dele. E acho, assim, que nessa época, da ditadura, dele ter essa

facilidade de lidar entendeu, no momento em que existia uma grande censura no

país e uma barra muito pesada, ele, pessoalmente, tinha um jeito de lidar com isso,

de ter um jeito de conseguir resolver qualquer tipo de situação que ele se

encontrasse através desse poder que ele tinha de conquistar as pessoas, de

envolver as pessoas. E esse episódio que aconteceu com o contador me parece ser

mais um exemplo disso, entendeu. A gente tem que ver é que esse momento da

vida dele, que aconteceu essa coisa, ele estava passando por um momento, assim,

ele tinha um momento ali que ele estava deixando de ser um artista, um cara que

recebe, ali, aquelas ordens de um empresário e tal, passando a ser, inaugurando

uma coisa que era praticamente inédita no Brasil, né, um artista, além de ter um

cachê alto, então, ele poder tomar conta da sua própria carreira, ser seu próprio

empresário, tomar conta dos seus próprios negócios. Isso era uma coisa muito

avançada, né, hoje em dia qualquer artista é capaz de fazer isso, mas no Brasil,

naquela época, isso era uma coisa muito rara e sendo ele, ainda, né, um artista

negro, sendo pioneiro nisso, então era um jogo de poder, era uma coisa, assim,

muito forte e ele tinha uma relação muito grande com a rede globo, ele tinha o

contrato, né, com a Shell, que a Shell patrocinava ele, então era uma coisa, assim,

muito dinheiro, poder, né, uma roda. E ele, além de tudo isso, tinha que pensar na

coisa artística, né, entendeu, nos discos, nos shows, nos próximos desafios

artísticos, então ele tinha todas essas questões que, talvez, ele não estivesse

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preparado, ainda, entendeu, pra... talvez ele não tivesse essa capacidade de

administrar todas essas coisas ao mesmo tempo. E isso ficou claro até no próprio

funcionamento do escritório, como era, entendeu, era uma festa, todo mundo ia lá e,

né, pegava dinheiro, vales, e muitas pessoas ganharam dinheiro, assim, davam

voltas nele, assim, entendeu, dizendo assim „ah, quanto é que custou o negócio?‟ „o

negócio custou 200‟, e na realidade tinha custado 80, era assim. As pessoas se

aproveitavam muito dele e o ambiente desse escritório era essa coisa meio confusa

e tal e esse rapaz que trabalhava no escritório dele, o Raphael Viviani, que até é

chamado de contador, né, assim, pelas pessoas, que na realidade ele não é

contador porque ele nunca fez nenhuma escola de contabilidade, né, então ele não

poderia nem ser considerado um contador, né, ele trabalhava num banco e um dos

sócios desse escritório do meu pai, ele indicou o Raphael Viviani pra trabalhar no

escritório do Simonal e tal. E aí no meio desse turbilhão todo, desse jogo de poder

todo, teve essa questão financeira no escritório e tal e meu pai, Simonal, ficou muito,

obviamente, muito irritado com toda essa situação e tal e quis tomar satisfação com

o cara que tava sendo responsável, né, pelas contas do escritório, né. Na realidade,

a história é muito mais complicada do que parece porque é muito... coisas

administrativas do escritório, impostos atrasados, era uma coisa faraônica, assim,

né, que, além do fato de ele achar que o cara estava passando a perna nele, tinham

coisas, assim, do trabalho diário, assim, que não tinham sido feitas e que, né, virou

uma bola de neve, dívidas e complicações... e talvez pelo fato de ele não ter esse

preparo pra poder, né, ele também não tinha uma formação, assim, né, de

administração de empresas, né. Ele era um cantor, né, que resolveu dar esse salto

aí e tal, administrar sua própria carreira. E aí acabou tendo essa confusão aí com o

contador, que é uma coisa polêmica, que algumas pessoas falam que ele mandou,

tem gente que fala que ele não mandou, que os caras, os policiais, quiseram fazer

tipo uma média com ele e deram uma exagerada, entendeu? O fato é que isso

acabou gerando um problema muito grande porque a partir do momento que as

pessoas achavam que isso aí não fosse dar em nada, que isso aí ia ser uma coisa

que, né... ainda mais porque esses caras que sequestraram, aí, sequestraram não é

bem a palavra, que extorquiram, né, o Raphael Viviani, eram pessoas que

trabalhavam no DOPS e tal, que era um órgão do governo que era temido pelas

pessoas, né, era, sei lá, como se fosse o BOPE hoje em dia, né, tropa de elite, era

uma coisa, assim, meio, né, conhecida por serem pessoas que trabalham de uma

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maneira truculenta sem estar muito amparado em leis, em mandados, né, essas

coisas todas. Então, assim, as pessoas não imaginavam que ninguém ia ter

coragem, né, de acusar o DOPS de nada e tal, que a coisa ia passar meio em

branco, Só que o que aconteceu é que o cara foi numa delegacia e prestou uma

queixa contra o Simonal, entendeu, na polícia civil, e aí isso virou um grande

problema porque, nessa época, exatamente nesse época, existe uma matéria na

revista Veja, na capa duma revista Veja, que é famosa que era uma entrevista, né,

com o Médici, que era o presidente do Brasil na época, dizendo que o presidente

não admite tortura, né, o presidente do país dizia que não havia tortura no Brasil,

assim. Era uma coisa, o presidente dando a palavra, né, na revista Veja, né, que era

a revista mais importante do Brasil, dizendo que isso não existia, que isso aí era

inventado e tal. E de repente jornais publicam que um ex-funcionário de um artista

famoso, né, de um „popstar‟ foi torturado numa delegacia a mando desse artista.

Isso acaba causando um mal-estar muito grande, acaba gerando um problema

seríssimo, inclusive até pro órgão de segurança, pro próprio DOPS. Eles tiveram que

dar explicações, né. E aí gerou uma confusão muito grande, entendeu. E aí que eu

acho que surgiu essa série de confusões, foi aí que nasceu essa confusão toda. E o

Simonal, pra piorar essa situação, quando ele for chamado pra depor na delegacia

por esse delegado, ao invés, sei lá, dele chegar e falar, sei lá, né, ou falar o que

tinha acontecido, ou tentar resolver isso de uma maneira, sei lá, dizer que, poxa,

houve um excesso, sei lá, tentar resolver isso de uma maneira mais tranquila, ele,

ainda acreditando nesse poder que ele tinha de resolver as coisas nesse poder do

carisma dele e tal, ele ainda, tipo, tentou impressionar o delegado, assim, tentou

exercer algum tipo de pressão dizendo pro delegado assim: „olha, o senhor tá

falando com o Wilson Simonal‟, entendeu, „você não tá falando com qualquer

pessoa, se você levar isso adiante você vai se dar muito mal, assim, porque eu sou

uma pessoa ligada ao governo‟, entendeu, assim, isso num excesso de bravata,

acredito eu, entendeu e, assim, qualquer pessoa que conhece o Simonal, que

conheceu o Simonal, que conviveu com o Simonal, acha isso totalmente plausível.

Isso era uma coisa que combinava muito com a personalidade dele, ele chegar pra

esse cara e falar uma coisa dessa, entendeu, tentar exercer um tipo de pressão e

poder no cara a ponto do cara ficar meio com medo, ficar „não, então vamos arquivar

isso aqui‟, tal, só que, assim, ao contrário, o delegado não se sentiu nem um pouco

pressionado e resolveu levar o processo, resolveu investigar, e aí as coisas foram só

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piorando, entendeu, porque aí ia precisar de uma justificativa, porque o grande

problema, em relação a essa história, assim, que se o Simonal quisesse se vingar,

por exemplo, desse ex-funcionário dele, ali, ele poderia ter chegado pros caras e

falado assim: „ó, o negócio é o seguinte, o cara mora na rua tal, no endereço tal,

esse cara é um pilantra, um não sei o que, vocês dão um sumiço nesse cara‟ os

policiais poderiam ter feito isso, entendeu, se a questão fosse, assim, dar uma coça

no cara, bater no cara, isso poderia ter sido duma maneira muito mais na moita,

entendeu. Na realidade não sei por que ele quis, acho que, com esse episódio com

o cara, de alguma maneira, demonstrar que ele tinha algum tipo de poder. Tanto

que, assim, no dia que os policiais foram prender o cara, os caras foram no carro do

Simonal com o motorista do Simonal, assim, entendeu, não existia uma

preocupação em ser uma coisa... era como se ele quisesse ser reconhecido no

sentido de “ó, eu quero que as pessoas que tão me roubando, esses caras que tão

tentando me passar a perna, eu quero que eles vejam com quem eles tão se

metendo”, entendeu, com que tipo de pessoa que eles tão de metendo, era mais

uma coisa, assim, uma demonstração de poder que, na realidade, ele não tinha

porque, se ele tivesse, aí ele teria se dado bem, uma coisa ilusória, assim, né, na

cabeça dele, que, se ele fosse essa pessoa que, realmente, tivesse todas essas

conexões e ligações ele não teria sido… Tanto que o processo acabou sendo levado

adiante e a única pessoa que foi condenada e processada e que foi presa foi ele.

Nem os policias que torturaram o cara foram se quer presos, entendeu, e ele acabou

sendo processado como um mandante desse episódio e acabou sendo o único

penalizado tanto judicialmente quanto moralmente, isso acabou tendo um reflexo

definitivo na continuidade da carreira dele e ai isso tudo, temperado com os ânimos

quentes da época, temperado também com uma grande inveja e um certo bode que

as pessoas tinham dele na época, dele ser um cara meio petulante, essa coisa do

cara negro que anda bem vestido de nariz empinado, que anda de mercedes com

louras, isso gerava um certo mal estar. Então essa situação acabou sendo um prato

cheio pra essas pessoas que não simpatizavam com ele, que tinham esse pé atrás

com ele, pudessem se ver livre da figura dele, entendeu. Então, eu acho que isso

também ajudou muito essa fama de delator, informante, ela acabou sendo muito

bem aceita e bem sucedida, porque havia esse pântano, esse mal estar, entendeu,

essa situação toda, isso acabou servindo de alicerce. Como a historia também era

uma historia que ninguém falava dessas coisas muito claramente na época, existe

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um medo, as pessoas têm uma insegurança total de tocar em certos assuntos, então

o simples fato de ter uma dúvida e tal isso já é suficiente pra se construir uma coisa

que, com os anos, foi se consolidando até chegar o ponto de as pessoas acharem e

terem certeza absoluta disso.

Alina: E qual o papel que você acha que a mídia teve nesse momento?

Max de Castro: Eu acho que a coisa foi uma coisa meio crescente, assim, a princípio

O Pasquim, que era um jornal que fazia muito sucesso na época, que era uma mídia

alternativa, que era uma coisa quase de humor, mas que tinha um papel de

formação de opinião muito importante, e era aonde o Simonal tinha uma grande

antipatia. As pessoas, os jornalistas que trabalham no Pasquim, não simpatizavam

com o Simonal porque ele representava muito o contrário dos ideais, era um jornal

de esquerda, pessoas que combatiam diariamente a ditadura e eles tinham um

papel quase que de guerrilha mesmo, né, cultural, né. E eles viam no Simonal um

cara vendido ao sistema, um cara que, ao invés de usar o sucesso dele, a

popularidade dele, pra falar coisas importantes, ele era um cara que talvez estivesse

usando isso pra fazer uma música comercial. E ele também não tinha uma posição

muito clara, entendeu, se ele estava a favor ou contra naquela situação. E quando

teve esse episódio do contador que vazou pras páginas policiais e tal, O Pasquim,

foi um prato cheio, usou isso de uma maneira exaustiva, assim, e O Pasquim foi

meio que, ele desenhou essa expressão até, essa coisa de associar o nome do

Simonal com o dedo-duro, porque eles fizeram uma charge que a legenda da charge

era o dedo ereto de Simonal, e ai eles inauguraram isso dai e começou num nível

muito de boataria ainda, as pessoas comentavam isso, mas as pessoas não

achavam que isso era uma coisa… eu acredito que nem eles, embora eles tenham

sido muito covardes e cruéis com o Simonal, mas acredito que inicialmente assim

nem eles achavam que isso ia tomar a proporção que tomou, entendeu. Era uma

coisa assim que as pessoas comentavam, então, mas o Simonal, até então, era um

artista famoso que estava… tanto que, assim, ele logo após os primeiros

depoimentos, assim, das coisas da delegacia, quando começou o processo, ele

mudou de gravadora e todo mundo achava: “isso é uma coisa passageira”, “ele vai

gravar um disco novo”, entendeu, “isso não vai dar em nada”, “o Simonal vai superar

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isso aí”, “isso aí é besteira” e tal. Só que a coisa foi tomando uma proporção maior

do que todo mundo esperava e coincidentemente a carreira artística do Simonal

também não se manteve no mesmo passo que vinha antes disso, entendeu. Ele

continuou uma pessoa conhecida de sucesso, gravando discos e tal, mas os discos

não foram fazendo tanto sucesso quanto os outros que ele tinha lançado

anteriormente e ai, inversamente proporcional, essa história ia crescendo, entendeu,

e a coisa artística ia descendo. Até chegar num ponto, que foi em 74, quando ele foi

condenado, porque o processado foi de 71 a 74, a sentença… o processo só

foi finalizado e ele só foi condenado em 74. Quando ele foi condenado, em 74, a

condenação dele foi uma coisa meio estranha porque as pessoas não lembravam do

fato por que que ele estava sendo condenado, entendeu. Que na realidade, assim,

mesmo que ele tenha sido informante do DOPS ou de qualquer órgão de segurança

naquela época, você ser informante, isso não é crime, entendeu. Isso aí não é crime

nenhum, hoje em dia tem isso, dique denuncia e tal, você pode julgar moralmente o

que você acha certo, o que você acha errado, mas de fato isso não representa um…

dentro da constituição isso aí é uma coisa completamente, tá fora de qualquer

atitude criminosa. E, na realidade, foi condenado pelo fato de ser mandante dessa

suposta extorsão do Raphael Viviani, né, só que as pessoas… já fazia quatro anos,

as pessoas nem lembravam mais essa historia do contador, entendeu. Então ficou

uma coisa, assim, isso foi como se fosse uma confirmação, entendeu, “ah então

quer dizer ele era informante”. Ele foi condenado e, na época, existia uma assim…

talvez também foi o caso do momento político da ditadura e tal, as informações,

assim, elas não tinham... a guerra política é uma guerra muito suja, as informações e

contrainformações, elas são usadas pra confundir. Não havia uma clareza, assim,

nas coisas, então as pessoas não estavam sendo... não tinham ao certo, não

sabiam porque ele estava sendo condenado. E a pena do juiz foi uma pena muito

dura, porque ele foi condenado a quatro anos e, acho que quatro anos e meio de

prisão, e o réu primário, existia uma lei, né, acho que é, se não me engano é “lei do

falcão”, que é uma lei que diz assim: que a pessoa que é réu primária, ela tem o

direito, quando ela é condenada, seja pelo crime que for – a não ser que ela, que

seja em... que ela seja presa em flagrante –, ela tem o direito de... porque, assim, o

advogado, quando ele foi condenado, o advogado dele pediu recurso, né, pediu…

ele recorreu da sentença do juiz e, por essa “lei falcão”, se a pessoa é ré primária

ela tem direito de esperar esse recurso do… da pena em… enquanto ele não for

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julgado novamente numa estância superior, ele tem direito... qualquer réu primário

tem direito a esperar em liberdade por esse recurso. E o juiz, quando condenou ele,

falou assim: “devido à alta periculosidade dele”, ele revogou essa possibilidade de

esperar, ele teria que esperar esse recurso preso, no presídio, entendeu, então foi

uma coisa, assim, que o juiz... esse juiz, o Menna Barreto, é um juiz superligado... a

família dele, a linha, porque, assim, a árvore genealógica, lá, dos militares, vem de

várias né… esse juiz era ligado aos juízes do golpe de 64, então eram juízes “super”

do exército, assim, mesmo, do governo, entendeu, e isso também acabou sendo até

uma espécie de... não de prova, mas, assim, se ele tivesse realmente algum tipo de

ligação efetiva com o governo e com os militares, esse juiz jamais condenaria,

assim… Além dele ser condenado, ele foi condenado com rigor, o maio rigor que

pudesse ter sido, com adendo ainda que o juiz, sem precisar, o juiz ainda

acrescentou na sentença que, assim, que o fato dele ser, assim… ele ainda

acrescentou que ele, confirmou que ele realmente era informante na sentença, o que

é uma coisa muito... o que é uma coisa muito cruel, assim. Primeiro, porque isso não

faria diferença, porque, como a gente já falou, a pessoa ser informante não é uma

atitude criminosa e, segundo, que a gente sabe, dentro dos códigos dos presos, os

informantes né, os… o cara que é dedo-duro, o cara que é “cagueta”, ele sofre um

tipo de penalização dentro da cadeia, entendeu. Então além do juiz ter pesado na

mão na sentença de… ele ainda colocou isso na sentença, que é uma coisa que

poderia até, sei lá, ele poderia ter sofrido algum tipo de retaliação pelos próprios

presos, entendeu. Porque dentro do código da bandidagem eles não admitem cara

que mata a mãe, cara que violenta criança, que abusa de criança, e dedo-duro não é

aceito. Dentro do código de honra dos bandidos, isso é uma coisa inaceitável. Então

tem todas essas questões, entendeu, que é… e aí, a partir desse momento, criou-se

uma … que aí…. criou-se quase uma confirmação dele, e acho que a partir daí pra

frente que ele realmente... quando começou a ter problemas na carreira diretamente,

porque ele já não vinha duma fase, assim, comercial, artística muito boa, e aí, a

partir disso… aí que nego começou a boicotar mesmo, nego que trabalhava em

rádio, em televisão, entendeu, ele começou a sofrer um boicote, a ser velado, a

própria classe artística não simpatizava assim… de estar envolvido… em projeto que

ele estava envolvido também, entendeu? E dali pra frente ele começou a ter sérios

problemas e… e aí que acho que mudou muito, porque, assim, até ali ele era

atacado pela imprensa, entendeu, ele era um cara combatido e tal. A partir desse

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momento, a imprensa resolve dar um gelo nele, assim… ele passou a ser uma

pessoa que é… como se houvesse uma combinação, assim, uma pessoa que não

deveria… é… uma pessoa no qual não se deve falar, assim, entendeu? Então isso,

na medida que o tempo foi passando, isso aí foi muito cruel, porque a pessoa estava

tendo o nome apagado da história, entendeu? Então, assim, a princípio o cara não

fala, porque o cara não quer citar um cara que ele acha mau caráter, porque o cara

é informante, entendeu, informante dos militares, mas dali a cinco anos, como ele

está há cinco anos sem falar nesse cara, ele… passa a ser normal não falar desse

cara, entendeu? Então o cara vai falar assim, não… aí sei lá… por volta do começo

dos anos 80 as pessoas falam assim: “na época da bossa nova”, falavam o nome de

todo mundo e não falavam no nome dele, “na época da Record”, falavam o nome de

todo mundo e não falavam no nome dele, e aí, com o tempo, ele foi esquecido,

entendeu, porque as pessoas realmente estavam há anos sem falar nele, ele

acabou virando uma… uma pessoa… ele acabou sendo apagado de dentro da

história a ponto de… de pessoas escreverem livros, né, fazerem programas e tal,

representando uma determinada época, e que o nome dele não aparecia.

Alina: E você sabe se, naquela época, o Simonal chegou a aparecer na mídia se

explicando? Se ele teve esse espaço?

Max de Castro: É, exatamente... e com o tempo também ele foi ficando… porque,

assim, a coisa ia tomando uma proporção, assim, muito, assim… cada coisa que era

falada virava... entendeu, virava uma bola de neve, virava mil… acabava se

transformando em outra história, né. Tem essa coisa, você fala, você dá uma

entrevista e fala uma frase, e dá uma opinião num determinado contexto. Quando

isso é tirado desse contexto, acaba virando uma outra coisa completamente…. e aí

isso passou a ser uma coisa constante, assim, entendeu, a ponto que ele…

resolveu… é… acho que chegou um momento que nem ele mais sabia, entendeu, a

origem dessa confusão toda, da onde começou , onde… que, assim, eram tantas

histórias, eram tantas versões, eram tantas opiniões, eram tantas… que nem ele

mesmo sabia como desarmar essa bomba mais, devido ao… né… ficou um nó tão

embaraçado que realmente era assim… só o tempo mesmo, né, só o tempo e só

uma… a chegada de uma nova geração completamente livre de qualquer ranço

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ideológico e que pudesse pegar esse assunto de uma maneira fresca, assim, e

pudesse se debruçar nisso. Por exemplo, isso que você está fazendo hoje em dia,

agora, o seu trabalho de conclusão de curso, há 20 anos atrás isso seria impossível,

entendeu. Se você chegasse pra sua professora e falasse assim: “ó eu quero fazer

um trabalho sobre o Simonal”, aí, assim, de duas uma… ou ela não ia ter ideia de

quem era o Simonal, ou ela falava assim: “cara, não se mete com isso, pelo amor

de Deus, isso aí é...”, entendeu? Virou... a coisa acabou ganhando status de tabu

assim, entendeu, até recentemente, né. Até recentemente era um assunto, assim...

que é… assim, que te gerava um desconforto muito grande, assim, às vezes

aparecia um jornalista, falava assim: “não, pô, Simonal, eu tenho que fazer uma

matéria com você, pô, tem que contar essa história, eu quero fazer uma entrevista

com você pra você dar a sua versão, não sei o quê”, aí ele ficava todo animado e tal,

não sei o quê, aí o jornalista ligava pra ele e fala assim ó: “a reunião de pauta aqui

do jornal, cara… infelizmente caiu a pauta, não dá pra…” entendeu, era uma coisa

impossível, cara , entendeu. Chegou… chegou a ponto de ser uma coisa é…

assim… impossível e… e aí isso é ruim porque, por exemplo, o lado musical, através

desses anos todos, a gente teve uma série de artistas que tiveram resgate… né?

Tipo, sei lá… o Jorge Ben ficou durante os anos 80 meio sumido… e ali, no final dos

anos 80, quando ele grava “W Brasil”, a garotada, através do sucesso do “W Brasil”,

conhece o Jorge Ben e, através do sucesso dessa música, pode… pô, recuperar o

“Mas Que Nada”, o “Fio Maravilha”, as músicas antigas dele, entendeu. Isso se deu

um processo de redescoberta e o cara conseguiu… renascer de novo e voltou a ser

um, né… teve a obra dele… novamente revalorizada. Com o Simonal isso era

impossível porque, assim… é… qualquer pessoa que fosse gravar uma música do

Simonal, ou que fosse falar do Simonal, ia ter que entrar nesse assunto “mas, pera

aí, o cara”… entendeu, aí, assim... era uma coisa, assim... que era…. dava tanta dor

de cabeça que a pessoa…. Sabe, “então vou gravar um disco do Tim Maia, que é

mais fácil”, entendeu? Então gerou um… que a coisa parecia ser impossível,

entendeu, de ser quebrada. E aí, por exemplo, nos anos 90, né... a gente teve… o

Nelsinho Motta escreveu o livro chamado “Noites Tropicais”, né, que ele contava

várias passagens da vida dele e tal... e o Nelsinho Motta, por ser um cara… assim…

muito querido e, assim, um cara que tem entrada em vários tipos, né… o cara é

parceiro do Lulu Santos e ao mesmo tempo é amigo do Zuenir Ventura e é querido

pelo Millôr Fernandes, né… o cara, assim… e é amigo do Boni, da Globo, né… um

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cara, assim… que as pessoas têm… ele tem entrada em, né… em vários setores.

Ele escreveu, ali, dois capítulos sobre o Simonal naquele livro que foi, assim… eu

posso chamar de o “big bang”, né… momento zero do processo de redescoberta do

Simonal ali… porque ele, como era um cara que não tinha rabo preso com ninguém,

ele falou: “ah, cara, eu vou escrever o que eu acho e doa a quem doer”, assim,

entendeu. E aí, lentamente, foi quebrando, né… essas amarras, esse assunto foi

deixando de ser é…. um tabu, assim…. mas foi uma coisa muito lenta, assim. A

ponto que, em 2001, o Cláudio Manoel, né... do Casseta e Planeta, ele me procurou

e procurou o meu irmão dizendo, falou assim: “olha, eu li o livro do Nelson Motta, lá,

fiquei muito, é… fascinado pela história do Simonal e, pô, cara, eu gostaria de fazer

um documentário sobre a vida dele, vocês autorizam… vocês me autorizam a

pesquisar, a pesquisar e tal?”. Eu falei: “pô, claro, vai em frente” eu falei assim:

“sinceramente, acho que você não vai conseguir fazer, acho que é impossível, mas

pô…” assim…. “o apoio que você precisar da gente, né… tanto eu quanto o meu

irmão, você vai ter e tal”. Ele ficou superfeliz e aí ele …. isso foi em 2001, em agosto

de 2001, e ele falou assim: “não, semana que vem eu tenho uma reunião com...”,

né… naquela época o Casseta e Planeta estava no auge, né… eles tinham o

programa na Globo ainda…. e eles estavam vindo duma temporada super bem

sucedida, assim…. eles estavam começando a fazer o primeiro longa, o primeiro

filme. Casseta e Planeta estava bombando e ele falou assim: “Ó, eu vou pedir… eu

vou falar com o meu patrocinador aqui, que é o cara que patrocina o Casseta... uma

empresa…” ele nunca quis dizer quem era…. pra gente ele falou assim: “pô, mas

acredito que… tá entendendo… a gente não vai ter problema pra fazer esse filme,

os caras vão bancar, pô… vai ser demais e tal….”. Aí, beleza, na semana seguinte

ele chamou a gente… ele chamou de novo eu e o meu irmão pra gente almoçar lá

na casa dele… e aí ele já estava com um semblante completamente diferente de

que ele estava na semana passada, que ele estava todo empolgado, feliz da vida,

ele estava meio, assim… meio cabisbaixo…. e aí ele contou pra gente que ele foi

até o… patrocinador, levou projeto, né… do filme, né…. que ele tinha feito e tal….

com a sinopse, com tudo… com o material que ele tinha levantado de pesquisa,

coisa de jornal…. levou pro cara e o cara chegou , olhou assim… tipo… deu uma

folheada, assim, e virou pra ele e falou assim: “cara… não se mete com isso, não,

cara …. esse pessoal aí, essa gente é muito poderosa, não sei o que… vc vai se

dar mal… sai dessa…" entendeu? Aí ele… foi aí que ele, saindo dessa reunião com

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o patrocinador, que ele viu, assim, “cara, aí tem…. nessa história tem alguma coisa”,

entendeu, então ele falou assim: “agora… tipo, assim, eu estava com vontade de

fazer, a partir de agora virou, tipo, uma missão de vida”, entendeu. Aí ele chegou pra

mulher dele e falou que ia vender uma …. ele tinha um…. um imóvel… né, que eles

alugavam, lá, que eles não estavam usando ele falou assim: “vou vender aquele

apartamento pra fazer esse filme” e a mulher dele falou assim: “vai em frente, tal, te

dou o maior apoio” e aí foi assim que ele fez o filme. Isso foi em 2001, o filme

estreou em setembro de 2009, foram oito anos pra fazer um documentário, então

você imagina assim o… realmente o trabalho né... e o quanto... entendeu. E a partir

do momento que eu… é…. que a gente teve, né… acesso a essas imagens né…

porque o filme, além de esclarecer é…. de tentar contar, pelo menos, depois de

muitos anos né…. essa história, o que aconteceu, o que não aconteceu, né…. tem

uma entrevista com o Raphael Viviani no filme e tal…. além de tudo isso, foi a

primeira chance em muitos anos…. em 30 anos... do cara ver uma imagem do

Simonal cantando, entendeu? então isso também teve um poder... inesperado

assim… porque, a princípio… os caras, né…. se achava, assim, que o mais

importante do filme era saber se o cara tinha sido dedo-duro ou não… mas, no final

das contas, as pessoas ficaram encantadas com o artista, entendeu? E aí o drama

da vida dele e o... né…. as coisas que ele…. as atitudes que ele teve, que

ele cometeu durante a vida, passaram a ser... ter um julgamento, assim… uma

coisa humana… um julgamento que todo mundo erra e todo mundo... pelo menos

está suscetível a errar, né…. as pessoas não são perfeitas e tal. Mas um artista, tipo

assim… a pessoa ver assim... um cara cantando e fala assim: “pô, bicho, como é

que eu tenho 35 anos e nunca soube que no Brasil existia um artista desse”,

entendeu, um cantor, assim, que pudesse cantar pau a pau com a Sarah Vaughan,

entendeu? O cara, assim, uma pessoa de 35 anos não saber que existiu no Brasil

é…. entendeu, é a mesma coisa, sei lá…. se você me mostrar um vídeo, hoje em

dia, e eu falo assim: “cara, não sabia que existia o Ray Charles”, entendeu, como é

que eu vivi todos esses anos sem saber que, pô, nos Estados Unidos tinha um

cantor como o Ray Charles... é uma coisa até meio inconcebível, assim… e aí,

através disso…. coincidiu também com…. pelo fato de eu e o meu irmão, a gente

também ingressar na carreira musical, e aí as pessoas foram obrigadas a falar do

Simonal de uma maneira ou de outra, porque não tinha como não falar, né….. e isso

foi uma coisa, também, que ajudou no início… eu me lembro que, quando eu lancei

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o meu primeiro disco, era muito comum, é…. assim…. bem na matéria, assim, tipo

assim, né…. “Max de Castro lança Samba Raro” aí tinha uma foto minha, o texto,

né…. a crítica do disco e sempre, assim, embaixo um “boxinho” assim: “quem foi

Simonal?” Porque o cara botava, assim, ah, “filho do Simonal”, mas, assim, era

engraçado, porque tem dessa coisa de filho de artista, né…. da geração de filho de

artista, mas no nosso caso, na realidade, a gente era…. o Simonal era o pai do Max

e do Simoninha, não a gente que era filho né…. naquela época, porque as pessoas

não sabiam, não tinham ideia. E aí começou um grande processo de redescoberta,

os discos dele foram relançados, as música começaram a tocar de novo, né…. e aí,

assim, misteriosamente, é muito engraçado, porque você vê essas correções do

tempo, né…. o nome dele começou…. o nome duma pessoa voltar pra historia é

uma coisa muito engraçada, porque aí, assim, morre é…. Paulo Machado de

Carvalho né…. aí você vê na Folha assim, aí assim: “Paulo Machado de Carvalho

foi…. a pessoa importante que fundou a tevê Record, não sei o quê, emissora que

revelou Elis Regina, Simonal...”. Aí ele passou a ser uma referência de novo,

entendeu, porque as pessoas…. passaram a ter o contato com a obra dele de novo,

então a gente… aquele espaço, que ele tinha sumido da historia, voltou a ocupar...

então…. então são essas coisas que… aí vem um processo de você…. muitos

trabalhos, entendeu... de conclusão de curso com o Simonal, sei lá, você deve ser a

décima, décima primeira que eu tenho conhecimento, fora os que eu não…. que eu

não vi ainda, muitos deles foram feitos. Que é uma historia que, realmente, as

pessoas…. quando se deparam, têm um interesse porque é uma história muito

interessante. Você ainda está fazendo um corte…. mais interessante ainda, que é

uma associação, né…. com a…. ainda faz uma relação com o Michael Jackson, né,

que é…. eles têm até um coincidência interessante, que eles morreram no mesmo

dia, tanto o Simonal quanto o Michael Jackson… então… não deixam de ter… acho

que, assim,. vários pontos em comum, ali … essa trajetória deles, essa coisa toda,

né…e, né, o Michael Jackson, ali, sendo acusado de…. aquela coisa de pedofilia…

o Simonal sendo acusado de… né…. sempre tendo uma coisa muito pesada, assim

né…. associada…. ao mesmo tempo, assim, que o cara é grande, que o cara é …

né…. que é uma coisa artisticamente quase imbatível e inalcançável, tem um outro

lado assim… que é uma coisa, né… trevas, assim, né…. engraçado isso…é…. essa

relação né… no caso dos dois, ali…. então, é…. mas é isso.

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Alina: A gente comentou sobre a empresa dele, né. Você sabe quem o Simonal tinha

trabalhando com ele? Que tipos de profissionais?

Max de Castro: Olha… com certeza, era o pior tipo delas, das mais é…. das mais,

como diria, assim….das mais, eu acho, assim, que essa…. que esse lado, assim,

dos negócios, assim, foram…. a visão dele, a intenção dele era muito boa, assim,

entendeu. Ele vinha numa ascensão artística, assim, muito interessante, ele, pô…. o

cara começou a cantar em... ele cantava em boate, era crooner, né… cantava na

orquestra que tocava no… na boate pros casais dançarem, aí ele, de lá… ele é

convidado pra cantar no Beco das Garrafas que, poxa... era o celeiro da criação

artística, assim. Mesmo ele sabendo que, assim… lá na boate que ele cantava era

uma coisa garantida, ali, ele tinha um salário né…. do … do dono da boate e indo

pro Beco das Garrafas ele estava a mercê ali, tipo, se hoje teve gente, o cara

ganhou se amanhã não tem ninguém, ele não ganhou nada, entendeu? Mas ali ele

deixou de ser um, né…. um músico qualquer e passou a ser um artista, né… ele

ganhou um status de né… de …. ganhou um status de pô,.. né… “hoje: Wilson

Simonal”, tipo, a pessoa saiu de casa pra assistir ele cantar, então isso... depois ele

descobriu a televisão é…. depois é…. o negócio foi crescendo, os shows e tal e os

empresários são é…. conhecidos né... tem a historia do Tim Maia, né, que durante

anos ele teve um gavião, né… de estimação, um gavião, um pássaro, gavião

mesmo, o Tim Maia, que ele só comia filé mignon, o gavião, e o nome do gavião era

Empresário: “preciso dar a carne pro Empresário, aqui [imitando Tim Maia]” porque,

assim… essas histórias são assim…. Assim, há incansáveis casos né…. do…

desse… do empresário que rouba o artista, que explora, que é… e justamente pra o

Simonal, ter essa dessa coisa de querer ser alguém na vida, de querer mostrar que,

“pô, eu vim de baixo, mas, pô, eu me dei bem e…” entendeu? “Ninguém vai me

tratar como...” né…. “como uma pessoa qualquer cara tem que me respeitar”. Então

dentro da filosofia dele, dentro projeto de vida dele, era um caminho muito certo ,

é…. a escolha que ele fez, entendeu, dele…. ele mesmo gerenciar a carreira dele,

ele tem que lidar, só que ele, com certeza, se juntou com pessoas é…. que não

eram as pessoas mais preparadas, com pessoas que é…. que assim... que é…. de

confiança muito questionável, assim, entendeu? Pessoas, assim, com perfil muito...

aproveitadoras mesmo, entendeu? E aí, ao invés dele melhorar a condição dele,

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né… a partir do momento que ele deixa de ser é…. sei lá…. deixa de ser

empresariado por um empresário pra ter controle maior do que ele vai ganhar e dos

gastos tudo…. acabou sendo uma coisa muito pior, porque o dinheiro

acabou… Muitas pessoas ali é…. se utilizando do dinheiro dele, dos investimentos

dele, acabou sendo uma coisa muito mal gerenciada, entendeu? Inclusive o Michael

Jackson também, o Michael Jackson sofria esse problema com o dinheiro que ele

ganhou, por exemplo, com os Jackson Five, ele…. se ele quisesse viver de renda a

vida inteira, ele poderia ter vivido, mas o pai dele sempre explorou os meninos

todos. Depois ele…. teve problemas é…. né…. com essa coisa do dinheiro e…. e no

final da carreira dele também assim…pela quantidade de dívidas que o Michael

Jackson tinha e o estado de calamidade administrativa que era a vida dele, né….

Pô, o cara morava num rancho, sei lá, que tinha uma roda gigante! Imagina só você

manter uma roda gigante, imagina que isso seja um... entendeu…. o

custo….imagina a empresa que ele tinha pra organizar só os custos pessoais dele,

era uma coisa faraônica, né…. e ele não tinha é…. o Michael Jackson era um

homem de 50 anos, né…. era um senhor, praticamente, ele não tinha mais um….

ainda mais num mercado como o americano, que é supercompetitivo, assim…. pô….

a Whitney Houston, que talvez seja uma das maiores cantoras de todos os tempos,

morreu afogada numa banheira, tinha bebido, sei lá, 15 latinhas de cerveja,

entendeu? é o fim do mundo, assim, quando você vê, assim, qualquer cantora,

Mariah Carey…. dessa geração mais nova, qualquer uma, todas imitaram a Whitney

Houston e ela não conseguiu se manter porque é uma concorrência…. é um

mercado muito... árduo, assim, uma coisa, né…. muito selvagem, e o Michael

Jackson, ele, assim, embora ele fosse um artista que tivesse…. um grande prestígio,

as pessoas amassem ele, tivessem né… uma “fanbase” extraordinária, ele não

conseguiria ficar… manter a popularidade dele, o sucesso dele na época do Thriller

entendeu. Era uma coisa que era impossível de ser mantida e, pra ele, devido a

essa má…. esse mau gerenciamento administrativo da carreira dele, isso fazia com

que ele tomasse atitudes também erradas, desconcertadas, acabasse fazendo,

entendeu, às vezes lançando discos em épocas desnecessárias, onde ele não

precisasse lançar discos, entendeu? Talvez a expectativa, o custo das produções e

dos clipes e tal, isso gerava um custo muito alto, que a demanda de um retorno né…

de lucro, a base era muito alta né. Então assim…. Pra um artista médio, se o

Michael Jackson vendesse, sei lá, é…. uma coisa que pra qualquer artista médio

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seria é…. uma vendagem 5 milhões, 6 milhões de discos, pra um artista como o

Michael Jackson era um prejuízo, entendeu? Se não fosse acima de 15 milhões, 20

milhões, não pagava a conta. Então acho que faz muito sentido essa comparação

com o Simonal, que ele acabou entrando num…. numa coisa comparativa nesse

sentido. Ali no final dos anos 70, no começo dos anos 70, né…. 71, um show do

Simonal tinha que ter umas orquestras um ballet, era uma coisa, assim, era um show

de um grande astro da música, de uma grande... entendeu. E essas coisas custam

caro, tem que ser muito bem administradas, entendeu? Essas …. essas decisões

artísticas tem que ser muito bem…. balanceadas com as decisões financeiras e

administrativas, entendeu, isso é uma coisa que não havia…. não havia esse

planejamento, as coisas foram sendo feitas assim, meio... entendeu, ao sabor do

vento, ao sabor do tempo.

Alina: Se você estivesse no lugar dele, teria feito alguma coisa diferente?

Max de Castro: Olha, difícil de responder essa pergunta, né… Acho, assim, difícil

porque a situação, ela molda muitas atitudes que as pessoas tem né… E, assim, de

alguma maneira a gente teve que aprender né... Eu digo a gente, a minha família. A

gente passou por isso né... Com ele né… Assim, de cada um do seu jeito, porque

isso acabou tendo desdobramentos definitivos né… Na história da minha família

né… Em diversos aspectos estruturais e então é difícil de saber, porque eu também

não saberia te dizer se eu seria essa pessoa que eu sou hoje se não tivesse tido

essa experiência toda que eu tive né…. Se não tivesse passado por tudo que eu

passei até hoje, então é difícil… Uma coisa difícil de imaginar entendeu? E ele

também… É de imaginar, ele é…. Sei lá se ele pudesse agir de uma outra maneira e

tal porque é uma coisa né…. São muitos elementos ligados né... Muita coisa

envolvida, então é difícil de ter esse tipo de imaginação. Eu posso te dizer aqui o

que eu tentaria né... Se fosse comigo, eu tentaria resolver a coisa da maneira mais

tranquila e clara, mas é, assim, é apenas uma suposição, assim, muito mal,

entendeu? Como eu posso dizer... mal, né… Sem muito fundo de realidade

entendeu? Porque... Agora, é realmente… A gente vive… Isso que é a coisa que é

importante que a gente estava dizendo né… Num momento atrás, o fato da gente ter

essa geração, pessoas como... Eu digo o fato de ter surgido uma nova geração de

possoas que tem uma cabeça diferente, que tem essa coisa sabe… Não tem um

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ranço ideológico, sabe, a gente vive num mundo que poxa, uma pessoa que era

guerrilheira na época da ditadura, é presidente do Brasil entendeu? Então… Esse

tipo de mudança de mentalidade também é muito responsável pelo fato do Simonal

ter sido redescoberto e poder estar vivo hoje em dia na cabeça das pessoas, na vida

das pessoas, entendeu? Porque foi preciso mesmo ter essa mudança, esse… O

tempo realmente… Porque as pessoas falam assim: Ah o tempo é o melhor

remédio, mas nesse caso realmente o tempo foi fundamental”, entendeu? Porque a

sociedade brasileira tem uma relação muito… E principalmente por causa dessa

relação com a ditadura, porque a sociedade brasileira tem uma relação não

resolvida com a ditadura, assim, as pessoas, acho que viveram aquela época,

tendem a ter uma relação com o passado diferente do que elas tiveram, entendeu?

Muitas pessoas hoje em dia falam assim: “ Ah naquela época eu fazia isso, fazia

aquilo”, mas na realidade, elas não faziam nada, entendeu? Eram coniventes ou

eram completamente a parte do que estava acontecendo, entendeu? Ou eram

alienadas ou se faziam de surdas e mudas, entendeu? Então, quando você mexe

com o passado, essa historia do Simonal... Acho que durou tanto também, porque

mexia com esse passado incômodo das pessoas, entendeu? A pessoa… Por isso

que essa coisa da teoria do "bode expiatório" no caso do Simonal, funcionou muito

bem porque você tem uma pessoa que pague por todos os males, entendeu? De

uma determinada época, assim, de um determinado momento. Isso acaba sendo

positivo pra todas as pessoas, entendeu? Não me lembro agora se em 78 ou em

79, tiveram eleições pra deputados né… Estaduais e federais, você pergunta pra

uma pessoa da geração do seu pai em quem que você votou? É um festival, assim,

tipo: “ah não lembro, não sei o que”, entendeu? Só tinha ou você votou no Arena ou

você votou no MDB, entendeu? Só tinham dois partidos naquela época, então,

assim, as pessoas querem também esquecer essa relação com o passado e se

tratando ainda do caso da classe artística, é pior ainda, porque o combate à ditadura

acabou servindo uma espécie de valorização artística, entendeu? você vê "fulano de

tal” pô, o cara ainda na minha época, as minhas músicas eram censuradas e eu, pô,

era contra a ditadura, entendeu? Hoje em dia é visto com o, assim, pô, esse artista é

um cara legal, entendeu? Porque tem um não tomando partido de nada, assim, mas

existe uma espécie de fetiche, assim, tipo essa coisa… Hoje em dia a pessoa ao se

declarar sendo de esquerda, tanto que é impossível uma pessoa hoje em dia falar,

assim: “Não, eu sou de direita”, aí eu sou uma pessoa... Até se bobear, aquele cara,

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aquele maluco lá... Aquele deputado que é homofóbico e tal... Que eu esqueci o

nome dele... É Feliciano, sei lá… Se bobear até ele fala: “Não, eu sou de esquerda”.

Tem umas, assim, a pessoa ser de esquerda é uma coisa chique, né... uma coisa,

entendeu? Então, tem todo esse lado também que é… A minha geração ainda

sofreu um pouco com esse ranço, mas a geração que veio depois de mim, já veio

completamente livre disso daí com a cabeça, entendeu? Com vontade de entender a

história, diz: “Espera aí, vamos ver o que aconteceu mesmo e tal… Uma coisa é

uma coisa e outra coisa é outra coisa pô… Ah, isso aqui é legal, isso aqui não é

legal. Pô, essa música aqui eu gosto, porque que eu não posso escutar essa

música?”, entendeu? Não tem mais essa né… Que, assim, a MPB pra você ter uma

ideia, MPB a sigla quer dizer música popular brasileira, mas a MPB virou um gênero

de música. MPB, o que que é MPB? A MPB é a música do Chico Buarque, do

Caetano Veloso, do Gilberto Gil, da Gal Costa. Quando na realidade, a MPB é tudo,

Luiz Gonzaga é MPB, Odair José é MPB, porque Odair José é música, não é

teatro... É brasileira, porque não é americana, é popular, porque não é erudito, até

onde eu sei. Então, assim, criou-se uma coisa, assim, né... Essa coisa da MPB é

uma música, assim, tipo... Não é boa música popular, entendeu? É música que você

que tem uma cabeça, é uma pessoa inteligente, uma pessoa que tem um nível

social, um bom nível social e intelectual, você ouve MPB, entendeu? Isso é uma

coisa que hoje em dia não tem mais. As pessoas ouvem forró, ouvem Techno

Brega, ouvem Chico, Caetano, ouvem Simonal, não tem mais essa separação,

porque isso foi criado pra criar esse racha social, entendeu? Tipo assim... a patroa

ouve MPB e a empregada ouve Sidney Magal, entendeu? Era um coisa, assim,

tipo... A minha empregada não pode ouvir a mesma música que eu

ouço, porque nós pertencemos a classes sociais diferentes, entendeu? Eu sou uma

pessoa intelectualizada, então eu ouço Chico Buarque, ele ouve Sidney Magal e

hoje em dia isso tudo caiu por terra. Essas definições... Isso aí virou uma bobagem,

então esse terreno novo, essa nova maneira de pensar, isso foi muito bom pro

Simonal e o fato da música dele ficar sem ser ouvida tantos anos, assim, por um

lado foi triste por ele, porque ele passou 20 anos assim, entendeu? Sendo uma

espécie de fantasma e não teve essa chance de poder ver as pessoas né… A

garotada hoje em dia, as pessoas cantando a música dele, não teve essa chance de

rever isso, mas por outro lado essas pessoas que tiveram contato com a música

dele, agora tem uma relação, assim, tipo assim, de pegar um negócio... Parece que

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ficou como se tivesse ficado congelado, né? E foi descongelado, agora a coisa é

“fresh” né... Tem um sabor de novidade, porque o negócio ficou ali fora de

circulação, então as pessoas tem um contato pela primeira vez, então é como se

fosse uma música nova. O cara ouve "Nem Vem Que Não Tem" no filme “Cidade de

Deus”... Ele fala assim: “Pô, é Marcelo D2? É Seu Jorge? Quem que canta isso?”.

Pro cara é uma coisa nova, entendeu? O cara não ouve aquilo como: “Putz... É uma

música de 40 anos atrás." Então isso, por um lado, é uma coisa bacana também,

entendeu? Que é uma coisa também que tem a relação… Por exemplo, eu tenho

dois filhos, um tem 7 anos e outro tem 11, quando o Michael Jackson morreu, foi

aquela comoção nacional, todo mundo assim… Jornal Nacional: “Morre Michael

Jackson”. Os meus filhos não sabiam quem era Michael Jackson, mas virou

assunto: “Pô morreu o Michael Jackson" em todos os jornais, todas as capas de

revistas e aí eu fui mostrar os discos, a música do Michael Jackson pra eles… E eles

assim, de cara se apaixonaram pelas músicas do Michael Jackson, ficaram assim

tipo completamente fascinados, o que foi uma coisa bacana também, porque o

Michael Jackson por exemplo é um artista que é muito fruto dessa coisa da… do

poder da indústria, do sistema, da indústria cultural americana, a música americana

imperialista, não sei o quê… Quando os meus filhos ouviram “Thriller" pela primeira

vez ali não tinha Empire, não era revista Veja, não era Sony Music , não era… Eles

ouviram uma música pela primeira vez e se encantaram, então isso é a prova

também que a obra artística, ela tem um… Ela pode ser obviamente ancorada por

essas estruturas de mercado e pelo dinheiro e pela mídia, mas a música, em si, ela

tem uma força , a obra de arte ela tem um né… Porque que a Mona Lisa é a Mona

Lisa e… Imagina quantos autorretratos… Então é uma força, é um poder muito

grande também e os meus filhos super animados e fãs do Michael Jackson e aí eu

lembrei que, além da música, tem os clipes, tem imagem e eles são de uma geração

que assim, o meu filho só ouve música no Youtube, pra ele o “escutar música” é

uma coisa que praticamente… Pra ele e pros amigos dele é uma coisa que não

existe, assim…. Essa experiência de ouvir música. Música é só… É uma coisa que

você ouve quando você está vendo uma imagem junto, e aí quando eles viram os

clipes do Michael Jackson, eles viram o clipe do “Thriller”, aí é uma coisa que não

tem explicação e é essa coisa assim…. Um clipe como o “Thriller" que é feito em 82

imagina, tipo… Que era uma época do videotape, do VHS e é um negócio que tem

um frescor, assim…. Poucos vídeos que a gente pode assistir hoje que a gente vai

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ter um impacto tão grande que nem a gente tem com ele, então isso é uma coisa

muito importante, essa mudança de mentalidade, essa mudança de contexto…. O

contexto é tudo, isso é uma coisa que a gente nunca pode esquecer… E seja o que

for, seja a disciplina que for, seja no mundo das artes, da política, da historia e da

ciência… O contexto é tudo… Então, essa mudança de mentalidade e esse espírito

novo, foi fundamental tanto pra redescoberta do Michael Jackson quanto do

Simonal.