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  • ARTIGOS

    Desenvolvimento de colees: uma nova viso para o planejamento de recursos informacionais

    Waldomiro de Castro Santos Vergueiro

    Resumo

    A evoluo das atividades do desenvolvimento de colees nas bibliotecas acelera-se a partir de necessidades advindas da "exploso bibliogrfica". Surgem propostas de modelos para operacionalizao do desenvolvimento de colees, bem como a necessidade de se particularizar as abordagens segundo a tipologia das bibliotecas. A preocupao com o desenvolvimento de colees tambm comea a surgir no Brasil, ainda que em ritmo mais lento.

    Palavras-chave

    Planejamento bibliogrfico; Desenvolvimento de colees.

    INTRODUO

    A expresso "desenvolvimento de cole-es" bastante recente na literatura bi-blioteconmica. Durante muito tempo, os bibliotecrios praticamente evitaram enca-rar essa questo diretamente, talvez por-que os motivos para tanto no se colocas-sem em grau de suficiente importncia, ou porque ignorassem como as atividades relacionadas com a constituio e/ou pla-nejamento de acervos informacionais se encontravam interligadas. Limitavam-se a abordar essa problemtica de maneira isolada. No entanto, o desenvolvimento da Biblioteconomia, tal como acontece com qualquer ramo da cincia, foi aos poucos fazendo a sntese de preocupaes antes dispersamente encontradas, gerando o aparecimento de uma nova especialidade, o desenvolvimento de colees. Isto, ob-viamente, no aconteceu por acaso, mas acompanhou mudanas estruturais da or-ganizao do conhecimento registrado, reflexos da modificaes ocorridas em nvel mais amplo, ou seja, no da disseminao do conhecimento humano.

    EVOLUO DO DESENVOLVIMENTO DE COLEES A preocupao com o desenvolvimento de colees em bibliotecas apresenta um nti-do incremento a partir das ltimas dca-das, quando se tornou cada vez mais cla-ro, para bibliotecrios e administradores em geral, que era praticamente impossvel acompanhar o ritmo alucinante de cresci-mento dos materiais informacionais. Mais que isto, constatou-se que tal era verda-deiro tanto no que dizia respeito constru-o de espaos fsicos para acomodao dos novos itens a serem incorporados, como no que concernia possibilidade de tratamento adequado de todo este material.

    Este crescimento da literatura, principal-mente especializada, foi ocorrncia ime-diata daquilo que Solla Price, j durante a dcada de 50, chamou de lei do cresci-mento exponencial da cincia, querendo significar que o crescimento de reas ge-rais ocorre exponencialmente, enquanto o de subreas, aps uma fase inicialmente linear, transforma-se, ele tambm, em ex-ponencial.

    Desta forma, a literatura cientfica tende a aumentar a rapidez com que dobra de vo-lume (o primeiro estudo de Solla Price, realizado nas reas de fsica e teoria de determinantes e matrizes, apontava um n-dice situado ente 10 e 15 anos como o ne-cessrio para que a literatura nessas reas tivesse seu volume duplicado), sen-do esse apenas um dos fatores daquilo que ele, posteriormente, denominou de "revoluo cientfica"1. Esses estudos, segundo Braga, comentando a obra do estudioso norte-americano, deveriam fun-cionar como um "sinal de alerta para en-frentarmos o problema antes que seja tar-de demais"2.

    No se sabe se as afirmaes de Solla Price encontraram boa acolhida entre os profissionais responsveis pela guarda e recuperao da informao, ou se foram elas ou o alerta de Bradford sobre a emer-gncia de um possvel "caos document-rio"3 que fizeram os bibliotecrios passa-rem a ter uma preocupao maior com o desenvolvimento de colees. O certo que as conseqncias dos fenmenos pesquisados pelos dois estudiosos, a chamada exploso bibliogrfica, trouxeram preocupaes extras a esses profissio-nais, introduzindo, em sua tarefa de coleta, elementos complicadores antes inexisten-tes. Entre estes, pode-se destacar, por exemplo, o fato de que boa parte da pro-duo colocada no mercado por esta "ex-

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    ploso" constituda, na realidade, de material de pouca importncia, repetindo apenas o que outros haviam dito ou discu-tido anteriormente a eles, sem nada acres-centar de novo.

    Isto veio a aumentar sobremaneira a ne-cessidade de uma seleo de acervo cada vez mais criteriosa, o controle do cresci-mento ou desenvolvimento das colees, a fim de que estas no ficassem abarrota-das de materiais com informaes redun-dantes. E esta preocupao surgiu, foi e continua a ser predominante na rea das bibliotecas acadmicas e universitrias uma das razes pelas quais a discusso sobre o desenvolvimento de colees tem sido feita, na literatura especializada, enfo-cando, principalmente, este tipo de institui-o bibliogrfica.

    A questo no era e continua a no ser simplesmente financeira, originada pela eventual falta das verbas necessrias para garantir a aquisio dos materiais conside-rados de interesse. Era, mais que isso, uma questo de total impossibilidade de acompanhar, de maneira minimamente efetiva, o ritmo da "exploso bibliogrfica". Entre 1950 e 1965, a produo mundial de livros produzidos no mundo inteiro, consi-derando-se o nmero de ttulos, chegou a duplicar4, isto para no entrar em conside-raes a respeito do aumento da produo de outros formatos e veculos de comuni-cao, como o caso dos peridicos tanto gerais como especializados, dos discos, filmes, diapositivos etc.

    A aquisio exaustiva de obras, com a conseqente garantia de acomodao das mesmas, passava a ser, desde ento, ta-refa cada vez mais difcil de ser cumprida. Basta lembrar, a ttulo de ilustrao, que o maior crescimento de bibliotecas universi-trias nos Estados Unidos ocorreu no pe-rodo que vai de 1967 a 1974, no qual fo-ram construdos prdios e/ou novas salas para acomodar cerca de 163 milhes de volumes. Enquanto isso, as colees das bibliotecas universitrias daquele pas, de-vido ao grande volume de verbas ento disponveis, expandiram-se, no mesmo pe-rodo, por volta de 166 milhes de volu-mes. Ou seja: um excedente de aproxima-damente trs milhes de volumes para os quais no foi possvel providenciar espao em termos de armazenamento5. E tal aconteceu, diga-se de passagem, em uma das pocas mais favorveis j vivenciadas pela biblioteconomia norte-americana, quando as verbas para bibliotecas univer-sitrias e especializadas eram obtidas com relativa facilidade.

    Depois disso, as verbas, tanto para a construo de novos edifcios, como para a prpria aquisio de" recursos informa-

    cionais comearam a tornar-se cada vez mais difceis de serem obtidas, e a neces-sidade de planificao dos acervos pas-sou a ser uma opinio ou uma certeza a cada dia mais e mais compartilhada pe-los bibliotecrios. Ilustra bem este fato a seguinte afirmao, expressa por James C. Baughman:

    "Os bibliotecrios esto comeando agora a perceber que eles no podem continuar a trabalhar sob a pressuposio de que no existe limite para a quantidade de ma-terial que pode ser adquirido, organizado e armazenado. A taxa de produo de do-cumentos demasiadamente grande e presses fiscais demasiadamente agudas para permitir aos bibliotecrios manter seu modus operandi. tempo tambm que os bibliotecrios percebem que possvel ad-quirir colees bsicas de qualidade sem alcanar figuras astronmicas"6.

    No se entenda, no entanto, que essa preocupao se tenha iniciado durante a dcada de 60 ou incios da de 70, quando se pode identificar nitidamente um movi-mento em direo ao desenvolvimento de colees. O fato que, por esta poca, no mundo inteiro o Brasil demorou um pou-co para aderir boa parte dos bibliotec-rios passou a dar maior ateno s cole-es sob sua responsabilidade, buscando desenvolv-las, selecion-las, expurga-las. Enfim, procurando transform-las em alguma coisa mais coerente.

    E houve, ento, como que um boom do desenvolvimento de colees: artigos so-bre o assunto ou sobre suas atividades componentes comearam a aparecer, com frequncia cada vez maior, nos peridicos de Biblioteconomia; manuais especializa-dos foram escritos, buscando conscienti-zar os profissionais sobre a importncia do tema; teses e pesquisas foram realizadas em universidades do mundo inteiro; peri-dicos especializados exclusivamente nes-sa rea foram criados.

    Como mais um exemplo desta preocupa-o dos bibliotecrios, veja-se, ainda, a modificao de ttulo e enfoque de uma das sees anuais de reviso da li-teratura do tradicional peridico Library Resources & Technical Services, que, em certo momento, deixa de denominar-se Resources7 para passar a chamar-se Collection Development and Preservation8; pouco tempo depois, o ttulo da seo so-freria "nova mudana, assumindo a deno-minao Collection Development9. Estava patenteada, portanto, a existncia de uma doutrina, ainda que incipiente, sobre o de-senvolvimento de colees.

    Ao considerar este relativamente sbito incremento de interesse pelo desenvol-

    vimento de colees, algum poderia ima-ginar at que, com alguns anos de atra-so, os bibliotecrios haviam-nas desco-berto, finalmente (este entusiasmo tem si-do to grande, que um bibliotecrio mais afoito chegou a afirmar que "a Biblioteco-nomia a arte de desenvolver uma cole-o de livros, no a atividade de index-la"10, o que, muito provavelmente, um exagero...).

    A concluso que primeira vista se impe, considerando-se a existncia, a partir de um determinado momento, de uma preo-cupao mais acirrada com as colees, a de que, anteriormente a essa preocu-pao, teria existido um provvel alhea-mento dos profissionais em relao s mesmas, permitindo que estas se desen-volvessem naturalmente, obedecendo teoria do laissez-faire. Esta seria contudo uma concluso equivocada.

    Na realidade, os profissionais da Bibliote-conomia no estiveram absolutamente apticos no que diz respeito ao desenvol-vimento de suas colees, durante aque-les anos todos que precederam o boom. As vrias atividades do processo de de-senvolvimento de colees sempre foram motivo de interesse dos bibliotecrios. Pa-rece certo que, anteriormente exploso bibliogrfica, a preocupao parecia ser muito mais pontual, direcionada, apesar de, antes da dcada de 70, alguns bibliote-crios, principalmente na rea de bibliote-cas universitrias, j alertarem seus cole-gas quanto necessidade de elaborao de polticas para a coleo ou para a aqui-sio de materiais11.

    Sob certos aspectos, uma temeridade afirmar-se que a preocupao com uma seleo mais cuidadosa dos materiais a serem incorporados ao acervo surgiu na dcada de 60 ou 70. Esta preocupao pa-rece sempre ter existido, mas localizava-se muito mais no acrscimo de novos ttu-los coleo, no sentido da "construo" o termo utilizado era exatamente esse da mesma, sem deslocar o centro de ateno do item em si para a coleo qual ele estava sendo incorporado12.

    Da mesma forma, sempre existiu o cuida-do em otimizar os processos de aquisio, buscando abreviar o tempo necessrio pa-ra a obteno e colocao do material ao alcance do usurio nele interessado. So-bre esse assunto, especificamente, ir manifestar-se Gail Kennedy, apontando que "a maioria das pessoas concordaria que a aquisio sempre esteve em ativi-dade, enquanto o desenvolvimento de co-lees um termo relativamente novo, se no uma atividade absolutamente nova"13. Continuando, a autora dir que o trabalho de busca, identificao e aquisio de

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    materiais de interesse biblioteca j era realizado antes de 70, principalmente em grandes bibliotecas universitrias, com a mesma intensidade e minuciosidade que se tornou muito mais comum depois desta poca, mas que o efetivo exerccio de au-toridade primria sobre o desenvolvimento das colees pelos bibliotecrios s co-meou mais recentemente.

    Por outro lado, constata-se, ainda, que o desenvolvimento de colees surge como uma evoluo da seleo, juntamente com todas as atividades que lhe so correlatas. J nos anos 60, pode-se notar uma preo-cupao maior com os oramentos dispo-nveis para recursos informacionais, pro-curando utilizar-se de frmulas que propi-ciassem uma alocao mais inteligente dos mesmos, aplicadas principalmente em bibliotecas universitrias.

    Inovao foi, talvez, o reconhecimento de que o desenvolvimento de colees deve ser uma diviso funcional da biblioteca, da mesma forma como o so a catalogao, a referncia, a aquisio e os departamentos de circulao, em uma clara manifestao de que as complexidades dessa atividade haviam ampliado bastante. De qualquer forma, parece bastante claro para Gail Kennedy que, "sob uma variedade de n-veis de reconhecimento, a maioria das bi-bliotecas pblicas e acadmicas deram ateno ao desenvolvimento de colees durante os anos 70"13. ( claro que a autora est falando da realidade norte-americana, ou melhor, dos pases mais desen-volvidos...).

    A grande contribuio da conscientizao sobre a exploso bibliogrfica parece, to-davia, ter sido muito mais no sentido de obrigar os bibliotecrios a uma mudana radical de atitude em relao ao armaze-namento e coleta de materiais informacio-nais. Ficou mais claro, a partir de ento, que, se pretendiam manter as bibliotecas, pelas quais eram responsveis, organis-mos vivos e atuantes, deveriam necessa-riamente mudar a nfase de seu trabalho, abandonando a acumulao pura e sim-ples do material em benefcio da possibili-dade de acesso ao mesmo, tornando a coleo "consistente com as metas e ob-jetivos da instituio a que serve"14. a evoluo das instituies em um mundo de constantes mudanas que, por meio dos modernos sistemas de comunicao, tor-nou as colees acessveis em nvel mun-dial.

    O limite para uso dos acervos, utilizando-se do compartilhamento de recursos in-formacionais que, praticamente, no co-nhece fronteiras , o prprio limite do co-nhecimento recupervel. Como pensar, diante disto, em armazenar documentos

    apenas para si? Ficou bem claro, a partir desta mudana de atitude, que nenhuma biblioteca poderia ser auto-suficiente, atre-vendo-se a procurar dar-se ao luxo de. su-prir todas as necessidades informacionais de seus usurios com recursos prprios. Esta passou a ser, na realidade, uma aspi-rao humanamente impossvel de ser realizada.

    Sem dvida, esta foi uma mudana bas-tante radical, ocorrida com uma rapidez at surpreendente, quando considerados os longos anos do desenvolvimento da Bi-blioteconomia. Ela chegou a pegar muitos profissionais de surpresa. E talvez toda esta surpresa e resistncias colocadas por alguns bibliotecrios em relao ao desenvolvimento de colees deva-se, em realidade, ao fato de que essa foi uma mu-dana que implicou e continua a implicar uma transformao de mentalidade, ou seja, o abandono de prticas e/ou vises de mundo tradicionalmente assimiladas, mas raras as vezes questionadas. Trata-se do abandono de uma postura tradicio-nal, enfim, que no conseguia ver, no de-senvolvimento de colees, nada mais que a pura ou simples aquisio de materiais informacionais. que, tambm, mostrou-se, muitas vezes, pouco permevel a novas atribuies, principalmente aque-las relacionadas com o planejamento do acervo.

    Este, como diz Bruer, um "sinal dos tempos", que exigiu uma distino clara entre os procedimentos de aquisio, muitas vezes puramente operacionais, e o desenvolvimento de colees, entendido, este ltimo, de forma a incluir, tambm, a pesquisa sobre prticas de doao e per-muta, reavaliao das aquisies efetua-das e a anlise das prticas de seleo e aquisio cooperativa, sem, contudo, limi-tar-se apenas a elas. Ou seja: cada um desses itens poderia ser denominado co-mo "uma subseo do problema maior do desenvolvimento de colees em geral"15.

    MODELOS TERICOS

    Hendrik Edelman sugeriu a existncia de uma hierarquia entre os termos desenvol-vimento de colees, seleo e aquisio.

    No primeiro nvel, estaria o desenvolvi-mento de colees entendido de maneira ativa, como uma funo de planejamento: a existncia de um plano ou poltica de de-senvolvimento da coleo que descreva "os objetivos a curto e longo prazo da bi-blioteca para suas colees"16, levando-as em considerao e correlacionando-as com aspectos do meio ambiente, como a demanda do usurio, sua necessidade e expectativa, o mundo da informao, os planos fiscais e a histria das colees.

    No segundo nvel, estaria a seleo como funo direta do desenvolvimento de cole-es, isto , o processo de tomada de de-cises relacionadas com a implementao dos objetivos anteriormente estabelecidos. Neste aspecto, os critrios e metodologia para identificao e seleo dos materiais informacionais deveriam ser necessaria-mente vistos separadamente da poltica para desenvolvimento da coleo.

    No terceiro nvel desta hierarquia, estaria a aquisio, entendida, agora, como a im-plementao das decises de seleo. o processo que, na prtica, torna reali-dade palpvel decises tomadas na sele-o. O autor, apesar de hierarquizar os itens componentes do desenvolvimento de colees, reconhece que os mesmos es-to em constante interao e sobreposi-o16.

    John Ryland parece concordar com Edel-man, quando lembra aos bibliotecrios presentes em uma conferncia sobre aquisio de livros e peridicos realizada em Charleston que, na realidade, "o de-senvolvimento e a administrao de cole-es muito mais que a seleo"17. Para ele, o desenvolvimento de colees ir abranger variadas tarefas, como a deter-minao da poltica da coleo, a alocao de recursos, a avaliao de colees, seja para descarte, como para armazenagem em depsitos.

    Nesta mesma linha de raciocnio, cami-nham, tambm, Rose Mary Magrill e Do-ralyn J. Hickey, quando afirmam que:

    "De uma maneira geral, o desenvolvimento de colees ir incluir a avaliao das ne-cessidades dos usurios, a avaliao da coleo atual, a determinao da poltica de seleo, a coordenao da seleo de itens, o "desbastamento" e armazenagem de partes da coleo e o planejamento pa-ra compartilhamento de recursos. Entre-tanto, de uma maneira ainda mais geral, o desenvolvimento de colees no ape-nas uma simples atividade ou um grupo de atividades: um processo de planeja-mento e de tomada de deciso"18.

    J James C. Baughman entende que o de-senvolvimento de colees precisa ser enfocado sob um ponto de vista estrutura-lista, querendo, com isto, significar "a pro-cura de um padro de relacionamento"6

    entre as partes envolvidas nesta atividade bibliotecria. Com esta abordagem, o de-senvolvimento de colees entendido como composto por vrios componentes:

    a) uso: grupo de demandas; b) conhecimento: grupo de disciplinas,

    assuntos, tpicos e reas de estudo;

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    c) biblioteconomia: grupo de relaes en-tre as literaturas dos diversos assun-tos.

    Para Baughman, so exatamente as rela-es entre esses trs componentes que iro gerar o desenvolvimento de colees, o qual est no centro mesmo deste rela-cionamento, conforme pode ser visualiza-do pela figura idealizada por esse autor (fi-gura 1). O desenvolvimento de colees ir constituir-se, ento, no entrecruza-mento de planejamento, implementao e avaliao de colees, que sero assim definidos:

    a) planejamento da coleo um projeto para a acumulao de documentos afins, da maneira determinada pelas necessidades, propsitos, objetivos e prioridades da biblioteca;

    b) implementao da coleo trata do processo de tornar os documentos acessveis para uso;

    c) avaliao da coleo envolve seu exame e julgamento em relao aos objetivos e propsitos estipulados.

    Desta forma, Baughman afirma que o de-senvolvimento de colees um plano passvel de implementao, podendo ser representado da seguinte forma:

    PLANEJAMENTO + IMPLEMENTAO + AVALIAO = DESENVOLVIMENTO DE COLEES

    Concluindo seu raciocnio, o autor afirma que "o enlaamento destes conceitos em uma poltica para desenvolvimento de co-lees leva a um sistema que comple-mentado, cclico e auto-aperfeiovel6.

    Com uma maneira ligeiramente diferente de pensar, G. Edward Evans ir enfocar o desenvolvimento de colees sob um ponto de vista sistmico, definindo-o como o "processo de identificao dos pontos fortes e fracos de uma coleo de mate-riais de biblioteca em termos de necessi-dades dos usurios e recursos da comu-nidade e tentando corrigir as fraquezas existentes, quando constatadas", o que vai requerer "constantes exame e avaliao dos recursos da biblioteca e constante estudo tanto das necessidades do usu-rios, como de mudanas na comunidade a ser servida19.

    Desta forma, considerado como um processo, o desenvolvimento de colees ter necessariamente um enfoque sistmi-co, e sua nfase ir variar, para cada um de seus componentes, de acordo com o ti-po de biblioteca em que estiver ocorrendo. Mas este processo pode ser, de uma ma-neira geral, considerado comum para to-das as bibliotecas. Alm disso, esta con-cepo muito importante, por concentrar em si a noo de continuidade, a qual, abordada sob a perspectiva sistmica, transmite a idia de que as atividades li-gadas coleo no podem ser encara-das isoladamente, mas tm de ser vistas como componentes ou subsistemas de um todo.

    Figura 1 - Desenvolvimento de colees. Abordagem estruturalista (Baughman, 19796)

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    O modelo do processo, elaborado por Evans19, , alis, bastante elucidador a este respeito, pois enfatiza o carter ccli-co do desenvolvimento de colees, sem que uma etapa chegue a distinguir-se ou sobrepor-se s demais. Esto todas em p de igualdade, girando, teoricamente, em torno de um pequeno crculo em que esto situados os profissionais responsveis pelo trabalho de desenvolvimento da cole-o. Ao redor desses componentes, ser-vindo como subsdios a todos eles ex-ceo nica a da etapa de aquisio -, encontra-se a comunidade a ser servida. Desta forma, o modelo cobre o processo inteiramente, no caindo no erro de con-fundi-lo com uma ou outra de suas par-tes componentes erro bastante comum de acontecer no dia a dia das bibliotecas. A figura bastante esclarecedora, alm do mais, por deixar claro que este um pro-cesso ininterrupto, tendo necessariamente de transformar-se em atividade rotineira das bibliotecas, garantia nica de sua efe-tividade (figura 2).

    Tambm Charles B. Osborn ir salientar exaustivamente essa caracterstica sist-mica do desenvolvimento de colees, de-finindo-o como "um sistema de servio ao pblico, efetuado mediante um processo de tomada de decises que leva a uma determinao da aquisio e reteno dos materiais"20. Para ele, os conceitos de "servio ao pblico", "sistema" e 'proces-so de tomada de decises" so conceitos-chave para entendimento global dos objeti-vos e propsitos do desenvolvimento de colees.

    Posteriormente a Evans e Osborn, Bonita Bryant debruou-se sobre a questo do desenvolvimento de colees, procurando distinguir as diversas estruturas organiza-cionais que so utilizadas para desempe-nho dessas atividades21. Aponta que possvel identificar a existncia de trs posturas neste aspecto:

    a) postura de aquisio caracterizada pela confiana na seleo de novos materiais, realizada externamente bi- blioteca, , praticamente, uma postura em que os bibliotecrios exercem pou- qussimo controle sobre a coleo, pelo menos no sentido de direcion-la para um determinado objetivo. Existe ape nas, como indcio da existncia do mesmo, no mximo um perfil para aprovao do material, estabelecido em bases bastante amplas.

    b) postura de seleo procura concen- trar nos bibliotecrios a responsabilida- de pelo desenvolvimento da coleo, apesar de selees realizadas exter- namente biblioteca poderem ser aceitas, ou, mesmo, eventualmente so-

    licitadas. Existe um tipo de ligao entre usurios e bibliotecrios respon-sveis pela seleo. Isto, geralmente, facilita o estabelecimento de uma polti-ca para o desenvolvimento da coleo, embora se possa afirmar que as ati-vidades rotineiras de seleo tendem a deixar aos bibliotecrios pouco tem-po disponvel para participao do desbastamento sistemtico ou outros projetos.

    c) costura de administrao e desenvol-vimento de colees caracteriza-se pela distribuio das tarefas e respon-sabilidades envolvidas neste objetivo entre os bibliotecrios com formao acadmica em reas de assunto espe-cficas. Existe, nesta ltima postura, uma articulao quase que completa, por um lado, entre a poltica e o des-bastamento sistemtico e, por outro, a anlise do oramento, alocao e con-trole de recursos financeiros e informa-cionais.

    Mais ou menos na mesma poca em que Bonita Bryant tratou da questo do desen-volvimento de colees, James A. Cogs-well fez um rpido levantamento da literatura sobre o assunto e destacou que esta denominao parece ter-se tomado insufi-ciente para a gama de atividades atual-mente envolvidas com a administrao e desenvolvimento de colees. Segundo

    este autor, apesar de a "maior parte da lite-ratura recente ainda utilizar o termo de-senvolvimento de colees de bibliote-cas"22, vrios autores, como so os casos de Lyden7 e Mosher23, apontam o apare-cimento de uma nova nomenclatura que visa a abarcai mais adequadamente as atividades incorporadas a esta rea do trabalho bibliotecrio. Para reforar sua argumentao, Cogswell22 cita textualmente artigo de Mosher em que este ltimo define o de-senvolvimento de colees como "a sele-o efetiva e oportuna dos materiais de bi-blioteca, formando reas de assunto ou colees cuidadosamente construdas, no transcorrer do tempo, por bibligrafos es-pecializados". Em contraposio a esta descrio, Mosher, ainda citado por Cogswell, especifica as atividades envol-vidas, segundo ele, na administrao de colees, a qual pode ser definida como a "administrao sistemtica, eficiente e econmica dos recursos da biblioteca", enfatizando, por um lado, a "natureza pro-gramtica" e, por outro, os papis, agora ampliados, dos administradores das cole-es23. Para Cogswell, entretanto, inde-pendentemete de qual seja a terminologia utilizada, o importante que a administra-o de modernas colees de pesquisa no seja encarada como "uma srie de ta-refas isoladas ou estreitamente definidas, reservadas para uns poucos bibligrafos especializados"22.

    Figura 2 - O processo de desenvolvimento de colees (Evans, 197919)

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    Continuando, Cogswell22 apresenta sua definio de administrao de colees como sendo "a administrao sistemtica do planejamento, composio, oramenta-o, avaliao e uso das colees de bi-bliotecas durante grandes perodos de tempo, a fim de atingir objetivos institucio-nais especficos" e compreendendo, pelo menos, as oito seguintes funes:

    1) planejamento e elaborao de polticas processo de identificao e imple-mentao de planos de ao em rela-o coleo, incluindo, como parte integral e central, o estabelecimento de uma declarao formal de poltica para o desenvolvimento da mesma, que no pode, absolutamente, ser vista como um documento interno, unicamente pa-ra uso da biblioteca, mas, isto sim, ser utilizada como um instrumento potencial de comunicao com a comunidade servida.

    2) anlise de colees avaliao dos pontos fortes e fracos da coleo utili-zando-se de medidas objetivas.

    3) seleo de materiais uma funo im-portantssima devido natureza expan-siva da maioria das colees de pes-quisa, que tende a modificar-se com a aplicao cada vez maior de progra-mas de aquisio on approval, em que as bibliotecas transmitem a grandes fornecedores de materiais de infor-mao, mediante um perfil de interesse da biblioteca, a deciso sobre a se-leo dos materiais, abreviando o pro-cesso de aquisio dos mesmos.

    4) manuteno da coleo tambm de nominada re-seleo, abrange os tra balhos de deciso sobre quais mate riais na coleo devem ser preserva dos, descartados ou armazenados para melhor servir s necessidades cios usurios presentes e futuros.

    5) administrao fiscal vai incluir toda a atividade de controle de oramento e alocao de recursos para aquisio de materiais.

    6) contato com usurio medida que se tornam cada vez mais complexas as necessidades e exigncias dos usu rios, faz-se necessria unia ligao maior com ele por parte dos bibliotec rios responsveis pelo desenvolvi mento das colees, a fim de ter co nhecimento das mesmas e atend-las de maneira satisfatria. Este trabalho ter de levar em considerao, neces sariamente, a proviso de instruo bi bliogrfica, a busca on-line e o prprio servio de referncia em base regular.

    7) compartilhamento de recursos no pode mais ser visto como atividade ex-tra qual nem sempre correspondem benefcios suficientemente compensa-dores. Tornou-se, na realidade, uma condio essencial para viabilidade de toda e qualquer biblioteca, principal-mente devido aos avanos no campo da telecomunicao.

    8) avaliao do programa os planos, po-lticas, procedimentos e pessoal envol-vido no desenvolvimento de colees precisam ser periodicamente avaliados com a finalidade de verificar sua ade-quao comunidade e aos objetivos da instituio. Dados referentes utili-zao, ou no-utilizao, emprstimo interbibliotecrio e estudos de usurio precisam ser considerados na admi-nistrao e desenvolvimento da cole-o22.

    O trabalho de Cogswell, entretanto, foi rea-lizado tendo em vista a organizao das atividades ligadas ao desenvolvimento de colees em bibliotecas acadmicas ou de pesquisa. Toda a atividade de coleta de dados desenvolvida por esse autor teve como objetivo obter modelos organizacio-nais aplicveis nesse tipo de instituies, deixando de questionar sua adequao a outras tipologias de bibliotecas, como, por exemplo, as pblicas ou escolares. A ade-quao do desenvolvimento de colees s caractersticas da organizao bibliote-cria em que se realiza parece ser uma tendncia quase dominante.

    TIPOS DE BIBLIOTECAS E DESENVOLVIMENTO DE COLEES

    O desenvolvimento de colees no tem sido discutido de maneira semelhante no que concerne aos vrios tipos de institui-es bibliotecrias. Pelo que se depreende da literatura em Biblioteconomia e Docu-mentao, a preocupao com esse as-sunto em bibliotecas universitrias e/ou especializadas, pelo menos no que diz respeito ao aparecimento de artigos tra-tando mais detalhadamente dessas insti-tuies, tem sido muito maior do que aquela a respeito de bibliotecas pblicas ou escolares. Talvez isto se deva, princi-palmente, ao fato de que grande parte dessa literatura tem sua origem nos Esta-dos nicos, onde se pode notar, desde incios da dcada de 60, o recrudesci-mento de problemas devidos ao cresci-mento das bibliotecas, principalmente as universidades de grande porte5.

    Desta forma, at compreensvel a pre-ponderncia de estudos sobre o desenvol-vimento de colees em bibliotecas uni-

    versitrias, como o case do estudo so-bre o estado-da-arte de Magrill & East11, pois estava a e, provavelmente, ainda continua a estar a maior preocupao dos bibliotecrios norte-americanos.

    O fato apontado anteriormente pode ser constatado tanto no estudo do desenvol-vimento de colees como um todo, en-globando o total de suas atividades, como no caso especfico de cada uma delas. Desta forma, por exemplo, v-se que a questo do emprstimo interbibliotecrio, como urna provvel alternativa compra de materiais, apenas recentemente foi dis-cutida, na literatura, em sua relao com as bibliotecas pblicas24. Por outro lado, tambm bastante provvel que, de um ponto de vista puramente pragmtico, te-nha parecido, a esses profissionais, ser mais compensador e justificvel financei-ramente o dispndio de mais tempo e tra-balho na resoluo dos problemas de de-senvolvimento de colees em bibliotecas universitrias e especializadas que nas demais.

    Alguns dos manuais didticos sobre de-senvolvimento de colees surgidos, em anos recentes, na literatura internacional, tm discutico a especificidade das bibliote-cas no que tange ao desenvolvimento de suas colees19, 25, partindo da premissa de que desenvolver a coleo de uma bi-blioteca pblica, por exemplo, no , ab-solutamente, a mesma coisa que desen-volver a coleo de uma biblioteca espe-cializada. Outros, contudo, no chegam a faz-lo com a mesma especificidade11, entendendo, talvez, que o assunto possa ser encarado amplamente e que o mesmo seria, portanto, globalmente vlido e necessrio em bibliotecas de qualquer ti-po, nas quais ocorreria de maneira bas-tante semelhante. Para esses ltimos au-tores, no haveria necessidade de parti-cularizaes.

    Esta ltima parece ser um postura equivo-cada, pois tudo parece indicar que o de-senvolvimento de colees precisa ne-cessariamente ser tratado de maneira es-pecfica a cada tipo de biblioteca em que vier a ocorrer, uma vez que o processo tende a variar de acordo com as finalida-des das instituies em que acontece. Considerando o modelo desenvolvido por Evans25, podem ser constatadas as se-guintes especificidades:

    a) Bibliotecas pblicas Possuem uma clientela mais dinmica, diversificada, que deve ser acompanhada com bas-tante ateno devido s mudanas de gostos e interesses. As necessidades informacionais da comunidade a ser atendida pela biblioteca variam, pode-se dizer, quase que na mesma propor-

    18

  • Desenvolvimento de colees: uma nova viso para o planejamento de recursos informacionais

    o em que variam os grupos, organi-zados ou no, presentes na mesma. O trabalho de anlise da comunidade pa-rece ser, assim, aquele que maior n-fase deve receber por parte dos biblio-tecrios. Como conseqncia desse acompanhamento da comunidade, exatamente em virtude das flutuaes detectadas, haver um cuidado espe-cial com a seleo de materiais, devi-damente alicerada em uma poltica de seleo (que, por sua vez, ser basea-da no perfil da comunidade a ser aten-dida). Boa nfase nas atividades de avaliao e desbastamento do acervo parece ser, tambm, outra caractersti-ca do desenvolvimento de colees em bibliotecas pblicas, principalmente quando se procura atender demanda imediata dos usurios. Neste aspecto, salienta-se que os bibliotecrios res-ponsveis pelo desenvolvimento de colees em bibliotecas pblicas de-vem "primariamente desejar servir o pblico, mas ainda assim manter uma perspectiva prtica, um interesse em questes correntes, uma saudvel desconfiana do status quo, uma diver-so em assumir riscos e uma incrvel memria para livros, mas uma falta de reverncia por eles"27.

    b) Bibliotecas escolares Existem ou pelo menos deveriam existir para dar suporte s atividades pedaggicas das unidades escolares nas quais se locali-zem. Mais que isto: devem estar inte-gradas ao processo educacional. As colees das bibliotecas escolares de-vem seguir, na realidade, os direciona-mentos do sistema educacinal vigente, pautando-se pelos currculos e biblio-grafias bsicas dos cursos. A nfase do processo de desenvolvimento de colees estar, portanto, muito mais na seleo de materiais para fins did-tico-pedaggicos - normalmente alicer-ada por uma poltica de seleo que ter por base o currculo ou programa escolar. Relevem-se, a respeito disso, as grandes inovaes que vm acon-tecendo em termos de recursos de in-formao colocados a servio das ins-tituies educacionais, principalmente em pases do Primeiro Mundo e em al-gumas regies de pases como o Bra-sil, em que as bibliotecas escolares transformaram-se em verdadeiras cen-trais de multimeios cujos objetivos po-dem ser expressos como "dar suporte e promover o propsito formulado pela escola ou distrito do qual so parte in-tegrante"28. As etapas de avaliao e desbastamento sero enfatizadas, nas bibliotecas escolares, medida que possibilitem adequar a coleo a eventuais mudanas nos programas e/ou currculos.

    c) Bibliotecas universitrias - Devem atender aos objetivos da universidade, a saber, o ensino, a pesquisa e a ex tenso de servios comunidade. Isto vai exigir, quase que necessariamente, uma coleo com forte tendncia ao crescimento, pois atividades de pes- quisa exigem uma variada gama de materiais de informao que possibili- tem ao pesquisador ter acesso a tocos os pontos de vista importantes ou ne- cessrios para sua pesquisa. Apesar do aparecimento de um bom nmero de pesquisas que advogam uma atividade de seleo de materiais informacionais, em bibliotecas universitrias, que leve prioritariamente em conta a relao custo-benefcio ou custo-efetividade do material a ser adquirido29, 30, medidos por estudos de uso da informao, esta no parece ser a principal preocupao do desenvolvimento de colees em bibliotecas universitrias. Isso decor- rente de que a mesma necessita ter um volume de materiais suficientemente significativo em termos de quantidade e qualidade para dar suporte s ativida- des de pesquisa realizadas tanto em nvel de graduao como de ps, assim como s atividades normais de presta- o de servios ou extenso comuni- dade. Da mesma forma, a clientela relativamente homognea, no exigindo avaliaes de grande monta. A nfase maior, no caso, parece estar muito mais no desbastamento e avaliao constantes das colees - medidas necessrias para otimizao do acer- vo. J as bibliotecas das chamadas "instituies isoladas de ensino supe- rior", no entanto, contrariamente s de bibliotecas ligadas a universidades, exatamente por no terem de prestar suporte pesquisa, norteiam o desen- volvimento de suas colees pelas exi- gncias dos programas ou currculos dos cursos por elas oferecidos. Levam em considerao, alm disso, no s a natureza deste currculo, como tambm a composio do corpo docente, a quantidade de recursos financeiros dis- ponveis e a localizao geogrfica31. Neste aspecto, elas aproximam-se muito das bibliotecas escolares.

    d) Bibliotecas especializadas ou de em presas Existem para atender s ne- cessidades das organizaes a que esto subordinadas e por isso mais do que qualquer uma das outras ante- riormente citadas tm seus objetivos muito mais bem definidos. A diferena maior no desenvolvimento de colees em bibliotecas especializadas est, provavelmente, na maior necessidade de especificao de normas para sele- o dos materiais com a finalidade de compatibiliz-los com os objetivos da

    instituio maior. Da mesma forma, neste tipo de biblioteca que so ne-cessrios, com maior freqncia, mate-riais no-convencionais relatrios, patentes, prprints etc. que exigem dos bibliotecrios um enorme esforo para localizao e obteno dos itens desejados.

    V-se, portanto, que a questo do desen-volvimento de colees no enfocada da mesma maneira em todas as bibliotecas. Como anteriormente citado, esta parece ser uma conseqncia lgica da prpria diversidade das instituies, que vo abranger caractersticas de acervo, usu-rio e meio ambiente onde se localizam.

    DESENVOLVIMENTO DE COLEES NO BRASIL

    A questo primeira a ser levantada em re-lao ao desenvolvimento de colees no pas poderia ser expressa em poucas pa-lavras, da seguinte forma: afinal, esto as colees sendo realmente desenvolvidas com critrios neste pas? Esto elas se-guindo qualquer tipo de parmetro para seu desenvolvimento?

    A resposta que a literatura biblioteconmi-ca em lngua portuguesa d a esta per-gunta no parece ser das mais animado-ras. Pouco ou quase nada pode ser apresentado como um dado realmente in-questionvel, passvel de ser transformado em regra geral, de que as bibliotecas bra-sileiras tm sido objeto, digamos assim, de um efetivo esforo em direo ao desen-volvimento de suas colees. J em outra oportunidade, fez-se referncia ao "incha-o" das colees reflexo de um cresci-mento ocorrido de maneira aleatria32. Pouco se conseguiu encontrar, desde en-to, que pudesse colaborar decisivamente para mudana desta opinio, e, mesmo correndo o risco de se estar fazendo uma avaliao excessivamente pessimista da realidade, necessrio reforar a afirma-o anteriormente feita, ou seja, a de que, de fato, o desenvolvimento de colees no foi jamais encarado, entre ns, com suficiente seriedade.

    Pelo que se pode depreender da literatura, as universitrias e especializadas at que tm sido objeto de relativo grau de preocu-pao com seus acervos, provavelmente em virtude de maior exigncia de sua clientela em relao aos mesmos. Deve fi-car claro, contudo, que esta maior ateno dispensada a essas bibliotecas no pode ser sequer comparada com a ateno a elas dispensada em pases mais desen-volvidos. No caso das bibliotecas pblicas, pior ainda. De todo modo, enquanto nas primeiras parece existir, neste pas, um

    Ci. Inf., Braslia. 22(1): 13-21. jan./abr. 1993. 19

  • Desenvolvimento de colees: uma nova viso para o planejamento de recursos informacionais

    evidente interesse em exercer algum tipo de controle sobre os materiais informacio-nais que as mesmas tm por objetivo ar-mazenar, nas ltimas no se consegue desvendar claramente uma preocupao similar, fato que se presencia at mesmo em muitos sistemas de bibliotecas pbli-cas recentemente instaurados no pas (com as excees de praxe, claro).

    Outro exemplo dessa distino de trata-mento ou enfoque so as iniciativas para estabelecimento de catlogos coletivos que visam a atender, prioritariamente, ao usurio em busca de informao especia-lizada, ou, ainda, ao Plano Nacional de Bi-bliotecas Universitrias. Por outro lado, v-se que 3 distribuio de livros s bibliote-cas pblicas realizada pelo Instituto Na-cional do Livro, praticamente a nica ativi-dade de mbito nacional organizada sob auspcios governamentais tendo como objetivo o aparelhamento dos acervos dessas bibliotecas, fica muito longe de ser uma poltica nacional para desenvolvi-mento de colees em bibliotecas pbli-cas. Muito pelo contrrio, s pode ser en-carada como uma iniciativa ineficiente, no podendo ser considerada, absolutamente, como um efetivo esforo na rea de de-senvolvimento de colees, medida que desconheceu regionalidades e jamais permitiu uma retroalimentao adequada do sistema de distribuio, visando a tor-n-lo mais interessante para todos os en-volvidos, principalmente as bibliotecas conveniadas.

    Outro ndice do desconhecimento, no Bra-sil, da problemtica das colees e da ne-cessidade de seu gerenciamento parece ser o fato de que apenas em 1982 que se colocou no currculo mnimo para os cursos de graduao em Biblioteconomia, entre as chamadas matrias tcnicas, a matria Formao e Desenvolvimento de Colees, que traz como ementa "princ-pios e polticas de seleo: formas, recur-sos, procedimentos e legislao para aquisio; princpios e tcnicas de avalia-o de colees; conservao de cole-es; poltica de expanso da biblioteca". Seus objetivos so assim delineados: ca-pacidade de formular princpios e mtodos e empregar tcnicas para formao, de-senvolvimento e avaliao das colees, visando sua adequao aos usurios, e compreenso da necessidade de conser-vao dos diversos suportes fsicos do conhecimento e de tratamento adequa-dos a cada tipo, de acordo com sua na-tureza33.

    Antes disso, conforme se pode ver por amplo levantamento nos cursos de gra-duao em Biblioteconomia do pas, o m-ximo que se podia encontrar eram tpicos especficos para seleo e seleo de

    materiais especiais34, 35, devendo-se ima-ginar que as demais atividades do desen-volvimento de colees fossem tratadas no mbito de disciplinas mais gerais, co-mo, por exemplo, Organizao e Adminis-trao de Bibliotecas.

    Fica claro, em vista disso, que a inovao referida no pargrafo anterior, ou seja, a incluso da matria Formao e Desen-volvimento de Colees, deve ser entendi-da como um grande avano no tratamento do assunto, uma vez que cada escola de Biblioteconomia do pas poder adaptar o currculo a suas necessidades e acres-centar o que entender mais conveniente para as caractersticas de seu pblico, desdobrando a matria em quantas disci-plinas precisar. A anlise da ementa pro-posta e aprovada pelo Conselho Fede-ral de Educao, no entanto, parece deixar entrever uma viso muito restrita do de-senvolvimento de colees, com seu en-foque iniciando-se pela seleo e aquisi-o dos materiais.

    evidente que tanto uma como a outra fa-zem, realmente, parte do processo, mas no chegam a inici-lo, principalmente quando se tem em vista as consideraes de Evans36. Espera-se, talvez com ex-cessivo otimismo, que as escolas de bi-blioteconomia preencham, em suas prti-cas educacionais, o currculo mximo de cada uma delas o que faltou na ementa da matria, conforme esta vem definida no currculo mnimo.

    J a literatura especializada em lngua portuguesa, ao tratar a questo do desen-volvimento de colees, parece prender-se demasiadamente a uma viso pontual do assunto, no conseguindo enxerg-lo em profundidade. Razovel contribuio tem sido dada rea pela professora Nice Menezes de Figueiredo, a qual vem anali-sando sistematicamente a vasta produo internacional sobre o assunto e tentando adapt-la realidade brasileira com maior ou menor sucesso, dependendo do caso. Os trabalhos desta estudiosa, sejam aqueles a tratarem especificamente de de-senvolvimento de colees37, sejam aqueles a tratarem de etapas ou atividades desse processo38, 39, tm sido, indubita-velmente, muito importantes para alertar os bibliotecrios sobre a necessidade de o profissional brasileiro deixar de ter urna atitude passiva em frente dessa literatura internacional, em uma postura de mera "deglutio", mas tentar, tambm, questio-n-la e adapt-la realidade vivida pelo pas. Nem sempre esta a norma encon-trada na literatura especializada em lngua portuguesa, na qual, muitas vezes, os au-tores reproduzem meras tcnicas alienge-nas e as aplicam realidade brasileira, sem quase nenhuma reflexo. Fora disso, o normal encontrar-se, na rea de de-

    senvolvimento de colees, uma razovel quantidade de artigos tratando de seleo de acervo em bibliotecas universitrias40, estudos de uso41,42, acessibilidade de do-cumentos43, podendo-se at encontrar, eventualmente, a descrio da sistemtica de desenvolvimento de uma coleo es-pecfica44 ou externando preocupao com a elaborao de uma lista de obras para um "provvel" acervo bsico das bibliote-cas pblicas brasileiras45.

    Parece correto concluir-se, quando consi-derada a literatura especializada em de-senvolvimento de colees publicada em lngua portuguesa, que a rea ainda no se encontra suficientemente sedimentada no pas. A inexistncia de trabalhos introdut-rios sobre o assunto que possibilitem atin-gir o pblico estudantil e bibliotecrios re-cm-formados, de modo a modificar a vi-so existente, quase total, a exceo de um nico texto46, atualmente adotado em muitas escolas de Biblioteconomia do pas.

    CONCLUSO

    O desenvolvimento de colees continua em constante evoluo. Aos poucos, em seu interior, comeam a surgir outras es-pecialidades, demonstrando ter a rea atingido um grau de amadurecimento con-sidervel para os poucos anos em que est constituda, Da mesma forma, v-se proliferar cada vez mais a convico da necessidade de encarar as colees e seu desenvolvimento como um fator importante da administrao dos servios de informa-o. Existem, neste campo, variadas ra-zes para otimismo. Embora muito ainda exista a ser feito, tem-se nitidamente a conscincia de que o momento atualmente vivido no de paralisao, mas de evolu-o. O melhor dessa evoluo que ela no parece restringir-se apenas aos pa-ses mais desenvolvidos, onde as van-guardas tecnolgicas se localizam, mas atinge tambm pases perifricos como o Brasil, que, mesma em ritmo mais lento, passam a usufruir seus benefcios e, desta forma, capacitam-se a enfrentar os desa-fios que viro com a virada do sculo.

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    Waldomiro de Castro Santos Vergueiro

    Professor Doutor do Departamento de Biblioteco-nomia e Documentao da Escola de Comunica-es e Artes da Universidade de So Paulo.

    Collection development: a new aspect for informational resources planning

    Abstract

    The evolution of collecton development activities in libraries was accelerated due difficulties with the "bibliographic explosion ". Models for operation of collection development have been developed, as well as appeared the necessity of approaching the subject according to the several types of libraries. Concerns with collection development also begins to appear in Brazil, although in a slower pace. Key words

    Bibliographic planning; Collection development.

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    Artigo aceito para publicao em 29 de abril de 1993.