125871580 Zona Costeira Resolucao Conselho Ministros 2009

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  • 6056 Dirio da Repblica, 1. srie N. 174 8 de Setembro de 2009

    c) Na presena do trabalhador ou de pessoa por ele designada com idade igual ou superior a 16 anos.

    2 Quando a actividade seja exercida em instalao do trabalhador, no aplicvel o disposto na alnea b) do nmero anterior.

    3 Da diligncia lavrado o respectivo auto, que deve ser assinado pelo agente de fiscalizao e pela pessoa que tenha assistido ao acto.

    4 Quando a actividade seja exercida em instalao do trabalhador, o servio referido no n. 1 deve, no mais curto prazo possvel, averiguar as condies em que o trabalho prestado e, se for caso disso, determinar as me-didas que se justifiquem por razes de segurana e sade do trabalhador.

    Artigo 14.

    Regime das contra -ordenaes

    So aplicveis s contra -ordenaes decorrentes da violao da presente lei o regime do processo das contra--ordenaes laborais constante de diploma especfico, bem como o disposto no Cdigo do Trabalho sobre responsa-bilidade contra -ordenacional.

    Artigo 15.

    Segurana social

    O trabalhador no domiclio e o beneficirio da activi-dade so abrangidos, como beneficirio e contribuinte, respectivamente, pelo regime geral de segurana social dos trabalhadores por conta de outrem, nos termos previstos em legislao especfica.

    Artigo 16.

    Entrada em vigor

    A presente lei entra em vigor 30 dias aps a sua pu-blicao.

    Aprovada em 23 de Julho de 2009.

    O Presidente da Assembleia da Repblica, Jaime Gama.

    Promulgada em 27 de Agosto de 2009.

    Publique -se.

    O Presidente da Repblica, ANBAL CAVACO SILVA.

    Referendada em 27 de Agosto de 2009.

    O Primeiro -Ministro, Jos Scrates Carvalho Pinto de Sousa.

    e recreativos, pelo que o aproveitamento das suas poten-cialidades e a resoluo dos seus problemas exigem uma poltica de desenvolvimento sustentvel apoiada numa gesto integrada e coordenada dessas reas.

    Tal constatao determinou o compromisso assumido pelos pases com zonas costeiras, incluindo os da Unio Europeia, no mbito da Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel realizada em 1992 no Rio de Janeiro, de promover o desenvolvi-mento sustentvel e a gesto integrada das zonas costeiras e marinhas.

    No seguimento desse compromisso, foram desenvol-vidos diversos projectos e programas a nvel comunit-rio, nos quais Portugal participou, que deram origem ao designado Programa de Demonstrao. Este Programa permitiu reunir um conjunto de orientaes e concluses sobre a gesto integrada das zonas costeiras na Europa, das quais resultou a Recomendao n. 2002/413/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio de 2002, relativa execuo da gesto integrada da zona costeira na Europa, que define princpios gerais e op-es para uma Estratgia de Gesto Integrada de Zonas Costeiras na Europa.

    De acordo com esta recomendao, cabe aos Estados membros estabelecer os fundamentos de tal estratgia, a qual deve garantir a proteco e requalificao do litoral, o seu desenvolvimento econmico e social, bem como a coordenao de polticas com incidncia na zona costeira. O documento prev um prazo de 45 meses para os Esta-dos membros apresentarem Comisso os resultados da adopo da recomendao.

    Ao nvel comunitrio outras polticas sectoriais reflec-tem igualmente esta necessidade, com destaque para a Directiva Quadro da gua (Directiva n. 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro, que estabelece um quadro de aco comunitria no domnio da poltica da gua) e a Directiva Quadro Estratgia Marinha (Directiva n. 2008/56/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Junho, que estabelece um quadro de aco comunitria no domnio da poltica para o meio marinho).

    Tambm em Portugal, o reconhecimento da impor-tncia estratgica da zona costeira, bem como da neces-sidade de proceder sua proteco e gesto integrada, levou a que nas ltimas trs dcadas fossem desenvol-vidas vrias iniciativas pblicas, que se iniciaram com a clarificao do regime jurdico dos terrenos do domnio pblico martimo pelo Decreto -Lei n. 468/71, de 5 de Novembro, medida inovadora e precursora da filosofia de constituio de uma faixa de proteco do litoral e adoptada posteriormente em outros pases europeus, e que tiveram continuidade com o regime dos planos de ordenamento da orla costeira, aprovado pelo Decreto--Lei n. 309/93, de 2 de Setembro, a Estratgia para a Orla Costeira Portuguesa, pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 86/98, de 10 de Julho, e a Estratgia Nacional da Conservao da Natureza, adoptada pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 152/2001, de 11 de Outubro, no mbito da qual a poltica do litoral, nas suas vertentes terrestre e marinha, assumida como de crucial importncia para a prossecuo dos seus ob-jectivos.

    PRESIDNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS

    Resoluo do Conselho de Ministros n. 82/2009

    As zonas costeiras assumem uma importncia estrat-gica em termos ambientais, econmicos, sociais, culturais

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    A necessidade de uma viso estratgica de gesto in-tegrada do litoral est claramente expressa no Programa do XVII Governo Constitucional, que consigna para as zonas costeiras o desenvolvimento de uma poltica in-tegrada e coordenada, em articulao com a poltica do mar, que favorea a proteco ambiental e a valorizao paisagstica mas que enquadre, tambm, a sustentabili-dade e qualificao das actividades econmicas que a se desenvolvem.

    O Programa do XVII Governo Constitucional esta-belece ainda que sejam intensificadas as medidas de salvaguarda dos riscos naturais na faixa costeira, de-signadamente por via de operaes de monitorizao e identificao de zonas de risco aptas a fundamentar os planos de aco necessrios a uma adequada proteco, preveno e socorro.

    Do mesmo passo, determina que seja estabelecida uma poltica integrada do Governo para os assuntos do mar e para a aco articulada de todas as entidades com compe-tncias ligadas ao mar, o que vem reforar o firme empe-nhamento governamental de proceder a uma abordagem convergente nestas matrias.

    No que se refere disciplina de ocupao do litoral, o Programa do XVII Governo Constitucional prev a aprovao do ltimo plano de ordenamento da orla costeira (POOC), da competncia governamental, bem como a retoma da execuo programada dos restantes POOC.

    Aprovados a Estratgia Nacional para o Mar, atravs da Resoluo do Conselho de Ministros n. 163/2006, de 12 de Dezembro, cujo plano de aco est em pleno desenvolvimento, e o ltimo POOC, para a rea territorial entre Vilamoura e Vila Real de Santo Antnio, atravs da Resoluo do Conselho de Ministros n. 103/2005, de 24 de Junho, retomada a execuo programada e ar-ticulada dos POOC, com a instituio de um modelo de coordenao estratgica, definido, e em execuo, o Plano de Aco para o Litoral 2007 -2013, aprovado por despacho do Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regional, de 9 de Outubro de 2007, no qual so identificadas as aces prioritrias a desenvolver, em especial em matria de preveno, proteco e monitorizao das zonas de risco, aprovadas trs operaes integradas de requalificao do Litoral Polis do Litoral em reas particularmente sensveis, ria Formosa (Decreto -Lei n. 92/2008, de 3 de Junho), ria de Aveiro (Decreto -Lei n. 11/2009 de 12 de Janeiro), Litoral Norte (Decreto -Lei n. 231/2008, de 28 de Novembro), e do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, j aprovado em Conselho de Ministros, resta, para completar o estipulado no Programa do Governo, aprovar esta Estratgia Nacional para a Gesto Integrada da Zona Costeira.

    O procedimento de elaborao da Estratgia iniciou -se em 2006 com a elaborao do documento Bases para a estratgia de gesto integrada da zona costeira nacional, colocado discusso pblica no incio de 2006 e divulgado em 2007 atravs da sua publicao pelo Ministrio do Ambiente, do Ordenamento do Territrio e do Desenvol-vimento Regional.

    Na sequncia desse documento foi desenvolvida, sob co-ordenao do Instituto da gua, I. P., enquanto autoridade

    nacional da gua, uma proposta de Estratgia Nacional para a Gesto Integrada da Zona Costeira (ENGIZC) tomando como referncia estudos anteriores e beneficiando de uma consulta alargada a diversas entidades pblicas, privadas e da comunidade cientfica.

    A ENGIZC coerente com as restantes estratgias, po-lticas e programas nacionais, nomeadamente a Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel, aprovada pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 109/2007, de 20 de Agosto, o Programa Nacional da Poltica de Ordena-mento do Territrio, aprovado pela Lei n. 58/2007, de 4 de Setembro, a Estratgia Nacional para o Mar, aprovada pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 163/2006, de 12 de Dezembro, a Estratgia Nacional de Conservao da Natureza e da Biodiversidade, aprovada pela Reso-luo do Conselho de Ministros n. 152/2001, de 11 de Outubro, a Estratgia Nacional para a Energia, aprovada pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 169/2005, de 24 de Outubro, as Orientaes Estratgicas para o Sector Martimo -Porturio, apresentadas pelo Governo em Dezembro de 2006, o Plano Estratgico Nacional das Pescas, o Plano Estratgico Nacional de Turismo, aprovado pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 57/2007, de 4 de Abril, o Programa Nacional de Tu-rismo de Natureza, aprovado pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 112/98, de 25 de Agosto, as Perspectivas para a Sustentabilidade da Regio Autnoma dos Aores, o Plano de Ordenamento Turstico dos Aores, o Plano de Ordenamento Turstico da Madeira e os planos de ordenamento da orla costeira.

    A ENGIZC reafirma os desgnios nacionais confe-ridos pelo actual quadro legal em vigor, reforando a viso integradora que se deseja para a zona costeira, consagrando novos desgnios fruto de outros referen-ciais e garantindo a articulao com o planeamento e gesto do espao martimo e com a conservao do meio marinho.

    Cumprindo as orientaes comunitrias, a ENGIZC foi delineada definindo uma viso para um perodo de 20 anos, sem prejuzo de recorrer aos mecanismos de ava-liao e reviso necessrios, assumindo assim o carcter exigido por um documento de natureza estratgica e de longo prazo.

    A ENGIZC tem como viso uma zona costeira harmo-niosamente desenvolvida e sustentvel, baseada numa abordagem sistmica e de valorizao dos seus recursos e valores identitrios, suportada no conhecimento e gerida segundo um modelo que articula instituies, polticas e instrumentos e assegura a participao dos diferentes actores intervenientes.

    A viso adopta os princpios definidos no documento Bases para a gesto integrada da zona costeira nacional, os quais integram as orientaes comunitrias e o sistema de valores reflectidos nos instrumentos de gesto territorial nacionais: sustentabilidade e solidariedade intergeracio-nal; coeso e equidade social; preveno e precauo; abordagem sistmica; conhecimento cientfico e tcnico; subsidiariedade; participao; co -responsabilizao; ope-racionalidade.

    Considerando o quadro de referncia adoptado e a viso e princpios definidos, foi estabelecido um con-junto de opes estratgicas em coerncia com os resul-

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    tados da avaliao ambiental estratgica, desenvolvida de acordo com o Decreto -Lei n. 232/2007, de 15 de Junho.

    As opes estratgicas para a prossecuo da viso apontam para:

    i) Um modelo de ordenamento e desenvolvimento da zona costeira que articule as dinmicas socioeconmicas com as ecolgicas na utilizao dos recursos e na gesto de riscos (abordagem ecossistmica);

    ii) Um modelo institucional alicerado na articulao de competncias baseada na co -responsabilizao institu-cional e no papel coordenador de uma entidade de mbito nacional; e

    iii) Um modelo de governana assente na coopera-o pblico -privado, que aposte na convergncia de in-teresses atravs do estabelecimento de parcerias, da co--responsabilizao e da partilha de riscos.

    Assumindo de uma forma clara a natureza secto-rialmente transversal da ENGIZC, foram considerados quatro objectivos de carcter horizontal, complemen-tados por quatro objectivos de carcter temtico, que reflectem a especificidade e identidade da zona costeira e que permitem concretizar a viso e as opes estra-tgicas. Estes objectivos concretizam -se atravs de um conjunto de 20 medidas, cuja descrio sistematizada atravs de indicadores fundamentais para a sua opera-cionalizao.

    Assim, so definidos como objectivos transversais:

    i) Desenvolver a cooperao internacional;ii) Reforar e promover a articulao institucional e a

    coordenao de polticas e instrumentos;iii) Desenvolver mecanismos e redes de monitorizao

    e observao;iv) Promover a informao e a participao pblica.

    Quanto aos objectivos temticos, adoptam -se os se-guintes:

    i) Conservar e valorizar os recursos e o patrimnio natural, cultural e paisagstico;

    ii) Antecipar, prevenir e gerir situaes de risco e de impactes de natureza ambiental, social e econmica;

    iii) Promover o desenvolvimento sustentvel de actividades geradoras de riqueza e que contribuam para a valorizao de recursos especficos da zona costeira;

    iv) Aprofundar o conhecimento cientfico sobre os sis-temas, os ecossistemas e as paisagens costeiros.

    A concretizao da ENGIZC assenta num modelo de governana que aposta na valorizao do conheci-mento de suporte e nas especificidades de um quadro institucional caracterizado pela diversidade e sobrepo-sio de mltiplas tutelas e jurisdies. O modelo de governana, que conta com uma plataforma de nvel in-terministerial, coordenada pelo Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regional, identifica o INAG, enquanto autoridade na-cional da gua, como entidade que coordena a execuo da ENGIZC e promove a dinamizao de plataformas

    tcnicas de concertao e produo de conhecimento que funcionaro de acordo com um modelo flexvel, envolvendo entidades da Administrao, organizaes no governamentais e instituies universitrias e de investigao.

    A elaborao da ENGIZC teve em considerao:

    i) A importncia estratgica da zona costeira em termos ambientais, econmicos, sociais, culturais e recreativos, bem como a sua significativa fragilidade e a situao de risco em que se encontra e que se tem vindo a agravar progressivamente;

    ii) O quadro institucional e legal vigente, os compro-missos internacionais e comunitrios assumidos por Por-tugal;

    iii) A Recomendao n. 2002/413/CE, do Parla-mento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio, relativa execuo da gesto integrada da zona costeira na Europa, que define princpios gerais e opes para uma Estratgia de Gesto Integrada de Zonas Costeiras na Europa;

    iv) A firme vontade poltica em promover uma ges-to integrada da zona costeira em articulao com as polticas sectoriais relevantes, nomeadamente com a Estratgia Nacional para o Mar, aprovada pela Resolu-o do Conselho de Ministros n. 163/2006, de 12 de Dezembro.

    O Governo reconhece, assim, a necessidade de do-tar o pas de uma Estratgia Nacional para a Gesto Integrada da Zona Costeira que congregue os objecti-vos fundamentais e as opes estratgicas que devero presidir a uma poltica de ordenamento, planeamento e gesto desta zona e servir de referncia actuao das entidades pblicas e privadas, da comunidade cientfica e dos cidados.

    A ENGIZC foi objecto de um procedimento de dis-cusso pblica, do qual resultaram contributos que foram ponderados e integrados na verso final.

    Foram ouvidos os rgos de governo prprio da Regio Autnoma da Madeira e a Associao Nacional de Muni-cpios Portugueses.

    Foi promovida a audio dos rgos de governo prprio da Regio Autnoma dos Aores.

    Assim:Nos termos da alnea g) do artigo 199. da Constituio,

    o Conselho de Ministros resolve:Aprovar a Estratgia Nacional para a Gesto Integrada

    da Zona Costeira, que consta do anexo presente reso-luo e que dela faz parte integrante, a qual fornece o referencial para os planos, programas e estratgias com in-cidncia na zona costeira, de acordo com a Recomendao n. 2002/413/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio.

    Presidncia do Conselho de Ministros, 20 de Agosto de 2009. O Primeiro -Ministro, Jos Scrates Carvalho Pinto de Sousa.

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    ANEXO

    Estratgia Nacional para a Gesto Integrada da Zona Costeira

    1 Nota introdutria

    As zonas costeiras assumem uma importncia estrat-gica em termos ambientais, econmicos, sociais, culturais e recreativos, pelo que o aproveitamento das suas poten-cialidades e a resoluo dos seus problemas tm grande relevo no mbito de uma poltica de desenvolvimento sustentvel apoiada numa gesto integrada e coordenada dessas reas.

    Tal constatao determinou o compromisso assumido em 1992, no mbito da Conferncia do Rio, pelos pases com zonas costeiras, incluindo os da Unio Europeia, de promover o desenvolvimento sustentvel e a gesto integrada das zonas costeiras e marinhas.

    Na sequncia daquela Conferncia foram efectuados diversos projectos e programas a nvel europeu nos quais Portugal participou, tendo desenvolvido projectos em trs reas: Ria de Aveiro, Ria Formosa e Vale do Li-ma os quais, em conjunto, deram origem ao Programa de Demonstrao. Este Programa permitiu reunir recomen-daes e concluses sobre a gesto integrada das zonas costeiras na Europa, das quais resultou a Recomendao n. 2002/413/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio, que define os princpios gerais e as op-es para uma Estratgia de Gesto Integrada de Zonas Costeiras na Europa.

    De acordo com esta Recomendao, cabe aos Estados--Membros estabelecer os fundamentos de tal estratgia, a qual dever garantir a proteco e requalificao do litoral, o seu desenvolvimento econmico e social, bem como a coordenao de polticas com incidncia na zona costeira.

    O procedimento de elaborao de uma estratgia de gesto integrada da zona costeira iniciou -se em 2006 com a elaborao do documento Bases para a Estratgia de Gesto Integrada da Zona Costeira Nacional, colocado discusso pblica no incio de 2006 e divulgado em 2007 atravs da sua publicao pelo Ministrio do Ambiente, do Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regional.

    Ciente de todos estes antecedentes e da necessidade de definir a Estratgia Nacional para a Gesto Integrada da Zona Costeira (ENGIZC), foi desenvolvida a presente verso, reafirmando os desgnios nacionais conferidos pelo actual quadro legal em vigor, reforando uma viso integradora e consagrando os novos desgnios fruto de outros referenciais, nomeadamente a Directiva -Quadro Es-tratgia Marinha (Directiva n. 2008/56/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Junho, que estabelece um quadro de aco comunitria no domnio da poltica para o meio marinho), e os desafios que se colocam de-correntes da necessidade de garantir uma clara articulao com o planeamento e gesto do espao martimo e com a conservao do meio marinho.

    Em paralelo com a elaborao da verso final da EN-GIZC, foi desenvolvida a sua avaliao ambiental estra-tgica, com base nos princpios definidos no Decreto -Lei n. 232/2007, de 15 de Junho.

    2 Enquadramento

    A ENGIZC estabelece um referencial estratgico de enquadramento gesto global, integrada e participada da

    zona costeira, de forma a garantir condies de sustenta-bilidade ao seu desenvolvimento.

    A definio da ENGIZC insere -se num desgnio esta-belecido no Programa do XVII Governo Constitucionale consagrado na orgnica do Ministrio do Ambiente, doOrdenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regio-nal, aprovada pelo Decreto -Lei n. 207/2006, de 27 de Ou-tubro, vem dar resposta aos compromissos internacionaise comunitrios assumidos por Portugal e deve reflectir arealidade da zona costeira do territrio nacional.

    Neste contexto, salientam -se um conjunto de factores:i) A biodiversidade e a singularidade dos sistemas e

    ecossistemas costeiros (espaos de interaco entre o mare a terra), que importa proteger e valorizar;

    ii) A susceptibilidade aos fenmenos de eroso, aostemporais e s situaes meteorolgicas extremas;

    iii) A concentrao de populao e de actividades eco-nmicas, que est na origem de presses que colocamem causa a sustentabilidade dos ecossistemas costeiros,a manuteno dos bens e servios por eles prestados e asua integridade, e que, em diversas situaes, constituemsituaes de risco para pessoas e bens;

    iv) A necessidade de reforar a componente martimana gesto integrada da zona costeira;

    v) O potencial econmico que representam os recursoscosteiros no quadro da economia nacional e a representati-vidade econmica das diversas actividades desenvolvidasna zona costeira;

    vi) A necessidade de integrar a problemtica das altera-es climticas na gesto costeira, de forma a incorporarmedidas e orientaes sectoriais especficas de adaptaos alteraes previsveis (e.g. subida do nvel mdio domar, acidificao do oceano, aumento da temperatura m-dia global das guas superficiais ocenicas, entre outras,ou seja, alterao dos sistemas, ecossistemas e paisagenscosteiros);

    vii) A intensificao ou emergncia de novos usos eactividades suportados no conhecimento cientfico;

    viii) A desadequao do modelo de governao paraassegurar uma resposta adequada aos novos paradigmase necessidade de conciliao dos interesses em presenaem favor do desenvolvimento sustentvel da zona costeira;

    ix) O incipiente envolvimento das populaes locais nosprocessos de tomada de deciso, o insuficiente reconhe-cimento das suas vivncias e experincias e o dfice departilha e co -responsabilizao no que se refere gestoda zona costeira;

    x) A falta de sistematizao de dados e insuficientemonitorizao, limitando o conhecimento das principaisdinmicas e dos seus efeitos sobre a zona costeira, o quetem repercusses sobre o modelo de gesto e pode afectaras tomadas de deciso;

    xi) A existncia de um quadro institucional complexo,a multiplicidade de polticas sectoriais e a diversidade deinstrumentos com incidncia na zona costeira.

    Assim:A Gesto Integrada da Zona Costeira procura conciliar

    as diferentes polticas com impacto na zona costeira deacordo com um quadro de referncia que facilite a pon-derao de interesses e a coordenao das intervenesde todos os que so responsveis e esto envolvidos nautilizao, ordenamento, planeamento, gesto e desen-volvimento destas reas. A misso da ENGIZC garantir

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    a adequada articulao e coordenao das polticas e dos instrumentos que asseguram o desenvolvimento sustent-vel da zona costeira.

    A ENGIZC deve garantir a articulao com um conjunto de convenes internacionais e de orientaes comunitrias e nacionais que lhe servem de enquadramento.

    Ao nvel das convenes internacionais destacam -se os seguintes documentos:

    i) A Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar, adoptada em Nova Iorque, a 10 de Dezembro de 1982, aprovada para ratificao pela Resoluo da Assembleia da Repblica n. 60 -B/97, de 14 de Outubro, e ratificada pelo Decreto do Presidente da Repblica n. 67 -A/97, de 14 de Outubro;

    ii) A Conveno para a Proteco do Meio Marinho do Atlntico Nordeste [Conveno OSPAR], adoptada em Paris, a 22 de Setembro de 1992, aprovada pelo Decreto n. 59/97, de 31 de Outubro;

    iii) A Conveno das Naes Unidas sobre a Diversidade Biolgica, adoptada no Rio de Janeiro, a 20 de Maio de 1992, aprovada pelo Decreto n. 21/93, de 21 de Junho.

    Ao nvel comunitrio destacam -se os seguintes docu-mentos:

    i) A Recomendao n. 2002/413/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio, relativa execuo da gesto integrada da zona costeira na Europa esta Recomendao resulta das concluses do Programa de De-monstrao efectuado pelos vrios Estados -Membros, das quais se evidencia o conjunto de princpios chave a serem observados pelos vrios Estados -Membros na elaborao das respectivas estratgias. A Recomendao aponta para a importncia de cada Estado -Membro desenvolver uma Estratgia Nacional. Neste mbito, Portugal desenvolveu vrios projectos, nomeadamente o projecto da Estrutura de Gesto Integrada para a Ria de Aveiro (ESGIRA -MARIA, 2001), com o objectivo de testar a eficcia de uma estrutura de gesto integrada, resultante de um projecto anterior MARIA (LIFE96). O projecto ESGIRA -MARIA tinha como objectivo melhorar a gesto da Ria de Aveiro e era constitudo por 4 projectos -piloto (recuperao e valori-zao dos cais de acostagem, recuperao do Salgado de Aveiro, gesto integrada dos campos agrcolas do Baixo--Vouga e classificao e gesto da rea de Paisagem Pro-tegida da Foz do Cster). A Comisso Europeia vem alertar para a necessidade de os Estados -Membros executarem e desenvolverem estratgias para a gesto integrada da zona costeira direccionadas para um desenvolvimento ambiental, social, econmico e cultural equilibrado e em parceria com as partes interessadas competentes;

    ii) A Directiva -Quadro da gua [Directiva n. 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outu-bro, que estabelece um quadro de aco comunitria no do-mnio da poltica da gua], que visa estabelecer o enquadra-mento para a proteco das guas de superfcie interiores, guas de transio, guas costeiras e guas subterrneas com o objectivo de alcanar o bom estado dessas guas;

    iii) A Comunicao da Comisso Europeia intitulada Desenvolvimento sustentvel na Europa para um mundo melhor: Estratgia da Unio Europeia em favor do desen-volvimento sustentvel [COM (2001) 264 Final], que estabelece no seu corpo de objectivos o combate perda de biodiversidade at ao ano de 2010;

    iv) A Poltica Comum da Pesca [2002], que tem porobjectivo a explorao sustentvel dos recursos aquticosvivos e da aquicultura, no contexto de um desenvolvimentosustentvel que considere, de forma equilibrada, os aspec-tos de ordem ambiental, econmica e social;

    v) A Comunicao da Comisso Europeia intituladaEstratgia de Desenvolvimento Sustentvel da Aquicul-tura Europeia [COM (2002) 511 Final], que preconizaa compatibilizao do desenvolvimento da aquiculturacom a proteco do ambiente adoptando como objecti-vos a criao de emprego durvel nas zonas dependentesda pesca, a disponibilizao ao consumidor de produtosseguros e o estmulo utilizao de mtodos de produoque promovam a preservao ambiental;

    vi) A Comunicao da Comisso Europeia intituladaUma poltica martima integrada para a Unio Europeia[COM (2007) 575 Final], que, juntamente com um planode aco pormenorizado, promove a construo de umabase de conhecimento e inovao que contribua para acompreenso das interaces entre as actividades marinhase a maximizao da utilizao sustentvel dos oceanos emares e da qualidade de vida nas regies costeiras;

    vii) A Comunicao da Comisso Europeia intituladaComunicao relativa a uma poltica porturia europeia[COM (2007) 616 Final], que prev a necessidade de con-ciliar interesses entre o desenvolvimento do transportemartimo, da actividade porturia e da logstica e o am-biente, quer na componente mar (qualidade das guascosteiras), quer na componente terra (gesto integradadas zonas costeiras e proteco ambiental tomando emconsiderao, nomeadamente, as directivas Habitats [Di-rectiva n. 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de Maio], Aves[Directiva n. 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de Abril],gua [Directiva n. 2000/60/CE, do Parlamento Europeue do Conselho. de 23 de Outubro], e Resduos [Directiva99/31/CE, do Conselho, de 26 de Abril]);

    viii) A Directiva -Quadro Estratgia Marinha [Directivan. 2008/56/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho,de 17 de Junho, que estabelece um quadro de aco comu-nitria no domnio da poltica para o meio marinho], quetem por objectivo promover o uso sustentvel dos marese dos ecossistemas marinhos, fornecendo um enquadra-mento para o desenvolvimento de estratgias ao nvel deregies marinhas;

    ix) A Comunicao da Comisso Europeia intituladaUma Estratgia Europeia para a Investigao Marinha:um quadro coerente no mbito do Espao Europeu da In-vestigao para apoio utilizao sustentvel dos oceanose mares [COM (2008) 534 Final], que tem o intuito decriar novos mecanismos de governao, permitindo umamelhor integrao das iniciativas de investigao marinhae martima;

    x) A Comunicao da Comisso Europeia As RegiesUltraperifricas: um trunfo para a Europa [COM(2008)642/, de 17 de Outubro], que faz recomendaes visandoassegurar uma utilizao optimizada do quadro de finan-ciamento europeu para 2007 -2013. Entre as aces pre-vistas, aplicveis nas Regies Autnomas dos Aores eda Madeira, destacam -se: o incentivo a uma poltica degesto integrada dos riscos costeiros (inundaes, erosocosteira, reduo da vulnerabilidade das populaes e dosbens expostos) e criao de um dispositivo de vigilnciae de alerta no contexto da segurana e da proteco civil; oaprofundamento do conhecimento dos assuntos martimos,do meio marinho e do valor dos servios prestados pelos

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    ecossistemas marinhos nas Regies Ultraperifricas; e o estabelecimento de redes dedicadas investigao e va-lorizao do papel das Regies Ultraperifricas enquanto observatrios privilegiados do meio marinho para a Eu-ropa no mbito da nova Estratgia para a Investigao Marinha.

    Finalmente, ao nvel nacional destacam -se os seguintes documentos:

    i) Os planos regionais, especiais e municipais de orde-namento do territrio e planos sectoriais, que traduzem as directivas do Programa Nacional da Poltica de Orde-namento do Territrio nos diversos mbitos temticos, espaciais ou institucionais e so os instrumentos privile-giados para a compatibilizao e integrao das dimen-ses territoriais das diversas polticas de desenvolvimento, embora com especial incidncia na faixa terrestre. Neste quadro, destacam -se os planos regionais de ordenamento do territrio, os planos directores municipais, os planos de ordenamento da orla costeira, os planos de ordenamento de reas protegidas e o Plano Sectorial da Rede Natura 2000. Devem tambm ser tidos em considerao, no curto prazo, o Plano Nacional Martimo -Porturio e os planos de ordenamento de esturios;

    ii) A Estratgia Nacional de Conservao da Natureza e Biodiversidade, aprovada pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 152/2001, de 11 de Outubro, que assume como objectivos at 2010: conservar a natureza e a diversi-dade biolgica e geolgica e promover a utilizao susten-tvel dos recursos biolgicos; contribuir para a prossecuo dos objectivos visados pelos processos de cooperao internacional na rea de conservao da natureza em que Portugal est envolvido;

    iii) A Estratgia Nacional para a Energia, aprovada pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 169/2005, de 24 de Outubro, que tem como objectivo garantir a segurana do abastecimento de energia, atravs da diversificao dos recursos primrios e dos servios energticos, da promoo da eficincia energtica na cadeia de oferta e na procura de energia, do estmulo concorrncia e da adequao ambiental de todo o processo energtico;

    iv) As Perspectivas para a Sustentabilidade na Regio Autnoma dos Aores [2006], que enquadra a elaborao do Plano Regional para o Desenvolvimento Sustentvel dos Aores, assegurando a articulao com a Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel;

    v) O documento Bases para a Estratgia de Gesto In-tegrada da Zona Costeira Nacional [2006], que estabelece os princpios e as directrizes estratgicas a prosseguir para a gesto integrada da zona costeira nacional e que um referencial para o desenvolvimento da ENGIZC;

    vi) A Execuo da Recomendao sobre a Gesto In-tegrada da Zona Costeira em Portugal [2006], que consti-tui o relatrio preliminar sobre a experincia portuguesa na execuo da Recomendao apresentado Comisso Europeia;

    vii) A Estratgia Nacional para o Mar, aprovada pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 163/2006, de 12 de Dezembro, que define como objectivo central melhorar o aproveitamento dos recursos do oceano e zonas costei-ras, promovendo o desenvolvimento econmico e social de forma sustentvel e respeitadora do ambiente, atravs de uma coordenao eficiente, responsvel e empenhada que contribua activamente para a Agenda Internacional

    dos Oceanos. As linhas orientadoras da Estratgia Nacio-nal para o Mar assentam em trs pilares estratgicos: oconhecimento, o planeamento e o ordenamento espaciaise a defesa activa dos interesses nacionais. Neste mbito,est em elaborao o Plano de Ordenamento do EspaoMartimo;

    viii) As Orientaes Estratgicas para o Sector Martimoe Porturio [2006], que tm por viso estratgica refor-ar a centralidade euro -atlntica de Portugal, aumentarfortemente a competitividade do sistema porturio na-cional e do transporte martimo e disponibilizar ao sectorprodutivo nacional cadeias de transporte competitivas esustentveis;

    ix) O Plano Estratgico Nacional para a Pesca 2007 -2013[2006], que visa promover a explorao sustentvel dosrecursos, a competitividade do sector e o desenvolvimentoda aquicultura recorrendo a regimes de produo biol-gica e ecologicamente sustentveis, tendo em vista umaimportncia acrescida do sector da pesca na economianacional e a dinamizao econmica e social das comu-nidades piscatrias;

    x) A Estratgia Nacional de Desenvolvimento Susten-tvel, aprovada pela Resoluo do Conselho de Ministrosn. 109/2007, de 20 de Agosto, que, no mbito do ambientee da valorizao do patrimnio, preconiza uma apostanum modelo de desenvolvimento que integre, por umlado, a proteco do ambiente com base na conservaoe gesto sustentvel dos recursos naturais, por forma aque o patrimnio natural seja considerado como factorde diferenciao positiva, e, por outro, o combate s al-teraes climticas, que, sendo em si mesmo um desafiopara diversos sectores da sociedade, deve ser igualmenteencarado como uma oportunidade para promover o desen-volvimento sustentvel;

    xi) O Programa Nacional da Poltica de Ordenamento doTerritrio, aprovado pelo Lei n. 58/2007, 4 de Setembro,que constitui o quadro de referncia para o ordenamentodo territrio no espao nacional e identifica como uma dasprioridades a execuo de uma poltica de ordenamentoe gesto integrada das zonas costeiras, nas componentesterrestres e martimas, a qual dever ser devidamente ar-ticulada com a Estratgia Nacional para o Mar;

    xii) O Plano Estratgico Nacional do Turismo, aprovadopela Resoluo do Conselho de Ministros n. 57/2007, de4 de Abril, que tem por viso tornar Portugal num dosdestinos de maior crescimento na Europa. Esse crescimentodever ser alicerado em caractersticas distintivas e ino-vadoras do pas, na excelncia ambiental/ urbanstica, naformao dos recursos humanos e na dinmica/ moderni-zao empresarial e das entidades pblicas, na qualifica-o e competitividade da oferta, transformando o sectornum dos motores do desenvolvimento social, econmicoe ambiental, a nvel regional e nacional;

    xiii) O Plano de Ordenamento Turstico dos Aores e oPlano de Ordenamento Turstico da Madeira [2008], quedefinem a estratgia de desenvolvimento do turismo emcada uma destas Regies Autnomas, bem como o modeloterritorial a adoptar, constituindo -se como instrumentosdisciplinadores e orientadores, estabelecendo parmetrospara o crescimento do sector e definindo reas de vocaoturstica por ilha e por espaos especficos;

    xiv) Os planos de ordenamento da orla costeira [POOC],que tm por objecto as guas martimas costeiras e interio-res e os respectivos leitos e margens, assim como as faixasde proteco martima e terrestre, e estabelecem opes

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    estratgicas para a proteco da integridade biofsica da orla costeira, com a valorizao dos recursos naturais e conservao dos seus valores ambientais e paisagsticos, definindo, nomeadamente, o ordenamento dos diferentes usos e actividades especficos da orla costeira, a classifi-cao das praias e a disciplina do seu uso, a valorizao e qualificao das praias, dunas e falsias consideradas estratgicas por motivos ambientais e tursticos, o enqua-dramento do desenvolvimento das diversas actividades especficas, bem como as regras de saneamento a serem observadas, e asseguram os equilbrios morfodinmicos e a defesa e conservao dos ecossistemas litorais.

    3 Zona Costeira

    3.1 Conceito

    H consenso no que respeita complexidade da zona costeira (dos processos actuantes e das respostas dos sis-temas), sua sensibilidade, ao seu dinamismo, sua im-portncia econmica e ecolgica, ocorrncia de conflitos entre utilizao e equilbrio natural, presso antrpica a exercida ou necessidade de promover o seu uso sus-tentvel. O mesmo no se verifica, no entanto, em relao ao estabelecimento dos seus limites fsicos, no s porque estes limites dependem do objectivo e do contexto em que so estabelecidos, mas tambm porque as realidades fsicas e biofsicas so muito distintas em termos espaciais. Efectivamente, a dinmica destas reas de transio quase sempre incompatvel com a imposio de limites rgidos, qualquer que seja a sua ordem de grandeza.

    No existe, at ao momento, uma definio de zona cos-teira proposta pela Comisso Europeia. Em muitos pases, o limite considerado no mbito da gesto integrada da zona costeira tem, para o lado de terra, a largura de 1 a 3 qui-lmetros e, para o lado do mar, a largura que corresponde s guas territoriais. Tendo presente o que foi definido no documento Bases para a Estratgia de Gesto Integrada da Zona Costeira Nacional e ainda a necessidade de garantir uma efectiva articulao com a Estratgia Nacional para o Mar, adopta -se a seguinte definio:

    Zona costeira a poro de territrio influenciada di-recta e indirectamente, em termos biofsicos, pelo mar (ondas, mars, ventos, biota ou salinidade) e que, sem prejuzo das adaptaes aos territrios especficos, tem, para o lado de terra, a largura de 2 quilmetros medida a partir da linha da mxima preia -mar de guas vivas equi-nociais e se estende, para o lado do mar, at ao limite das guas territoriais, incluindo o leito.

    A concretizao, no territrio, dos limites estabeleci-dos dever seguir um critrio de flexibilidade, de forma a considerar as especificidades prprias de cada contexto territorial Ou seja, a abordagem estratgica do desenvol-vimento das zonas costeiras no fica condicionada pelo limite fsico da faixa territorial identificada, devendo con-siderar os princpios fundamentais de gesto de recursos hdricos inerentes Directiva -Quadro da gua (Directiva n. 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro, que estabelece um quadro de aco co-munitria no domnio da poltica da gua), nomeadamente no que se refere definio e integridade das massas de gua, e a integridade de todo o sistema fsico costeiro, assumindo, por exemplo, a totalidade de um sistema la-

    gunar ou de um campo dunar ou adaptando a sua rea srealidade insulares.

    Complementarmente, adoptam -se ainda os seguintesconceitos (veja -se Figura 3.1):

    i) Litoral termo geral que descreve as pores deterritrio que so influenciadas directa e indirectamentepela proximidade do mar;

    ii) Orla costeira poro do territrio onde o mar, co-adjuvado pela aco elica, exerce directamente a sua acoe que se estende, a partir da margem at 500 m, para o ladode terra e, para o lado do mar, at batimtrica dos 30 m;

    iii) Linha de costa fronteira entre a terra e o mar,assumindo -se como referencial a linha da mxima preia--mar de guas vivas equinociais.

    Figura 3.1 Conceito de Zona Costeira (limites)

    Fonte: Adaptado das Bases para a Estratgia de GestoIntegrada da Zona Costeira Nacional

    3.2 Recursos, riscos e usos

    Panorama geral

    Portugal possui uma linha de costa com uma extensototal de cerca de 1.187 quilmetros. Tem uma zona costeirade grande variedade geomorfolgica, com costa baixa,arenosa (simples ou com sistemas de barreira) ou rochosa,e costa alta, de arriba, para alm das desembocaduras doscursos de gua em esturio ou das especificidades dasfajs insulares, que conferem uma elevada diversidadepaisagstica, cnica e biogeogrfica.

    A zona costeira encontra -se maioritariamente exposta agitao martima atlntica, especialmente agreste nasvertentes a norte dos territrios das Regies Autnomas eno continente. A costa algarvia est abrigada dos principaistemporais martimos de oeste e de noroeste, registando,contudo, situaes de agitao martima de sueste (o Le-vante) que no devem ser menosprezadas.

    A zona costeira portuguesa tem uma elevada dinmicageomorfolgica decorrente, especialmente, dos processos

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    marinhos (ondas e correntes longilitorais), mas onde a interveno antrpica cada vez mais marcante, quer ao n-vel das aces desenvolvidas nas bacias hidrogrficas, que so as principais fontes de sedimentos, quer ao nvel das aces de defesa costeira, que visam estabilizar esta faixa dinmica tendo em vista proteger a sua ocupao.

    Com efeito, os concelhos do litoral, continental e insular, concentram cerca de 75 % da populao portuguesa, sendo responsveis pela produo de 85 % do produto interno bruto. Neles se localizam as principais reas urbanas e industriais, bem como as reas de turismo intensivo, que alternam com reas naturais, rurais e de pesca.

    Portugal dispe de uma das maiores zonas econmicas exclusivas (ZEE) da Europa, com cerca de 1 700 000 quil-metros quadrados, o que corresponde a cerca de 18 vezes a sua rea terrestre. Existe ainda a possibilidade de Portugal vir a contar com espaos martimos sob sua soberania ou jurisdio que podero exceder em muito a actual rea da ZEE. Neste sentido, Portugal dispe de um enorme potencial de recursos associado a estes espaos martimos, sobre os quais poder ser aprofundado o conhecimento cientfico e tcnico numa perspectiva de explorao de recursos e de desenvolvimento sustentvel.

    Figura 3.2 A Zona Costeira Portuguesa

    A concentrao populacional e de actividades econmi-cas evidencia bem o valor da zona costeira no quadro socio--econmico nacional, razo pela qual deve ser considerada como um recurso de maior valia um recurso global, no s pelas funes que exercem mas tambm pelos usos e actividades econmicas que proporciona.

    Para alm disso, a zona costeira assume -se como zona tampo para proteco das reas adjacentes no interior, num quadro de subida do nvel mdio das guas do mar em resultado das alteraes climticas.

    A zona costeira assume, assim, um importante papel en-quanto suporte de um conjunto de actividades econmicas

    de diferentes sectores, uns orientados para a valorizao derecursos do mar, outros retirando da proximidade ao marexternalidades positivas que favorecem a sua localizao.

    Recursos

    Patrimnio Natural e Paisagstico

    Interface entre o meio terrestre e o meio marinho, a zonacosteira particularmente rica em biodiversidade, quer aonvel especfico quer ao nvel dos ecossistemas. Da zonacosteira so caractersticos diversos habitats naturais, taiscomo os que ocorrem em recifes rochosos ou fundos are-nosos subtidais, dunas, arribas, esturios e lagunas litorais,e um conjunto muito significativo de espcies da floraendmica e muito ameaada. Os ecossistemas costeiros elitorais e os ecossistemas terrestres adjacentes so reasricas em espcies da fauna, com particular relevo para aavifauna.

    Estes valores naturais fundamentaram a designao dereas classificadas que integram a Rede Nacional de reasProtegidas ou a Rede Natura 2000, numa extenso aproxi-mada de 50 % do total. Para alm destas reas nucleares,integram tambm a Rede Fundamental de Conservaoda Natureza (consagrada pelo Decreto -Lei n. 142/2008,de 24 de Julho) reas da Reserva Agrcola Nacional, Re-serva Ecolgica Nacional e Domnio Pblico Martimo,vastamente representadas na zona costeira.

    Neste contexto, destacam -se as reas de esturio e ostroos costeiros, como entre Peniche e o Barlavento Algar-vio, ou vastas zonas nas ilhas com estatuto de proteco,o que revela e refora o importante valor natural e paisa-gstico da zona costeira.

    Em ambiente marinho, a Rede de reas Marinhas Prote-gidas, que se pretende consolidar e ampliar, visa conservara biodiversidade marinha e permitir um uso sustentveldos recursos haliuticos. Em Portugal Continental, estainclui as reas marinhas do Parque Natural do LitoralNorte, da Reserva Natural das Berlengas, do Parque Na-tural da Arrbida, da Reserva Natural das Lagoas de SantoAndr e Sancha, e do Parque Natural do Sudoeste Alen-tejano e Costa Vicentina. Nas Regies Autnomas incluios parques naturais de ilha e ainda o parque marinho noarquiplago dos Aores e o parque natural no arquiplagoda Madeira.

    A zona costeira revela, frequentemente, um elevado va-lor paisagstico, resultado da conjugao de caractersticasgeomorfolgicas, ecolgicas e de ocupao humana doseu territrio. Desta conjugao resultam trechos de pai-sagem notveis, extremamente diferenciados, com troosde arribas alternando com areais e rias, lagoas e esturios,pontuados por ocorrncias geolgicas e geomorfolgicasde elevado valor cnico e paisagstico, que marcam a ima-gem do litoral.

    Contudo, a paisagem litoral apresenta, na generalidade,uma elevada fragilidade, pelo que a crescente ocupaoe utilizao antrpica da zona costeira, muitas vezes sematender sua capacidade de carga, tem levado a uma perdamuito significativa dos valores naturais e paisagsticos.

    Patrimnio Histrico -cultural

    A zona costeira acolhe um vasto patrimnio histrico--cultural associado s funes de defesa e s sucessivasactividades econmicas e sociais que se tm localizado

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    nestes espaos ao longo dos diferentes ciclos de cresci-mento e desenvolvimento da sociedade portuguesa.

    Neste contexto, a valorizao dos elementos mais va-liosos do patrimnio histrico -cultural costeiro constitui uma forma de preservao da memria histrica, com grande relevo para a iniciativa martima dos portugueses, afinal uma das suas principais singularidades como nao. Realam -se, neste mbito, as inmeras construes que marcam as paisagens costeiras (e.g. fortes, fortins, faris, vigias de baleias, moinhos de guas e de vento), bem como a Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, classificada pela UNESCO como patrimnio da humanidade.

    A valorizao deste recurso da zona costeira exige uma articulao permanente entre a investigao histrica, a arqueologia naval e a histria econmica, cabendo EN-GIZC atender a aspectos to diversos como os ligados histria da actividade porturia, evoluo da pesca, aos smbolos patrimoniais implantados na zona costeira ou memria das gentes e aos costumes diversos.

    A zona costeira uma rea de equilbrio frgil e de dinmica muito complexa, que necessrio conhecer me-lhor e respeitar, no sentido de preservar e valorizar o seu patrimnio natural, paisagstico e cultural.

    Riscos

    A zona costeira est sujeita a um conjunto de riscos de origem diversa, dos quais se destacam os seguintes:

    i) A eroso costeira, em estreita relao com a subida eusttica do nvel do mar e fenmenos de storm surge (sobrelevao do nvel do mar de natureza meteorolgica) em resultado da expanso trmica ocenica e do aqueci-mento global, que se traduzem no aumento da frequncia de episdios erosivos, de galgamentos ocenicos, da maior frequncia e durao das inundaes ribeirinhas e, ainda, da migrao para o interior da zona costeira, para alm dos resultantes dos ciclos geodinmicos, em especial os que incidem sobre a zona costeira, nomeadamente em termos de situao de eroso ou assoreamento.

    ii) A diminuio do fornecimento de sedimentos costa, que tem contribudo para o agravamento do risco de eroso costeira, resultante, directa e indirectamente, da aco antrpica a nvel da bacia hidrogrfica, destacando -se a explorao de inertes, as obras de regularizao dos cur-sos de gua, as barragens e a execuo de dragagens nos canais de navegao;

    iii) A aco humana, que tem vindo a acelerar os fen-menos de eroso, designadamente atravs do desrespeito pela dinmica litoral, potenciada pela reduo de sedimen-tos, pelas obras de engenharia e hidrulica costeira a construo de obras martimas tem, em diversos casos e sem considerar a dinmica litoral, provocado o recuo da linha de costa a sotamar dessas obras e pelas dragagens e ou explorao de sedimentos;

    iv) A desregulao do funcionamento natural dos siste-mas e ecossistemas costeiros e, particularmente, o dficede sedimentos para alimentao das praias e dunas seja em resultado da destruio do efeito tampo exercido pela zona costeira, em consequncia da ocupao macia, tra-duzida nas elevadas concentraes de populao residente, das actividades econmicas que a se desenvolvem e do turismo intensivo, ou na sequncia da diminuio do afluxo

    de aluvies e da escassez previsvel de areias presentes naplataforma continental prxima;

    v) A ocorrncia de maremotos (tsunamis), em espe-cial na zona costeira ocidental, a sul de Peniche, e noAlgarve;

    vi) A perda da biodiversidade resultante da sobrecargados sistemas da zona costeira, dos episdios erosivos e dasalinizao das zonas estuarinas e dos aquferos litorais,com consequncias negativas para os ecossistemas cos-teiros e para os recursos hdricos;

    vii) A poluio da gua do mar e das praias, na sequnciaquer da circulao ao largo de elevado trfego martimo,quer de descargas de efluentes industriais ou domsti-cos em reas costeiras por um lado, estima -se que otrfego martimo seja o terceiro maior a nvel europeue, por outro lado, na zona costeira portuguesa existemrefinarias, fbricas de celulose e estaleiros de reparao econstruo naval, bem como outras indstrias pesadas ecentrais trmicas, que exercem sobre o ambiente costeiroimpactes directos, atravs, nomeadamente, da produode resduos slidos e lquidos;

    viii) A perda de atractividade da zona costeira, devido artificializao de determinados troos em consequncia daconcentrao populacional em zonas sensveis ou de riscoe da especializao de algumas actividades econmicas.

    Dos riscos identificados reala -se a eroso costeira, queatinge a generalidade da zona costeira nacional, verificando--se que os troos costeiros arenosos so particularmentesensveis, podendo as taxas de recuo, em situaes extre-mas, atingir 20m/ano. Por outro lado, so raros os pontosem que se verifica acumulao sedimentar e quase todosesto associados a grandes estruturas transversais queinterditam o trnsito sedimentar, e.g., a deriva litoral. Osfenmenos de eroso, inicialmente resultantes de umasignificativa reduo nos fornecimentos sedimentares,so amplificados pela crescente artificializao da zonacosteira.

    Pela enorme importncia socioeconmica para o pas,a defesa e a segurana da zona costeira so essenciais nombito de uma gesto responsvel, exigindo uma con-jugao harmoniosa da ocupao humana com a gestopreventiva dos riscos associados, nomeadamente, aos pro-cessos erosivos, s zonas ameaadas pelo mar e subidado nvel das guas do mar.

    Em matria de segurana coloca -se hoje um novo desa-fio que se relaciona com o seu carcter de porta abertaao exterior. Com efeito, pela zona costeira que entramou podem entrar no pas estupefacientes e contrabando domais diverso tipo de produtos. Estes desafios exigem umapoltica de defesa e de segurana eficiente.

    Em termos dos desafios futuros, as alteraes climticase os impactos resultantes so o maior repto que se colocaa mdio/longo prazo gesto integrada da zona costeiraface s profundas alteraes que ocorrero nos sistemas,ecossistemas e paisagens costeiros, obrigando adopode uma abordagem ecossistmica, preventiva e prospectivana gesto da zona costeira e na incorporao de medidasde adaptao nos diversos domnios e sectores.

    Os riscos que ameaam a zona costeira, nomeadamenteos resultantes das alteraes climticas ou da crescentepresso antrpica, obrigam adopo de medidas susten-tveis, cautelares, que previnam ou reduzam o impactonegativo dos fenmenos naturais e promovam modelos

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    adequados de uso dos recursos costeiros e de ocupao do solo, visando, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida das comunidades humanas.

    Usos e Actividades

    Uso Urbano

    Em Portugal registou -se, nos ltimos 50 anos, um con-tnuo crescimento da populao na zona costeira, acom-panhado da correspondente concentrao das actividades econmicas, especialmente indstria e servios, em geral com predomnio do emprego no sector tercirio.

    Estima -se que cerca de 30 % da zona costeira esteja ocupada com construes, repartidas entre habitao, esta-belecimentos de actividades econmicas e reas porturias.

    Tambm a rede de acessibilidades foi fortemente in-fluenciada por esta situao, privilegiando as ligaes entre as reas mais populosas, com destaque para o seu principal eixo longitudinal entre Viana do Castelo e Setbal no continente. Nas Regies Autnomas as especificidades territoriais justificam a forte concentrao que se verifica no litoral.

    Contudo, a intensa concentrao demogrfica e de ac-tividades econmicas, os fluxos populacionais sazonais, a ocupao desordenada e catica do territrio, muitas vezes em zonas de risco, o completo desrespeito pela capacidade de carga dos locais, a sobre -explorao dos recursos e outras intervenes antrpicas incorrectas, criam presses e alteraes significativas sobre o meio e os ecossistemas, conduzindo a graves conflitos de usos.

    Na verdade, o processo de litoralizao, traduzido na crescente procura, ocupao e utilizao dos recursos do litoral, tem originado situaes de desequilbrio, que se manifestam na eroso costeira generalizada, em alguns casos com gravssimas consequncias, na destruio dos habitats, na perda da biodiversidade, na destruio da qualidade da paisagem e na alterao da quantidade e qualidade da gua.

    A gesto sustentvel da zona costeira implica um pla-neamento responsvel, adoptando medidas de ordena-mento que permitam minimizar riscos e que restrinjam ou interditem a edificao na zona costeira, garantindo a sustentabilidade do territrio na rea em causa.

    Turismo e Recreio

    O turismo reconhecido como um dos sectores estrat-gicos da economia portuguesa, desempenhando um papel vital para o desenvolvimento do pas.

    A zona costeira portuguesa exerce uma funo de atractividade, baseada nas excelentes condies para as actividades de turismo e lazer, particularmente o balnear,aliceradas nas boas condies climticas, na diversidade cnica e paisagstica e na maior oferta de alojamento em estabelecimentos hoteleiros nacionais.

    Os produtos de sade e bem -estar so um segmento considerado fundamental para a diversificao da oferta turstica existente e para a afirmao de Portugal como destino turstico de qualidade. Tambm o turismo asso-ciado qualidade do territrio outro dos produtos emer-gentes e reconhecidos, e que tem justificado o crescente desenvolvimento verificado, nomeadamente, nas Regies Autnomas.

    O turismo e o recreio so, contudo, actividades pass-veis de gerar impactes negativos e de natureza cumulativa

    nos ambientes costeiros, nomeadamente: (i) urbanizaode ambientes naturais; (ii) ocupao de reas sensveisdo ponto de vista do risco; (iii) perda de biodiversidaderesultante, por exemplo, da eroso das dunas e de outrosecossistemas costeiros, devido s construes e a pressesoriginadas pela fruio da zona costeira; (iv) descaracteri-zao da zona costeira e perda do seu valor cnico.

    A degradao dos ambientes costeiros, para alm dasconsequncias ambientais, tem tambm implicaes eco-nmicas negativas, nomeadamente a diminuio da atrac-tividade do territrio para a actividade turstica e de lazer,podendo impedir ou dificultar a emergncia de um turismode qualidade.

    Caber aos instrumentos de gesto territorial salvaguar-dar a no ocorrncia destas situaes, em coerncia comas orientaes do sector constantes do Plano EstratgicoNacional do Turismo (PENT), as quais defendem a pre-servao da qualidade urbana ambiental e paisagsticae a utilizao sustentvel dos recursos numa ptica depromoo do turismo sustentvel.

    A evoluo deste sector, num quadro de desenvolvi-mento sustentvel, depende da garantia de integridade dazona costeira.

    Nutica de Recreio

    As boas potencialidades que a zona costeira tem devidos condies naturais, de paisagem e de segurana naszonas de acostagem, bem como ao nvel de equipamentose apoios tcnicos disponveis justificam o aumento signifi-cativo do nmero de marinas e portos de recreio registadonos ltimos anos.

    A nutica de recreio afirma -se como produto comple-mentar do turismo sol e praia, promovendo a criao deemprego diferenciado e o surgimento de actividades amontante e a jusante, e contribui para a defesa de valoresambientais, para uma maior ligao da populao ao mare para o dinamismo das comunidades locais.

    Os impactos ambientais destas actividades nos sistemas,ecossistemas e comunidades biticas so, por vezes, sig-nificativos quando so exercidas sem observarem regrasadequadas sensibilidade dos sistemas presentes. Nestecontexto, o desenvolvimento destas actividades deve sermonitorizado de forma a evitar situaes de poluio edegradao dos sistemas.

    Pesca Comercial e Aquicultura

    Em Portugal, o sector da pesca sempre assumiu umarelevncia social, regional e local substancialmente supe-rior sua expresso e dimenso ao nvel dos principaisagregados macroeconmicos nacionais. Neste contexto,e apesar do conjunto do sector representar apenas cercade 0,6 % da populao activa, a sua importncia no podeser analisada apenas nas vertentes econmica e financeira,devendo ser tido tambm em linha de conta o equilbriosocioeconmico das comunidades piscatrias, designada-mente das que esto mais dependentes da pesca artesanalcom pequenas embarcaes.

    Para a aquicultura, cuja expanso em contexto estuarino,lagunar e em mar aberto se pode prever, exige -se umaavaliao e planeamento no quadro global das ocupaes eutilizaes da zona costeira merc dos impactos ambientaisque pode gerar.

    A pesca ldica, actividade de recreio e lazer, sem carc-ter comercial e profissional, uma componente relevante

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    da fruio da zona costeira, com um numeroso universo de praticantes. A apanha de organismos no espao entre as mars, a pesca linha e a pesca submarina, modalida-des que a constituem, exigem uma regulamentao que possa assegurar o seu exerccio num quadro de respeito pela explorao sustentada dos recursos haliuticos e pela conservao da biodiversidade.

    Actividade Porturia, Transporte Martimo e Logstico

    A zona costeira portuguesa tem caractersticas que pro-porcionam as condies necessrias para a existncia de portos, que constituem um instrumento fundamental de insero e afirmao geo -estratgica do pas na Europa e no mundo e correspondem a infra -estruturas essenciais ao desenvolvimento, integrao internacional e competiti-vidade da economia. A sua funo como porta de entrada de turistas tambm relevante, nomeadamente no que se refere a navios de cruzeiro.

    Elos estratgicos na cadeia de transportes, os portos assumem -se como importantes plos dinamizadores de actividades econmicas, potenciando fontes de gerao de rendimento e promovendo oportunidades de emprego, quer no plano das actividades directamente relacionadas com as funes martimas e porturias, quer em resultado do efeito multiplicador que amplamente reproduzido.

    O transporte martimo constitui sem dvida uma impor-tante vertente de uma rede sustentvel de transportes, sendo o modo de transporte de mercadorias mais importante a nvel mundial e dos que mais cresce, situao que aponta para a necessidade do desenvolvimento das infra -estruturasporturias de forma a manter os territrios inseridos nas cadeias mundiais do transporte martimo e da logstica, no deixando, contudo, de originar impactes ambientais negativos cujo controlo depende de medidas de minimi-zao adequadas.

    Destacam -se algumas das principais presses originadas por este sector: (i) a navegao ao longo da costa continen-tal portuguesa pode ser uma potencial ameaa de poluio das guas e dos fundos marinhos; (ii) a lavagem de tanques em mar aberto uma origem potencial de poluio da zona costeira portuguesa (iii) os portos comerciais localizam -seem meio urbano, podendo gerar situaes de conflitos funcionais e ambientais decorrentes das descontinuidades urbansticas induzidas, do desenvolvimento de actividades geradoras de rudo e emisses gasosas, da movimentao de cargas perigosas e da induo de intensos fluxos de transporte de mercadorias e muitas vezes integram reas sem interesse porturio; v) as infra -estruturas porturias, quando implicam a construo de molhes, constituem uma das principais causas da interrupo do trnsito sedimen-tar longilitoral e, consequentemente, de agravamento de situaes de eroso na costa.

    Construo e Reparao Naval

    Portugal tem uma tradio importante nas indstrias da construo e da reparao naval. um sector que est fortemente globalizado, sofrendo uma forte concorrncia de estaleiros do Extremo Oriente (Coreia do Sul e China) sobretudo no que diz respeito construo de embar-caes menos sofisticadas, com menor incorporao de tecnologia.

    Portugal, em resultado da grande concorrncia interna-cional, verificou uma alterao muito significativa nesta actividade, com o desaparecimento ou reconverso de

    importantes estaleiros de construo naval para naviosde grande porte, como a Lisnave e a Setenave. A Lisnavefoi entretanto reconvertida em estaleiro especializado emreparao. O nico estaleiro de mdio porte que persiste emPortugal dedicado construo so os Estaleiros Navaisde Viana do Castelo. Alm dos Estaleiros Navais de Vianado Castelo e de algumas outras unidades mais pequenas,como por exemplo os estaleiros de Peniche, persistemainda alguns estaleiros vocacionados para a construode embarcaes de madeira, de carcter artesanal, quemantm um conjunto de saberes -fazer numa actividadede grande tradio histrica em Portugal.

    Produo de Energia Renovvel

    O sector de produo de energia trmica com recursoa combustveis fsseis , reconhecidamente, dos maiorescontribuintes para a emisso de gases com efeito de es-tufa. Portugal tem como objectivo atingir em 2010 umapercentagem de produo de energia a partir de fontesrenovveis da ordem dos 39 %. Parte desse aumento podervir a ter origem no aproveitamento de energias renovveisproduzidas na zona costeira.

    A zona costeira nacional tem considervel potencialpara a produo de energias renovveis, particularmenteelica e energia das ondas, conjuntamente com outrascondies favorveis, como sejam as boas infra -estruturas(portos, estaleiros navais e pontos de ligao rede detransporte) e proximidade dos consumidores (concentraolitoral da populao). No caso da primeira a tecnologia deplataforma fixa est j suficientemente madura para o seuaproveitamento competitivo, em moldes muito prximosdo aproveitamento on -shore, admitindo -se que a tecnolo-gia de plataforma flutuante possa vir a ser competitiva nodecurso do prximo decnio. No caso da energia das ondasassiste -se a um processo de seleco de tecnologias, que seencontram em fases de desenvolvimento distintas, desde oconceptual ao piloto, podendo o Pas ter um papel proemi-nente neste domnio, tendo em considerao as condiesnaturais da costa portuguesa e o conhecimento tcnico--cientfico nacional nesta rea. A instalao de um projecto--piloto no Norte e a criao de um parque de ondas na zonaCentro constituem desenvolvimentos importantes no pro-gresso do aproveitamento desta forma de energia do mar.

    Indstria

    Entre as principais unidades industriais situadas na zonacosteira portuguesa, encontram -se refinarias, instalaesde produo de energia, unidades da indstria conserveira,fbricas de celulose, que exercem sobre o ambiente cos-teiro impactes directos, como o caso da produo deresduos slidos e lquidos.

    A forte tendncia para a localizao de indstrias pesa-das e centrais trmicas na zona costeira, por razes eco-nmicas e estratgicas, tem conduzido a situaes que, amdio e longo prazo, dificultam uma gesto sustentveldo ambiente costeiro. Em Portugal tm sido relativamentefrequentes os conflitos de interesses entre zonas industriaise habitacionais costeiras, por um lado, e o sector das pescase a conservao da natureza, por outro. Acresce que soconhecidos vrios focos de poluio, associados a estasindstrias, cujos impactes negativos tm vindo, nalgunscasos, a ser atenuados devido deslocao, abrandamentoou interrupo das actividades industriais e, sobretudo, amedidas de controlo da poluio.

  • Dirio da Repblica, 1. srie N. 174 8 de Setembro de 2009 6067

    Recursos Minerais

    A zona costeira sede de recursos geolgicos, como os depsitos minerais e os hidrocarbonetos fsseis. Assegura, assim, a funo de origem de matria -prima, cuja explo-rao deve ser limitada e cujos produtos extrados devem ser usados de forma sustentvel.

    A gesto dos recursos minerais, nomeadamente dos sedimentos inertes, deve ter em considerao um con-junto de questes com natureza e implicaes distintas, nomeadamente: (i) a aplicao de conhecimento cientfico actualizado gesto do trnsito sedimentar, tendo em vista a dinmica costeira e os fortes problemas de eroso exis-tentes em alguns troos; (ii) a necessidade de introduzir na deriva litoral os dragados efectuados para manuteno da profundidade de navegao dos portos, sobretudo nos tro-os da zona costeira onde a taxa de recuo da linha de costa muito elevada; (iii) a necessidade de manter os equilbrios morfolgicos e hidrodinmicos de sistemas existentes, imersos ou emersos, como aqueles que se encontram nos esturios e suas embocaduras; (iv) a necessidade de ga-rantir uma gesto integrada dos recursos minerais na zona costeira avaliando os impactos da sua explorao e garantindo a optimizao do seu uso numa perspectiva de valorizao da zona costeira e de minimizao da eroso e manuteno dos ecossistemas marinhos.

    Neste sentido, a aplicao da Lei da gua bem como da legislao especfica existente (e.g. o Decreto -Lei n. 226 -A/2007) essencial para a operacionalizao da ENGIZC, bem como a especificao e regulamentao desta problemtica no mbito do Plano Sectorial da Zona Costeira e do Plano de Ordenamento do Espao Martimo.

    Investigao Cientfica

    A zona costeira, pela sua riqueza e complexidade, be-neficia de um conjunto de saberes repartidos por vrias ci-ncias, todas elas contribuindo para o seu conhecimento.

    So muitos os investigadores que se ocupam da zona costeira, com objectivos diversos e sobre temticas espe-cficas, sejam elas a dinmica dos sistemas fsicos e dos ecossistemas e suas respostas a fenmenos extremos, os ambientes costeiros ou a combinao dos anteriores com a aco humana.

    Porm, falta um sistema que integre toda essa infor-mao e que a disponibilize aos decisores, planeadores e gestores da zona costeira, aos agentes econmicos e aos cidados em geral. Acresce ainda que existe, muitas vezes, desarticulao entre a investigao desenvolvida e as necessidades de planeamento e gesto, agravada pelo facto de as exigncias por parte destes ltimos nem sempre serem consentneas com o trabalho rigoroso, e por isso necessariamente lento, prprio das actividades de inves-tigao cientfica.

    Actividades Emergentes

    Portugal apresenta um potencial relevante em matria de I&D na rea das cincias e das tecnologias marinhas. Esse potencial de conhecimento no tem contudo corres-pondncia no plano econmico e empresarial, a articulao e cooperao entre centros de I&D e empresas tem ainda um grande espao de progresso que importa dinamizar no sentido do reforo da economia do Mar. No entanto, so j evidentes alguns sinais de mudana neste panorama a partir do lanamento de algumas iniciativas empresariais

    de base tecnolgica resultantes de spin -off com origem nal-guns dos laboratrios e centros de I&D em actividades deponta, nomeadamente nos sectores da robtica submarina,dos sistemas de informao, da sade, do tratamento deefluentes industriais, da energia e da segurana. Estas ac-tividades possuem um interesse especial do ponto de vistada economia do mar e do desenvolvimento sustentvel dazona costeira por serem actividades de forte valor acres-centado geradoras de impactes ambientais positivos.

    A zona costeira constitui um recurso insubstituvel, doponto de vista ecolgico, econmico e social, cujo pla-neamento e gesto numa perspectiva de sustentabilidadeexige uma abordagem suportada no conhecimento cient-fico, tendo em conta a sua diversidade e em particular asnecessidades especficas das ilhas.

    4 Viso

    De acordo com a orientao da UE, as ENGIZC devemser estabelecidas para uma VISO a longo prazo, definidaa 20 anos, sem prejuzo dos mecanismos de avaliao e dereviso previstos. A ENGIZC tem como VISO alcanarem 2029:

    Uma zona costeira harmoniosamente desenvolvida esustentvel tendo por base uma abordagem sistmica ede valorizao dos seus recursos e valores identitrios,suportada no conhecimento cientfico e gerida segundoum modelo que articula instituies, coordena polticase instrumentos e assegura a participao dos diferentesactores intervenientes.

    A VISO formulada consagra um desenvolvimento dazona costeira balizado por valores como a identidade, asustentabilidade, o ordenamento e a segurana, aos quais sedeve subordinar o aproveitamento competitivo dos poten-ciais marinhos e martimos, tanto naturais como culturais,existentes.

    i) Uma zona costeira com identidade prpria, apostandonos seus recursos e nos valores nicos naturais e culturaisidentitrios desses territrios;

    ii) Uma zona costeira sustentvel, com salvaguarda evalorizao dos seus recursos e valores naturais, patrimo-niais e paisagsticos baseada numa gesto que privilegie asopes naturalizadas e adaptativas que melhor se coadu-nem com uma abordagem integrada das questes sociais,econmicas e ambientais;

    iii) Uma zona costeira bem ordenada, adequando os usose ocupaes s capacidades de carga e de resilincia dossistemas naturais, bem como sensibilidade das diferentesreas, no mbito de uma viso sistmica e prospectiva doordenamento e planeamento destas reas;

    iv) Uma zona costeira segura e pblica, conjugandode forma harmoniosa a utilizao e fruio pblica e aocupao humana com a gesto preventiva dos riscosassociados, nomeadamente erosivos, especialmente emzonas ameaadas pela subida do nvel mdio das guasdo mar;

    v) Uma zona costeira competitiva, como espao produ-tivo gerador de riqueza e de emprego centrados na valo-rizao econmica dos potenciais marinhos e martimos,naturais e culturais, existentes, nomeadamente atravs dorecurso a iniciativas econmicas que incorporem tecnolo-gias com reduzido impacte ambiental e modelos sustent-veis de desenvolvimento econmico.

  • 6068 Dirio da Repblica, 1. srie N. 174 8 de Setembro de 2009

    A compatibilizao destes interesses obriga a que a con-cretizao da VISO atribua um estatuto de centralidade a trs dimenses, designadamente:

    i) Formao, como dimenso fundamental para a concretizao dos novos paradigmas e das necessidades emergentes para uma gesto integrada da zona cos-teira;

    ii) Conhecimento cientfico e tcnico, como dimenso de suporte deciso e impulsionadora da adopo de novos paradigmas;

    iii) Gesto responsvel e eficaz, sustentada no co-nhecimento adequado dos processos e dos seus im-pactos, de acordo com o princpio da precauo, na articulao e co -responsabilizao intersectorial e no envolvimento das comunidades locais e dos agentes interessados.

    Figura 4.1 Dimenses da VISO

    5 Princpios

    A VISO assenta no sistema de princpios definidos no documento Bases para a Estratgia da Gesto Integrada da Zona Costeira Nacional, os quais integram as orien-taes comunitrias e o sistema de valores reflectidos nos instrumentos de gesto territorial nacionais e que devero orientar a ENGIZC:

    i) Sustentabilidade e solidariedade intergeracional, pro-movendo a compatibilizao em todo o territrio nacional entre o desenvolvimento socioeconmico e a conservao da natureza, da biodiversidade e da geodiversidade, num quadro de qualidade de vida das populaes actuais e vindouras;

    ii) Coeso e equidade, assegurando o equilbrio social e territorial e uma distribuio equilibrada dos recursos e das oportunidades pelos diversos grupos sociais, classes geracionais e territrios;

    iii) Preveno e precauo, prevendo e antecipando os problemas e adoptando uma atitude cautelar face ao dfice de conhecimento ou insuficiente capacidade de interven-o, minimizando riscos e impactos negativos;

    iv) Abordagem sistmica, criando uma nova cul-tura transversal, intersectorial e interdisciplinar que permita uma viso integradora e prospectiva da zona costeira;

    v) Conhecimento cientfico e tcnico, apoiando as decises de medidas de ordenamento e gesto na com-

    preenso dos fenmenos e da sua evoluo dinmicae na resoluo dos conflitos de uso que se colocam zona costeira;

    vi) Subsidiariedade, coordenando os procedimentos dosdiversos nveis da Administrao Pblica e dos nveis eespecificidades regionais/locais, de forma a privilegiar onvel decisrio mais prximo do cidado;

    vii) Participao, potenciando o activo envolvimento dopblico, das instituies e dos agentes locais e reforandoa conscincia cvica dos cidados, atravs do acesso informao e interveno nos procedimentos de elabo-rao, execuo, avaliao e reviso dos instrumentos degesto territorial;

    viii) Co -responsabilizao, envolvendo a partilhada responsabilidade nas opes de gesto da zonacosteira com a comunidade, os agentes econmicos,os cidados e associaes representativas, atravs daaplicao no s dos princpios do poluidor paga-dor e do utilizador pagador, mas tambm de for-mas institucionais e de cooperao inter -institucional(multi -escala e transversal) que permitam uma gestomais prxima dos cidados e dos utentes da zonacosteira;

    ix) Operacionalidade, criando mecanismos legais, ins-titucionais, financeiros e programticos eficazes e eficien-tes, capazes de garantir a realizao dos objectivos e dasintervenes.

    6 Opes Estratgicas

    Tendo presente o referencial que enquadrou o desenvol-vimento da ENGIZC, as orientaes e normativos comu-nitrios e nacionais e a VISO adoptada, estabeleceu -seum conjunto de opes estratgicas, em coerncia com aavaliao ambiental estratgica.

    A formulao destas opes estratgicas fundamentalno contexto da elaborao de um documento que se pre-tende que seja efectivamente estratgico e a sua avaliaodeterminante para estabelecer o quadro de referncia paraa sua construo.

    As opes estratgicas da ENGIZC, que se concretizamem objectivos e respectivas medidas, foram definidas combase em opes alternativas estruturadas em trs dimensesestratgicas: temtica, institucional e modelo de gover-nana. Na figura seguinte apresentam -se as diferentesopes estratgicas alternativas que foram consideradase constituram o objecto da avaliao ambiental estrat-gica. A descrio sumria das vrias opes estratgicasconsideradas apresentada na tabela_6.1.

    Figura 6.1 Opes estratgicas da ENGIZCOpes temticas

    Naturalizao

    Artificializao

    Sistemas scio-ecolgicos

    Opes institucionais

    Fragmentao de competncias

    Centralizao de competncias

    Articulao de competncias

    Opes de governana

    Reforo do papel do Estado

    Predomnio da interveno privada

    Cooperao pblico-privada

    Fonte: Estratgia Nacional para a Gesto Integradada Zona Costeira. Avaliao Ambiental Estratgica,Dezembro de 2008

  • Dirio da Repblica, 1. srie N. 174 8 de Setembro de 2009 6069

    A avaliao ambiental estratgica permite evidenciar as seguintes directrizes de orientao estratgica para a prossecuo da Viso:

    i) Um modelo de ordenamento e desenvolvimento da zona costeira que articule as dinmicas socioeconmicas com as ecolgicas na utilizao dos recursos e na gesto de riscos (abordagem ecossistmica);

    ii) Um modelo institucional de gesto integrada da zona costeira alicerado na articulao de competncias, tendo por base a co -responsabilizao institucional em torno de uma entidade coordenadora nacional;

    iii) Um modelo de governana de gesto integrada da zona costeira assente na cooperao pblico -privada, que aposta na convergncia de interesses atravs de parcerias para a gesto da zona costeira, incluindo a figura de asso-ciaes de utilizadores, assumindo a co -responsabilizaona partilha de riscos.

    Os objectivos e as medidas desenvolvidos no captulo seguinte traduzem as opes estratgicas adoptadas.

    7 Objectivos e Medidas

    Tendo em considerao a VISO, os princpios e as opes estratgicas que devero orientar a ENGIZC, foram definidos objectivos de carcter temtico e transversal (tabela 7.1). Estes objectivos so consubstanciados atravs de medidas (tabela 7.2), cuja descrio sistematizada atravs de um conjunto de indicadores importantes para sua concretizao.

    A ENGIZC uma estratgia a 20 anos, o que significaque a sua avaliao peridica determinante para que aVISO proposta para 2029 seja alcanada. Acresce que aaplicao das medidas previstas implicar o envolvimentode um conjunto alargado de comunidades locais, institui-es, sectores e agentes que em conjunto incorporaro nassuas iniciativas as propostas da ENGIZC, devendo nessecontexto internalizar as atitudes e os recursos necessrios sua concretizao.

    Tabela 7.1 Objectivos temticos e transversais

    Objectivos temticos:a) Conservar e valorizar os recursos e o patrimnio

    natural, paisagstico e cultural;b) Antecipar, prevenir e gerir situaes de risco e de

    impactos de natureza ambiental, social e econmica;c) Promover o desenvolvimento sustentvel de acti-

    vidades geradoras de riqueza e que contribuam para avalorizao de recursos especficos da zona costeira;

    d) Aprofundar o conhecimento cientfico sobre os sis-temas, os ecossistemas e as paisagens costeiros.

    Objectivos transversais:a) Desenvolver a cooperao internacional;b) Reforar e promover a articulao institucional e a

    coordenao de polticas e instrumentos;c) Desenvolver mecanismos e redes de monitorizao

    e observao;d) Promover a informao e a participao pblica.

    Tabela 6.1 Opes estratgicas da ENGIZC

    Opes estratgicas Descrio sumria

    Temticas . . . . . . . . . . Naturalizao . . . . . . . . . . . . . . . . . Dar prioridade estratgica manuteno dos sistemas costeiros naturalizados, coma finalidade de melhorar os processos dinmicos naturais, impedindo a ocupaourbana, particularmente em zonas vulnerveis.

    Sistemas scio -ecolgicos . . . . . . . Dar prioridade estratgica articulao das dinmicas socioeconmicas com as di-nmicas ecolgicas na utilizao dos recursos e na gesto de riscos (abordagemecossistmica).

    Artificializao. . . . . . . . . . . . . . . . Dar prioridade estratgica infra -estruturao, com a finalidade de promover o usointensivo das zonas costeiras para fins produtivos e de substituir os processos na-turais, nomeadamente os hidrodinmicos.

    Institucionais . . . . . . . Fragmentao de competncias . . . Compartimentar as competncias institucionais de gesto das zonas costeiras, mantendoa disperso de responsabilidades.

    Articulao de competncias . . . . . Articular as diferentes competncias em matria de gesto das zonas costeiras, tendopor base a co -responsabilizao institucional, em torno de uma entidade coorde-nadora nacional.

    Centralizao de competncias Concentrar todas as responsabilidades de gesto das zonas costeiras numa nicaentidade de gesto nacional.

    Modelo de governana Reforo do papel do Estado . . . . . . Modelo em que o Estado assume a maioria das responsabilidades e o controlo sobrea regulao, financiamento e gesto das zonas costeiras.

    Cooperao pblico -privada . . . . . Modelo de convergncia de interesses em torno de parcerias para a gesto das zo-nas costeiras, incluindo a figura de associaes de utilizadores, assumindo a co--responsabilizao na partilha de riscos.

    Predomnio da interveno privada Modelo baseado nas concesses de gesto a entidades privadas ou empresas pblicas.

    Fonte: Estratgia Nacional para a Gesto Integrada da Zona Costeira. Avaliao Ambiental Estratgica, Dezembrode 2008.

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    Objectivos temticos

    a) Conservar e valorizar os recursos e o patrimnio natural, paisagstico e cultural

    Este objectivo visa garantir a preservao de sistemas, ecossistemas e paisagens, no s pelo seu valor intrnseco mas tambm pelo facto de viabilizarem um vasto conjunto de actividades econmicas, culturais e sociais que se de-senvolvem na zona costeira.

    O desenvolvimento ordenado e sustentvel das activi-dades que ocorrem, ou podero ocorrer nas zonas mais sensveis e com maior valor ecolgico, ambiental e pa-trimonial, nomeadamente nas abrangidas pelo Sistema Nacional de reas Classificadas (Rede Nacional de reas Protegidas, incluindo as reas marinhas protegidas, reas classificadas integradas na Rede Natura 2000 e demais reas classificadas ao abrigo de compromissos internacio-nais assumidos pelo Estado Portugus), fundamental para evitar que aquelas se degradem e que reduzam a prestao de servios ambientais. Esta opo passa necessariamente pela definio cuidada dos usos e actividades passveis de serem autorizados em funo da capacidade de carga ou da resilincia dos sistemas e ecossistemas costeiros e de uma fundamentao tcnica na explorao dos recursos numa perspectiva de compatibilizao e valorizao dos recursos e dos valores naturais e culturais identitrios da zona costeira.

    A articulao entre as dinmicas socioeconmicas e a utilizao sustentvel dos recursos, introduzindo gradu-almente o conceito de espao tampo naturalizado numa abordagem scio -ecolgica de qualificao das paisa-gens costeiras, emerge como uma opo fundamental da ENGIZC. Este objectivo est associado proteco e valorizao dos recursos hdricos no contexto da Directiva--Quadro da gua, no sentido de garantir o bom estado das guas costeiras e de transio, assim como o bom estado ambiental das guas marinhas, nos termos da Directiva--Quadro da Estratgia Marinha (Directiva n. 2008/56/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Junho, que estabelece um quadro de aco comunitria no domnio da poltica para o meio marinho), sem o qual os servios prestados pelos ecossistemas tendero a decrescer.

    Para a concretizao deste objectivo so prioritrias as seguintes medidas:

    i) Completar a constituio de uma rede coerente e integrada de reas protegidas marinhas [M_04];

    ii) Assegurar a implementao do programa de inter-veno prioritria de valorizao da zona costeira [M_05];

    iii) Promover a gesto integrada dos recursos minerais costeiros [M_06];

    iv) Proceder ao inventrio do domnio hdrico e avaliar a regularidade das situaes de ocupao do domnio pblico martimo [M_10].

    b) Antecipar, prevenir e gerir situaes de risco e de impactos de natureza ambiental, social e econmica

    As zonas costeiras, pela sua variedade e complexidade, reagem de maneiras distintas aos fenmenos extremos, se-jam eles naturais, ambientais e tecnolgicos, em funo dos vrios sistemas e ecossistemas presentes. A eroso costeira o mais documentado, desde o sculo XIX, quando o risco associado aos efeitos da eroso e do avano das guas do mar afectou reas com ocupao edificada, nomeadamente ncleos populacionais. Com a urbanizao crescente na

    zona costeira e com a subida do nvel mdio das guas domar, este fenmeno comeou a ser cada vez mais frequente,colocando em risco pessoas e bens. Estima -se que afectehoje mais de 30 % da zona costeira continental. De entre osvrios tipos de costa presentes, so as zonas de costa baixae arenosa as mais vulnerveis a este fenmeno. No pode,no entanto, deixar de se referir a instabilidade crescentedas arribas, criando situaes de elevado risco.

    A enorme vulnerabilidade da zona costeira, de equilbriofrgil e de dinmica muito complexa, e os grandes desafiosque se colocam sua gesto integrada, nomeadamente osresultantes das alteraes climticas, obrigam adopode medidas sustentveis, adaptativas, que previnam oureduzam o impacto negativo dos fenmenos naturais epromovam modelos adequados de uso dos recursos cos-teiros e de ocupao do solo, visando, ao mesmo tempo,melhorar a qualidade de vida das comunidades humanas.A promoo de estudos especficos de suporte a estasalteraes fundamental.

    Neste contexto, a assumpo de uma zona costeirasegura e pblica emerge como uma das dimenses fun-damentais da ENGIZC, a qual deve conjugar de formaharmoniosa a ocupao humana com a gesto preventivados riscos associados. A capacidade de antecipar e prevenirsituaes de risco e de acompanhar a evoluo dos fen-menos naturais tendo por base mecanismos de avaliaocontnua determinante para a persecuo de uma gestoadaptativa e prospectiva da zona costeira e suportar deci-ses como o recuo de frentes edificadas ou a interdio denovas construes em reas de risco e em reas vulnerveisou a capacidade de ajustar os usos e funes territoriaiss caractersticas evolutivas dos sistemas, ecossistemas epaisagens costeiros.

    No mbito deste objectivo devero privilegiar -se asmedidas conducentes a:

    i) Identificar e caracterizar as reas de risco e vulner-veis e tipificar mecanismos de salvaguarda [M_07];

    ii) (Re)avaliar a necessidade de intervenes pesadasde defesa costeira atravs da aplicao de modelos multi--critrios [M_08];

    iii) Incorporar nos planos de contingncia os riscosespecficos da zona costeira [M_09].

    c) Promover o desenvolvimento sustentvel de actividades geradoras de riqueza e que contribuam

    para a valorizao de recursos especficos das zona costeira

    A zona costeira concentra um conjunto de actividadeseconmicas e de emprego em diferentes sectores da econo-mia, quer directamente ligadas aos recursos do Mar, querde outros sectores cuja localizao beneficia de condiesexternas favorveis ao seu desenvolvimento.

    A presena destas actividades na zona costeira estfrequentemente na origem de impactos considerveis nosrespectivos ecossistemas, colocando em causa a sua sus-tentabilidade. Considera -se assim central, do ponto devista da presente estratgia, a compatibilizao entre ouso econmico e a salvaguarda dos valores naturais dazona costeira numa perspectiva scio -ecolgica. A con-cretizao desta compatibilizao no fcil, pelo quese privilegiam no mbito da ENGIZC opes que visam:(i) a compatibilizao das actividades com as dinmicasnaturais e sociais (comunidades locais) num quadro desustentabilidade dos usos da zona costeira (e.g. actividadesmartimo -porturias); (ii) o desenvolvimento de projectos

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    dirigidos qualificao das actividades existentes atravs da implementao de solues tecnolgicas que permitam reduzir os impactos negativos dessas actividades sobre os sistemas, ecossistemas e comunidades (e.g. indstria naval, conserveira); (iii) a instalao de actividades econmicas de forte valor acrescentado em que a proximidade ao mar constitui uma condio fundamental de desenvolvimento, que incorporem solues tecnolgicas avanadas, nomea-damente no domnio dos novos usos do mar, em condies de salvaguarda dos recursos e valores naturais e culturais existentes (e. g energias renovveis); (iv) a promoo de modelos de desenvolvimento porturio sustentvel e de transporte martimo sustentvel; (v) as iniciativas econ-micas que incorporem tecnologias com reduzido impacte ambiental e modelos sustentveis de turismo.

    Destaca -se o seguinte conjunto de medidas a privilegiar para a consecuo do presente objectivo:

    i) Clarificar os procedimentos do licenciamento das principais actividades valorizadoras de recursos especfi-cos exercidas na zona costeira [M_03];

    ii) Criar um quadro de referncia estratgico para o desenvolvimento de actividades econmicas de elevado valor acrescentado dirigidas valorizao dos recursos marinhos [M_12];

    iii) Promover a criao de condies favorveis ao aco-lhimento e ao desenvolvimento de actividades da nutica de recreio e de turismo sustentvel [M_13];

    iv) Promover publicaes tcnicas sobre as boas prticas para os usos e actividades sustentveis da zona costeira [M_14].

    d) Aprofundar o conhecimento cientfico sobre os sistemas, os ecossistemas e as paisagens costeiros

    A ENGIZC incide sobre uma extensa rea territorial, com uma enorme complexidade biofsica ao nvel dos sistemas, ecossistemas e paisagens, sobre os quais se de-ver aprofundar o conhecimento cientfico existente. De igual modo, tambm os impactes decorrentes dos usos e actividades devero ser sujeitos a um rigoroso processo de avaliao numa perspectiva interdisciplinar e segundo uma abordagem que avalie os efeitos cumulativos. Somente o conhecimento cientfico poder fornecer dados de base que suportem o processo de deciso, permitindo uma melhor gesto integrada da zona costeira.

    Neste sentido, a ENGIZC aposta num conjunto de op-es que importa destacar, nomeadamente: (i) a promoo e o incentivo da investigao que permita uma compreen-so mais rigorosa dos processos costeiros, dos sistemas e ecossistemas e das formas de ocupao do territrio cos-teiro; (ii) a promoo e avaliao cientfica dos diferentes impactos das alteraes climticas nos diversos sistemas e ecossistemas costeiros e suas aplicaes no ordenamento do territrio litoral; (iii) o desenvolvimento de tecnologias marinhas nas reas da segurana, do co