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A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM INFANTIL1
Andreza Ferreira de S. Oliveira
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José Martins de Souza3
RESUMO
A psicomotricidade torna-se um assunto muitas vezes desconhecido pelos pais e profissionais da educação. Muitos estudos são desenvolvidos acerca de sua relação com a aprendizagem, entretanto, não são divulgados nem oferecidos em forma de treinamento ou reciclagem para o profissional do ensino. Estima-se que a partir do conhecimento sobre psicomotricidade, tanto os pais saberão desenvolver e analisar o movimento corporal de seus filhos, quanto os professores, no nível de desenvolvimento corporal mais elevado da criança, saberão trabalhar com o aluno propondo exercícios satisfatórios para o processo de aprendizagem. O fato é que a ciência do movimento constitui-se uma importante ferramenta para desenvolver a capacidade postural, uma imagem mental do corpo e, por conseguinte, trabalhar o intelectual da criança, uma vez que corpo e mente são intimamente ligados no ser humano. O presente projeto visa fazer um levantamento bibliográfico sobre as fases psicomotoras procurando conceituá-las, associando-as com a aprendizagem infantil a fim de corroborar a relevância da psicomotricidade nesse processo.
PALAVRAS-CHAVE: Psicomotricidade, aprendizagem, criança.
ABSTRACT The psychomotor becomes an issue often unknown to parents and education professionals. Many studies are developed about its relationship to learning, however, are not disclosed nor offered in the form of training or retraining for professional teaching. It is estimated that from the knowledge of psychomotor, both parents will know to develop and analyze body movement of their children, the teachers, the level of development higher body of the child will know the student proposing to work with exercises suitable for the process learning. The fact is that the science of motion is an important tool is the ability to develop posture, a mental image of the body and therefore the child's intellectual work, since body and mind are closely linked in humans. This project aims to review the literature on the stage looking psychomotor conceptualize them, associating them with the children's learning in order to corroborate the relevance of psychomotor this process.
KEY-WORDS: Psychomotor, learning, child.
1 Artigo apresentado ao curso de Pós-graduação “Lato Sensu” em Gestão Escolar Orientação e Supervisão das Faculdades Integradas de Ariquemes – FIAR. 2 Psicopedagoga, Professora orientadora , docente das Faculdades Integradas de Ariquemes- FIAR
3 Pedagogo discente do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Gestão Escolar das Faculdades
Integradas de Ariquemes - FIAR
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INTRODUÇÃO
A psicomotricidade possui vários conceitos. Muitos deles até confundidos
entre as pessoas que acreditam ser apenas algo relativo ao movimento corporal. Na
realidade, o conceito de psicomotricidade vai muito além da simples movimentação
do corpo, uma vez que contribui de maneira significativa para a formação e
estruturação de todo o esquema corporal. Ela pode ser definida como a consciência
de que corpo, mente e espírito estão intimamente conectados, mediante a ação.
A afetividade e a formação de personalidade da criança também estão
associados à psicomotricidade. Algumas atividades proporcionam às crianças a
criação e a interpretação do mundo em que vivem, e exatamente por isso é sempre
aconselhável o ensino mediante atividades lúdicas, jogos para trabalhar o
desenvolvimento motor e desempenhar uma aprendizagem eficiente.
Destarte, não se pode reduzir o conceito de psicomotricidade apenas como
a movimentação para o desenvolvimento do corpo, pois ela também é responsável
pelo desenvolvimento da mente e até mesmo do comportamento da criança. Por
isso, a abordagem da psicomotricidade na aprendizagem é importante, pois ela
explica como a criança busca experiências com seu próprio corpo, seja para
movimentar-se, seja para se expressar.
As atividades recreativas, lúdicas e que respeitem o gosto da criança
proporcionam bem estar, favorecem o desenvolvimento corporal e mental, melhoram
a aptidão física, a socialização, a criatividade, dentre outros fatores importantes para
a aprendizagem. São exemplos de atividades físicas que promovem um bom
equilíbrio psicológico e emocional na criança: rolar, balançar, dar cambalhotas, se
equilibrar em um pé só, andar para os lados, equilibrar e caminhar sobre uma linha
no chão, etc.
Entretanto, nos dias de hoje, com tantos aparatos tecnológicos tais como:
jogos virtuais, internet, TV, dentre outros, vivemos situações preocupantes acerca da
promoção de atividades recreativas. Elas estão sendo substituídas por outras
atividades que não proporcionam os mesmos benefícios físicos, psicológicos e
sociais que as antigas brincadeiras. Esse é o ponto de partida para a problemática
que envolve o objeto desta pesquisa sobre a importância da psicomotricidade no
processo de aprendizagem: uma maior divulgação sobre o assunto com o intuito de
3
orientar pais e profissionais da educação no desenvolvimento emocional,
psicológico, corporal e intelectual de seus filhos e alunos.
É fato que a psicomotricidade é importante para a vida do homem, e é
exatamente por isso, que torna-se ainda mais importante procurar entender e
analisar as definições para essa ciência, a fim de ensinar como aplicá-las em
situações educacionais fundamentais. O conhecimento a respeito da
psicomotricidade para o profissional da educação é indispensável, apesar de que,
muitas vezes é ignorado, pois sua filosofia estimula traçar um perfil psicológico do
aluno.
Os jogos de quebra-cabeça, encaixes, dominó e outros, trabalham a
psicomotricidade a fim de levar a criança a conclusões lógicas. Os jogos que
exigem um pouco mais de esforço físico, como é o caso das atividades físicas,
futebol, vôlei, entre outros, levam a criança a perceber os diferentes movimentos de
seu corpo e sentir os benefícios que cada atividade pode lhe proporcionar.
Como mencionado anteriormente, a psicomotricidade está completamente
ligada com a aprendizagem. Este fato pode ser explicado usando como exemplo o
próprio desenvolvimento da criança, onde ela vai aprendendo gradativamente a se
movimentar e a ter domínio sobre seu próprio corpo. É feita então, uma análise do
desenvolvimento motor da criança que é dividida em quatro estágios. Necessário se
faz compreender esses estágios para um melhor acompanhamento desde os
primeiros dias de vida da criança até o quarto estágio, onde a criança já terá acima
de 12 anos de idade.
A psicomotricidade torna-se um assunto muitas vezes desconhecido pelos
pais e profissionais da educação. Muitos estudos são desenvolvidos acerca de sua
relação com a aprendizagem, entretanto, não são divulgados nem oferecidos em
forma de treinamento ou reciclagem para o profissional do ensino.
Estima-se que a partir do conhecimento sobre psicomotricidade, tanto os
pais saberão desenvolver e analisar o movimento corporal de seus filhos, quanto os
professores, no nível de desenvolvimento corporal mais elevado da criança, saberão
trabalhar com o aluno propondo exercícios satisfatórios para o processo de
aprendizagem. O fato é que a ciência do movimento constitui-se uma importante
ferramenta para desenvolver a capacidade postural, uma imagem mental do corpo e,
por conseguinte, trabalhar o intelectual da criança, uma vez que corpo e mente são
intimamente ligados no ser humano.
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Exatamente por isso, a justificativa dessa pesquisa funda-se em propagar o
conhecimento acerca da psicomotricidade que pode ser usada como técnica para
um bom desenvolvimento corporal e intelectual da criança, uma vez que está
relacionada com o processo de aprendizagem.
Para o desenvolvimento da presente pesquisa foi implementada a estratégia
de levantamento bibliográfico e análise dos mesmos. Foi adotado o método
expositivo argumentativo onde foram evidenciados conceitos de psicomotricidade,
aprendizagem e a relação entre eles.
Inicialmente foi feito o levantamento bibliográfico com o propósito de se
investigar as experiências acerca da psicomotricidade, conceituando-a, retratando-a
em fases, elucidando o histórico de pesquisas realizadas sobre o assunto e bem
como, abordando a própria história da ciência do movimento.
Na seqüência ao levantamento bibliográfico foi retratado como se dá o
processo de aprendizagem na criança, abordando um dos mais importantes teóricos
nessa área: Piaget, que estuda o desenvolvimento do pensamento da criança de
forma completamente independente do processo de aprendizagem. Posteriormente,
foi realizada a análise da relação entre os conceitos da psicomotricidade e o
processo de aprendizagem infantil.
Subtende-se que o profissional da área da educação ou até mesmo os pais
que possuam conhecimento sobre a psicomotricidade, saberão estimular o
desenvolvimento físico e intelectual da criança de forma contundente, tornado-a um
adulto saudável e capaz. Desta forma, torna-se imprescindível o estudo sobre o
objeto a que se destina a pesquisa em questão, que visa conceituar, explicar e
orientar sobre os fatores da psicomotricidade que auxiliam na aprendizagem da
criança.
1 A PSICOMOTRICIDADE E SUAS ATRIBUIÇÕES
A psicomotricidade pode ser definida como a ciência que estuda o homem
através de seu corpo em movimento, suas relações internas e externas. Seu estudo
está ligado a três premissas principais: o movimento, o intelecto e o afeto. Destarte,
a psicomotricidade tem fortes relações com o processo de aprendizagem. (A
PSICOMOTRICIDADE, online, 2011).
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O conceito de movimento também não pode ser reduzido apenas ao simples
ato de se movimentar sem intenção ou consciência. Nessa perspectiva, o
movimento humano é construído a partir de um objetivo, ou seja, todo movimento
está relacionado com a consciência ou o ato de pensar. Interessante é que nem
sempre nos damos conta disso, como por exemplo, quando estamos andando,
pensamos para andar, aonde ir, quais movimentos se adiante ou atrás, mas o nosso
cérebro trabalha tão rápido nessas tarefas diárias que nós nem nos damos conta de
que andamos porque pensamos. Em outras palavras, o movimento humano
constitui-se uma atitude um comportamento.
O estudo das etapas de desenvolvimento motor da criança mostra que o
movimento é uma das primeiras aprendizagens que a criança passa a ter, desde o
primeiro estágio, que vai de 0 a 6 meses de idade. Com 6 meses de idade a criança
geralmente aprende a sentar-se. A evolução dessas etapas, que são divididas em
quatro e compreendem a fase desde 0 a 8 anos de idade, torna-se relevante para os
estudos da psicomotricidade, uma vez que previne problemas da aprendizagem e
reeduca o tônus, a postura, a laterialidade e o ritmo. (BARRETO, 2000).
A aprendizagem a partir do estímulo ao movimento da criança é satisfatório,
pois trabalhando as funções motoras, perceptivas, sócio-motoras e afetivas,
possibilita a criança explorar ambientes, expressar-se com maior naturalidade,
experimentar situações concretas que desenvolvem o seu intelecto. A educação
trabalhada com as técnicas da psicomotricidade faz com que a criança seja capaz
de tomar consciência de si mesma e do mundo que a cerca.
O psicomotricista é o profissional da área do movimento e pode atuar nas
áreas da educação, consultoria, pesquisa e clínica. O trabalho desse profissional
pode ser avaliativo ou preventivo nos transtornos de integração somato-psíquica e
da retrôgenese, podendo atender público diferenciado que vai desde uma criança
em fase de desenvolvimento até a 3º idade. Seu trabalho também é focado para
portadores de necessidades especiais englobando as deficiências sensoriais,
motoras, mentais e psíquicas.
Para uma melhor compreensão das atribuições da psicomotricidade,
necessário se faz elucidar a motricidade e seu desenvolvimento. A motricidade ou a
atividade muscular possui várias fases de desenvolvimento, como, a fase do
desenvolvimento motor, a da organização psicomotora que aparece na infância e a
da estruturação da imagem do corpo que compreendem o período da pré-
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adolescência e adolescência. O estudo da motricidade é também dividido em quatro
níveis: o primeiro que corresponde a etapa do corpo submisso, o segundo,
pertinente a etapa do corpo vivido, o terceiro relativo à etapa do corpo descoberto e
o quarto que corresponde à etapa do corpo representado. Essa divisão em níveis
compreende desde a fase de movimentos involuntários do corpo dos bebês,
chegando até a fase por volta dos 5 a 6 anos, quando a criança já poderá controlar
voluntariamente seus movimentos.
Para Le Boulch (1999, p.19), a criança desenvolve uma imagem mental do
corpo, a partir da aprendizagem praxicológica, somente quando atinge a idade de 10
a 12 anos. Em outras palavras, a percepção mental do corpo da criança é
importante, pois somente através dela é que se desenvolverá a intervenção
voluntária no perfeito desenvolvimento de uma práxi. Dessa maneira, Le Boulch
(1999, p. 19) aponta uma distinção entre percepção visual do corpo e percepção
sinestésica:
Muitos autores identificam a imagem do corpo apenas a seus componentes visuais. A utilização do “teste do boneco” para descobrir o nível de estruturação do “esquema corporal” corresponde a esta hipótese. Aos dados visuais devem ser associados aos dados sinestésicos cujo o aparecimento na consciência pressupõe o jogo da função de interiorização.
Diante do exposto, a concepção do desenvolvimento motor compreende a
toda a fase de percepção em que a criança é acometida até a sua fase de pré-
adolescência quando a mesma aprende de forma completa o controle voluntário.
Ouro fato relevante a ser ressaltado sobre o desenvolvimento da motricidade
é a sua relação com o desenvolvimento das funções mentais. A partir dos 3 anos de
idade, a criança passa a ter um conhecimento mais objetivo e menos afetivo da
relação entre o mundo exterior e ela. Anterior a essa idade, que Piaget denominou
de fase da inteligência sensório-motora, torna-se praticamente impossível afirmar o
que é motor, afetivo ou intelectual. Desse modo, a motricidade passa então a
desempenhar um aspecto cognitivo.
Nessa perspectiva, uma boa concepção psicomotora e o acompanhamento
de seu desenvolvimento na criança são imprescindíveis para garantir um
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desenvolvimento harmonioso e até mesmo um bom equilíbrio emocional. Isso
explica os inúmeros estudos acerca da psicomotricidade.
1.1 A HISTÓRIA DOS ESTUDOS SOBRE PSICOMOTRICIDADE
Os estudos sobre psicomotricidade iniciaram-se no século XIX com Maine
de Biran que já defendia a teoria de colocar o movimento como um componente
essencial na estruturação psicológica do eu. Entretanto, há indícios que Aristóteles
(384-322 a.C.) já tratava sobre o dualismo corpo e alma, quando defendia que o
homem era feito de uma certa quantidade de matéria (corpo) moldada numa forma
(alma). (MELLO, 2006).
Conforme Negrine (1995, p. 33) apud Ameida e Tavares (2008, p. 07), “a
psicomotricidade tem sua origem no termo grego psyché, que significa alma, e no
verbo latino moto, que significa mover frequentemente”. Diante disso, pode-se inferir
que os indícios sobre os estudos da psicomotricidade há alguns séculos antes de
Cristo são verdadeiros. Em outras palavras, o homem sempre procurou desvendar
os mistérios de seu próprio corpo.
Mesmo que os conceitos da psicomotricidade já tenham sido difundidos há
tantos séculos, o termo psicomotricidade só foi usado pela primeira vez em 1900,
por Wernik para conceituar uma patologia denominada debilidade motora. A esse
respeito, corrobora Lussac:
Historicamente o termo „psicomotricidade‟ aparece a partir do discurso médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras (LUSSAC, 2008, p.03).
A partir destas descobertas, passam a ser observadas inúmeras disfunções
graves sem que o cérebro esteja lesionado, ou seja, foi descoberta uma série de
doenças vinculadas às atividades gestuais e atividades práxicas. Até então, os
médicos usavam o sistema “anátomo-clínico” que relacionava os sintomas do
paciente com possíveis lesões focais, entretanto, esse método já não podia explicar
alguns fenômenos patológicos. Foi então que surgiu o termo “psicomotricidade”, em
8
1870, pela necessidade de encontrar uma área que explique certos fenômenos
clínicos (SBP, 2003 apud LUSSAC, 2008, p. 03).
Posteriormente, muitos autores dedicaram-se às pesquisas sobre o
desenvolvimento motor e suas relações com o intelecto, tais como: Claparéde,
Montessori, Schilder, Gesell, Wallon, Piaget, Ajuriaguerra, dentre outros.
Nos estudos de Arnold Gessel, foram analisadas em crianças a cada ano de
idade completado por elas: as características motrizes, a conduta adaptativa, a
linguagem e a conduta pessoal- social. Já Henri Wallon trabalhou juntamente com
Piaget, grande nome da mais conceituada escola da Psicologia Genética na época.
Ambos identificaram três tipos de movimentos chamados: passivo ou exógeno,
autógeno ou ativo e deslocamento de seguimentos corporais ou das frações.
Entretanto, seu estudo mais relevante compreende a função tônica da musculatura e
sua relação com a esfera emocional (MELLO, 2006).
Piaget ficou mais interessado da sucessão de estágios que precedem o
pensamento lógico do adulto, utilizando um grande número de termos biológicos
para expor seus resultados, ganhou extrema relevância suas teorias sobre
organização, que ele define como algo necessário em qualquer ato vital, e a
adaptação que ele acredita ter duas funções: a assimilação e a acomodação.
A principal teoria de Piaget onde ele divide os estágios de desenvolvimento
em quatro períodos: o sensório-motor, o pré-operacional, operações concretas e
operações formais, estão diretamente relacionados com a psicomotricidade
(MELLO, 2006).
No período sensório-motor, as significações que permeiam o pensamento
humano estão associadas às utilidades das ações. Portanto, as significações nada
mais são que os resultados de assimilações de objetos a esquemas já formados, ou
seja, fruto de interpretações. No nível pré-operatório e ainda no período sensório
motor, o significado de um objeto constitui ao que podemos fazer com ele, pensar e
dizer sobre ele (PIAGET, 1989, p. 148 apud ROSA, 2004, p.57). Trataremos com
mais detalhes sobre os estágios de Piaget no capítulo posterior.
Conforme Costallat et al (2002, p.13), a história da psicomotricidade no
Brasil segue os passos da Escola Francesa:
Os estudos de Dupré e Charcot originados da via instinto emocional – a busca às respostas das crianças com dificuldades escolares – nortearam
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também os cientistas sul-americanos e brasileiros a encontrarem, na França, o refúgio para suas dúvidas. Era clara e nítida a influência da Escola Francesa de Psiquiatria Infantil e da Psicologia no início do século no mundo todo.
As mudanças sócio-culturais provocadas pelo pós-guerra apresentavam um
quadro de dificuldades psicocognitivas. Desta forma, surgiu a necessidade de
progredir nos estudos pertinentes à aprendizagem, focar as ciências psicológicas e
pedagógicas. Na Europa, as creches atendiam as necessidades de uma sociedade
industrial ao mesmo tempo que servia de laboratório para os pesquisadores da área
da aprendizagem. No Brasil, o processo de valorização dos estudos pedagógicos e
psicológicos ocorreu um pouco mais tarde.
De acordo com Lussac (2008), o neuropsiquiatra Dupré, em 1909, cumpre
um importante papel no campo da psicomotricidade, pois afirma a independência da
debilidade motora. Por outro lado, André Thomas e Saint-Anné Dargassie, nesse
período, iniciaram os estudos sobre o tônus axial. Posteriormente, o médico
psicólogo Henry Wallon, associa, em seus estudos, o movimento humano e a
construção do psiquismo. A teoria de Wallon foi de suma importância, pois permite
relacionar o movimento do corpo com a afetividade, a emoção, ao meio ambiente e
aos hábitos do indivíduo. Em 1935, o exame psicomotor, desenvolvido pelo
neurologista Edouard Guilmain, possibilitava desde o diagnóstico, a indicação
terapêutica e o prognóstico da debilidade motora.
Todos esses estudos contribuíram para os avanços da psicomotricidade,
bem como, a tornaram uma disciplina específica e autônoma. A partir dos anos 70,
o Brasil recebe a visita de pesquisadores estrangeiros para ministrar cursos,
palestras e formar os profissionais brasileiros. A esse respeito corrobora Lussac
(2008, p. 4):
Em 1977 é fundado o GAE, Grupo de Atividades Especializadas, que veio promover a partir de 1980 vários encontros nacionais e latino-americanos. O Primeiro Encontro nacional de Psicomotricidade foi realizado em 1979. O GAE é responsável pela parte clínica e o ISPE, Instituto Superior de Psicomotricidade e Educação, destinado à formação de profissionais em psicomotricidade, se dedica ao ensino de aplicações da psicomotricidade em áreas de saúde e educação. Em 1982, o ISPE-GAE realiza o vínculo científico-cultural com a Escola Francesa através da exclusiva Delegação Brasileira da OIPR -Organisation Internationale de Psychomotricité et de Relaxation. A SBP - Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, entidade de caráter científico-cultural sem fins lucrativos, foi fundada em 19 de abril de 1980 com o intuito de lutar pela regulamentação da profissão, unir os
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profissionais da psicomotricidade e contribuir para o progresso da ciência, promovendo congressos, encontros científicos, cursos, entre outros.
Nesse panorama, o desenvolvimento dos estudos sobre a psicomotricidade
no Brasil deslanchou-se e os avanços foram significativos, como por exemplo, o
reconhecimento da diferença entre postura reeducativa e uma terapêutica, o que
passou a valorizar mais os aspectos emocionais e afetivos para as intervenções da
psicomotricidade.
Outro teórico de imensurável importância para os estudos da
psicomotricidade foi Ajuriaguerra, que lançou sua principal obra,na década de 50,
com o título de Manuel de Psychiatre de I‟Enfant que abordava o embasamento
teórico de um curso de medicina dirigido aos estudantes e aos colaboradores da
cadeira de Psiquiatria e do Serviço Médico e Pedagógico de Genebra. Este livro é
importante pois traz diversos temas tais como: o desenvolvimento infantil segundo a
Psicologia Genética, a vida social da criança e do adolescente, os problemas gerias
do desenvolvimento, os problemas gerais da desorganização psicobiológica da
criança, a organização psicomotora e seus distúrbios, a organização e a
desorganização da linguagem na criança, a evolução e os distúrbios do
conhecimento corporal e da consciência do “eu”, as grandes síndromes: psicoses
infantis, organizações neurológicas infantis, doenças psicossomáticas, dentre outros.
Conforme Mello (2006, p. 29), justamente por tratar dessa diversidade de
assuntos relacionados ao desenvolvimento da criança, e, passados três décadas do
lançamento da primeira edição do seu Manual de Psiquiatria Infantil, Ajuriaguerra
continua sendo um dos autores mais citados nos trabalhos pertinentes ao
desenvolvimento infantil.
Outra obra que contribuiu para o início dos estudos sobre psicomotricidade
foi o Tratado de Psicologia dos autores franceses: Gratiot-Aphaderye Renné Zazzo.
A partir do lançamento desse livro, e posteriormente do manual de Avaliação
Psicológica organizado por Renné Zazzo, vários outros autores dedicaram-se aos
estudos do desenvolvimento da criança considerando o movimento.
De acordo com Costallat et al (2002, p. 14), “Jean Le Boulch, Fraisse e
Stern, se preocupavam com o ritmo tempo e espaço, noções sequer pensadas
como importantes pelos psicometristas”. Essa preocupação contribui bastante para
os estudos relativos à psicomotricidade.
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É irrefutável a influência francesa nos estudos brasileiros sobre o
desenvolvimento infantil, focando os aspectos da psicomotricidade. Nesse
panorama, é relevante apontar Antônio Branco Lefréve que organizou a primeira
escala de avaliação neuromotora para crianças brasileiras. Nesta época, é fundada
em Ibirité, Minas Gerais, o primeiro centro organizado para atendimento de
deficientes mentais, que motivou, posteriormente, a criação das APAEs, Pestalozzi,
COA, etc (COSTALLAT et al, 2002, p.15). A partir disso, muitos franceses vieram ao
Brasil ministrar cursos e palestras sobre psicomotricidade, e o nosso país não ficou
para trás no desenvolvimento dos estudos sobre o desenvolvimento infantil:
A história tomou seu rumo, e o Brasil não fugiu dele. Aberto a aprender sempre, hoje é um mercado ascendente em total ascensão, colocando alguns dos autores internacionais com obras em recorde de tiragem. O Dr. Vitor da Fonseca tem suas obras sempre esgotadas e já está em sua 10° edição em algumas delas (COSTALLAT et al, 2002, p.17).
Nesse panorama, podemos afirmar que o tema psicomotricidade evolui
consideravelmente no Brasil, tanto, que nem precisamos mais ler em francês ou
espanhol para estudar sobre o assunto.
2 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM INFANTIL
A criança começa a tomar consciência de si mesma no primeiro ano de vida.
Com o passar do tempo, ela desenvolve uma fase afetiva deixando a sua fase
passiva, e num futuro próximo, vai se tornando uma pessoa com consciência de si
que está sempre em busca de descobrir o seu “eu”. Portanto, podemos dizer que,
nós serem humanos temos uma existência repleta de fases, onde mudamos
completamente. O corpo e mente se transformam: desenvolvemo-nos fisicamente,
mudamos as atitudes, a forma de pensar, o comportamento, etc.
De acordo com Berns, (2002, p. 06), “o desenvolvimento refere-se às
mudanças progressivas ao longo do tempo”, e elas podem ser quantitativas ou
qualitativas. São quantitativas quando se referem ao crescimento físico, ou seja, de
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volume, passivo de medidas objetivas, e são qualitativos no sentido de compreensão
moral ou adaptação social. E assim, cada fase do ser humano passa à medida que
vamos desenvolvendo nossa personalidade.
A personalidade segundo A. Gesell, é o resultado de um crescimento lento e gradual, e o sistema nervoso amadurece por etapas e seqüência. A educação deve guiar e favorecer o crescimento e a adaptação da criança ao mundo em que vai viver (MUTSCHELE, 1996, p. 14).
O desenvolvimento da personalidade do indivíduo perpassa várias fases e
aspectos, dentre eles estão: a hereditariedade, o pré-natal, o nascimento, o físico, a
percepção, o comportamento, a cognição, a linguagem a emoção, o social e a
personalidade, os papéis sexuais, a moral, dentre outros. Conforme Berns (2002,
p.03), “saber como todas as crianças progridem durante as mesmas fases de
desenvolvimento é tão significativo quanto saber como os resultados das crianças
diferem”.
Sobre a heriditariedade, infere-se que assemelha os da mesma raça e da
mesma família, ou seja, as crianças normalmente se parecem com seus pais,mas
não são idênticos a eles. Portanto, temos várias teorias sobre esse aspecto do
desenvolvimento infantil.
Mutschele (1996) aponta três teorias da hereditariedade: a preformação
ocorre quando o óvulo ou espermatozóide tem um ser preformado, em miniatura; a
pangênese, que é da teoria de Darwin, ocorre quando as células sexuais contém
entidades infinitamente pequenas de cada atributo do indivíduo e a teoria de gen, do
teórico Johannsen, é o que de material de encontra nas células sexuais. Este último
é o mais relevante, pois permite as heranças de natureza físico-química ou
fisiológica.
Entretanto, acerca das características adquiridas e sua transmissão à prole,
os cientistas e biólogos ainda não chegaram num consenso, ou seja, não
encontraram explicações de como ocorre esse processo. Como exemplo, podemos
usar o filho de um professor de matemática, que, não nasce sabendo tudo sobre
matemática, mas pode desenvolver mais facilidade para aprender, ou não. Mesmo
ainda tendo dúvidas sobre características que os pais transmitem aos filhos, os
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biólogos possuem uma certeza, a herança constitucional de uma criança se fixa no
momento de sua concepção e não no nascimento. (MUTSCHELE, 1996, p. 15).
Para uma melhor compreensão acerca do processo de desenvolvimento do
ser humano que está focado em mudanças progressistas, necessário se faz
classificá-las. Desta forma, as mudanças desenvolvimentais são: ordenadas,
direcionais e estáveis. As ordenadas são denominadas assim porque ocorrem numa
seqüência, ou seja, primeiramente o bebê aprende a se sentar e somente depois
aprende ficar em pé. São chamadas mudanças direcionais aquelas que acumulam
conhecimento e aprendizagem, ou seja, cada mudança na seqüência ocorre é
construída a partir dos resultados das mudanças anteriores. Em outras palavras,
podemos exemplificar a mudança direcional através do balbucio ou choro que
antecede a fala. E já as mudanças são estáveis, pois a aprendizagem não
desaparece à curto prazo, ou seja, quem aprende andar de bicicleta não esquece
tão facilmente (BERNS, 2002, p. 06).
Muitas são as teorias que se propõe a explicar como se dá a aquisição do
conhecimento, dentre elas, temos no campo da psicologia, dois teóricos inigualáveis:
Piaget e Vygotsky. Desta forma, torna-se relevante fazer uma abordagem no
aspecto psicológico da teoria do desenvolvimento infantil, explicando suas fases
desenvolvimentais.
No capítulo anterior, mencionamos a teoria de Piaget focada nos quatro
estágios ou períodos: o sensório-motor (do nascimento até os 2 anos), o pré-
operacional (dos 2 aos 7 anos), o estágio das operações concretas (7 a 12 anos), e,
por último, o estágio das operações formais (período da adolescência, dos 12 anos
em diante). Todos esses períodos representam o desenvolvimento cognitivo como
um todo, que só é possível justamente pelo fato da criança perpassar por cada
estágio e desenvolver vagarosamente. Diante disso, infere-se que a ordem com que
a criança perpassa esses estágios é sempre a mesma, por isso, Piaget estabeleceu
uma faixa de idade para cada um.
De acordo com Palangana (2001, p. 24), o primeiro estágio denomina-se
sensório-motor pois o bebê não apresenta pensamento nem afetividade ligados a
representações, ou seja, ele ainda não consegue evocar pessoas e objetos, pois
ainda não possui consciência de si. Obviamente, à medida que a criança
desenvolve, ainda no estágio sensório-motor, essas atitudes vão se modificando e o
bebê passa a agir não apenas por instintos, e sim por emoções. Em outras
14
palavras, ao longo dos dois anos, a criança desenvolve a capacidade de diferenciar
aquilo que é dela e aquilo que é do mundo, à medida que vai adquirindo noção de
tempo, espaço, causalidade, dentre outros.
O segundo estágio pertinente a teoria de Piaget, o pré-operatório,
possivelmente o mais interessante sobre o objeto a que se destina essa pesquisa,
consiste no desenvolvimento da linguagem, do jogo simbólico, a imitação, etc.
Nesse estágio a criança não depende exclusivamente de seus instintos, sensações
e movimentos para distinguir o significante do significado. Entende-se por
significante, a imagem palavra ou símbolo que a criança associa ao significado, ou
seja, o próprio objeto ausente. Entretanto, é importante ressaltar que nessa fase, a
criança não consegue, mesmo já tendo esquemas internalizados, reverter seus
pensamentos, fato este indispensável para o desenvolvimento cognitivo. Em outras
palavras, podemos afirmar que a criança não consegue desfazer o raciocínio, ou
seja, não volta do resultado de seu pensamento ao ponto inicial. Sobre essa fase,
Palangana (2001, p. 25), afirma:
Dentre as demais características básicas que identificam a natureza do pensamento pré-operacional, pode-se destacar também a conduta egocêntrica ou autocentrada. A criança vê o mundo a partir de sua própria perspectiva e não imagina que haja outros pontos de vista possíveis. Desconhecendo a orientação dos demais, a criança não sente necessidade de justificar seu raciocínio diante de outros nem de buscar possíveis contradições em sua lógica.
Essa análise explica o comportamento das crianças na faixa etária de dois a
sete anos de idade que ficam aborrecidas quando contrariadas ou quando não
recebem algo que pediram aos pais. Desta forma, o grande passo da criança
acerca do desenvolvimento cognitivo para passar dessa fase para a próxima é
deixar de lado a necessidade insaciável de fazer seus desejos e aceitar o outro
como um ser que também possui vontades.
O próximo estágio do desenvolvimento infantil, segundo Piaget é o
operações concretas. Este estágio recebe essa denominação pelo fato de que a
criança ainda não consegue trabalhar com enunciados verbais. Em outras palavras,
a criança consegue assimilar e organizar aquilo que não está imediatamente
presente, por isso, suas ações são focadas para a realidade concreta. É importante
15
ressaltar que esse terceiro estágio compreende a faixa etária entre os sete aos doze
anos de idade.
De acordo com Piaget esse período concentra-se bastante na troca, ou seja,
a criança agora se preocupa com o pensamento alheio e, a partir disso, elabora
melhor suas idéias mediante argumentos que procuram convencer aos outros.
Desta forma, percebe-se , uma tendência para a socialização anteriormente não
vista. Sobre a fase operações concretas, corrobora Palangana (2001, p. 27):
Com o desenvolvimento da capacidade para pensar de maneira lógica – característica desse período -, a criança não apenas busca conhecer o conteúdo do pensamento alheio, mas também empenha-se em transmitir seu próprio pensamento de modo que a sua argumentação seja aceita pelas outras pessoas.
O último estágio de Piaget, o operatório formal, é a fase onde a criança
atinge seu mais alto nível de estrutura cognitiva. Esse estágio abarca crianças de
12 anos de idade acima, e caracteriza, principalmente, pelo fato de que a criança
agora consegue pensar em todas as relações possíveis de maneira lógica e buscar
soluções levando em considerações hipóteses e não apenas acontecimentos. Em
outras palavras, essa é a fase em que a criança compreende o sentido figurado das
da linguagem, como por exemplo, quando proferimos o ditado “De grão em grão a
galinha enche o papo”, a criança não vai imaginar uma galinha comendo, e sim
reconhecer a metáfora presente na frase.
Tendo em vista as fases sobre o desenvolvimento infantil apresentadas
através da teoria de Piaget, cabe ressaltar que a psicomotricidade está presente em
todas elas, uma vez que, o movimento faz parte do desenvolvimento humano. O
desenvolvimento psicomotor da criança se dá de forma natural e espontânea e
possui a finalidade de levá-la a dominar o próprio corpo e adquirir movimentos
voluntários à medida que cresce. Entretanto, em alguns casos, ou fases, conforme
apresentadas por Piaget, é imprescindível que se acompanhe e observe esse
desenvolvimento motor, para certificar-se de que a criança não apresenta
perturbação instrumental, ou seja, dificuldades ou atrasos psicomotores. Caso a
criança apresente algum quadro de dificuldade para executar um movimento que
16
seria próprio daquela fase em que se encontra, esta deverá ser encaminhada para
um profissional da área, para a reeducação dos movimentos ou até mesmo terapias.
De acordo com Almeida e Tavares (2010), dentro do contexto apresentado
acima, formula-se uma concepção: a funcional. Entende-se por funcional aquela
que busca melhorar o desenvolvimento corporal e físico da criança, por isso, é
baseada nos fundamentos psicomotores. Ela é tão importante que serve como pré-
requisito para a aprendizagem, como por exemplo, da escrita e leitura.
Esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança [...]. E esta se percebe os seres e as coisas que a cercam, em função de sua pessoa [...]. A criança se sentirá bem à medida que seu corpo lhe obedece, que o conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas também para agir. (MEUR apud ALMEIDA e TAVARES, 2010, p 08).
Diante do exposto, pode-se evidenciar o quanto é importante a observância
dos movimentos da criança para o seu desenvolvimento, pois a partir deles, ela
passa a ter consciência de si e das coisas que a cercam, e a partir disso, poderá
formar a sua personalidade. É exatamente por esse motivo que crianças que se
encontram na idade de quatro anos acima, gostam tanto de dançar, brincar, pular,
correr, enfim, movimentar-se, pois está descobrindo a sua importância sobre o
mundo que a envolve, ou, em outras palavras, formando a sua própria
personalidade.
Nesse panorama podemos afirmar que para o processo de aprendizagem
infantil não basta focar apenas o intelecto da criança, trabalhando em casa ou na
sala de aula apenas teorias, mas principalmente se faz necessário trabalhar os
movimentos corporais desta criança, através de jogos e brincadeiras, danças e
dinâmicas, que certamente auxiliará no seu desenvolvimento intelectual.
2.1 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA A APRENDIZAGEM DA
CRIANÇA
De acordo com a SBP – Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, a
psicomotricidade não é a soma da psicologia com a motricidade, ou seja, ela
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perpassa esse conceito, pois tem valor em si. A SBP é uma entidade de caráter
científico-cultural sem fins lucrativos, fundada em 19 de abril de 1980. A Sociedade
Brasileira de Psicologia possui a finalidade de unir os profissionais da
psicomotricidade para reconhecê-los como tal, contribuir para o progresso da ciência
promovendo congressos, encontros científicos, cursos, palestras etc. Desta forma, o
conceito de psicomotricidade pode ser assim evidenciado pela SBP:
Psicomotricidade é uma neurociência que transforma o pensamento em ato
motor harmônico. É a sintonia fina que coordena e organiza as ações
gerenciadas pelo cérebro e as manifesta em conhecimento e aprendizado
(SBP, 1999 apud LUSSAC, 2008, p. 05).
Nessa perspectiva, podemos estabelecer uma relação entre o ato de pensar
e o ato de movimentar-se. Relacionando ainda essa premissa com as fases de
desenvolvimento da criança, podemos apontar a relevância de observar os aspectos
psicomotores da criança no processo de aprendizagem.
Loureiro apud ISPE-GAE (2007) relaciona o desenvolvimento corporal e
mental: “a psicomotricidade é a otimização corporal dos potenciais neuro, psico-
cognitivos funcionais, sujeitos às leis de desenvolvimento e maturação manifestados
pela dimensão simbólica corporal própria, original e especial do ser humano”.
Destarte, o processo de aprendizagem da criança se dá por fazes, da mesma
maneira que se desenvolve seu corpo. Em outras palavras, corpo e mente
desenvolve-se juntos e em harmonia, um auxiliando o outro. Daí a importância de se
trabalhar na escola, com as crianças de séries iniciais, atividades que estimulem o
movimento corporal.
Conforme Fonseca apud Oliveira (2001) é necessário tomar cuidado para
não enxergar no termo psicomotricidade dois componentes distintos, o psíquico e o
motor, pois ambos tratam-se de um só. Pelo prisma de Fonseca, a
psicomotricidade visa fins educativos para o movimento do homem.
A aprendizagem é um processo complexo que depende de uma série de
habilidades e aptidões da criança. Uma dessas habilidades está calcada no
movimento, ou seja, no desenvolvimento motor. A criança quando está iniciando a
leitura e a escrita, necessita de estar preparada para receber aquele conhecimento,
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e para isso, existe o período pré-escolar que auxilia no desenvolvimento de algumas
aptidões.
Nesta fase, é importante que a criança aprenda a fazer alguns movimentos
que a auxiliarão quando tiver de ler e escrever, por isso, as atividades da pré-escola
focam a pintura, o recorte, a colagem, as brincadeiras, o parquinho, danças, jogos,
etc. O exercício de pintura por exemplo, ajuda no desenvolvimento da coordenação
motora que a criança precisará para escrever. Para uma boa aprendizagem, faz-se
então necessário desenvolver certas habilidades da criança.
O professor precisa estar atendo ao desenvolvimento psicomotor , pois ele é
responsável por boa parte do processo de aprendizagem da criança. Observar os
movimentos da criança, fazer atividades, dinâmicas que as envolvam em diversos
movimentos, propor brincadeiras que estimulem a movimentação corporal, são
fatores indispensáveis para um bom resultado educacional. De acordo com Silva e
Borges (2008, p.01):
Os principais aspectos a serem destacados são: esquema corporal, lateralidade, organização espacial e estruturação temporal. Além desses aspectos citados, é importante trabalhar as percepções e atividades pré-escritas.
Entende-se por esquema corporal a representação mental do nosso corpo à
nível cortical, ou seja, e a organização do corpo no espaço que o rodeia. As
sensações obtidas pelo próprio corpo constroem pouco a pouco o sistema corporal.
As atividades propostas para trabalhar o esquema corporal da criança precisam
fazer o reconhecimento de seu corpo como um todo e de suas partes. Um sugestão
interessante, é solicitar à criança que encontre figuras de pessoas em revistas,
recortá-las em duas partes e misturá-las, ou ainda, desenhar seu próprio retrato, ou
de seus pais.
A lateralidade ocorre quando se percebe o domínio de um lado do corpo
sobre o outro, ou seja, quando a criança utiliza mais o lado esquerdo que o direito do
corpo ou vice e versa. A criança só desperta a lateralidade por volta de 6 a 8 anos
de idade, ou seja, aproximadamente nessa idade ela se mostrará destra ou canhota.
A organização espacial consiste nas percepções do ser humano ao seu
corpo e as coisas que estão ao seu redor. Consiste na noção de perto, longe, em
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cima, em baixo, dentro fora, na frente, atrás, etc. E a estruturação temporal é a
capacidade de realizar ações a um determinado intervalo de tempo (ALVES, 2007).
É relevante apontar que a psicomotricidade reconhecem a associação de
espaço e tempo conjuntamente, ou seja, quando, no caso a criança, vai desenvolver
alguma ação ela o faz em uma sequência temporal e num determinado espaço
físico. Entretanto, existem alguns autores que estudem essas funções de maneira
distintas.
Explicitados alguns conceitos específicos da área da psicomotricidade, cabe
voltarmos para a área da aprendizagem. Destarte, a criança precisa de se
desenvolver no aspecto motor para obter um bom desempenho escolar, como
corrobora Morais apud Silva e Borges (2008, p.02):
Um esquema corporal mal construído resultará em uma criança que não coordena bem seus movimentos, veste-se ou despe-se com lentidão, as habilidades manuais lhes são difíceis, a caligrafia é feia, sua leitura é inexpressiva, não harmoniosa.
Outro ponto importante consiste aos problemas de ordem espacial que
podem surgir quando a lateralidade da criança não está bem definida. Quando isso
ocorre, a criança pode apresentar problemas sérios de aprendizagem, tais como:
dificuldades em seguir a direção gráfica da leitura e da escrita, não reconhece a
ordem de um quadro, entre outros. Tudo isso por ainda não ter domínio sobre os
termos da esquerda ou direita, ou seja, não perceber o seu lado dominante ou o
outro.
A organização espacial também é muito importante para o aspecto
aprendizagem:
Problemas na organização espacial acarretarão dificuldades em distinguir letras que se definem por pequenos detalhes, como “b” com “p”, “n” com “u”, “12” com “21” (direita e esquerda, para cima e para baixo, antes e depois), tromba constantemente nos objetos, não organiza bem seus materiais de uso pessoal nem seu caderno; não respeita margens nem escreve adequadamente sobre as linhas (SILVA; BORGES, 2008, p.02)
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A desestruturação temporal, pode refletir no fato da criança demorar muito
para fazer a tarefa por não perceber intervalos de tempo, o antes e o depois, ou
seja, não ter domínio sobre o tempo quando for realizar alguma atividade.
É importantíssimo que o profissional da área da educação tenha
conhecimento sobre essas particularidades da psicomotricidade, para poder
reconhecer na criança suas reais dificuldades e poder auxiliá-la.
Entretanto, nem sempre isso acontece. A realidade é que a maioria dos
professores de séries iniciais não possui conhecimento suficiente sobre esse
assunto, o que o faz pensar que as dificuldades existentes em sala de aula são
provenientes de outros fatores, e por isso, não conseguem auxiliar seus alunos
como deveriam.
Não podemos restringir a responsabilidade do processo de aprendizagem da
criança apenas aos profissionais da educação, uma vez que a família também é
importante nesse processo. Assim, temos outra problemática, onde a maioria dos
pais também não possui conhecimento suficiente para perceber as dificuldades
motoras que podem acarretar em dificuldades de aprendizagem na criança, e por
isso, não conseguem tomar atitudes plausíveis para ajudar seus filhos.
O ISPE – Instituto Superior de Psicomotricidade e Educação e o GAE –
Grupo de Atividades Especializadas se uniram para auxiliar, pais e profissionais da
área da educação a observarem a psicomotricidade como aspecto indispensável no
processo de aprendizagem da criança. Trata-se de uma entidade com duas frentes
de atuação distintas.
O GAE é responsável por atendimentos clínicos de bebês, crianças
adolescentes, adultos e idosos, portadores de distúrbios de aprendizagem e/ou de
desenvolvimento, déficit de atenção, hiperatividade, além de síndromes, deficiências
neonatais, (bebês prematuros de risco ou alto-risco), e sintomatologia de
envelhecimento (idosos). Já o ISPE consiste em fazer eventos que orientem
profissionais da saúde e educação acerca de aplicações da psicomotricidade.
(online, ISPE-GAE, 2006).
Cursos de curta duração e de pós-graduação a respeito da psicomotricidade
são ministrados a profissionais e estudantes. Esses cursos são reconhecidos pelo
MEC e possuem diploma licenciado pela Uniítalo (Universidade Ítalo Brasileira). O
objetivo dos cursos ministrados é formar psicomotricistas fundamentados nos
princípios e conceitos da Escola Francesa de Psicomotricidade. Iniciativas como
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essas podem auxiliar na propagação da importância da psicmotricidade para a
aprendizagem infantil, pois a partir da conscientização de pais e professores,
teremos uma realidade diferente relativa à educação infantil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo em questão mostrou que muitas dificuldades apresentadas por
crianças na escrita ou leitura podem ser reflexo de problemas relacionados a
atividades motoras. Essa tese demonstra a importância do aspecto
psicomotricidade para o processo de aprendizagem infantil.
Um dos maiores problemas acerca das dificuldades das crianças em ler e
escrever relacionados à psicomotoricidade é a falta de informação. Na realidade,
nem pais e nem professores possuem conhecimento aprofundado sobre o assunto,
quando muito, sabem apenas definir o assunto, fato este que resulta em não
identificar os reais problemas da alfabetização. Deste modo, torna-se relevante
propagar o assunto, estudar, pesquisar e analisar, para que esse não seja mais um
problema para a educação infantil.
O profissional da educação pode identificar o atraso na aprendizagem
escolar do aluno relacionando suas dificuldades motoras e assim, propor jogos, para
melhorar o desempenho na escrita das séries iniciais da alfabetização. Ele precisa
ter em mente que os exercícios psicomotores são fundamentais na aprendizagem da
escrita.
Existem pesquisas específicas sobre atividades que devem ser
desenvolvidas nas séries iniciais. Elas trabalham todos os aspectos psicomotores
que são indispensáveis para aprendizagem da escrita, tais como: esquema corporal,
lateralidade, organização espacial e estrutura temporal.
A partir do momento que o profissional da educação tenha consciência sobre
o assunto psicomotricidade, saiba reconhecer isso na criança e propor atividades
que instiguem a todos ao movimento corporal, muitos dos problemas de
alfabetização nas séries iniciais serão amenizados. Para isso é necessário incentivo
22
mediante cursos profissionalizantes, bem como, boa vontade e dedicação por parte
do professor.
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23
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Psicólogo Livraria e Editora, 2004. SILVA, A.B.; BORGES, P.F.B. A importância da Psicomotricidade na Educação Infantil. Rev. de Pedag. Perspectivas em educação. Uberaba, n° 03, ano 1, 2008.
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