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Comunicação e Cultura . 267 Z. Pinto-Coelho & J. Fidalgo (eds.) (2012) Sobre Comunicação e Cultura: I Jornadas de Doutorandos em Ciências da Comunicação e Estudos Culturais Universidade do Minho: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade ISBN 978-989-8600-05-9 A Desterritorialização dos Territórios: A Cidade Subjetiva de Félix Guattari The Deterritorialization of Territories: The Subjective City by Félix Guattari ANDREIA DA SILVA SANTOS & ROSÂNGELA QUEIROZ Faculdade de Integração do Sertão (fis), Brasil [email protected]/[email protected] Resumo: Pensar a cidade como um território estanque é não reconhecer a complexidade da mesma. Erigida sob bases concretas, em sua concepção arquitetônica, abriga além de prédios, ruas, praças, etc., pessoas que formam uma teia heterogênea. Em meio ou através das “fronteiras” devem ser considerados os seus aspectos, sociológicos, ideológicos, antropológicos entre outros. Para esta discussão foi utilizado como a obra Caosmose de Félix Guatarri (2008), mais precisamente o capítulo “Restauração da cidade subjetiva”, em que este autor sugere o resgate dessa “cidade subjetiva”, que vem sendo esvaziada. Guatarri faz críticas ao urbanismo e classifica a cidade com um “território desterritorializado”. Dentro deste contexto, utilizou-se como objeto comparativo os filmes: Metrópolis (Lang, 1927), Brazil: o filme 1984, O Declínio do Império Americano e Invasões Bárbaras, por entender que essas obras cinematográficas mantêm pontos de contato com a temática desenvolvida por Guatarri. Palavras-chave: cidade; cidade subjetiva; Félix Guattari; caosmose Abstract: To think the city as a territory tight is not recognize the complexity of it. Erected on concrete foundations, in its architectural design, houses beyond buildings, streets, squares, etc, who form a heterogeneous web. In the middle or through the "borders" should be considered its aspects, sociological, ideological, anthropological, among others. For this discussion was used the book of Félix Guattari Caosmose (2008), specifically the chapter "restore city subjective" in which the author suggests that the rescue "town subjective", which has been emptied. Guattari criticizes urbanism and ranks the city as "deterritorialized territory." within this context, it was used as a comparative object movies: Metropolis (Lang, 1927), Brazil: the movie, (Terry Gilliam, 1985), 1984 (Michael Redford, 1984), The decline of the american empire (Denis Arcarnd, 1986) and Barbarian Invasions (Denis Arcarnd, 2003), understanding that these cinematographic maintain contact points with the theme developed by Guattari. Keywords: City; subjective city; Félix Guattari; caosmose 1. Introdução “O ser humano contemporâneo é fundamentalmente desterritorializado”. Esta afirmação de Félix Guatarri (2008) é o ponto de partida para toda uma discussão que busca compreender o lugar ou os lugares do homem nesse universo citadino. Assim, será analisado ao longo deste artigo o capítulo “Restauração da cidade subjetiva”, contido na obra Caosmose (Guatarri, 2008).

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Z. Pinto-Coelho & J. Fidalgo (eds.) (2012) Sobre Comunicação e Cultura: I Jornadas de Doutorandos em Ciências da Comunicação e Estudos Culturais Universidade do Minho: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade ISBN 978-989-8600-05-9

A Desterritorialização dos Territórios: A Cidade Subjetiva de Félix Guattari

The Deterritorialization of Territories: The Subjective City by Félix Guattari

ANDREIA DA SILVA SANTOS & ROSÂNGELA QUEIROZ Faculdade de Integração do Sertão (fis), Brasil [email protected]/[email protected]

Resumo: Pensar a cidade como um território estanque é não reconhecer a complexidade da mesma. Erigida sob basesconcretas, em sua concepção arquitetônica, abriga além de prédios, ruas, praças, etc., pessoas que formamuma teia heterogênea. Em meio ou através das “fronteiras” devem ser considerados os seus aspectos,sociológicos, ideológicos, antropológicos entre outros. Para esta discussão foi utilizado como a obra Caosmosede Félix Guatarri (2008), mais precisamente o capítulo “Restauração da cidade subjetiva”, em que este autorsugere o resgate dessa “cidade subjetiva”, que vem sendo esvaziada. Guatarri faz críticas ao urbanismo eclassifica a cidade com um “território desterritorializado”. Dentro deste contexto, utilizou-se como objetocomparativo os filmes: Metrópolis (Lang, 1927), Brazil: o filme 1984, O Declínio do Império Americano eInvasões Bárbaras, por entender que essas obras cinematográficas mantêm pontos de contato com a temáticadesenvolvida por Guatarri. Palavras-chave: cidade; cidade subjetiva; Félix Guattari; caosmose Abstract: To think the city as a territory tight is not recognize the complexity of it. Erected on concrete foundations, in itsarchitectural design, houses beyond buildings, streets, squares, etc, who form a heterogeneous web. In themiddle or through the "borders" should be considered its aspects, sociological, ideological, anthropological,among others. For this discussion was used the book of Félix Guattari Caosmose (2008), specifically the chapter"restore city subjective" in which the author suggests that the rescue "town subjective", which has beenemptied. Guattari criticizes urbanism and ranks the city as "deterritorialized territory." within this context, it wasused as a comparative object movies: Metropolis (Lang, 1927), Brazil: the movie, (Terry Gilliam, 1985), 1984(Michael Redford, 1984), The decline of the american empire (Denis Arcarnd, 1986) and Barbarian Invasions(Denis Arcarnd, 2003), understanding that these cinematographic maintain contact points with the themedeveloped by Guattari. Keywords: City; subjective city; Félix Guattari; caosmose

1. Introdução

“O ser humano contemporâneo é fundamentalmente desterritorializado”. Esta afirmação de Félix Guatarri (2008) é o ponto de partida para toda uma discussão que busca compreender o lugar ou os lugares do homem nesse universo citadino. Assim, será analisado ao longo deste artigo o capítulo “Restauração da cidade subjetiva”, contido na obra Caosmose (Guatarri, 2008).

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O homem, apresentado nesta obra não pode mais ser considerado concreto ou estanque. Sobre este aspecto este autor faz um questionamento instigante: “o que significam terras natais”?

Guatarri segue afirmando que não há como os seres reestabelecerem relações com suas terras natais. A explicação está no fato dessas terras estarem perdidas. O que há de concreto sobre este aspecto é recobrar a singularidade individual e coletiva.

De acordo com as observações do autor, uma terra natal poder-se-ia inferir a localidade em que o ser humano possui suas bases, sejam elas, clãs, aldeias, corporações, ou seja, o lugar onde estavam suas “raízes”. No entanto, com a fluidez das identidades e com a identificação de certos grupos, a outros locais que não somente aqueles em que habitavam, fez com que as cidades passassem a ser esses territórios “sem território”. A esse fenômeno Guatarri atribui a denominação de “movimento de circulação”, para o autor tudo na (s) cidade (s) possui (em) uma rotatividade sejam as artes, o turismo, a comunicação, os sistemas informacionais, as bases tecnológicas. Paradoxalmente a esse modelo há uma tendência a estagnação, pois se tudo é movente tende a ficar com os mesmos parâmetros em todos os locais, é como se saíssemos de uma localidade e fossemos a outra, mas tudo está padronizado. “[...] Assim, a subjetividade se encontra ameaçada de paralisia. [...]” (Guatarri, 2008: 169).

O objectivo geral deste trabalho é analisar a “desterritorialização” da cidade através da obra de Caosmose (Guatarri, 2008), visando especificamente entender o conceito de desterritorialização, apresentar os conceitos de cidade sob a perspectiva de diversos autores e mostrar como a cidade é visualizada no cinema.

2. Fundamentação teórica

É importante, dentro deste contexto, observar algumas definições de outros autores sobre cidade para compará-las à cidade subjetiva delineada por Guatarri, para abordarmos os pontos de encontros e as diferenças.

Para Canevacci (1993), pensar a cidade é conceber o lugar do homem, um emaranhado de nós e teias significantes que formam uma grande e complexa rede; “é refletir no modo como uma determinada cidade comunica o seu estilo particular de vida, o seu ethos, o conjunto de valores, crenças, comportamentos explícitos e implícitos uma síntese de um todo complexo que é a sociedade” (Canevacci, 1993: 20).

Essa visão é da cidade como uma rede complexa que forma o tecido urbano. Coadunam com o mesmo pensamento Pelletier e Delfante, quando afirmam que a cidade é um ajuntamento de funções e que não existe nenhuma cidade que seja unicamente utilizada para habitação,

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para o setor terciário ou para o secundário. “Segundo a famosa fórmula que apesar de obsoleta não deixa de ser praticada da Carta de Atenas, as funções da cidade são a produção, o habitat, a cultura do corpo e do espírito e a circulação” (Pelletier, Delfante, 1997: 63).

Sobre este aspecto, Guatarri (2008) ressalta que o objetivo dos modernistas era o de um habitat padrão, estabelecido a partir de supostas “necessidades fundamentais”, determinadas de uma vez por todas. Penso aqui no dogma que constituiu o que se chamou de “Carta de Atenas” em 1933, representando a síntese dos trabalhos do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna).

Essa perspectiva de modernismo universalista definitivamente terminou. É apaixonante ver hoje em dia quantos jovens arquitetos se lançam, não na via decadente do pós-modernismo, mas na que denominaria a via de re-singularização. Um certo retorno da perspectiva estética, indo de encontro à funcionalidade, parece certamente salutar (Guatarri, 2008: 176).

Ferrara (1981) afirma que o contexto contribui para o significado da cidade e toda mudança do contexto implica alterações daquele significado. Assim sendo, o projeto de uma cidade supera em importância o partido das edificações que a compõem. Levar em consideração o contexto urbano supõe selecionar e relacionar, em constantes remodelações, seus elementos constitutivos a fim de permitir que o usuário urbano seja capaz de apreender a cidade como unidade, percepção global e contínua.

De acordo com Machado (2001), desde a antiguidade clássica, a cidade tem sido focalizada a partir dos diferentes pontos de vista bem como inúmeras representações. No que diz respeito a literatura, segundo a autora, esta foi uma das primeiras áreas do conhecimento a buscar respostas para questões referentes ao cotidiano dos cidadãos que residem em espaços urbanos. Na literatura grega, por exemplo, o personagem Édipo, além de narrar a desestruturação sexual de sua família, representou a doença da cidade. O drama vivido por Sófocles demonstrava a inquietação do protagonista em relação ao bem-estar dos moradores de Tebas, território este que foi afligido pela peste.

Com a Revolução Industrial os modos de vida dos habitantes da cidade modificaram-se bruscamente e o urbano foi tema recorrente dos mais diversos autores a exemplo de Charles Dickens, Victor Hugo, Vigny Zola, Balzac a Baudelaire, a cidade tem sido representada na literatura não apenas como espaço geográfico, mas como símbolo complexo e inesgotável da existência humana.

Ainda segundo Machado, desde o século XIX com o advento da Independência, vários autores brasileiros, focaram suas obras na questão da vida urbana, Machado de Assis e Lima Barreto, por exemplo, são narradores das transformações ocorridas em alguns centros urbanos.

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Segundo Furtado (2002), as cidades contemporâneas se negam por suas imagens. Não se deixam ver, não se deixam possuir. São cidades de imagens sem densidade temporal. A autora diz ainda que, com a sofisticação dos meios de reprodução, tanto na escrita quanto na imagem, a cidade começa a se povoar de signos, numa profusão de sinais e mensagens.

Para Elias (1989: 24) o desenho urbano se instaura na inter-relação significante que referente a sua organização estrutural: edifícios, praças, ruas, avenidas e todas “as espécies de opacidades e transparências que compõem a cidade”.

Guatarri (2008) afirma que os urbanistas não poderão se contentar em definir a cidade em termos de espacialidade. Esse fenômeno urbano mudou de natureza. Não é mais um problema dentre outros; é o problema número um, o problema dentre outros; é o problema das questões econômicas, sociais e culturais. A cidade produz o destino da humanidade: suas promoções, assim como suas segregações, a formação de suas elites.

3. A cidade na tela

No universo fílmico a cidade tem sido objeto de inúmeras produções, dentro deste contexto de desterritorizalização e subjetivação proposto por Guatarri, pode-se destacar algumas dessas obras.

Fritz Lang em 1927, lança o filme Metropolis, o roteiro da película é baseado no livro homônimo de Thea von Harbou, produzido em parceria com Lang. O longa- metragem se passa no século XXI em uma cidade imaginária governada por um empresário autocrata. Seus funcionários diretos são a parcela dos cidadãos que vivem de forma privilegiada, os trabalhadores, por sua vez, vivem em regime de escravidão, são dominados pelas máquinas e têm que viver no subsolo da localidade. Dentro deste ambiente inóspito, uma das moradoras, Maria, insufla os outros cidadãos a reivindicarem seus direitos.

Sobre este filme Resende (2002: 65) afirma que: “é genial, marco do expressionismo alemão, e, tecnicamente, absolutamente de vanguarda. O delírio da cidade futurista e seu espaço preenchido por premonitórios arranha-céus, com o horizonte cortado”.

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Metróplis (Fritz Lagn,1927) Fonte: http://metropolis1927.com/

Guatarri observa que as transformações tecnológicas nos obrigam a considerar simultaneamente uma tendência a homogeneização universalizante e reducionista da subjetividade e uma tendência heterogenética, quer dizer, um reforço da heterogeneidade e da singularização de seus componentes.

Em Brazil: o filme (1988), a cidade se apresenta de forma burocrata e tecnocrata e dividida em dois polos. O protagonista Sam Lowry (Jonathan Pryce) habita nessa sociedade opressiva e é uma constante em seus sonhos aparecer um paraíso, o fundo musical para estes momentos de “delírio” se dão através da música Aquarela do Brasil (Ari Barroso, 1939).

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Brazil: o filme (Terry Gillian, 1985) Fonte: http://www.sessaodameianoite.com.br/classicos-da-ficcao-cientifica/brazil-%E2%80%93-o-filme/

Guatarri ressalta que é comum tratar a máquina como um subconjunto da técnica, mas segundo o autor a problemática das técnicas é que está na dependência das questões colocadas pelas máquinas e não o inverso. “A máquina tornar-se-ia prévia à técnica ao invés de ser a expressão desta. O maquinismo é objeto de fascinação, às vezes de delírio” (Guatarri, 2008: 45).

Outro filme que também mantém essa linha da cidade dividida e vigiada é 1894 (Nineteen Eighty-Four,Inglaterra/1984) direção de Michael Radford, baseado no livro homônimo de George Orwell (1949). Uma sociedade vigiada pelo Grande Irmão (Big Brother) que se faz onipresente em espaços públicos e privados. As ações realizadas pelos habitantes da localidade são analisadas por tal entidade, para então, ser concedidas ou cerceadas.

A figura do Grande Irmão aparece em telas espalhadas pela cidade a todo instante para lembrar que o cidadão está sendo terminantemente observado, não há como fazer nenhum ato transgressor, pois o mesmo poderá ser penalizado com a temida sessão de tortura.

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1984 (Michael Radford,1984) Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/1984/trailers-e-imagens/

4. O declínio ou a falência das potências

Há dois filmes que tratam desse declínio das potências, mais especificamente da estadunidense, são eles: O declínio do império americano (1996) e As invasões bárbaras (2003), ambos do diretor Denis Arcand. Desde a primeira película o diretor sinalizava a decadência de uma cidade que iria se concretizar com a invasão de povos bárbaros, que iriam “silenciar” a potência inatingível. Metaforizando, no primeiro longa, através de diálogos voltados para a questão sexual para mostrar a perda do respeito e pudor. No segundo filme o diretor trata da decadência do sistema de saúde para marcar literalmente a morte de um povo e a inoperância dos órgãos governamentais.

[...] Na verdade, é todo um espírito de competição econômica entre as empresas e as nações que deverá ser novamente posto em questão. Existe aí um tipo de corrida de velocidade entre a consciência coletiva humana, o instinto de sobrevivência da humanidade e um horizonte de catástrofe e de fim do mundo humano dentro de alguns decênios! Perspectiva que torna nossa época ao mesmo tempo aterrorizada e apaixonante, já que os fatores éticos-políticos adquire aí uma relevância que, ao longo da história, anteriormente jamais tiverem (Guatarri, 2008: 172, 173).

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As invasões Bárbaras (Denis Arcand, 2003) Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/invasoes-barbaras/trailers-e-imagens/

Na visão deste autor não existe mais, uma capital que domine a economia mundial, mas um “arquipélago de cidades”, ou mesmo, subconjuntos de grandes cidades, interligados pela diversidade dos meios de comunicação e informação, bem como pela tecnologia. “A cidade-mundo do capitalismo contemporâneo se desterritorializou, seus diversos constituintes se espargiram sobre toda a superfície de um rizoma multipolar urbano que envolve o planeta”(Guatarri, 2008: 171).

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O declínio do império americano (Denys Arcand, 1996) Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/declinio-do-imperio-americano/trailers-e-imagens/

O drama urbanístico que se esboça no horizonte deste fim de milênio é apenas um aspecto de uma crise muito mais fundamental que envolve o próprio futuro da espécie humana deste planeta. Sem uma reorientação radical dos meios e sobretudo das finalidades da produção, é o conjunto da biosferas que ficará desequilibrado e que evoluirá para um estado de incompatibilidade total com a vida humana [...] (Guatarri 2008: 172).

Os Urbanistas não poderão se contentar em definir a cidade em termos de espacialidade. Esse fenômeno urbano mudou de natureza. Não é mais um problema dentre outros; é o problema número um, o problema dentre outros; é o problema das questões econômicas, sociais e culturais.

A cidade produz o destino da humanidade: suas promoções, assim como suas segregações, a formação de suas elites. Mas, isso, não é tarefa fácil, pois segundo Guatarri, a mundialização da divisão das forças produtivas e dos poderes capitalísticos não é absolutamente sinônimo de uma homogeneização do mercado, pois as “diferenças desiguais” não mais se localizam entre o centro e a região periférica, e sim entre “as malhas urbanas superequipadas tecnologicamente, e, sobretudo informaticamente, e imensas zonas de habitat de classes médias e de habitat subdesenvolvido” (Guatarri, 2008: 171).

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5. Considerações finais

Através da análise interpretação deste recorte da obra de Guatarri, pode-se inferir que, Guatarri (2008) ressalta que a cidade são máquinas produtoras de subjetividade individual e coletiva. O que conta, com as cidades de hoje, é menos os seus aspectos de infraestrutura, de comunicação e de serviço do que o fato de engendrarem, por meio de equipamentos materiais e imateriais, a existência humana sob todos os aspectos em que se queira considera-las. Então surge a imensa importância de uma colaboração, de uma transdisciplinaridade entre os urbanistas, os arquitetos e todas as outras disciplinas das ciências sociais, das ciências humanas, das ciências ecológicas, etc...

No que tange a desterritorialização, Guatarri vai tratar de um ponto muito importante que são as cidades-potências. Na visão deste autor não existe mais, uma capital que domine a economia mundial, mas um “arquipélago de cidades”, ou mesmo, subconjuntos de grandes cidades, interligados pela diversidade dos meios de comunicação e informação, bem como pela tecnologia.

Referências

Canevacci, M. (1993) A Cidade Polifônica., São Paulo: Editora Studio Nobel, 1993.

Duarte, F.; De Marchi, P. (2006) ‘Imagens da Cidade Tecnológica: Linguagem (ir) Realidade’ in Araújo, D. C. (2006) Imagem (ir) Realidade: Comunicação e Cibermídia, Porto Alegre: Sulina.

Elias, E. O. (1989) Escritura Urbana: Uma Invasão da Forma, Evasão do Sentido, São Paulo: Perspectiva.

Furtado, B. (2002) Imagens Eletrônicas e Paisagem Urbana: Intervenções Espaço-Temporais no Mundo da Vida Cotidiana: Comunicação e Cidade, Rio de Janeiro: Relume Dumará; Fortaleza, CE: Secretaria da Cultura e Desporto.

Machado, M. S. (2001) ‘O Imaginário Urbano’ in Bresciani, M. S. (org) (2001). Palavras da Cidade, Porto Alegre. Editora UFRGS.

Pelletier, J.; Delfante C. (1997) Cidades e Urbanismo no Mundo,Tradução Sylvie Canap. Lisboa: Instituto Piaget.

Resende, B. (2002) Apontamentos de Crítica Cultural, Rio de Janeiro, Aeroplano, Diretor: Fritz

Documentos eletrônicos

http://metropolis1927.com/ Acesso em 15 de novembro de 2011

http://www.sessaodameianoite.com.br/classicos-da-ficcao-cientifica/brazil- %E2%80%93-o-filme/ Acesso em 15 de novembro de 2011

http://www.adorocinema.com/filmes/1984/trailers-e-imagens/ Acesso em 15 de novembro de 2011

http://www.adorocinema.com/filmes/invasoes-barbaras/trailers-e-imagens/ Acesso em 10 de novembro de 2011.

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A desterritorialização dos territórios: a cidade subjectiva de Félix Guattari

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http://www.adorocinema.com/filmes/declinio-do-imperio-americano/trailers-e-imagens/ Acesso em 10 de novembro de 2011.

Filmes

1984. Direção Michael Redford. Inglaterra. 1984. 113 min. Distribuidora: Lume Filmes.

As invasões Bárbaras. Direção Denis Arcarnd. Canadá. 2003. 94 min. Distribuidora: Europa Filmes.

Brazil: o filme. Direção Terry Gilliam. Estados Unidos, 1985. 143 min. Distribuidora: Fox.

Metropolis. Direção Fritz Lang. Estados Unidos. 1927. 124 min. Distribuidora: Continental.

O declínio do império americano. Denis Arcand. Canadá. 98 min. 1986. Distribuidora: Europa Filmes.