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SANTOS FILHO, José Camilo; SÁNCHEZ GAMBOA, Silvio Ancízar. Pesquisa educacional: quantidade - qualidade. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2013. O presente livro, pertencente à coleção “Questões de Nossa Época”, colabora significativamente com o debate concernente as abordagens quantitativa e qualitativa na pesquisa educacional, uma vez que os autores tomam como ponto de partida para suas reflexões, a “denúncia do falso conflito quantidade-qualidade” (SANTOS FILHO; SÁNCHEZ GAMBOA, 2013, p. 9), sendo que este engendra a formação de dualismos, dicotomias, reducionismos e preconceitos ideológicos. Desse modo, o objetivo dos autores é arquitetar questões a serem refletidas, intentando recuperar os fundamentos lógicos e epistemológicos no âmbito da pesquisa nas ciências sociais. Para tanto, o livro é dividido em três capítulos, sendo o primeiro de autoria de José Camilo dos Santos Filho e intitulado de “Pesquisa quantitativa versus pesquisa qualitativa: o desafio paradigmático”. Neste capítulo, contendo dez seções (subtítulos), o autor supracitado tem dois objetivos fundamentais. O primeiro é analisar as dimensões históricas do desenvolvimento dos dois paradigmas: “quantitativo-realista” e “qualitativo- idealista”. Santos Filho (2013) ressalta que no cerne deste problema estão as diferenças entre duas perspectivas de mundo, no qual, hodiernamente, predominam na pesquisa, a visão realista-objetivista e a visão idealista- subjetivista. O segundo objetivo é aludir três teses sobre

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SANTOS FILHO, José Camilo; SÁNCHEZ GAMBOA, Silvio Ancízar. Pesquisa educacional: quantidade - qualidade. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2013.

O presente livro, pertencente à coleção “Questões de Nossa Época”, colabora

significativamente com o debate concernente as abordagens quantitativa e qualitativa na

pesquisa educacional, uma vez que os autores tomam como ponto de partida para suas

reflexões, a “denúncia do falso conflito quantidade-qualidade” (SANTOS FILHO;

SÁNCHEZ GAMBOA, 2013, p. 9), sendo que este engendra a formação de dualismos,

dicotomias, reducionismos e preconceitos ideológicos. Desse modo, o objetivo dos

autores é arquitetar questões a serem refletidas, intentando recuperar os fundamentos

lógicos e epistemológicos no âmbito da pesquisa nas ciências sociais.

Para tanto, o livro é dividido em três capítulos, sendo o primeiro de autoria de

José Camilo dos Santos Filho e intitulado de “Pesquisa quantitativa versus pesquisa

qualitativa: o desafio paradigmático”. Neste capítulo, contendo dez seções (subtítulos),

o autor supracitado tem dois objetivos fundamentais. O primeiro é analisar as dimensões

históricas do desenvolvimento dos dois paradigmas: “quantitativo-realista” e

“qualitativo-idealista”. Santos Filho (2013) ressalta que no cerne deste problema estão

as diferenças entre duas perspectivas de mundo, no qual, hodiernamente, predominam

na pesquisa, a visão realista-objetivista e a visão idealista-subjetivista. O segundo

objetivo é aludir três teses sobre estes dois paradigmas, sendo a tese da

incompatibilidade, a tesa da complementaridade e a tese da unidade nas ciências

humanas e da educação. Além disso, o autor ainda indica um terceiro paradigma,

inspirado na perspectiva da dialética materialista. Este paradigma, por sua vez, emerge a

partir da década de 1970, desafiando a hegemonia dos outros dois.

Referente à base histórica dos dois paradigmas em questão, Santos Filho (2013)

vai esclarecer que o paradigma “quantitativo-realista” tem sua base teórica sustentada

em Comte, Mill e Durkheim, no século XIX. Este grupo se baseou no empirismo de

Locke, Newton e Hume, defendendo a defesa da unidade das ciências, reproduzindo os

passos das ciências naturais. De modo resumido, a teoria positivista de Comte se

fundamenta na defesa da unidade de todas as ciências, na lei dos três estágios, em que o

terceiro é o positivo (conhecimento fundado na ciência e no método científico). Esta

teoria baseia-se também na hierarquia entre as ciências com base em critérios de

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abstração, de complexidade e de relevância prática. Com isso, objetos sociais deveriam

ser tratados como objetos físicos provenientes das ciências físicas.

Contribuindo com o paradigma “quantitativo-realista”, o inglês Stuart Mill vai

defender duas leis: a lei da uniformidade da natureza e a lei da causação. A contribuição

deste filósofo, para o paradigma em discussão, foi desenvolver uma série de regras

lógicas à qual podiam isolar a causa de um fenômeno ou descobrir regularidades.

Durkheim, por sua vez, vai apresentar as regras do método sociológico, no qual abarcam

os fatos sociais como coisas, o pesquisador como um cientista livre de vieses,

pressupostos e crenças do senso comum, assumindo uma postura neutra e objetiva, não

dizendo como a sociedade deveria funcionar. Portanto, defende que “a ciência se limita

ao que é e não ao que deve ser” (SANTOS FILHO, 2013, p. 21).

Santos Filho (2013) finda esta seção, sintetizando que o método científico das

ciências naturais aplicado à sociologia, à psicologia e/ou à educação, apresenta três

características básicas: primeiro, defende o dualismo epistemológico, quer dizer, a

separação radical entre o sujeito e o objeto do conhecimento; segundo, concebe a

ciência social como neutra ou livre de valores; terceiro, considera que o objetivo da

ciência social é encontrar regularidades e relações entre os fenômenos sociais.

No que concerne ao paradigma “interpretativo-idealista”, o autor supracitado vai

aludir que este surge como uma reação crítica ao pensamento positivista, na segunda

metade do século XIX, enfatizando que o positivismo esquecia a dimensão da liberdade

e da individualidade do ser humano. Entre os pensadores que contribuíram para este

paradigma, pode-se mencionar Dilthey, Rickert, Weber e Husserl. Em síntese, estes

pensadores sugeriram novas perspectivas correspondentes ao objeto das ciências

humanas, asseverando sua vinculação com subjetividades, emoções e valores e a

incoerência do distanciamento entre sujeito e objeto. Dilthey, a título de exemplo, vai

defender que o objetivo do pesquisador nas ciências sociais não é descobrir leis, pelo

contrário, é buscar depreender de modo interpretativo a mente dos participantes da

pesquisa.

Rickert, por outro lado, contribuiu significativamente para a distinção entre a

preocupação das ciências sociais e as naturais, ao alvitrar que as primeiras deviam se

focar em eventos individuais e não na busca por generalizações. Versou ainda a

propósito dos critérios para a escolha dos eventos para a pesquisa e de seus valores.

Weber, terceiro autor a ser analisado nesse grupo, determinou as ações sociais

significativas como objetos de estudo das ciências sociais. Ademais, corroborou com a

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afirmação relativa à relação íntima entre o pesquisador e o objeto de sua investigação.

Para Weber, os pesquisadores são conjuntamente sujeito e objeto de suas próprias

pesquisas. Assim sendo, ele contrapõe diretamente a visão dualista de sujeito-objeto da

ciência social positivista. Em linhas gerais, Weber trabalhou com o método

compreensivo ligado à ideia de interpretação da causalidade, a partir de um instrumento

conceitual designado tipo ideal. Este instrumento é usado para “fazer comparações com

a realidade ou para avaliar a realidade” (SANTOS FILHO, 2013, p. 34).

O autor vai mencionar que outras vertentes de crítica aos positivistas surgiram,

tais como a Fenomenologia de Husserl e a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. A

filosofia fenomenológica, a título de exemplo, é holística e vai defender a compreensão

“dos seres humanos como indivíduos em sua totalidade e em seu próprio contexto”

(SANTOS FILHO, 2013, p. 35), evitando, destarte, a fragmentação causada pelo

positivismo. A Escola de Frankfurt, por sua vez, criticou tanto os positivistas quanto a

abordagem fenomenológica. Adorno e Horkheimer denunciam o caráter alienado da

ciência e da técnica positivista, no qual seu substrato comum é a razão instrumental.

Na sexta seção (subtítulo) do primeiro capítulo, o autor explica que a partir da

década de 1970, devido às críticas ao paradigma positivista, abordagens alternativas

para as ciências humanas e da educação foram adotadas. Essa nova postura foi

engendrada em razão à publicação da obra de Thomas Khun. Assim, vários teóricos

tentaram sistematizar os paradigmas de pesquisa nas ciências sociais e da educação.

Essas classificações geraram outro debate, sendo este atinente à compatibilidade ou não

entre esses paradigmas. Em vista disso, Santos Filho (2013) expõe uma breve síntese

acerca das teses organizadas a respeito da incompatibilidade, da complementaridade e

da unidade dos diferentes paradigmas.

Conforme o autor, a “tese da diversidade incompatível” foi defendida por

autores como Kerlinger, Lincoln e Guba, Smith, dentre outros. Esta tese tem como

fundamentação, a ideia de que o realismo quantitativista e o interpretativismo idealista

são radicalmente opostos, portanto, incompatíveis. Santos Filho (2013) apresenta, de

modo bem esclarecido, as diferenças entre estas duas concepções, a partir dos seguintes

aspectos: a visão de mundo e as premissas subjacentes; as relações entre pesquisador e

objeto; entre fatos e valores; objetivo da pesquisa; abordagem; foco; método; papel do

pesquisador; e, por último, o principal critério de pesquisa.

Subsequentemente a tese referida anteriormente, o autor apresenta a “tese da

diversidade complementar”, sendo esta defendida ou convalidada por Goergen, Cambi,

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Cook e Campbell, dentre outros pesquisadores. Segundo esta tese, “a

complementaridade deve ser reconhecida tendo em vista os vários e distintos

desideratos da pesquisa educacional cujos propósitos não podem ser alcançados por um

único paradigma” (SANTOS FILHO, 2013, p. 46). Em suma, os defensores desta tese

alvitram a ‘desepistemologização’ do debate, ou ainda, que se ignore as diferenças

paradigmáticas.

Relativa à “tese da unidade”, o autor explana que esta é defendida por filósofos

pós-positivistas e teóricos críticos, tais como Howe e Walker e Evers. Estes

pesquisadores defendem um holismo epistemológico (epistemologia da coerência), no

qual sugerem que “não há um modo logicamente consistente de dividir o domínio do

conhecimento em formas de conhecimento radicalmente distintas (SANTOS FILHO,

2013, p. 49). Em linhas gerais, a “tese da unidade” rechaça a distinção entre quantidade

e qualidade, propondo que os métodos estão intimamente atrelados, com isso, podem

ser empregados pelos pesquisadores sem propenderem a uma contradição

epistemológica.

Por fim, Santos Filho (2013) finda seu capítulo afirmando que a “tese da unidade

dos paradigmas” é a mais defensável, na superação da dicotomia qualidade-quantidade

em pesquisa nas ciências humanas e da educação.

O segundo capítulo do livro, intitulado de “Tendências epistemológicas: dos

tecnicismos e outros “ismos” aos paradigmas científicos”, de autoria de Silvio Sánchez

Gamboa, está dividido em quatro seções (Introdução; Técnicas, métodos e

epistemologias; A análise paradigmática: uma proposta, algumas experiências; e,

Algumas conclusões). De modo geral, o presente capítulo versa sobre os modismos e as

controvérsias acerca dos paradigmas da pesquisa em educação. Ademais, defende que a

abordagem epistemológica aplicada na pesquisa, possibilita analisar de modo articulado

“os aspectos instrumentais relacionados com os níveis teóricos e epistemológicos e com

os pressupostos gnosiológicos e ontológicos” atinente a realidade implícita em cada

pesquisa.

Deve-se destacar que este capítulo é imprescindível para poder analisar

criteriosamente as questões pertinentes aos métodos e técnicas usados nas pesquisas,

bem como, depreender o “esquema paradigmático” como um meio de contribuir

epistemologicamente para a pesquisa.

Na seção “Técnicas, métodos e epistemologias”, o autor alude que métodos e

técnicas não estão separados. Portanto, necessita-se “remeter a questão das técnicas da

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pesquisa ao problema dos métodos” (SÁNCHEZ GAMBOA, 2013, p. 64). Nesse

contexto, para aprimorar a pesquisa é necessário enfrentar a reflexão sobre os métodos e

suas relações com as técnicas, no âmbito das epistemologias que as sustentam.

De modo resumido, o Sánchez Gamboa (2013) busca esclarecer a inerente

relação entre técnicas, métodos e epistemologias. Com isso, o autor propõe que as

técnicas estão atreladas ao método elegido, e, por sua vez, estes procedimentos se

fundamentam nas concepções de mundo, de homem, de realidade, de conhecimento.

Procurando elucidar as ‘tipificações’, em forma de paradigmas, que identificam os

modos de articulação citados anteriormente, ele indica autores como Goergen, Demo,

dentre outros, sendo estes, em especial, utilizados em pesquisas do autor.

Na seção “A análise paradigmática: uma proposta, algumas experiências”,

Sánchez Gamboa (2013) coloca em primeiro lugar, a discussão sobre as tendências

epistemológicas em que estão presentes na pesquisa. Assim sendo, o autor supracitado

propõe uma análise epistemológica, voltada para o questionamento dos fundamentos

das ciências, os procedimentos de produção do conhecimento e os parâmetros de

confiabilidade e de veracidade da pesquisa científica.

A partir disso, o autor se sustenta teoricamente por intermédio de um esquema

conceitual designado de “esquema paradigmático”. É preciso aludir que este

instrumento é uma proposta para o “estudo das articulações entre os elementos

constitutivos da pesquisa (técnicas, métodos, teorias, modelos científicos e pressupostos

filosóficos)” (SÁNCHEZ GAMBOA, 2013, p. 69).

Defendendo uma totalidade concreta na pesquisa por meio do “esquema

paradigmático”, o autor organiza os níveis de articulação da seguinte maneira: técnico-

instrumentais, metodológicos, teóricos e epistemológicos. Consequentemente,

baseando-se nos níveis mencionados, pode-se procurar os pressupostos gnosiológicos e

ontológicos.

Em linhas gerais, o esquema, apesar de suas restrições, serve como mediação

para articular os vários elementos implícitos nos textos das pesquisas e como meio de

confirmar a necessidade de localização das técnicas no interior dos métodos, superando

os “ismos”. Todavia, também é preciso analisar os fatos e as condições históricas da

produção da pesquisa, visto que, se esta análise for preterida, o trabalho epistemológico

ficaria inacabado.

Após apresentar sistematicamente seu “esquema paradigmático”, Sánchez

Gamboa (2013) utiliza suas pesquisas de mestrado em educação na UnB (Universidade

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de Brasília) e doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas),

respectivamente, como exemplo elucidativo sobre os modos como o “esquema

paradigmático” pode ser aplicado na prática. É necessário destacar que, o autor

compreende que alguns métodos que aparentemente são distintos, possuem pressupostos

epistemológicos e filosóficos comuns e que as condições históricas e de

desenvolvimento da pesquisa precisam ser levadas em consideração.

Finalizando o capítulo, Sánchez Gamboa (2013) levanta as seguintes conclusões:

primeira, os pesquisadores devem estar cientes da diversidade de paradigmas

científicos, reconhecendo a presença de critérios de ‘cientificidade’ e de

autojustificativa. Além disso, eles devem se atentar aos debates sobre a evolução das

tendências da pesquisa.

Segunda, os paradigmas científicos podem ser compreendidos como lógicas

reconstituídas que possuem pressupostos e implicações, a qual devem ser analisados

criteriosamente, recuperando suas partes constitutivas. O autor alude o “esquema

paradigmático” como um meio para realizar esta análise.

Terceira, o estudo referente aos diversos paradigmas científicos, proporciona ao

pesquisador a possibilidade de conhecer e interpretar as diferentes opções de pesquisa.

Além de auxiliar a depreender seus limites e implicações filosóficas e ideológicas.

Enfim, a quarta e última conclusão concerne aos estudos epistemológicos, em

que, segundo o autor, não podem ser exclusivamente mais uma disciplina nos currículos

universitários. Assim, é necessário exercitar a vigilância epistemológica (conceito

atribuído a Gaston Bachelard) como um modo de questionar os métodos tradicionais e

propor novas alternativas. Resumidamente, este capítulo é essencial para se refletir

sobre métodos, técnicas e epistemologias na pesquisa educacional, dando excelentes

sugestões a pesquisadores.

O terceiro capítulo do presente livro, intitulado de “Quantidade-qualidade: para

além de um dualismo técnico e uma dicotomia epistemológica”, de autoria de Silvio

Sánchez Gamboa, está subdividido em cinco seções (Introdução, As técnicas como

parte de um conjunto maior, A falsa dicotomia e o princípio do terceiro excluído, A

procura de sínteses possíveis e Conclusões). Este capítulo aborda, precisamente, a

discussão a respeito das técnicas quantitativas e qualitativas, “na preocupação de

articulá-las com outros níveis da pesquisa e inseri-las no contexto mais amplo das

opções metodológicas da investigação” (SÁNCHEZ GAMBOA, 2013, p. 87).

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Visando superar o falso dualismo técnico, o autor propõe-se a discutir três

questões: a técnica dentro dos enfoques epistemológicos da pesquisa; as dicotomias

epistemológicas que desqualificam a possibilidade de ‘terceiras opções’; e, as algumas

alternativas de sínteses quantidade-qualidade em um mesmo processo.

A primeira questão a ser debatida concerne à técnica, sendo esta concebida como

algo que por si não se torna uma alternativa para a pesquisa, portanto, as técnicas só

possuem sentido dentro de um enfoque epistemológico. Destarte, para superar o falso

dualismo quantidade-qualidade, é preciso, conforme o autor, relativizar a dimensão

técnica, incutindo-a em um todo maior que lhe dê sentido.

Sánchez Gamboa (2013) também apresenta a ideia de uma passagem do

dualismo técnico para a dicotomia epistemológica, à qual não acarretaria uma superação

dos problemas de investigação, visto que excluiria uma terceira opção. Nesse sentido, a

ênfase é na segregação das abordagens em empírico-analítico e etnográfico e

fenomenológico.

O autor supramencionado alvitra que as principais diferenças entre estes dois

enfoques se localizam nos pressupostos gnosiológicos e epistemológicos, relativos à

concepção de objeto, de sujeito e às formas ou caminhos da relação cognitiva. Ademais,

critica a redução das alternativas da pesquisa a duas abordagens epistemológicas, uma

vez que isso engendra alguns riscos, tais como, pode-se simplesmente acabar por

estabelecer tendências diferentes de ciência num mesmo campo, ou ainda, excluir as

terceiras opções.

A partir disso, Sánchez Gamboa (2013) vai se apoiar na lógica do “terceiro

excluído”. Em outras palavras, em um debate entre duas abordagens, cada um se

considera a mais válida e verdadeira, assim sendo, afirmando que a outra, por oposição,

seja falsa. Nessa perspectiva, não há chances para uma terceira opção. Tal processo

funda a dicotomia epistemológica que, seguindo a lógica citada, parece recusar a

possibilidade de outras abordagens, como o materialismo histórico.

Dessa forma, um outro problema emerge, respeitante a tentativa, dos

pesquisadores, de superação dos falsos dualismos. O autor elucida que isto tem

apresentado três reações. A primeira reação é de uma postura radical, em que qualquer

conciliação entre o quantitativo e qualitativo é ilidida. A segunda reação corresponde à

aceitação de diferentes modalidades de trabalho e de tolerância em relação à

coexistência de diferentes modelos. A terceira reação se caracteriza por uma posição em

busca de uma síntese que ultrapasse os falsos dualismos e dicotomias epistemológicas.

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Nesse contexto, o autor defende que o pesquisador necessita levar em consideração as

condições materiais, sociais e históricas que permitem o trabalho de pesquisa. Portanto,

a pesquisa é o resultado dessas condições, levando em conta que a pesquisa é um

produto social histórico.

Assim, o materialismo histórico é concebido por Sánchez Gamboa (2013) como

uma síntese possível que ultrapassa as contradições, pelas próprias características da

dialética materialista. Ademais, o autor supracitado deixa duas maneiras possíveis de se

entender a síntese, uma que objetiva a conciliação entre os enfoques qualitativo e

quantitativo (noção de equilíbrio entre as polarizações) e, uma segunda, que reconhece e

aceita a contradição em diferentes níveis do processo, visando a superação deles.

Sánchez Gamboa (2013) finda o capítulo afirmando que as propostas de síntese

não são as únicas saídas. Com isso, a experiência e a reflexão permanente é que

contribuem para a riqueza desse debate.

É necessário justificar que nos três capítulos do livro, os autores buscaram uma

superação acerca da dicotomia epistemológica entre quantidade-qualidade. Nesse

sentido, a leitura deste livro torna-se obrigatória para pesquisadores que querem superar

o dualismo técnico e a dicotomia qualidade-quantidade.