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LFG – CONSTITUCIONAL – Aula 14 – Prof. Marcelo Novelino – Intensivo I – 25/06/2009 Adquirida é a nacionalidade que a pessoa adquire, não em razão de seu nascimento mas, sim, por um ato de vontade. A primária se adquire em razão do nascimento e a secundária, em razão de ato de vontade. Quem tem a nacionalidade primária são os considerados brasileiros natos, como vimos ontem: são os nascidos no território brasileiros ou nascidos de brasileiros (a serviço do Brasil, ou registrados no Consulado ou optem pela nacionalidade brasileira quando venham a residir no Brasil). Ontem analisamos a análise da nacionalidade primária. Ficou faltando só um aspecto dessa nacionalidade que é o caso da adoção. c) Caso da adoção Vamos imaginar o seguinte: Uma criança austríaca é adotada por um casal brasileiro. Com o ato da adoção, passa a ter a nacionalidade brasileira originária, passa a ser considerada brasileira nata? Se vocês observarem a Constituição, não existe nenhuma previsão de atribuição de nacionalidade em razão da adoção. A Constituição não consagra a adoção como um critério para a aquisição da nacionalidade originária. No entanto, apesar disso, existe um dispositivo na Constituição, o art. 227, § 6º, com base no qual, alguns autores sustentam que uma pessoa, ao ser adotada, se tiver outra nacionalidade, deveria adquirir a nacionalidade brasileira originária, para que não haja diferença de tratamento entre o filho não adotado e o filho adotado. § - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Com base neste dispositivo, há autores que sustentam que a adoção seria critério de aquisição de nacionalidade originária. Então, uma criança adotada em outro país, com o ato da adoção, ela adquiriria a nacionalidade brasileira. Eu, particularmente, tenho entendimento diferente. No meu livro, eu faço uma ponderação e defendo que, neste caso, a criança não adquiriria a nacionalidade brasileira originária. Por que entendo assim? Vamos ver daqui a pouco que as diferenças entre brasileiros natos e brasileiros naturalizados só podem ser aquelas previstas no texto constitucional. Vamos ver que o texto 22

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Adquirida é a nacionalidade que a pessoa adquire, não em razão de seu nascimento mas, sim, por um ato de vontade. A primária se adquire em razão do nascimento e a secundária, em razão de ato de vontade. Quem tem a nacionalidade primária são os considerados brasileiros natos, como vimos ontem: são os nascidos no território brasileiros ou nascidos de brasileiros (a serviço do Brasil, ou registrados no Consulado ou optem pela nacionalidade brasileira quando venham a residir no Brasil). Ontem analisamos a análise da nacionalidade primária. Ficou faltando só um aspecto dessa nacionalidade que é o caso da adoção.

c) Caso da adoção

Vamos imaginar o seguinte: Uma criança austríaca é adotada por um casal brasileiro. Com o ato da adoção, passa a ter a nacionalidade brasileira originária, passa a ser considerada brasileira nata? Se vocês observarem a Constituição, não existe nenhuma previsão de atribuição de nacionalidade em razão da adoção. A Constituição não consagra a adoção como um critério para a aquisição da nacionalidade originária. No entanto, apesar disso, existe um dispositivo na Constituição, o art. 227, § 6º, com base no qual, alguns autores sustentam que uma pessoa, ao ser adotada, se tiver outra nacionalidade, deveria adquirir a nacionalidade brasileira originária, para que não haja diferença de tratamento entre o filho não adotado e o filho adotado.

§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Com base neste dispositivo, há autores que sustentam que a adoção seria critério de aquisição de nacionalidade originária. Então, uma criança adotada em outro país, com o ato da adoção, ela adquiriria a nacionalidade brasileira.

Eu, particularmente, tenho entendimento diferente. No meu livro, eu faço uma ponderação e defendo que, neste caso, a criança não adquiriria a nacionalidade brasileira originária. Por que entendo assim? Vamos ver daqui a pouco que as diferenças entre brasileiros natos e brasileiros naturalizados só podem ser aquelas previstas no texto constitucional. Vamos ver que o texto só faz quatro distinções entre o brasileiro nato e o brasileiro naturalizado. Não tem qualquer tipo de diferença com relação ao direito, salvo no que se refere à propriedade de empresa jornalística, a determinados cargos em razão da segurança nacional, assentos no Conselho da República e a hipótese de extradição (o naturalizado pode ser extraditado). Então, eu entendo que em razão da soberania nacional, da segurança nacional, que são os motivos pelos quais existe essa diferença de tratamento, acho que não se justificaria estender a uma criança adotada os direitos do brasileiro nato porque a diferença de tratamento é uma diferença muito pequena em face dos riscos à soberania nacional. Além, do fato, de não ter sido previsto. Há, então, esses dois posicionamentos e, no âmbito do direito constitucional, talvez, o tratamento majoritário seja aquele que admite a adoção como forma de aquisição de nacionalidade originária. Talvez, o melhor seja adotar esse posicionamento.

Falamos sobre a nacionalidade primária e para alguns autores até a adoção seria critério de aquisição, ao lado daqueles critérios territoriais e sanguíneos. Vamos falar agora da nacionalidade secundária.

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2.2. NACIONALIDADE SECUNDÁRIA

Nacionalidade primária diz respeito aos brasileiros natos. Nacionalidade secundária aos brasileiros naturalizados. Como se adquire a nacionalidade secundária, que é aquela que se adquire através de um ato de vontade e não pelo nascimento?

As Constituições, geralmente prevêem duas formas de aquisição da chamada nacionalidade secundária:

Nacionalização tácita ou grande naturalização. Nacionalização expressa

a) Nacionalização TÁCITA

A nacionalização tácita, geralmente, é adotada por países que estão em formação, em que o território é muito grande e o povo é pequeno. E adotada por países que estão em povoação, que querem, pois, povoar o seu território. Aqui no Brasil, por exemplo, nós tivemos duas Constituições que adotavam a naturalização tácita: A de 1824 (Constituição Imperial) e a de 1891 (Primeira Constituição republicana).

Como funciona a naturalização tácita? A pessoa não precisa, expressamente, manifestar o seu desejo de adquirir a nacionalidade brasileira. Se o estrangeiro estiver no Brasil e não se manifestar pela manutenção da nacionalidade, automaticamente, adquire a nacionalidade brasileira.

“Para a naturalização tácita, basta que a pessoa não se manifeste pela manutenção da nacionalidade.”

Então, a Constituição de 1824 tinha um dispositivo que assim dizia: “Serão considerados brasileiros naturalizados todos os portugueses que aqui residem e que não optem pela manutenção da nacionalidade portuguesa.” É mais ou menos como no caso da doação de órgãos. Quem não se manifesta em sentido contrário, é doador. Apenas essas duas constituições adotaram a naturalização tácita no Brasil. A Constituição de 1988 não faz isso.

b) Nacionalização EXPRESSA

A Constituição de 1988 só adota a naturalização expressa em duas situações. Há duas hipóteses de aquisição de nacionalidade secundária.

Naturalização expressa ordinária Naturalização expressa extraordinária

A naturalização está prevista na Constituição, no art. 12, II. A ordinária está prevista na alínea 'a' e a extraordinária na alínea 'b'.

NATURALIZAÇÃO EXPRESSA ORDINÁRIA

A naturalização ordinária pode se dar de duas maneiras:

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Caso de estrangeiros em geral – Estatuto do Estrangeiro

Ela pode ocorrer na forma da lei, e a lei que regulamenta a aquisição de nacionalidade ordinária é o Estatuto do Estrangeiro. É o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80) que regulamenta a aquisição de nacionalidade secundária no Brasil. São basicamente dois dispositivos previstos na lei que consagram a naturalização ordinária: Art. 112 e o art. 115, § 2º. Vocês vão observar, quando forem estudar a lei, que o art. 112 traz os requisitos regulares para que uma pessoa possa adquirir a nacionalidade brasileira ordinária: como fonte de renda, boa saúde, saber se expressar na língua portuguesa.

Art. 112. São condições para a concessão da naturalização: I - capacidade civil, segundo a lei brasileira;II - ser registrado como permanente no Brasil;III - residência contínua no território nacional, pelo prazo

mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização;

IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando;

V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família;

VI - bom procedimento;VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no

Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e

VIII - boa saúde.

§ 1º não se exigirá a prova de boa saúde a nenhum estrangeiro que residir no País há mais de dois anos.

§ 2º verificada, a qualquer tempo, a falsidade ideológica ou material de qualquer dos requisitos exigidos neste artigo ou nos arts. 113 e 114 desta Lei, será declarado nulo o ato de naturalização sem prejuízo da ação penal cabível pela infração cometida.

§ 3º A declaração de nulidade a que se refere o parágrafo anterior processar-se-á administrativamente, no Ministério da Justiça, de ofício ou mediante representação fundamentada, concedido ao naturalizado, para defesa, o prazo de quinze dias, contados da notificação.

O art. 115 traz duas situações especiais, uma de ratificação precoce (tem que vir para o Brasil até uma certa idade) e a outra que implica na conclusão de curso superior em universidade brasileira.

Art. 115, § 2º. Exigir-se-á a apresentação apenas de documento de identidade para estrangeiro, atestado policial de residência contínua no Brasil e atestado policial de antecedentes, passado pelo serviço competente do lugar de residência no Brasil, quando se tratar de:

I - estrangeiro admitido no Brasil até a idade de 5 (cinco) anos, radicado definitivamente no território nacional, desde que requeira a naturalização até 2 (dois) anos após atingir a maioridade;

II - estrangeiro que tenha vindo residir no Brasil antes de atingida a maioridade e haja feito curso superior em estabelecimento nacional de ensino, se requerida a naturalização até 1 (um) ano depois da formatura.

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Países de Língua Portuguesa – Constituição

Além dessas hipóteses, existe uma outra forma de aquisição de nacionalidade brasileira secundária, que é para os originários de países de língua portuguesa. Não é apenas para o os portugueses, mas para os originários dos países de língua portuguesa. Quais são os requisitos para que um país de língua brasileira adquira a nacionalidade brasileira? São requisitos previstos na Constituição. São dois requisitos:

1 ano de residência ininterrupta Idoneidade moral

Art. 12 - São brasileiros: II – naturalizados (nacionalidade secundária): a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

A primeira questão teórica a respeito deste dispositivo é a seguinte: neste caso, se o estrangeiro, atendendo aos requisitos da lei ou, se for originário de país de língua portuguesa, atender aos dois requisitos da Constituição, existe direito público subjetivo à aquisição da nacionalidade brasileira? É ato discricionário ou vinculado? Nesta hipótese da naturalização ordinária é um ato discricionário, ou seja, não há direito público subjetivo à aquisição em razão da soberania nacional. Mesmo que a pessoa atenda aos requisitos, o Estado pode negar a nacionalidade. Se o Estado brasileiro não quiser, não é obrigado a conceder porque é ato discricionário de soberania nacional.

NATURALIZAÇÃO EXPRESSA EXTRAORDINÁRIA OU QUINZENÁRIA

É chamada de quinzenária porque exige quinze anos de residência ininterrupta. É claro que a pessoa pode ter viajado dentro desses quinze anos. Além disso, a Constituição exige ausência de condenação penal (aqui é critério objetivo, não é idoneidade moral, como lá em cima) e, além disso, exige ainda que ela faça o requerimento. Se não fizer isso, não adquire automaticamente. Vamos imaginar um estrangeiro que tenha quinze anos de residência ininterrupta, não tenha condenação penal e faça o requerimento. Neste caso, ele tem direito público subjetivo à aquisição da nacionalidade.

Segundo o STF, no caso da naturalização expressa extraordinária, há o direito público subjetivo à aquisição da nacionalidade. Ou seja, trata-se de um ato vinculado e não discricionário.

Mas por que essa diferença de tratamento? Por que no caso da alínea “a”, a pessoa não tem direito público subjetivo à naturalização e, no caso da alínea “b”, há o direito público subjetivo à naturalização? Observem a redação do dispositivo para entender a razão:

Art. 12 - São brasileiros: II – naturalizados (nacionalidade secundária): b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

Segundo o Supremo, quando a Constituição diz 'desde que requeiram', ela está dizendo que, se o estrangeiro atender os requisitos previstos ali, basta ele requerer, que ele tem direito

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público subjetivo, em razão dessa expressão: 'desde que requeiram'. Por isso o STF entende que é um ato vinculado.

3. QUASE-NACIONALIDADE

Está prevista no art. 12, § 1º, da Constituição. Por que se chama quase-nacionalidade? A Constituição, neste dispositivo, não atribui a nacionalidade brasileira aos portugueses. Apenas equipara os portugueses aos brasileiros. É um tratamento dado apenas aos portugueses, não se aplica aos nacionais dos outros países de língua portuguesa. A quase-nacionalidade só se aplica aos portugueses e só irá ocorrer se houver reciprocidade por parte de Portugal. Então, os mesmos direitos que Portugal atribuir aos brasileiros que lá residem, o brasil vai atribuir aos portugueses que aqui residem.

O tratamento que vai ser dado ao Português é o mesmo tratamento do brasileiro nato ou do brasileiro naturalizado? Eu já vi alguns autores confundindo essa questão que a mim parece bastante clara:

§ 1º - Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor dos brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

Então, não é qualquer português (veio aqui passear). Ele tem que ter residência permanente no País. A Constituição não fala se é o brasileiro nato ou o naturalizado, mas diz “salvo os casos previstos nessa Constituição”. Quando ela fala isso, a meu ver, está dizendo claramente: o português não terá aqueles direitos previstos no texto constitucional. Ele terá os mesmos direitos do brasileiro nato, exceto aqueles que a Constituição diferencia. Se é assim, ele terá, na verdade, os direitos do brasileiro naturalizado. Então, na verdade, o português é equiparado ao brasileiro naturalizado. Este tipo de afirmativa pode causar dúvidas.

Pergunta de prova: “O português tem todos os direitos do brasileiro nato salvo os casos previstos nesta Constituição.” Certo ou errado? Certo. Isso significa que ele terá os direitos do brasileiro naturalizado porque a ressalva diz respeito, justamente, ao brasileiro naturalizado.

“O português tem os mesmos direitos do brasileiro nato, salvo os casos previstos na Constituição.”

Quando eu digo isso, é o mesmo que dizer que o português tem os mesmos direitos do brasileiro naturalizado. Se eu disser: “O português tem os mesmos direitos do brasileiro nato.” Está certa esta afirmativa? Não. Isso eu não posso dizer em razão das ressalvas previstas na Constituição.

Agora vamos tratar deum outro tema de extrema importância no estudo do direito da nacionalidade.

4. DIFERENÇAS DE TRATAMENTO ENTRE O BRASILEIRO NATO E O NATURALIZADO

Direito de nacionalidade é um tema muito cobrado em provas de magistratura federal.

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Uma lei infraconstitucional pode estabelecer diferenças entre brasilieros natos e naturalizados, ou somente a Constituição poderia fazer isso? Existe uma ressalva expressa no art. 12, § 2º, que diz que a lei não pode estabelecer qualquer tipo de diferença. A Constituição é taxativa ao dizer que somente ela pode estabelecer diferença de tratamento.

§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

Então, apenas a constituição irá estabelecer quais são as diferenças de tratamento, que podem até ser reguladas por lei. Mas as hipóteses de diferença, só aquelas previstas na Constituição. E são quatro:

4.1. 1ª diferença de tratamento: com relação à segurança nacional e à linha sucessória do Presidente da República

Questão de segurança nacional: Alguns cargos são privativos de brasileiros natos: art. 12, § 3º. Há alguns cargos que por questão de segurança nacional (esse é o critério utilizado), são privativos de brasileiros natos. Os naturalizados não podem ocupar. Quais são esses cargos, privativos de brasileiros natos por questões de segurança nacional?

a) Diplomatas.b) Oficiais das Forças Armadas.c) Ministros de Estado da Defesa.

Linha Sucessória do Presidente da República: O segundo critério é a linha sucessória do presidente da República. Todos os que possam chegar ao cargo de Presidente podem ser brasileiros naturalizados. E qual é a linha sucessória do Presidente da República?

d) Presidentee) Vice-Presidentef) Presidente da Câmara dos Deputadosg) Presidente do Senado Federalh) Ministros do STF

Por que o Presidente da Câmara vem antes? Porque a Câmara é composta por representantes do povo e o Senado, por representantes dos Estados. Primeiro, vem o representante do povo. Se o Presidente do Senado faltar, quem assume é o Presidente do STF. E como os Ministros do Supremo se revesam na presidência do tribunal, nenhum pode ser naturalizado. Assim, todos os Ministros do STF, não apenas o Presidente, em razão deste rodízio, têm que ser brasileiros natos.

Se for Ministro do STJ, pode ser brasileiro naturalizado? Nós temos no STJ um brasileiro naturalizado: Felix Fischer. Então, do STJ ou de qualquer outro tribunal, que não o STF, não há o menor problema em ter brasileiro naturalizado.

Art. 12, § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:

I - de Presidente e Vice-Presidente da República;

II - de Presidente da Câmara dos Deputados;

III - de Presidente do Senado Federal;

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IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

V - da carreira diplomática;

VI - de oficial das Forças Armadas;

VII - de Ministro de Estado da Defesa.

4.2. 2ª diferença de tratamento: com relação aos assentos do Conselho da República

A segunda diferença é com relação aos assentos do Conselho da República. A Constituição brasileira reserva 6 assentos no Conselho da República, que é o órgão auxiliar da Presidência da República em momentos de crise institucional. O Presidente pode, nesses momentos, convocar o Conselho da República para auxiliá-lo a decidir. Esses seis membros têm que ser brasileiros natos. Isso está previsto no art. 89, VII, da CF:

Art. 89 - O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam: VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.

4.3. 3ª diferença de tratamento: com relação à propriedade de empresa jornalística

Propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens só pode ser privativa de brasileiro nato ou naturalizado há mais de dez anos. Art. 222, da CF:

Art. 222 - A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. (Alterado pela EC-000.036-2002)

Esse “há mais de dez anos” tem um motivo. Tem uma determinada pessoa que, na época era proprietária de uma empresa jornalística de um grupo editorial e para que essa pessoa pudesse ser proprietária, eles fizeram essa ressalva.

4.4. 4ª diferença de tratamento: com relação à EXTRADIÇÃO

A quarta e última diferença e, talvez a mais importante, com mais detalhes a analisar é aquela com relação à extradição. Existe uma diferença de tratamento com relação à extradição prevista no art. 5º, LI. De acordo com esse dispositivo, o brasileiro nato não pode ser extraditado em hipótese alguma. A Constituição não admite em nenhuma hipótese, nem se esse brasileiro for também nacional de outro país.

Imaginemos um brasileiro nato que também é italiano nato. Este italiano comete um crime na Itália e foge para o Brasil. O Governo italiano pede a sua extradição. Neste caso, não pode haver a extradição, mesmo que tenha dupla nacionalidade.

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Para o brasileiro naturalizado, a Constituição faz duas ressalvas à regra de que brasileiro naturalizado também não pode ser extraditado. Ele poderá ser extraditado em duas situações:

a) Se tiver praticado um crime comum antes da naturalização. Neste caso, para evitar que uma pessoa adquira a nacionalidade apenas como forma de não ser extraditado, se praticou antes, poderá ser extraditado.

b) Se for comprovada a participação em tráfico ilícito de entorpecentes ou drogas afins. Neste caso, a Constituição permite a extradição independentemente de o crime ter sido praticado antes ou depois da naturalização. Se ele tiver participação nesse tipo de crime, mesmo depois da naturalização, a Constituição permite a extradição.

Quando a Constituição fala em crime comum, ela diz que se ele praticar crime político ou de opinião, não poderá ser extraditado. Existe ressalva do art. 5º, LII. Então, quando a Constituição fala em crime comum, significa dizer que se for crime político ou de opinião, não poderá ser extraditado. Para evitar perseguições políticas, a maioria das Constituições contemporâneas consagra essa ressalva. E é essa a discussão que está ocorrendo no Supremo com relação a Cesare Batisti, se seria crime de opinião ou não, se seria crime político ou não.

Imagine uma hipótese na qual há uma conexão entre o crime comum e o crime político ou de opinião, em que haja uma contaminação de um pelo outro (o Supremo usa essa expressão, ‘contaminação’). A pessoa praticou tanto o crime comum quanto o crime político ou de opinião. A pessoa pode ser extraditada nesse caso? Se houver esse entrelaçamento? O estatuto do estrangeiro diz que se o crime principal for o comum, é possível a extradição. Contudo, o STF tem decisões, posteriores à Constituição de 1988, nas quais ele não admite extradição neste caso. O estatuto do estrangeiro não teria sido recepcionado neste ponto. O STF não admite a extradição neste caso. Então, cuidado porque apesar de o Estatuto do Estrangeiro permitir, o Supremo não admite a extradição.

Art. 5º. LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

O inciso LII se refere, não só ao naturalizado, mas também a qualquer estrangeiro:

Art. 5º. LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

Estes são os dispositivos constitucionais. Agora veremos as diferenças em linhas gerais e a extradição, a deportação e a expulsão.

Diferenças entre EXTRADIÇÃO, DEPORTAÇÃO, EXPULSÃO E ENTREGA OU SURRENDER

Extradição – “Ocorre quando a pessoa pratica um crime em outro Estado.” Caso do Jesse James que foge para o Brasil e engravida uma brasileira. Neste caso, ele praticou um crime nos EUA e veio para o Brasil. Os EUA podem pedir a extradição.

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Deportação – “É a devolução compulsória de um estrangeiro que tenha entrado ou esteja de forma irregular no território nacional.” Aqui, a situação é diferente. Ele não praticou nenhum ilícito em outro Estado. Ele entrou no Brasil irregularmente ou permanece no Brasil de forma irregular. Ele vai ser deportado: ou para o país de onde veio, ou para o país de origem, ou para qualquer outro país que consinta em recebê-lo. Esta hipótese está prevista na Lei 6.815/80, nos arts. 57 e 58. Esse foi o argumento que o Brasil usou no caso da deportação dos cubanos no Panamericano. E eu acho que não merece nem comentário.

Art. 57. Nos casos de entrada ou estada irregular de estrangeiro, se este não se retirar voluntariamente do território nacional no prazo fixado em Regulamento, será promovida sua deportação.

§ 1º Será igualmente deportado o estrangeiro que infringir o disposto nos artigos 21, § 2º, 24, 37, § 2º, 98 a 101, §§ 1º ou 2º do artigo 104 ou artigo 105.

§ 2º Desde que conveniente aos interesses nacionais, a deportação far-se-á independentemente da fixação do prazo de que trata o caput deste artigo.

Art. 58. A deportação consistirá na saída compulsória do estrangeiro.

Parágrafo único. A deportação far-se-á para o país da nacionalidade ou de procedência do estrangeiro, ou para outro que consinta em recebê-lo.

Expulsão – “Consiste na retirada à força, de território brasileiro, de um estrangeiro que tenha praticado atos tipificados no art. 65, da Lei 6.815/80.” Vejam a diferença: No caso da deportação, ele não praticou, a princípio, nenhum ato nocivo ao Brasil. Só que está de forma irregular no País ou entrou irregularmente. No caso da expulsão, ele pode até estar no Brasil de forma regular, só que praticou ato nocivo aos interesses nacionais. Por isso, ele será expulso.

Art. 65. É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranqüilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.

Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estrangeiro que:

a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil;

b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação;

c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou

d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro.

Entrega ou Surrender – “Consiste na entrega de um nacional a um tribunal internacional do qual o próprio país faz parte.” Esta é a hipótese do Tribunal Penal Internacional de Roma. Quando o Brasil assinou o Tratado de Roma, muitos questionaram (e ainda questionam) se isso não seria incompatível com esse dispositivo que veda a extradição de brasileiro nato. O brasileiro nato, se não fosse julgado aqui de forma satisfatória, poderia ser submetido a esse tribunal penal internacional? A hipótese de entrega é diferente da hipótese de extradição. Por que? Na extradição, estou submetendo um brasileiro à jurisdição de outro país para ser julgado perante as leis desse outro país, leis para as quais ele não deu o consentimento

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dele. No surrender, é diferente. Eu não estou entregando meu nacional a um outro Estado, mas a um tribunal penal internacional, a uma jurisdição internacional, do qual nosso País faz parte. Ele deu sua aquiescência com as normas do tratado, que criou o tribunal. Nesse caso, não há impedimento de que o brasileiro nato seja julgado por esse tribunal. Não obstante, alguns autores entendem que isso seria extradição. Mas a doutrina majoritária não entende assim.

Por que eu fiz a distinção entre essas quatro hipóteses? Vejam a importância de se saber a diferença entre isso:

Um estrangeiro, casado com uma brasileira ou que tenha filho brasileiro, que dependa do sustento dele, pode ser extraditado? É o caso do Jessé James. Ele não era casado, mas engravidou uma moça. Ele poderia ser extraditado? Cuidado para não confundir porque o Supremo tem duas súmulas que tratam de situações distintas. Súmula nº 01, que não se refere à extradição, mas à expulsão de estrangeiro. A Súmula 421 é específica para extradição.

EXPULSÃO - STF Súmula nº 1 - 13/12/1963 - Edição: Imprensa Nacional, 1964, p. 33. Expulsão de Estrangeiro Casado com Brasileira ou Tenha Filho Brasileiro - Dependentes    É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente da economia paterna.

EXTRADIÇÃO - STF Súmula nº 421 - DJ de 8/7/1964, p. 2239. Impedimento - Extradição - Circunstância - Extraditado Casado com Brasileira ou Ter Filho Brasileiro    Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

No caso da extradição, mesmo que seja casado com brasileiro ou tenha filho brasileiro, não impede que seja extraditado.

E no caso da deportação? Não tem súmula. Ele pode ou não pode? A deportação está mais próxima da expulsão ou da extradição? A deportação está mais próxima da expulsão. Ele não praticou crime. Está de forma irregular. Então, no caso da deportação, aplica-se o mesmo entendimento da Súmula n.º 01, que trata da expulsão. No caso de estrangeiro casado com brasileira, que tenha filho que dependa da sua economia, não pode ser expulso nem deportado.

Princípios específicos aplicáveis à EXTRADIÇÃO

São princípios formulados ou pela Lei 8.515/80 ou pela jurisprudência do STF:

a) Princípio da especialidade – “O estrangeiro só pode ser julgado pelo Estado requerente pelo crime que foi objeto do pedido de extradição.”

Se o Estado estrangeiro requereu a extradição de seu nacional para julgá-lo, por exemplo, por crime de estelionato, ele só poderá ser julgado naquele país em razão desse crime de estelionato. Nada impede, contudo, que haja um pedido de extensão. Mas, tem que haver pedido específico. Já houve um caso como esse: A China pediu a extradição por um determinado crime e depois julgou por outros também. Neste caso, o Estado brasileiro não tem como intervir dentro desse julgamento. Mas isso cria um problema de ordem internacional entre os dois países. O Brasil não tem como fazer nada em relação àquela pessoa que foi julgada por outros crimes que estavam fora do pedido de extradição.

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b) Princípio da dupla punibilidade – “O fato praticado tem que ser punível tanto no Estado requerente, quanto no Estado requerido .”

Não é o princípio da dupla tipicidade, mas da dupla punibilidade. Uma pessoa só pode ser extraditada pelo Estado brasileiro se o ato praticado por ela for punível de acordo com as leis brasileiras e de acordo com as leis do Estado que requereu a extradição. Vamos imaginar uma hipótese que um fato seja punível no Brasil e na Itália, só que segundo as leis brasileiras, já havia ocorrido a prescrição e a pessoa não poderia mais ser condenada. Se já ocorreu a extinção da punibilidade, se o crime já prescreveu, não há dupla punibilidade. Ele não pode ser extraditado. Então, o crime tem que ser punível. Se já houve a extinção da punibilidade, não pode haver extradição.

c) Princípio da retroatividade dos tratados – “O fato de um tratado ter sido celebrado após a prática do crime, não impede a extradição.”

Exemplo do Ronald Biggs, assaltante do Trem Pagador que fugiu da Inglaterra e veio

para o Brasil. Na época, o Brasil não tinha tratado de extradição com a Inglaterra, então, ele não poderia ser extraditado. No entanto, mesmo que na época em que o crime ocorreu não houvesse esse tratado, nada impede que o Brasil posteriormente á ocorrência daquele crime, celebrasse um tratado com a Inglaterra e extraditasse o Ronald Biggs. Desde que o crime fosse punível porque se já tivesse ocorrido a prescrição de acordo com a lei brasileira ou com a lei inglesa, ele não poderia ser extraditado.

O dispositivo constitucional que diz “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”, não se aplica a essa hipótese porque o tratado não é lei penal. Neste caso, pode o tratado retroagir, segundo o entendimento do STF.

d) Princípio da comutação da pena (direitos humanos) – “Se o crime for apenado no Estado requerente com alguma das penas vedadas pela Constituição, a extradição não será autorizada, salvo se houver a comutação da pena.”

Se o crime for punível por qualquer daquelas penas previstas na Constituição e que não podem ser aplicadas no Brasil (art. 5º, LXVII: morte, salvo guerra declarada; banimento, cruel, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados).

O Estado Chinês prevê para determinado crime, a prisão perpétua. Para o Brasil autorizar essa extradição, é necessário que o Estado chinês se comprometa a comutar aquela pena de caráter perpétuo por uma pena privativa de liberdade por, no máximo, trinta anos. Se ele não fizer essa comutação, o Brasil não autoriza a extradição. O mesmo ocorre se a pena for de morte. O Estado brasileiro só admitirá a extradição, se o país requerente aceitar comutar aquela pena por privativa de liberdade por, no máximo, trinta anos. O entendimento majoritário é esse. Não é unânime. Tem alguns ministros que discordam desse entendimento, acham que seria uma interferência indevida na soberania de outros Estados, mas o majoritário é de que o Estado tem que se comprometer a comutar a pena. O argumento que a maioria dos Ministros utiliza é o de que há uma superioridade hierárquica da Constituição em relação aos tratados e em relação ao Estatuto do Estrangeiro. Por isso, não deveria ser aceita a extradição nesse caso.

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5. PERDA DA NACIONALIDADE

A Constituição prevê duas hipóteses de perda da nacionalidade: O inciso I, do § 4º, do art. 12, trata de uma hipótese que se aplica apenas aos brasileiros naturalizados. Já a hipótese do inciso II, se aplica tanto aos naturalizados, como aos natos.

Na primeira hipótese, se a pessoa perder a nacionalidade brasileira, não tem como recuperar. Perdida uma vez, não tem mais como retomar a nacionalidade. A única possibilidade é se a sentença que decretou a perda for rescindida por ação rescisória. Tirando a hipótese de rescisória, não há como readquirir a nacionalidade brasileira.

Já no segundo caso, não. A pessoa perde a nacionalidade, mas existe a possibilidade de ela readquirir. E aí surge uma questão interessante: Vamos imaginar que um brasileiro nato, adquira a nacionalidade em outro país e perca a nacionalidade brasileira. Posteriormente, ele resolve readquirir. Se ele faz isso, será brasileiro nato ou brasileiro naturalizado?

José Afonso da Silva entende que se era nato, ao readquirir, volta a se um brasileiro nato. No entanto, esse entendimento não é o mais correto e nem o majoritário. Por que não me parece correto? Vimos que há duas espécies de nacionalidade: a adquirida com o nascimento e a outra, com ato de vontade. Se um brasileiro nato adquire a nacionalidade do outro país, ele deixa de ser brasileiro nato e passa a ser qualquer outra coisa (alemão, espanhol), menos brasileiro. Para readquirir a nacionalidade brasileira, ele tem que, por um ato de vontade, requere-la novamente. Neste caso, a nacionalidade não ocorre pelo nascimento, mas decorre de um ato de vontade. Se é assim, não é uma nacionalidade originária (essa ele perdeu). É uma nacionalidade apenas secundária. Nesse caso, ele passaria a ser brasileiro apenas naturalizado.

§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:

a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;

b) de imposição de naturalização, pela forma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

Inciso II, a) – Um brasileiro pode adquirir também nacionalidade italiana porque A Itália admite dupla nacionalidade. Se a Itália admite, para o Brasil não tem problema ele ficar com a nacionalidade brasileira e com a italiana. Ele não perde a brasileira. Agora, se é um país que não admite a dupla nacionalidade, ele perde a brasileira. Ele só vai ter a nacionalidade daquele país.

Inciso II, b) – Nesta segunda hipótese, a naturalização não é voluntária. Foi uma imposição do Estado e, por ser imposição, mesmo que o Estado estrangeiro não admita dupla nacionalidade, a brasileira será mantida. Voltando para o Brasil, será considerado como brasileiro nato. Ele não quis se tornar nacional do outro país. Essa condição foi imposta a ele.

(Fim da 1ª parte da aula)

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DIREITOS POLÍTICOS

1. CIDADANIA

Para falarmos dos direitos políticos, é preciso falar da cidadania. Quem são os cidadãos de acordo com a Constituição de 1988? Pela Constituição, se fizermos interpretação estrita, é considerado cidadão o nacional que esteja no gozo dos direitos políticos e que participe da vida política do Estado. Então, nesse sentido mais estrito de cidadania, ela pressupõe a nacionalidade. Só é cidadão o nacional: somente o brasileiro nato e o brasileiro naturalizado. Todo cidadão é um nacional porque para as pessoas exercerem os direitos políticos, um dos requisitos é ter a nacionalidade brasileira.

Agora, a nacionalidade já não pressupõe a cidadania. Você pode ser um nacional brasileiro que não esteja no gozo dos direitos políticos. A cidadania pressupõe a nacionalidade, mas a recíproca não é verdadeira. A nacionalidade não pressupõe a cidadania.

Este é um conceito mais restrito do cidadão, que o relaciona à pessoa que está alistada, que participa da vida política do Estado. O conceito de cidadania, mais restrito, vem sendo ampliado após da II Guerra. Hoje, o conceito do cidadão se aproxima muito do conceito de nacional, porque ele não se restringe apenas a direitos políticos. Quando se fala em cidadão, se fala em direitos políticos, humanos, civis. Então, esse conceito de cidadania vem sendo gradativamente ampliado após a II Guerra Mundial, para englobar, não só os diretos políticos, mas também outros direitos fundamentais e humanos.

“O conceito de cidadania vem sendo ampliado de forma a abranger, não apenas direitos civis e políticos, mas também, outros direitos fundamentais/humanos.”

Então, nós vamos trabalhar aqui, neste item específico, que trata dos direitos políticos, do cidadão nos termos da Constituição, daquele que se alista como eleitor (vota e é votado, participa de iniciativa popular, de plebiscito, referendum e por aí vai).

2. ESPÉCIES DE DIREITOS POLÍTICOS

Os direitos políticos são divididos em duas grandes espécies: direitos políticos positivos e direitos políticos negativos. Nós vamos estudar aqui quais são aqueles direitos políticos que permitem a participação do indivíduo (que são os positivos) e aqueles que importam em uma privação dos direitos do indivíduo (direitos negativos).

Direitos Políticos POSITIVOS Direitos Políticos NEGATIVOS

Sufrágio Inelegibilidades

Alistabilidade Perda

Elegibilidade Suspensão

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2.1. Direitos Políticos POSITIVOS – “São aqueles direitos que vão permitir a participação do indivíduo na vida política do Estado.” Os direitos políticos positivos são de três espécies:

a) Direito de Sufrágio

“O Sufrágio é a própria essência do direito político.” Ou seja, direito de sufrágio é o direito político em si. É aquele direito que o indivíduo tem de votar, de ser votado, de participar de iniciativa popular, de referendo. Todos esses direitos políticos, na verdade, são o direito de sufrágio. O sufrágio é o próprio direito político. É a essência do direito político. O sufrágio pode ser dividido em duas espécies:

Universal Restrito

Observem que a Constituição brasileira utiliza uma composição terminológica nas cláusulas pétreas: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir o voto direto, secreto, universal e periódico.” Na verdade, o voto não é universal. O que é universal é o sufrágio, que é essa possibilidade de participação na vida política do Estado.

Qual é a diferença entre o sufrágio e o voto? O sufrágio, como vimos, é a própria essência do direito político. O voto é o exercício do direito de sufrágio. Como a pessoa exerce o seu direito de sufrágio, seu direito político? Através do voto. Então, o correto é: sufrágio universal e voto direto ou indireto; você vota diretamente ou vota indiretamente e você pode dizer também que o voto é periódico. Você vota periodicamente. O que é secreto não é nem o direito de sufrágio e nem o voto. O que é secreto é o escrutínio. O escrutínio é o modo como o direito de voto é exercido. Você exerce seu direito de votar de forma secreta ou de forma aberta. No Brasil, o escrutínio é secreto, para permitir a liberdade de escolha dos candidatos, de votar em branco ou nulo.

O sufrágio universal ou restrito vai estar ligado diretamente ao regime político adotado. Nos regimes políticos democráticos, em regra, se adota o sufrágio universal, é o caso do Brasil. As exigências feitas pela Constituição como alistamento eleitoral, idade mínima, nacionalidade brasileira, não retiram a universalidade do sufrágio. Esses requisitos formais, técnicos, não retiram a universalidade do direito de sufrágio. Todos que estejam dentro daqueles requisitos previstos pela Constituição podem participar dos direitos políticos.

O sufrágio restrito é aquele que vai exigir algum tipo de condição específica para que a pessoa participe do processo político. Nós podemos elencar aqui, pelo menos três tipos de sufrágio restrito que são os mais usuais:

Sufrágio restrito censitário – Censitário é aquele que exige algum tipo de condição econômica para que a pessoa possa participar. Havia uma Constituição brasileira (acho que foi a de 1891, a primeira republicana) que dizia que só quem tivesse uma renda superior a 100 mil réis poderia participar das eleições.

Sufrágio restrito capacitário – Exige alguma capacidade especial, geralmente de natureza intelectual. Por exemplo, só podem participar das eleições as pessoas que têm nível superior.

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Sufrágio restrito em razão do sexo – Antes de 1930, por exemplo, mulheres não podiam votar no Brasil.

O art. 14 da Constituição consagra o sufrágio universal:

Art. 14 - A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular.

b) Alistabilidade

A alistabilidade diz respeito à capacidade eleitoral ativa ou passiva? Esse termo induz a pessoa a erro porque alistabilidade parece ser a capacidade eleitoral passiva. Mas não, é capacidade eleitoral ativa. É o direito de votar, e não de ser votado.

NO Brasil, quem são os INALISTÁVEIS? Quem não pode votar no Brasil. A constituição proíbe que se alistem como eleitores:

Os constritos durante o serviço militar obrigatório – Constrito é aquele que quando completa 18 anos tem que prestar o serviço militar obrigatório. Teve uma questão de prova da Defensoria Pública/MG perguntando se o conceito de constrito se estende a médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários que não prestam serviço militar na época própria por estarem na faculdade e depois de formados têm que prestar um ano de serviço militar obrigatório.

O conceito de constrito abrange médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários que prestem o serviço militar obrigatório. Então, aquela situação em que a pessoa com 17 ou 18 anos e comece a cursar uma dessas faculdades e não presta o serviço na época apropriada. Ele pode adiar a prestação para quando se formar e aí vai prestar o serviço militar obrigatório como médico, dentista, farmacêutico ou veterinário.

Os estrangeiros – também são inalistáveis. Com relação a esses existe uma exceção. Quem são os estrangeiros que podem se alistar como eleitores? Os portugueses equiparados (na hipótese de quase-nacionalidade, art. 12, § 1º), se houver reciprocidade, se tiver residência no País por um certo período, tem que estar alistado. Não é só chegar e votar. Tem que cumprir os requisitos da lei eleitoral.

Menores de 16 anos – Também não podem se alistar como eleitores.

Tudo isso está previsto no art. 14, § 2º: § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

Agora vamos ver para quem o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios e são facultativos. Tudo o que eu vou dizer aqui vale tanto para o alistamento, quanto para o voto. Então se eu disser, ‘é facultativo’, significa que é facultativo não só o alistamento eleitoral como o direito de voto. A pessoa pode estar alistada e pode não votar. Se for obrigatório, será obrigatório tanto o alistamento quanto o voto.

São OBRIGATÓRIOS o alistamento eleitoral e o voto:

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Para os que tem entre 18 e 70 anos.

São FACULTATIVOS o alistamento eleitoral e o voto:

Para os que têm entre 16 e 18 anos Para os que têm mais de 70 anos. Para os analfabetos

Características do VOTO no Brasil:

1. DIRETO – em regra, escolhemos diretamente (votamos para Prefeito, Vereador, Governador, Deputados, Senador, Presidente). Há uma exceção na Constituição na qual a eleição não é por voto direto, mas apenas indireto. Que hipótese é essa? Em que a pessoa não é eleita diretamente para determinado cargo do Executivo ou do Legislativo? A única exceção é a prevista no art. 81, § 1º, da CF. Ela se refere à vacância do cargo de Presidente da República e de Vice-Presidente. Ambos os cargos ficam vagos. O mandato do Presidente é de quatro anos. A Constituição prevê duas situações:

o Vacância de ambos os cargos nos dois PRIMEIROS anos de mandato – se os dois cargos ficarem vagos nos dois primeiros anos, quem vai assumir a Presidência? O Presidente da Câmara dos Deputados, mas só até que sejam realizadas novas eleições no prazo de 90 dias. Aqui, a eleição é direta. Escolhemos o novo Presidente e o novo Vice-Presidente para completar o mandato. Ele não vai ficar por quatro anos. Ele vai só completar o mandato do antecessor, senão quebrariam as eleições para Governador e Senador. Essa hipóteses não tem nada de novidade. A novidade é:

o Vacância de ambos os cargos nos dois ÚLTIMOS anos de mandato – Como o período é muito curto, não se justifica realizar eleições gerais. Daí a Constituição diz o seguinte: A realização de eleições dentro de 30 dias, só que quem vai escolher o novo Presidente e o novo Vice não é o povo, mas o Congresso Nacional. A Constituição não diz como será essa escolha e quem poderá participar.

2. IGUAL PARA TODOS – Isso está no art. 14, como já vimos (voto com valor igual para todos). É uma característica do voto. Não há peso. “One man, one vote.” A Suprema Corte substituiu essa expressão por: “One person, one vote.” Significa que o voto de todas as pessoas têm o mesmo valor.

3. PERIÓDICO – Essa característica decorre da periodicidade das eleições. Como temos eleições periódicas, por consequência, o voto também é periódico.

4. LIVRE – O que assegura esta liberdade do voto é exatamente o escrutínio secreto. A finalidade do escrutínio é garantir essa liberdade na escolha do candidato na hora de votar.

5. PERSONALÍSSIMO – Ou seja, ninguém pode votar por procuração.

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c) Elegibilidade

É a capacidade eleitoral passiva, ou seja, o direito de ser votado. No Brasil, quando a pessoa atinge a plena cidadania? Com quantos anos? A cidadania vai sendo adquirida progressivamente e chega à plenitude aos 35 anos. Por que 35 anos? Porque essa é a idade mínima para que uma pessoa possa se eleger Presidente da República, Vice-Presidente e Senador. A plena cidadania ocorre aos 35 anos. Idade essa que é exigida na data da posse.

o 35 anos – Presidente, Vice-Presidente e Senadoro 30 anos – Governador de Estado e do DF e Vice-Governadoro 21 anos – Prefeito, Vice-Prefeito, Deputado (qualquer deputado) e Juiz de Paz.o 18 anos – Vereador

Então, progressivamente, a pessoa vai adquirindo sua plena cidadania. Existe uma questão interessante que se refere à possibilidade de o Presidente da Câmara, que pode ter menos que 35 anos assumir a Presidência da República ou de um deputado, com 21 anos, Presidente da Assembléia, assumir um cargo de Governador. Ou Vereador, que tem menos de 21 anos, assumir o cargo de Prefeito. Será que isso é possível? Nestes casos, o que a Constituição prevê é a idade mínima como condição de elegibilidade e não de exercício do cargo de forma temporário. Então, mesmo que a pessoa não tenha idade mínima para ser eleita para aquele cargo, não há vedação na Constituição para que ela exerça o cargo temporariamente. Nesses casos, então, parte da doutrina admite que, mesmo sem idade mínima, o cargo possa ser exercido. Existe um princípio do direito eleitoral, que um princípio basilar de direito eleitoral, que é a proibição de vedação sem que esteja expressa. Você não pode presumir determinadas vedações (princípio da proibição de vedação que não esteja expressa).

As condições de elegibilidade estão previstas no art. 14, § 3º:

§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:I - a nacionalidade brasileira;II - o pleno exercício dos direitos políticos;III - o alistamento eleitoral;IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;

b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;

c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;

d) dezoito anos para Vereador.

Essas condições de elegibilidade previstas no art. 14, § 3º, são condições que devem ser regulamentadas por lei ordinária. Por que devem ser reguladas por lei ordinária? Porque o caput fala em “na forma da lei”. Como a CF não exige lei complementar, a lei que regulamenta essas hipóteses é a lei ordinária. Exemplo: Domicílio eleitoral na circunscrição: é uma lei ordinária que vai determinar qual é o período que a pessoa deve ter de domicílio eleitoral na circunscrição.

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Cuidado para vocês não confundirem essas condições de elegibilidade com outras hipóteses de inelegibilidade que estão previstas no art. 14, § 9º. Essas outras hipóteses de inelegibilidade têm que ser previstas não em lei ordinária, mas em lei complementar.

2.2. Direitos Políticos NEGATIVOS – “São aqueles direitos que consistem em uma privação dos direitos políticos.” Os direitos políticos negativos consagrados na Constituição também são de três espécies. Consistem na:

a) Inelegibilidades

Art. 14, § 9º - Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Regulamentação das condições de elegibilidade (direito político positivo) do art. 14, § 3º: Lei Ordinária .

Estabelecer outras hipóteses de inelegibilidade (direito político negativo) do art. 14, § 9º: Lei Complementar.

Existe uma lei complementar que trata de outras hipóteses de inelegibilidade, que é a LC 64/90. Infelizmente, essa lei não considera nas hipóteses de inelegibilidade a vida pregressa do candidato. O Supremo entendeu que não poderia ser feita análise de vida pregressa (ficha suja) porque não havia lei regulamentando. Vocês, que vão fazer concurso público, terão que ter vida pregressa limpa, sob pena de não assumir os cargos. Se vocês quiserem fazer concurso para gari no Estado do Rio de Janeiro, terão que ter ficha limpa. Se quiserem ser deputados, senadores, aí não precisa. Então, além dessas outras hipóteses de inelegibilidade que serão previstas na lei complementar, ainda existe a

Inelegibilidade prevista para os militares :

§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:

I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;

II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

E ainda, a inelegibilidade em razão do cargo:

Inelegibilidade para o mesmo cargo – art. 14, § 5ºInelegibilidade para outro cargo – art. 14, § 6º:

E ainda, a inelegibilidade reflexa em razão do parentesco (art. 14, § 7º):

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Antes de analisarmos essas três últimas mais importantes, é preciso que vocês saibam que todas essa quatro ou cinco hipóteses de inelegibilidade aqui, são hipóteses de inelegibilidades relativas. Em todas elas, a pessoa tem como de desincompatibilizar daquela situação, daquele impedimento e ser legítima. A única hipótese de inelegibilidade absoluta está prevista na Constituição. Somente a Constituição pode prever hipóteses de inelegibilidade absoluta. E ela só prevê uma única hipótese. A única hipótese de inelegibilidade absoluta prevista no direito brasileiro é aquela prevista no art. 14, § 4º. A lei complementar não pode prever hipóteses de inelegibilidade absoluta, só de inelegibilidade relativa.

No Brasil, quem são os absolutamente inelegíveis? Quem não pode se eleger de forma alguma?

Os inalistáveis – quem não pode se alistar como eleitor, não pode ser eleitor (estrangeiros, com exceção dos portugueses, menores de 16 anos, constritos). Quem não tem capacidade eleitoral ativa, não tem capacidade eleitoral ativa. E, além dos inalistáveis,

Os analfabetos – Cuidado com os analfabetos. Eles têm capacidade eleitoral ativa, mas não têm capacidade eleitoral passiva.

b) Perda c) Suspensão

A hipóteses de perda e de suspensão estão previstas no art. 15, da Constituição. A hipótese de perda é a prevista no art. 15, I. As hipóteses de suspensão são as previstas no art. 15, II a V.

No Brasil admite-se a cassação de direitos políticos? É vedada a cassação dos direitos políticos. Cassação é a retirada arbitrária. A Constituição veda a cassação de direito políticos.

Art. 15 - É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda (DEFINITIVA) ou suspensão (TEMPORÁRIA) só se dará nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto

durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação

alternativa, nos termos do Art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do Art. 37, § 4º.

Inciso I – Nós vimos, antes do intervalo, no finalzinho da aula que, no caso de brasileiro naturalizado, se houvesse cancelamento da naturalização, ele não pode readquirir a nacionalidade brasileira. Acompanhem o raciocínio. Se o brasileiro naturalizado perder a nacionalidade brasileira, não pode mais readquiri-la novamente, essa é uma hipótese de perda, porque ela é definitiva. Ele não tem como readquirir os direitos de nacionalidade. Se não tem como readquirir os direitos de nacionalidade, não tem como readquirir só direitos políticos, porque a cidadania pressupõe a nacionalidade brasileira. Então, se ele perde a nacionalidade, ele perde também os direitos políticos. Essa é a hipótese de perda dos direitos políticos.

Inciso II – Aqui é a hipótese de suspensão, porque se ele recuperar a capacidade civil, ou passar a ter, ele adquire direitos políticos.

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Inciso III – Mesmo que a pessoa esteja livre, se ainda não estiver extinta a punibilidade (‘enquanto durarem seus efeitos’), ela não pode votar. Aqui também seus direitos suspensos.

Inciso IV – Este inciso é objeto de divergência. A maioria dos autores de direito constitucional considera essa uma hipótese de perda dos direitos políticos, apesar de eu ter colocado como suspensão. O único que dá justificativa para entender que é perda, é o Alexandre de Moraes, alegando que é perda porque não existe prazo para a pessoa readquirir. Só que ninguém define perda como suspensão temporária sem prazo definido. Perda, toda doutrina define como sendo definitiva e suspensão, como sendo temporária. No caso da perda da capacidade civil absoluta, a pessoa tem um prazo dado pelo Estado para recuperar a capacidade civil? Não. O prazo é indefinido e nem por isso é considerado como perda. É considerado suspensão. Eu acho, então, que é suspensão porque ele readquire se cumprir lá as obrigações. Mas todos os autores, José Afonso da Silva, Celso Bastos, Alexandre de Morais, todos eles, consideram como sendo hipótese de perda. Numa prova de constitucional, eu aconselho que vocês marquem como sendo perda. A lei eleitoral fala em suspensão, mas existe essa divergência.

Inciso V – O juiz deve, na sentença, colocar expressamente a suspensão dos direitos políticos.

Vamos voltar a analisar a inelegibilidade em razão do cargo e a inelegibilidade reflexa.

INELEGIBILIDADE EM RAZÃO DO CARGO

O primeiro detalhe importante é saber que o único cargo que pode gerar alguma inelegibilidade são os cargos de Chefes do Executivo. Todos as inelegibilidades relacionadas a cargo, estão relacionadas aos Chefes do Executivo: Presidente, Governador e Prefeito.

Inelegibilidade PARA O MESMO CARGO

Presidente da República - Vocês se lembram que a Constituição, originariamente, não admitia reeleição para cargos do Executivo. Na época de FHC houve aquela emenda muito questionada permitindo uma reeleição para o mesmo cargo. Lula, por exemplo, foi eleito pela primeira vez em 2002. Na eleição seguinte, ele se reelegeu para o mesmo cargo, em 2006.

Para ele concorrer à reeleição precisa se desincompatibilizar do cargo? Não. Como a finalidade da reeleição é a continuidade administrativa, o Chefe do Executivo não precisa se desincompatibilizar. Ele pode concorrer sem se desincompatibilizar.

Lula pode, com as regras atuais concorrer à reeleição? Não, porque seria um terceiro mandato. Pode concorrer ao cargo de Vice-Presidente? Se isso fosse possível, daria margem a um tipo de manobra política no seguinte sentido: “Como não posso me candidatar pela terceira vez, eu me candidato como seu vice, você renuncia e eu acabo exercendo um terceiro mandato.”

Ele poderia, seis meses antes, se desincompatibilizar do cargo para se candidatar a um terceiro mandato? Também não, porque isso seria violar a vedação constitucional que é impedir a perpetuação de uma mesma pessoa no poder. Com relação ao Chefe do Executivo não pode ocorrer a um terceiro mandato, nem que haja a desincompatibilização.

E se ele quisesse se candidatar em 2014? Ele pode. Porque o que a Constituição veda é o mandado consecutivo.

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Vice-Presidente – Vamos pegar o caso do Governador de SP, Geraldo Alkmin. Em 1994, Covas foi eleito Governador de SP e o Alkmin foi eleito o Vice. Nesse primeiro mandato, 94/98, Covas permaneceu no cargo e o Alkmin eventualmente o substituiu, assumindo temporariamente o cargo. Em 1998, novamente Covas foi eleito Governador e Alkmin, como Vice. Nesse segundo mandato, Covas faleceu. Alkmin assumiu definitivamente. Ocorreu a hipótese de sucessão definitiva. Nos primeiros casos, apenas substituiu, no segundo, sucedeu. Vieram as eleições de 2002. Geraldo Alkmin se candidatou. Quando ele se candidatou, os partidos da coligação contrária questionaram isso porque seria uma terceira eleição seguida, em razão das substituições e da sucessão.

§ 5º - O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.

Numa interpretação literal, a candidatura de Alkmin em 2002 seria a possibilidade de um terceiro mandato. Então, ele não poderia. Mas o Supremo entendeu que, neste caso, ele só não poderia concorrer, se ele tivesse sucedido e exercido efetivamente o cargo no primeiro mandato de Covas. O fato de ele ter apenas substituído Covas, segundo o Supremo, não impediria a sua reeleição. Ele não poderia se candidatar em 2006 porque, aí sim, seria um terceiro mandato. Mas como era apenas uma substituição no primeiro mandato, não há problema. Então, segundo o Supremo, simples substituição não impede nova candidatura.

Se o Chefe do Executivo quisesse se candidatar a outro cargo. Garotinho foi eleito em 1994, e reeleito em 1998, Governador do Rio. Em 2002, Garotinho concorreu ao cargo de Presidente da República. Para ele concorrer a esse novo cargo, precisou se desincompatibilizar seis meses antes do término do mandato. Benedita da Silva substituiu.

§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

Ele concorreu à Presidente, teve que renunciar. O parágrafo 7º trata da inelegibilidade reflexa:

§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Por que a Rosinha pode se candidatar ao cargo de Governadora do Rio? Porque o Garotinho se desincompatibilizou seis meses antes, senão ela não poderia porque se tratava de território de jurisdição do titular (dentro do Estado do Rio de Janeiro). Se candidatou e foi eleita. Em 2006, nem ela e nem o garotinho poderia se candidatar porque senão seria uma terceira eleição seguida e, para efeitos de elegibilidade eles são como uma única pessoa em razão de serem cônjuges. O objetivo é evitar a perpetuação de uma mesma família no poder.

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