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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA DEPARTAMENTO DE ESTRANGEIROS Manual de Extradição Brasília, 2012

Manual de Extradição

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  • MINISTRIO DA JUSTIASECRETARIA NACIONAL DE JUSTIADEPARTAMENTO DE ESTRANGEIROS

    Manual de

    Extradio

    Braslia, 2012

  • MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIAJos Eduardo Cardozo

    SECRETRIO NACIONAL DE JUSTIAPaulo Abro Pires Junior

    DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE ESTRANGEIROSIzaura Maria Soares Miranda

    ELABORAO: Aldenor de Souza e SilvaDenise Barros PereiraIzaura Maria Soares MirandaRiane Freitas Paz Falco

    COLABORAO: Maurcio Correali

    Esplanada dos Ministrios, Ministrio da Justia, Bloco T, Anexo II, 3 Andar.70.064-901 Braslia-DF

    Distribuio Gratuita - Proibida a Venda

    Ficha elaborada pela Biblioteca do Ministrio da Justia

    341.144B823m Brasil. Secretaria Nacional de Justia (SNJ) Manual de extradio. -- Braslia : Secretaria Nacional de Justia (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p.770 ISBN: 978-85-85820-17-6

    1. Extradio. 2. Direito Penal Internacional. 3. Cooperao internacional. I. Ministrio da Justia. Departamento de Estrangeiros.

    CDD

    SECRETRIA-EXECUTIVAMrcia Pelegrini

  • Sumrio 3

    SUMRIOAPRESENTAO

    INTRODUO

    EXTRADIO: CONCEITOS E PRINCPIOS

    Institutos Distintos: Extradio, Expulso e Deportao

    Expulso

    Repatriao e Deportao

    Extradio e Transferncia de Pessoas Condenadas

    Classificao da Extradio

    Autoridade Central Brasileira: O papel da Secretaria

    Nacional de Justia, do Ministrio da Justia

    Controle de Legalidade: O papel do Supremo Tribunal

    Federal

    Trmite dos processos de extradio no Brasil

    Processamento dos pedidos de extradio ativa

    Processamento dos pedidos de extradio passiva

    Concorrncia de pedidos

    Documentos justificativos e formalizadores do pedido de

    extradio

    Informaes e diligncias complementares

    Denegao da extradio

    Entrega de extraditando: requisitos e procedimentos

    Extraditando que responde a processo penal perante a

    Justia brasileira

    Extradio Voluntria

    Extradio Temporria

    Extradio Simplificada

    Mandado Mercosul de Captura

    Refgio e Extradio

    Extradio de Brasileiros

    ............................................................................................ 11

    ................................................................................................ 13

    ........................................................ 15

    ................................ 18

    ............................................................................................. 19

    .................................................................. 20

    .................................... 20

    ........................................................................... 21

    ................................................ 21

    .......................................................................................................... 22

    ............................................ 23

    ............................... 23

    ........................... 25

    .............................................................................. 26

    .................................................................................................... 27

    ................................................. 28

    ............................................................................. 29

    ................................ 31

    ........................................................................................... 35

    ................................................................................... 36

    .................................................................................. 37

    ................................................................................ 37

    .................................................................... 38

    ..................................................................................... 40

    .............................................................................. 42

  • Sumrio4Extradio de Portugueses

    Trnsito de extraditando pelo territrio nacional

    Contagem de Prazos

    LEGISLAO

    Constituio Federal (art. 5)

    Lei n 6.815, de 19 de agosto de 1980 - Define a situao jurdica do estrangeiro no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigrao

    Decreto n 86.715, de 10 de dezembro de 1981 - Regulamenta a Lei n 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situao jurdica do estrangeiro no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigrao e d outras providncias

    Lei n 9.474, de 22 de julho de 1997 - Define mecanismos para a implementao do Estatuto dos Refugiados de 1951 e determina outras providncias

    Decreto n 6.061, de 15 de maro de 2007 - Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comisso e das Funes Gratificadas do Ministrio da Justia, e d outras providncias

    Portaria MJ n 1.443, de 12 de setembro de 2006 - Aprova o Regimento Interno da Secretaria Nacional de Justia

    Portaria MJ n 68, de 17 de janeiro de 2006 - Delega competncia ao Diretor do Departamento de Estrangeiros, da Secretaria Nacional de Justia, para autorizar trnsito pelo territrio nacional de pessoas extraditadas por Estados estrangeiros

    Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal

    Portaria MJ n 737, de 16 de dezembro de 1988 - Altera a Portaria n 557, de 04 de outubro de 1988 e estabelece procedimento a ser adotado em relao priso para fins de extradio de que tratam os artigos 81 e 82, da Lei n 6.815, de 19 de agosto de 1980, alterada pela Lei n 6.964, de 09 de dezembro de 1981

    ........................................................................... 45

    ........................................ 46

    ..................................................................................... 47

    ................................................................................................... 48

    ....................................................................... 49

    ................................................................................................. 59

    ........................ 100

    ................................................................ 150

    ................................................................ 163

    .............................. 173

    ................................................................................................ 200

    ...................................... 202

    ....................................................................... 207

  • Sumrio 5

    Decreto n 3.447, de 5 de maio de 2000 - Delega

    competncia ao Ministro de Estado da Justia para resolver

    sobre a expulso de estrangeiro do Pas e sua revogao, na

    forma do art. 66, da Lei n 6.815, de 19 de agosto de 1980,

    republicada por determinao do art. 11, da Lei n 6.964,

    de 9 de dezembro de 1981

    Portaria DEEST n 8, de 05 de dezembro de 2011

    Disciplina a contagem de prazos referentes a processos

    administrativos de competncia do Departamento de

    Estrangeiros/SNJ

    ACORDOS DE EXTRADIO EM VIGOR

    ARGENTINA - Tratado de Extradio entre o Brasil e

    a Argentina - Assinado em 15 de novembro de 1961,

    promulgado pelo Decreto n 62.979, de 11 de julho de

    1968, e publicado no Dirio Oficial de 15 de julho de 1968

    AUSTRLIA - Tratado sobre Extradio, celebrado entre o

    Governo da Repblica Federativa do Brasil e o Governo da

    Austrlia - Assinado em 22 de agosto de 1994, promulgado

    pelo Decreto n 2.010, de 25 de setembro de 1996, e

    publicado no Dirio Oficial de 24 de setembro de 1996

    BLGICA - Tratado de Extradio entre o Brasil e a Blgica -

    Assinado em 6 de maio de 1953, promulgado pelo Decreto

    n 41.909, de 29 de julho de 1957, e publicado no Dirio

    Oficial de 1 de agosto de 1957. Acordo Complementar

    estendendo a aplicao do Tratado de Extradio ao Trfico

    Ilcito de Drogas, assinado no Rio de Janeiro, por troca de

    notas de 22 de abril e 8 de maio de 1958

    BOLVIA - Tratado de Extradio entre o Brasil e a Bolvia

    - Assinado em 25 de fevereiro de 1938, promulgado pelo

    Decreto n 9.920, de 8 de julho de 1942, publicado no

    Dirio Oficial de 10 de julho de 1942

    CHILE - Tratado de Extradio entre o Brasil e o Chile -

    Assinado em 8 de novembro de 1935, promulgado pelo

    Decreto n 1.888, de 17 de agosto de 1937, e publicado no

    Dirio Oficial de 20 de julho de 1937

    ......................................................................... 210

    ........................................................................................ 212

    ......................................................... 214

    ....................... 215

    ............................ 225

    .................................................. 242

    ......................................................... 254

    .......................................................... 263

  • Sumrio6COLMBIA - Tratado de Extradio entre o Brasil e a Colmbia - Assinado em 28 de dezembro de 1938, promulgado pelo Decreto n 6.330, de 25 de setembro de 1940, e publicado no Dirio Oficial de 27 setembro de 1940

    EQUADOR - Tratado de Extradio entre o Brasil e o Equador - Assinado em 4 de maro de 1937, promulgado pelo Decreto n 2.950, de 8 de agosto de 1938, e publicado no Dirio Oficial de 11 de agosto de 1938

    ESPANHA - Tratado de Extradio, entre a Repblica Federativa do Brasil e o Reino da Espanha - Assinado em 2 de fevereiro de 1988, promulgado pelo Decreto n 99.340, de 22 de junho de 1990, e publicado no Dirio Oficial de 25 de junho de 1990

    ESTADOS UNIDOS DA AMRICA - Tratado de Extradio com os Estados Unidos da Amrica e respectivo Protocolo Adicional - Assinado em 13 de janeiro de 1961, promulgado pelo Decreto n 55.750, de 11 de fevereiro de 1965, e publicado no Dirio Oficial de 15 de fevereiro de 1965; e Protocolo Adicional ao Tratado de Extradio, assinado aos 18 de junho de 1962

    FRANA - Tratado de Extradio entre o Governo da Repblica Federativa do Brasil e o Governo da Repblica Francesa - Assinado em 28 de maio de 1996, promulgado pelo Decreto n 5.258, de 27 de outubro de 2004, e publicado no Dirio Oficial de 28 de outubro de 2004

    ITLIA - Tratado de Extradio, entre a Repblica Federativa do Brasil e a Repblica Italiana - Assinado em 17 de outubro de 1989, promulgado pelo Decreto n 863, de 9 de julho de 1993, e publicado no Dirio Oficial de 12 de julho de 1993

    LITUNIA - Tratado de Extradio entre o Brasil e a Litunia - Assinado em 28 de setembro de 1937, promulgado pelo Decreto n 4.528, de 16 de agosto de 1939, e publicado no Dirio Oficial de 16 de agosto de 1939

    MERCOSUL - Acordo de Extradio entre os Estados Parte do Mercosul - Em vigor para o Brasil, o Paraguai e o Uruguai. Assinado em 10 de dezembro de 1998, promulgado pelo Decreto n 4.975, de 30 de janeiro de 2004, e publicado no Dirio Oficial de 2 de fevereiro de 2004

    ..................... 271

    .................................................. 280

    ........................................................................................ 291

    ................................................................................... 303

    .............................. 318

    ....................... 331

    ....................................................... 344

    ..................................................... 355

  • Sumrio 7

    MERCOSUL e ASSOCIADOS - Acordo de Extradio entre os Estados Parte do Mercosul e a Repblica da Bolvia e a Repblica do Chile - Em vigor para o Brasil, o Paraguai, o Uruguai, a Bolvia e o Chile. Assinado em 10 de dezembro de 1998, promulgado pelo Decreto n 5.867, de 03 de agosto de 2006, e publicado no Dirio Oficial de 04 de agosto de 2006

    MXICO - Tratado de Extradio entre o Brasil e o Mxico e o respectivo Protocolo Adicional - Assinado em 28 de dezembro de 1933, promulgado pelo Decreto n 2.535, de 22 de maro de 1938. Protocolo Adicional assinado em 18 de setembro de 1935, promulgado pelo Decreto n 2.535, de 22 de maro de 1938, e publicado no Dirio Oficial de 2 de abril de 1938

    PARAGUAI - Tratado de Extradio de Criminosos entre o Brasil e o Paraguay - Assinado em 24 de fevereiro de 1922, promulgado pelo Decreto n 16.925, de 27 de maio de 1925, e publicado no Dirio Oficial de 30 de maio de 1925

    PERU - Tratado de Extradio entre a Repblica Federativa do Brasil e a Repblica do Peru - Assinado em 25 de agosto de 2003, promulgado pelo Decreto n 5.853 de 19 de julho de 2006, e publicado no Dirio Oficial de 20 de julho de 2006

    PORTUGAL - Tratado de Extradio entre o Governo da Repblica Federativa do Brasil e o Governo da Repblica Portuguesa - Assinado em 7 de maio de 1991, promulgado pelo Decreto n 1.325, de 2 de dezembro de 1994, e publicado no Dirio Oficial de 5 de dezembro de 1994

    REINO UNIDO DA GR-BRETANHA E IRLANDA DO NORTE - Tratado de Extradio, celebrado entre o Governo da Repblica Federativa do Brasil e o Governo do Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda do Norte - Assinado em 18 de julho de 1995, promulgado pelo Decreto n 2.347, de 10 de outubro de 1997, e publicado no Dirio Oficial de 13 de outubro de 1997

    REPBLICA DA CORIA - Tratado de Extradio entre a Repblica Federativa do Brasil e a Repblica da Coria - Assinado em 1 de setembro de 1995, promulgado pelo

    .......................................................................................... 373

    ......................................................................................... 391

    ....................... 401

    ..................... 407

    ............................. 422

    ......................................................................................... 438

  • Sumrio8Decreto n 4.152, de 7 de maro de 2002, e publicado no Dirio Oficial de 8 de maro de 2002

    REPBLICA DOMINICANA - Tratado de Extradio entre o Governo da Repblica Federativa do Brasil e o Governo da Repblica Dominicana - Assinado em 17 de novembro de 2003, promulgado pelo Decreto n 6.738, de 12 de janeiro de 2009, e publicado no Dirio Oficial de 13 de janeiro de 2009

    ROMNIA - Tratado de Extradio entre a Repblica Federativa do Brasil e a Romnia - Assinado em 12 de agosto de 2003, promulgado pelo Decreto n 6.512, de 21 de julho de 2008, e publicado no Dirio Oficial de 22 de julho de 2008

    RSSIA - Tratado de Extradio entre a Repblica Federativa do Brasil e a Federao da Rssia - Assinado em 14 de janeiro de 2002, promulgado pelo Decreto n 6.056, de 6 de maro de 2007, e publicado no Dirio Oficial de 7 de maro de 2007

    SUA - Tratado de Extradio entre o Brasil e a Sua - Assinado em 23 de julho de 1932, promulgado pelo Decreto n 23.997, de 13 de maro de 1934, e publicado no Dirio Oficial de 16 de maro de 1934

    UCRNIA - Tratado de Extradio entre a Repblica Federativa do Brasil e a Ucrnia - Assinado em 21 de outubro de 2003, promulgado pelo Decreto n 5.938, de 19 de outubro de 2006, e publicado no Dirio Oficial de 20 de outubro de 2006

    URUGUAI - Tratado de Extradio de Criminoso, entre a Repblica dos Estados Unidos do Brasil e a Repblica Oriental do Uruguay - Assinado em 27 de dezembro de 1916, promulgado pelo Decreto n 13.414, de 15 de janeiro de 1919, e publicado no Dirio Oficial de 18 de janeiro de 1919. Protocolo Adicional assinado em 7 de dezembro de 1921 e promulgado pelo Decreto n 17.572, de 30 de novembro de 1926

    VENEZUELA - Tratado de Extradio entre o Brasil e a Venezuela - Assinado em 7 de dezembro de 1938,

    ......................................................... 452

    ........................................................................................................... 468

    .............................................................................................. 482

    ............................................................................................ 493

    .................................................................. 507

    ......................................................................................... 518

    ..................................................................................... 532

  • Sumrio 9

    promulgado pelo Decreto n 5.362, de 12 de maro de

    1940, e publicado no Dirio Oficial de 15 de maro de 1940

    CONVENO DAS NAES UNIDAS CONTRA O CRIME

    ORGANIZADO TRANSNACIONAL (CONVENO DE PALERMO)

    Adotada em 15 de novembro de 2000, ratificada pelo

    Brasil em 29 de janeiro de 2004, promulgada pelo Decreto

    n 5.015, de 12 de maro de 2004 e publicada no Dirio

    Oficial de 15 de maro de 2004

    ACORDOS DE EXTRADIO APROVADOS PELO CONGRESSO,

    PENDENTES DE RATIFICAO E/OU PROMULGAO

    ANGOLA - Acordo entre o Governo da Repblica Federativa

    do Brasil e o Governo da Repblica de Angola sobre

    Extradio, assinado em Braslia, em 3 de maio de 2005,

    aprovado pelo Decreto Legislativo n 04/2008

    CANAD - Tratado de Extradio, celebrado entre o

    Governo da Repblica Federativa do Brasil e o Governo do

    Canad, em Braslia, em 27 de janeiro de 1995, aprovado

    pelo Decreto Legislativo n 360/2007

    CPLP - Conveno de Extradio entre os Estados Membros

    da Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa, assinada

    na Cidade de Praia, em 23 de novembro de 2005, aprovada

    pelo Decreto Legislativo n 45/2009

    GUATEMALA - Tratado de Extradio entre o Governo da

    Repblica Federativa do Brasil e o Governo da Repblica

    da Guatemala, celebrado em Braslia, em 20 de agosto de

    2004, aprovado pelo Decreto Legislativo n 301/2007

    LBANO - Tratado de Extradio entre o Governo da

    Repblica Federativa do Brasil e o Governo da Repblica

    Libanesa, celebrado em Beirute, em 4 de outubro de 2002,

    aprovado pelo Decreto Legislativo n 348/2008

    MOAMBIQUE - Acordo de Extradio entre a Repblica

    Federativa do Brasil e a Repblica de Moambique, assinado

    em Maputo, em 6 de julho de 2007, aprovado pelo Decreto

    Legislativo n 894/2009

    ..................... 544

    ................................................................. 554

    .................................... 609

    .......................................... 610

    ......................................................... 627

    .......................................................... 644

    ............................... 660

    ........................................ 676

    .............................................................................. 689

  • Sumrio10PANAM - Tratado de Extradio entre a Repblica Federativa do Brasil e a Repblica do Panam, assinado na Cidade do Panam, em 10 de agosto de 2007, aprovado pelo Decreto Legislativo n 281/2010

    SURINAME - Tratado sobre Extradio entre o Governo da Repblica Federativa do Brasil e o Governo da Repblica do Suriname, celebrado em Paramaribo, em 21 de dezembro de 2004, aprovado pelo Decreto Legislativo n 655/2010

    ACORDOS DE EXTRADIO EM TRAMITAO LEGISLATIVA; ASSINADOS, PENDENTES DE RATIFICAO; E EM NEGOCIAO

    EXTRADIO SIMPLIFICADA - Acordo sobre Extradio Simplificada entre a Repblica Argentina, a Repblica Federativa do Brasil, o Reino da Espanha e a Repblica Portuguesa Assinado em 03 de novembro de 2010, na cidade de Santiago de Compostela, Espanha (pendente de encaminhamento aprovao legislativa)

    MANDADO MERCOSUL DE CAPTURA - Acordo sobre Mandado Mercosul de Captura e Procedimentos de Entrega entre os Estados Partes do Mercosul e Estados Associados Aprovado pela Deciso CMC n 48/10 (pendente de encaminhamento aprovao legislativa)

    ........................................................ 705

    ......................... 721

    .................... 735

    ........................................................................................ 737

    ........................................................................................ 746

  • Apresentao 11

    APRESENTAO

    O processo de integrao por que passa o mundo globalizado impe

    aos Estados especial ateno ao movimento migratrio em seus territrios,

    cujo aumento vertiginoso do fluxo proporciona terreno frtil ao acesso e

    escalada da criminalidade organizada internacional nos mais diversos

    planos.

    Os operadores do crime utilizam-se de recursos tecnolgicos e

    econmicos para subsidiar as atividades ilcitas e articulam-se em forma

    de organizaes para as implementar nos Estados, que se tornam alvos em

    suas estruturas econmicas, sociais e at mesmo culturais.

    Vrias so as vertentes em que o crime internacional est presente, a

    exemplo da prtica da corrupo, que contamina as estruturas do Estado e

    compromete o bem comum; fraudes diversas a inviabilizar a estabilidade

    econmica; o narcotrfico que ceifa vidas, adoece e desestrutura a

    sociedade como um todo; trfico de armas, que estimula a violncia;

    e o trfico de pessoas, que escraviza vidas e que, entre outros, cora de

    vergonha o rosto da humanidade.

    A experincia emprica indica que a cooperao entre os pases o

    veculo mais eficaz de enfrentamento e desarticulao dessas atividades

    criminosas, e o fortalecimento dos canais de comunicao tem demonstrado

    que o trabalho coletivo no pode ser preterido por aes unilaterais, sob

    pena de no resultar na esperada eficcia da atividade estatal.

    O esforo coletivo dos Estados est presente em diversas reas do

    conhecimento, das quais se podem destacar as cooperaes policial e jurdica,

    a difuso de dados e a extradio.

    No entanto, as limitaes verificadas no sistema legal dos mais

    diversos pases reclamam exaustiva atividade administrativa em busca

    da harmonizao legislativa, a fim de que seja emprestada a necessria

    agilidade nos procedimentos de extradio, persecuo criminal e demais

    medidas de cooperao, cujas regras sejam claras o suficiente a ponto de

    atender satisfatoriamente s pretenses das Partes.

  • Apresentao12O Brasil no admite a presena de criminosos foragidos da Justia

    internacional, pelo que, vista da extenso continental de suas fronteiras,

    necessita dispor de meios capazes de proporcionar a imediata retirada de

    criminosos de seu territrio e devolv-los jurisdio do Estado que os

    reclama.

    Preocupada com a escalada da criminalidade internacional, a

    Organizao das Naes Unidas aprovou, no ms de dezembro de 2000,

    a Conveno de Palermo sobre o Crime Transnacional Organizado,

    reservando captulo especfico para o instituto da extradio.

    Com esse esprito que a presente obra rene diversos acordos

    bilaterais e multilaterais acerca do tema afeto cooperao, resultado

    de intensas negociaes e prova do consenso internacional em torno da

    matria, cujo manejo adequado encerra importante meio de facilitao

    das atividades tcnicas nsitas aos procedimentos, permitindo agilidade e

    viabilizando a eficcia da prestao jurisdicional e administrativa do Estado

    na busca do bem comum.

    Jos Eduardo Cardozo

    Ministro de Estado da Justia

  • Introduo 13

    INTRODUO

    A poltica pblica brasileira tem sido marcada pela perspectiva de

    consolidao do bem-estar social de seus habitantes e pela aplicao

    de fundamentos humanistas, de incluso social, de respeito dignidade

    humana e de equalizao dos dilemas e dvidas histricas do Estado

    perante a sociedade. A insero internacional do pas pauta-se, tambm,

    pela projeo exterior desses valores e referenciais, bem como pela

    difuso de uma cultura de cooperao e compreenso que reposiciona

    a ordem internacional a servio da possibilidade de cada pas, para,

    autnoma ou articuladamente, buscar as melhores condies, alcanar o

    desenvolvimento econmico, social e humano.

    A gesto domstica que permite o aprofundamento dessas relaes

    passa pela existncia de um regime jurdico que provenha bem-estar ao

    migrante e consonncia com os princpios sociais e normativos brasileiros,

    permitindo integrao e contato harmnicos. So vrios os institutos

    de cooperao internacional demandados para a implementao de

    tal regime, cujo objetivo proporcionar a aproximao entre pases e

    desburocratizao da vida dos cidados migrantes.

    A globalizao, caracterizada pela intensificao dos fluxos de

    informaes, produtos e pessoas, intensifica tambm os padres de

    estabelecimento de novos vnculos, novas cidadanias, novos trnsitos,

    gerando demandas cotidianas cada vez maiores para uma populao de

    pessoas fora de seus pases de origem. Igualmente, o carter transnacional

    das relaes humanas perpassa toda a vida social, inclusive dando

    complexidade extra s relaes criminosas. Como fato da vida social,

    torna-se, historicamente, objeto de polticas de cooperao, e o principal

    e mais antigo instituto como resposta a extradio.

    Compete ao Estado munir-se de instrumentos adequados para

    paralisar a ao de grupos criminosos, e aos Estados, no plano das

    relaes intergovernamentais e supranacionais, cabe a cooperao

    investigativa, de reforo da legalidade, de promoo da repatriao de

    pessoas condenadas, enfim, a atuao responsiva organizao do crime

    para alm das fronteiras.

  • Introduo14Dentre os mecanismos de cooperao jurdica internacional, a

    extradio simboliza esse esforo entre Estados de convergncia no

    combate ao crime transnacional e impunidade. Mecanismos como

    este objetivam a reduo dos custos de transao, a amenizao das

    dificuldades burocrticas, financeiras e logsticas para a aplicao da

    Justia que as fronteiras nacionais representaram historicamente, tendo

    como referente fundamental o respeito soberania de cada nao.

    Este livro rene os acordos internacionais j firmados, e outros em

    negociao, os quais buscam viabilizar pronta resposta aos pedidos de

    extradio e estabelecer regras claras sobre a efetivao da entrega do

    extraditado ao Estado requerente, que realiza o objetivo finalstico de

    possibilitar a persecuo criminal dos que cruzam fronteiras na tentativa

    de se esquivar da Justia.

    O Ministrio da Justia, por meio da Secretaria Nacional de Justia

    - rgo competente para representar o Brasil internacionalmente em

    temas afetos extradio busca, portanto, democratizar os conceitos e

    as bases legais deste instituto. Espera-se, assim, socializar conhecimento

    que permite alm da mais ampla difuso dessas prticas em atores

    institucionais no Brasil que os atores sociais engajados na integrao da

    populao migrante possam se empoderar para o acompanhamento e o

    controle democrtico desses processos.

    Paulo Abro Pires Jnior

    Secretrio Nacional de Justia

  • Extradio: Conceitos e Princpios 15

    EXTRADIO:

    CONCEITOS E PRINCPIOS

    Se, por um lado, a intensificao mundial dos fluxos de bens, servios,

    capitais e pessoas trouxe vrios benefcios aos pases, como crescimento,

    desenvolvimento e evoluo em sentido amplo, de outro, acabou por

    transnacionalizar e expandir, tambm, as atividades criminosas. Isto porque

    as fronteiras para as pessoas reclamadas pela Justia no representam

    to-somente limites territoriais, mas tambm uma barreira ao alcance da

    Justia, capaz de resultar em impunidade.

    nesse contexto que o instituto da extradio apresenta-se como um

    dos mais eficientes e eficazes meios de cooperao jurdica internacional,

    eis que permite a entrega jurisdio do Estado requerente de pessoas

    reclamadas, seja para responder a processos-crime ou para cumprimento

    de pena.

    O renomado jurista Francisco Rezek, ex-ministro do Supremo Tribunal

    Federal (STF), em sua obra Direito Internacional Pblico, Curso Elementar,

    avalia a extradio como a entrega, por um Estado a outro, e a pedido

    deste, de pessoa que em seu territrio deva responder a processo penal ou

    cumprir pena (...). A extradio pressupe sempre um processo penal: ela

    no serve para a recuperao forada do devedor relapso ou do chefe de

    famlia que emigra para desertar dos seus deveres de sustento da prole 1

    Nas palavras do professor Hildebrando Accioly, extradio o ato

    mediante o qual um Estado entrega a outro Estado indivduo acusado de

    haver cometido crime de certa gravidade ou que j se ache condenado

    por aquele, aps haver-se certificado de que os direitos humanos do

    extraditando sero garantidos. 2

    A extradio encontra-se amparada por Acordo celebrado entre os

    Estados envolvidos, devendo ser observado o conjunto de requisitos

    1 REZEK , Francisco. Direito Internacional Pblico: curso elementar. 10 ed. rev. e atual. So Paulo:

    Saraiva, 2005.

    2 ACCIOLY, Hildebrando; NASCIMENTO E SILVA, G. E. do; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito

    Internacional Pblico. 17 ed So Paulo: Saraiva, 2009.

  • Extradio: Conceitos e Princpios16estabelecidos no texto ratificado. Na ausncia deste, o pedido de extradio

    poder ser formulado com promessa de reciprocidade de tratamento para

    casos anlogos entre os dois Estados, materializada por meio de Nota

    Diplomtica3.

    Os pedidos de extradio com base em promessa de reciprocidade de

    tratamento encontram respaldo legal e so instrudos, no Pas, na forma

    da Lei 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situao jurdica do

    estrangeiro no Brasil, bem assim nos compromissos internacionais firmados

    com vistas ao combate impunidade. Tal promessa constitui declarao

    de Governo em que, ocorrendo situao anloga no pas requerido, o pas

    requerente compromete-se a conceder a extradio nos mesmos moldes.

    O primeiro princpio fundamental da extradio o Princpio da

    Especialidade, ou seja, o extraditando no poder ser processado e/

    ou julgado por crimes que no embasaram o pedido de cooperao e

    que tenham sido cometidos antes de sua extradio, podendo o Estado

    requerente solicitar ao Estado requerido a extenso ou ampliao da

    extradio ou extradio supletiva.

    Referido princpio no pode deixar de ser observado, ainda que a

    pessoa extraditada consinta em ser processada no Estado requerente por

    outros delitos que no os que instruram o pedido de extradio.

    O modelo de Acordo de extradio das Naes Unidas, em seu artigo

    14, trata da extenso ou ampliao do pedido da seguinte forma: um

    indivduo extraditado (...) no poder, no territrio do Estado requerente,

    ser processado, condenado, detido ou reextraditado para um terceiro

    Estado, nem ser submetido a outras restries em sua liberdade pessoal,

    por uma infrao cometida antes da entrega, salvo: a) se se tratar de uma

    3 Supremo Tribunal Federal, Extradio 633, Relator Ministro Celso de Mello, julgada em 28.08.1996:

    Nota Diplomtica e presuno de veracidade. A Nota Diplomtica, que vale pelo que nela se contm, goza da

    presuno juris tantum de autenticidade e de veracidade. Trata-se de documento formal cuja eficcia jurdica deriva

    das condies e peculiaridades de seu trnsito por via diplomtica. Presume-se a sinceridade do compromisso

    diplomtico. Essa presuno de veracidade sempre ressalvada a possibilidade de demonstrao em contrrio

    decorre do princpio da boa f, que rege, no plano internacional, as relaes poltico-jurdicas entre os Estados

    soberanos.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 17

    infrao pela qual a extradio tenha sido concedida; ou b) se o Estado

    requerido manifestar a sua concordncia.

    Outro princpio basilar da extradio o da Dupla Tipicidade, tambm

    conhecido como Princpio da Identidade ou da Dupla Incriminao do

    Fato ou Incriminao Recproca. Sob a gide deste, impe-se que somente

    seja concedida uma extradio para um fato tpico e antijurdico, assim

    considerado tanto no pas requerente quanto no requerido4.

    O princpio supra alinha-se em sua forma ao Princpio da Legalidade, ou

    seja, no h crime sem lei anterior que o defina. Os pedidos de extradio

    no se restringem existncia de previso de tipos legais idnticos, mas

    aos que a conduta ou omisso tpica e antijurdica no ordenamento

    jurdico dos Estados requerente e requerido, no se incluindo os delitos de

    natureza poltica ou militar.

    Outra circunstncia que deve ser analisada a do non bis in idem, por

    meio da qual, no ser concedida a extradio quando j existir sentena

    transitada em julgado pelo mesmo fato em que se baseia o pedido de

    extradio. Destaque-se, aqui, o termo fato, j que poder ser solicitada

    a extradio de um indivduo por um determinado crime em relao ao

    qual j tenha sido condenado, mas no em relao ao mesmo fato delitivo5.

    4 Supremo Tribunal Federal, Extradio 953, Relator Ministro Celso de Mello, julgada em 28.09.2005:

    Extradio e dupla tipicidade. A possvel diversidade formal concernente ao nomen juris das entidades delituosas

    no atua como causa obstativa da extradio, desde que o fato imputado constitua crime sob a dupla perspectiva dos

    ordenamentos jurdicos vigentes no Brasil e no Estado estrangeiro que requer a efetivao da medida extradicional.

    O postulado da dupla tipicidade por constituir requisito essencial ao atendimento do pedido de extradio impe

    que o ilcito penal atribudo ao extraditando seja juridicamente qualificado como crime tanto no Brasil quanto

    no Estado requerente. O que realmente importa, na aferio do postulado da dupla tipicidade, a presena dos

    elementos estruturantes do tipo penal (essentialia delicti), tais como definidos nos preceitos primrios constantes da

    legislao brasileira e vigentes no ordenamento positivo do Estado requerente, independentemente da designao

    formal por eles atribudos aos fatos delituosos.

    5 Supremo Tribunal Federal, Extradio n 890, Relator Ministro Celso de Mello, julgada em 05.08.2004:

    Obstculo ao deferimento do pedido extradicional, quando fundado nos mesmos fatos delituosos objeto da

    persecuo penal instaurada pelo Estado brasileiro. A extradio no ser concedida, se, pelo mesmo fato em que

    se fundar o pedido extradicional, o sdito estrangeiro estiver sendo submetido a procedimento penal no Brasil, ou,

    ento, j houver sido condenado ou absolvido pelas autoridades judicirias brasileiras. Ningum pode expor-se, em

    tema de liberdade individual, situao de duplo risco. Essa a razo pela qual a existncia de situao configuradora

    de double jeopardy atua como insupervel obstculo ao atendimento do pedido extradicional. Trata-se de garantia

    que tem por objetivo conferir efetividade ao postulado que veda o bis in idem

  • Extradio: Conceitos e Princpios18No tocante aos pedidos de extradio passiva, o Estado brasileiro

    segue o Sistema de Contenciosidade Limitada. De acordo com este, a

    ao para julgamento do pedido de extradio junto ao Supremo Tribunal

    Federal no consiste na repetio do litgio penal que lhe deu origem. A

    Suprema Corte possui limitaes que a impedem de reexaminar o quadro

    probatrio ou a discusso sobre o mrito tanto da acusao quanto da

    condenao emanadas pela autoridade competente do Estado estrangeiro.

    O Sistema de Contenciosidade Limitada no impede, contudo, que o

    Supremo Tribunal Federal analise os aspectos formais do processo criminal

    que embasa o pedido de extradio, garantias e direitos bsicos da pessoa

    reclamada.6

    INSTITUTOS DISTINTOS:

    EXTRADIO, EXPULSO E DEPORTAO

    A Extradio, a Expulso e a Deportao so as chamadas Medidas

    Compulsrias previstas na Lei n 6.815, de 1980, conhecida como Estatuto

    do Estrangeiro. So tidas como as modalidades de retirada forada do

    estrangeiro do Territrio Nacional, sendo independentes e peculiares. Nas

    palavras do ilustre Mestre Francisco Guimares, tem-se que: enquanto

    a deportao se dirige s hipteses de entrada ou estada irregular, a

    expulso se volta contra o estrangeiro nocivo ou indesejvel ao convvio

    social, sendo a extradio a forma processual admitida, de colaborao

    internacional, para fazer com que um infrator da lei penal, refugiado em

    um pas, se apresente ao juzo competente de outro pas onde o crime foi

    cometido7.

    6 Supremo Tribunal Federal, Extradio n 549, Relator Ministro Celso de Mello, julgada em 28.05.1992:

    O Supremo Tribunal Federal, na ao de extradio passiva, no dispe de qualquer poder de indagao probatria

    sobre o mrito da pretenso deduzida pelo Estado requerente. A defesa do extraditando sofre, no processo

    extradicional, limitaes de ordem material, eis que no podendo ingressar na anlise dos pressupostos da

    persecutio criminis instaurada no Estado requerente somente poder versar os temas concernentes identidade

    da pessoa reclamada, existncia de vcios formais nos documentos apresentados ou ilegalidade da prpria

    extradio.

    7 GUIMARES, Francisco Xavier da Silva. Medidas compulsrias: a deportao, a expulso e a extradio.

    2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002

  • Extradio: Conceitos e Princpios 19

    Expulso:

    Consiste em medida coercitiva de carter discricionrio de um Estado,

    levada a efeito em face do estrangeiro que, de qualquer forma, atentar

    contra a segurana nacional, a ordem poltica ou social, a tranquilidade ou

    moralidade pblica e a economia popular, ou cujo procedimento o torne

    nocivo convenincia e aos interesses nacionais.8

    Compete ao Diretor do Departamento de Estrangeiros, da Secretaria

    Nacional de Justia, determinar a instaurao de Inqurito de Expulso

    em que so assegurados ao estrangeiro a ampla defesa e o contraditrio e

    que ir compor o processo administrativo para fins de expulso como pea

    instrutria, dentre outras. A deciso sobre a expulso e sua revogao,

    desde maio de 2000, de competncia do Ministro de Estado da Justia,

    delegada pelo Presidente da Repblica por meio do Decreto n 3.447, de 5

    de maio de 2000, vedada subdelegao.

    Vale ressaltar que no ser efetivada a expulso de estrangeiro quando

    esta implicar extradio inadmitida, conforme previsto no artigo 75, I, da

    Lei 6.815/809, ou seja, ainda que o estrangeiro seja passvel de expulso,

    o Governo brasileiro no poder efetivar referida medida compulsria

    para o mesmo pas em que houver deciso de indeferimento de pedido

    de extradio, sob pena de configurar uma extradio indireta e, portanto,

    no admitida pela legislao brasileira.

    Uma vez expulso, o estrangeiro impedido de reingressar no territrio

    nacional, sob pena de configurar-se o delito tipificado no artigo 338, do Cdigo

    Penal, tratando-se de crime permanente cuja pena, de recluso, de um a

    quatro anos, sem prejuzo de nova expulso aps o cumprimento daquela.

    Trata-se de crime que se consuma com o reingresso no territrio

    nacional, e cuja ao penal pblica incondicionada, de competncia da

    Justia Federal, ex vi do art. 109, X, da Constituio Federal.

    8 Artigo 65, da Lei n 6.815, de 1980.

    9 Lei n 6.815, de 1980, artigo 75 No se proceder expulso: I - se implicar extradio inadmitida pela

    lei brasileira; (...)

  • Extradio: Conceitos e Princpios20Repatriao e Deportao:

    A repatriao ocorre quando um estrangeiro sem autorizao

    impedido de ingressar no Brasil, ainda na rea de controle migratrio

    do porto, aeroporto ou da fronteira. Ocorre a expensas da empresa

    transportadora, uma vez que se obriga a permitir o embarque somente

    daqueles que estejam identificados e com vistos vlidos, se for o caso.

    A deportao, por sua vez, ser aplicada nas hipteses de entrada

    ou estada irregular de estrangeiros no territrio nacional, e geralmente

    ocorre quando o estrangeiro mesmo tendo sido notificado, no deixa o

    Pas no prazo estipulado, que pode variar de um a oito dias.

    No entanto, poder ser procedida a deportao sumria, desde que

    conveniente aos interesses nacionais luz do dispoto no 2 do artigo 57

    da Lei n 6.815, de 1980.

    O estrangeiro que ingressa no territrio nacional sem autorizao

    reputado como clandestino na Lei n 6.815, de 1980, sendo que a estada

    irregular refere-se mera infrao administrativa, no sendo considerado

    crime no Brasil, razo porque o termo estada ilegal inapropriado.

    Em nenhum dos casos, o retorno do estrangeiro ao Brasil ser impedido,

    desde que sejam ressarcidos eventuais gastos da Unio com a deportao

    ou repatriao e haja o recolhimento da multa imposta, se for o caso.

    EXTRADIO E TRANSFERNCIA DE PESSOAS

    CONDENADAS

    O instituto da transferncia de pessoas condenadas reveste-se de

    carter eminentemente humanitrio que visa facilitar a reintegrao de

    pessoas condenadas ao meio social de que so originrias, na medida em que

    possibilita o cumprimento junto a seus familiares e compatriotas do restante

    da pena aplicada pelo Poder Judicirio de pas do qual no nacional.

    Diversamente da extradio, em que a pessoa reclamada por

    determinado pas para responder a processo ou para execuo de pena, a

    transferncia de pessoas condenadas s ocorre aps sentena transitada

    em julgado e depende de vontade expressa do preso em cumprir o restante

  • Extradio: Conceitos e Princpios 21

    da pena em seu pas de nacionalidade ou de residncia, se assim estiver

    previsto no Acordo respectivo.

    A transferncia de pessoas condenadas somente ser autorizada entre

    pases com os quais o Brasil possua Acordo em vigor, e sua efetivao ocorre

    concomitantemente com a expulso do estrangeiro do territrio nacional.

    CLASSIFICAO DA EXTRADIO

    A extradio poder ser solicitada tanto para fins de instruo de

    processo penal a que responde a pessoa reclamada (instrutria), como

    para cumprimento de pena j imposta (executria).

    No Brasil, a extradio ativa quando o Governo brasileiro solicita

    a entrega de uma pessoa procurada pela Justia brasileira a outro pas,

    para fins de julgamento ou cumprimento de pena. considerada passiva

    quando a pessoa objeto de processo penal em outro pas encontra-se no

    Brasil e o Estado estrangeiro requer sua entrega para instruo de processo

    penal ou execuo de sentena, ainda que no transitada em julgado.

    AUTORIDADE CENTRAL BRASILEIRA:

    O PAPEL DA SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIA,

    DO MINISTRIO DA JUSTIA

    Em matria de extradio, a Autoridade Central designada como

    competente para tratar do tema. Entre as atividades desempenhadas,

    destacam-se: providenciar o recebimento e envio de documentos;

    examinar a viabilidade dos pedidos de extradio, procedendo ao juzo

    da admissibilidade nos termos dos Acordos ou da legislao interna;

    adotar as medidas necessrias visando agilizar da tramitao de pedido

    de extradio at sua finalizao; otimizar as eventuais diligncias;

    assessorar as autoridades competentes; autorizar a entrega e o trnsito

    de extraditandos, entre outros.

    A Secretaria Nacional de Justia, do Ministrio da Justia, por meio

    do Departamento de Estrangeiros, a Autoridade Central em matria de

    extradio, sendo responsvel por formalizar os pedidos de extradio

  • Extradio: Conceitos e Princpios22feitos por autoridades brasileiras a um determinado Estado estrangeiro

    (ativa) ou, ainda, processar, opinar e encaminhar as solicitaes de

    extradio formuladas por outro pas Suprema Corte brasileira (passiva).

    No mbito do Departamento de Estrangeiros, realizado um juzo

    de admissibilidade das solicitaes de extradio, submetendo-as ao

    respectivo pas requerido, quando ativa, ou ao Supremo Tribunal Federal,

    quando se tratar de extradio passiva. Nessa anlise, verificam-se

    especialmente os documentos apresentados, e se foram observados os

    requisitos legais necessrios concesso da medida, auxiliando o Estado

    requerente no que for necessrio correta formalizao do pedido.

    Atua, ainda, no sentido de agilizar os trmites dos pedidos de

    extradio, agindo em parceria com outros rgos, incluindo o Ministrio

    das Relaes Exteriores, a INTERPOL, e o Supremo Tribunal Federal.

    CONTROLE DE LEGALIDADE:

    O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

    De forma geral, o Poder Judicirio do Estado requerido responsvel

    por decidir se o pedido de extradio formulado deve ou no ser concedido.

    So analisados, principalmente, os aspectos formais que conduziram o

    processo criminal objeto do pedido de extradio, levando-se em conta

    as garantias fundamentais do extraditando, as limitaes prescricionais e

    a inexistncia de motivaes polticas ou ideolgicas que prejudiquem o

    pedido formulado.

    importante salientar que, no Brasil, a Autoridade Judicial competente

    o Supremo Tribunal Federal, e este no se constitui em instncia revisora

    dos atos praticados pela Justia do Estado requerente, no sendo admitida

    anlise de mrito desses atos ou dos meios probatrios que influenciaram

    as decises. Por esse motivo, como antes mencionado, o ordenamento

    jurdico brasileiro adota o sistema de contenciosidade limitada, no sendo

    possvel proceder a qualquer tipo de indagao probatria.

    O Supremo Tribunal Federal realiza um rgido controle de legalidade

    do pedido, verificando, por exemplo, se o fato imputado punvel na

  • Extradio: Conceitos e Princpios 23

    legislao de ambos Estados, se j era tipificado anteriormente a seu

    cometimento, se j foi extinta a punibilidade do delito praticado em

    qualquer dos Estados requerente e requerido , e se o crime ou no de

    natureza poltica ou militar.

    No controle da legalidade, verificado se a pessoa estar sujeita

    a uma pena inexistente ou no admitida no Brasil, sendo que, ainda

    assim, a extradio poder ser deferida, ficando apenas condicionada a

    entrega apresentao pelo Estado requerente, de compromisso formal

    de substituio de eventual pena morte ou perptua por privativa de

    liberdade.

    Da deciso do Supremo Tribunal Federal no cabe recurso, apenas

    embargos de declarao quando se verificar omisso, obscuridade ou

    contradio10.

    TRMITE DOS PROCESSOS DE EXTRADIO NO BRASIL

    Ao formular o pedido de extradio ou de priso preventiva, o Estado

    requerente poder solicitar a apreenso, reteno ou outras medidas

    cautelares anlogas, de bens que forem encontrados em poder do foragido

    e que tenham vnculo com o crime pelo qual a extradio solicitada.

    Para tanto, o pedido dever ser formulado expressamente, com indicao

    precisa dos bens e a razo pela qual acreditam tratar-se de objetos ou

    valores obtidos com a prtica criminosa.

    Processamento dos pedidos de extradio ativa:

    No caso da extradio ativa, o Poder Judicirio encaminha a

    documentao correspondente ao Departamento de Estrangeiros, da

    10 Supremo Tribunal Federal, Extradio 1139 ED, Relatora Ministra Ellen Gracie, julgada em 17.12.2009.

    Ementa: EMBARGOS DE DECLARAO. REDISCUSSO DOS FUNDAMENTOS EXPOSTOS NO VOTO. INADMISSIBILIDADE.

    AUSNCIA DE OBSCURIDADE, OMISSO OU CONTRADIO. EMBARGOS REJEITADOS. 1. Os embargos de declarao

    so cabveis para devolver ao rgo jurisdicional a oportunidade de pronunciar-se no sentido de aclarar julgamento

    obscuro, completar deciso omissa ou dirimir contradio de que se reveste o julgado. 2. imperioso o registro de

    que, no julgamento dos embargos de declarao, a regra que no h prolao de nova deciso ou julgamento, mas

    sim apenas clareamento do que j foi julgado. 3. No h obscuridade, omisso ou contradio no julgado impugnado.

    4. Com efeito, todas as questes ora suscitadas j foram devidamente analisadas quando do julgamento do pedido

    extradicional, restando ntida a inteno do embargante de rediscutir os fundamentos da deciso do Plenrio deste

    Tribunal. 5. Embargos rejeitados.

  • Extradio: Conceitos e Princpios24Secretaria Nacional de Justia, que analisa a admissibilidade do pedido, a fim

    de verificar se est na forma estabelecida no Acordo e/ou legislao interna.

    Sendo admitido, o pedido de extradio ser encaminhado ao

    Ministrio das Relaes Exteriores, a fim de que seja formalizado ao

    Estado onde se encontra o foragido da justia brasileira, ou diretamente

    Autoridade Central do respectivo pas, quando permitido em Acordo.

    Ordinariamente, a priso preventiva para fins de extradio

    solicitada antes da formalizao do pedido, visando evitar eventual fuga do

    extraditando. Nesses casos, aps a priso, o Brasil notificado a apresentar

    os documentos justificativos e formalizadores da extradio no prazo

    estipulado no acordo ou, na falta deste, conforme legislao interna do

    Estado requerido, sob pena de concesso de liberdade pessoa requerida.

    Uma vez em liberdade, novo pedido de priso preventiva s ser aceito

    por ocasio do encaminhamento de todos os documentos necessrios

    anlise e deciso do pedido de extradio.

    Acordos atuais preveem que a priso preventiva seja requerida por

    meio da INTERPOL. Neste sentido, o Governo brasileiro vem buscando

    incluir esta possibilidade em todos os Acordos em negociao, uma vez

    que a tramitao do pedido de priso preventiva, via de regra, torna-se

    mais clere e dificulta a fuga da pessoa procurada.

    Sendo diferida a extradio, o Estado requerido comunicar a deciso

    Autoridade Central, com urgncia, para que as autoridades brasileiras

    retirem o extraditando do territrio estrangeiro no prazo previsto no

    Acordo, ou na data estipulada pela legislao interna do pas requerido.

    A entrega poder ser diferida se razes de sade assim recomendarem,

    ou ainda, se o extraditando estiver sujeito a processo criminal, ou estiver

    cumprindo pena por crime cometido no territrio do Estado requerido. No

    caso de constar processo criminal em curso, poder o Estado requerido

    entregar o extraditando independentemente do resultado deste, caso sua

    legislao interna o permita.

    Denegado o pedido de extradio, total ou parcialmente, os seus

    fundamentos devero ser comunicados imediatamente ao Estado

    requerente.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 25

    Na hiptese de deferimento de pedido de extradio somente para

    um dos processos a que responde o extraditando, e havendo notcia

    sobre a existncia de outro(s), a Autoridade Central, em vista do Princpio

    da Especialidade, solicita aos demais juzos que se manifestem quanto

    ao interesse em formalizar pedido de extenso ou ampliao (tambm

    conhecida como extradio supletiva ou complementar).

    Processamento dos pedidos de extradio passiva:

    O Governo brasileiro recebe o pedido de extradio, por meio do

    Ministrio das Relaes Exteriores ou diretamente da Autoridade Central

    do Estado requerente, conforme previsto na legislao vigente.

    A Secretaria Nacional de Justia, por meio do Departamento de

    Estrangeiros, realiza a anlise de admissibilidade ao amparo do respectivo

    Acordo e da lei interna, e, uma vez devidamente instrudo, encaminha o

    pedido ao Supremo Tribunal Federal, a quem compete a anlise de mrito,

    conforme previsto no artigo 102, inciso I, alnea g da Constituio Federal.

    Sobre pedido e deferimento de priso preventiva para fins de

    extradio, segue-se a mesma regra em relao extradio ativa. Ou

    seja, caso solicitada por via diplomtica, ou pela INTERPOL se previsto

    em Acordo especfico, ser encaminhada, por intermdio do Ministrio

    da Justia, ao Supremo Tribunal Federal. Decretada a priso preventiva

    pela Egrgia Corte e efetivada a coao, o pas requerente ser notificado

    a apresentar os documentos justificativos e formalizadores no prazo

    previsto no respectivo Acordo ou na falta deste, no prazo de noventa dias,

    contados da data do recebimento pelo Estado requerente da notificao

    da efetivao da priso, conforme previsto na Lei n 6.815/80.

    Independentemente de solicitao de priso preventiva para casos de

    urgncia, dispe a legislao brasileira que no ter andamento o pedido

    de extradio sem que o extraditando seja preso e colocado disposio

    do Supremo Tribunal Federal11.

    11 Supremo Tribunal Federal, HC 73.023, Relator Ministro Maurcio Correa, julgada em 30.11.1995: A

    priso preventiva decretada pelo Ministro-Relator em sede extradicional tem por finalidade especfica submeter o

    extraditando ao controle jurisdicional do Supremo Tribunal Federal at o julgamento final da extradio (art. 84,

    pargrafo nico, da Lei n. 6.815/80). Concedida a extradio, a priso do extraditando tem por objetivo viabilizar a

    sua remoo do territrio nacional pelo Estado-requerente (art. 86, da Lei n 6.815/80)

  • Extradio: Conceitos e Princpios26Deferida a extradio pelo Supremo Tribunal Federal, e aps o

    trnsito em julgado da deciso, a Autoridade Central brasileira poder

    diferir a entrega na hiptese de o extraditando responder a processo-

    crime perante a Justia brasileira ou estiver cumprindo pena, ou, ainda,

    na ausncia de apresentao dos compromissos formais, se for o caso, do

    que se tratar adiante.

    Se no houver pendncias com a Justia brasileira, ou o Governo

    brasileiro decidir discricionariamente sobre a entrega, independentemente

    de processo-crime a que responda o extraditando no Brasil, com base no

    artigo 67 da c/c 89 da Lei n 6.815/80, a Autoridade Central comunicar

    ao pas requerente que a retirada do extraditando do territrio nacional

    dever ser providenciada no prazo fixado no Acordo ou em sessenta

    dias, conforme disposto no art. 86, da Lei n 6.815, de 1980, contados do

    recebimento da notificao pelo Estado requerente. Caso no seja retirado

    no prazo estipulado, o indivduo ser colocado em liberdade e o Brasil no

    ser obrigado a det-lo novamente em razo do mesmo pedido.

    Eventual deciso, total ou parcialmente denegatria pelo Supremo

    Tribunal Federal, ser fundamentada e informada ao pas requerente da

    extradio.

    CONCORRNCIA DE PEDIDOS

    Caso mais de um Estado solicite a extradio de uma mesma pessoa, a

    preferncia ser analisada de acordo com o previsto no Acordo respectivo.

    Caso no haja, a soluo ser dada na forma da legislao interna do

    Estado requerido.

    No caso do Brasil, no havendo previso em Acordo, ou na falta deste,

    a anlise da concorrncia de pedidos de extradio passiva obedecer ao

    que dispe o artigo 79, da Lei n 6.815, de 1980, in verbis:

    Art. 79 - Quando mais de um Estado requerer a extradio da

    mesma pessoa, pelo mesmo fato, ter preferncia o pedido

    daquele em cujo territrio a infrao foi cometida.

    1 - Tratando-se de crimes diversos tero preferncia,

    sucessivamente:

  • Extradio: Conceitos e Princpios 27

    I o Estado requerente em cujo territrio haja sido cometido

    o crime mais grave, segundo a lei brasileira;

    II o que em primeiro lugar houver pedido a entrega do

    extraditando, se a gravidade dos crimes for idntica; e

    III o Estado de origem, ou, na sua falta, o domiciliar do

    extraditando, se os pedidos forem simultneos.

    2 - Nos casos no previstos decidir sobre a preferncia o

    Governo brasileiro.

    3 - Havendo tratado com algum dos Estados requerentes,

    prevalecero suas normas no que disserem respeito

    preferncia de que trata este artigo.

    DOCUMENTOS JUSTIFICATIVOS E

    FORMALIZADORES DO PEDIDO DE EXTRADIO

    Os documentos necessrios instruo do pedido de extradio

    podem variar conforme o Acordo ou, ainda, segundo a legislao interna

    do pas requerido.

    Os pedidos de extradio passiva tero sua legalidade analisada pelo

    Supremo Tribunal Federal e, em regra, devem ser instrudos com:

    - todos os dados que possibilitem a identificao do

    indivduo procurado, a exemplo de fotografias e individuais

    datiloscpicas, bem assim a indicao sobre sua possvel

    localizao no Brasil;

    - cpia autenticada ou certido da sentena condenatria

    ou, no caso de extradio instrutria, cpia da sentena de

    pronncia ou da deciso que decretou a priso preventiva,

    proferida por autoridade competente, contendo indicaes

    precisas sobre o local, data, natureza e circunstncias do fato

    criminoso;

    - cpia do mandado de priso expedido em desfavor do

    nominado; e

  • Extradio: Conceitos e Princpios28- cpia dos textos legais aplicveis ao crime, pena, e sua

    prescrio.

    Para pedidos de extradio ativa, solicita-se, alm dos tens acima

    transcritos, pedido formal dirigido ao Excelentssimo Senhor Ministro

    de Estado da Justia, juntamente com informaes eventualmente

    disponveis, capazes de auxiliar as autoridades do Estado requerido na

    localizao do extraditando, a exemplo do provvel endereo no exterior.

    Nos casos de urgncia, poder ser formulado pedido de priso

    preventiva contendo, no mnimo, cpia do mandado de priso,

    acompanhada dos textos legais aplicveis ao crime, pena, e prescrio,

    alm das informaes necessrias identificao do indivduo.

    Na forma dos Acordos e da legislao interna, os documentos

    encaminhados pela via diplomtica dispensam outras formalidades de

    legalizao, sendo considerados autnticos para todos os fins. Eventual

    permissiva em Acordo para o encaminhamento entre Autoridades Centrais

    igualmente confere autenticidade aos documentos, dada a boa f reputada

    aos agentes pblicos internacionais.

    Salvo disposio diversa em Acordo, os documentos devem estar

    sempre acompanhados da respectiva traduo para o idioma do pas

    requerido.

    INFORMAES E DILIGNCIAS COMPLEMENTARES

    O Estado requerente poder, a qualquer tempo, solicitar informaes

    acerca do andamento do processo de extradio no Estado requerido.

    O Estado requerido poder solicitar diligncias adicionais ao

    Estado requerente, fixando prazo para seu cumprimento, sob pena de

    arquivamento, por entender no haver interesse na extradio.

    A Autoridade Central brasileira transmitir ao Estado requerente,

    sem demora, todas as comunicaes relativas ao processo de extradio,

    tais como: decises; requerimento de diligncias; transferncia de

    estabelecimento prisional do extraditando; e outras julgadas pertinentes.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 29

    DENEGAO DA EXTRADIO

    De acordo com o Artigo 77, do Estatuto do Estrangeiro, no ser

    concedida extradio quando, in verbis:

    I se tratar de brasileiro, salvo se a aquisio dessa

    nacionalidade verificar-se aps o fato que motivar o pedido;

    II - o fato que motivar o pedido no for considerado crime no

    Brasil ou no Estado requerente;

    III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o

    crime imputado ao extraditando;

    IV - a lei brasileira impuser ao crime a pena de priso igual ou

    inferior a 1 (um) ano;

    V - o extraditando estiver respondendo a processo ou j

    houver sido condenado ou absolvido no Estado requerido pelo

    mesmo fato em que se fundar o pedido;

    VI - estiver extinta a punibilidade pela prescrio segundo a lei

    brasileira ou a do Estado requerente;

    VII - o fato constituir crime poltico; e

    VIII - o extraditando houver de responder, no Estado

    requerente, perante Tribunal ou Juzo de exceo.

    1 A exceo do item VII no impedir a extradio quando

    o fato constituir, principalmente, infrao da lei penal comum,

    ou quando o crime comum, conexo ao delito poltico, constituir

    o fato principal.

    2 Caber, exclusivamente, ao Supremo Tribunal Federal, a

    apreciao do carter da infrao.

    3 O Supremo Tribunal Federal poder deixar de considerar

    crimes polticos os atentados contra Chefes de Estado ou

    quaisquer autoridades, bem assim os atos de anarquismo,

    terrorismo, sabotagem, sequestro de pessoa, ou que

    importem propaganda de guerra ou de processos violentos

    para subverter a ordem poltica ou social.

  • Extradio: Conceitos e Princpios30O inciso I supra, que prev a no extradio de brasileiro, salvo se

    a aquisio dessa nacionalidade verificar-se aps o fato que motivar

    o pedido, reportava-se Constituio de 1967, com redao dada pela

    Emenda Constitucional de 1969, cujo artigo 153, 19, explicitava: No

    ser concedida a extradio do estrangeiro por crime poltico ou de opinio,

    nem, em caso algum, a de brasileiro. No entanto, em face da posterior

    promulgao da Constituio de 1988, referido inciso deve ser tratado

    luz do que prev o inciso LI, do art. 5 da CF/88, que explicita: nenhum

    brasileiro ser extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,

    praticado antes da naturalizao, ou de comprovado envolvimento em

    trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.

    Merece destaque a previso do inciso VII, do artigo 77, do Estatuto

    do Estrangeiro suso transcrito, que veda a extradio quando presente

    o carter poltico do fato pelo qual a pessoa reclamada. Todavia, na

    forma do 1 do mesmo artigo, poder ser deferida a extradio, a juzo

    do Supremo Tribunal Federal, quando o fato principal for tipificado como

    crime comum pela lei penal, ou, ainda, quando se verificar conexo com

    crime poltico, o principal seja comum.

    Sobreleva esclarecer que a natureza poltica do crime deve ser

    analisada de acordo com os aspectos fticos que envolvem o caso concreto.

    Contudo, a lei ordinria permite que no sejam considerados como tal

    aqueles descritos no 3 acima transcrito.

    Outra hiptese de denegao da extradio pode ocorrer quando

    poca do cometimento do crime a pessoa procurada era menor de dezoito

    anos.

    Diferentemente da medida compulsria de expulso, no ser causa

    de indeferimento da extradio o fato de o estrangeiro ser genitor ou

    cnjuge de brasileiro12.

    12 Smula n 421 do Supremo Tribunal Federal: No impede a extradio a circunstncia de ser o

    extraditando casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 31

    ENTREGA DE EXTRADITANDO:REQUISITOS E PROCEDIMENTOS

    Na hiptese de extradio passiva, cabe ao Departamento de

    Estrangeiros, da Secretaria Nacional de Justia, do Ministrio da Justia, por

    delegao de competncia, autorizar a entrega do extraditando ao Estado

    requerido. Neste caso, a autorizao encaminhada ao Departamento de

    Polcia Federal para efetivar a medida, na forma do artigo 110, do Decreto

    n 86.715, de 1981, que lavrar o respectivo Termo e o remeter ao

    Departamento de Estrangeiros, in verbis:

    Art. 110 - Compete ao Departamento de Polcia Federal, por

    determinao do Ministro da Justia:

    I - efetivar a priso do extraditando;

    II - proceder sua entrega ao Estado ao qual houver sido

    concedida a extradio.

    Pargrafo nico - Da entrega do extraditando ser lavrado termo,

    com remessa de cpia ao Departamento Federal de Justia.

    Para tanto, dever o pas requerente informar previamente os dados

    pessoais das autoridades responsveis pela escolta e o roteiro de viagem.

    Autorizada a entrega, o pas requerente ser notificado a providenciar

    a retirada do extraditando do territrio do pas requerido no prazo fixado

    em Acordo, ou, na ausncia deste, no prazo previsto na legislao interna

    deste ltimo. No caso de extradio passiva, inexistindo Acordo especfico,

    prev a lei brasileira o prazo de sessenta dias13.

    Caso o Estado requerido no retire o extraditando no prazo fixado,

    este ser posto em liberdade e ordinariamente o Estado requerido no

    obrigado a det-lo novamente em razo do mesmo pedido14.

    13 Lei n 6.815, de 1980, art. 86 Concedida a extradio, ser o fato comunicado atravs do Ministrio

    das Relaes Exteriores Misso Diplomtica do Estado requerente que, no prazo de sessenta dias da comunicao,

    dever retirar o extraditando do territrio nacional.

    14 Lei n 6.815, de 1980, art. 87 Se o Estado requerente no retirar o extraditando do territrio nacional

    no prazo do artigo anterior, ser ele posto em liberdade, sem prejuzo de responder a processo de expulso, se o

    motivo da extradio o recomendar.

  • Extradio: Conceitos e Princpios32O Brasil no poder entregar o extraditando ao Estado requerente15 sem

    que este assuma os compromissos previstos no art. 91, da Lei n 6.815/80,

    in verbis:

    Art. 91. No ser efetivada a entrega sem que o Estado

    requerente assuma o compromisso:

    I - de no ser o extraditando preso nem processado por fatos

    anteriores ao pedido;

    II - de computar o tempo de priso que, no Brasil, foi imposta

    por fora da extradio;

    III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal

    ou de morte, ressalvados, quanto ltima, os casos em que a

    lei brasileira permitir a sua aplicao;

    IV - de no ser o extraditando entregue, sem consentimento

    do Brasil, a outro Estado que o reclame; e

    V - de no considerar qualquer motivo poltico, para agravar

    a pena.

    O inciso I, do artigo suso transcrito, resulta do princpio da

    especialidade. Conforme alhures referenciado, havendo outro fato

    criminoso anterior extradio que no tenha sido includo no pedido,

    dever o Estado requerido solicitar a extenso da extradio.

    O inciso II refere-se detrao penal em relao ao tempo em que o

    extraditando permaneceu preso no Estado requerido exclusivamente por

    fora do pedido de extradio formulado pelo Estado requerente. Neste

    15 Supremo Tribunal Federal, Ext 1.013, Relator Ministro Marco Aurlio, julgada em 1.03.2007: Extradio

    Forma Compromisso do Estado requerente. Uma vez observada a forma estabelecida na Lei n 6.815/80, cumpre

    o deferimento da extradio. Os compromissos previstos no artigo 91 desse diploma podem ser assumidos quando

    da entrega do extraditando.

    Supremo Tribunal Federal, Ext 1.069, Relator Ministro Gilmar Mendes, julgada em 09.08.2007: Diante da

    possibilidade de aplicao de priso perptua pelo Estado requerente, o pedido de extradio deve ser deferido

    sob condio de que o Estado requerente assuma, em carter formal, o compromisso de comutar a pena de priso

    perptua em pena privativa de liberdade com o prazo mximo de 30 anos.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 33

    caso, dever o pas requerido computar o tempo de priso em relao ao

    tempo de pena que haver de cumprir naquele pas16.

    O inciso III impe que no seja aplicada pena corporal, ou de morte,

    se for o caso, substituindo-a por pena privativa de liberdade. Observe-se

    que a pena corporal aqui tratada refere-se que atinja a integridade fsica

    e a sade do preso, consubstanciada em sofrimento fsico. Isto porque o

    ordenamento jurdico reprime as penas de morte, de carter perptuo, de

    trabalhos forados, de banimento e cruis, conforme dispe o inciso XLVII,

    do artigo 5, da Constituio Federal, pelo que no se entregam pessoas

    por meio da extradio a pases que possam aplic-las.

    Assim, o Estado requerido deve comprometer-se a comut-las em

    uma pena privativa de liberdade, cuja execuo no seja superior ao

    mximo permitido no Brasil, atualmente, trinta anos.

    No h interferncia do Estado requerido no poder jurisdicional

    soberano do Estado requerente, uma vez que o extraditando pode ser

    condenado pena prevista na legislao estrangeira, mas a execuo

    dessa pena estar condicionada s condies previstas na legislao do

    Estado requerido.

    A exigncia do inciso IV reporta-se vedao da reextradio, que

    consiste em entregar um extraditando a um terceiro pas que o reclame por

    fato ocorrido antes da extradio sem o consentimento do pas inicialmente

    requerido. Eventual pedido de reextradio ser analisado como incidente

    do primeiro processo e sujeita-se a todos os procedimentos e requisitos

    para a concesso de uma extradio17.

    16 Supremo Tribunal Federal, Ext 495, Relator Ministro Paulo Brossard, julgada em 19.12.1990: Consigno,

    por fim, que a pena que o extraditando est cumprindo no Brasil por trfico de entorpecentes, no poder ser

    computada como tempo de priso imposto por fora da extradio, pois se cuida de espcies distintas, no se

    aplicando o que dispe o art. 91, II, da Lei n 6.815/80.

    17 Supremo Tribunal Federal, Pet. 2562 QO, Relator Ministro Nelson Jobim, julgada em 11.02.2002:

    Extradio. Questo de Ordem que se resolve no sentido de receber a petio como reextradio e no como

    pedido de extenso da extradio. Consentimento do Brasil e a interveno do STF. A deliberao de consentir com a

    extradio a outro Estado que a reclame sujeita-se ao controle judicial deste Tribunal (Lei n 6.815/80, art. 91, inc. IV).

    Procedimento. Na verdade, a reextradio uma nova extradio. Por isso, tem incidncia o procedimento ordinrio,

    no que lhe for aplicvel.

  • Extradio: Conceitos e Princpios34Por fim, o compromisso previsto no inciso V deriva da vedao de

    extraditar por crime poltico, no sendo permitido, tambm, agravar a

    pena por motivao de igual natureza. Cuida-se de medida de cautela que

    objetiva resguardar direitos, caso no se tenha presente o carter poltico

    da infrao, mas que, aps a entrega, seja o extraditado submetido no

    pas requerente a constrangimento superior e incompatvel com o crime

    que autorizou a medida em razo da ocorrncia de dita natureza. Referida

    precauo justifica-se sob o ngulo da nova ordem mundial, onde no se

    admite punio de conduta praticada com o pretexto de contribuir para a

    evoluo da sociedade.

    A apresentao formal dos compromissos pode ser dispensada

    quando a extradio fundada em Acordo vigente em que as previses j

    se encontrem expressas, pois entende-se que, com a ratificao deste, os

    pases envolvidos j se comprometeram com todos os seus termos.

    O Estado requerido arcar com as despesas ocasionadas em seu

    territrio desde a priso do extraditando at o momento da entrega. As

    despesas decorrentes do traslado aps a entrega sero suportadas pelo

    Estado requerente.

    No momento da entrega, documentos, valores e bens que se

    encontrem no Estado requerido, e que sejam produto do crime ou que

    possam servir de prova, sero igualmente entregues ao Estado requerente,

    de acordo com a legislao do Estado requerido e respeitados os direitos

    de terceiros, ainda que haja morte ou fuga do extraditando.

    Se, aps a entrega, o extraditando evadir-se do territrio da Parte

    requerente e retornar ao Estado requerido, ser detido mediante simples

    requisio feita por via diplomtica, e novamente entregue, sem outras

    formalidades, na forma do Acordo especfico ou do artigo 93, da Lei n

    6.815, de 1980, no caso de extradio passiva.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 35

    EXTRADITANDO QUE RESPONDE A PROCESSO PENAL

    PERANTE A JUSTIA BRASILEIRA

    O artigo 89, da Lei 6.815/80, prev que: quando o extraditando

    estiver sendo processado, ou tiver sido condenado, no Brasil, por crime

    punvel com pena privativa de liberdade, a extradio ser executada

    somente depois da concluso do processo ou do cumprimento da pena,

    ressalvado, entretanto, o disposto no artigo 67.

    Por sua vez, o art. 67, do mesmo Estatuto, dispe que: desde que

    conveniente ao interesse nacional, a expulso do estrangeiro poder

    efetivar-se, ainda que haja processo ou tenha ocorrido condenao.

    Sendo assim, o Ministrio da Justia poder, excepcionalmente,

    entregar o estrangeiro ao pas requerente independentemente do

    processo em curso ou do cumprimento da pena j imposta, seja por

    motivos humanitrios, como no caso de doena em estgio terminal, seja

    porque o crime cometido no exterior de maior gravidade.

    Um exemplo de crime de menor gravidade no Brasil em relao ao

    objeto da extradio verificado quando a pessoa procurada faz uso de

    documento falso para ocultar sua verdadeira identidade visando no

    responder a processo ou cumprir pena no exterior por trfico de drogas

    ou homicdio.

    A entrega imediata do extraditando tambm poder ser autorizada

    pelo Ministrio da Justia quando o Poder Judicirio brasileiro conceder

    a progresso de pena para o regime semi-aberto ou aberto, ou quando

    beneficiar o condenado com livramento condicional, hiptese em que

    se verifica oportuna a efetivao da entrega ante a impossibilidade de o

    condenado efetivamente beneficiar-se da medida, notadamente porque o

    instituto da progresso de regime tem como finalidade a reinsero social, o

    que falece na espcie, haja vista no ser esta a sociedade de que faz parte.

    Extinta a pena a que o extraditando foi condenado no Brasil, ou

    verificadas as circunstncias recomendveis acima citadas, poder ser

  • Extradio: Conceitos e Princpios36submetido simultaneamente extradio e expulso, impedindo, assim,

    o retorno do mesmo ao Brasil, uma vez que o reingresso de estrangeiro

    expulso constitui crime previsto no artigo 338, do Cdigo Penal18.

    EXTRADIO VOLUNTRIA

    A extradio voluntria encontra-se prevista em Acordos mais

    modernos negociados pelo Brasil, a exemplo do Acordo de Extradio

    entre os Estados Parte do Mercosul, que consiste em autorizar o

    extraditando, com a devida assistncia jurdica, e perante a autoridade

    judicial competente, a manifestar-se expressamente pela anuncia em

    ser entregue ao Estado requerente, ocasio em que ser informado sobre

    seu direito a um procedimento formal de extradio e da proteo que tal

    direito encerra, sem prejuzo ao controle de legalidade pela autoridade

    competente, conforme jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal19.

    A modalidade voluntria reduz a durao mdia dos processos de

    extradio, alm do que no h a necessidade de publicao do Acrdo

    que deferiu a extradio, ou de decurso de prazo para interposio de

    embargos declaratrios, sendo a pessoa imediatamente colocada

    disposio do Estado requerente.

    O Projeto de Lei (PL) n 5.655/2009, que substituir o atual Estatuto

    do Estrangeiro, e encontra-se em trmite no Congresso Nacional, prev

    diversas inovaes, entre as quais o expresso reconhecimento do instituto

    da extradio voluntria. De acordo com o projeto, continuar havendo

    a necessidade de apreciao pelo Supremo Tribunal Federal quanto ao

    consentimento expresso do extraditando. Entretanto, no haver mais

    18 Cdigo Penal, artigo 338 Reingressar no territrio nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena -

    recluso, de um a quatro anos, sem prejuzo de nova expulso aps o cumprimento da pena.

    19 Supremo Tribunal Federal, Ext 789, Relator Ministro Maurcio Corra, julgada em 18.10.2000:

    Consoante orientao desta Corte, a concordncia do extraditando com sua extradio no dispensa o exame de

    legalidade do pedido. Precedente.

    Supremo Tribunal Federal, Ext 805, Relator Ministro Maurcio Corra, julgada em 18.04.2001: Satisfeitos os

    requisitos da Lei n 6.815/80, de ser deferido o pedido de extradio, independentemente da concordncia, ou no,

    do extraditando. Precedentes. Cumprimento de pena no Brasil por delito diverso do praticado no Estado requerente.

    Circunstncia que no obsta o deferimento da extradio. Precedentes.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 37

    necessidade de um processo formal de extradio, o que implicar sua

    entrega ao Estado requerente em um prazo consideravelmente reduzido.

    Cabe salientar, entretanto, que a autorizao da extradio voluntria

    ser relativa, ou seja, no ser efetivada a entrega, na hiptese, por

    exemplo, de o extraditando responder a processo ou estiver cumprindo

    pena por crime praticado no Brasil.

    EXTRADIO TEMPORRIA

    Acordos em vigor, a exemplo dos bilaterais com a Austrlia, Frana,

    Itlia e Portugal, preveem a concesso de extradio temporria, ou seja, a

    extradio em que o Estado requerente assume o compromisso de devolver

    a pessoa reclamada aps a realizao de determinado ato processual.

    Ordinariamente, ocorre quando o extraditando responde a processo

    tanto no pas requerido como no requerente, mas neste segundo

    necessria a sua presena para ser submetido a procedimento urgente e

    imprescindvel instruo do processo em curso no Estado requerente.

    Sendo autorizada a extradio, mas postergada a entrega at a

    finalizao do processo a que responde, ou ao cumprimento da pena imposta

    no Brasil, poder a pessoa reclamada ser entregue temporariamente, na

    forma acordada entre as Partes, e devolvida to-logo sejam finalizados os

    atos processuais respectivos no Estado requerente.

    Com a extradio temporria, o extraditando dever permanecer

    preso no Estado requerente, e o perodo ser computado no pas requerido

    para fins de cumprimento do restante da pena.

    EXTRADIO SIMPLIFICADA

    O Acordo sobre Extradio Simplificada foi assinado pelo Brasil,

    Argentina, Espanha e Portugal, em 03.11.2010, na cidade de Santiago de

    Compostela, Espanha, e encontra-se, no Brasil, pendente de aprovao

    legislativa para posterior ratificao.

    O texto consensuado por tcnicos dos quatro pases busca agilizao

  • Extradio: Conceitos e Princpios38do procedimento de extradio, reduzindo as dificuldades e simplificando

    as regras que regem o seu funcionamento.

    Entre as diferenas comparativamente aos atuais Acordos, destaca-se a

    criao de modelo de requerimento para fins de extradio, uniformizando

    as solicitaes e facilitando a compreenso do pretendido, alm de evitar

    eventual inadequao dos pedidos e a necessidade de reestruturao ou

    esclarecimento destes.

    Os pedidos de priso preventiva para extradio podero ser

    transmitidos entre as Autoridades Centrais por qualquer meio eletrnico,

    o que torna o procedimento mais gil.

    Consta do referido Acordo, ainda, a hiptese de consentimento do

    extraditando em ser extraditado, o que resulta em diminuio do lapso

    temporal verificado no modelo tradicional de extradio, sem, no entanto,

    verificar-se prejuzo proteo aos direitos humanos, porque deve ser

    voluntrio em sua essncia.

    Outra situao que se amolda realidade ftica hoje vivenciada pelos

    Estados, a possibilidade de extradio temporria, e a reduo para 30

    dias para retirada do extraditando, aps autorizao do pas requerido,

    podendo o prazo ser prorrogado uma nica vez, por mais quinze dias.

    Objetivando esclarecer a interpretao de trs artigos do texto

    final acordado, o Governo brasileiro apresentou uma Declarao

    Interpretativa, relativamente aos artigos que tratam do consentimento

    da pessoa procurada em ser entregue, prazos e entrega temporria, cujo

    inteiro teor encontra-se ao final do Acordo, que pode ser encontrado neste

    Manual (pginas 737 745).

    MANDADO MERCOSUL DE CAPTURA

    O Acordo sobre Mandado Mercosul de Captura e Procedimentos de

    Entrega entre os Estados Parte do Mercosul e Estados Associados (MMC),

    exsurgiu de proposta do ento Excelentssimo Senhor Ministro da Justia

    do Brasil, Luiz Paulo Barreto, e foi aprovado pela Deciso no 48/10, do

    Conselho do Mercado Comum do Sul, em dezembro de 2010.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 39

    Sua criao parte do pressuposto da necessidade de um instrumento

    penal comum no Bloco que proporcione uma cooperao mais intensa entre

    os agentes responsveis pelo combate ao crime organizado transnacional.

    Visa, ainda, ao enfrentamento impunidade e celeridade no trmite dos

    instrumentos de cooperao jurdica internacional no mbito do Mercosul,

    de modo a reduzir o gasto pblico, bem assim proporcionar mais certeza e

    segurana no cumprimento das decises judiciais.

    A partir do referido instrumento, confere-se legitimidade e assegura-

    se o cumprimento, de forma mais clere em qualquer Estado Parte ou

    Associado do Mercosul, de ordem de deteno emanada de autoridade

    judiciria competente de qualquer uma das Partes.

    O resultado um instrumento capaz de evitar a impunidade de forma

    efetiva e eficaz sem perder de vista, contudo, valores nsitos dignidade da

    pessoa, permitindo a captura e posterior entrega de pessoas procuradas

    pela Justia de qualquer dos Estados Parte do Mercosul que se encontrem

    no territrio de outro.

    Isto porque se almeja na Regio uma maior integrao entre os

    pases; porm, as facilidades migratrias proporcionadas aos cidados do

    Bloco so as mesmas utilizadas pelos criminosos que buscam impunidade

    e acabam por convulsionar os procedimentos de captura e inviabilizar o

    exerccio da jurisdio.

    O MMC foi inspirado no Mandado de Deteno Europeu, que

    representa na Unio Europia importante ferramenta de combate ao

    crime transnacional, desburocratizando os procedimentos de extradio,

    ao permitir a devoluo imediata jurisdio do Estado requerente da

    pessoa procurada.

    Comparativamente ao instituto da extradio, podem ser destacados

    avanos significativos desse instrumento de cooperao jurdica, tais como:

    - a desburocratizao das comunicaes entre os Estados

    Parte;

    - a possibilidade de pedido direto e imediato de priso;

  • Extradio: Conceitos e Princpios40- a simplificao da documentao exigida;

    - decises do Estado de emisso e do Estado de execuo

    limitadas esfera judiciria;

    - dispensa de outra deciso de carter poltico;

    - estabelecimento de orientaes que simplificam a tomada

    das decises judiciais;

    - entre outros, simplifica a entrega de provas ao Estado Parte.

    O texto assinado pelos Ministros da Justia encontra-se, no Brasil,

    pendente de encaminhamento aprovao legislativa, e pode ser encontrado

    neste Manual (pginas 746 770 ).

    REFGIO E EXTRADIO

    Consoante o disposto no art. 33, da Lei n 9.474/97 Lei do Refgio

    o reconhecimento da condio de refugiado obstar o seguimento de

    qualquer pedido de extradio baseado nos fatos que fundamentaram a

    concesso do refgio (destacado).

    Do artigo suso, abstrai-se que, se houver um pedido de refgio

    com base nos mesmos fatos que serviram de fundamento para um

    pedido de extradio, esta ser obstada at a deciso final do pedido

    de refgio, que, em sendo reconhecida a condio de refugiado, restar

    prejudicado o processo daquele, mas no implicar necessariamente seu

    indeferimento.

    Em julgado do STF, nos autos da extradio n 493, decidiu-se que: De

    acordo com o art. 33, da L. 9474/97, o reconhecimento administrativo da

    condio de refugiado, enquanto dure, elisivo, por definio, da extradio

    que tenha implicaes com os motivos do seu deferimento. Resultado do

    julgamento: Pedido de extradio no conhecido, extinto o processo, sem

    julgamento do mrito e determinada a soltura do extraditando.

    No mesmo sentido, a extradio n 1170, teve como deciso: O

    Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora, declarou

  • Extradio: Conceitos e Princpios 41

    extinto o processo sem resoluo de mrito e determinou a imediata

    expedio de alvar de soltura do extraditando, se por outro motivo no

    estiver preso.

    Uma vez extinto um processo de extradio, sem julgamento de

    mrito, no h falar em coisa julgada, sendo, portanto, passvel de nova

    anlise, consoante o disposto no art. 268, do Cdigo de Processo Civil,

    nesse sentido, in verbis:

    Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extino do

    processo no obsta a que o autor intente de novo a ao.

    A petio inicial, todavia, no ser despachada sem a prova

    do pagamento ou do depsito das custas e dos honorrios de

    advogado. (destacado)

    Na Lei de Refgio, os artigos 38 e 39 tratam, respectivamente, das

    hipteses de cessao e perda da condio de refugiado, e explicitam:

    Art. 38. Cessar a condio de refugiado nas hipteses em

    que o estrangeiro:

    I - voltar a valer-se da proteo do pas de que nacional;

    II - recuperar voluntariamente a nacionalidade outrora

    perdida;

    III - adquirir nova nacionalidade e gozar da proteo do pas

    cuja nacionalidade adquiriu;

    IV - estabelecer-se novamente, de maneira voluntria, no pas

    que abandonou ou fora do qual permaneceu por medo de ser

    perseguido;

    V - no puder mais continuar a recusar a proteo do pas de

    que nacional por terem deixado de existir as circunstncias

    em consequncia das quais foi reconhecido como refugiado;

    VI - sendo aptrida, estiver em condies de voltar ao pas

    no qual tinha sua residncia habitual, uma vez que tenham

    deixado de existir as circunstncias em consequncia das

    quais foi reconhecido como refugiado.

  • Extradio: Conceitos e Princpios42Art. 39. Implicar perda da condio de refugiado:

    I - a renncia;

    II - a prova da falsidade dos fundamentos invocados para o

    reconhecimento da condio de refugiado ou a existncia de

    fatos que, se fossem conhecidos quando do reconhecimento,

    teriam ensejado uma deciso negativa;

    III - o exerccio de atividades contrrias segurana nacional

    ou ordem pblica;

    IV - a sada do territrio nacional sem prvia autorizao do

    Governo brasileiro.

    Pargrafo nico. Os refugiados que perderem essa condio

    com fundamento nos incisos I e IV deste artigo sero

    enquadrados no regime geral de permanncia de estrangeiros

    no territrio nacional, e os que a perderem com fundamento

    nos incisos II e III estaro sujeitos s medidas compulsrias

    previstas na Lei n 6.815, de 19 de agosto de 1980.

    Nos termos do art. 40, da mesma Lei, a competncia para decidir

    em primeira instncia sobre a cessao ou perda do refgio do Comit

    Nacional para os Refugiados (Conare) e, em segunda instncia, do Ministro

    de Estado da Justia.

    EXTRADIO DE BRASILEIROS

    O inciso LI, do artigo 5o, da Constituio Federal, prev que nenhum

    brasileiro ser extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,

    praticado antes da naturalizao, ou de comprovado envolvimento em

    trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.

    Nesse contexto, somente ser admitida a extradio instrutria

    ou executria de brasileiros naturalizados envolvidos com o trfico de

    substncias entorpecentes, ou por qualquer crime tipificado no Brasil e no

    pas requerente, desde que este fato tenha ocorrido antes da concesso

    da nacionalidade brasileira.

  • Extradio: Conceitos e Princpios 43

    H que ressaltar que a inadmissibilidade da extradio de brasileiros

    no significa, em tese, a impunidade, uma vez que o pas requerente

    poder solicitar que o Brasil proceda com a persecuo crimin