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ETEC JACINTO FERREIRA DE SÁ OURINHOS CURSO TÉCNICO EM AÇUCAR E ÁLCOOL THIAGO FELIPE DA SILVA COGERAÇÃO DE ENERGIA: COGERAÇÃO DE ENERGIA: ESTUDO DE CASO NO BRASIL ESTUDO DE CASO NO BRASIL Ourinhos - SP

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ETEC JACINTO FERREIRA DE SÁ OURINHOS

CURSO TÉCNICO EM AÇUCAR E ÁLCOOL

THIAGO FELIPE DA SILVA

COGERAÇÃO DE ENERGIA:COGERAÇÃO DE ENERGIA:

ESTUDO DE CASO NO BRASILESTUDO DE CASO NO BRASIL

Ourinhos - SP

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Dezembro de 2012

ETEC JACINTO FERREIRA DE SÁ OURINHOS

CURSO TÉCNICO EM AÇUCAR E ÁLCOOL

THIAGO FELIPE DA SILVA

COGERAÇÃO DE ENERGIA:COGERAÇÃO DE ENERGIA:

ESTUDO DE CASO NO BRASILESTUDO DE CASO NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso entregue junto ao Curso

de Técnico em Açúcar e Álcool da Etec Jacinto Ferreira

de Sá, Ourinhos, como pré-requisito para obtenção do

Título de Técnico em Açúcar e Álcool.

Orientador: Prof. Fransber Santade

Ourinhos - SP

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Dezembro de 2012

THIAGO FELIPE DA SILVA

COGERAÇÃO DE ENERGIA:COGERAÇÃO DE ENERGIA:

ESTUDO DE CASO NO BRASILESTUDO DE CASO NO BRASIL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado aos vinte e quatro (24) dias

de dezembro (12) de dois mil e doze (2012) e APROVADA para obtenção do Título

de TECNICO EM AÇUCAR E ÁLCOOL da Etec Jacinto Ferreira de Sá - Ourinhos.

BANCA EXAMINADORABANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof. Fransber Santade

Etec Jacinto Ferreira de Sá, Ourinhos

Orientador

_________________________________________________

Profa. Adelaide

Etec Jacinto Ferreira de Sá, Ourinhos

Professora TCC

_______________________________________________

Profa. Adriana Vicioli

Etec Jacinto Ferreira de Sá, Ourinhos

4

Professor Convidado

Dedico este trabalho à minha família e a todos aqueles que contribuíram para

a realização deste como também a aqueles que influenciaram de forma positiva,

5

mesmo que não diretamente, à conclusão deste curso bem como depositaram

confiança em mim.

Ao professor orientador, Engenheiro Fransber Santade, que com dedicação,

fez com que aprimorássemos e desenvolvêssemos nossos conhecimentos. À

professora, Andréia Archangelo, que conduziu positivamente a realização deste

6

curso. À professora Adelaide pelo apoio e compreensão. E aos meus amigos, pelo

companheirismo e os muitos momentos de alegria compartilhados.

7

“O lucro do nosso estudo é tornarmo-nos melhores e mais sábios."

(Michel de Montaigne)

RESUMO

Este trabalho demonstra o processo de cogeração de energia elétrica usando

como insumo a biomassa da cana-de-açúcar – o bagaço – a chamada

bioeletricidade. Tal processo ocorre com a queima do bagaço em máquinas

geradoras de vapor, as caldeiras. O vapor gerado pode ser usado como energia

mecânica (acionamento de máquinas), energia térmica (usada no processo de

evaporação do caldo, por exemplo) e para a geração de energia. Esta última ocorre

através de um eficiente processo de cogeração onde o vapor é usado para acionar

turbinas a vapor que alimentam geradores elétricos (ou turbogeradores) para que

assim, este gere a energia elétrica que é enviada à subestação de energia onde é

distribuída para os diversos setores da usina que dela dependem bem como pode

ser destinada à comercialização. A bioeletricidade sucroenergética tem ganhado

grande destaque na matriz energética brasileira, que a soma de todas as formas de

energia usadas no país e sua representatividade. Posto isso, a bioeletricidade

mostra-se uma fonte de energia renovável, limpa e que promove a diversificação da

matriz energética, sendo complementar à hidroeletricidade que é a fonte mais

significativa de energia da matriz. Entretanto, apesar destes e outros benefícios da

bioeletricidade, ela recentemente tem mostrado um considerável declínio em relação

aos anos anteriores, o que podemos atribuir à falta de incentivo governamental e a

falta de organização e atenção à esta forma de energia nos chamados leilões de

energia onde diferentes formas de energia são vendidas para diversos setores da

sociedade. Considera-se que a transformação na matriz energética brasileira

proveniente da cogeração de energia tenha um potencial muito elevado no que se

trata ao abastecimento de energia no Brasil, superando até mesmo o potencial de

muitas usinas hidroelétricas, podendo se tornar a energia verde do Brasil, sendo que

comparada até mesmo à energia hidroelétrica, considerada limpa, mostra-se menos

prejudicial ao meio ambiente.

8

Palavras chave: Matriz energética, bioeletricidade, cogeração, energia limpa,

biomassa da cana-de-açúcar.

ABSTRACT

This work demonstrates the process of cogeneration of electricity using

biomass as a feedstock of cane sugar - bagasse - the call bioelectricity. This process

occurs by burning bagasse in generating machines steam boilers. The steam

generated can be used as mechanical energy (driving machines), heat (evaporation

process used in the broth, for example) and for the generation of energy. The latter

occurs through an efficient cogeneration process where steam is used to drive steam

turbines that feed electricity generators (or turbo) so that, it generates electricity that

is sent to the substation where power is distributed to the various sectors that depend

on the plant and can be allocated to marketing. Bioelectricity sugarcane has gained

great prominence in the Brazilian energy matrix, the sum of all forms of energy used

in the country and its representativeness. That said, bioelectricity proves a source of

renewable energy, clean and promotes the diversification of the energy matrix, being

complementary to hydropower which is the most significant source of energy matrix.

However, despite these and other benefits of bioelectricity, she recently has shown a

significant decline compared to previous years, which can be attributed to the lack of

government incentives and a lack of organization and attention to this form of energy

called the energy auctions where different forms of energy are sold to various sectors

of society. It is considered that the transformation in the Brazilian energy from

cogeneration energy has a huge potential when it comes to energy supply in Brazil,

surpassing even the potential of many hydroelectric plants, can become green

energy in Brazil that even being compared to hydropower, considered clean, has a

less harmful to the environment..

Keywords: Matrix energy, bioelectricity, cogeneration, clean energy, biomass from

sugar cane.

9

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................10

1.1 OBJETIVOS.....................................................................................................11

2. VAPOR E ENERGIA ELÉTRICA..........................................................12

2.1 REVISÃO HISTÓRICA........................................................................................12

2.2 VAPOR E SUAS PROPRIEDADES..........................................................................12

2.3 PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ATRAVÉS DO VAPOR..........................................13

3. CALDEIRAS....................................................................................14

3.1 TIPOS DE CALDEIRAS.......................................................................................14

3.1.2 Caldeiras Flamotubulares.................................................................................14

3.1.3 Caldeiras Aquatubulares..................................................................................15

4. TURBINAS À VAPOR E GERADORES ELÉTRICOS................................18

4.1 TURBINAS À VAPOR.........................................................................................18

4.2 GERADORES ELÉTRICOS...................................................................................21

4.2.1 Principio de Funcionamento.............................................................................22

5. CASA DE FORÇA E SUBSTAÇÃO ELÉTRICA........................................24

5.1 CASA DE FORÇA.............................................................................................24

5.2 SUBSTAÇÃO ELÉTRICA.....................................................................................25

6. COGERAÇÃO NO BRASIL.................................................................27

6.1 DEFINIÇÃO DE COGERAÇÃO..............................................................................27

6.2 VIABILIZAÇÃO DA COGERAÇÃO NA INDÚSTRIA.......................................................27

6.3 PRINCIPAIS ATRATIVOS DA COGERAÇÃO NA INDÚSTRIA...........................................27

6.4 POTENCIAL DE COGERAÇÃO: IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS.......................................28

6.5 MATRIZ DE COGERAÇÃO NO BRASIL...................................................................29

6.5.1 A Transformação da Matriz Energética Brasileira.............................................30

6.5.2 O Potencial de Aproveitamento da Bioeletricidade..........................................36

7. CONCLUSÃO..................................................................................38

8. BIBLIOGRAFIA...............................................................................40

SANTOS, F. A. . COGERAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

NAS USINAS DE AÇÚCAR E ETANOL, DISPONÍVEL EM:

<HTTP://WWW.IEE.USP.BR/EVENTOS/COGERACAO_.....................................40

EM_USINAS.PDF> ACESSO EM 28 ABRIL 2012......................................40

10

ANEXO A – FOTOS DIVERSAS..............................................................40

1. INTRODUÇÃO

A produção de energia elétrica é uma atividade de grande importância no

planejamento do crescimento de qualquer economia no mundo. Novas alternativas

de geração de energia se tornaram primordiais tanto para as principais potências

mundiais quanto para os países emergentes. Assim, o desenvolvimento econômico

mundial, a modernização do ocidente e o aumento dos padrões de vida de uma

sociedade cada vez mais capitalista e globalizada impulsionam a busca por fontes

de energia renováveis, sustentáveis e pelo interesse pela autossuficiência

energética.

O Brasil possui, em relação a outras nações, a vantagem de poder planejar

sua matriz energética utilizando grandes quantidades de fontes primárias

renováveis.

Uma delas é a biomassa gerada pelo setor sucroalcooleiro, a qual, através da

cogeração, pode contribuir significativamente para o fortalecimento da matriz

brasileira. A cogeração de energia mostra-se um eficiente método, não só para este

fim, bem como para o aproveitamento dos resíduos da própria matéria prima, posto

que desempenha tal processo usando o bagaço da cana-de-açúcar como biomassa.

A produção de energia elétrica a partir da biomassa da cana-de-açúcar é

tema há muito presente nos estudos sobre energia no Brasil. Apesar disso, ela é

utilizada numa parcela pequena da energia comercialmente produzida no país.

Contudo, observa-se que o setor sucroalcooleiro brasileiro vem ganhando espaço no

mercado nacional e internacional por conta da diversificação e melhoria da sua

produtividade.

Apesar desta elevada produção de biomassa e de seu imenso potencial

energético, a maioria das usinas e destilarias produz energia elétrica apenas para

consumo próprio, ou seja, todos os acionamentos elétricos e mecânicos dos

equipamentos, iluminação e bombeamentos nos processos de produção são

supridos pelas turbinas da própria usina. Entretanto, a parte comercializada com as

distribuidoras ainda é muito pequena.

11

Perde-se dessa forma a maior parte do potencial energético da biomassa. A

palha da cana-de-açúcar não podendo ser mais queimada na própria lavoura

(segundo o Acordo Agroambiental que deve entrar em vigor em 2014) e o bagaço

produzido nas usinas são desperdiçados em caldeiras de baixo rendimento.

Países como o Brasil, com imensas áreas agriculturáveis e um clima

favorável, não podem “abrir mão” da energia da biomassa como parte integrante de

suas matrizes energéticas.

São várias as barreiras que o país precisa vencer para tornar aproveitável

todo o potencial da biomassa de cana-de-açúcar disponível, convertendo-a em

energia elétrica.

1.1 Objetivos

O presente trabalho tem por objetivos demonstrar a importância e a eficiência

no processo de cogeração, utilizando como insumo energético os resíduos de

biomassa originados na produção de etanol e de açúcar, enfatizar que a cogeração

de energia contribui com a eficiência econômica e elétrica ao reduzir os custos e as

perdas com a transmissão da mesma, considerando-se a cogeração no setor

sucroalcooleiro para a autoprodução e para a produção independente de energia

elétrica, o trabalho se propõe traçar um panorama histórico da situação energética

brasileira, abordando a importância da cogeração de Energia no Balanço Energético

Nacional e, consequentemente, na composição da Matriz Energética.

Outro objetivo igualmente importante é a elaboração da relação entre o

avanço e demanda dos demais produtos com a Cogeração de energia e a

comercialização da mesma (tonelada de cana processada/quantidade de bagaço

gerado/MW de energia), abordando a cogeração de energia no Brasil conforme suas

expectativas e parâmetros.

Para tanto, serão explicitados o processo da cogeração em si como também

dos equipamentos que compõem tal processo.

12

2. VAPOR E ENERGIA ELÉTRICA

A eletricidade por si mesma não é uma fonte de energia. As centrais

termelétricas queimam carvão ou outro combustível para produzir vapor. O vapor

fornece a energia para acionar os geradores que produzem eletricidade.

A geração de energia elétrica segue as variações da demanda de vapor de

processo determinada pelo ritmo de operação das usinas e destilarias, o que pode

ser considerada uma barreira importante à comercialização de eventuais excedentes

de eletricidade pelo setor.

Para que se tenha uma ideia da importância do vapor, é necessário que seja

feita uma revisão histórica.

2.1 Revisão Histórica

A necessidade de se gerar o vapor veio da Revolução Industrial e os meios

da época que se tinham eram de pouca utilização, mas o vapor no inicio serviu para

a finalidade de mover máquinas e turbinas, para geração de energia e uso em

locomotivas. Com o advento da indústria se fez necessário se fez necessária a

evolução das caldeiras.

As Usinas de açúcar e álcool utilizam o próprio bagaço da cana para gerar

vapor e, este, gerar energia elétrica, sendo atualmente, um dos produtos

comercializados pelas mesmas.

2.2 Vapor e suas Propriedades

A água, quando elevada à altas temperaturas e, considerando-se

determinada pressão, atinge seu ponto de ebulição tornando-se assim o vapor.

Considerando-se um sistema eficiente de moagem e geração de vapor, uma

tonelada de cana-de-açúcar resulta em cerca de 290 kg de bagaço (50% de

umidade e no máximo 30% usando-se um difusor de qualidade), cuja queima produz

em média 460 kg a 520 kg de vapor (temperatura média de 300 °C e pressão de 21

bar).

13

É usada também para a queima e produção de vapor, a palha da cana de

açúcar que mostrou ter um potencial energético superior ao do bagaço.

As propriedades do vapor estão diretamente relacionadas à capacidade de

geração das usinas de tal modo que aumentar os níveis de pressão e a temperatura

de operação do ciclo a vapor possibilita a melhora de sua eficiência e o aumento de

sua capacidade de geração, com o uso de turbinas mais potentes;

Os equipamentos que compõem as etapas de preparo e moagem são

normalmente acionados por turbinas a vapor, que convertem a energia térmica

contida no fluxo de vapor em energia mecânica disponível no eixo das turbinas.

2.3 Produção de Energia Elétrica através do Vapor

No processo de cogeração de energia em usinas, o vapor gerado nas

caldeiras, é alimentado nas turbinas de acionamento mecânico do processo e nas

turbinas que acionam geradores para produção de energia elétrica.

Ao sair das turbinas, após a realização do trabalho, o vapor é encaminhado

para atender às necessidades térmicas do processo produtivo. O vapor que “sobra”

é condensado e volta ao ciclo.

É importante ressaltar que todo o processo de cogeração depende

completamente da eficiência na produção de vapor, ou seja, no setor de caldeiras.

14

3. CALDEIRAS

Caldeira é um recipiente metálico cuja função é, entre muitas, a produção de

vapor através do aquecimento da água. As caldeiras em geral são empregadas para

alimentar máquinas térmicas, autoclaves para esterilização de materiais diversos,

cozimento de alimentos através do vapor.

Nas indústrias do início do século XVIII muitos eram os inconvenientes

gerados pela combustão local de carvão para geração de calor. As primeiras

máquinas destinadas à geração de vapor surgiram para sanar este problema, uma

vez que a energia era captada em uma unidade central e distribuída para os

diversos setores da empresa, através do vapor.

São usadas atualmente, para a geração de vapor em Usinas de Açúcar e

Álcool, uma vez que esta precisa do vapor para os seus processos de fabricação de

seus produtos, assim como para a geração de energia elétrica.

Há diversos tipos de caldeiras, mas comumente e na maioria dos casos, os

principais tipos são aquatubulares e flamotubulares.

3.1 Tipos de Caldeiras

As caldeiras industriais podem ser classificadas por vários critérios. Um deles

muito utilizados nas industriais é a classificação por critério de combustão. De

acordo com este pode-se classificar as caldeiras em:

• caldeiras flamotubulares (ou fogotubulares) e

• caldeiras aquatubulares.

3.1.2 Caldeiras Flamotubulares

As caldeiras flamotubulares são aquelas cuja troca térmica se da com gases

quentes passando por dentro dos tubos e água por fora dos tubos.

As aplicações de caldeiras flamotubulares com vazões da ordem 300 a

20.000 kg/h e pressões de 8,0 kg/cm2 a 15 kg/cm2, em indústrias de alimentos,

15

frigoríficos, bebidas, lacticínios, indústrias testeis, e fábricas de óleos que usam

caldeiras da ordem de 15000 kg/h.

Figura 01- Caldeira Flamotubular.

3.1.3 Caldeiras Aquatubulares

As caldeiras aquatubulares são caldeiras que os gases quentes estão por fora

dos tubos e água por dentro dos tubos, basicamente.

Figura 02- Esquema de uma Caldeira Aquatubular.

16

As caldeiras aquatubulares são caldeiras usadas em usinas de açúcar,

fábricas de papel e celulose e em geração de energia, com pressões de 120 kg/cm2

e vazões da ordem 150.000 kg/h. ou mais.

Estas utilizam bagaço e a palha da cana como combustível. Para tais

equipamentos há basicamente três modelos: caldeiras com fornalha do tipo

ferradura, caldeiras com grelha plana ou inclinada, e caldeiras que realizam queima

em suspensão. Os dois primeiros modelos realizam queima em leito fixo (em pilhas),

já o terceiro, realiza queima em suspensão. O tipo de queima influencia a caldeira.

Aquelas com queima em leito fixo são mais antigas e ineficientes, e bastante

comuns no setor por terem sido empregadas nas primeiras unidades produtivas. Já

aquelas com queima em suspensão são mais modernas, apresentam maior

eficiência e possibilitam maiores capacidades de operação. Estas últimas têm sido a

opção quando da substituição de equipamentos antigos e instalação de novas

unidades.

No inicio, as usinas de álcool quando a finalidade era só a fabricação de

álcool, se faziam caldeiras com grande quantidade de refratários e fornalhas tipo

ferradura para ter um baixo rendimento 60% para consumir todo bagaço da cana

que se tornava um problema a sobra do mesmo, logo em seguida, foi se achando

alternativas para o bagaço e com isto foi se melhorando a eficiência das caldeiras, e

hoje a grande alternativa é cogeração de energia elétrica para as cidades,

melhorando a eficiência das caldeiras trabalhando com rendimentos de 90%.

A vantagem da cogeração é o uso mais eficiente do conteúdo de energia da

fonte primária, por meio do aproveitamento de parte da energia térmica que

antigamente seria rejeitada para a atmosfera. Vale ressaltar que o conceito de

cogeração vai além do simples aproveitamento de uma corrente com conteúdo

térmico útil. O que se busca é a melhor utilização da energia primária, desde a fase

de projeto de uma instalação, exigindo-se que o projetista leve em consideração

tanto a demanda térmica quanto a potência mecânica ao projetar o sistema de

suprimento.

Com relação à eficiência das caldeiras, um ponto importante a destacar é o

aproveitamento da energia contida no fluxo de gases de exaustão. Isso pode ser

feito através de superaquecedores de vapor, que aumentam a temperatura do vapor

gerado; através de economizadores que, ao aquecer a água de alimentação da

caldeira, reduzem o consumo de bagaço; e com pré-aquecimento do ar de

17

combustão, que tem o mesmo efeito. O vapor gerado atende a duas demandas de

energia: eletromecânica e térmica. O atendimento da demanda eletromecânica é

feito pelo acionamento de turbinas a vapor acopladas a geradores de eletricidade,

moendas, bombas e ventiladores. A demanda térmica do processo é atendida pelo

vapor de escape das turbinas, o que caracteriza a cogeração de energia.

Quanto à geração eletromecânica, o atendimento das demandas de potência

elétrica e mecânica é feito por um conjunto de turbinas a vapor, acionadas pelo

vapor produzido a partir da queima do bagaço em caldeiras.

Figura 03 - Diagrama esquemático de uma Caldeira Aquatubular típica.

18

4. TURBINAS À VAPOR E GERADORES ELÉTRICOS

A turbina é uma máquina rotativa que converte em energia mecânica a

energia térmica do vapor d'água ou de um gás. Do ponto de vista termodinâmico a

turbina a vapor ocupa umas posições favoráveis, transformando em energia

mecânica relativamente grande parte da energia térmica que consome. Sua

eficiência pode ser considerada boa, especialmente nas turbinas de grandes

capacidades acionadas por vapor de alta pressão.

Essa energia mecânica é transferida através de um eixo para movimentar

uma máquina, um compressor, um gerador elétrico ou uma hélice. As turbinas se

classificam como hidráulicas ou de água, a vapor ou de combustão. Atualmente, a

maior parte da energia elétrica mundial é produzida com o uso de geradores

movidos por turbinas.

4.1 Turbinas à Vapor

O trabalho mecânico realizado pela máquina pode ser o acionamento de um

equipamento qualquer, como, por exemplo, um gerador elétrico, um compressor,

uma bomba. A energia, que permanece no vapor descarregado pela máquina, é, em

muitos casos, simplesmente rejeitada para o ambiente, em um condensador.

Operadas com vapor de alta pressão na condição superaquecida, as turbinas

a vapor são turbo-máquinas. Podem ser classificadas, dependendo do seu uso, em:

• turbinas de contrapressão pura: fornecem integralmente a mesma vazão

de vapor recebida para os trocadores de calor situados a jusante da

turbina, submetendo-o a uma expansão desde a condição inicial (de alta

pressão) até níveis de pressão da ordem de 2 a 10kgf/cm².

• turbinas de condensação e extração: recebem o vapor de alta pressão e

de um ou mais pontos extrai-se vapor de processo com pressão pré-

fixada conforme necessidade da unidade.

19

Figura 04 – Exemplo de Turbina à Vapor.

Fonte: IEE – Instituto de Eletrotécnica e Energia

As turbinas de contrapressão são recomendadas nos processos industriais

nos quais a demanda por calor de processo é igual à demanda por energia

eletromecânica. As turbinas de condensação e extração são aplicadas nos

processos em que a produção de energia elétrica/ mecânica é prioritária.

Figura 05 – Tipos de turbinas à vapor.

Os principais componentes de uma turbina a vapor são carcaça, eixo,

mancais, rotor, vedação, bocais, palhetas móveis e diafragma.

20

• Carcaça: É a parte fixa que envolve o equipamento, possuindo as

conexões de entrada e saída para o vapor. Geralmente é envolvida por

isolamento térmico para evitar perdas de calor e possíveis aquecimentos

diferenciais.

• Eixo: É a parte na qual é fixado o rotor. Apoia-se nos mancais e transmite

o movimento de rotação ao equipamento acionado.

• Mancais: São os apoios posicionadores e rotativos do eixo. Nas turbinas

são normalmente lubrificados a óleo.

• Rotor (ou disco): É uma peça em forma de disco fixa ao eixo em cuja

periferia são fixadas as palhetas móveis.

• Vedação: É a parte da turbina que impede o vapor de sair da carcaça pela

folga existente entre o eixo e a carcaça. Existem dois sistemas principais

de vedação: por anéis de labirinto e por anéis de carvão.

• Bocais: São as partes fixas das turbinas e responsáveis pela

transformação da energia de pressão do vapor em energia mecânica de

velocidade. Podem ser do tipo convergente ou convergente-divergente.

São instalados na entrada da turbina e entre as carreiras de palhetas

móveis.

• Palhetas móveis: São as peças fixas à periferia do rotor e responsáveis

pela mudança de direção, ou de direção e intensidade da velocidade do

vapor. São as peças da turbina que recebem o impulso motor.

• Diafragma: É um disco fixo à carcaça onde são montada as palhetas

fixas. Tem um furo central por onde passa o eixo, sendo provido de

vedação para impedir o vazamento de vapor de um estágio para o

segundo através da folga entre o referido furo e o eixo.

21

Figura 06 – Turbina à vapor: foto do rotor interno.

4.2 Geradores Elétricos

Geradores são maquinas destinadas a transformar energia mecânica em

energia elétrica. Toda a energia consumida é proveniente destes geradores.

O gerador elementar foi inventado na Inglaterra em 1831 por MICHAEL

FARADAY. Este gerador consistia basicamente de um ima que se movimentava

dentro de uma espiral, ou vice-versa, provocando o aparecimento de uma f.e.m.

(propriedade de que dispõe um dispositivo qualquer a qual tende a ocasionar

produção de corrente elétrica num circuito) registrado num galvanômetro

(instrumento que pode medir correntes elétricas).

22

Figura 07 – O galvanômetro "G" indica a passagem de uma corrente quando o

ímã se move em relação a bobina.

4.2.1 Principio de Funcionamento

A característica principal de um gerador elétrico é transformar energia

mecânica em elétrica. Para facilitar o estudo do princípio de funcionamento,

considera-se inicialmente uma espira imersa em um campo magnético produzido por

um ímã permanente (Fig. 08). O princípio básico de funcionamento está baseado no

movimento relativo entre uma espira e um campo magnético. Os terminais da espira

são conectados a dois anéis, que estão ligados ao circuito externo através de

escovas. Este tipo de gerador é denominado de armadura giratória.

Figura 08 - Esquema de funcionamento de um gerador elementar (armadura girante)

23

Figura 09 – Gerador elétrico síncrono WEG.

Figura 10 – Gerador elétrico WEG.

24

5. CASA DE FORÇA E SUBSTAÇÃO ELÉTRICA

A casa de força é o local onde são instalados os equipamentos para produção

de energia. Enquanto uma subestação é uma instalação elétrica de alta potência,

contendo equipamentos para transmissão e distribuição de energia elétrica, além de

equipamentos de proteção e controle.

5.1 Casa de Força

As casas de força abrigam equipamentos de alta tensão, tais como os

geradores elétricos e turbinas, e devido a isso devem primeiramente estar sob total

segurança. Para isso devem ser fechadas, sinalizadas, e estar com as revisões e

manutenção em dia.

Outro fator de suma importância para a segurança de uma casa de força é o

seu aterramento. A revisão do aterramento é feita com aparelhos de medição

específicos, e por eletrotécnicos com qualificação para tal. O aterramento é a

garantia de que qualquer vazamento de tensão elétrica será escoado para a terra, e

não colocará em risco vidas humanas.

25

Figura 11 – Casa de força pré-moldada.

Figura 12 – Exemplo de instalação em uma casa de força.

5.2 Substação Elétrica

A chamada subestação elétrica funciona como ponto de controle e

transferência em um sistema de transmissão de energia elétrica, direcionando e

controlando o fluxo energético, transformando os níveis de tensão e funcionando

como pontos de entrega para consumidores industriais.

Durante o percurso entre as usinas e as cidades, a eletricidade passa por

diversas subestações, onde aparelhos chamados transformadores aumentam ou

diminuem a sua tensão. Ao elevar a tensão elétrica no início da transmissão, os

transformadores evitam a perda excessiva de energia ao longo do percurso. Ao

rebaixarem a tensão elétrica perto dos centros urbanos, permitindo uma satisfatória

distribuição.

Depois de a energia ser produzida, ela passa pelas subestações para que

então possa ser distribuída para os setores das usinas e para, em muitos casos de

usinas sucroalcooleiras atualmente, que possa ser comercializada.

26

Figura 13 – Substação elétrica: elementos diversos.

Figura 14 – Substação elétrica: transformadores.

27

6. COGERAÇÃO NO BRASIL

6.1 Definição de Cogeração

A cogeração, definida como o processo de transformação de energia térmica

de um combustível em mais de uma forma de energia útil.

As formas de energia útil mais frequentes são a energia mecânica e a

térmica. A energia mecânica pode ser utilizada diretamente no acionamento de

equipamentos ou para geração de energia elétrica. A energia térmica é utilizada

diretamente no atendimento das necessidades de calor para processos, ou

indiretamente na produção de vapor ou na produção de frio.

6.2 Viabilização da Cogeração na Indústria

Para que seja viável a implantação de cogeração em uma indústria, é

necessário que:

• A indústria seja consumidora das diferentes formas de energia cogerada

(energia mecânica ou elétrica e de calor ou frio);

• O custo da energia cogerada seja inferior à soma dos insumos

energéticos adquiridos (energia elétrica mais combustível);

• Existam garantias de suprimento de combustível;

• Não ocorram restrições ambientais à implantação do empreendimento.

6.3 Principais Atrativos da Cogeração na Indústria

Sendo viável a implantação do empreendimento, a cogeração pode

apresentar vários atrativos.

Para o usuário da cogeração os atrativos principais são:

• Independência total ou parcial do sistema da concessionária de energia

elétrica;

28

• Dependendo do processo de cogeração, pode haver maior flexibilidade na

escolha de insumos (combustíveis) regionais;

• Possibilidade de redução do impacto ambiental, dependendo do

combustível utilizado na cogeração;

• Possibilidade de modular as cargas de acordo com suas necessidades,

sem ter renegociar contratos de energia elétrica;

• Maior independência energética e maior controle e gestão dos custos

totais da energia;

• Maior eficiência energética global.

Para o Meio Ambiente os atrativos principais são:

• Redução da carga térmica rejeitada para o ambiente ao se utilizar de

forma mais eficiente a energia contida no combustível;

• Postergação de ampliação de reservatórios de usinas hidroelétricas, ao

substituir o insumo elétrico do sistema;

• Redução dos poluentes dos efluentes gasosos se o insumo da cogeração

for um combustível mais limpo que o utilizado na produção do calor do

processo.

6.4 Potencial de Cogeração: Implantação de Projetos

A determinação do potencial de cogeração associado a um processo

industrial ou a uma instalação comercial envolve um conjunto de providências, das

quais, as principais são listadas a seguir:

• Análise e balanço de massa e de energia dos requisitos de energia

térmica (nas suas diferentes modalidades), acionamentos, energia

elétrica, nas condições atuais e no horizonte de vida útil do projeto;

• Modelagem técnica das necessidades de energia nas condições atuais e

no horizonte de vida útil do projeto;

• Análise e modelagem econômica das condições de operação atuais e

futuras;

29

• Modelagem de diversas alternativas de cogeração e análise econômica

destas alternativas;

• Modelagem e análise do impacto ambiental provocado pela implantação

deste projeto;

• Assegurar o abastecimento de combustível, suprimento de utilidades

necessárias à operação (por exemplo: água), dar destino aos efluentes,

prover acessos, prever condições de operação e manutenção;

• Se ocorrer excedentes de energia elétrica, assegurar seu mercado e

condições de transporte;

• Se o projeto envolver a produção de energia elétrica, independentemente

de ser autossuficiente ou não haverá necessidade de ser prever “back-up”

de energia elétrica. Para isto deve-se contratar reserva de capacidade

com a concessionária local (ou com o sistema de transmissão). Este

contrato e seus custos são regulados pela ANEEL. A compra da energia

elétrica pode ser contratada com terceiros, com a concessionária local de

distribuição de energia elétrica ou adquirida no mercado.

Para que o projeto possa se viabilizar é fundamental que as garantias de

suprimento de combustível, de mercado, de qualidade técnica, de operação e de

manutenção sejam asseguradas. Normalmente as “receitas” destes projetos são a

garantia do próprio financiamento.

6.5 Matriz de Cogeração no Brasil

O Brasil tem uma matriz elétrica predominantemente hídrica o que lhe confere

uma posição privilegiada em relação ao resto do mundo no que toca à

sustentabilidade ambiental.

Entretanto, o perfil ímpar da matriz brasileira não significa que o Brasil não

necessite promover investimentos em fontes alternativas e renováveis de energia,

como a bioeletricidade sucroenergética. O adequado entendimento da necessidade

de inserção de fontes renováveis e alternativas na matriz brasileira passa por

compreender que o modelo de geração de energia baseado em hidroelétricas com

grandes reservatórios tende ao esgotamento. Os limites são dados pela atual e

30

restritiva legislação ambiental que permite, no máximo, a construção de novas

hidroelétricas sem formação de reservatórios significativos.

Além disso, novas hidrelétricas como Madeira e Belo Monte armazenam

pouca água, produzindo energia elétrica fortemente sazonal, concentrada nos

meses chuvosos (janeiro e abril). Daí a necessidade de fontes de energia renovável,

complementares à matriz elétrica brasileira. Assim, a diversificação do parque

gerador, sobretudo com a presença de fontes de energia complementares ao parque

hídrico, é um dado concreto e irreversível na evolução do sistema elétrico brasileiro

nas próximas décadas.

A complementaridade entre a bioeletricidade e a hidroeletricidade é perfeita,

já que a cana produz biomassa exatamente nos meses de maior seca (abril a

novembro). Deste modo, a bioeletricidade funciona como verdadeiro “seguro” contra

níveis baixos de água nos reservatórios.

A bioeletricidade sucroenergética apresenta vantagens inerentes a uma fonte

de energia renovável, gerada através do eficiente processo de cogeração, utilizando

como insumo energético os resíduos de biomassa originados na produção de etanol

e de açúcar.

Com alto teor de fibras, o bagaço de cana, desde a revolução industrial, tem

sido empregado na produção de vapor e energia elétrica para a fabricação de

açúcar e etanol, garantindo a autossuficiência energética das usinas durante o

período da safra. Além disso, a bioeletricidade possui vantagens adicionais para o

Brasil, como a geração de renda e emprego no campo, estímulo à indústria de bens

de capital e poupança de divisas (coeficiente de importação é próximo de zero,

dispensando tanto a importação de equipamentos como de combustíveis).

6.5.1 A Transformação da Matriz Energética Brasileira

Matriz Energética define-se como a combinação de fontes de energia que um

país utiliza (biomassa, hidráulica, petróleo, nuclear, eólica, dentre outras demais

formas de energia).

Na matriz energética brasileira o bagaço, além de atender as necessidades

de energia das usinas, desde a década de 1980 tem permitido a geração de

31

excedentes de energia elétrica que são fornecidos para o sistema elétrico brasileiro,

com índices mais significativos a partir do ano de 2002 (Tabela 1).

Tabela 01 – Uso do Bagaço de cana.

Em 2011, o total de bioeletricidade da cana comercializado para o setor

elétrico foi de 9.925 GWh, de acordo com dados preliminares do Ministério de Minas

e Energia, o equivalente à energia necessária ao abastecimento de 5,3 milhões de

residências durante o ano inteiro. No ano anterior, conforme podemos perceber com

uma análise da tabela acima, a produção de bioeletricidade foi maior, o que

evidencia a falta de incentivo à esse tipo de energia. Contudo, estima-se que o Brasil

pode gerar mais de 15.000 megawatts médios de energia da cana-de-açúcar - o

equivalente a mais de três usinas de Belo Monte (Gráfico 01).

A bioeletricidade excedente às necessidades de consumo próprio das mais de

400 usinas no setor sucroenergético cresceu 13% entre 2010 e 2011, mostrando a

potencialidade dessa fonte renovável e sustentável. Quando se avalia apenas a

bioeletricidade fornecida para a rede elétrica, a importância dessa fonte também se

mostra estratégica.

32

Gráfico 01 – Potencial de mercado da bioeletricidade para a rede elétrica – Brasil (2010 – 2021)

O total de 9.925 GWh comercializado junto ao Sistema Interligado Nacional

em 2011 representou 2,3% do consumo brasileiro total de energia elétrica. Além do

mais, a bioeletricidade fornecida para a rede elétrica, por ser complementar à fonte

hídrica, proporcionou uma economia de 5% da água dos reservatórios das Regiões

Sudeste e Centro-Oeste no período seco no ano.

A geração da bioeletricidade sucroenergética em 2011 foi equivalente a 14%

da geração total no Estado de São Paulo em 2011 ou a 29% do consumo residencial

do Estado de São Paulo no ano passado. Em 2011, o Estado de São Paulo importou

do Sistema Interligado Nacional 46% do total de energia elétrica necessária para

atendimento ao consumo do Estado (SEESP, 2012). Posto que a região sudeste do

país é onde se concentra a maior demanda por eletricidade (Tabela 2).

33

Tabela 02 – Consumo de Eletricidade por Região.

A tabela acima evidencia também o gradativo aumento no uso de energia da

região Nordeste, uma vez que o índice demográfico da região aumentou e o setor

energético da região ampliou-se. O índice demográfico em todo o território brasileiro

ampliou-se, e uma vez que o consumo de energia é diretamente proporcional a este

parâmetro, observa-se no decorrer dos anos o gradativo aumento na demanda por

energia elétrica (Gráfico 01).

Outro aspecto importante também é a sustentabilidade ambiental dessa fonte.

Estima-se que a bioeletricidade tenha evitado a emissão do equivalente a 2,2

milhões de toneladas de CO2, em 2011. Estima-se ainda que para atingir a mesma

economia de CO2, seria preciso plantar 16 milhões de árvores nativas ao longo de

20 anos. E sem essa geração da bioeletricidade em 2011, a matriz de emissões do

setor elétrico teria um acréscimo de 8%.

Apesar de todos esses benefícios da bioeletricidade, o ano de 2011 não foi

muito diferente de 2010 ou 2009, em termos de um avanço mais vigoroso dessa

fonte na matriz energética brasileira. Ao contrário, como notado na Tabela 01, houve

um declínio do uso dessa fonte. Em virtude da vigente política para o setor, toda a

cadeia produtiva da bioeletricidade opera em ociosidade, principalmente devido ao

atual formato dos leilões que misturam fontes em um único certame. Fontes que são

incomparáveis até pelas próprias qualidades intrínsecas de cada uma delas.

34

Gráfico 02 – Crescimento da Demanda por energia Elétrica.

A variação de preço quanto às outras fontes fez com que o declínio da

biomassa da cana (Tabela 3), fosse suprido pelo aumento do consumo de petróleo

(Gráfico 2).

35

Gráfico 03 – Variação no Consumo de Fontes Energéticas.

Os leilões de energia são realizados pela Agência Nacional de Energia

Elétrica (Aneel) com o objetivo de expandir a oferta. Participam vendedores de

energia (empresas geradoras) e compradores (distribuidoras). Há dois tipos de

leilões: os de energia existente e os de energia nova, para projetos que devem

ocorrer cinco e três anos antes do efetivo fornecimento de energia elétrica, sendo,

por isso, chamados de A-5 e A-3.

Tabela 03 – Variação no Consumo de Fontes Energéticas.

36

Respondendo à sinalização dada em 2008, a cadeia produtiva da

bioeletricidade se preparou para atender algo como 500 a 600 MW médios

anualmente. No entanto, de 2009 até 2011, o total comercializado anualmente pela

fonte tem sido uma média de poucos mais de 90 MW médios nos leilões promovidos

pelo Governo Federal, que ainda são a “porta de entrada” da bioeletricidade no setor

elétrico.

A descontinuidade na contratação da bioeletricidade põe em risco a estrutura

tecnológica e operacional criada para a cadeia produtiva da bioeletricidade. A

bioeletricidade é uma fonte de resposta rápida, às vezes em até um ano e meio se

consegue colocar de pé um novo projeto, senão menos. A bioeletricidade apresenta

externalidades positivas ambientais, energéticas, econômicas e sociais ainda não

adequadamente reconhecidas no atual formato dos leilões, qualidades que não têm

sido corretamente valorizadas ou incentivadas.·

6.5.2 O Potencial de Aproveitamento da Bioeletricidade

O valor estratégico da bioeletricidade fica mais evidente quando verificamos

seu potencial, ainda bem distante da geração efetiva de 2011. A energia elétrica da

cana capaz de ser “exportada” para a rede elétrica tem potencial estimado de 134

mil GWh/ano até 2020. Utilizar plenamente esse potencial significaria proporcionar o

atendimento anual de cinco cidades do tamanho de São Paulo, quase 87 cidades do

porte de Ribeirão Preto ou 450 cidades do tamanho de Sertãozinho, considerando

dados de consumo atual dessas cidades. Representaria quase o dobro da energia

elétrica produzida no Estado de São Paulo em 2011.

É equivalente a mais de três vezes o que a Usina Belo Monte será capaz de

produzir ou duas usinas Itaipu em termos de capacidade instalada. Contudo, atingir

esse potencial de geração no setor sucroenergético significaria um investimento

adicional de R$ 100 bilhões na bioeletricidade. Lembrando que a bioeletricidade cria

15 vezes mais empregos diretos que a geração a carvão mineral, 22 vezes mais que

a fonte gás natural e 72 vezes mais empregos diretos que a energia nuclear

(BNDES, 2005).

Se hoje a bioeletricidade representa apenas 2,3% do consumo brasileiro,

essa fonte renovável e sustentável poderá representar 18% do consumo nacional de

energia elétrica em 2020, caso seu potencial seja efetivamente concretizado.

37

Importante também é o aspecto da sustentabilidade dessa fonte. Aproveitar todo

esse potencial de geração de bioeletricidade em 2020 significaria evitar quase 40

milhões de toneladas em emissões de CO2/ano, equivalente a mais de duas vezes e

meia o total de Gases de Efeito Estufa (GEEs) emitidos no município de São Paulo.

A realização de leilões regionais representa um refinamento necessário do

atual modelo de contratação capaz de permitir um planejamento mais adequado do

potencial das diversas fontes renováveis que o Brasil possui. De acordo com a

Empresa de Pesquisa Energética (2012), a demanda no país por energia elétrica

deverá saltar de 472 mil GWh em 2011 para 736 mil GWh em 2021, um crescimento

de aproximadamente 60% no período, equivalente a quase sete vezes a energia a

ser produzida pela UHE Belo Monte a plena motorização. Isso se deve

principalmente ao elevado crescimento demográfico que tem sido notado e significa

que há espaço para as diversas fontes renováveis que sejam de fato

complementares à fonte hídrica, como é a bioeletricidade (Gráfico 03).

Gráfico 04 – Complementaridade da Bioeletricidade Sucroenergética.

38

7. CONCLUSÃO

A cogeração de energia como um processo das usinas de açúcar e álcool,

mostrou-se e tem mostrado gradativamente que tem potencial para elevar a

bioeletricidade como uma das principais formas de energia que compõe a matriz

energética brasileira.

Contudo, para atingirmos o pleno potencial da bioeletricidade, há necessidade

de uma política setorial de longo prazo para essa fonte renovável e sustentável. É

fato que a opção exclusiva por leilões nacionais, sem discriminação da localização

dos empreendimentos ou tipo de fonte, tem limitado a possibilidade de o Governo

Federal compor a matriz de energia elétrica, conforme as necessidades e potenciais

de cada região, promovendo a expansão concentrada em regiões e a baixa

diversificação entre as fontes.

Promover a contratação das fontes de geração em leilões genéricos que

estão em “desequilíbrio institucional” (quer seja por concessão de benefícios fiscais,

de financiamento ou conjuntura de sua própria indústria) apresenta uma

oportunidade para aprimorarmos esse modelo. Isso, sem mencionar os efeitos da

não-diversificação da matriz elétrica e concentração da geração em regiões longe do

centro de carga.

O formato de leilões regionais para o aproveitamento local das fontes pode

ser uma opção de real política setorial para as fontes renováveis, especialmente

para a biomassa da cana, cujo potencial está inserido nos principais centros

consumidores do país, além de ser plenamente complementar à fonte hídrica e

ambientalmente sustentável.

Se há oferta potencial e demanda, se a energia está sintonizada com as

preocupações mundiais, se ela serve perfeitamente como complemento da energia

hídrica, então a pergunta que se impõe é: por que falta competitividade à

bioeletricidade nos leilões de energia?

Entende-se que os leilões deveriam ser específicos por fonte ou regionais,

levando-se em consideração o potencial de cada fonte ou região. No caso da

biomassa de cana, o potencial está principalmente na Região Centro-Sul, que é o

maior centro consumidor de energia elétrica do País, respondendo por 77% do

consumo nacional. Isto permite aos agentes públicos do setor elétrico o pleno

39

resgate do planejamento para que se possa conseguir um direcionamento para o

aproveitamento locacional das diversas fontes de geração que o Brasil possui.

Um ponto importante também a ser considerado é o papel da bioeletricidade

na expansão da oferta de etanol. Até 2020, de acordo com estimativas da Única

(União da Indústria de Cana de Açúcar), a produção de cana no País teria que

praticamente dobrar, atingindo cerca de 1,2 bilhão de toneladas por ano apenas

para atender o aumento da demanda por etanol e manter a posição brasileira no

mercado mundial de açúcar. Para que isso aconteça, serão necessários

investimentos de mais de R$ 150 bilhões e a construção de 120 novas usinas de

processamento de cana – as chamadas greenfields.

Nesta linha, energia elétrica e etanol são produtos sinérgicos no setor

sucroenergético. Se restringirmos a expansão da bioeletricidade, desestimula-se a

tão necessária expansão do etanol no País. Uma política setorial de longo prazo

adequada para a bioeletricidade certamente colaborará também para a expansão da

produção do etanol e do açúcar. Isto ajudaria não somente a bioeletricidade, mas

também o etanol a deslancharem na matriz energética brasileira.

Trata-se de uma oportunidade literalmente única para promover o diálogo

entre os diversos agentes públicos e privados da cadeia produtiva do setor

sucroenergético para a expansão desses dois produtos sinérgicos na matriz

energética nacional: o etanol e a bioeletricidade.

40

8. BIBLIOGRAFIA

Secretaria de Energia SP – Manual de Administração de Energia, São Paulo,

2001;

BASQUEROTTO, C. H. Cogeração de Energia Elétrica com Bagaço de Cana-

de-Açúcar. 2010. Disponível em <http://www.fatecaracatuba.edu.br/suporte/uplo

ad/Biblioteca/BIO%2017701020002.pdf> Acesso em 29 mar. 2012;

BOTAO, S. G.. Uso de bagaço da cana-de-açúcar para cogeração de energia

elétrica, no Estado de São Paulo e a comercialização do excedente da

energia gerada Araçatuba, 2010 Disponível em: <http://periodicos.unitau.br/ojs-

2.2/index.php/biociencias/article/viewFile/446/264> Acesso em 12 mai. 2012;

PROJETO AGORA – Bioeletricidade, energia verde e inteligente do Brasil

2011. Disponível em <http://www.bioeletricidade.com/oquee.php> Acesso em 02

mar. 2012;

DANTAS, N. J.. Importância e perspectivas da bioeletricidade

sucroenergética na matriz elétrica brasileira UFRJ. Rio de Janeiro, 2009.

Disponível em :<http://www.unica.com.br/downloads/estudosmatrizenergetica/pdf

/Matriz_Bioeletricidade_CasCas5.pdf> Acesso em 26 abril 2012;

SANTOS, F. A. . Cogeração e comercialização de energia elétrica nas usinas

de açúcar e etanol, Disponível em: <http://www.iee.usp.br/eventos/cogeracao_

em_usinas.pdf> Acesso em 28 abril 2012.

ANEXO A – FOTOS DIVERSAS

41

Figura A.1 – Caldeira aquatubular de 67bar (Usina Pau D`alho).

Fonte: www.biochamm.com.br