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Espiritualismo de Joaquim de Aruanda
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“Assim, quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que morre se vestir com o que não
pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: a morte está destruída; a vitória é
total” (Paulo – Carta aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – versículo 54).
O espiritualista e o mundo humano
O espiritualista e os
acontecimentos da vida
humana
Este livro contém textos de palestras espirituais realizadas por incorporação
pelo amigo espiritual JOAQUIM DE ARUANDA e organizados por FIRMINO
JOSÉ LEITE, MÁRCIA LIZ CONTIERI LEITE
Os ensinamentos deste livro seguem as bases da Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal.
SETEMBRO - 2012
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 2
Índice
Reforma íntima ................................................................................................................ 4
Anarquista, graças a Deus ............................................................................................. 4
Apego ao mundo material............................................................................................... 7
Ousar ............................................................................................................................. 8
Assim falou Joaquim ..................................................................................................... 30
Ação justa .................................................................................................................... 30
Acaso ........................................................................................................................... 30
Acontecimentos diários ................................................................................................ 31
Deus e a ação .............................................................................................................. 31
Fazer o que quer .......................................................................................................... 32
Forma de agir ............................................................................................................... 32
Inação .......................................................................................................................... 33
Intencionalidade ........................................................................................................... 33
Reação à ação ............................................................................................................. 34
Responsabilidade pela ação ......................................................................................... 34
Características do acontecimento ................................................................................ 35
Essência do acontecimento .......................................................................................... 35
Mácula oriunda de uma ação humana .......................................................................... 36
Viver um conto de fadas é impossível ........................................................................... 38
A culpa pelo que faz ..................................................................................................... 39
Influência dos acontecimentos da vida sobre o espírito................................................. 40
Acontecimentos da vida humana ................................................................................. 43
Clonagem .................................................................................................................... 43
Fome ........................................................................................................................... 46
Aborto .......................................................................................................................... 46
Natal ............................................................................................................................ 57
A cura dos males físicos ............................................................................................... 72
Ano novo ...................................................................................................................... 76
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 3
Holocaustos ................................................................................................................. 77
Corrupção .................................................................................................................... 79
Guerra e paz ................................................................................................................ 82
Fazendo acontecer ........................................................................................................ 85
Só se faz para quem merece ........................................................................................ 85
As aptidões .................................................................................................................. 86
Ação e inação .............................................................................................................. 88
Atos meritórios ............................................................................................................. 89
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 4
Reforma íntima
Anarquista, graças a Deus
Participante: Qual o caminho para se libertar dos grilhões, eliminando o
raciocínio e a razão, pois são frutos de uma consciência constituída
erroneamente, e ousar?
Deixe-me lhe dizer uma coisa: não se acaba com o raciocínio, não se acaba com os
grilhões. O que você deve fazer é libertar-se deles...
O que estou buscando lhe transmitir é uma coisa completamente diferente daquilo que
você está entendendo. Acabar com o raciocínio não é deixar de tê-los; mas sim libertar-se deles,
não dar importância a eles.
Vou lhe contar uma história, que está em um livro da literatura espírita de vocês. Com isso,
acredito que posso lhe ajudar a compreender o que estou tentando transmitir...
Duas moças, que eram princesas em seus países, foram raptadas e aprisionadas por um
egípcio. Elas transformaram-se em escravas dele. Uma vivia com raiva de quem lhe seqüestrou.
Sofria e amargurava esta dor no peito... A outra, apesar da mesma escravidão, vivia em paz e
harmonia consigo mesmo.
A moça que sofria perguntou um dia para a outra: „você não tem ódio deles? Como você
consegue viver assim sabendo que sua família está longe, que você poderia estar num palácio,
mas está aqui trabalhando como escrava‟. Aquela que não sofria respondeu então: „quem está
escravizada é meu corpo, não eu. Eles só podem fazer qualquer coisa ao meu corpo, não a mim‟.
Desta história tiramos uma grande lição para esta pergunta que você me fez: deixe a
mente escravizar o ser humano e não se deixe escravizar por ela... Seja livre da escravidão do ser
humano...
Sabe, uma das maiores mentiras que eu já ouvi é quando o ser humano diz: eu sou livre.
Que mentira. O ser humano é um escravo...
Escravo da sociedade, das regras societárias que ditam o certo e do errado. Escravo dos
seus desejos, pois só quando eles são satisfeitos o ser humanizado está feliz. Escravo da vida que
leva, porque por mais que ele se esforce para ir para um lado a vida o leva para outro...
O ser humano não tem liberdade alguma. Vive cercado por regras, normas e leis. Vive
aprisionado a paixões e desejos e se diz livre. Essa é uma consciência que você precisa ter: ser
um ser humano é ser escravo. Escravo da mente, da sociedade, da família, do emprego... Liberte-
se de tudo isso.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 5
Não estou falando para acabar com a família, com o certo e o errado ou para deixar de
trabalhar. Estou falando em se libertar das idéias que tem sobre estas coisas. Isto porque deixar de
ter essas idéias é coisa que você não pode fazer, pois é a mente que as tem. Sendo assim, elas
continuarão existindo até que Deus não mais as crie...
Então, libertar-se dos grilhões e viver com Deus é – ouça bem o que eu vou falar e guarde
bem isso – libertar-se da humanidade exigida para o seu ser humano, para o seu personagem
humano. Se a vida exige que o seu personagem como homem aja de tal forma, liberte-se desta
obrigação. Viva como viver, seja feliz.
Você pode até fazer o que ou outros cobrem que faça, mas não aja motivado por
obrigação, por ter que fazer... Participe apenas assistindo o que está sendo feito, ou seja, tenha a
consciência de que está fazendo porque está e não porque é obrigado a ser assim...
Sabe, se os outros, para que você possa dizer-se humano, afirmam que é preciso cumprir
determinadas atitudes, liberte-se dessa cobrança. Com isso não estou dizendo que não faça, mas
que não se escravize: não se sinta obrigado a fazer, a ter que fazer. É isso que é a liberdade dos
grilhões que nós ensinamos e que propomos...
Muitas pessoas acham que nós estamos aqui para criar algo novo, uma ciência ou uma
doutrina que contenha verdades novas, mas não é isso. Nós viemos com uma missão: propor aos
seres humanizados uma revolução. Nosso trabalho consiste-se em incitar os espíritos hora
encarnados a revoltarem-se contra a humanidade que vivem... Revoltar-se, no sentido de libertar-
se, não ter raiva.
Libertarem-se desta série de padrões de certo e errado, da obrigação de ter que fazer
determinadas coisas, de que fazer algo é direito e praticar outro tipo de ação não é...
Usando os termos de vocês, o que propomos tem um nome: anarquia...
É isso mesmo que estamos propondo: uma anarquia. Não uma baderna, mas uma
anarquia no sentido de vocês não serem compromissados com a humanidade com a qual vivem
através das suas consciências. Na hora que atingirem este estado anárquico, viverão como Cristo,
que, aliás, foi o maior anarquista que já apareceu. Ele foi contrário a todos os padrões pré-
estabelecidos de sua época. Justamente por causa disso, aliás, foi crucificado.
Portanto, deixe os outros lhe crucificar. Crucificar não como ato material, pois hoje isso não
acontece mais, mas moralmente: falarem mal de você. Não se preocupe com esta crucificação,
mas olvide todos os seus esforços para se libertar de sua humanidade, pois os critérios humanos
são os grilhões que não deixam o espírito alcançar a Deus.
Deixe-me completar o assunto dizendo uma coisa: por causa deste raciocínio que
desenvolvi é que Paulo diz que o ser humano é o inimigo de Deus.
Não o ser humano como individualidade, mas a humanidade que um ser espiritual assume
durante a encarnação que é o inimigo de Deus. Isto é realidade, pois a humanidade tem como
fundamento básico o egoísmo, o individualismo, enquanto que Deus universalista.
Participante: Esta escravidão na carne é uma evolução para muitos espíritos:
mudança menos ruim de conduta...
Não, esta escravidão é a prova.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 6
A escravidão aos critérios humanos é prova para o espírito. Ela existe para que ele possa
testar o seu estado de espírito. Se ele acredita nestes critérios humanos e por isso vivencia o
prazer ou a dor, não realizou sua prova a contento, não se aproximou de Deus.
Deixe-me deixar uma coisa muito clara: viver por critérios humanos ou espirituais são
caminhos diferentes. Quem caminha para a humanidade afasta-se de Deus e quem caminha para
Deus afasta-se da humanidade.
Cristo foi bem claro neste aspecto: não se servem dois senhores ao mesmo tempo. Se
você quiser servir à humanidade não conseguirá servir a Deus. Amealhe bens no céu e não na
Terra... É, ele foi bem claro...
A questão a respeito deste antagonismo que falei precisa ser muito bem compreendida
para que o ser humanizado não se julgue santo por seguir os critérios humanos. Na verdade, o ser
humano jamais se santifica, pois isso só pode ser alcançado pelo espírito e só ocorre quando ele
abandona a materialidade e vive a sua divindade íntima...
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 7
Apego ao mundo material
Participante: Mas há tantas coisas boas neste mundo, pelo menos para quem
como nós pobres mortais não conhecemos o outro.
Se continuar pensando que há tantas coisas bonitas neste mundo, jamais conhecerá
realmente o outro.
Você viu o que me foi perguntado anteriormente: se eu teria saudades deste mundo? Eu
não posso tê-las, porque conheço o outro lado. E quando o conheci? Quando não me prendi à
matéria, ou seja, quando preferi não mais estar ligado à materialidade e vivi uma encarnação no
espiritualismo, ligado em Deus e no espiritual.
Deixe-me dizer-lhe algo. Eu já fiz este comentário anteriormente e quando o fiz, fui tão
criticado que preferi não mais voltar a tocar no assunto para não perturbar os seres humanizados,
mas hoje vou voltar a fazê-lo. Você sabe por que estão presos na roda das encarnações até hoje?
Porque não querem sair.
Esta é uma grande verdade que não se pode negar. Os espíritos se prendem à roda das
encarnações porque não querem sair. Isto porque acham que existem coisas lindas no mundo
material e preferem vivê-las ao invés de se atirarem no vazio que é cheio de Deus.
Portanto, de nada adianta ficar dizendo que está buscando a elevação, sair da
materialidade, pois enquanto adorar o ambiente material, idolatrar as coisas materiais em
detrimento do atma (espírito, alma), jamais conseguirá mesmo sair da roda de encarnações.
Vou dar um exemplo para você entender melhor. Se alguém quer morar nos Estados
Unidos, não pode idolatrar o Brasil, pois enquanto houver esta idolatria não terá coragem de
abandoná-lo. Só sai do Brasil quem não quer ficar neste país para curtir as coisas dele.
Estou falando desta forma porque, como você falou, não conhece as coisas do outro
mundo. Talvez por isso não queria se desgrudar daquilo que conhece, o que faz parte da natureza
humanizada do ser universal: não trocar o conhecido pelo desconhecido. Por isto lhe dou um
conselho: leia o que foi escrito por todos aqueles que conseguiram ter uma visão deste paraíso.
Veja através da leitura que fizer do que eles descreveram se encontra vontade de voltar?
Nenhuma.
Se quem já passou por aqui e chegou lá não quer voltar, não acha que é melhor ouvir o
conselho de quem conhece, ao invés de querer se apegar às coisas materiais?
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 8
Ousar
Para começarmos nossa conversa de hoje, gostaria de fazer uma pergunta: qual a
responsabilidade do espírito? Qual a responsabilidade que o espírito assume ao encarnar? A
nossa responsabilidade como encarnado é a de promover a reforma íntima. Todos os espíritos que
estão ligados a uma consciência material só se encontram neste estágio da sua existência
espiritual porque assumiram o compromisso de buscar a elevação espiritual através da reforma
íntima.
Se isto é verdade, é necessário, então, que se faça mais uma pergunta: o que é preciso
para promover a reforma íntima? Do que precisa um espírito para honrar o compromisso assumido
com Deus e com a espiritualidade antes da encarnação? Será que apenas o desejo de fazê-la é
suficiente? O ser humanizado pode ter muita vontade de fazer, mas nunca chegar a realizar, pois a
vontade precisa se transformar em Realidade. Não basta apenas ter vontade: é preciso realização.
A partir do momento que o ser humanizado compreende a responsabilidade assumida
antes da encarnação entende a necessidade da realização. Mas, só compreender não adianta,
pois ele pode no primeiro obstáculo desistir. Você pode ter vontade de reformar-se, pode desejar
ardentemente elevar-se, mas se o desejo não se transformar em prática nada será conseguido. Só
que para que esta prática ocorra há um elemento que é fundamental e sem ele nada se consegue
em termos de elevação espiritual.
Claro, que o primeiro mandamento deixado por Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas)
é fundamental, no entanto, o ser humanizado pode até amar ao Pai, mas na primeira adversidade
estancar a prática da reforma íntima. Claro que existem muitos outros fatores tais como vontade,
perseverança, afinco e outros que são importantes, mas um é fundamental.
Para que você promova a sua reforma íntima, ou seja, alcance a consciência espiritual –
ter valores (verdades) na memória condizentes com a Realidade espiritual – é preciso que ouse. A
ousadia é uma característica fundamental de todos aqueles que conseguiram promover a sua
reforma íntima, ou seja, conseguiram eliminar a consciência material e se fundiram com Deus.
A promoção da reforma íntima por parte de um ser encarnado, acima de tudo, é um ato de
ousadia. É necessário coragem para ousar, mas é preciso fazer isso, pois sem a ousadia não se
realiza nada.
Qual o contrário de ousar? Acomodar-se. E o que é acomodar-se para um espírito que
assumiu a responsabilidade de executar a sua elevação espiritual? É viver como a humanidade
vive, perpetuar a sua ação dentro dos papéis planetários guiados pelas verdades da consciência
terrestre. A acomodação acontece quando, mesmo de posse dos ensinamentos deixados pelos
mestres, o ser humanizado continua vivendo como todo resto da humanidade, ou seja, continua
balizando a sua existência dentro dos códigos de normas e comportamento impostos pela
sociedade. Isto é acomodação e com esta postura nenhum ser humanizado realiza a sua reforma
íntima.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 9
De nada adianta se conhecer profundamente os ensinamentos trazidos pelos enviados de
Deus, se o espírito não ousar colocá-los em prática indo contra a rotina da humanidade, jamais
conseguirá realizar aquilo que se comprometeu em fazer.
Para que você realize a sua elevação espiritual é preciso que vá além das regras
societárias do planeta que, afinal de contas, preservam a humanidade do ser e não visam à
espiritualização deste. Por isto, é preciso ir além das regras das sociedades, dos preconceitos, das
críticas e de todas as verdades pré-estabelecidas. É preciso ousar ir contra os sistemas pré-
estabelecidos que a milhares de anos serve ao ser humano, ou seja, aprisiona o espírito na busca
do bem material (as paixões e o prazer oriundo da satisfação dos desejos).
Sem a ousadia de buscar reformar a sua vida a partir de novos parâmetros libertando-se
da escravidão da mesmice humana que ocorre há séculos, você não vai conseguir realizar aquilo
que se comprometeu. Ficará preso no igual a que todo mundo faz e quem caminha igual chega ao
mesmo fim do outro. Portanto, ousar ser diferente é fundamental para a reforma íntima.
O que quer dizer o ensinamento de Cristo a respeito de oferecer a outra face? É ousar
reagir de um modo diferente aos acontecimentos. Ousar não brigar com quem briga com você,
quando a sociedade espera que reaja à altura a agressão sofrida. É ousar ser taxado de bobo, de
idiota por não reagir. É ousar perder aparentemente alguma coisa, mesmo que a sociedade lhe
cobre que você deve ganhar sempre.
Sem a ousadia, ou seja, sem uma ação diferente da normalidade, do padrão pré-
estabelecido e esperado pela sociedade, você não consegue realizar a sua reforma íntima. Digo
isto porque o que a sociedade espera e cobra dos seres humanos é revidar quando agredido.
Quando ele não reage dentro dos padrões, é criticado, injuriado e acusado de não saber viver.
Portanto, para poder se reagir de uma forma diferente é necessário ousar, pois a
sociedade lhe cobrará a postura e você que busca a elevação espiritual não poderá se ofender
com isto. Esta não ofensa com a reação da sociedade terá que nascer da consciência de que se
não ousar fazer diferente, jamais conseguirá aquilo a que se propôs, porque estará preso no
mesmo caminho daqueles que não conseguem. Conscientizando-se da necessidade da ousadia,
você poderá ir contra os padrões, mas sem isto, sofrerá no momento que for caluniado e nada terá
realizado.
É por causa do medo de ousar, ou seja, por causa da acomodação a que se submetem os
espíritos encarnados, que, quando conversamos sobre os ensinamentos deixados pelos mestres a
respeito da família, por exemplo, as pessoas dizem: “ah, mas eu posso alcançar a evolução
espiritual mantendo os meus vínculos familiares”. Não pode. Todos os mestres da humanidade
(Cristo, Buda, Krishna, Lao Tse), foram unânimes em questionar os padrões com que são
vivenciados os laços familiares pela humanidade. Quem é minha mãe, quem são meus irmãos?
São todos aqueles que fazem a vontade de Deus, ensinou Cristo.
Isto ocorre porque quando se fala em evolução espiritual, se fala em universalização
enquanto que o padrão do vínculo familiar vivenciado no planeta é baseado na individualização:
meu, minha. Ninguém quer destruir as famílias, mas é preciso que o ser humanizado aprenda a
conviver neste núcleo dentro do amor universal (amar a todos) para alcançar a elevação espiritual.
Portanto, se você não ousar ir além do padrão família que é conhecido no planeta terra
abolindo o „meu‟ pelo universal, não consegue elevar-se.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 10
Sem a ousadia nenhum espírito humanizado consegue a sua elevação espiritual porque
não coloca em prática os mandamentos que Cristo deixou. Para se cumprir o primeiro e o segundo
mandamento (amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo) que o mestre
nazareno classificou como aquilo que efetivamente conduz à elevação espiritual é preciso ousar,
pois só com ousadia o ser humanizado poderá amar sem restrições.
Ousar viver a vida espiritual na carne é entregar-se a uma ação diferentemente da forma
como os seres humanizados se entregam, ou seja, sem querer programar resultados para esta
ação. Os seres humanos não amam o próximo e a Deus, porque participam dos acontecimentos
dentro dos padrões humanos, ou seja, esperando ganhar alguma coisa com o que estão
praticando. Quem ousa não se preocupa se vai ganhar ou perder, se vai ser considerado bom ou
mal, certo ou errado, se vai alcançar o que quer ou não vai realizar os seus desejos. Ousar é atirar-
se em um vazio, ou seja, participar da ação sem previsão de acontecimentos futuros. Isto denota a
fé em Deus, ou seja, o amor a Deus sobre todas as coisas.
A ousadia necessária para se amar a Deus sobre todas as coisas está descrita com
perfeição na história do alpinista que morreu quando estava escalando uma montanha de neve.
Ele caiu da montanha onde estava e ficou preso por uma corda à beira de um precipício
balançando-se no ar. Já era noite e não se conseguia ver nada e por isto o alpinista não conseguia
enxergar a que distância estava do platô abaixo dele. Ele ficou se segurando na corda e
balançando no vazio sem saber se poderia largá-la ou não. No desespero apelo para o Pai:
„Senhor, me ajude!‟. Deus ouviu e respondeu: „Largue a corda!‟. No dia seguinte, o alpinista foi
encontrado morto preso à corda, balançando no ar, a menos de um metro de um platô que poderia
ter amortecido sua queda.
Ousar é largar a corda sem olhar para baixo. É atender ao apelo divino sem querer saber
concretamente se há algo para lhe proteger ou lhe amparar. É atirar-se no escuro, ou seja, sem
saber o que acontecerá no futuro, pela confiança irrestrita que sente por Deus. Se você precisa
saber o que vai lhe acontecerá quando largar a corda (os padrões da vida carnal) não ousou nada:
atirou-se com a segurança material, confiou em si e em suas percepções, ou seja, continuou
seguindo o padrão humano de agir.
A reforma íntima é um salto para o escuro, uma ação que deve ser praticada sem se ter
certeza de onde irá aterrissar.
Todos aqueles que estão na busca da elevação espiritual com certeza já ouviram falar da
vida espiritual, no céu pregado pelas diversas religiões (paraíso, cidades espirituais, tenda árabe,
palácios suntuosos). Sabem que se conseguirem realizar a sua reforma íntima viverão nestes
lugares. No entanto, apesar disto nenhum espírito humanizado conhece realmente (tem a
percepção material) destes lugares. Ninguém se lembra de como era a sua existência nestes
lugares antes da encarnação. Por mais que leiam os romances espirituais ou ouçam as belas
palavras dos pastores e padres descrevendo o céu, a compreensão sobre o futuro depois do
desencarne jamais será concreta. Ela estará sempre no campo do ilusório, do não lógico material.
Isto é necessário porque só se alcançam estes locais, ou seja, se consegue a elevação
espiritual, com a ousadia. O espírito só gozará do banquete que Deus convida se ousar ir além da
lógica material. Por mais que estude, que busque entender a existência espiritual, o homem jamais
conseguirá a comprovação material das coisas. Ele terá sempre que se entregar a uma idéia, a
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 11
algo abstrato para realizar a sua ascensão aos céus. Enquanto houver a lógica e a razão material
como guia, o espírito humanizado não conseguirá chegar a lugar nenhum.
Portanto, basicamente a elevação espiritual é um salto no escuro, pois você se atira a um
processo (reforma íntima) para alcançar um lugar que não sabe qual é. Vive querendo se reformar
sem saber onde vai chegar e nem o que acontecerá contigo.
Ela não poder ser conseguida por meio lógicos e racionais (vou fazer o que os mestres
ensinaram para que aconteça isto comigo) porque assim continuará preso na cordinha, esperando
saber o que está embaixo ao invés de soltar a mão.
Ousar: isto é o fundamental para podermos aproveitar o portal que se abre na
espiritualidade com o objetivo energizar cada um na sua religação com Deus.
NOTA: Refere-se ao portal citado na palestra “Natal”, pois esta palestra foi
realizada logo depois daquela. Esta palestra encontra-se neste volume.
Para que cada um possa aproveitar melhor o portal que se abre na comemoração natalina
é preciso aprender a ousar, aprender a agir além dos padrões humanos, sem medo do futuro e
sem querer projetar qualquer resultado. A ousadia em amar a Deus acima de todas as coisas não
pode prever resultados por esta ação. Nem mesmo um „seja o que Deus quiser‟, pois ainda assim
estaríamos fazendo uma previsão de futuro. Quem ousa não quer saber o que acontecerá, mas
apenas louva a Deus e entrega-se a Ele com confiança irrestrita. Este não tem nem a condição de
que será o que Ele quiser, porque neste caso não houve ousadia, mas uma entrega se garantindo
para o futuro.
Isto, portanto, é promover reforma íntima: um ato de ousadia extrema. Um ato tão extremo
que a elevação espiritual se caracteriza em ousar ser feliz quando tudo o que você tem na vida
deveria, pelos padrões humanos, lhe fazer sofrer.
Por exemplo: o filho está agonizando no hospital. Esta é uma situação em que os padrões
humanos ditam que a pessoa tem que sofrer. O que você espera ter reformado agindo assim?
Qualquer um faz isso, não? Agindo igual nada há de esperar com recompensa por sua ação. É
como Cristo ensinou: até os ateus fazem isso. Até quem não acredita em Deus, até quem não é
religioso, sofre numa situação desta. Por que você, que afirma que está procurando elevar-se, ou
seja, fundir-se na unidade com Deus, age igual, então?
Você que acredita em Deus e que O busca, precisa ousar ir além do que o ateu faz.
Precisa manter a sua paz, a sua serenidade nos momentos em que ele não faz isso.
Nem vou falar que deveria manter a felicidade, pois como você não compreende este
estado de espírito, acharia que estou dizendo que deveria contar piadas, ficar dando gargalhadas
no hospital enquanto seu filho está agonizando. A felicidade que eu falo não se representa por
gestos, mas é um estado de espírito onde prevalecem à paz e a harmonia interna. Isto, você que
se denomina buscador de Deus, deveria ousar ter, mesmo que os padrões da humanidade
dissessem ao contrário.
Para honrar o seu compromisso assumido antes da encarnação, é preciso que ouse não
se desesperar, não criticar, não acusar ninguém como responsável pelo que está ocorrendo. Assim
você estaria promovendo a reforma íntima.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 12
Esta ousadia necessária à evolução espiritual (manter-se em harmonia, mesmo quando o
acontecimento deve ser vivenciado em desespero) ensina Cristo.
“Quando vocês jejuarem, não façam uma cara triste como os hipócritas, pois
eles fazem assim para todos saberem que estão jejuando. Lembrem-se disto:
eles já receberam toda a recompensa. Quando vocês jejuar, lave o rosto e
penteie o cabelo para os outros não saberem que você está jejuando. E
somente o Pai, que não pode ser visto, saberá que você está jejuando. E Ele,
que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa” (Mateus, 5, 16 a
18).
Não deixe ninguém ver que está fazendo jejum, ou seja, que aquele momento não está de
acordo com os seus desejos. Mas, para isto é preciso ousar ser diferente da humanidade, ou seja,
reagir aos acontecimentos de uma forma diferente dos padrões pré-estabelecidos pela sociedade.
Um ser humano que perde seu emprego cai em desespero porque não quer largar a corda,
ou seja, não confia em Deus. Por causa desta reação padrão (desespero) acusa o governo, a
sociedade, o patrão anterior de injusto por ter lhe mandado embora. Reagir assim é fácil: até o
ateu faz. Mas, você que está buscando promover a sua reforma íntima ao passar por um jejum de
emprego, precisa ousar.
O que seria ousar neste caso? Confiar nos ensinamentos que os mestres trouxeram.
“Por isso eu digo a vocês: não se preocupem com a comida e com a bebida que
precisam nem com a roupa que precisam para vestirem. Afinal, será que a vida
não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais
importante do que as roupas? Vejam os passarinhos que voam por aí: eles não
semeiam, não colhem, nem ajuntam em depósitos. No entanto, o Pai que está
no céu dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os
passarinhos? Nenhum de vocês pode viver alguns anos mais por se preocupar
com isso. E por que vocês estão preocupados com as roupas? Vejam como
crescem as flores do campo: elas não trabalham nem fazem roupas para si
mesmas. Mas eu afirmo que nem mesmo Salomão, sendo tão rico, usava
roupas tão bonitas como essas flores. É Deus quem veste a erva do campo,
que hoje floresce e amanhã desaparece, queimada no forno. Então, é claro que
Deus vestirá também vocês, que têm uma fé tão pequena! Portanto,, não
fiquem preocupados dizendo: „Onde é que eu vou arranjar comida, bebida e
roupas?‟ Os pagãos estão sempre procurando essas coisas. O Pai de vocês,
que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Portanto, ponham em
primeiro lugar nas suas vidas o Reino de Deus e aquilo que Deus quer e ele
lhes dará todas as outras coisas. Por isso, não fiquem preocupados com o dia
de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para
cada dia bastam as suas próprias dificuldades” (Mateus, 6, 25 a 34).
Ouse não se desesperar por fé em Deus, por confiança e entrega absoluta no Pai que dá a
cada um aquilo que ele precisa e jamais se esquece de alguém. Se neste momento foi o
desemprego que ele lhe deu, é porque sabia que era o necessário para a sua caminha em direção
a Ele.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 13
Promover a reforma íntima é louvar a Deus pelo desemprego, se é isto que está ocorrendo
na sua vida. É entregar-se à situação de desemprego sem viver como a maioria vive durante esta
época. Não estou falando em acomodar-se no desemprego, mas procurar emprego sem
desespero, acusações, críticas ou julgamentos, aguardando em paz e harmonia o momento que
Deus lhe tornar novamente empregado.
Por que digo que isto é a forma de reagir de quem está buscando a elevação espiritual?
Porque quem está buscando a elevação espiritual está buscando ligar-se a Deus acima de todas
as coisas para servi-Lo. Quem não vive a elevação espiritual está buscando o prazer material, o
serviço ao mundo.
Como Cristo também ensinou:
“um escravo não pode servir dois donos ao mesmo tempo, pois detestará um e
gostará do outro; ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem
servir a Deus e também servir ao dinheiro” (Mateus, 6, 24)
Então, se você que se diz buscador de Deus, em processo de reforma íntima para alcançar
a elevação espiritual reage como aqueles que não se preocupam com isto, será que está servindo
realmente ao Pai?
É, a característica principal da elevação espiritual é a ousadia, porque até aqueles que
assumem a posição de guru (guia espiritual) de alguém precisam ousar. Precisam ousar chegar
aqui e dizer tudo diferente do que pregam as doutrinas religiosas. É preciso ousar chegar aqui e
falar completamente diferente de tudo o que você ouviu até hoje em matéria de elevação espiritual.
Sabe por quê? Porque o que você ouviu até hoje não resolveu.
Que vantagem leva os padres se eles ainda prometem orar a Deus pela sua saúde
material ou pelo fim do seu desemprego? Até um pagão faz isto! „Acalmem-se tudo vai dar certo.
Você vai sair desta e conseguirá aquilo que quer‟.
Que vantagem leva os palestrantes dos centros espíritas e os gurus hindus se eles ainda
prometem uma vida carnal próspera? Até os pagãos fazem isto! “Tenha fé, tudo se resolverá e
você voltará a ter tudo o que quer”.
Se, como guia espiritual de vocês venho aqui e ensino que devemos a amar a Deus sobre
todas as coisas, que vantagem eu teria se não lhes ensinasse a ousar viver diferente do padrão
humano: a esperança de que seus sonhos e desejos se concretizem? De nada adiantaria reuni-los
para ensiná-los a amar a Deus se ainda colocasse este amor subordinado às verdades humanas,
ou seja, servindo à matéria. Por isto preciso ensiná-los a ousar não depender da matéria para ser
feliz.
Para fazer isso eu preciso ousar ir contra aquilo que esperam, pois o padrão humano é que
os guias espirituais se colocam à disposição da satisfação do prazer humano, ou seja, dão
esperanças de felicidade material em troca do amor a Deus. Eu não falo desta felicidade, mas de
outra que está além daquilo que vocês conhecem. E para alcançá-la, ensino que é preciso ousar
abandonar a busca do prazer como fonte de felicidade.
Até hoje o ensinamento da evolução espiritual, ou seja, o caminho para alcançar o bem
celeste, é subordinado aos objetivos da humanidade, às regras e padrões planetários de felicidade.
Por isto os religiosos são tão humanos quanto os pagãos.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 14
Quando tomam conhecimento de injustiças sociais (fome, desemprego, sem teto, sem
terra), por exemplo, reagem da mesma forma daqueles que não acreditam em Deus. Acusam os
poderes constituídos de não cumprirem o seu papel, auxiliam e promovem manifestações de
repúdio aos governantes. Nem parece que eles leram a Bíblia e escutaram o apóstolo Paulo
falando do alto de sua compreensão dos ensinamentos de Cristo recebido diretamente do mestre
na estrada de Damasco.
“Que todos obedeçam às autoridades. Porque não existe nenhuma autoridade
sem permissão de Deus e as que existem foram colocadas por Ele. Assim
quem é contra as autoridades é contra o que Deus mandou e os que agem
desse modo vão trazer a condenação para si mesmos. Somente os que fazem
o mal devem ter medo dos governantes e não os que fazem o bem. Se você
não quiser ter medo das autoridades, então faça o que é bom e elas o
elogiarão. Porque elas estão a serviço de Deus para o bem de vocês. Mas se
você faz o mal, então tenha medo, pois as autoridades de fato têm poder para
castigar. Elas estão a serviço de Deus e trazem o castigo Dele sobre os que
fazem o mal. Assim, você deve obedecer às autoridades, não somente por
causa do castigo de Deus, mas também por uma questão de
consciência” (Romanos, 13, 1 a 5).
Fazer o mal é revoltar-se, julgar, criticar, acusar. Fazer o bem é amar a Deus acima de
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Quem faz o bem jamais sofre com o que está
acontecendo, porque está ligado ao Supremo e nada afeta esta ligação. Além disto, sofrendo e
acusando, você está simplesmente demonstrando na cara o jejum que está fazendo, como já
vimos.
É por causa da ousadia de ensinar o amor a Deus além do prazer e satisfação gerados
pela subordinação aos padrões humanos que a maioria das coisas que eu falo choca as pessoas.
No entanto, isto só ocorre com aqueles que estão acomodados e não querem ousar. Aqueles que
não querem fazer a reforma íntima ou que apenas fingem estarem procurando Deus imaginando
que com isto possam trapacear com o Pai e conseguir satisfazer-se materialmente.
Não esqueçam aqueles que se dizem buscadores de Deus, mas que não querem ousar
largar as suas cordas que Cristo ensinou: de Deus ninguém esconde as suas intenções. Que o
Espírito da Verdade ensinou: “Podem os Espíritos conhecer os nossos mais secretos
pensamentos? Muitas vezes chegam a conhecer o que desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem
atos, nem pensamentos se lhes podem dissimular” (O Livro dos Espíritos – pergunta 457). Se os
espíritos podem conhecer, imaginem Deus!
Portanto, quem não ousa largar sua corda, sua segurança material, no íntimo (intenção),
ou seja, submete a sua evolução espiritual aos padrões materiais de felicidade, não consegue iludir
a Deus. Pode conseguir iludir a ele mesmo, ao mundo, à sociedade, mas não ilude ao Pai. Este
quando sair da carne acusará a Deus, à sociedade e a quem serviu como guia espiritual da sua
reforma íntima de não ter ensinado a Verdade que poderia lhe salvar. Já pensaram nisto, senhores
guias espirituais da humanidade?
Por isto, comecem vocês também a ousar. Ensinem o ser humano a confiar a subsistência
não só ao seu trabalho ou terra, mas a ter fé em Deus que o proverá dentro de sua necessidade,
ao invés de conclamar a discórdia incitando-os a rebelarem-se contra a Realidade.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 15
No trabalho do Espiritualismo Ecumênico Universal existe uma característica importante:
não se brinca de elevação espiritual. Quem nos ouve não pode fingir que está buscando a Deus,
porque senão se rebelará contra nós. Isto porque ousamos sempre desafiar as verdades
constituídas para transmitir a Realidade universal sobre os assuntos. Quem está apenas buscando
servir-se de Deus, com certeza se choca com nossa ousadia e, para se manter dentro de seus
padrões, nos abandona.
Ousamos, por exemplo, dizer que o aborto não é um assassinato, mas uma ação
carmática. Esta é uma ousadia porque fere todos os padrões estipulados até hoje pela
humanidade, inclusive pelos religiosos, ou seja, aqueles que dizem que estão procurando a Deus.
No entanto, se estudamos a Lei do Carma em toda sua profundidade, compreenderemos
perfeitamente a sua ação.
“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o
Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?
Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o
seu livre arbítrio”.
“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que
se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são
predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade
existe unicamente pela escolha que o Espírito faz, ao encarnar, desta ou
daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, institui para si uma espécie de
destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se
colocado”.
“859a. Haverá fatos que forçosamente devam dar-se e que os Espíritos não
possam conjurar, embora o queiram? Há, mas que tu viste e pressentiste
quando, no estado de Espírito, fizeste a tua escolha”.
“853a. Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte
ainda não chegou, não morreremos? Não, não perecerás e tens disso milhares
de exemplos. Quando, porém soe a hora da tua partida, nada poderá impedir
que partas. Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e
muitas vezes o seu Espírito também o sabe, por lhe ter sido revelado, quando
escolheu tal ou qual existência.” (O grifo é nosso)
Estas citações foram retiradas de O Livro dos Espíritos.
Ninguém morre antes da hora e disto vocês têm milhares de exemplos: o feto morre no
momento que tem que morrer. Deus sabe de antemão o gênero da morte de um homem: Deus
sabia que aquele homem morreria do gênero aborto. Isto tudo porque foi pedido pelo espírito antes
da encarnação e nisto se consiste o seu livre arbítrio. Portanto, depois que o exerce, o espírito não
pode esquivar-se de viver o momento que ele mesmo programou: ser abortado.
Aí está a verdadeira aplicação da Lei do Carma para o aborto e por crer no ensinamento
dos mestres ousamos dizer que esta ação não é um assassinato. No entanto, aqueles que se
subordinam aos padrões humanos, mesmo que sejam espíritas ainda condenam os instrumentos
(mães) das ações cármicas pedidas pelos espíritos antes da encarnação e chanceladas por Deus.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 16
Os espíritas conhecem a Lei do Carma, mas aplicam-na para algumas coisas apenas: o
que está dentro do padrão humano (verdade) de bom. Com isto deixam de dar a esta lei uma de
suas maiores características: a universalidade. Tudo que provêm de Deus é eterno e universal, ou
seja, jamais deixou de ser Realidade e serve para todos os elementos do universo. Desta forma a
lei do carma serve em todas as circunstâncias, mesmo que estas afetem o desejo humano do
espírito encarnado de permanecer vivo.
Para se promover a reforma íntima não se podem aplicar os ensinamentos apenas para
aquilo que queremos, mas deve também alcançar aquilo que não queríamos, que não gostaríamos
que ocorresse. Agir assim é subordinar a Lei do Carma que é divina à vontade humana que é
transitória e não almeja a integração com Deus.
“Sob a influência das idéias carnais, o homem na Terra só vê das provas o lado
penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu
ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual,
porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade
que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causa os
passageiros sofrimentos terrenos” (O Livro dos Espíritos – comentários de Allan
Kardec estampados junto à pergunta 266).
Por conhecermos a felicidade inalterável e eterna é que continuamos ousando combater os
padrões pré-estabelecidos, seja pela sociedade ou pelas religiões.
Ousamos dizer que o casamento não é indissolúvel, mas é uma ação carmática e
enquanto for preciso com esta finalidade será mantido, mas quando isto não mais for necessário
como prova para o espírito o rompimento ocorrerá naturalmente, sem que nenhum dos cônjuges
possa fazer algo para salvá-lo.
Ousamos falar contra os vínculos familiares. Dizemos que seu filho nada tem de seu, mas
que é um espírito autônomo vivendo provas pedidas por ele mesmo. Ousamos dizer que mãe não
ama filho, mas possui. Pelo apego que os padrões sociais conferem àquela que vivencia o papel
de mãe, o amor universal se torna impossível.
A mãe quer ser dona, quer mandar e comandar na existência do espírito autônomo. Quer
livrá-lo dos seus traumas e das suas decepções através de um ilusório comando da vida do filho
transformando-a naquilo que ela gostaria que tivesse acontecido consigo. Mesmo aquelas que
possuem o conhecimento religioso e sabem que todo espírito é filho de Deus, querem comandar a
existência do filho imaginando que podem desfazer o que o Pai faz.
Veja bem, ao afirmar que uma mãe não ama o filho, mas o possui, não estamos ofendendo
as mães, mas ousando acordar as pessoas para a Realidade: não existe seu filho, mas sim de
Deus. Os filhos são espíritos autônomos que, como já vimos viverão um destino traçado por eles
antes da encarnação e que é “a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se
colocado” enquanto espíritos que são.
É preciso ousar porque somente com ousadia é que se vive à Realidade e sem vivenciá-la
não se chega a Deus. Portanto, só quem ousa ir além dos padrões pré-estabelecidos de vivência
alcança o Pai, ou seja, promove a sua reforma íntima e alcança a elevação espiritual. Sem ousar,
ou seja, seguindo o caminho normal da humanidade, mantendo os padrões da humanidade,
mantendo a lei da humanidade, o espírito encarnado não vai a lugar nenhum, não alcança nada.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 17
Por que se o espírito encarnado mantiver os padrões humanos não chega a lugar
nenhum? Porque não vive a Realidade, a Verdade universal.
Estamos embasando todos os nossos comentários com citações para provar que a visão
que estamos falando coincide com aquilo que foi ensinado para lhe dizer uma coisa: estamos
falando a Verdade. Não a verdade humana, aquela que trata a realidade humana (sua ciência das
coisas) como real, mas aquela que fugindo a estes padrões se escora naquilo que é
incompreensível para a humanidade: a Realidade espiritual.
Conhece a Verdade, e a Verdade vos salvará. Este é o ensinamento de Cristo, mas onde
encontrar a Verdade? Se nos guiarmos pelos padrões humanos jamais poderemos chegar à
Verdade, pois tudo naquilo que os homens crêem são verdades temporárias (alteram-se com o
passar dos anos) e individuais (só servem para determinados povos ou raças). Quantas verdades
já foram alteradas pela sociedade desde quando você nasceu? Se isto ocorreu, elas nunca haviam
sido reais e, pela lógica, as de agora também se alterarão futuramente. Só esta rápida análise nos
é suficiente para perceber que a verdade humana não é eterna.
Mas e quanto à universalidade, será que as verdades do planeta são universais? Claro que
não. Em um lugar as pessoas possuem algumas verdades comportamentais que não são
necessariamente seguidas por outros. Aliás, são sempre contestadas, pois todo mundo se acha
dono da verdade.
Portanto, a Verdade absoluta (eterna e universal) não se encontra na Terra, mas sim fora,
no mundo de Deus, no espiritual. Quem poderia então ensiná-la? Apenas aqueles que vivessem
para a eternidade universal sem aprisionamento a efemeridade dos valores materiais, ou seja, os
mestres enviados por Deus.
Sendo isto verdade, ou seja, se apenas a Verdade trazida pelos mestres pode lhe servir
como base para promover a reforma íntima, como se chega a Deus? Qual o caminho para Deus?
“Eu sou o Caminho, a Verdade, a Luz. Ninguém chega a Deus a não ser
através de mim”.
Já ouviram esta frase? Quem é este eu da frase? O Cristo. E quem foi Cristo? Aquele que
ousou enfrentar o mundo, que ousou vencer o mundo.
A vida de Cristo foi o maior exemplo de existir materialmente em união com Deus. No
entanto ela começou numa choupana e não num palácio. Aquele que viveu o maior símbolo de
poder, a fé, usava sandália de pescador ou andava descalço mesmo.
Apesar de todo o seu poder dormia não em palácios suntuosos, mas no meio do campo;
não se alimentava em faustos banquetes, como as regras humanas levam os atuais professores
da lei a fazer, mas com as prostitutas e os cobradores de impostos. Ousou não chamar para si
glória de tudo que realizava, mas sempre dizia às pessoas que foi Deus e a fé deles que os
salvaram. Apesar de conhecer e manipular todos os elementos da matéria como se constata na
passagem onde anda sobre as águas, ousou se entregar, sem reação, a um exército de três ou
quatro legionários armados apenas com espadas e lanças. E ainda disse para Pedro quando este
tentou defendê-lo
“Guarde a sua espada, pois quem usa a espada será morto pela espada. Por
acaso você pensa que, se eu pedisse ajuda ao meu Pai, ele não me mandaria
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 18
logo doze exércitos de anjos? Mas, neste caso, como poderia se cumprir o que
as Escrituras Sagradas dizem que é preciso acontecer?” (Mateus, 26, 52 a 54).
Cristo ousou reagir a tudo o que aconteceu na sua existência carnal de uma forma
diferente do que qualquer ser humano reagiria. E como ele é o caminho para se chegar a Deus,
podemos entender que é preciso ousar para chegar ao Pai. O caminho para chegar a Deus é a
ousadia de viver a vida carnal fora dos padrões pré-determinados pela humanidade.
Qual foi o resultado da ousadia de Cristo? Vencer o mundo. Portanto, a sua reforma íntima
deve ser vivenciada com a ousadia de vencer os padrões, a obrigatoriedade de reagir de uma
determinada forma aos acontecimentos. A elevação espiritual se alcança com a ousadia de lutar
contra as verdades que o mundo lhe impõe.
Quando ousando eu falo que não pode ter família, você pensa: “ah, mas se eu não ligar
para o meu filho, a vizinha vai dizer que eu não presto como mãe”. Isto é subserviência ao mundo
material. Para se viver as posturas que levam à elevação espiritual é preciso ousar estar acima da
crítica, mas também acima do destino do filho. Ou seja, ousar manter-se em equilíbrio frente às
pressões externas e internas para que se submeta aos padrões humanos.
Ouse ser como a mãe passarinho: “você já sabe comer sozinho, então, suma...” Liberte-se
da ilusória responsabilidade que imagina ter sobre o destino do seu filho e não fique a vida inteira
perseguindo-o como um obsessor. Cristo não teve filho, mas se tivesse jamais interromperia as
atividades do filho para poder saber como ele está, como sua mãe, que era presa aos padrões
humanos fez. Ele deixaria seu filho viver a sua vida, vivenciar o seu destino, sem estar
constantemente perseguindo-o para cuidar dele.
É preciso ousar ir além dos padrões pré-estabelecidos sem esperar saber no que sua
ousadia resultará. Ousar é arriscar a tentar colocar os ensinamentos em prática, sem medo do que
pode resultar desta nova forma de ação.
Nós estudamos a reforma íntima há cinco anos. Muitos já nos ouviram e tiveram contato
com nossos ensinamentos. Quando isto ocorreu, eles afirmam: “velho, o que você fala tem lógica.
Eu acredito. Mas como será o mundo se colocar em prática tudo isso que está sendo ensinado?”.
Eu não sei: ouse para saber. Eu não posso lhe criar uma consciência do que acontecerá com você
depois que promover a reforma íntima, pois se assim o fizesse estaria quebrando o ingrediente
necessário para a promoção da elevação espiritual: o salto no escuro com fé. Se você quer se
entregar, mas para isto precisa saber o final da história para analisar se será satisfatório ou não,
não haverá ousadia nenhuma, não haverá o exercício da fé.
Ontem me disseram: “ah, mas se colocarmos tudo isto em prática, não vamos ter o que
falar, não teremos mais nada que comentar”. Não sei. Não sei se você ao conseguir a reforma
íntima vai se emudecer ou se não terá mais assuntos para conversar com os outros. Ouse colocar
na prática para saber se vão ficar sem assunto. Talvez tenha assunto para conversar com os
outros: não posso garantir. Mas se tiver, eu garanto que ele será diferente do hoje. Isto ocorrerá
porque as suas conversas surgirão como fruto da sua ousadia em não mais julgar, criticar,
observar o próximo.
Enquanto não houver a ousadia de viver de uma forma diferente os assuntos terão que ser
sempre os mesmos, pois você só sabe viver com o padrão que a sociedade exige que você viva:
os homens conversarão sobre futebol e sexo; as mulheres conversarão sobre casa, filho e moda.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 19
Isto é ponto pacífico porque não ousando ir além do normal, o ser humanizado só comenta o que o
padrão da sociedade quer que comente.
Quando dois homens se encontram, a primeira pergunta é: “você viu o jogo de ontem?”.
Ele nem sabe se o outro gosta de futebol ou não, mas como é um homem que está à sua frente
sente-se obrigado a falar de assunto de homem.
O homem, na visão humana, não pode fugir do padrão pré-estabelecido. Se comentasse
sobre roupas, criação de filhos ou limpeza de casa, mesmo que quisesse não o faria, pois senão o
outro poderia achar que ele era efeminado. Isto que diz a regra da sociedade. “Se eu ousar falar
sobre o que gosto ou quero, vão achar que eu gosto de homem, então eu prefiro não ousar”. Sofre
mantendo um diálogo que não lhe interessa, mas não ousa assumir-se com medo da reprovação
da humanidade.
Quantas coisas podem ser resolvidas com uma ousadia, quanto sofrimento pode deixar de
existir simplesmente porque você ousa contrariar a lógica humana sem prender-se aos padrões
humanos...
Quem conhece o nosso trabalho, os nossos ensinamentos, sabe que ousamos sempre.
Ensinamos que cada um pode acordar na hora que quer sem se preocupar com o que os outros
acham disto e comer na hora em que tem fome realmente, sem se preocupar com o horário da
refeição ou o que os outros vão falar se ele estiver almoçando às cinco horas da tarde.
Muitos dizem que pregamos o anarquismo, a bagunça. Mas se não ousarmos ir além do
certinho, adormecemos na cadeira porque temos sono e adquirimos problemas estomacais porque
comemos antes de haver necessidade. Portanto, não é bagunça que pregamos, mas a vivência
com as leis da natureza e não a subordinação aos padrões humanos que querem determinar o que
é certo de ser feito.
Foi isso que tentei falar neste ciclo de palestras sobre a reforma intima, quando estudamos
a Oração de São Francisco, a Hipocrisia, e o Natal. Ousei trazer verdades diferentes das humanas
sobre assuntos extremamente conhecidos: caridade, vida santa, o nascimento de Jesus. O que
fizemos em cada palestra é ousar ir além das verdades humanas em cima de um tema, Ousar
ultrapassar a visão convencional que satisfaz ao espírito humanizado. Fizemos isto porque temos
como lema ensinar o que é a vida espiritual na carne. Para tanto, temos que ir além da visão
humana, pois cada um de vocês são professores da lei dentro da visão que passei quando do
debate deste tema.
Vocês estão acomodados nos padrões materiais e por isto constroem apenas uma
realidade em cima deles. No entanto, a Realidade é sempre diferente daquilo que o ser
humanizado acredita.
Vou dar um exemplo: uma moça é casada com um rapaz que é acomodado, desligado e
preguiçoso e ela é certinha, perfeita, tudo no lugar, tudo na hora certa. Eles moram em uma casa
que está situada num terreno muito grande. Este terreno é totalmente plantado com grama, a qual
não é cortada pelo rapaz. Ela, ligada aos padrões humanos (a grama precisa ser aparada) brigava
constantemente com ele para cortar, ou seja, para que a sua lei fosse cumprida.
Claro que esta moça não estava vivendo este casamento com aquele determinado homem
à toa. Existia ali uma ação carmática, ou seja, cada espírito escolheu viver com o outro como prova
para sua encarnação.
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Assistindo às nossas palestras ela foi compreendendo a ação carmática, ou seja, que ela
pediu para viver com o marido do jeito que ele era para desenvolver o amor universal.
Compreendeu que brigar não adiantava, pois isto não o levaria a cortar a grama e que somente
amá-lo do jeito que ele era poderia auxiliá-la na evolução espiritual. Por isto parou de brigar, mas
não ousou se libertar dos padrões pré-estabelecidos que ela tinha. Imaginou que não brigando, ou
seja, amando-o incondicionalmente Deus ia emanar para que ele cortasse a grama. No entanto,
como já vimos Deus não se subordina aos padrões humanos e por isto ele continuou não a
aparando.
Então, ela veio conversar comigo e afirmou que o ensinamento não dava certo, pois havia
parado de brigar e o marido continuava não cortando. Eu lhe perguntei, então: “qual o problema de
grama estar alta?”. Ela respondeu: “Mas quem pode viver com grama daquele tamanho?”. Eu lhe
respondi: “você, ou você está morta? Você não está vivendo com a grama daquele tamanho?”. Ela
respondeu: “estou vivendo”. “Então”, eu disse, “é assim que se vive: da forma que você está
vivendo. Antes você vivia com brigas hoje em paz. Estas são as duas formas que pode se viver
com a grama alta. Escolha a que você prefere”.
Veja, ela não deixou de sofrer porque parou de brigar, mas continuou se sentido mal do
mesmo jeito que antes. Ou seja, ela não ousou em momento algum ao buscar colocar em prática o
ensinamento: seja feliz com o mundo do jeito que ele está. Apesar de conhecer o ensinamento e
entendê-lo ela não ousou ir contra o mundo, pensar em aprender a viver com a grama grande, mas
colocou-o em prática visando satisfazer à sua materialidade: a satisfação de ver o seu desejo
atendido. Ela pôs em prática o ensinamento não objetivando a elevação espiritual, mas achando
que com isso resolveria o problema dela: a grama seria cortada.
Se não ousar, não se alcança a elevação espiritual porque a promoção da reforma íntima
não é garantia de realização de desejos. “Eu vou promover a reforma íntima, e a partir daí só vai
acontecer coisa boa para mim”. Quem se entrega na busca espiritual com este pensamento não
promove nada, pois se elevar é estar acima do bom e do ruim ditados pelos padrões humanos. É
preciso ousar permanecer equânime em todos os momentos: naquele que se gosta e nos que não
se gosta do que está acontecendo.
Quem não ousa ir contra o mundo não se eleva. Não ousar ter paciência com quem lhe tira
paciência, não ousar buscar a cura sem procurar o médico, não ousar dar amor para quem lhe
agrediu, não ousar perdoar aquele que é considerado como culpado, não leva nenhum espírito a
elevar-se.
Falamos na palestra anterior que o natal não é época de árvores enfeitadas, de troca de
presentes, de bebedeiras, mas será que você conseguirá ousar no próximo natal e não fazer nada
disto? Será que conseguirá ir além da e da fartura de comida e se lembrar do nascimento do
Cristo? Só se você ousar ir além da humanidade poderá fazer isso, porque ela lhe cobrará que
vivencie o próximo natal dentro dos padrões humanos, principalmente a sua família. “Você só vai
ficar rezando, e não vai dar presentes?”. “Você não vai colocar uma árvore de natal na sua casa?
Nós estamos no Natal!”.
Buscar a reforma íntima é, principalmente, ousar não seguir os padrões da Terra, mas
ligar-se ao mundo maior, à Realidade: Deus e o mundo espiritual. Mas para isto é preciso ousar ser
alvo de críticas e de ser apontado como diferente pelo resto da humanidade sem perder a sua paz
e harmonia.
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Acho que o que começou como brincadeirinha de reforma íntima para vocês, a partir de
agora está se tornando mais sério, não?
Com certeza a sua busca pela reforma íntima já se iniciou há muito tempo atrás quando
começou a freqüentar uma igreja, um centro espírita ou de Umbanda ou indo a um templo do
evangélico. No entanto, com certeza até agora este trabalho foi realizado pelo prazer de ouvir o
que o padre ou o que o pastor falava, pelo prazer de trabalhar mediunicamente ajudando os
outros, pelo prazer de dar uma cesta básica ou uma refeição ao necessitado. Agora, depois de ler
estas linhas, com certeza ela transformou-se em muito mais que isto. Transformou-se em algo
muito mais sério: uma batalha contra você mesmo.
Mas, a evolução espiritual sempre foi isto, mesmo que você não a visse desta forma.
Elevar-se sempre foi vencer a si mesmo (suas vontades e desejos) para entregar-se
completamente em Deus.
Só tem um detalhe: tudo que ensinei como elevação espiritual não é a realização da
reforma íntima, mas simplesmente caminho. Isto porque a realização espiritual do ser encarnado é
o amar a Deus acima de todas as coisas, inclusive destes ensinamentos.
É preciso isso amar a Deus acima do prazer de dar o prato de comida, amar a Deus acima
da vontade de ir ao centro. Ousar ir além de tudo o que conhece, sem manter padrão algum, pois
enquanto houver um padrão, há uma escravidão. Uma escravidão que você nem vê, porque acha
que está fazendo porque quer. A liberdade daquele que realiza a elevação espiritual tem que ser
total.
Preste atenção nesta frase: “o pobrema é que ele tem menas qualidade”. Achou algum erro
nela? Tendo achado, desculpe, mas não entendeu nada do que falei até aqui: liberdade total. Você
imagina que está apenas criticando um erro de português, mas, na verdade, está sendo escravo
da gramática. Nem adianta dizer que gosta do português bem escrito, porque não está fazendo
porque gosta. Este seu gostar só surgiu porque você é escravo da gramática. Se não fosse, não
veria erro, porque isto não existe.
A elevação espiritual é o fim da escravidão a todos os padrões do mundo. É não ter
gramática, não ter combinação de cores, não ter obrigação de ter isso, aquilo ou aquilo outro.
Como o apóstolo Paulo nos ensina: Cristo veio nos trazer a verdadeira liberdade. No entanto, só
tendo a ousadia que o mestre teve o ser humanizado poderá se libertar da escravidão aos padrões
do mundo.
Você se lembra dos escravos que existiam nesse planeta? Quando chegavam a certa
idade eles eram libertados? Não. Eles eram escravos até a morte. No entanto, alguns conseguiam
libertar-se antes da morte. Quem eram estes? Os que ousavam ir contra a escravidão, mesmo com
o risco da própria vida, ou seja, da sua própria satisfação.
O ser humanizado é um escravo do mundo em que vive e, por isso, precisa ousar ir contra
os sistemas estabelecidos, mesmo que isso lhe custe a própria vida (aquilo que desejava
materialmente para si). É melhor você arrancar o seu olho que pode levá-lo a pecar, jogá-lo fora e
entrar no reino dos céus sem o olho do que ir para o inferno com o corpo inteiro. Estas foram
palavras de Cristo e, portanto, caminho que leva a Deus. Daí pode se entender que, é melhor você
sair da carne, amanhã e ir para o céu do que não ousar e permanecer no inferno, ou seja, esta
vida que você vive, por muito mais tempo.
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Sei que vocês vieram aqui hoje para uma confraternização de Natal, mas será que
esperavam que eu fosse cantar „Jingle Bell‟, que fosse contar sobre a estrela que brilhou no céu
em Belém... Não posso. Sabe por quê? Porque aquele que quer auxiliar o próximo precisa
urgentemente deixar de ser conivente com a humanidade do outro.
Até agora eu estava falando com vocês como espíritos no processo de provação para
elevação espiritual. Agora vou falar com a maioria de vocês que está aqui presente e que tem um
trabalho espiritual a realizar, que está buscando auxiliar alguém. É preciso deixar de ser conivente
com os outros. Sabe o que é deixar de ser conivente com os outros? É só dar um prato de comida
para quem tem fome: isto é ser conivente com a humanidade.
“Mas, velho, estou matando a fome de quem precisa. Isto não é ajudar o próximo?”. Está
certo, você está matando a fome de quem precisa, e imagina que é só isso que precisa ser feito.
Se fazer isso fosse o essencial da existência carnal de um espírito, deveríamos chamar
Cristo de volta à nossa presença e dizer que ele cumpriu de forma errada a sua missão. Dizer para
ele que precisa voltar para a Terra e abrir um restaurante para dar comida de graça para os outros:
aí estaria servindo-os, não é mesmo?
Não se esqueça que antes de tudo Cristo ensinou: “as Escrituras Sagradas afirmam que o
ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo o que Deus diz”. Portanto, há algo mais a se
levar do que simplesmente o alimento material: a palavra de Deus. O espírito, encarnado ou não,
vive da palavra de Deus, mas você, que sabe que acha mais do que o próprio mestre, só dá o
prato de comida. A palavra de Deus você não leva.
Aí está a sua conivência que eu falei anteriormente. Você dá a comida para sustentar a
humanidade do ser e, por isto, se torna conivente com ela, porque o faz acreditar que o homem
vive só do pão. Para se servir a Deus é preciso mais do que levar o pão, mas também a Palavra.
“Meu filho, Deus dá a cada um segundo as suas obras. O que você está passando é
resultado de uma obra anterior sua. Pare de mostrar que você é um sofredor, um pobre coitado.
Lave essa cara. Viva feliz, mesmo não tendo o que comer”. Esta é palavra de Deus: o amor ao Pai
acima da própria pobreza. Se quiser, pode dar o prato de comida, mas nunca deixe de dar também
a Palavra, o ensinamento de que, não importa aquilo porque passamos, será sempre Deus nos
dando a justa medida que precisamos e merecemos.
É isso que estou dizendo para aqueles que estão trabalhando no sentindo de auxiliar o
próximo na sua caminhada. É preciso ousar ir além do prato de comida e levar também a Palavra
de Deus.
Darei outro exemplo que é muito comum entre os trabalhadores da seara bendita. Vamos
falar dos trabalhos mediúnicos de desobsessão que são realizados nas casas espíritas.
Antes me deixe fazer uma pergunta: Você acredita que um obsessor pode influenciar na
vida do outro, ou seja, pode atrapalhar a vida do próximo sem que para isto tenha motivos? Pode
prejudicar um encarnado apenas porque não gosta dele? Achando que sim você acredita que ele é
mais forte que Deus. Veja bem, Deus deu o livre-arbítrio a todos os espíritos, mas o obsessor mata
o que Deus deu a um espírito sobrepujando a sua vontade à do obsediado ao conduzir a vida dele
sem que este queira.
Claro que o obsessor não pode fazer o que ele quer livremente. Ele precisa se subordinar
às leis universais para que uma injustiça não seja cometida, ou seja, só será alvo de uma
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 23
obsessão aquele que estiver no mesmo padrão vibratório do obsessor. Sendo assim, o espírito
obsessor não está ali porque quer, mas porque o outro aceitou a obsessão, ou seja, uniu-se a ele
pela mesma intenção. Por isto o Espírito da Verdade nos ensinou:
“515 – Que se há de pensar dessas pessoas que se ligam a certos indivíduos
para levá-los à perdição, ou para guiá-los pelo bom caminho? Efetivamente,
certas pessoas exercem sobre outras uma espécie de fascinação que parece
irresistível. Quando isso se dá no sentido do mal, são maus Espíritos, de que
outros Espíritos também maus se servem para subjugá-las. Deus permite que
tal coisa ocorra para vos experimentar” (O Livro dos Espíritos) (o grifo é
nosso).
Deste ensinamento podemos entender claramente a realidade: não existe obsessão, mas
união de dois espíritos afins. Ela, porém, só ocorre quando Deus permite que tal coisa aconteça e
com a finalidade de experimentar os envolvidos.
Portanto, não existe obsessão como a humanidade acredita: um espírito mal fazendo
coisas ruins com outro, pobrezinho que é vítima da situação. Os dois são culpados e precisam
estar juntos para poderem aprender a amar a Deus sobre todas as coisas.
Visto isso, voltemos ao tema desobsessão. O que ocorre hoje nos centros espíritas? O
encarnado é levado para uma sala. Lá o obsessor é convidado a permanecer para ouvir um
sermão enquanto que a vítima vai embora sem nada ouvir. O que acontece quando se age assim?
O obsessor pode até ser salvo, mas o encarnado não alterará o seu padrão vibratório. Aí se livra
deste obsessor, mas logo Deus coloca outro, pois este ainda não aprendeu a se universalizar. Por
isto Cristo ensinou:
“Quando um espírito mau sai de alguém, anda por lugares sem água,
procurando onde descansar. Se não encontra nenhum lugar, ele diz:‟vou voltar
para a minha casa, de onde sai.‟ Então, volta e encontra a casa vazia, limpa e
arrumada. Depois sai e vai buscar outros sete espíritos piores ainda e todos vão
morar ali. E assim a situação daquela pessoa fica pior do que antes” (Mateus,
12, 43 a 46).
Esta desobsessão como hoje praticada, que protege o ser humano partindo do
pressuposto de que ele é vítima, só serve para o desencarnado, mas não auxilia o ser humano. É
preciso que o encarnado compreenda os motivos pelo qual a obsessão se iniciou para poder se
desarrumar a casa para que ela não sirva mais de abrigo para os obsessores.
Mas, para isto é preciso ousar. É preciso ir além da normalidade (o espírito fora da carne é
mal e o ser humano vítima deste). Ao invés de só brigar com o obsessor é necessário que o
doutrinador do centro espírita também converse com o encarnado: “ouça o que este espírito está
dizendo de você, porque é isto o que o está prendendo. O culpado dos seus problemas não é o
obsessor, mas você que merece ter esse obsessor, porque você é do jeito que ele está falando”.
Isto é não ser conivente com a humanidade do espírito encarnado. Sabe qual o resultado
da conivência que os religiosos têm hoje com a humanidade do espírito? Sete vezes mais
obsessões.
Sem levar a Palavra ao encarnado, os que se imaginam trabalhadores de Deus estão
proliferando o merecimento humano de haver a obsessão. Hoje retiram um obsessor, da próxima
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 24
vez terão que trabalhar para libertar mais sete. Por que isto ocorre? Porque foram coniventes com
a humanidade do ser, ou seja, não disseram para o obsediado que o culpado da obsessão não era
o obsessor, mas ele mesmo.
É preciso ousar. Os centros espíritas deviam mostrar ao obsediado que o obsessor está ali
por causa dele. O obsessor não é mal nem está errado: ele está aqui por o obsediado lhe deu
motivos para tanto. Na verdade, nem um nem o outro está fazendo obsessão entre si. O que
ocorre, na realidade são duas auto-obsessões: os dois se obsediam e acham que um está
obsediando o outro.
A obsessão é uma das engrenagens do carma. O obsessor está ali para ver se aprende o
que acontece quando se prende apenas no que ele gosta e o obsediado está com o obsessor para
ver se ele aprende que a evolução espiritual só depende dele. É como num casamento.
Existe obsessão maior para um espírito do que os vínculos familiares como hoje é
praticado no planeta? Casamento, filho, sogra, tudo é obsessão, porque são relações baseadas
em obrigações impostas. Qualquer casamento onde os cônjuges tenham obrigações a cumprir
(satisfazer a vontade do outro) é obsessão.
“Eu bebo porque o obsessor me faz beber”: isto é ilusão. Na verdade, este ser humano tem
um obsessor que participa desta ação com ele porque a sua vontade é beber. “Meu guia mandou
eu fazer uma „macumba‟, pois preciso dar uma cerveja para a entidade para receber o que quero”.
Isso também é obsessão, porque macumba (oferecimento de coisas materiais a espíritos
desencarnados) não resolve vida de ninguém. Se ele não tiver o merecimento para receber aquilo
que deseja, pode fazer quantos despachos quiser na encruzilhada que não resolverá a sua vida. O
que vai resolver a sua vida é a reforma íntima e não a macumba.
“Vou acabar com aquele outro; vou costurar seu nome na boca do sapo”. De nada adianta
isso, porque Deus dá a cada um segundo as suas obras e não porque você não gosta dele.
“551. Pode um homem mau, com o auxílio de um mau Espírito que lhe seja
dedicado, fazer mal ao seu próximo? Não; Deus não o permitiria” (O Livro dos
Espíritos).
Ninguém pode se libertar de uma determinada pessoa se isto não estiver previsto para a
sua encarnação. Todos são instrumentos para a ação carmática do próximo e por isto, se alguém
lhe incomoda, o que é pode afastá-lo daquela relação é aprender a amar a Deus e a todos, ou
seja, promover a reforma íntima.
Portanto, a única coisa que pode resolver para você, ou seja, que pode lhe levar a viver
uma vida com paz, felicidade e harmonia é a elevação espiritual que é alcançada com a reforma
íntima é o amor universal.
Por que abordei este ponto hoje? Porque a promessa de um futuro feliz sem o trabalho da
modificação interna de cada um é um ato de conivência que muitos que se dizem missionários do
Senhor praticam. E sabe por que as Igrejas, os templos e os centros são coniventes? Porque
procuram fiéis, seguidores, casa cheia. Eles precisam agradar o lado humano dos espíritos.
Se você for a um centro porque sente que está obsediado e lá eles lhe disserem que
precisa mudar-se, que precisa reformar-se ao invés de simplesmente prometerem o céu sem
esforço algum, lá você não volta mais. Diz que aquele centro não presta, porque é muito fraquinho
e vai buscar outro lugar.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 25
Ninguém quer ousar ver a sua própria culpa. Ninguém quer ousar chamar para si a
responsabilidade sobre a sua vida. Apesar disto, aqueles que se colocam à disposição de Deus
como lamparinas devem ousar levar a palavra de Deus, ao invés de simplesmente tentarem
satisfazer os desejos humanos dos espíritos encarnados. Para aqueles que trabalham em centros
espíritas, o trabalho de desobsessão deve abranger a responsabilidade do encarnado neste
processo; para os que lidam com a umbanda, o fim das promessas de bem estar material gratuitos
(faça isto que eu lhe dou aquilo, deve ser abolido. Afinal, não existe ninguém superior a Deus e Ele
dá a cada um segundo a sua obra. É Ele que dá ao espírito tudo o que precisa, mas para a
execução de suas provas e não para a prosperidade material.
“533. Podem os Espíritos fazer que obtenham riquezas os que lhes pedem que
assim aconteça? Algumas vezes, como prova. Quase sempre, porém, recusam,
como se recusa à criança a satisfação de um pedido inconsiderado”.
“532. Têm os Espíritos o poder de afastar de certas pessoas os males e de
favorecê-los com a prosperidade? De todo não; porquanto há males que estão
nos decretos da Previdência. Amenizam-vos, porém, as dores, dando-vos
paciência e resignação. Ficai igualmente sabendo que de vós depende muitas
vezes poupar-vos aos males, ou, quando menos, atenuá-los. A inteligência,
Deus vo-la outorgou para que dela vos sirvais e é principalmente por meio da
vossa inteligência que os Espíritos vos auxiliam, sugerindo-vos idéias propícias
ao vosso bem. Mas, não assistem senão os que sabem assistir-se a si mesmo.
Esse é o sentido destas palavras: buscai e achareis; batei e se vos abrirá.
Sabei ainda que nem sempre é um mal o que vos parece sê-lo.
Freqüentemente, do que considerais um mal sairá um bem muito maior. Quase
nunca compreendeis isso, porque só atentais no momento presente ou na
vossa própria pessoa”
(Citações retiradas de O Livro dos Espíritos).
Aí está a palavra de Deus que deve ser levada àqueles que batem às portas das casas de
oração à procura da satisfação de seus desejos. Mas, para isto é preciso ousar agradar a Deus e
não aos seres humanos. Sabe por quê? Porque a responsabilidade sobre a vida é somente do
espírito encarnado e de mais ninguém. Nenhuma outra pessoa é responsável pelo que acontece
na vida de um espírito encarnado. Só ele mesmo. Quando o trabalhador de Deus joga a culpa em
qualquer outro pela situação que o fiel está passando, está sendo conivente a com a sua
materialidade e, por isto, não está servindo a Deus. É preciso realmente ousar em tudo.
Estamos chegando ao fim de nossa conversa, mas antes eu gostaria ainda de tocar em
mais um assunto. Apesar de muitos conhecerem os ensinamentos aqui citados, por que eles ainda
continuam escravos dos padrões mundanos? Por exemplo: por que você acha que tem que pagar
a quem deve? Porque sente responsabilidade com a vida material, com a comunidade em que
vive. Só que quando você assume as responsabilidades com a vida material esquece um só
detalhe: a responsabilidade que assumiu com Deus antes da encarnação.
Antes de encarnar você diz: “Senhor eu quero esta chance porque me acho capaz de
buscar a elevação espiritual”. Aí, troca esta responsabilidade pela responsabilidade material.
Submete a sua existência às responsabilidades materiais, mas se esquece do compromisso
assumido anteriormente com Deus.
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“Ah, eu tenho que pagar minhas dívidas”. Quem disse? Contrair dívida é uma ação
carmática para você e para quem está devendo. Quem passa por um processo de falência é
porque escolheu, antes da encarnação, este gênero de prova para promover a sua reforma íntima
e elevar-se. Para que ele pudesse viver a sua prova é preciso um agente, ou seja, alguém que
construa uma realidade que espelhe o gênero da prova escolhida. Portanto, ninguém deve a este
homem, mas se transforma em instrumento de Deus para levar àquele espírito a prova que ele
mesmo solicitou.
Agora não esqueça: se isto é verdade para um, também é para os dois. Se alguém lhe
deve o mesmo pensamento deve ser aplicado. Neste momento você deve ousar não cobrá-lo e
viver o ensinamento dos mestres.
“Vocês ouviram o que foi dito: „olho por olho, dente por dente‟. Eu, porém lhes
digo: Não se vinguem dos que lhe fazem mal. Se alguém lhe der um tapa na
cara, vire o outro lado para ele bater também. Se processarem você para tomar
a sua túnica, deixe que levem também a capa. Se um dos soldados
estrangeiros forçá-los a carregar uma carga um quilômetro, carregue-a dois
quilômetros. Se alguém lhe pedir alguma coisa, dê; e empreste a que, lhe pedir
emprestado”. (Mateus, 5, 38 a 42.
Este é o motivo pelo qual você tem que ousar: para honrar o compromisso firmado com
Deus antes da encarnação e que você simplesmente joga na lata de lixo em troca do seu
compromisso com a sociedade onde vive. “Ah, eu não posso falar o que você falou sobre o natal
porque senão meu filho vai brigar comigo”. Você deixa de honrar o seu compromisso com Deus
para honrar o com o seu filho e acha isto muito certo porque imagina que precisa disto para
assegurar a felicidade dele. .
Sei que você se sente obrigado a dar um presente para o seu filho no natal porque todos
os seus amiguinhos receberão e ele se sentirá diferente dos demais. Mas honrar este
compromisso com a sociedade sai muito caro para existência espiritual do seu filho. Agindo assim
você criará nele o hábito dele receber presentes para ser feliz, ou seja, o ensinará a condicionar a
felicidade. Esquece apenas, que quando um espírito condiciona a sua felicidade ao recebimento de
algo rompe com Deus e desonra o seu compromisso espiritual: alcançar o amor incondicional, a
felicidade incondicional.
Quem se sente obrigado a dar o presente ao filho não o está ajudando na elevação
espiritual porque está criando nele a obrigação de um dia dar presente para o filho ao invés de
aproveitar o portal do natal. Agindo dentro desta cascata, a humanidade permanece a mesma, o
mundo continua o mesmo: Deus continuará preso no céu esquecido da humanidade. Será o que é
hoje: uma coisa que você só se preocupa depois de morrer. Só que depois da morte, não dá mais
para alcançar a elevação espiritual e o compromisso assumido antes da encarnação foi desonrado.
Alem disto, Cristo já disse não se serve dois senhores ao mesmo tempo. Não adianta você
contemporizar (“vou ficar bem com meu filho e com Deus ao mesmo tempo”): isto é impossível; ou
você agrada a um ou agrada o outro.
Se eu pudesse pedir a Deus um presente para vocês neste natal, seria que Ele ajudasse
cada um a ousar nesta vida, porque sem isto não se chega a Deus. Sem isto ficamos presos na
mesma coisa a vida inteira, fingindo que está tudo bem.
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Só que quando sai desta vida não dá mais para fingir. E aí eu lembro das palavras de
Sariputta, um monge que servia ao Buda.
“Amigos, se alguém que tenha e permaneça com qualidades mentais inábeis
tivesse uma estadia agradável no aqui e agora – sem ameaças, sem
desespero, sem febre – e na desintegração do corpo, após a morte, pudesse
esperar um boa destinação, então o Abençoado não ia advogar o abandono de
qualidades mentais inábeis. Porém porque alguém que tem e permanece com
qualidades mentais inábeis tem uma estadia desagradável no aqui e agora –
ameaçado, desesperado e febril – e na dissolução do corpo, após a morte,
pode esperar uma destinação ruim, é por isso que o Abençoado advoga o
abandono de qualidades mentais inábeis”.
“Se alguém que tenha e permaneça com qualidades mentais hábeis tivesse
uma estadia desagradável no aqui e agora – ameaçado, desesperado, febril – e
na desintegração do corpo, após a morte, pudesse esperar uma destinação
ruim, então o Abençoado não iria advogar permanecer com qualidades mentais
hábeis. Porém porque alguém que tem e permanece com qualidades mentais
hábeis tem uma estadia agradável no aqui e agora – sem ameaças, sem
desespero e sem febre – e na dissolução do corpo, após a morte, pode esperar
uma boa destinação, é por isso que o Abençoado advoga permanecer com
qualidades mentais hábeis”
(Sutta Devadha – SN XXII.2).
Ao falarmos o que estamos comentando neste ciclo de palestras não queremos
simplesmente ser diferente ou mostrar o quanto somos grandes (no sentido de culto)
espiritualmente falando, mas, pela experiência, temos certeza de quem ousar e vencer o próprio
mundo conseguirá uma vida plena de felicidade e alegria e além disto terá uma boa colocação
quando sair da carne. Sabemos, ainda, que quem não ousar, ou seja, não colocar estes
ensinamentos em prática, não tem uma vida plena de felicidade, mas presa a vicissitudes (à
momentos de prazer e de dor) e quando sai desta vida não tem uma existência em boa colocação.
Outro dia me disseram que eu estava certo ao alertar para a necessidade de transformar a
vida num trabalho exclusivo de reforma íntima. A pessoa foi mais além: por isto Deus criou a
reencarnação, ou seja, como uma oportunidade de elevação espiritual. O problema é que os
espíritos encarnados acreditam que a elevação acontecerá apenas com o reencarnar, como se o
simples fato de vir à carne fosse o suficiente para se elevarem. Isto é mentira. O espírito só se
eleva quando de posse da consciência material (encarnação), mas se nela realizar a reforma
íntima. Não basta apenas encarnar: é preciso conquistar a mudança interior.
Aqueles que conhecem o processo de elevação espiritual, mas estão presos àquela idéia,
não fazem nada durante a vida, não ousam nada contra os padrões humanos. Acreditam que
simplesmente por mágica (nascer e morrer) se elevarão. Por isto estão encarnando há pelo menos
sete mil anos e nada conseguem.
Deixe-me falar uma coisa. Os espíritas acreditam que foi o Espírito da Verdade que
ensinou a reencarnação, mas ela é conhecida no oriente desde a antiguidade. Os chineses e os
japoneses, principalmente, vivem dentro desta realidade há milênios com uma crença fervorosa na
reencarnação. No entanto, eles também caíram na ociosidade. Pela certeza que tinham de nova
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existência carnal, trocavam a vida por qualquer compromisso material. Veja o exemplo do haraquiri
e dos kamikazes na segunda guerra mundial. O que aconteceu? Deus deu a um o comunismo e ao
outro, duas bombas atômicas para que pudessem acordar e dar valor à vida material. Não pela
materialidade em si, mas como uma oportunidade de elevação espiritual.
Se persistirem na ociosidade, o que será que Deus terá que dar aos espíritas para que
eles aproveitem esta encarnação ao invés de trocar a oportunidade de elevação pelas
responsabilidades materiais alegando a existência de novas oportunidades?
É preciso ousar reformar-se: não basta apenas reencarnar.
Foi pela ousadia que todos os mestres demonstraram a elevação espiritual. Estudem a
vida de todos aqueles que alcançaram a santidade, o despertar. Eles ousaram ir além da vida
carnal, além das responsabilidades materiais para servirem a Deus, amando-O acima de todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo.
Para aqueles que ousarem rebelarem contra o sistema, contra os padrões no mundo, uma
nova época está por vir.
“Então vi um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra
desapareceram e o mar sumiu. E vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que
descia do céu. Ela vinha de Deus, enfeitada e pronta, vestida como uma noiva
que vai se encontrar com o noivo. Ouvi uma voz forte que vinha do trono e
dizia:”
“Agora a morada de Deus está entre os seres humanos! Deus vai morar com
eles e eles serão o seu povo. O próprio Deus estará com eles e será o seu
Deus. ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais
mortes, nem tristeza, nem choro nem dor. As coisas velhas já passaram”.
“Aquele que estava sentado no trono disse: agora faço nova todas as coisas!”.
“E também disse: escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e merecem
confiança”.
“E continuou: tudo está feito! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A
quem tem sede darei água para beber, de graça, da fonte da vida. Quem
conseguir a vitória receberá isto de mim: eu serei o seu Deus e ele será o meu
filho. Mas os covardes, os traidores, os viciados, os assassinos, os imorais, os
que praticam a feitiçaria, os que adoram ídolos e todos os mentirosos, o lugar
deles é o lago de fogo e enxofre, que é a segunda morte”
(Apocalipse, 21, 01 a 08).
A Nova Jerusalém ou a vida no Mundo de Regeneração só será vivida por aqueles que
ousarem ir além dos padrões humanos e trouxerem o trono de Deus para as suas vidas. Afinal,
Paulo já nos ensinou: “o ser humano é inimigo de Deus”.
É por isto que o Espiritualismo Ecumênico Universal em sua “Carta à Humanidade –
Proclamação da Conversão” declarou:
“O inimigo, aquele contra quem nós devemos “guerrear”, ficou definido através
dos ensinamentos: o próprio “ser humano”. Agora é a hora do exército de
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Nossa Senhora partir para a conversão dos “seres humanos”, transformando-os
em espíritos.
Com esta conversão será alcançada a terceira profecia passada por Nossa
Senhora em Fátima: O FIM DA RAÇA HUMANA. O novo tempo será marcado
pelo fim da raça dominadora do planeta (ser humano) e marcará o início da
raça ESPÍRITO NA CARNE, subserviente a Deus.
Para a “guerra” da conversão os soldados podem contar com toda ajuda da
espiritualidade, que por ordens divinas trará acontecimentos que questionarão o
“poder” imaginário que os seres humanos acham que têm sobre as coisas e
seres do planeta, materiais ou espirituais.
Que todos os combatentes espelhem-se na vida de Jesus na carne para viver a
sua, pois Ele foi o único espírito a colocar o AMOR em ação”.
Somente a ousadia de libertar-se de sua humanidade pode conduzir o espírito a viver o
novo mundo que surgirá no planeta. Ou como Cristo ensinou:
“felizes os que lavam as suas roupas para terem o direito de comer a fruta da
árvore da vida e para poderem entrar pelos portões da cidade. Mas, fora da
cidade estão os viciados e os feiticeiros, os imorais e os assassinos, os que
adoram ídolos e os mentirosos em palavras e atos”. (Apocalipse, 22, 14 e 15)
Com as graças de Deus.
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Assim falou Joaquim
Ação justa
Qual a verdadeira natureza da ação justa? A ação não intencional, ou seja, aquela que não
lhe traz prazer nem acusações.
'Eu fiz'. 'Porque você fez'? 'Porque eu fiz'. 'Para que você fez'? 'Para fazer'. 'E no que vai
dar o que fez'? 'Não sei, vai dar no que der'. Esta é uma ação vivenciada como justa. Na hora que
disser que estava com vontade de fazer aconteceu uma ação injusta, pois você tirou proveito
individual daquela ação. O proveito individual tanto pode ser a auto-acusação quanto prazer.
Acaso
Não se pode atribuir ao caso, à sorte ou ao azar a combinação de elementos para que
determinada ação aconteça. Isto porque o acaso, a sorte e o azar não são inteligentes, ou seja,
não tem capacidade de analisar e dar a cada o que merece.
Este é o ensinamento. Ele está certo? Sim, seguindo a linha de raciocínio do Espírito da
Verdade sim. Agora vamos aplicar este ensinamento à vida...
Para isso, volto a perguntar: foi por um acaso que uma mulher descobriu a radioatividade,
o que levou a humanidade o conhecimento sobre a energia atômica? Foi por acaso que um
homem pegou esta descoberta e criou a bomba atômica? Foi por acaso que outro homem decidiu
jogar esta bomba exatamente sobre aquelas duas cidades. E se foi por um acaso, a partir do que a
bomba funcionou? Pela propriedade íntima da matéria? Se aplicarmos o que já vimos até aqui em
O Livro dos Espíritos, teremos que dizer que nada disso aconteceu por um acaso ou que foi obra
causada primariamente por alguém, mas que tudo se originou em Deus...
Desmistificar o mundo: este é o resultado que a prática dos ensinamentos dos mestres
alcança. Não há acasos nem intencionalidade individuais porque atrás de qualquer propriedade,
humana ou material, existe uma Causa Primária.
Não há acaso na humanidade ter, naquele exato momento, às vésperas de uma guerra,
transformado a descoberta da radioatividade em uma bomba de alta destruição. Não há acaso no
homem ter direcionado todo seu esforço para construir a bomba. Não há acaso nesta bomba ter
caído exatamente naquelas duas cidades enquanto milhares de outras estavam também em
guerra.
Há sempre uma Causa Primária e ela não pode ser gerada pelo acaso, pois ele não é
nada. Esta Causa Inteligente é gerada pela Inteligência Suprema do Universo, ou seja, aquele que
sabe a Verdade. Aplicando-se esta linha de raciocínio que foi ensinada pelo Espírito da Verdade
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àquilo que temos notícia, entendemos que a energia atômica foi descoberta na hora que precisava
ser descoberta. Para que? Para criar a bomba atômica na hora que ela deveria existir para cair na
cidade que tinha que cair...
Acabou. Acabou a sorte, o azar, o acaso, a maldade... Acabou tudo, porque em tudo se
colocou a Causa Primária de todas as coisas. Colocou-se Deus.
Acontecimentos diários
Sempre o espírito está recebendo auxílio para poder responder com o amor universal.
Este auxílio se dá através das situações que acontecem no dia a dia da vida carnal: são os
acontecimentos diários da vida do ser humano que compõem as questões da prova que ele faz.
Estes acontecimentos são provocados pela comunidade espiritual para que o espírito
encontre neles a alegria, a compaixão e a igualdade entre todos. Por este motivo deve o ser
humanizado, a cada situação de sua vida carnal, responder sempre com estes três sentimentos a
tudo que acontece. Cada vez que o espírito reage a uma situação com tristeza, sofrimento ou
injustiça está utilizando outro sentimento e não o amor universal. É nesse momento que é
providenciado mais um acontecimento, como uma nova chance, para que o espírito busque mais
uma vez utilizar-se do amor universal e não de outros.
Todo este processo é comandado no planeta por Cristo, em nome de Deus, como
vigilância para que o amor queime o ser humano e para que o espírito renasça. Somente quando o
espírito reagir de forma a manter a igualdade entre todos, cuidando para não ferir ninguém e
mantendo a alegria geral, o fogo do amor universal terá ardido no ser humano fazendo renascer o
espírito.
Deus e a ação
Todas as coisas possuem movimentação a partir da ação de Deus. Nada se movimenta
por vontade própria, mas apenas reagindo a uma ação de Deus. Então, a movimentação de
qualquer coisa é a ação de Deus... O ser Deus está estático no Universo, mas apesar disso, Ele
gera a movimentação, o pulsar do Universo através da Sua ação.
Não existe sentar, andar, levantar, tomar banho: existe o amor de Deus agindo. É o
humano que não interpenetra na realidade do Universo que diz, quando está debaixo do chuveiro,
que está tomando banho... Mas, na realidade do Universo, não é isso que está acontecendo: é
Deus amando o espírito... Portanto, a ação individualizada (eu faço) não existe, porque a única
coisa real é Deus e sua ação. E Deus não levanta, não senta, não anda, não toma banho: ama.
Por isso afirmo que quando você diz que está fazendo alguma coisa, está sendo individualista.
'Os atos não me mancham', diz Krishna, ou seja, os seus atos, sejam eles quais forem, não
mancham Deus. Se você não der esmola, Deus não é safado porque não quis ajudar o outro; se
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você matar, Deus não é um assassino, visto que foi Ele quem gerou o ato. Os atos não existem:
apenas o amor de Deus é Real. Se você não der a esmola, não se trata de um ato mal. É o amor
de Deus.
Sei que para vocês é difícil compreender que o ato não certo possa ser fruto do amor, mas
saiba que Ele sempre está dando a cada um segundo suas obras. Ou seja, está dando o que cada
um precisa. Se você não deu esmola para uma determinada pessoa é porque carmaticamente ela
não precisava daquilo.
Os atos não mancham a Deus porque tudo o que Ele gera é por amor. Sendo assim, tudo
que você e todos os outros seres humanizados fazem é amor. Mesmo que aparentemente o
Senhor esteja contrariando o desejo do próximo quando gera a ação, este está sendo amado. É
isso que vocês precisam entender, quando eu disse lá atrás: você recebe aquilo que precisa e
merece. Ou seja: tudo que alguém faz para você é fruto de um amor. É o merecimento que você
teve. Mais que merecimento: é uma necessidade, pois se ganhasse o que não ganhou
materialmente, perderia, espiritualmente falando.
Portanto, não há como manchar Deus pelos atos humanos. Só a lógica humana é que
mancha Deus. Mas, neste caso, não é a Verdade: é o que cada um acha, a intencionalidade
individual.
Fazer o que querErro! Indicador não definido.
Ao invés de imaginar que Deus o ajudará a fazer o que quer, o ser humanizado deve viver
com a certeza que Deus fará o que quiser do seu dia. Essa mudança de forma de vivenciar a vida,
que é pequena, é valiosa para se alcançar a consciência crística. Quem vive pedindo a Deus para
que lhe ajude a fazer aquilo que ele quer, vive a sua relação como Senhor de uma forma
condicionada. Este vive medrosamente e sem tranqüilidade, pois está sempre com medo de Deus
não fazê-lo fazer o que quer.
Será que até hoje vocês ainda não compreenderam que não conseguem agir dominando
os resultados das ações, apesar de Deus já cansar de mostrar à humanidade que ela não domina
nada? A humanidade aterra uma lagoa e constrói a casa em cima. Daqui a pouco vem Deus, faz a
água subir e as casas caem todas... Aí os homens não ficam satisfeitos e imaginam que podem
dominar um pedaço do mar. O mar se revolta e toma tudo de volta... Será que não dá para
compreender que é Deus que age e entregar na mão Dele a Verdade? 'Vou construir, mas só Deus
sabe se permanecerá erguido'...
Forma de agir
O importante é você entender que a luta daqueles que querem se unir a Deus não é no
sentido de lutar contra sua forma de agir, porque ela faz parte do Universo. Você não deve lutar
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contra a sua forma de agir, pois ela não é sua: é a forma do amor de Deus agir através de você.
Ou seja, é um papel que você desempenha para que o Universo esteja sempre equilibrado.
Deus lhe faz dizer a outras pessoas o que elas têm que ouvir. Você se quiser aproximar-se
Dele, precisa se subordinar a esta determinação e amá-Lo por ter lhe feito um instrumento para
aquela determinada ação, ao invés de querer ser outra pessoa, fazer outra coisa... Na hora que a
sua consciência lhe disser que a ação, não importa qual seja, é o amor de Deus escoando através
de você, alcançará o serviço devocional... Cada um na sua função, vivendo o seu papel dentro da
peça divina comédia humana, agindo tendo a consciência de que é o amor de Deus escoando
através dele, sem achar nada sobre o acontecimento: este é o mundo onde Deus é o Senhor.
InaçãoErro! Indicador não definido.
Esta é uma coisa que você, ser universal humanizado, pode realizar: amar. Só que quando
o ser humanizado tem notícia de que o futuro está pré-escrito, faz exatamente ao contrário:
imagina que deve cair na inação...
O que é inação? Não agir, não fazer nada, inércia...
Quando um mestre fala que Deus é a Causa Primária de todas as coisas o ser
humanizado, que está preso à ilusória capacidade de agir, acredita que ele está falando em não
agir fisicamente. Mas, acontece que como futuro está pré-escrito esta ação acontecerá
inexoravelmente e no sentido que tiver que acontecer...
Krishna, como nós já vimos neste estudo até aqui, sabia disso. Por que, então, ele orienta
Arjuna a não se apegar à inação? Porque ele está falando da inação espiritual, do não agir
espiritualmente... O ser universal humanizado pode agir sentimentalmente e esta forma de ação é
a espiritual.
Como disse anteriormente, ele pode escolher entre amar a Deus e ao próximo ou amar a si
mesmo. É sobre esta ação que Krishna está orientando aos buscadores de Deus que não se
entreguem à inação: não deixem de estar sempre fazendo uma opção sentimental...
Ação é escolha sentimental através do livre arbítrio; a inação, ou inatividade espiritual,
neste caso, é não escolher a cada segundo entre amar a Deus ou amar a si. Agindo dentro desta
inação, o ser humanizado entrega-se constantemente ao que a mente diz que é verdade...
Intencionalidade
Existem duas formas de se fazer coisas: a forma justa e a individualista, egoísta... Vamos
explicar...
A forma justa é aquela que não traz conforto nem satisfação. É aquela que você exerce
sem buscar auferir lucros pessoais. Esta é a forma justa de se participar de uma ação. Já a forma
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 34
individualista é exatamente ao contrário: ela ocorre quando você participa das coisas com paixão,
positiva ou negativa. Quando você coloca paixão no que faz...
Então, o problema não é o que se faz, mas sim a intenção com que se vivencia os
acontecimentos.
Quando se fala em fazer alguma coisa, para vocês existem duas espécies de atos: os que
podem ser feitos e os que não podem. Ao invés de separarem as ações pela intencionalidade, as
separam por regras e normas que ditam o que pode e o que não pode ser feito. Mas, Krishna, o
sublime Senhor diz a Arjuna: não se aflija com a obrigação, mas se preocupe com a
intencionalidade. Preocupe-se se a ação é justa. Preocupe-se em não levar vantagens individuais.
Aquele que renuncia aos frutos da ação continua praticando-a, mas ela não o liga a mais a
nada. A sua participação não está mais ligada ao desejo, à vontade, ao certo ou errado, ao bonito
ou feio. É simplesmente uma ação... Este também não tem mais dúvidas sobre o que está
acontecendo, porque a ação não tem mais nenhum significado do que o simples agir...
Reação à ação
O que importa é como cada um reage à ação. Se o espírito reage acreditando nos valores
ditados pela mente ('ele é errado, ele é ruim'), este terá reagido com individualismo (acreditando
em seus próprios valores) e com isso terá que voltar à roda de encarnações. Agora se, não
importando o que aconteça, o espírito humanizado sempre reage com amor universal (sem acusar
nem criticar), este será aprovado.
Responsabilidade pela ação
Participante: Nós somos responsáveis por nossos atos e Deus, por
misericórdia, nos dá chance de sempre melhorar?
O que você fala é uma verdade, mas creio que está falando em atos físicos. Aí eu lhe
pergunto: quando não tiver mais braço, como irá agir?
Quando se fala em ato precisamos pensar nisso, pois espírito não tem braço. Como já
estudado, o espírito é uma centelha luminosa e, portanto, não possui membros. Por isso afirmo
que você é responsável pelos seus atos, mas os espirituais.
O ato espiritual não é uma animação material, mas um pulsar sentimental. Você é
responsável sim, mas pelo seu pulsar, receber e emanar um determinado sentimento, não pelos
atos físicos. Baseado nesse ato espiritual é que Deus lhe dá o ato material. Se você sente raiva,
Deus vai fazer você ter atos de raiva. Mas, você só teve o ato raivoso porque escolheu a raiva para
pulsar.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 35
Características do acontecimento
Essência do acontecimento
Participante: um abraço é mais que um abraço. É uma benção; é uma forma
clara do ser humanizado demonstrar um estado de espírito dele. Quando você
está mal não quer nem receber o abraço...
Você está tratando este acontecimento humano como algo bom, positivo. Mas, será que
todos os abraços representam que realmente há da parte de quem está realizando-o uma atitude
positiva ou carinhosa com o outro? Acho que não, ou será que você nunca ouviu falar na
expressão „abraço de urso‟?
Nenhum ato, por mais que seja considerado como louvável, pode ser considerado como
fruto de uma atitude positiva ou amistosa. Sendo o beijo o ato que caracterizou a traição de Judas
a Cristo, será que você ainda pode julgar que determinadas ações estão sempre ligadas a
determinadas posturas sentimentais?
As posturas sentimentais que cada um toma dentro da vivência de determinados
acontecimentos do mundo carnal estão ligadas à intencionalidade. Como estas existem apenas no
íntimo de cada um e ninguém consegue alcançá-lo para saber o que realmente está pretendendo
cada um numa ação, não há como se determinar que este ou aquele ato represente um
acontecimento positivo.
Sendo assim, o abraço, assim como qualquer outra ação humana, não é boa nem má, mas
uma provação. É um momento onde você pode optar vai se apegar ao que sua mente está
afirmando acontecer – no caso da sua pergunta, se estará apegado à idéia de que um abraço é
sempre um ato positivo – ou se manterá a comunhão com Deus. Neste último caso, se exime de
ter convicções sobre os acontecimentos da vida humana e as entrega a Deus.
Deixe-me explicar-lhe algo… Você está dando este valor ao abraço baseado apenas em
você, em seus conceitos. Isso porque, quando recebe um abraço a sua mente se utiliza de
conceitos que afirmam que é gostoso ser abraçado. É a mente que afirma o que está acontecendo
e não você que sente. Você só sente isso porque comunga com a idéia que ela cria, mas esta
comunhão não ajuda na elevação espiritual.
Quem comunga com qualquer coisa que a mente cria vive o egoísmo que é a característica
primária de tudo o que é criado pela personalidade humana. Este egoísmo, que se trata de uma
defesa de interesses individuais, vai agir sempre no sentido de defender aquilo que é acreditado.
No seu caso, na defesa de que receber um abraço é bom.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 36
Acontece que nem todas as personalidades humanas possuem a mesma opinião.
Portanto, há algumas pessoas que não gostam de ser abraçadas. Estas personalidades jamais
trabalham com a sensação de se sentir bem ao ser abraçado.
Como você acha que vai se sentir no momento que alguém disser que não quer o seu
abraço? Acha que aceitará isso com naturalidade? Claro que não... O egoísmo da mente, ou seja,
a defesa do seu ponto de vista, vai municiar a personalidade humana com pensamentos que
tentem impor àquele que não gosta de abraço a verdade de que receber um é bom. Isso é amar ou
buscar dominar o outro?
A mente, então, criará diversos pensamentos que utilizarão de argumentos para derrotar o
ponto de vista do outro. Como aquele que não gosta de abraço também é uma personalidade
humana, o seu egoísmo lhe criará pensamentos de defendam seus argumentos e ao mesmo
tempo ataquem os seus. Isso é harmonia ou guerra?
Não conseguindo subverter o ponto de vista do outro, sua mente, para poder obter uma
vitória, cria pensamentos que desqualifique o outro: „é um ignorante‟, „ele não sabe o que é bom‟.
Estes pensamentos desqualificam o outro para enaltecer o seu ponto de vista. Acreditando neles,
lhe pergunto: onde fica o seu anseio de buscar a reforma íntima se ainda considera como natural
julgar e acusar aquele que pensa diferente de você?
Veja quanto coisa resulta da sua crença que o abraço ou qualquer outra atividade humana
possa representar uma intencionalidade positiva com relação a sua elevação espiritual: o não amar
o próximo, a desarmonia e a hipocrisia, que é representa pela sua vivência como real com idéias
que não estão de acordo com seus propósitos.
Um abraço é simplesmente um abraço. Ele não é bom ou mal; não pode fazer bem ou ferir
ninguém… O valor das coisas deste mundo não está no próprio acontecimento, mas sim na
postura sentimental que cada um tem quando participa dele.
Mesmo que o abraço esteja fundamentado numa intencionalidade positiva ou negativa, ele
não interfere em nada do que é espiritual, pois o que pode interferir neste aspecto é o
congraçamento espiritual e não o físico. Como é exatamente disso que a sua crença de que o
abraço representa algo positivo lhe afasta, cuidado, porque você está trocando a evolução
espiritual pelo prazer de ser abraçado...
Mácula oriunda de uma ação humana
Os espiritualistas têm por intermédio do Espírito da Verdade a informação de que Deus é a
Causa Primária de todas as coisas, ou seja, que por mais que obre uma inteligência, há sempre
outra superior que é a causa do que ela faz. Mas, apesar disso, os espiritualistas continuam
acreditando que há atos maus que maculam aqueles que os praticam. Se eles existem e se a
origem deles está em Deus, isso quer dizer que o Senhor é maculado pelas ações dos humanos?
Acho que não...
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 37
„Os atos não me mancham‟, ensina Krishna. Ou seja, os atos dos seres humanos, sejam
eles quais forem, não mancham Deus nem a ninguém. Vamos ver isso...
Os seres humanos rotulam determinadas ações como algo ruim, errado e por causa destes
adjetivos acham que a prática delas torna Aquele que causou a ação negativo, desqualificado.
Mas, como pode a Perfeição, a Inteligência Suprema que é a Causa Primária de todas as coisas
errar? Como pode o Amor Sublime fazer outra coisa que não amar? Deus, por causa de seus
atributos, só pode gerar o que é Perfeito e Amoroso.
Ora, se no mesmo acontecimento podemos encontrar a presença de dois atributos opostos
(ruim/amoroso, perfeição/erro), um dos dois tem que estar afastado da verdade. Qual pode ser: o
do homem ou Daquele que por causa de seu papel no Universo gerou aquele acontecimento?
Claro que é o do homem...
Sendo assim, posso afirmar que as compreensões dos seres humanizados que acreditam
haver máculas estão fora da realidade. Para poderem entrar em consonância com a Realidade
Universal (Deus e Sua ação) elas é que devem ser mudadas. Mudando-as, não mais existiriam
máculas a serem atribuídas a quem quer que fosse...
Sei que para vocês é difícil compreender que um ato considerado como não certo pelos
valores humanos possa ser fruto do Amor de Deus, mas saibam que Ele sempre está dando a
cada um segundo suas obras. O que move a Causa Primária não é o bem estar do outro, mas a lei
do carma, a lei que diz que toda causa gera um determinado efeito. Deus dá a cada um segundo
as suas obras, ou seja, dá a cada espírito um acontecimento que seja um reflexo daquilo que ele
fez durante a eternidade espiritual.
Essa compreensão vocês têm, mas ainda não alcançaram a abrangência completa da lei
do carma porque ainda vêem no efeito que ela causa uma punição. Por isso acreditam na
mácula...
Como vocês acreditam que a ação do momento é ruim para o ser humanizado, imaginam
que ela surgiu por causa de uma mácula oriunda de ações anteriores deste espírito. Mas, isso não
é verdade...
A Causa Primária é movida pelo amor e não pela punição. Quando Deus gera a um ser
humanizado um acontecimento que seja fruto de uma ação anterior sua não o faz para puni-lo,
mas sim como uma nova oportunidade de realizar o trabalho perfeito no sentido da elevação
espiritual. O fato de não apenar quer dizer que a ação geradora daquele carma não maculou
ninguém.
Sendo assim, quando alguém por força da lei do carma recebe um acontecimento que
desagrada às suas posses, paixões e desejos isso não quer dizer que ela é a resultante de uma
mácula do passado, mas sim fruto do Amor de Deus por cada filho. Sendo, portanto a Fonte da
Causa Primária movida pelo amor tudo que você e todos os outros seres humanizados fazem é
amoroso.
É isso que vocês precisam entender quando eu disse que cada um recebe aquilo que
precisa e merece. Tudo o que um ser humanizado vive é carma, ou seja, é o resultado de uma
ação realizada por ele em outras encarnações e é oriunda do Amor que Pai tem pelos seus filhos.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 38
Sendo todas as ações humanas frutos do Amor de Deus e, portanto, amorosas, tudo que
alguém faz para você é fruto de um amor. Por isso pergunto: você ainda vai ficar imputando
mácula a quem fira suas posses, paixões e desejos?
Apenas mais um detalhe. Quando falei de ação do espírito não estava falando de atos
humanos. Deus julga a intenção de cada um, segundo Cristo. Esta motivação interna, portanto, é
que é a fonte de onde se originam as ações organizadas pela lei do carma.
Viver um conto de fadas é impossível
Movido por suas posses, paixões e desejos o ser humanizado romantiza a vida. Com isso
imagina ser possível viver um conto de fadas onde todas as vontades são satisfeitas. Mas, isso é
impossível...
Primeiro porque o Universo está em perfeito equilíbrio. Isso quer dizer que nada pode ser
acrescentado a ele nem retirado dele. Sendo assim, quando um ser humanizado ganha alguma
coisa, outro tem que perder aquilo. Se um ganhasse sem que outro perdesse, o Universo não mais
seria estável e equilibrado.
Além do mais, se só um ganhasse e outros perdessem sempre, um desequilíbrio também
aconteceria, pois um ser seria superior a outro. Como todos somos filhos de Deus e tratados
igualmente pelo Pai, ninguém é protegido por Ele. Por isso em alguns momentos uns ganham e
outros perdem e em outros momentos a situação se inverte.
O segundo aspecto que impede que uma pessoa consiga ter todos os seus desejos
contemplados é a própria descrição dos objetivos da encarnação feitos pelo Espírito da Verdade.
Ele ensina que um dos objetos da existência humana para o ser universal que encarna é viver
suas expiações e que esta vivência se caracteriza pela existência de vicissitudes na vida humana.
Diferente do que pensam os humanos, vicissitudes não são carências, mas alternância das
situações da vida. Sendo assim, o conto de fadas não pode ser vivenciado por um ser encarnado,
pois o bom e o mau, o lucro e o prejuízo, a vitória e a derrota precisam estar sempre presentes na
encarnação do espírito.
Ora, se Deus é a Causa Primária das vicissitudes da vida humana, o ser humanizado que
acredita nos ensinamentos espiritualistas, ao invés de imaginar que Ele o ajudará a fazer o que
quer, deve viver com a certeza que Deus fará o que for preciso para a sua elevação durante o dia
a dia da existência de cada um. Essa mudança de forma de vivenciar a vida, que é pequena, é
valiosa para se alcançar a elevação espiritual. Mas, infelizmente mesmo os espiritualistas não
vivem assim...
Como espíritos decaídos que são – segundo a classificação feita por Krishna que dá este
nome àqueles que ainda acham que são a mente e se guiam por ela – e imaturos – como classifica
Paulo aqueles que não compreendem perfeitamente os ensinamentos de Cristo – ainda vagam
pela vida humana crente que os seus desejos serão atendidos na totalidade. Pior: ainda acham-se
no direito de rezar a Deus ou pedir a mentores ajuda para conseguirem o que querem...
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 39
Quanta tolice... Se não fossem decaídos ou imaturos saberiam que os contos de fadas só
existem na imaginação humana e são obras da própria mente para prendê-los na esperança de
que basta desejar para acontecer.
Se fossem lúcidos e maduros espiritualmente falando saberiam que nem todo mundo vai
guardar o objeto no lugar que eles querem, que nem todo mundo vai fazer as coisas do jeito que
eles acham que deveriam ser feitas, que nem todos vão elogiá-lo e distingui-los pelo que fazem.
Se não acreditassem numa vida cor de rosa não viveriam com medo e agoniados...
Quem vive a vida imaginando que Deus pode lhe conceder todos os seus desejos só
porque pede, está sempre com medo do futuro, pois não sabe se o Pai vai lhe conceder aquela
graça ou não. Por causa deste medo perde a tranqüilidade e agonia da incerteza de receber lhe
desarmoniza com o mundo. Por isso, sofrem o tempo inteiro...
Sofrem pela agonia de esperar; sofrem quando não alcançam aquilo que eles esperavam;
sofrem quando vêem alguém ganhar aquilo que eles queriam para eles. Já aquele que não espera
nada, mas recebe tudo o que Deus lhe dá como fruto do Seu Amor por seu filho, vive sempre em
paz e harmonizado com o mundo.
Quem é lúcido com relação ao receber e é maduro na vivência da sua realidade está
sempre feliz; agora, aquele que ainda acredita na possibilidade de viver um conto de fadas,
vagueia pela vida sofrendo...
A culpa pelo que faz
Todo ser humanizado passa pela sensação de culpa por ter feito determinado ato para
alguém ou para si mesmo. Mas será que alguém tem culpa de alguma coisa? Vamos ver isso...
Em O Livro dos Espíritos o Espírito da Verdade nos ensina que a encarnação tem como
objetivo levar o ser universal a participar da obra geral, ou seja, da obra universal. Esta obra pode
ser sintetizada como dar a cada um a oportunidade de esclarecer-se e com isso aproximar-se de
Deus. É para isso que segundo o Espírito da Verdade cada ser toma um corpo em consonância
com o mundo em que vive e neste mundo, obedecendo as ordens de Deus, faz a sua parte no
sistema de encarnações que leva o ser a alcançar a elevação espiritual.
Como cada um faz sua parte nesta obra? É isso que vamos ver agora, mas primeiro temos
que falar um pouco de elevação espiritual...
Elevação espiritual é aquilo que acontece quando um ser universal em processo de
encarnação responde corretamente às questões que lhe são propostas. Estas sempre dizem
respeito à comprovação por parte do espírito de ter compreendido os valores de seu mundo: os
valores espirituais. Para poder fazer esta comprovação, estes valores são contrapostos com
outros. Tendo, então, estas duas opções, o ser pode optar por um ou outro. Esta é a liberdade de
arbitrar que o ser possui...
Os valores que se contrapõem aos espirituais e que servem de opção para o espírito nós
chamamos de material. Se a provação do ser só acontece durante uma encarnação, podemos,
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 40
então, dizer que encarnar é ter acesso aos valores materiais. Como este acesso é realizado
através de um elemento chamado mente, podemos dizer que encarnar é ligar-se a uma mente que
possua valores humanos. Neste momento nasce o que é chamado de ser humanizado.
Ser humanizado é o espírito que está vivendo uma encarnação, ou seja, é o ser universal
que está sendo exposto a valores materiais. Neste momento este ser deve exercer a sua livre
opção e apegar-se a estes valores ou vivenciá-lo com os valores espirituais.
Deus lhe faz dizer a outras pessoas o que elas têm que ouvir. Você, se quiser aproximar-
se Dele, precisa se subordinar a esta determinação e amá-Lo por ter lhe feito um instrumento para
aquela determinada ação, ao invés de querer ser outra pessoa, fazer outra coisa… Na hora que a
sua consciência lhe disser que a sua ação, não importa qual seja, é o amor de Deus escoando
através de você, alcançará o serviço devocional… Cada um na sua função, vivendo o seu papel
dentro da peça “divina comédia humana”, agindo tendo a consciência de que é o amor de Deus
escoando através dele, sem achar nada sobre o acontecimento: este é o mundo onde Deus é o
Senhor.
Influência dos acontecimentos da vida sobre o espírito
Retirado do estudo de O Livro dos Espíritos
O estudo do dia de hoje foi muito importante para nós porque sempre buscamos atingir as
mais profundas verdades que cada um tem. Fizemos isso porque essas verdades enraizadas são
inimigos desconhecidos pelos seres humanizados. Eles as tratam como amigas, como verdades,
como realidades.
Sempre buscamos colocar profundidade nas nossas conversas, ou seja, expor essas
verdades muito enraizadas à luz do ensinamento, mas nem sempre isso é possível. Fazemos isso
para não fugir ao tema que está sendo estudado. Mas, O Livro dos Espíritos é grandioso porque
ele alcança uma gama muito grande de assuntos e assim, na hora certa, podemos entrar o mais
profundo nos exemplos. Hoje foi um destes dias, quando falamos dos doentes mentais.
Apegar-se à matéria ou aos acontecimentos da matéria como se eles atingissem ao
espírito é uma visão materialista. Nenhum mestre deu apoio a esta visão. Krishna, por exemplo,
ensina a Arjuna: nada pode cortar, ferir ou molhar o espírito. Ele falou isso porque sabe que todas
estas coisas são criações de dentro do espírito e não de fora.
Aquele que acha que quando o corpo se molha, é cortado, recebe uma bala ou é
estuprado e estas mesmas coisas acontecerem ao espírito desconhece a realidade do Universo.
Desconhece a realidade dos elementos do Universo: ser humano, espírito e matéria.
Para compreendermos a realidade do Universo, precisamos fazer uma distinção clara do
que é o ser humano, o espírito e a matéria. Ser humano é uma encarnação que o espírito vivencia,
espírito é o princípio inteligente e matéria aquilo que o espírito utiliza para agir e age sobre ela.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 41
Se isso é verdade, ou seja, se o espírito se utiliza de matéria para agir sobre ela mesma,
ela não pode agir sobre o espírito. Ou seja, nenhum reflexo há no espírito quando algo acontece à
matéria...
Quando nos prendemos aos acontecimentos da matéria e os levamos ao espírito,
necessariamente surgirá o certo e errado, o bom e o mau, o bonito e o feio. É automático... É
impossível a um ser preso a uma percepção de um acontecimento na matéria não reagir dentro do
ilusório dualismo do espírito. É do querer interpretar os acontecimentos do mundo que se cria
verdades para o Universo que não pertence a ele.
Um ser humanizado, por exemplo, que se ressente de um estupro, é uma pessoa que teve
seu corpo violentado e que reagiu com perturbação, ferimento e mágoa àquilo. Não foi o agente do
acontecimento que causou o ferimento, a mágoa no espírito. Isso porque um espírito não pode agir
sobre outro espírito, mas sim com matéria sobre outra matéria.
Precisamos ter isso muito consciente para que não naveguemos ao leo, ou seja, seguir a
corrente humana que diz que devemos sofrer e execrar aquele que pratica um ato desses.
Libertando-nos de seguir este fluxo humano podemos, ainda, não sofrer quando um acontecimento
destes acontecer com outra pessoa.
Sofrer o que acontece com você ou com os outros não é preciso porque o sofrimento é
uma escolha sentimental de cada um frente a um acontecimento do mundo. Consciente de que
nada daquilo acontece ao espírito, pode, então, o ser humanizado escolher um sentimento
diferente para reagir àquilo que vivencia.
Está na hora dos seres humanizados tomarem o leme da vida na mão e não se deixarem
guiar pela correnteza dos conceitos humanos. Se uma pessoa está passando fome, nenhum ser
humanizado precisa sofrer por causa disso. Até porque, enquanto o ser está sofrendo não faz mais
nada para ajudá-la... Ajude-a, se conseguir ajudar, mas não sofra por causa do estado dela, pois
este não é o estado do espírito.
Porque existe gente sem teto ou sem terra, ninguém precisa sofrer por isso. O espírito não
tem teto ou terra...
O que o ser humanizado precisa compreender é que o mundo material não possui o
sentido que os seres humanizados querem dar a ele. O que existe é apenas um cenário que forma
um mundo de provas e expiações, ou seja, um lugar para que as encarnações do espírito ocorram.
Portanto, se uma pessoa é estuprada, ali há uma prova e uma expiação acontecendo e
não um ato físico. Se alguém tem terra e outro não tem, ali há uma prova e uma expiação para
quem a tem e para não a tem...
Este é o grande detalhe: a prova e a expiação são para quem tem e quem não tem... Sim,
isso é algo que os seres humanizados esquecem com freqüência: a prova e a expiação são para
os dois. Os seres encarnados no mundo material acham que a prova e a expiação são exercidas
apenas no sentido material, ou seja, não ter. Por isso acham que a provação e expiação são
apenas para os pobres e que o rico não expia nada...
É sobre estas compreensões que venho tentando conversar com vocês. É por isso que
enfiamos o dedo na ferida mais profunda. Fazemos isso porque os seres humanizados
normalmente se deixam levar quando o mundo os conclama para reagir às injustiças do mundo.
Mas, não há injustiças neste mundo, porque tudo é prova e expiação merecida pelo espírito...
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 42
Precisamos mergulhar no oceano. Ir ao fundo das questões e verificar que a correnteza
das verdades humanas leva o ser a servir à humanidade, ao planeta e a materialidade e que ela é
contrária ao serviço de Deus. Assumir o leme da vida não é achar que com isso conseguirá fazer o
que quer, mas sim ter a consciência de que não é obrigado a sofrer quando o mundo diz que deve
sofrer.
Você não é obrigado a acusar a quem pratica determinado ato, não é obrigado a maltratar
quem pratica ações que o mundo condena. Ter esta consciência é assumir o leme da sua vida...
Durante a nossa conversa de hoje falaram sobre a lei que diz „não matarás‟ para justificar o
erro do assassino... A esta pessoa respondo com uma história bíblica que não tem a ver com este
preceito, mas sim sobre a o condenar aquele que quebra a lei.
Uma mulher, que foi pega num flagrante adultério, ato também coibido pela mesma lei que
fala do „não matarás‟, foi levada à presença de Cristo. Os professores da lei que levaram ela
perguntaram ao mestre com arrogância, como desafio ao acatamento da lei por parte do mestre: e
agora, o que o senhor vai fazer? A resposta foi clara: quem pode atirar a primeira pedra?
Quem de nós pode garantir que nunca nas existências anteriores estuprou uma pessoa?
Quem de nós pode garantir que nas existências anteriores nunca matou ninguém? Quando, nestas
ou em outras existências, erramos, esperávamos ser perdoados, amados, mas agora nos
apressamos em acusar os outros...
Volto a repetir o que já disse hoje: não estou falando da lei terrestre deixar de dar o carma
que aquela pessoa merece, ou seja, julgá-la, condená-la e dar a ela o cerceamento da liberdade
que ela precisa e merece como carma. Estou falando do mundo interior de cada um dos seres
humanizados. Neste mundo não pode haver a crítica, a raiva, o castigo, a penalidade. É isso que
estou querendo dizer.
Os seres humanizados precisam superar as verdades do mundo para poderem alcançar o
mundo espiritual, ao invés de se aprisionarem a elas dizendo que a verdade do mundo é a de
Deus. A verdade do mundo é aquilo que cada um diz que é e a verdade de Deus é aquilo que Ele
sabe que é...
Por isso o dia de hoje foi muito importante. Hoje, para aqueles que estavam aqui
levantamos o véu da ignorância, o véu da ilusão gerado pelo maya em que os seres humanizados
vivem. Até hoje tínhamos nos aprofundado em algumas coisas, mas hoje escancaramos a porta
sobre este tema.
Quando Cristo fala em amar a todos, fala em amar o estuprador e o bandido também.
Aliás, os bandidos de então foram os companheiros de Cristo no seu momento derradeiro sobre o
planeta. E ele prometeu a um deles: se creres ainda hoje estará comigo no reino do céu...
Esta foi a importância do dia de hoje. Foi importante porque descobrimos que o mundo não
pode criar sub-espíritos, seres maus que mereçam castigos, pena. Descobrimos que não podemos
nos declarar executor destes castigos, verdugo de nossos irmãos...
É nesse sentido que acho que o dia foi proveitoso, pois mexemos em bases da vida. E se
vocês querem derrubar suas verdades, é preciso balançar as bases e não simplesmente ficar
reconstruindo sobre as mesmas bases.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 43
Acontecimentos da vida humana
Clonagem
Participante: Quer dizer que Deus quer que a clonagem humana existe?
Sim. A clonagem será uma realidade dentro do mundo de regeneração. A clonagem do
corpo, não do espírito.
A clonagem é apenas uma forma diferenciada de se criar corpos das de hoje. No próximo
mundo os corpos serão criados por um processo diferente, que vocês chamam de clonagem, ao
invés de como hoje acontece: ato sexual. Esta forma de criar corpos será realidade no próximo
mundo e é para isso que Deus vem dando amostras ao ser humanizado da clonagem.
Agora, Deus é que ligará o espírito a qualquer corpo clonado. Não será porque um corpo
foi criado que haverá nele a intelectualidade que caracteriza a existência de um espírito. Mas, isto
Deus só fará quando a humanidade entender a ação de Deus (vida carnal como carmas emanados
por Deus).
Eu diria que hoje já existem doze corpos clonados que estão nos laboratórios deitados em
macas funcionando. Eles, no entanto, não têm intelectualidade, não são habitados por espírito.
Desta forma, estes corpos não se mexem, não falam, não raciocinam: só vivem pelo
funcionamento da máquina.
A clonagem será uma realidade até para libertação da sensualidade, um dos apegos que o
ser humanizado precisa despossuir para elevar-se. Enquanto o espírito vivenciar o prazer através
da percepção sensorial do corpo, ou seja, fazer o sexo com partes humanas, através de
percepções, não atingirá a sua espiritualidade. Sexo não é ato físico, mas ação sentimental.
A clonagem precisa existir para substituir o ato sexual que acabará quando o espírito
libertar-se das sensualidades transmitidas pelos órgãos do corpo físico.
Participante: Na clonagem, como fica a questão espiritual com relação à
reencarnação, pois, neste caso, foge o que conhecemos no espiritismo.
Nós precisamos entender que clonagem não tem nada a ver com reencarnação de
espíritos, mas apenas com fabricação de massas carnais.
Participante: Mas um espírito estará lá quando Deus quiser ...
Sim, quando Deus quiser, não antes. Mas, isto também é o que acontece hoje: massas são
geradas, mas é Deus quem liga o espírito a elas. Se Ele não fizer isso, as massas jamais se
intelectualizarão.
Na verdade a clonagem só muda a forma de se gerar o corpo. Ao invés do ser humanizado
dormir com seu parceiro (a) para gerar um corpo, este estará sendo gerado em um laboratório.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 44
Participante: Será um outro tipo de carma?
Não. Eu não diria outro tipo de carma, mas uma nova forma de fazer o corpo. Para
compreende melhor, vamos dizer que Deus inventou uma máquina mais fácil de fazer corpo do
que as que vocês têm hoje.
Precisa ficar bem claro que clonagem não tem nada ver com reencarnação (vivência de
carmas), mas apenas uma ação de criação de corpos, como um padeiro que mexe a massa para
fazer o pão.
Participante: Isso me lembra um filme ou um livro que vi onde os seres eram
formados de acordo coma necessidade de cada região.
Quem escreveu este livro? Deus. Então, ao invés de obra de ficção eu diria que é apenas
uma psicografia.
Apesar disso, no futuro essa confecção não será de acordo com a região, mas de acordo
com os carmas dos espíritos. As fábricas de corpos confeccionarão determinados tipos e formas
de corpos porque o espírito que será ligado a ele por Deus o desenhou assim.
Participante: No cãs,o esses seres eram criados de acordo com a necessidade
da população. Por exemplo: Tantos eram criados para serem lixeiros, com uma
inteligência pequena, outros para outras funções e moldados de acordo com
aquilo que a sociedade precisava no momento.
Desculpe, eu não estou compreendendo porque você pode ter ficado boquiaberto com o
que leu: os nascimentos na vida carnal hoje já são assim: os espíritos nascem para cumprir papéis
necessários aos carmas da humanidade como um todo e planejam seus corpos de acordo com
estes papéis.
Apenas os seres humanizados é que não vêem isto. Eles pensam que o feto se
desenvolve na sua barriga e que suas capacidades intelectuais são geradas por acaso ou por
conta de atividade genética. Tanto o corpo como a capacidade intelectual de um feto é
desenvolvida durante a gestação pelos espíritos fora da carne de acordo com a programação, com
o desenho que este espírito fez do seu corpo antes da encarnação. Tudo moldado e desenvolvido
igual a uma clonagem.
Isto ainda não é realidade para vocês porque ainda estão presos na concepção através do
ato sexual, no encontro do óvulo com o espermatozóide, e aí, a partir de reações químicas o
próprio corpo faz, o ser é formado. Onde está Deus neste raciocínio? Assistindo a tudo impassível?
Participante: Na verdade, eu estava presa no poder do homem de estar criando
o que ele quisesse. Com mais inteligências para cargos maiores e com menos
inteligências para cargos menores.
Sim, será o espírito encarnado que fará os corpos no próximo mundo, mas este ser será
um habitante do Mundo de Regeneração: um ser espiritual homem com conhecimento prévio da
Realidade. Diria que os encarregados de fazer os corpos clonados do próximo mundo serão os
sacerdotes da próxima fase.
Participante: Como é o desenvolvimento da matéria durante a gravidez?
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 45
A matéria é desenvolvida de acordo com a programação que é feita antes da encarnação
pelo espírito que irá reencarnar. Este desenvolvimento é feito por espíritos desencarnados que
trabalham sobre o fluído universal que forma as células do corpo.
Participante: Quer dizer que no futuro nós escreveremos no livro da vida se
queremos nascer um ser clonado ou de uma mãe?
Não, todos serão clonados, porque o ato sexual físico acabará restando apenas o espiritual
que não gera filho.
Além do mais, o ato sexual físico, mesmo hoje, não gera filhos: apenas dá esta ilusão ao
ser humanizado disso estar acontecendo. Então, na verdade o que acabará é só a ilusão que você
tem de que o filho começa a ser gerado pelo encontro do espermatozóide com o óvulo.
Participante: Mas no mundo de regeneração saberemos que a clonagem vem
de uma matéria prima básica (fluido cósmico universal) que é a matéria prima
de tudo no universo e que é manipulado por Deus.
Manipulado por Deus através dos espíritos, pois Ele não faz diretamente. Mesmo hoje, na
formação uterina do feto, já são espíritos que fazem e não a natureza (reações químicas que se
formam espontaneamente).
Eu diria, então, que da mesma forma que um médico faz hoje a clonagem, quem vai fazer
a preparação dos corpos serão espíritos elevados encarnados guiados conscientemente por Deus
que terão a função de fazer o corpo daqueles que precisam encarnar. Nada mais que isso.
Estamos falando a mesma coisa, pois mesmo hoje isso já é feito desta forma. Existe um
espírito elevado que se deixa guiar conscientemente por Deus fazendo o corpo físico dentro do
útero da mãe. Só que hoje o corpo é feito por espíritos desencarnados, fora da carne, que
trabalham magneticamente a massa que está dentro da barriga, dando a ela os aspectos pedidos
pelo espírito no seu livro da vida. Por agirem no invisível, não serem percebidos pelos serem
encarnados, os homens não acreditam nisso e afirmam que é a natureza agindo.
Participante: Geneticamente falando, então, a humanidade será bem parecida,
ou seja, quase idêntica?
Não, continuará a ser completamente diferente como é hoje, geneticamente falando. Não
haverá apenas uma só matriz para ser clonada. No novo mundo continuarão existindo todas as
diversidades entre corpos como hoje porque serão bilhares de matrizes.
Participante: Então, hoje é feita uma clonagem do desenho que fazemos no
mundo espiritual para o nosso futuro corpo.
Perfeito. É feita uma materialização, uma clonagem, do desenho que você fez antes de
encarnar. É só por isso que não estou entendendo a não compreensão, pois hoje já é assim.
Apenas por não ver é que os seres humanizados têm a ilusão que o corpo é feito a partir do ato
sexual e só através dele o filho pode nascer. Mas, este ato é só ilusão, é maya, é percepção, é
prazer sensorial.
Participante: Mundo de Regeneração igual: ao fim das estrias, celulite, pneu,
botox.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 46
Não, tudo isto continuará existindo para aqueles são individualistas, que buscam a
felicidade através do corpo. Para esses continuará existindo tudo o que você falou, pois são
instrumentos de Deus para aqueles que precisam e merecem.
Fome
Participante: Você falou que passar fome é normal?
Não. Eu disse que passar fome faz parte da realidade do mundo, pois existem pessoas
que passam fome. Disse mais: não podem deixar de existir neste mundo pessoas que passam
fome. Isso é necessário para que possa haver o equilíbrio no mundo: uns comem e outros não...
Eu não disse que é normal passar fome, ou seja, que todos têm que passar fome. Disse
que este acontecimento faz parte da vida, tanto assim que este fato é mais corriqueiro do que você
possa imaginar. Se tal acontecimento não fizesse parte da vida não haveriam pessoas que
passariam por isso.
Aliás, o que afirmo é que tudo que vocês consideram como errado, como abominável faz
parte da vida.
Aborto
Vamos falar sobre o aborto. Entretanto, antes de começarmos a falar sobre qualquer tema
é preciso buscar na materialidade qual a compreensão sobre ele, ou seja, determinar a verdade
humana que precisa ser destruída. Digo isto, porque o nosso propósito não é de construção de
novas verdades, mas de destruição das antigas. Somente eliminando-se todas as verdades
materiais com que o ser humano vive hoje poderemos atingir à Verdade Universal, ou seja, a
espiritual.
O aborto para a humanidade é considerado como a interrupção de uma vida. Fazer um
aborto é, portanto, entendido como matar um ser humano em formação. Mas, o que será vida?
Precisamos conceituar humanamente falando este termo porque não podemos falar em
interrupção da vida sem antes entendê-la.
A vida carnal não existe como a humanidade imagina: algo que acontece por si só no
momento que está acontecendo. A vida carnal para um espírito não existe como concebida pelos
seres humanos. O espírito não vive dentro da concepção humana (pratica animações), mas
vivencia situações programadas por ele mesmo antes da encarnação. A animação que o espírito
vive não é a prática de atos, mas o vivenciar de situações pré-concebidas.
Você agora está lendo este texto? Não, está vivenciando uma ação que escreveu antes de
nascer. Para o ser humano há a ilusão que ele está agindo no mundo carnal neste momento, mas
a Realidade é que a situação está acontecendo e o espírito está vivenciando-a como se
estivesse assistindo a um filme. Portanto, você, o espírito, não está vivendo isto agora, mas
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 47
sim passando por algo pré-determinado com a ilusão que está agindo no sentido de visualizar
letras e obter compreensões.
Esta visão sobre os acontecimentos da vida é importante ao analisarmos qualquer assunto
relacionado à vida carnal. Na hora que a humanidade compreender isto, poderá viver a Realidade
ao invés de se prender à ilusão (maya). Sem que o ser humano entenda que ele é apenas uma
criação ilusória que existirá apenas enquanto o espírito estiver em prova, o tema morte será super
valorizado no sentido humano e não no espiritual. Sem a perfeita compreensão da Realidade da
vida, jamais o ser humano compreenderá que está escrito em O Livro dos Espíritos:
“853a – Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte
ainda não chegou, não morreremos? “Não; não perecerás e tens disso milhares
de exemplos”.
Nenhum ser humano pode morrer antes da hora porque nenhum espírito pode deixar de
vivenciar tudo aquilo que se comprometeu a realizar como prova durante a sua encarnação. O
desencarne, ou seja, a ilusão da vivência chamada vida carnal acabará apenas no momento exato
que o espírito escreveu para vivenciá-lo antes da encarnação.
Compreendido este aspecto da Realidade, posso, então, afirmar: a compreensão da
humanidade a respeito do aborto está completamente falida. Isto porque não pode haver
interrupção da vida antes do momento preciso que ela tenha que ocorrer. Este é o primeiro
aspecto que precisamos levar em consideração ao analisar espiritualmente o aborto.
Aplicando-se esta visão ao tema, veremos que se o ser humano vive um, dois ou três
meses e aí acontece o fim da vida (aborto), é porque ele só tinha aquilo para viver, pois, o espírito
só pré-determinou aquilo para vivenciar.
O aborto, portanto, não poder ser considerado como uma interrupção de vida, mas sim
como o fim da existência do ser humano criado pelo espírito no momento exato em que este pré
determinou para tanto. Se ninguém morre antes da hora, ninguém é abortado antes da hora.
A partir desta nova compreensão sobre o tema aborto, temos que analisá-lo não mais
como uma pessoa sendo capaz de interromper uma vida, mas compreender porque determinados
espíritos escrevem para as personalidades humanas cujas vidas vivenciarão somente aqueles
pedacinhos de existências.
Toda vida de uma personalidade humana é escrita a partir dos carmas do espírito. A
existência carnal é escrita conscientemente pelo espírito a partir dos seus carmas: reações a ações
anteriores. Sendo assim, o aborto não é um ato físico que leva ao fim de uma vida, mas é para os
envolvidos (feto, familiares, corpo médico e todos que tomarem ciência), um momento carmático,
ou seja, um acontecimento que espelhará a justa reação do que foi feito anteriormente pelo
espírito.
Nenhum dos seres humanos envolvidos no episódio do aborto age espontaneamente, mas
participa de uma ação desenhada pelos espíritos aos quais estão ligados servindo como
instrumento para a provação destes. Portanto, ninguém é culpado ou vítima no aborto, mas é
carmaticamente eleito para participar dele como instrumento de provas do espírito. Todos são
apenas personagens daquela história.
Este conhecimento é fundamental para o homem parar de julgar se o que está
acontecendo é certo ou errado. Continuaremos falando sobre o assunto carma e
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 48
compreenderemos seus diversos aspectos, mas desde já podemos definir que não há certo nem
errado, culpado ou vítima num ato de aborto, mas uma ação carmática acontecendo.
Definido que o aborto é uma ação carmática, visão precisamos descobrir o que é carma
para melhor compreensão do tema.
Hoje no planeta, o carma é considerado como uma punição, uma pena que se contrai ao
praticar determinado ato. Se mantivermos esta visão, poderemos dizer que os espíritos ligados aos
participantes da ação do aborto adquiriram tal condição porque antes matou alguém e, então,
agora merece passar por isso.
O carma, como compreendido pelo mundo espiritual, não é uma penalidade, não é uma
pena que Deus impõe ao espírito, mas a justa medida do que ele fez anteriormente. O carma é,
antes de tudo, a Justiça de Deus em ação, dando a cada um segundo as suas obras e não o fruto
de um juiz que acusa e penaliza. Nesta linha de pensamento, o carma não precisa ser só pena,
mas pode também ser glória.
A partir da compreensão da Realidade do carma, podemos entender que a ação carmática
ser abortado ou de abortar podem ocorrer por dois motivos: pena ou glória. Vou chamar glória de
positivo e pena de negativo na continuação da análise, mas, por favor, não liguem estes dois
termos a certo e errado, bom ou mal ou bonito e feio, pois não me refiro aos conceitos humanos
que estas palavras têm.
Vamos primeiro compreender o carma positivo do espírito que pode gerar para o ser
humano a participação num acontecimento onde ocorra um aborto. Para isto citaremos exemplos,
mas desde já fica avisado: no mundo espiritual dois mais dois dificilmente dá quatro. Todos os
exemplos que vou citar são apenas para ilustrar o ensinamento e não regra fixa.
Vamos começar o nosso estudo com o seguinte exemplo: um ser humano mulher que
esteja ligado a um espírito que numa outra vida tenha vivenciado um aborto. Determinada reação
do espírito à vivência de ter sido abortado em uma outra encarnação pode gerar para si um carma
onde precise que o ser humano que ele cria agora seja abortado. Por isto, a história que ele agora
escreverá para este ser humano conterá este acontecimento.
É importante que se ressalte: o episódio do aborto de agora nada tem a ver com o ser
humano, mas sim com o espírito que escreve a história dele. Ela refletirá os carmas do espírito, da
sua vida eterna.
Para que esta história sirva de prova para o espírito precisará ser escrita com elementos
que estejam dentro da visão lógica que o ser humano tem do mundo. Apenas quando os
acontecimentos fogem do que é chamado de sobrenatural o espírito pode exercer a sua fé
(confiança e entrega a Deus), realizando com êxito sua provação.
Portanto, para que o carma do espírito (ser abortado) seja vivenciado, precisará haver um
corpo feminino onde um óvulo se encontre com o espermatozóide e comece a formação de um
novo feto, ao qual ele se unirá, e que este feto seja arrancado de lá. O espírito que vivenciará o ser
humano que fará o papel de mãe pode merecer esta vivência negativamente (pena) ou
positivamente (por amor). Ou seja, a mãe que aborta pode fazê-lo por ter um carma negativo (o
espírito ter vivenciado situação igual de forma não amorosa em outra vida), mas também pode
servir de instrumento para esta ação carmática por amor.
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Sei que vocês podem estar achando estranho falar em abortar por amor, mas não estou
falando de amor humano e sim espiritual. O espírito que vivencia a mãe que pratica o aborto neste
exemplo sabe que o outro precisa passar por este processo e auxilia-o na sua elevação espiritual.
É difícil de compreender, mas veja bem, se você tem uma coisa muito importante para ser
feita, uma coisa que precisa fazer, mas que dependa da ajuda de alguém para que seja realizada,
pedirá a um amigo ou a um inimigo para ajudá-lo? Claro que vai pedir ajuda ao amigo. Da mesma
forma, o espírito que precisa passar pelo aborto pode chegar a outro que lhe seja simpático, afim,
amigo e pedir: “por favor, assuma esta missão de abortar o meu ser humano para dar-me esta
oportunidade de elevação espiritual”. Isto já aconteceu e continua ocorre no Universo.
Portanto, neste exemplo, o espírito será abortado porque mereceu passar por isto e mãe
que cumprirá o destino do personagem que ele vivencia poderá fazê-lo porque mereceu
negativamente (o espírito já reagiu sem amor em outra encarnação) ser a aborteira, ou pode,
ainda, fazê-lo por amor.
Pergunta: E as mães que fazem mais de um aborto, que fazem três ou quatro?
Às vezes são grandes espíritos em missão. “Olha, vamos fazer o seguinte, eu vou com
missão de aborteira, juntem todos os que precisam ser abortados que eu vou ajudando-os”.
Quantidade não tem problema, é preciso entender a técnica e não julgar as pessoas.
O que estamos falando funciona para um, dez, cinqüenta abortos. A partir do momento que
você entende o processo não importa quantas vezes o ser humano aborte, porque será sempre o
mesmo processo.
Pergunta: Como diferenciar quando o carma é negativo ou positivo?
É fácil saber isto, muito fácil, mas apenas Deus sabe esta resposta. Só Deus sabe e
conhece a Realidade, a Verdade. Portanto, se você não pode descobrir se está havendo um carma
negativo ou positivo louve a Deus em todas as situações porque Ele sabe e não critique ninguém
jamais.
Deixa eu lhe dizer uma coisa: você não veio aqui para compreender o mundo, mas para
vivenciá-lo louvando a Deus. Deixa que Ele entenda o mundo.
Pergunta: Então o carma não tem nunca efeito positivo, nem que seja a longo
prazo?
Não foi isto que eu disse. Falei sobre o merecimento na participação dos acontecimentos
do mundo sem citar se o ato era bom ou mal.
O carma, independente do ato que ele gere, é sempre positivo porque se trata de uma
oportunidade de elevação concedida por Deus. Não é o ato que dirá se o carma foi resgatado ou
não, mas a forma como espírito o vivencia.
O carma é um ato de amor de Deus. Agora, você pode vivenciá-lo positivamente, com
amor (sem sofrer, sem ferir, sem acusar), ou ainda com ranger de dentes (sofrimento). No primeiro
exemplo a ação carmática, seja ela qual for, gerou um determinado efeito enquanto que com o
sofrimento se gera outro efeito diferente.
Pergunta: Então, necessariamente, o aborto é errado?
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 50
Você sabe o que é o certo e o errado, o bom e o mal, o bonito e o feio? São resultados de
julgamentos de ações dos outros seres humanos executados por espíritos que comeram a maçã
enquanto estavam no Jardim do Éden.
Em Gênesis, capítulo 3 você encontra o texto que pode lhe levar a entender o que é o
processo de comer a maçã. A cobra diz assim: Deus não quer que você coma a fruta porque Ele
sabe que na hora que comer seus olhos se abrirão e você será como Deus, distinguindo o “bem” e
o mal. A partir daí, podemos afirmar que não existe o certo e errado, mas sim o espírito que quer
ser Deus, quer ter a capacidade de reconhecer nos atos dos outros se eles estão certos ou
errados.
Proceder desta forma é julgar e Cristo nos ensinou que apenas Deus pode fazê-lo, pois
conhece a intenção de cada um ao agir, ou seja, a ação carmática que está por trás de cada ato.
Voltemos à nossa conversa de hoje.
No primeiro exemplo vimos o espírito que precisava passar pelo aborto como carma
negativo, ou seja, aquele que construiu como prova para si a situação onde precisava e merecia
ser abortado. Dentro deste exemplo vimos a motivação (carma) positiva e negativa de outro
espírito ao criar a história do ser humano que vivenciaria (pai, mãe, família).
No entanto, não é só por carma individual que um espírito gera uma história onde o ser
humano será abortado. Existem espíritos que, por amor a outro, aceitam vivenciar o ato de ser
abortado. Neste caso, a ação não mais é carmática, mas missionária.
Assim como o espírito que precisa ser abortado busca um amigo para realizar o aborto,
outros que merecem e precisam criar personagens que necessariamente terão que praticar o
aborto buscam espíritos afins para que eles gerem um ser humano que viva só aquele pedaço de
vida (vida uterina). Só assim estes espíritos poderão praticar o aborto como carma, como
oportunidade de elevação.
Neste caso, o ser que escreve a história da personalidade humana que será abortado não
estará realizando prova alguma, mas simplesmente colaborando com o amigo para sua elevação.
Agindo assim, verifica-se que este espírito está cumprindo uma missão de auxílio ao seu irmão
espiritual.
Então, existem espíritos que por amor, por carma positivo, aceitam escrever personagens
humanos que serão abortados. No entanto, eles não cumprem sua missão só junto ao espírito que
mereça e precise como carma negativo, mas também há casos onde feto e mãe passa por esta
situação por amor.
São duas situações diferentes. Na primeira hipótese (feto criado por missão e mãe por
carma) a abrangência da missão é individual, mas no segundo (feto e mãe criados como
missionários), a missão diz respeito a toda uma coletividade que terá conhecimento do fato
(aborto). Os espíritos ligados à mãe e ao filho aceitam participar daquela vivência para que o resto
da família e da sociedade ao qual pertencem tivessem seu carma. Fazem isto para dar uma
oportunidade aos demais espíritos encarnados de vivenciarem uma determinada situação com
amor ou não.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 51
Se a coletividade que tem informação do ato vivê-la com amor ao próximo se eximirá de
acusar a mãe, mas se não, reagirá com julgamentos: “meu Deus, ela fez isso? Não podia. Ela não
presta”. Todos os espíritos que souberam do caso, portanto, tiveram uma prova para o seu amor
universal.
Agora compliquei ainda mais nosso estudo. Antes estávamos apenas lidando com
elementos diretamente ligados à situação de aborto, mas agora expandimos o carma para todos
aqueles que, mesmo por meios indiretos (notícias pessoais, de jornais, rádio ou televisão), tiveram
conhecimento do fato. Começamos nosso estudo procurando a culpabilidade daqueles que
praticam o ato e chegamos agora à consciência de que se existe um culpado nesta história toda é
aquele que julga as ações praticadas pelos outros.
Precisamos eliminar todo e qualquer resquício de julgamento. Para aquele moço que ainda
queria saber se a atitude do ser humano era fruto de um espírito vivenciando carmas positivos ou
negativos, abri mais uma opção (os dois como missionários). Esta, no entanto, também não deve
servir para criar novas verdades, mas sim como instrumentos para eliminar completamente a
possibilidade de compreender o que está acontecendo.
Como já disse eu não estou aqui para criar verdades novas, mas para destruir todas elas
para que você fique vazio, sem nada na consciência. Todo nosso ensinamento não deve servir
para você saber o que está acontecendo, mas para auxiliá-lo a declarar que é incapaz de saber em
qualquer movimento, em qualquer atitude, o que está acontecendo. A única conclusão que se deve
tirar de qualquer ato é o nada sei. Ou seja, todo nosso ensinamento deve servir para você dizer
para si mesmo: “eu não sei se quem foi abortado ou quem estava abortando se tinha carma
positivo ou negativo. Então, louvado seja Deus que fez acontecer para os espíritos o que eles
precisavam e mereciam”.
Isto é a Realidade sobre um ato de aborto: emanação de Deus, amor de Deus em ação
dando ao seu filho de acordo com a sua obra uma nova oportunidade de elevação espiritual.
Qualquer outra conclusão que leve a um culpado e a uma vítima é fruto daqueles que querem
defender a vida material. Esquecem-se, no entanto, que são espíritos e não seres humanos e que
existe uma Realidade muito maior sendo vivenciada do que simplesmente a existência carnal.
Pergunta: Então, no mundo não tem nada errado, nada está fora do lugar?
Olha, no dia que houver alguma coisa errada no mundo é preciso aposentar Deus.
Deixa eu lhe fazer uma pergunta: você já ouviu falar de bomba atômica? Como ela
funciona? Todo seu poderio está concentrado em um único átomo que para de girar dentro da sua
órbita e com isso se choca com os outros criando uma reação em cadeia que levará a explosão,
que destruirá tudo ao seu redor. Se no Universo acontecesse de um átomo sair do seu lugar,
quebrar o equilíbrio existente, tudo explodiria. Da mesma forma, se um espírito fizesse uma coisa
errada acabaria com o Universo.
O Universo teria que acabar porque Deus não cumpriu o seu papel perfeitamente. Um Pai
que é Supremo, Onipresente, Onipotente, Onisciente e Causa Primária de todas as coisas terá
sempre que manter a Justiça Perfeita, ou seja, dar a cada um o seu justo merecimento. Se uma
personalidade humana pudesse agir livremente, certamente causaria ferimentos a outro, pois a
característica individualista dos seres e a sua diversidade (não existem dois seres que querem a
mesma coisa), o levaria sempre a fazer o que quer. Neste caso, Deus perderia todo o seu
significado, pois não pode preservar aquele que recebeu o erro de passar por uma injustiça.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 52
Impossível; no Universo não há certo nem errado, mas Deus agindo amorosamente,
justamente, perfeitamente e você interpretando se a ação de Deus está certa ou não. Ou seja,
você julgando Deus. É deste julgamento que surgem as noções de certo e errado e não do que
está acontecendo.
Pergunta: Está fora de nossa capacidade de compreensão a lei divina?
Completamente. Vocês não conhecem a compreensão das leis materiais, não
compreendem as próprias leis da matéria, que dirá as leis divinas.
A lei divina é Suprema, está acima da sua compreensão. Por isto ame a Deus e saiba que
o Pai lhe ama e este amor acontece a cada segundo. Entenda bem isto: é da sua declaração de
incapacidade de descobrir o que está acontecendo que pode surgir a sua capacidade de entender
o Universo: Deus em ação. Enquanto atribuir valores a alguma coisa estará querendo ser o próprio
Deus: querendo saber o que está acontecendo. Desta forma jamais poderá entender os
acontecimentos como Deus em ação.
Pergunta: E a mente, como funciona nesta história do aborto no fluxo da vida.
E se a mãe ficar amedrontada na hora e não fizer o aborto? Tem esta opção
para mãe e para o abortado?
Terá esta opção para mãe e para o abortado se estiver escrita esta opção e se ela for
realidade. Ou seja, se acontecer o aborto é porque tinha que acontecer, se não é porque não
estava previsto. Ninguém pode alterar o que está escrito. Se acontecer estava previsto que isto
ocorreria, mas se não é também porque já estava previsto.
Já a mente funciona de diversas formas dependendo do personagem que está envolvido
na situação do aborto. À mãe dá razões lógicas que lhe levem a imaginar que está praticando a
ação como fruto de seu livre arbítrio. Ao feto incita-o a rebelar-se contra mãe que supostamente
está lhe matando. A você, espectador desta história, fica lhe dizendo que o aborto é errado, que
deve condenar quem praticou tal ato, que tem que criticá-lo.
Aquele que se prende a esta verdade que a mente dá passa pela situação em sofrimento
(discordância com a Realidade). Subordina-se a ela e, por isto, julga e acusa a Deus para
satisfazer a mente.
Pergunta: Então, onde está o livre arbítrio? E o livre arbítrio da mãe não
poderia influenciar esta situação?
Sobre a questão do livre arbítrio vamos falar rapidamente, pois ele já foi debatido
profundamente através de nossos ensinamentos. Aliás, a compreensão perfeita deste tema é a
base para o entendimento de todos os nossos ensinamentos.
Em O Livro dos Espíritos está perguntado: o espírito sabe antes do seu nascimento o que
vai acontecer? O espírito da verdade responde: sim, ele mesmo pede suas provas e nisso se
consiste o seu livre arbítrio.
No mesmo livro, mais à frente a compreensão sobre o tema fica ainda mais fácil:
“851 – Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida conforme ao sentido que
se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são
predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade
existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 53
daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de
destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se
colocado. Falo das provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às
tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio quanto ao bem e ao mal,
é sempre senhor de ceder ou resistir”.
Resumindo estas duas informações podemos dizer que o espírito ligado a uma
personalidade humana tem dois livres arbítrios: um para o ato e outro para o sentimento com o
qual vivencia o ato. O livre arbítrio do ato é exercido antes da encarnação quando o espírito pede
as suas provas, escreve a história que o personagem que irá ligar-se vai viver. Depois de que
encarna (liga-se ao personagem de tal forma que passa a ter a consciência de que é ele) é
impossível alterar tudo o que foi previsto para aquela vida.
A questão do porque o espírito não pode alterar a existência pré-programada do ser
humano também está em O Livro dos Espíritos: “O desejo que então alimenta pode influir na
escolha que venha a fazer, dependendo da intenção que o anime. Dá-se, porém, que como
Espírito livre, quase sempre vê as coisas de modo diferente”. Quando o espírito vivencia a
consciência de que é o ser humano seu objetivo é outro. Antes ele era movido pela intenção de
elevar-se espiritualmente (adquirir bens celestes), mas depois passa a desejar a riqueza material
(satisfação, prazer).
Portanto, o livre arbítrio do ato é exercido antes da vida, antes da encarnação. No entanto,
durante a vivência dos acontecimentos carnais ele tem o livre arbítrio do sentimento (“Falo das
provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu
livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”). O bem e o mal nesta
resposta do Espírito da Verdade não estão voltados para o ato em si, mas utilizados no seu sentido
espiritual. O espírito que vive o bem é aquele que ama a Deus acima de todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo e aquele que opta pelo mal é quem ama a si mesmo acima de tudo. O
primeiro é aquele que não cedeu a tentação da cobra e por isto não exerce o ilusório poder de
julgar os acontecimentos do mundo, deixando para Deus tal atribuição. Já o segundo é aquele que
cai na tentação (aceita a maçã) e que, por isto, acredita possuir os olhos abertos, ou seja, a
capacidade de reconhecer aquilo que apenas Deus conhece.
Respondendo, então, à sua pergunta, o espírito possui livre arbítrio. Aliás, mais do você
imagina, pois não há apenas um, mas dois livres arbítrios. No entanto, eles não são usados
simultaneamente. Um é utilizado antes da encarnação para preparar a vida, a história do ser
humano, e o outro é usado durante a encarnação para realizar a prova que ele preparou antes da
encarnação. Isto ocorre desta forma, porque a escolha do sentimento é a prova que o espírito
realiza durante a vigência da existência do ser humano criado por ele.
Enquanto os acontecimentos da personalidade humana ocorrem o espírito está lutando
para provar a Deus que é capaz de amá-lo acima de todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo. Ele tem a opção de amar ou não amar concedia pelo Pai, mas nisto não resulta que ele
pode alterar a situação que está ocorrendo na carne. Se pudesse estaria suprimindo provas que
ele mesmo escreveu.
Voltando ao nosso tema e aplicando este conhecimento, a mãe que escreveu antes da
encarnação que queria fazer um aborto como prova de amor a Deus e ao próximo vai ter que fazer
de qualquer jeito. Como tinha falado antes da série de perguntas que me foi feita anteriormente,
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 54
qualquer outra conclusão que se chegue sobre o assunto diferente desta que estamos chegando, é
obra daquele que quer preservar a vida material por ela mesmo.
Deixe-me relembrá-los de duas coisas importantes: vocês são espíritos e a grande glória
para este é morrer (encerrar a encarnação). Quando tem a sua consciência atada à realidade de
um ser humano o espírito se sente mal quando isto ocorre, mas, esta não é a Realidade do ser
universal.
Isto que vocês vivenciam como realidade é um arremedo, uma caricatura do mundo
espiritual. Para aqueles que compreendem a sublimidade da eternidade e universalidade, o mundo
carnal é algo jocoso. A grande realidade do espírito é a existência eterna naquilo que vocês
conhecem como mundo espiritual, ou seja, com a consciência espiritual que o leva a vivenciar a
Realidade. Quando está prisioneiro da matéria (ligado conscientemente à vida carnal), o espírito
está inconsciente do seu lado espiritual.
Esta busca da preservação da vida como fundamento básico da própria existência partindo
de um espírito é uma ignorância, um ato de quem não conhece a Realidade. Um ato tresloucado
de alguém que quer preservar uma ilusão apenas porque ela lhe satisfaz. Eu não estou falando
mal da vida carnal, pois ela é um instrumento precioso para o espírito. Nem estou dizendo que
você deve meter um tiro na cabeça. O que digo é para não valorizar a vida material até o ponto de
achar que sem ela sofreria ou estaria morto (tudo acabaria). Aqueles que vivenciam culpados no
aborto ou no assassinato, defendendo o direito à vida, estão defendendo na verdade a prisão do
espírito à ilusão do mundo material (não ser morto), ao invés de desejar para ele a liberdade da
vida espiritual.
Não estou fazendo apologia do crime (deve se matar), mas se foi isto que o destino (pré-
programação do espírito que se une ao ser humano) criou não há acusações para serem feitas a
ninguém. Deixe cada um vivenciar o seu destino sem acusações ou sofrimento.
É pelo apego à vida material onde existe o prazer (que não existe no mundo espiritual) que
os espíritos querem julgar e criticar aqueles que servem de instrumento para a libertação do seu
irmão desta porcaria chamada mundo material.
Pergunta: Então, posso escolher o sentimento, mas se foi escrito o caminho,
tanto amando a Deu como a mente, a fatalidade acontecerá igual?
Sim, o acontecimento acontecerá igual ao que estava escrito antes, não importa como
você reaja.
Pergunta: Quando aprendemos a dizer sempre sim a Deus, então saímos do
ciclo de reencarnação?
Quando aprendemos a amar a Deus isso acontece e não quando aprendemos a dizer
apenas sim a Ele. Para sair do ciclo de encarnações é preciso louvá-Lo pelo que está
acontecendo.
De nada adianta se dizer sim como vaquinha de presépio (concordando sem
compreensão) e nem um sim lógico, com compreensão material. O sim que devemos dizer a Deus
deve ser fruto de um amor profundo pelo Pai.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 55
Portanto, quando você aprende amar a Deus sobre todas as coisas sai do ciclo de
encarnações para provas e aí iniciará um novo, só que desta vez para regeneração. É o fim da
sansara.
Agora, não fugindo do tema para outros assuntos, mas continuando a conversar sobre
causar a morte de alguém, em todas as outras situações onde se interrompa uma vida
(assassinato, eutanásia) deve ser usado o mesmo raciocínio para se compreender a Realidade.
Qualquer situação onde aconteça uma interrupção de vida será sempre esta a Realidade: carma
de quem faz, de quem recebe e de quem tem notícia.
Não importa se o instrumento da interrupção da vida‟ é uma facada, um tiro, um acidente
de automóvel ou um crime hediondo: todos os acontecimentos serão sempre ações carmáticas de
todos os espíritos envolvidos na ação direta ou indiretamente. Aliás, na hora que vocês
entenderem que não há vida sendo criada no momento em que os fatos estão ocorrendo, como
disse no início desta conversa, mas apenas as vivências de ações carmáticas pedidas pelo próprio
espírito antes da encarnação, poderão compreender a vida.
Pergunta: Mas o carma não tem a ver obrigatoriamente com aceitar as coisas.
Então, revoltar-se e buscar reverter os acontecimentos e triunfar lutando não
será também carma?
Vivenciar uma reversão das coisas, se isto estiver previsto, sim, é carma. Agora, revoltar-
se nunca é carma: é uma forma de reação do espírito a uma ação carmática que lhe proporcionará
determinado carma.
Deixa eu lhe falar uma coisa. Cristo reuniu todos os ensinamentos de Deus em duas
coisas: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Ele não falou que você
deve revoltar-se a alguma coisa para chegar ao reino do céu. Vivenciar carmas dentro da busca
espiritual é compreender que Deus está lhe proporcionando uma oportunidade de elevação, uma
oportunidade de amar e de ser amado.
Nós aprendemos hoje duas lições importantíssimas. A primeira é que a felicidade, a
elevação espiritual é um estado de espírito e não uma soma de conhecimentos. Ela é um estado
de espírito que ocorre quando o ser universal vivencia as situações da vida seguindo os
parâmetros das bem aventuranças ensinadas pelo Cristo. Só pode se considerar elevado aquele
que se declara espiritualmente pobre, aquele que só tem amor para tudo que acontece.
É preciso amar a tudo o que acontece na vida, independente do que acontece ou se este
lhe traz prazer ou dor. A elevação espiritual só acontece quando o espírito não se revolta com
nada, quando não critica nada, quando não vê injustiça nenhuma.
Aliás, mesmo sem sequer ter citado este ensinamento de Cristo, hoje estudamos o
seguinte:
“Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia
contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e contentes, porque
está guarda para vocês uma grande recompensa no céu. Pois, foi assim
mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês”.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 56
Quem segue a Cristo ama a Deus incondicionalmente. Quando se ama a Deus, ama-se o
mundo, a vida, não importando o que está acontecendo nela. Quando o espírito ama o próximo
ama a si mesmo. Esta compreensão é fundamental para a elevação espiritual. Só o amor é
resposta a tudo porque a critica, o julgamento a acusação não é resposta a nada.
O segundo grande ensinamento de hoje é que qualquer acontecimento deste mundo nada
mais é do que uma oportunidade que Deus está lhe dando para colocar em prática este amor.
Nada existe pela própria história. Ninguém mata ou queima outro, porque espírito não pode morrer
nem se queimar. Na Realidade está acontecendo uma simulação material para que todos os
envolvidos direta ou indiretamente tenham uma oportunidade para provar o seu amor a si, ao
próximo e a Deus.
Eu estou aqui me lembrando de um ensinamento de Cristo que é bem adequado a esta
nossa conversa. O mestre nos ensinou a Parábola dos Talentos.
Trata-se de um ensinamento onde um homem que vai viajar deixa sob responsabilidade de
três empregados algumas moedas daquele tempo que eram chamadas de talento. Dois colocam
estes talentos para render juros, ou seja, gastam o dinheiro que foi deixado com eles e o terceiro
esconde aquilo que estava sob sua guarda.
Nesta parábola o talento é o amor. Quando os espíritos assumem a consciência humana
Deus lhes dá certa quantidade de amor e diz: “meu filho, vá lá e gaste este amor amando ao
próximo, a Mim e a si mesmo, universalmente”. Ele age desta forma porque sabe que quando o
espírito ama transforma-se num amplificador deste amor, um multiplicador do amor divino sobre a
face da terra. No entanto, quando o espírito se revolta (não usa o amor universal) multiplica a
revolta sobre a face da Terra.
No entanto, a maioria dos espíritos que recebem o amor antes de assumir a consciência
humana, durante a vida guarda este amor escondido dentro de si mesmo para poder devolvê-lo
intacto a Deus. Mas não é isto que o Senhor quer. O que quer é que gastemos este amor amando
a Ele sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo porque só assim auxiliaremos aos
irmãos universais. Multiplicando o amor divino pelo Universo auxiliamos os irmãos espirituais.
Na hora que entendermos esta sistemática de vida e o mecanismo pelo qual a ela gira, ou
seja, o carma em ação, nós não temos mais como julgar, criticar ou acusar ninguém. Só então,
podemos provocar a nossa morte (abandonar a consciência material e assumir a espiritual) para
alcançar o renascimento em vida.
Sobre este mecanismo da vida eu costumo dizer o seguinte: o Universo, a vida humana ou
a universal é como uma máquina onde cada espírito (encarnado ou desencarnado) é uma
engrenagem. Para que a máquina produza o seu resultado perfeitamente as engrenagens
precisam ser colocadas em determinados lugares. Assim, rodando juntas fazem a máquina
funcionar perfeitamente e produzem um produto final perfeito.
O que determina a interação destas engrenagens é a lei do carma, ou seja, a justa medida
daquilo que foi plantado anteriormente. Dentro do ensinamento budista isto é conhecido como
interdependência, ou seja, a dependência de todos os envolvidos em vivenciar determinada
situação.
É esta lei que dispõe dos espíritos e que faz funcionar a máquina (universo). A lei do carma
é o motor que coloca as engrenagens no seu devido lugar e gera o movimento delas.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 57
Se esta máquina que tem o motor (carma) e as engrenagens (espíritos), precisa de um
operador. Este é Deus. É o Senhor quem opera a máquina programando o motor para fazer a
junção das engrenagens e criar a movimentação que cada uma precisa executar para alcançar o
resultado final esperado.
Sabe qual o resultado final que é alcançado com o funcionamento da máquina da vida? O
amor, o amor divino que equilibra o universo.
Isto é a vida; isto é o Universo. Na hora que você colocar isto em prática consegue atingir a
felicidade incondicional porque sabe que estará rodando junto com aquela outra engrenagem para
produzir amor e aí poderá deixar de criar revolta, desconfiança ou acusação. Saberá que não é por
acaso que se encontrou com aquela outra engrenagem (pessoa) naquele momento e que aquela
ação ocorreu não por decisão de cada um dos envolvidos. Poderá, então, compreender que foi o
Operador Supremo (Deus) que fez a junção de todos e também fez o acontecimento acontecer
daquela forma.
Casamento, nascimento, morte, estudo, moradia, tudo isto nada mais é do que encaixes de
engrenagens. Gostar, não gostar, ser feliz ou não aí é você (espírito) reagindo à rotação das
engrenagens. Esta reação servirá a Deus para direcioná-lo à próxima engrenagem com a qual
você vai girar.
Deus jamais deixará duas engrenagens juntas apenas para satisfazê-las. Ele sempre
posiciona cada uma delas de tal forma que produzam amor no final. Mesmo que para você este
amor reflita-se em um assassinato, um aborto ou um tapa na cara, o resultado do processo de
funcionamento da máquina é o amor. Você é que diz que foi outra coisa.
Pergunta: Os yogues, aqueles que se libertam da vida carnal por ela mesma,
também praticam uma forma de suicídio?
Sim, a sua ação é considerada um suicídio material para que aconteça o nascimento
espiritual.
Cristo disse bem claro: em verdade, em verdade lhes digo, quem não nascer de novo não
verá o reino do céu. No entanto, para que você nasça de novo é preciso morrer primeiro.
Sim, você precisa se suicidar. Mas, o suicídio material que estou falando não é acabar com
a vida, mas colocar o amor a Deus e ao próximo na prática. Aliás, a vida é sempre um suicídio.
Quando você não se mata materialmente como falamos, comete o suicídio espiritual, ou seja,
coloca suas vontades, seus desejos e suas verdades na prática.
Natal
Tocar no assunto natal dentro da perspectiva de alterar a realidade com a qual a
humanidade o vive, é complicado. Mas, vamos fazê-lo hoje...
A maioria tem gratas lembranças de natais da infância. A lembrança do prazer de ganhar
presente, de esperar papai Noel, de montar árvore. As lembranças destes prazeres enraízam
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 58
verdades que são difíceis de hoje destruí-las. No entanto, dentro do objetivo da reforma íntima, isto
é necessário ser realizado, apesar da dificuldade.
Para sermos fieis aos nossos propósitos precisamos buscar o carnegão mais profundo da
ferida (a raiz da humanização) que é o câncer embutido em todos que corrói e destrói a
espiritualidade do ser: a busca do prazer, da satisfação. A comemoração natalina como hoje
conhecida é um dos maiores reflexos deste câncer. Tem gente que vive o ano inteiro esperando o
natal como hoje comemorado. Mesmo aqueles que não vivem nesta espera profunda, também
aguardam esta época com ansiedade para poder ter prazer com as comemorações que são
realizadas.
Desta forma, hoje destruiremos a celebração natalina como elemento gerador de prazer e,
assim, traremos a Realidade sobre este tema que não é aquilo a que a humanidade se acostumou,
mas o verdadeiro significado do natal para o Universo.
O natal surgiu de um rito de antigas civilizações onde se comemorava o solstício. Na
verdade esta festa de hoje é oriunda de um ritual pagão, mesmo que a intenção aparente de hoje
não mais a seja.
Hoje a humanidade crê que no dia 25 de dezembro comemora o nascimento de Jesus
Cristo. Mas eu queria fazer uma pergunta para começarmos nosso estudo: quem é Jesus Cristo?
Ele é um espírito. Qualquer outra verdade que seja aplicada (mestre, filho de Deus) é adjetivo
utilizado para rotulá-lo, mas na realidade Jesus Cristo é um espírito, um ser universal.
Sendo assim podemos afirmar que ele não nasceu de José e Maria, porque nenhum
espírito nasce de mulher ou homem; não nasceu em Jerusalém, porque nenhum ser nasce na
matéria; e nem ao menos nasceu, pois todo espírito é gerado por no Universo e não no mundo
humano. Só por esta verdade primária para qualquer espiritualista a comemoração natalina já
deveria perder completamente a sua razão de ser, pois não há nascimento a ser comemorado.
Todos os mestres ensinaram que os espíritos são gerados por Deus em um tempo que se
perde na eternidade e que irão viver eternamente. Jesus, como espírito que é, portanto, não
nasceu na Terra: encarnou em uma determinada época.
Esta deve ser a Realidade para aqueles que se dizem espiritualistas e a vivência com ela é
necessária para se promover a reforma íntima, pois encarnar e nascer são coisas completamente
diferentes. A primeira leva à compreensão de uma etapa de uma existência eterna enquanto que a
segunda denota um início de existência.
Aquele que não vive dentro do Real Universal se perde em verdades individuais e dá
valores diferenciados à Realidade, criando ilusões (mayas) que lhe afasta de Deus e da felicidade
incondicional, levando-o à busca do prazer e da satisfação. A comemoração natalina é um destes
exemplos.
O ser humanizado que não aplica a Jesus Cristo a Verdade de ser um espírito que
encarnou não vive na Realidade e por isso cria a comemoração de um nascimento, do início de
uma existência. Pelas tradições humanas, a vivência com este maya (nascimento) gera, então, a
obrigação de festejar o evento. Mas, se Jesus Cristo é um espírito, não há nascimento para ser
comemorado.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 59
Portanto, a motivação básica para a celebração do natal como hoje é feita no planeta, não
existe, pois não há nascimento para ser comemorado. Ninguém nasceu: uma carne foi colocada
para fora e Deus uniu a ela um princípio inteligente que já existia anteriormente.
O espírito não nasce do homem. Aliás, no Evangelho de Tomé, Cristo afirma: quando você
vir uma pessoa que não é nascida de mulher, prostre-se porque ele é seu mestre.
Pergunta: Bem, por analogia, não há motivo para comemorarmos o nosso
aniversário na data de nascimento?
Claro que não: você não nasceu, teve um início de existência, nesta data.
Mas, continuemos...
Se Jesus não nasceu nesta data, o que se comemora, então, neste dia? A humanidade
presa à busca do prazer e ciente da Realidade poderia até gerar um novo maya: comemoremos a
encarnação de Jesus Cristo. Entretanto, mesmo esta desculpa deveria ser esfacelada por aquele
que busca a Deus (espiritualista).
Quem é Jesus Cristo? Um mestre, a verdade e a luz, o caminho a Deus, segundo suas
próprias palavras. Portanto, acreditar em um ser Jesus Cristo é irreal, pois ele não é nem um
homem nem um espírito, mas o caminho para se chegar a Deus.
Chegamos, então, a uma Realidade: Jesus Cristo é um mito. Vamos explicar esta
afirmação.
Anteriormente compreendemos que não há nascimento porque um espírito não nasce.
Para podermos continuar na destruição da ilusão natalina que vive a humanidade eu perguntaria
agora: quem disse que aquele espírito que encarnou se chama Jesus Cristo? As individualidades
universais (espíritos) não possuem individualismos e, portanto, um espírito não tem nome que o
individualize. O mestre que vivenciou aquela encarnação é um espírito elevado; identificá-lo com
qualquer outra identificação como nome, cor, sexo, religião ou características físicas é dar a ele o
que não possui, ou seja, irrealidade.
Além de não nascer, Jesus Cristo nunca existiu. Foi apenas um personagem criado pelo
Todo Universal para transmitir um ensinamento que serve de caminho a Deus, ou seja, é o nome
que rotula uma encarnação e não um espírito.
Qual o seu nome? Com certeza não é aquele que está na carteira de identidade, pois você
é um espírito e, por isso, não tem nome. Aquele rótulo que se encontra estampado lá é o nome
desta sua encarnação, do personagem fictício que você criou para viver esta encarnação ou
oportunidade de elevação espiritual. Ele é o rótulo que individualiza o conjunto de carmas, provas e
missões que serve como campo de trabalho da sua reforma íntima que o aproximará de Deus.
Isto é o seu nome, mas também o é de todo espírito que encarna. Jesus Cristo, portanto,
não é o nome de um espírito, mas o rótulo de uma encarnação que teve como objetivo exemplificar
as ações da reforma íntima que todos devem executar se quiserem promover a elevação espiritual
(caminho para Deus). Portanto, o Jesus Cristo que a humanidade acredita e adora é um mito: é
irreal.
No entanto, o espírito que vivenciou esta encarnação era um mestre, ou seja, um ser já
elevado. Por isso não podemos entender que na encarnação Jesus Cristo houvesse provas ou
expiações para serem executadas.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 60
A partir destas Realidades podemos então definir Jesus Cristo como uma missão
executada por um espírito sem nome, onde não houve nascimento algum. Vivendo com esta
Realidade destruímos a idolatria a outro que não seja o próprio Deus e acabamos com a hipocrisia
que vive hoje a humanidade, mesmo daqueles que se dizem espiritualistas.
Na Realidade Jesus Cristo é um espírito sem nome que vivenciou uma missão, ou seja, um
trabalho de Deus realizado através de um espírito elevado para nos auxiliar na caminhada da
elevação espiritual: o caminho, verdade e luz que ele citou. Somente compreendendo a Verdade
desta encarnação a humanidade poderá aprender que se quiser chegar a Deus será preciso que
cada um viva uma encarnação Jesus Cristo, não importando o nome que tenha. Cada um
necessita viver como aquele espírito viveu, ou seja, reagir aos acontecimentos da vida com os
mesmos valores que ele utilizou para poder chegar a Deus. Transformando esta Realidade em
Verdade, o ser humanizado destrói a idolatria a Cristo e pode, então, unir-se completamente ao
Pai, cumprindo o primeiro mandamento da lei de Moisés.
O natal, então, como hoje compreendido mesmo pelos religiosos (festa de comemoração
do nascimento de Jesus Cristo) é uma ilusão, algo irreal, um maya, pois se festeja um evento que
não ocorreu de um ser humano que nunca existiu.
O que estou fazendo nesta conversa? Acabando com a fé da humanidade? Não, estou
acabando com as ilusões e, conseqüentemente, destruindo todos os motivos para se comemorar o
natal como hoje é feito. Isto é necessário neste momento da reforma íntima que a humanidade
vive. Só destruindo a ilusão que vive, o ser humanizado poderá comemorar o natal dentro da
essência para o qual foi criado. Sim, o natal precisa existir, apesar de até agora termos destruído
todas as motivações que levem a esta comemoração.
Se Deus é a Causa Primária de todas as coisas, foi Ele que criou esta celebração. No
entanto, não deu a intuição ao espírito com o objetivo deste alcançar o prazer (bem material), mas
sim para que ele possa utilizá-la com uma intenção espiritual (a busca da elevação espiritual). É
sobre isto que eu quero conversar hoje: qual a intenção de Deus ao dar a humanidade a intuição
de realizar uma comemoração nesta época.
A intenção da conversa de hoje é entender o Real objetivo do comando de Deus para
haver esta celebração. Isto é necessário, pois enquanto a humanidade atrelar esta época à
necessidade de fazer presépios e montar árvores para esperar o natal, no dia vinte e cinco de
dezembro vivenciará apenas o amargor da ressaca e da dor de estômago. Este sofrimento
acontece porque a grande maioria da humanidade, além de não se lembrar do Cristo nesta época
apesar de acreditar que está comemorando o nascimento do mestre, não entende o que deve ser
feito para se aproveitar à oportunidade que Deus dá aos seus filhos.
É sobre esta oportunidade e o que precisa ser feito para se obter o máximo possível de
aproveitamento espiritual nesta época que iremos conversar hoje. No entanto, primeiro foi preciso
desmascarar as verdades criadas pelos seres humanizados sobre esta data.
Portanto, não existe Jesus Cristo nem natividade: estes elementos fazem parte do teatro
humano. Na Realidade existe um espírito, sem nome, sem cor, sem sexo, que vivenciou uma vida
encarnação missionária chamada Jesus Cristo.
Pergunta: Até porque os historiadores afirmam que a data correta não seria o
dia em que comemoramos, mas sim de quatro a sete anos antes dela.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 61
Eu não estou preocupado com datas. Não quero apontar erros na data ou na idade de
Cristo, mas quero mostrar que não existem motivos para a comemoração que a humanidade faz.
São visões bem diferentes sobre o tema.
Resumindo a partir do que vimos até aqui: não há motivos para a comemoração que hoje é
realizada, mas existe para essa época uma intuição divina para que a humanidade comemore o
nascimento de Cristo.
Sim, a intuição de Deus é para que a humanidade comemore o nascimento de Cristo, mas
essa comemoração deve ser realizada com outra busca que não o prazer. Agora que nós
desmistificamos o natal destruindo o mito Jesus Cristo e a história de nascimento, vamos entender
o que é comemorar o nascimento de Cristo.
Qual a essência da encarnação Jesus Cristo? Que papel missão desempenhou esta
encarnação na peça Divina Comédia Humana? Para entendermos isto podemos ouvir João, o
Evangelista: Jesus Cristo era o verbo.
A encarnação Jesus Cristo teve a missão de ser o verbo para a humanidade. O verbo pode
ser definido como a ação da frase. Tocar, cantar, brincar, rir e chorar são vocábulos que designam
a ação que o sujeito está praticando naquele momento.
A encarnação Jesus Cristo pode, então, ser definida como a exemplificação da ação que
os espíritos humanizados devem executar para chegar a Deus. Percorrer o caminho que leva a
Deus, ou seja, viver uma encarnação Jesus Cristo é vivenciar a existência praticando as ações que
este personagem praticou.
Não sei se estou conseguindo me fazer compreender porque palavras são muito difíceis
para a espiritualidade que vive dentro da existência sem formas. Mas, o que estou querendo
explicar é a máxima crística: eu sou o caminho a verdade e a luz, ninguém chega a Deus a não ser
através de mim. Este ensinamento quer dizer que enquanto o espírito humanizado não levar uma
existência carnal com as mesmas ações espirituais (intenção) que Jesus Cristo realizou não
chegará a Deus.
Sendo assim, quando se fala em nascimento de Cristo deve haver esta compreensão: o
início de uma determinada intencionalidade que deve ser aplicada nas ações materiais (atos). No
entanto, que intencionalidade seria esta, uma vez que João não fala que verbo era conjugado?
Pela intencionalidade dos ensinamentos crísticos e pelos mandamentos deixados pelo
mestre (amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo), nós podemos
compreender que a única intencionalidade aplicada por Cristo era amar. Cristo agiu amando
sempre. Demonstrar como se conjuga o verbo amar incondicionalmente foi à missão daquele
espírito que é conhecido pela humanidade como Jesus Cristo. Para isto viveu uma encarnação
onde exemplificou com atos e ensinamentos como se vive uma existência onde só se ame.
Esta é a Realidade que os espíritos humanizados devem viver quando se fala em Jesus
Cristo: um espírito que viveu uma determinada encarnação ou determinado papel na vida carnal
onde desempenhou como missão a função de viver amando incondicionalmente para exemplificar
a forma como cada um pode alcançar a sua elevação espiritual (ressurreição). Quando o ser
humanizado se esquece disto e vive em outra Realidade, não consegue chegar a Deus, pois “eu
sou o caminho, a verdade e a luz: ninguém chega a Deus a não ser através de mim”.
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Quem ora procurando Cristo em um crucifixo só se relaciona com matéria. Para encontrar
e se comunicar com Cristo é necessário que o espírito interpenetre no mesmo padrão vibratório
dele, ou seja, coloque o amor em ação, pois Cristo não é material, mas um rótulo que se dá ao
amor em ação.
Voltando ao nosso tema de hoje, podemos agora afirmar que acabamos de definir o que é
o Cristo da intuição de Deus para esta época (comemorar o nascimento de Cristo): a prática da
intencionalidade do amor incondicional para vivenciar os acontecimentos da vida carnal. Esta é
uma oportunidade, então, para se viver com esta intencionalidade.
Pergunta: Então os mulçumanos hinduístas e indianos vão morrer e vão para o
braseiro do mármore do inferno porque não seguem Cristo?
Esses povos não têm o exemplo Cristo, mas têm os seus próprios mestres que também
trouxeram o amor em ação. As palavras dos ensinamentos que os demais mestres trouxeram foi
adequada à compreensão de cada povo, mas a essência do ensinamento é a mesma. Estou
falando em Cristo porque aqui estou conversando com cristãos, mas o anjo Gabriel, que falou em
nome de Alá com Maomé ou Krishna que serviu de instrumento a Deus para os indianos também
falou a mesma coisa.
Por falar nisso, aplicando o que vimos hoje podemos concluir Krishna também não é um
espírito ou ser humano como hoje acreditado por seus seguidores, mas sim um espírito anônimo
que vivenciou uma missão Sri Krishna que também teve como objetivo exemplificar o amor
universal (incondicional) em ação.
Portanto, lhe respondendo, estamos falando de Cristo porque estamos falando de natal
(comemoração cristã), mas a missão básica de todos os mestres foi a mesma (ensinar o amor em
ação) e por isto tudo o que estamos falando vale para toda a humanidade, independente de
religião.
Eu não sei se vocês compreenderam a profundidade do que conversamos. O que eu fiz foi
acabar com a figura Jesus Cristo nas suas vidas. Apesar disto, não acabei com o ensinamento
deixado pelo mestre, mas apenas com o maya que tinham sobre este episódio da história
universal. Ao exterminarmos o maya que vivemos sobre a figura Jesus Cristo acabaremos
também com a idolatria a mestre que fere frontalmente o ensinamento de Moisés criando ídolos
que não sejam o próprio Deus. Enquanto você idolatrar a Cristo estará adorando ídolos ao invés de
Deus.
Este ensinamento, no entanto, não deve ser aplicado apenas a Jesus Cristo, mas a todos
aqueles (os mestres da humanidade) que servem de instrumento a Deus para ensinar o
espiritualismo e o universalismo. Por isso Salomão ensina: aos mestres devemos respeito, mas
idolatrar somente a Deus.
Este é o objetivo deste ciclo de conversas: acabar com as ilusões. Acabar com o Cristo
que você conhece e idolatra, para que possa alcançar a Realidade sobre os mestres. Só assim
poderá alcançar uma relação harmoniosa com o espírito amigo e irmão que vivenciou uma
existência missionária, extinguindo a idolatria que eles nunca pediram e rejeitaram.
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Dentro do objetivo deste ciclo de palestras estamos hoje acabando com a idolatria a figura
de Cristo e lançando você na Realidade do Universo. Para aquele que pretende realizar a elevação
espiritual de nada adianta prender-se à idolatria a Cristo. Esta forma de viver ainda faz nascer no
ser humanizado o individualismo. Para se realizar a elevação espiritual não se deve colocar Cristo
ou qualquer outro mestre no altar porque lá é o lugar de Deus e não de outro ídolo qualquer.
O Cristo universal não deve ser colocado lá, nem muito menos aquele que você idolatra:
um ser humanizado. Um Jesus Cristo que nasceu na matéria, que foi concebido sem pecado, que
aos sete anos foi falar com os mestres no templo. Tudo isto é estória; nada disso aconteceu. São
parábolas utilizadas para transmitir um ensinamento: a conjugação do verbo amar. Apegar-se a
estes acontecimentos como históricos buscando explicá-los, compreendê-los ou comprová-los, é
criar a idolatria que mutila o ensinamento básico da ação amorosa: amar a Deus sobre todas as
coisas.
O ensinamento deixado pelos mestres é verídico como instrumento da elevação espiritual,
mas para transmiti-los foram contadas estórias. Precisamos acabar com a visão de que eles fazem
parte da história e que precisam ser compreendidos pela lógica, porque senão continuaremos
jogando natais (intuições de Deus para comemorar o “nascimento do Cristo”) fora. Os buscadores
devem cessar esta procura da compreensão dos atos da encarnação Jesus Cristo. Se isto não
ocorrer ainda encontrarão trechos nos ensinamentos que, pela não compreensão lógica do
acontecimento, dirão que são falsos ou que foram alterados. Com esta ação estarão afastando de
si o próprio ensinamento, a própria razão de existir a encarnação missionária de um espírito
superior.
Quem atribui ao mestre um papel diferente de um espírito mensageiro de Deus cria a
idolatria ao mestre e quem idolatra o mestre não chega a Deus. Não existe Cristo ou Krishna, nem
suas histórias: existem espíritos sem cor, sem nome, sem sexo, que devem ser amados como
irmãos e mestres. Estes seres humanizados não devem ser considerados como o próprio Deus
vivo, mas devem ser respeitados como mestres por sua ascensão moral. Apesar desta ascensão
temporária não devem ser idolatrados, porque não são em essência melhores do que qualquer
espírito encarnado ou não, pois Deus criou a todos igualmente.
Todas as propriedades que os espíritos missionários possuem, cada princípio inteligente
do Universo também possui. Podem os espíritos em processo de elevação ainda não terem
desenvolvido determinadas propriedades, mas elas também existem dentro deles. Se isso não
fosse realidade Deus seria injusto, pois teria dotado alguns de elementos que não deu a outros.
Idolatrá-los como superior, portanto, é acusar a Deus de ser injusto, mas respeitar a ascensão
moral conseguida pelo irmão denota o amor profundo que temos pelo Pai, além de valorizar o
trabalho ao longo da existência espiritual no sentido de elevar-se daqueles que vivem as
encarnações missionárias.
A idolatria fere tudo isso. Fere o amor ao Pai e acusa o espírito que vive a encarnação
missionária de ter sido privilegiado por Deus com algo que não deu aos Seus demais filhos. É por
isso que Cristo, Krishna, Buda jamais pediram adoração a si mesmo, mas a Deus.
Enquanto o ser humanizado que busca a Deus não entender que não existe nenhum
espírito superior a ele, mas sim instrumentos de Deus que receberam esta missão pelo seu
trabalho anterior (a reforma íntima) e que a passagem na carne destes mestres não cria uma
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identidade, mas transmite apenas um ensinamento que é caminho para o Pai, ficará perdendo
tempo rezando e não promoverá a sua reforma íntima.
Começamos, portanto, a compreensão da comemoração do natal intuída por Deus
destruindo o Cristo que você conhece para dar a ele o seu real valor: um ser espiritual que já
conquistou uma elevação e que por isso merece ser respeitado e reconhecido e não idolatrado.
Pergunta: Aos homens é preciso regras precisas, pois os preceitos gerais e
muito vagos deixam muitas portas abertas a interpretações.
Amigo, deixa eu lhe responder utilizando um ensinamento do apóstolo Paulo: a lei cria o
pecado. Cada vez que você cria uma regra gera o certo e o errado para determinada circunstância.
Ao homem, o espírito que ao comer a maçã dada pela cobra objetivou possuir o poder de
Deus para determinar o certo e o errado das coisas e por isto foi expulso do paraíso, deve ser
abolido todos os preceitos para que ele possa retornar à pátria espiritual.
Ao criar regras pré-estabelecidas a humanidade impõe padrões que ferem o livre arbítrio
do espírito de interpretar o mundo do jeito que quiser. Este é um direito adquirido pelo ser
uni9versal como uma graça divina que a lei (o padrão que deve ser seguido) extingue com a
obrigação da ação de determinada forma. Enquanto nós condicionarmos o homem a raciocinar a
partir de um modelo pré-estabelecido nunca se atingirá a evolução espiritual, que é conseqüência
da escolha feita pelo livre arbítrio concedido por Deus. A prova disto é que Cristo não estabelece
padrões de ação, mas ensina na utilização do livre arbítrio espiritual criando, mas não impondo, a
opção do amor.
Se você quer e precisa se prender a regras fixas, prenda-se a esta: ame a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Pergunta: A lei natural compreende todas as circunstâncias da vida e essa
máxima não é dela senão uma parte.
A lei natural é Deus, pois a Natureza é Deus. Todos os elementos do Universo (espírito e
matéria) são artificiais, pois só Deus é natural. Desta forma a única lei que existe é a da natureza,
que nada tem a ver com as regras precisas de preceitos gerais que a humanidade cria que você
falou.
Pergunta: É o homem que Cristo se transformou com a encarnação que diz na
cruz Pai porque me abandonastes ou é o espírito que encarnou e falhou?
Nem o homem nem o espírito, mas o personagem que vivencia a missão. Esta frase foi
acrescida ao texto do personagem para mostrar que ele, enquanto se sentindo humano, se sentirá
abandonado por Deus, mas que nem por isto deve fugir da sua crucificação. Esta frase faz parte
da missão, do ensinamento que você precisa aprender: mesmo que se sinta abandonado por
Deus, beba até o último gole da sua taça sem puxar a espada (lutar contra a Realidade desejando
outras circunstâncias para você).
Não se esqueça que Cristo disse para Pedro: quem vive pela espada morre pela espada.
Quem luta contra as circunstâncias da sua vida desejando que elas fossem diferentes atrairá para
si mais momentos que não gostará.
Neste ensinamento, portanto, a base da lei do carma.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 65
Continuemos nossa conversa sobre o tem a de hoje.
A partir do momento que o ser humanizado destrói o mito Jesus Cristo fica em vã todas as
buscas arqueológicas para saber onde ele foi enterrado; torna-se vã, também, a busca de se ele
nasceu no ano que a humanidade acredita. Perde o sentido querer se adivinhar se ele era louro ou
moreno, se seu corpo possuía olhos pretos ou azuis. Encerra-se a discussão para saber se na
verdade ele nasceu numa estrebaria ou em casa, se seria possível Maria tê-lo gerado e
permanecido virgem. Toda esta busca humana é perda de tempo. É curiosidade do ser
humanizado que tem como intenção iludir-se acreditando que está buscando a espiritualidade sem
que para isto seja preciso praticar a reforma íntima.
A única coisa que pode aproximar o espírito de Deus é a reforma íntima, ou seja, a
mudança da intenção com que se vivenciam os acontecimentos da vida carnal. Quem se prende
na busca do Cristo homem não se preocupa em colocar o amor em ação e seguir o seu exemplo.
Para que o ser universal alcance a elevação espiritual deve seguir a liderança de Cristo (“pegue a
sua cruz e me siga”) colocando o amor em ação.
Estou abordando este aspecto porque na época do natal terrestre muito se questiona sobre
a personalidade Cristo. Existe o questionamento e o debate para saber se ele existiu ou não, se
veio a Terra ou não. Esta busca é mais um obstáculo a se seguir a intuição de Deus para a
comemoração do nascimento do natal. Portanto, para que alcancemos a elevação espiritual
aproveitando bem a intuição divina, devemos parar de procurar o ser humano Jesus Cristo e
compreender os ensinamentos deixados, a missão Cristo do amor em ação.
Dito isso, agora já podemos conversar a respeito do real objetivo da intuição de Deus para
a comemoração do natal, que é uma oportunidade de auxílio à elevação espiritual que a
humanidade vem jogando fora há algum tempo.
Esta é uma época na qual, no Universo, se abre um portal de apoio aos espíritos em
desenvolvimento no mundo de provas e expiações. É para aproveitar esta abertura que Deus dá a
intuição da realização do natal. Vou tentar explicar esta informação porque a palavra portal não
quer dizer porta nem buraco no espaço.
Na época que os cristãos comemoram o natal, assim como em outras épocas para aqueles
que seguem outros mestres, há uma oportunidade maior para aqueles que buscam o exercício da
fé de receberem apoio neste trabalho. Não que Deus não os apóie o tempo todo, mas nesta época
o Pai cria um diferencial que resulta num apoio maior para aqueles que realmente compreendem o
sentido do natal e buscam o exercício da fé e a ação do amor.
No entanto, como Cristo nos ensinou (bata que eu abrirei), é preciso que o buscador bata à
porta, ou seja, que ele busque o portal. Sem esta busca ele não será encontrado. Este é o
verdadeiro sentido da intuição que Deus deu à humanidade para nesta época se fazer uma
comemoração que vocês chamaram de natal: buscar o portal que traz um apoio diferenciado
àqueles que vivem para cumprir os objetivos da sua encarnação.
Só para não interpretarmos a palavra comemoração: festa de espírito não é algazarra,
fanfarronice, mas introspecção, busca a Deus e ao universal. Os espíritos entram em festa quando,
através da introspecção, entram em êxtase na ligação com Deus.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 66
Esta é a comemoração do natal: é a introspecção para se conectar com este portal e assim
conseguir mais elementos para a busca do êxtase espiritual.
Natal é um tempo de recolhimento para os cristãos, como os árabes e os hindus têm o seu.
Nestes povos este tempo pode ter nomes diferentes, mas cada um em determinada época é
intuído por Deus para buscar através de a introspecção ultrapassar o portal e banhar-se em bens
celestes que auxiliará aos espíritos humanizados a alcançar a Deus.
Isto é natal. Visto por este ângulo posso dizer que cada povo tem o seu natal, cada religião
tem o seu natal com diferentes nomes e épocas, mas todos têm um tempo de busca de
introspecção para conseguir conectar-se ao portal divino e aí se banhar no bem celeste que chega
através dele.
Natal não é árvore piscando, mão cansada de carregar presentes, farra, comida e nem
bebida. Natal não é reunião de família, mas momento de introspecção individual.
Pergunta: Mas com a educação que temos não podemos apenas acrescentar
esta busca as tradições natalinas?
Se você viver como todos viveram e vivem terá o mesmo destino de todos. É isto que
estamos falando nestes ensinamentos: é preciso ousar mudar as tradições. Ou você acha que
Francisco de Assis, Chico Xavier, que Santa Clara, Joana D‟Arc não ousaram e mudaram as
tradições do mundo que viveram?
Enquanto ficarmos presos a verdades antigas (o mundo é assim, eu fui criado assim) e não
ousar mudar os padrões na nossa vida, nada se faz espiritualmente falando.
Pergunta: O “natal” seria meditar e fazer parte de Deus na Sua essência?
Não; seria interiorizar-se para buscar compreender quem é você. Buscar compreender o
seu individualismo que está toda hora lhe cobrando que os outros se mudem e lhe sirva,
compreender que prioriza sempre suas propriedades à dos demais, etc. Nesta época é preciso
interiorizar-se para buscar esta compreensão e, assim, poder silenciar a mente. Só depois disto
pode se pensar em ligar-se a Deus.
A meditação natalina começa pela busca do auto conhecimento que os seres humanizados
não possuem, pois vivem no piloto automático (reagindo aos acontecimentos dentro de padrões
pré-estabelecidos) e não conseguem mais raciocinar os acontecimentos a partir da Realidade do
Universo.
Pergunta: Para esta introspecção não se pode reunir a família?
Eu preferia não reunir a família porque ela não é universal, mas fruto da mente. A família
individualizada (meu filho, meu pai) como hoje vivida no planeta terra é contra a vida espiritual. Por
isto Cristo pergunta: quem é minha e quem são meus irmãos? Ele ainda ensina: abandone a sua
família e me siga.
Desta forma não aconselho a reunião familiar para a introspecção, pois com a presença
dela você continuará preso a este maya e não conseguirá atingir ao auto conhecimento, ou o
conhecimento da Realidade. Dentro da busca deste conhecimento você precisa se libertar desses
laços familiares também e isto seria impossível com a presença física da parentela.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 67
Pergunta: Mas, não podemos reunir a família no sentido de estar passando
para eles esse nosso amor?
Não nesta época do natal, ou seja, não no momento que você busca a introspecção.
Realizando este trabalho com a presença do seu filho, por exemplo, o prazer gerado por
ele estar participando não a deixará absorver a felicidade universal. Você estará presa no filho e
não quebrará a verdade sobre aquele espírito, ou seja, não conseguirá, assim, o conhecimento
universal.
Pergunta: Acredito que agindo desta forma (isolando-me para a introspecção)
estaria sendo individualista, pensando em mim, e não praticando o amor ao
próximo.
Você pode amá-los convidando à introspecção, mas cada um na sua casa. Ao convidá-lo
para aproveitar a intuição de Deus para a comemoração do natal estará servindo-o e favorecendo
a oportunidade para a sua meditação. Agora, condicionando o seu serviço à presença física dele
do seu lado, não estará servindo ao próximo, mas se servindo dele, pois é você quer deste jeito.
Como disse, com a presença deles não conseguirá a introspecção perfeita, pois estará
presa no prazer: “que bom, minha família está toda aqui ao meu lado neste momento”. Crendo
nisso e sentindo isso não haverá introspecção, mas continuará vivendo na superficialidade da vida
espiritual que contempla uma família, quando não existe este elemento no Universo.
Pergunta: A adoração é resultado de um sentimento inato ou fruto de um
ensinamento?
A adoração a Deus é um sentimento inato. A adoração a um mestre ou a um anjo é um
sentimento criado, um fruto de um ensinamento.
Pergunta: Então, ousar é amar na forma que Jesus amou?
Amar tem que ser incondicionalmente. É dar a outra face, é não atirar a primeira pedra.
Amar é andar em cima das águas, é não se submeter ao jugo de um príncipe respondendo-o: o
senhor está dizendo.
Para amar incondicionalmente é preciso ousar com o preço da própria vida, se preciso for.
Pergunta: Quando o senhor fala de romper os laços familiares fala dos carnais,
pois da parentela espiritual não seria bom separarmo-nos, não é?
A parentela espiritual não é formada por filhos, mãe, pai, tia, esposa ou avó: só existem
irmãos filhos do mesmo Pai. É por isso que você precisa acabar com a família carnal: ela é
moldada por papéis que não representam a realidade da parentela espiritual.
Pergunta: Eu diria, então, que precisamos acabar com os títulos (pai e mãe)
que damos a outros espíritos e vê-los como irmãos?
Não só os títulos, mas a posse, o sentimento privilegiado, a discriminação que se tem
pelos parentes. É preciso acabar com tudo isso para se viver na família universal.
Pergunta: Mas, podemos muito bem sentir o sagrado nos seres que estão ao
nosso redor sem alterar o seu valor para nós. Isso nos une a Deus. Vendo a
centelha divina Dele em tudo podemos conviver com tudo em harmonia. Não
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concordo com o rompimento dos relacionamentos de forma física, mas sim em
nosso interior.
Desculpa, mas, então, precisamos ensinar aquilo no que você acredita a Cristo, pois ele
ensinou que devia se romper estes laços (“enquanto você não abandonar seu pai e sua mãe e
pegar sua cruz e me seguir, não servirá para ser meu seguidor”). Ele rompeu com a mãe. “Senhor,
sua mãe quer falar contigo. Minha mãe quer falar, ela que espere: eu estou falando com os filhos
de Deus, meus irmãos”.
Ele fez o que ensinou: rompeu os laços familiares e todos os sentimentos inerentes a eles.
Portanto, a sua discordância não deveria ser comigo, mas com ele.
Pergunta: Jesus andava sempre em grupos, tinha discípulos com os quais
tomava refeições. Como interpretar isso?
Companheirismo, trabalho espiritual, mas nada parecido com a adoração familiar que
vocês vivem.
Pergunta: Acabar com o papel não significa afastar fisicamente a pessoa. E a
Santa Ceia, não foi uma comemoração física com amigos físicos?
O fim do papel não gera, necessariamente, o afastamento físico. Apenas extingue a
escravidão e a posse que gera a obrigatoriedade da presença física.
Quanto a Santa Ceia, esta parábola bíblica tem um significado muito diferente do que
vocês pensam: uma comemoração. Santa Ceia não foi comemoração de nada, mas um trabalho
espiritual, uma reunião espiritual. Além disso, não estavam presentes nela apenas os apóstolos
diretos, como vocês crêem. Cristo seria muito egoísta se colocasse só os doze apóstolos para
dentro e deixasse os demais que lhe seguia para fora.
Pergunta: A Santa Ceia foi uma alegoria, ou será que só naquela data Jesus se
sentou junto com seus discípulos?
Ele se sentava toda noite. Leia o livro “Jesus no Lar” que você verá os encontros noturnos
de Cristo com seus apóstolos que não estão na Bíblia.
Portanto, quem aproveita esta época para comemorar a intuição divina buscando a
introspecção para o auto conhecimento espiritual, banha-se mais facilmente no bem celeste, o que
auxilia no processo de reforma íntima objetivando a elevação espiritual. Para não ficarmos sujeitos
às multifacetadas interpretações que o termo portal espiritual possui na Terra, vamos explicá-lo.
O planeta Terra e todos os planetas possuem ao redor de si uma aura, assim como
qualquer corpo físico. Podemos dizer que a aura planetária é composta pela soma dos sentimentos
que cada espírito sente e projeta no universo. Cada vez que um espírito, por exemplo, sente raiva
projeta este sentimento e ele se agrega à aura planetária. Apenas para compreensão, poderíamos
comparar a aura planetária à camada atmosférica que é conhecida materialmente. A fusão de
todos os sentimentos gera uma aura planetária, assim como a fusão dos gazes formam uma
atmosfera para o planeta físico.
No planeta Terra esta aura é formada por sentimentos individualistas, já que a maioria dos
seres humanizados vive neste padrão vibratório. Alegoricamente este padrão vibratório é
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considerado negro ou escuro, sem luz. A aura que envolve o planeta Terra, portanto, pode ser
descrita como escura. Por isso alguns espíritos descrevem a Terra como uma bola negra com
pontos brilhantes. Eles não falam de continentes ou do mar: falam de energias, sentimentos
emanados pelos espíritos e que são lançados na atmosfera espiritual.
Para sua sobrevivência a humanidade está preocupada com o buraco na camada de
ozônio. Isso ocorre porque nunca viu o planeta a partir do ângulo espiritual, ou seja, o resultado da
vida sentimental que a humanidade leva (o individualismo) que pode sufocar e exterminar com a
vida. Este negrume, esta escuridão, esta lama é fruto do individualismo humano: eu gosto, eu sei,
eu quero, tem que ser do meu jeito, você está errado.
Quando falamos na ação divina de abrir um portal, estamos alegoricamente descrevendo
uma ação que faz com que surja um pequeno espaço nesta aura que cerca o planeta. Além disto,
neste momento Deus conclama a todos os irmãos universais a emanarem o amor universal
dirigindo-o a este portal.
Quando o espírito ligado ao orbe terrestre entra no processo de introspecção e busca de
Deus (comemora o natal) é levado para fora deste orbe por este portal, podendo, então, banhar-se
no fruto da emanação dos irmãos universais.
Esta é a comemoração do natal intuída por Deus para o planeta. Trata-se de uma época
de meditação profunda sobre a vida, sobre os valores humanos, sobre o seu eu interior, o
espiritual. Isto é necessário para que você, cônscio dessa sua realidade espiritual, consciente do
seu papel no Universo, possa através desse portal se ligar com a espiritualidade superior e ver em
si renovada, renascida, a intenção de por em prática a ação do verbo amar.
Agora podemos entender a linha de raciocínio desenvolvida neste trabalho, ou seja, porque
foi necessária a explicação sobre a Realidade de Cristo. Antes de festejar o natal o ser
humanizado precisa destruir a figura mitológica de Jesus Cristo e a idolatria a outro espírito que
não Deus.
Este portal não está aberto a todos, mas apenas àqueles que carmaticamente merecerem
banhar-se no bem espiritual. Para isto é preciso amar a Deus acima de todas as coisas. Aqueles
que preferirem continuar amando a si acima de todas as coisas buscando o prazer individual não
terão o merecimento desta ajuda extra de Deus.
Por isto a necessidade da interiorização, da reflexão sobre o eu sou é fundamental para a
elevação espiritual. Aqueles que se ligam na espiritualidade superior desligando-se da realidade
material merecem carmaticamente receber melhores ou maiores oportunidades de conseguir
colocar a sua existência como a ação do verbo amar. Por isto continuamos afirmando que o natal é
a comemoração do Cristo renascendo. Não o Cristo homem, mas o renascimento da oportunidade
de cada um ser o Cristo, de transformar a vida numa ação amorosa.
Natal, portanto, não é árvore, presente, peru, Jingle Bell, Papai Noel, presépio, luzes
piscando, mas uma época de interiorização muito profunda para que cada um carmaticamente
consiga receber o apoio para o renascimento da sua vida Cristo, do amor em ação. Natal com
festa, Jingle Bell e peru é humano: não é espiritual e nem celeste. Dar presentes nesta data é uma
atitude humanizada, pois é a época de se receber. Amigo secreto, então, é mais individual ainda,
pois Cristo disse que devemos a amar a todos, mas escolhemos apenas um para dar presente em
nome de poupar dinheiro para si.
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Sei que muitos se chocaram com esta conversa de hoje, mas posso garantir que não
falamos nada de novo hoje. Aquilo que conversamos hoje aqui não tem nada de novo, pelo menos
no tocante àquilo que estamos falando há muito tempo. Apenas os ensinamentos anteriores foram
colocados em prática no tema natal e Jesus Cristo.
Sei que antes você já havia compreendido a nova visão (verdade) que eu passava para os
acontecimentos do mundo. Apesar disso, sempre separou temas onde não aplicava os
ensinamentos, ou seja, que imaginava que não deveriam ser alterados. Jesus Cristo e o natal são
alguns destes temas. Pela idolatria a este mestre e pela busca da vivência do prazer desta época,
você não imaginava que os ensinamentos destruidores de verdades poderiam alcançar as suas
convicções. Engano: tudo no que você acredita, sem exceções, é maya, ilusão, interpretação
humana para o espiritual.
Pergunta: Para mim temos que integrar nossa luz e nossas sombras, sem
destruir nada. Tudo faz parte de nós e devemos nos entregar a todas as nossas
partes. Para mim não temos que sutilizar nossa energia negativa, mas apenas
temos que deixar de vê-la como negativa.
Na hora que você acende uma luz o que acontece? A sombra acaba. Não há como se
acender uma luz sobre determinado ponto e manter-se ali também a sombra. Então veja, se você
integrar a sombra à luz você acaba com a sombra. Em essência é isso que estamos fazendo:
acabando com as sombras acendendo luzes.
Hoje estamos acabando com um natal que, como foi conversado anteriormente, é
originado em uma festa pagã. Apesar de Cristo combater o paganismo a humanidade comemora o
seu nascimento de forma inconseqüente através de uma festa pagã, onde a bebida, a comida e o
ganhar individual são os objetivos finais. Mas, isto já era de se esperar, pois para a humanidade o
que importa é o prazer. Desde que ela se divirta, tudo está certo, tudo está bom. Agora, se o natal
humano fosse uma época triste todos estariam repensando o natal.
Como já tinha dito antes, o natal que a humanidade vive é uma criação com a finalidade de
obter prazer. Por causa desta característica mesmo aqueles que se dizem buscadores de Deus,
mas que para isso não querem abrir mão do seu individualismo, se entregam a esta festa de corpo
e alma e não querem nem discutir este tema. Daí o sentimento que esta palestra está gerando em
cada um.
Não querer mudar-se abrindo mão das verdades que levarão o ser humanizado a alcançar
o prazer é o problema que a humanidade atual está passando. Quando eu começo a falar de uma
maneira espiritualista (fugindo do materialismo) toco nas feridas que cada ser humanizado não
quer discutir porque não quer perder o prazer. Para o ser humanizado a preocupação é não perder
a festa, a sensação de prazer oriunda da realização de um desejo. Por isso, quando entra em
contato com um ensinamento cuja base é o espiritualismo e o universalismo fica preocupado em
como será a vida quando a ação do verbo amar seja a única forma de reagir a tudo.
“Não haverá mais festa para eu ir? Não haverá mais brincadeiras, piadinhas, risadinha
falsa”? A propósito, Salomão ensina que o riso é falta de siso espiritual. A vida que estamos
descrevendo ao longo da transmissão de nossos ensinamentos é um novo mundo, uma nova
forma de viver. Não se trata de um mundo engraçadinho, formado por borboletinhas ou corações
transbordantes, mas feliz de verdade.
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O grande prêmio que alguém pode conseguir aproveitando o natal, ou seja, buscando a
introspecção para transpor o portal é conhecer a felicidade real que não conhece. Trata-se de uma
oportunidade única para o espírito encarnado encontrar a felicidade que Francisco de Assis vivia
mesmo vestindo molambos e com fome. É experimentar a felicidade que Chico Xavier conheceu
no final da vida apesar de paralisado por uma doença.
É sobre isso que estamos falando: uma oportunidade rara que é trocada porque não se
quer decepcionar a família, porque foi criado assim, porque os outros esperam esta postura de
você. Mas tudo isso é simplesmente ilusão: no dia vinte e seis de dezembro as pessoas voltaram a
pensar o que sempre pensaram de você.
Pergunta: A celebração do natal não é uma festa só para se divertir. As
pessoas que se encontram longe uma das outras aproveitam para se verem e
trocarem afetos pessoalmente. Há sempre lugar para refletir, para orar e para
meditar tal como nos outros dias.
O primeiro problema do ponto de vista espiritual sobre a sua colocação é achar que no
natal também há lugar para orar e meditar. O natal é somente para isto e para mais nada. Quando
você se distrai com alguma coisa a mais do que a introspecção não a realiza e perde grandes
oportunidades de realizar o objetivo da sua vida.
O segundo está na sua afirmação de que as pessoas que moram longe precisam desta
oportunidade para se rever. Por quê? Porque você acha que os seres humanos precisam
locomover-se para encontrarem-se. No entanto, somos todos espíritos e podemos viajar com o
pensamento. Não precisamos esperar a carne vir ao nosso encontro para podermos rever os
amigos.
É justamente porque não aproveitamos o natal, a interiorização, que são necessárias
reuniões familiares físicas. Elas criam o maya do reencontro, quando podemos estar nos
reencontrando conscientemente a qualquer momento na projeção astral, desde que alcancemos a
consciência espiritual.
Pergunta: Mas esta introspecção não pode ser feita todos os dias?
Podemos e devemos realizá-la diuturnamente, mas esta é uma época onde existe a
abertura e a congregação de amor universal emanado diretamente para o orbe terrestre. .
Veja, o espírito encarnado no estágio que vocês se encontram estão muito presos às
ilusões. Olham para as pessoas e vêem a carne imaginando que é a pessoa, ao invés de verem o
espírito que anima aquele corpo. Então, nós podemos e devemos fazer isto todo dia, mas a
dificuldade é maior porque por mais que busquemos a elevação ficamos presos por esta camada
negra que encobre o planeta e nos deixa atrelados à ilusão.
Aqueles que nesta época, não um dia específico, mas nesta época se voltam para o eu
espiritual interior aproveitam a facilidade deste portal. É isto que estamos querendo explicar.
Pergunta: A dificuldade em praticar o que você ensina com relação a estar com
os outros é porque este estar é numa condição anímica e depois difícil de ser
lembrada. Se a pessoa não possui esta condição não se lembra e continua com
saudades.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 72
Estamos andando em círculos. O espírito não tem a condição de lembrar justamente
porque vive preso na materialidade, porque quer viver esta vida dentro das características
materiais. Ter ou não a lembrança não é uma condição irrevogável. Você não tem no momento
porque acha que é o corpo, mas na hora que conseguir na meditação, na harmonização interna a
elevação suficiente se auto reconhecerá como espírito. Aí poderá se encontrar com todos e terá
consciência do que aconteceu, do que falou e ouviu, mesmo que o outro não tenha esta
consciência. O outro vai conversar com você na inconsciência dele, mas você terá a plena
consciência do que foi falado. Portanto, o que é preferível: se trocar alguns natais para poder se
estar conscientemente com alguém fora da carne, ou não tentar e ter que estar sempre se
locomovendo?
Esta questão da condição de se ter consciência do que se vive fora da carne acho que já é
por demais comprovada aos seres humanos. Ou vocês não tem conhecimento de médiuns de
desdobramento, que vão à casa de outros e descrevem como está o ambiente naquele momento?
Este médium possui a capacidade mediúnica aberta para trabalho espiritual, mas todos também
podem possuí-la se gerarem o merecimento para tanto. Aliás, no Evangelho de Tomé Cristo
ensina: é preciso que você se reconheça como filho de Deus para ser reconhecido como tal.
Pergunta: Este é um trabalho para mais de uma encarnação. Sendo vitorioso
numa encarnação o espírito será o vitorioso das lutas pretéritas.
Isso, agora você falou muito bem: isso é trabalho para mais de uma encarnação. Vou só
lhe dizer uma coisa: não existe espírito na Terra com menos de milhares de encarnações. Você já
viveu centenas ou milhares de oportunidades para viver uma encarnação Cristo. Quantas mais vai
querer ou vai esperar?
A não realização que está vinculada ao pensamento de que existem ainda outras
encarnações para realizar determinadas reformas é uma desculpa. Um dia você terá que fazer,
pois encarnar simplesmente não resolve. Por que não aproveitar esta chance de agora? Porque
imaginar que pode se encostar algumas mudanças para serem realizadas em outras vidas?
É sim, é trabalho para milhares de encarnações, mas vocês já viveram todas elas. Está na
hora de acordar.
A cura dos males físicos
- Filho, os seus pecados estão perdoados.
Alguns professores da Lei que estavam sentados ali começaram a pensar.
“Como é que esse homem tem a coragem de falar assim? Isto é blasfêmia
contra Deus! Ninguém pode perdoar pecados; só Deus tem este poder!”
Jesus, sabendo o que eles estavam pensando, disse:
- Porque vocês estão pensando isso? O que é mais fácil dizer ao paralítico: “os
seus pecados estão perdoados” ou “levante-se, pegue sua cama e ande?” Vou
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 73
mostrar a vocês que eu, o Filho do Homem, tenho poder na terra para perdoar
pecados.
Então disse:
- Levante-se, pegue a sua cama e vá para casa.
No mesmo instante, o paralítico se levantou diante de todos, pegou a sua cama
e saiu.
Neste ensinamento, Cristo trata da cura dos males físicos sob seus dois ângulos: através
de instrumentos materiais (medicina) ou por ação espiritual. Esta é a interpretação para duas
citações do texto: “os seus pecados estão perdoados” (cura espiritual) e “levante-se, pegue sua
cama e ande” (cura com instrumentos materiais).
Todas as duas frases tratam da cura de uma moléstia física que sofre um ser humano e
Cristo pergunta aos professores da lei a que é mais fácil o espírito creditar a cura: motivos
materiais ou espirituais? Para respondermos a questão, é preciso entender a doença física.
Segundo a ciência médica, as doenças físicas podem ser causadas por mau
funcionamento espontâneo de órgãos ou por agentes externos infecciosos que o provoquem.
Entretanto, para essa ciência, qualquer das duas origens, o mal é provocado por coisas materiais e
nada tem a ver com coisas espirituais. Esta afirmação científica perde o sentido quando colocamos
em prática o ensinamento da pergunta 01 de O Livro dos Espíritos: Deus é Causa Primária de
todas as coisas. Por isso, se estamos falando com espiritualistas, ou seja, com seres que
acreditam nos ensinamentos do Espírito da Verdade, precisamos analisar espiritualmente a origem
das doenças.
Os seres microscópios, segundo a ciência, não possuem inteligência para que possam
comandar seus próprios atos. Além disso, hoje a medicina já comprova que dentro de todo corpo
humano existem milhares de bactérias e vírus que permanecem ali por muitos anos e nunca
produzem doenças, enquanto que em outros o mesmo agente a causa. A partir destes
conhecimentos científicos, teríamos que creditar aos agentes infecciosos inteligência para escolher
o corpo em que devem provocar danos ou não, não é mesmo?
Acontece que na pergunta 7 de O Livro dos Espíritos é dito que as propriedades íntimas de
um elemento material depende de ordenação de Deus para que ela existe, ou seja, que um
determinado elemento material só aplicará sua propriedade se a Causa Primária assim determinar.
Sem esta compreensão, o espírito ficaria à mercê de seres não inteligentes que poderiam adulterar
o cumprimento ou não daquilo que foi programado pelo ser como provação para uma encarnação,
o que afetaria a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.
Por exemplo. Atribuindo a um vírus o poder de infectar indiscriminadamente qualquer ser
humano com a doença gripe, teríamos que acreditar que esse agente infeccioso poderia transmitir
esta doença a qualquer momento. Porém, se nesse exato momento o espírito necessitasse
vivenciar uma determinada situação como provação, o que seria do objetivo da sua encarnação?
Se por estar doente um ser humanizado cumprir o pré-determinado, ir ao local onde se
desenrolaria a situação que lhe serviria como vicissitude, como ficaria a sua provação que motiva a
existência da vida carnal para ele?
Será que este momento, que é tão importante para o ser universal, poderia deixar de
acontecer por acaso? Sim, seria por acaso que este ser não viveria aquilo do qual depende o seu
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futuro eterno, pois esta é a única explicação que se pode dar para uma ação de um agente
infeccioso não inteligente. Acontece que o Espírito da Verdade afirma que o acaso não existe.
Como fica, então, a ação dos elementos materiais?
Na verdade, todos os males que afligem um ser humanizado são congênitos, ou seja,
foram programados antes do nascimento. Essa informação está sendo alcançada pela ciência com
o conhecimento do DNA. O estudo do mapa biológico de cada célula mostra que ele traz a
informação de doenças pré-programadas que poderão aparecer ao longo da existência de um ser
humanizado. Tudo o que o ser precisa para a vivência das suas vicissitudes que comporão a sua
expiação já estão presentes neste mapa e isso ocorre quando for necessário como instrumento da
provação que gera a oportunidade do ser promover a reforma íntima e com isso alcançar a
elevação espiritual.
Portanto, todas as doenças que gerem as vicissitudes necessárias para a expiação de uma
encarnação já estão presentes no corpo humano. A partir da pré-programação dos fatos que
marcarão esta provação e sob o comando de Deus, visando exclusivamente o cumprimento das
provas que o espírito têm que fazer durante a sua vida carnal, a espiritualidade provoca a ação dos
agentes infecciosos sobre o corpo físico.
Desta forma, se o espírito necessitar provar que é capaz de superar o orgulho e a vaidade,
pode o corpo físico desde o seu nascimento ter uma limitação que faça com que o este se sinta
inferior como, por exemplo, um derrame cerebral. Com esta doença, que pode ser ativada a
qualquer momento, pois os elementos necessários para isso já estão presentes no corpo físico,
aquele ser tem as vicissitudes necessárias para a realização da sua provação.
Esta é a realidade sobre a questão das doenças com o qual o ser humanizado convive ao
longo da vida carnal. Todas os elementos para que ela surja estão presentes dentro do corpo e
são ativadas de fora para dentro no momento que isso se fizer necessário para o aproveitamento
da encarnação como instrumento da elevação espiritual. Porém, a programação do quadro clínico
do corpo físico não se retrata apenas nas doenças congênitas. Os males adquiridos ao longo da
vida que não dependem da ação de vírus ou bactérias também acontecem seguindo esta
dinâmica.
Durante a existência diversas provas serão executadas pelo espírito. Elas possuem
características diferentes e, por isso, pode o ser muitas vezes ter que adquirir deficiências que o
auxilie na nova tarefa. Desta forma, os acontecimentos que causarão essas deficiências ocorrerão
no momento que isso se fizer necessário para a provação do espírito.
Além destes dois fatores, o espírito necessita de outras doenças, que sejam menos
traumáticas, mas que causem efeitos que justifiquem dentro da lógica humana a realização ou não
atos que façam a interdependência das coisas acontecerem. Neste momento, também, a doença
que impedirá ou iniciará uma ação será causada por Deus através da espiritualidade. É o caso de
uma gripe, de uma dor de cabeça ou barriga.
Dentro dessa última hipótese pode o espírito, por exemplo, merecer ou precisar
comparecer ou não a um compromisso, realizar ou não certos atos. Para auxiliar o ser em
provação, Deus determina a ação de alguns agentes infecciosos e provoca, assim, doenças que o
auxiliarão na sua jornada. Trata-se de doenças que vêm para o cumprimento do necessário para a
provação do espírito.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 75
São, portanto, três tipos de doenças que podem influir no destino de um ser humanizado
(infecciosas traumáticas, não traumáticas e adquiridas em acontecimentos). No entanto, qualquer
que seja a hipótese, ela tem sempre uma origem comum: os sentimentos que o espírito nutre
(merecimento e necessidade). Qualquer que seja o mal, congênito, adquirido durante a existência
carnal ou não traumática, Deus só a proporcionará àqueles que mereçam ou precisem dela para
cumprir a sua parte dentro da vida universal.
Compreendida a ação dos agentes infecciosos, podemos entender quando Cristo afirma
que uma das formas de curar os doentes é dizer: seus pecados estão perdoados. Essa afirmação
pode ser entendida como: o merecimento que levou à doença foi extinto.
Pecados são ações de um espírito que não se coadunam com a Constituição Universal:
amar a Deus, a si e aos outros. Toda ação que não se origina de um amor é um pecado, pois o ato
foi vivenciado por um sentimento individualista. Para alcançar a cura é necessário que o espírito
troque seus sentimentos pelo amor universal, universalize o resultado de sua ação.
Quando o espírito promove a troca de sentimentos, alcança a evolução espiritual. A esse
ato chamamos de reforma íntima. Com isso esse ser vencerá suas provas e poderá, então, livrar-
se da doença, que não é mais necessária, alcançando a cura.
A cura das doenças físicas, portanto, é alcançada não por meio de remédios, mas sim por
merecimento de se haver alterado os sentimentos que norteiam a vida. Com esse conhecimento,
podemos afirmar que a cura física (através de remédios) sempre dependerá da cura espiritual
(alteração dos sentimentos). Mas, não é desta forma que os seres humanos encaram a cura. Eles
acreditam que para eliminar um mau físico é necessária a intervenção da medicina através de um
médico e de um tratamento (remédios). No entanto, essa materialização do fim da doença também
é uma prova. Os elementos materiais do fim da doença existem para que o espírito na carne,
mesmo vendo sua ação, credite a Deus a causa da doença ou da cura. O médico e o tratamento
testam a fé dos espíritos na carne.
Fé é confiança absoluta e entrega total. Ter fé em Deus é ter confiança absoluta no Pai
como origem de todas as coisas, utilizando-se dos seus atributos: Justiça Perfeita, Inteligência
Suprema e Amor Sublime. Praticando esta fé, o espírito cumprirá a Constituição Universal e poderá
alcançar a cura do mal físico. Para agir dessa forma obrigatoriamente terá que abrir mão de todas
as suas emoções vivendo a sua existência apenas dentro dos preceitos do amor universal.
Ao afirmarmos isso, porém, não estamos apregoando a não ida aos consultórios ou não
ingestão de remédios. Tudo foi criado por Deus e serve como instrumento para a provação do ser.
Assim, os elementos materiais da cura também são obras de Deus.
Alguns necessitam ver a ação material para crer. Foi por isso que Cristo permitiu que Tomé
colocasse o dedo em suas feridas. Para esses, portanto, é necessária a ida ao médico e a
ingestão dos medicamentos recomendados. Entretanto, mesmo esses, precisam alcançar a
compreensão que sem a sua fé e a sua reforma a cura não será alcançada.
Apenas o diagnóstico do médico não é o suficiente para garantir a cura. Quantos vão aos
consultórios e saem de lá com a certeza de que possuem uma doença e logo depois constatam
que houve um erro? Para que o médico possa diagnosticar corretamente, é preciso que o espírito
mereça.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 76
Além do diagnóstico correto, a ingestão dos remédios recomendados não garante a cura.
Nenhum remédio pode ser considerado cem por cento eficaz. Existem casos onde o remédio
produz efeito e outros que não. Mais uma vez a fé na cura, com a reforma íntima, é a garantia
única que o ser humano pode ter dela acontecer.
Portanto, em todas as etapas da cura compreendida pela ação de elementos materiais, a
fé e a reforma dos sentimentos de um espírito são as únicas garantias que o espírito pode ter de
se curar. Estes dois preceitos só podem ser visualizados pelo espírito quando compreender a
Causa Primária da sua doença (Deus). Somente a partir desse momento entenderá que Ele será
sua cura.
Enquanto o ser imaginar que exista outra fonte das ações que não seja Deus, será um ser
humano e raciocinará baseado em conceitos (eu acho). Enquanto compreender as ações do
universo a partir do seu entendimento, necessitará que o seu desejo seja satisfeito. É baseado
nessa verdade que a doença concorre para a reforma íntima.
Quando um ser humano é alcançado por uma doença cessam as suas satisfações e ele
penetra nos sofrimentos. É o acúmulo de situações de sofrimentos que leva o espírito a procurar
Deus para o auxílio na cura. Assim sendo, além, de auxiliar no cumprimento das provas do Livro da
Vida, a própria doença é uma prova onde o espírito poderá manter a sua felicidade universal ou
não.
Sem entrarmos nas informações técnicas sobre cada doença, estes são os ensinamentos
que podem trazer a cura do mal físico de um ser humano. Resta-nos apenas responder a Cristo:
preferiremos acreditar na cura pela medicina ou no perdão dos pecados? Isso é livre-arbítrio,
escolha individual e é prova para cada um.
Ano novo
Esta palestra foi realizada no dia 25/09/2007, portanto, depois do início da
primavera.
Eu gostaria de lhes perguntar: como foram de ano novo? Estou dizendo isso porque
presumo que vocês comemoram no final de semana que passou a entrada do ano novo, não?
Participante: Festejo o ano novo muitas vezes o ano inteiro...
Participante: O ano novo judaico? Foi na semana passada...
Participante: Começou um ano novo? O ano de regeneração?
Estou falando de ano e não de mundo ou sentido de encarnação...
Para falar de ano novo tenho que começar dizendo que esta história de que o ano começa
no dia primeiro de janeiro é criação do ego. Quem criou esse calendário gregoriano foi o Papa
Gregório. Portanto, um ego.
O ano novo, por definição, marca o início de um ciclo de existência. Este ciclo começa na
primavera, quando a vida surge, passa pelo outono, chega ao ápice no verão e cai no inverno,
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 77
para novamente renascer na primavera. Por isso, a entrada na primavera é considerada o ano
novo terrestre universalmente.
Mas, falando universalmente ainda, as estações climáticas em si não importam nada. O
ano novo não começa na primavera por conta da chegada da primavera, mas sim porque neste
momento abre-se um novo ciclo de vida. Como isso acontece para vocês quando do início da
primavera, é por isso que universalmente creditamos à esta época a chegada de um ano novo, ou
seja, o início de um novo ciclo de vida.
Agora repare: o mesmo ciclo das estações (primavera, verão, outono e inverno) ocorre na
sua existência. Repare se ela não é cíclica, se as coisas da sua existência não passam por ciclos
onde nascem, crescem, chegam ao apogeu e depois terminam?
Sim, o ciclo das estações é o mesmo ciclo da vida. Tudo na vida tem este ciclo e, por isso,
quando um ciclo começa podemos dizer que é a hora do renascimento da vida de cada ou o início
do ano novo na existência de cada um.
O ano novo, portanto, não depende de determinada quantidade de tempo de existência
para acontecer. Ele pode ocorrer em um mês, uma semana, isso não o importa. O que marca a
sua presença é o início de um novo ciclo de vida.
Ele também pode ocorrer em diversos assuntos. Quantas vezes em seu trabalho já não
houve um início de vida, momentos em que as coisas caminham para frente, enquanto que em
outros aspectos sua existência estava em declínio. Sendo assim, o ano novo chegou no seu
trabalho e naquele outro aspecto você já estava entrando no declínio do ano.
Quando dizemos que a o ano novo chegou no planeta no início da primavera, estamos
generalizando. Na verdade, neste momento aconteceu o ano novo da natureza do planeta. Mesmo
que vocês humanos não comemorem esta data, a espiritualidade comemora, pois mais um ciclo
planetário começou.
Nós fizemos aqui uma grande festa... Recebemos amigos e comemoramos, claro que não com
champanhe, com festa ou ceia, mas com oração...
Holocaustos
Participante: Qual o sentido dos holocaustos?
Primeiro, precisamos entender o que é um holocausto: situação aonde chega a termo a
vida de centenas ou milhares de pessoas. Isso é um holocausto: quando muitas – uma quantidade
imensa de pessoas – tem o termo da vida em uma determinada situação, os humanos chamam
esta situação de holocaustos.
Este é o primeiro detalhe que devemos levar em conta. Mas, há um segundo detalhe que
precisamos compreender... O que é a vida? Encarnação de um espírito para realizar provas. Estas
provas são comandadas por Deus e têm a finalidade, vencendo-as, de levar o espírito a aproximar-
se do Pai. Isso é o que vulgarmente vocês chamam de vida...
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 78
Este é um detalhe importante que nos leva à compreensão da terceira premissa necessária
para compreender o tema holocausto: o que é morte? A partir do que afirmamos que é vida,
poderíamos dizer que a morte é o fim da encarnação, o fim da provação, da etapa de provas de
um espírito.
Isso é holocausto, vida e morte. Para que possamos falar de holocausto estas três
verdades precisam estar presentes, senão ficaremos presos a uma visão materialista que nada
resolve a nossa dúvida.
A partir delas, lhe dou a primeira resposta à sua pergunta: a razão de ser (sentido) do
holocausto é servir como elemento da provação do espírito. Veja bem: se ele faz parte daquilo que
vocês chamam de vida deve, portanto fazer parte da provação de determinados espíritos.
Agora, o que se busca com o holocausto? Se o sentido da vida é a realização de
provações por parte do espírito para poder aproximar-se de Deus e se o holocausto é um dos
acontecimentos possíveis numa existência carnal, o seu sentido é aproximar o espírito do Pai...
Esta é a razão da existência de um holocausto. Mas, vivê-lo apenas de nada adianta, pois
não é apenas passando por estas situações que o espírito aproxima-se de Deus. Para que isso
aconteça, é preciso que o ser universal humanizado supere as posses materiais durante os
acontecimentos... Tudo que acontece numa existência carnal é uma provação onde sempre estará
em jogo numa provação a respeito de uma posse.
Estas posses são de três formas: a posse moral - a posse da verdade, o saber, o
conhecer, o achar que está certo; a posse sentimental, que acontece quando o espírito acredita
que ama ou não algum elemento do Universo, seja material ou inteligente; e a posse de objetos
materiais, de elementos materiais do mundo carnal ou espiritual...
Todas estas três possessões são questionadas em um holocausto, tanto para os que
morrem como para aqueles que ficam e sabem dele ou tem pessoas conhecidas envolvidas. Esta
posse é moral, porque os humanos acham que sabem que aquilo é errado; é sentimental, porque
afirmam que não gostam que isso aconteça e é material, porque possuem a presença física do
outro...
Portanto, muitos são os elementos que podem estar sendo objeto de provas durante um
holocausto. É difícil dizer o que especificamente está em prova para cada um que participa ativa ou
passivamente do ato como para aqueles que têm notícias do ocorrido. Mas, uma das provas eu
tenho certeza absoluta que está presente para todos os envolvidos: o possuir a vida material. O
querer estar vivo ou querer que o outro esteja vivo...
Querer a vida para si ou para os outros: esta é uma prova muito grande para o ser
humanizado... Por mais que um ser humanizado se diga espiritualista (acredite na existência de
algo mais do que a carne), ninguém tem cem por cento de certeza da vida depois da morte. É por
isso que os seres humanizados se apegam à vida material: não querem morrer...
O holocausto é uma prova para isso: para ver se você ama mais a Deus acima do próprio
desejo de viver – e, por isso, permanece em paz e harmonizado com o mundo mesmo com a morte
sua ou de outros – e se ama o próximo, não criticando, julgando ou acusando de bárbaro ou
assassino quem voluntaria ou involuntariamente se transforma em agente da morte..
Então, de uma forma bem reduzida, porque poderíamos falar a respeito deste tema horas,
é isso que está em jogo no holocausto: uma prova para o espírito. Uma provação de todas as
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 79
possessões, mas em especial da posse da vida material: do desejo de continuar ou que outros
continuem vivos.
O resto, os corpos mutilados, as pilhas de cadáveres, a destruição das coisas materiais,
tudo isso é simplesmente ilusão, é simplesmente percepção, mais nada do que isso...
Corrupção
Participante: Sabemos que todos nós temos que resgatar nossos débitos em
novas encarnações. Como fica o resgate de um corrupto, ou melhor, a
caridade?
Você está aprisionado a idéia de resgate como pena, castigo. Na sua pergunta está
embutido o sentimento de punição, mas isto (pena, castigo) não existe no Universo. Vamos tentar,
então, primeiro entender este aspecto para só depois poder respondê-lo.
Corrupção é levar vantagem individual sobre uma coisa pública. Partindo desta definição
podemos afirmar que quem reza a Deus pedindo que o Pai faça o que ele quer é um corrupto. Isto
porque este ser está buscando levar vantagem individual sobre um bem coletivo: o amor de Deus a
todos.
Portanto, comecemos a resposta lhe tirando da idéia de que o corrupto é só quem pega o
dinheiro público e por isso precisa ser condenado. Não, corrupto é todo aquele que quer levar
vantagem individual acima do bem coletivo. Desta forma o resgate para estas infrações espirituais
não se aprisiona apenas àqueles que buscam levar vantagem monetária, mas a todos que pensam
em si mesmo antes do próximo.
Creio que a visão sobre o tema que estava presente na sua pergunta já fica alterada a
partir deste ponto, não? Podemos, então, partir para o segundo aspecto: como fica o resgate
destes espíritos?
O espírito, fora da consciência material, conhece a Realidade do Universo e sabe que
Deus não é carrasco. Então, quando programa a próxima encarnação onde viverá situações de
expiação, termo que prefiro ao resgate, ou seja, situações de colheita do que plantou em outras
vidas ou nesta mesma, não pensa em ser punido nem se sente desta forma.
O espírito liberto da consciência material sabe que precisa viver aquela situação por dois
motivos. Primeiro porque é a justa medida daquilo que ele mesmo semeou anteriormente e,
segundo, porque sabe que somente vivenciando-a poderá evoluir espiritualmente. Portanto, sabe
que aquilo faz parte da sua necessidade espiritual.
Ele não pede a provação como pena, castigo, mas implora por ela junto ao Pai como uma
oportunidade de elevação espiritual e vê na ação de Deus (Causa Primária de todas as coisas),
que o faz vivenciar a situação pedida, o fruto do Seu amor por todos os filhos concedendo sempre
novas oportunidades àqueles que um dia transviaram-se.
Só esta leve análise deveria já lhe fazer entender que o sentido da sua pergunta, ou seja, a
punição por ter sido corrupto não existe. Isto por que o espírito liberto da sua condição material não
se sente penalizado, mas compreende que está recebendo uma nova chance de elevação. Por
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 80
isto, ele coloca em suas vidas futuras estes acontecimentos com felicidade espiritual e não em
sofrimento.
Mas, vamos nos aprofundar mais no assunto? As situações carmáticas, ou seja, as
situações de expiações são maiores do que os carmas individuais, pois existem os carmas
coletivos. Acontecimentos com povos ou nações são situações carmáticas que todos aqueles que
vivem neste local ou raça precisavam passar e por isso nasceram (encarnaram) naquela
coletividade.
Eu estou dizendo isso porque a sua pergunta certamente foi motivada pela situação do seu
país onde o governo está aparecendo como corrupto. A corrupção que hora se tem notícia no
Brasil é uma situação carmática desta nação. Vamos, então, abordar este tema continuando na
resposta à sua pergunta.
Cristo nos ensinou que devemos respeitar os governantes porque eles foram escolhidos
por Deus para aquele povo. Isto está nos Evangelhos e nas Epístolas de Paulo. Deste
ensinamento podemos retirar uma máxima: cada povo tem o governo que merece não como
castigo, mas como carma, expiação, oportunidade de elevação.
Como eu disse, anteriormente, corrupto é todo aquele que quer levar vantagem para si em
detrimento do bem estar coletivo e não só aquele que busca vantagens pecuniárias. Sendo assim,
podemos afirmar que a pátria Brasil possui uma população corrupta, ou seja, é formada por
espíritos que pensam primeiramente em si mesmos, pois é formada por espíritos em evolução, ou
seja, faz parte de um “mundo de provas e expiações”.
Desta forma, a situação que hoje vive esta população é um carma coletivo, algo que a
plêiade espiritual encarnada neste país precisava vivenciar como expiação. A corrupção do
governo de hoje foi criada por Deus para que o povo (espíritos encarnados) aprenda a amar a tudo
e todos indistintamente, vivendo a expiação de já terem sido corruptos, nesta ou em outras
existências.
Mas, para aprender a amar precisa se passar por situações que são contrárias às suas
vontades e desejos? Claro. Cristo nos ensinou: se você ama apenas aqueles que lhe querem bem,
que vantagem você tem sobre os pagãos?
Olha como mudou o sentido da sua pergunta. Na hora que ela foi feita era sensível a
conotação de culpa daqueles que estão participando deste processo. Mas, o culpado, se houver
algum, não é o deputado que levou dinheiro, mas sim a população brasileira.
Os instrumentos do escândalo participam destes acontecimentos como expiações
individuais deles, mas também como instrumentos do seu carma, ou seja, como carma coletivo da
população brasileira. Sim, é seu carma, porque se não fosse o seu carma de viver sendo
explorado, você não teria nascido neste país, mas em outro, ou não estaria aqui agora.
Esta é uma conclusão que todos que vivem no país precisam chegar para poderem
aproveitar a oportunidade de elevação que Deus está dando a esta plêiade espiritual encarnada.
Mas de nada adianta apenas sentir-se culpado: é preciso aproveitar a oportunidade e agir no
sentido de aproximar-se de Deus.
Por isto, vou alinhar a sua pergunta com a minha conversa de hoje sobre a consciência
crística. Ao invés de preservar o lado material de seu país criticando o governante, proteja a sua
consciência espiritual amando incondicionalmente a todos, sendo ele corrupto ou bonzinho.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 81
Não estou mais falando só com você que fez a pergunta, para que não se sinta
pessoalmente ferido, mas para todos os habitantes deste país. Não é o deputado que é corrupto,
mas você, como atingido pela corrupção, está vivendo o seu carma e toda expiação é uma prova
para você colocar em prática o seu amor a Deus, para testar a sua relação amorosa com o Pai
(amar e sentir-se amado por Deus).
Como dito hoje na música que ouvimos, “a cada sorriso, a cada lágrima, construo a casa
de Deus em mim”. Criticando o deputado que levou o dinheiro será que você está construindo a
casa de Deus ou será que está construindo o bem estar da pátria Brasil que, aliás, não existe?
A pátria Brasil não existe. Deus ama a todos os espíritos de forma igual e por isto o
Universo é composto por uma só família universal que não pode ser divida em territórios. Não
existem nem planetas, uma vez que o Universo é uno, que dirá pátrias.
Aí está a resposta à sua pergunta que, veladamente, queria saber da pena daqueles que
hoje estão sendo alvo de denúncias de corrupção no Brasil. Saiba que mais importante do que se
preocupar em como ficará o carma de quem hoje pratica a corrupção monetária é começar a
entender porque você é vítima dos corruptos.
Participante: Agradeço a resposta.
Locutor: Nós é que agradecemos a sua participação. É importante para todos
nós as perguntas, as colocações e as respostas que ajudam a muitos.
Deixe-me só dizer mais uma coisa a esta pessoa: você deu a oportunidade para um
ensinamento a todos. Como eu disse, por favor, não se sinta agredido pelo que eu falei. Você nos
deu a oportunidade de mais uma vez comentar a mudança de posição que estamos pregando
como elevação espiritual.
Realizar a reforma íntima é fugir da realidade externa e descobrir que existe um mundo
interior que precisa ser reformado. Para isso o que cada um precisa é muito mais do que lutar com
o planeta pela realidade material externa, mas mudar o seu interior. Para isso é preciso descobrir
no que aquilo que está acontecendo do lado de fora pode auxiliar-lhe a mudar o que está dentro
dele.
É muito fácil criticar, acusar, brigar, dizer que todos não prestam, mas o mais difícil é cada
um se olhar no espelho despido dos conceitos sobre si mesmo e entender porque está
participando deste mundo. O que cada acontecimento representa para ele em termos de elevação
espiritual.
É muito fácil quando uma pessoa critica a outra, mas compreender porque aquilo está
acontecendo com ela, porque foi merecedora daquela situação, isso é quase impossível.
Mas, é só assim que cada um se muda, pois, enquanto esta auto-análise profunda da
Realidade espiritual da vida carnal não for feita (descobrir os meus carmas), ninguém conseguirá
se mudar. Estará sempre seguindo aqueles que não se preocupam com a vida eterna do espírito e
vivem o momento de agora como a realidade.
Participante: Esta é a resposta que eu esperava: reforma íntima em primeiro
lugar; ninguém é vítima.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 82
Mas claro, não existe outro objetivo para encarnação: você só está vivo porque está em um
processo de reforma íntima. Na hora que este processo encerrar-se a existência carnal acaba para
você, porque não há outra razão para viver.
Ontem, na palestra em São Paulo, eu disse o seguinte: “o vital na vida é descobrirmos que,
a cada ensinamento que se recebe, existe uma contra partida, ou seja, existe uma ação que tem
que ser feita”. Não adianta ninguém dizer que aprendeu algo sem que este aprendizado transforme
alguma verdade da vida.
Para falar sobre o tema utilizei, como exemplo, os encarnacionistas, ou seja, aqueles que
receberam a informação da encarnação e acreditam nela. Se você tem este conhecimento a ação
que deve ser executada em contra partida é entender que não estão ocorrendo vidas carnais, mas
encarnações de espíritos.
É muito diferente uma crença da outra, pois a vida carnal possui toda uma base ditada
pelos desejos e pela sociedade humana enquanto que numa encarnação o espírito tem como
objetivo a evolução espiritual e a encarnação têm suas bases ditadas pelo Espírito da Verdade na
pergunta 132 de O Livro dos Espíritos.
Então, quem é encarnacionista tem que acreditar que esta vida é uma encarnação e este
conhecimento tem que lhe leva a viver esta vida (criar realidades) apenas pelo que está dentro
desta resposta e mais nada. E nela não existe a obrigação de manter a integridade da pátria. Isto,
portanto, não é objetivo da encarnação.
É isto que precisa ficar bem claro, pois vivenciar o ensinamento acaba com o apego à letra
fria. Quem apenas sabe, mas não gera a partir deste saber uma movimentação está preso à letra
fria.
Guerra e paz
916. Longe de diminuir, o egoísmo cresce com a civilização, que, até, parece, o
excita e mantém. Como poderá a causa destruir o efeito? Quanto maior é o mal,
mais hediondo se torna. Era preciso que o egoísmo produzisse muito mal, para
que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo. Os homens, quando
se houverem despojado do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, sem
se fazerem mal algum, auxiliando-se reciprocamente, impelidos pelo sentimento
mútuo da solidariedade. Então, o forte será o amparo e não o opressor do fraco
e não mais serão vistos homens a quem falte o indispensável, porque todos
praticarão a lei da justiça. Esse o reinado do bem que os Espíritos estão
incumbidos de preparar. (O Livro dos Espíritos)
Repare bem no início deste ensinamento do Espírito da Verdade para que possamos ter
consciência da hipocrisia (dizer que está pensando no outro, mas está sempre pensando em si)
com que o ser humanizado vive: “era preciso que o egoísmo produzisse muito mal para que
compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo”. Para falar dessa hipocrisia lhes pergunto: o
que motivou as cruzadas, as chamadas guerras santas? Egoísmo. O que motivou os senhores de
terra em criar e sustentar a escravidão? Egoísmo.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 83
Os acontecimentos hediondos da história da humanidade sempre foram causados para
atenderem a interesses individuais de determinados seres humanizados, ou seja, viciados no
egoísmo destes. Mas, por que Deus permitiu que isso acontecesse? Segundo o Espírito da
Verdade para que você e todos os outros espíritos encarnados compreendessem o que o egoísmo
de cada um produz.
Mas, não foram apenas esses os acontecimentos hediondos que ocorreram na história da
humanidade. Na verdade eu utilizei exemplos muito distantes no tempo da realidade. Por que fiz
isso? Porque este livro é do final do século XIX, ou seja, os acontecimentos hediondos a que se
referiu o Espírito da Verdade eram esses. Depois da publicação deste livro, ou seja, depois da
divulgação deste ensinamento, já tivemos outros acontecimentos hediondos. Aconteceu a primeira
e a segunda guerra mundial, a bomba atômica e mais recentemente os atos terroristas que podem
ser considerados como acontecimentos hediondos fundamentados no egoísmo de seres
humanizados.
Estes acontecimentos recentes certamente não estavam na cabeça de Kardec quando ele
fez a pergunta ao Espírito da Verdade. No entanto, se estivessem, o ensinamento seria o mesmo:
ocorreram para que os seres humanizados compreendessem a que ponto pode levar a ação
egoísta baseada nas suas vontades individuais.
Eu pergunto então: o que você, que já conhece este ensinamento, fez com relação a estes
crimes hediondos? Agiu egoisticamente criticando aquele que foi egoísta? Mas, você não acha que
ao agir assim foi egoísta. Pelo contrário, imagina que está certo.
A humanidade precisa compreender que a crítica, mesmo que dirigida ao egoísta, é ação
do egoísmo de quem critica. Nenhuma crítica pode ser considerada sadia porque ela é
fundamentada numa verdade individualista, num padrão individual de verdade. Portanto, ação
egoísta.
Como já estudamos fartamente, Deus cria os acontecimentos da Terra para que você
compreenda a essência que causou tal ato e possa, assim, abrir mão da vivência de tal essência.
Nenhuma guerra surge no planeta se não houver uma intenção egoísta, se não houver um desejo
individual. Portanto, as guerras existem para que você aprenda onde o egoísmo pode levar e abra
mão de seus desejos próprios, mesmo que eles sejam considerados certos. Mesmo que deseje a
paz, abra mão desse desejo para não criticar o próximo, pois se o fizer, estará agindo igualzinho a
ele: fazendo guerra a quem quer guerrear.
O primeiro passo para poder abrir mão do egoísmo é abrir mão da crítica a quem age fora
dos seus padrões individuais de certo. Ame a todos e a tudo acima de qualquer padrão que tenha
como certo ou errado. Aliás, Cristo ensinou: se você só cumprimenta quem lhe ama que vantagem
tem? Até os pagãos fazem isso...
Faça a paz com quem quer a guerra, pois só assim expressará o verdadeiro amor. A
crítica, por mais que embasada em boas intenções, jamais será um ato de amor, pois ela se
fundamenta no eu, no que cada um sabe, o que cerceia o direito do outro achar diferente. Mas,
para que você possa fazer a paz com quem quer a guerra é preciso antes libertar-se do seu eu e
da vontade de que este eu se sobreponha ao do próximo.
E não me venham dizer que é impossível deixar de criticar Hitler porque ele fez a guerra ou
o presidente dos Estados Unidos porque autorizou o uso da bomba atômica, porque não são deles
estas ações. Como o Espírito da Verdade acabou de nos dizer, o egoísmo precisa gerar um crime
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 84
hediondo para ver se a humanidade cai na real e deixa de ser egoísta, de querer só para si, de
querer levar vantagem em tudo na vida. Por isso, se não fossem estes seres humanos que você
acusa teriam que ser outros, pois a guerra teve que existir e continuará existindo porque os seres
humanizados ainda agem egoisticamente no seu dia a dia.
Nós estudamos anteriormente em O Livro dos Espíritos que a justiça consiste em respeitar
o direito do outro (pergunta 875). Portanto, se você não quer que haja guerra, para ser realmente
justo, precisa respeitar o direito do outro que quer fazer a guerra e não criticá-lo ou acusá-lo por
isso. Mas, não, você acredita que precisa atacar quem quer guerrear para poder defender a paz
para que a justiça prevaleça. Na verdade não está defendendo a paz nem a justiça, mas aquilo que
você considera como paz e justo, ou seja, os seus padrões individuais de paz e justiça. Por isso
falei inicialmente em descobrir a nossa hipocrisia.
Estou usando a guerra como um exemplo apenas para entendermos, mas leve isso para
todas as coisas da vida. Você diz que quer viver bem com todos, mas para que isso aconteça
realmente tem que aprender a viver bem com todos e não exigir que os outros se fundamentem em
você para que possa existir a boa convivência. Ou seja, acredita que os outros precisem agir como
você agiria em determinada situação para que esteja em paz com eles. Para mim isto tem outro
nome: opressão, totalitarismo.
Veja como é hipócrita a sua posição. Você diz que critica o próximo por amor, por querer o
melhor para ele ou até para que a justiça aconteça, mas na verdade a sua real intenção é a total
submissão dele ao seu padrão de certo para satisfazer o seu egoísmo.
Não, a crítica jamais será fundamentada no amor ou na justiça. Cada um tem o direito e a
liberdade de agir e para que você o ame verdadeiramente precisa respeitar este direito. Mas, para
poder conceder esta liberdade ao próximo, é preciso que cada um se liberte do seu egoísmo, do
vício de olhar primeiramente para si: o que acha certo, bonito ou o que quer.
Aprenda: para o mundo espiritual não é o ato em si que vale, mas a intenção com que
cada um participa dos atos da existência carnal. E a intenção com a qual os espíritos participam
dos atos humanizados hoje devido ao seu patamar de elevação espiritual fundamenta-se no eu,
pois busca atender àquilo que cada um acha que deveria acontecer.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 85
Fazendo acontecer
Só se faz para quem merece
04 - Um homem não consegue libertar-se da ação só porque resolve não
cumpri-La; tampouco pela simples renúncia à ação se logra a perfeição. (A
verdadeira não-ação é aquela em que, ao cumprir-se, todo e qualquer motivo
pessoal ou intenção está ausente). (Bhagavad Gita, capítulo 3)
Agora o bendito senhor está falando de atos, ações. Ele diz: o homem jamais poderá
deixar de fazer alguma coisa. Isto é o que fala primeiramente. Vamos estudar esta afirmação...
Você não pode fugir das ações pré-programadas para sua existência; não pode se negar a
praticar atos que estejam escritos no seu livro da sua vida. Tal compreensão deve nos levar a
entender que as pessoas não fazem e nem podem fazer nada errado. Ninguém jamais poderá
deixar de fazer aquilo que esteja fazendo ou que fez. Isso porque quando alguém age está sempre
cumprindo a determinação de Deus para aquela ação.
Agora, ao fazer a ação, o ser humano pode anexar a ela uma paixão, positiva ou negativa.
Paixão positiva é o prazer: „eu gostei‟ do que fiz‟, „eu queria fazer isso‟, „eu fiz o que acho certo‟, „eu
fiz o que eu acho bonito‟, „eu estou me sentindo bem porque fiz aquilo‟. A paixão negativa é a
culpa: „eu não devia ter feito aquilo‟, „eu não gostei do que fiz‟, „eu acho que aquilo não deveria ter
sido feito‟.
Todas as duas não levam a Deus, não são caminhos para a universalidade. Isso porque as
duas levam o ser humano à dependência do seu querer, do seu achar, da sua paixão.
O sendeiro que leva a Deus, a Yoga perfeita acontece quando o ser humano vivencia a
ação sem intencionalidade, sem paixão: „estou fazendo porque estou fazendo‟, „não estou fazendo
porque gosto, porque quero‟ ou „não estou fazendo porque não gosto, porque não quero‟. Esta
forma de vivenciar a ação leva ao universalismo porque este ser está perfeitamente sintonizado
com aquele momento, com o Universo.
Não importa o que você está fazendo. O que importa é que você está fazendo aquilo. Isso
é uma verdade fria. Agora se desta ação universal você tirar um lucro próprio, seja ele positivo ou
negativo, seja um prazer ou a culpa, não participou daquela ação dentro do sendeiro da elevação
espiritual.
Participante: Eu não entendo. Se os atos são dados de acordo com os nossos
sentimentos, de repente, por causa de um determinado sentimento, pode
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 86
acontecer um que não é o melhor pra gente apenas como conseqüência de um
sentimento?
Todo ato que lhe acontece, mesmo que você não goste, é o melhor sempre.
Quando você fala „não é o melhor pra mim‟ está dizendo que Deus está lhe punindo. Isso
só poderia acontecer se Ele não fosse o amor sublime.
Participante: Eu não diria punindo, diria que estaria dando de acordo com meu
merecimento por causa do sentimento?
Dar o que não é melhor para você só poderia acontecer se Deus não fosse o amor
sublime. Suponhamos que tenha tido raiva e o Pai tenha redirecionado a sua raiva para aquela
outra pessoa. Vamos estudar este exemplo.
Você teve raiva porque escolheu raiva. Deus direcionou seu pensamento para que esta
raiva fosse aplicada para aquela pessoa. A partir daí você pratica um ato raivoso contra ela. Está
certo o meu raciocínio dentro do que tenho dito?
Participante: Sim...
Acontece que se Deus direcionou a raiva que você escolheu ter para aquela determinada
pessoa é porque ela precisava e merecia recebê-la. Ele não agiu desta forma porque aquela
pessoa era a que estava mais perto ou por qualquer outro motivo. Portanto, apesar de você ter
escolhido raiva, este acontecimento não ocorreu isoladamente dentro do Universo. Deus usou o
que você escolheu para dar a outra pessoa o que ela precisava e merecia. Assim, a sua escolha
sentimental, apesar de aparentemente errada ajudou Deus na obra geral: o campo de provas para
evolução dos espíritos.
Para que prejudicasse os outros com sua escolha sentimental seria necessário que eles
não merecessem receber aquilo. Neste caso, eles estariam sendo injustiçados e Deus, neste caso,
não poderia mais ser a Justiça Perfeita...
Participante: E a questão da culpa?
Não existe culpa. O que existe é uma situação que você não gosta e por isso se culpa. A
culpa pela prática do ato não existe: ela só acontece dentro de você porque não gostou do que
fez...
Participante: Por causa desse sentimento de culpa eu deixo de fazer atos para
outras pessoas?
Não necessariamente. O que você deixa é de ser protagonista de outros atos,
fundamentados em outros sentimentos. Passa a ser protagonista apenas daqueles que precisam e
merecem receber a sua culpa...
As aptidões
13 - As quatro castas foram criadas por Mim, segundo a aptidão (gunas) e
ações (karma) dos homens. Ainda que Eu seja o autor disso, em realidade sabe
que sou imutável e não-agente.(Bhagavad Gita, capítulo 4)
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 87
Sua aptidão depende do seu carma. Ou seja, a diferença social e intelectual dos seres
humanos faz parte da programação de Deus para o teatro da vida de cada um.
Ninguém é rico: Deus faz ficar rico quem precisa deste cenário para a sua provação. Ele
não faz alguém rico para dar o prazer. As riquezas, tanto materiais como intelectuais fazem parte
do carma daquele ser e estão nele para que ele vença o que decorre de cada aptidão. Ninguém é
médico. A aptidão para a medicina faz parte do carma do ser. Deus o fez médico para que ele
vença as coisas que a profissão de médico traz, como o orgulho, a soberba, a vaidade.
Neste mundo as diferenças entre as classes sociais jamais acabarão, pois elas são criadas
como instrumento de ação do espírito para sua reforma íntima. Portanto, enquanto houver espírito
que precisar ser pária, vai existir o pária.
Participante: Então, nós não precisamos ajudar ninguém?
Pode até ajudar, se ajudar, mas sem sofrer. Para isso é preciso saber que ele vive aquela
vida especificamente porque aquele é o carma do espírito.
A partir disso, precisamos gerar uma consciência: não adianta criticar o governo porque os
problemas sociais jamais irão acabar. Salomão, Cristo e Paulo falam isso: você tem que atender ao
governante porque cada um deles foi escolhido por Deus. Mas, isso não impossibilita a sua ação
de ajudar alguém. Apenas acaba com a obrigação de ter que ajudar, com o padrão de certo que
lhe faz julgar os outros. Por exemplo: se você vê uma pessoa em mau estado, se ajudar, ajudou,
se não ajudar, não ajudou. O que devemos é agir sem intencionalidade, sem padrões de certo.
Participante: Aconteceu uma coisa interessante outro dia. Um homem bateu
palmas na porta de minha casa pedindo ajuda. Ele disse ser pedreiro e que
trabalhava numa obra ali perto e estava precisando de dinheiro pra consertar o
pneu do carro. O valor era R$7,00. Eu entrei, peguei R$10,00 e quando voltei
pra entregar os dez reais ele disse que eram dois pneus. Então voltei e peguei
mais quatro reais e dei pra ele. Depois fiquei pensando: eu fiz aquilo tão sem
perceber e tinha certeza que em outras circunstâncias eu não faria isso jamais.
Eu acho que o cara precisava do dinheiro e eu fui instrumento para isso.
Vamos apenas consertar uma coisa. Imaginar que deu porque achava que ele precisava
do dinheiro ainda é ter uma intencionalidade. A única Realidade do que você falou é que deu o
dinheiro.
Sabe por que ele bateu na sua porta? Porque bateu. Sabe por que ele pediu dinheiro?
Porque pediu. Sabe por que você deu o dinheiro? Porque deu. Mas, por que ele não bateu em
outra porta? Porque não bateu. Por que todo mundo bate na sua porta? Não é porque o muro é
baixo, nem porque a casa é bonita: bate porque bate. Liberte-se do porque das coisas. Se ficar se
preocupando com os porquês vai continuar criando verdades com as quais passará a viver.
Mas, neste trecho tem algo que não comentamos. Krishna fala: 'Ainda que eu seja o autor
disso, em realidade sabe que sou imutável e não agente'.
Deus é imutável, ou seja, é igual sempre. Sendo assim, qualquer que seja a aptidão do ser
humanizado é o mesmo Deus que está criando. Por isso afirmo que não existe aptidão mais
importante do que outra. Tanto faz ser médico ou bandido: tudo é Deus...
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 88
Deus é Criador, mas não agente das aptidões dos seres humanizados. Ou seja, quem
determina a aptidão que um ser humanizado terá não é a vontade de Deus, mas a necessidade do
espírito. Deus gera a aptidão, mas quem causou a necessidade da riqueza ou da pobreza é o
espírito, através do seu carma.
Apenas mais um detalhe: isso vale pra tudo. Tudo o que você tem, todas as aptidões de
sua vida existem porque você precisa como agente carmático.
Ação e inação
16 – Às vezes, até mesmo os próprios sábios ficam perplexos a respeito do que
é a ação e o que é a inação. Dir-te-ei o que é a ação e entendendo-me te
libertarás do Mal. (Bhagavad Gita, capítulo 4)
Porque 'até mesmo os próprios sábios ficam perplexos a respeito do que é a ação e o que
é a inação'? Porque a diferença é muito sutil: toda ação é uma animação com intenção e a inação
é uma ação sem intenção.
Participante: como fica a questão da ação se a gente não age?
Voltemos ao que você falou antes: bateram na sua porta?
Participante: sim
Se você tiver apenas a consciência de que bateram na sua porta, teve amor. Se descobrir
que isso aconteceu porque a sua casa é bonita ou porque o muro é baixo, vivenciou um
sentimento diferente do amor. Bater a porta é ação; bater porque, como, quando ou onde é uma
intenção que você criou ao vivenciar o acontecimento. Toda vez que quiser descobrir porque algo
aconteceu estará gerando uma intenção.
Diga-me, porque você foi lá dentro agora?
Participante: porque eu tive a intenção de fazer chá.
Não, não foi por isso. Você foi porque foi, mas pôs a intenção de que foi porque queria
fazer chá. Na verdade, você não foi: Deus lhe levou.
Participante: E o pensamento de fazer o chá?
Foi-lhe dado por Deus justamente para você decidir se foi lá dentro por causa disso ou se
tem a consciência de que foi porque Deus te levou.
É o que estamos falando neste momento: até o sábio fica perplexo. Mas, por que a
perplexidade? Porque a intencionalidade é inconsciente e a ação de Deus não. Você diz que foi lá
dentro porque teve uma determinada intenção. Tem certeza disso; tem certeza de que primeiro
teve a intenção e depois foi. Nesse momento se esqueceu de Deus, porque você não poderia sair
de onde estava sem que Deus fizesse isso acontecer.
Participante: Então qual deve ser o raciocínio?
Mediante a vontade de fazer chá diga: se fizer fiz, se não fizer, não fiz. Se for fui, se não
for, não fui.
O espiritualista e o mundo humano O espiritualista e os acontecimentos da vida humana página 89
Participante: Qual a diferença entre intencionalidade e desejo?
Intenção é dizer 'eu estou com vontade de fumar'. Já o desejo age como um
condicionamento à felicidade: 'eu preciso fumar para estar feliz'.
18 - Aquele que percebe a Inação (não-ação) na Ação e vê a Ação na Inação,
esse é um Sábio entre os homens, é um yogue de verdade e pode cumprir com
todas as ações. (Bhagavad Gita, capítulo 4)
Aquele que percebe Deus agindo através dele ou através do outro, vivencia a ausência de
intenção na ação. Portanto, se você faz algo pra alguém e vê Deus na ação libertar-se-á da culpa
ou prazer e somente louvará ao Senhor. Mas, se jura que foi você ou o outro que fez, diz que
conhece qualquer um e sabe do que eles são capazes, não verá a ação de Deus e estará preso à
intencionalidade.
Sendo assim, enquanto você não matar todos os registros que estão na sua memória
sobre você mesmo e os outros, não vai ver Deus agindo através de qualquer um. E, enquanto não
ver Deus agindo através de qualquer ser humano, inclusive você, não se sentirá amado. Enquanto
não se sentir amado, não vai ser feliz.
Refugie-se em Deus, pois tudo é Ele quem faz. Seja quem for, todos são Deus.
Ver Deus agindo é alcançar a inação.
Atos meritórios
28. Porém, aqueles homens de atos meritórios, cujos pecados se extinguiram e
que estão livres dos pares de opostos, esses me adoram com firme resolução.
(Bhagavad Gita, capítulo 7)
É voz comum dentre as religiões e doutrinas que para se chegar a Deus é preciso praticar
atos meritórios. Só que Krishna ao detalhar a essência do ser elevado afirma: ele está livre dos
pares de opostos Isso quer dizer que os atos que geram merecimentos positivos no sentido da
elevação espiritual devem estar livres dos conceitos de bom e mal, de certo e do errado. Isso para
vocês que estão humanizados é impossível de se compreender.
Para vocês só gera merecimento positivo o ato que for considerado como bom e certo.
Mas, isso não é real. O que gera o merecimento, segundo Cristo é a intencionalidade de cada um
e não os critérios humanos que avaliam as ações. Sendo a intencionalidade universalista (servir e
amar o próximo) qualquer ato é gerador de um merecimento positivo; sendo ela egoísta, o
merecimento será negativo.
Portanto, para se gerar um merecimento positivo é preciso estar livre dos pares de
opostos. Sem esta liberdade não se alcança a apatia, a neutralidade necessária para se gerar um
merecimento. Sendo assim, o que você precisa praticar atos com uma intencionalidade neutra e
não boa ou má
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Somente aqueles que libertos dos pares de opostos conseguem viver uma intencionalidade
neutra conseguem adorar realmente ao Senhor. Enquanto para estes houver um bem ou mal, ele
adora a si mesmo, à sua personalidade humana. Para estes, a causa primária das coisas é o ego.
Participante: interessante que quando a se está em casa, sozinha, é fácil você
não fazer distinção entre o bem e mal, certo e errado, limpo e sujo. Aos poucos
você vai se acostumando e vai convivendo. Agora, quando se trata do
relacionamento ser humano para ser humano, isso se torna difícil.
Realmente é difícil, muito difícil. Por quê? De nada adianta apenas constatarmos nossa
dificuldade, mas entender o porquê isso acontece. Por que é tão difícil se relacionar com os outros
sem intencionalidade? Porque a relação entre duas pessoas, mesmo aqueles que afirmam se
amar são duelos, disputas para ver quem domina o outro.
Sempre que dois humanos estão frente a frente a mente está querendo obter o outro para
gerar uma vitória e com isso a sensação do prazer. Como vocês adoram esta sensação, cedem
facilmente ao ego e vivem o que ele.
Sim, é difícil lidar com o outro em neutralidade porque você vive o desejo de ganhar gerado
pelo ego como sendo sua vontade. Quando está sozinho sabe que não tem concorrente por perto,
por isso não tem medo de perder. Neste momento relaxa e até aceita que outras pessoas tenham
o direito de decidir como querem fazer as coisas. Mas, se aquela pessoa estiver por perto, é
preciso brigar com ela para provar que você está certo e com isso viver o prazer oriundo da vitória
sobre ela.
Agora, com isso estou dizendo que está errado ao querer ganhar? Não, já que não existem
os pares de opostos, você não pode estar errado. Esta é apenas a forma humana de viver. Ela não
é certa nem errada, mas apenas não conduz a Deus.