15959528 Teoria Do Conhecimento

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAPrograma de Ps-Graduao em

    Engenharia e Gesto do Conhecimento

    Disciplina: EGC9001-10 2008/1Complexidade e Conhecimento na Sociedade em Redes

    Professores: Aires Rover, PhDTutora: Marisa Carvalho, Msc

    Aluno: Rogrio Lopes Missahia Marodim

    Resumo do Livro: Teoria do ConhecimentoHESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. 2.ed. So Paulo: Martins Fontes,

    2003.Resumo Completo

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    Consideraes Introdutrias

    As teorias do estudo da relao entre informao e conhecimento soobjeto, h muito tempo, de reflexo e exaustivo trabalho de pensadores,filsofos, cientistas e profissionais da Cincia da Informao. Ao que parece

    que h um consenso entre eles, que reside no conhecimento depender e advirda informao e que esta faz uso de um processo para chegar ao indivduo oprocesso de transmisso que poder ou no ser assimilada, tornando ela, ainformao til, ou conhecimento.

    Johannes Hessen foi um dos filsofos do sculo XX que discutiu a teoriado conhecimento luz da fenomenologia. Segundo ele, o conhecimento advmda percepo do objeto pelo sujeito. Trata, portanto, das relaes que soestabelecidas por trs elementos, o sujeito, o objeto e a sua apreenso pelosujeito. Sujeito e objeto, na viso do autor, permanecem separados,asseverando que o dualismo do sujeito e do objeto pertence essncia doconhecimento.

    Prefcio

    Estabelece que a obra originou-se nas aulas proferidas pelo autor naUniversidade de Colnia. Foi escrito em 1925. Para ele o sentido ltimo doconhecimento filosfico no tanto solucionar enigmas quanto descobrirmaravilhas.

    A teoria do conhecimento como concebe distingue-se da maior parte dasoutras sob trs aspectos. Primeiro porque pe o mtodo fenomenolgico aservio da teoria do conhecimento. Tambm, por conter uma discussodetalhada do problema da intuio, que a maior parte das exposies

    tangencia. E, por fim, por tratar no apenas da teoria geral do conhecimento,mas tambm especial.

    Introduo

    1- A essncia da filosofia

    A teoria do conhecimento uma disciplina filosfica. Para determinar seulugar no conjunto da filosofia, devemos partir de uma definio da essncia dafilosofia. A palavra filosofia provm da lngua grega e significa amor sabedoria, ou aspirao ao saber, ao conhecimento, mas excessivamentegenrico.

    Para Plato e Aristteles ela considerada pura e simplesmente comocincia, com a definio dos esticos e epicuristas, para quem a filosofiasignifica, respectivamente, aspirao excelncia e felicidade. J, paraberweg, na Idade Moderna, a filosofia a cincia dos princpios.

    Para Dilthey deve-se primeiramente buscar um contedo comum nossistemas em que se forma a representao geral da filosofia. Tais sistemasexistem. Quanto a muitas formas de pensamento, duvidoso consider-lascomo filosofia; mas no caso de numerosos outros sistemas, cala-se todadvida. Desde que se tornam conhecidos, a humanidade sempre os

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    considerou como produtos espirituais filosficos e enxergou neles, desde oprimeiro momento, a essncia da filosofia. Tais so os sistemas de Plato eAristteles, Descartes e Leibniz, Kant e Hegel. E, quando nos aprofundamosneles, deparamos com certas caractersticas essenciais comuns, apesar dasdiferenas. Encontramos uma atrao pelo todo, um direcionamento para a

    totalidade dos objetos.Esses sistemas, portanto, possuem o carter da universalidade. Alm

    disso, a atitude do filsofo com relao totalidade dos objetos uma atitudeintelectual, uma atitude de pensamento. Cabe ao filsofo conhecer o saber.Aparecem, portanto, as seguintes marcas da essncia de toda a filosofia: 1. Aatitude em relao totalidade dos objetos; 2. O carter racional, cognoscitivodessa atitude.

    Scrates chamado de criador da filosofia ocidental. Todos os seuspensamentos e energias esto voltados para a edificao da vida humanasobre a base da reflexo e do saber, que encontra desenvolvimento pleno emPlato, seu maior seguidor. Assim, a filosofia aparece em Scrates e maisainda em Plato como auto-reflexo do esprito a respeito de seus mais altosvalores tericos e prticos, os valores do verdadeiro, do bom e do belo.

    J, a filosofia de Aristteles mostra outra fisionomia. Seu esprito estprincipalmente concentrado no conhecimento cientfico e em seu objeto, o ser.No seu ncleo h uma cincia universal do ser: a filosofia primeira ou comoseria chamada mais tarde, a metafsica. Ela nos informa sobre a essncia dascoisas, a contingncia e os princpios ltimos da realidade. Se a filosofiasocrtico-platnica pode ser caracterizada como uma viso de si do esprito,devemos dizer que, em Aristteles a filosofia aparece antes de mais nadacomo viso de mundo.

    A filosofia ambas as coisa: viso de si e viso de mundo. Podemosdeterminar a essncia da filosofia dizendo: a filosofia auto-reflexo do

    esprito sobre seu comportamento valorativo terico e prtico e, igualmente,aspirao a uma inteligncia das conexes ltimas das coisas, a uma visoracional de mundo. Em uma definio indutiva, podemos dizer que a filosofia a tentativa do esprito humano de atingir uma viso de mundo, mediante aauto-reflexo sobre as funes valorativas tericas e prticas. J, podemoscompletar esse procedimento indutivo com um dedutivo. Este consiste emsituar a filosofia no contexto das funes superiores do esprito, indicar o lugarque ela ocupa no sistema da cultura como um todo. E, no sistema da cultura afilosofia tem seu lugar entre as cincias, de um lado, e a religio e a arte, deoutro. Com a religio e a arte, tem em comum o olhar dirigido totalidade doreal; com a cincia, tem em comum o carter terico.

    2. A posio da teoria do conhecimento no sistema da filosofia

    O campo da filosofia divide-se em trs partes: teoria da cincia, teoria dovalor e teoria da viso do mundo.

    A teoria do conhecimento ocupa no conjunto da filosofia um lugar nateoria da cincia. Pode ser definida como teoria material da cincia ou comoteoria dos princpios materiais do conhecimento humano. Enquanto a lgicainvestiga os princpios formais do conhecimento, as formas e leis gerais dopensamento humano, a teoria do conhecimento dirige-se aos pressupostos

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    materiais mais gerais do conhecimento cientfico. Enquanto a lgica prescindeda referncia do pensamento aos objetos e considera o pensamentopuramente em si, a teoria do conhecimento tem os olhos fixos justamente nareferncia objetiva do pensamento, na sua relao com os objetos. Enquanto algica pergunta a respeito da correo formal do pensamento, sobre sua

    concordncia consigo mesmo, com suas prprias formas e leis, a teoria doconhecimento pergunta sobre a verdade do pensamento, sobre suaconcordncia com o objeto. Tambm podemos, por isso, definir a teoria doconhecimento como a teoria do pensamento verdadeiro, por oposio lgica,definida como a teoria do pensamento correto.

    Estabelece o autor a diviso da teoria do conhecimento em geral eespecial. A geral investiga a relao do pensamento com o objeto em geral.J, a especial toma como objeto de uma investigao crtica os axiomas econceitos fundamentais em que se exprime a referncia de nosso pensamentoaos objetos.

    3. A histria da teoria do conhecimento

    s na Idade Moderna que a teoria do conhecimento aparece comodisciplina independente. O filsofo ingls John Locke deve ser considerado seufundador.

    Na filosofia continental, Immanuel Kant aparece como o verdadeirofundador da teoria do conhecimento. Em sua principal obra epistemolgica, aCrtica da razo pura (1781), tentou fornecer uma fundamentao crtica aoconhecimento das cincias naturais. O mtodo que usou foi chamado por eleprprio de mtodo transcendental. Esse mtodo no investiga a gnesepsicolgica do conhecimento, mas sua validade lgica. No pergunta, maneira do mtodo psicolgico, como surge o conhecimento, mas sim como

    possvel o conhecimento, sobre quais fundamentos, sobre quais pressupostosele repousa. A filosofia de Kant tambm chamada abreviadamente detranscendentalismo ou, ainda, de criticismo.

    Em Fichte, o sucessor imediato de Kant, a teoria do conhecimentoaparece pela primeira vez intitulada teoria da cincia. Apresenta aqueleamlgama de teoria do conhecimento e metafsica. Em contraposio a essestratamentos metafsicos da teoria do conhecimento, o neokantismo, surgido nadcada de 1860, esfora-se por separar nitidamente o questionamentometafsico do epistemolgico. O neokantismo desenvolveu a teoria kantianado conhecimento numa direo muito bem determinada. A unilateralidade dequestionamento que isso provocou fez logo surgirem numerosas correntesepistemolgicas contrrias. Vem da estarmos hoje ante uma enorme

    quantidade de direcionamentos epistemolgicos.

    TEORIA GERAL DO CONHECIMENTO

    Investigao fenomenolgica preliminar: o fenmeno do conhecimento eos problemas nele contidos

    A teoria do conhecimento, como o nome j diz, uma teoria, isto , umainterpretao e uma explicao filosficas do conhecimento humano. Devemos

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    apreender com um olhar penetrante e descrever com exatido esse fenmenopeculiar de conscincia que chamamos conhecimento.

    Conhecimento (Psicologia e Fenomenologia) Mtodo psicolgicoinvestiga os processos mentais concretos em seu curso regular e em suasrelaes com outros processos. O mtodo fenomenolgico procura apreender

    a essncia geral no fenmeno concreto. O mtodo fenomenolgico s podeoferecer uma descrio do fenmeno (objeto) do conhecimento.

    No conhecimento defrontam-se conscincia e objeto, sujeito e objeto. Oconhecimento aparece como uma relao entre esses dois elementos. Odualismo do sujeito e do objeto pertence essncia do conhecimento. Todoconhecimento visa um objeto independente da conscincia cognoscente.

    Dividimos os objetos em reais e ideais. Chamamos reais ou efetivostodos que nos so dados na experincia externa ou interna ou so inferidos apartir dela. Comparados a eles, os objetos ideais aparecem como irreais,meramente pensados. Esses objetos ideais so, por exemplo, as estruturas damatemtica. Os nmeros e as figuras geomtricas.

    Correlao entre sujeito e objeto Sujeito e objeto no se esgotam emseu ser um para o outro, mas tm, alm disso, um ser em si. No objeto, esteser em si consiste naquilo que ainda desconhecido. No sujeito, consistenaquilo que ele alm de sujeito que conhece. Alm de conhecer, ele tambmest apto a sentir e a querer. Assim, enquanto o objeto cessa de ser objetoquando se separa da correlao, o sujeito apenas deixa de ser sujeitocognoscente. Assim como a correlao entre sujeito e objeto s no dissolvel no interior do conhecimento, ela tambm s no reversvelenquanto relao de conhecimento. Em si mesma, uma reverso perfeitamente possvel. Ela ocorre de fato, na ao, pois nesse caso no oobjeto que determina o sujeito, mas o sujeito que determina o objeto. Oconhecimento significa uma relao entre sujeito e objeto. Por assim dizer,

    ambos entram em contato um com o outro: o sujeito apreende o objeto. Nadescrio fenomenolgica caracterizamos essa relao (sujeito/objeto) comouma determinao do sujeito pelo objeto. Como veremos mais tarde,numerosos e importantes tericos do conhecimento definiram a relao numsentido diametralmente oposto. Segundo eles, a situao real exatamenteinversa: no o objeto que determina o sujeito, mas o sujeito que determina oobjeto.

    Verdade A essncia do conhecimento est estreitamente ligada aoconceito de verdade. S o conhecimento verdadeiro conhecimento efetivo.Conhecimento no-verdadeiro no propriamente conhecimento, mas erro eengano.

    Psicologia (Sujeito), Lgica (Imagem), Ontologia (Objeto) O processo

    psicolgico num sujeito, o conhecimento objeto da Psicologia. Ela perguntacomo o pensamento se d e no se o pensamento verdadeiro. A lgicainvestiga as estruturas lgicas enquanto tais, sua constituio interna e suasrelaes mtuas. Ela pergunta sobre a concordncia do pensamento consigomesmo, no sobre sua concordncia com o objeto. O objeto defronta-se com aconscincia congnoscente enquanto algo que quer se trate de um se real ouideal. O ser, porm, objeto da ontologia. A ontologia no pode resolver oproblema do conhecimento, pois, assim como no podemos eliminar o objetono conhecimento, tambm no podemos eliminar o sujeito. Nem a psicologia,

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    nem a lgica, nem a ontologia so capazes, portanto, de resolver o problemado conhecimento, que algo completamente peculiar e independente.

    Ao se aprofundar na descrio do fenmeno do conhecimento, v-se,sem dificuldade que h cinco problemas principais contidos nos achadosfenomenolgicos: I a questo sobre a possibilidade do conhecimento

    humano: ser o sujeito realmente capaz de apreender o objeto? ; II a questoda origem do conhecimento: ao considerar a estrutura do sujeito cognoscente,verifica-se que a estrutura dualista: o homem um ser espiritual e dual.Distingue-se assim um conhecimento espiritual (cuja fonte a razo e umconhecimento sensvel (cuja fonte a experincia). A fonte do conhecimentohumano a razo ou a experincia? ; III a questo da essncia doconhecimento humano: o objeto que determina o sujeito ou o sujeito quedetermina o objeto? ; IV a questo sobre o tipo de conhecimento humano:alm do conhecimento racional (apreenso racional do objeto) existe outro tipo,um conhecimento em oposio ao conhecimento racional-discursivo, quepoderia se chamar de intuitivo? ; V - questo sobre o critrio da verdade: seexiste um conhecimento verdadeiro, como pode-se reconhecer sua verdade?Qual o critrio que diz em cada caso se um conhecimento verdadeiro ouno? Estes aspectos todos so objeto da presente obra.

    I - A possibilidade do conhecimento

    1. O dogmatismo (doutrina estabelecida) (Dogmatismo terico, tico ereligioso) (homem ingnuo).

    No v que o conhecimento , essencialmente, uma relao entre sujeito eobjeto. Ao contrrio, acredita que os objetos de conhecimento nos so dadoscomo tais, e no pela funo mediadora do conhecimento (e apenas por ela).Ele desconsidera esta ltima. Segundo a concepo do dogmatismo, os

    objetos da percepo nos seriam dados diretamente, corporeamente, e assimtambm os objetos do pensamento. Num caso desconsidera-se a percepo,por meio da qual determinados objetos nos so dados; no outro, desconsidera-se a funo pensante. O mesmo ocorre quanto ao conhecimento dos valores.Tambm os valores esto, para o dogmtico, pura e simplesmente a. O fatode pressuporem uma conscincia valorativa, permanece, para ele, to ocultoquanto o fato de todos os objetos de conhecimento exigirem uma conscinciacognoscente. Aqui como l, ele desconsidera o sujeito e sua funo.

    2. O ceticismo (considerar/examinar) (ceticismo absoluto, radical, metafsico)(positivismo/Comte), tico, religioso (agnosticismo) (metdico, sistemtico).

    Enquanto o dogmtico encara a possibilidade de contato entre sujeito e

    objeto como auto-evidente, o ctico a contesta. Para o ceticismo, o sujeito noseria capaz de apreender o objeto. O conhecimento como apreenso efetivado objeto seria, segundo ele, impossvel. Enquanto o dogmatismo de um certomodo desconsidera o sujeito, o ceticismo no enxerga o objeto. Seu olhar estcolado de modo to unilateral ao sujeito, funo cognoscente, quedesconhece por completo a referncia ao objeto. Enquanto o dogmatismoenche o pensador e o pesquisador de exagerada confiana, o ceticismomantm desperto o sentimento do problema.

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    3. Subjetivismo e RelativismoSubjetivismo algo que no objetivo, o ser interage com o objeto.

    Relativismo pode ser: individual onde o conhecimento particular, genrico onde o que vale para um pode valer para o todo, e ainda, pode estar sujeito afatores externos onde a verdade relativa ao local, tempo, perodo, etc.

    4. O pragmatismo (ao) (James e Nietzche).Como o ceticismo, ele tambm abandona o conceito de verdade como

    concordncia entre pensamento e ser. Entretanto, no se detm nessanegao, mas pe outro conceito de verdade no lugar do que foi abandonado.Verdadeiro, segundo essa concepo, significa o mesmo que til, valioso,promotor da vida. Para ele, o homem , antes de mais nada, um ser prtico,dotado de vontade, ativo, e no um ser pensante, terico. Seu intelecto esttotalmente a servio de seu querer e de seu agir. O intelecto no foi dado aohomem para investigar e conhecer, mas para que possa orientar-se narealidade. O que h de bom e valioso no pragmatismo justamente areferncia constante que faz a essa conexo. Essa relao estreita entreconhecimento e vida. No fundo, subjetivismo, relativismo e pragmatismo soceticismos.

    5. O criticismo (examinar, pr prova) (Kant)Ele compartilha com o dogmatismo uma confiana axiomtica na razohumana; est convencido de que o conhecimento possvel e de que averdade existe. Enquanto, porm, essa confiana induz o dogmatismo aaceitar de modo, por assim dizer, inconsciente toda afirmao da razohumana de conhecimento, o criticismo, aproximando-se do ceticismo, junta confiana no conhecimento humano em geral uma desconfiana com relao aqualquer conhecimento determinado. Ele pe prova toda afirmao da razo

    humana e nada aceita inconscientemente. Por toda parte pergunta sobre osfundamentos, e reclama da razo humana uma prestao de contas. Seucomportamento no ctico nem dogmtico, mas criticamente inquisitor ummeio termo entre a temeridade dogmtica e o desespero ctico.

    II - A origem do conhecimento

    1.O racionalismo (razo) (racionalismo teolgico; racionalismo imanente)(cincias exatas)Ponto de vista epistemolgico que enxerga no pensamento, na razo, aprincipal fonte de conhecimento humano. Segundo o racionalismo, umconhecimento s merece realmente esse nome se for necessrio e tiver

    validade universal. Esses juzos, portanto, possuem necessidade lgica evalidade universal. Esse juzo no est baseado, portanto, numa experinciaqualquer, mas no pensamento. Da resulta que os juzos baseados nopensamento, provindos da razo, possuem necessidade lgica e validadeuniversal; os outros no. Assim, prossegue o racionalista, todo conhecimentogenuno depende do pensamento. o pensamento, portanto, a verdadeirafonte e fundamento do conhecimento humano. O mundo da experincia estem permanente mudana e modificao. Conseqentemente, incapaz denos transmitir qualquer saber genuno.

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    2.O empirismo (experincia) (cincias naturais)Contrape ao racionalismo dizendo que a nica fonte do conhecimentohumano a experincia. Segundo o empirismo, a razo no possui nenhumpatrimnio apriorstico. A conscincia cognoscente no retira contedos da

    razo, mas exclusivamente da experincia. Se o racionalismo deixava-seconduzir por uma idia determinada, por um ideal de conhecimento, oempirismo parte de fatos concretos.

    3.O intelectualismo (ler dengtro)Uma tentativa de mediao entre racionalismo e empirismo encontrada

    na orientao epistemolgica que podemos chamar de intelectualismo. Separa o racionalismo o pensamento a fonte e o fundamento do conhecimento,e para o empirismo essa fonte e fundamento a experincia, o intelectualismoconsidera que ambas participam na formao do conhecimento. Como oracionalismo, ele sustenta a existncia de juzos necessrios ao pensamento ecom validade universal concernentes no apenas ao objetos ideais, mastambm aos objetos reais. Mas enquanto o racionalismo considera oselementos desses juzos, os conceitos como patrimnio a priori de nossarazo, o intelectualismo deriva esses elementos da experincia. Segundo ointelectualismo, a conscincia cognoscente l a experincia, retira seusconceitos da experincia. No empirismo entende-se que no pensamento, noest contido nada de novo, nada que seja diferente dos dados da experincia.O intelectualismo afirma exatamente o oposto. Para ele, alm dasrepresentaes intuitivas sensveis, existem tambm conceitos. Assim,experincia e pensamento constituem, conjuntamente, o fundamento doconhecimento humano.

    4.O apriorismo (a priori)O apriorismo tambm considera tanto a experincia quanto o

    pensamento como fontes do conhecimento. Apesar disso, a determinao dasrelaes entre experincia e pensamento toma, aqui, uma direodiametralmente oposto do intelectualismo. Segundo o apriorismo, nossoconhecimento apresenta, como o nome dessa tendncia j diz, elementos queso a priori, independentes da experincia. Essa tambm era decerto aopinio do racionalismo. Enquanto este, porm, considerava os fatores aprioricomo contedos, como conceitos completos, esses fatores so, para oapriorismo, de natureza formal. Eles no so contedos do conhecimento, masformas do conhecimento. Essas formas recebem seu contedo da experincia

    aqui, o apriorismo separa-se do racionalismo e aproxima-se do empirismo.5.Posicionamento crtico

    O fato que, em cada uma das teorias temos posicionamentos lgicos, e oconhecimento s pode ser fruto de misturas destas, pois como estaramospensando se no tivssemos alguns conhecimentos a priori, ou se notivssemos experimentado algo para sabermos. Ser empirista, racionalista oude uma das faces intermedirias nos leva ao conhecimento.

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    III - A essncia do conhecimento

    Conhecimento quer dizer uma relao entre sujeito e objeto. Overdadeiro problema do conhecimento, portanto, coincide com a questosobre a relao entre sujeito e objeto.

    1.Solues pr-metafsicas do problema

    a) O objetivismo

    O objeto determina o sujeito. Este deve ajustar-se quele. O sujeito decerto modo, incorpora, copia as determinaes do objeto. Isso pressupe queo objeto se coloque diante da conscincia cognoscente como algo pronto, emsi mesmo determinado. Para ele, os objetos so algo dado, apresentando umaestrutura totalmente definida que ser, por assim dizer, reconstruda pelaconscincia cognoscente.

    b) O subjetivismo

    Para o subjetivismo, o centro de gravidade do conhecimento est noobjeto. O reino objetivo das idias ou essencialidades , por assim dizer, ofundamento sobre o qual se assenta o edifcio do conhecimento. Osubjetivismo, ao contrrio, tenta ancorar o conhecimento humano no sujeito.Desloca o mundo das idias, essa encarnao dos princpios do conhecimento,para o sujeito.

    2.Solues metafsicas do problema

    a) O realismo

    Por realismo entendemos o ponto de vista epistemolgico segundo oqual existem coisas reais independentes da conscincia. Esse ponto de vista suscetvel de diversas variaes: realismo ingnuo; realismo natural; realismocrtico; realismo volitivo. Todas elas tm por base a mesma tese: h objetosreais, independentes da conscincia.

    b) O idealismo

    Concepo de que a realidade est baseada em foras espirituais, empoderes ideais. Aqui naturalmente, trataremos apenas do idealismoepistemolgico. Este equivale concepo de que no h coisas reais,independentes da conscincia. Como, aps a supresso das coisas reais, s

    restam dois tipos de objeto, a saber, os existentes na conscincia(representaes, sentimentos) e os ideais (objetos da lgica e da matemtica),o idealismo deve necessariamente considerar os pretensos objetos reais quercomo objetos existentes na conscincia, quer como objetos ideais. Daresultam em dois tipos de idealismo: subjetivo ou psicolgico e o objetivo oulgico.

    c) O fenomenalismo

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    Assim como o racionalismo e empirismo esto flagrantementecontrapostos quanto origem do conhecimento, o realismo contrape-se aoidealismo na questo sobre a essncia do conhecimento. Nesta, tambmforam feitas tentativas de reconciliar os dois oponentes. A mais importanteteve novamente em Kant seu autor. Da mesma forma como havia feito com

    relao ao realismo e o idealismo. Sua filosofia, que do ponto de vista daprimeira oposio se apresenta como apriorismo ou transcendentalismo, naperspectiva da segunda aparece como fenomenalismo. a teoria segundoqual no conhecemos as coisas como so, mas como nos aparecem.Certamente, existem coisas reais, mas no somos capazes de conhecer suaessncia. S podemos conhecer o qu das coisas, mas no o seu o qu. Ofenomenalismo, portanto, acompanha o realismo na suposio de coisas reais,mas acompanha o idealismo na limitao do conhecimento realidade dada naconscincia, ao mundo das aparncias, do que resulta a incognoscibilidade dascoisas.

    d) Posicionamento crtico

    Analisadas as categorias, se tem agora condio de um posicionamento crticono debate entre realismo e idealismo. O realismo volitivo enfatiza que o homem, antes de mais nada, um ser que quer e que age. J, o idealismo pretendefazer do homem um ser puramente intelectual. E, como mostram as soluesantagnicas dadas, de ambos os lados, por pensadores profundos, trata-se deum problema firmemente postado nos limites da capacidade humana deconhecer e que escapa a uma soluo categrica e absolutamente segura porparte do nosso limtado pensamento. Essa intuio pode ser ainda maisprofundamente justificada. Como seres que querem e agem, estamos presos oposio entre eu e no-eu, entre sujeito e objeto; impossvel, por isso,

    superar teoricamente esse dualismo, vale dizer, impossvel solucionardefinitivamente o problema sujeito objeto. Ao contrrio, devemos nos resignar,considerando como limite superior da sabedoria aquilo a que Lotze referiu-se,certa vez, como um desabrochar da realidade em nosso esprito.

    3.Solues teleolgicas do problema

    a) A soluo monista-pantesta

    Sujeito e objeto, pensamento e ser, conscincia e objeto so apenasaparentemente uma dualidade; efetivamente eles so uma unidade, apenas os

    dois lados de uma mesma e nica realidade.b) A soluo dualista-testa

    Segundo a viso dualista-testa do universo, o dualismo emprico envolvendosujeito e objeto est assentado num dualismo metafsico. Essa concepo demundo sustenta a diferena metafsica essencial entre sujeito e objeto,pensamento e ser. certo que ela tambm no considera essa duplicidadecomo ltima. esse o ponto de vista do tesmo cristo.

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    IV Os Tipos de Conhecimento

    1. O problema da intuio e sua histria

    Conhecer significa apreender espiritualmente um objeto. Essa apreenso,via de regra, no um ato simples, mas consiste numa multiplicidade de atos.A conscincia cognoscente deve, por assim dizer, rondar seu objeto a fim derealmente apreend-lo. Ela relaciona seu objeto a outros, compara-o comouros, tira concluses e assim por diante. isso que faz o pesquisador nascincias especializadas quando quer determinar seu objeto sob todos osngulos. Mas tambm isso que faz o metafsico quando quer, por exemplo,apreender a essncia da alma. Em ambos os casos, a conscinciacognoscente serve-se das mais diversas operaes mentais. Sempre se tratade um conhecimento mediato, discursivo.

    Alm do conhecimento mediato, h um imediato; se, alm do discursivo,h um intuitivo. Um conhecimento intuitivo um conhecimento, como o nomej diz, pelo olhar. Sua caracterstica consiste em que, nele, o objeto imediatamente apreendido, com ocorre principalmente na viso. Tudo que nos dado na experincia externa ou interna imediatamente aprendido por ns.

    No princpio e no final de nosso conhecimento existe uma apreensointuitiva. A apreenso imediata de uma relao como a que apontamos acimaentre dois contedos sensveis ou do pensamento intuio formal. Diferentedesta, a intuio material a que diz respeito, no simples apreenso deuma relao, mas ao conhecimento de um dado provido de contedo, de umobjeto ou fato supra-sensvel.

    Essa intuio material pode ser de vrios tipos diferentes. Em ltimainstncia, essa diferenciao est fundamentada na estrutura psquica do

    homem. A essncia psquica do homem possui trs potncias fundamentais:pensar, sentir e querer. Devemos distinguir uma intuio racional, umaemocional e uma volitiva. O rgo cognoscente no primeiro caso oentendimento, no segundo o sentimento e no terceiro a vontade. Nos trscasos ocorre uma apreenso imediata do objeto e essa apreenso que deveser expressa pela palavra viso.

    Chegamos mesma diviso quando partimos da estrutura do objeto. Todoobjeto possui trs aspectos ou elementos: o ser-assim (essentia), o ser-a(existntia) e o ter-valor. Correspondentemente, podemos falar numa intuiodo ser-assim, do ser-a e do valor. A primeira coincide com a intuio racional,a segunda com a volitiva, a terceira com a emocional.

    Um intuicionismo expresso encontrado hoje em Bergson, em Dilthey e na

    fenomenologia. O intelecto no capaz de penetrar a essncia das coisas: capaz apenas de apreender a forma matemtica e mecnica da realidade, masno seu ncleo e contedo ntimos. S a intuio capaz disso. Ela oinstinto desinteressado e tornado consciente de si mesmo. Pela intuioaprendemos a realidade a partir de dentro, penetramos a intimidade da vida,entramos em contato com o ncleo e o centro de todas as coisas e respiramosum pouco desse oceano da vida. A intuio , portanto, a chave para ametafsica.

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    Em Bergson e Dilthey a intuio tem um sentido completamente diversodaquele que possui para a fenomenologia. O que conta, nesse caso, comoobjeto de uma viso imediata no a realidade enquanto tal, no o ser-a,mas o ser-assim. O ser-a, a existentia eliminada, posta entre parntesespela fenomenologia. Seu olhar dirige-se ao ser-assim, essncia, ao eidos

    das coisas. isso que a fenomenologia acredita apreender por meio de umaviso imediata da essncia.At onde vai a intuio, a conscincia visual, vaitambm a possibilidade da ideao ou intuio da essncia correspondente.

    Enquanto Husserl reconhece apenas uma intuio racional, no sentido deintuio da essncia, Scheler assume, ao lado desta, uma intuio emocional,vendo nela o rgo para o conhecimento dos valores. Estes socompletamente vedados ao entendimento. O entendimento to cego a elesquanto o ouvido s cores. Os valores so apreendidos imediatamente pornosso esprito do mesmo modo que as cores so apreendidas pelos olhos.

    2. O correto e o incorreto no intuicionismo

    Reconhecer ou no a validade de um conhecimento intuitivo ao lado doracional e discursivo algo que depende sobretudo de como se pensa arespeito da essncia do homem. Quem v o homem como um serexclusiva ou preponderantemente terico, cuja funo pensar, tambm irreconhecer apenas o conhecimento racional como vlido. Quem desloca ocentro de gravidade do ser humano mais para o lado do sentimento e davontade, estar inclinado de antemo a reconhecer, ao lado do tiporacional-discursivo de conhecimento, um outro tipo de areenso do objeto.Estar convencido de que, ao carter multifacetado da realidade,corresponde tambm a uma multiplicidade de funes do conhecimento.

    Devemos rejeitar a intuio metafsica no sentido de que lhe d Bergson.

    No, porm, como se inexistisse algo que possamos chamar de intuiometafsica. No se pode pr em dvida a intuio metafsica como fatopsicolgico. Coisa muito diversa, porm, a pergunta sobre a validadelgica da intuio. Ela jamais pode ser o fundamento ltimo de validadepara qualquer juzo no campo terico e, em particular, na metafsica.

    Devemos tambm negar o reconhecimento intuio do ser-assim ouintuio da essncia de Husserl. Ao fazer teoria do conhecimento, como oprprio nome j diz, comportamo-nos teoricamente, e devemos dar razoa ltima palavra. Toda filosofia cientfica teria chegado ao fim sequisssemos, por exemplo, justificar o princpio de causalidade, segundo oqual todo o fenmeno tem uma causa, dizendo que entre os conceitos defenmeno e de causa existe um nexo de essncia que vemos de modo

    imediato. Reconhecer direitos a uma intuio da essncia faria a filosofiaperder sua validade universal e, em conseqncia, seu carter racional ecientfico.

    Frente intuio do ser-a de Dilthey, devemos nos posicionar de modocompletamente diverso. Ela no pertence ao campo terico, mas ao campoprtico. Como seres ativos e dotados de vontade, entramos em contatocom a realidade e a vivenciamos nos obstculos que nos ope. O que,antes de mais nada, d testemunho de que nossa concepo sobre o ser-ado mundo exterior est baseada, de fato, numa experincia interna, uma

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    vivncia imediata, a certeza imediata e inabalvel que associamos quelaconcepo.

    Ainda menos controverso que o conhecimento do mundo exterior oconhecimento sobre a existncia de nosso eu. A esse respeito, a maioriaabsoluta dos epistemlogos sustenta a opinio, formulada claramente pela

    primeira vez por Descartes, de que vivenciamos imediatamente nossaprpria existncia. Em nosso pensar e em nosso querer, vivenciamo-noscomo seres que realmente existem. Para ter certeza da prpria existncia,nenhuma inferncia necessria, apenas uma intuio simples de simesmo.

    Se passamos ao campo dos valores, ao campo esttico, a intuio geramenos polmica. Dificilmente haver disputa para saber se o contedo deum quadro, de uma obra de arte, de uma paisagem, apreendido por nsde modo imediato e emocional e se existe, portanto, uma intuio esttica.Basta uma simples reflexo para vermos que isso ocorre. Valores estticosno podem ser apreendidos discursivamente, por meio do entendimento,mas apenas intuitivamente, por meio do sentimento.

    Ao apresentar a histria do problema da intuio, vimos o significadoque a teoria do conhecimento mstico e intuitivo de Deus teve para a histriada filosofia. H uma linha quase contnua indo de Agostinho que elaboroua teoria dando continuidade a Plotino e a introduziu na mstica crist daIdade Mdia at os dias de hoje, quando Scheler, em sua obra Do eternono homem, afirma que o objetivo de seus esforos na filosofia da religio mostrar de Omo cada vez mais claro o contato da alma com Deus queAgostinho, por meio do pensamento neoplatnico, esforou-se por rastrearde modo sempre novo na experincia de seu grande corao e porapreender em palavras.

    Os representantes do intelectualismo religioso que, s reconhecem

    direitos, no campo religioso, a um conhecimento racional e discursivo,partem de um falso pressuposto. Eles confundem religio com metafsica.No campo metafsico, e ltima anlise, s h, como j vimos, conhecimentoracional. o entendimento que tem, a, a ltima palavra. Acontece,porm, que Deus no objeto da metafsica e isso desconsideradopelos filsofos que mencionamos. A metafsica ocupa-se apenas doabsoluto, do fundamento do mundo. Esse absoluto da metafsica, porm, tolo coelo diferente do Deus da religio. Aquele um ser; este , antes demais nada, um valor. E, como qualquer valor, tambm o valor-Deus nos dado exclusivamente na experincia interna. No na atitude racionaL-metafsica, mas na experincia religiosa que Deus chega condio dealgo dado.

    O intelectualismo religioso tambm defronta-se com que a certeza dohomem religioso com relao a Deus de um tipo completamente diferentedaquela ao qual pertence a certeza nascida de complexas infernciasmetafsicas. Ningum se deixou at hoje torturar por uma hiptesemetafsica; por outro lado, milhes de homens, tanto dentro quanto fora dacristandade, j deixaram sua ltima gota de sangue escorrer na areia porsua f em Deus.

    V. O critrio da verdade

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    1. Conceito de verdade

    No basta que nosso juzo seja verdadeiro. Devemos tambm alcanar acerteza de que ele verdadeiro. O que nos confere tal certeza? Como

    sabemos se um juzo verdadeiro ou falso? Essa a questo sobre o critrioou caracterstica da verdade. Antes de poder respond-la, devemos ter clarezaa respeito do conceito de verdade.

    A verdade a concordncia do pensamento consigo mesmo. Um juzo verdadeiro quando construdo segundo as leis e normas do pensamento. Deacordo com essa concepo, a verdade significa algo puramente formal. Elacoincide com a correo lgica.

    A verdade do conhecimento s pode consistir, portanto, na produo deobjetos em conformidade com as leis do pensamento, vale dizer, naconcordncia do pensamento com suas prprias leis.

    bem verdade que, segundo Kant, as sensaes deveriam sercompletamente indeterminadas e desordenadas. Mas, como j vimos,devemos pressupor no material sensvel um fundamento objetivo para o fato deaplicarmos s sensaes ora esta, ora aquela forma da intuio ou dopensamento.

    Chegamos, assim, a uma confirmao da concepo indicada logo noincio, como aquela que a conscincia natural possui do conhecimentohumano. Essa confirmao certamente significa, ao mesmo tempo, umapurificao crtica daquela concepo. Seu postulado de que o conhecimentosignifica uma relao entre um sujeito e um objeto revelou-se sustentvel.Juntamente com esse conceito de conhecimento est igualmente justificado emprincpio o conceito de verdade da conscincia natural. Para esse conceito, essencial a relao do contedo de pensamento com o objeto. Essa relao

    certamente no significa uma reproduo (aqui, a concepo natural sofre umacorreo), mas uma coordenao seguindo certas leis.A questo sobre o conceito de verdade est estreitamente ligada questo

    sobre o critrio da verdade. Isso no caso do idealismo lgico. Para ele, comovimos, verdade significa concordncia do pensamento consigo mesmo. Emque posso reconhecer essa concordncia? A resposta ser: na ausncia decontradio, pois meu pensamento cocorda consigo prprio se ( e somente se)estiver livre de contradies. Assim, o conceito imanente ou idealista deverdade arrasta necessariamente consigo um critrio de verdade a ausnciade contradio.

    A ausncia de contradio , de fato, um critrio de verdade, mas nouniversal, vlido para o conhecimento em geral; ele vale apenas para um certo

    tipo de conhecimento, para um campo determinado do conhecimento. Ocampo das cincias formais ou ideais.Esse critrio, porm, fracassa to logo tratemos no mais de objetos ideais,

    mas de objetos reais ou reais para a conscincia. Nesse caso, devemosprocurar outros critrios de verdade. Ele consiste na imediata presena de umobjeto. Por esse critrio, so verdadeiros os juzos baseados na imediatidadedo objeto a que o juzo se refere. Alm da evidncia da percepo, h tambmuma evidncia do pensamento conceitual e se podemos divisar nela um critriode verdade.

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    Muitos responderam afirmativamente a essa questo, sem maiorespreocupaes. Essa afirmao pode ter dois sentidos. Por evidncia pode-seentender tanto algo irracional quanto algo racional. No primeiro caso, evidnciasignifica o mesmo que sentimento de evidncia, isto , uma certeza imediatade carter emocional. Ela est presente em todo conhecimento intuitivo, algo

    de subjetivo e, assim, no pode pretender validade universal. Objetividade evalidade universal devem, portanto, ser muito bem distinguidas.

    Todo conhecimento cientfico possui validade universal. Pode-se quaseidentificar o conhecimento cientfico ao conhecimento universalmente vlido.Conseqentemente, no campo do conhecimento cientfico e terico, no sepode apresentar a evidncia no sentido descrito como critrio de verdade.

    No correto, porm, deslocar a evidncia para fora da conscincia, domodo como Geyser faz. O que quer que se entenda por evidncia, no sepode desconsiderar, nela a relao com a conscincia cognoscente, quer essarelao seja caracterizada, a partir do objeto ou do fato, como uma iluminao,quer seja caracterizada, a partir da conscincia, como um ver ou apreender.

    Mas existem certamente princpios do conhecimento que no se deixamreduzir s leis lgicas do pensamento. Isso vale, por exemplo, para o princpiode causalidade. No seramos capazes de dar nenhum passo no campo doser e do acontecer reais, caso no partssemos do pressuposto de que todoacontecimento desenrola-se segundo leis, de que regido pelo princpio decausalidade. Tambm nesse caso, portanto, a fundamentao do princpio noest assentada em sua evidncia, mas em sua finalidade e significaofundante com relao ao conhecimento.

    TEORIA ESPECIAL DO CONHECIMENTO1.Sua tarefa

    A teoria do conhecimento busca compreender o pensamento humanoem sua referncia objetiva, em seu relacionamento com os objetos. Assim,enquanto a teoria geral do conhecimento investiga o relacionamento de nossopensamento com os objetos de maneira geral, a teoria especial doconhecimento volta sua ateno para os contedos de pensamento em que orelacionamento com os objetos encontra sua mais elementar expresso. Elainvestiga os conceitos primitivos mais gerais com que tentamos definir osobjetos, conceitos esses que so chamados categorias.

    Na exposio da teoria especial do conhecimento, discutiremos primeiro

    a essncia das categorias, isto , a questo de sua validade objetiva, para logonos dedicarmos s diferentes tentativas de formular um sistema de categorias.Selecionaremos, ento, as duas categorias principais, substncia ecausalidade, para faz-las objeto de uma discusso especial. Afinal,investigaremos brevemente a questo das relaes entre f e conhecimento.

    2.A essncia das categoriasPara a concepo que se formule sobre as categorias, decisiva a que

    se tenha adotado quanto aos princpios epistemolgicos fundamentais. Se o

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    conhecimento humano , como ensina Aristteles, uma reproduo dosobjetos; se estes so em si mesmos determinados e dotados de forma, entoos conceitos fundamentais do conhecimento, as categorias, apresentam asdeterminaes mais gerais dos objetos, as estruturas objetivas do ser. Se, aocontrrio, o pensamento produz os objetos, como ensina Kant, as categorias

    aparecem como determinaes puras do pensamento, como formas e funesa priori da conscincia. Essas duas concepes sobre a essncia dascategorias esto em acentuada oposio. Conforme uma delas, as categoriasso formas do ser, determinaes dos objetos; conforme a outra, so formasdo pensamento, determinaes do pensamento. A primeira a concepoobjetivista e realista; a segunda, a apriorstica e idealista.

    Realizar determinaes categoriais no outra coisa seno descobrir ascaractersticas e relaes mais gerais presentes nos objetos.

    Com Eisler, podemos resumir nossa concepo dizendo que asdeterminaes dos contedos de experincia mantm relaes unvocas comos elementos transcendentes dos quais aqueles contedos dependem. Aindaque a constituio e o modo de operar desses elementos, embora pensveis,no sejam diretamente cognoscveis, temos pelo menos um conhecimentoindireto, simblico deles, uma traduo de seu ser na linguagem daconscincia. No existe, portanto, qualquer identidade ou igualdade entreconscincia cognoscente e realidade absoluta, mas uma coordenao decertas partes constituintes do ser fenomnico com o ser-em-si das coisas,sobre a qual se assenta a objetividade do conhecimento, a possibilidade de umconhecimento universalmente vlido do mesmo objeto pelos mais diferentessujeitos.

    3.O sistema das categoriasNo curso da histria da filosofia, fizeram-se muitas tentativas de compilar

    as categorias, de encontrar um sistema de categorias. A primeira tentativa foifeita por Aristteles. Ele distinguiu dez tipos de declaraes sobre o ser oucategorias: 1.substncia ou essncia, p.ex., homem, cavalo; 2.quantidade,p.ex., duas ou trs jardas de comprimento; 3.qualidade, p.ex., sbio, educado;4.relao, p.ex., menor que isto, maior que aquilo; 5.lugar, p.ex., no mercado;6.tempo, p.ex., hoje, ontem; 7.posio, p.ex., ele est em p, est sentado;8.estado, p.ex., ele est vestido, est armado; 9.ao, p. ex., ele corta;10.paixo, p.ex., ele cortado.

    Aristteles obtm essa tbua de categorias a partir das proposiesdeclarativas. As partes principais da proposio so o sujeito e o predicado.Todas as dez categorias podem se reunidas numa s proposio: O grande(quantidade) cavalo (substncia) marrom (qualidade) est (posio ou ao ou

    paixo) selado (estado) de manh (tempo) ao lado do jquei (relao) no ptio(lugar).Segundo Kant, o entendimento a faculdade de julgar. Em todo tipo de

    juzo ocorre uma conexo (sntese) entre sujeito e predicado sob umdeterminado ponto de vista. A categoria indica exatamente esse ponto devista. Segundo Kant, portanto, podemos distinguir tantos tipos de juzo quantasso as categorias.

    A mais importante busca de um sistema de categorias desde Kant foiempreendida por Eduard Von Hartmann. Ele define a essncia das categorias

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    do seguinte modo: Entendo por categoria, diz no prefcio sua Doutrina dascategorias, uma funo intelectual inconsciente de determinado tipo e modoou uma determinao lgica inconsciente que estabelece certas relaes. Ascategorias pertencem, portanto, esfera do inconsciente. apenas por seusresultados, por certos elementos formais do contedo da conscincia que elas

    penetram o campo da conscincia.Hartamann divide as categorias em categorias da sensibilidade e

    categorias do pensamento. Windelband divide as categorias em reflexivas econstitutivas. Estas so relaes que convm aos contedos em seu serindependente da conscincia, contedos que, por isso, s so recolhidos erepetidos pela conscincia. As categorias reflexivas fundamentais so,segundo Windelband, a diferena e a igualdade. As categorias constitutivasesto baseadas na relao da conscincia com o ser, tomada como princpiouniversal. Suas principais espcies so a coisidade [Dinghaftigkeit] e acausalidade.

    Uma distino que nos parece definitiva. Ns a encontraremos tanto emWindelband quanto em Hartmann. Trata-se da diviso das categorias emcategorias do pensamento reflexivo e do pensamento especulativo (Hartmann)ou em categorias reflexivas e constitutivas (Wildeband).

    Ns nos restringiremos, porm, a duas categorias fundamentais: asubstancialidade e a causalidade.

    4.A substancialidadeQuando consideramos um objeto, uma rvore, por exemplo, podemos

    afirmar diferentes qualidades dele. A rvore tem uma forma e um tamanhodeterminados, possui galhos, ramificaes e folhas, etc. Todas essaspropriedades convm ao objeto (em nosso caso, rvore), esto ligadas, deum certo modo, a ele. Em funo disso, so tambm chamados de acidentes

    (de accidere, cair sobre algo). Para diferenciar o objeto de seus acidentes, ele chamado de substncia (de substare, estar sob, servir de base a). Enquantoos acidentes nunca existem por si, mas apenas num outro objeto, assubstncias existem em si, possuem um ser independente e podem, por suavez, ser portadoras de acidentes. Costuma-se chamar essa relao dosacidentes com a subastncia de inerncia. (de inhaerere, estar ligado a).

    Assim, perante os acidentes, que mudam, a substncia aparece comoaquilo que fica, que permanece. Portanto, alm da nota caracterstica daindependncia, a substncia contm ainda uma outra a da permanncia.

    Descartes define a substncia como uma coisa que no necessita denenhuma outra para existir. Tomado estritamente, esse conceito no se aplicaseno ao ser absoluto, a Deus.

    A substancialidade ou, mais exatamente, a relao entre inerncia esubsistncia no um dado da experincia, mas um produto do pensamentoenvolvido na experincia. Institumos aquela relao entre inerncia esubsistncia em cumprimento a uma exigncia de nosso pensamento. Elaganha expresso no princpio de identidade, segundo o qual todo objeto depensamento idntico a si mesmo.

    5.Causalidadea) O conceito de causa

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    Assim como a reunio dos contedos da experincia nos leva formao do conceito de substncia, a alterao desses contedos, seusurgimento e desapario, leva-nos formao do conceito de causa.Partamos do juzo utilizado mais acima como exemplo o sol aquece apedra. Esse juzo est baseado na experincia, numa dupla percepo. Em

    primeiro lugar, percebo que o sol bate sobre a pedra e constato, pelo toque,que a pedra via ficando cada vez mais quente. Minha percepo me diz queocorre aqui uma sucesso temporal de dois processos. Meu juzo, porm,contm mais do que isso. Ele no afirma simplesmente que um processoseguiu-se ao outro, mas sim que resultou do outro. Eu no afirmo que no apenas uma seqncia temporal, mas tambm uma conexo interna, umaligao necessria, um nexo causal. Considero o primeiro processo umacausa; o segundo, um efeito.Assim como a substancialidade, a causalidadeno um dado da experincia. No podemos perceber o nexo interno, ovnculo causal.

    Como na formao do conceito de substncia, na formao do conceitode causalidade ns utilizamos a experincia interna como modelo. Sabemos, apartir de nossa vida interna, o que significa ser portador de propriedades,poisns nos vivenciamos como portadores de uma vida interior. A percepointerna nos diz que nosso eu o autor de determinados atos. Do mesmomodo, portanto, que a substancialidade, tambm a causalidade nos dada, atcerto ponto, na experincia interior. por analogia com esses dados de nossavida interna que formamos os dois conceitos categoriais.

    b)O princpio de causalidadeO conceito de causa liga-se estreitamente ao princpio de causalidade.

    Este diz respeito validade ou, mais exatamente, ao mbito de validade doconceito de causa. Toda mudana, todo acontecimento tem uma causa

    esse o contudo do princpio da causalidade.Tudo que existe diferente com respeito ao ser, deve ter recebido essadeterminao de um outro lugar, isto , deve ter sido causado.Conseqentemente, somos logicamente obrigados a reconhecer que tudo quesurge, surge pela fora de uma causa.

    Lei da causalidade. Geyser quer mostrar que tudo que surge tem umacausa. Com essa finalidade, analisa o conceito de procedncia. Neste, estincludo o conceito de incio temporal; e neste, por sua vez, o conceito de sercontingente. To logo algo existe, no mais indiferente com respeito ao ser eao no-ser, mas diferente para o ser. Surgir significa passar do estado deindiferena frente ao ser e ao no-ser para o estado de diferena na direo doser. Em poucas palavras, passar da indiferena diferena.

    CONCLUSOF e saber

    O objetivo foi esquadrinhar e fundamentar o conhecimento humano.Vimos que ele no se restringe ao mundo fenomnico, mas vai alm, at ocampo da metafsica, para chegar a uma viso filosfica do universo. Ora, a f

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    religiosa tambm oferece uma interpretao do sentido do universo. Pode-seperguntar, ento sobre as relaes entre religio e filosofia, crena religiosa econhecimento filosfico, f e saber.

    Essa relao foi definida de formas muito diferentes durante a histria dafilosofia. Podemos distinguir quatro tipos principais de formulao. As duas

    primeiras, afirmam uma identidade essencial entre religio e filosofia, f esaber; as duas ltimas, uma diferena essencial. No primeiro caso, um sistemagnstico de identidade. Segundo ele, religio e filosofia so uma s coisa.Ambas querem conhecer, ambas se ocupam da gnose. A diferena consisteem que a religio um conhecimento filosfico de nvel mais baixo. Emsegundo lugar, h o sistema tradicionalista de identidade. Segundo ele, afilosofia se reduz religio.

    Em vez de afirmar uma identidade total, pode-se afirmar uma identidadeparcial. Elas se recobrem parcialmente por possurem um determinado campoem comum. Esse campo comum a teologia natural (escolstica) outeologia racional (filosofia do iluminismo). Sua tarefa consiste em provar aexistncia de Deus e determinar sua essncia por meio dos poderes naturaisda razo.

    Contrapostos aos sistemas de identidade esto os sistemas dualistas.Pode haver tanto um dualismo estrito quanto um dualismo moderado.

    Contra todas as tentativas de amalgamar religio e filosofia, f e saber,deve-se enfatizar com toda a fora, que a religio um domnio de valorescompletamente autnomo. Ela no se baseia num outro domnio de valores,mas est completamente firmada sobre seus prprios ps. No tem seufundamento de validade na filosofia e na metafsica, mas em si mesma, nacerteza imediata caracterstica do pensamento religioso. O reconhecimento daautonomia epistemolgica da religio depende, portanto, do reconhecimento deum conhecimento religioso especial.

    Encerro com algumas palavras de Lotze que contm todo um programafilosfico.A essncia das coisas no consiste em pensamentos, e o pensar no

    est em posio de compreend-la. O esprito todo, no entanto, em outrasformas, talvez, de sua atividade e de sua emotividade, vive o sentido essencialde todo ser e de todo agir. O pensamento serve-lhe, ento, como meio paradotar o vivido daquela coeso exigida por sua natureza e para experiment-lotanto mais intensamente quanto mais forte essa coeso se torna. So errosmuito antigos que se opem a esse modo de ver. A sombra da Antiguidade,sua desastrosa supervalorizao do logos, ainda se estende amplamente sobrens e no nos deixa constatar, nem no real, nem no ideal, aquilo que faz comque ambos sejam mais do que a razo em sua totalidade.