16. Sociedade Simples

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULESCOLA DE ADMINISTRAOInstituies de Direito Privado e Legislao ComercialProfa. Vera Lcia Remedi Pereira

    16. Sociedade Simples

    a) Objeto da sociedade simplesO objeto social da sociedade simples distinto da atividade prpria de

    empresrio, que consiste no exerccio de atividade econmica organizada para aproduo ou circulao de bens ou servios, cf. RICARDO NEGRO.

    O objeto da sociedade simples poder incluir, por exemplo, a prestao deservios intelectuais, artsticos, cientficos ou literrios, que so espcies de ummesmo gnero e podem ser caracterizados pelo fato de a prestao ter naturezaestritamente pessoal.

    o trabalho prestado pelo mdico, advogado, dentista, pesquisador, escritoretc. Mesmo que esses profissionais realizem suas atividades com o concurso de

    auxiliares ou colaboradores, a organizao no ter carter empresarial.No entanto, o exerccio dessas mesmas profisses podem constituir elementode empresa, submetendo-os ao conceito de empresalidade, como o caso dosmdicos que se organizam em sociedade para oferecer servios que eles mesmosprestam a seus clientes, contratando em comum os meios para melhor servi-los(locao de imvel, contratao de empregados, uso de marca etc.), noconstituem sociedade empresria, mas haver esse carter quando terceiroscontratam mdicos e outros profissionais com o objetivo de oferecer planos desade populao, afirma RICARDO NEGRO.

    b) Contrato social

    A sociedade simples pode ser classificada como sociedade pessoal, em razoda regra referente modificao do contrato social (art. 999).H necessidade de consentimento unnime dos scios nas deliberaes que

    alterem as clusulas referentes aos elementos essenciais do contrato previstas noart. 997, incs. I a VIII: qualificao das partes; denominao, objeto, sede e prazoda sociedade; capital social; quota de cada scio; prestaes a que se obriga oscio cuja contribuio consista em servios; administrao e responsabilidade dosscios.

    Nas demais clusulas, a alterao depende da aprovao da maioria, quecorresponde ao percentual de participao acima da metade sobre o montanteprevisto para o capital social.

    Por se destinar s atividades no empresariais, a sociedade simples deve serinscrita no Cartrio de Registro Civil das Pessoas Jurdicas no local de sua sede,dentro de 30 dias subseqentes a sua constituio (art. 998).

    Se estabelecer sucursal, filial ou agncia, dever faz-lo na circunscriocorrespondente, mas averbando-a tambm no registro civil da sede

    c) Deveres e obrigaes dos scios

    Desde a assinatura do contrato, os scios estabelecem as obrigaesrecprocas e para com a sociedade criada, antes mesmo de sua inscrio noregistro pblico.

    So deveres dos scios:

    - dever de contribuir obrigam-se a ingressar com os aportes estabelecidos,na forma e prazo previstos no contrato social, sob pena de serem consideradosremissos e, conseqentemente, serem constitudos em mora, com asconseqncias do nico do art. 1.004;

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    - dever de probidade na gesto financeira principalmente endereado aoadministrador (art. 1.011 e 1.013, 2). O art. 1.009 estabelece a responsabilidadesolidria dos administradores pela distribuio de lucros ilcitos ou fictcios. Osscios devem se abster de participar de deliberaes que envolvam algumaoperao na qual tenha interesse contrrio ao da sociedade, sujeitando-os a pagarperdas e danos sociedade (art. 1.010, 3);

    - direito-dever de co-participao nos lucros e perdas em toda sociedade, o

    scio fica sujeito participao nos lucros e nas perdas, na proporo de suaquota;

    - direito de participar das deliberaes mesmo no exercendo a direoexecutiva dos negcios, a todos os scios cabe o direito de participar dasdeliberaes sobre as atividades da sociedade. As decises sero sempre tomadaspor maioria de votos (metade mais um) segundo o valor das quotas de cada scio,mas as modificaes que incidem sobre clusulas essenciais do contrato social (art.997), exigem o consentimento unnime dos scios;

    - direito de fiscalizao os scios tm o direito de fiscalizar o andamento dosnegcios sociais, podendo examinar a qualquer tempo, ou em data que o contratoestipular, os livros e documentos sociais, o estado da caixa e da carteira da

    sociedade, isto , a situao dos crditos e dos dbitos sociais. Decorre dessedireito exigir a prestao de contas da administrao em pocas determinadas nocontrato;

    - direito de retirada tambm chamado de direito de recesso, que pode ser deduas modalidades: a) comum, ordinrio ou imotivado, mediante simples notificaoaos demais scios (art. 1.029) e b) extraordinrio, que depende do consentimentounnime dos scios, que se no for concedido depender de deciso judicial,demonstrada a justa causa, que pode ser todo e qualquer ato, ou conjunto de atos,de um ou alguns scios que impea o prosseguimento da atividade comum, da vidasocietria. O Cdigo Civil prev uma hiptese no art. 1.114, quando htransformao da sociedade;

    - direito de participar do acervo, em caso de liquidao a sociedade pode vira se dissolver por inmeras razes legais ou em virtude de consenso entre osscios, nesse caso possvel fazer o rateio por antecipao da partilha, na medidaem que forem apurados os haveres sociais que restaram aps realizados ospagamentos dos credores, segundo a proporo de cada um no capital social (art.1.107 e 1.108).

    d) Administrao

    No contrato social da sociedade sero fixadas as atribuies dos scios,dentre elas a administrao, que no podero ser delegadas a outro scio,

    tampouco a terceiros, salvo consentimento unnime dos demais scios (art. 1.002).A nomeao do administrador da sociedade deve ser indicada no contratosocial levado a registro no rgo competente, e, se no for, no silncio a respeito dequem a exerce, a administrao competir separadamente a cada um dos scios(art. 1.013).

    Na sociedade simples, o administrador sempre uma pessoa natural (art. 997,VI), sendo vedado o seu exerccio por pessoa jurdica, mas no h proibio aoexerccio por terceiros, no scios. (art. 1.013, 1).

    Essa faculdade, atribuindo poderes gerenciais a pessoa estranha aos quadrossociais, distingue a sociedade simples de outras de cunho pessoal definidas noCdigo Civil, como sociedade em nome coletivo (art. 1.042), como tambm as

    sociedades em comandita simples (art. 1.045 e 1.046) e em conta de participao(art. 991).No entanto, a rigor, as sociedades simples, por terem objeto social distinto da

    atividade empresria, e, por, conceito, se referirem a atos pessoais de exerccio

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    profissional, no comportam administrao estranha pessoa de seus scios.Ficar ao cargo da jurisprudncia traar o melhor entendimento.

    Os impedimentos e incompatibilidades podem ser de duas modalidades:

    a) Impedimentos de ordem geral esto impedidas de exercer aadministrao de sociedades em geral as pessoa condenadas a pena que vede,ainda que temporariamente, o acesso a cargos pblicos (Lei n. 8.429/92), ou por

    crime falimentar, de prevaricao (art. 319, Cdigo Penal), peita ou suborno (art.317, Cdigo Penal), concusso (art. 316, Cdigo Penal), contra a economia popular(Lei n. 1.521/51), o sistema financeiro nacional (Lei n. 7.492/86), as normas dedefesa da concorrncia (art. 195 da Lei n. 9.279/96), as relaes de consumo (Lei n.8.078/90), a f pblica (definidos no Cdigo Penal, abrangendo as hipteses demoeda falsa e similares (arts. 289 a 292), falsidade de ttulos e outros papispblicos (arts. 293 a 295), falsidade documental (arts. 296 a 305) e outrasfalsidades (arts. 306 a 311)) ou a propriedade (abrange os crimes contra opatrimnio, definidos no Cdigo Penal (furto, roubo, extoro, usurpao, dano,apropriao indbita, estelionato, receptao); crimes de violao de direito autoralou usurpao de nome ou pseudnimo alheio (arts. 184 e 185, CP); a propriedade

    intelectual em geral, incluindo violao de direito de autor de programa decomputador (art. 12 da Lei n. 9.609/98) e os crimes contra a propriedade industrial(arts. 183 a 194 da Lei n. 9.279/96)), enquanto durarem os efeitos da condenao(art. 1.011, 1). Tambm so de ordem geral os impedimentos aos estrangeiros(arts. 95 a 110 da Lei n. 6.815/80).

    b) Impedimentos de ordem profissional o Cdigo remete para leiespecial, ainda no sancionada. No entanto, esto impedidos de exercer atividadeempresarial ou a administrao de empresas alguns agentes polticos, para osquais a lei pretendeu preservar a liberdade e o status poltico para o exerccio plenode sua funes: os membros do Ministrio Pblico (art. 128, II, c, da CF e art. 44, III,

    da Lei n. 8625/93), magistrados (art. 36, I da Lei Complementar n. 35/79),deputados e senadores em empresa que goze de favor decorrente de contrato compessoa jurdica de direito pblico (art. 54, II, a, CF). Tambm so impedidos osfuncionrios pblicos em geral e em especial os funcionrios da Fazenda emilitares.

    Algumas leis exigem habilitao especial, licena ou autorizao do PoderPblico, como, por exemplo, a atividade securitria (Lei n. 4.594/64), financeira(Leis n. 4.595/64 e 6.385/76), transporte rodovirio de bens (Lei n. 7.092/83),servios de vigilncia e transporte de valores (Lei n. 7.102/83), administrao deconsrcios etc.

    So deveres do administrador:

    a) dever de diligncia exige-se probidade no exerccio daadministrao social, imposio que a lei resume na expresso cuidado e dilignciaque todo homem ativo e probo costuma empregar na administrao de seusprprios negcios, incluindo boa-f e diligncia;

    b) dever de lealdade o administrador deve ser leal aos interesses dasociedade, prestando fielmente os servios necessrios para que ela atinja os finscomuns para o qual foi constituda. Esse dever, imposto a toda e qualquer formasocietria, est mais bem detalhado no art. 155 da Lei das Sociedades por Aes:a) usar, em benefcio prprio ou de outrem, com ou sem prejuzo para a companhia,

    as oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razo do exerccio doseu cargo; b) omitir-se no exerccio ou proteo de direitos da companhia ou ,visando obteno de vantagens, para si ou para outrem, deixar de aproveitaroportunidades de negcio de interesse da companhia; c) adquirir, para revender

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    com lucro, bem ou direito que sabe necessrio companhia, ou que esta tencioneadquirir;

    c) dever de informao e prestao de contas - do direito di scio defiscalizar os atos de gerncia nasce o respectivo dever de informar e prestar contasatribudo aos administradores, que podem se valer de profissionais competentespara essa tarefa.

    O administrador no pode ser substitudo no exerccio de suas funes, maspode constituir mandatrios com poderes para a prtica de atos e operaesespecficas na procurao (art. 1.011, 2).

    So poderes do administrador:

    a) a prtica de atos e operaes includos no contrato social dasociedade, inclusive a alienao de imveis, quando for este o objeto da sociedade;

    b) emisso, endosso e circulao de ttulos de crdito, decorrentes doexerccio de atividades pertinentes ao objeto social;

    c) administrao dos bens sociais com vistas a sua conservao e

    manuteno;d) representao da sociedade, judicial e extrajudicialmente.

    No esto includos entre os poderes do administrador a alienao e aimposio de nus sobre os bens imveis, salvo a hiptese de ser este o objeto dasociedade; operaes que dependem de deliberao da maioria; operao a ttulogratuito com nus ao patrimnio social ou a aplicao de crditos ou bens sociaisem proveito prprio ou de terceiro.

    Quanto aos abusos dos poderes gerenciais, haver obrigao pessoal doadministrador sempre que ocorrer a prtica de excesso nos atos da administrao,conhecida como responsabilidade por abuso dos poderes gerenciais ou por abusoda firma social, dentre eles esto includos:a) atos de excesso, violadores da regra social (art. 1.013, 2; 1.016 e1.017);b) restries contratuais o contrato social pode restringir o uso dospoderes gerenciais, vedando, por exemplo, saque, emisso, aval, endosso dettulos cambirios, fianas etc;c) prtica de atos ultra vires refere-se a operaes estranhas ao objetosocial. No entanto, entende-se que a sociedade deve responder por atos de seusadministradores perante terceiros de boa-f, porque estes atos foram realizados soba aparncia de legalidade contratual ou estatutria, conforme a teoria da aparncia;

    d) atos de excesso no Cdigo Civil nos termos do art. 1.015, nico,incs. I a III, ficando assentado que o abuso de poderes do gerente poder seropostos a terceiros, em trs hipteses, agrupadas didaticamente, em duassituaes distintas: limitao e ultra vires:1. no tocante limitao de poderes: se esta estiver arquivada norgo de registro ou se ficar provado que a limitao era conhecida do terceirocontratante;2. em relao aos atos ultra vires: quando se tratar de operaoevidentemente estranha aos negcios da sociedade.

    e) Responsabilidade da sociedade perante terceiros

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    A sociedade primariamente responsvel, como pessoa jurdica, pelasobrigaes assumidas perante terceiros, mas, se os bens sociais no cobrirem asdvidas sociais, os scios respondem pelo saldo, na proporo em que participemdas perdas sociais.

    possvel, ainda, que o contrato estabelea a responsabilidade solidria dosscios, de forma que a obrigao ser ilimitada em relao aos seus bensparticulares at o pagamento integral dos dbitos existentes.

    Pode ocorrer, tambm, a previso de que a responsabilidade dos scios secundria, garantindo-lhes o benefcio de ordem: os bens particulares somentesero executados aps todos os bens sociais.

    f) Resoluo da sociedadeem relao a um scio

    A sociedade se resolve em relao a um scio em duas hipteses:- em virtude de morte falecido um dos scios, e no silncio do contrato

    social, podem os demais optar por: a) dissolver a sociedade (art. 1.028, II); b)acordar, com os herdeiros, sua substituio no quadro social (art. 1.028, III); ou c)pagar o valor da quota aos herdeiros, com base na situao patrimonial dasociedade, data da resoluo, que coincide com a do evento morte, verificada em

    balano especialmente levantado (art. 1.031);- em virtude de excluso a excluso do scio pode ocorrer em cinco

    circunstncias: a) o scio se torna remisso, pelo descumprimento do dever decontribuio correspondente a sua participao no capital social, na forma e prazoprevistos (art. 1.004); b) sua quota foi liquidada em execuo de seus credoresparticulares; c) falta grave no cumprimento de suas obrigaes; d) ocorrncia deincapacidade superveniente (art. 3 e 4, CC); e) decretao de sua falncia.

    g) Dissoluo da sociedade

    A dissoluo pode ser total ou parcial. Ser total se leva liquidao eextino da sociedade e parcial se opera a retirada de scio, com apurao parcial

    dos haveres.O art. 1.033 estabelece hipteses de dissoluo judiciais e extrajudiciais.Ocorre a dissoluo extrajudicial:

    a) quando expirado o prazo de durao da sociedade;b) pelo consenso unnime ou deliberao por maioria absoluta na sociedadepor prazo indeterminado;c) pela falta de pluralidade de scios no constituda no prazo de cento eoitenta dias;d) quando ocorre a extino, na forma da lei, de autorizao para funcionar.

    Ocorrer a dissoluo judicial:a) por requerimento dos scios;b) por anulao do ato de sua constituio;c) por exausto do fim social ou verificao de sua inexeqibilidade;d) por causa prevista no contrato social que vier a ser contestada em juzo.

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