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196183 - Agência Soma | Notícias Cristãs | Revista ... · bairro ser o lixo que é, de ainda ... cristãos autênticos e comprometidos com o Reino, quando assumem suas posições,

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Anunciando o Amor de DeusAnunciando o Amor de Deus

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Norman L. Geisler é Ph.D. em fi losofi a, professor universitário há mais de 50 anos, autor, co-autor ou editor de mais de sessenta livros e centenas de artigos e um dos mais infl uentes líderes na área de teologia e apologética cristã na atualidade.

Outras obras do autor publicadas pela CPAD são Sua Igreja Está Preparada? e Resposta às Seitas.

Teologia Sistemática de Norman GeislerA CPAD traz para o Brasil essa obra única em sua categoria.

Através de uma abordagem fi losófi ca, você obterá o conhecimento necessário sobre as principais doutrinas do Cristianismo.

Além disso, seus comentários sobre história, ciência e ética são ideais para quem deseja ter sólidos argumentos apologéticos contra as heresias do mundo contemporâneo e materialista.

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Brasil: religião e cidadania

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saúde

Religiosidade e Psicoterapia

Teologia Integral a serviço da Saúde

análise de conjuntura

16

Levando os valores cristãos aos consultórios e hospitais sem perder a

ética. Profissionais de Saúde que consideram a missão de ajudar, no sentido mais

amplo da palavra.

“O maior apoio a quem adoece de câncer consiste em ter as pessoas da família e de seu convívio social ao seu lado.”

A psicóloga cristã Fatima Fontes, uma das organizadoras de livro que recebeu troféu do importante Prêmio Jabuti, ensina como lidar com um “relativo ‘despreparo’ e muitas vezes certo ‘adoecimento’ de pastores na função de cuidadores que se submetem a uma carga de pressão emocional bem maior do que conseguem suportar”.

Presbiteriano compartilha suas experiências como diretor do Hospital do Câncer, no Rio

no princípio 02

22

urbanismo 14 Peça pizza pela Internet

contexto cristão

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economia e qualidade de vida 12

especial 06

leitura dinâmica

SOLA SCRIPTURA! - por Russell Shedd

Igreja e transformação comunitária

Acordo religioso, O Rio de sempre, Seleção

liderança Não preciso de bandeira, preciso de toalha!20

o mundo em revista Cuidando de quem cuida

conexão américa latina 24 Sobre Jesus, Lula, Fidel e a camarilha das revoluções ditas populares

profundezas 28 O paradigma das especialidades

Saúde começa por evitar o sofrimento desnecessário

no princípioexpediente

www.soma.org.brAno 6 - Nº 14

Revista Soma é uma publicação bimestral da Agência cristã de notícias Soma.

EditorLenildo Medeiros(MTb 18139-RJ)

Colaboradores desta ediçãoRussell Shedd, Luciano Vergara, Marcelo Dutra, Philippe Leandro, Rodrigo Robinson, Leandro Silva, Macéias Nunes, Marcos Paulo Veloso Correia, Ronan Boechat, Paulo Henrique Fidelis Feitosa, Rogério Oliveira, Adalberto Alves de Sousa e Wilgor Caravanti.

CARTAS À REDAÇÃOCAIXA POSTAL 48.480, RIO DE JANEIRO, RJ [email protected]

Telefone: (21) 2288-5274Fax: (21) 2570-6998

Marketing e PublicidadePhilippe [email protected]

Projeto Gráfico e CapaOliverArtelucas www.oliverartelucas.com.br

DiagramaçãoLenildo Medeiros

Foto da capa: Secom MG/Osvaldo Afonso

Preço de capa: R$5,00Twitter.com/revistasoma

Tiragem: 5.000 exemplares

LeniLdo Medeiros *

A capa da revista que você está lendo destaca o tema da Saúde. Já na edição anterior, desafiamos a igreja a participar da busca de soluções para o problema da falta de moradias para todas as famílias. Antes disso, a revista tratou também com ênfase de

questões relacionadas à educação, defesa de crianças, e outras áreas da vida que integram o todo com o qual a espiritualidade cristã deve se relacionar.

Sem desmerecer outras abordagens, tais capas representam uma síntese de nossa proposta, que pretende adicionar à prática da fé cristã tais reflexões e estímulos de envolvimento com a realidade.

Nada contra (e tudo a favor!) da oração, do louvor, do estudo bíblico em grupo, da devoção tradicional. Elementos que praticamos e consideramos imprescindíveis para qualquer iniciativa chegar a bom termo. Mas desde que tal devoção leve a uma prática que também abençoe o próximo e a sociedade. Se não for assim, fica um buraco na caminhada e, a cada passo, vai causando estranheza. Porque ajoelhar-se de olhos fechados na presença do Senhor é maravilhoso, mas o levantar-se atento às necessidades das pessoas ao redor do cristão é igualmente importante.

Em outras palavras, não adianta devoção intensa se ela não repercute em vida de harmonia em família, mobilização por melhorias na vizinhança e no bairro, atitudes éticas e de honestidade, esperança e trabalho duro e perseverante para mudar o país, mudar o mundo.

No caso do tema de capa atual da revista, “Saúde”, tal omissão cristã pode ter repercussões terríveis. Pode, por exemplo, ser a causa daquele hospital do bairro ser o lixo que é, de ainda ter gente gemendo de dor em filas, do mau atendimento ser cada vez pior, do remédio indisponível, do equipamento quebrado. Pode ser a causa da criança na maca num corredor sujo e lotado, do erro do médico irresponsável com mentalidade de comerciante ganancioso que esquece do juramento que fez (não é a regra, mas eles existem). Enfim, esquecer que Saúde física e emocional é parte da Missão que Jesus nos deixou pode ser a causa de muitas mortes prematuras e sofrimento desnecessário.

Que a leitura desta edição traga ainda mais convicção entre nós de que o profissional de saúde cristão deve caminhar pro seu consultório, ou gabinete de administração hospitalar, ou enfermaria, ou sala de cirurgia, ou faculdade, ou qualquer outro espaço de sua atividade restauradora do corpo e das emoções humanas, com a mesma motivação e atitude do professor de escola bíblica ou pregador, cristãos autênticos e comprometidos com o Reino, quando assumem suas posições, em sala de aula ou no púlpito, para ensinar a Palavra do Senhor. Só que quem trabalha com saúde nem precisa usar palavras...

* Lenildo Medeiros é jornalista, fundador da Agência cristã de notícias Soma e pastor

Saúde começa por evitar o sofrimento desnecessário

ano 6 nº 14 s ma2

cartas, fax e cia

Um ministério com enorme valor

www.soma.org.br

Edificação e informaçãoA Soma é importantíssima na edificação e instrução do nosso povo. Que ela continue fazendo história e levando as informações com honestidade, profundidade e excelência.WAiNER GuiMARãES, Pr.Líder do grupo cristão Mosaico, na zona Sul do Rio de Janeiro, RJ

invisto na Revista SomaAcreditei no projeto “www.queroajudar.soma.org.br” e invisto na Revista Soma. SéRGio MENDES, DiáconoBrasília, DF

ParticiPe por carta: Caixa Postal 48.480, Rio de Janeiro, RJ, CEP.: 20530-971 e-mail: [email protected] fax: (21) 2570-6998 fone: (21) 2288-5274

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Contextualizada e “green”Fico impressionado com as revistas Soma. São muito bem feitas, bem contextualizadas (e green), desafiadoras em conteúdo, ecumênicas no sentido positivo. É um ministério com enorme valor.SCoTT HoRREll, ProfessorDallas Teological Seminary, EUA

Meus parabéns por vossa revistaGostei muito dos vossos conteúdos. Vou passar a ler assiduamente.ANToNio E MARiA EDuARDA BARRoSCidade do Porto, PortugalUntitled-1 1

31/7/2009 14:08:51

especial

autoridade da Bíblia depende da revelação vinda de Deus. Se Deus não falou, então

somos iguais a uma nave espacial que está fora de contato com sua base. Mensagens não alcançam os tripulantes que esqueceram de onde partiram e muito menos sabem para onde vão. Sem a Palavra autoritária da Bíblia estamos perdidos. Paulo escreveu: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homen de Deus

SOLA SCRIPTURA!seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2 Tm 3.16,17). Inspiração por Deus quer dizer simplesmente que Ele falou por intermédio de homens que ouviram e receberam revelações especiais dele e foram protegidos contra qualquer erro em escrever o que Deus falou.

A divisa da Reforma foi Sola Escriptura, que significa: “A única fonte e norma de todo o conhecimento cristão é a Sagrada Escritura” (H. Heppe, Dogmática Reformada). Lutero cria na inerrância das Escrituras como

Jesus e Paulo também criam. A Igreja ensinou esta doutrina essencial: a sua autoridade absoluta. O famoso teólogo Karl Barth disse: “Os Reformadores adotaram sem questionar e sem reservas a declaração acerca da inspiração verbal da Bíblia, conforme é explícita e implicitamente contida naquelas passagens paulinas que tomamos por nossa base, até mesmo incluindo a fórmula de que Deus é autor da Bíblia, e, ocasionalmente, fazendo uso da idéia de um ditado através dos escritores bíblicos” (citado por Gerstner em O Alicerce da Autoridade Bíblica, ed. James Boice, S. Paulo, Ed. Vida Nova, 1982, p. 37).

A

ano 6 nº 14 s ma6

Russell Shedd

SOLA SCRIPTURA!Nenhum mestre ou pastor evangélico deve ensinar nada que esteja em desacordo com os autores da Bíblia e nem deve elevar qualquer prática religiosa a um nível de ser exigida, se não tiver sustento nas Escrituras Sagradas. Quando Lutero foi congratulado por ter se firmado nas Escrituras, declarou: “Não, não estou firme nas Escrituras; estou firme debaixo das Escrituras!”. Entendeu corretamente a suprema importância de humildemente se sujeitar aos ensinamentos bíblicos como a única fonte e norma de doutrina e prática cristãs.

Os Reformadores e, particularmente, Lutero, acreditavam na simplicidade das Escrituras. Discordava totalmente da Igreja Católica Romana que afirmava que somente doutores e especialistas tinham a habilidade de entender e explicar a Bíblia. Os Protestantes discordaram. O resultado podemos notar na explosão de centenas de traduções e versões da Bíblia em centenas de línguas. Milhões de Bíblias são vendidas no Brasil, confirmando o que os Reformadores entenderam. O povo de Deus quer examinar as Escrituras como os bereanos (At 17.11).

As implicações da convicção dos Reformadores têm profundo e longo alcance. Note algumas poucas delas:

1) O cânone dos 66 livros da Bíblia é permanente e imutável. Ninguém jamais tirará um desses livros ou acrescentará outro.

2) A declaração Sola Scriptura se baseia totalmente na inspiração plenária das Escrituras. Se surgir uma outra revelação verbal da verdade sobre Deus e Sua vontade que seria obrigatória para os cristãos crerem e praticarem, a veracidade da Sola Scriptura seria insustentável.

3) As figuras que a própria Bíblia usa para se autodesignar são indicativas desta realidade. Ela é luz para mostrar o caminho em que devemos andar (Sl 119.105). Ela é a semente que gera vida eterna (1 Pe 1.23).

4) Ser a Bíblia nossa única regra de fé e prática não nega a possibilidade de Deus revelar sua vontade individual para um servo dele, para mostrar sua vontade

particular para ele. Deus ainda fala, mas nunca pode contrariar um ensinamento claro da Palavra de Deus (comp. 1 Pe 4.11).

5) De suma importância é se lembrar que Deus unicamente fala a verdade das Escrituras quando elas são interpretadas corretamente.

6) A tarefa do pregador e mestre da Palavra não pode ser outra senão expor e aplicar o que o texto da Bíblia diz. Não é difícil declarar doutrinas e ensinamentos errados, tirando frases do seu contexto literário e histórico. O princípio de Sola Scriptura somente tem validade nos casos em que a intenção do autor bíblico é honrada.

* Russell Shedd é professor, PhD em Novo Testamento, missionário e escritor.

“Nenhum mestre ou pas-tor evangélico deve ensinar

nada que esteja em desacor-do com os autores da Bíblia e nem deve elevar qualquer prática religiosa a um nível de ser exigida, se não tiver

sustento nas Escrituras”

“A única fonte e norma de todo o conhecimento cristão é a Sagrada Escritura”

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Brasil religião e cidadania

or definição, evangelho integral é aquele pregado, ao mesmo tempo, de púlpito e na prática diária,

segundo o qual o ser humano é visto como um todo, não apenas uma alma a ser conquistada para o Senhor. O termo foi difundido graças ao fato de algumas religiões darem um lugar de destaque apenas à obra de apresentação do “plano de salvação”. Com isso, hoje vemos um evangelho esquartejado, fragmentado, com algumas partes sendo mais ou menos enfatizadas que outras. Se o Evangelho corresponde às boas novas de Deus, a evangelização é o anúncio de um Reino cujas premissas são precisamente essas boas novas, mas o Reino não pára neste ponto.

O crescimento numérico da igreja evangélica brasileira a partir da década de 1980 foi outro fator que fragmentou a Igreja. Agora, é a chamada Teologia da Prosperidade que enfatiza as conquistas terrenas, em detrimento do compromisso apaixonado por Deus. Porém, há aqueles que, pela Graça, enxergam sua missão na Terra de forma a refletir o amor integral do Senhor pelo ser humano. Para este grupo,

MarceLo dutra * os limites de “igreja” são bem mais amplos do que aqueles do templo freqüentado aos domingos.

Sem ser pastor, nem mesmo missionário, vários profissionais de Saúde consideram a missão de ajudar, no sentido mais amplo da palavra, na restauração do próximo. Como parte do seu trabalho diário, e não apenas no âmbito profissional do consultório, da clínica ou hospital, eles olham para o paciente e vêem alguém que é amado por Cristo, uma alma a ser conquistada, uma família que pode ter a dor amenizada pela preocupação e carinho do profissional de saúde, um corpo que pode ser curado por Deus ou pelo seu preparo técnico. Gente que tem a Teologia Integral na veia como a médica reumatologista Adriana Marques, de 40 anos, que frequenta uma Igreja Batista:

“Não é raro ocuparmos o lugar de um conselheiro e é preciso ser muito

P

Teologia integral a serviço da Saúde

Profissionais de Saúde que consideram a missão de ajudar, no

sentido mais amplo da palavra, na

restauração do próximo

Levando os valores cristãos aos consultórios e hospitais sem perder a ética

cuidadoso para não perder a ética e não ser invasivo e acabar perdendo a relação médico-paciente. Mas eu trabalho com doença auto-imune, são doenças crônicas, que trazem

limitação e incapacidade ao paciente. Ainda existe

um grupo de pacientes com doenças degenerativas oriundas do envelhecimento. Vez por outra, me deparo com pacientes que dizem que preferem morrer a perder a beleza estética ou ter que se restringir de alguma forma, que se deprimem porque não aceitam

a sua condição, que questionam porque

a vida lhe trouxe esta adversidade se ela ou ele só

faz o bem. Minhas respostas são sempre bíblicas: digo que Deus criou o homem assim e todos seguiremos o curso natural de crescer e envelhecer; que desejar a morte não é correto e nem é solução porque a vida e a morte estão nas mãos de Deus”, ensina Adriana que trabalha em dois hospitais da capital do Rio de Janeiro, Gaffrée-Guinle e UNIRIO.

ano 6 nº 14 s ma8

Teologia integral a serviço da Saúde

saber o que falar, perguntei se ela aceitaria que fizesse com ela uma oração, ela aceitou o convite e após a oração experimentou um conforto que somente Cristo pode dar”, contou o médico que mais tarde soube que a família também era evangélica: “Ela me disse depois que orar com o médico que havia feito tudo para salvar a vida de seu filho foi reconfortante”.

Nelson diz ainda que não perde uma oportunidade de expressar palavras de conforto aos pacientes como: “que Deus te acompanhe”, “que Deus te abençoe”. Ele acredita que esta postura “deve ser mais utilizada pelos profissionais que lidam diretamente com pessoas, mas nós (cristãos) somos constantemente observados com isso, independentemente de exercermos uma profissão da área de Humanas, cabe ao profissional perceber quando deve ter uma abordagem cristã”, explica.

Para o fisioterapeuta Nilton Rocha da Silva, de 48 Anos, não há meio termo: “Nas 24 horas do dia eu sou cristão, não há como separar. Em todos os atendimentos que faço, primeiro eu olho para aquela pessoa que está na minha frente tão fragilizada com suas queixas, com sua dor, com seu sofrimento e agradeço a Deus pela oportunidade de poder ser um instrumento vivo nas mãos dele. Passo a amá-la. Só então, vou tratar a doença”, diz ele que se identifica como “um profissional da Esperança”. Para o fisioterapeuta, também formado em acupuntura, o dia em que a dor do paciente virar uma rotina em sua vida ele terá que mudar de profissão.

“Numa noite de terça-feira entrou no meu consultório um casal. No momento em que

A médica tem 16 anos de experiência e diz que ensina seus pacientes a encarar a doença de frente, lutar para controlá-la e ser grato a Deus pelos recursos que já existem para tal. “Assim se vive melhor. Esta abordagem tem evitado o processo depressivo de muitos pacientes ao receber o diagnóstico de algumas doenças autoimunes, o que realmente não é fácil. Porém, com isso, coloco a mente deles no foco: valorizando o que realmente tem importância: os valores espirituais, a família, os amigos, os sentimentos que nutrimos uns pelos outros, isto fica, o que é material não”, diz a médica Adriana com enorme sabedoria.

Comportamento exemplarO mesmo pensamento ético

tem o médico evangélico Nelson Elias Andrade Junior, de 35 anos. Formado pela Universidade Gama Filho, o clínico geral trabalha nos hospitais da Marinha de Guerra do Brasil. Ele acredita que a integridade nos preceitos estabelecidos pela Bíblia o tem ajudado a ser referência: “Certa vez atendi uma criança de sete anos vítima de um afogamento, trazida pelos vizinhos, que infelizmente tinha ficado imersa muito tempo o que impossibilitou o sucesso de todas as manobras de tentativa de reanimação. Quando a mãe chegou ao hospital, solicitei que ela fosse levada até uma sala à parte, pedi a presença de um profissional de assistência social, e com o devido cuidado que a situação exigia, fui calmamente relatando o ocorrido, sempre usando palavras de conforto e paz expressadas inúmeras vezes na Bíblia em vários trechos por Jesus. Evidente que houve um abatimento e tristeza profundas naquele momento, mas após um tempo em silêncio segurando sua mão, já sem

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O fisioterapeuta Nilton Rocha da Silva, a médica reumatologista Adriana Marques, e a psicóloga Mara Alessandra Teodoro dos Santos

preenchia a ficha, e ele falava das suas dores, percebi que o casal tinha outras dificuldades, orei e pedi a Deus para que eu fosse bênção na vida daquele casal, respeitando seus princípios. Fiz uma avaliação físico-funcional, estabelecemos a conduta de tratamento, e, durante o tratamento, ele compartilhou as dificuldades de sua vida conjugal. Pude encaminhar o casal para uma profissional em Psicologia, e logo suas dores físicas foram diminuindo, e chegamos a alta do tratamento”, conta ele feliz.

Riscos de uma fusãoMas como não permitir que um

profissional ultrapasse as fronteiras do profissionalismo na busca de uma atitude cristã? A psicóloga Mara Alessandra Teodoro dos Santos, de 35 anos, diz que, no seu caso, é impossível fundir a cristã ao

profissional de saúde mental: “É de suma importância ressaltar que, no momento do atendimento, o profissional não está ali como sujeito, logo também não está ali como ‘cristão’

ou qualquer outro tipo de religioso. Seus conceitos e valores não serão colocados em momento algum, num intuito de orientar ou julgar a religião do paciente. Meu papel ali não é de ser ‘cristã’ embora o seja. Também não sou mãe, mulher, cidadã etc. Não me manifesto ali (no consultório) como um outro sujeito também psicossocial”, diz Mara, que é evangélica, e freqüenta uma igreja pentecostal.

A psicóloga continua. Para ela, há que se ter uma postura que garanta a saúde do paciente acima de opções religiosas. Mara acredita ser um erro um cristão procurar psicoterapeuta também cristão: “Este comportamento é alimentado pelo mito de que psicologia e religião não se comunicam ou são antagônicas. Costumo dizer a essas pessoas que vêm me procurar motivados por esta orientação, que se um dia algum profissional abrir a Bíblia com ele durante o atendimento, que ele se levante, vá embora e não volte nunca mais, assim semelhantemente no que se refere a qualquer outro tipo de religião, doutrina ou ideologia. Este papel de entrar na questão em si da religião, orientar e conduzir dentro dos preceitos e valores religiosos cabe ao líder espiritual do grupo religioso ao qual pertence o paciente. Quem abre a Bíblia, o Alcorão, ou qualquer outra literatura religiosa com ele em gabinete é seu líder religioso e nunca o psicólogo”.

Mara faz um alerta ainda mais direcionado. Pastores e líderes devem manter a humildade se quiserem ajudar na recuperação emocional de uma de suas ovelhas: “Quando uma pessoa é bem orientada e não vê na religião um mandado de onipotência que o permite dar conta de todas as angústias e ansiedades do ser humano, ele sugere ao seu fiel que procure a ajuda de um profissional”.

Contudo a psicóloga, que presta serviço voluntário em duas igrejas

evangélicas da cidade do Rio de Janeiro, acredita que o

trabalho de restauração do indivíduo deve ser feito em parceria.

“O fato de estar oferecendo o serviço de psicologia em uma igreja acaba por unir essas duas frentes de ação, a religiosa e a psicológica. Isto é consequência do fato de a religião e a psicologia

se comunicarem. O psicólogo vê na

igreja um espaço onde há pessoas multifacetadas.

Já a igreja, por receber todo tipo de pessoas com seus mais variados tipos de sofrimento da alma, também vê no serviço de Psicologia um suporte, um coadjuvante ou até mesmo uma possibilidade de dar conta de uma demanda que a organização religiosa, e nem mesmo a religião em si, suportam”.

* Marcelo Dutra é jornalista, membro da Igreja Batista do Fonseca, em Niterói, RJ, e

repórter do jornal O Globo desde 2000.

“Há pacientes que dizem

que preferem morrer a perder a

beleza ou se restringir”

ano 6 nº 14 s ma10

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Leandro siLva*

economia e qualidade de vida

Felipe Camarão, um dos bairros mais pobres e violentos de Natal, é também o mais evangélico da capital potiguar

ão é de hoje a constatação da forte presença da igreja nos bairros mais empobrecidos. Das favelas

do Rio de Janeiro às comunidades urbanas do Nordeste, extrema pobreza, violência e injustiça convivem lado a lado com a profusão de templos.

Oficializado no dia 22 de agosto de 1968, o bairro de Felipe Camarão na região oeste da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, é um exemplo dessa realidade. Segundo o censo de 2000, a população do bairro está calculada em 45.907 habitantes, mas as estimativas são de que já existam cerca de 72 mil pessoas vivendo em uma área de 663,4 ha. São 10.782 domicílios, sendo que 1.227 são moradias construídas em área de risco (Censo 2000); 31,39% dos moradores sobrevivem com um salário mínimo, 41,08% recebem até três salários, 12,82% não têm renda alguma. A média dos rendimentos mensal é de 1/3 da média da cidade, o que significa R$ 327,00 por família. 29,82% da população é formada por jovens; 35,4% está na faixa etária de 0 a 14 anos; Apenas 11,81% da população terminou o Ensino Médio.

Como afirmam os sociólogos Anaxsuell Fernando da Silva e Orivaldo Pimentel Lopes Junior no artigo “Configurações da

Religiosidade em Natal: o caso Felipe Camarão” (Revista Inter-Legere): “Felipe Camarão não está ao alcance dos olhos dos visitantes e tampouco dos nativos mais segregados. Este fato contribui, sobremaneira, para consolidar a fama obtida pela cidade de Natal de bela e esconder a real diversidade de sua geografia humana, bem como as mazelas sofridas por grande parte da população residente em bairros com menor estrutura... Em pesquisa realizada pela CONSULEST e o Grupo de Sociologia Clínica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o bairro foi apontado por 43,9% dos entrevistados, como o mais violento de Natal. O índice de qualidade de vida, no que tange ao saneamento ambiental é de 0,27”.

70 igrejas evangélicasO número de pessoas analfabetas

chega a 22,9% da população com mais de 25 anos. Um dos principais líderes em número de casos de violência contra a mulher, maus tratos e abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, Felipe Camarão é também o bairro que detém o maior volume de sub-moradias, com pelo menos oito favelas em seu espaço geográfico. Este ano, mais de 40 jovens já foram vítimas da violência armada. Entre os mais de 36 bairros que compõem a

cidade de Natal, é o 4° mais populoso. É formado por 18 comunidades, dentre estas, 8 irregulares. Está localizado na zona Oeste de Natal, região que em conjunto com a zona norte abriga mais de 50% da população pobre e 60% do total das favelas do município. Mas há uma boa notícia: Felipe Camarão é também o bairro mais evangélico de Natal.

Em 2001, o Serviço para Evangelização da América Latina (Sepal) fez um levantamento das igrejas evangélicas em Natal e encontrou 41 igrejas em Felipe Camarão. Em 2005, com financiamento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi realizada uma cuidadosa pesquisa que mapeou 59 igrejas no bairro. Hoje, já existem diversas outras que surgiram depois de 2005, de modo que podemos dizer com bastante certeza que no atual momento existem pelo menos 70 igrejas atuantes na comunidade!

Os evangélicos de Natal começaram a ser despertados para o desafio de Felipe Camarão em setembro de 2003, durante o seminário teológico-estratégico “Modos de enfrentamento da pobreza em Natal”, onde ficou clara a urgência de voltar nossos olhos para a região. Naquele mesmo ano, a pesquisa divulgada pela Sepal

N

ano 6 nº 14 s ma12

chamou a atenção de vários líderes cristãos atuantes na comunidade, que se reuniram para refletir sobre a contribuição que poderiam dar na reversão dos cruéis indicadores sociais de Felipe Camarão.

A pergunta a dar a tônica do evento era o por quê dessas duas realidades (a combinação dos piores índices de desenvolvimento humano e maior concentração de igrejas) não se cruzarem durante anos, permanecendo isoladas e intactas, como se não coexistissem. Por que a forte presença da igreja não se traduz em transformações do contexto injusto em que está inserida? As perturbadoras constatações sobre a apatia das igrejas em relação aos alarmantes desafios sociais levaram os líderes a refletir sobre a necessidade de dar continuidade a este trabalho.

Associação de líderes para transformação integral

da comunidade

Em 2005, enquanto eram realizadas reuniões mensais nas mais diversas igrejas do bairro, uma pesquisa patrocinada pela UFRN ia descobrindo cada igreja de Felipe Camarão. Ao longo destas reuniões, uma rede de igrejas e líderes foi sendo construída coletivamente. Em dezembro de 2005 a ALEF (Associação de Líderes Evangélicos de Felipe Camarão) foi oficialmente criada, com o objetivo de reunir as igrejas que atuam localmente para o desenvolvimento de programas focados na transformação comunitária e missão integral.

As igrejas possuem uma capilaridade que não pode ser encontrada em nenhuma outra forma de organização social das comunidades, estando presentes em todos os recantos dos bairros e favelas, mesmo os mais inóspitos, onde os problemas sociais ensejam sua face mais cruel e os serviços públicos são ainda mais ausentes.

O resultado é revolucionário: não apenas uma organização, mas uma rede de igrejas, líderes (não apenas pastores, mas líderes comunitários, de jovens, de mulheres, de missões...), que gerencia e executa um amplo programa de desenvolvimento local e atua para a transformação comunitária nos oito eixos de atuação da entidade: educação, formação de líderes, saúde, meio ambiente, construção da paz, economia solidária, cultura e juventude.

lá como cáFelipe Camarão ilustra

um cenário comum às comunidades empobrecidas de todos os rincões do país. Nenhuma outra organização está tão presente nos bairros. Porém, quando comparamos a presença da igreja com seu impacto ficamos frustrados! Embora muitas pessoas estejam sendo alcançadas pelo evangelho, coletivamente a igreja não está influenciando na estrutura social das comunidades do país. Falta voz profética contra a violência e a corrupção, falta luta pela causa dos pobres, como nos exorta a Palavra de Deus: “O justo se interessa pela causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber” (Provérbios 29:7). O resultado está aí: quanto mais empobrecida a comunidade, maior o número de igrejas. O evangelho cresce, mas não há mudança, transformação. É razoável afirmar que podemos fazer mais!

Falta unidade e visão missiológica ampliada

Dois são os motivos principais de dezenas de igrejas em um único bairro não conseguirem causar impacto social: a falta de unidade, e uma missiologia reducionista.

Cada igreja tem se voltado para suas próprias atividades, não reservando espaço em sua agenda para o trabalho conjunto com outras

igrejas. Se desejarmos influenciar as comunidades em que atuamos com o evangelho integral, devemos inserir em nossas agendas esta palavra bem específica: unidade.

Mas que tipo de unidade devemos buscar?

Certamente que a concepção ufanista das marchas e movimentos pontuais não é suficiente. É neces-sário construir um amplo esforço conjunto, baseado em projetos, ações e programas direcionados a provocar transfor mações sociais que possam fazer da comunidade um lugar mais parecido com o Reino de Deus e construir uma face pública relevante, que expresse contundentemente os valores do evangelho para regiões que clamam por uma intervenção efetiva do corpo de Cristo. Por maior que seja, nenhuma igreja pode mudar sozinha toda uma região. Este trabalho é coletivo.

É necessário repensar a eficácia de nossos modelos missiológicos. As comunidades estão cheias de igrejas irrelevantes, centradas apenas no esforço evangelístico, entendido como “salvar almas para o céu”, mas que não se lembram do quão radical foi a encarnação de Jesus, que em seu ministério ia por toda a parte “pregando, ensinando e fazendo o bem” (Mt 10.38).

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“Por que a forte presença da igreja não se traduz em

transformações do contexto injusto

em que está inserida?”

Pedido de oração pela família de pastor assassinado durante vigília de oração

em Felipe Camarão.

O Pastor Edmilson Melo foi assassinado em novembro de 2009

por assaltantes que se aproveitaram de um momento de vigília de

oração que o líder, sua família e igreja realizavam num monte do

bairro. Queremos nos solidarizar com a família do Pr. Edmilson e

com a Igreja Pentecostal Unidos em Cristo. Orem pela viúva, pelas

duas filhas, pela família, pela Igreja Pentecostal Unidos por Cristo

e por todas as igrejas evangélicas de Felipe Camarão e de Natal,

tão vitimadas por este episódio tão terrível.

Urge que empreendamos esforços a fim de ampliar nossa compreensão da missão, entendendo que esta se baseia não apenas em “ganhar almas”, mas em discipular e servir às comunidades nas quais atuamos, sinalizando com a maior densidade possível, em palavras e ações, o Reino de Deus, que é justiça, paz e alegria no Espírito Santo! Felipe Camarão está aí para mostrar que isto é possível!

* Leandro Silva é Presidente da ALEF – Associação de Líderes Evangélicos de Felipe Camarão, organização integrante da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS),

e missionário em treinamento da SEPAL. Foi um dos representantes evangélicos no Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE, 2008) e coordena a Campanha Nacional

de Politicas Públicas de Juventude da Rede Fale. Email: [email protected]. ALEF realiza palestras e consultorias em igrejas e organizações sociais.

Wilgor Caravanti *

V “Você entra na vida dos outros e eles entram na sua”. Essa frase estava na capa de

uma das mais importantes revistas semanais de informação do Brasil recentemente. E a constatação pode ser: A geração atual tem se mostrado muito corajosa, afinal de contas, diferente dos mais “antigos”, tem feito de suas vidas privadas um livro aberto, utilizando as “redes sociais” como Orkut, MSN, YouTube e, agora, a nova febre da internet, o Twitter, como meios de divulgação.

Com certeza essas ferramentas são o mais novo modelo de relacionamento do nosso século e têm proporcionado grandes “experiências” aos jovens e adolescentes nos dias de hoje. Você fica sabendo de tudo, a todo o momento, e arrebanha uma quantidade inigualável de “amigos” que não seriam possíveis se não fosse a Internet. Segundo a revista Época, “a grande novidade do Twitter é o ritmo. Por algum motivo inexplicável, as pessoas não param de trocar mensagens”. Com o Twitter as pessoas tornam-se seguidoras umas das outras e automaticamente

Peça

ano 6 nº 14 s ma14

“As igrejas possuem uma capilaridade que não pode ser encontrada em

nenhuma outra forma de organização social

das comunidades, estando presentes

em todos os recantos dos bairros e favelas,

mesmo os mais inóspitos”

“Redes sociais virtuais podem servir para compartilhar uma

alegria, dar um conselho, abrir o coração, porém, até que ponto isso realmente traz um relacionamento

verdadeiro e duradouro?”

acabam fazendo parte da vida e do cotidiano umas das outras.

Não há dúvida que essas ferramentas podem ser utilizadas para compartilhar uma alegria, dar um conselho amigo, ser um espaço para abrir o coração, porém, até que ponto isso realmente traz um relacionamento verdadeiro e duradouro? Como saber se esse “fazer parte da vida e do cotidiano das pessoas” significa realmente se importar com o outro e verdadeiramente fazer parte de sua vida?

As redes sociais virtuais dão a impressão de deixarem os relacionamentos mais próximos, entretanto, na realidade, os tornam mais superficiais. Elas proporcionam muitos amigos virtuais, porém poucos amigos reais. Permitem publicar informações triviais sobre o dia-a-dia de cada pessoa (o que comemos, que ônibus pegamos, que roupa estamos usando, o que estamos fazendo), mas não há tanta coragem para publicar alguma informação sobre o que o coração realmente está

sentindo (principalmente se está deprimido).

Não se pode fugir dessa realidade, e nem é o que Cristo quer, mas como a juventude evangélica de hoje pode impactar essa geração? Como transbordar o amor de Jesus nos dias de hoje e como isso impactará a realidade atual?

Antes de Jesus ser crucificado, ele deixou um legado:

“Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”. (João 13.15-16).

Servir. Esse é o legado. Não é possível lavar os pés do outro com mensagens instantâneas de 140 caracteres (máximo utilizado pelo

Peça

Twitter). Não é possível abraçar pelo Orkut, não é possível chorar junto e colocar a mão no ombro de um amigo por meio do MSN. Use essas ferramentas virtuais para pedir uma pizza, e depois convide um amigo para saboreá-la junto com você, no mundo real mesmo. Estar e ser presente no século da virtualidade é um jeito simples de servir aos propósitos de

Deus nessa geração.

A pizza pode se tornar o símbolo de um relacionamento íntimo com o outro. Até no Congresso Nacional tudo acaba em pizza.

Entretanto, essa pizza tem gosto de vitória

para alguns e derrota para outros, mas a pizza que estou

propondo aqui é aquela que promove a confiança, a amizade e a salvação para ambos os lados. No tempo de Jesus não teve pizza, mas teve uma Santa Ceia, onde o próprio Cristo lavou os pés dos discípulos e disse para que façamos o mesmo.

* Wilgor Caravanti é empresário do ramo de Design, presidente de uma

comunidade local em Curitiba, membro da diretoria do Movimento Encontrão.

pela Internet

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urbanismo

“Creio que todo cristão deve procurar exercer a sua profissão e realizar as suas tarefas como se estivesse fazendo

para o próprio Senhor. Assim fazemos o melhor

e damos exemplo de comportamento cristão”

ano 6 nº 14 s ma16

análise de conjuntura

Presbiteriano conta sua rotina de diretor do Hospital do Câncer

O cirurgião Paulo De Biasi, 57, diretor de unidade do INCA, diz que o profissional de Saúde tem que ter uma boa percepção a respeito do paciente e de seus familiares,

inclusive, no que diz respeito à sua orientação espiritual

uem tem menos de 50 anos dificilmente deve ter ouvido falar no Dr. James Kildare. O médico fictício, criado por Frederick Schiller Faust, mais conhecido por seus contos de faroeste, protagonizou uma série de filmes norte-americanos nas décadas de 1930 e 1940, um programa de rádio nos anos de 1950 e, por fim, uma popular série de televisão na Rede ABC, nos anos de 1960. Nesta última, o ator Richard Chamberlain,

dá vida ao médico que se tornou o ideal de ética e sensibilidade exigidos de um profissional de Saúde em todo mundo.

O parâmetro ficcional encontra eco em alguns poucos, e cada vez mais raros, exemplares no cotidiano dos hospitais. Não por acaso, a série de maior audiência em TV à cabo no Brasil e nos EUA é “House”, que retrata um médico que se baseia apenas em exames clínicos para dar enigmáticos diagnósticos desprezando a proximidade física e emocional com os pacientes. Graças a Deus, no Brasil, o cirurgião Paulo de Biasi Cordeiro, de 57 anos, bebe na fonte do Dr. Kildare desde que se graduou em Medicina há 35 anos, na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ). Sem desprezar o caminho da dor pela qual percorrem seus pacientes, de Biasi se graduou em Cirurgia Geral e Mestrado em Cirurgia Torácica antes de dar aulas como professor Titular de Cirurgia Torácica da UFF e de assumir um dos cargos mais complexos da área de Saúde no estado do Rio de janeiro. O médico é Diretor do Hospital do Câncer, a maior unidade hospitalar do Instituto Nacional de Câncer (INCA) no país, e um dos mais bem equipados hospitais do Ministério da Saúde. O hospital presta assistência médico-hospitalar gratuita a milhares de pacientes com câncer anualmente desde 1957.

A opção religiosa do médico cirurgião de Biasi tem sido fundamental em sua carreira. Sem sua paixão por Cristo, diz ele, que é membro da Igreja Presbiteriana Betânia, em Niterói, sua trajetória não seria a mesma. Casado e pai de dois filhos, o médico supera, olhando diariamente para as necessidades do ser humano que vai ao Inca, problemas muito mais dolorosos do que os enfrentados por Kildare na ficção televisiva. É dessa rotina que ele fala com exclusividade à Soma.

Leia e aprenda.

MarceLo dutra

Q

www.soma.org.br 17

simplesmente a busca da capacitação técnica para o cuidado. Gestos simples como segurar a mão ou apoiar o ombro no instante de comunicar notícias desagradáveis têm grande efeito e preparam o indivíduo para lidar melhor com o câncer.

Revista Soma - o senhor já esteve em situações em que o médico se fundiu ao “missionário”, o “pastor” ou o “conselheiro”?

Paulo de Biasi - Uma vez operei a mãe de um amigo que começava a freqüentar a mesma igreja que eu. No pós-operatório, algumas complicações aconteceram de uma forma estranha, uma se sucedendo à outra. A certa altura percebi que existia um fundo espiritual naquelas complicações, pois os familiares me relataram que existia uma “maldição” sobre a paciente. Logo em seguida, juntamente com o pastor de minha igreja (pastor Josué Rodrigues), oramos pela remoção daquela maldição e do estigma que havia sobre ela. De maneira impressionante houve uma melhora imediata das complicações e a paciente obteve alta. Desnecessário dizer sobre o impacto que estes fatos tiveram sobre todos.

Revista Soma - o senhor acha que o cristão deve ter essa preocupação seja qual for sua profissão ou isso se restringe a quem lida exclusivamente com seres humanos?

Paulo de Biasi - Creio que todo cristão deve procurar exercer a sua

profissão e realizar as suas tarefas como se estivesse fazendo para o Senhor, pois assim faremos o melhor que podemos e mostraremos um exemplo de comportamento digno de um cristão.

Revista Soma - Há riscos de o profissional de saúde se envolver demais com o paciente ou mesmo com sua família?

Paulo de Biasi - Tomo o cuidado de evitar fazer proselitismo (tentar convencer alguém de uma determinada causa, ideal ou religião) no momento em que as pessoas estão fragilizadas e vulneráveis, como por exemplo, quando recebem a notícia de que

“Confesso muita dificuldade em

dar o ‘veredicto’, pois em múltiplas

ocasiões vi previsões

falharem”

Paulo De BiasiRevista Soma - o senhor considera importante o profissional não ser apenas o especialista, aquele que dá o “veredicto”, mas também aquele que consegue olhar o paciente como um todo: corpo, alma e espírito?

Paulo de Biasi - Creio firmemente que isto faz toda a diferença. O segredo é você ter a profundidade do conhecimento do especialista, porém sem perder em nenhum momento a humildade cristã e a certeza de que Deus é que te proporciona todas estas coisas. Só assim o paciente percebe o profissional médico como seu aliado e companheiro e passa a confiar nele integralmente. Este tipo de relação médico-paciente inclusive tem reflexos positivos no resultado obtido com o tratamento. Confesso muita dificuldade em dar o “veredicto”, pois em múltiplas ocasiões vi previsões falharem.

Revista Soma - Diante disso, como se faz para mostrar a Graça de Deus a pessoas e famílias tão feridas quanto àquelas com as quais o senhor lida no dia a dia?

Paulo de Biasi - É necessário ter uma boa percepção a respeito do paciente e seus familiares, inclusive a respeito de sua orientação espiritual. Nos casos de pacientes cristãos é mais simples, pois podemos mesmo orar com eles e pedir a direção divina. Entretanto, naqueles refratários ao conceito do divino, uma atitude de compreensão do problema e especialmente demonstrar sensibilidade em relação à forma com que ele encara a doença são capazes de mostrar ao paciente e seus familiares que algo diferente interfere naquela relação além de

Presbiteriano conta sua rotina de diretor do Hospital do Câncer

uem tem menos de 50 anos dificilmente deve ter ouvido falar no Dr. James Kildare. O médico fictício, criado por Frederick Schiller Faust, mais conhecido por seus contos de faroeste, protagonizou uma série de filmes norte-americanos nas décadas de 1930 e 1940, um programa de rádio nos anos de 1950 e, por fim, uma popular série de televisão na Rede ABC, nos anos de 1960. Nesta última, o ator Richard Chamberlain,

dá vida ao médico que se tornou o ideal de ética e sensibilidade exigidos de um profissional de Saúde em todo mundo.

O parâmetro ficcional encontra eco em alguns poucos, e cada vez mais raros, exemplares no cotidiano dos hospitais. Não por acaso, a série de maior audiência em TV à cabo no Brasil e nos EUA é “House”, que retrata um médico que se baseia apenas em exames clínicos para dar enigmáticos diagnósticos desprezando a proximidade física e emocional com os pacientes. Graças a Deus, no Brasil, o cirurgião Paulo de Biasi Cordeiro, de 57 anos, bebe na fonte do Dr. Kildare desde que se graduou em Medicina há 35 anos, na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ). Sem desprezar o caminho da dor pela qual percorrem seus pacientes, de Biasi se graduou em Cirurgia Geral e Mestrado em Cirurgia Torácica antes de dar aulas como professor Titular de Cirurgia Torácica da UFF e de assumir um dos cargos mais complexos da área de Saúde no estado do Rio de janeiro. O médico é Diretor do Hospital do Câncer, a maior unidade hospitalar do Instituto Nacional de Câncer (INCA) no país, e um dos mais bem equipados hospitais do Ministério da Saúde. O hospital presta assistência médico-hospitalar gratuita a milhares de pacientes com câncer anualmente desde 1957.

A opção religiosa do médico cirurgião de Biasi tem sido fundamental em sua carreira. Sem sua paixão por Cristo, diz ele, que é membro da Igreja Presbiteriana Betânia, em Niterói, sua trajetória não seria a mesma. Casado e pai de dois filhos, o médico supera, olhando diariamente para as necessidades do ser humano que vai ao Inca, problemas muito mais dolorosos do que os enfrentados por Kildare na ficção televisiva. É dessa rotina que ele fala com exclusividade à Soma.

Leia e aprenda.

ano 6 nº 14 s ma18

têm câncer e assim estão expostas à questão da “terminalidade” da vida. Neste aspecto existe uma diferença nítida entre o cristão e os não crentes: para os primeiros a morte é lucro enquanto para os outros a situação gera grande angustia, pois não tem idéia do que se passará com eles após a morte. É claro que algum grau de sofrimento

solidário sempre acontece mesmo naqueles sem nenhuma orientação religiosa conforme demonstrado pelo desgaste observado nos funcionários de um hospital como o que trabalho e sempre existe a possibilidade de um envolvimento maior quando existe maior empatia entre as pessoas.

Revista Soma - Como lida com o desgaste de sua função sem perder a sensibilidade para com o sofrimento do outro?

Paulo de Biasi - Estou no INCA desde 1979. Fui staff da Cirurgia Torácica, depois chefe do serviço,

chefe de cirurgia e atualmente sou diretor do Hospital. Porém, ao lado de minhas atividades administrativas, sempre mantive a prática cirúrgica. Durante este período vivenciei várias iniciativas para sensibilizar os profissionais de saúde, especialmente os médicos, incluindo um programa atual do próprio Ministério da Saúde voltado para a humanização do

tratamento. Entretanto, creio que a verdadeira

humanização do atendimento e sua

manutenção ao longo do tempo somente são possíveis àqueles que têm algo a mais no coração do que apenas a capacitação

técnica. Creio firmemente

que o espírito cristão, voltado

para o bem estar do próximo, o desejo

de oferecer salvação ao nível espiritual a todos, acompanhado de humildade mantida através da prática religiosa podem perpetuar a sensibilidade em relação ao sofrimento do próximo.

Revista Soma - o que o senhor pode dizer para encorajar pastores e obreiros de igrejas a dar apoio às famílias na hora da descoberta do câncer e, depois, no tempo de sofrimento

que vem com o tratamento, a internação hospitalar etc?

Paulo de Biasi - O maior apoio a quem adoece de câncer consiste em ter as pessoas da família e de seu convívio social ao seu lado. Lembro ainda que uma boa parte das pessoas que adoecem de câncer pode obter a cura (cerca de 50% dos adultos e 70% das crianças), portanto, o diagnóstico de câncer nem sempre significa a morte. Por outro lado, naqueles nos quais a doença foge de controle, é ainda mais importante o apoio familiar e espiritual. Os pastores e obreiros devem ser persistentes no cuidado e estabelecer metas para a vida destas pessoas que possam ser atingidas em curto prazo e, uma vez alcançadas, estabelecer novos alvos possíveis, pois o futuro a Deus pertence e nada acontece que não seja da Sua vontade.

Revista Soma - o senhor poderia citar algumas histórias exemplares e edificantes que o senhor testemunhou nos leitos, enfermarias e corredores do iNCA, envolvendo cristãos?

Paulo de Biasi - Lembro-me especialmente da maneira com que os pais de uma criança que adoeceu de leucemia encararam a doença e a posterior morte de seu filho. Claramente eles anteviam a vida eterna de seu filho e, por isso, apesar da tristeza do momento, mostraram

um comportamento com tal segurança e tranqüilidade

que impressionou a todos os da equipe de saúde

e, tenho certeza, ajudaram a passar a mensagem das boas novas aos que os conheceram.

“Creio firmemente que o espírito cristão, voltado para o bem-estar do próximo, o desejo de oferecer salvação espiritual a todos, acompanhado de muita humildade, podem perpetuar a sensibilidade em relação ao sofrimento do próximo”

“Podem obter a cura do câncer: 50% dos adultos

e 70% das crianças”

Estavam lá... o terremoto de 1906 em São Francisco nos EUA, a grande depressão de 1936, Hitler na França, a morte do “ultimo Judeu de Vinnitsa”, a bomba atômica de Iroshima e Nagasaki, Inejiro Asanuma japonês socialista assassinado em 1960, Che Guevara capturado em 1967, Phan Thi Khim Puc menina vietnamita fugindo dos bombardeios em 1972... e seguiram mais algumas fotos chocantes de conflitos mais recentes. Mas não era bem isso que eu procurava. Acabei me entristecendo.

A mensagem dos cristãos

Os cristãos, principalmente em movimentos jovens, parecem ser os únicos que ainda acreditam que podem impactar o mundo com sua mensagem, mas por que não impactam? Sem recorrer as respostas prontas e rápidas, é difícil responder... Porque a mensagem que carregamos sem dúvida é impactante.

Faço parte dessa geração... acusada de ser individualista, preguiçosa, imóvel, sem ideais, sem compromisso, sem uma bandeira, que não acredita nas instituições... e olhando assim parece que não vai ser essa geração que vai impactar o mundo. Mas somos fruto das outras gerações... que tinham a idéia politizada de um movimento nacional, que lutava pelos seu ideais, que acreditava nas instituições e brigava por elas, que assumia o compromisso até as últimas conseqüências... é... eu sou filho dessa geração... e talvez uma das conseqüências tenha sido essa... muita dedicação aos ideais e pouca presença paterna. Faço parte dessa geração... que viu os pais lutarem por instituições às quais não reconhecem mais e chegam ao final da vida vendo todas elas falirem tanto em seus propósitos como financeiramente.

Eu não quero repetir o modelo da geração que passou. Mas

Não preciso de bandeira,

preciso de toalha!

liderança

ano 6 nº 14 s ma20

rodrigo robinson *

proximadamente 141 mil “pessoas que impactaram o mundo”. Esse foi o número de respostas

que o Google me ofereceu na minha busca por pessoas relevantes que marcaram a história que poderiam me ajudar a encontrar caminhos para uma vida menos medíocre. Fiquei empolgado! Tinha bastante material para minha pesquisa.

Comecei com uma olhada por cima para identificar os mais interessantes. Logo me chamou a atenção que entre poucas notícias sobre a atual crise mundial, havia uma imensa maioria de sites cristãos que diziam que alguém havia impactado o mundo, a maioria deles, porém, falava de seus próprios ministérios, denominações... eram quase textos institucionais. A empolgação inicial logo foi embora... mas eu não devo ser o único malsucedido nesses sites de busca...

Resolvi insistir... achei um vídeo do Youtube com fotografias que marcaram a história, era em espanhol.

A

também não nego o seu esforço e caminhada... eu quero a sua bênção para ir além. Será que é possível?

Esta geração: redes e verdadeiro relacionamento

Eu creio que a atual geração nasceu para este tempo! E precisamos assumir isso. Muitas das coisas que dizem sobre nós são verdades... mas também é verdade que nesse mundo maluco onde as formas do passado parecem não se encaixarem, nos resta depender inteiramente de Deus. Nós temos mais facilidade em aceitar a intervenção poderosa do Espírito, porque não queremos fazer tudo sozinhos, e mesmo que isso possa parecer preguiça, é dependência. Realmente não acreditamos nas instituições, organizamo-nos muito mais em redes de relacionamento e interesse, graças a Deus! (Orkut? Twitter?, até podem ser utilizados, mas não são eles que irão tornar

essas redes reais e relevantes, vejo isso mais como uma vitrine de uma rede de relacionamento real).

Somos diferentes em muitas coisas, mas iguais no amor a Jesus! Não vamos negociar os valores do Reino (tentaremos, e Deus há de nos trazer de volta quando falharmos)! Não vamos abrir mão da experiência pessoal com o Salvador, mas precisamos aprender a compartilhá-la de forma relevante a esse mundo. Não vamos negociar nossa integridade (livra-nos do mal)! Não vamos ceder à pressão de que existem muitos caminhos possíveis para a redenção (e tentaremos não ser preconceituosos)! Não vamos esquecer a Palavra! Não vamos negar a Fé! Não vamos nos esquecer da Graça!

Serviço

Mas queremos ir mais fundo no relacionamento com o Pai. Queremos conhecer e viver esse Deus que nos dá identidade. Precisamos experimentar esse amor paternal para conseguir viver uma das coisas mais preciosas do Evangelho: O serviço!

Temos a tendência de só querer receber... e isso não é evangelho. Mas também não queremos servir como jumentos culpados. Queremos servir como fruto do relacionamento com o Pai, como filhos amados, aceitos, e que querem repartir o que tem

recebido. Sem o peso de acharmos que vamos conseguir resolver tudo. Não queremos ser movidos pelo medo do inferno e pela culpa do pecado! Queremos ser arrastados pela liberdade do perdão, da comunhão viva e verdadeira com o Pai que nos ama. Não queremos realizar grandes obras com a força dos nossos braços, antes vamos ser pequenos instrumentos para o poderoso agir do Espírito Santo. Não precisamos de bandeira, precisamos de toalha!

Vamos fortalecer nossas redes, trocar experiências. Juntos, mesmo que virtualmente, vamos além, vamos mais fundo.

* Rodrigo Robinson é publicitário, empresário do ramo da informática

e ministro de louvor em sua comunidade local em Curitiba.

www.soma.org.br 21

s ma abril de 2004

s ma abril de 2004

O rio de sempre

Explode novamente o “não vale a pena ver de novo” da novela Rio-Violência. É inacreditável a estatística do desperdício de vidas nesse terrorismo pé-no-chão que inferniza as comunidades faveladas da Cidade Olímpica. Nunca é demais repetir que os consumidores de drogas, os responsáveis diretos pelo financiamento ao tráfico, são a priori absolvidos de sua cumplicidade por uma legislação leniente e paternalista.

Macéias nunes*

ste acordo religioso do Brasil com o Vaticano é o típico ato de desespero de causa por parte do Estado pontifício. Tendo perdido a hegemonia de fato no país, que

vai aos poucos deixando de ser o maior do mundo em número de católicos, Roma tenta estabelecer uma espécie de hegemonia de direito por meio dos privilégios que o pacto lhe assegura. Inconstitucional como tudo o mais que represente favorecimento confessional em

um Estado laico, o acordo terá sua melhor resposta não em uma paridade de concessões igualmente inconstitucionais a outras crenças,

mas na fé simples, implícita e direta do povo comum.

De juri

Fanini

Nome de destaque no contexto da evangelização internacional no final do século XX, foi um dos dois brasileiros a presidir a Aliança Batista Mundial. O outro foi João Soren. Merece uma biografia isenta, que provavelmente aparecerá nos próximos anos. Sua contribuição é inegavelmente relevante.

Bobo da corte

Lula usa bem as metáforas de (mau) gosto popular para se comunicar e acaba se dando bem (mal). Comparar-se com o cristo da política brasileira tendo que se aliar aos iscariotes do submundo partidário é apenas uma comparação vazia, sem conteúdo religioso que valha a pena discutir. Ao menos, politicamente, é uma confissão implícita dos descaminhos trilhados pela camarilha no poder.

Vela para todos

Quando disseram a Tancredo Neves que ele era o tipo de político acostumado a acender uma vela a Deus e outra ao Diabo, o guru mineiro disse que pior era um seu adversário, que só acendia velas para o Diabo. Dona Dilma vai além dos dois: acende para Deus, para o Diabo e para todas as religiões do Brasil. Para se queimar, fogo não falta.

Seleção

Se depender de fé, o Brasil volta hexacampeão da África do Sul. Além do auxiliar técnico Jorginho, vários jogadores “belong to Jesus”. Até agora, ganharam tudo. Ao menos, a farra de 2006 não irá se repetir.

* Macéias Nunes é pastor e jornalista.

E

Viva Yoani

Yoani Sánchez, a blogueira que vive (e morre) a exigir da “democracia” cubana o direito à liberdade de expressão, foi, naturalmente, proibida de viajar aos Estados Unidos e ao Brasil para, respectivamente, receber prêmio e lançar livro. E a esquerda brasileira, mais domesticada e alienada do que nunca, não diz uma vírgula sobre o assunto. Frei Betto acha lindo tudo isso.

Voltaire anda fazendo falta.

ano 6 nº 14 s ma22

conexão américa latina

o livro “Fidel e Raúl, meus irmãos – a história secreta”, lançado recentemente pela

dissidente cubana Juanita Castro em conjunto com a jornalista mexicana Maria Antonieta Collins, a autora comenta seu desencanto com a

revolução de seus dois irmãos Fidel e Raul. Sobre remorsos de haver traído Fidel ao colaborar com a Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) entre 1961 e 1964, Juanita diz que não os tem: – “Eu não o traí. Ele me traiu. Ele traiu os milhares que sofreram e lutaram pela revolução que nos oferecia”.

Apesar de estar quase sepultado, Fidel Castro tem sido inspiração

Sobre Jesus, Lula, Fidel e a camarilha das revoluções ditas populares

Luciano vergara * de vários líderes políticos latinoamericanos por cinco décadas. Sem tirar Lula. Os recentes movimentos da esquerda revolucionária no continente deixam no ar o cheiro dos “anos 60” e seus golpes de estado. A América Latina volta a ser povoada por caudilhos

regionais, mas os discursos pouco mudaram.

No passado, o mundo estava polarizado pela guerra fria e exploração dos recursos por multinacionais num cenário de decadência dos impérios coloniais e globalização da fome. Agora, as bandeiras se agitam contra a

hegemonia decadente dos EUA em cenário de fim de

crise econômica, combinada com globalização tecnológica,

corrupção e terrorismo, além de agravada pela indiferença dos europeus ante a pobreza na África e a escalada militarista no Oriente Médio e Ásia Central.

Tropeções de lula - Ignorando o que dizem os tambores de vizinhos hispânicos, o companheiro Luís Inácio arrisca a inédita popularidade, para um chefe latinoamericano, no exterior enquanto aguarda conseguir tornar o Brasil membro permanente do Conselho de Segurança das

Nações Unidas (ONU), único grande feito de nossa recente política de Estado. Mas o presidente comete,

um, dois, três, vários tropeções. Lula acha que Jesus faria acordo com Judas, o Irã é um grande país, a Venezuela é uma democracia, a imprensa não tem que fiscalizar.

Nosso país tem muito para oferecer de bom ao mundo. E nem precisa esperar 2014 e 2016 para mostrar, em pódios, a marca de nossa liderança. Para isso, faz-se necessário rever conceitos e assumir posições mais claras e de sintonia bem definida. E o melhor, é que não precisa trair nossa fama mundial de neutralidade, simpatia e cordialidade.

Por exemplo, em vez de se rebaixar a compadre de Manuel Zelaya e parceiro de outros “caciquitos” oportunistas, deveria estar afirmando a liderança moral no Mercosul e a competência como gestor da conclusão da crise no Haiti, conseguindo fechar acordos e negócios com a Ásia e Europa, fazendo de nações africanas parceiras minoritárias em projetos estratégicos multilaterais e mostrando – com classe, não com improvisos – que chefiar é fazer escolhas. Principalmente de quais regimes nos servem de companhia. Mahmoud

N

ano 6 nº 14 s ma24

“O Brasil tem muito a oferecer de bom ao mundo. E nem precisa esperar 2014 e 2016 para mostrar, em pódios, a marca de nossa liderança”

lula e Hugo Chaves, da Venezuela. divulgação - aBr

lula e Mahmoud abbas, da Palestina.

divulgação - aBr

Sobre Jesus, Lula, Fidel e a camarilha das revoluções ditas populares

assim como sinalizar que a paz, a justiça e a liberdade são os bens mais caros da humanidade e traços da melhor tradição cristã.

Lula deve deixar claro que desenvolvimento e justiça são no-ções fundamentais para a paz e a prosperidade de países pobres e em desenvolvimento. Ao fazer a “opção

pelos mais pobres”, o companheiro acerta em cheio se quer ter uma liderança marcada pelo serviço e ir à tribuna tanto por ajudas internacionais

quanto pela quebra de paten-tes de interesse humanitário e ser voz indis pensável no Conselho de Segurança. Mas não é abraçando todo mundo e defendendo tratamento cortês para com regimes despóticos e sanguinários, ou seja, é assumindo que não vale a pe na fazer acordo com Judas, pois Cristo preferiu a cruz a trair a si mesmo, ao próprio discurso e aos que

creram nas Boas Novas.

* Luciano Vergara é jornalista, pastor da Igreja Metodista e professor do

Seminário Betel, no Rio de Janeiro.

Ahmadinejad, Muammar Kadhafi, Robert Mugabe? Nem de longe.

Já que o Brasil adota o discurso do uso apenas pacífico da energia nuclear, sabe de antemão que só dispõe da “arma” ideológica para liderar num mundo contido pela bomba. E precisa confirmar isso pelo exemplo. Por isso, teria grande força simbólica, como reforços do discurso, deixar de sentar-se com Ahmadinejad, colocar ‘el rojito’ Chávez em sua pequenez e deixar os comissários chineses na sala de espera. Mas, pela mesma lógica, receber com fanfarras dignitários de regimes comprometidos com a justiça e o desenvolvimento dos povos,

lula e Mahmoud ahmadinejad, do irã. divulgação - aBr

saúde

LeniLdo Medeiros

ssim o escritor gaúcho Moacyr Scliar definiu o Prêmio oferecido pela Câmara Brasileira do Livro anualmente a todas as esferas envolvidas na criação e produção de um livro: “o Jabuti é como o Oscar literário”. E em 2009, um livro com a participação de quatro membros do Corpo

de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) entrou na lista dos premiados deste “Oscar” e recebeu um troféu do Prêmio Jabuti por ter sido considerado o segundo melhor livro do ano na categoria “Educação, Psicologia e Psicanálise”.

A obra “Religiosidade e Psicoterapia”, da Editora Roca, tem entre suas quatro organizadoras a psicóloga do CPPC Fatima Fontes. Além de ser co-organizadora do livro, ela escreve sobre o desenvolvimento da fé em crianças e adolescentes. Os outros membros do CPPC envolvidos no trabalho como co-autores foram: o pastor e psicólogo José Cássio Martins, que descreve os cuidados necessários a pastores; a psicóloga Rosângela Campos, que trata do tema dos cuidados em ambiente hospitalar e os que carregam uma experiência religiosa; e a psicóloga Bruna Suruagy, que foi membro do CPPC Universitário, é doutoranda em Psicologia Social pela PUC/SP, e colaborou com um estudo sobre a sexualidade dos jovens na igreja Bola de Neve Church. Também foram organizadoras do texto premiado as psicólogas Claudia Bruscagin, Adriana Savio; e Denise Mendes Gomes. Na categoria, o 1º lugar ficou com “A Voz e o Tempo - Reflexões para Jovens Terapeutas”, da Ateliê Editorial, por Roberto Gambini. Em 2009, o Jabuti teve 21 categorias e recorde de livros inscritos: 2.574.

Numa entrevista exclusiva à Soma, Fatima Fontes, que é membro pleno do CPPC, assessora nacional do CPPC Universitário, psicóloga clínica, especialista em Psicodrama, terapia familiar e de casal, mestre m Psicologia Social PUC/SP e doutora em Serviço Social PUC/SP, com estágio de estudos de doutoramento no Centre Edgar Morin, em Paris, fala da conquista do Jabuti, do livro, do CPPC e explica a necessidade que os cuidadores também têm de cuidado.

Revista Soma - Qual a proposta do livro “Religiosidade e Psicoterapia”, ganhador de um troféu Jabuti? Qual o objetivo com a escolha do tema? Quais as três principais lições que um profissional de saúde pode tirar da obra?

Fatima Fontes - A proposta das quatro organizadoras era produzir um livro inédito que abordasse questões da prática terapêutica e da adesão religiosa

das pessoas que pedem ajuda. O principal objetivo era então apresentar os meandros da experiência religiosa aos cuidadores. E podemos enumerar como três lições para um profissional de Saúde que lê esse livro: (1) Ele vai compreender, de forma detalhada a força que tem uma experiência

religiosa na vida das pessoas; (2) Ele vai esclarecer alguns

pormenores de questões como: divórcios na vida de casais que têm identidade religiosa; como uma criança e um adolescente aprendem a crer; a força que tem uma família em adversidades quando está presente a experiência religiosa, entre outros meandros. (3) Será possível instrumentalizar melhor a prática de

ajuda a pessoas que têm a identidade religiosa em

suas vidas.

Revista Soma - O livro diz que grande número de profissionais de saúde desconhece o fenômeno da adesão religiosa. Por que isso acontece?

Fatima Fontes - Porque houve um “cerco” aos que criam, desde que a ciência rompeu com a religião. Somente com as mudanças paradigmáticas trazidas pelos novos ventos do neo-positivismo e do construcionismo, tem sido possível aproximar a ciência e seus fazedores de uma inclusão completa do ser, não mais cindido e sem fé. E desde os anos

Co-organizadora de livro que ganhou um troféu Jabuti, a psicóloga cristã Fatima Fontes explica o motivo e dá dicas sobre a necessidade dos cuidadores

(“eles precisam de cuidados extras”) e a prevenção de problemas

A

Religiosidade e Psicoterapia

“É a nossa parte sombria que nos leva a acreditar que somos ‘super-

pessoas’”

Fatima, no lançamento do livro, e autografando - arquivo Pessoal

que a partilha da redentora e salvífica graça de Deus.

Revista Soma - Com você, outros três integrantes do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos assinaram artigos no livro premiado. Como está o movimento do CPPC?

de um curso lato sensu, de pós-graduação, oferecido pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo em aconselhamento pastoral e muito me alegra perceber o crescente número de pastores e líderes que buscam esse curso. Também testemunho ali o relativo “despreparo” e muitas vezes certo “adoecimento” de pastores na função de cuidadores, pois carregam uma carga de pressão emocional bem maior do que conseguem suportar. Será preciso, então, como forma de prevenção, além de um melhor preparo, o auto-conhecimento e o estabe lecimento de fronteiras claras entre eles como cuidadores e suas próprias necessidades.

Revista Soma - Provavelmente, sua experiência com terapia individual, de casal e de família inclui pessoas que sofreram influências de instituições religiosas, especialmente as evangélicas. Até que ponto isso afeta seu trabalho? As igrejas hoje estão mais para comunidades terapêuticas ou fomentadoras de distúrbios emocionais?

Fatima Fontes - Tanto como membro de uma igreja local, quanto como cuidadora, atesto que as igrejas evangélicas, a despeito de suas várias limitações e até cometendo alguns equívocos, ainda funcionam como “espaços terapêuticos”. Comprovo isso, quando vejo a esperança que ainda carrega aquele que é membro de uma comunidade religiosa: a condição de “membro” dessas comunidades, o mais das vezes amplia a noção de cidadania e de dignificação humana. Certamente também há certa “complementação” de fragilidades emocionais pré-existentes de alguns fiéis, mas essa “patologização” ainda é bem menor

A prevenção: “um melhor preparo, o

autoconhecimento e o estabelecimento de

fronteiras claras entre eles como cuidadores

e suas próprias necessidades”

80, tem sido possível acompanhar pesquisas e estudos provando a força positiva e transformadora da fé na vida dos que crêem. Contudo, o modelo de ensino Acadêmico, sobretudo da Psicologia, ainda mantém fora de seus conteúdos cirriculares qualquer alusão à fé e aos fenômenos religiosos.

Revista Soma - Os cuidadores da saúde precisam de cuidados. Isso é fato. Mas, de que maneira o trabalho que eles desenvolvem afeta suas vidas pessoais e familiares? E como prevenir tais dificuldades?

Fatima Fontes - Sim, os cuidadores precisam de cuidados extras: suas histórias precisam ser revisitadas, sua alma tratada para realmente estarem em condições de ter a qualidade de vida requerida para uma profissão de cuidador. Teremos que lutar com a “sombra do charlatão” que os cuidadores carregam, é a nossa parte sombria que nos leva a acreditar que somos “super-pessoas”. Quanto mais lidarmos e assumirmos a nossa humanidade, melhor cuidaremos de nós mesmos, de nossos vínculos familiares e de quem nos pede ajuda. Essa questão do cuidador e dos riscos de “adoecer” nessa profissão é muito bem analisada pela psicóloga Roseli Kührich de Oliveira, nossa companheira do CPPC Sul, em seu livro: “Cuidando de quem cuida. Um olhar de cuidados aos que ministram a Palavra de Deus”, editado pela Editora Sinodal, já em sua 2ª edição (Nota do Editor: leia outro comentário sobre este livro na página 32).

Revista Soma - Pastores e outros líderes de grupos religiosos cuidam de pessoas doentes em sua rotina de trabalho religioso. O que eles devem fazer para evitar problemas psicológicos como consequência destas atividades?

Fatima Fontes - Antes de mais nada eles precisam se habilitar melhor para esse papel de cuidadores de psiquês, uma vez que só os cursos de teologia não oferecem as ferramentas necessárias. Atualmente sou professora, junto com outros membros do CPPC SP,

Fatima Fontes - O Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos é uma organização segundo o coração de Deus, portanto tem crescido “em graça e sabedoria”. Hoje, somos mais profissionalizados: temos uma Secretaria Nacional no RJ, temos uma secretária nacional: a competente psicóloga Luciene Miranda; temos um site: www.cppc.org.br e já nos desdobramos em núcleos em várias cidades do Brasil. Temos também o segmento universitário - CPPC Universitário, de onde já estão saindo doutores e mestres em grandes universidades brasileiras. Hoje congregamos especialistas de vários campos da Psicologia e da Psiquiatria, formando um Corpo que busca integrar em suas práticas o rigor científico e a fé cristã. E o livro que produzimos, ganhando um prêmio de literatura nacional, também atesta nossa qualidade. Vale ainda ressaltar que a produção bibliográfica de muitos de nossos membros é significativa.

www.soma.org.br 27

O paradigma das especialidadesprofundezas

urante o segundo grau, decidi “oferecer” a escolha de minha profissão a Deus, em

gratidão. Percebia que algo tão crucial tinha que ser o “mais útil” possível, levando em conta não só minhas facilidades e gostos, mas os problemas que enfrentaria no futuro, os quais, obviamente, só Deus saberia. Naquela época, lembro que uma passagem bíblica (ou mais de uma?) ressaltando como a sabedoria do homem era vã perante a sabedoria de Deus me “perseguiu” durante um tempo. Entendi, com uma clareza que me surpreendia pela sua intensidade, que a resposta de Deus era que não importava tanto qual sabedoria do homem eu escolheria, mas se eu escolheria ou não a sabedoria de Deus.

Mas discuti com Deus: “Senhor, não entendo que não haja uma profissão em que eu seria mais útil - ora, esta teria tal utilidade, para aquela eu teria mais facilidade, nesta o mercado de trabalho é pequeno... em uma delas eu serei mais útil. Então, qual é ela, Senhor?” E, como se com um sorriso, o Senhor se calou. Seguiram-se meses de busca, visitas a faculdades, conversas com profissionais, listas de prós e contras, vestibulares para duas formações diferentes. Somente para o Senhor

Marcos PauLo veLoso correia *

“Não importava tanto qual

sabedoria do homem eu escolheria, mas se eu escolheria ou não a

sabedoria de Deus”

me ensinar, ao longo de minha vida, a mesma resposta inicial. Realmente, ainda que Deus quisesse me usar em uma profissão específica, a ênfase não seria a profissão em si.

Hoje, depois de muitas experiên-cias, percebo nitidamente a impor-tância de revermos, como Igreja, a supervalorização da formação profissional em nosso dia-a-dia. Seu valor deve ser enquadrado à visão bíblica. A supervalorização deste poder huma-no clara mente nos afasta de Deus e de Seu sonho, desde a queda até nossos dias.

Não é que a ciência obrigatoriamente nos afaste de Deus, ou dispute com Deus. Paulo afirmava aos romanos que os atributos invisíveis de Deus se tornam tão nítidos em sua criação, que os que não o reconhecem são indesculpáveis (Romanos 1:20), implicando que, então, estudar a Criação apontaria para Deus. Louis Pasteur, em sua

época, confirmava: “um pouco de ciência nos afasta de Deus; muito, nos aproxima”.

O problema, no entanto, ocorre nos âmbitos de “homens com relação a homens” (um desvirtuamento dos valores e papéis ideais de especialistas e não-especialistas), de “homens com

relação às especialidades” (nossa dificuldade em

apropriarmo-nos de que temos capacidade e responsabilidade em dar passos com relação ao conhecimento acadêmico, motivados pelas necessidades das pessoas; em percebermos o conceito de time; em percebermos nossa identidade e responsabilidade cristã acima de nossa especialidade

técnica), e de “homens com relação a Deus”

(nossa eterna tentação de pôr confiança na sabedoria humana, e não na de Deus).

Há um modelo paternalista de especialidades profissionais, que permeia nossa cultura, inclusive

“Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza

para envergonhar o que é forte” 1Co 1:26-27 (NVI)

E a importância de uma revisão na mentalidade daqueles que integram a Igreja sobre a supervalorização da formação profissional

D

ano 6 nº 14 s ma28

O paradigma das especialidadesem nossas igrejas, o qual é fruto de uma atribuição de valor à ciência e à filosofia diferente do que Deus ensina na história bíblica. Um modelo paternalista tende, claro, a infantilizar a maioria das pessoas, que só tomam posições ativas em seus pequenos círculos de relacionamentos (onde não são consideradas inferiores), mas tendem a não se engajar em círculos maiores. A associação imediata que se faz à idéia de “saber mais” é a de “poder mais”. Em oposição a ele, há o modelo bíblico, de homens e Deus, de capacitação dos homens por Deus com heterogeneidade de dons espirituais e habilidades humanas, do uso e aperfeiçoamento dos dons para a cooperação com os demais (quanto a dons espirituais no Corpo de Cristo, vide 1Co 12:7-31). Não é que não haja importância no aperfeiçoamento, mas ele é buscado por um motivo, e não valorizado como o motivo em si. A associação imediata que se faz à idéia de “saber mais” é a de “fazer (e ensinar) melhor”.

Será que, em projetos de nossas comunidades cristãs, indivíduos com menos formação acadêmica não cedem espaço aos de formação mais avançada, simplesmente pelo fato de serem “culturalmente” “mais preparados”, mesmo sabendo que Deus escolhe segundo outros critérios, e que os que mais se envolveriam no projeto seriam os

mais preocupados e quebrantados, não necessariamente os de maior preparação acadêmica? Será que não temos mais facilidade de pensar nos mais preparados academicamente como líderes, do que como ensinadores e apoiadores em suas formações específicas (o que, na verdade, valeria para todos na igreja, com qualquer formação)? Será que, valorizando semelhantemente todas as formações acadêmicas e histórias de vida, entendendo-as como formações diferentes para tarefas específicas, cada qual com ação e limitação, não estaríamos mostrando com mais clareza aos não-cristãos que eles, como nós, têm valor e responsabilidade comunitária independentemente de sua formação?

Será que entendemos nossas próprias responsabilidades para com o cuidado de nossos próximos, nestes tantos anos de campanhas acerca das principais doenças, de modo que, por exemplo, procuramos preparar receitas gostosas que possam ser consumidas por diabéticos, em nossas confraternizações? Por que oramos pouco, e agimos pouco enquanto Igreja, para conseguirmos melhorar os problemas de lixo e água parada, embora nos preocupemos tanto se uma pessoa adoece por dengue? Será que não oramos muito para que Deus guie a mão dos médicos, mas pouco

para que Ele guie as enfermeiras a darem a nossos queridos um melhor conforto nos momentos de solidão, e pouco para que guie a equipe de fisioterapia e as outras equipes, e pouco para que guie nosso próprio envolvimento? Será que lembramos que, para se ter saúde, há que se ter um sistema judiciário ágil e justo, suporte previdenciário, espaço de lazer, educação, respeito, e Deus? A preocupação com nosso trabalho ou estudo não tem tirado de prioridade a oração e o cuidado com o Reino, ao invés de, por causa destes, percebermos que podemos ou devemos procurar esta ou aquela informação ou formação? E que precisamos ser “sal e luz” desta ou daquela maneira aos nossos colegas de estudo ou trabalho, não raramente enfurnados em si mesmos?

Será que estamos pedindo a Deus mais ajuda que entendimento e convívio? Que Deus tão somente nos ajude a achar o remédio, ao invés de ouvi-lo e nos dispormos para mais que isto? Será que desvalorizamos intimamente a oração nos casos de doenças em que já existe tratamento, e, se sim, isto não é indício de que perdemos de vista o que mais Deus vê? Será que, quando amigos nos vêm pedir oração, não estamos respondendo com longas orientações de sabedoria humana, que colegas não-cristãos poderiam também dar? Centrar nossa confiança em nossa

E a importância de uma revisão na mentalidade daqueles que integram a Igreja sobre a supervalorização da formação profissional

www.soma.org.br 29

capacidade ou na de especialistas é semelhante a centrá-la, como outrora, em “carros e cavalos” (Sl 20:3). Sutilmente, sermos nossos próprios deuses, pelo conhecimento (Gn 3:1-6). Por outro lado, a salvação não tem participação especial do conhecimento humano (1Co 1:27-29); nosso conhecimento não nos acompanhará nos Novos Céus e Nova Terra (1Co 13:8); e, mesmo aqui, ele é limitado em gerar qualidade de vida.

Hipervalorizar a formação profissional acaba por não honrar o especialista, nem beneficiar a população. O especialista pode pensar que reter o conhecimento lhe dá status e uma clientela cativa, pela dependência que têm de seu parecer. Porém, a tendência dos demais a fugir para os círculos em que se sentem mais ativos prejudica o acompanhamento pelo especialista, e daí também a eficácia de sua ação; ao mesmo tempo que favorece uma cultura de “especialistas alugáveis e descartáveis”, para uso segundo entenda o cliente, ao qual, lembre-

se, foi geralmente também negada a discussão de critérios para melhor escolher um consultor. Segue-se uma hipervalorização do carisma

e da propaganda como estratégias de crescer “no mercado” (leia-se: “conquistar”, teatralmente se necessário, o cliente), além de disputas por cargos ou visibilidade nas instituições, para projeção pessoal e não por projetos e sonhos. E, então, o cliente torna-se mais suscetível a maus profissionais, engodos e inseguranças, e os profissionais sérios a injustiças e frustrações. Descrentes, estes procuram na valorização de seus honorários a compensação pela miséria de vida por trás do falso status, e da vida competitiva e desconfiada onde deveria haver

amor e cooperação.

Em contraste, no modelo bíblico, o especialista não é

hierarquicamente superior, mas um consultor. A escolha de um dado profissional como líder em uma empreitada se baseia não só em seu conhecimento, mas em outros parâmetros; e a função de liderado, por outro lado, também é ativa e nobre, e rica em responsabilidade,

inclusive para com o líder. Há o Espírito Santo como conselheiro, Que lhes oferece discernimento caso a caso. São colegas de “time”.

Trazer para o mundo secular alguns destes conceitos é bom, embora não emule o andar com o Senhor. Nossas limitações econômico-sociais são apenas parte do problema. O pecado prejudica a saúde (Sl 32:3-5) e a sabedoria humana não traz justiça.

Mas ah!, se a Igreja lembrasse mais vezes que somente a sua oração e disponibilidade pode realmente mudar o sofrimento de nossas comunidades! Não há circunstância limitante ao Senhor! Gostaria que tivéssemos mais trabalhos persistentes usando profissionais, graduados e não, mostrando ao mundo estas noções, e nossas mudanças de vida, e que o que temos a oferecer é mais que nosso trabalho (no qual tantos confiam), mas o apontar o Senhor, o único que traz segurança.

“Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo” Fp 3:8 (NVI).

* Marcos Paulo Veloso Correia é reumatologista e médico de

família em Niterói, RJ

profundezas

“Temos capacidade e responsabilidade em

dar passos com relação ao conhecimento

acadêmico, motivados pelas necessidades das pessoas; percebendo o conceito de time e nossa identidade e responsabilidade

cristã acima de nossa especialidade técnica”

“Aperfeiçoamento deve ser buscado por um motivo, e não valorizado

como o motivo em si”

ano 6 nº 14 s ma30

D esde sua concepção o Orando em Família tem a proposta de proporcionar às famílias o encontro diário com Deus através do conhecimento e da experiência com as escrituras sagradas e a oração. Ao longo dos 11 anos em que ele é publicado tem colhido lindos testemunhos de transformação e crescimento de seus leitores. Esses frutos foram nos dando a cada ano mais convicção de que precisávamos permitir que mais pessoas pudessem ter acesso a essas palavras de renovo e transformação. Até que decidimos ousar abaixando consideravelmente o preço do livro. Decisão

essa focada nas pessoas que precisam dessas palavras e impulsionada pelo compromisso com o Reino de Deus.

A edição 2010 do Orando em Família é 34% mais barata que a edição 2009, e isso só foi possível por um empenho muito grande de toda a equipe da Encontro Publicações, que motivada por essa decisão trabalhou duro para reduzir os custos de produção e aumentar a tiragem.

Uma atitude ousada na perspectiva do mercado, porém firmada na consciência de que o que nos sustenta é mão do Senhor e o que nos move é compromisso com Evangelho.

Essa edição tem como “fio vermelho” a declaração: “Creio em Jesus Cristo, verdadeiro homem e Deus...”. Aproveite essa oportunidade e seja um distribuidor deste instrumento de salvação.

Rodrigo RobinsonCoordenador de ComunicaçãoEncontro Publicações

OrandO em Família 2010 – meditações diárias

Editor: Martin Weingaertner13,5 x 21 cm – 384 páginasPreço de Capa: R$ 19,90

Orar em FamíliaUma proposta ao alcance de todos

Info

rme

Publ

icitá

rio

o mundo em revista

P sicóloga clínica e mestre em Teologia, Roseli M. Künrich

de Oliveira funde os saberes de suas formações acadêmicas

às extensas vivência eclesiástica e cultura que lhe caracterizam em seu livro “Cuidando de quem cuida – um olhar de cuidados aos que ministram a Palavra de Deus”. Publicado pela Sinodal, é o volume 28 da Série Teses e Dissertações, coordenada pela EST (Escola Superior de Teologia) de São Leopoldo, RS.

A autora consegue habilmente evitar o academicismo sem diluir o rigor científico no tratamento do tema, desvelando as evidências de descuido com (e dos) pastores, os “cuidadores eclesiásticos”.

Percebe-se o interesse misericor-dioso de Roseli pelos líderes clericais,

pois, ao colocar o dedo em várias feridas, algumas verdadeiros tabus – como o suicídio entre pastores - ela o faz com respeito e elegância, procurando identificar a dor e o remédio ao invés de apenas apontar erros e disfunções.

Após esquadrinhar as “Dimensões do Cuidado na Teologia e Psicologia” desde a tradição semita até nossos difíceis dias onde a Estética sobrepuja a Ética, Roseli direciona o foco para o pastor como pessoa. Embasada nas pesquisas de campo conclui da necessidade e urgência de cuidados dos pastores, que a despeito do conhecimento teórico da Bíblia, se encontram na prática “cansados e sobrecarregados”. O livro é finalizado com “Propostas de Cuidado Integral aos Pastores e Pastoras”,

que levam em conta a dimensão “biopsicossocioecoespiritual” dos mesmos e incluem, mais do que o terapêutico, o tratamento preventivo das diferentes crises ministeriais.

As 270 notas de rodapé além de demonstrar a extensão da pesquisa enriquecem sobremaneira o conteúdo, com contribuições e conceitos de diversos campos: literatura, grego, pintura, mitologia e filologia, tornan do o livro um pequeno manual pa ra quem deseja se aprofundar na “poimênica” aplicada aos guias espirituais. Indis pensável aos que sonham e trabalham por uma igreja que seja também uma comunidade terapêutica.

* Philippe Leandro é pastor, engenheiro e escritor

PhiLiPPe Leandro*

“Cuidando de quem cuida”

ano 6 nº 14 s ma32

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