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Extensivo – Literatura 1 AULA 20 1ª GERAÇÃO MODERNISTA (2): AUTORES E OBRAS FUNDAMENTAIS OSWALD DE ANDRADE: O PONTA-DE-LANÇA DO MODERNISMO Aspectos centrais da obra Se houve um autor que melhor encarnou o espírito modernista em sua personalidade, este foi Oswald de Andrade. Sua vida foi gêmea de sua obra: polêmica, contestadora, debochada e de vanguarda. Como aspectos centrais em seu texto, destacamos: Mistura de humor e de lirismo; Frequentemente recorrendo ao poema-piada e à paródia, à destruição dos limites entre prosa e poesia, critica as formas tradicionais de se fazer poesia, empreendendo, ao mesmo tempo, uma revisão crítica da história do Brasil, demolindo velhos mitos. Utilização poética de lugares-comuns. Linguagem poética extremamente simples; utilizando muito o capítulo-relâmpago e a linguagem- telegráfica, além das rupturas sintáticas, da fragmentação e da síntese. Principais obras publicadas Romance Os condenados (1922); Memórias sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1933) revolucionários na forma, os romances de Oswald apresentam linguagem cinematográfica, capítulos curtíssimos e muitas frases nominais (sem verbos). Poesia Pau-Brasil (1925); Primeiro caderno de poesia do aluno Oswald de Andrade (1927); Poesias reunidas (1945) Teatro O rei da vela (1937) Esta peça teatral teria sido a inauguração do Modernismo no teatro brasileiro se a censura do Estado Novo não impedisse sua montagem. O texto é um retrato do panorama social e econômico da época, mostrando um Brasil acorrentado ao capital estrangeiro e sugado pelo capitalismo selvagem. Abelardo, o rei da vela (todo defunto tem que ter uma vela), burguês cínico e agiota, acumula riquezas à custa da escravidão física e mental dos devedores. Manifestos Manifesto da poesia Pau-Brasil (1924) e Manifesto Antropofágico (1928) Dois textos fundamentais do nosso Modernismo, vistos na aula anterior. Seleção de textos ESCAPULÁRIO No Pão de Açúcar de Cada Dia Dai-nos Senhor A Poesia de Cada Dia

1ª Geração Modernista

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    AULA 20

    1 GERAO MODERNISTA (2): AUTORES E

    OBRAS FUNDAMENTAIS

    OSWALD DE ANDRADE: O

    PONTA-DE-LANA DO

    MODERNISMO

    Aspectos centrais da obra

    Se houve um autor que melhor encarnou o

    esprito modernista em sua personalidade, este foi

    Oswald de Andrade. Sua vida foi gmea de sua obra:

    polmica, contestadora, debochada e de vanguarda.

    Como aspectos centrais em seu texto, destacamos:

    Mistura de humor e de lirismo;

    Frequentemente recorrendo ao poema-piada e

    pardia, destruio dos limites entre prosa e

    poesia, critica as formas tradicionais de se fazer

    poesia, empreendendo, ao mesmo tempo, uma

    reviso crtica da histria do Brasil, demolindo velhos

    mitos.

    Utilizao potica de lugares-comuns.

    Linguagem potica extremamente simples; utilizando

    muito o captulo-relmpago e a linguagem-

    telegrfica, alm das rupturas sintticas, da

    fragmentao e da sntese.

    Principais obras publicadas

    Romance Os condenados (1922); Memrias

    sentimentais de Joo Miramar (1924); Serafim

    Ponte Grande (1933) revolucionrios na forma,

    os romances de Oswald apresentam linguagem

    cinematogrfica, captulos curtssimos e muitas

    frases nominais (sem verbos).

    Poesia Pau-Brasil (1925); Primeiro caderno de

    poesia do aluno Oswald de Andrade (1927);

    Poesias reunidas (1945)

    Teatro O rei da vela (1937) Esta pea teatral

    teria sido a inaugurao do Modernismo no teatro

    brasileiro se a censura do Estado Novo no

    impedisse sua montagem. O texto um retrato do

    panorama social e econmico da poca,

    mostrando um Brasil acorrentado ao capital

    estrangeiro e sugado pelo capitalismo selvagem.

    Abelardo, o rei da vela (todo defunto tem que ter

    uma vela), burgus cnico e agiota, acumula

    riquezas custa da escravido fsica e mental dos

    devedores.

    Manifestos Manifesto da poesia Pau-Brasil

    (1924) e Manifesto Antropofgico (1928) Dois

    textos fundamentais do nosso Modernismo, vistos

    na aula anterior.

    Seleo de textos

    ESCAPULRIO

    No Po de Acar

    de Cada Dia

    Dai-nos Senhor

    A Poesia

    de Cada Dia

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    AS MENINAS DA GARE

    Eram trs ou quatro moas bem moas e bem gentis

    Com cabelos mui pretos pelas espduas

    E suas vergonhas to altas e to saradinhas

    Que de ns as muito bem olharmos

    No tnhamos nenhuma vergonha

    VERBO CRACKAR

    Eu empobreo de repente

    Tu enriqueces por minha causa

    Ele azula para o serto

    Ns entramos em concordata

    Vs protestais por preferncia

    Eles escafedem a massa

    S pirata

    Sede trouxas

    Abrindo a pala

    Pessoal sarado

    Oxal que eu tivesse sabido que este verbo era irregular.

    MRIO DE ANDRADE: O PAPA

    DO MODERNISMO

    Aspectos centrais da obra

    Criador e divulgador da

    Corrente Desvairista, Mrio de

    Andrade defendia a liberdade

    de pesquisa, criao e

    expresso. Essa liberdade traz

    como fruto a poesia do inconsciente, o surrealismo, a

    escrita automtica, o verso livre, as associaes de

    imagens, a espontaneidade, a linguagem coloquial. Na

    verdade, este genial autor estava pondo em prtica os

    trs princpios que ele julgava fundamentais no

    Modernismo:

    Direito permanente pesquisa esttica;

    Atualizao da inteligncia artstica brasileira;

    Estabilizao de uma conscincia criadora

    nacional.

    Principais obras publicadas

    interessante perceber que Mrio de Andrade

    foi um dos nicos escritores brasileiros que conseguiu

    atingir grande qualidade literria em sua obra tanto em

    prosa quanto em verso; foi timo poeta e timo

    prosador.

    Poesia:

    H uma gota de sangue em cada poema

    publicado em 1917, este o livro de estreia do

    autor. Obra menor, ainda traz certas heranas

    parnasianas (rigor formal) e alude aos horrores da

    Primeira Guerra Mundial.

    Pauliceia desvairada este considerado o

    primeiro livro modernista do Brasil, uma vez que foi

    publicado em 1922. O prefcio dessa obra,

    intitulado Prefcio Interessantssimo, talvez seja

    mais representativo que os prprios poemas

    publicados, na medida em que procura lanar as

    bases tericas a respeito do que viria ser o

    Modernismo.

    Losango cqui publicado em 1926, este livro

    trabalha muito com a imagem do arlequim e do

    losango (que tambm j haviam aparecido no livro

    em Pauliceia): so metforas para a cultura

    brasileira, marcada pela alegria e pela pluralidade

    de tendncias, semelhante roupa do arlequim,

    formada por retalhos multicoloridos em formato de

    losangos.

    Cl do Jaboti (1927) e Remate de males (1930)

    obras inspiradas em costumes, paisagens, dialetos

    regionais e no folclore.

    Lira paulistana (1946) obra de maturidade

    potica do autor, que volta a ter So Paulo como

    tema de seus versos, agora de maneira mais

    amadurecida e com tcnica mais apurada.

    Prosa:

    Amar, verbo intransitivo romance publicado em

    1927, denominado pelo autor de idlio: um caso de

    amor de tom mais ameno. Utilizando-se de

    tcnicas inovadoras, o narrador (autor) chama a

    ateno do leitor por causa das constantes

    opinies, dvidas e questionamentos que ele se

    coloca, embora parea ser um narrador onisciente.

    O autor, de maneira criativa e maliciosa, brinca

    com o leitor, insinuando situaes e manipulando

    conceitos freudianos. A obra ironiza conceitos,

    convices e atitudes da classe alta paulistana.

    Sousa Costa, industrial e fazendeiro muito rico,

    contrata uma professora de alemo para os filhos:

    duas meninas, e Carlos, o mais velho. Frulein

    Elza, de trinta e cinco anos, entretanto, tem outra

    misso: seduzir o menino Carlos e inici-lo na vida

    sexual, de maneira prtica e desapaixonada. O pai

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    temia os perigos do envolvimento do filho com

    prostitutas, drogas e doenas. A professora,

    depois de ensinar e treinar o menino a amar sem

    se prender ao objeto desse amor (da o ttulo do

    livro) sentir-se-, ela prpria, envolvida com o

    aluno. Elza ter que fazer um grande esforo para

    racionalizar a situao e atingir de novo o

    equilbrio.

    Contos novos 9 contos, publicados em 1947,

    dois anos aps sua morte, que revelam a

    maturidade artstica atingida pelo autor. Neles,

    Mrio demonstra um realismo mais denso e crtico,

    mergulhando na realidade social e psquica do

    homem brasileiro. Alm disso, em alguns contos,

    percebem-se traos autobiogrficos, certas

    posturas ideolgicas de esquerda e a linguagem

    tpica do autor, marcada pela oralidade e pela

    pontuao expressiva.

    e, principalmente, ...

    Macunama o heri sem nenhum carter

    Este romance, que na primeira edio foi

    chamado de rapsdia pelo autor, uma obra que

    mistura lendas, folclore, costumes, crendices, falas,

    religies, piadas, provrbios, comidas, mitos e motes

    brasileiros. O personagem central, que d nome ao

    livro, a encarnao do jeito de ser brasileiro:

    irreverente, brincalho, amoral, ertico, supersticioso,

    preguioso, ardiloso e inteligente.

    No h limites entre a magia e a realidade; o

    fantstico assume ares de coisa corriqueira; o lirismo e

    os mistrios da mitologia se misturam com a piada e a

    brincadeira. Macunama simboliza a mistura das raas:

    ndio, mas nasce negro e, ao se lavar numa fonte de

    guas mgicas, criada pela pegada do gigante Sum,

    fica branco.

    Macunama mgico. Transforma-se em

    prncipe para brincar com a cunhada Sofar e volta a

    ser criana no fim do dia; morre e ressuscitado com

    fumaa de ervas; feito em pedaos pelo Gigante

    Piaim e remontado pelos irmos Maanape e Jigu;

    estraalhado pela Iara e ainda consegue se

    remendar para ir para o cu, onde se transformar na

    Constelao da Ursa Maior. Ci, a me do mato, mulher

    de Macunama, tornou-se, aps a morte, a estrela Alfa

    da Constelao do Centauro.

    Grande parte da aventura de Macunama se

    desenrola em So Paulo. Depois de perder a

    Muiraquit, uma espcie de pedra mgica que Ci lhe

    dera antes de morrer, e que acabara sendo vendida a

    Venceslau Pietro Pietra, um colecionador, que era

    tambm o Gigante Piaim., Macunama vai para So

    Paulo com os irmos, Maanape e Jigu, onde far

    coisas de sarapantar a fim de ter novamente a

    Muiraquit.

    MANUEL BANDEIRA:

    HUMILDADE, PAIXO E MORTE

    Talvez estes sejam os trs

    aspectos fundamentais da obra

    de Manuel Bandeira:

    Humildade de um poeta

    que foi dos maiores de

    nossa literatura e que, no

    entanto, sempre se

    considerou um poeta menor,

    alm de dedicar versos a

    motivos to simples de seu

    cotidiano:

    PENSO FAMILIAR

    Jardim da pensozinha burguesa.

    Gatos espapaados ao sol.

    A tiririca sitia os canteiros chatos.

    O sol acaba de crestar as boninas que murcharam.

    Os girassis

    amarelo!

    resistem.

    E as dlias, rechonchudas, plebeias, dominicais.

    Um gatinho faz pipi.

    Com gestos de garom de restaurant-Palace

    Encobre cuidadosamente a mijadinha.

    Sai vibrando com elegncia a patinha direita:

    a nica criatura fina na pensozinha burguesa.

    Uma verdadeira paixo pela existncia,

    demonstrada por uma viso profundamente

    humana e marcada por uma aguda conscincia da

    fragilidade da vida e dos paradoxos da condio

    humana:

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    MADRIGAL MELANCLICO

    O que adoro em ti,

    No a tua beleza.

    A beleza, em ns que ela existe.

    A beleza um conceito.

    E a beleza triste.

    No triste em si,

    Mas pelo que h nela de fragilidade e incerteza.

    (...)

    O que adoro em tua natureza,

    No o profundo instinto maternal,

    Em teu flanco aberto como uma ferida.

    Nem tua pureza. Nem tua impureza.

    O que adoro em ti lastima-me e consola-me!

    O que adoro em ti a vida.

    Finalmente, a morte como uma realidade

    extremamente prxima de si, em virtude de sua

    debilitada sade em virtude da tuberculose, o que

    conduz seus versos a um tom confessional e a um

    pessimismo melanclico e resignado:

    CONSOADA

    Quando a Indesejada das gentes chegar

    (No sei se dura ou carovel)

    Completamente. Talvez eu tenha medo.

    Talvez sorria, ou diga:

    Al, iniludvel!

    O meu dia foi bom, pode a noite descer.

    (A noite com os seus sortilgios.)

    Encontrar lavrado o campo, a casa limpa,

    A mesa posta,

    Com cada coisa em seu lugar.

    Principais obras publicadas

    Cinza das horas (1917)

    Carnaval (1919)

    Libertinagem (1930)

    Estrela da manh (1936)

    Estrela da tarde (1963)

    Estrela da vida inteira (1966)

    OUTROS AUTORES

    Antnio de Alcntara Machado

    Participou ativamente de vrias revistas

    modernistas, sendo diretor de vrios nmeros da

    Revista de Antropofagia. Excelente contista, fez um

    relato crtico, anedtico, humano e apaixonado de So

    Paulo, do povo e principalmente dos imigrantes

    italianos. Principais obras: Brs, Bexiga e Barra

    Funda e Laranja da China.

    Raul Bopp Sua obra-prima, Cobra Norato, a principal

    representante da corrente antropofgica na poesia,

    repleta de expresses regionais e da mitologia

    brasileira, num estilo simples, bem ao gosto de nossos

    modernistas.

    Cassiano Ricardo

    Foi um dos lderes do Verdeamarelismo, com

    Menotti de Picchia e Plnio Salgado, escrevendo a obra

    mais representativa desta corrente: Martim-Cerer.

    Guilherme de Almeida

    Um dos fundadores da Revista Klaxon.

    Percorreu o Brasil, difundindo as ideias modernistas.

    Versos muito bem escritos, que muitas vezes fogem do

    iderio modernista.

    Menotti del Picchia

    Participou intensamente da Semana de Arte

    Moderna: seu estilo polmico agitou a noite de 15 de

    fevereiro de 1922, a mais importante do evento. Como

    jornalista, a sua participao no movimento modernista

    foi importante, na medida em que, entre 1920 e 1930,

    fez uma espcie de dirio do movimento, com seus

    textos publicados periodicamente nos jornais da

    poca.

    Ronald de Carvalho Suas primeiras produes poticas demonstram

    um certo apego simbolista, que aos poucos vai

    abandonando. Com Fernando Pessoa e Mrio de S-

    Carneiro, participou do grupo Orpheu, que iniciou o

    Modernismo em Portugal. No Brasil, durante a

    conferncia de Menotti Del Picchia na Semana de Arte

    Moderna, declamou o poema Os Sapos, de Manuel

    Bandeira, provocando grande confuso. Alm da

    produo potica, destacou-se como crtico literrio.

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    TESTES

    01. (MACK SP) A respeito de Oswald de Andrade,

    incorreto afirmar que:

    a) apesar de sua intensa participao na Semana de

    Arte Moderna, assumiu uma postura simptica em

    relao poesia parnasiana.

    b) em Serafim Ponte Grande, rompe com a forma e a

    estrutura tradicionais do romance brasileiro.

    c) O rei da vela, sua obra-prima em termos de

    dramaturgia, apresenta contundente crtica ao

    sistema burgus.

    d) desenvolveu uma poesia original, plena de humor e

    ironia, com uma linguagem do cotidiano, repleta de

    neologismos.

    e) filho nico, rico, pde viajar Europa, onde entrou

    em contato com as ideias vanguardistas, que

    divulgaria no Brasil.

    02. (UEL PR) Considere as seguintes afirmaes

    sobre a produo literria de Mrio de Andrade:

    I. Na dcada de 20, o marco de sua fico est nessa

    "rapsdia" em que busca demonstrar no o "carter

    do homem brasileiro", mas o aspecto pluralista de

    nossa cultura, representada pelo mais estranho dos

    "heris".

    II. Sua poesia chegou a servir, de certo modo, como

    exemplificao de seus ideais estticos: veja-se a

    ntima relao entre o "Prefcio interessantssimo"

    e os poemas de Pauliceia desvairada.

    III. enorme o interesse pela cultura popular, e no

    apenas pelas manifestaes artsticas desta: na

    linguagem das ruas que vai buscar as bases de

    uma verdadeira "gramtica brasileira".

    Est correto o que vem afirmado em:

    a) I, apenas;

    b) I e II apenas;

    c) I e III apenas;

    d) II e III apenas;

    e) I, II e III.

    03. (UNIFOR CE) Texto:

    Quando eu tinha seis anos

    Ganhei um porquinho-da-ndia.

    Que dor de corao me dava

    Porque o bichinho s queria estar debaixo do fogo!

    (...)

    O meu porquinho da ndia foi a minha primeira

    namorada.

    Nesses versos reconhecem-se as seguintes

    caractersticas da potica de Manuel Bandeira:

    a) memria afetiva, linguagem coloquial e liberdade

    rtmica;

    b) liberdade rtmica, tom elegaco e sucesso de

    metforas;

    c) linguagem coloquial, regularidade mtrica e

    saudosismo romntico;

    d) discreta melancolia, memria afetiva e rigidez

    formal;

    e) memria irnica, tom elegaco e sucesso de

    metforas.

    04. (UFG GO) A nfase na realidade brasileira faz

    parte dos projetos literrios de Jos de Alencar e Mrio

    de Andrade, apresentando como caracterstica

    convergente a:

    a) evocao determinista do povo brasileiro;

    b) exaltao nativista da paisagem tropical;

    c) descrio minuciosa do cenrio local;

    d) revelao literria da identidade nacional;

    e) concepo idealista do tempo histrico.

    Texto para as questes 05 e 06:

    PROFUNDAMENTE

    Quando ontem adormeci

    Na noite de So Joo

    Havia alegria e rumor

    Estrondos de bombas luzes de Bengala

    Vozes cantigas e risos

    Ao p das fogueiras acesas.

    No meio da noite despertei

    No ouvi mais vozes nem risos

    Apenas bales

    Passavam errantes

    Silenciosamente

    Apenas de vez em quando

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    O rudo de um bonde

    Cortava o silncio

    Como um tnel.

    Onde estavam todos os que h pouco

    Danavam

    Cantavam

    E riam

    Ao p das fogueiras acesas?

    Estavam todos dormindo

    Estavam todos deitados

    Dormindo

    Profundamente

    ****

    Quando eu tinha seis anos

    No pude ver o fim da festa de So Joo

    Porque adormeci

    Hoje no ouo mais as vozes daquele tempo

    Minha av

    Meu av

    Totnio Rodrigues

    Tomsia

    Rosa

    Onde esto todos eles?

    Esto todos dormindo

    Esto todos deitados

    Dormindo

    Profundamente.

    05. (ITA SP) Apesar de ser um poema modernista,

    esse texto de Bandeira apresenta alguns traos

    herdados do Romantismo. Sobre tais traos, considere

    as seguintes afirmaes:

    I. O poema marcadamente autobiogrfico, j que

    apresenta referncias famlia do escritor.

    II. No poema, h a rememorao um tanto

    saudosista da infncia do poeta, vista como um

    perodo de grande felicidade.

    III. No poema, h a presena de elementos da

    cultura popular festa de So Joo , que so

    valorizados no texto.

    Est(o) correta(s):

    a) apenas I

    b) I e II

    c) I e III

    d) apenas III

    e) todas

    06. (ITA SP) Esse poema, contudo, no

    propriamente romntico, no s porque o autor no

    pertence historicamente ao Romantismo, mas,

    sobretudo, porque

    a) o poema faz uma meno ao universo urbano (o

    rudo de um bonde), o que o afasta da preferncia

    dos romnticos pela natureza.

    b) as pessoas de que o poeta se lembra esto mortas

    (Dormindo / Profundamente).

    c) no h no poema o chamado escapismo

    romntico, nem a idealizao do passado, mas sim

    a conscincia de que este no volta mais.

    d) o poema no possui nenhum trao emotivo

    explcito, o que o afasta da poesia romntica, que

    marcadamente emotiva e sentimental.

    e) no h, no poema de Bandeira, a presena do

    amor, que um tema recorrente na poesia

    romntica.

    07. (UNICAP PE) Parte da potica de Manuel

    Bandeira pode ser lida como uma sntese do que

    passaria a ser a prtica literria brasileira moderna:

    0) Simplicidade formal:

    Capiberibe

    Capibaribe

    L longe o sertozinho de Caxang

    Banheiros de palha

    Um dia eu vi uma moa nuinha no banho

    Fiquei parado o corao batendo

    Ela se riu

    Foi o meu primeiro alumbramento

    1) Utilizao frequente do verso livre e branco: est

    comprovada no fragmento do poema transcrito

    acima.

    2) Aproximao das linguagens da poesia e da prosa:

    Joo Gostoso era carregador de feira-livre e

    morava no morro da Babilnia num barraco sem

    nmero

    Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro

    Bebeu

    Cantou

    Danou

    Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e

    morreu afogado.

    3) Idealizao da mulher:

    Em Pasrgada tem tudo (...)

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    Tem prostitutas bonitas / Para a gente namorar.

    4) Recorrncia stira:

    Brada em um assomo / O sapo-tanoeiro:

    A grande arte como / Lavor de joalheiro.

    Texto para a questo 08:

    CARTA PRAS ICAMIABAS

    s mui queridas sbditas nossas, Senhoras

    Amazonas.

    Trinta de Maio de Mil Novecentos e Vinte e Seis,

    So Paulo.

    Senhoras:

    No pouco vos surpreender, por certo, o endereo

    e a literatura desta missiva. Cumpre-nos, entretanto,

    iniciar estas linhas de saudade e de muito amor, com

    desagradvel nova. bem verdade que na boa cidade de

    So Paulo a maior do universo, no dizer de seus

    prolixos habitantes no sois conhecidas por

    "icamiabas", voz espria, sino pelo apelido de

    Amazonas [...]

    [...] as donas de c tombam nos leitos nupciais.

    Andam elas vestidas de rutilantes joias e panos

    finssimos, que lhes acentuam o donaire do porte, e mal

    encobrem as graas, que, a de nenhuma outra cedem

    pelo formoso torneado e pelo tom. So sempre

    alvssimas a dona de c; e tais e tantas habilidades

    demonstram no brincar, que enumer-las aqui, seria

    fastiendo porventura; e, certamente quebraria os

    mandamentos, discrio, que em relao de Imperator

    para sbditas se requer. [...]

    Ci guarde a Vossas Excias.

    Macunama,

    Imperator

    Mrio de Andrade. Macunama o heri sem carter

    08. (UEPG PR) A respeito da "Carta pras

    Icamiabas", que constitui o captulo nono de

    Macunama, e sobre a obra de Mrio de Andrade

    como um todo, assinale o que for correto:

    01) Mrio de Andrade prende-se crtica de

    costumes, ao criar heronas idealizadas e mitificar

    a figura da mulher numa sociedade urbana em

    transformao.

    02) A pardia, presente na obra de Mrio de Andrade,

    uma das caractersticas do Modernismo, que

    visava combater o academicismo, o

    conservadorismo na arte, a cultura reacionria

    burguesa e patriarcal da produo nacional.

    04) Mrio de Andrade inverte, aqui, os relatos dos

    cronistas quinhentistas, como Pero Vaz de

    Caminha, Gabriel Soares de Sousa e Pero de

    Magalhes Gandavo. Agora o ndio que

    descreve a terra desconhecida e seus habitantes

    para seus pares distantes.

    08) Na carta h a tentativa de Macunama em

    expressar uma linguagem culta, que para o autor

    assume na obra a finalidade de carnavalizao da

    norma culta, ou seja, uma stira da linguagem

    culta.

    16) O texto constitui uma pardia Carta de Pero Vaz

    de Caminha. Esta apresenta uma viso ufanista

    da terra, enquanto no texto de Mrio de Andrade

    encontra-se um tom irnico de reviso do mito da

    boa terra, de crtica acerba aos portugueses.

    09. (UFOP MG) Leia atentamente o poema de

    Manuel Bandeira:

    PNEUMOTRAX

    Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.

    A vida inteira que podia ter sido e que no foi.

    Tosse, tosse, tosse.

    Mandou chamar o mdico:

    Diga trinta e trs.

    Trinta e trs... trinta e trs... trinta e trs...

    Respire.

    .....................................................

    O senhor tem uma escavao no pulmo esquerdo e o

    pulmo direito infiltrado.

    Ento, doutor, no possvel tentar o pneumotrax?

    No. A nica coisa a fazer tocar um tango argentino.

    BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa

    Com relao ao todo do poeta pernambucano,

    incorreto afirmar que:

    a) Trata-se de um timo exemplo de poema

    modernista, dada a ausncia de rima e de mtrica

    regular, o que faz com que este texto possa ser lido

    como um dilogo prosaico, num tom coloquial, de

    fcil apreenso e compreenso.

    b) O poema no se refere explicitamente a uma

    situao comum a qualquer ser humano, mas pode

    ser lido como um desabafo irnico do poeta, uma

    vez que ele mesmo sentiu os achaques da

    tuberculose, o que pode ser, implicitamente,

    percebido aqui.

  • Extensivo Literatura

    8

    c) A ironia de Manuel Bandeira encontra, neste

    poema, um exemplo rico e instigante, uma vez que

    associa dados da biografia do autor e uma situao

    corriqueira na vida de qualquer pessoa acometida

    de tuberculose.

    d) O tango argentino o elemento que faz o leitor

    perceber o trao irnico de Manuel Bandeira,

    caracterstica no apenas de sua poesia, como da

    produo potica modernista no Brasil, no incio do

    sculo XX.

    10. (UFPE) Tomando por base os textos a seguir,

    analise as proposies que se apresentam abaixo,

    acerca dos seus autores e dos movimentos literrios

    em que se inserem:

    TEXTO 1

    FLORES DOS ESGOTOS

    Os miserveis, os rotos,

    So as flores dos esgotos

    So espectros implacveis

    Os rotos, os miserveis,

    So pranto negro das furnas,

    Caladas mudas, soturnas.

    Cruz e Sousa

    TEXTO 2

    O BICHO

    Vi ontem um bicho

    Na imundcie do ptio

    Catando comida entre os detritos

    .............................................

    O bicho no era um co,

    No era um gato

    No era um rato

    O bicho, meu Deus, era um homem.

    Manuel Bandeira

    0) Cruz e Sousa o poeta que consolida o

    Simbolismo no Brasil, ltimo movimento potico

    do sculo XIX. Esse movimento literrio

    corresponde ao Impressionismo na pintura, e se

    contrape ao Parnasianismo, rejeitando as teorias

    do Positivismo, do Naturalismo e do Cientificismo.

    1) No Texto 2, de Cruz e Souza, podemos identificar

    as seguintes tendncias da esttica simbolista: a

    sugesto predominando sobre a descrio, o

    mistrio, a musicalidade, a subjetividade, o

    hermetismo e a fuga total da realidade atravs das

    metforas difusas.

    2) Manuel Bandeira foi um dos primeiros adeptos do

    Modernismo, movimento com vrias correntes,

    que incluam uma postura crtica em relao aos

    valores sociais burgueses.

    3) Bandeira foi um lrico que versejou com frequncia

    sobre seu passado, sua infncia, o amor e a

    morte. Ele conseguiu, em sua obra, exprimir com

    grande simplicidade contedos humanos

    profundos.

    4) No Texto 2, acima, Bandeira demonstra sua

    perplexidade diante de um fato banal e cruel do

    cotidiano das grandes cidades, da mesma forma

    que faz em Vou-me embora pra Pasrgada.

    11. (UEM PR) Assinale o que for correto:

    01) Os textos escritos no Brasil, logo aps a sua

    descoberta, so chamados de Literatura de

    informao. Alm da Carta de Caminha, fazem

    parte desse tipo de literatura as crnicas, relatos e

    tratados escritos por viajantes portugueses. A

    literatura do sculo XVI, no Brasil, no apresenta

    textos de poesia, nem de teatro. Alm do valor

    documental, os textos de informao apresentam

    alto valor esttico, resultado do sentimento

    nacionalista e do carter experimental da

    linguagem (neologismos e metforas

    abundantes), o que coloca a Literatura de

    informao como o primeiro momento de uma

    literatura esteticamente expressiva, brasileira e

    rica em imagens poticas.

    02) No Brasil, o Barroco vigorou, durante os sculos

    XVII e parte do sculo XVIII, e foi muito

    expressivo nas artes plsticas em Minas Gerais,

    particularmente no sculo XVIII, quando a

    provncia passava por um momento de riqueza

    econmica centrada na minerao. O Aleijadinho

    foi o maior nome da escultura sacra barroca, o

    que se explica pela forte influncia da Igreja. Na

    Literatura, o nome mais conhecido o de

    Gregrio de Matos, que escreveu poemas

    satricos, lricos e religiosos. Na produo

    religiosa, o autor mostrava um eu tentado a

    aproveitar a vida mundana (o que era tido como

    pecado pela Igreja) e sensvel aos valores

    religiosos da Contrarreforma.

  • Extensivo Literatura

    9

    04) No Brasil, o Realismo/Naturalismo iniciou com a

    publicao de dois romances no ano de 1881:

    Memrias pstumas de Brs Cubas, de

    Machado de Assis, e O mulato, de Alusio

    Azevedo. Embora tenham publicado no mesmo

    ano e tenham vivido na mesma poca, h muitas

    diferenas entre o estilo dos dois autores. A prosa

    de Machado de Assis busca as motivaes

    psicolgicas e secretas que regem o

    comportamento social das pessoas, enquanto

    Alusio Azevedo busca a exposio da

    espiritualidade e da f, principalmente nas

    pessoas que so alvo de preconceito social. Em

    O mulato, um romance de temtica religiosa, o

    autor critica ostensivamente o racismo e o

    preconceito, como uma estratgia para que a

    sociedade da poca corrigisse antigas crenas,

    de forma que os homens pudessem se

    reconhecer como irmos em Deus.

    08) Cruz e Sousa o grande nome do Simbolismo

    brasileiro, que se manifestou quase que

    exclusivamente na poesia. Como o prprio nome

    designa, o Simbolismo corresponde esttica que

    se expressa por meio de smbolos, ou seja, de

    figuras que substituem a imagem de uma

    realidade visvel e imediata por outra coisa, ideia

    ou valor correspondente, produzindo uma

    mensagem com tonalidades s vezes

    semanticamente obscuras e vagas, como se v

    nestes versos: Indefinveis msicas supremas,/

    Harmonias da Cor e do Perfume.

    16) A poesia de Oswald de Andrade apresenta

    marcas prprias do movimento modernista em

    sua primeira fase. Valoriza a cultura popular, o

    uso de vocbulos retirados da linguagem

    coloquial, a aproximao entre prosa e poesia, o

    compromisso da poesia com os problemas

    sociais. Esses elementos tambm esto

    presentes no poema abaixo:

    O CAPOEIRA

    - Qu apanh, sordado?

    - O qu??

    - Qu apanh?

    Pernas e cabeas na calada.

    12. (UEM PR) Considerando o poema a seguir e

    seu autor, Manuel Bandeira, bem como a escola

    literria a que pertence, assinale o que for correto:

    IRENE NO CU

    Irene preta

    Irene boa

    Irene sempre de bom humor.

    Imagino Irene entrando no cu:

    Licena, meu branco!

    E So Pedro bonacho:

    Entra, Irene. Voc no precisa pedir licena.

    01) Embora seja um dos grandes nomes do

    Modernismo no Brasil, Manuel Bandeira possui

    um primeiro momento em sua obra marcado pela

    influncia do Simbolismo, como se pode ver no

    caso do poema transcrito, em que a temtica do

    etreo e do celestial se faz presente.

    02) Apesar da variao mtrica, a repetio de quatro

    slabas poticas nos dois primeiros versos mostra

    uma tendncia do incio do Modernismo no Brasil

    que se verifica tambm na poesia de, entre

    outros, Oswald de Andrade e Mrio de Andrade,

    uma tentativa de unir o rigor e a formalidade de

    modelos tradicionais, tais como os propostos pelo

    Parnasianismo, a uma renovao da linguagem

    potica.

    04) O dilogo com formas mais regulares, percebido

    em momentos da produo de Bandeira,

    notado, nos dois primeiros versos, no apenas

    pela regularidade mtrica, mas tambm pela

    presena da rima toante, rima esta que se faz

    notar tambm na segunda estrofe.

    08) O tom coloquial, elemento marcante dentro da

    produo modernista de Manuel Bandeira, pode

    ser percebido nas duas ocorrncias de discurso

    direto (na situao de dilogo) que esto

    presentes no poema, seja pela marca de

    oralidade, seja pela utilizao, na fala de So

    Pedro, do imperativo, que, em relao ao

    pronome utilizado, desvia-se da norma culta em

    prol de uma dico mais popular.

  • Extensivo Literatura

    10

    16) O poema, de Libertinagem, obra de 1930, e,

    portanto, situada no contexto do Modernismo,

    abre espao para a reflexo tnica e racial, em

    especial sobre a presena do negro na sociedade

    brasileira, preocupao j notada em escolas

    literrias anteriores, como o Romantismo. No

    poema, essa inferncia tnica nasce

    principalmente de informaes contidas em um

    verso de quatro slabas poticas e em um verso

    de cinco slabas poticas.

    13. (UEM PR) Assinale o que for correto sobre o

    poema a seguir e sobre seu autor, Manuel Bandeira:

    POTICA

    Estou farto do lirismo comedido

    Do lirismo bem comportado

    Do lirismo funcionrio pblico com livro de ponto

    expediente protocolo e manifestaes de apreo ao sr.

    diretor

    Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no

    dicionrio o cunho vernculo de um vocbulo

    Abaixo os puristas

    Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

    Todas as construes sobretudo as sintaxes de exceo

    Todos os ritmos sobretudo os inumerveis

    Estou farto do lirismo namorador

    Poltico

    Raqutico

    Sifiltico

    De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de

    si mesmo.

    De resto no lirismo

    Ser contabilidade tabela de cossenos secretrio do

    amante exemplar com cem modelos de cartas e as

    diferentes maneiras de agradar s mulheres, etc.

    Quero antes o lirismo dos loucos

    O lirismo dos bbedos

    O lirismo difcil e pungente dos bbedos

    O lirismo dos clowns de Shakespeare

    No quero mais saber do lirismo que no libertao.

    01) A lrica de Bandeira, apesar de ter legado

    tradio literria brasileira poemas marcantes

    como Potica, constitui apenas uma pequena

    parte da produo do autor, uma vez que ele se

    notabilizou como romancista, merecendo

    destaque obras como Macunama e Memrias

    sentimentais de Joo Miramar.

    02) A preocupao com a forma potica revela a

    principal influncia da lrica de Manuel Bandeira: o

    Parnasianismo e seus mestres como Olavo Bilac

    e Alberto de Oliveira.

    04) A viso potica que o poema defende se adequa

    quela que o Modernismo brasileiro apresentou,

    sobretudo aquele da gerao de 1922, da qual

    Bandeira foi um dos principais nomes.

    08) Apesar de propor o afastamento de todo lirismo

    que no libertao, Bandeira constri um

    poema com mtrica regular, o que estabelece um

    dilogo com modelos poticos anteriores aos do

    Modernismo brasileiro.

    16) Embora Bandeira seja um dos mais expressivos

    exemplos do Modernismo do Brasil, sua produo

    inicial foi marcada por forte influncia do

    Simbolismo, tal como pode ser verificado em uma

    obra como Cinza das horas, de 1917.

    14. (UFPR) Texto:

    MOMENTO NUM CAF

    Quando o enterro passou

    Os homens que se achavam no caf

    Tiraram o chapu maquinalmente

    Saudavam o morto distrados

    Estavam todos voltados para a vida

    Absortos na vida

    Confiantes na vida.

    Um no entanto se descobriu num gesto largo e

    demorado

    Olhando o esquife longamente

    Este sabia que a vida uma agitao feroz e sem

    finalidade

    Que a vida traio

    E saudava a matria que passava

    Liberta para sempre da alma extinta.

    BANDEIRA, Manuel. 50 poemas escolhidos pelo autor

    O poema de Bandeira apresenta dois pontos de vista

    diferentes sobre a vida. A partir dessa leitura, organize

    um texto observando os seguintes pontos:

  • Extensivo Literatura

    11

    explicite os dois pontos de vista presentes no

    poema;

    avalie a possibilidade de se afirmar a adeso do

    poeta a uma ou outra das vises presentes no

    poema;

    seu texto dever ter de 8 a 10 linhas.

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    GABARITO

    01. a

    02. e

    03. a

    04. d

    05. e

    06. c

    07. c c c e c

    08. 30 (02,04,08,16)

    09. b

    10. c e c c e

    11. 10 (02,08)

    12. 24 (08,16)

    13. 20 (04,16)

    14.

    Originalmente, Momento num caf foi

    publicado no livro Estrela da manh, de 1936. O

    poema exemplifica muito bem a faceta modernista de

    Bandeira, pois, entre outros aspectos: 1) construdo

    em versos livres; 2) Apresenta um tom prosaico; 3)

    Inspira-se no cotidiano aparentemente simples (o que

    se percebe claramente j pelo ttulo); 4) Aproxima a

    poesia da prosa.

    O comando da questo foi bastante claro: a)

    explicitar os dois pontos de vista diferentes sobre a

    vida presentes no poema; b) avaliar a possibilidade de

    adeso do poeta a uma dessas vises; c) mnimo de 8

    e mximo de 10 linhas.

    Duas estrofes, duas formas de se contemplar a

    vida: o que se l no poema do modernista Manuel

    Bandeira. Para uns, retratados na primeira estrofe, o

    fato de estarem to voltados para as coisas cotidianas

    os impede de perceber a morte desfilando frente de

    seus olhos. No mximo, tal realidade recebe apenas

    um maquinal abanar de chapu, uma espcie de

    reverncia automtica sem dose alguma de reflexo.

    S a vida, aparentemente to boa e to promissora,

    interessa-lhes, e o caixo que passa rumo ao enterro

    apenas um mero Momento num caf.

    Para outros, em destaque na segunda estrofe,

    o cortejo fnebre provoca meditaes sobre a vida que

    se leva, feroz, traioeira e sem finalidade. Estes se

    demoram nos gestos e anlise, pois percebem que

    no se pode viver ignorando o fato irreversvel de que

    certamente morreremos em algum dia. com estes

    que Bandeira se identifica, pois a morte sempre lhe foi

    uma realidade muito prxima em virtude de sua

    doena (a tuberculose), que lhe rendeu tantos outros

    versos nos quais tematizou de modo direto ou indireto

    a Indesejada das Gentes. Neste poema especfico, o

    eu-lrico, quase como que um narrador onisciente,

    adere-se queles que vo alm do mero gesto de

    reverncia diante de um caixo, ao penetrar em suas

    mentes, revelando-lhes constataes mais profundas e

    pessimistas sobre a vida.