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FI Virulogia-UP6 | 1 1.Definir vírus, descrever a sua estrutura e relacionar a estrutura viral com a epidemiologia Inicialmente, os vírus foram descritos como "agentes filtráveisporque o seu tamanho pequeno permite-lhes passar através de filtros destinados a reter as bactérias. Actualmente, os vírus são considerados parasitas intracelulares obrigatórios que dependem da maquinaria bioquímica da célula hospedeira para a sua replicação, pois não têm capacidade para produzir energia ou substratos, nem de sintetizar as próprias proteínas para replicar o seu genoma de forma independente da célula hospedeira. A reprodução dos vírus ocorre pela montagem dos componentes individuais e não por fissão binária como nas bactérias. Genomas virais podem ser DNA ou RNA, mas não ambos, possuem uma morfologia de capsíde descoberta ou de envelope. Os Vírus não são considerados seres vivos. Os vírus mais simples consistem num genoma de DNA ou RNA empacotado num envoltório protector de proteína e, em alguns vírus, uma membrana. Classificação Os vírus variam de pequenos e estruturalmente simples (parvovírus e picornavírus), até aos grandes e complexos (poxvírus e herpesvírus). Os seus nomes podem descrever as suas características virais, as doenças que causam ou mesmo o tecido ou localização geográfica onde foram identificados pela primeira vez. Podem ser agrupados por características como doença (hepatite), tecido-alvo, meio de transmissão (entérico, respiratório) e vector (arbovírus vírus transportado por artrópodes). A forma de classificação mais consistente e actual tem como base as características físicas e bioquímicas, tais como o tamanho, morfologia (por exemplo, a presença ou ausência de um envelope/invólucro de membrana), o tipo de genoma e modo de replicação. - Vírus de DNA → 7 famílias associadas na doença no Homem. - Vírus de RNA → 14 famílias. Estrutura do virião Os vírus maiores podem abrigar um genoma maior, capaz de codificar mais proteínas e são, geralmente, mais complexos. O virião (partícula do vírus) consiste num genoma de ácido nucleico empacotado num cobertura proteica (capsíde) ou numa membrana (invólucro).

1.Definir vírus, descrever a sua estrutura e relacionar a

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1.Definir vírus, descrever a sua estrutura e relacionar a estrutura viral com a

epidemiologia

Inicialmente, os vírus foram descritos como "agentes filtráveis” porque o seu tamanho

pequeno permite-lhes passar através de filtros destinados a reter as bactérias. Actualmente,

os vírus são considerados parasitas intracelulares obrigatórios que dependem da maquinaria

bioquímica da célula hospedeira para a sua replicação, pois não têm capacidade para

produzir energia ou substratos, nem de sintetizar as próprias proteínas para replicar o

seu genoma de forma independente da célula hospedeira. A reprodução dos vírus ocorre

pela montagem dos componentes individuais e não por fissão binária como nas bactérias.

Genomas virais podem ser DNA ou RNA, mas não ambos, possuem uma morfologia de

capsíde descoberta ou de envelope.

Os Vírus não são considerados seres vivos. Os vírus mais

simples consistem num genoma de DNA ou RNA

empacotado num envoltório protector de proteína e, em

alguns vírus, uma membrana.

Classificação

Os vírus variam de pequenos e estruturalmente simples (parvovírus e picornavírus), até aos

grandes e complexos (poxvírus e herpesvírus).

Os seus nomes podem descrever as suas características virais, as doenças que causam ou

mesmo o tecido ou localização geográfica onde foram identificados pela primeira vez.

Podem ser agrupados por características como doença (hepatite), tecido-alvo, meio de

transmissão (entérico, respiratório) e vector (arbovírus – vírus transportado por artrópodes).

A forma de classificação mais consistente e actual tem como base as características físicas e

bioquímicas, tais como o tamanho, morfologia (por exemplo, a presença ou ausência de um

envelope/invólucro de membrana), o tipo de genoma e modo de replicação.

- Vírus de DNA → 7 famílias associadas na doença no Homem.

- Vírus de RNA → 14 famílias.

Estrutura do virião

Os vírus maiores podem abrigar um genoma maior, capaz de

codificar mais proteínas e são, geralmente, mais complexos.

O virião (partícula do vírus) consiste num genoma de ácido

nucleico empacotado num cobertura proteica (capsíde) ou numa

membrana (invólucro).

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As estruturas dos vírus de capside descoberta e dos com envelope com uma nucleocapside

icosaedrica (esquerda) ou uma ribonucleocapside helicoidal (direita). A ribonucleocapside

helicoidal é formada por proteínas virais associadas a um genoma de RNA.

As proteínas da cápside ou as de ligação ao ácido nucléico associam-se ao genoma para

formar uma nucleocápside que pode ser a mesma do virião ou envolta por um envelope.

O genoma do vírus consiste em DNA (cadeia simples ou dupla, linear ou circular) ou RNA de

sentido positivo (+) (mRNA) ou negativo (-); de cadeia dupla (+/-) ou de duplo sentido (regiões

+ e – de RNA ligadas extremidade a extremidade). Pode ser segmentado em que cada um dos

fragmentos codifica um gene individual).

Quanto maior o genoma, mais informações (genes) pode carregar e tanto maior será a

capside ou a estrutura do envelope, necessário para conter o genoma.

A cápside ou o incólucro são o “pacote” de proteção e o veículo de libertação durante a

transmissão do vírus de um hospedeiro para outro e para a dispersão para a célula-alvo dentro

do hospedeiro. As estruturas da superfície da cápside e do envelope medeiam a interacção do

vírus com a célula-alvo. Remover ou romper a parte externa deste “pacote” inactiva o vírus.

Anticorpos produzidos contra os componentes destas estruturas impedem a infeção viral.

A cápside é uma estrutura rígida capaz de resistir a condições ambientais severas. Os

vírus com cápside sem invólucro são geralmente resistentes ao ressecamento, ao ácido

e a detergentes, incluindo o ácido e a bílis do tracto GI. Muitos destes vírus são

transmitidos pela via fecal-oral e podem preservar a capacidade de transmissão

mesmo no esgoto.

O invólucro é uma membrana composta de lípidos, proteínas e glicoproteínas. A

estrutura membranosa do invólucro é mantida apenas em soluções aquosas. É

facilmente rompida pelo ressecamento, condições de secura ou acidez, detergentes e

solventes (por exemplo, o éter), resultando na inativação do vírus. Vírus com invólucro

devem permanecer em condições húmidas, e são geralmente transmitidos através de

fluidos, aerossóis contaminados, sangue e tecidos. A maioria não sobrevive às

condições severas do tracto GI.

Vírus com Capside

Proteínas estruturais individuais associam-se em subunidades, as quais de

associam em protomeros, capsomeros e, por fim, uma procapside ou uma cápside

reconhecível.

Uma procapside requer processamento subsequente para se tornar na cápside

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final e transmissível. Em alguns vírus, a cápside é formada em torno do genoma, enquanto

noutros forma-se como uma capa vazia (prócapside), a ser preenchida pelo genoma.

As estruturas helicoidais aparecem como bastões, enquanto o icosaedro é uma

aproximação de uma esfera montada a partir de subunidades simétricas. As capsides

assimétricas são formas complexas e estão associadas a determinados vírus bacterianos

(fagos). As nucleocapsides helicoidais são observadas dentro do envelope da maioria dos vírus

RNA de cadeia negativa. Simples icosaedros são utilizados por vírus pequenos. O icosaedro é

composto por 12 capsomeros, com uma simetria de 5 lados cada um (pentamero).

Os com capsides maiores são construídos inserindo-se capsomeros estruturalmente

distintos entre os pentameros nos vértices. Estes capsomeros têm 6 vizinhos próximos. Isto

aumenta o icosaedro icosadeltaedro.

Alguns vírus possuem uma fibra comprida, ligada a cada pentamero para servir como

proteína de fixação viral (VAP) para se ligarem a células

alvo e contém o antigénio tipo-específico.

Virus, como reovirus, possuem uma dupla cápside icosaédrica com proteínas semelhantes a

fibras parcialmente estendidas a partir de cada vértice. A capside externa protege o vírus e

promove a sua captação através do tracto GI e dentro das células-alvo, enquanto a capside

interna contem enzimas para síntese de RNA.

Vírus com invólucro

O envelope do virião é composto por lipidos, proteínas e glicoproteínas. Tem uma estrutura

membranosa semelhante às membranas celulares. As proteínas celulares raramente se

encontram no envelope viral, mesmo que este tenha sido obtido de membranas celulares.

A maioria dos invólucros é redondo ou pleomorfico, à excepção dos poxvírus (que têm uma

estrutura externa parecida com um tijolo) e o Rabdovirus (que tem formato de bala).

A maior parte das glicoproteínas funcionam como VAPs e são capazes de se ligar a

estruturas presentes nas células-alvo. As VAPs que também se ligam a eritrócitos são

chamadas de hemaglutininas (HAs). Algumas glicoproteínas têm outras funções,

como a neuraminidase dos ortomixovírus (Influenza) e receptores Fc e C3b

associados ás glicoproteínas do vírus do Herpes simples ou as glicoproteínas de fusão

do paramixovírus. As glicoproteínas também são importantes antigénios que desencadeiam a

imunidade protectora.

Todos os vírus RNA de cadeia negativa tem envelope. Os componentes da RNA-polimerase

viral RNA-dependente associam-se ao genoma RNA(-). Estas enzimas são necessárias para

iniciar a replicação do vírus e a sua associação ao genoma assegura a sua libertação dentro da

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célula. As proteínas da matriz revestindo o interior do envelope facilitam a montagem da

ribonucleocápside no virião.

O espaço intersticial entre a nucleocápside e o envelope é

chamado de tegumento, e contém enzimas e outras proteínas e ate

mRNA, facilitando a infecção viral.

Epidemiologia:

Exposição

Algumas situações, estilos e condições de vida aumentam a probabilidade de contacto com

determinados vírus. Condições precárias de higiene e domicílios, escolas e locais de trabalho

superpovoados promovem a exposição a vírus entéricos e respiratórios (por exemplo, as

creches são fontes consistentes de infecções virais).

Transmissão viral

Os vírus são transmitidos por contacto directo, incluindo o contacto sexual, injecções com

líquidos ou sangue contaminados, transplante de órgãos e pelas vias respiratória e fecal-oral. A

via de transmissão depende da origem do vírus e da sua capacidade de suportar as dificuldade

e barreiras do meio e do organismo ate atingir o tecido-alvo.

Estrutural viral: cápside descoberta

• Propriedades

É ambientalmente estável à: Temperatura, Ácido, Proteases, Detergentes.

É libertado da célula por lise.

• Consequências

Pode ser disseminado facilmente (em fómites, de mão para mão, pela poeira, por pequenas gotas).

Podem sobreviver às condições adversas do intestino.

Anticorpo pode ser suficiente para a imunoprotecção.

Estrutural viral: invólucro

• Propriedades

É ambientalmente instável , é destruído por: Ácido, Detergentes e Calor. Modifica a membrana da célula

durante a replicação. É libertado por exocitose e pela lise celular.

• Consequências

Deve permanecer húmido.

Não pode sobreviver no tracto GI.

Dissemina-se em grandes gotas, secreções, transplantes de órgãos e transfusões de sangue.

Não precisa de matar a célula para se disseminar.

Não necessita de anticorpo e resposta imune mediada por células para protecção e controlo.

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Os animais podem actuar como vectores que disseminam a doença viral para outros

animais e humanos. Podem também actuar como reservatórios do vírus, mantendo-o e

amplificando-o no ambiente. Vírus transmitidos por artrópodes são geralmente denominados

arbovirus.

Recém-nascidos, crianças, adultos e idosos são susceptíveis a diferentes vírus e apresentam

diferentes respostas a uma infecção.

Crianças adquirem uma serie de doenças virais respiratórias e exantemáticas à 1ª exposição

pois não tem imunidade previa. Contudo, crianças geralmente não geram respostas

imunopatologicas tão severas quanto adultos e algumas doenças são mais benignas em

crianças.

Idosos são especialmente susceptíveis a novas infecções virais e à reactivação de vírus

latentes.

2 .Descrever os diferentes passos da replicação viral.

Etapas da replicação viral

1. Reconhecimento da célula-alvo

2. Adsorção

3. Penetração

4. Desencapsidação

5. Síntese macromolecular

a) Síntese do RNA mensageiro (mRNA) inicial e de

proteínas não-estruturais: genes para enzimas e

proteinas de ligação ao ácido nucleico

b) Replicação do genoma

c) Síntese do mRNA final e de proteínas estruturais

d) Modificação pós-tradução das proteínas

6. Montagem do vírus

7. Brotamento dos vírus encapsulados

8. Libertação do vírus

Durante a fase precoce da infecção o vírus deve:

1. Reconhecer uma célula-alvo apropriada;

2. Fixar-se a ela;

3. Penetrar a membrana plasmática;

4. Ser captado por essa célula;

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5. Descapsidar o seu genoma dentro do citoplasma;

6. Descapsidar o genoma para o núcleo (se

necessário).

A fase tardia começa com o início da replicação do

genoma e a síntese macromolecular viral, seguindo-se a

montagem e a libertação viral.

A descapsidação do genoma que está na capside ou no

envelope (durante a fase precoce) suprime a sua capacidade

infeciosa e a sua estrutura identificável, iniciando assim o

período de eclipse. O período de eclipse termina com o

aparecimento de novos viriões depois da montagem do

vírus. O período latente (durante o qual um vírus infeccioso

extracelular não é detectado) inclui o período de eclipse e

termina com a libertação dos novos vírus.

1.Adsorção

O primeiro passo na replicação viral é mediado pela interação de uma

proteína de adsorção viral com o recetor da superfície celular.

As ligações das VAPs ou estruturas na superfície da capside do virião

aos recetores na célula determinam inicialmente quais as células podem

ser infetadas por um vírus.

Os receptores para os vírus na célula podem ser proteínas ou

carboidratos em glicoproteínas ou glicolípidos.

O alvo celular suscetível define o

tropismo do tecidual (ex: neurotrópico,

linfotrópico).

2.Penetração

Muitas interações entre as VAPs e os

recetores celulares iniciam a

internalização do vírus para dentro da

célula. O mecanismo de internalização depende da estrutura do virião e do tipo de célula. A

maioria dos vírus sem invólucro entra na célula através de endocitose mediada por recetor ou

através de viropexia (fixação de um vírus a uma célula) Mecanismo usado essencialmente

pelo picornavírus e papovavírus.

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As estruturas hidrofóbicas das proteínas da cápside podem ficar expostas após a ligação do

vírus às células e essas estruturas auxiliam o vírus ou o genoma viral a deslizar através da

membrana (penetração direta).

Os vírus envelopados fundem as suas membranas com as membranas celulares para

colocar o nucleocapsídeo ou o genoma diretamente dentro do citoplasma.

O pH óptimo para a sua fusão determina se a penetração ocorre na superfície da célula em

pH neutro ou se o vírus deve ser internalizado por endocitose e a fusão ocorrer num

endossoma em pH ácido.

3.Descapsidação

O genoma dos vírus DNA (excepto dos poxvírus) deve ser transferido para o núcleo, mas a

maioria dos vírus de RNA permanecem no citoplasma.

O processo de descapsidação pode ser iniciado por uma fixação ao recetor, promovido por

ambiente ácido ou por proteases encontradas num endossoma ou lisossoma.

Os vírus envelopados são descapsidados na fusão com as membranas das células.

Requerem a entrega do genoma viral dentro do citoplasma da célula hospedeiro.

4. Síntese macromolecular

Uma vez dentro da célula, o

genoma deve dirigir a síntese do

mRNA viral, das proteínas e gerar

cópias idênticas de si próprio.

Todos os vírus dependem dos

ribossomas das células do

hospedeiro, de tRNA e dos

mecanismos de modificação pós-

tradução para produzir as suas

proteínas.

A maioria dos vírus DNA usa a

RNA polimerase II DNA-

dependente da célula e outras

enzimas para fazer o mRNA.

Os vírus de RNA devem codificar as enzimas necessárias para a transcrição e a replicação

porque as células não possuem meios de replicar o RNA.

O genoma descoberto dos vírus DNA (exceto os poxvírus) e os vírus RNA de sentido positivo

(exceto os retrovírus) são referidos como ácidos nucleicos infeciosos, porque são suficientes

para iniciar a replicação ao serem injetados na célula.

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Em geral, o mRNA para proteínas não-estruturais é transcrito em primeiro lugar.

a) Vírus de DNA

A replicação do genoma de DNA ocorre no núcleo e requer uma DNA polimerase DNA –

dependente, outras enzimas e desoxirribonucleótideo trifosfato, especialmente a timidina

Os elementos virais promotores e activadores são semelhantes aos da célula hospedeira

para permitir a ligação dos factores de activação transcricionais da célula e a RNA polimerase

DNA-dependente.

As células de alguns tecidos não expressam as proteínas de ligação ao DNA necessárias para

activar a transcrição dos genes virais e a replicação do vírus nessas células é então impedida ou

limitada.

Os genes virais podem ter intrões requerendo processamento pós-transcricional do mRNA

pela maquinaria nuclear da célula (splicing). A replicação do DNA viral segue as mesmas regras

bioquímicas que o DNA celular.

Os genes precoces codificam proteínas de ligação ao DNA e enzimas e os genes tardios

codificam proteínas estruturais.

A replicação é iniciada numa única sequência de DNA do genoma chamada origem (ori).

Este é um sítio reconhecido por factores nucleares virais ou celulares e pela DNA polimerase

DNA-dependente.

A síntese do DNA viral é semiconservativa e as DNA polimerases celulares e virais requerem

um iniciador (primer) para começar a síntese da cadeia de DNA.

A replicação do genoma dos vírus simples de DNA (ex: parvovírus, papovírus) usa as DNA

polimeases DNA-dependentes do hospedeiro, enquanto que os vírus maiores e mais

complexos (ex: adenovírus, herpesvírus, poxvírus) codificam as suas próprias polimerases.

As polimerases virais são normalmente mais rápidas, porém menos precisas do que as

polimerases das células do hospedeiro causando uma alta taxa de mutação nos vírus e

fornecendo um alvo para análogos de nucleotídeos como os fármacos antivirais.

As principais limitações para a replicação de um vírus de DNA incluem a disponibilidade de

substratos de DNA polimerase e desoxirribonucleotídeos. Quanto menor o vírus de DNA, mais

dependente ele é da célula do hospedeiro para o provimento dessas funções.

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b) Vírus de RNA

A replicação e a transcrição dos vírus de RNA são processos similares porque os genomas

virais são usualmente um mRNA (RNA cadeia positiva) ou um molde para o mRNA (RNA cadeia

negativa).

Durante a replicação e a transcrição é formado um intermediário replicativo de RNA de

cadeia dupla (uma estrutura normalmente não encontrada em células não-infectadas).

O genoma do vírus de RNA deve codificar RNA

polimerases RNA-dependentes (replicases e transcriptases)

porque a célula não possui meios de replicar o RNA.

Como o RNA é degradado rapidamente, a RNA

polimerase RNA-dependente deve ser provida ou sintetizada

logo após a desencapsidação para gerar mais RNA viral ou a

infecção será fracassada.

Os genomas virais RNA cadeia positiva agem como

mRNA, ligam-se a ribossomas e dirigem a síntese proteica. É

suficiente para iniciar a infecção por si mesmo. Depois da

RNA polimerase RNA-dependente codificada pelo vírus ser

produzida, um molde de RNA de cadeia negativa é

sintetizado. O molde pode ser usado então para gerar mais

mRNA e para replicar o genoma.

Os mRNAs para estes vírus não têm o cap na

extremidade 5’, mas o genoma codifica uma curta sequência

de 3’ poli A.

Os genomas virais RNA cadeia negativa são moldes para a

produção de mRNA. Não é infeccioso por si só e, uma

polimerase deve ser inserida dentro da célula com o genoma

(associada ao genoma como uma parte da nucleocapside) para

fazer mRNA individual para as diferentes proteínas virais.

Assim, um RNA de cadeia positiva de tamanho total deve

também ser produzido pela polimerase viral para agir como

molde para gerar mais copias do genoma. Todos os vírus de

RNA (-) são encapsulados

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Picornavírus, Togavírus, Flavivírus, Norovírus e Coronavírus: o genoma RNA (+) assemelha-

se ao mRNA e é traduzido numa proteína que é proteolisada. Um molde de RNA(-) é usado

para a replicação. Os togavírus, coronavírus e norovírus possuem genes precoces e tardios.

Ortomixovírus; Paramixovírus, Rabdovírus, Filovírus e Bunyavírus: o genoma do

mRNA (-) é um molde para mRNAs individuais, mas um molde de RNA (+) de tamanho

total é requerido para a replicação;

Ortomixovírus replicam-se e são transcritos no núcleo e cada segmento de genoma

codifica um mRNA e um molde.

Reovírus: o genoma segmentado de RNA (+/-) é um molde para o mRNA. O RNA (+)

pode também ser encapsulado para gerar o RNA (+/-) e então mais mRNA.

c) Retrovírus

O genoma do RNA(+) do retrovírus é convertido em DNA, o qual é integrado na cromatina

do hospedeiro e transcrito como um gene celular. Apesar de os retrovírus terem um genoma

RNA cadeia positiva, o vírus não fornece qualquer meio de replicação de RNA no citoplasma.

Em vez disso, os retrovírus carregam duas cópias do genoma, duas moléculas de tRNA (é

usado como primer para a síntese de uma cópia circular complementar do DNA (cDNA) do

genoma), uma DNA polimerase RNA-dependente (transcriptase reversa) do virião.

O cDNA é sintetizado no citoplasma, vai para o núcleo e é Integrado na cromatina do

hospedeiroO genoma viral torna-se um gene celular.

5. Síntese de proteína viral

A ligação do mRNA ao ribossoma é mediada por uma estrutura 5’cap de guanosina

metilada ou uma estrutura especial em alça de RNA (sequência de entrada interna de

ribossoma [IRES]), que se liga internamente ao ribossoma para iniciar a síntese de proteína.

Ao contrário dos ribossomas bacterianos, os quais podem ligar-se a um mRNA policistrónico

e traduzir diversas sequências de um gene em proteínas distintas, o ribossoma eucariótico liga-

se ao mRNA e pode produzir apenas uma proteína contínua, e então ele desprende-se do

mRNA. Cada vírus lida com esta limitação de forma diferente dependendo da estrutura do seu

genoma.

O genoma inteiro de um vírus de RNA positivo é lido pelo ribossoma e traduzido numa

poliproteína gigante. A poliproteína é subsequentemente clivada por proteases celulares e

virais em proteínas funcionais. Os vírus de DNA, os retrovírus e a maioria dos vírus de RNA de

cadeia negativa transcrevem mRNA separado para poliproteínas menores ou proteínas

individuais.

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Os vírus usam tácticas diferentes para promover a tradução preferencial do seu mRNA viral

em vez do mRNA celular. Em muitos casos, a concentração de mRNA viral na célula é tão

grande que ocupa a maioria dos ribossomas, impedindo a tradução do mRNA celular. O vírus

do herpes simples e outros vírus inibem a síntese macromolecular celular e induzem a

degradação do DNA e do RNA da célula.

Algumas proteínas virais requerem modificações pós-traducionais, como a fosforilação,

glicosilação, acilação ou sulfatação. A fosforilação da proteína é alcançada por quinases de

proteína celular ou viral e é uma maneira de modular, activar ou inactivar proteínas. Muitos

herpesvírus e outros vírus codificam a sua própria proteína cinase. A presença das

glicoproteínas determina onde o virião irá ser montado.

6.Montagem

O processo de montagem começa quando as partes necessárias são sintetizadas e a

concentração de proteínas estruturais na célula é suficiente para dirigir o processo

termodinamicamente semelhante a uma reacção de cristalização. O processo de montagem

pode ser facilitado por proteínas de armação ou outras proteínas que são activadas ou que

libertam energia na proteólise.

O sítio e o mecanismo de montagem do virião na célula dependem de onde ocorre a

replicação do genoma e se a estrutura final é uma cápside descoberta ou um vírus envelopado.

A montagem dos vírus de DNA (excepto o poxvírus) ocorre no núcleo e requer transporte

das proteínas do virião para dentro do núcleo. A montagem dos vírus de RNA e dos poxvírus

ocorre no citoplasma.

As cápsides dos vírus podem ser montadas como estruturas vazias (pró-cápsides) a serem

preenchidas com genoma ou podem ser montados à volta do genoma.

As nucleocápsides dos retrovírus, togavírus e vírus de RNA (-) montam em volta do genoma

e são subsequentemente incluídos no envelope. A nucleocápside dos vírus RNA(-) inclui a RNA

polimerase RNA dependente necessária para a síntese do mRNA na célula alvo.

Nos vírus envelopados, a glicoproteínas virais recém-sintetizadas e processadas são

transferidas para as membranas celulares pelo transporte vesicular. A aquisição do envelope

ocorre após associação da nucleocápside às regiões que contém glicoproteínas virais das

membranas celulares do hospedeiro, num processo chamado de brotamento.

O tipo de genoma e a sequência de proteínas das glicoproteínas determinam o sítio de

‘brotamento’. A maioria dos vírus de RNA brota da membrana plasmática e o vírus é libertado

da célula ao mesmo tempo.

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7.Libertação

Os vírus de cápside descoberta são libertados depois da lise celular. A libertação de vírus

envelopados ocorre após brotamento a partir da membrana plasmática sem matar a célula.

Os vírus que se ligam aos receptores de ácido siálico podem ter também uma neuramidase.

A neuramidase remove receptores potenciais de ácido siálico nas glicoproteínas do virão e da

célula do hospedeiro para impedir a aglutinação e facilitar a libertação.

8.Reinício do ciclo de replicação

O vírus libertado para o meio extracelular é usualmente responsável por iniciar novas

infecções, porém, a travessia das pontes célula-célula, a fusão célula-célula induzida por vírus

ou a transmissão vertical do genoma para as células-filhas podem também disseminar a

infecção. Esta última forma pode permitir que o vírus escape da detecção pelo anticorpo.

Alguns herpesvírus e retrovírus podem induzir a fusão célula-célula para unir as células em

células gigantes multinucleadas (sincícios), que se tornam grandes ‘fábricas’ de vírus.

Os retrovírus e alguns vírus de DNA podem transmitir a sua cópia integrada do genoma

verticalmente para as células-filhas na divisão celular.

3.Relacionar as mutações com a patogénese das infeções virais.

As mutações ocorrem espontânea e prontamente em genomas virais, criando novas

linhagens de vírus com propriedades que diferem dos vírus parentais ou dos de tipo selvagem.

Estas variantes podem ser identificadas pelas suas sequências de nucleótidos, diferenças

antigénicas (sorotipos) ou diferenças nas propriedades funcionais ou estruturais.

A maioria das mutações ou não tem qualquer efeito, ou são prejudiciais ao vírus. As

mutações em genes essenciais inativam o vírus, mas as mutações noutros genes podem

produzir resistência ao fármaco antiviral ou alterar a antigenicidade ou patogenicidade do

vírus. Erros ao copiar o genoma viral durante a replicação do vírus produzem muitas mutações.

Os vírus de RNA não possuem um mecanismo de revisão de erro genético, por isso as taxas

de mutação para vírus são geralmente maiores do que as dos vírus de DNA.

Mutações letais → mutações em genes essenciais.

Mutante de delecção → resulta da perda ou remoção selectiva de uma porção do

genoma e da função que ela codifica.

Mutantes de placa → diferem do tipo selvagem no tamanho ou na aparência das células

infectadas.

Mutantes de espectro de hospedeiros → diferem no tipo de tecido ou nas espécies de

células-alvo que podem ser infectadas.

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Mutantes atenuados variantes que causam doenças menos graves em animais ou no

Homem.

Mutantes condicionais → ex. mutantes sensíveis à temperatura (ts) ou sensíveis ao frio –

possuem uma mutação num gene para uma proteína essencial que permite a produção

do vírus apenas em certas temperaturas.

Os mutantes ts crescem geralmente bem ou relativamente melhor entre 30-35ºC, enquanto

a proteína codificada é inactiva em temperaturas elevadas de 38-40ºC, impedindo a produção

de vírus.

Novas linhagens de vírus podem também surgir por interações genéticas entre os vírus ou

entre estes e a célula.

Recombinação → intercâmbio genético intramolecular

entre os vírus ou entre eles e o hospedeiro. Pode ocorrer

prontamente entre dois vírus de DNA relacionados. Exemplo: a

co-infecção de uma célula com dois herpes vírus fortemente

relacionados (vírus do herpes simples tipo 1 e tipo 2) resulta

em linhagens recombinantes intertípicas. Estas novas

linhagens híbridas possuem genes tipo 1 e 2.

A integração dos retrovírus na cromatina da célula

hospedeira é uma forma de recombinação.

Vírus com genomas segmentados (ex. vírus influenza e

reovírus) formam linhagens híbridas na infecção da célula com

mais de uma linhagem de vírus → reagrupamento.

Uma linhagem viral defeituosa pode ser auxiliada pela replicação de um outro mutante,

pelo vírus do tipo selvagem ou por uma linhagem do tipo celular que contém um gene viral

substituto. A replicação do outro vírus ou a expressão do gene na célula proporcionam a

função que faltava e que é requerida pelo mutante → complementação.

Marcador de resgate → usado para mapear os genomas de vírus como o do herpes

simples. Os vírus produzido a partir de células infectadas com diferentes linhagens de

vírus pode ser fenotipicamente misto e ter as proteínas de uma linhagem, mas o

genoma da outra → transcapsidação. Pseudotipos são gerados quando a

transcapsidação ocorre entre diferentes tipos de vírus, mas isso é raro.

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4. Rever os passos básicos de uma infeção e os mecanismos de defesa do

organismo contra a infeção. Relacionar estes conceitos com o que ocorre

durante uma infeção viral.

Os vírus provocam doenças após romperem as barreiras naturais de proteção do

organismo, evadirem o controlo imune, destruírem as células de um tecido importante ou

induzirem uma resposta imune e inflamatória destrutiva.

A evolução de uma infeção viral é determinada pela natureza da interação entre o vírus e o

hospedeiro e a resposta deste à infeção:

Natureza da doença: tecido-alvo; porta de entrada do vírus; acesso do vírus ao tecido-

alvo; tropismo tecidular do vírus; permissividade da célula à replicação viral;

patogéneo viral (estirpe).

Gravidade da doença: capacidade citopática do vírus; estado imune; competência do

sistema imune; imunidade anterior ao vírus; imunopatologia; tamanho do inóculo

viral; tempo decorrido antes da resolução da infecção; estado geral de saúde do

indivíduo; nutrição; constituição genética do indivíduo; idade.

A resposta imune é o melhor tratamento, mas frequentemente contribui para a patogénese

de uma infeção viral.

Uma determinada doença pode ser causada por vários vírus que possuem entre si um

tropismo (preferência) tecidular em comum (Hepatite → tecido alvo – fígado).

Um determinado vírus pode causar várias doenças diferentes ou nenhum sintoma

observável.

Muitos vírus codificam fatores de virulência que podem não ser essenciais para o

crescimento viral em culturas de tecido, mas são necessárias para a patogenicidade ou a

sobrevivência do vírus no hospedeiro. A perda destes factores de virulência resultam na

atenuação do vírus estratégia útil para a síntese de vacinas.

A doença viral no organismo humano progride através de etapas definidas:

1. Entrada no organismo;

2. Início da infeção no local primário;

3. Período de incubação, quando o vírus é amplificado e se pode disseminar para um

local secundário;

4. Replicação no tecido-alvo, provocando os sinais característicos da doença;

5. Respostas imunes que limitam e contribuem para a doença;

6. Produção viral num tecido, libertando o vírus para outras pessoas, ocorrendo o

contágio;

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7. Resolução ou infeção persistente/doença crónica.

O período de incubação pode ocorrer sem sintomas (assintomático) ou pode produzir

sintomas iniciais inespecíficos (pródromo). Os sintomas podem ser causados pelo vírus, pela

destruição do tecido ou pela resposta imune e podem permanecer mesmo durante a

convalescença, enquanto o organismo repara as lesõe

O indivíduo geralmente desenvolve uma memória imunológica de resposta, que representa

uma futura proteção contra um encontro semelhante com este mesmo vírus.

Os vírus conseguem entrar no

organismo através de ruturas na pele e das

membranas mucoepiteliais que revestem

os orifícios corporais (olhos, trato

respiratório, boca, genitais, e tracto GI).

A inalação é provavelmente a via mis

comum de infeção viral.

Os vírus podem-se replicar e

permanecer no sítio primário e disseminar-

se para outros tecidos através da corrente

sanguínea (+ comum virémia: os vírus

podem estar livres no plasma ou associados

a linfócitos ou macrófagos), fagócitos

mononucleares, sistema linfático (também

muito comum) e neurónios.

A replicação de um vírus em

macrófagos, no revestimento endotelial

dos vasos sanguíneos ou no fígado pode

provocar a amplificação da infeção e iniciar

o desenvolvimento de uma virémia

secundária. Em muitos casos, uma virémia

secundária antecede a chegada do vírus ao

seu tecido-alvo e a manifestação dos

sintomas.

Os vírus podem ter acesso ao SNC ou cérebro através da corrente

sanguínea (ex. encefalite por arbovírus), LCR ou das meninges

infetadas, migração de macrófagos infectados ou infeção de neurónios

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F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 16

periféricos e sensoriais (olfatórios). As meninges são acessíveis a muitos dos vírus

disseminados por virémia, também podendo permitir o acesso aos neurónios. Os vírus da

raiva, herpes simples e varicela-zoster infetam inicialmente o epitélio mucociliar, a pele ou os

músculos e, posteriormente, os neurónios periféricos, que transportam o vírus para o SNC ou

cérebro.

As defesas do hospedeiro contra infeções virais incluem as barreiras naturais do corpo (pele

e secreções) e a imunidade inata (febre, interferon, macrófagos, células dendríticas, células

NK). As Glicoproteínas virais, o DNA viral, RNA viral e RNA de cadeia dupla induzem a

actuvação do interferão com receptores Toll-like (TLR’s) que activam os restantes

componentes das respostas celulares inatas.

As respostas imunes especificas são as ultimas respostas a serem ativas e podem ser dividas

em:

- Respostas locais iniciais (TH1);

- Respostas de anticorpos sistémicas (TH2);

- Memória imunológica (linfócitos B).

O objetivo final da resposta do hospedeiro é eliminar o vírus e as células que o acolhem ou

replicam (resolução). A resposta imune é o melhor meio – e em muitos casos, o único – de

controlar uma infeção viral.

A resolução de uma infeção viral ocorre quando todos os vírus infetantes e as células por

eles infetadas são eliminadas do organismo. Os anticorpos são eficientes contra vírus

extracelulares e podem ser suficientes para controlar vírus citolíticos, pois a produção de

viriões no interior da célula infetada é eliminada pela replicação viral. Os anticorpos são

essenciais para controlar a disseminação do vírus para os tecidos-alvo por virémia.

A imunidade celular mediada por células é necessária para a lise da célula-alvo em

condições de infeção não-citolíticas e infeções provocadas por vírus com invólucro.

A imunidade prévia, causada por células T e B de memória, pode não impedir os estágios

iniciais da infeção, mas, na maioria dos casos, previne a progressão da doença.

Imunopatogénese Mediadores imunes Exemplos

Sintomas Gripais Interferões, citocinas Vírus respiratórios, arbovírus

Inflamação e hipersensibilidade

do tipo tardio

Células T, macrófagos e leucócitos

polimorfonucleares

Vírus com invólucro

Doença por imunocomplexos Anticorpos, complemento Vírus da hepatite B, rubéola

Doença hemorrágica Células T, anticorpos , complemento Febre-amarela, dengue, febre de Lassa, vírus

Ebola

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Durante o período de incubação, o vírus está em replicação, mas ainda não atingiu o tecido-

alvo nem induziu lesão suficiente para que ocorra a doença. O período de incubação será

relativamente curto se o sítio primário da infeção for o tecido-alvo, produzindo sintomas

característicos das doenças. Os vírus que precisam de se disseminar para outros sítios e ser

amplificados antes de atingir o tecido-alvo apresentam períodos de incubação mais longos.

Infeções aparentes ocorrerão se:

- O tecido infetado não for lesado;

- A infeção for controlada antes que o vírus

alcance o tecido-alvo;

- O tecido-alvo for dispensável;

- O tecido lesado for reparado rapidamente;

- A extensão das lesões estiver abaixo do

limiar funcional para aquele determinado

tecido.

As infeções assintomáticas são grandes fontes de

contágio. Apesar da ausência de sintomas,

anticorpos específicos para os vírus são produzidos.

A via de transmissão depende da origem do vírus

(o tecido onde ocorre a replicação e a secreção viral)

e da sua capacidade de suportar as dificuldades e

barreiras do meio e do organismo ate atingir o

tecido-alvo.

A presença ou ausência de um invólucro é o principal determinante do modo de

transmissão viral. Os vírus sem invólucro geralmente transmitidos por vias respiratórias e

fecal-oral, podendo ser adquiridos frequentemente a partir de objetos contaminados. Os vírus

com invólucro disseminam-se por gotículas respiratórias, sangue, muco, saliva. Sémen,

injecção e transplante de órgãos. Os vírus também se podem transmitir através de aerossóis e

alimentos.

Os meios de prevenção para infecções viricas baseiem-se na quarentena, eliminação do

vector do vírus, imunização, vacinação e tratamento com antivirais.

Citólise pós-infeção Células T Vírus com invólucro (p.ex: encefalite pós-

sarampo)

Imunossupressão - HIV, citomegalovírus, vírus do sarampo, vírus

influenza

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5. Classificar as infeções virais de acordo com o tipo de infeção.

CitopatogéneseOs 3 possíveis resultados da infeção viral das células são os seguintes:

- Não estabelecimento da infeção (infeção abortiva)

- Morte celular (infeção lítica)

- Infeção sem morte celular (infeção persistente)

Atividade citopatológica do vírus a eficiência da replicação viral no interior da célula está

dependente de uma temperatura ideal e da permissividade da célula para a replicação.

Proteínas virais citotóxicas inibem a síntese macromolecular da célula para que a célula passe

a produzir as proteínas virais e ocorra um acumular de proteínas e estruturas virais

(corpúsculos de inclusão a sua natureza e são característicos de determinadas infeções

virais, a presença destes corpos facilita o diagnóstico laboratorial). A replicação do vírus pode

induzir alterações na célula, provocando a sua lise ou causando mudanças na sua aparência,

propriedades funcionais ou antigenicidade

* processo natural de envelhecimento ao nivel celular ou o conjunto de fenômenos associados a este processo

Os mutantes virais, que provocam infeções abortivas, não se multiplicam e, assim, acabam

por desaparecer.

A natureza da infeção é determinada pelas características do vírus e da célula-alvo. Uma

célula não-permissiva não permite a replicação de um determinado tipo ou estirpe viral. Uma

célula permissiva fornece a maquinaria (ex: factores de transcrição, enzimas de processamento

pós-translacional) necessária para o

ciclo replicativo completo do vírus. A

replicação viral numa célula semi-

permissiva pode ser muito ineficiente,

ou a célula pode permitir apenas

alguns passos da replicação, mas não

de todos.

Tipos de infeções virais em nível celular

Tipo Produção viral Destino da célula

Abortivo - Sem efeito

Citolítico + Morte

Persistente

Produtivo (crónico) + Senescência*

Latente - Sem efeito

Transformante

Vírus de DNA - Imortalização

Vírus de RNA + Imortalização

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As infecções líticas ocorrem quando a replicação viral causa a morte da célula-alvo. Alguns

vírus impedem o crescimento celular e a reparação inibindo a síntese de macromoleculas ou

produzindo enzimas degradativas e proteínas tóxicas. Por exemplo, o HSV e outros vírus

produzem proteínas que inibem a síntese de DNA e mRNA e sintetizam outras proteínas que

degradam o DNA do hospedeiro para fornecer substrato para a replicação do genoma viral.

A síntese proteica celular pode ser bloqueada activamente (ex.: inibição da tradução de

mRNAs celulares) ou passivamente (ex.: produção de uma grande quantidade de mRNA viral,

que consegue competir com sucesso por ribossomas).

Os sincícios podem ser frágeis e suscetíveis a lise, e aqueles que ocorrem na infeção pelo

HIV também provocam a morte celular.

A célula pode também imitar a produção viral através da fosforilação de eIF2 (fator de

iniciação de alongamento 2, subunidade alfa) para impedir a montagem dos ribossomas no

mRNA, o que bloqueia a síntese proteica. Esta proteção pode ser accionada por uma síntese

proteica em grande quantidade, necessária à produção viral, ou por uma resposta ao

interferão (IFN-) ou interferão (INF-) e um intermediário de replicação de RNA de cadeia

Replicação do vírus

Acúmulo de componentes virais

Progenia no interior da célula

Rotura da estrutura e a

função celular, ou os seus

lisossomas

Autólise

Expressão de antigénios virais na

superfície celular

Ruptura do citoesqueleto

Alteração das interacções

célula a célula e da

aparência celular

A célula passa a ser alvo

para a citólise imune

Expressão de

glicoproteínas na

superfície celular de

alguns vírus

Indução da fusão de células vizinhas

em células gigantes multinucleadas,

denominadas sincícios

Disseminação do vírus de

uma célula para outra, não

sendo detectado por

anticorpos

Fusão externa: na ausência de uma

nova síntese proteica

Fusão interna: precisa de uma nova

síntese proteica

Infeção viral

Respostas imunes citolítcas

Indução de apoptose

da célula infetada

Facilita a libertação do vírus, mas

também limita a extensão da sua

produção, pelo que muitos vírus

codificam métodos para inibir a

apoptose.

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dupla. O herpesvírus e alguns outros vírus impedem que isto ocorra, inibindo a enzima de

fosforilação (proteína cinase R) ou ativando uma fosfatase celular que seja capaz de remover o

fosfato do eIF2.

Uma infeção persistente ocorre em células infetadas que não são destruídas pelo vírus.

Alguns vírus provocam uma infeção produtiva persistente porque o vírus é libertado

lentamente pela célula, por exocitose ou brotamento (vírus encapsulados) a partir da

membrana plasmática.

Uma infeção latente pode resultar de uma infeção por vírus de DNA em células cuja

maquinaria necessária para a transcrição de todos os genes virais está incompleta ou ausente.

Os fatores de transcrição necessários a este vírus podem ser expressos apenas em tecidos

específicos ou em células em crescimento, mas não naquelas em repouso ou somente após

indução por hormonas ou citocinas.

6. Conhecer os mecanismos de oncogénese viral.

Mecanismos de oncogénese viral:

- Estimulação de genes indutores do crescimento;

- Inserção do DNA viral próximo de um oncogene celular;

- Integração no genoma celular de genes indutores do crescimento;

- Remoção dos mecanismos que limitam a síntese de DNA e o crescimento celular;

- Prevenção da apoptose.

Alguns vírus de DNA e retrovírus estabelecem infeções

persistentes que também podem estimular o crescimento celular

descontrolado, provocando a transformação ou imortalização da

célula.

As características das células transformadas incluem:

- Crescimento contínuo sem senescência

- Alterações na morfologia

- Alterações no metabolismo

- Aumento da taxa de crescimento

- Aumento da taxa de transporte de açúcares

- Perda da inibição do crescimento por contacto

- Capacidade de crescer em suspensão ou de se agregar em focos quando cultivadas em ágar

semi-sólido.

Vírus oncogénicos distintos possuem diferentes mecanismos para a imortalização das

células. Os vírus podem provocar esta imortalização activando ou fornecendo genes

estimuladores de crescimento, removendo mecanismos de controlo inerentes, que limitam a

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síntese de DNA ou o crescimento celular ou impedindo a apoptose. A imortalização por vírus

de ADN ocorre em células semi-permissivas, que expressam apenas determinados genes virais

mas que não produzem o vírus. A síntese de DNA viral, mRNA tardio, proteínas tardias ou vírus

leva à morte celular, encerrando a imortalização. Vários vírus de ADN oncogénicos integram-se

aos cromossomos da célula hospedeira. A inativação da p53 também torna a célula mais

suscetível a mutações.

Os retrovírus utilizam duas vias para a oncogénese. Alguns oncovírus codificam proteínas

de oncogenes que são praticamente idênticas às proteínas celulares envolvidas no controle do

crescimento celular. A produção exagerada ou a função alterada dos produtos desses

oncogenes estimulam o crescimento celular. Estes vírus oncogénicos provocam a rápida

formação de tumores.

O vírus linfotrópico humano de células T do tipo 1, o único retrovírus oncogénico humano

identificado, utiliza mecanismos mais subtis de leucemogénese. Este vírus codifica uma

proteína (tax) que provoca a transactivação da expressão genica, incluindo genes para

citocinas estimuladores de crescimento. Esta é a segunda via para a oncogénese.

Alguns vírus podem iniciar a formação de tumores de modo indirecto (vírus hepatite B

(HBV) e da hepatite C) Contudo, ambos os vírus estabelecem infecções persistentes que

requerem reparo tecidual significativo. A estimulação do reparo e crescimento de células do

fígado pode provocar mutações que levam à formação de tumores.

A transformação viral é o primeiro passo, mas geralmente não é suficiente para provocar

oncogenese e formação de tumores. Em vez disso, com o tempo, as células imortalizadas têm

maior probabilidade de acumular outras mutações ou rearranjos cromossómicos que causam

desenvolvimento de células tumorais. As células imortalizadas também podem ser mais

suscetíveis a co-factores e promotores tumorais que potencializam a formação tumoral.

7. Para os vírus DNA a seguir apresentados desenvolver os temas propostos

7.1 – Vírus do papiloma humano: Modo de replicação / transmissão, doenças

associadas, Diagnóstico laboratorial

Vírus Doença

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Pertencem à família

papovírus (Papovaviridae), à

qual o poliomavírus também

pertence. Estes vírus são

capazes de causar infeções líticas, crónicas, latentes e transformantes, conforme a célula do

hospedeiro. Os papilomavírus humanos (HPVs) causam verrugas, e diversos genótipos estão

associados ao cancro humano (ex. carcinova cervical). Vírus BK e JC (poliomavírus) geralmente

causam infeções assintomáticas, mas estão associados a doenças renais e leucoencefalopatia

multifocal progressiva (LMP), respetivamente, em pessoas imunocomprometidas. São vírus

pequenos, sem invólucro, de cápside ecosaédrica, com genomas de ácido desoxirribonucleico

(DNA) circular de dupla cadeia. Codificam proteínas que promovem a multiplicação celular por

se ligarem às proteínas supressoras de divisão celular p53 e p105RB oncogenes.

A classificação dos HPVs baseia-se na homologia da sequência de DNA. Neste sentido,

Foram identificados 100 tipos e classificados em 16 grupos (A até P). O HPV pode ser ainda

distinguido como cutâneo ou de mucosa, com base nos tecidos

suscetíveis. Entre os HPVs de mucosa existe um grupo associado

ao cancro cervical.

O vírus tem acesso à camada celular basal através de ruturas

na pele. Os genes precoces do vírus → estimulam a

multiplicação celular, o que facilita a replicação do genoma viral

pela DNA polimerase da célula hospedeira, quando as células se

dividem. O aumento no nº de células induzido pelo vírus causa

espessamento das camadas basal e espinhosa (estrato

Papilomavírus Verrugas Poliomavírus Vírus BK Vírus JC

Doenças renais* Leucoencefalopatia multifocal progressiva* *doenças ocorrem em doentes imunocomprometidos

Propriedades exclusivas dos Papilomavírus e Poliomavírus

-Virião com uma pequena cápside ecosaédrica que consiste em 2 proteínas com 72 capsómeros.

-O genoma de DNA circular de cadeia dupla (codifica 7 ou 8 genes precoses (E1 a E8), conforme o vírus, e 2

genes tardios ou estruturais (L1 e L2)) e é replicado e montado no núcleo.

-Papilomavírus: tipos 1 a 58+ de HPV (conforme determinado pelo genótipo; tipos definidos por homologia

de DNA, tropismo tecidular e associação a oncogénese).

-Poliomavírus: SV40, vírus JC e vírus BK.

-Os vírus podem causar infeções líticas em células permissivas, mas causam infecções abortivas,

persistentes ou latentes, ou imortalizam (transformam) células não-permissivas.

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espinhoso) de células (verruga ou papiloma). Os

genes tardios → codificam as proteínas estruturais;

são expressos apenas na camada superior

terminalmente diferenciada e o vírus é montado no

núcleo Utilizando a maturação da célula cutânea, o vírus atravessa as camadas da pele, sendo

libertado com as células mortas da camada

superior.

Infetam e replicam-se no epitélio

escamoso da pele (verrugas) e das mucosas

(papilomas genitais, orais e conjuntivos),

induzindo a proliferação epitelial. Os tipos

de HPV são muito tecido-específicos,

causando diferentes apresentações

patológicas.

Verruga → desenvolve-se como resultado do estímulo viral ao crescimento celular e

espessamento das camadas basal e espinhosa, bem como da camada granulosa.

Coilócitos → característicos da infeção por papilomavírus, são queratinócitos aumentados

com halos claros ao redor de núcleos condensados.

HPV-16 e HPV-18 causam papilomas e displasia cervical.

Este vírus resiste à inativação e pode ser transmitido no fómites, como as superfícies de

balcões ou móveis, pisos de casas de banho e toalhas. A libertação assintomática pode

promover a transmissão. A infeção é adquirida por contacto direto através de pequenas

ruturas na pele ou mucosa, durante o ato sexual ou durante o parto.

HPV-16, 18, 31, 45 → alto risco; HPV-6, 11 → baixo risco.

Diagnóstico laboratorial

Verruga → pode ser confirmada microscopicamente com base na sua aparência histológica

característica Hiperplasia de células espinhosas e produção excessiva de queratina

(hiperceratose).

A infeção por HPV pode ser detetada em esfregaços de Papanicolau Presença de células

epiteliais escamosas coilocitóticas (citoplasma vacuolado), que são arredondadas e podem

aparecer agrupadas.

Sondas moleculares de DNA ou reacção em cadeia da polimerase (PCR). Exames com

anticorpos raramente são utilizados.

Diagnóstico laboratorial de infecçaões por HPV

Exame Deteção

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Citologia Células coilocíticas

Análise por sonda de DNA in sito* Ácido nucleico viral

Reacção em cadeia da polimerase* Ácido nucleico viral

Hibridização po Southern blot Ácido nucleico viral

Imunofluorescência e coloração por imunoperoxidase

Antigénios virais estruturais

Microscopia electrónica Vírus

Cultura *método de escolha

Sem utilidade

7.2 – Poliomavirus – vírus JC e vírus BK:

Os poliomavírus humanos (vírus JC e vírus BK) são universais, mas geralmente não causam

doenças. São Vírus pequenos, sem invólucro, de cápsides icosaédricas com genomas de ADN.

O genoma de ADN circular de fita dupla é replicado e montado no núcleo. Codificam proteínas

que promovem a multiplicação celular por se ligarem às proteínas supressoras de divisão

celular p53 e p105RB (produto do gene de retinoblastoma p105). Os vírus podem causar

infeções líticas em células permissivas, mas causam infeções abortivas, persistentes ou

latentes, ou imortalizam (transformam) células não-permissivas.

Cada poliomavírus está limitado a hospedeiros específicos e a certos tipos celulares dentro

desse hospedeiro tropismo.

Os vírus JC e BK entram pelo trato respiratório, infetand linfócitos e depois os rins, com um

mínimo efeito citopatológico. O vírus BK estabelece infeção

latente nos rins, e o vírus JC infecta rins, células B e células da

linhagem dos monócitos. A replicação é bloqueada em

indivíduos imunocomprometidos.

O vírus JC atravessa a BHE por se replicar nas células

endoteliais dos capilares.

Uma infeção abortiva dos astrócitos resulta em

transformação parcial, formando células aumentadas com

núcleos anormais semelhantes a glioblastomas. Infeções líticas produtoras de oligodendrócitos

causam desmielinização.

As infeções são ubíquas e a maioria das pessoas está infetada com ambos os vírus, JC e BK,

aos 15 anos de idade.

A infeção primária é quase sempre assintomática. A estenose uretral observada em

recetores de transplante renal parece estar associada ao vírus BK, assim, como a cistite

hemorrágica em recetores de transplante de medula óssea. LMP (leucoencefalopatia

multifocal progressiva) é uma doença desmielinizante subaguda causada pelo vírus JC e que

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ocorre em pacientes imunocomprometidos. Como o nome indica, os pacientes podem

apresentar múltiplos sintomas neurológicos que não podem ser atribuídos a uma única lesão

anatómicadificuldade de fala, visão, coordenação de raciocínio ou de uma combinação

destas funções, seguida pela paralisia de membros superiores e inferiores e, finalmente, a

morte.

7.3 – Adenovírus

Foram identificados aproximadamente 100 serotipos, dos quais 47 infetam humanos. A

cápside iscosaedrica não-envelopada, possui fibras (proteínas de ligação) nos vértices. O

genoma de cadeia dupla possui proteínas nas terminações 5’. A síntese de DNApolimerase

viral activa a mudança da expressão de genes precoces para tardios. O vírus codifica proteínas

para promover a síntese de RNA mensageiro e DNA, incluindo a própria DNApolimerase.

Os adenovírus humanos são classificados nos grupos A a F por homologia de DNA e

serotipagem (mais de 42 tipos). O serotipo é principalmente resultante de diferenças na base

pentamérica e na proteína das fibras, que determinam a natureza do tropismo tecidual e a

doença. Estes vírus causam infeções líticas, persistentes e latentes e humanos, e algumas

estirpes podem imortalizar certas células animais.

Estrutura A cápside tem 240 capsómeros que consistem em hexões e pentâmeros.

Os 12 pentâmeros, que se localizam nos vértices, têm uma base e uma fibra. A fibra

contém proteínas de ligação viral e pode agir como uma hemaglutinina.

O complexo central dentro da cápside inclui DNA viral e pelo menos duas proteínas

principais.

Existem pelo menos 11 polipéptidos, dos quais nove apresentam uma função estrutural

identificada.

As proteínas precoces promovem o crescimento celular e incluem uma DNA polimerase

envolvida na replicação do genoma. Também codifica proteínas que suprimem respostas

imunes e inflamatórias do hospedeiro. As proteínas tardias são sintetizadas após inicio da

replicação do DNA, sendo principalmente componentes da cápside.

A disseminação pode ser feita por via fecal-oral, dedos, fómites (toalhas e instrumentos

médicos), piscinas tratadas com pouco cloro e principalmente por contacto respiratório entre

humanos São libertados intermitentemente ao longo de extensos períodos a partir da

faringe e, especialmente, nas fezes. Infecção é maioritarimante assintomática.

Não há reservatórios animais para o vírus. Adenovírus 1 a 7 são os mais prevalentes.

Infecta sobretudo crianças com menos de 14 anos de idade e pessoas em locais

superpovoados. Está disponível uma vacina para os serotipos 4 e 7 para o uso militar.

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Doenças associadas faringitefrequentemente acompanhada por conjuntivite e febre

faringoconjuntival. A faringite isolada ocorre em crianças pequenas (menos de 3 anos) e, pode

simular uma infeção estreptocócica. Os pacientes afetados apresentam sintomas leves gripais

(congestão nasal, tosse, febre, calafrios, mialgia, cefaleia) que podem durar 3-5 dias.

Doença respiratória aguda caracterizada por tosse, febre, faringite e adenite cervical.

Geralmente causada pelos sorotipos 4 e 7 do adenovírus. Alta incidência em recrutas militares,

estimulando o desenvolvimento de uma vacina contra estes sorotipos.

Outras Doenças do Tracto Respiratóriosintomas gripais, laringite, laringotraqueite e

bronquiolite. Também pode causar doença semelhante à coqueluche em crianças e adultos,

consistindo numa evolução clínica prolongada e pneumonia viral verdadeira.

Conjuntivite e CeratoconjutiviteConjuntivite folicular na qual a mucosa da conjuntiva

palpebral torna-se granulosa ou nodular e ambas as conjuntivas (palpebral e bulbar) se tornam

inflamadas. A irritação do olho por um corpo estranho, poeiras, partículas e outros é um fator

de risco para a aquisição desta infeção.

Gastroenterite e Diarreiaserotipos 40 e 42 foram agrupadas como adenovírus entéricos

(grupo F) e parecem ser responsáveis por diarreia em crianças. Estes serotipos não se replicam

nas mesmas culturas de células de tecidos que outros adenovírus e, raramente causam febre

ou sintomas do trato respiratório.

7.4 Herpesvirus

- características gerais da família

Características comuns a todos os herpesvirus: morfologia do virião, modo básico de

replicação e a capacidade de estabelecer infecções latentes e recorrentes.

Os herpesvírus podem causar infecções líticas, persistentes, latentes/recorrentes e, no caso

do vírus Epstein-Barr pode mesmo levar a cancros.

Existem três subfamílias, baseadas nas diferentes características virais (estrutura do

genoma, tropismo tecidular, efeito citopatológico e sítio de infecção latente) bem como na

patogénese da doença e as suas manifestações:

Os herpesvírus humanos consistem:

Vírus herpes simples do tipo 1 e 2 (HSV-1

e HSV-2), vírus varicela-zoster (VZV), vírus

Epstein-Barr (VEB), citomegalovírus

(CMV), herpesvírus humanos 6 e 7 (HHV-6

e HHV-7) e herpesvírus humano 8 (HHV-

8).

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Estrutura

São vírus grandes de DNA de dupla cadeia, com involucro. São sensíveis a ácidos, solventes,

detergentes e ressecamento.

No espaço entre a cápside e o envelope encontra-se o tegumento. Este espaço contém

proteínas e enzimas virais que auxiliam no início da replicação.

Replicação

A replicação inicia-se com a interacção das glicoproteínas virais com os receptores da

superfície celular. O genoma viral é transcrito e replicado no núcleo.

A transcrição e síntese proteica decorrem em três fases:

1. Proteínas precoces imediatas (α): regulam da transcrição génica e controlo da célula;

2. Proteínas precoces (β): são factores de transcrição e enzimas, incluindo a DNA

polimerase;

3. Proteínas tardias (γ): consistem principalmente em proteínas estruturais geradas após

o início da replicação do genoma.

O genoma viral é transcrito pela RNApolimerase DNA dependente e é regulado por factores

nucleares celulares e codificados pelo vírus. A interacção destes factores determina se serão

produzidas as proteínas necessárias para uma infecção lítica, persistente ou latente.

Os procapsídeos vazios formados no núcleo são preenchidos com DNA, adquirem um

envelope na membrana nuclear ou no aparelho de Golgi e saem da célula por exocitose ou lise

celular.

Herpes simples 1 e 2

O HSV foi o primeiro herpesvírus humano a ser reconhecido. Os dois

tipos de vírus de herpes simples, HSV-1 e HSV-2, possuem muitas

características semelhantes. No entanto, eles ainda podem ser

distinguidos por pequenas diferenças que embora subtis são importantes.

Patogénese e local de latência ambos os vírus inicialmente infectam

e replicam-se em células mucoepiteliais e causam doença no local de

infecção. O HSV pode causar infecções líticas na maioria das células,

Infecções persistentes em linfócitos e macrófagos e infecções latentes em

neurónios

O HSV-1 pode causar infecções acima da cintura.

O HSV-2 causa infecções abaixo da cintura, que é consistente com os meios de

disseminação deste vírus, apresentando um potencial elevado de causar viremia, com

sintomas gripais associados.

1. O HSV inicia a infecção através de mucosas ou rupturas na pele.

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F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 28

2. O vírus replica-se nas células na base da lesão e infecta o neurónio que inerva a área,

circulando através de transporte retrógrado até ao gânglio (os gânglios trigeminais para

o HSV e os sacrais para o HSV genital).

3. O vírus retorna então para o local inicial da infecção, podendo permanecer oculto ou

produzir lesões vesiculares.

O líquido das vesículas contém viriões infecciosos. A lesão tecidual é causada por uma

combinação de patologia viral e imunopatologia, a lesão geralmente regenera-se sem formar

cicatriz.

Os efeitos imunopatológicos das respostas celular e inflamatória são uma das principais

causas dos sintomas. Anticorpos dirigidos contra as glicoproteinas do vírus neutralizam o vírus

extracelular, limitando a sua disseminação, mas não o suficiente para a regressão da infecção.

Na ausência da imunidade celular funcional, a infecção por HSV é mais grave, podendo

disseminar-se para os órgãos vitais e para o cérebro.

O HSV possui diversos mecanismos para escapar às respostas protectoras do hospedeiro:

1. Bloqueia a síntese de proteínas virais induzida por interferões e codifica uma proteína

para bloquear o canal transportador associado a prossessamento (TAP), impedindo que

peptídeos sejam introduzidos no reticulo endoplasmático (RE), o que bloqueia a

associação a moléculas do complexo principal de histocompatibilidade de classe I (MHC

1) e impede o reconhecimento de células infectadas por células T CD8.

2. Disseminação directa célula-a-célula e por permanecer escondido durante a infecção

latente do neurónio.

3. O virião e as células infectadas pelo vírus expressam receptores de anticorpos (Fc) e

complemento, que enfraquecem estas defesas humorais.

Doenças associadassão infecções de longa duração e podem ser assintomáticas.

Na manifestação clássica, a lesão consiste numa vesícula clara sobre uma base eritematosa,

progredindo então para lesões pustulares, úlceras e lesões crostosas. Ambos os vírus podem

causar morbidade e mortalidade significativas em infecções oculares ou cerebrais e na

infecção disseminada de indivíduos imunodeprimidos ou neonatais.

Herpes Oral: pode ser causado por HSV-1 ou HSV-2, a gengivoestimatite hérpica primária

em bebés e crianças é quase sempre causada por HSV-1, enquanto que adultos jovens podem

ser infectados por HSV-1 ou HSV-2. As lesões iniciam-se como vesículas claras que formam

úlceras rapidamente e podem distribuir-se rapidamente através da boca, envolvendo o palato,

faringe, gengivas, mucosa bucal e língua.

Pode ocorrer a infecção mucocutânea recorrente por HSV (herpes labial) mesmo sem a

ocorrência de uma infecção primária clinicamente aparente. As lesões geralmente ocorrem

Utilizador
Sticky Note
Morbidade ou morbilidade - É a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
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F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 29

nos cantos da boca ou próximo dos lábios. Infecções recorrentes por herpes facial são

geralmente activadas a partir dos gânglios trigeminais. Os sintomas de um episódio recorrente

são menos graves, mais localizados e de menor duração que os associados a um episódio

primário.

Faringite herpética: prevalente em adultos jovens com dor de garganta

Estomatite grave por HSV: assemelha-se a uma gengivoestomatite primátria e pode

ocorrer em pacientes imunodeprimidos.

Ceratite herpética: quase sempre limitada a um olho. Pode causar doença recorrente,

levando a cicatrização permanente, lesão da córnea e cegueira.

Paroníquia herpética: infecção de um dedo. Ocorre frequentemente em enfermeiras ou

médicos que atendem pacientes com infecções por HSV.

Herpes gladiatorum (“herpes do lutador”): infecção no corpo

Eczema herpético: adquirido por crianças com eczema activo

Herpes genital: causado por HSV-2, mas pode ser causado também por HSV-1. A doença

genital recorrente por HSV é mais curta e menos grave que o episódio primário.

Encefalite herpética: geralmente causada por HSV-1. As lesões são geralmente limitadas a

um dos lobos temporais. O HSV é a causa mais comum de encefalite esporádica e resulta em

morbidade e mortalidade significativas.

Meningite por HSV: ocorre muito frequentemente com uma complicação da infecção

genital por HSV-2; os sintomas são auto-limitados.

Infecção neonatal por HSV: doença devastadora e frequentemente fatal, causada na

maioria das vezes por HSV-2. Pode ser adquirida na vida intra-uterina, mas é contraída com

mais frequência durante a passagem do bebé pelo canal vaginal, devido à libertação do herpes

vírus pela mãe no momento do parto, ou num momento posterior.

Principais vias de transmissãona saliva, secreções vaginais e pelo contacto directo com a

lesão. A transmissão para além de poder ocorrer oralmente e sexualmente, os olhos e as

feridas na pele também pode ser vias de entrada. HSV-1 via maioritariamente oral e HSV-2 via

maioritariamente sexual.

Diagnóstico laboratorialAnálise directa da amostra clínicaidentificação num esfregaço

de Tzanck (raspagem da base da lesão), um exame de Papanicolau ou numa biopsia.

Um diagnóstico definitivo pode ser feito pela demonstração de antigénios (utilizando

imunofluorescência ou o método da imunoperoxidase) ou DNA virais (através da hibridização

in situ ou reacção em cadeia da polimerase [PCR]) na amostra de tecido ou líquido da vesícula.

A análise por PCR de líquido cefalorraquidiano substituiu a análise por imunofluorescência de

biopsia cerebral no diagnóstico de encefalite herpética.

Utilizador
Sticky Note
Eczema, também chamada de dermatite, refere-se a qualquer tipo de inflamação da pele. Os eczemas, em geral, iniciam-se pela aparecimento, à superfície da pele, de vermelhidão (eritema) e inchaço (edema) da superfície cutânea. Como consequência, pode ocorrer um acúmulo de líquidos em pequenas vesículas, com prurido.
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F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 30

O isolamento do vírus é o critério mais definitivo para o diagnóstico de infecção por HSV. O

vírus pode ser obtido a partir de vesículas, mas não de lesões crostosas. As amostras são

colhidas por aspiração do líquido da lesão ou pela aplicação de um cotonete nas vesículas e a

sua inoculação directa em culturas de células.

O HSV produz ECPs após 1 a 3 dias em células HeLa, fibroblastos embrionários humanos e

células renais de coelho. As células infectadas tornam-se maiores e de aparência globosa.

Alguns isolados induzem a fusão entre células vizinhas, gerando células gigantes

multinucleares (sincícios).

Sondas de DNA específicas para cada tipo de HSV, primers específicos de DNA para PCR e

anticorpos são utilizados para diferenciar HSV-1 e HSV-2. A distinção entre ambos e linhagem

diferentes de cada vírus pode ser feita por padrões de clivagem por endonucleases de

restrição do DNA viral.

Procedimentos serológicos são úteis apenas para o diagnóstico de uma infecção primária

por HSV e para estudos epidemiológicos. Não são úteis para o diagnóstico da doença

recorrente, porque esta geralmente não é acompanhada por um crescimento significativo nas

titulações de anticorpos.

Vírus Varicella-Zoster

O VZV possui muitas características comuns com o HSV,

incluindo a capacidade de estabelecer uma infecção latente

de neurónios e doença recorrente, a importância da

imunidade celular no controlo e prevenção da doença grave e

as lesões em forma de bolha características. Ao contrário do

HSV, o VZV dissemina-se predominantemente pela via

respiratória (inalação). A viremia ocorre após a replicação

local do vírus no tracto respiratório, levando à formação de

lesões cutâneas em todo o corpo.

Patogénese da infecção geralmente adquirido por inalação. A replicação inicial ocorre

no tracto respiratórioinfecta células epiteliais, fibroblastos, células T e neurónios (pode

formar sincícios e desseminar-se directamente de célula a célula) o vírus dissemina-se por

viremia para a pele e causa lesões em estágios sucessivos Lesão disseminada perigo

eminente para indivíduos imunocomprometidos.

O vírus estabelece infecção latente em neurónios; geralmente da raiz dorsal e de gângçios

de nervos cranianos.

Utilizador
Sticky Note
Células HeLa - É um tipo de célula imortal usada em pesquisas científicas.
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F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 31

Uma viremia secundária ocorre após 11 a 13 dias, disseminando o vírus por todo o corpo. O

vírus permanece associado a células e é transmitido na interacção célula-a-célula, excepto em

células epiteliais terminalmente diferenciadas nos pulmões e queratinócitos de lesões

cutâneas, que podem libertar os vírus infecciososEstas células são a fonte do vírus nas

vesículas, sendo responsáveis pelo contágio.

O vírus causa um exantema cutâneo vesiculopapular que se desenvolve em estágios

sucessivos. Febre e sintomas sistémicos ocorrem com o exantema.

O vírus também se pode tornar latente na raiz dorsal ou gânglios de nervos cranianos após

a infecção primária e ser reactivado em adultos mais velhos ou pacientes com imunidade

celular prejudicada. Na reactivação, o vírus replica-se e é libertado ao longo de toda a vida

neural, infectando a pele e causando um exantema vesicular no trajecto de todo o

dermátomo, sendo designado por Herpes Zoster.

Vírus Epstein-Barr

O EBV tem sido considerado o principal parasita de linfócitos B e as doenças que causa

reflectem esta associação. Causa mononucleose infecciosa com a presença de anticorpos

heterófilos, apresentando uma relação causal com LBAf (linfoma de Burkitt endémico), doença

de Hodgkin e carcinoma nasofaríngeo. A principal via de transmissão é a saliva , ou partilha de

escovas de dentes e copos.

Patogénese da infecção: O vírus na saliva inicia a infecção no epitélio

oral e dissemina-se para células B em tecidos linfáticos O vírus

promove o crescimento de células B (imortalização) Células T

destroem e limitam o supercrescimento de células B. As células T são

necessárias para o controlo da infecção (o papel dos anticorpos é

limitado).

EBV estabelece latência em células B de memória, sendo reactivado

junto com a célula B a resposta de células T (linfócitos) contribui para os sintomas de

mononucleose infecciosa. Na ausência de células T, o EBV pode imortalizar células B e

promover o desenvolvimento de linhagens celulares B linfoblastóides (detectadas pela

produção anómala de IgM contra o antigénio Paul-Burnnell).

Durante a infecção produtiva, inicialmente são desenvolvidos anticorpos contra os

componentes do virião, VCA e MA, e posteriormente contra EA. Ainda durante a fase de

infecção produtiva o virus elimina parte da acção protectora de respostas TH1 de células T CD4

para produzir um análogo da interleucina-10 (BCRF-1) que inibe as respostas protectoras TH1

de células T CD4. Após a resolução da infecção (lise das células infectadas produtivamente),

são produzidos anticorpos contra os antigénios nucleares (EBNAs).

Page 32: 1.Definir vírus, descrever a sua estrutura e relacionar a

F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 32

Doenças associadasMononucleose infecciosa positiva para anticorpos heterófilos (mais

importante) Doença dos beijinhos (muitas vezes assintomática e o período de incubação

pode ir até 2 meses).

Esta doença resulta da “guerra” entre os linfócitos B infectados por EBV e os linfócitos T

produtivos.

A tríade de sintomas clássicos para a mononucleose infecciosa consiste em Linfadenopatia

(inchaço dos linfonodos), Esplenomegalia (aumento do baço) e Faringite exudativa

acompanhada de febre alta, astenia e frequentemente, hepatoesplenomegalia (aumento do

fígado e do baço) resltam da activação de linfócitos T, através da interacção com MHC- 1 de

linfócitos B infectados.

A doença raramente é fatal em indivíduos saudáveis, mas pode causar complicações sérias

devido a transtornos neurológicos, obstrução laríngea ou ruptura do baço. As crianças

apresentam uma resposta imune mais branda contra a infecção por EBV, portanto evoluem

com doença muito leve.

O vírus persiste em pelo menos uma célula B de memória por mililitro de sangue por toda a

vida. O EBV pode ser reactivado quando a célula B de memória é activada (especialmente nas

tonsilas ou orofaringe), podendo ser libertado na saliva.

Tricoleucoplasiamanifestação incomum de uma infecção produtiva de EBV de células

epiteliais, caracterizada por lesões na boca. É uma manifestação

oportunista que ocorre em doentes com SIDA.

Diagnóstico laboratorial: A mononucleose infecciosa

induzida por EBV é diagnosticada com base nos sintomas, na

detecção de linfócitos atípicos e na presença de linfocitose

(células mononucleares constituindo 60 a 70% da leucometria,

com 30% de linfócitos atípicos), anticorpos heterófilos e

anticorpos contra antigénios virais.

O isolamento do vírus é difícil, sendo o PCR e a análise por

sonda de DNA para pesquisa do genoma viral e identificação por

imunofluorescência de antigénios virais, as técnicas mais utilizadas para detectar evidências de

infecção.

Linfócitos atípicos indicação mais precoce de uma infecção por EBV. Estas células

surgem com o início dos sintomas e desaparecem com a resolução da doença.

Anticorpos heterófilos resultam da activação inespecífica de células B pelo EBV e da

produção de um amplo reportório de anticorpos. Estes incluem o IgM heterófilo que

reconhece o antigénio de Paul-Burnnell em eritrócitos de alguns animais (detectados no final

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F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 33

da primeira semana de aparecimento de sintomas). São um excelente indicação de EBV em

adultos, mas não em crianças. Para detecção destes enticorpos recorre-se à ELISA.

Citomegalovírus

CMV é um patogéneo humano comum, infectanda principalmente neonatais, bebés e

crianças e mulheresÉ a causa viral mais comum de anomalias congénitas.

Epidemiologia: normalmente, o CMV replica-se e é libertado sem causar sintomas.

A activação e replicação do CMV que ocorre nos rins e glândulas secretoras promove a sua

libertação na urina e nas secreções corporaispode então ser isolado a partir de urina,

sangue, orofaringe, saliva, lágrimas, leite, sémen, fezes, liquido amniótico, secreções vaginais e

cervicais e tecidos obtidos para transplante.

Infecção congénitaevidências clínicas de doença: tamanho reduzido, trombocitopenia,

microcefalia, calcificação intracerebral, icterícia, hepatoesplenomegalia e exantema (doença

de inclusão citomegálica). Perda auditiva uni ou bilateral e retardo mental são consequências

comuns da infecção congénita por CMV.

Transmissão vertical (mãefilho): mOs fetos infectados pelo vírus através do sangue

materno (infecção primária) ou pela ascensão do vírus a partir do colo do útero (após uma

recorrência).

Diagnóstico laboratorial: Histologia visualização de células citomegálicas, (célula

aumentada, que tem um “olho de coruja” central basofílico, o qual é um corpo de inclusão

intranuclear) são encontradas em qualquer tecido do corpo e na urina, sendo provavelmente

de origem epitelial.As inclusões são facilmente vistas a coloração de Papanicolau ou

hematoxilina-eosina.

Técnicas Imunes e por Sonda de DNAdetecção de antigénios virais, utilizando

imunofluorescência ou ELISA, ou do genoma viral, utilizando PCR e técnicas relacionadas em

células de biopsia, sangue, lavado bronco-alveolar ou amostra de urina.

Cultura CMV cresce apenas nas culturas de células de fibroblastos diplóides e,

normalmente, deve ser mantido por 4 a 6 semanas, porque os ECPs característicos

desenvolvem-se lentamente. As amostras são examinadas após 1 a 2 dias de incubação por

Grupos Fontes da infecção

Neonatais Transplacentaria ; secreções cervicais

Bebes e crianças Secreções corporais ; amamentação ; saliva ; lagrimas ; urina

Adultos Sexualmente (sémen) ; transfusões de sangue

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imunofluorescência indirecta, pesquisando-se a presença de um ou mais dos antigénios virais.

Método utilizado sobretudo em imunodeprimidos.

SerologiaA soroconversão é geralmente um excelente marcador. Níveis de anticorpos IgM

específicos contra CMV podem ser muito altos em pacientes com SIDA. Test de diagnostico de

infecção primária.

Herpes Humano 6

Doenças associadasExistem duas variantes: HHV-6A e HHV-6B. Estes vírus são membros

do género Roseolovirus da subfamília Betaherpesvirinae.

A doença associada é o exantema súbito ou roséola (causado por HHV-6B), um dos cinco

exantemas clássicos da criança. A Roséola é característica em crianças com idade próxima dos

4 anos e caracteriza-se por febre alta que dura aproximadamente 3 dias e que volta ao normal

repentinamente. Dois dias após a febre surgem manchas vermelhas no tronco que

rapidamente se espalham por outas partes do corpo.

A doença é controlada e “curada” pela imunidade celular, mas o vírus estabelece uma

infecção latente nas células T.

Herpes Humano 8 e HIV

A sequência do genoma do HHV-8 demonstrou que o HHV-8 é um membro singular da

subfamília Gammaherpesvirinae.

A célula alvo é a B, mas o vírus também infecta um número limitado de células endoteliais,

monócitos e células nervosas epiteliais e sensitivas. Dentro dos tumores do sarcoma de Kaposi,

o vírus está nas células fusiformes endoteliais.

O HHV-8 codifica diversas proteínas que apresentam homologia com proteínas humanas,

que promovem o crescimento e impedem a apoptose das células infectadas e das que as

rodeiam. Incluem:

-Homólogo da interleucina-6 (crescimento e anti-apoptose)

-Análogo da Bcl-2 (anti-apoptose)

-Quimiocinas

-Receptores de Quimiocinas

Cerca de 10% das pessoas imunodeprimidas apresentam DNA do HHV-8 associado a

linfócitos do sangue periférico, principalmente células B.

O vírus é transmitido principalmente pela via sexual, mas pode ser disseminado por outros

meios.

Tabela resumo:

Page 35: 1.Definir vírus, descrever a sua estrutura e relacionar a

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Vírus Principais células

alvo Local de latência

Vias de infecção Doença associada

Herpes simples tipo 1

Células mucoepitelias

Neurónios Saliva Herpes oral Herpes oral recurrente

Ulceras genitais recorrentes Encefalites

Herpes simples tipo 2

Células mucoepitelias

Neurónios Saliva e contacto

sexual

Vírus da Varicela e da Zona

Células mucoepitelias e

células T Neurónios

Aerossóis (via respiratória) e

contacto pessoa a pessoa

Varicela e Zona

Epstein-Barr vírus

Celulas B e células epiteliais

Células B Saliva Mononucleose

Citomegalovírus Monocitos ,

linfócitos e células epiteliais

Monocitos e LInfocitos

Contacto pessoa a pessoa , transfusões

de sangue e via congénita

Doença CMV congénita

Herpes humano 6 O mesmo que o CMV e também glândulas

salivares. Células T Saliva Roséola

Herpes humano 8 e HIV

Como CMV Células T Saliva ________

7.5 - Vírus da Varíola (Poxvírus do género Orthopoxvirus)

Estrutura Vírus grandes (quase visíveis por microscopia visível).

Genoma viral -> dupla cadeia de DNA linear

Possui invólucro (funde-se com a membrana celular à superfície ou dentro

da célula)

Replicação todo o ciclo multiplicativo se dá no citoplasma das

células hospedeiras (mecanismo único). Virião contem um ativador de

transcrição específico e todas as enzimas necessárias à transcrição.

Transcrição primária inicia-se após remoção da outer membrane e

obtem-se uma proteína de desrevestimento (uncoatase) remove a core

membrane libertando o DNA viral que se vai replicar em inclusões

citoplasmáticas ricas em eletrões (corpos de inclusão de Guarnieri). Ao

contrário de outros vírus, as membranas virais formam-se perto dos

corpos de inclusão. Poxvírus é libertado por exocitose ou lise da célula.

Patogénese/Imunidade Replica-se no trato respiratório superior

de onde se dissemina para o sistema linfático e origina viremia

Page 36: 1.Definir vírus, descrever a sua estrutura e relacionar a

F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 36

EpidemiologiaÉ um patogeneo exclusivamente humano, transmitido por

inalaçãoAltamente contagioso

Doenças associadasVaríola

DiagnósticoDiagnosticado clinicamente mas é possível

crescimento do vírus em ovos embrionários ou culturas de células. PCR

ou sequenciação de DNA.

Poxvírus partilham antigénios sendo possível criar uma vacina a

partir de vírus que infetem animais.

7.6 - Parvovírus B19

EstruturaVírus pequeno

Genoma viral cadeia simples de DNA linear -> codifica 5 proteínas (3 estruturais e 2 não

estruturais). Não tem involucro e a cápside é icosaédrica

Replicaçãotem uma alta dependência do hospedeiro ou precisa de um segundo vírus para

o ajudar a replicar, devido ao seu pequeno “arsenal” genético.

Replica-se em células em divisão e prefere células da linhagem eritroide (precursores de

componentes sanguíneos) fatores apenas disponíveis na fase S da mitose permitem a

formação de uma cadeia de DNA complementar -> formação da cadeia dupla -> transcrição e

replicaçãoproteínas estruturais VP1 e VP2 sintetizadas no citoplasma deslocam-se para o

núcleo onde o virião é montado (cadeias + e - do DNA são incluídas em viriões

separados)vírus é libertado por lise celular.

Patogénese/ImunidadeEstudos sugerem que B19 se replica primeiro na nasofaringe e

trato respiratório superior e só depois se distribui por viremia para a medula

EpidemiologiaTransmissão por aerossóis e secreções orais. Pode atravessar a placenta -

> infeta o feto -> aborto.

Doenças associadasEritema infecioso (ou 5ª doença dos exantemas infantis) em

adolescentes, poliartrite aguda em adultos e crises aplásticas em doentes com anemia

hemolítica crónica. A doença tem um percurso bifásico: estado febril inicial -> estado infecioso

e estado sintomático (mediado pela imunidade)

Diagnósticoé feito com base na apresentação clínica, deteção de IgM ou DNA viral ou

por PCR.

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8. Orthomyxoviridae e influenzae

Virus da Gripe

Caracteristicas estruturais: Família ortomixoviridae → influenza tipo A, B (apenas estes

causam doença) têm invólucro e um RNA genómico segmentado de polaridade negativa

(com 8 segmentos virais) – este tipo de genoma facilita o desenvolvimento de novas estirpes

através da mutação e reorganização dos segmentos genéticos → Esta instabilidade genética é

responsável pelas epidemias anuais (mutações - drift) e pandemias periódicas (rearranjos -

shift).

Genoma replica – se no núcleo, mas organiza – se e sofre evaginação da membrana

plasmática.

Invólucro apresenta duas glicoproteinas: Hemaglutinina (HA) e Neuraminidase (NA) e é

revestido internamente por proteínas da matriz, M1 e da membrana M2.

O genoma do vírus influenza A e B consiste em 8 segmentos diferentes de nucleocapsídeos

helicoidais, cada um dos quais contém um RNA de polaridade negativa associado à

nucleoproteína (NP) e à transcriptase.

As proteínas M1, M2 e NP são específicas e usadas para diferenciar os tipos de influenza A,

B e C.

Funções da HemaglutininaProteína viral que se aglutina a um ácido siálico nos receptores

da superfície da célula epitelial.

- Estimula a fusão do invólucro com a membrana celular;

- Promove a hemaglutinação;

- Induz a resposta protectora do anticorpo neutralizante.

As mudanças originadas das mutações na HA são responsáveis pelas alterações menores

(drift) e maiores (Shift) na antigenicidade, os shifts ocorrem somente com o virús influenza A e

as diferentes HAs são chamadas de H1, H2, (…).

Função da NeuraminidaseCliva o ácido siálico das glicoproteínas, inclusive do receptor da

célula. A sua clivagem das proteínas evita a acumulação e facilita a libertação do virus a partir

das células infectadas. As alterações genéticas minor resultam de mutações dos genes das

glicoproteinas do invólucro - hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA) – e são denominadas

de drift antigénico.

Infecções locais por influenza A e B: As alterações genéticas major (shift antigénico)

resultam de rearranjos do genoma entre diferentes estirpes, incluindo estirpes animais →

Associadas a ocorrência de pandemias, só ocorrem no influenza tipo A.

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Epidemiologia e vacinação: O vírus influenza A é classificado segundo as

seguintes características: tipo (A, B e C), lugar de isolamento original, data de

isolamento original, antigénio (HA e NA). Em relação ao influenza B ao parâmetros

são os mesmos, mas não ocorre menção especifica aos antigénios HA ou NA, pois o

influenza B não sofre Shift antigénico nem causa pandemias como o tipo A.

O virus influenza A é capaz de infectar e replicar em humanos e muitos animais

(zoonose), incluindo aves e porcos. Por exemplo, um vírus H5N1 encontrado em

patos e um vírus humano H3N2 infectaram suínos → estes dois vírus foram

reagrupados no suíno, o que deu origem a um novo vírus capaz de infectar seres

humanos

Os surtos de influenza, acontecem anualmente em climas temperados. Felizmente, persiste

numa comunidade por apenas pequenos períodos de tempo (de 4 a 6 semanas) e a

transmissão ocorre através de aerossóis, respiração, tosse.

A população mais susceptível são as crianças e pessoas com doenças cardíacas ou

pulmonares, imunocomprometidos, grávidas e idosos apresentam um risco superior de

contraírem doenças mais sérias, como pneumonia ou outras complicações relacionadas com a

infecção.

A prevalência de uma determinada linhagem do vírus de influenza A ou B muda a cada ano,

por isso a vigilância também se estende às populações animais devido à possível presença de

linhagens de influenza A recombinantes que possam causar uma pandemia humana.

9 – Desenvolver os seguintes temas relativamente aos vírus das hepatites

Os vírus da hepatite incluem pelo

menos seis vírus de A até E e G. Têm

todos em comum o mesmo órgão-

alvo (fígado), diferindo entre eles na

sua estrutura, modo de replicação,

modo de transmissão e na evolução

e sequelas da doença que eles

causamVírus da hepatite A(HAV)

e vírus da hepatite B hepatites

clássicas. Causam sintomas de

icterícia e libertação de enzimas

hepáticas.

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9.1. Vírus da Hepatite A e da Hepatite E

Estrutura: tem um capsídeo icosaédrico sem membrana, que circunda

um genoma de RNA de cadeia simples positivo. O seu genoma tem uma

proteína VPg anexada à extremidade 5’ e poliadenosina anexada à

extremidade 3’. Existe apenas um sorotipo replicando-se nos hepatócitos

e células de Kuppfer, e libertando-se na bílis e daí para as fezes.

O vírus da Hepatite A (Picornavirus) causa hepatite infecciosa. As infecções resultam

frequentemente do consumo de água contaminada, moluscos e outros alimentos dissemina-

se por via fecal-oral.

O vírus da Hepatite E causa apenas uma doença aguda e dissemina-se predominantemente

através da via fecal-oral, especialmente em água contaminada. Distingue-se do Norovírus com

base no tamanho e estrutura. É altamente perigoso para grávidas.

Em crianças estes vírus podem causar infecções assintomáticas e em adultos causam

hepatites, sendo a sua prevenção feita através da vacinação.

9.2. Vírus da Hepatite B

O HBV é o membro principal dos hepadnavírus e infecta o fígado e, em menor extensão, os

rins e pâncreas apenas em humanos e chimpanzés.

Características estruturais: É um vírus de dupla cadeia de DNA circular e pequena, com

envelope. Codifica uma transcriptase reversa e replica-se através de um intermediário RNA.

Resiste a um pH baixo, éter, refrigeração e aquecimento moderado, o que permite uma

transmissão de pessoa a pessoa e impedem uma desinfecção. O virião do HBV inclui ainda uma

proteína quinase e uma polimerase com actividade de transcriptase reversa e ribonuclease H

uma proteína P que adere ao genoma.

Todo o material genético está rodeado por:

- Antigénio do cerne da Hepatite B (HBcAg) e ainda um invólucro

com uma glicoproteína antigénio de superfície da Hepatite B

(HBsAg).

- Proteína de Antigénio da Hepatite B (HBeAg) componente menor do virião. Esta é

secretada primeiro no soro, não se monta (como um antigénio de cápside) e expressa

diferentes determinantes antigénicos. Podem ser esféricas ou filamentosas (porém menores

que o virião). São imunogénicas e foram processadas na 1º vacina comercial contra HBV.

HBsAg inclui 3 glicoproteínas (L, M e S) codificadas pelo mesmo gene mas traduzidas em

proteínas com diferentes codões de iniciação. Glicoproteína SEstá completamente contida

na glicoproteína M, que está contida na glicoproteína L e é a principal componente do HBsAg.

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As glicoproteínas de HBsAg contêm determinantes grupo-específicos e tipo-específicos de

HBV as combinações destes antigénios resultam em 8 subtipos de HBV, que são marcadores

epidemiológicos úteis.

Epidemiologia: Os muitos portadores assintomáticos com o vírus na

corrente sanguínea e noutras secreções corporais garantem a disseminação

do vírus é transmitido por via sexual, parenteral, perinatal, sangue

contaminado e componentes sanguíneos por transfusão, ao partilhar

agulhas.

Os grupos de risco são principalmente bebés que nascem de mães com

vírus da hepatite B crónica, pessoas que abusam de drogas intravenosas,

pessoas com vários parceiros sexuais, hemofílicos, pessoas que contactam com sangue

(médicos e enfermeiros), pacientes de hemodiálise e receptores de sangue e órgãos.

Uma das maiores preocupações em relação ao HBV é a sua associação a CHC (cancro

hepatocelular). A prevenção é feita através da vacina de partícula semelhante ao vírus

(HBsAg).

Evolução para a cronicidade: HBV pode causar doença aguda

ou crónica, sintomática ou assintomática.

A detecção tanto dos componentes HBsAg quanto de HBeAg

no sangue indica a existência de uma infecção activa em

andamento.

As partículas HBsAg continuam a ser libertadas no sangue

mesmo depois da cessação da libertação do virião e até que a

infecção seja interrompida. O vírus começa a replicar-se no

fígado 3 dias após a sua aquisição, mas os sintomas podem não

ser observados por 45 dias ou mais dependendo da dose

infecciosa, da via da infecção e da pessoa. Replica-se nos

hepatócitos com efeito citopático mínimo.

A infecção progride por um tempo relativamente longo sem

causar dano no fígado (i.e., elevação dos níveis das enzimas

hepáticas) ou sintomas. Durante este tempo, cópias do genoma

do HBV integram-se na cromatina do hepatócito e permanecem latentes. O acúmulo

intracelular de formas filamentosas de HBsAg pode produzir a citopatologia “em vidro fosco”

do hepatócito característica da infecção por HBV. Uma resposta insuficiente das células T à

infecção geralmente resulta na ocorrência de sintomas leves, numa incapacidade de

interromper a infecção e no desenvolvimento de hepatite crónica.

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F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 41

Diagnóstico laboratorial métodos

serológicosdistinção pela presença de HBsAg e HBeAg

no soro e pelo padrão de anticorpos em resposta aos

antigénios HBV individuais entre infecção aguda e

crónica:

HbsAg e HBeAg são secretados no sangue durante a

replicação viral, sendo a detecção de HBeAg a que

melhor se correlaciona com a presença de vírus

infeccioso.

Uma infecção crónica pode ser distinguida por

detecção de HBeAg, HBsAg, ou ambos e uma falta de

anticorpos a esses antigénios.

Durante a fase sintomática, não se detectam

anticorpos para HBeAg e HBsAg porque o anticorpo está

complexado com o antigénio no soro.

Melhor forma de detecção de uma infecção aguda

recente, especialmente durante o período quando nem

HBsAg, nem antiHBs podem ser detectados é a medição de IgM anti-HBc.

Reactividade

serológica

Estado de doença Estado de saúde

Precoce (pré-

sintomático)

Agudo

Precoce Agudo Crónico

Agudo

Tardio Resolvido Vacinado

Anti-HBc - - -** + +/- + -

Anti-HBe - - - - +/- +/-* -

Anti-HBs - - - - - + +

HBeAg - + + + - - -

HBsAg + + + + + - -

Vírus infeccioso + + + + + - -

*Anti-HBe deve ser negativo após doença crónica **IgM anti-HBc deve estar presente

Interpretação de marcadores serológicos de infecção por vírus da Hepatite B

9.3. Vírus da Hepatite D

O vírus da hepatite D é um vírus defectivo, isto é, incompleto. Não

consegue por si só produzir o seu próprio antigénio de superfície. O vírus

da hepatite D ou delta é único pelo facto de necessitar da replicação activa

do vírus da Hepatite B (HBV) como um “vírus auxiliar” para se replicar e

produzir a sua proteína única, e ocorrer apenas em doentes que têm

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F I – V i r u l o g i a - U P 6 | 42

infecção activa por HBV porque o HBV fornece um involucro para o RNA e antigénios do

HDV. O genoma de RNA de cadeia simples circular do HDV é muito pequeno e diferente dos

outros vírus. O invólucro contém HBsAg → essencial para o empacotamento do vírus.

O antigénio delta existe como uma forma pequena (predominante) ou grande e liga-se e é

internalizado pelos hepatócitos do mesmo modo que o HBV (porque ele tem HBsAg).

Os processos de transcrição e replicação do genoma são pouco usuais:

1. A RNA polimerase II da célula hospedeira faz uma cópia de RNA para replicar o

genoma.

2. O genoma forma então uma estrutura de RNA (ribozima), que cliva o RNA circular para

produzir um mRNA para o antigénio delta pequeno.

3. O gene para o antigénio delta é mutado por uma enzima celular (adenosina

desaminase) durante a infecção, permitindo a produção do antigénio delta grande.

4. A produção desse antigénio limita a replicação do vírus, mas também promove a

associação do genoma com HBsAg para formar o virião e o vírus é então libertado da célula.

Patogénese: dissemina-se no sangue, sémen e secreções

vaginais. Apenas pode provocar doença em pessoas com

infecção activa por HBV.

Progressão mais rápida e severa ocorre em portadores

de HBV superinfectados com HDV mais do que em pessoas

co-infectadas com HBV e o agente delta, porque durante a

co-infecção o HBV deve estabelecer primeiro a sua infecção

antes que o HDV possa replicar-se, enquanto a superinfecção de uma pessoa infectada com

HBV permite que o agente delta o se replique imediatamente. Ao contrário do HBV, o dano no

fígado ocorre como resultado do efeito citopático directo do agente delta. Este vírus pode

ainda dar origem a (encefalopatia hepática), icterícia extensiva e necrose hepática maciça.

Diagnóstico laboratorial: a única forma de determinar a presença do agente delta é por

detecção de genoma de RNA, do antigénio delta ou anticorpos anti-HDV procedimentos de

ELISA e radioimunoensaios. Técnicas de RT-PCR podem ser usadas para detectar o genoma do

virião em amostras séricas.

9.4. Vírus da Hepatite C

Relação epidemiologia / características estruturais: possui invólucro e é transmitido

primariamente por sangue infectado e através de relações sexuais – Toxicodependentes e

receptores de órgãos e transfusões e hemolíticos têm maior risco de infecções. No entanto, as

infecções deste vírus são maioritariamente assintomáticas.

Todos os toxicodependentes HIV positivo adquirido por drogas IV são infectados por HCV.

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Apresenta duas glicoproteínas (E1 e E2) – sofrem variação durante a infecção.

Evolução para a cronicidade:

O HCV causa três tipos de doença

1. Hepatite aguda. Resolução e recuperação em 15% dos casos.

2. Infecção persistente crónica. Progressão da doença em 70% dos casos.

3. Progressão severa rápida para cirrose. 15% dos casos.

A sua forma aguda é similar à infecção aguda por HAV e HBV com resposta inflamatória

menos intensa e sintomas mais brandos. O sintoma predominante é a fadiga crónica. A doença

crónica persistente progride frequentemente para:

1. Hepatite crónica activa, em 10-15 anos.

2. Cirrose e insuficiência hepática, em 20 anos.

3. Carcinoma hepatocelular, em 30 anos.

Diagnóstico laboratorial:

- ELISA – Reconhecimento de anticorpo antiHCA O anticorpo nem sempre é detectado

(falsos negativos) – imunocomprometidos, doentes que recebem hemodiálise.

- PCR – Detecção genoma RNA reacção PCR da transcriptase reversa (RT-PCR), DNA de

cadeia ramificada e outras técnicas genéticas podem detectar o RNA de HCV em pessoas

seronegativas.

10. Enumerar os vírus responsáveis por diarreia:

Rotavirus:

Agentes comuns de diarreia infantil grave em todo o mundo. Estáveis à temperatura

ambiente, resistentes a detergentes, pH ácido e ausência de humidade. Transmite-se

principalmente por via fecal-oral (possível transmissão respiratória)e replica-se nas células

epiteliais que cobrem as vilosidades intestinais – provocando perda de electrólitos e

impedindo a reabsorção de água Diarreia Aquosa.

Norovírus:

São pequenos vírus capsideos que podem ser distinguidos por morfologia do capsídeo.

Estáveis à temperatura ambiente, resistentes a detergentes, pH ácido, e ausência de

humidade. A transmissão é por via fecal-oral, água e alimentos contaminadosCausam surtos

de gastroenterite

Adenovírus:

Disseminação por via fecal-oral, objectos contaminados e aerossóis. Tem capsídeo que

confere resistência à inactivação pelo TGI e ausência de humidade. Infecta as células

mucoepiteliais do tracto gastrointestinal responsáveis por gastroenterite e diarreia. Grupos

de risco: crianças com menos de 14 anos de idade e pessoas em locais superpovoados.