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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

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Anderson Gomes da Epifania

COLEÇÃO FORMANDO EDUCADORES

EDITORA NUPRE

2009

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

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REDE DE ENSINO FTC William Oliveira PRESIDENTE Reinaldo Borba VICE-PRESIDENTE DE INOVAÇÃO E EXPANSÃO Fernando Castro VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO João Jacomel COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Cristiane de Magalhães Porto EDITORA CHEFE Francisco França Souza Júnior / Lorena Porto Seroes CAPA Mariucha Silveira Ponte PROJETO GRÁFICO Anderson Gomes da Epifania AUTORIA Amanda Rodrigues DIAGRAMAÇÃO Amanda Rodrigues ILUSTRAÇÕES Corbis/Image100/Imagemsource/Stock.Xchng IMAGENS Hugo Mansur Márcio Melo Paula Rios REVISÃO

COPYRIGHT © REDE FTC Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da REDE FTC - Faculdade de Tecnologia e Ciências. www.ftc.br

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS POPULACIONAIS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS, TEORIAS DEMOGRÁFICAS E MOBILIDADE POPULACIONAL...................................................................... 9 1.1 TEMA 1. MIGRANDO POR CONCEITOS POPULACIONAIS ...........................................................11

1.1.1 CONTEÚDO 1. INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO .........................................11 1.1.2 CONTEÚDO 2. ANÁLISES POPULACIONAIS EM GEOGRAFIA .......................................... 15 1.1.3 CONTEÚDO 3. TEORIAS E POLÍTICAS DEMOGRÁFICAS................................................... 18 1.1.4 CONTEÚDO 4. RECENSEAMENTO: UMA PRÁTICA DE PODER.........................................23

MAPA CONCEITUAL...........................................................................................................................25 RESUMO ............................................................................................................................................26 ESTUDOS DE CASO ............................................................................................................................26 EXERCÍCIOS PROPOSTOS ...................................................................................................................27 CONSTRUINDO CONHECIMENTO...................................................................................................... 31 1.2 TEMA 2. DINÂMICA DA POPULAÇÃO ........................................................................................39

1.2.1 CONTEÚDO 1. CONCEITOS E ELEMENTOS DA DINÂMICA POPULACIONAL ....................39 1.2.2 CONTEÚDO 2. CRESCIMENTO NATURAL DA POPULAÇÃO............................................. 45 1.2.3 CONTEÚDO 3. ESTRUTURA DA POPULAÇÃO .................................................................. 51 1.2.4 CONTEÚDO 4. MIGRAÇÕES ............................................................................................57

MAPA CONCEITUAL........................................................................................................................... 61 RESUMO ............................................................................................................................................62 ESTUDOS DE CASO ............................................................................................................................62 EXERCÍCIOS PROPOSTOS ...................................................................................................................63 CONSTRUINDO CONHECIMENTO..................................................................................................... 69

2 POPULAÇÃO DO MUNDO E DO BRASIL: CULTURA, HISTÓRIA E FLUXOS MIGRATÓRIOS NO ESPAÇO ..................................................................................................................................73 2.1 TEMA 3. APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO E MOBILIDADES NO BRASIL E NO MUNDO ....................75

2.1.1 CONTEÚDO 1. FATORES DA DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO..........................................75 2.1.2 CONTEÚDO 2. MOBILIDADES ESPACIAIS NO MUNDO....................................................77 2.1.3 CONTEÚDO 3. REFUGIADOS AMBIENTAIS, ÉTNICOS, CIVIS E OS DESPLAZADOS ........... 81 2.1.4 CONTEÚDO 4. BRASIL, MOBILIDADES E FORMAÇÃO TERRITORIAL ...............................83

MAPA CONCEITUAL........................................................................................................................... 91 RESUMO ............................................................................................................................................92 ESTUDOS DE CASO ............................................................................................................................92 EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................................................. 94 CONSTRUINDO CONHECIMENTO......................................................................................................97 2.2 TEMA 4. GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO E EDUCAÇÃO.............................................................. 101

2.2.1 CONTEÚDO 1. MOVIMENTOS SOCIAIS E GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO........................ 101 2.2.2 CONTEÚDO 2. GÊNERO E GEOGRAFIA.......................................................................... 103 2.2.3 CONTEÚDO 3. GEOGRAFIA E GRUPOS TRADICIONAIS..................................................104 2.2.4 CONTEÚDO 4. ESTUDOS POPULACIONAIS E A PRÁTICA EM SALA DE AULA NO ENSINO

MÉDIO E FUNDAMENTAL .............................................................................................108 MAPA CONCEITUAL..........................................................................................................................113 RESUMO ...........................................................................................................................................114

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ESTUDOS DE CASO ...........................................................................................................................114 EXERCÍCIOS PROPOSTOS ..................................................................................................................115 CONSTRUINDO CONHECIMENTO.....................................................................................................119

GLOSSÁRIO ...............................................................................................................................127

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................131

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APRESENTAÇÃO

Saudações geográficas, caríssimos colegas, estudantes de Geografia e áreas afins. É com

imenso prazer que apresentamos Geografia da População, buscando através do diálogo cons-

truir conjuntamente o conhecimento acerca desta temática.

Para tanto, distribuímos o conhecimento didaticamente, aliando sempre a teoria à práti-

ca do conhecimento, contextualizado conceitualmente, espacialmente e temporalmente, a-

brindo sempre espaço para a dialogicidade.

Mais que a formação técnica, optamos pela formação de sujeitos críticos reflexivos e a-

tuantes na sociedade em que vivemos, não limitando a escola a nossa escala de atuação, pois

reconhecemos que a cidadania em exercício não se limita a um único ambiente, encarcerado

entre quatro paredes, mas ao entendimento do ambiente em sua totalidade.

Ser educador, e em especial um licenciado em Geografia, perpassa por essa formação di-

recionada à análise do espaço geográfico imbricada com a atuação destes profissionais em

diversas searas do fenômeno humano-espacial, no qual a relação entre natureza e sociedade é

de extrema importância e da qual podemos estabelecer, através do conhecimento e prática,

responsabilidade e respeito à sociedade e ao ambiente como um todo, respeitando sempre as

suas especificidades.

A Geografia da população, sendo um dos ramos desta ciência, contribui através de seus

contatos com diversas outras ciências, não somente para quantificar numericamente os ho-

mens, mas também para compreender as diferentes culturas, grupos, estâncias e suas formas

de apropriação do espaço.

Convidamos a todos a fazer esse conhecimento se movimentar por nossas mentes, atos e

ações, estabelecendo contatos com os nossos conhecimentos já formados e enriquecendo as-

sim as funções e aplicabilidade do material disponibilizado.

Um forte abraço,

Anderson Gomes da Epifania

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1 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS

POPULACIONAIS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS, TEORIAS

DEMOGRÁFICAS E MOBILIDADE POPULACIONAL

BLOCO TEMÁTICO

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS POPULACIONAIS:

CONCEITOS FUNDAMENTAIS, TEORIAS DEMOGRÁFICAS E MOBILIDADE

POPULACIONAL

1.1 TEMA 1. MIGRANDO POR CONCEITOS POPULACIONAIS

1.1.1 CONTEÚDO 1. INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

A Geografia da População, enquanto um dos ramos que compõem a ciência geográfica,

tem como princípio as análises sobre o fenômeno humano/social nas variadas escalas geográ-

ficas, ultrapassando atualmente as discussões estáticas sobre densidade e totalidade da popula-

ção e sua espacialização sobre o globo.

No presente, entende-se que a população é “base e o sujeito de toda atividade hu-

mana” (DAMIANE, 1991 p.8). Concebendo a análise desta forma, não há uma dissociação

da sociedade dos fenômenos que contextualizam a abordagem, sejam eles culturais, eco-

nômicos, políticos, ambientais, urbanos, rurais... Assim, a população, mais que um con-

junto de homens, é composta pela relação dialética entre a individualidade e a coletividade

que é própria da sociedade e dos indivíduos que a compõem, refletindo os diferentes fe-

nômenos populacionais, sejam eles “naturais” ou induzidos.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

FIGURA 01

Apesar da utilização de dados estatísticos, ferramentas gráficas e cartográficas na espaci-

alização dos fenômenos populacionais, a exemplo da densidade populacional de uma deter-

minada área, a Geografia que parte de uma abordagem sobre a população deve utilizar tanto

dados qualitativos como quantitativos, sendo de igual importância, quando necessário, a utili-

zação de outras ferramentas como entrevistas, questionários, matriz de observação, contato

direto com alguns grupos sociais (entre estes os trabalhos etnográficos), bem como os dados

disponibilizados pelos diversos órgãos de pesquisas, a exemplo dos recenseamentos promovi-

dos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

FIGURA 02 - RECENSEAMENTO

A abordagem populacional em Geografia faz contatos com diversas ciências, como a so-

ciologia, a história, a antropologia, a estatística e a biologia, dentre outras, tendo como impor-

tante ferramenta a apropriação dos dados disponibilizados pela demografia. Sobre as diferen-

ciações da abordagem geográfica de outros estudos populacionais, Beajeu-Garnier aponta:

Se o demógrafo mede e analisa os fatos demográficos, se o historiador traça a

sua evolução, se o sociólogo procura as suas causas e sua repercussão através

de observação da sociedade humana, é função do geógrafo descrever os fatos

de seu ambiente natural, estudando suas causas, suas características originais

e suas possíveis consequências. Ao fazê-lo, o geógrafo recorre a várias disci-

plinas da sociologia, se bem que reagrupe à luz de seu objetivo declarado, isto

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

é, ligar todos os fenômenos a determinada situação, conforme é revelada pela

superfície da Terra, perspectiva fascinante, mas operação delicada e comple-

xa (BEAJEU-GARNIER, 1971, p. 19).

A autora discute a necessidade de utilização da estatística mesmo nas abordagens mais

simples e descritivas, sendo os números insubstituíveis como elementos classificatórios e pre-

cisos nas comparações geográficas. Concorda-se com o fato da importância da utilização da

estatística, mas os homens, enquanto indivíduos e mesmo o coletivo destes, enquanto grupos

ou população, se diferenciam e necessitam na atualidade ser contextualizados, buscando a

qualificação das relações existentes no fenômeno humano/social, o que somente um número

ou a contagem destes, isolando a quantificação da qualificação, não irá demonstrar.

O debate sobre a Geografia da população avança quando ultrapassamos a mera aborda-

gem do homem estatístico (MOREIRA, 2006), de mais um número a ser medido e tabulado,

compondo assim a amostragem do quantitativo da população; sendo este o homem atópico

(MOREIRA, 1987) dissociado da natureza e da sociedade, descontextualizado de suas relações

em seus diversos aspectos, escalas e fenômenos.

Por conta da forte aproximação com a demografia, diversas confusões ocorrem, quando

se trata da diferenciação entre esta ciência e a Geografia da População. Desmitificando essa

ideia, compreende-se por demografia, como apontado em sua etimologia proveniente do gre-

go (demos – população/graphein – estudo), o estudo da população de uma forma geral, desta-

cando a evolução temporal e de densidade das populações humanas, sua espacialização, com-

posição e características. Assim, a demografia “trata dos aspectos estáticos de uma população

num determinado momento - tamanho e composição -, assim como também da sua evolução

no tempo e da inter-relação dinâmica entre as variáveis demográficas” (CARVALHO, 1998).

Diferem-se assim os estudos demográficos das análises realizadas na Geografia da Popu-

lação, no que tange a um maior aprofundamento na espacialização dos fenômenos demográfi-

cos relacionados ao processo histórico da produção do espaço, dos conflitos e solidariedades

entre os grupos sociais, compondo tanto a totalidade dos fenômenos quanto os casos específi-

cos de análise.

Nesta perspectiva, os fenômenos na atualidade devem ser analisados sobre a ótica multi-

escalar, como apontado por muitos geógrafos, a exemplo de Santos (2008), Haesbaerth (2004),

Benko (1990), onde as múltiplas escalas geográficas se relacionam, não cabendo somente aná-

lises globais ou locais, mas uma relação em que cada escala compõe a totalidade do fenômeno

em realização. No período atual, representado pelo meio técnico científico informacional,

essas relações entre as escalas tendem a se fortalecer, seja pela diminuição do tempo percorri-

do entre os espaços com o avanço dos transportes, seja pela realização do meio informacional

através do cyber espaço, que permite maior aproximação entre os diversos grupos sociais em

uma escala global, sendo ainda atualmente mais pela divulgação dos fatos ocorridos nos diver-

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sos espaços mundiais do que acessibilidade, mas mesmo assim uma tendência de crescimento

desta última.

O homem, na abordagem populacional atual, passa a fazer parte desta totalidade, que

compreende a relação entre natureza e sociedade, a qual, homem/indivíduos e a socieda-

de/coletivo/população fazem parte, questão esta existente na dialética totalida-

de/especificidade, onde o todo é muito mais que a soma das partes (LUCACKS, 1974), na re-

lação de interesses e decisões individuais e/ou coletivas do homem e das sociedades e

principalmente na atualidade decisões econômicas diferenciam os espaços.

Somente assim o homem será visto além dos números, do mero consumidor ou recurso

(força de trabalho) para agente social, os homens (população) como a base dos movimentos

de produção/apropriação/reprodução dos espaços promovidos pela sociedade em seu movi-

mento.

A dinâmica demográfica é assim influenciada por ações da sociedade em todos os seus

planos, muitas vezes imbricados, onde se destacam as ações estatais e do mercado e, em outro

plano, dos diferentes grupos sociais e suas culturas que resultam em diferentes apropriações

do espaço, movimentos populacionais, visões de mundo e também os diferentes modos de

vida.

Em Geografia, a abordagem populacional se coloca entre os diversos elementos contidos

nos mais variados estudos geográficos. Estes aparecem desde a abordagem tradicional até a

atualidade, se relacionando com os outros ramos da geografia, sendo um dos importantes e-

lementos analisados nos estudos de caso desta ciência.

Que o termo população é designado para outros conjuntos de seres vivos, classifi-

cando animais e vegetais. Na Geografia, os ramos específicos de estudos destes dois gru-

pos são a Zoogeografia e a Fitogeografia, compondo parte da Biogeografia.

Compete à Geografia da População o estudo do conjunto de homens nas mais diversas

escalas de abordagem, bem como os fenômenos relacionados a estes grupos populacionais.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

1.1.2 CONTEÚDO 2. ANÁLISES POPULACIONAIS EM GEOGRAFIA

FIGURA 03

A análise da ação do homem sobre o espaço geográfico tem como marco a escola alemã

com o Friedrich Ratzel, especificamente em sua obra Antropogeografia (MORAES, 1990), na

qual o autor desenvolve seu conceito sobre o espaço vital.

Nesta perspectiva, se discute o papel da cultura dos grupos humanos na apropriação dos

espaços, colocando dois polos de discussão, o primeiro relacionado a culturas hegemônicas

(avançadas) e não hegemônicas (menos avançadas), sendo que as primeiras teriam maior ca-

pacidade de apropriação dos territórios (base física) e os recursos disponíveis (CORRÊA,

1987). Não foi à toa que as teorias ratzelianas foram utilizadas durante o conflito franco-

prussiano e posteriormente pelos nazistas, deturpando o conceito do espaço vital para refe-

rendar a expansão germânica e, sobretudo, a dita “raça ariana” sobre outros grupos popula-

cionais, entre estes os judeus e outras minoria étnicas.

Contrapondo-se à escola alemã, a escola francesa (com Vidal de La Blache e seus estudos

regionais) enfocava outras questões. O conceito trabalhado neste período é o de gênero e mo-

do de vida, partindo da mesma perspectiva culturalista, herança da escola alemã, diferencian-

do-se no que tange à análise da ação humana na paisagem, relativizando a influência da natu-

reza (possibilidades).

A teoria de Vidal concebia o homem como hóspede antigo de vários pontos

da superfície terrestre, que em cada lugar se adaptou ao meio que o envolvia,

criando, no relacionamento constante e cumulativo com a natureza, um a-

cervo de técnicas, hábitos, usos e costumes, que lhe permitirem utilizar os re-

cursos naturais disponíveis (MORAES, 1981, p. 68-69).

Essa diversidade cultural constituída nas sociedades através de técnicas, costumes, usos

e apropriações do espaço, que se diversificam de acordo com os grupos populacionais em que

estão inseridas, caracterizaria os modos e gêneros de vida. Estes, se isolados de outros grupos,

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

se reproduziriam da mesma forma, tendendo a se diferenciar em contato com outros gêneros

de vida ou com o crescimento populacional, que demandaria a produção de novas técnicas ou

o desmembramento do grupo.

FIGURA 04 – DIVERSIDADE CULTURAL

Max Sorre, influenciado pelos estudos vidalinos, publica em 1940 os seus trabalhos, bus-

cando entender as formas de organização dos homens em seu meio, desenvolvendo o conceito

de habitat como construção dos homens, sobrepondo os dados físico, social e econômico e

suas inter-relações.

Segundo Moraes (1981), Sorre em sua obra “Os fundamentos da Geografia Humana”

aborda as relações do clima com o meio, a alimentação e as doenças; os agrupamentos popula-

cionais, a apropriação dos espaços e áreas densamente povoadas; as diversas atividades eco-

nômicas e as condições do ambiente; o habitat relacionado ao gênero de vida, análise dos gê-

neros rurais, urbanos e de grupos tradicionais.

Sobre essa mesma perspectiva, Sauer se aproxima dos estudos antropológicos com suas

análises sobre os modos de vida de grupos indígenas e comunidades rurais nos Estados Uni-

dos da América.

Neste período, como aborda Moreira (2006), predominavam os estudos N-H-E, nos

quais natureza, homem e economia eram apresentadas de formas dissociadas, a partir de uma

leitura enciclopedista, de base positivista.

Assim, na Geografia tradicional, a natureza e os homens eram tratados como recursos,

sendo o segundo também um consumidor e a visão sobre a economia uniria os dois primeiros

elementos. A população, como bem demonstra o autor, seria algo a ser medido e o homem

um simples número, sendo este indivíduo o homem estatístico, e o conjunto deste a popula-

ção (recurso/consumidor), estrategicamente contados, como será demonstrado posteriormen-

te na discussão sobre o recenseamento.

Essa realidade começa a se diferenciar no pós-guerra. Autores com influências marxistas

retomam e reformulam as discussões sobre as populações. No Brasil destaca-se Josué de Cas-

tro com seus livros “Geografia da fome” (1992), “Geopolítica da fome” (1968), “O livro negro

da fome” (1957) e “Fome, um tema proibido” (2003), dentre outros.

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Castro aponta que temas sobre a população, a exemplo da fome, deixam de ser tabus,

porque agora são questões recorrentes nos países desenvolvidos. Devido às duas grandes guer-

ras, problemas ditos tipicamente de países subdesenvolvidos assolavam o mundo desenvolvi-

do, como a desnutrição e a precariedade na infraestrutura por causa dos conflitos. Tema que

infelizmente é estudado até hoje, como demonstra a imagem a seguir:

FIGURA 05 – FONTE: HTTP://STAT.CORREIOWEB.COM.BR/CW/EDICAO_20091015/FOTOS/A30.JPG

Atrelado a essas estatísticas do mundo desenvolvido, uma geografia sobre o subdesen-

volvimento é retratada por dados da Organização das Nações Unidas e por geógrafos que pas-

sam a frequentar esses países, fortalecendo os estudos de população que embasavam empiri-

camente a teoria do subdesenvolvimento.

Entre estes grupos temos duas vertentes de análise: a primeira, de base marxista, que

buscava denunciar as mazelas sociais promovidas pelo desenvolvimentismo, e uma segunda,

para qual a grande solução das mazelas do mundo corresponderia à simples industrialização e

planificação por parte do Estado na busca pelo Welfare-State (Estado do bem-estar social),

planos estes na moda durante o período da Guerra Fria, tendo como expoentes desta política

o keynesianismo, a social-democracia e o eurocomunismo.

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Vertentes estas apontadas por Lacoste (1997) em duas geografias: a escolar e a dos mili-

tares, sendo a primeira um conjunto de saberes enciclopédicos que cabe aos estudantes repro-

duzirem, entre eles, os estudos de Geografia da População como um ramo contábil. E a dos

militares enquanto ciência estratégica, ou seja, o uso desta população em todos os sentidos, a

qualificação desses números, conhecimento utilizados pelo Estado. A coexistência dessas duas

geografias era apontada pelo autor, destacando a necessidade da apropriação desse saber não

ideologizado e estratégico no ensino da Geografia, fazendo parte assim do grupo de autores

que modificaram a forma de se estudar e ensinar a Geografia.

FIGURA 06 – FONTE: HTTP://STRANGEMAPS.FILES. WORDPRESS.COM/2008/05/AMNESTYINTERNETIONALAGAINST.JPG

Que o Dia Mundial da População é comemorado em 11 de julho. Essa data foi mar-

cada pela Organização das Nações Unidas em 1987, período em que a população mundial

alcançou o número de cinco bilhões de pessoas. A cada ano são criados temas para a sensi-

bilização da população. Em 2008, por exemplo, o tema foi “Planejamento familiar é um di-

reito, vamos fazer disso uma realidade”, discutindo desta forma os benefícios do planeja-

mento para redução da pobreza, igualdade de gêneros e na saúde da população de sexo

feminino. Já em 2009 as preocupações com ambiente e com as disparidades sociais estive-

ram em voga com a temática “População, desenvolvimento e ambiente”.

1.1.3 CONTEÚDO 3. TEORIAS E POLÍTICAS DEMOGRÁFICAS

A criação de modelos e teorias sobre a população é recorrente desde a antiguidade clás-

sica. Filósofos como Sócrates e Platão buscavam pensar em um número ótimo para a produ-

ção da polis grega, pensando assim na qualidade de vida das cidades-estados e a capacidade

que cada uma iria suportar, sem comprometer a população como um todo. Em diversos mo-

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

mentos essas ideias foram postas em prática, a ponto de se pensar muitas vezes sobre o tama-

nho do contingente populacional proporcional à área a ser ocupada. Nasceu daí o pensamento

sobre as médias relacionadas à população mínima, ótima e máxima.

No primeiro caso estavam em voga as condições de atendimento das necessidades mí-

nimas para a sobrevivência do contingente populacional no espaço ocupado. O ótimo popula-

cional seria o ideal, com o atendimento das necessidades de uma forma geral. No outro ex-

tremo, o máximo poderia ajudar a população durante conflitos com outros povos.

Na atualidade, a discussão sobre as teorias demográficas gira em torno de três estudos, o

que não esgota a diversidade de teorias, como apontado por Castro (1968). São elas a teoria

Malthusiana, a Neomalthusiana e a Reformista.

FIGURA 07 – THOMAS MALTHUS. FONTE: HTTP://WWW.NNDB.COM/PEOPLE/250/000024178/

Matriz das discussões sobre as teorias Neomalthusiana e Reformista (no caso da segun-

da utilizada para a contestação), a teoria Malthusiana criada pelo economista e pastor anglica-

no Tomas Malthus (1798) preocupava-se com as questões naturais vinculadas ao crescimento

populacional em um ritmo geométrico, não acompanhado do crescimento da produção e o-

ferta dos gêneros alimentícios, que cresceria em um ritmo aritmético. Isso se a população não

fosse acometida por obstáculos como os conflitos armados, os desastres naturais, as doenças e

outras calamidades que barrariam esse crescimento.

Mais que uma precisão matemática, Malthus queria demonstrar através das diferenças

entre a progressão geométrica e aritmética que havia uma tendência exponencial ao cresci-

mento da população em detrimento do crescimento da produção de alimentos, como de-

monstrado na imagem abaixo:

FIGURA 08 – TEORIA DE MALTHUS

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Assim, os mais pobres sofreriam com a fome e a miséria, ocasionando a produção de

uma superpopulação vindoura ou presente, carecendo esta aumentar o horizonte de produ-

ção, o que de certa forma não iria conter esse crescimento. Daí o autor julgar importante a

“sujeição moral” para conter o crescimento da população, ou seja, só procriariam aqueles que

pudessem manter os filhos, propondo a abstinência sexual como base da política natalista.

O período em que o autor escrevia o seu Primer Ensayo sobre la Población comprova es-

sa dissociação entre o espaço e o tempo. Seus escritos surgem justamente no período da efer-

vescência da I Revolução Industrial na Inglaterra, entre o final do século XVIII e XIX.

Com o crescimento da atividade capitalista no campo, através da capitalização das terras

e a expulsão dos camponeses para as cidades em formação, ao mesmo tempo em que crescia a

atividade fabril, empregando crianças, jovens e idosos, cidades eram acometidas de gente a-

barrotadas em cortiços. Com o crescimento do desemprego, por conta da mecanização do

trabalho fabril, aumenta a pobreza.

FIGURA 09 – RUA DE BAIRRO POBRE DE LONDRES. FONTE: HTTP://URBANIDADES.ARQ.BR/BANCODEIMAGENS/DISPLAYIMAGE.PHP?POS=-6

Esta imagem poderia relacionar-se a uma Armageddon para o autor. Com certeza deve

ter influenciado sua leitura sobre a questão da população, mas ao mesmo tempo o autor não

pensou além da relação população/recursos, o que o próprio período histórico veio a provar,

com maiores investimentos em infraestrutura nas cidades, a criação de leis trabalhistas regu-

lamentando a jornada de trabalho, o limite de idade para sua acessibilidade e as melhorias

salariais, entre outras ações.

Um dos grandes problemas da teoria apresentada é de separar o crescimento demográfi-

co das realidades sociais das escolhas feitas principalmente pelos estados e grandes grupos

capitalistas. O autor desconsiderou que as técnicas agrícolas, de transporte e armazenamento

de alimentos pudessem aumentar a produção de gêneros alimentícios. O mesmo pode ser dito

sobre as melhorias advindas na sociedade como um todo, a exemplo do saneamento básico

nas cidades, os avanços nas técnicas médicas e as melhoras trabalhistas, dentre outras, fazendo

com que a natalidade viesse a baixar. Posteriormente o mesmo ocorreria com a taxa de morta-

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

lidade. Assim, mais que a relação população/recursos, a teoria deveria dar conta da distribui-

ção das terras e de alimentos e os tipo de agricultura desenvolvida.

As previsões de Malthus no início da Revolução Industrial na Inglaterra e posteriormen-

te em outros países pareciam se comprovar, mas com o tempo outra questão veio à tona: com

a consequente diminuição das taxas de natalidade junto à alarmante questão da superpopula-

ção nos países desenvolvidos e industrializados aparecia o perigo da subpopulação.

Que os termos superpopulação e subpopulação estão relacionados ao excesso e à

escassez de população respectivamente, relacionando-se a um determinado espaço e

tempo. No caso da superpopulação estaria diretamente ligada aos meios de subsistência

disponíveis neste espaço.

Durante o pós-guerra a teoria Malthusiana ressurge com força através do Neomalthusi-

anismo, considerando também o crescimento populacional como fator predominante no de-

senvolvimento social fruto das discussões entre desenvolvimento/subdesenvolvimento.

Nesta teoria, desenvolvimento se confunde com uma de suas variáveis, que seria o cres-

cimento econômico. Especulava-se que as nações ditas subdesenvolvidas não poderiam vir a

se desenvolver devido à pobreza e miséria que assolavam esses países, decorrente do cresci-

mento populacional elevado e da crescente demanda de investimentos onerosos que privilegi-

ariam a estrutura etária de jovens e crianças, para a educação, saúde etc., desviando verbas que

se destinariam ao aumento de infraestrutura, equipamentos fabris e conseqüentemente atrai-

riam investimentos que promoveriam o desenvolvimento do país.

Assim os pobres seriam os culpados pelo estágio de desenvolvimento de seus países e

por isso deveriam ser contidos com o uso do planejamento familiar e controle da natalidade,

agora não somente de uma forma natural, com a sujeição moral, mas através também de prá-

ticas restritivas, a exemplo do aborto ou esterilização em massa na Colômbia e Índia durante o

governo da presidenta Indira Gandhi. Sobre a culpa dos pobres e famintos, demonstra Castro

1968, p. 62):

A teoria neomalthusiana é, em última análise, uma teoria do faminto-nato. O

faminto passa fome porque é faminto-nato, como o criminoso da antiga teo-

ria lombrosiana mata e rouba por ser criminoso-nato. Como os criminosos-

natos, merecem os famintos um castigo exemplar e, por isto, os neomalthu-

sianos os condenam ao extermínio, individualmente, e coletivamente, con-

trolando-lhes os nascimentos, até que desapareça do mundo a raça dos fa-

mintos-natos, desses criminosos-natos, culpados do crime masoquista de

criar fome e sofrer suas consequências [...].

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Tanto o malthusianismo como o novo entendimento desta teoria, o neomalthusianimo,

encobrem o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo (SMITH, 1988) e o seu

papel na produção do espaço, se apropriando, desapropriando e diferenciando espaços. Lon-

ge da discussão sobre desenvolvimento, a qual é indissociável o fenômeno social, o que trans-

parece nessas leituras é a ideologia do desenvolvimento, que se diferenciam para Souza como:

[...] fenômeno social e entendido como um processo de mudança para me-

lhor, pode ter seu conteúdo definido mediante metas como “melhoria da

qualidade de vida”, “redução de iniquidades”, “promoção do bem comum”

ou outras, mas não simplesmente por meio de objetivos instrumentais como

“crescer a uma taxa de 8% ao ano” ou “diversificar o parque industrial” (...)

ideologia do desenvolvimento, ainda hoje hegemônica, privilegia-se, na con-

ceituação de desenvolvimento, exatamente sua dimensão econômica, levan-

do a que se entronize um conceito que se define antes pelos meios, mediante

os quais se pode aprimorar o modelo social capitalista, do que pelos fins que,

de um ponto de vista geral, deveriam nortear e dar concretude à expressão

mudança para melhor. A referida ideologia, saliente-se, encobre interesses

vinculados ao verdadeiro fim, que é a perpetuação desse modelo e, nesse

contexto, dos benefícios de determinados grupos ou classes (SOUZA, 2005,

p.18- 19).

A leitura economicista sobre o desenvolvimento e a culpa lançada sobre a população

pobre e miserável não dialogam com a produção concomitante de pobreza e miséria, da fome

e produção de excedente de alimentos, ou com as questões históricas sobre o colonialismo e a

espoliação dos povos nativos e introduzidos (através da migração forçada) nestes países para a

obtenção de lucros pelas antigas metrópoles sobre as colônias e que atualmente se configuram,

salvo algumas exceções, na realidade entre países pobres e países ricos (desenvolvidos e subde-

senvolvidos), sendo assim teorias acríticas, sem história e destituídas de realidade.

Como resposta à teoria Neomalthusiana surge a teoria Reformista, para a qual as eleva-

das taxas de natalidade, e consequentemente a população jovem numerosa, não são a causa do

subdesenvolvimento, mas resultado da falta de assistência a essas populações. Cabendo, assim,

investimentos necessários em relação à sociedade.

A teoria Reformista tem por base principalmente a teoria marxista no que tange à con-

testação ao modo de produção capitalista, analisando a totalidade do fenômeno capitalista

sobre o espaço geográfico como um todo e seus impactos nos espaços desenvolvidos e subde-

senvolvidos, trazendo assim novas questões de cunho mais humanista e menos tecnicista para

o debate.

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23

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Assim, para a teoria reformista não cabe apenas o investimento de capitais em infraes-

trutura atrelada à macroeconomia, mas em capital humano, demandando, desta forma, inves-

timento em capitais produtivos, através das melhorias nas condições de saúde e educação.

O grande debate estabelecido entre as ciências nesse período foi justamente o da leitura

tecnicista, contrapondo-se à leitura humanista, o que no caso da Geografia da População a-

conteceu nos debates constantes entre os pesquisadores sobre a teoria Neomalthusiana e a

teoria Reformista.

1.1.4 CONTEÚDO 4. RECENSEAMENTO: UMA PRÁTICA DE PODER

A prática do recenseamento é utilizada há bastante tempo por parte dos estados-nações.

Em passagens bíblicas este ato é observado, em números no Antigo Testamento aparecem

sempre relacionados à quantidade população e riquezas, o mesmo pode ser observado no nas-

cimento de Jesus Cristo, quando este teve que ser registrado em um templo na cidade natal de

seus pais.

FIGURA 10 – FONTE: HTTP://WWW.NOTICIAKI.COM/CENSO-DEMOGRAFICO-2010.HTML

A população é concebida como um recurso, um trunfo, portanto, mas tam-

bém como um elemento atuante. A população é mesmo um fundamento e a

fonte de todos os atores sociais, de todas as organizações. Sem dúvida é um

recurso, mas também um entrave no jogo relacional. (...) O recenseamento é

um saber, portanto um poder (...) (RAFFESTIN, 1993, p. 67-68).

Raffestin (1993) aponta que o recenseamento moderno surgiu no século XVIII na Euro-

pa (Suécia, 1749-1750), justamente no período em que se fortalecia a formação de novos Esta-

dos, com o objetivo de reconhecer os recursos humanos para a organização do espaço e se

houvesse a necessidade de alistamento para guerras.

Mais que um mero saber, o ato de recensear se torna estratégico quando as variáveis

tomadas são utilizadas para gerir o espaço, sendo utilizadas na produção e aplicação do plane-

jamento sócio-espacial. Desta forma, a população passa a ser um recurso a ser utilizado nas

Page 24: 2 - Geografia da População.pdf

24

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

guerras e no povoamento de áreas conquistadas, como a construção de áreas de assentamen-

tos judeus em território palestino, para o pagamento de tributos, ou saber sobre o grupo de

consumidores e mão de obra para determinados serviços.

Além do Estado, outros agentes têm interesses nas informações do censo como as igre-

jas, ONGs, pesquisadores, Instituições Públicas e Privadas. Os dados do censo e de pesquisas

com a população, com a utilização de estimativas, permitem saber sobre a necessidade de im-

plantação de uma empresa, de um maior número de igrejas ou da atuação de ONGs, espaciali-

zando essas demandas sobre locais considerados estratégicos. Assim, mais que um único nú-

mero total da contagem e das informações recebidas, esses dados podem ser utilizados

estrategicamente nos locais desejados.

O grande problema é quando estes dados são obtidos e pensados para práticas ilícitas e

muitas vezes desumanas, a exemplo da Alemanha nazista, quando milhares de judeus, ciga-

nos, eslavos e pessoas especiais com problemas psicomotores e mentais foram mandados para

campos de concentração para exercer trabalhos forçados ou então dizimados.

Os dados contidos no recenseamento podem ainda ser utilizados pelo Estado como

forma de planejamento futuro, desde que contenham informações sobre demandas sociais das

populações pesquisadas, e que as perguntas e respostas sejam apresentadas de forma clara por

parte do recenseador e da população pesquisada, demandando uma objetividade nas questões

a serem apresentadas e mesmo assim carrega a ideologia de ambos agentes e/ou a vontade de

responder corretamente às questões apresentadas, como abordado por George (1975) e Raf-

festin (1993).

Que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é responsável pelo recen-

seamento e pela organização dos dados colhidos em território brasileiro, viabilizando desta

forma pesquisas em âmbito federal, estadual e municipal, além da análise de microdados.

Foi criado em 1934 com a denominação de Instituto Nacional de Estatística, sendo muda-

do para o nome atual em 1938. Cabe ao IBGE fazer análises demográficas e econômicas,

em atividades ligadas a geociências e estatísticas sociais. No Brasil o recenseamento demo-

gráfico ocorre de dez em dez anos. Além deste censo, são recorrentes outros tipos, desta-

cando-se os que consideram atividades econômicas e renda da população.

Na internet o IBGE presta serviço à população com dados apresentados para os jovens,

dados sobre o censo, o IBGE, as cidades e o mundo APRESENTADOS NO SITE:

www.ibge.gov.br

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25

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

MAPA CONCEITUAL

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

RESUMO

Neste capítulo pudemos observar as diferentes formas de estudo da Geografia da Popu-

lação, atentando para as abordagens contextualizadas no espaço e tempo. No capítulo intro-

dutório conceituou-se este ramo da Geografia e seu objeto de estudo, bem como as ciências

que fazem contato com os estudos populacionais, dando destaque à demografia, em razão da

aproximação entre as abordagens geográficas e demográficas sobre as populações.

Para a contextualização das obras sobre a população em Geografia foram apresentadas

as principais formas de se pensar este estudos, desde as análises tradicionais até as atuais, des-

tacando alguns autores, metodologias, conceitos e objetos de estudos, atentando para as trans-

formações no modo de se pensar a geografia e neste caso a Geografia da População. Foram

destaque neste primeiro capítulo as teorias demográficas como leitura e opções como políticas

populacionais e o papel do recenseamento como saber estratégico estabelecido dentro das

relações de poder, sendo o censo uma importante fonte de informações para os estudos popu-

lacionais.

Na continuação dos nossos estudos serão destrinchados os elementos que compõem as

análises populacionais, ficando o convite para a continuidade das nossas análises.

ESTUDOS DE CASO

A tentativa para estancar o movimento e estabilizá-lo dá lugar a intervenções

por vezes violentas, como na Índia. De fato, a campanha de esterilização que

foi feita naquele país, à época de Indira Gandhi, não escapou a severas críti-

cas. Nesse caso, ao invés de uma política natalista, o Estado transmite aos in-

divíduos a incumbência de tornar infecundas as relações sexuais. A fim de

limitar o número de nascimentos, a China inaugurou uma política nova: pe-

naliza os casais que têm mais de um filho e concede vantagens aos outros

(RAFFESTIN, 1993, p. 85).

1 - Dentre as teorias demográficas, quais se enquadram nas políticas adotadas por Índia

e China?

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

2 – Como um estadista gerindo uma nação subdesenvolvida, que medidas você tomaria

em relação ao crescimento demográfico acelerado de sua nação? Relacione as ações levantadas

com uma das teorias demográficas:

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Questões do ENADE, adaptadas do ENADE ou similares.

QUESTÃO 01

(SEMED, 2004) Leia o texto abaixo.

Controle de natalidade e educação sexual são fundamentais para combater a pobreza

nos países em desenvolvimento, segundo um relatório da ONU (...) O trabalho, conduzido

pelo Fundo das Nações Unidas para Populações, sugere que há uma ligação direta entre de-

mografia e crescimento econômico (Fonte: www.bbc.co.uc/portuguese – jornal eletrônico da

BBC – 03 dez. 2002).

Ainda que haja rejeição de cientistas sociais a este posicionamento, podemos afirmar

que os estudos que sustentam o referido relatório se aproximam da:

a) ideologia marxista.

b) teoria malthusiana.

c) tese da transição demográfica.

d) tese dos reformistas.

e) teoria neomalthusiana.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

QUESTÃO 02

(UERJ, 2004)

Nos quadrinhos acima fica evidenciado de forma irônica o conflito entre duas concep-

ções sobre a relação entre demografia e pobreza: a neomalthusiana e a dos críticos a essa teori-

a.

Essas concepções se caracterizam, respectivamente, pela adoção dos seguintes funda-

mentos:

a) controle da natalidade e da pobreza pelo Estado – expansão da população como causa

do superpovoamento absoluto.

b) decisão sem interferência do Estado quanto ao número de filhos – diminuição da po-

breza pela imposição do controle da natalidade.

c) redução dos níveis de pobreza pelo controle da natalidade – redução espontânea da

natalidade pela melhoria das condições de vida.

d) independência entre os índices de natalidade e os baixos indicadores sociais da popu-

lação – superpopulação decorrente de condições socioeconômicas.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

QUESTÃO 03

UFLA (2009)

Observe a figura abaixo.

FONTE: ATUALIDADES VESTIBULAR, 2004. ALMANAQUE ABRIL

Com base na figura acima e considerando que se relaciona à situação brasileira, faça o

que se pede:

a) Indique a qual situação se refere à figura.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

b) Descreva a situação.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

QUESTÃO 04

UEMG (2009)

VAI TER PARA TODO MUNDO?

O preço dos alimentos disparou, e o aumento médio no mundo passa dos 80%. A crise

atual, a pior dos últimos trinta anos, decorre de uma combinação de causas: colheitas ruins,

especulação de preços, aumento excepcional do barril de petróleo e a explosão dos biocom-

bustíveis. Mas, o que ajudará a perpetuar o problema é o aumento do consumo de alimentos,

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30

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

sobretudo na China e na Índia, as locomotivas asiáticas que, juntas, têm mais de um terço da

população mundial.

André Petry, Revista Veja – 28 de maio de 2008.

Analisando este texto e os dados da ilustração acima, só não é CORRETO afirmar que:

a) a atual trajetória econômica, demográfica e ambiental do mundo é insustentável.

b) a previsão é que, em 2050, seremos 9,2 bilhões de pessoas, ou seja, 2,5 bilhões de habi-

tantes a mais, em relação à população atual.

c) o simples crescimento da população mundial traz grande impacto nos estoques de

comida.

d) a escassez de comida está sendo controlada pela distribuição equitativa dos alimentos

entre as nações do mundo.

QUESTÃO 05

UFRN (2007)

Para explicar o crescimento da população e sua relação com o desenvolvimento, algu-

mas teorias foram formuladas: malthusiana, reformista e neomalthusiana. Os adeptos da teo-

ria reformista:

a) consideram que o rápido crescimento demográfico exerce pressão sobre os recursos

naturais, sendo um sério risco para o futuro da humanidade.

b) defendem a necessidade de reformas socioeconômicas que permitam a elevação do

padrão de vida da população.

c) defendem que o alto crescimento demográfico é causa da pobreza generalizada, sendo

imprescindíveis reformas políticas rígidas de controle da natalidade.

d) consideram o descompasso entre a população e os recursos necessários para a sua so-

brevivência como causa para a existência da miséria do mundo.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

CONSTRUINDO CONHECIMENTO

Geografia em Questão

O Bicho

Vi ontem um bicho

Na imundice do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

FIG. - CHARGE ANGELI

Analisando a charge acima, a poesia “O Bicho” (BANDEIRA, 1993) e contextualizando

com o papel da Geografia enquanto ciência social, quais abordagens podemos apresentar na

Geografia da População que enfoquem também os grupos populacionais excluídos?

Cinema, Literatura, Artes e a Geografia da População

Os Miseráveis

Escrita por Victor Hugo, a obra-prima “Os miseráveis” foi dirigida nos cinemas por Bil-

lie August. Conta a história de Jean Valjean, ambientada no território francês entre o final do

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

século XVIII e meados do século XIX, período histórico denso, destacado pelo autor através

da apresentação da Insurreição Democrática Francesa, destacando a situação política e social

deste país. Destaca-se além das temáticas sobre a miserabilidade e as condições precárias da

população francesa, pós-revolução, a apresentação do recenseamento do território francês,

seguindo a tendência de outros Estados nacionais que se formavam na Europa.

Notícias Sobre População

Declaração dos Direitos Humanos

Fonte: Nações Unidas – Brasil.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos documentos básicos das Na-

ções Unidas e foi assinada em 1948. Nela, são enumerados os direitos que todos os seres hu-

manos possuem.

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da fa-

mília humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e

da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em a-

tos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em

que todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do te-

mor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da

lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tira-

nia e a opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as

nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé

nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de

direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores

condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em coopera-

ção com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamen-

tais e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta

importância para o pleno cumprimento desse compromisso, agora, portanto,

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33

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos

Como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objeti-

vo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração,

se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberda-

des, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar

o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos pró-

prios Estados-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo I.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de

razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo II.

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos

nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião,

opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou

qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou

internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território

independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de

soberania.

Artigo III.

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV.

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos

serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V.

Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou de-

gradante.

Artigo VI.

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa

perante a lei.

Artigo VII.

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da

lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente

Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Artigo VIII.

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio e-

fetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela cons-

tituição ou pela lei.

Artigo IX.

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X.

Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por

parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou

do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI.

Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente

até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no

qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não

constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pe-

na mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII.

Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou

em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito

à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII.

Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das frontei-

ras de cada Estado.

Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este re-

gressar.

Artigo XIV.

Todo ser humano vítima de perseguição tem o direito de procurar e de gozar asilo em

outros países.

Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por

crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV.

Todo homem tem direito a uma nacionalidade.

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35

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade nem do direito de mudar

de nacionalidade.

Artigo XVI.

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade

ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais di-

reitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da

sociedade e do Estado.

Artigo XVII.

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII.

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este di-

reito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião

ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particu-

lar.

Artigo XIX.

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a li-

berdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e

ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX.

Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI.

Todo ser humano tem o direito de fazer parte do governo de seu país diretamente ou

por intermédio de representantes livremente escolhidos.

Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público de seu país.

A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em

eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalen-

te que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII.

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realiza-

ção pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e re-

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36

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

cursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua digni-

dade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII.

Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas

e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual

trabalho.

Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que

lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e

a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de

seus interesses.

Artigo XXIV.

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas

de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Artigo XXV.

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua fa-

mília, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os

serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invali-

dez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora

de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as cri-

anças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo XXVI.

Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos

graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técni-

co-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade hu-

mana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.

A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e gru-

pos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manuten-

ção da paz.

Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada

a seus filhos.

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37

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Artigo XXVII.

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comuni-

dade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes

de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XXVIII.

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e

liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIX.

Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desen-

volvimento de sua personalidade é possível.

No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limi-

tações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento

e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da

ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamen-

te aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX.

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconheci-

mento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou prati-

car qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabeleci-

dos.

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38

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

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39

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

1.2 TEMA 2. DINÂMICA DA POPULAÇÃO

1.2.1 CONTEÚDO 1. CONCEITOS E ELEMENTOS DA DINÂMICA POPULACIONAL

FIGURA 11

Nos estudos populacionais, diversos conceitos, escalas de análises, fenômenos e variáveis

são levadas em consideração. No caso da Geografia interessam a espacialização e a temporali-

dade dessas variáveis relacionadas principalmente ao crescimento natural (crescimento vege-

tativo) da população e as mobilidades que apontam o crescimento da população, e posterior-

mente outras variáveis como a estrutura etária e ocupacional quantificados sobre os espaços

analisados, dados que são qualificados pela forma que as populações se relacionam, usam e se

apropriam do espaço geográfico a partir de um abordagem transescalar.

Inicialmente os estudos se baseavam principalmente na descrição dos espaços analisa-

dos, preocupando-se principalmente na separação das áreas habitáveis e não habitáveis,

ecúmenas e anecúmenas respectivamente. Nos primórdios dessas análises havia a necessi-

dade de contextualização sobre o mundo ecúmeno e anecúmeno devido às condições téc-

nicas de apropriação de espaços inabitados.

Assim, de uma maneira geral, os desertos quentes e gelados, solos muito encharcados,

montanhas escarpadas e encostas muito íngremes ou a simples distância dos recursos hídricos

diferenciavam os espaços em habitáveis e não habitáveis.

FIGURAS 12 E 13 – DESERTOS QUENTES E GELADOS (RESPECTIVAMENTE)

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Não é à toa que mesopotâmicos, egípcios e chineses, importantes civilizações antigas, se

formaram ao longo de seus rios: Nilo, Tigre e Eufrates, Amarelo. Neste caso, à medida que

novas técnicas eram implementadas, outras áreas eram apropriadas, a exemplo das técnicas

agrícolas da China, fazendo com que houvesse uma maior apropriação de novas áreas.

No outro polo, as latitudes e as altitudes, bem como as condições climáticas, podem

também ser consideradas como fatores da distribuição da população sobre o globo. No caso

das montanhas, estas poderiam repelir, devido às condições climáticas ou à dificuldade da

mobilidade, como poderiam atrair as populações, por serem de difícil acesso contra ataques de

grupos inimigos.

As latitudes favoráveis (considerando altitudes favoráveis), nas bibliografias sobre a te-

mática, encontravam-se entre 20° e 60°, com climas considerados humanos. Já os inumanos

dizem respeito aos climas frios de altitude e latitude elevada e os climas áridos localizados na

zona intertropical, aqui preponderavam o frio e a aridez como fatores repulsivos, tornando-se

áreas mais rarefeitas, em detrimento das zonas de clima temperado, quentes e úmidas mais

povoadas. Destacavam-se nessas leituras outras geografias que justificavam a apropriação e a

ocupação de determinadas zonas climáticas, baseadas principalmente no papel biológico do

clima, resultando na análise de doenças infecto-contagiosas, nas diferenças imunológicas das

raças e na originalidade dos grupos raciais.

É claro que territórios ecúmenos e anecúmenos podem e devem ser contextualizados no

espaço e no tempo, levando em consideração a adaptação de alguns povos aos espaços apro-

priados, pois áreas consideradas anecúmenas para algumas civilizações foram habitadas, como

os inuítes, habitantes dos desertos gelados do Alasca, Canadá e Groelândia; os beduínos, que

praticavam o nomadismo no Oriente Médio e no Norte da África; e a Civilização Inca, que

dominava quase todo o território da Cordilheira dos Andes.

Atualmente podemos considerar que devido aos avanços técnicos há um avanço das á-

reas ecúmenas sobre anecúmenas. Isto pode ser observado tanto na totalidade de população

sobre os espaços como da densidade das áreas ocupadas. Assim, consideramos na atualidade,

além da natureza, a história e a condição técnica dos diversos grupos populacionais e suas

formas de se apropriar dos espaços.

Para uma maior probabilidade da análise populacional sobre as áreas ocupadas anali-

sa-se a população total (absoluta) e a população relativa (densidade demográfica). De-

nomina-se população absoluta (população total) o número total da população no mundo,

região ou país e outros entes federativos, ou seja, corresponde à população absoluta de um

local, derivando deste conceito a noção de áreas populosas ou não.

Como população relativa, também denominada de densidade demográfica ou popula-

cional, corresponde à relação do número de habitantes e área onde estes se distribuem,

Page 41: 2 - Geografia da População.pdf

41

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

sendo geralmente estimados pela relação número de habitantes por quilômetro quadrado.

O seu cálculo segue a seguinte forma:

Número de habitantes = Densidade demográfica (hab/km²)

Área analisada

Segundo as últimas pesquisas, a população total mundial atualmente é de 6,7 milhões,

tendendo (segundo estimativas da ONU) aumentar para 8,3 bilhões em 2030 e 9,2 milhões em

2050, devido a uma maior longevidade da população e acessibilidade ao tratamento da Aids.

Seria neste caso um aumento de 2,5 bilhões de habitantes, correspondendo à população total

de 2050, localizados principalmente nos países em desenvolvimento.

FIGURA 14 – HTTP://WWW.GEOGRAFIAPARATODOS.COM.BR/IMG/INFOGRAFICOS/MUTIDAO_PLANETARIA.JPG

Por conta do tamanho de sua população, o Brasil apresenta a quinta maior população

total do mundo (193.733.795 habitantes), ficando atrás somente da China (1.345.750.973), da

Índia (1.198.003.272), dos Estados Unidos (314.658.780) e da Indonésia (229.964.723) (IBGE-

PAÍSES@, 2009), havendo uma tendência de ultrapassagem da Índia sobre a China, segundo

algumas estimativas na atualidade, sendo importante lembrar que estes dois países juntos con-

centram cerca de 35% de toda a população mundial. Já o continente asiático, ao qual perten-

cem os dois países, em 2007 concentrava 60% de todo o contingente populacional do planeta.

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42

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

FIGURA 15 – HTTP://WWW.IBGE.GOV.BR/IBGETEEN/PESQUISAS/DEMOGRAFICAS.HTML

Os dados de população absoluta podem ainda ser analisados cronologicamente para ob-

servar a dinâmica populacional dentro de um período histórico determinado, por local dese-

jado e sexo, entre outras informações, utilizando-se dos dados do censo como demonstrado

nos gráficos abaixo (IBGETEEN, 2010):

FIGURA 16 – HTTP://WWW.IBGE.GOV.BR/IBGETEEN/PESQUISAS/DEMOGRAFICAS.HTML

FIGURA 17 – HTTP://WWW.IBGE.GOV.BR/IBGETEEN/PESQUISAS/DEMOGRAFICAS.HTML

Page 43: 2 - Geografia da População.pdf

43

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Sobre a relação entre população e área ocupada (densidade demográfica), podemos dife-

renciar áreas densamente povoadas, rarefeitas ou ainda os vazios demográficos. São conside-

radas áreas pouco povoadas as que possuem menos de 3 hab/km². As que possuem menos de

1 hab/km² são denominadas de vazios demográficos, a exemplo da Antártida e de algumas

áreas desérticas, sendo preponderante as condições climáticas.

Na imagem abaixo pode-se observar em ordem alfabética as regiões mais densamente

povoadas no mundo, além de pequenas manchas de povoamento e as áreas desérticas onde

prevalecem os chamados vazios demográficos.

FIGURA 18 – DENSIDADE DEMOGRÁFICA NO MUNDO. FONTE: HTTP://WWW.DIAADIA.PR.GOV.BR/TVPENDRIVE/ARQUIVOS/IMAGE/

CONTEUDOS/IMAGENS/GEOGRAFIA/2DENDEMG.JPG

Convencionou-se como áreas de grande concentração populacional aquelas com um

número superior a 100 hab/km², sendo geralmente as grandes metrópoles, áreas de povoa-

mento antigo, a exemplo da China (139 hab/km²) e Índia (360,85 hab/km²), ou com forte

concentração de infraestrutura, oferta de empregos, centros econômicos e polos industriais.

As grandes cidades costumam ter uma densidade demográfica alta em contraponto a

espaços com o Ártico, que se encontra totalmente desabitado, sendo utilizado somente como

fonte de pesquisa na atualidade.

FIGURAS 19 E 20 – MORRO DA MANGUEIRA (ÁREA DENSAMENTE POVOADA. FONTE: HTTP://OMEUGURI.FILES.WORDPRESS.COM/2009/10/FAVELA51.JPG)/

CONTINENTE ÁRTICO (UM VAZIO DEMOGRÁFICO)

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Os países mais povoados do mundo são respectivamente Mônaco (16.500 hab/km²),

Cingapura (6.818 hab/km²) e o Vaticano (2.060 hab/km²). Entre os países pouco povoados

encontramos a Mongólia (1,73 hab/km²), a Namíbia (2,55 hab/km²), o Suriname (2,81

hab/km²) e a Islândia (2,95 hab/km²). No mundo, a concentração populacional encontra-se

distribuída principalmente nas grandes cidades como apresentado abaixo:

FIGURA 21 – AS MEGACIDADES

Segundo relatório da UNFPA (2007), o século XX apresentou um forte crescimento da

população urbana mundial, aumentando de 220 milhões para 2.800 milhões. Já no ano de

2008 esse número atingiu mais que a metade de sua população humana, representando 3.300

milhões de habitantes vivendo nas cidades, prevendo que em 2030 esse número atingirá quase

5 milhões, sendo que deste número 80% se concentraram nas cidades dos países em desenvol-

vimento.

Os países podem ter uma enorme população relativa e baixa população absoluta, como o

Vaticano, menor país do mundo (0,44 km²) e sede da Igreja Católica, com população estimada

em apenas 824 habitantes, ou o Principado de Mônaco, com apenas 33 mil habitantes e área

de apenas 1,95 km². No outro polo encontramos países como os Estados Unidos da América,

o terceiro país mais populoso, que apresenta a densidade demográfica de apenas 32,95

hab/km².

Há países em que a densidade demográfica é extremamente desigual, onde existem áreas

bastante povoadas e outras com povoamento modesto, neste caso se inclui o território brasi-

leiro. O Brasil é um país de extensão continental e um dos mais populosos do mundo, sendo

considerado pouco povoado com apenas 22,81 hab/km², apresentando um litoral bastante

ocupado e com outras regiões menos ocupadas, a exemplo do Pantanal Mato-grossense e

grande parte da floresta amazônica.

Entre os estados brasileiros, somente o Distrito Federal e o Rio de Janeiro apresentam

uma densidade demográfica acima de 300 hab/km². São Paulo e Alagoas encontram acima de

100 hab/ km². Sergipe, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Espírito Santo,

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45

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Paraná e Santa Catarina encontram-se acima de 50 hab/km². Numa classe intermediária, aci-

ma de 10 hab/km², encontramos o restante da Região Nordeste, o estado de Goiás e o Rio

Grande do Sul.

Com áreas menos densas, acima de 1 hab/km², encontra-se toda a Região Norte e os es-

tados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, na Região Centro-Oeste. Entre estes extremos

encontra-se o Distrito Federal, com uma densidade de 410,9 hab/km², e Roraima, com 1,8

hab/km².

Diferente dos conceitos de povoamento e populoso, o superpovoamento considera os

recursos disponíveis para suprir as necessidades da população, bem como a capacidade de

suporte do ambiente em que estas populações estão inseridas, além dos padrões de saneabili-

dade dos espaços ocupados, ou seja, importa também as análises sobre a qualidade de vida dos

grupos estudados e a relação com os espaços que estes ocupam, destacado na relação socieda-

de e natureza.

Que metodologia de análise da capacidade de suporte leva em consideração diversas

variáveis para se medir a capacidade de população sobre uma determinada área, para que

esta não venha a ser degradada além das possibilidades, buscando uma melhor qualidade

de vida da população ali inserida. Se fossem melhor utilizadas, áreas que passam por pro-

cesso de degradação, a exemplo de áreas em processo de desertificação, poderiam ser pre-

servadas dos impactos atuais ou melhor utilizadas a partir do acesso a novas culturas me-

nos degradantes a estes ambientes, como apresentado por Hogan (2006) em seu estudo.

1.2.2 CONTEÚDO 2. CRESCIMENTO NATURAL DA POPULAÇÃO

Primordialmente, o crescimento natural da população, também conhecido com cresci-

mento vegetativo, está relacionado à natalidade e mortalidade, representando o movimento

vertical de crescimento da população. Assim, para se obter o crescimento natural da popula-

ção, calcula-se a diferença entre os números de nascimentos e de mortes de um determinado

período.

TN – TM = CV

O crescimento vegetativo pode ser positivo, negativo ou nulo. Considera-se positivo

quando a taxa de natalidade é maior que a de mortalidade, como a China e o Brasil; negativo

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46

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

quando o número de mortes supera os nascimentos, a exemplo da Itália; e nulo quando as

taxas de mortalidade e natalidade encontram-se equilibradas, como a Romênia entre 1980 e

2002.

A taxa de natalidade é calculada através do número de nascimentos ocorridos em um

dado ano multiplicado por mil e dividido pela população absoluta no ano e local correspon-

dente.

TN = Número de Nascimentos x 1000

População Total

Já para o cálculo da taxa de fecundidade considera-se as crianças abaixo de cinco anos

de idade relacionadas às mulheres em idade reprodutiva, sendo que esta última pode variar,

dependendo de cada país.

As duas taxas sofrem influência da cultura, dos elementos econômicos e políticas demo-

gráficas de cada país, a exemplo respectivamente dos dogmas de algumas religiões no que tan-

ge a matrimônio, acessibilidade do casal ao emprego e a China com a política do filho único.

Calcula-se a taxa de mortalidade pela multiplicação do número de óbitos por mil e divi-

dindo pela população total em um determinado local e ano.

TM = Número de Óbitos x 1000

População Total

Outras duas importantes taxas estão relacionadas à taxa de mortalidade e à taxa de nata-

lidade: a taxa de mortalidade infantil e a expectativa de vida. A primeira corresponde ao nú-

mero de crianças mortas antes de completar 1 ano de idade, já a expectativa de vida representa

o número de anos em que um recém- nascido poderá viver considerando os recursos aos

quais terá acesso.

No Brasil (representado na imagem abaixo) e no mundo a taxa de mortalidade infantil

se apresenta de forma diferenciada, destacando-se as maiores taxas nas regiões mais pobres.

FIGURA 22 – MORTALIDADE INFANTIL NO BRASIL. FONTE: UNICEF, COM A UTILIZAÇÃO DOS DADOS DO IBGE, 2000.)

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

A expectativa de vida no mundo apresenta-se de forma diferenciada, favorecendo uma

maior longevidade de acessibilidade a serviços primordiais, como saúde e educação de quali-

dade, o que podemos observar em relação às regiões mais e ricas e mais pobres do globo.

FIGURA 23 – FONTE: VEJA.ABRIL.COM.BR/290999/P_084.HTML

Durante milênios o crescimento vegetativo da população mundial foi baixo. Neste perí-

odo tanto os índices de natalidade como os de mortalidade eram altos, tendendo a um equilí-

brio. Este tendia a ser modificado quando as civilizações guerreavam, assim o crescimento da

população se dava de uma forma lenta se comparado aos índices atuais.

A primeira onda de crescimento populacional se deu com a sedentarização dos grupos

humanos e a acessibilidade destes às técnicas agrícolas, diminuindo assim a sua dependência

em relação à caça e à coleta, bem como facilitando a sua vida em relação às intempéries da

natureza. Uma prova desta realidade são as antigas civilizações que passaram a dominar a téc-

nica da agricultura intensiva, foram as que formaram as maiores aglomerações em seu tempo,

sendo também os grupos populacionais que mais cresceram.

Estima-se que no primeiro ano da Era Cristã existiam aproximadamente 250 milhões de

habitantes em todo o planeta e que para esse número duplicar-se passaram-se dezesseis sécu-

los, ou seja, somente em 1650 atingiu-se a marca de 500 milhões de habitantes. Em 1850 a

população mundial duplicou novamente, representando 1 bilhão de habitantes, sendo o sécu-

lo XIX o marco para o crescimento acelerado da população mundial devido à Revolução In-

dustrial e às melhorias sociais disseminadas primeiramente nos países da Europa e posterior-

mente em outras nações do mundo.

Ocorrida primeiramente na Inglaterra, a Revolução Industrial aumentou inicialmente o

número de óbitos, principalmente da população jovem e idosa que trabalhava nas indústrias

recém-criadas. Agravavam este quadro as altas jornadas trabalhistas, a falta de saneamento

básico nas cidades medievais e o crescimento acelerado da população urbana, resultante tanto

da capitalização das terras dos campesinos como também da busca de emprego nas cidades

industriais.

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48

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Não tendo onde morar, muitas famílias operárias se amontoavam em cortiços totalmen-

te insalubres, o que contribuía para o aumento da disseminação de doenças entre os morado-

res. Sobre as condições de vida em algumas cidades inglesas, Engels cita um jornal inglês da

época em “A situação da classe trabalhadora” (2008, p. 179):

Essas ruas em geral são tão estreitas que se pode saltar de uma janela para

outra casa em frente; as edificações têm tantos andares que a luz mal pode

penetrar nos pátios ou becos que as separam. Nessa parte da cidade não há

esgotos, banheiros públicos ou latrinas nas casas; por isso, imundícies, detri-

tos e excrementos de pelo menos 50 mil pessoas são jogados todas as noites

nas valetas, de sorte que, apesar do trabalho de limpezas das ruas, formam-se

massas de estercos secos das quais emanam miasmas que, além de horríveis à

vista e ao olfato, representam um enorme perigo para a saúde dos moradores

(...). Nesses bairros, a sociedade chegou a um nível de pobreza e de avilta-

mento realmente indescritível. As habitações dos pobres são em geral muito

sujas e aparentemente nunca são limpas; a maior parte das casas compõem-

se de um só cômodo que, embora mal ventilado, está quase sempre muito

frio, por causa da janela ou da porta quebrada; quando fica no subsolo, o

cômodo é úmido; frequentemente, a casa é mal mobiliada e privada do mí-

nimo que a torne habitável: em geral, um monte de palha serve de cama a

uma família inteira; ali deitando-se, numa promiscuidade revoltante, ho-

mens, mulheres, velhos e crianças. Só há água nas fontes públicas e a dificul-

dade para buscá-la favorece naturalmente a imundície.

Essa situação foi modificada pelas transformações sociais com as conquistas trabalhistas

e consequentemente melhorias nas condições de trabalho, além da limitação de acesso ao tra-

balho pela população adulta. O mesmo ocorreu com a produção de uma melhor infraestrutura

urbana e nas residências da população urbana com um maior acesso ao saneamento básico.

Por conta disso se atrelam atualmente a revolução industrial alguns benefícios sociais

adquiridos pelas necessidades das populações e através das lutas sindicais por melhores condi-

ções de trabalho.

Em grande parte da Europa esse movimento seu entre os séculos o fim do século XVIII

e XIX, se disseminando para outras nações ricas como os Estados Unidos da América e poste-

riormente no início do século XX para as nações desenvolvidas.

Daí a diferenciação entre a revolução nos países ditos desenvolvidos dos subdesenvolvi-

dos. Enquanto nos primeiros junto à revolução melhorias nas condições socioeconômica-

estruturais foram realizadas ou ocorreu uma forte migração para o novo mundo, nos países

subdesenvolvidos houve uma rápida industrialização em ilhas, referendadas por diversas teo-

rias como as de pólo de crescimento.

Page 49: 2 - Geografia da População.pdf

49

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Santos aponta em sua obra intitulada: “O espaço dividido: os dois circuitos da economia

urbana dos países subdesenvolvidos”, que, além disso, o planejamento estava dissociado das

realidades o que agravaria ainda mais essa situação, desde quando se privilegiava as indústrias

enquanto grande parte da população fazia parte do terceiro setor ligada a serviços ditos in-

formais. Além disso, o autor aponta:

O estudo da história dos países hoje subdesenvolvidos permite revelar uma

especificidade de sua evolução em relação às dos países desenvolvidos. Essa

especificidade aparece claramente na organização da economia, da sociedade

e do espaço, e por conseguinte, na urbanização, que se apresenta como um

elemento numa variedade de processos combinados [...]. Charles Bettelheim

(1962, cap. III) observa que as economias desses últimos “não sendo depen-

dentes, não eram deformadas e desequilibradas, mas ao contrário, integradas

e autocentradas” (SANTOS, 2004. p. 19).

Em 1940, por conta das melhorias sanitárias e de saúde a população global tinha dupli-

cado novamente, com o total de 2 bilhões em apenas 90 anos. Após 35 anos (1975) dobrava

novamente representando 4 bilhões de habitantes, chegando a 5 bilhões em 1999.

Acompanhando essa realidade podemos considerar na atualidade que de taxa de cres-

cimento vegetativo da população mundial é maior nos países mais pobres do mundo subde-

senvolvido, concentrados principalmente nos continentes africano e asiático (onde se concen-

tra a maior parte da população mundial) e em grande parte dos países latinos da América.

A essa mudança atrelam-se as condições para a transição demográfica nos países do

mundo, onde podem ser identificados diferentes estágios como identificado abaixo:

FIGURA 24 – FASES DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA. FONTE: HTTP://FOTOS.SAPO.PT/82D10QHVAWZZD7SQZ8ZO/

Em um plano inicial há um equilíbrio no número de mortes e de nascimentos, com altas

taxas de natalidade e de mortalidade e expectativa de vida baixa, como pode ser observada em

algumas nações subdesenvolvidas e no período histórico anterior a revolução industrial.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Com as melhorias advindas há um aumento da população promovida por ações sociais,

aumentando assim tanto as taxas de natalidade como a expectativa de vida diminuindo a taxa

de mortalidade caso correspondente a grande parte das nações mundiais.

Em outra fase, com acessibilidade a informação sobre meios contraceptivos, acessibili-

dade ao emprego da população feminina há uma tendência à diminuição do crescimento ve-

getativo a exemplo do Brasil na atualidade.

Por fim, encontramos nações com o crescimento demográfico nulo e/ou negativo a e-

xemplo de alguns países europeus como Alemanha, Hungria, Suécia e na Ásia pode-se citar a

Rússia e o Japão.

O fator responsável pelo crescimento populacional no Brasil é o aumento da taxa cres-

cimento vegetativo, desde quando o Brasil não se caracteriza por ser uma nação na atualidade

que atrai muitos imigrantes. Fato este demonstrado no gráfico abaixo com a apresentação de

dados do ápice dos fluxos migratórios que ocorreram entre 1800 e 1950, diminuindo conside-

ravelmente nos anos posteriores, não diminuindo a taxa de crescimento demográfico da po-

pulação brasileira.

BRASIL -RECENSEAMENTOS

ANO POPULAÇÃO

1872 9 930 478

1880 14 333 915

1900 17 438 434

1920 30 635 605

1940 41 165 289

1950 51 941 767

1960 70 070 457

1970 93 139 037

1980 119 002 706

1991 146 825 475

2000 169 799 170

2005* 184 184 264

FONTE: IBGE

Na atualidade há uma tendência à diminuição dessa taxa devido à opção dos casais em

terem menos filhos ou optarem por não ter filhos, como apresentado no perfil caracterizado

na reportagem da revista veja:

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51

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

FIGURA 25 – FONTE: VEJA.ABRIL.COM.BR/110608/P_124.SHTML

1.2.3 CONTEÚDO 3. ESTRUTURA DA POPULAÇÃO

Por estrutura da população entende-se o estudo populacional baseada em sua estrutura

etária, por sexo e atividades econômicas nas quais estão atuando estes grupos da população. A

junção desses dados pode ajudar a entender a realidade socioeconômica de vários países do

mundo e as políticas implementadas por parte de alguns países para melhorar as condições

sociais de suas populações. Convencionou-se entre os estudos demográficos a divisão da po-

pulação em três faixas etárias, correspondente à população jovem, população adulta e a popu-

lação idosa, assim definidas:

População Jovem – formada pelo grupo populacional de zero a 19 anos de idade.

População Adulta – pela população que se encontram entre a faixa etária de 20 a 59 a-

nos de idade.

População Idosa – os grupos populacionais que se encontram com 60 anos ou mais.

Predomina a população jovem nas populações que apresentam as taxas de natalidade e

mortalidade elevadas, nestes países geralmente a população jovem representa cerca de 50% do

contingente populacional. O contrário ocorre nos países com predomínio da população adul-

ta, apresentando taxas de mortalidade e natalidade baixas e alta expectativa. Desta forma, po-

de-se concluir que quando as taxas de natalidade e mortalidade diminuem há um avanço da

população idosa, a exemplo da Suécia, com cerca de 25% da população nessa faixa etária.

No outro polo encontram-se os países subdesenvolvidos. As taxas de população idosa

chegam dificilmente a 8%, no México esse grupo representa apenas 6,5% e na Nigéria apenas

5,3%. Mas, mesmo com uma taxa não muito alta do número de pessoas na melhor idade, a

expectativa de vida mundial vem aumentando e da diminuição da taxa de natalidade de uma

forma geral, dentre as projeções da ONU sobre a estrutura etária da população se destaca a de

que a população idosa mundial que no ano 2000 era de 606 milhões em meados do século XXI

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52

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

atingirá a marca de 2 bilhões, ou seja, triplicará. Na mesma projeção, o contingente de pessoas

acima do 80 anos aumentará de 69 milhões para 379 milhões.

FIGURA 26

Segundo a Organização das Nações Unidas, apesar de este grupo representar apenas

cerca 1,1% da população mundial, é justamente essa faixa etária que mais cresce. Daí a neces-

sidade em se discutir políticas públicas para esse grupo. Devido a estes debates, a ONU lançou

em 2002, na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o envelhecimento, o Plano de Ação

para o Envelhecimento.

Destacam-se entre os países que têm maior proporção idosa no mundo o Japão, a Itália

e a Suíça. No outro polo encontram-se Iêmen, Níger e Uganda como os países que têm a mai-

or proporção de jovens e de crianças, sendo que entre os dez países com maior proporção de

jovens nove encontram-se no continente africano.

Como apontado na pirâmide etária em evidência, a população japonesa ainda passa pe-

lo processo de aumento da população idosa, as melhorias advindas pós-década de 50, uma

maior acessibilidade ao emprego, principalmente por parte da população feminina, bem como

a vontade de ter poucos filhos e o aumento na idade para o matrimônio mudaram a cultura

japonesa, resultando na realidade apresentada.

FIGURA 27 – EVOLUÇÃO DA PIRÃMIDE ETÁRIA JAPONESA. FONTE: HTTP://LH6.GGPHT.COM/_0OK SL4DVH_O/R0SFQQSTAVI/AAAAAAAAAO8/IAZJZC9QKG8/JAP%C3%A3O+PIRAMIDE+LIVRO+2.GIF.JPG

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53

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Para evitar os efeitos do envelhecimento da população sobre as suas economias, estima-

se que os países europeus necessitem até 2025 receber em torno de 159 milhões de novos emi-

grantes, segundo estudos divulgados pela ONU, o que permitirá à União Europeia continuar a

manter equilibrada a proporção de cinco pessoas economicamente ativas para cada indivíduo

fora do mercado de trabalho.

O gráfico mais utilizado na reprodução da estrutura populacional por sexo e idades é a

pirâmide etária. O sexo é representado em cada metade da pirâmide, sendo representada na

base a população jovem, na região intermediária a população adulta e tendo em seu ápice (to-

po) a população idosa. Desta forma, com a diferenciação das pirâmides, podemos ponderar as

taxas de natalidade e de mortalidade de uma população levando em consideração o sexo desta.

Nos países desenvolvidos em que a população jovem tende a ser maior e a expectativa de

vida alta, as pirâmides apresentam-se com a parte central mais larga e o topo também alarga-

do, devido à redução das taxas de natalidade e mortalidade. Nestes países há a demanda por

políticas na previdência e saúde da população idosa.

As pirâmides dos países subdesenvolvidos pobre apresentam a base mais larga, a central

afunilada e topo estreito devido às altas taxas de natalidade e as baixas expectativas de vida.

Desta forma necessita-se de um maior investimento em demandas sociais para a classe mais

impactada, a exemplo de escolas de qualidade para a população jovem e acessibilidade ao em-

prego.

Apresentam-se como exemplo de estruturas etárias diferentes as pirâmides do continen-

te europeu, onde se concentram algumas nações mais ricas do mundo e a União Europeia,

principal bloco econômico na atualidade, e do continente africano, onde se concentram gran-

de parte dos países mais pobres do mundo, expropriados de suas riquezas e que foram explo-

rados como antigas colônias europeias.

FIGURA 28 –FONTE: HTTP://WWW.CEAP.G12.BR/PROJETOS2008/8SERIEB/ARTURGUILHERMEJORDAN/PIRAMIDE.JPG

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54

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Em uma situação intermediária estão os países que se encontram em fase de transição

para a fase adulta ou madura, onde as bases são mais estreitas que o corpo, com a redução

considerável das taxas de natalidade, ocasionando em um aumento da população adulta e ain-

da com um topo estreito, mas que com o passar dos anos tende a se alargar com o envelheci-

mento da população jovem.

A pirâmide brasileira apresentada abaixo representa dois momentos da população do

Brasil, o primeiro na década de 60 com características de um país subdesenvolvido agrário, e

em 2000 em uma situação intermediária, com gradual diminuição das taxas de natalidade e

aumento da expectativa de vida.

FIGURA 29 – FONTE: HTTP://WWW.SALESIANOSOROCABA.COM.BR/ EVENTOS/AULAS/POPULA4.JPG

Levando ainda em consideração a estrutura da população e atividade econômica reali-

zada, classifica-se a população como:

FIGURAS 30 E 31 – FONTE: PEA/PEI (RESPECTIVAMENTE)

População Economicamente Ativa (PEA) – Representadas pelas pessoas que têm ativi-

dade trabalhista remunerada.

População Economicamente Inativa (PEI) – Composta por aqueles que não têm ativi-

dade remunerada (crianças que não trabalham, idosos, aposentados e donas de casa).

Analisando a PEA dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos encontramos enormes

diferenças. Nos primeiros, as atividades do setor terciário ligadas à informática, à comunica-

Page 55: 2 - Geografia da População.pdf

55

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

ção, aos serviços e ao comércio em geral concentram grande parte da população. Por conta da

intensa mecanização do campo, atividades extrativistas e agropecuárias empregam menos

pessoas, ocorrendo o mesmo no setor secundário, com a robotização das indústrias e o uso

intensivo de máquinas.

Nos países subdesenvolvidos há um inchaço do setor terciário, principalmente de traba-

lhadores ligados à economia informal, devido ao rápido processo de industrialização e capita-

lização das terras não acompanhado de planejamentos para sanar os problemas da população,

aumentando assim o subemprego, fazendo parte da paisagem urbana os serviços informais,

que não podem ser comparados aos serviços terciários dos países desenvolvidos, desde quan-

do a acessibilidade à formação, as diferenças de renda, a qualificações e os avanços tecnológi-

cos de forma geral dos países em que vivem são menores.

Entre os países subdesenvolvidos é importante diferenciar os países não industrializa-

dos, onde ainda predomina a população empregada nas atividades do setor primário, dos ou-

tros países, onde a maior parte da população se concentra no setor terciário.

Em relação ao desemprego, tanto as populações dos países pobres quanto dos países ri-

cos sofrem, mas de forma diferenciada. Enquanto nos primeiros o desemprego é conjuntural,

devido às constantes crises que desempregam milhares de trabalhadores, os países subdesen-

volvidos sofreram com o desemprego estrutural com a intensa automatização das indústrias e

a transferência de indústrias para os países subdesenvolvidos onde a mão de obra é mais bara-

ta, eliminando assim grande parte dos empregos no setor secundário que nem sempre foram

absorvidas pelo setor terciário.

FIGURA 32 – FONTE: HTTP://WWW.PASSEIWEB.COM/NA_PONTA_LINGUA/SALA_DE_AULA/ GEOGRAFIA/IMAGENS/IDH_RANKING.JPG

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Outra forma criada pela Organização das Nações Unidas para analisar e comparar o pa-

drão de vida das populações dos países do mundo foi o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH). Utilizando uma escala que varia de zero a 1, são levados em consideração os indicado-

res de saúde (a expectativa de vida ao nascer), a renda per capita e os indicadores de educa-

ção (anos de estudos e índice de alfabetização). Neste caso terão um melhor Índice de Desen-

volvimento Humano os países que se aproximarem da escala de 1 e menor os que se

aproximarem de zero.

Estão atrelados à esperança de vida ao nascer (expectativa de vida) o acesso médico-

sanitários de sua população e as condições de vida. Desta forma, as populações que têm me-

lhor atendimento médico, acessibilidade a saneamento básico, água tratada e de qualidade e

uma boa alimentação terão menos possibilidades de contrair alguma doença. Isso ocorre

quando relacionamos a qualidade de vida das populações dos países pobres em relação aos

países ricos.

Em relação ao analfabetismo considera-se o não-entendimento dos símbolos da escrita,

impossibilitando a sua decodificação, resultando assim em uma exclusão cultural, social e e-

conômica, diminuindo as suas chances de ingressar no mercado de trabalho mais competitivo

e de acessibilidade a uma maior renda.

Enquanto nos países ricos as taxas de analfabetismo são de menos de 5%, os países de

renda média com um bom sistema de ensino encontram-se nessa faixa, como Chile e Argenti-

na, com 4,3% e 2,8% respectivamente. Em meados da década de 90 o analfabetismo atingia

cerca de 17% da população do Brasil. Atualmente está estimado em 11%. Países como Burkina

Fasso, Paquistão, Serra Leoa e Senegal apresentam um número bastante elevado acima de

50%.

Já os anos de estudos são considerados a média em que as pessoas estudaram. Enquanto

nos países ricos a média de anos estudados está acima de 10 anos, no Brasil no final da década

de 90 encontrava-se em apenas 4 anos.

Um dos indicadores mais criticados é a renda per capita, pois considera apenas a média

do poder de consumo de uma dada população, obtido a partir da divisão do Produto Nacional

Bruto (em dólares), pelo número de habitantes do país, não revelando desta forma a concen-

tração de renda por parte dos diferentes grupos sociais. Um dos grandes exemplos poderiam

ser os Estados Unidos, onde no final da década de 90 a renda per capita atingia 28.020 dólares

e 16% de sua população era considerada pobre.

Segundo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas no ano de 2007, os

países que apresentam o maior Índice de Desenvolvimento Humano são Islândia (0,968), No-

ruega (0,968) e Austrália (0,962) respectivamente. O Brasil encontra-se na septuagésima posi-

ção, apresentando ainda um IDH alto com 0,800. Já os países com menor IDH são Serra Leoa

(0,336), Burkina Fasso (0,370) e Guiné-Bissau (0,374).

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57

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

FIGURA 33

1.2.4 CONTEÚDO 4. MIGRAÇÕES

Entendem-se como migrações as mobilidades espaciais da população (BECKER, 1997)

independentemente do tipo da mobilidade, local de origem e destino, causas que promoveu

este movimento, ou seja, migração corresponde à totalidade dos movimentos populacionais,

sendo esta um dos importantes elementos que compõem a dinâmica demográfica da popula-

ção, compondo o elemento induzido que tanto pode promover o crescimento quanto o de-

créscimo da população sobre os espaços abalizados.

FIGURA 34 – FONTE: HTTP://IMERSAOLATINA.BLOGSPOT.COM/2009_01_01_ARCHIVE.HTML

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58

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Derivam desse conceito, a depender da origem e destino, do movimento migratório de

saída e chegada dos migrantes, os termos emigração e imigração. Considerando essas variá-

veis poderíamos chamar de emigrantes os migrantes durante a diáspora de seu local de ori-

gem, sendo denominados de emigrantes no local de chegada.

Desta forma, os japoneses que migraram para o Brasil no início do século XX ao saírem

de seus países estavam emigrando e ao chegarem ao local de destino promoveram a imigração.

Dentre algumas diferenciações, a mobilidade espacial da população pode ser caracteri-

zada de diferentes formas, sendo estas: os espaços de deslocamento, o tempo de permanên-

cia ou a forma como esta vem a ocorrer.

Considerando o espaço de deslocamento das nações, as migrações podem ser denomi-

nadas de nacionais ou internas e de internacionais ou externas. No caso das migrações ex-

ternas ou internacionais abordam-se os movimentos populacionais entre os países do mundo,

já a interna ou nacional é a que se realiza dentro do mesmo país.

Entre estas categorias podem-se criar outras tipologias, como:

• Migração rural-rural – ocorre entre áreas rurais (pode ser caracterizado pelo mo-

vimento de trabalhadores rurais).

• Migração interurbana – ocorre entre cidades.

• Migração rural-urbano – saída de áreas rurais para áreas urbanas.

• Migração urbano-rural – saída de áreas urbanas para áreas rurais.

• Migração diária ou pendular – resultante do ir e vir cotidiano para a realização de alguns serviços como trabalho e estudo.

• Êxodo rural – considera-se o grande contingente populacional que sai do campo. Destaca-se o crescimento acelerado da população urbana brasileira na década de 70

ou como demonstrou Santos (1981) sobre a violência no campo por parte dos grupos

paramilitares na Colômbia e migração forçada para os centros urbanos.

• Êxodo urbano - considera-se aqui o grande contingente populacional que pode-se destinar às áreas rurais (como ocorreu com a ascensão do Partido do Khmer Verme-lho ao governo do Camboja, forçando a população urbana a migrar para as áreas ru-

rais).

• Migração inter-regional – ocorre entre regiões de um determinado país.

• Migração interestadual – entre estados de um determinado país.

• Migração sazonal ou transumância – ocorre em um determinado período ou esta-ção do ano. Como exemplo, os movimentos para veraneio, plantações e/ou colheitas

de alguns cultivos que demandam uma maior mão de obra em determinados perío-

dos do ano (exemplo: plantação e colheita da cana-de-açúcar).

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

• Nomadismo – primeiro tipo de migração antes de o homem tornar-se sedentário. Exemplo: alguns grupos tradicionais como os pigmeus africanos e os tuaregues, que

vivem em constante migração no deserto do Saara.

FIGURAS 35 E 36 – PIGMEUS AFRICANOS (FONTE: NIGERWATCH.BLOGSPOT.COM/ 2005_07_01_ARCHIVE.HTML) E TUAREGUES NO DESERTO DO SAARA

(FONTE: HTTP://PHOTOS.MONGABAY.COM/08/0917CHARLIE.JPG)

Em relação ao tempo de permanência, quando os migrantes se fixam no local para o

qual se deslocaram denominamos de migração definitiva. Se os migrantes deslocam-se pro-

movendo novas migrações sobre o espaço conceituamos de migração temporária.

As migrações forçadas (involuntárias) e migrações espontâneas (voluntárias) dizem

respeito à forma como podem vir a ocorrer as migrações, sobre a segunda forma podemos

lembrar a escravização dos negros africanos enviados para a América e na atualidade os “des-

plazados” devido às guerras e problemas ambientais.

FIGURA 37 – MIGRAÇÃO FORÇADA DOS ESCRAVOS AFRICANOS. FONTE: HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/_QKHYKK4DC24/SINWRKKB4QI/

AAAAAAAAAWG/HGHLYA7UUJQ/S400/ESCRAVOS.BMP

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

MAPA CONCEITUAL

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

RESUMO

As análises sobre a dinâmica populacional aqui apresentada destacaram os principais e-

lementos que correspondem ao crescimento natural, balizado pelas taxas de natalidade e mor-

talidade e uma rápida apresentação sobre a tipologia das mobilidades espaciais das popula-

ções.

Da apresentação do crescimento vegetativo derivaram-se temáticas como expectativa de

vida, fecundidade, mortalidade infantil e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) utili-

zado como parâmetro de conhecimento sobre as necessidades e possíveis atitudes em variados

grupos de países.

Para reforçar essas análises, esmiuçaram-se os estudos populacionais a partir dos grupos

etários, por sexo, idade e atividades econômicas, formas estas recorrentes nas análises popula-

cionais e que abrem um importante espaço para as análises geográficas, fazendo contato com a

economia e a sociologia, que agora vêm a fortalecer as análises geográficas sobre gênero em

um plano global, apesar de estes não serem recorrentes em menores escalas e por isso mesmo

importante área para futuras pesquisas.

Em relação aos movimentos migratórios, estes serão fortalecidos no capítulo posterior,

validados pela parte conceitual aqui apresentada e necessária na nossa diferenciação cotidiana

de termos geográficos, as poucas exemplificações sobre cada tipologia correspondem à neces-

sidade de não nos fecharmos a uma única escala, desde quando tanto a conceituação como os

próprios nomes de cada tipo de migração são autoexplicativos.

ESTUDOS DE CASO

Josué de Castro há aproximadamente 50 anos denunciava a sociedade tão desigual em

que vivemos, fato este atualizado pelo grupo Nação Zumbi, quando estes deixam claro que nas

cidades isso se reflete de uma forma gritante, onde há “sempre um com mais e outros com

menos”, fato este infelizmente que foge à literatura ou à musicalidade enquanto mero projeto

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

lúcido, retornando a nossa visão como realidade infelizmente imposta, verdade nua e crua

enxergada na cidade, no mundo que não para e que só cresce onde “o de cima sobe e o debai-

xo desce”.

1 – Sabendo do crescente crescimento populacional e da concentração de tudo por pou-

cos (serviços, renda, espaço...), qual a alternativa na atualidade para essa verdade nua e crua?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 – Segundo os indicadores do IBGE, no Brasil houve uma diminuição nas diferenças

sociais. Quais as ações que promoveram essas mudanças?

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___________________________________________________________________________

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EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Questões do ENADE, adaptadas do ENADE ou similares.

QUESTÃO 01

(UFAP, 2008)

As cidades médias são os pontos de interseção e superposição entre as hori-

zontalidades e as verticalidades. Elas oferecem os meios para o consumo final

das famílias e administrações e o consumo intermediário das empresas. As-

sim, elas funcionam como entrepostos e fábricas, isto é, como depositárias e

como produtoras de bens e serviços exigidos por elas próprias e por seu en-

torno (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 280).

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

POPULAÇÃO DAS CIDADES MÉDIAS DA AMAZÔNIA LEGAL – 2000

CIDADE ESTADO POPULAÇÃO Ananindeua PA 391.994

Macapá AP 264.639

Porto Velho RO 261.957

Rio Branco AC 226.134 Imperatriz MA 218.556

Várzea Grande MT 151.459

Boa Vista RR 196.942

Santarém PA 176.834

Marabá PA 134.258

Palmas TO 130.528

Castanhal PA 118.286

Rondonópolis (MT) MT 107.323

FONTE: IBGE (APUD TRINDADE JR. 2007)

A partir das considerações dos autores acima, dos dados expressos na tabela e dos co-

nhecimentos associados à temática da urbanização brasileira, principalmente a formação e a

dinâmica das cidades médias, faça o que se pede.

a) Identifique e explique um fator da concentração populacional e urbana do Estado

do Amapá na cidade de Macapá.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

b) Relacione o papel desempenhado por Marabá (PA), enquanto uma cidade média, pa-

ra a dinâmica econômica da região amazônica em sua porção oriental.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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65

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

QUESTÃO 02

(Adaptado de: UFBA, 2004)

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO NOS CONTINENTES

CONTINENTE 1970/1975 1980/1985 1990/1995 2000/2005 2010/2015 África 2,56 2,86 2,81 2,56 2,37

Ásia 2,27 1,89 1,64 1,38 1,15

Europa 0,80 0,38 0,15 0,00 -0,06

América Latina 2,44 2,11 1,84 1,50 1,20

América do Norte 1,10 0,93 1,05 0,81 0,78

Oceania 2,09 1,50 1,54 1,31 1,18

FONTE: FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Com base na tabela e nos conhecimentos sobre populações e espaço geográfico, é cor-

reto afirmar:

I. A atual taxa de crescimento da população mundial é maior nos países mais pobres do

mundo subdesenvolvido, concentrados na África, na América Latina e na Ásia, sendo que

neste último continente se encontra a maior parte da população mundial.

II. Os elementos fundamentais da dinâmica populacional são a fecundidade e a imigra-

ção, sendo o aumento acentuado do número médio de filhos, por mulher, o fator determinan-

te do crescimento da população brasileira a partir dos anos 80 do século XX.

III. A população da América do Sul, entre as décadas de 70 e 80, do século XX, viveu

pressionada pela presença de ditaduras militares em vários de seus países, o que levou ao de-

saparecimento de milhares de cidadãos, vítimas de perseguição política.

IV. O crescimento demográfico da Europa é semelhante ao da América Latina, enquan-

to a Oceania se aproxima do crescimento populacional da África.

V. A população da maioria dos países desenvolvidos da Europa, entre 2000 e 2005, pas-

sará a apresentar um crescimento vegetativo de 0% e, como peculiaridade, deverá ter predo-

minância de adultos e idosos em sua estrutura etária.

VI. Os países da América Anglo-Saxônica estão com sua população praticamente estável

e, graças à imigração, apresentam taxas de crescimento próximas de 1% ao ano, as maiores

entre as nações desenvolvidas do mundo.

Dentre as afirmativas acima, quais as corretas?

a) I, II, IV, V.

b) II, IV, V, VI.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

c) I, III, V, VI.

d) III, IV, V, VI.

e) II, III, V, VI.

QUESTÃO 03

(UEM, 2006)

Analise as pirâmides etárias a seguir e responda às questões propostas.

a) O que é pirâmide etária ou de idades?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

b) O que as pirâmides apresentadas acima revelam a respeito da dinâmica demográfica

brasileira?

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___________________________________________________________________________

c) Qual a importância das pirâmides etárias para os órgãos públicos e para as empresas

de planejamento?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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67

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

QUESTÃO 04

(UNICAMP, 2008)

Com base nos mapas apresentados a seguir:

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

a) Analise a informação representada em cada mapa, considerando a situação da China

e da Coreia do Sul;

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

b) Justifique as diferenças encontradas na comparação entre as informações representa-

das em cada mapa.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

QUESTÃO 05

(UNIMONTES, 2008)

Analise os gráficos.

ESTIMATIVAS DA POPULAÇÃO

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69

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Sobre o assunto abordado nos gráficos, assinale a alternativa CORRETA.

a) Os maiores índices de crescimento populacional ocorrerão em regiões onde predo-

minam países em desenvolvimento e países menos desenvolvidos.

b) O crescimento da população europeia tende a aumentar ainda mais em decorrência

do incentivo à natalidade e da redução da fiscalização contra a imigração.

c) A América Latina apresenta indicadores de crescimento populacional semelhantes

aos dos países europeus.

d) O crescimento populacional na África pode ser explicado pela melhoria das condi-

ções de vida no continente, acompanhado do desenvolvimento sustentável.

CONSTRUINDO CONHECIMENTO

Geografia em Questão

MAFALDA, QUINO.

a) Qual diferenciação podemos fazer em relação a desemprego estrutural e conjuntural

na atualidade?

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___________________________________________________________________________

b) Quem será que mais sofre com o dedo da economia internacional apontado?

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70

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Cinema, Literatura, Artes e a Geografia da População

Os Gritos do Silêncio

Baseado em fatos reais, o filme dirigido por Rolland Joffé (1984) apresenta através da vi-

são do personagem principal Sidney Schaberg (Sam Waterson), jornalista do “New York Ti-

mes”, a guerra local que dizimou muitas vítimas com as ações do Khmer Vermelho, retornan-

do depois ao local das reportagens em busca de seu amigo cambojano, que foi seu intérprete

durante a tomada da capital Phnom Penh, o jornalista Dith Pran (Haing S. Ngor).

Notícias Sobre População

População brasileira chegará a 204,3 milhões em 2030

(Fonte: site do Ipea, 07/10/2008)

O terceiro volume da série "Pnad - 2007: Primeiras análises", divulgado nesta terça-feira

(07/10), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que a população brasi-

leira atingirá, em 2030, um contingente de aproximadamente 204,3 milhões de pessoas.

Segundo a coordenadora do Grupo Técnico de População e Cidadania do Ipea, Ana

Amélia Camarano, "é esperado ainda que, em 2035, a taxa seja menor, atingindo 200,1 mi-

lhões". Ela explicou também que a mudança mais importante ocorrida nos últimos anos foi o

envelhecimento populacional. "Em 1992, a população menor de 15 anos era responsável por

33,8% da população total, já em 2007 passou a constituir apenas 25,2%".

Camarano revelou que o grupo populacional que mais cresce, desde o ano 2000, é aque-

le formado por pessoas maiores de 30 anos. "Já é uma estrutura superenvelhecida, parecida

com o Japão de hoje", apontou. Ela ressaltou que a população idosa, que respondia por 7,9%

da população brasileira, aumentou para 10,6%. E que o número de pessoas em idade ativa

também aumentou a sua participação, tendo passado de 58,3% para 64,2%.

A coordenadora destacou ainda o aumento da proporção de famílias chefiadas por mu-

lheres. "Em 1992, as mulheres colaboravam com 30,1% da renda, já em 2007, a participação

saltou para 39,8%", declarou. O fato, segundo ela, deve-se ao aumento da participação femini-

na no mercado de trabalho, já que as mulheres também passaram a contribuir mais na renda

familiar.

Fecundidade

De acordo com a coordenadora, a taxa de fecundidade continua caindo. A média, em

2007, era de 1,8 filho/mulher - o que implica na desaceleração do ritmo de crescimento da

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

população brasileira. Na década de 60, a média era de seis filhos. Para Camarano, isso provo-

cará uma diminuição da população a partir de 2030, apresentando uma taxa de envelhecimen-

to semelhante à de países da Europa Ocidental, Rússia e Japão.

Ela ressaltou que a maior taxa de filhos por mulher foi identificada na Região Norte, 2,4

filhos/mulher, resultado diferente do de 1992, quando o maior índice era de 3,4, registrado

pela Região Nordeste. Já a região Sudeste registrou, em 2007, a menor taxa de fecundidade, 1,7

filho, muito próximo ao valor observado para a Região Sul.

A queda da fecundidade ocorreu em todos os grupos de idades, mas foi menos intensa

entre as mulheres de 15 a 19 anos. "Na verdade, a tendência foi de aumento até o final da dé-

cada passada. Desde 2000, esse processo foi revertido. Em 1992, para cada mil adolescentes,

havia 91 filhos nascidos vivos. Em 2007, esta taxa se reduziu a 70 filhos por mil jovens", com-

pletou a pesquisadora.

Taxa de fecundidade total por regiões (filhos/mulher). Brasil, 1992 e 2007

1992 2007

Norte 3,32 2,31

Nordeste 3,58 2,08

Sudeste 2,35 1,59

Sul 2,60 1,67

Centro-oeste 2,53 2,01

Brasil 2,8 1,83

Afazeres domésticos: desigualdades entre homens e mulheres

Segundo a coordenadora da área de Igualdade de Gênero do Ipea, Natália Fontoura, o

tempo que as mulheres dedicam aos afazeres domésticos é significativamente maior do que

aquele dedicado pelos homens, independentemente da condição na família (chefe ou cônju-

ge), da escolaridade, da renda ou da condição de ocupação (ocupado, desocupado ou inativo).

Fontoura salientou que, em 2007, 50,5% dos homens ocupados cuidavam de afazeres domésti-

cos, contrapostos a 89,6% das mulheres ocupadas.

"Tomando-se como foco as famílias formadas por casais com filhos, observa-se que os

homens, que nessas famílias estão na posição de chefe, dedicam 10,05 horas semanais aos afa-

zeres domésticos. Poderia se esperar que os homens na posição de cônjuge ocupassem mais

tempo da sua semana nessas atividades: de fato ocupam, mas na média não ultrapassa 10,44

horas semanais".

De acordo com a pesquisadora, comparando as mulheres chefes ocupadas com os ho-

mens cônjuges desocupados, os dados confirmam a desigualdade. "As primeiras dedicam em

média 9 horas a mais por semana aos afazeres domésticos, mesmo trabalhando fora de casa e

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72

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

sendo identificadas como responsáveis pela família, do que os últimos, mesmo desemprega-

dos", advertiu.

A coordenadora disse ainda ser possível supor que uma parte significativa do tempo de-

dicado aos afazeres domésticos seja relativa ao cuidado dos filhos. E completou: "Os dados

permitem inferir, ainda, que, mais uma vez, são as mulheres que respondem majoritariamente

por essa tarefa. Apesar de a Pnad não levantar essa informação, ao se contraporem as médias

de horas semanais gastas com afazeres domésticos pelas mulheres brasileiras em geral e pelas

mulheres que integram famílias do tipo 'casal com filhos', percebemos que nestas o tempo

dedicado às tarefas domésticas é sempre maior".

Estes dados fazem parte do terceiro volume da série "Pnad - 2007: Primeiras análises",

que trata sobre demografia e gênero. O segundo da série abordou mercado de trabalho, traba-

lho infantil e Previdência; e o primeiro, pobreza, desigualdade e a nova estratificação social.

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2 POPULAÇÃO DO MUNDO E DO BRASIL:

CULTURA, HISTÓRIA E FLUXOS MIGRATÓRIOS NO ESPAÇO

BLOCO TEMÁTICO

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75

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

POPULAÇÃO DO MUNDO E DO BRASIL: CULTURA, HISTÓRIA E FLUXOS

MIGRATÓRIOS NO ESPAÇO

2.1 TEMA 3. APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO E MOBILIDADES NO BRASIL E NO MUNDO

2.1.1 CONTEÚDO 1. FATORES DA DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO

FIGURA 38

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76

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

São denominados os fatores de distribuição da população, os elementos que atraem ou

obrigam os grupos populacionais a se mobilizarem sobre o espaço e a ocupar determinada

área em detrimento de outros, se configurando na realidade dos povoamentos atuais. Como

observado no capítulo anterior, esse fatores se modificam dentro da relação espaço-tempo e

da apropriação dos grupos sociais sobre determinado espaço, caracterizando desta forma as

áreas em espaços ditos ecúmenos e anecúmenos.

Os fatores que preponderavam nos primórdios dos tempos eram os elementos ambien-

tais sobre os sociais. As sociedades viviam sobre as condições de coleta e de caça em determi-

nados espaços, fazendo com que os povos primitivos se mobilizassem a todo o momento so-

bre os espaços em busca de meios para subsistirem.

Esses mesmo fatores, aliados às condições do terreno, à hidrografia e ao clima, eram de-

terminantes na localização das grandes civilizações e de suas cidades-estados. Temos nesse

contexto a civilização egípcia e o Rio Nilo, a Mesopotâmia e os rios Tigre e Eufrates, além do

Rio Amarelo na China (BLAINEY, 2007). Na Europa, nos vales de alguns rios importantes

como o Danúbio, o Reno, o Tâmisa e o Ruhr ,se formaram importantes cidades.

Na Cordilheira dos Andes encontrava-se grande parte das civilizações ameríndias, em

menores grupos, tribos povoavam todo o litoral brasileiro, ou se localizavam próximo dos rios

em áreas de vegetações mais densas. Todos esses lugares apropriados por pequenos grupos ou

civilizações tinham um motivo de ser ocupado, fosse por acessibilidade de mais alimentos

e/ou água em abundância, ou para se proteger de outros grupos.

Com a acessibilidade a novas técnicas áreas anteriormente somente apropriadas em de-

terminados períodos devido à mobilidade de grupos nômades, pontos de passagem ou mesmo

vazios demográficos atualmente passam a ser ocupados ou conhecidos, a exemplo dos grandes

desertos (quentes ou gelados), charcos, áreas densamente vegetadas, dentre outros.

Becker (1997) inicia uma importante discussão para a Geografia da População na atuali-

dade sobre a atração de determinados locais em relação a outros, quando discute que prepon-

dera na atualidade a obrigação dos fatores econômicos, forçando as populações a migrarem

sobre o espaço, não sendo mera decisão do migrante ou por vontade própria. O mesmo pode

ser transposto sobre as áreas já ocupadas, onde partes das populações se concentram.

Cada vez mais observamos nos espaços onde passamos nas cidades do mundo subde-

senvolvidos a formação de áreas que segregam a população, sendo que em muitas cidades

quando estas se apresentam como enclaves são maquiadas por muros, outdoors e outros re-

cursos, sendo tão corriqueiro que pouco nos importamos com esses espaços e com a popula-

ção que vive neles tendo como destaque o que Simmel (1976) chamou de atitude blasé metro-

politana, que acompanha a nossa sociedade urbana e dita moderna.

Quando isso não ocorre, as pessoas que têm maior poder aquisitivo acabam se segre-

gando em condomínios fechados, como ocorre no Brasil, onde cada vez mais esses espaços

Page 77: 2 - Geografia da População.pdf

77

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

adquirem mais serviços para que a população pouco tenha contato com outros serviços, ou

mesmo a fuga das grandes cidades para a periferia, como vem ocorrendo nos Estados Unidos.

Assim concorda-se com a autora tanto nas questões sobre migrações como sobre a per-

manência que a economia prepondera sobre os fatores de distribuição da população sobre os

espaços. É claro que outros fatores podem fazer com que determinada população ocupe ou

não outros espaços, como guerras, ocupações de áreas por grupos sociais ou mesmo fatores

culturais, como as religiões. .

2.1.2 CONTEÚDO 2. MOBILIDADES ESPACIAIS NO MUNDO

A mobilidade espacial das populações sobre o espaço ocorre desce os primórdios do

tempo, estudos recentes demonstram que os primeiros hominídeos saíram do continente afri-

cano e povoaram o restante do mundo, neste período predominava o nomadismo até que as

técnicas agrícolas e a criação de animais tornaram-se possível pela acessibilidade por parte

destes grupos populacionais.

Com as atividades comerciais e de conquistas de territórios, as migrações voltaram a se

fortalecer. Na literatura encontramos narrações sobre as viagens de Marco Pólo, constantes

guerras e conquistas dos gregos, romanos e mongóis, assim mais que espaços para permanên-

cia, as constantes migrações se davam como áreas a serem conquistadas e subordinadas, seja

pela ordem territorial restrita, seja pelas relações comerciais a serem empregadas entre territó-

rios.

Durantes as grandes navegações e no imperialismo, variadas nações europeias domina-

ram o chamado Novo Mundo, as Américas, territórios da África foram repartidos e áreas e

países do continente asiático foram expropriados dos seus povos para apropriação dos coloni-

zadores europeus.

A colonização europeia trouxe sérios problemas às populações locais, no caso da popu-

lação ameríndia muitos foram dizimados, como na conquista do oeste americano, na tomada

de terra dos guaranis, ou do litoral e sertão brasileiro, o mesmo pode-se dizer das ilhas caribe-

nhas, que atualmente apresentam em maior número a população negra, descendente de escra-

vos, onde todo um grupo social foi dizimado quando não utilizados como escravos ou não

cooperavam com a Coroa de suas respectivas metrópoles.

No caso do continente africano, grupos rivais se digladiavam na luta por território e

vendiam os grupos étnicos que perdiam essa batalha, forçados a migrarem para o Novo Mun-

do e escravizados fortaleceram a economia das metrópoles, destituídos de sua terra e de cultu-

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78

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

ra, forçando-os a (re)valorizar e se (re)apropriar dos valores e culturas locais, desta forma re-

sistindo aos ditames da realidade imposta.

Após a Revolução Industrial, as migrações aumentaram para as Américas, principal-

mente para os Estados Unidos, assim ingleses e irlandeses inicialmente e posteriormente itali-

anos, espanhóis e alemães ocuparam os países recém-formados, o mesmo ocorrendo com os

japoneses. O estímulo à migração por parte do governo dos países citados para as Américas se

dava por conta das mazelas sociais em que as populações pobres passavam. Neste caso desti-

navam-se grupos sociais tanto para o sul como para o norte, e nos outros grupos que busca-

vam investir nos países principalmente nas antigas 13 colônias e na invasão do oeste america-

no, para muitos denominada de conquista, apesar de ser uma área povoada por grupos

indígenas, que pagaram com a vida pelo fato de ocupá-las, em ambos os casos os imigrantes

buscavam fazer a América (FAUSTO, 1999).

FIGURA 39 - IMAGEM COMEMORATIVA AOS 100 ANOS DE IMIGRAÇÃO JAPONESA AO BRASIL. FONTE: HTTP://4.BP.BLOGSPOT.COM/_26-DSECB5RE/

SGIUDGBLOZI/AAAAAAAAA1Y/C6YCSEPIYRC/S400/BRA-JAP_INT.JPG

Neste período se fortaleceram as migrações para povoamento de áreas consideradas

como vazios demográficos por uma vasta literatura como o Canadá e a Argentina, apesar de

esta última abrigar diversos grupos indígenas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ocorreu a chamada fuga de cérebros, principal-

mente dos países atingidos pela guerra para a nova potência mundial, os Estados Unidos da

América. O mesmo ocorreu posteriormente com trabalhadores que exerciam outras funções,

como os matemáticos indianos. Na atualidade, as empresas optam por financiar pesquisas nos

países de origem dos profissionais, utilizando-se de uma mão de obra capacitada e mais bara-

ta, diferentemente do que ocorria com as migrações, onde os salários deveriam ser equipara-

dos com os dos trabalhadores locais.

Scarlato (2005) apresenta uma importante consideração sobre a emigração na atualidade

quando considera esta proveniente principalmente dos fatores de distribuição e acessibilidade

a determinados recursos dos meramente naturais, ou seja, melhor seria se o debate fosse esta-

belecido na relação pobreza/riqueza - população:

Mais do que um problema de superpopulação, a emigração é produto da má

distribuição de recursos. Também é falso alegar que as calamidades naturais

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79

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

são as causas. Dificilmente as regiões atingidas por estes fenômenos, quando

localizadas em regiões ricas, expulsam suas populações. A sociedade civil lo-

cal e o Estado, fortemente organizados, mobilizam recursos para socorrer as

vítimas e para garantir-lhes a possibilidade de recuperar os prejuízos. Por-

tanto, a natureza tem, nessas circunstâncias, um peso relativo (SCARLATO,

2005, p. 397-398).

Segundo a ONU, 175 milhões de pessoas se encontram fora do país em que nasceram,

correspondendo a 2,5% de toda a população mundial. Deste número, cerca de 60% vivem nos

países desenvolvidos, sendo de 2,5 milhões de refugiados. Os Estados Unidos da América são

o país que mais recebe imigrantes em todo o mundo, em sua maioria latinos (CASTRO, 1994).

Outros lugares com forte convergência de migrantes são do continente africano para o

europeu e de inúmeras partes da Ásia para os Estados Unidos, Europa, Japão, Austrália e No-

va Zelândia. Somente os Estados Unidos e a Europa estima-se que recebem cerca de 2 mi-

lhões de emigrantes por ano. No caso da Europa, grande parte dos migrantes é proveniente

das antigas colônias europeias, facilitando aí o acesso à língua, desta forma temos um forte

número de imigrantes brasileiros em Portugal; para a França o destaque são os norte-

africanos, provenientes do Magreb: Argélia, Marrocos e Tunísia; no Reino Unido indiano,

paquistaneses e jamaicanos.

Ainda na Europa há uma forte migração da África Subsaariana para a Península Ibérica,

Península Itálica e Bélgica; e dos Bálcãs e da Europa Centro-Oriental para as nações mais ricas

da União Europeia: Inglaterra, França e Alemanha.

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO DE ALGUNS PAÍSES SEM IMIGRANTES E

COM IMIGRANTES (2000 a 2050)

PAÍS POP.

2000 *

POP. 2050 SEM A ENTRADA

DE NOVOS IMIGRANTES*

POP. 2050

COM IMIGRAÇÃO *

EUA 285 287 409

Alemanha 82 64 79

Canadá 31 27 39

Austrália 19 19 26

Reino Unido 59 54 66

Arábia Saudita 22 50 55

Japão 127 106 110

Espanha 41 33 37

França 59 61 64

Rússia 146 98 101

Kuwait 2 3 5

FONTE: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, WORLD ECOMIC AND SOCIAL SURVEY, 2004.*EM MILHÕES DE HABITANTES.

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80

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

No mínimo cerca de 30% da população migrante encontra-se em situação ilegal nos paí-

ses. Para combater essa situação, várias decisões foram tomadas nos diversos países do mun-

do. Com relação à fronteira do México e dos Estados Unidos, é pauta do governo estaduni-

dense criar um muro para separar toda a zona fronteiriça entre esses dois países. Além da

prisão e deportação de imigrantes ilegais no país, ocorre também uma maior fiscalização nos

aeroportos, principalmente de descendentes de árabes, após os conflitos contra Iraque e o Ta-

libã e a queda das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque.

Na Inglaterra, para combater a ilegalidade, sancionou-se uma lei em que os estudantes

devem ter no máximo 10 horas semanais de carga horária se conseguirem um emprego. Bus-

ca-se diminuir o número de migrantes que tinham os serviços educacionais como desculpa

para entrada no país e ingresso no mercado de trabalho no Reino Unido. É recorrente nos

jornais as horas esperadas por parte de grupos de turistas ou migrantes, e deportações, mesmo

que estes estejam em situação ilegal em países da União Europeia, como noticiado na impren-

sa internacional sobre grupos brasileiros que se destinavam à Espanha. Na China, os coreanos

apanhados são enviados de volta à Coréia do Norte, sofrendo severas punições neste país.

Alguns países como o Canadá e a Austrália buscam atrair imigrantes que possam ofere-

cer mão de obra qualificada ou que buscam os serviços educacionais destes países. Um dos

problemas recorrentes relacionados às migrações são os grupos xenófobos que se formam, a

exemplo dos skinheads na Alemanha ou mesmo o preconceito nos Estados Unidos contra os

latinos.

Um movimento migratório interessante na atualidade é o aumento das imigrações de-

nominadas sul-sul, que representam quase a metade das migrações do planeta. São decorren-

tes do surgimento de enclaves de prosperidade entre os países pobres. Anteriormente esses

países eram apenas a escala para acessibilidade aos países desenvolvidos, tornando-se agora o

destino final. No Marrocos, por exemplo, há um aumento de migrantes da África Subsaariana

que desistiram de migrar via estreito de Gibraltar para a Europa e se fixaram em território

marroquino.

Na América Latina ocorre a migração para a Venezuela de peruanos, equatorianos e co-

lombianos, além de haitianos, que buscam atravessar a fronteira para a República Dominica-

na. Cerca de 11% da população, correspondente a 1 milhão de haitianos, vive em território

dominicano. Em território brasileiro é fácil perceber o aumento de migrantes paraguaios e

bolivianos.

Segundo relatório realizado pelo Banco Mundial (Bird), estima-se que, em 2005, 78 mi-

lhões do total de 191 milhões, ou seja, de cada cinco imigrantes dois residem em países em

desenvolvimento, ou que estão melhorando as condições de vida; no caso deste tipo de migra-

ção, 80% dos movimentos se dão entre países com fronteiras contíguas.

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81

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

FIGURA 40 - FONTE: HTTP://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/FOLHA/DINHEIRO/ IMAGES/20030627-BAY_BAY_BRASIL.GIF

Estima-se que nas próximas décadas as migrações se destacarão, principalmente, para os

países ricos provenientes do México, da China, da Índia, das Filipinas e da Indonésia. Devido

a essa situação, países como os Estados Unidos, o Canadá, o Japão, a Austrália e as nações que

compõem o bloco econômico da União Europeia tomam medidas restritivas, adotando tam-

bém políticas de seleção de grupos de refugiados e de parentes de imigrantes já estabelecidos,

evitando desta forma grupos de imigrantes com mão de obra desqualificada.

2.1.3 CONTEÚDO 3. REFUGIADOS AMBIENTAIS, ÉTNICOS, CIVIS E OS DESPLAZADOS

FIGURA 41 - FONTE: BLOGVISAO.FILES.WORDPRESS.COM/ .../REFUGIADOS.JPG

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Entre os grupos de migrantes que mais crescem na atualidade encontram-se os refugia-

dos aqui caracterizados pelos grupos expulsos dos seus países (externa) ou regiões (interna) de

origem temporária ou definitiva por questões étnico-culturais, civis ou ambientais, denomi-

nados de não cidadãos – os desplazados, este último grupo assim considerado por não poder

participar das decisões políticas do país de destino, por não terem garantido os seus direitos

na constituição internacional, desde quando a Convenção de Genebra só reconhece como

refugiados os grupos forçados a migrar devido às causas políticas e raciais.

O que agrava ainda mais a situação dos refugiados ambientais, considerados como des-

plazados, é que este grupo cresce na atualidade devido ao aumento dos problemas decorren-

tes, para muito estudiosos, do aumento da temperatura na Terra. Mas não só este fato aumen-

ta o número de refugiados ambientais. Dentre as principais causas podemos citar:

• Degradação da área cultivável que aumenta o processo de desertificação, diminuin-

do assim as áreas agropastoris. Encontram-se neste processo áreas agrícolas do con-tinente africano e da América Latina. Na Nigéria, por exemplo, a cada ano 2000 km²

de terras se transformam em áreas desérticas.

• Desastres ambientais como a ocorrida em Chernobyl, com a contaminação por urâ-

nio em uma vasta área atualmente inabitada.

• Destruição do ambiente pela guerra, a exemplo da introdução de minas em áreas

anteriormente agriculturáveis, como ocorre em território afegão e angolano.

• Deslocamento involuntário na forma de reassentamento devido a guerras, como os

campos de refugiados, ou como ocorre em algumas intervenções no ambiente, a e-

xemplo da criação de barragens.

• Mudanças climáticas, mais divulgadas pela mídia, devido ao aumento do nível das águas oceânicas, devastando atualmente algumas ilhas do Pacífico, como ocorre no

Kiribati. As áreas de maior risco são as zonas costeiras em particular Bangladesh, i-

lhas do Pacífico e o Mediterrâneo.

As Ilhas Maldivas, por exemplo, com 85% do território ameaçado, apresentam cerca de

300 mil refugiados. Na Guiana Francesa a previsão é que 600 mil pessoas estejam na condição

de refugiados ambientais nos próximos anos.

Em outro polo encontramos a seca extrema, afetando 2% do planeta. O deserto de Gobi,

na China, avança sobre 3 províncias chinesas extremamente populosas, podendo causar pro-

blemas de extensões catastróficas.

Diferentemente dos outros imigrantes, os refugiados, com destaque para os refugiados

ambientais e de guerras em sua maioria, migram para garantir a sua sobrevivência, sendo em

sua maioria compostos por idosos, crianças e a população do sexo feminino compondo as

classes de renda mais baixa, sendo que o local de destino é buscado para subsistir e não para

melhorar de vida.

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83

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Para melhorar os problemas atuais se faz necessário inicialmente reconhecer como refu-

giados aqueles que sofrem com os problemas ambientais, decorrentes da ação humana em sua

totalidade sobre o ambiente, aplicando o direito a estabelecidos pelos fóruns internacionais

para os refugiados civis e políticos tanto para os refugiados ambientais como para os refugia-

dos internos, como também planejar e aplicar políticas mitigadoras sobre as causas dessas

migrações forçadas.

2.1.4 CONTEÚDO 4. BRASIL, MOBILIDADES E FORMAÇÃO TERRITORIAL

FIGURA 42 - FONTE: 2.BP.BLOGSPOT.COM/_ FVMMTGX9XF0/SP6ZAB5SWVI/AA

Antes da chegada dos portugueses, o vasto território brasileiro já era ocupado por cerca

de 5 milhões de índios, que se apropriavam tanto dos espaços litorâneos como dos espaços do

interior. Esses grupos sociais poderiam ser distinguidos pela classificação linguística de cada

povo. Os tupis-guaranis, que ocupavam o litoral e parte da Amazônia central, foram os que

mais sofreram com a colonização (invasão) portuguesa. Por terem o primeiro contato, foram

dizimados em guerras de resistência à escravidão e por doenças trazidas pelos portugueses.

Os que conseguiram fugir para o interior com o tempo foram aniquilados pela ação dos

bandeirantes sertanistas, ocorrendo o mesmo com os jês, que ocupavam um vasto território

entre o cerrado e a caatinga. Esses grupos se articulavam e guerreavam entre si na luta por

conquista de território, sendo que não podemos considerá-los como civilizações, porque

mesmo que estes participassem de um mesmo grupo linguístico preponderava o núcleo tribal

ao qual pertenciam.

Até pouco tempo registros históricos da ocupação dos índios sobre este vasto território

estavam pontuados na paisagem litorânea e interiorana com os sítios arqueológicos e suas

pinturas rupestres e os sambaquis:

Page 84: 2 - Geografia da População.pdf

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

A arqueologia dos litorais brasileiros tem, nos sambaquis, os seus sítios mais

célebres. Sambaquis, como se sabe, são colinas de conchas de moluscos, res-

tos e sobras alimentares, depositados num mesmo lugar, por antigos povos

mariscadores, que viviam em nossa atual fachada atlântica. Mas a verdade é

que só conhecemos os sambaquis mais recentes. O nível do mar subiu (e não

foi pouco, de acordo com os cientistas) nos últimos quinze mil anos, de mo-

do que os sambaquis mais antigos se encontram, hoje, sob as águas. Samba-

quis submersos. Monumentos subaquáticos de remotos mundos ameríndios,

que também naufragaram. Restando-nos somente, portanto, os sambaquis

mais recentes. Os que têm oito a seis mil anos (RISÉRIO, 2004, p. 21).

No início do processo de colonização (século XVI), portugueses e índios estabeleciam

relações comerciais através do escambo em áreas pontuais do Nordeste brasileiro principal-

mente, trocando pau-brasil e madeira de lei por outros produtos, para serem levados à Euro-

pa, estabelecendo como apresentado por Costa (1988, p. 27) “poucas e frágeis bases de seu

domínio, representadas por algumas feitorias, na verdade pequenos e dispersos entrepostos de

escambo e comercialização do pau-brasil”, além do envio de degredados como forma de puni-

ção ou de primeiro contato com os índios.

FIGURA 43 - FONTE: HTTP://STATIC.BLOGSTORAGE. HI-PI.COM/SPACEBLOG.COM.BR/T/TU/TURMA/

IMAGES/MN/1244327320.JPG

Em 1530 se estabelece a primeira expedição colonizadora portuguesa, devido às incur-

sões de outros povos europeus, como os franceses e holandeses, ao território brasileiro. Im-

pôs-se também o sistema de capitanias hereditárias respeitando os limites do Tratado de Tor-

desilhas, sendo que só duas prosperaram (São Vicente e Pernambuco), por conta da falta de

investimentos, das dimensões gigantescas, que impedia uma fiscalização eficaz, e dos constan-

tes ataques indígenas.

Assim, em 1549 as capitanias foram extintas, criando-se o Governo Geral, a estes foi

dado poder de distribuição de terras a quem o solicitasse e comprovasse condições de explorá-

las, monopolizando desta forma a concessão de terras, fiscalizando melhor o comércio externo

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85

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

e os impostos a ser recebidos pela Coroa Portuguesa. Estabeleceu-se inicialmente a agricultura

extensiva, utilizando prioritariamente da monocultura açucareira e da criação de gado bovino

em áreas também extensas.

Neste período os confrontos e as alianças entre índios e portugueses se fortaleceram, fa-

zendo com que grande parte migrasse para o interior do território brasileiro, fugindo do es-

cravismo imposto pelos colonizadores, morreram por conta das novas doenças, ou acultura-

dos através da ação jesuítica no chamado Novo Mundo.

Como o aprisionamento dos índios era mais difícil, pois conheciam melhor o território

brasileiro, concomitante à ação das bandeiras na caça e escravização dos indígenas, um novo

grupo populacional foi trazido para praticar a atividade agrícola em solo brasileiro. Estima-se

que cerca de 4 milhões de negros foram trazidos do continente africano e escravizados nas

lavouras de cana-de-açúcar. Essa atividade se fortaleceu com a criação da carta régia, sancio-

nada sobre forte pressão dos jesuítas, mas mesmo assim muitas vezes desrespeitada, onde estes

só poderiam ser aprisionados por “guerras justas”, aumentando assim o tráfico de escravos

africanos financiados principalmente pelos holandeses (BECKER, 1998).

Inicialmente, o povoamento do território brasileiro se deu ao longo do litoral. Os fatores

de interiorização são a catequização dos índios nos aldeamentos jesuítas, as bandeiras em bus-

ca de índios para a escravização, das drogas do sertão e minérios e em maior escala, no início

da colonização, a criação de gado bovino e da agricultura de subsistência em novas áreas como

atividade secundária a atividade canavieira.

Os principais núcleos de povoamento e atividades econômicas encontram-se espaciali-

zados na figura abaixo. Estes espaços estavam conectados principalmente à metrópole portu-

guesa, se configurando como verdadeiras ilhas isoladas, em muitos lugares articulados pela

navegação de cabotagem que interligavam os engenhos localizados nas bordas marítimas co-

mo ocorria na Baía de Todos os Santos.

A atividade canavieira se fortaleceu também em Pernambuco com a presença dos ho-

landeses, tornando-se no século XVII até a expulsão destes o maior produtor de açúcar do

mundo.

Outras frentes migratórias se destacavam na ocupação do planalto mineiro, de Goiás e

Mato Grosso devido à atividade de mineração, fazendo com que grande parte da população

migrasse para esta região, principalmente do nordeste e planalto paulista, fortalecendo ainda

mais o porto de Santos como importante local de comércio do país.

No século XIX, o fim da escravidão no Brasil culminou em novas frentes de migração,

proveniente principalmente de países da Europa e do Japão, para trabalhar nas lavouras de

café, além de migrações internas. As migrações externas destes países se inserem no território

brasileiro devido às políticas de atração de migrantes europeus, configurando-se para muitos

estudiosos numa política de branqueamento.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

FIGURA 44 - FONTE: ATLAS HISTÓRICO ESCOLAR. RIO DE JANEIRO: FAE, 1991

FIGURA 45 - FONTE: ATLAS HISTÓRICO ESCOLAR. RIO DE JANEIRO: FAE, 1991

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

A atividade cafeeira proporcionou o crescimento das vias de ligação entre o interior

paulista, o litoral e o Rio de Janeiro, onde se modernizaram os portos de Santos e do Rio de

Janeiro, interligando esses espaços ao mercado externo. As riquezas geradas pela agricultura

do café não só proporcionaram um aumento das redes viárias, mas também a industrialização

desses estados em detrimento do outros. Isto refletiu no aumento considerável do contingente

populacional para o sudeste do país, muitas vezes alimentado por problemas sócio-

ambientais, como o flagelo da seca agravado pelas condições de vida das populações locais e a

concentração de renda por parte das elites locais.

FIGURA 46 - FONTE: HTTP://4.BP.BLOGSPOT.COM/_EPJIFGIP98A/ R5LEGIGMPOI/AAAAAAAAK7E/KJUPQDBG7SA/S400/PORTINARI.JPG

A imagem abaixo reflete essas configurações, apresentadas por Santos e Silveira (2002),

pelo isolacionismo dentro do território como o Brasil arquipélago, apesar de alguns lugares já

terem uma importante rede de cidades, entre eles o Recôncavo Baiano e o interior paulista.

FIGURA 47 - FONTE: ATLAS HISTÓRICO ESCOLAR. RIO DE JANEIRO: FAE, 1991

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Entre os grupos de imigrantes estrangeiros destacam-se:

Portugueses – De caráter prioritariamente urbano em meados do século XIX, tendo

preferência pelos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, principais centros econômicos do

período, estabelecendo-se em atividades comerciais, inicialmente de modo itinerante como

caixeiro viajantes e posteriormente se estabelecendo em armazéns de secos e molhados em

vários espaços do país.

Espanhóis – A maioria, proveniente da Galícia, se estabeleceu em território brasileiro

no século XIX. Eles tinham também como preferência de destino as principais cidades nos

estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. Os dois grupos se fazem presentes

nestas cidades, estabelecendo contato principalmente através de clubes destinados aos descen-

dentes destas nacionalidades.

Alemães – Estabeleceram-se inicialmente no vale do Rio dos Sinos, se fixando obrigato-

riamente em lotes de colonização, estabelecendo-se desta forma em colônias de povoamento e

tendo por base a agricultura familiar. A arquitetura e a cultura alemã encontram-se presentes

no sul do país, entre estas podem-se citar: Joinville, Novo Hamburgo e Marechal Cândido

Rondon.

Italianos – Começaram a se estabelecer no final do século XIX, expulsos por conta dos

problemas sociais acarretados com a industrialização da Itália, caracterizados pelas diferenças

entre o norte (industrializado) e o sul (agrário) da Itália. Em São Paulo, substituíram a mão de

obra escrava nas fazendas de café; no sul do país deram origem às cidades de Bento Gonçalves,

Garibaldi e Duque de Caxias, desenvolvendo a cultura da uva e da produção de vinho.

Japoneses – Também ocupados inicialmente com a cultura do café, os primeiros colo-

nos desembarcaram em São Paulo no início do século XX. Na Amazônia introduziram a cul-

tura da juta e da pimenta do reino.

FIGURA 48 – IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL. FONTE: HTTP://WWW.GEOGRAFIAPARATODOS.COM.BR

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89

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Durante o final do século XIX e início do século XX, para o espaço amazônico acometia-

se um grande fluxo migratório de nordestinos em busca de empregos nos seringais durante o

primeiro ciclo da borracha (1870-1912).. Posteriormente declinou, devido à diminuição das

vendas deste produto, por conta da concorrência com os seringais no sudeste asiático.

Entre 1942 e 1945, com a Segunda Guerra Mundial, o produto volta a ganhar poder de

compra, resultando em uma nova leva de imigrantes para a área. Na década de 70 há um au-

mento da população, migrante destinando-se à agropecuária, à mineração e à construção de

rodovias de integração.

Na década de 1950, devido à explosão demográfica ocorrida em 1940, a fronteira agríco-

la se expande para a região do Brasil. Como política estatal, o governo brasileiro dava subsí-

dios para a produção de alimentos, acarretando um maior povoamento desta região.

Os fluxos migratórios se diversificam para o Centro-Oeste e Norte, principalmente após

a década de 50. No Centro, o marco foi o início da construção de Brasília em 1957, atraindo

populações de áreas rurais de vários pontos do Brasil, como assinalado por Becker (1997),

concomitante ao êxodo rural para as grandes metrópoles, com destaque para São Paulo.

Na atualidade, os fluxos se diferenciam bastante. As grandes cidades continuam a atrair

populações, mas é importante considerar os espaços agrícolas e o crescimento das populações

em cidades médias do território brasileiro. Espaços antes despovoados, como o cerrado e a

caatinga, passam a ser pontos de atração de imigrantes devido às atividades ligadas à agroin-

dústria. O mapa de densidade demográfica demonstra as opções por povoamento no Brasil.

FIGURA 49

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

MAPA CONCEITUAL

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

RESUMO

Neste capítulo optou-se por aprofundar, nas questões relacionadas à mobilidade espacial

da população, as migrações de uma forma transescalar, pontuando as migrações no Brasil e no

mundo, sem necessariamente rotulá-las em uma única tipologia ou enquadrá-las em espaciali-

zações diferenciadas.

No primeiro momento, foram retomados os debates sobre os fatores de localização das

populações, agora discutidos pelo viés das migrações. Tendo com principais indagações:

O que faz a população buscar se estabelecer em um determinado território em detri-

mento de outro?

Como esses espaços se diferenciaram dentro da relação espaço-tempo?

Quais os principais elementos de atração, para a mobilidade e permanência dos migran-

tes sobre o espaço na atualidade?

Daí com maior profundidade discutiu-se sobre as migrações em uma escala mundial,

desde os seus primórdios, com o nomadismo e a sedentarização, até as migrações na atualida-

de, destacando os principais destinos migratórios e regiões de emigração, bem como as dife-

renciações destes movimentos na atualidade.

Como capítulo subsequente, procurou-se pensar sobre questões não tão debatidas na se-

ara dos estudos populacionais, no que diz respeito às migrações forçadas, interna e externa-

mente, correspondente aos refugiados, dando ênfase aos chamados refugiados ambientais, que

na atualidade são categorizados como os “desplazados” ou não cidadãos.

Sobre os movimentos migratórios no Brasil, buscou-se discussão não dissociada entre as

migrações internas e externas aliadas à questão do povoamento do território brasileiro, tão

cara a nossos estudos. Pois, em maior parte das fontes essas aparecem descontextualizadas,

como realidades desconexas, sendo que ambas coexistiram e coexistem também na atualidade,

configurando movimentos migratórios que se relacionam com a ação do capital sobre o espa-

ço mundial e brasileiro.

ESTUDOS DE CASO

Todos os dias é um vai e vem

A vida se repete na estação

Tem gente que veio pra ficar

Tem gente que vai e nunca mais

Tem gente que vem e quer voltar

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93

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Tem gente que vem e quer ficar

Tem gente que veio só olhar

Tem gente a sorrir e a chorar

(Encontros e despedidas, Milton Nascimento e Fernando Brant)

Em um artigo publicado nesta quarta-feira (11/2) no NYT, cujo título é "The Open-Door

Bailout" (algo como O pacote das portas abertas, em uma tradução livre), Friedman afirma

que o que transformou os Estados Unidos no país mais rico do mundo foi uma fórmula sim-

ples. "Não foi o protecionismo, ou os bancos públicos, ou o medo do livre comércio. Não. A

fórmula foi muito simples: criar uma economia realmente aberta, realmente flexível, tolerante,

cuja destruição criativa permite que o capital morto seja rapidamente reempregado em me-

lhores ideias e companhias, plena dos mais diversos, inteligentes e enérgicos imigrantes de

todas as partes do mundo" (Portal Exame, 2009).

a) Quais os tipos de migração podemos observar em ambos os textos e em qual contexto

estão inseridas?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

b) Como ficam os países que investem em formação de sua população e, posteriormen-

te, estes são atraídos para os países ricos?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

c) Quais políticas você implementaria se fosse o presidente de um país onde grande par-

te da população capacitada está migrando?

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Questões do ENADE, adaptadas do ENADE ou similares.

QUESTÃO 01

(UERJ, 2009)

As políticas imigratórias recentes dos países europeus têm alterado as relações entre o

Brasil e os membros da União Europeia, com desdobramentos inclusive no campo diplomáti-

co.

Um fator que gerou o aumento de controle sobre os imigrantes brasileiros foi a integra-

ção do País à rede de:

a) espiões industriais.

b) trabalhadores ilegais.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

c) refugiados ambientais.

d) ativistas fundamentalistas.

QUESTÃO 02

(UEMS, 2008)

“Países tipicamente de imigração até a primeira metade do século XX, como o Brasil, no

mesmo ritmo com que suas economias entraram em crise, tornaram-se países de emigração.

Pela observação dos fluxos migratórios no mundo contemporâneo, fica evidente a relação

crise-expansão econômica, com países mais pobres exportando força de trabalho para países

mais ricos, seja nas chamadas ‘semiperiferias’ – com Argentina e Brasil exportando para peru-

anos e bolivianos, Nigéria e África do Sul para outros países africanos e os países do Golfo

para indianos e paquistaneses – seja nos países centrais, como magrebinos na França, turcos

na Alemanha e latino-americanos na Espanha.”

(HAESBAERT, Rogério e PORTO-GONÇALVES, Carlos W. A nova des-ordem mundi-

al. São Paulo: Ed. da UNESP, 2006)

A respeito da problemática exposta no texto, é correto afirmar que:

a) os movimentos migratórios, na atualidade, caracterizam-se pela diminuição dos pre-

conceitos e tensões étnico-culturais se comparados àqueles ocorridos nos séculos XVIII e XIX.

b) os migrantes das chamadas periferias que se dirigem aos países centrais mais ricos,

geralmente, encontram reações preconceituosas e mesmo xenófobas.

c) as crises econômicas e produtivas ocorridas nos países centrais, nos últimos anos,

provocaram a mudança de direção dos fluxos migratórios em sentido Norte-Sul.

d) os Estados Unidos possuem políticas de abertura aos imigrantes, por isso recebem

anualmente um grande número de mexicanos e latino-americanos de forma geral.

e) os fluxos migratórios ocorridos atualmente são mais intensos no sentido Norte-Sul,

ou seja, do centro para a periferia.

QUESTÃO 03

(UESC, 2009)

Sobre as migrações ocorridas no Brasil, ao longo de sua história, é correto afirmar:

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

a) A região que, atualmente, apresenta o mais forte movimento de evasão populacional é

a Centro-Oeste, em função da estagnação econômica e da precariedade da estrutura viária.

b) Os movimentos migratórios têm provocado a inchação das pequenas e médias cida-

des, e a explosão demográfica é uma realidade.

c) A migração de retorno é um movimento de população relativamente novo e, no Nor-

deste, ela se acentuou na última década.

d) Os estados do Pará, do Acre e de Roraima, na Região Norte, apresentam saldo migra-

tório negativo, pois o esgotamento das reservas minerais fez desses estados áreas de repulsão

populacional.

e) O desenvolvimento da agricultura nordestina, a partir das culturas irrigadas, foi res-

ponsável pelo declínio do êxodo rural, porque a PEA passou a ser totalmente absorvida por

essa atividade.

QUESTÃO 04

(ENADE, 2009)

Analise as asserções a seguir.

No século XX, os anos 70, no Brasil, foram marcados pela modernização da agricultura,

influenciados pelo desenvolvimento do capitalismo agrário, pela expansão das fronteiras agrí-

colas para o Centro-Oeste e pela intensificação dos movimentos sociais no campo, porque

houve, nessa época, a inserção de tecnologias para a agricultura de precisão, ampliação do

acesso ao crédito agrícola e a forte mecanização em substituição à mão de obra tradicional.

Acerca dessas asserções, assinale a opção correta.

a) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta

da primeira.

b) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda não é uma justificativa

correta da primeira.

c) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição fal-

sa.

d) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadei-

ra.

e) As duas asserções são proposições falsas.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

QUESTÃO 05

(UNIMONTES, 2008)

Sobre o processo de migração e urbanização no Brasil, assinale a alternativa

INCORRETA.

a) A partir da década de 1990, há maior tendência de crescimento populacional das me-

trópoles globais.

b) As migrações e o processo de urbanização ocorriam, predominantemente, em escala

regional até a década de 1930.

c) As décadas de 1950 e 1980 marcam o intenso êxodo rural e a migração inter-regional

que provocaram um forte aumento da população metropolitana do Sudeste, Nordeste e Sul.

d) A concentração das atividades urbano-industriais na Região Sudeste, a partir da dé-

cada de 1930, provocou uma atração populacional de alcance nacional.

CONSTRUINDO CONHECIMENTO

Geografia em Questão

1) Que diferenciação podemos fazer em relação a desemprego estrutural e conjuntural

na atualidade?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2) Quem será que mais sofre com o dedo da economia internacional apontado?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Cinema, Literatura, Artes e a Geografia da População

Muito longe de casa: memórias de um menino-soldado

Uma obra-prima da literatura mundial, “Muito longe de casa: memórias de um menino-

soldado” poderia figurar entre as grandes narrativas da ficção se não fosse a experiência vivida

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

por Ishmael Beah, durante a guerra civil de Serra Leoa, obrigando-o enquanto criança a se

mobilizar por seu país, passando por diversas situações que estão longe de nossas vivências

cotidianas. De uma simples criança transformada em guerrilheiro selvagem para um menino

em busca da liberdade, esta encontrada como refugiado de guerra.

Notícias Sobre População

País pobre perde até 89% dos “cérebros”

Fonte: PNUD, 2009

Guiana, Haiti e Granada estão entre os locais nos quais mais de 80% dos que atingem o

nível superior se mudam para trabalhar no exterior:

Em Guiana, que faz fronteira com Roraima e Pará, de cada dez pessoas que terminam a

faculdade, nove deixam o país. Quadro semelhante foi constatado em Granada e na Jamaica

(8,5 em cada dez), no Haiti (8,4) e em pequenos países africanos e asiáticos, conforme aponta

o estudo “Fluxo de capacidade: uma reconsideração fundamental da mobilidade dos trabalha-

dores capacitados e o desenvolvimento”. O trabalho faz parte de uma série de pesquisas que

subsidiaram o RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano) de 2009, intitulado “Ultrapas-

sar barreiras: mobilidade e desenvolvimento humanos”.

O documento aponta que as nações menores e mais pobres são as que mais sofrem com

a fuga de cérebros. “Sabendo que esses países também concentram os piores índices educacio-

nais e o menor número de trabalhadores com nível superior, esse tipo de mão de obra está

deixando precisamente os lugares onde ela é mais escassa”, afirma o texto do pesquisador Mi-

chael A. Clemens. No total, elenca o estudioso, 81 países têm pelo menos 15% de seus cida-

dãos formados vivendo fora, e em 34 dessas nações a proporção supera um terço. O estudo foi

feito com dados de 2000 referentes a 173 países-membros da ONU.

A lógica verificada mundialmente se repete no interior de países de grande extensão,

como o Brasil. Cálculos feitos pelo pesquisador com base em dados do Censo de 2000 mos-

tram uma tendência de a população brasileira com nível superior deixar estados pequenos e

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

pobres, como o Acre e Piauí, e permanecer em populosos e ricos, como São Paulo e Rio de

Janeiro.

Uma das principais razões para esse movimento é o abismo salarial entre os países de-

senvolvidos e o restante. “Um desenvolvedor de software na Índia pode triplicar seus ganhos

reais ao mudar para os Estados Unidos; um médico da Costa do Marfim pode multiplicar seu

salário por seis se for trabalhar na França”, afirma o texto. Por ganho real entenda-se o salário

ajustado pela paridade do poder de compra, que elimina a diferença de custo de vida entre os

países.

O gráfico abaixo mostra alguns desses exemplos de disparidade de renda:

Outros fatores

A desigualdade salarial, entretanto, não é o único fator que contribui para que as pessoas

com maior instrução deixem países pobres. Conflitos armados, falhas nas instituições, corrup-

ção, condições de trabalho precárias, poucas oportunidades de se aprimorar profissionalmente

e repressão política também influenciam.

Para mostrar como a questão vai além do salário, Clemens deteve-se sobre o período de

maior fuga de cérebros de algumas nações. A análise mostra que na Etiópia, por exemplo, o

aumento da saída de formados coincidiu com a ascensão de uma junta militar marxista cha-

mada Derg (de 1974 a 1991), que antecedeu uma violenta guerra civil. De forma semelhante, a

fuga de cérebros cresceu na Libéria durante a ditadura de Samuel Doe (1980 a 1990) e o regi-

me violento de Charles Taylor (1997 a 2003). Uganda também registrou maior crescimento

durante instabilidades do governo na década de 80 e o Zimbábue a partir da crise econômica

no mandato de Robert Mugabe (no início da década de 90).

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Barreiras

O estudo afirma que se formou um consenso de que a fuga de pessoas com nível superi-

or tem papel prejudicial, particularmente na saúde. Agências da ONU como a UNCTAD

(Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) fizeram alertas nesse

sentido, e um dirigente da Associação Médica Britânica chegou a classificar a emigração de

profissionais da área como “estupro dos países mais pobres”. Um especialista chega a sugerir

que aqueles que recrutam profissionais de saúde desses países deveriam ser julgados por cri-

mes contra a humanidade.

Esse tipo de pensamento fez com que os britânicos durante muitos anos não divulgas-

sem vagas de trabalho para países em desenvolvimento e que a UNCTAD recomendasse que

políticas fossem criadas para reduzir esse fluxo, comenta Clemens. O trabalho do pesquisador,

entretanto, contesta a visão de que os profissionais mais capacitados de países pobres devem

ser controlados para não “fugirem”. Mesmo que não houvesse fluxo migratório, as nações em

desenvolvimento ainda sofreriam com a falta de profissionais de saúde, segundo estudos da

OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). “Essa e muitas

outras razões explicam o porquê de um maior número de médicos e enfermeiras que emigram

de um país africano não estar diretamente relacionado com menores índices de saúde daquela

nação”, afirma.

Outra das razões, segundo o texto, é que não há estudos que provem — e nada garante

— que, ficando no país, os especialistas vão se dedicar à população menos favorecida e mais

carente. “No Quênia, apenas 8,3% da população vive na capital Nairóbi, mas 65,8% dos médi-

cos estão concentrados lá. Em Moçambique, apenas 8% da população mora na capital Mapu-

to, que abriga 51% dos médicos do país”, argumenta.

Propostas

Clemens cita algumas boas práticas para combater as causas da fuga de cérebros. Entre

elas, está ampliar incentivos ou prêmios para melhorar a qualidade dos serviços e fazê-los che-

gar a regiões rurais. O autor cita pesquisas que mostram que gratificações de menos de 1%

sobre o salário já são suficientes para fazer com que médicos comecem a se mudar para locali-

dades rurais. Da mesma forma, pequenas gratificações por qualidade dos serviços melhorari-

am a situação da saúde ao mesmo tempo em que diminuiriam a opção por sair do país.

Outra ação tomada por alguns países que pode funcionar, diz o estudo, é proporcionar

bolsas de estudo e empréstimos para aqueles que querem estudar em centros universitários

fora do país, com a contrapartida de que, após a conclusão da faculdade, essas pessoas possam

pagar ao governo voltando e trabalhando no país de origem. Desburocratizar o exercício de

certas profissões e incentivar centros de excelência também pode ajudar.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

2.2 TEMA 4. GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO E EDUCAÇÃO

2.2.1 CONTEÚDO 1. MOVIMENTOS SOCIAIS E GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

FIGURA 50

Como ciência social a Geografia não deve estar dissociada da sociedade, dos seus movi-

mentos e grupos. No caso da Geografia da População, ramo da ciência geográfica que tem por

objetivo a análise dos fenômenos população em sua totalidade, e/ou dos grupos populacionais,

suas apropriações, mobilidades e conflitos, é primordial que essas análises sejam abordadas.

Desde quando é consenso na atualidade que as diversas escalas dos fenômenos geográficos

sejam estudados.

As abordagens se diferenciam de acordo com cada escola geográfica. Assim, os estudos

acadêmicos podem ser realizados desde os movimentos de classes e sociais até discussões liga-

das à cultura. Situações antes discutidas sob a luz da luta entre classes, proletariado-

campesinato/burguesia, adaptaram-se para os movimentos sociais de luta. Estes podem estar

relacionados à luta pela terra, pela moradia, por empregos, enfim, pela sobrevivência. A estes

movimentos se integram os movimentos sindicais e as organizações não governamentais

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

(ONGs). Em relação à Geografia Cultural, pode-se abordar questões relacionadas à cultura, às

religiões, aos grupos ditos tradicionais, às tribos urbanas e aos conflitos entre grupos rivais,

dentre outros.

Assim como Santos, concorda-se com Dalton e Thompson respectivamente

na definição de movimento social: “um setor significativo da população que

desenvolve e define incompatíveis com a ordem social e política existente e

que os persegue por vias não institucionalizadas” [...] trata-se de força social

coletiva organizada” (SANTOS, 2008, p. 09).

As discussões sobre os movimentos sociais, suas reivindicações e os grupos que deste

participam se fortaleceram com a crise do estado do bem-estar social e da sociedade industrial

na década de 70, decorrentes aos movimentos da classe média, implodindo em diversas ques-

tões, liberdade de expressão com o movimento hippie, por oportunidades entre sexos com o

movimento feminista e posteriormente aos grupos LGBTS (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Traves-

tis, Transexuais, Transgêneros e Simpatizantes), o movimento ambiental, racial, movimento

por direitos a exemplo dos idosos, especiais, da criança, dentre outros.

No Brasil muitos movimentos sociais de contestação surgiram durante a ditadura mili-

tar, com destaque neste período ao movimento estudantil e trabalhadores. Atualmente esses

movimentos giram em torno de questões relacionadas à terra, a imóveis e a oportunidades

igualitárias de acesso à educação, tendo destaque as conquistas de políticas afirmativas. Essa

gama de movimentos sociais é tratada na Geografia em variados ramos, dependendo da espa-

cialidade do fenômeno, como na Geografia Urbana, Agrária, Ambiental e Cultural, dentre

outras, tendo como ponto de partida a diferenciação dos grupos populacionais como objetivo

em comum.

Nas análises populacionais podem ser observados os conflitos estabelecidos sobre os es-

paços ocupados, usos e apropriações por parte de diferentes grupos, a exemplo das tribos ur-

banas, como punk (TURRA NETO, 2004), espaços de prostituição (SOUZA, 1995), apropria-

ção por grupos etários e de diferentes opções sexuais (COSTA, 2002; 2007; 2008).

FIGURA 51 - CAMPONESES EM MOVIMENTO DE LUTA PELA TERRA. FONTE: HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/_GAAGEMBREYY/STEG_IZPSLI/

AAAAAAAAC-I/J04LXRDMVWK/S400/MST1.JPG

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Ainda podem ser observados os movimentos populacionais motivados pelas religiões,

como as romarias para as cidades santas, como Meca, Jerusalém, Roma, e em um plano na-

cional para as variadas hierópolis (ROSENDAHL, 2002; 2009), como Aparecida do Norte,

Belém, Juazeiro do Norte, Bom Jesus da Lapa e suas periodicidades, além dos conflitos entre

grupos étnicos devido a questões religiosas como ocorre na Irlanda entre católicos e protes-

tantes, no Oriente Médio entre muçulmanos, judeus e cristãos, entre hindus e muçulmanos na

Índia, e mesmo a relação que algumas religiões estabelecem com o ambiente como ocorre com

o candomblé (SANTANA, 2004).

Os estudos populacionais em Geografia se enriquecem com os contatos estabelecidos

com outras ciências, a exemplo das análises realizadas principalmente pela antropologia, so-

ciologia nos estudos sobre grupos tradicionais, movimentos sociais e tribos urbanas e atual-

mente os turismólogos, que analisam diferentes formas de apropriação do espaço e as relações

entre visitantes, visitados e agentes, como demonstrado por Medeiros (2009).

Essas abordagens são tratadas principalmente a partir do enfoque cultural, na observa-

ção dos conflitos entre os diferentes grupos sociais, as formas de apropriação e usos do espaço

em estudos, as relações aí estabelecidas, o que compete à Geografia analisar.

No momento optou-se por discutir duas importantes relações entre geografia e movi-

mentos sociais. Mas como foram apresentadas estas não se fecham em si. A escolha se deu por

achar relevante trazer à tona a discussão do gênero e da Geografia e dos grupos sociais excluí-

dos, neste caso acredita-se que os mais marginalizados na sociedade e mesmo na ciência geo-

gráfica onde o debate demorou a acontecer são os grupos tradicionais, que agora foram lem-

brados por parte de políticas afirmativas.

2.2.2 CONTEÚDO 2. GÊNERO E GEOGRAFIA

As análises sobre as relações de gênero na Geografia agora tomam forma em sua totali-

dade, pois por muito tempo entendia-se o fazer Geografia e em especial o fazer a Geografia da

População como apenas contabilizar dados totalitários sobre determinada população, sem ao

menos qualificá-los, e quando estes eram feitos, no caso da estrutura etária, se reconhecia ape-

nas o número por sexo e idade, marginalizando outros estudos que poderiam ser levados em

consideração, como os grupos LGBT apresentados anteriormente.

Mesmo quando se tratava dos estudos sobre a relação entre capital e trabalho, poucas

vezes os debates incluíam a diferenciação entre as condições de trabalho e salariais estabeleci-

das na estrutura por sexo, muitas vezes pensados na ciência como abordagens puramente so-

ciológicas.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Se num estudo sobre dada população, a exemplo de coletoras de molúsculos (marisquei-

ras) ou de grande parte das famílias brasileiras, onde é expressivo o número de mães solteiras,

que trabalham fora e no ambiente familiar interno, como esses dados não podem ser retrata-

dos tanto na relação de emprego e renda como na forma e de apropriação e ação sobre o espa-

ço, sem ao menos serem qualificados, como demonstra Porto-Gonçalves (2006), a feminiza-

ção da pobreza e das responsabilidades sobre os filhos só tem crescido, tornando-se assim a

questão do gênero de fundamental importância para o entendimento do mundo presente.

Entender a totalidade, os dados brutos, sem analisar as partes que a compõem, com cer-

teza, não retrata a realidade, é como se estivéssemos observando um imagem de satélite em

uma grande escala cartográfica, onde pouco dá para se perceber os fenômenos espacializados

sobre o terreno.

Mesmo que esse grupo componha a maior parte da população, desde quando, como se

sabe, apesar do nascimento maior da população masculina, impera durante o período de vida

a população feminina, com maior expectativa de vida.

O mesmo ocorre com os grupos socialmente excluídos durante muito tempo por parte

da sociedade e das ciências. Espacializar os espaços ocupados pelos grupos GLBT, seus pro-

blemas, conflitos e preconceitos, é mostrar o quanto falta à sociedade o respeito aos direitos da

humanidade, pois não respeitar os outros é desrespeitar os direitos coletivos.

2.2.3 CONTEÚDO 3. GEOGRAFIA E GRUPOS TRADICIONAIS

FIGURA 52 - FONTE: HTTP://WWW.VIAGENSWOW.COM/ DESTINOS/AMAZONAS/MANAUS/IMG/INDIOS.JPG

Entre os grupos tradicionais no Brasil destacam-se dois grupos bastante marginalizados,

os grupos indígenas e os movimentos quilombolas. Os conflitos se dão principalmente pela

demarcação de suas terras e por acessibilidade a determinados serviços, principalmente dos

agrupamentos indígenas, como saúde e educação. Discutir essas questões é relevante na Geo-

grafia da População, pois esta trata tanto da totalidade quanto da especificidade dos grupos

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

populacionais. Lembrando-se que compõe a pauta do Ministério da Educação a análise desses

grupos marginalizados, motivando o respeito através da acessibilidade de suas histórias, suas

lutas, seus objetivos e direitos de permanecer sobre o seu território.

Após os 400 anos de espoliação dos índios, importantes conquistas e retrocessos ocorre-

ram durante o século XX. É importante ressaltar que a esses grupos se estimava no início da

colonização cerca de 2 milhões a 5 milhões de indígenas divididos entre diferentes agrupa-

mentos, sendo mortos pelos colonos através das guerras ou pelas doenças trazidas por estes.

Os grupos indígenas são conhecidos a partir dos grupos linguísticos de cada um, daí atual-

mente se falar em Tupi-Guarani, Cariri, Jê, Charrua, Tucano, Arauque e Caraíba, dentre ou-

tros, pela linguagem utilizada entre esses grupos, mas dentre desses agrupamentos existiam

diversas tribos, o que não os impedia de guerrear entre si e estabelecer a união entre algumas

tribos.

Dentre as políticas durante o século XX destacam-se a criação em 1910 do Serviço de

Proteção ao Índio, chefiado por Cândido Rondon, promovendo uma obra indigenista reco-

nhecida até pela UNESCO, se estendendo por quase todo o território nacional, sendo que em

1955 contabilizava 155 pontos de atendimento aos indígenas, demarcando terras, inclusive o

Parque do Xingu em Mato Grosso (1961), influenciando também a Constituição de 1934 com

a primeira inclusão de leis destinadas aos grupos indígenas.

Em 1945 o SPI foi extinto, devido a ações ilegais por parte de alguns funcionários, como

comprovado por estudos antropológicos com áreas de trabalho com regime semiescravo, com

indígenas trabalhando em madeireiras, apesar do trabalho realizado por pessoas como o Ma-

rechal Rondon e os irmãos Villas Boas.

Em substituição à SPI foi criada em 1967 a Funai (Fundação Nacional do Índio), res-

ponsável na atualidade por tratar das questões indígenas. Durante os anos de atuação sobre o

governo militar (1964-1985) as principais políticas adotadas foram integrar as regiões Norte e

Centro-Oeste ao restante do país, com a construção de usinas hidrelétricas e de rodovias (Cui-

abá-Santarém e Transamazônica), o povoamento destas áreas, com o estímulo à emigração de

famílias nordestinas, do Sul e Sudeste, mas por falta de empenho do governo com incentivos

de capitais não deram certo, mudando esta política para a atração de grandes empresas inter-

nacionais e estrangeiras (agropecuária, madeireiras e mineração), agravando ainda os proble-

mas relacionados à questão indígena, com a apropriação indevida de terras indígenas através

da invasão e expulsão destes, massacres devido aos conflitos com alguns agentes econômicos

como mineradores e madeireiros, dentre outros, destribalização, aumento da prostituição e a

morte por contato com doenças levadas pelos colonos.

Para a construção das vias de ligação e usinas hidrelétricas, de projetos agroindustriais,

de extração de minérios e madeireiras, a FUNAI permitiu a transferência de diversos grupos

indígenas de suas terras, sendo bastante contestada por lideranças indígenas no que diz respei-

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

to a demarcações, identificação e regularização de seus territórios. Os benefícios trazidos por

este órgão dizem respeito principalmente à oferta de serviços de saúde e assistência na defesa

de suas causas e direitos.

Trabalha também ajudando os índios o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ligado

à Igreja Católica do Brasil, atuando sobre os direitos pela terra, saúde e a denúncia de atos

praticados por FUNAI, fazendeiros e empresas que venham a prejudicar esses grupos. Há

também a atuação de ONGs brasileiras e internacionais em defesa da causa indigenista.

Pertencentes à União as terras demarcadas, só podem ser utilizadas pelos índios com o

registro de imóveis regularizados em documento oficial em cartório. Sendo este um dos gran-

des conflitos para os índios, a morosidade em que ocorre esse processo e a demarcação exata

dos limites territoriais, o que os faz pressionar o governo e a Funai em sua atuação.

A Constituição de 1988, em seu artigo 231, assim apresenta a definição sobre as terras

indígenas: “por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para as suas atividades

produtivas, as fundamentais para a preservação dos recursos ambientais necessários ao seu

bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo os seus costumes e tradi-

ções”.

FIGURA 53 - FONTE: HTTP://WWW.IBGE.GOV.BR/IBGETEEN/MAPAS/IMAGENS/TERRAS_INDIGENAS_GDE.GIF

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107

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Na atualidade, o Brasil tem apenas cerca de 500 mil índios (IBGE, 2006), representando

apenas 0,3% da população brasileira. Segundo a FUNAI, há 460 mil índios e ocupam 635 área

indígenas, representando 12% do território brasileiro, com cerca de 100 milhões de hectares,

divididos em cerca de 230 etnias e 55 grupos isolados, o que dificulta a informação sobre estes,

apresentado 180 línguas e 30 famílias linguísticas. As diferenças estabelecidas entre esses dois

estudos é que a FUNAI contabiliza apenas os índios que vivem em aldeias e o IBGE computa a

autodeclaração em seus censos. Estando presentes em quase todo o país, com exceção de Dis-

trito Federal, Piauí e Rio Grande do Norte, tendo maior concentração na Região Norte, com

17%, além dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Das 635 terras indígenas registradas pela FUNAI, em 2008, 421 estavam regularizadas.

Nestes territórios, de acordo com a Constituição de 1988, é direito dos grupos aprender sua

língua e reconhecer a sua história. Em 1999, segundo o Ministério da Educação (MEC), o nú-

mero de escolas era de 1,4 mil, contando com 4 mil professores, sendo que, destes, 75% eram

de origem indígena. Um dos grandes problemas para as populações indígenas diz respeito à

acessibilidade aos serviços de saúde, contribuindo para a disseminação de algumas doenças e

aumento no índice de alcoolismo e de suicídios entre os índios brasileiros. Ajudou a diminuir

a mortalidade infantil desses grupos a ação da FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), com a

instalação de 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas para atendimento médico-hospitalar,

ações preventivas desses grupos e investimentos em saneamento básico e na vacinação.

As comunidades quilombolas têm em comum a resistência e sobrevivência das comuni-

dades negras. Segundo a Fundação Palmares, existem cerca de mil comunidades quilombolas

no Brasil, sendo que a maior parte encontra-se nos estados da Bahia e do Maranhão, no Nor-

deste brasileiro. As referências mais antigas desses agrupamentos são do quilombo de Palma-

res.

A conquista pelos direitos à posse da terra por parte dos grupos quilombolas foi refe-

rendada na Constituição de 1988, bem como o tombamento de todas as reminiscências histó-

ricas de quilombos, mas somente em 1995 vem a ocorrer realmente o processo de legalização.

Em sua maioria, as comunidades quilombolas são formadas por dezenas de famílias, mas há a

ocorrência de milhares de habitantes, a exemplo quilombos urbanos.

Em sua maioria, há a ocorrência de quilombos em áreas isoladas, com a posse coletiva

da terra, a agricultura de subsistência e a criação de animais, como ocorre com as comunida-

des de fundo de pasto na Bahia, entrando em conflito com posseiros e outros grupos que bus-

cam invadir estas terras.

O critério para o reconhecimento de uma comunidade quilombola passou a ser a autoi-

dentificação em 2003, dispensando documentos que comprovem a posse ou a descendência de

escravos. Em 2009 foram regularizados territórios quilombolas em 14 estados brasileiros, con-

tabilizando o total de 30 áreas regularizadas.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

2.2.4 CONTEÚDO 4. ESTUDOS POPULACIONAIS E A PRÁTICA EM SALA DE AULA NO ENSINO MÉDIO E FUNDAMENTAL

FIGURA 54

Nos estudos geográficos sobre a população durante os diversos momentos da aprendi-

zagem devem-se levar em consideração diferentes práticas pedagógicas, buscando aproximar

o ensino da Geografia à Geografia Educadora, ou seja, aliar os conteúdos ao cotidiano do alu-

no, buscando construir o conteúdo conjuntamente e a formação de um sujeito crítico e refle-

xivo e autonomia do educando.

Assim, se ultrapassa a prática conteudista que reinou sobre o ensino geográfico durante

muito tempo. A abordagem deve ser realizada sobre uma ótica transescalar, fazendo correla-

ções entre espaços, referenciais dos educandos, estabelecendo relações de trocas e vivência

principalmente durante as séries iniciais do Ensino Fundamental, bem como na Educação

Infantil. Conceitos básicos sobre cidadania, sociedade, respeito são apreendidos assim na prá-

tica.

Procedimentos como a problematização – observação – registro – descrição – documen-

tação – representação – e pesquisa dos fenômenos sociais, culturais e/ou naturais que com-

põem a paisagem e o espaço geográfico devem ser levados em consideração. A prática pedagó-

gica deve estar embasada na observação, descrição, experimentação e sínteses como

demonstrado nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia. No caso do enfoque popu-

lacional na Geografia, pesquisas de campo com a realização de entrevistas no bairro, entre os

familiares e na comunidade escolar ajudam o estudante das séries iniciais a compreender os

espaços que o cercam.

Compete ao ensino da Geografia, em especial, as análises populacionais durante o pri-

meiro ciclo:

[...] reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos

sociais se apropriam da natureza e a transformam, identificando suas deter-

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109

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

minações nas relações de trabalho, nos hábitos cotidianos, nas formas de se

expressar e no lazer (PCNs, 2001, p. 131).

As escalas geográficas de análise durante o início dos estudos geográficos são o lugar e a

paisagem, ou seja, o espaço vivido e a observação que devem ser trabalhadas nos alunos, daí a

necessidade em se tratar de questões relacionadas ao cotidiano dos educandos. É importante

ressaltar que o cotidiano não está relacionado ao que está próximo ou à concretude dos obje-

tos. Com o auxílio da telemática pode-se acessar espaços não tão próximos assim. A troca de

experiências, o reconhecimento de novas culturas, as formas de apropriação do espaço, os

conflitos, os problemas e as soluções destes podem ser observados através da internet ou rela-

tados entre grupos materialmente distantes um do outro, que podem estar próximos através

do acesso ao cyber espaço.

Estratégias lúdicas também devem ser levadas em consideração. Trabalhando a corpo-

reidade dos alunos, noções de espaço sobre densidade demográfica podem ser mostradas em

sala de aula, fazendo inferências sobre outros espaços, como o urbano e o rural, indagando as

causas destas concentrações. O mesmo pode ser feito em relação à utilização da literatura e do

cinema como recursos para a contextualização e a dinamização das aulas.

Outro importante método de análise do espaço é a história oral, com acesso a morado-

res antigos da comunidade, além do auxílio de fotografias, imagens antigas que dão para com-

parar os diferentes modos de vida no espaço e no tempo. O mesmo pode ser feito com a com-

paração de imagens de grupos tradicionais, leituras de lendas e histórias desses grupos.

Nos últimos ciclos, as discussões sobre geopolítica, o mundo urbano e rural e os aspec-

tos da população mundial e brasileira se aprofundam. Assim, características sobre os modos

de vida dos diferentes lugares devem ser levados em conta, a observação do papel das tecnolo-

gias e seus usos sobre o espaço, a diferenciação dos espaços percebendo o desenvolvimento

desigual e combinado destes e os fatores de atração e repulsão populacional.

Mais que apontar formas corretas ou incorretas de práticas pedagógicas precisas, os Pa-

râmetros Curriculares nos fazem repensar as nossas práticas e atitudes em sala de aula. É ne-

cessário que a todo momento se troquem experiências e que o trabalho interdisciplinar seja

realizado. Pensando nessa possibilidade, aponta-se para algumas perspectivas de abordagens:

Proposta 1 – Leitura, produção e criação de histórias em quadrinhos

Inicialmente propõe-se à turma a observação e interpretação de imagens de histórias em

quadrinhos, para o desenvolvimento da capacidade de ler, interpretar e produzir um texto

dessa modalidade, conciliando os conteúdos geográficos e a transposição destes para uma a-

ção criativa de aprendizagem.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

As noções de paisagem urbana e rural dos grupos populacionais que fazem parte podem

ser contextualizadas com a observação e montagem de situação a ser abordada nas tirinhas. A

depender do grupo etário a se trabalhar com esse conteúdo, pode ser apresentada somente

uma tirinha em quadrinhos em vez da revista.

Na observação dos quadrinhos abaixo, por exemplo, podemos discutir questões relacio-

nadas à origem dos conflitos urbanos, questões raciais, segregação dos grupos sociais nos es-

paços urbanos, se adaptando assim aos diferentes ciclos.

FIGURA 55 – FONTE: HTTP://SFALCAO.NAFOTO.NET/. ACESSADO: 30 JUN. 2008

Para a interação dos alunos, as leituras podem ser feitas de forma coletiva, contextuali-

zando com os assuntos abordados em sala de aula, sendo que a socialização do material pro-

duzido também pode ser socializado com a turma. É importante ressaltar que a história deve

ser construída sobre o ambiente que trate do tema. O mesmo pode ser dito sobre a construção

dos personagens.

Outra discussão pode ser promovida com a charge abaixo, refletindo sobre o papel dos

órgãos públicos, da família, do Estado e da religião sobre a sociedade.

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111

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

FIGURA 56

Após a observação, poderia se discutir a relação entre cidadãos e consumidores e o nos-

so papel na sociedade atual, podendo tanto abrir uma aula ou ser uma atividade de reflexão.

Proposta 2 – Painel com o tema população e diversidade

Proponha a seus alunos que pesquisem sobre grupos sociais durante um determinado

período de tempo, sendo que a cada semana uma equipe ficará responsável pela confecção e

exposição do material coletado, podendo ser abordados temas como sociedades tradicionais,

modos de vida urbano e rural, tribos urbanas, grupos indígenas, quilombolas, grupos étnicos

no mundo. Enfim, esse recurso, se bem utilizado, pode auxiliar na compreensão dos conteú-

dos trabalhados em sala de aula.

Proposta 3 – Sarau literário

Nesta proposta poderiam ser apresentados livros que representem a diversidade cultural

brasileira, envolvendo diversas turmas da escola e temas a serem discutidos. Uma proposta

interessante a ser trabalhada nas séries iniciais do Ensino Fundamental é sobre as lendas brasi-

leiras, que podem ser tratadas por regiões, dialogando assim com a Geografia Regional.

Proposta 4 – Leitura interpretação e análise de imagens

A partir da utilização de fotografias ou imagens, podem-se contextualizar as aulas, pois

fotografias antigas nos revelam os modos de vida pretéritos da população que habitava o local

estudado. O mesmo pode ser feito em relação ao espaço rural e urbano. Nessa proposta utili-

zamos pinturas de Tarsila do Amaral para contextualizar a discussão sobre população urbana

e rural e a paisagem nas quais estão inseridas.

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112

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

FIGURA 57 - 'PAISAGEM COM TOURO'-1925 ÓLEO/TELA 52 X 65CM. ASSIN: "TARSILA" COL. PARTICULAR. FONTE: HTTP://WWW.TARSILADO

AMARAL.COM.BR/INDEX_FRAME.HTM. ACESSADO: 30 JUN. 2008

FIGURA 58 - 'OPERÁRIOS'-1933 ÓLEO/TELA 150 X 205CM, ASSIN.:"TARSILA 1933" COL. DO GOV. DO ESTADO DE SÃO PAULO. FONTE: HTTP://WWW.TARSILADOAMARAL.

COM.BR/INDEX_FRAME.HTM. ACESSADO: 30 JUN. 2008

Das obras pode-se contextualizar tanto as paisagens, os grupos humanos que pertencem

a esses espaços e as relações que são estabelecidas como discutir as densidades demográficas

entre esses dois espaços e os modos de vida, dentre outros temas.

Proposta 5 – Censo escolar

Para esta proposta, o grupo pode lançar algumas questões a serem pesquisadas na esco-

la. Para tanto será necessária a construção de questionários, que posteriormente poderão ser

tabulados, para a confecção de gráficos.

Este trabalho poderá ajudar também a comunidade a sanar alguns problemas do ambi-

ente escolar, como também direcionar as aulas dos professores para as dificuldades dos alu-

nos, identificando as dificuldades e opções didáticas.

É importante que no final da atividade os alunos tenham acesso às propostas traçadas a

partir do levantamento das informações, dando assim uma maior compreensão sobre o papel

do recenseamento para o planejamento.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

MAPA CONCEITUAL

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

RESUMO

Foram apresentadas outras formas de entender os estudos populacionais na atualidade

neste capítulo, compete à própria ciência essa aproximação com os debates atuais, e como as

discussões apresentadas estão no bojo das questões sociais e de determinados grupos popula-

cionais, diferenciados por objetivos e lutas em comum, buscou-se levantar as questões que

podem e devem ser debatidas no ambiente escolar.

Daí a denominação Geografia da População e Educação. O capítulo final engloba os te-

mas anteriores e os vindouros, porque se sabe que a forma como se trata os conteúdos, a busca

pela competência e autonomia se dá no dia a dia que ultrapassam o saber formal, ocorrendo

no cotidiano das relações sociais.

Assim, objetivou-se dialogar neste capítulo sobre experiências e práticas que se dão não

somente em sala de aula, mas também na vivência dos alunos. A procura pelo lúdico e pela

aproximação dos conteúdos ao cotidiano dos alunos ocorre desta forma, através do diálogo

aberto e do experenciar cotidiano a prática pedagógica.

Como um livro aberto fica o convite para reescrevê-lo a todo o momento, com as vivên-

cias e práticas realizadas na vida acadêmica e fora da sala de aula. Atitudes como a compreen-

são dos direitos e o respeito ao direito alheio devem acontecer em todos os momentos de nos-

sa vida, pois como sabemos, apesar de a Geografia da População estudar o coletivo dos grupos

humanos, estes têm suas individualidades e escolhas, formando grupos, estabelecendo assim

uma forte relação dialética entre individualidade e coletividade, que devem ser vividas e res-

peitadas.

ESTUDOS DE CASO

Adeilda, professora de Geografia, trabalha em uma escola rural no interior do Mara-

nhão. Ela se sente agraciada pela experiência de trabalhar com grupos multiétnicos, pois a

escola atende tanto a comunidades tradicionais, como índios e moradores de comunidades

quilombolas, quanto a grupos de comunidades rurais. Mas ela presencia muitas vezes que e-

ducandos se isolam em seus grupos sem estabelecer contatos, sem interagirem entre si, ou que

ocorrem brincadeiras de mau gosto, como se apelidarem com denominações pejorativas, dire-

cionadas aos grupos aos quais pertencem os educandos.

1) Que iniciativa a professora deve tomar em relação aos problemas apresentados na

turma e na escola?

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

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2) Como os conteúdos sobre a Geografia da População podem contribuir para levantar a

discussão sobre o caso apresentado? Se possível, monte um plano de aula identificando as a-

ções destinadas a solucionar a problemática.

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3) De que modo as discussões sobre as questões ligadas aos quilombolas e aos indígenas

podem ser tratadas no ambiente escolar?

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EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Questões do ENADE, adaptadas do ENADE ou similares.

QUESTÃO 01

(ENADE, 2009)

Direitos Humanos em Questão

O caráter universalizante dos direitos do homem [...] não é da ordem do saber teórico,

mas do operatório ou prático: eles são invocados para agir, desde o princípio, em qualquer

situação dada.

François JULIEN, filósofo e sociólogo.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

Neste ano, em que são comemorados os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos

Humanos, novas perspectivas e concepções incorporam-se à agenda pública brasileira. Uma

das novas perspectivas em foco é a visão mais integrada dos direitos econômicos, sociais, civis,

políticos e, mais recentemente, ambientais, ou seja, trata-se da integralidade ou indivisibilida-

de dos direitos humanos. Dentre as novas concepções de direitos, destacam-se:

• a habitação como moradia digna e não apenas como necessidade de abrigo e prote-

ção;

• a segurança como bem-estar e não apenas como necessidade de vigilância e puni-

ção;

• o trabalho como ação para a vida e não apenas como necessidade de emprego e ren-

da.

Tendo em vista o exposto acima, selecione uma das concepções destacadas e esclareça

por que ela representa um avanço para o exercício pleno da cidadania, na perspectiva da inte-

gralidade dos direitos humanos.

Seu texto deve ter entre 8 e 10 linhas.

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QUESTÃO 02

(ENADE, 2009)

Mediante o Decreto Presidencial Nº 040/2007, o governo brasileiro instituiu a Política

Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, que, no

inciso I do seu art. 3º, assim caracteriza esses povos e comunidades tradicionais:

Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem for-

mas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como

condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando co-

nhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.

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117

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

A política acima referida inclui, entre os princípios que a norteiam,

I. o reconhecimento e a consolidação dos direitos dos povos e comunidades tradicionais.

II. a articulação e integração com o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutri-

cional.

III. a preservação dos direitos culturais, o exercício de práticas comunitárias, a memória

cultural e a identidade racial e étnica.

IV. a articulação com o Plano Nacional de Desenvolvimento Agrário e o Plano Nacional

de Recursos Hídricos.

Estão certos apenas os itens:

a) I e II.

b) I e III.

c) III e IV.

d) I, II e III.

e) II, III e IV.

QUESTÃO 03

(ENADE, 2009)

Com relação à atual dinâmica de organização espacial no campo, que tem sido conside-

rada pelo Estado não só a partir da delimitação do território, mas, principalmente, pela real

utilização deste, assinale a opção incorreta.

a) As comunidades dos faxinais tiveram o seu reconhecimento oficial em 1997, no esta-

do do Paraná, com a aprovação do Decreto Estadual Nº 446, mas, somente em 2005, passaram

a fazer parte da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradi-

cionais.

b) O reconhecimento de direitos específicos das comunidades quilombolas é algo relati-

vamente recente no Brasil, tendo lhes sido reconhecida, pela Constituição Federal de 1988, a

propriedade definitiva da terra que ocupavam, devendo o Estado, a partir de então, emitir-lhes

os respectivos títulos de posse.

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

c) Além do Brasil, países como Colômbia, Equador, Suriname, Nicarágua, Honduras e

Belize possuem comunidades de afrodescendentes que se identificam como grupos étnicos e

reivindicam seus direitos. Em todos esses países, tais comunidades já obtiveram o reconheci-

mento legal de seus direitos e a titulação de suas terras.

d) Historicamente, a formação das comunidades caiçaras só pode ser entendida no con-

texto da ocupação do litoral brasileiro e dos ciclos econômicos vividos pelas regiões Sul e Su-

deste. O caráter predominantemente agrícola fez que as terras férteis, úmidas e quentes das

baixadas fossem as mais ocupadas.

e) As comunidades tradicionais convivem com a biodiversidade e são capazes de nome-

ar e classificar as espécies vivas segundo suas próprias categorias e nomes. Exemplo desses

saberes é a medicina popular brasileira como herança legada pelos índios.

QUESTÃO 04

(UNIMONTES, 2008)

Observe a charge.

JORNAL GAZETA DO POVO, 5-8-2008

A charge sobre a Amazônia critica a situação de:

a) degradação da Amazônia brasileira e preservação da Amazônia internacional.

b) exclusão da população indígena das áreas de mineração.

c) ocupação da Amazônia por parte de estrangeiros.

d) conflito entre os índios e os fazendeiros brasileiros.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

QUESTÃO 05

(UFAP, 2008)

Gráfico 2 – Anos de estudo das populações de negros e brancos em seis regiões metro-

politanas do Brasil – 2004.

FONTE: PESQUISA MENSAL DE EMPREGO (MARÇO DE 2004) IBGE

(01) Dados como os representados nos gráficos têm sido interpretados por setores do

movimento negro brasileiro como um dos motivos para a adoção de políticas de cotas, princi-

palmente no setor educacional.

(02) A diferença no tempo de estudo entre a população de brancos e de negros se refleti-

rá inversamente no percentual de seu rendimento e diretamente na desigualdade sócio-

espacial expressa na paisagem dos centros urbanos brasileiros.

(04) Pelo gráfico 2, pode-se afirmar que as políticas raciais, que se implantam no país

por força de lei, têm contribuído para aumentar o percentual de acesso de negros nas escolas e

universidades, o que eleva sua participação no mercado de trabalho, competindo em condi-

ções de igualdade com o branco.

(08) A luta contra as desigualdades raciais não é apenas uma questão de reconhecimento

de direitos, mas também de luta por condições dignas de vida, trabalho e educação. Por cons-

tituir parcela relevante da população brasileira, é grande o percentual de negros que ingressam

nas universidades, como se pode inferir do gráfico 2.

CONSTRUINDO CONHECIMENTO

Geografia em Questão

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120

ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

FONTE: FONTANABLOG.BLOGSPOT.COM/2008_06_01_ARCHIVE.HTML

Todo dia era dia de índio

Baby Consuelo

Curumim chama cunhãtã que eu vou contar

Todo dia era dia de índio

Curumim, cunhãtã

Cunhãtã, curumim

Antes que o homem aqui chegasse

As terras brasileiras

Eram habitadas e amadas

Por mais de três milhões de índios

Proprietários felizes

Da terra brasilis

Pois, todo dia era dia de índio

Mas agora eles só têm o dia 19 de abril

Amantes da natureza

Eles são incapazes, com certeza

De maltratar uma fêmea

Ou de poluir o rio e o mar

Preservando o equilíbrio ecológico

Da terra, fauna e flora

Pois em sua glória o índio

Era o exemplo puro e perfeito

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121

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Próximo da harmonia, da fraternidade, da alegria

Da alegria de viver

E, no entanto hoje o seu canto triste

É o lamento de uma raça que já foi muito feliz

Pois antigamente

Todo dia era dia de índio...

Cinema, Literatura, Artes e a Geografia da População

Atlas

No Atlas das representações literárias de regiões brasileiras estão identificadas e repre-

sentadas, com a utilização de mapas em diferentes escalas, imagens de satélite e fotos, diferen-

tes obras da Literatura brasileira apresentadas em suas respectivas regiões identificando as

paisagens e aspectos marcantes da trama. No primeiro são apresentados a Campanha Gaúcha,

Colônias, Vale do Itajaí e Norte do Paraná, expressas na literatura de Veríssimo, Martins, Lo-

pes Neto, dentre outros importantes romancistas.

Notícias Sobre População

Racismo Ambiental e Sociedades de Remanescentes Quilombolas

(*) Maria Bernadete Lopes da Silva

Uma questão que tem alterado o ritmo de vida das populações negras e indígenas em

todo o Brasil refere-se a uma nova especificidade do racismo, denominado então como "ra-

cismo ambiental". Tal prática é uma flagrante evidência da hierarquização social estruturada a

partir dos valores econômicos e políticos e das relações sócio-ambientais que se pautam a par-

tir destas hierarquizações que ignoram o verdadeiro valor de sociedades e populações e, em

muitos casos, a humanidade de grupos sociais, que se tornam conjuntos indesejáveis diante de

questões que apresentam um caráter ambiental que, pretensamente, seria de interesse de uma

parcela mais relevante da sociedade. Para que nosso pensamento possa ser melhor esclarecido,

torna-se necessário, a princípio, conceituar o termo "racismo ambiental":

"Pode-se definir como sendo a colocação intencional de lixeiras perigosas, aterros sani-

tários, incineradoras, indústrias poluidoras etc. em comunidades habitadas por minorias étni-

cas ou pelas camadas mais desfavorecidas economicamente da população. Estas comunidades

são particularmente vulneráveis, porque são vistas como não reivindicativas, sem poder de

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

negociação e fracas politicamente devido a sua enorme dependência dos empregos e ao medo

pela própria sobrevivência econômica".

A percepção de um grupo social, econômico ou político como superior a outros, portan-

to capaz de determinar ações que se revelem prejudiciais ou mesmo catastróficas a sociedades

incapazes de exercer seus direitos de defesa, reivindicação e cidadania, constitui-se na face

mais evidente do racismo ambiental. Estes procedimentos são comumente percebidos em

questões que revelem procedimentos vinculados a questões ambientais e, normalmente, têm

uma face oculta muitas vezes despercebida, mas de proporções evidentemente nefastas, que na

maioria das vezes recaem sobre populações etnicamente diferenciadas da sociedade dominan-

te.

O racismo ambiental estrutura-se a partir da preexistência do racismo tradicional, mui-

tas vezes entranhado em sociedades que não se percebem como racistas, mas que cultivam

valores de superioridade/inferioridade sociais, claramente definidos a partir de quesitos como

cor, etnicidade, cultura e renda. Sociedades como a brasileira, de formação senhorial e escra-

vocrata, guardam notável tendência à sobrevivência deste tipo de mentalidade e, tratando-se

de questões ambientais, podemos observar que a preocupação com os valores preservacionis-

tas e ambientalistas muitas vezes ignoram populações etnicamente diferenciadas, que se tor-

nam alvo de políticas discriminatórias e excludentes em prol do que se convenciona ser um

bem maior ou um benefício a uma parcela mais expressiva da sociedade. Este procedimento

pode ser evidente no caso da criação e instalação de áreas de reservas naturais, na criação de

aterros sanitários, definição de áreas para indústrias poluentes, instalação de lixeiras munici-

pais e outros.

A criação de áreas de proteção ambiental merece especial reflexão em nossas considera-

ções, pois afeta de forma significativa a vida de diversas populações, normalmente diferencia-

das por cor, cultura e tradições. Sem negar a importância da criação, ampliação e manutenção

de nossas reservas ambientais e áreas de proteção à biodiversidade, questionamos, a princípio,

os procedimentos adotados para a sua criação e instalação, bem como a forma como se con-

duz a sua administração. Em inúmeras comunidades de remanescentes quilombolas espalha-

das pelo país, temos observado constantes confrontos entre as entidades ligadas à preservação

ambiental e as populações locais. Trata-se de um confronto de proporções absolutamente de-

siguais, uma vez que, de um lado, encontramos populações historicamente marginalizadas e

excluídas de todos os benefícios da cidadania e, de outro, encontramos os agentes representa-

tivos do Estado Nacional e das elites sociais. Neste artigo pretenderemos discutir a questão das

comunidades remanescentes quilombolas do Vale do Guaporé em Rondônia, especificamente

a comunidade de Santo Antônio do Guaporé.

Santo Antônio do Guaporé é uma pequena comunidade de negros situada no sudoeste

do Estado de Rondônia, na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, atualmente pertencente ao mu-

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123

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

nicípio de São Francisco do Guaporé. A comunidade existe desde o século XVIII, quando os

governos coloniais, preocupados com a extração do ouro e com a guarda fronteiriça, levaram

para a região consideráveis contingentes de negros para trabalhar nas minerações e nas obras

públicas, como a construção do Forte Príncipe da Beira e da cidade de Vila Bela da Santíssima

Trindade. No início do século XIX as elites brancas, empobrecidas pela escassez da mineração

aurífera, abandonaram a região, deixando para trás seus escravos. Durante o século XIX as

populações negras do Guaporé reordenaram seus espaços, relações socioeconômicas e cultu-

rais, reinventando-se a si mesmas e constituindo-se como sociedades etnicamente diferencia-

das e de matrizes quilombolas, uma vez que a maioria destas populações forma-se a partir do

desmantelamento de quilombos locais como o Quariterê, Mutuca e Joaquim Teles. Tratando-

se especificamente de Santo Antônio do Guaporé, a comunidade formou-se por negros que

fugiram das obras do Forte Príncipe da Beira, dos remanescentes do Quariterê e de fugitivos

diversos de propriedades locais, além de negros que migraram de Vila Bela, Casalvasco e ou-

tras localidades em busca de sobrevivência em áreas de mais difícil acesso e, posteriormente,

em uma região de grande prosperidade em função da produção de borracha e de poaia.

A comunidade sobreviveu em situação de isolamento até os dias atuais. Só é possível

chegar a Santo Antônio após uma prolongada viagem de barco. Entretanto, os mapas dos fi-

nais do século XIX e da primeira metade do século XX apresentam a comunidade como uma

próspera área de produção extrativista. A população local chegou a beirar os quatrocentos

moradores, o que para os padrões regionais é considerável. Contudo, em 1982, o IBDF, atu-

almente IBAMA, criou a Reserva Biológica do Guaporé, REBIO-Guaporé, abrangendo uma

área de mais de 600 mil hectares. Nesta área estavam localizadas diversas populações de ne-

gros e indígenas, tais como Santo Antônio, Limoeiro, Senhor Antelmo, São Pedro, Bacabalzi-

nho e outras. A criação da REBIO levou os agentes do IBDF/IBAMA a um processo imediato

de expulsão das populações residentes, que tiveram que abandonar suas residências e proprie-

dades sem nenhum tipo de indenização, proteção ou amparo do Estado Nacional ou assistên-

cia dos órgãos envolvidos na questão. Ninguém foi reassentado, indenizado ou assistido sob

qualquer circunstância. Os agentes ambientais simplesmente chegaram às comunidades ar-

mados com metralhadoras e as expulsaram de seus lares centenários. A maior parte das pesso-

as migrou para a periferia de cidades locais, como Costa Marques, e se tornou subempregada

ou mesmo mergulhada em atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e a prostituição, que

afetaram, sobretudo, os mais jovens. A extinção destas comunidades revela um furor que pode

ser claramente definido como racismo ambiental. A despreocupação com o ser humano é tra-

vestida por um cuidado precioso com o meio ambiente, em nome do qual estruturas sociais e

étnicas inteiras foram dizimadas.

Do conjunto das populações afetadas, ressaltaremos a comunidade de remanescentes

quilombolas de Santo Antônio do Guaporé, a única que conseguiu resistir e manter-se onde

sempre viveu. A sobrevivência de Santo Antônio revela, por si mesma, a índole quilombola da

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ANDERSON GOMES DA EPIFANIA

população, sempre acostumada às adversidades e às ações intimidatórias da sociedade branca.

Mantendo-se firme na decisão de não abandonar seu lar ancestral, a comunidade passou a ser

alvo preferencial de políticas de opressão dos agentes locais do IBAMA, que impediram as

práticas tradicionais de sobrevivência da população, baseada na agricultura itinerante de pe-

queno porte, na coleta, caça e pesca para sustento familiar, na criação doméstica de animais. A

energia elétrica nunca pode ser instalada na comunidade por falta da licença ambiental. A

alegação do IBAMA é que isto não seria possível em área de REBIO, mas a sede da própria

REBIO que serve aos funcionários do órgão é dotada de energia elétrica e água encanada. A

população perdeu seu posto de saúde, o direito de receber livremente seus visitantes e os direi-

tos de plantar e criar para seu sustento. Até mesmo a escola local chegou a ser, por anos, invi-

abilizada, funcionando hoje precariamente, com uma única sala multisseriada que atende, ao

mesmo tempo, às crianças, aos adolescentes e aos adultos locais. Os problemas que agravaram,

sobremaneira, a sobrevivência da população provocaram os efeitos desejados pelas autorida-

des ambientais locais, o progressivo despovoamento da comunidade. Em 2000 restavam ape-

nas 58 moradores em Santo Antônio, em sua maioria crianças e velhos. A continuidade da

população, enquanto comunidade etnicamente diferenciada, se acha em grave risco, uma vez

que os jovens migram em busca de condições mais favoráveis para sobreviver.

Entretanto, fora da comunidade perdem a sua proteção e tornam-se alvos fáceis de a-

gentes ligados às diversas formas de contravenção e criminalidade. Os velhos morrem rapi-

damente, vítimas, sobretudo, da depressão. Em Santo Antônio observa-se um curioso fenô-

meno, que é a ausência significativa de mulheres idosas. Segundo os moradores locais, a

pressão dos conflitos com os agentes ambientais as torna depressivas e entristecidas. As que

não podem ir embora terminam morrendo precocemente.

No ano de 2004, entretanto, a comunidade de Santo Antônio do Guaporé recebeu da

Fundação Cultural Palmares a Certidão de Auto-Reconhecimento como População Remanes-

cente Quilombola. Com isto foi iniciado pelo INCRA o processo de identificação, reconheci-

mento, demarcação e, posteriormente, titulação das terras pertencentes à população. Os con-

flitos com o IBAMA não pararam. Pelo contrário, em muitos casos, se exacerbaram, sempre

amparados no mote da preservação ambiental.

Atualmente a comunidade vive num compasso de espera, mas sua luta tem sido acom-

panhada pelos técnicos da Fundação Cultura Palmares, por grupos específicos da Universida-

de Federal de Rondônia e por agentes diversos que tentam garantir à população o respeito aos

seus direitos ancestrais. A situação ganhou reforço com a recente declaração dos povos indí-

genas Migueleño e Puruborá, que resolveram retornar às terras de onde foram expulsos na

década de 1980.

Fatos como os de Santo Antônio do Guaporé revelam uma face pouco discutida das prá-

ticas racistas de nosso país, que pretende se constituir como uma ”democracia racial“. Esta-

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125

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

mos longe da existência desta democracia. O racismo ainda sobrevive mesmo criminalizado

pela legislação. Os conflitos racistas são, muitas vezes, vivenciados dentro das próprias institu-

ições governamentais, que deveriam ter como meta maior a promoção da cidadania e o res-

peito aos direitos constitucionais.

O exemplo de resistência desta comunidade distante e esquecida reforça a necessidade

de uma revisão das posturas do Estado e da sociedade. Tão importante quanto a preservação

ambiental é a garantia dos direitos e o respeito às formas de diversidade das sociedades nacio-

nais. A longínqua Santo Antônio do Guaporé, que resistiu por mais de um século à opressão

escravista, teve que, ao longo do século XX e início do século XXI, lutar contra novas formas

de violência, opressão e exclusão da sociedade dominante, que, em nome da preservação am-

biental, não cogitou refletir sobre as dimensões do extermínio da cultura, valores e tradições

das populações tradicionais.

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GLOSSÁRIO

ANECÚMENAS – Correspondente a uma área da superfície terrestre que não seja habitada pelo Homem devido à dificuldade de ocupação.

ANTROPOGEOGRAFIA – (Antropo+geografia) Parte da Geografia em que se estudam os fatos concernentes ao homem e a seu habitat, inaugurada na Alemanha por Ratzel. Sin: geografia antrópica, geografia humana.

CRESCIMENTO VEGETATIVO (CRESCIMENTO NATURAL) – Diferença entre o número de nascimentos (natalidade) e de mortes (mortalidade) de uma população, num determinado período. Também conhecido como crescimento natural.

DEMOGRAFIA – É a ciência que estuda as características das populações humanas geralmente expressas através de valores estatísticos. As características da população estudadas pela demografia são inúmeras e incluem o número de pessoas, a sua distribuição por sexo e estrutura etária, a distribuição espacial e a mobilidade, dentre outras.

DENSIDADE DEMOGRÁFICA (POPULAÇÃO RELATIVA) – Corresponde à relação do número de habitantes e área onde estes se distribuem, sendo geralmente estimados pela relação número de habitantes por quilômetro quadrados, identificando assim o povoamento das áreas em densamente povoadas, povoadas, pouco povoadas e vazios demográficos.

DESPLAZADOS – Denominados de não cidadãos, sendo estes os refugiados que não podem participar das decisões políticas dos espaços onde atualmente residem.

ECÚMENAS – Área onde é possível a fixação do Homem, áreas habitáveis, onde há possibilidade de habitação humana.

EMIGRAÇÃO – Corresponde ao movimento de saída de um determinado local na migração.

ESTRUTURA DA POPULAÇÃO – O estudo populacional baseado em sua estrutura etária, por sexo e atividades econômicas, nas quais estão atuando estes grupos da população.

ÊXODO – Nos movimentos migratórios são configurados pelo grande contingente populacional, que podem ter por destinos os espaços urbanos ou rurais.

EXPECTATIVA DE VIDA – Representa o número de anos em que um recém-nascido poderá viver, considerando os recursos aos quais terá acesso.

IMIGRAÇÃO – Corresponde ao movimento de chegada de um determinado local na migração.

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) – Índice utilizado para analisar o padrão de vida da população, levando-se em consideração os indicadores de saúde, renda per capita e educação.

MIGRAÇÃO – Mobilidade espacial da população, dentre estes movimentos há o de entrada (Imigração) e/ou saída (Emigração) em um determinado local.

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MIGRAÇÃO DIÁRIA OU PENDULAR – Resultante do ir e vir cotidiano para a realização de alguns serviços, como trabalho e estudo.

MIGRAÇÃO INTERURBANA – Ocorre entre cidades.

MIGRAÇÃO SAZONAL OU TRANSUMÂNCIA – Ocorre em um determinado período ou estação do ano.

NOMADISMO – Mobilidade permanente dos grupos humanos sobre os espaços.

PEA (POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA) – Pessoas com mais de 10 anos de idade que exercem atividade remunerada.

PEI (POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE INATIVA) – Pessoas que não exercem atividade remunerada, entre estes crianças e aposentados.

PIRÂMIDE ETÁRIA – Tipo de gráfico que mostra de um lado a população masculina e de outro lado a feminina com separação por faixa de idade. Serve para medir o nível de desenvolvimento de um país.

POPULAÇÃO – Conjunto de seres vivos, abarcando neste caso as espécies animal e vegetal. No caso da Geografia da População, o foco de estudo relaciona-se aos grupos humanos.

POPULAÇÃO ADULTA – População que se encontra entre a faixa etária de 20 a 59 anos de idade.

POPULAÇÃO IDOSA – População que se encontra com 60 anos ou acima dessa idade.

POPULAÇÃO JOVEM – Formada pelo grupo populacional até 19 anos de idade.

POPULAÇÃO TOTAL (POPULAÇÃO ABSOLUTA) – O número total da população no mundo, região ou país e outros entes federativos, ou seja, corresponde à população absoluta de um local, derivando deste conceito a noção da variabilidade de áreas populosas.

POPULOSO – Corresponde à quantidade da população total de uma determinada área, podendo-se identificar áreas muito populosas, populosas e pouco populosas.

POVOADO – Relaciona-se à densidade demográfica, podendo identificar-se o índice de povoamento dos espaços.

RECENSEAMENTO – Operação administrativa que consiste acessar dados sobre população de um estado, de uma cidade, de um país; a contagem dos votos de uma eleição etc. Alistamento dos jovens que atingiram a idade para o serviço militar. Inventário dos animais, das viaturas etc., suscetíveis de requisição para serviço de guerra.

RENDA PER CAPITA – É obtida a partir da divisão do Produto Nacional Bruto (em dólares), pelo número de habitantes do país.

SUBPOPULAÇÃO – Escassez de população em uma determinada área.

SUPERPOPULAÇÃO – População em excesso; superpovoamento com a escassez de recursos para a população aí instalada.

TAXA DE NATALIDADE – Cálculo obtido através do número de nascimentos ocorridos em um dado ano, multiplicado por mil e dividido pela população absoluta no ano e local correspondente.

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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

TAXA DE MORTALIDADE – Calcula-se pela multiplicação da mortalidade por mil e dividindo pela população total em um determinado local e ano.

TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL – Corresponde ao número de crianças mortas antes de completar 1 ano de idade.

TEORIA MALTHUSIANA – Propunha que enquanto a população crescia em um ritmo geométrico a produção de alimentos não acompanhava, crescendo em ritmo aritmético, ocasionando o flagelo da fome em todo mundo se o crescimento populacional não fosse contido, propondo a sujeição moral.

TEORIA NEOMALTHUSIANA – Afirma que a população numerosa dos países subdesenvolvidos era culpada pela situação de pobreza, desde quando demandava investimento em gastos sociais, desviando verbas que deveriam ser destinadas à criação de infraestrutura e atração de empresas, propunha o controle da natalidade mesmo que fosse utilizada a esterilização em massa da população.

TEORIA REFORMISTA – Culpa a própria superestrutura pelos problemas da população, destacando que não são os pobres os culpados pela pobreza dos países subdesenvolvidos e sim as vítimas por não terem acesso às riquezas produzidas nestes.

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA – Corresponde às diversas fases do crescimento populacional.

VAZIOS DEMOGRÁFICOS – Áreas com a densidade demográfica de menos de 1 habitante por quilômetro quadrado.

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