107

2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Ferreira, Aparecida De Jesus. PEAB - Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: Contexto, Pesquisas e Relatos de Experiências. Cascavel: Unioeste. 2008

Citation preview

Page 1: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira
Page 2: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

PEAB – PROJETO DEESTUDOS AFRO-BRASILEIROS:

Contexto, Resultados de Pesquisase Relatos de Experiências

Page 3: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

UNIOESTE - UNIOESTE - UNIOESTE - UNIOESTE - UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do ParanáUniversidade Estadual do Oeste do ParanáUniversidade Estadual do Oeste do ParanáUniversidade Estadual do Oeste do ParanáUniversidade Estadual do Oeste do Paraná

REITREITREITREITREITORORORORORAlcibiades Luiz Orlando

VICE-REITVICE-REITVICE-REITVICE-REITVICE-REITORORORORORBenedito Martins Gomes

PRÓ-REITPRÓ-REITPRÓ-REITPRÓ-REITPRÓ-REITORA DE PESQORA DE PESQORA DE PESQORA DE PESQORA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃOUISA E PÓS-GRADUAÇÃOUISA E PÓS-GRADUAÇÃOUISA E PÓS-GRADUAÇÃOUISA E PÓS-GRADUAÇÃOFabiana Scarparo Naufel

DIRETDIRETDIRETDIRETDIRETOR DO CAMPUS DE CASCAOR DO CAMPUS DE CASCAOR DO CAMPUS DE CASCAOR DO CAMPUS DE CASCAOR DO CAMPUS DE CASCAVELVELVELVELVELPaulo Sérgio Wolff

DIRETDIRETDIRETDIRETDIRETORA DO ORA DO ORA DO ORA DO ORA DO CECACECACECACECACECA - CENTR - CENTR - CENTR - CENTR - CENTRO DEO DEO DEO DEO DEEDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTESEDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTESEDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTESEDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTESEDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTES

DO CAMPUS DE CASCADO CAMPUS DE CASCADO CAMPUS DE CASCADO CAMPUS DE CASCADO CAMPUS DE CASCAVELVELVELVELVELElenita Conegero Pastor Manchope

PRPRPRPRPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO OGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO OGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO OGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO OGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTSTRICTSTRICTSTRICTSTRICTO SENSUO SENSUO SENSUO SENSUO SENSU EM EM EM EM EMLETRAS, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LINGUALETRAS, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LINGUALETRAS, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LINGUALETRAS, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LINGUALETRAS, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LINGUAGEM EGEM EGEM EGEM EGEM E

SOCIEDSOCIEDSOCIEDSOCIEDSOCIEDADE, NÍVEL DE MESTRADOADE, NÍVEL DE MESTRADOADE, NÍVEL DE MESTRADOADE, NÍVEL DE MESTRADOADE, NÍVEL DE MESTRADO

CoordenadoraCoordenadoraCoordenadoraCoordenadoraCoordenadoraProfª. Drª. Lourdes Kaminski Alves

Page 4: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

PEAB – PROJETO DEESTUDOS AFRO-BRASILEIROS:

Contexto, Resultados de Pesquisase Relatos de Experiências

APARECIDA DE JESUS FERREIRAOrganizadora

CASCACASCACASCACASCACASCAVELVELVELVELVEL20082008200820082008

Mestradoem Letras

Page 5: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

Copyright ©2008 by Aparecida de Jesus Ferreira.

Capa: Capa: Capa: Capa: Capa: “Solaris”, de Marcelo Marcio de Oliveira

Arte-final da Capa:Arte-final da Capa:Arte-final da Capa:Arte-final da Capa:Arte-final da Capa: Rachel Cotrim

Revisão:Revisão:Revisão:Revisão:Revisão: Célio Escher

Projeto Gráfico e Diagramação:Projeto Gráfico e Diagramação:Projeto Gráfico e Diagramação:Projeto Gráfico e Diagramação:Projeto Gráfico e Diagramação: Rachel Cotrim

Ficha catalográficaFicha catalográficaFicha catalográficaFicha catalográficaFicha catalográfica: Marcia Elisa Sbaraini-Leitzke CRB-9/539Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P349p PEAB – Projeto de estudos afro-brasileiros: contexto, pesquisas e relatos deexperiências / Organização de Aparecida de Jesus Ferreira – Cascavel :Unioeste, 2008.116 p

Inclui bibliografias

ISBN: 978-85-7644-120-5

1. Relações Étnico-Raciais. 2.Formação de Professores. 3. Lei 10.639/2003.4.Anti-Racismo. 5.Materiais Didáticos. I. Ferreira, Aparecida de Jesus. II. Título

CDD 20.ed. 305.896081306

CIP-NBR 12899

Page 6: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

AGRADECIMENTOS 9

APRESENTAÇÃO 11

PARPARPARPARPARTE 1: CONTEXTTE 1: CONTEXTTE 1: CONTEXTTE 1: CONTEXTTE 1: CONTEXTO E RESULO E RESULO E RESULO E RESULO E RESULTTTTTADOS DE PESQADOS DE PESQADOS DE PESQADOS DE PESQADOS DE PESQUISASUISASUISASUISASUISAS

1. PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros:uma retrospectiva da história do PEAB 19

Aparecida de Jesus Ferreira

2. Abordagens críticas e folclóricas na aplicação da Lei Federal nº 10.639/2003 33

Rosani Clair da Cruz Reis

3. Limites, desafios e possibilidades para aplicação deestratégias anti-racistas e da Lei Federal nº 10.639/2003 47

Aparecida de Jesus Ferreira

4. Os estereótipos do negro presentes em livros didáticos:uma análise a partir dos Parâmetros Nacionais 61

Andréia Fernanda Orlando; Aparecida de Jesus Ferreira;

Fernanda Cristina Couto; Luciane Watthier

5. O desenvolvimento da sensibilização sobre a diversidade étnico-racialna formação inicial e/ou continuada de professores de línguas 75

Andréia Fernanda Orlando

6. Uma análise das temáticas que permeiam o material didático:a influência da discussão da diversidade étnico-racial naformação da identidade dos alunos 89

Luciane Watthier

PARPARPARPARPARTE II: RELATE II: RELATE II: RELATE II: RELATE II: RELATTTTTOS DE EXPERIÊNCIASOS DE EXPERIÊNCIASOS DE EXPERIÊNCIASOS DE EXPERIÊNCIASOS DE EXPERIÊNCIAS

7. Formação de professores de línguas e diversidade étnico-racial:relatos de experiências 103Andréia Fernanda Orlando

Luciane Watthier

8. Formação de professores e diversidade étnico-racial:um curso que deu novo rumo a minha prática docente 111

Rosani Clair da Cruz Reis

SUMÁRIO

7

FE

RR

EIR

A. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xpe

riê

ncia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

2008

. IS

BN

: 978

-85-7

644-1

20-5

Page 7: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

Sou muito grata às colaboradoras deste projeto, Andréia Orlando,

Luciane Watthier, Rosani Clair da Cruz Reis e Fernanda Couto, autoras dos ca-

pítulos que constituem esta coletânea de artigos, por contribuírem com seus

textos. As autoras também contribuíram com o projeto PEAB, nos seminários

que conduziram durante o ano de 2007.

Quero agradecer também a contribuição, recebida no último seminá-

rio do PEAB, da profa. Francy da Guia, pela apresentação da sua pesquisa de

mestrado, e da profa. Veralice Aparecida Moreira, também com a apresenta-

ção de sua pesquisa de mestrado. Sou grata também à profa. Dra. Lourdes

Kaminski Alves, por ter aceitado ser a debatedora no último seminário, em que

houve a apresentação das pesquisas das colaboradoras desta coletânea.

Sou grata também aos professores da rede pública e particular do

Ensino Fundamental, Médio e Universitário e alunos da graduação e da pós-

graduação que participaram dos cinco seminários que aconteceram em 2007,

seminários em que tivemos uma presença média de 60 participantes por semi-

nário, totalizando mais de 300 participantes.

Também quero agradecer aos integrantes do NEI (Núcleo de Estudos

Interdisciplinares), pela contribuição no momento das inscrições e pelo acolhi-

mento do projeto – as pessoas que contribuíram foram o diretor do NEI, Prof.

Dr. Paulino Orso e as secretárias Celeste e Daiane.

Aparecida de Jesus Ferreira

Coordenadora do PEAB

AGRADECIMENTOSF

ER

RE

IRA

. Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xpe

riê

ncia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

2008

. IS

BN

: 978

-85-7

644-1

20-5

9

Page 8: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

APRESENTAÇÃO

11

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Esta publicação reúne trabalhos produzidos de 2005 a 2007 pelos co-

laboradores do projeto PEAB e que contribuíram efetivamente para a manuten-

ção e para a continuidade do projeto. O PEAB (Projeto de Estudos Afro-Brasilei-

ros) é um projeto de extensão que existe desde 2005, no entanto passou a ser

chamado de PEAB em 2007 e tem o propósito de discutir questões acerca da

formação de professores e de relações étnico-raciais.

A primeira parte desta coletânea contém textos que enfocam o contexto do

PEAB e resultados de pesquisas. Nesta parte, o primeiro artigo aborda o PEAB –

Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: uma retrospectiva da história do PEAB, de auto-

ria de Aparecida de Jesus Ferreira. O artigo proposto tem a intenção de recontar o

contexto histórico do PEAB, projeto que teve como objetivo propiciar aos professo-

res em formação e em exercício (e demais interessados) a possibilidade de discutir

assuntos atinentes à formação de professores e a relações étnico-raciais. Esta propo-

sição se deu pensando nos PCNs, nas Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental

e na Lei nº 10639, de janeiro de 2003 (que torna obrigatório o ensino de História e

Cultura Afro-Brasileira e Africana) e pensando na falta de preparo dos professores

em lidar com esta temática. O projeto pretendeu dar embasamento teórico-prático

para tal temática, enfocando uma forma interdisciplinar de trabalho. Este projeto

também objetivou integrar os professores em formação e os professores em serviço,

auxiliando-os a incorporar no currículo escolar a discussão das relações étnico-raciais

e da identidade no Ensino Fundamental, Médio e Universitário. A metodologia utili-

zada foi em forma de vários workshops, seminários, trabalhos em grupos. Foram

discutidos textos, bem como foi realizada análise teórico-prático de materiais de

ensino, com aplicação de material que enfoca a temática, utilizando vários gêneros

(filmes, documentários, poemas, contos, autobiografias, livros de literatura infantil e

infanto-juvenil, textos de jornais e revistas, etc.). A expectativa dos organizadores/

realizadores do projeto era aproximar e promover o diálogo entre a educação básica

e o ensino superior quanto a questões pertinentes à formação e à atuação docente,

bem como era favorecer a prática de uma postura reflexiva dos professores sobre sua

própria atuação. Esperou-se também incentivar os professores a buscarem o aperfei-

çoamento de sua qualificação através dos cursos e dos eventos.

O segundo artigo trata das Abordagens críticas e folclóricas na aplica-

ção da Lei Federal nº 10.639/2003, artigo de autoria de Rosani Clair da Cruz Reis.

Este texto teve por objetivo detalhar as abordagens que podem ser utilizadas

Page 9: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

APRESENTAÇÃO

12

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

pelos professores ao se aplicar a Lei Federal n.º 10.639/2003, a qual tornou obri-

gatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, tema desenvol-

vido em um dos seminários promovidos pelo Projeto de Estudos Afro-Brasileiros

(PEAB) no ano de 2007. A escolha deste tema justifica-se pela necessidade de

oferecer aos professores fundamentação teórico-metodológica para que eles

possam conduzir a educação das relações étnico-raciais de modo seguro e, as-

sim, contribuir para a construção de uma sociedade mais harmônica e mais justa.

As reflexões apresentadas neste artigo fazem parte de estudos desenvolvidos

para uma pesquisa em nível de mestrado, que teve por objetivo verificar o modo

como os professores estão compreendendo a Lei Federal n.º 10.639/2003 e, as-

sim, conduzindo a educação das relações étnico-raciais nas escolas estaduais

do município de Cascavel/PR. O conteúdo apresentado neste artigo, portanto, foi

embasado por pesquisa bibliográfica, a qual buscou sintetizar a fundamentação

teórica das abordagens que possibilitam a aplicação da referida lei. Tais aborda-

gens seguem duas orientações básicas: a educação anti-racista (DEI, 1999;

CAVALLEIRO, 2001) e a educação multiculturalista, sendo que esta última se

apresenta dividida em várias tendências: multiculturalismo conservador,

multiculturalismo liberal-humanista, multiculturalismo liberal de esquerda e

multiculturalismo crítico (MCLAREN, 2000, p. 110). Diferenciar tais abordagens

possibilitará ao professor compreender que seu trabalho pode assumir conotações

transformadoras na educação das relações étnico-raciais ao invés de somente

celebrar a diversidade por meio da realização de atividades folclóricas, como

sugere uma interpretação descuidada da Lei Federal n.º 10.639/2003.

O terceiro artigo discute os Limites, desafios e possibilidades para apli-

cação de estratégias anti-racistas e da Lei Federal nº 10.639/2003 e estratégias

anti-racistas no ambiente escolar, de autoria de Aparecida de Jesus Ferreira. Este

artigo teve a intenção de apresentar resultados de uma pesquisa que considerou

estratégias anti-racistas em um curso de formação continuada de professores.

Os/as participantes da pesquisa estavam localizados no oeste do Paraná, que é

uma região povoada principalmente por descendentes de alemães, poloneses e

italianos. Esta pesquisa mostrou os resultados parciais e, neste momento, de-

monstra os limites, os desafios, as implicações e as possibilidades que os pro-

fessores encontraram na implementação de estratégias anti-racistas no contexto

escolar. A implementação de parâmetros como igualdade, inclusão, justiça social,

Page 10: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

APRESENTAÇÃO

13

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

identidade, diversidade e práticas sociais e cidadãs voltada para a questão étni-

co-racial (afro-descendente) tem sido muito discutida nos documentos oficiais,

tanto no que se refere à formação do professores quanto à implementação no

contexto escolar. Desta forma, esta pesquisa se mostrou relevante e pertinente. A

pesquisa foi embasada com os seguintes aportes teóricos: Micropolítica na es-

cola (BALL, 1987) no que se refere aos limites da implementação de uma educa-

ção anti-racista (GILLBORN, 1995) e a Teoria Racial Crítica (LADSON-BILLINGS,

1998), no que se refere às implicações e, finalmente, aponto algumas possibilida-

des. Os resultados da pesquisa demonstraram a necessidade de um maior

engajamento, por parte das secretarias locais de educação, bem como, um

envolvimento maior por parte da equipe pedagógica das escolas, no que se refe-

re à implementação de políticas de igualdade racial no contexto escolar, consi-

derando que a Lei nº 10639/2003 é obrigatória. Concluo apontando algumas pos-

sibilidades para os professores em exercício e em formação.

O quarto artigo trata de questões acerca dos Estereótipos do negro

presentes em livros didáticos: uma análise a partir dos parâmetros nacionais. As

autoras são Andréia Fernanda Orlando, Aparecida de Jesus Ferreira, Fernanda

Cristina Couto, Luciane Watthier. O artigo retratou que a discriminação contra os

negros é produzida e veiculada por vários meios que rodeiam nossa vida, inclu-

indo o ambiente escolar, o qual, muitas vezes, afeta a vida dos alunos ainda em

processo de formação do pensamento crítico. Dessa maneira, percebendo que

os livros didáticos possuem forte influência na educação e, conseqüentemente,

na formação da opinião dos alunos, este artigo teve como objetivo realizar um

estudo sobre as expressões de racismo presentes em livros didáticos brasileiros

de língua materna. Para melhor situar essa análise, retomamos conceitos retira-

dos de algumas autores que já analisaram este tema (CAVALLEIRO, 2001, SILVA,

1995, 2002). Utilizamos também os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,

1998), o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e a Lei Federal nº 10.639/

2003 (BRASIL, 2003, 2004), lei que tornou obrigatório o ensino de História e

Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino. A metodologia utilizada foi uma

análise bibliográfica, com um corpus de um livro didático direcionado ao Ensino

Fundamental (6ª. série). Os resultados demonstraram uma reflexão sobre como é

tratada a questão racial no livro mencionado e sobre como o negro está sendo

representado socialmente neste livro. Concluímos que as figuras e os textos re-

presentam de forma grotesca e estereotipada a imagem do negro.

Page 11: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

APRESENTAÇÃO

14

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

O quinto artigo aborda a questão da Análise das Temáticas que Permeiam

o Material Didático: a influência da discussão da diversidade racial na formação

da identidade dos alunos, de autoria de Luciane Watthier. O artigo tratou da

discriminação contra os afrodescendentes, explicada por Cavalleiro (2001, p.

75) como a materialização da crença racista em atitudes que limitam ou impe-

dem o desenvolvimento humano de pessoas pertencentes ao grupo discriminado,

e que esta crença está se tornando um grande problema num país como o Brasil,

no qual, segundo dados do Censo de 2000, a população negra corresponde a

aproximadamente 45,3%. Sendo produzida e veiculada por vários meios que ro-

deiam nossa vida, incluindo, principalmente, o ambiente escolar, a discrimina-

ção afeta a vida dos alunos ainda em processo de formação crítica e, sem um

trabalho voltado para essa temática, o problema tende a piorar cada vez mais,

prejudicando o desenvolvimento dos alunos afrodescendentes e eurodescendentes.

Dessa maneira, sabendo que os livros didáticos possuem forte influência na edu-

cação, sendo, muitas vezes, o principal ou o único material de apoio do profes-

sor em suas aulas, essa pesquisa teve como objetivo realizar um estudo sobre as

imagens e as expressões de racismo presentes em livros didáticos brasileiros de

língua materna. O estudo pretende perceber se estes livros trabalham com a ques-

tão da discriminação, proporcionando reflexões sobre o assunto, tanto com exer-

cícios e textos, quanto através de ilustrações, verificando de que forma o

afrodescendente é neles representado socialmente. Após, com a aplicação de

questionários a duas turmas do ensino médio, uma de primeiro e outra de tercei-

ro ano, pretende-se observar qual é a influência de trabalhos voltados para a

diversidade étnico-racial na formação da identidade dos/as alunos/as.

O sexto artigo aborda O desenvolvimento da sensibilização sobre a

diversidade étnico-racial na formação inicial e/ou continuada de professores de

línguas. A autora, Andréia Fernanda Orlando, apresentou dados parciais de uma

pesquisa realizada como trabalho de conclusão de curso e parte do argumento

de que o Brasil possui 45,3% de população afrodescendente (Censo Demográfico

2000) e, nesse contexto, possibilitar discussões a respeito da diversidade étnico-

racial na sala de aula do ensino básico ou universitário é uma questão de cidada-

nia. Nesse sentido, o artigo objetivou apontar algumas ações e visões tomadas

por professores frente a situações de racismo e discriminação nas salas de aulas

de línguas. Para tanto, foram aplicados 40 questionários a quatro públicos-alvo,

Page 12: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

APRESENTAÇÃO

15

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

que são: professores e acadêmicos que já tiveram experiência com cursos (ou

eventos de qualquer outra natureza) acerca do tratamento da diversidade étnico-

racial na escola e, para realizar o contraponto, professores e acadêmicos que

não tiveram essa oportunidade ou interesse. Baseado nas informações coletadas,

este artigo apresentará como a inserção dessa temática no Ensino Universitário

contribui na formação inicial abrindo visões de mundo como, também, em que

diferencia o entendimento de professores de línguas antes e depois de participar

de cursos de extensão sobre diversidade étnico-racial frente a conteúdos e a

situações desse gênero. Assim, apresentou-se como se constatou que muitos dos

profissionais acreditavam numa valorização da homogeneização cultural ou no

silenciamento como sendo opções cabíveis no trato das expressões de racismo

no âmbito escolar ou, por outro lado, educadores cientes do reconhecimento da

diversidade dos universos culturais dos alunos.

A segunda parte contém textos que enfocam relatos de experiências das

colaboradoras do projeto PEAB, em que professores em serviço e professores

em pré-serviço refletem acerca da importância de cursos de formação de profes-

sores e de relações étnico-raciais.

O sétimo artigo aborda a Formação de professores de línguas e diversi-

dade étnico-racial: um relato de experiência. As autoras, Andréia Fernanda Orlando

e Luciane Watthier, no momento da produção deste artigo em 2007, eram professo-

ras em pré-serviço, cursando o 4º. Ano de Letras/Unioeste/Cascavel.

O oitávo artigo trata da Formação de professores e diversidade étni-

co-racial: um curso que deu novo rumo à minha prática docente, de autoria

de Rosani Clair da Cruz Reis. No momento da produção deste artigo em

2007, a autora era professora da Rede Pública Estadual de Ensino e aluna do

mestrado em Letras/Unioeste/Cascavel.

Aparecida de Jesus Ferreira

Coordenadora do PEAB

Page 13: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

PARTE I

CONTEXTO ERESULTADOS DE

PESQUISAS

Page 14: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

19

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-51 PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS

AFRO-BRASILEIROS: UMARETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB 1

Aparecida de Jesus Ferreira(Coordenadora do PEAB)2

INTRINTRINTRINTRINTRODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃO

Fazer uma retrospectiva histórica do PEAB é recontar como se inicia-

ram na Unioeste/ Cascavel os estudos acerca de formação de professores e de

relações étnico-raciais, estudos que, depois, se estenderam para Cascavel e Re-

gião Oeste e Sudoeste do Paraná. Este relato histórico pretende mostrar como se

iniciaram os estudos, qual metodologia de trabalho e que os objetivos foram

desenvolvidos e quais foram os resultados obtidos até o presente momento.

O projeto PEAB teve a intenção de discutir assuntos atinentes à forma-

ção de professores e a relações étnico-raciais. Esta proposição se deu pensando

nos PCNs, nas Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental e na Lei Federal nº

10639, de janeiro de 2003 (que torna obrigatório o ensino de História e Cultura

Afro-Brasileira e Africana), e pensando também na falta de preparo dos profes-

sores em lidar com esta temática. O projeto pretendeu dar embasamento teóri-

co-prático para tal temática, enfocando uma forma interdisciplinar de trabalho.

Este projeto também objetivou integrar os professores em formação e professo-

res em serviço, auxiliando-os a incorporar no currículo escolar a discussão das

relações étnico-raciais e de identidade no Ensino Fundamental, Médio e Univer-

sitário. A metodologia utilizada é em forma de seminários (cinco durante o ano).

Textos foram discutidos, bem como foi realizada análise teórico-prático de ma-

teriais de ensino e aplicação de material que enfoca a temática, utilizando vários

gêneros (filmes, documentários, poemas, contos, autobiografias, livros de litera-

tura infantil e infanto-juvenil, textos de jornais e revistas, etc.). Com este projeto

foi possível aproximar e promover o diálogo entre a educação básica e o ensino

superior quanto a questões pertinentes à formação e à atuação docente, bem

Page 15: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

20

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

como favorecer a prática de uma postura reflexiva dos professores sobre sua

própria atuação. A expectativa era a de também incentivar os professores a bus-

carem o aperfeiçoamento de sua qualificação através dos cursos, de eventos e da

participação neste tipo de projeto (tudo ofertado pela universidade), bem como

aproximar o ensino, a pesquisa e a extensão universitária.

Depois da implementação da Lei nº 10.639/2003, muitas têm sido as

publicações, bem como cursos de formação continuada que estejam discutin-

do sobre a formação de professores e o compromisso com as questões étnico-

raciais. As discussões têm se centrado em temas sobre a pluralidade cultural,

multi-culturalismo, diversidade étnico-racial e diversidade cultural, e está ocor-

rendo um número crescente de pesquisas interessadas em educação anti-racis-

ta nacionalmente e internacionalmente. A tônica das publicações tem sido

sobre educação para a cidadania, formação de professores, educação infantil

com grande ênfase em educação anti-racista, ensino crítico, justiça social den-

tro e fora do sistema escolar. Desta forma, o PEAB acreditou ser pertinente

haver cursos de formação de professores que pensem a formação continuada

dentro de uma perspectiva reflexiva, perspectiva em que o professor participa

do processo como um profissional que está sempre refletindo sobre sua práti-

ca no sentido de se tornar um profissional crítico e reflexivo acerca das ques-

tões étnico-raciais que ocorrem dentro e fora do sistema escolar.

OBJETIVOBJETIVOBJETIVOBJETIVOBJETIVOS DO PROS DO PROS DO PROS DO PROS DO PROJETOJETOJETOJETOJETO PEABO PEABO PEABO PEABO PEAB

• Dar embasamento teórico-prático aos professores para ser incorpo-

rado no currículo escolar visando à discussão da diversidade étnico-

racial e da identidade no Ensino Fundamental, Médio e Universitário.

• Colaborar com o processo de formação continuada dos professores

e refletir sobre como o racismo foi construído historicamente e soci-

almente e como o racismo pode ser desconstruído.

• Possibilitar informações para a melhora do processo de ensino/apren-

dizagem em sala de aula a partir de reflexões sobre diversidade étni-

co-racial, sobre identidade, sobre embranquecimento, sobre racis-

mo, sobre racismo institucional e sobre anti-racismo.

• Discutir os documentos oficiais tais como: Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs), Lei Federal nº 10639/2003 ( da obrigatoriedade

Page 16: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

21

PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS: UMA RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino

básico público e privado) e a Lei Federal nº 7716/1989 (que define os

crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor).

• Refletir sobre as possibilidades de incorporar nas aulas o tema da

diversidade étnico-racial, do racismo e da identidade através de vá-

rios gêneros, como, por exemplo: filmes, documentários, poemas,

contos, autobiografias, livros de literatura infantil e infanto-juvenil,

textos de jornais e revistas, etc.

• Aproximar e promover o diálogo entre a educação básica e o ensino

superior quanto a questões pertinentes à formação e à atuação docente.

• Favorecer a prática de uma postura reflexiva dos professores sobre

sua própria atuação.

• Incentivar os professores a buscarem o aperfeiçoamento de sua qua-

lificação através dos cursos, de eventos e da participação neste tipo

de projeto (ofertados pela universidade).

MÉTMÉTMÉTMÉTMÉTODOSODOSODOSODOSODOS

Este projeto de extensão foi desenvolvido com professores do Ensino

Fundamental e Médio e professores universitários, bem como com alunos dos

cursos de graduação e de pós-graduação (e demais interessados), projeto que

priorizou um aspecto particular na formação continuada do professor e na refle-

xão sobre o processo ensino/aprendizagem. O projeto aconteceu durante o perí-

odo letivo de 2005, 2006 e 2007. A metodologia utilizada variou de acordo com

cada ano, conforme descrição abaixo por ano.

Histórico de 2005Histórico de 2005Histórico de 2005Histórico de 2005Histórico de 2005

Em 2005 foram oferecidos dois cursos sobre formação de professores e

diversidade étnico-racial. O primeiro ficou intitulado Formação de Professores de

línguas e diversidade étnico-racial. Este curso foi oferecido somente para os pro-

fessores de Línguas. Teve uma carga horária de 40 horas foi realizado de junho a

agosto e contando com 19 participantes19 participantes19 participantes19 participantes19 participantes. O segundo curso foi de 60 horas com 4444444444

participantesparticipantesparticipantesparticipantesparticipantes, realizado de setembro e outubro. O segundo curso fez parte do

Projeto: UNIAFRO, aprovado no MEC coordenado pela docente Lourdes Kaminiski

Page 17: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

22

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Alves. O projeto do UNIAFRO teve como colaboradoras as docentes Maria CeresPereira - que pesquisou o desenvolvimento das crianças afrodescendentes nas esco-las da região e a professora Aparecida de Jesus Ferreira que trabalhou com um sub-projeto dentro do UNIAFRO, intitulado PIAFRO, o qual ofereceu cursos de formaçãode professores e diversidade étnico-racial, conforme mencionado acima.

Houve nos dois cursos atividades de leituras orientadas, o objetivo foi deque cada participante fizesse uma reflexão escrita sobre o que estava sendo discutidono curso. Os conteúdos e as atividades reflexivas desenvolvidas foram as seguintes:

1º. Encontro1º. Encontro1º. Encontro1º. Encontro1º. Encontro

Conteúdos

• Discussão de terminologias: raça, etnia, identidade, racis-mo, discriminação, preconceito, mito da democracia racial,embranquecimento, branquidão e racismo institucional.

• Estudo dos PCNs.

• Lei Federal nº 10.639/2003.

Atividades Reflexivas

• Quais são suas expectativas com relação ao Curso de For-mação de Professores e Diversidade Étnico-Racial?

• Como e quando você se deu conta de que o racismo existe?Faça uma relação com suas experiências pessoais.

• De que forma a questão racial /étnica permeia sua vida pro-fissional?

2º. Encontro2º. Encontro2º. Encontro2º. Encontro2º. Encontro

Conteúdos

• Cultura e Literatura Afro-Brasileira (trabalho desenvolvidopelo Prof. Espec. José Carlos da Costa).

• Formação de Professores e Diversidade Étnico/Racial.

• Reflexões étnico-raciais utilizando vários gêneros: autobiografias,poemas e músicas, filmes, documentários, artigos de jornais e revis-tas, entrevistas e livros de literatura infantil e infanto-juvenil.

• Reflexões sobre Raça e Classe.

Page 18: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

23

PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS: UMA RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Atividades Reflexivas

Apoiada/o nos textos que foram sugeridos como leitura prévia

para o primeiro e segundo encontros, reflita sobre as ques-

tões abaixo relacionadas:

1. De que forma a formação de professores pode contribuir

para uma formação que dê suporte para o ensino voltado

para a inclusão racial e étnica?

2. Como você considera que foi sua formação de professor

com relação às questões étnico-raciais? Seu curso de for-

mação de professor preparou você para trabalhar com uma

comunidade diversa? Se a resposta for negativa, por que

você acha que isto ocorreu? Embase teoricamente sua res-

posta utilizando os textos sugeridos para leitura.

3. Como você pode incluir a discussão da diversidade étnico-

racial em sua disciplina específica? Dê exemplos.

4. O projeto político-pedagógico (PPP) de sua escola

contempla o tema racial e étnico? Dê um exemplo de

como isso ocorre.

5. Você já trabalhou com a temática étnico-racial em sala

de aula? Se a resposta for afirmativa, o que você fez?

Quais recursos utilizou? Dê exemplos (ou então sugira o

que pode ser feito).

3º. Encontro3º. Encontro3º. Encontro3º. Encontro3º. Encontro

Conteúdos

• Discussão e análise de terminologia: ações afirmativas (co-

tas), identidade étnico-racial.

• Análise da Constituição Federal e lei contra o racismo.

• Negro na História do Brasil Colônia, Império e República

(trabalho desenvolvido pelo Prof. Dr. Nilceu Jacob Deitos).

• Discussão e análise do material de ensino.

Page 19: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

24

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Atividades Reflexivas

• Por favor, contribua com um exemplo de uma experiência de

racismo que tenha ocorrido com você, ou situação que tenha

presenciado ou ouvido. Os exemplos podem ser dentro e fora

do sistema escolar. Nos exemplos, deve ficar claro o seguinte:

• Onde ocorreu, quando (data), quem eram os envolvidos?

• Após ter exemplificado, relacione e analise este exemplo

como sendo: racismo, racismo institucional, mito da demo-

cracia racial, embranquecimento ou branquidão. Embase

teoricamente de acordo com os textos que você leu.

4º. Encontro4º. Encontro4º. Encontro4º. Encontro4º. Encontro

Conteúdos

• Avaliação da experiência do uso de material de ensino vol-

tado para uma reflexão étnico-racial em sala de aula.

• Reflexões sobre identidade profissional e relações étnico-raciais.

Atividades Reflexivas

Nós estamos finalizando o Curso de Formação de Professores e Diver-

sidade Étnico-Racial. Gostaria que refletissem sobre os aspectos de identidade

relacionados ao que segue:

• De que forma sua identidade como pridentidade como pridentidade como pridentidade como pridentidade como professoraofessoraofessoraofessoraofessora se transfor-

mou e/ou está em transformação com a possibilidade de

estar fazendo o Curso de Diversidade Étnico-Racial?

• Como e ondeComo e ondeComo e ondeComo e ondeComo e onde você acha que poderá estar utilizando os

conhecimentos adquiridos no curso?

• Para você implementar tais conhecimentos na escola em

que trabalha e na sua disciplina/currículo,disciplina/currículo,disciplina/currículo,disciplina/currículo,disciplina/currículo, o que você acha

que será necessário?

Page 20: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

25

PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS: UMA RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

A avaliação que faço com relação ao curso foi extremamente positiva,

principalmente porque a cada encontro mais se percebia a inquietação e o

descortinamento/desconstrução das crenças das/os professoras/es em formação

e das/os professoras/es em exercício sobre a questão raça/etnia. As atividades

reflexivas tiveram um papel muito importante, pois através deste exercício as/os

professoras/es puderam refletir sobre questões antes não pensadas.

Histórico de 2006Histórico de 2006Histórico de 2006Histórico de 2006Histórico de 2006

Em 2006 foi organizado o I Seminário de Formação de Professores eI Seminário de Formação de Professores eI Seminário de Formação de Professores eI Seminário de Formação de Professores eI Seminário de Formação de Professores e

de Relações Étnico-Raciaisde Relações Étnico-Raciaisde Relações Étnico-Raciaisde Relações Étnico-Raciaisde Relações Étnico-Raciais. Houve uma participação de aproximadamente 400400400400400

professoresprofessoresprofessoresprofessoresprofessores da programação que se encontra a seguir:

LOCAL:LOCAL:LOCAL:LOCAL:LOCAL: UNIOESTE – – – – – Campus de Cascavel.Data:Data:Data:Data:Data: 24/8/2006 -Horário:Horário:Horário:Horário:Horário: 8:00h às 17:30h (com intervalo para almoço).

Coordenação:Coordenação:Coordenação:Coordenação:Coordenação: Profa. Dra. Aparecida de Jesus Ferreira eProfa. Dra. Maria Ceres Pereira.

Público-Alvo:Público-Alvo:Público-Alvo:Público-Alvo:Público-Alvo: Professores em exercício e em formação,alunos do Mestrado em Letras e demais interessados.

INSCRIÇÕESINSCRIÇÕESINSCRIÇÕESINSCRIÇÕESINSCRIÇÕES

Local:Local:Local:Local:Local: NEI (Núcleo de Estudos Interdisciplinares),da UNIOESTE, Campus de Cascavel.

Certificação:Certificação:Certificação:Certificação:Certificação: NEI (Carga horária total: 10 horas).

CRCRCRCRCRONOGRAMAONOGRAMAONOGRAMAONOGRAMAONOGRAMA

8:30 ABERTURAABERTURAABERTURAABERTURAABERTURA Formação de Professores eFormação de Professores eFormação de Professores eFormação de Professores eFormação de Professores ede Relações Étnico- Raciaisde Relações Étnico- Raciaisde Relações Étnico- Raciaisde Relações Étnico- Raciaisde Relações Étnico- RaciaisDra. Iolanda de Oliveira (UFF).

10:00 - 12:00 MESA REDONDMESA REDONDMESA REDONDMESA REDONDMESA REDONDA:A:A:A:A: Relações Étnico-Raciais e Escola.Relações Étnico-Raciais e Escola.Relações Étnico-Raciais e Escola.Relações Étnico-Raciais e Escola.Relações Étnico-Raciais e Escola.

Políticas Educacionais e a Lei Federal nº10639/2003Políticas Educacionais e a Lei Federal nº10639/2003Políticas Educacionais e a Lei Federal nº10639/2003Políticas Educacionais e a Lei Federal nº10639/2003Políticas Educacionais e a Lei Federal nº10639/2003Prof. Ms. Luiz Carlos Paixão da Rocha (APP – Sindicato).

Escola de Comunidade Quilombolas:Escola de Comunidade Quilombolas:Escola de Comunidade Quilombolas:Escola de Comunidade Quilombolas:Escola de Comunidade Quilombolas:A Perspectiva dos Professores.A Perspectiva dos Professores.A Perspectiva dos Professores.A Perspectiva dos Professores.A Perspectiva dos Professores.Profa. Ms. Sonia Marques (Unioeste/Francisco Beltrão).

Page 21: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

26

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Relato de Experiências do Curso de Formação deRelato de Experiências do Curso de Formação deRelato de Experiências do Curso de Formação deRelato de Experiências do Curso de Formação deRelato de Experiências do Curso de Formação deProfessoresProfessoresProfessoresProfessoresProfessores e Diversidade Étnico-Racial.e Diversidade Étnico-Racial.e Diversidade Étnico-Racial.e Diversidade Étnico-Racial.e Diversidade Étnico-Racial.Profa. Dra. Aparecida de Jesus Ferreira (Unioeste/Cascavel).

Mediação:Mediação:Mediação:Mediação:Mediação: Profa. Dra. Maria Ceres Pereira (Unioeste/Cascavel).

13:30 - 17:30 MINICURSOSMINICURSOSMINICURSOSMINICURSOSMINICURSOS

• Formação de Professores e Algumas Práticas para oFormação de Professores e Algumas Práticas para oFormação de Professores e Algumas Práticas para oFormação de Professores e Algumas Práticas para oFormação de Professores e Algumas Práticas para oRespeito à Diversidade em Sala de AulaRespeito à Diversidade em Sala de AulaRespeito à Diversidade em Sala de AulaRespeito à Diversidade em Sala de AulaRespeito à Diversidade em Sala de Aula(vagas 60 – Anfiteatro).(vagas 60 – Anfiteatro).(vagas 60 – Anfiteatro).(vagas 60 – Anfiteatro).(vagas 60 – Anfiteatro).Profa. Dra. Aparecida de Jesus Ferreira (Unioeste/Cascavel).

• A Presença Afrodescendente em Contexto EscolarA Presença Afrodescendente em Contexto EscolarA Presença Afrodescendente em Contexto EscolarA Presença Afrodescendente em Contexto EscolarA Presença Afrodescendente em Contexto Escolar(vagas 60 – sala 17).(vagas 60 – sala 17).(vagas 60 – sala 17).(vagas 60 – sala 17).(vagas 60 – sala 17).Profa. Dra. Maria Ceres Pereira (Unioeste/Cascavel).

• Preconceito, Discriminação e Racismo: teoria e práticaPreconceito, Discriminação e Racismo: teoria e práticaPreconceito, Discriminação e Racismo: teoria e práticaPreconceito, Discriminação e Racismo: teoria e práticaPreconceito, Discriminação e Racismo: teoria e práticaem sala de aula (vagas 50 – sala 20).em sala de aula (vagas 50 – sala 20).em sala de aula (vagas 50 – sala 20).em sala de aula (vagas 50 – sala 20).em sala de aula (vagas 50 – sala 20).Profa. Ms. Francy Rodrigues da Guia (Unioeste/Toledo).

• NarrativNarrativNarrativNarrativNarrativa como Estratégia na Abordaga como Estratégia na Abordaga como Estratégia na Abordaga como Estratégia na Abordaga como Estratégia na Abordagem Étnico-Racialem Étnico-Racialem Étnico-Racialem Étnico-Racialem Étnico-Racial(vagas 50 – sala 22).(vagas 50 – sala 22).(vagas 50 – sala 22).(vagas 50 – sala 22).(vagas 50 – sala 22).Profa. Esp. Rosani Clair da Cruz Reis (Mestranda em Letras- Unioeste/Cascavel e Profa. NRE).

• O Negro na Literatura BrasileiraO Negro na Literatura BrasileiraO Negro na Literatura BrasileiraO Negro na Literatura BrasileiraO Negro na Literatura Brasileira(vagas 70 – Minianfiteatro).(vagas 70 – Minianfiteatro).(vagas 70 – Minianfiteatro).(vagas 70 – Minianfiteatro).(vagas 70 – Minianfiteatro).Prof. Esp. José Carlos da Costa (Unioeste/Cascavel).

• ImagImagImagImagImagem e Identidade do Negem e Identidade do Negem e Identidade do Negem e Identidade do Negem e Identidade do Negrrrrro na Po na Po na Po na Po na Poesia de Cravoesia de Cravoesia de Cravoesia de Cravoesia de Craveirinhaeirinhaeirinhaeirinhaeirinha(vagas 40 – sala 34).(vagas 40 – sala 34).(vagas 40 – sala 34).(vagas 40 – sala 34).(vagas 40 – sala 34).Profa. Dra. Lourdes Kaminiski (Unioeste/Cascavel).

• A Língua Inglesa é uma Língua AnglosaxãA Língua Inglesa é uma Língua AnglosaxãA Língua Inglesa é uma Língua AnglosaxãA Língua Inglesa é uma Língua AnglosaxãA Língua Inglesa é uma Língua Anglosaxã(vagas 50 – sala 8).(vagas 50 – sala 8).(vagas 50 – sala 8).(vagas 50 – sala 8).(vagas 50 – sala 8).Prof. Ms. Rinaldo Vitor da Costa (Unioeste/Francisco Beltrão).

VVVVVAAAAAGAS LIMITGAS LIMITGAS LIMITGAS LIMITGAS LIMITADADADADADAS:AS:AS:AS:AS: 400 para a Conferência e Mesa Redonda, vagas queserão preenchidas de acordo com a ordem de inscrição e 380 para osminicursos, vagas que serão preenchidas de acordo com a ordem de inscrição.

CUSTCUSTCUSTCUSTCUSTO: O: O: O: O: Não haverá taxa de inscrição.

Page 22: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

27

PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS: UMA RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Histórico de 2007Histórico de 2007Histórico de 2007Histórico de 2007Histórico de 2007

Em 2007 as atividades foram em forma de vários seminários, com dura-

ção de 5 horas/aula por seminário, totalizando 25 horas. O projeto contou com a

colaboração de professores da Unioeste, alunos/as do mestrado e alunos/as da

graduação. Participaram dos seminários aproximadamente 300 professores e300 professores e300 professores e300 professores e300 professores e

alunos/asalunos/asalunos/asalunos/asalunos/as. Nos encontros foram discutidas as seguintes temáticas:

ataD oiránimeSeserodarobaloCserosseforP

sadivlovnesedsedadivitasadsolutíT

70/3/72 I

arierreFsuseJedadicerapA.arD.aforP

-sedadilibissoPesetimiL:3002/936.01ºnlaredeFieL:olutíTedoãçamroFerbosoãsnetxeedsotejorpsiodedotalermu

.laicaR-ocintÉedadisreviDeserosseforP

7002/5/2 II

)sarteLmeadnartseM(zurCadiralCinasoR.aforP

edaditnedIadoãçurtsnoC,siaicoSseõçatneserpeR:olutíT.serosseforPedoãçamroFeargeNaçnairCad

7002/6/12 III)oãçacudEmearotuoD(arierreFsuseJedadicerapA.arD.aforP

.acitárpeairoet:sedaditnedIsaodnasnepeR:olutíT

7002/9/4 VI

)sarteLmesadnaudarG(odnalrOaiérdnAereihttaWenaicuL

orgeNodedaditnedIadoãçurtsnoCA:olutíT.ocitádiDorviLonoãçatneserpeRausedoiemrop

7002/01/4 V

:ameTsiaicar-ocintéseõçalermesasiuqsepsadacrecarahlomU:BAEPotejorP siaicar-ocintéseõçalermesasiuqsepsadacrecarahlomU:BAEPotejorP siaicar-ocintéseõçalermesasiuqsepsadacrecarahlomU:BAEPotejorP siaicar-ocintéseõçalermesasiuqsepsadacrecarahlomU:BAEPotejorP siaicar-ocintéseõçalermesasiuqsepsadacrecarahlomU:BAEPotejorP

:sarodetabeD :sarodetabeD :sarodetabeD :sarodetabeD :sarodetabeDarierreFsuseJedadicerapA.arD.aforP

sevlAiksnimaKsedruoL.arD.aforP

)odeloT/etseoinU(neimayNaiuGadseugirdoRycnarF.sM.aforP.alocsEadsezoVsanorgeNreS:olutíT

)etseoinU/sarteLmeadnartseM(sieRzurCadenasoR.psE.aforPsiarutlucitlumsnegadroba:laicaR-ocintÉedadisreviD:olutíT.936.01º.nlaredeFieLadoãçacilpaamatneirosacirólclof

)etseoinU/sarteLmeadnartseM(sotnaSsodarieroMadicerapAecilareV.aforP-laicaR-ocintÉedadisreviDana/rosseforPreSO:olutíT

.sairátitnediseõçiutitsnocsadsavitarran

)etseoinU/sarteLmeadnaudarG(odnalrOaiérdnAesaugníLedserosseforPedoãçamroF:olutíT

.seõçaeseõsiv,sezov:laicaR-ocintÉedadisreviD

)etseoinU/sarteLadnaudarG(reihttaWenaicuLadaicnêulfnia:ocitádiDorviLomaiemrePeuqsacitámeTsadesilánA:olutíT.sonulasodedaditnediadoãçamrofanlaicar-ocintéedadisrevidadoãssucsid

Page 23: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

28

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Outras ações sobre diversidade étnico-racial que ocorrem naOutras ações sobre diversidade étnico-racial que ocorrem naOutras ações sobre diversidade étnico-racial que ocorrem naOutras ações sobre diversidade étnico-racial que ocorrem naOutras ações sobre diversidade étnico-racial que ocorrem na

Unioeste/CascavelUnioeste/CascavelUnioeste/CascavelUnioeste/CascavelUnioeste/Cascavel

• 2002: 2002: 2002: 2002: 2002: Curso de extensão Reflexão sobre o ensino crítico de língua

inglesa – pluralidade cultural – ‘raça’/etnia, no ensino de língua ingle-

sa – análise de material – produção, aplicação e análise do material

didático produzido (Unioeste/Cascavel) 20hs. Coordenação e

docência. Profa. Aparecida de Jesus Ferreira.

• 2004: 2004: 2004: 2004: 2004: Seminário de Literatura, História e Memória: Confluências en-

tre as Literaturas no Brasil e na África (Unioeste/Cascavel). Coorde-

nação: Profa. Lourdes Kaminski Alves.

• 2005/2006: 2005/2006: 2005/2006: 2005/2006: 2005/2006: Projeto de pesquisa: O contexto sócio-cultural na cons-

trução de identidade de professores: ‘raça’/etnia em questão. Coor-

denação: Profa. Aparecida de Jesus Ferreira.

• 2006: 2006: 2006: 2006: 2006: Publicação do livro: Formação de professores raça/etnia: re-

flexões e sugestões de materiais de ensino. Cascavel, PR: Coluna do

Saber, 2006. Autora: Aparecida de Jesus Ferreira.

• 2007: 2007: 2007: 2007: 2007: Curso Lei 10.639/2003 e o contexto escolar 100hs (Unioeste/

Cascavel). Coordenação: Profa. Lourdes Kaminski Alves. Integrante

da comissão organizadora: Profa. Aparecida de Jesus Ferreira. Do-

cente: Profa. Rosane Clari da Cruz Reis.

DISCUSSÃO E RESULDISCUSSÃO E RESULDISCUSSÃO E RESULDISCUSSÃO E RESULDISCUSSÃO E RESULTTTTTADOSADOSADOSADOSADOS

No que se refere à formação de professores, os estudos feitos recente-

mente apontam discussões sobre como professores têm lidado com as questões

étnico-raciais em sala de aula (GILLBORN, 1995; FERREIRA, 2006a, 2006b, 2006c

e 2007; GOMES & SILVA, 2002; MOITA LOPES, 2003), uma vez que, dentro do

espaço escolar, existem diversos grupos étnicos. Sendo assim, de que forma o

sistema escolar, através de seus currículos, projetos político-pedagógicos, tem se

preocupado com a integração de assuntos que discutam problemas como o racis-

mo, a sexualidade, a integração de pessoas com necessidades educativas especi-

ais, a idade e com os assuntos de gênero? Desde 1998, através dos PCNs (Parâmetros

Curriculares Nacionais), foi feita a inserção da questão étnica dentro da temática

da Pluralidade Cultural. Outro aspecto muito importante é a Lei Federal nº 10639

Page 24: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

29

PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS: UMA RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

,de 9 de janeiro de 2003, que inclui, no currículo oficial da rede de ensino, a

obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana” (BRA-

SIL, 2003). Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira e Africana

serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolartodo o currículo escolartodo o currículo escolartodo o currículo escolartodo o currículo escolar, em especial nas áreas de

Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Com relação a cursos de

formação continuada na área de relações étnico-raciais, a pesquisa desenvolvida

por Ferreira (2006c) demonstrou que as preocupações dos professores com rela-

ção ao trabalho da temática étnico-racial em sala de aula eram:

• Não saber como responder à reação do aluno.

• Ofender um aluno sem perceber.

• Insegurança quanto à forma de abordar o assunto em sala.

• Influenciar negativamente a formação da identidade do aluno.

• Tentar defender e acabar constrangendo o aluno.

• Na tentativa de amenizar um problema, acabar piorando-o e ser mal

interpretado.

• Insegurança quanto à forma de abordar o assunto.

• Medo de que haja conflito com os próprios professores.

• Medo de não superar o senso comum.

• Medo de não saber como agir diante da situação do racismo.

Os seminários foram organizados levando em conta as considerações

acima, pois a intenção era preparar os professores para discutirem temas relaci-

onados à diversidade étnico-racial com seus alunos e também incentivando-os a

colaborarem no processo de desconstrução do preconceito, da discriminação e

do racismo existente em nossa sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi exemplificado pelo PCN e também pela Lei Federal nº 10639/

2003, há uma necessidade de cursos de formação de professores que estejam preo-

cupados com uma educação anti-racista e que promova a igualdade racial e social.

Vários têm sido os exemplos que comprovam que as escolas e as universidades não

estão sabendo lidar com situações que reflitam sobre o direito à cidadania, à igual-

dade e à justiça social (GILLBORN, 1995; FERREIRA, 2004, MOITA LOPES, 2003).

Page 25: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

30

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Foi com essas reflexões que organizei o projeto de extensão PEAB,

para que fosse possível propiciar aos professores em serviço e aos professores

em pré-serviço uma formação que estivesse preocupada em formar docentes

comprometidos com assuntos que observem, de forma crítica, a relação entre o

sistema escolar e as desigualdades raciais e étnicas e a questão de identidade

(HALL, 2000; WOODWARD, 1997). No decorrer do projeto, vários foram os

exemplos dados pelos participantes, exemplos que mostraram a necessidade deste

projeto, bem como o quanto o projeto trouxe e está trazendo esclarecimento e

embasamento teórico aos professores para que possam estar trabalhando com

tal temática em sala de aula. Os acadêmicos em formação também demonstra-

ram a importância do curso para sua formação docente.

NONONONONOTTTTTASASASASAS

1 Este trabalho, em uma versão simplificada em formato pôster, foi apresentado e publicado em 2007no VI SEU (Seminário de Extensão da Unioeste) e o mesmo trabalho foi premiado como um dosmelhores trabalhos de extensão da Unioeste e foi apresentado no SEURS (Seminário de ExtensãoUniversitária da Região Sul).

2 Aparecida de Jesus Ferreira é doutora em Educação de Professores e em Lingüística Aplicada pelaUniversity of London - Institute of Education (2004). Suas pesquisas têm ênfase em LingüísticaAplicada em Língua Inglesa e Línguas Estrangeiras e com ênfase em Formação de Professores deLínguas. Ministra aulas no Curso de Letras (graduação), nas seguintes disciplinas: Língua Inglesa,Iniciação à Pesquisa em Linguagem, Prática de Ensino. No mestrado em Letras ministra as seguin-tes disciplinas: Formação de Professores de Línguas e Metodologia de Pesquisa em Linguagem.Faz parte do grupo de pesquisa: Linguagem e Sociedade e da Linha de Pesquisa: Linguagem eEnsino. As áreas de interesse em pesquisa são: a) Formação de Professores de Línguas; b) Ensino/Aprendizagem de Línguas Estrangeiras; c) Desenvolvimento e Avaliação de Materiais Didáticospara a Sala de Aula de Segunda Língua e Língua Estrangeira. Nos últimos anos suas pesquisas têmse voltado para as questões de Formação de Professores e seu projeto de pesquisa atual é:Formação de Professores de Línguas e Práticas Sociais. Seu último livro publicado é intitulado:“Formação de Professores Raça/Etnia: reflexões e sugestões de materiais de ensino”. Cascavel:Coluna do Saber. 2006. Também coordena o Projeto PEAB. E-mail: <[email protected]>.Site: <www.aparecidadejesusferreira.com>.

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Área de Linguagens e Códigos e suasTecnologias. Brasília: MEC. 1998a

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiroParâmetros curriculares nacionais: terceiroParâmetros curriculares nacionais: terceiroParâmetros curriculares nacionais: terceiroParâmetros curriculares nacionais: terceiroe quarto ciclos: apre quarto ciclos: apre quarto ciclos: apre quarto ciclos: apre quarto ciclos: apresentação dos temas transvesentação dos temas transvesentação dos temas transvesentação dos temas transvesentação dos temas transversaisersaisersaisersaisersais. Brasília: MEC/SEF. 1998b.

BRASIL. Lei No. 10.639, de 9 de janeiro de 2003.Lei No. 10.639, de 9 de janeiro de 2003.Lei No. 10.639, de 9 de janeiro de 2003.Lei No. 10.639, de 9 de janeiro de 2003.Lei No. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Ensino sobre História e CulturaAfro-Brasileira. Brasília: MEC. 2003.

Page 26: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

31

PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS: UMA RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

BRASIL. Parecer No. CNE/CP 3/2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para aDiretrizes Curriculares Nacionais para aDiretrizes Curriculares Nacionais para aDiretrizes Curriculares Nacionais para aDiretrizes Curriculares Nacionais para aEducação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e CulturaEducação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e CulturaEducação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e CulturaEducação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e CulturaEducação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e CulturaAfro-Brasileira e Africana.Afro-Brasileira e Africana.Afro-Brasileira e Africana.Afro-Brasileira e Africana.Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC Ministério da Educação: Conselho Nacionalde Educação: : : : : 17 p. 2004a.

BRASIL. Resolução nº 1, de 17 junho de 2004. Institui Diretrizes CurricularesInstitui Diretrizes CurricularesInstitui Diretrizes CurricularesInstitui Diretrizes CurricularesInstitui Diretrizes CurricularesNacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino deNacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino deNacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino deNacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino deNacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino deHistória e Cultura Afro-Brasileira e AfricanaHistória e Cultura Afro-Brasileira e AfricanaHistória e Cultura Afro-Brasileira e AfricanaHistória e Cultura Afro-Brasileira e AfricanaHistória e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC Ministério da Educação:Conselho Nacional de Educação: Conselho Pleno: : : : : 2 p. 2004b.

D’ADESKY, J. Pluralismo Ético e Multiculturalismo: Racismo e Anti-Racismo no Brasil.Rio de Janeiro: Pallas. Rio de Janeiro: Pallas. Rio de Janeiro: Pallas. Rio de Janeiro: Pallas. Rio de Janeiro: Pallas. 2001.

COX, P. M. I. and Petterson A. A. A. Critical Pedagogy in ELT: Images of BrazilianTeachers of English. TESOL QTESOL QTESOL QTESOL QTESOL QUARUARUARUARUARTERLTERLTERLTERLTERLYYYYY, , , , , vol. 31, nº. 3: 433-451. 1999.

FERREIRA, A. J. Addressing ‘race’/ethnicity in Brazilian Schools: A study of EFL teachers.PhD thesisPhD thesisPhD thesisPhD thesisPhD thesis, University of London - Institute of Education, 325 p. 2004.

______. ‘Race’/ethnicity in the Brazilian context. In: PhD Essays: Literature SurveysPhD Essays: Literature SurveysPhD Essays: Literature SurveysPhD Essays: Literature SurveysPhD Essays: Literature Surveysand Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen.and Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen.and Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen.and Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen.and Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen. Institute of Education,University of London. 2005. p. 8-19.

______. Reflexões Sobre a Formação de Professores e Diversidade Étnico-Racial..... In:V SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DV SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DV SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DV SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DV SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DA UNIOESTE:A UNIOESTE:A UNIOESTE:A UNIOESTE:A UNIOESTE: A Perspectiva Social noDesenvolvimento Regional. 2-4 Agosto 2005, Marechal Cândido Rondon, Pr. AnaisCD-ROM. 2005. p. 1-6.

______. FFFFFormação de prormação de prormação de prormação de prormação de professorofessorofessorofessorofessores raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: reflexões e sugestões de materiaisde ensino. Cascavel, PR: Coluna do Saber, 2006a.

______. Formação de professores de língua inglesa e o preparo para o exercício doletramento crítico em sala de aula em prol das práticas sociais: um olhar acerca deraça/etnia. Línguas & LetrasLínguas & LetrasLínguas & LetrasLínguas & LetrasLínguas & Letras, v. 7, n. 12, p. 171-187. 2006b.

______. Relato de Experiências sobre o curso de: Formação de Professores eDiversidade Étnico-racial. In: FERREIRA, A. J.; ALVES, L, K.; PEREIRA, M. C. PRPRPRPRPROJETOJETOJETOJETOJETOOOOOPró-AfrPró-AfrPró-AfrPró-AfrPró-Afro: Po: Po: Po: Po: Pesquisa, Releitura e Fesquisa, Releitura e Fesquisa, Releitura e Fesquisa, Releitura e Fesquisa, Releitura e Formaçãoormaçãoormaçãoormaçãoormação. Cascavel: Edunioeste. CD-ROM, 2006c.

______. What has race/ethnicity got to do with EFL teaching? LinguagLinguagLinguagLinguagLinguagem & Ensinoem & Ensinoem & Ensinoem & Ensinoem & Ensino,v.10,n.1, p.211-233, jan./jun. 2007.

FERREIRA, A. J.; ALVES, L, K.; PEREIRA, M. C. PROJETO Pró-Afro: Pesquisa, Releiturae Formação. Cascavel: Edunioeste. 2006.

FREIRE, P. PPPPPedagedagedagedagedagooooogia do Oprimidogia do Oprimidogia do Oprimidogia do Oprimidogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1987.

GILLBORN, D. Racism and antiracism in rRacism and antiracism in rRacism and antiracism in rRacism and antiracism in rRacism and antiracism in real schools:eal schools:eal schools:eal schools:eal schools: theory, policy, practice.Buckingham: Open University Press. 1995.

GOMES, N. L. & SILVA, P. B. O desafio da diversidade. In: N. L. Gomes & P. B.Gonçalves E Silva (Ed.). Experiências étnico-culturais para a formação deExperiências étnico-culturais para a formação deExperiências étnico-culturais para a formação deExperiências étnico-culturais para a formação deExperiências étnico-culturais para a formação deprofessoresprofessoresprofessoresprofessoresprofessores. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. p. 13-33.

Page 27: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

32

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

HALL, S. New Ethnicities. In: J. Donald and A. Rattansi. ‘Race’, culture & difference.‘Race’, culture & difference.‘Race’, culture & difference.‘Race’, culture & difference.‘Race’, culture & difference.London: Open University Press, 1992. p. 252-259.

HERINGER, R. Race inequalities in Brazil. Race inequalities in Brazil. Race inequalities in Brazil. Race inequalities in Brazil. Race inequalities in Brazil. Brasília: Escritório Nacional Zumbi dosPalmares, 2000.

MOITA LOPES, L. P. Socioconstrucionismo: discurso e identidade social. In: LuizPaulo Moita Lopes (Ed.) Discursos de identidades: Discursos de identidades: Discursos de identidades: Discursos de identidades: Discursos de identidades: discurso como espaço de construçãode gênero, sexualidade, raça, idade e profissão na escola e na família. Campinas, SP:Mercado de Letras, 2003. p. 13-38.

SEED - SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO. Currículo Básico para aCurrículo Básico para aCurrículo Básico para aCurrículo Básico para aCurrículo Básico para aEscola Pública do Paraná. Escola Pública do Paraná. Escola Pública do Paraná. Escola Pública do Paraná. Escola Pública do Paraná. Curitiba. 1992.

SEED - SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO. DirDirDirDirDiretrizes Curricularetrizes Curricularetrizes Curricularetrizes Curricularetrizes Curriculares: Daes: Daes: Daes: Daes: DaEducação Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná. EnsinoEducação Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná. EnsinoEducação Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná. EnsinoEducação Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná. EnsinoEducação Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná. EnsinoFundamentalFundamentalFundamentalFundamentalFundamental. Curitiba. 2006.

WOODWARD, K. Identity and differIdentity and differIdentity and differIdentity and differIdentity and difference.ence.ence.ence.ence. London: Open University Press. SAGE. 1997.

Page 28: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

33

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-52 ABORDAGENS CRÍTICAS E

FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃODA LEI FEDERAL N.º 10.639/20031

Rosani Clair da Cruz Reis2

Aparecida de Jesus Ferreira(Orientadora – UNIOESTE)

INTRINTRINTRINTRINTRODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃO

Vivemos em um mundo marcado por desigualdades fundamen-tais: um mundo no qual morrem diariamente 40 mil criançasnos países do Terceiro Mundo; onde, em quase todas as soci-edades e culturas, as diferenças construídas a partir de gênero,raça, etnicidade, classe, idade, preferência sexual e outras dis-tinções conduzem às desigualdades opressoras. (PENNYCOOK,1998, p. 23).

Reforçando a sentença da epígrafe acima, Moreira e Candau (2005)

salientam que, “[...] se os currículos continuarem a produzir e a preservar divi-

sões e diferenças, reforçando a situação de opressão de alguns indivíduos e gru-

pos, todos, mesmo os membros dos grupos privilegiados, acabarão por sofrer”

(MOREIRA & CANDAU, 2005, p. 36). Os conflitos e as manifestações motivados

pelo não-respeito às diferenças, como, por exemplo, a proliferação de sites

neonazistas e os conflitos étnico-raciais no espaço escolar, confirmam a necessi-

dade de uma educação crítica que contemple a diversidade étnico-racial.

No Brasil, as discussões envolvendo questões culturais e étnicas se in-

tensificam e o reconhecimento da Cultura Afro-Brasileira torna-se, não uma op-

ção, mas obrigatoriedade em toda a nação, devido à criação da Lei Federal n.º

10.639/2003, que determina o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Afri-

cana em todos os estabelecimentos educacionais, sejam eles particulares ou pú-

blicos. Assim, os debates envolvendo o tema das relações étnico-raciais come-

çam a se intensificar dentro do espaço escolar, forçando o processo educativo a

reformular seu currículo e os professores a adequarem sua prática pedagógica.

Dessa forma, a educação pode ser utilizada como poderoso instrumento na bus-

Page 29: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

34

Rosani Clair da Cruz Reis - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

ca da superação dos conflitos étnico-raciais, mas, para isso, é necessário fazer

distinções quanto às diversas abordagens por meio das quais esta temática pode

ser inserida na prática pedagógica, principalmente porque ela se confunde com

pluralidade cultural, temática abordada nos antigos PCNs.

Canen & Moreira (2001) alertam para o fato de que, devido à complexida-

de e à polissemia envolvidas nas discussões e nas propostas multiculturais, é ne-

cessário analisar com clareza a concepção de multiculturalismo adotada, pois,

caso contrário, “[...] corre-se o risco de se colocar, sob o mesmo termo definidor,

programas pouco críticos e programas efetivamente comprometidos com a supera-

ção de linguagens e de práticas monoculturais” (CANEN & MOREIRA, 2001, p. 29).

De modo a esclarecer os pressupostos das diversas abordagens nas

quais os educadores podem fundamentar sua prática pedagógica ao aplicar a Lei

Federal n.º 10.639/2003, utilizo-me dos estudos de diversos teóricos (conforme

tabelas abaixo) com o objetivo de, ao definir as concepções embutidas em cada

uma, possibilitar aos professores tais conhecimentos, podendo eles assim esco-

lher, de forma crítica e fundamentada, uma abordagem que forneça sustentação

teórico-metodológica para sua prática docente, ao aplicar a lei aqui em referên-

cia. Assim, em primeiro lugar discutirei sobre as tendências multiculturalistas, as

quais são classificadas, por McLaren (2000, p.110), em três tipos: tendência con-

servadora, tendência liberal (humanista e de esquerda) e tendência crítica. Em

segundo lugar, comentarei sobre a educação anti-racista, apresentando os dez

princípios propostos por Dei (1999) e também as características definidas por

Cavalleiro para esta abordagem. Em terceiro lugar, apresento as considerações

finais, destacando os motivos pelos quais se faz necessário o conhecimento, por

parte dos professores, das diversas abordagens que subjazem à prática pedagó-

gica ao aplicar a Lei Federal n.º 10.639/2003.

TENDÊNCIAS MULTENDÊNCIAS MULTENDÊNCIAS MULTENDÊNCIAS MULTENDÊNCIAS MULTICULTICULTICULTICULTICULTURALISTTURALISTTURALISTTURALISTTURALISTASASASASAS

Em seu livro “Multiculturalismo Crítico”, McLaren (2000, p. 110) explica

que o multiculturalismo se apresenta sob quatro diferentes tendências:

multiculturalismo conservador ou empresarial, multiculturalismo humanista libe-

ral, multiculturalismo liberal de esquerda e multiculturalismo crítico. Segundo o

autor, “[...] as características de cada posição tendem a se misturar umas com as

outras dentro do horizonte geral da vida social” (MCLAREN, 2000, p. 110). Em

cada tendência predomina uma forma peculiar de enxergar as questões relacio-

Page 30: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

35

ABORDAGENS CRÍTICAS E FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 10.639/2003

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

nadas à diversidade cultural e racial, contudo, de acordo com McLaren, a liberal

humanista enfatiza a questão da igualdade, e a tendência liberal de esquerda

ampara-se no discurso3 da diferença (Idem, p. 123). Essas tendências operam

dentro de uma lógica essencialista, na qual “[...] as identidades individuais são

presumidas como autônomas, autocontidas e autodirigidas” (Idem). Canen &

Moreira (2001) comentam que, nas tendências liberais ou folclóricas, o

multiculturalismo é tratado “[...] de forma exótica, folclórica, limitando-se à pro-

moção de práticas de reconhecimento de padrões culturais diversificados, com

seus ritos, costumes, culinária, etc.” (CANEN & MOREIRA, 2001, p. 27).

Justamente por considerar que estas tendências multiculturais não permi-

tem transformações sociais mais profundas, McLaren desenvolveu os princípios do

multiculturalismo crítico, tendência essa que propõe que as representações de raça,

de gênero e de classe sejam analisados criticamente a partir dos signos e das

significações produzidos pela sociedade. Amparada nos estudos de McLaren (2000),

apresento abaixo as características de cada uma das tendências multiculturais:

Multiculturalismo conservador:Multiculturalismo conservador:Multiculturalismo conservador:Multiculturalismo conservador:Multiculturalismo conservador:

• As primeiras manifestações desta abordagem estão presen-

tes na visão colonialista, visão esta que representava os des-

cendentes de africanos como escravos e escravas, serviçais

e pessoas que proporcionavam diversão (p. 111).

• A África é representada, nesta abordagem, como um conti-

nente selvagem e bárbaro e seus habitantes são considera-

dos criaturas inferiores. Essa visão é considerada como um

legado do racismo científico, que hierarquizava as raças

em superiores e inferiores (p. 111).

• Multiculturalistas conservadores sustentam que o não-su-

cesso de minorias marginalizadas não se deve ao sistema,

mas à bagagem cultural inferior e à carência de orientação

familiar com relação aos valores. Tal visão faz com que a

responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso seja atri-

buída ao indivíduo, fornecendo, à elite cultural branca, ar-

gumentos que lhe permitem fazer uso do poder de forma

desproporcional e irrefletida (p. 113).

Page 31: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

36

Rosani Clair da Cruz Reis - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

• Nesta abordagem, os regimes dominantes de discurso e de

práticas culturais e sociais com teor racista, classista, se-

xista e homófobo não são questionados (p. 113).

Multiculturalismo humanista liberal:Multiculturalismo humanista liberal:Multiculturalismo humanista liberal:Multiculturalismo humanista liberal:Multiculturalismo humanista liberal:

Dá ênfase na questão da igualdade (p. 123). Defende a idéia de

que existe uma igualdade natural entre todos os segmentos ét-

nico-raciais, proporcionada pela igualdade intelectual, contu-

do enfatiza que a falta de oportunidade social e educacional

inviabiliza uma igual competição no mercado capitalista. Esta

tendência não propõe uma transformação social mais profun-

da, argumentando que há a possibilidade de se alcançar uma

igualdade relativa a partir de transformações e de reformas nas

restrições econômicas e socioculturais (p. 119).

Multiculturalismo liberal de esquerda:Multiculturalismo liberal de esquerda:Multiculturalismo liberal de esquerda:Multiculturalismo liberal de esquerda:Multiculturalismo liberal de esquerda:

Nesta abordagem a diferença é tratada como algo inerente

ao ser humano, que existiria independentemente da histó-

ria, da cultura ou do poder. Ao essencializar a diferença,

ignora que esta é resultado de uma situacionalidade históri-

ca e cultural, por meio da qual significados são produzidos

situando assim os indivíduos na hierarquia das relações de

poder. Segundo McLaren, todo processo de produção de

significado precisa sempre ser interrogado de modo a evi-

denciar como a identidade não é algo pronto e acabado,

sendo constantemente produzida “[...] através de um jogo

de diferença relacionado e refletido por relações, forma-

ções e articulações ideológicas que se deslocam e se

conflitam” (MCLAREN, 2000, p. 121).

Multiculturalismo crítico e de resistência (MCLAREN, 2000):Multiculturalismo crítico e de resistência (MCLAREN, 2000):Multiculturalismo crítico e de resistência (MCLAREN, 2000):Multiculturalismo crítico e de resistência (MCLAREN, 2000):Multiculturalismo crítico e de resistência (MCLAREN, 2000):

• A perspectiva multiculturalista crítica compreende a represen-

tação de raça, de classe e de gênero como lutas sociais mais

amplas sobre os signos e as significações, tendo por objetivo

Page 32: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

37

ABORDAGENS CRÍTICAS E FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 10.639/2003

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

central transformar as relações sociais, culturais e institucionais

nas quais os significados são gerados. Desta forma, enfatiza o

papel que a língua e a representação desempenham na cons-

trução de significados e de identidades (p. 123).

• Recusa-se a ver a cultura como não-conflitiva, harmoniosa

e consensual (p. 123).

• A diversidade não é vista como uma meta, mas como algo

que, sendo produto da história, da cultura, do poder e da

ideologia, deve ser afirmada dentro de uma política de crí-

tica e de compromisso com a justiça social (Idem).

• A relação entre significante e significado é insegura e instável,

uma vez que os signos são partes de uma luta ideologia por

meio da qual se cria um regime particular de representações,

regime o qual serve para legitimar certa realidade cultural, como,

por exemplo, os termos negro, black e afro-americano (p. 128).

• Os educadores que trabalham nesta perspectiva não po-

dem repetir o essencialismo monocultural (anglocentrismo,

eurocentrismo, afrocentrismo, etc.), mas precisam construir

uma educação que consiga envolver a todos, independente

de sua origem ancestral, num projeto que vá além das abor-

dagens folclóricas, priorizando a busca pela “[...] liberda-

de, libertação, democracia e cidadania crítica” (p. 132).

• Um currículo multiculturalista crítico possibilita aos educa-

dores explorarem as maneiras pelas quais alunas e alunos

são diferencialmente sujeitados às inscrições ideológicas e

aos discursos de desejos multiplamente organizados por meio

de uma política de significação. Isso significa, por exemplo,

que educadores conseguirão perceber de que forma os ter-

mos utilizados para referirem-se a alunos de grupos raciais

distintos são escolhidos não de forma casual: pessoas negras

e latinas são enquadradas de acordo com seu “comporta-

mento”, enquanto aos estudantes de classe-média brancos

são atribuídos “problemas de aprendizagem” (p. 131).

Page 33: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

38

Rosani Clair da Cruz Reis - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

EDUCAÇÃO ANTI-RAEDUCAÇÃO ANTI-RAEDUCAÇÃO ANTI-RAEDUCAÇÃO ANTI-RAEDUCAÇÃO ANTI-RACISTCISTCISTCISTCISTAAAAA

A educação anti-racista, de acordo com Dei (1999), “[...] nomeia explici-

tamente as questões de raça e diferenças sociais, como, por exemplo, questões de

poder e de capitais próprios, não preocupando-se (sic) com questões de diversi-

dade cultural e étnica” (DEI, 1999, p. 25). Esta abordagem é defendida por diversos

autores (DEI, 1999; CAVALLEIRO, 2001; 2005; GOMES & SILVA, 2002; HENRIQUES

& CAVALLEIRO, 2005; SANTOS, 2005; FERREIRA, 2006), contudo, por apresen-

tarem de forma sistematizada os princípios da educação anti-racista, bem como

suas características, utilizarei, para fundamentar esta abordagem, Dei (1999) e

Cavalleiro (2001). O primeiro propõe dez princípios básicos interligados para a

educação anti-racista; e a segunda sistematiza orientações para a prática desta

abordagem voltada para a educação das relações étnico-raciais.

No Brasil esta abordagem nas políticas educacionais é bastante recente,

uma vez que inicialmente esse tema, discutido nos Parâmetros Curriculares Nacionais

(BRASIL, 1997), recebia um tratamento nos moldes propostos pelo multiculturalismo

liberal, no item pluralidade cultural, constante entre os temas transversais. Depois de

2001, ano também em que aconteceu a Conferência de Durban4, é que começou a

haver, por parte do MEC, uma maior preocupação em dar um enfoque mais crítico às

discussões, publicando, então, em 2001, o livro “Superando o Racismo na Escola”, o

qual traz artigos que propõem um ensino voltado para a superação do racismo e do

preconceito racial no espaço escolar. Em 2003 foi sancionada a Lei Federal n.º 10.639/

2003 e, a partir de 2005, o MEC lançou várias publicações utilizando os conceitos

propostos pela educação anti-racista, obras dentre as quais o livro “Educação Anti-

Racista: caminhos abertos pela Lei Federal n.º 10.639/2003”.

A educação anti-racista pode ser definida, de acordo com Dei (1999),

como uma estratégia de ação orientada a uma mudança sistemática e institucional

para o enfrentamento do racismo e de outros sistemas de opressão e de desigual-

dades sociais, utilizando-se, para isso, de um discurso crítico de raça e do racis-

mo na sociedade. Ainda, conforme mencionado anteriormente, o anti-racismo

nomeia explicitamente as questões de raça e de diferenças sociais, em detrimen-

to de questões de diversidade cultural e étnica (DEI, 1999, p. 25). Ao discutir

assuntos relacionados à raça e às diferenças sociais identitárias, a educação

anti-racista questiona como se constituíram historicamente as relações de poder

e de dominação que estão embutidas nas estruturas institucionais da sociedade e

enfatiza que a noção romantizada de cultura, que não critica e nem interroga o

Page 34: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

39

ABORDAGENS CRÍTICAS E FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 10.639/2003

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

poder, impõe limite à compreensão da realidade social (Idem, p. 26-27). Dei

salienta que a educação anti-racista é um projeto acadêmico e político que ques-

tiona e enfrenta não somente o racismo, mas também outras formas de opressão

e de desigualdades sociais (Idem, p. 122). Listo, na tabela abaixo, primeiramente,

os dez princípios defendidos por Dei e, na seqüência, reproduzo as característi-

cas que, de acordo com Cavalleiro, estão presentes na educação anti-racista.

Os dez princípios propostos por Dei (1999, p. 27-35):Os dez princípios propostos por Dei (1999, p. 27-35):Os dez princípios propostos por Dei (1999, p. 27-35):Os dez princípios propostos por Dei (1999, p. 27-35):Os dez princípios propostos por Dei (1999, p. 27-35):

1. O conceito de raça é central para o discurso anti-racista,

uma vez que é a partir dele que o poder, o prestígio e os

privilégios são organizados, regulamentados, distribuídos

e fundidos significativamente na sociedade contemporâ-

nea. Este princípio enfatiza que o significado dos termos

raça e racismo deve ser compreendido como um discurso

concernente ao corpo, uma vez que é este a partir do qual

significados são produzidos, sendo o mesmo, então, lido

diferentemente em espaços sociais também diferentes. As

diferenças entre os grupos sociais são construídas e

mantidas por meio de práticas racistas (Idem, p. 27).

2. Este princípio ensina que não se podem compreender com-

pletamente os efeitos sociais de raça sem uma compreen-

são da intersecção de todas as outras formas de opres-

sões sociais. O conceito de raça é mediado por todas as

outras formas de diferença, devendo, portanto, o discurso

anti-racista incorporar também a questão de gênero, de

classe e de sexualidade como conceitos relacionados e

fundamentais da experiência humana (Idem, p. 28).

3. O poder e o privilégio branco (masculino) e a racionalidade

para a posição dominante na sociedade são questiona-

dos, bem como é questionada também a ideologia que

sustenta e suporta a brancura como uma identidade social

e as instituições da sociedade dominante. A educação anti-

racista entende que há enormes benefícios sociais, econô-

micos e políticos que foram e são acumulados historica-

mente pelo grupo dominante, predominantemente branco,

Page 35: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

40

Rosani Clair da Cruz Reis - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

enquanto aos grupos marginalizados é negado o acesso a

esses mesmos benefícios, sendo assim lhes negado tam-

bém o direito à humanidade (Idem, p. 28).

4. Problematiza a marginalização de certas vozes na socie-

dade, o que faz com que o conhecimento e a experiência

dos grupos subordinados no sistema de ensino seja

deslegitimado. Considerando que poder e construção so-

cial do conhecimento se relacionam, as metodologias de

ensino devem ser constantemente avaliadas, de modo que

o conhecimento possa ser apropriado por todos. Os pro-

cessos atuais de escolarização devem ser criticados, de-

safiando educadores, gestores, estudantes, pais e comuni-

dades para trabalhar mais colaborativamente, de modo

que esta parceria possa tornar as escolas mais justas para

todos e também auxiliar na resposta às necessidades e às

preocupações da sociedade (Idem, p. 29-30).

5. Todas as formas de educação devem proporcionar uma

compreensão holística e o reconhecimento da experiência

humana, quanto a aspectos sociais, culturais, políticos, eco-

lógicos e espirituais, alertando para a importância da co-

existência humana com nosso meio ambiente. Os educa-

dores devem despertar nos alunos a importância da res-

ponsabilidade coletiva em relação à defesa das virtudes

sociais e naturais da humanidade (p. 30-31).

6. Neste princípio, identidade relaciona-se com escolaridade

a fim de dar significado, lugar, contexto, origem e história

de quem somos nós, como professores, administradores,

alunos, pais e membros de uma comunidade, fazendo tam-

bém conexão entre nós mesmos e o grupo ao qual pertence-

mos. Este princípio reconhece que questões como raça, clas-

se, gênero, deficiência e identidades sexuais dos alunos afe-

tam e são afetadas pelos processos de escolarização e nos

resultados de aprendizagem. Dei salienta que, quando a

escola tenta criar uma identidade política para todos, ale-

gando em sua jurisdição que todos são estudantes, que to-

Page 36: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

41

ABORDAGENS CRÍTICAS E FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 10.639/2003

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

dos ali são iguais e que o que conta é o que está no interior

de cada um, ela encerra as identidades, ignorando gênero,

raça e classe, criando, assim, um apagamento de sexismo,

de racismo e de classismo (Idem, p. 31).

7. Neste princípio, a diversidade e a diferença são vistos como

fonte de conhecimentos que está disponível para o benefício

de todos. Desta forma, a escolaridade e a educação devem

proceder a partir da compreensão de que todos na escola têm

algo a oferecer e que, portanto, as diversas opiniões, experiên-

cias e perspectivas devem ser ouvidas e valorizadas (Idem).

8. Reconhece o papel tradicional do sistema de ensino na

produção e reprodução, não somente racial, mas também

sexual e de classe, baseada nas desigualdades presentes

na sociedade. A escola pública é um local de produção e

de reprodução da hegemonia ideológica do Estado e do

interesse econômico do capital global. Na interação exis-

tente entre a demanda de trabalho da economia global

competitiva e os processos de escolarização, as institui-

ções de ensino mantêm uma lógica de desigualdade entre

os estudantes, baseada no critério cor. Assim, ao chegar

ao mercado de trabalho, os estudantes negros desempe-

nham mais atividades manuais que intelectuais, gerando a

idéia de estudante com sucesso e estudante fracassado,

atribuindo somente a eles a responsabilidade pelo lugar

onde chegaram. Para Dei, a meritocracia ainda tem um

lugar central na prática e na teoria educativa (Idem, p. 34).

9. Este princípio defende a idéia de que os problemas vivi-

dos pelos estudantes na escola não podem ser entendi-

dos de forma isolada, mas compreendidos a partir das

circunstâncias materiais e ideológicas em que os alunos

se encontram (Idem, p. 35).

10. Os problemas apresentados pelo aluno na escola não po-

dem ser atribuídos à família ou ao ambiente familiar, pois,

assim, deixa-se de questionar por que e como as experi-

ências escolares afetam os resultados de aprendizagem.

Page 37: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

42

Rosani Clair da Cruz Reis - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Assim, esse princípio reconhece a necessidade de apoio

institucional para os alunos, as famílias, os professores e os

administradores poderem lidar com o racismo, com o desem-

prego e com a pobreza que afetam o ensino e os resultados na

aprendizagem A educação anti-racista enfatiza que as escolas,

ao invés de patologizarem as famílias, deveriam promover a

interação entre aluno, professor, comunidade e pais (p. 35).

Características da educação anti-racista (Cavalleiro, 2001, p. 158):Características da educação anti-racista (Cavalleiro, 2001, p. 158):Características da educação anti-racista (Cavalleiro, 2001, p. 158):Características da educação anti-racista (Cavalleiro, 2001, p. 158):Características da educação anti-racista (Cavalleiro, 2001, p. 158):

1. Reconhece a existência do problema racial na sociedade

brasileira.

2. Busca permanentemente uma reflexão sobre o racismo e

sobre seus derivados no cotidiano escolar.

3. Repudia qualquer atitude preconceituosa e discriminatória

na sociedade e no espaço escolar e cuida para que as

relações interpessoais entre alunos/crianças negros/as e

brancos/as sejam respeitosas.

4. Não despreza a diversidade presente no ambiente esco-

lar: utiliza-a para promover a igualdade, encorajando a

participação de todos/as os/as alunos/as.

5. Ensina às crianças e aos adolescentes uma história crítica

sobre os diferentes grupos que constituem a história bra-

sileira.

6. Busca materiais que contribuam para a eliminação do

“eurocentrismo” dos currículos escolares e contemplem a di-

versidade racial, bem como o estudo de “assuntos negros”.

7. Pensa meios e formas de educar para o reconhecimento

positivo da diversidade racial.

8. Elabora ações que possibilitem o fortalecimento do auto-

conceito de alunos e de alunas pertencentes a grupos dis-

criminados.

Apesar de os pressupostos do multiculturalismo crítico e da educação

anti-racista serem muito semelhantes, em função do alerta que Canen & Moreira

(2001, p. 29) fazem com relação à polissemia envolvida nas discussões e nas pro-

Page 38: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

43

ABORDAGENS CRÍTICAS E FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 10.639/2003

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

postas multiculturais, considero que a educação anti-racista, por priorizar as ques-

tões envolvendo mais diretamente a educação das relações étnico-raciais, seja mais

aconselhável para o trabalho aqui proposto, ao passo que o multiculturalismo pode

dar margem a uma interpretação mais voltada a aspectos culturais.

Para se praticar a educação anti-racista, tal como esta abordagem orienta,

é necessário que o professor esteja disposto a promover um ensino crítico, compro-

metido com as causas sociais, que busque superar as desigualdades existentes entre

diferentes segmentos da sociedade, segmentos estes representados pelas categorias

de gênero, de orientação sexual, de classe e de raça. A busca por justiça e por

eqüidade social deve ser um compromisso de todo o currículo escolar. O trabalho

pedagógico, ancorado nos pressupostos da educação anti-racista, possibilita o de-

senvolvimento de uma prática docente segura, em direção à construção de uma edu-

cação preocupada em formar sujeitos que, além de terem a consciência de seus

direitos e a disposição de lutar por eles, se interessem por questões que atingem a

todos, assim como reconheçam e respeitem o direito às diferenças, compreendendo

a dinâmica por meio da qual estas são produzidas e mantidas.

Também há de se considerar que a adoção desta abordagem não tem o

objetivo exclusivo de beneficiar a um determinado segmento da sociedade, uma vez

que, conforme bem salientam Henriques e Cavalleiro, “[...] a desigualdade racial e o

racismo são elementos desagregadores da sociedade como um todo, que corrom-

pem a ética e a moralidade de todos os indivíduos” (HENRIQUES & CAVALLEIRO,

2005, p. 225). Outro argumento favorável para a adoção da educação anti-racista na

prática docente é o seguinte: as competências desenvolvidas pelo professor para

lidar com as questões que estas abordagens fundamentam não serão aplicadas so-

mente naquilo que faz referência direta às relações inter-raciais entre brancos e ne-

gros, mas à educação de um modo geral, tornando a educação mais humana, reflexiva

e capaz de dar novos rumos à produção dos significados sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

Ter clareza dos pressupostos teórico-metodológicos que embasam o ensi-

no voltado para a educação das relações étnico-raciais é condição fundamental para

que os objetivos da Lei Federal n.º 10.639/2003, e das diretrizes que a regulamentam,

possam ser alcançados. Fazendo a distinção entre as características de tais referenciais,

os professores têm a possibilidade de planejar e de conduzir sua prática de modo

seguro e, assim, alcançar os resultados necessários, principalmente porque a Lei

Page 39: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

44

Rosani Clair da Cruz Reis - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Federal n.º 10.639/2003 “[...] é bem genérica e não se preocupa com a implementação

adequada do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira” (SANTOS, 2005, p. 33).

É genérica também porque nela não há nada falando sobre relações étnico-raciais,

deixando esse aspecto a cargo da interpretação feita pelos educadores, os quais, em

sua maioria, nunca leram as diretrizes que regulamentam a Lei Federal n.º 10.639/

2003, ou mesmo, no caso do Paraná, as Diretrizes Curriculares para a Educação das

Relações Étnico-Raciais, aprovadas em agosto de 2006.

Conhecer e diferenciar as abordagens por meio das quais a Lei Federal n.º

10.639/2003 pode ser cumprida, isto possibilitará ao professor o planejamento e a

adoção de atividades e de posturas capazes de formar cidadãos críticos, capazes de

ir além da aceitação das diferenças, conhecendo as origens destas; cidadãos consci-

entes da existência das relações de poder e dos mecanismos que as mantêm; cida-

dãos que, conscientes destas questões, percebam que a defesa de seus direitos pres-

supõe a defesa dos direitos daqueles que se encontram em situações semelhantes a

ele; cidadãos que não se neguem ou que não neguem sua cultura para tentar ser aquilo

que a cultura dominante impõe como norma. Enfim, trata-se de formar cidadãos

transformadores não só de sua realidade, mas dos rumos da história.

NONONONONOTTTTTASASASASAS

1 Este artigo é parte da dissertação “Diversidade Étnico-Racial: abordagens folclóricas predominam naaplicação da Lei Federal n.º 10.639/2003”, desenvolvida no Mestrado em Letras, área de concentração“Linguagem e Sociedade”, na UNIOESTE, Campus de Cascavel, defendida em fevereiro de 2008.

2 Rosani Clair da Cruz Reis: Possui graduação em Letras Português/Inglês pela Universidade Esta-dual do Oeste do Paraná (1996), especialização em Didática e Metodologia do Ensino de LínguaPortuguesa – Teoria & Prática, pela Universidade Norte do Paraná (2002) e está concluindoMestrado em Letras, na área de concentração “Linguagem e Sociedade”, no qual desenvolvepesquisa relacionada às relações étnico-raciais no contexto escolar, dentro da linha de pesquisa“Linguagem e Ensino”. Rosani é professora da rede pública estadual de ensino da cidade deCascavel e ministrou, entre 2006 e 2007, o curso “A Lei Federal n.10.639/2003 no ContextoEscolar”, promovido pelo Mestrado em Letras e Núcleo Sindical da APP naquele município. NoPEAB, em 2006, a profa. Rosani ofereceu a oficina “O Uso de Narrativas na Abordagem Étnico-Racial” e, em 2007, apresentou seminário discutindo sobre as diversas abordagens nas quais osprofessores se podem fundamentar para a aplicação da Lei Federal nº 10.639/2003.

3 Uso, neste estudo, a palavra discurso no entendimento proposto por Lankshear: Discursos podem serdefinidos como modos socialmente construídos e reconhecidos de fazer e de estar no mundo, queintegram e regulam as formas de agir, de pensar, de sentir, de usar a linguagem, de acreditar e devalorizar. Através da participação em discursos, nós ocupamos papéis sociais e tomamos posições queoutros seres humanos podem identificar como significativas e com base nas quais são constituídas asidentidades pessoais (LANKSHEAR, 1994, p. 6). É dentro e através do(s) discurso(s) que os sereshumanos concebem, adotam, e, assim, dão forma aos valores e aos significados. (Idem, p. 7).

4 Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.Este evento aconteceu em Durban, África do Sul, entre os dias 31 de agosto a 8 de setembro de 2001.

Page 40: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

45

ABORDAGENS CRÍTICAS E FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 10.639/2003

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares NacionaisParâmetros Curriculares NacionaisParâmetros Curriculares NacionaisParâmetros Curriculares NacionaisParâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade culturale orientação sexual / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF. 1997.

CANEN, Ana; MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa. Reflexões sobre o multiculturalismona escola e na formação docente. In: Ênfases e omissões no currículo.Ênfases e omissões no currículo.Ênfases e omissões no currículo.Ênfases e omissões no currículo.Ênfases e omissões no currículo. Campinas/SP:Papirus, 2001.

CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Educação anti-racista: compromisso indispensávelpara um mundo melhor. In: Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossaescola. São Paulo: Summus, 2001.

DEI, George J. Sefa. Anti-racism educationAnti-racism educationAnti-racism educationAnti-racism educationAnti-racism education. Nova Scotia: Fernwood Publishing Halifax, 1999.

FERREIRA, Aparecida de Jesus. F F F F Formação de prormação de prormação de prormação de prormação de professorofessorofessorofessorofessores raça/etniaes raça/etniaes raça/etniaes raça/etniaes raça/etnia: reflexões e sugestõesde materiais de ensino em português e inglês. Cascavel: Coluna do Saber, 2006.

GOMES, Nilma Lino; SILVA, Petronilha B. Gonçalves. O desafio da diversidade. In:Experiências étnico-culturais para a formação de professoresExperiências étnico-culturais para a formação de professoresExperiências étnico-culturais para a formação de professoresExperiências étnico-culturais para a formação de professoresExperiências étnico-culturais para a formação de professores. Belo Horizonte:Autêntica, 2002.

HENRIQUES, Ricardo; CAVALLEIRO, Eliane. Educação e Políticas Públicas Afirmativas:elementos da agenda do Ministério da Educação In: SANTOS Sales Augusto (Org.).Ações afirmativas e combate ao racismo nas AméricasAções afirmativas e combate ao racismo nas AméricasAções afirmativas e combate ao racismo nas AméricasAções afirmativas e combate ao racismo nas AméricasAções afirmativas e combate ao racismo nas Américas. Brasília: Ministério daEducação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

MCLAREN. Peter. Multiculturalismo crítico.Multiculturalismo crítico.Multiculturalismo crítico.Multiculturalismo crítico.Multiculturalismo crítico. São Paulo: Cortez Editora, 2000.

MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa; CANDAU Vera Maria. Educação escolar e cultura(s):construindo caminhos. In: Educação como exEducação como exEducação como exEducação como exEducação como exererererercício de divcício de divcício de divcício de divcício de diversidadeersidadeersidadeersidadeersidade. Brasília:UNESCO, MEC, ANPEd, 2005.

PENNYCOOK, Alastair. A lingüística aplicada nos anos 90: em defesa de uma abordagemcrítica. In: SIGNORINI, Inês; CAVALCANTI, Marilda C. Lingüística aplicada eLingüística aplicada eLingüística aplicada eLingüística aplicada eLingüística aplicada etransdisciplinaridade.transdisciplinaridade.transdisciplinaridade.transdisciplinaridade.transdisciplinaridade. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1998.

SANTOS, Sales Augusto dos. A Lei Federal no 10.639/2003 como fruto da luta anti-racista do Movimento Negro. In: Educação anti-racista: Educação anti-racista: Educação anti-racista: Educação anti-racista: Educação anti-racista: caminhos abertos pela LeiFederal nº 10.639/2003. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de EducaçãoContinuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

Page 41: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

47

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-53 LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E

POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃODE ESTRATÉGIAS ANTI-RACISTASE A LEI FEDERAL nº 10.639/20031

Aparecida de Jesus Ferreira2

(UNIOESTE/Cascavel)

INTRINTRINTRINTRINTRODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃO

Este artigo tem a intenção de examinar em detalhes vários exemplos de

limites e de desafios que os/as professores/as encontram em implementar políti-

cas educacionais no que se refere a uma educação anti-racista. Estes limites e

desafios serão examinados em relação a: (i) condições de trabalho dos/as pro-

fessores/as e (ii) condições oferecidas pelas escolas e pela secretaria de educa-

ção local. Serão apontadas as implicações e as possibilidades da diversidade

étnico-racial no ambiente escolar para a implementação da Lei Federal nº 10.639/

2003, implicações e possibilidades embasadas nos resultados desta pesquisa.

A razão por focalizar este artigo acerca da formação de professores

leva em conta, em primeiro lugar, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),

que dão ênfase, em particular, ao tema pluralidade cultural e, dentro desta temática,

raça/etnia (educação anti-racista, diversidade étnico-racial) é um assunto elencado,

a ser discutido. Em segundo lugar, considera também a Lei Federal nº 10.639, de

9 de janeiro de 2003 (BRASIL, 2005), que inclui, no currículo oficial da rede de

ensino, “a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira e Afri-

cana’” em todo currículo escolar. Em terceiro lugar, existem pesquisas feitas no

Brasil e no exterior que demonstram a desigualdade em relação às questões raci-

ais e étnicas no Brasil em relação aos afro-brasileiros (CAVALLEIRO, 2001;

FERREIRA, 2004; 2006; MOITA LOPES, 2002). Discorro, primeiramente, acerca

do contexto da pesquisa e sobre a metodologia. Em segundo lugar, trago os

limites e os desafios enfrentados pelos professores. Em terceiro lugar, analiso as

implicações dos resultados obtidos e, finalmente, aponto algumas possibilida-

des para a implementação da Lei Federal nº 10.639/2003.

Page 42: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

48

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

O CONTEXTO CONTEXTO CONTEXTO CONTEXTO CONTEXTO DO DO DO DO DA PESQA PESQA PESQA PESQA PESQUISA E A METUISA E A METUISA E A METUISA E A METUISA E A METODOLOGIAODOLOGIAODOLOGIAODOLOGIAODOLOGIA

Esta pesquisa aconteceu na Cidade Verde (pseudônimo), no Sul do Brasil,

onde a maioria da população é descendente de imigrantes da Alemanha, da Itália e

da Polônia, embora, nos últimos anos, tenha havido uma grande migração de pessoas

de outras localidades para a região. Cidade Verde, no momento da coleta dos dados

em 2002, tinha 40 escolas (incluindo Ensino Fundamental e Médio). Dos docentes

das 40 escolas, 46 professores responderam a um questionário e seis destes foram os

meus entrevistados. Esta amostra de resultados é parcial, pois outros instrumentos de

coleta foram utilizados, como, por exemplo: uma oficina de produção de material de

ensino, considerando a temática; entrevistas (inicias e finais); questionários induzidos

para auto-reflexão; e observação de sala de aula. Neste momento apresento, no en-

tanto, somente estes resultados. Com relação às narrativas e às considerações que

utilizo para minha análise, somente nomeio (utilizando nomes) os professores que

foram meus informantes nas entrevistas. Com relação às contribuições dos questioná-

rios, nomeio os informantes (todos os nomes utilizados são pseudônimos, para pro-

teger a privacidade dos/as professores/as).

Com relação aos instrumentos utilizados para coleta no que se refere

aos questionários, estes continham duas partes, uma de informações pessoais

e profissionais e outra com informações acerca da formação dos professores.

Com relação às entrevistas, as perguntas foram semi-abertas, com seis profes-

sores que se dispuseram a colaborar.

Embora me utilize de números algumas vezes, para dar evidência ao

que ocorre com os professores, estes números são utilizados com o mesmo sen-

tido dado por Mason (1994), que discute sua experiência de juntar dados qualita-

tivos e quantitativos na análise. Para Mason, qualitativo (significado) e quantitati-

vo (estrutura) não é a divisão de dois estágios. Para ela, “Ambos os estágios são

designados para fazer questionamentos, entre outras coisas, em diferentes níveis

de significado” (MASON, 1994, p. 110). A sugestão de Mason exemplifica minha

abordagem nesta pesquisa. Com isto quero dizer que os dados quantitativos que

utilizei ajudaram-me a propiciar um significado qualitativo para meus dados,

conjuntamente com outros instrumentos de dados utilizados, tais como as res-

postas abertas sugeridas no questionário e nas entrevistas.

Na próxima seção discuto alguns dos limites elencadas pelos professores para

a implementação de políticas educacionais que considerem raça/etnia e uma educação

anti-racista. Em primeiro lugar estão as condições de trabalho e, em segundo lugar, as

condições dadas aos professores pelas escolas e pela secretaria local de educação.

Page 43: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

49

LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

LIMITES: CONDIÇÕES DE TRABLIMITES: CONDIÇÕES DE TRABLIMITES: CONDIÇÕES DE TRABLIMITES: CONDIÇÕES DE TRABLIMITES: CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS/AS PRALHO DOS/AS PRALHO DOS/AS PRALHO DOS/AS PRALHO DOS/AS PROFESSORES/ASOFESSORES/ASOFESSORES/ASOFESSORES/ASOFESSORES/AS

As condições de trabalho dos/as professores/as são um fator importan-

te que pode contribuir para que eles/as se sintam hábeis (ou não) para ensinar

com uma proposta que esteja ancorada por uma educação anti-racista. Conse-

qüentemente, é importante, neste estudo, entender as maiores dificuldades dos/

as professores/as relacionadas a sua condição de trabalho. Sendo assim, apre-

sento evidências com relação a: contrato de trabalho dos/as professores/as; nú-

mero de horas trabalhadas; e número de escolas “trabalhadas”.

Em termos de contrato de trabalho, no momento da coleta dos dados

havia dois tipos de contrato entre os/as professores/as que participaram da pes-

quisa, ou seja, os/as contratados/as permanentes (concursados/as) e os/as con-

tratados/as em regime de CLT. De acordo com as respostas dos questionários,

37% dos/as professores/as são concursados/as. Neste contexto, significa que es-

tes/as professores/as têm o direito de escolher suas aulas no início do ano letivo

e serem alocados permanentemente em uma escola. Os/as professores/as traba-

lhando nesta situação geralmente escolhem as escolas centrais ou próximas de

suas casas, e a grande maioria trabalha no período matutino e vespertino.

Ocorre, entretanto, que 61% dos/as professores/as estavam empregados/as

temporariamente (CLT) na época em que estes dados foram coletados em 2002.

Estes/as professores/as não tinham a prioridade de escolher as escolas onde iriam

lecionar nem de escolher o número de aulas de acordo com suas necessidades. A

eles/as são oferecidas as aulas de acordo com a disponibilidade das escolas. Estas

atitudes têm várias implicações, porque os/as professores/as nunca sabem a quanti-

dade de aulas que terão no ano seguinte, ou a escola onde irão lecionar. Além destas

questões, os/as professores/as que trabalham com contrato temporário geralmente

têm que trabalhar em mais de uma escola para completar a sua carga horária (o

número de escolas em que cada professor/a trabalha será descrito abaixo).

Este fator é, sem dúvida, uma barreira para os/as professores/as que tentam

implementar estratégias anti-racistas. Muitos/as deles/as não se sentirão comprometi-

dos/as com nenhuma escola em particular e, por esta razão, é muito improvável que

eles/as irão alocar tempo para preparar um assunto que necessita de muita preparação.

Com relação à quantidade de horas trabalhadas, nesta pesquisa, a car-

ga horária trabalhada pelos/as professores/as varia de 11 a 40 horas por semana,

com a maioria trabalhando entre 26 e 40 horas por semana. A maioria dos/as

professores/as tem como meta trabalhar 40 horas por semana para aumentar

Page 44: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

50

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

seus ganhos. De acordo com minha amostra, 67% dos/as professores/as têm um

grande número de aulas por semana, que varia de 26 a 40 aulas. O período de

trabalho dos/as professores/as varia de manhã à noite, em alguns casos, profes-

sores trabalham de manhã, de tarde e de noite. Ball, escrevendo sobre o contexto

do Reino Unido, afirma que “Os professores são confrontados por um aumento

crescente da carga de trabalho diverso que destrói a sociabilidade e reduz o

tempo de lazer e autodireção.” (BALL, 1987, p. 269).

Apesar de os comentários de Ball se referirem ao contexto britânico, eles

parecem se relacionar a meus resultados, porque é claro que a maioria dos/as

professores/as em meu estudo está com excesso de aulas. Certamente este é um

fator que conta em termos de os/as professores/as terem tempo suficiente para

elevar seu conhecimento para estarem aptos/as a usar estratégias anti-racistas no

ambiente escolar. É importante prestar atenção neste assunto, porque isto está rela-

cionado a tempo de preparação das aulas, e, ainda mais importante, é ter tempo

disponível para refletir sobre o assunto (MILNER, 2003; WALLACE, 1991). Para

melhorar seu conhecimento, é necessário ter tempo para ler textos teóricos na área

e ter tempo para relacionar o que foi lido com a prática pedagógica, bem como

conhecer a realidade de seus alunos/as, ou seja, aplicar o conhecimento em ação

(SCHÖN, 1983, WALLACE, 1991, PENNYCOOK, 2001; MILNER, 2003).

O grande número de escolas em que os/as professores/as trabalham é

outro fator a ser considerado. De acordo com meus informantes, 46% dos/as

professores/as que responderam ao questionário trabalham em mais do que uma

escola (21 professores e 5 não responderam), somente 20 professores de 46

trabalham em uma única escola. Trabalhar em mais do que uma escola pode

também acarretar algumas dificuldades em relação ao tempo de preparo para

ensinar e poder estar engajado nas discussões e nos compromissos na escola. A

razão por que os professores trabalham em mais de uma escola está relacionada

aos contratos de trabalho, como explicado anteriormente – em outras palavras, é

razão relacionada ao aspecto organizacional. Ocorreu um caso extremo de um

professor que trabalha em quatro escolas, além de que quase um quinto de meus

informantes trabalham em três escolas diferentes.

As informações quanto ao número de escolas em que cada professor

trabalha levantam questionamentos quanto à disponibilidade para discutir e para

implementar estratégias para uma educação anti-racista que envolva toda a escola.

É claro que a maioria dos/as professores/as em meu estudo não está implementando

estratégias anti-racistas e também parece que eles/as não têm tempo para praticar

um modelo de educação reflexivo como sugerido por Wallace (1991) e Milner (2003).

Page 45: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

51

LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

DESAFIOS: ESCOLA E SECRETDESAFIOS: ESCOLA E SECRETDESAFIOS: ESCOLA E SECRETDESAFIOS: ESCOLA E SECRETDESAFIOS: ESCOLA E SECRETARIA LOCAL DE EDUCAÇÃOARIA LOCAL DE EDUCAÇÃOARIA LOCAL DE EDUCAÇÃOARIA LOCAL DE EDUCAÇÃOARIA LOCAL DE EDUCAÇÃO

Nesta seção argumento que nem as escolas nem as secretarias locais de

educação estavam preparadas para implementar as políticas educacionais e,

conseqüentemente, não estavam preparadas para implementar mudanças

curriculares com relação a raça/etnia e a educação anti-racista. Como resultado,

os/as professores/as não receberam o suporte de que necessitavam. De acordo

com os participanntes da pesquisa, somente 20% disseram que eles/as usavam as

reuniões na escola para se manterem informados/as com assuntos relacionados

ao ensino. Isto significa que a escola, como arena para os/as professores/as se

manterem atualizados/as, não está proporcionando essas informações. Parece

que as escolas em que os/as professores/as trabalham estão falhando em não

utilizar os horários de reuniões para dar suporte para os/as professores/as

implementarem novas políticas educacionais. Em relação a este assunto, Ball

(novamente falando do contexto do Reino Unido) argumenta que:

A arena de debate, as reuniões do corpo docente da escola ou comitês sãocaracterizadas pela linguagem das políticas educacionais, através de uma granderetórica cheia de propósito idealista. Aqui as competitivas definições de inova-ção são o contexto público. Esta arena é significante, mas não necessariamenteonde as decisões são feitas ou formadas. Esta arena são onde os limites sãocolocados. E onde são fixadas as políticas públicas. Aqui os contrastes são for-tes, os argumentos são simples e direto ao ponto. (BALL, 1987, p. 39).

Aplicando as afirmações de Ball acima para os dados neste estudo, eu

afirmaria que é evidente que as escolas naquele momento não davam muito

encorajamento em termos de ajudar os/as professores/as na implementação do

que foi colocado nos PCNs. Estes resultados confirmam o que foi descoberto por

Pinto (1999) em outra pesquisa recente no Brasil, com professores em pré-servi-

ço. Pinto (1999, p. 199) pesquisou como os cursos que preparam futuros/as pro-

fessores/as em nível secundário propiciam oportunidades para discutir questões

voltadas para as relações raciais e étnicas no Brasil. Pinto usou três fontes de

dados para sua análise: currículo, livro didático em quatro disciplinas e os/as

professores/as que ministram a disciplina. Os livros analisados foram: história

do Brasil, biologia, sociologia de educação e psicologia. O objetivo de Pinto era

observar a contribuição de cada disciplina para entender a reflexão sobre as

diferenças raciais e étnicas. Os/as professores/as que participaram de sua pes-

quisa responderam a questionários e foram entrevistados/as. Pinto (1999, p. 228)

descobriu que alguns/mas futuros/as professores/as estavam conscientes da questão

Page 46: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

52

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

das diferenças raciais e étnicas. Ela também descobriu que alguns/mas professo-

res/as mostraram iniciativas na sala de aula, mas muito poucas iniciativas foram

incorporadas em nível de escola. Desta forma, as iniciativas eram individuais e

ligadas ao próprio interesse do/a professor/a no assunto.

Alguns/mas professores/as ligaram as dificuldades que eles/as experienciaram

com o relacionamento entre escolas e secretaria local de educação:

[…] o suporte pedagógico que nós temos na escola está muito preocupado como trabalho burocrático. (Ame, entrevista).

Para que um trabalho sério se efetive, todos os membros da escola devem

estar envolvidos se a escola estiver procurando por uma mudança substancial e

qualquer mudança deve ser sistemática. Desta forma, todos os membros da escola

podem participar em práticas grupais, observação do clima social da escola, tra-

balharem juntos através de práticas de avaliação do que foi planejado, e participa-

ção em conjunto de atividades extracurriculares. Ame enfatiza a necessidade de a

escola toda estar envolvida na implementação da questão racial/étnica, como já

discutido por alguns pesquisadores (CAVALLEIRO, 2001; GILLBORN, 1995).

Alguns dos participantes da pesquisa admitiram que a forma como algumas

escolas e a secretaria local de educação tratam a temática racial/étnica deixava a desejar:

A secretaria local de educação e escolas não nos dão suporte, os professoresestão sozinhos. O montante de horas que nos é dada para preparação deaulas é insuficiente [...]. Nós usamos o nosso próprio tempo para prepararas aulas e, se nós não fazemos isto, nós não somos considerados bons profis-sionais. (Ame, entrevista).

Planejamento curricular é bem apertado. As regras são dadas em termos deobjetivos e você está amarrado a eles. Você tem que fazer o planejamentocurricular e somente escrever no papel simplesmente para ter, em caso dasecretaria de educação local aparecer na escola. E você não vai além disto.(Cármen, entrevista).

A secretaria de educação local não oferece cursos, eu nunca escutei ne-nhum comentário de cursos, dos meus colegas. (Bárbara, entrevista).

Desde que iniciei trabalhar, a secretaria local de educação nunca nos ofere-ceu cursos sobre a temática pluralidade cultural – raça/etnia. Teve outrostipos de cursos, mas nunca relacionadas à temática pluralidade cultural –raça/etnia. (Fábia, entrevista).

Os/as professores/as que sentiram que a secretaria local de educação e

escolas não proporcionaram suporte pedagógico enfatizaram a falta de assistên-

Page 47: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

53

LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

cia pedagógica, como também assinalaram a excessiva burocracia na adminis-

tração das escolas. Isto também mostra que o planejamento que ocorre na escola

é mais um documento a ser mostrado para as secretarias de educação do que um

interesse para ser implementado nas salas de aulas. Cármen apontou que o currí-

culo revela como a escola, e as secretarias de educação locais, e, conseqüente-

mente, os/as professores/as, tratam a implementação curricular. Entretanto, por

conta da falta de suporte, os professores não conseguem implementar esta polí-

tica. Estudiosos, discutindo raça/etnia e currículo, em suas pesquisas encontra-

ram resultados similares (APPLE, 1999; MILNER, 2003; PINTO, 1999). Apesar de

a maioria dos professores/as, em meu estudo, ter dito que eles/as não tinham

apoio neste aspecto, alguns/mas admitiram que as secretarias locais de educa-

ção pelo menos tentam oferecer alguma assistência:

A secretaria local de educação faz uma tentativa de oferecer cursos, entre-tanto não houve encontros freqüentes. O assunto que foi tratado nas reuni-ões é sempre o mesmo, não havia nenhuma continuidade e a discussão erasempre branda. Eu acredito que, para a secretaria de educação local, oassunto também seja novo. (Cármen, entrevista).

A secretaria de educação local tentou fazer seminários, mas eu não percebimuito comprometimento por parte deles. (Elisa, entrevista).

Apesar de a secretaria local de educação ter propiciado espaço para dis-

cussão, o que ficou claro é que os/as professores/as sentiram falta de continuidade e

de profundidade na discussão sobre a temática da pluralidade cultural – raça/etnia.

As implicações das considerações feitas pelos/as professores/as podem ter um im-

pacto em seu trabalho no ambiente escolar em termos de continuidade e de compro-

metimento de seu trabalho. Analisando as considerações dos/as professores/as, eu

argumentaria que nem as escolas nem as secretarias locais de educação, ou cursos de

formação de professores em pré-serviço, fizeram uma tentativa séria de encorajar os/

as professores/as a usarem estratégias anti-racistas em suas aulas.

IMPLICAÇÕESIMPLICAÇÕESIMPLICAÇÕESIMPLICAÇÕESIMPLICAÇÕES

Os resultados dos limites elencados na seção anterior demonstram que

o sistema educacional colaborou na promoção de desigualdade. Isto se dá le-

vando em consideração que o currículo escolar representa uma forma de propri-

edade intelectual. Ladson-Billings & Tate (1995), que são os responsáveis por

trazerem a teoria racial crítica para o âmbito educacional, afirmam que a quali-

Page 48: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

54

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

dade e a quantidade do currículo ofertado variam com relação à propriedade de

valores da escola (p. 54). Eu argumentaria que, por causa das precárias condi-

ções de trabalho dos/as professores/as, conforme relatado em meu estudo, é um

dos fatores que colaboram para a reprodução da desigualdade. Esta desigualda-

de é reproduzida levando em consideração que:

• 61% dos/as professores/as em meu estudo trabalham com contrato

temporário.

• 67% dos/as professores/as em meu estudo estão sobrecarregados com aulas.

• 46% dos/as professores/as trabalham em mais de uma escola.

Os/as professores/as mencionados acima trabalham em escolas que estão

localizadas em subúrbios, onde há uma maior concentração de estudantes ne-

gros do que no centro da cidade (ver OLIVEIRA, 2003, p. 27), e, conseqüente-

mente, a condição de moradia dos alunos é inferior se comparada com os estu-

dantes que estudam no centro da cidade (tendência de ter mais estudantes bran-

cos). Considerando as condições de trabalho dos/as professores/as, os estudan-

tes dos subúrbios receberão uma instrução diferente de currículo, se comparada

com as escolas no centro da cidade. A Tabela 1.1 ilustra a intersecção de raça e

de propriedade, como exemplificada pela Teoria Racial Crítica.

TTTTTabela 1abela 1abela 1abela 1abela 1 Condição de trabalho do professores: intersecção com propriedade e raça

Escolas no centro da cidadeEscolas no centro da cidadeEscolas no centro da cidadeEscolas no centro da cidadeEscolas no centro da cidade

Condições de trabalho dos/as professores/as:

• Contrato de trabalho permanente.

• Trabalhando em uma escola.

Efeitos das condições de trabalho na escola:

• Professores/as mais comprometidos/as.

• Mais tempo para preparar aulas.

Estudantes:

• Tendência a ter mais estudantes brancos.

Currículo:

• Pais que têm condições de comprar livrosdidáticos e materiais extras.

• Pais podem participar nas reuniões esco-lares (conseqüentemente eles exigem umcurrículo mais rígido da escola).

Escolas nos subúrbiosEscolas nos subúrbiosEscolas nos subúrbiosEscolas nos subúrbiosEscolas nos subúrbios

Condições de trabalho dos/as professores/as:

• Contratos temporários.

• Trabalhando em mais de uma escola.

Efeitos das condições de trabalho na escola:

• Professores/as menos comprometidos/as.

• Menos tempo para preparar aulas.

Estudantes:

• Tendência a ter mais estudantes negros.

Currículo:

• Pais não podem comprar livros didáticose materiais extras.

• Pais não podem participar dos encontrosda escola (é menos provável que eles sai-bam o que está acontecendo na escola).

Page 49: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

55

LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

A Tabela 1.1 propiciada mostra que:

[…] propriedade intelectual deve estar sujeita ao preparo por propriedade “real”, quesão laboratórios de ciências, computadores, e outras tecnologias, apropriadamentecertificadas e professores preparados. (LADSON-BILLINGS & TATE, 1995, p. 54).

A partir dos resultados é possível elencar algumas conclusões, especi-ficamente a de que a educação pode ser vista como uma forma de excluir alunosnão brancos e as condições de trabalho dos/as professores/as é, certamente, umdos fatores que mais influenciam nesta situação. Com estes resultados é possívelelencar algumas possibilidades para a implementação de uma educação anti-racista na escola e da Lei Federal nº 10.639/2003, sendo as que seguem.

POSSIBILIDPOSSIBILIDPOSSIBILIDPOSSIBILIDPOSSIBILIDADESADESADESADESADES

Desde a implementação da Lei Federal nº 10.639/2003, o MEC/SECAD eSEPPIR e as secretarias locais de educação dos Estados, bem como as Universidadesatravés dos NEABs (Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros) têm desenvolvido cursos deformação continuada para os professores de todas as áreas do conhecimento. Este é um

momento histórico muito importante para os afro-descendentes no Brasil, pois nunca na

história do Brasil houve tanto incentivo à pesquisa na área de relações étnico-raciais.

Abaixo encontram-se algumas possibilidades para serem

implementadas no micronível escolar. As informações abaixo foram retiradas

do livro de Ferreira (2006, p. 60-61).

SugSugSugSugSugestões de estratégias para serestões de estratégias para serestões de estratégias para serestões de estratégias para serestões de estratégias para serem consideradas nas escolas que trabalhamem consideradas nas escolas que trabalhamem consideradas nas escolas que trabalhamem consideradas nas escolas que trabalhamem consideradas nas escolas que trabalhamem prem prem prem prem prol da Tol da Tol da Tol da Tol da Teoria Racial Crítica e de uma educação anti-racistaeoria Racial Crítica e de uma educação anti-racistaeoria Racial Crítica e de uma educação anti-racistaeoria Racial Crítica e de uma educação anti-racistaeoria Racial Crítica e de uma educação anti-racista

Estratégias organizacionaisEstratégias organizacionaisEstratégias organizacionaisEstratégias organizacionaisEstratégias organizacionais • Encontrar formas de engajar a comunidade como um todo nodesenvolvimento de uma prática anti-racista (CONNOLLY, 1998,p. 192; GILLBORN, 1995, p. 109).

• Organização de cursos de formação continuada de professores,deixando explícita a necessidade de políticas educacionais e desa-fiar professores à discussão do assunto (GILLBORN, 1995, p. 110).

• Encorajar trabalho reflexivo, mas não de forma intimidadora(CAVALLEIRO, 2001; GILLBORN, 1995).

• Ter o apoio da direção e de toda a equipe de ensino em estabe-lecer um programa de atividades por um período longo, institu-indo, nos compromissos da escola, o anti-racismo como umaquestão-chave (GILLBORN, 1995, p. 115).

• Encontrar formas de monitorar os resultados dos alunos porgrupos étnicos (OSLER & MORRISON, 2002, p. 331).

• Secretarias locais de educação devem possibilitar apoio e recursos paradar suporte às escolas (OSLER & MORRISON et alii, 2000, p. 154).

Page 50: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

56

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

• Envolver a visão e as ações de todos os funcionários da escola,bem como a visão dos alunos (GILLBORN, 1995, p. 114).

• Ensinar, a crianças e a adolescentes, um estudo crítico da histó-ria do Brasil (CAVALLEIRO, 2001, p. 158).

• Encontrar formas de engajar toda a comunidade escolar no de-senvolvimento de um currículo que considere a prática do anti-racismo (GILLBORN, 1995, p. 109).

• Envolver todas as disciplinas do currículo escolar na discussãosobre educação anti-racista (GILLBORN, 1995, p. 132).

• Explorar as limitações das perspectives de neutralidade racial e a pers-pectiva de não ver cor (colour blind) (LADSON-BILLINGS, 1998, p. 18).

Estratégias curricularesEstratégias curricularesEstratégias curricularesEstratégias curricularesEstratégias curriculares

• Discutir em sala de aula sobre práticas anti-racistas para seremadotadas por alunos.

• Ter uma discussão aberta com os alunos sobre xingamentos ebullying (ameaças, pressão psicológica, descaso) relacionados araça/etnia (TROYNA & SELMAN, 1991, p. 54).

• Ter uma discussão aberta para que os alunos possam dividirsuas visões e seus sentimentos (EPSTEIN, 1993, p. 146).

• Desenvolver materiais de ensino que propiciem espaço paraque os professores os possam adaptar à realidade dos alunos(TROYNA & SELMAN, 1991, p. 54).

• Organização de alguns materiais de ensino preparados pelosalunos para discutir o assunto de raça/etnia (TROYNA &SELMAN, 1991).

• Uso de estratégias de contar “estórias” para empoderar os alu-nos negros (LADSON-BILLINGS, 1998, p. 13).

Estratégias pedagógicasEstratégias pedagógicasEstratégias pedagógicasEstratégias pedagógicasEstratégias pedagógicas

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo examinei o assunto da diversidade étnico-racial no contexto

escolar, mais os limites e os desafios que os/as professores/as têm que enfrentar na

implementação de uma educação anti-racista, bem como as implicações, e apontei

algumas possibilidades que consideram a implementação da Lei Federal nº 10.639/

2003. Finalmente, ficou evidente que os/as professores/as não podiam desenvolver

a implementação de uma educação anti-racista por vários fatores, tais como condi-

ções de trabalho que não lhes permitiam reflexão nem procurar por uma melhora

em sua prática pedagógica. Meu corpus de dados obtidos claramente sugere que

os/as professores/as estavam, em sua maioria, com uma carga horária excessiva, e

muitas vezes trabalhando em mais de três escolas ao mesmo tempo. Um outro

limite é em relação à falta de suporte pedagógico, que não lhes propicia condições

para ensinar o assunto. Isto ficou evidente porque a maioria dos/as professores/as

Page 51: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

57

LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

afirma que não utiliza as reuniões escolares como recurso para se manterem

atualizados. Conseqüentemente, as escolas não eram vistas como fórum de discus-

são de pluralidade cultural (diversidade étnico-racial) nem como suporte aos/às

professores/as na implementação de novas políticas educacionais. Outro fator é

que as secretarias locais de educação não propiciavam cursos de formação conti-

nuada para apoiar os/as professores/as na implementação de políticas educacio-

nais. Com a implementação da Lei Federal nº 10.639/2003, as possibilidades são,

no entanto, inúmeras, pois se tornou obrigatório o ensino de História e Cultura

Afro-Brasileira e Africana na educação básica. As universidades estão propiciando

cursos de formação continuada através dos NEABs (Núcleos de Estudos Afro-Bra-

sileiros). Desta forma, os professores são incentivados a terem mais formação con-

tinuada, a integrarem grupos de estudos, a participarem de reuniões com pais e

alunos, a participarem na elaboração de materiais de ensino, bem como a propo-

rem projetos relacionados ao tema da diversidade étnico-racial ao longo do ano.

NONONONONOTTTTTASASASASAS

1 Este artigo em uma versão simplificada foi apresentado do InPLA de 2007 na PUC/SP.2 Aparecida de Jesus Ferreira é doutora em Educação de Professores e em Lingüística Aplicada pela

University of London - Institute of Education (2004). Suas pesquisas têm ênfase em LingüísticaAplicada em Língua Inglesa e Línguas Estrangeiras e com ênfase em Formação de Professores deLínguas. Ministra aulas no Curso de Letras (graduação), nas seguintes disciplinas: Língua Inglesa,Iniciação à Pesquisa em Linguagem, Prática de Ensino. No mestrado em Letras ministra as seguin-tes disciplinas: Formação de Professores de Línguas e Metodologia de Pesquisa. Faz parte dogrupo de pesquisa: Linguagem e Sociedade e da Linha de Pesquisa: Linguagem e Ensino. As áreasde interesse em pesquisa são: a) Formação de Professores de Línguas; b) Ensino/Aprendizagem deLínguas Estrangeiras; c) Desenvolvimento e Avaliação de Materiais Didáticos para a Sala de Aulade Segunda Língua e Língua Estrangeira. Nos últimos anos suas pesquisas têm se voltado para asquestões de Formação de Professores e seu projeto de pesquisa atual é: Formação de Professoresde Línguas e Práticas Sociais. Seu último livro publicado é intitulado: “Formação de ProfessoresRaça/Etnia: reflexões e sugestões de materiais de ensino”. Cascavel: Coluna do Saber. 2006.Também coordena o Projeto PEAB. E-mail: <[email protected]>. Site:<www.aparecidadejesusferreira.com>.

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

APPLE, Michael W. The absent presence of race in educational reform. Race EthnicityRace EthnicityRace EthnicityRace EthnicityRace Ethnicityand Educationand Educationand Educationand Educationand Education, v. 2, n. 1, p. 9-16. 1999.

AUERBACH, Elsa Roberts. The Politics of the ESL Classroom: Issues of power inpedagogical choices. In: TOLLEFSON, J. W. (Ed.). PPPPPowowowowower and inequality in languager and inequality in languager and inequality in languager and inequality in languager and inequality in languageeeeeclassrclassrclassrclassrclassroomoomoomoomoom. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. p. 9-33.

Page 52: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

58

Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

BALL, Stephen. The micro-politics of the school: The micro-politics of the school: The micro-politics of the school: The micro-politics of the school: The micro-politics of the school: towards a theory of schoolorganization. London: Methuen; Routledge, 1987.

BRASIL. ParâmetrParâmetrParâmetrParâmetrParâmetros Curricularos Curricularos Curricularos Curricularos Curriculares Nacionais. es Nacionais. es Nacionais. es Nacionais. es Nacionais. Área de Linguagens e Códigos e suasTecnologias..... Brasília: MEC, 1998.

______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de HistóriaRaciais e para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de HistóriaRaciais e para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de HistóriaRaciais e para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de HistóriaRaciais e para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de Históriae Cultura Afro-Brasileira e Africana.e Cultura Afro-Brasileira e Africana.e Cultura Afro-Brasileira e Africana.e Cultura Afro-Brasileira e Africana.e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: Secretaria Especial de Política dePromoção de Igualdade Racial, MEC/Ministério da Educação, 2005.

CANAGARAJAH, A. Suresh. Resisting linguistic imperialism in English teachingResisting linguistic imperialism in English teachingResisting linguistic imperialism in English teachingResisting linguistic imperialism in English teachingResisting linguistic imperialism in English teaching.Oxford: Oxford UP, 1999.

CAVALLEIRO, Eliane. Educação anti-racista: compromisso indispensável para um mundomelhor. In: CAVALLEIRO, E. (Ed.). Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: repensandoa escola. São Paulo: Selo Negro Edições, 2001. p. 141-160.

CONNOLLY, Paul. Racism, gRacism, gRacism, gRacism, gRacism, gender identities and young childrender identities and young childrender identities and young childrender identities and young childrender identities and young children: sen: sen: sen: sen: social relations ina multi-ethnic, inner-city primary school. London, New York: Routledge, 1998.

EPSTEIN, Debbie. Changing classroom cultures: Changing classroom cultures: Changing classroom cultures: Changing classroom cultures: Changing classroom cultures: anti-racism, politics and schools.Stoke-on-Trent: Trentham Books, 1993.

FERREIRA, A. J. Addressing ‘race’/ethnicity in Brazilian Schools: A study of EFL teachers.PhD thesisPhD thesisPhD thesisPhD thesisPhD thesis, University of London - Institute of Education, 325 p. 2004.

______. ‘Race’/ethnicity in the Brazilian context. In: PhD Essays: Literature SurveysPhD Essays: Literature SurveysPhD Essays: Literature SurveysPhD Essays: Literature SurveysPhD Essays: Literature Surveysand Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen.and Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen.and Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen.and Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen.and Other Anxieties: With an Introduction by Robert Cowen. Institute of Education,University of London. 2005. p. 8-19.

______. Reflexões Sobre a Formação de Professores e Diversidade Étnico-Racial..... In:V SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DV SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DV SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DV SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DV SEU – SEMINÁRIO DE EXTENSÃO DA UNIOESTE:A UNIOESTE:A UNIOESTE:A UNIOESTE:A UNIOESTE: A Perspectiva Social noDesenvolvimento Regional. 2-4 Agosto 2005, Marechal Cândido Rondon, Pr. AnaisCD-ROM. 2005. p. 1-6.

______. FFFFFormação de prormação de prormação de prormação de prormação de professorofessorofessorofessorofessores raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: reflexões e sugestões de materiaisde ensino. Cascavel, PR: Coluna do Saber, 2006a.

______. Formação de professores de língua inglesa e o preparo para o exercício doletramento crítico em sala de aula em prol das práticas sociais: um olhar acerca deraça/etnia. Línguas & LetrasLínguas & LetrasLínguas & LetrasLínguas & LetrasLínguas & Letras, v. 7, n. 12, p. 171-187. 2006b.

______. Relato de Experiências sobre o curso de: Formação de Professores eDiversidade Étnico-racial. In: FERREIRA, A. J.; ALVES, L, K.; PEREIRA, M. C. PRPRPRPRPROJETOJETOJETOJETOJETOOOOOPró-AfrPró-AfrPró-AfrPró-AfrPró-Afro: Po: Po: Po: Po: Pesquisa, Releitura e Fesquisa, Releitura e Fesquisa, Releitura e Fesquisa, Releitura e Fesquisa, Releitura e Formaçãoormaçãoormaçãoormaçãoormação. Cascavel: Edunioeste. CD-ROM, 2006c.

______. What has race/ethnicity got to do with EFL teaching? LinguagLinguagLinguagLinguagLinguagem & Ensinoem & Ensinoem & Ensinoem & Ensinoem & Ensino,v.10,n.1, p.211-233, jan./jun. 2007.

FERREIRA, A. J.; ALVES, L, K.; PEREIRA, M. C. PROJETO Pró-Afro: Pesquisa, Releiturae Formação. Cascavel: Edunioeste. 2006.

GILLBORN, David. Racism and anti-racism in rRacism and anti-racism in rRacism and anti-racism in rRacism and anti-racism in rRacism and anti-racism in real schools: eal schools: eal schools: eal schools: eal schools: theory, policy, practice.Buckingham: Open University Press, 1995.

Page 53: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

59

LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

LADSON-BILLINGS, Gloria & TATE, Willian F. Towards a Critical Race Theory ofEducation. TTTTTeachers Collegeachers Collegeachers Collegeachers Collegeachers College Recorde Recorde Recorde Recorde Record, v. 97, n. 1, p. 47-67.

LADSON-BILLINGS, Gloria. Just what is critical race theory and what’s it doing in anice field like education? QualitativQualitativQualitativQualitativQualitative Studies in Educatione Studies in Educatione Studies in Educatione Studies in Educatione Studies in Education, v. 11, n. 1, p. 17-24, 1998.

MILNER, Richard H. Teacher Reflection and Race in Cultural Contexts: History, Meanings,and Methods in Teaching. Theory into PracticeTheory into PracticeTheory into PracticeTheory into PracticeTheory into Practice, v. 42, n. 3, p. 173-180. 2003.

MOITA LOPES, Luiz Paulo. Socioconstrucionismo: discurso e identidade social. In:MOITA LOPES, L. P. (Ed.). Discursos de identidades: Discursos de identidades: Discursos de identidades: Discursos de identidades: Discursos de identidades: discurso como espaço deconstrução de gênero, sexualidade, raça, idade e profissão na escola e na família.Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003. p. 13-38.

OLIVEIRA, Iolanda. Relações raciais e educação: Relações raciais e educação: Relações raciais e educação: Relações raciais e educação: Relações raciais e educação: novos desafios. Rio de Janeiro:DP&A, 2003.

OSLER, Audrey; MORRISON, Marlene. Can Race Equality be Inspected? Challengesfor Policy and Practice Raised by the OFSTED School Inspection Framework. BritishBritishBritishBritishBritishEducational ResearEducational ResearEducational ResearEducational ResearEducational Research Journalch Journalch Journalch Journalch Journal, v. 28, n. 3, p. 327-338, 2002.

PENNYCOOK, Alastair. The cultural politics of English as an international languagThe cultural politics of English as an international languagThe cultural politics of English as an international languagThe cultural politics of English as an international languagThe cultural politics of English as an international languageeeee.London: Longman, 1994.

SCHÖN, Donald A. The reflective practitioner: The reflective practitioner: The reflective practitioner: The reflective practitioner: The reflective practitioner: how professionals think in action.London: Arena, 1983.

SEED. Diretrizes Curriculares: Diretrizes Curriculares: Diretrizes Curriculares: Diretrizes Curriculares: Diretrizes Curriculares: Da Educação Fundamental da Rede de Educação Básicado Estado do Paraná. Ensino Fundamental - Língua Estrangeira Moderna. Curitiba -Paraná: SEED - Secretaria do Estado de Educação - PR, 2005.

TROYNA, Barry; SELMAN, Libby. Implementing mImplementing mImplementing mImplementing mImplementing multicultural and anti-racistulticultural and anti-racistulticultural and anti-racistulticultural and anti-racistulticultural and anti-racisteducation in mainly white collegeducation in mainly white collegeducation in mainly white collegeducation in mainly white collegeducation in mainly white collegeseseseses. London: Further Education Unit, 1991.

WALLACE, Michael J. TTTTTraining forraining forraining forraining forraining foreign languageign languageign languageign languageign language teachers: e teachers: e teachers: e teachers: e teachers: a reflective approach.Cambridge: Cambridge University Press, 1991.

Page 54: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

61

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-54 OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO

PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS:UMA ANÁLISE A PARTIR DOS

PARÂMETROS NACIONAIS1

Andréia Fernanda Orlando2

Aparecida de Jesus Ferreira3

Fernanda Cristina Couto4

Luciane Watthier5

INTRINTRINTRINTRINTRODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃO

A representação social do negro6 o transforma, na maioria das vezes,

em um ser estigmatizado, estranho e não familiar. Em nossa sociedade, a interação

entre as pessoas ainda acontece de acordo com valores construídos socialmente

e historicamente, valores que levam em consideração o grupo étnico, a raça, a

classe ou a nação a que cada pessoa pertence (SILVA, 2002, p. 1). E este compor-

tamento certamente leva a que muitas crianças cresçam com preconceito contra

raça, contra cor ou contra classe social e isto pode ser visto como uma “herança

familiar”, ou seja, as crianças já o trazem de casa e o preconceito se constitui “no

senso comum dos indivíduos” (SILVA, 2002, p. 1). Sendo assim, as crianças car-

regam estereótipos que vêm “influenciar negativamente a autopercepção das pes-

soas” (SILVA, 1995, p.43) pertencentes a um grupo que foi estereotipado cultural-

mente, socialmente e historicamente.

Dessa forma, entendemos o estereótipo como sendo uma visão

simplificada de uma pessoa (ou de um grupo de pessoas) que constrói uma idéia

negativa a respeito de outra pessoa (ou de um grupo de pessoas) seja pelo

pertencimento étnico-racial, pela religião, pela classe social, pela opção sexual,

pela idade, etc. dessa outra pessoa (SILVA, 1995, p.43). Pretendemos, no pre-

sente artigo, analisar um livro didático de língua portuguesa, da 6ª série, utiliza-

do atualmente no Ensino Fundamental de escolas estaduais. Nosso objetivo, com

este corpus, é perceber como este livro didático aborda os aspectos étnico-

raciais e se procura desfazer estereótipos ou, pelo contrário, reforçá-los

(SCHWARCZ, 1998; SILVA, 2002; CAVALLEIRO, 2001).

Concordamos com Silva (1995, p. 48) quando afirma que, mesmo não

sendo apenas os livros didáticos os transmissores de estereótipos, estes possuem

Page 55: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

62

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus Ferreira - Fernanda Cristina Couto - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

um caráter de “verdadeiro”, o que torna necessário um trabalho mais cuidadoso

com esses livros, na procura de não permitir que o aluno adquira um comporta-

mento racista, comportamento que discrimina e que se constitui de preconceitos.

Neste artigo argumentamos que os parâmetros educacionais nacionais têm con-

tribuído para que os livros didáticos apresentem melhoras significativas com

relação aos estereótipos apresentados sobre o negro. Os materiais didáticos, no

entanto, ainda refletem o que foi construído socialmente e historicamente sobre

o que é ser negro no Brasil. Para desenvolvermos nosso argumento, neste artigo

estaremos primeiramente fazendo uma retomada histórica sobre o que tem sido

discutido sobre análise de materiais didáticos e a questão racial. Na segunda

parte trazemos as contribuições dos parâmetros nacionais e a questão racial. Na

terceira parte trazemos considerações de como será feita a análise do livro, bem

como as análises propriamente ditas das figuras e dos textos. Finalmente faze-

mos algumas considerações finais em que refletimos acerca das omissões/limites

e das possibilidades que o material de ensino traz.

RETRETRETRETRETOMADOMADOMADOMADOMADA HISTÓRICA: ANÁLISE DE MAA HISTÓRICA: ANÁLISE DE MAA HISTÓRICA: ANÁLISE DE MAA HISTÓRICA: ANÁLISE DE MAA HISTÓRICA: ANÁLISE DE MATERIAIS DE ENSINOTERIAIS DE ENSINOTERIAIS DE ENSINOTERIAIS DE ENSINOTERIAIS DE ENSINO

Os materiais pedagógicos têm papel fundamental na reprodução de ide-

ologias, expandindo visões estereotipadas acerca de raça/etnia, de classe social,

de gênero em nossa sociedade e isso ocorre porque estes materiais se sobressa-

em “pela importância que lhe[s] é conferida pelos pais, alunos e professores”,

sendo considerados “depositório[s] da verdade, a memória conservada das civi-

lizações” (SILVA, 1995, p. 47). Deste modo, faremos primeiramente uma exposi-

ção de estereótipos já encontrados em livros didáticos acerca do preconceito

racial, para, a partir disto, expormos a análise dos materiais aqui propostos.

Rosemberg (2003) afirma que os estudos sobre preconceito racial nos

livros didáticos e paradidáticos (leitura didática) iniciaram na década de 1950,

com a pesquisa de Dante Moreira Leite (1950): Preconceito racial e patriotismo em

seis livros didáticos brasileiros. Neste livro de Dante Moreira Leite se pode consta-

tar a representação do negro “[...] em situação social inferior à do branco: o trata-

mento da personagem negra com postura de desprezo; a visão do negro como

alguém digno de piedade; o enfoque da raça branca como sendo a mais bela e a de

mais poderosa inteligência [...]” (p. 132). De acordo com Rosemberg (idem), essas

representações defendem a “inferioridade natural dos negros” (p. 132).

Page 56: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

63

OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Nas décadas de 1970 e 1980, através de análises de materiais didáticos,

enfatizou-se “[...] o papel da escola como reprodutora das discriminações existen-

tes na sociedade contra determinadas categorias étnicos-raciais” (PINTO, citado

por ROSEMBERG, 2003, p. 133). Rosemberg (2003, p. 134) resume as representa-

ções do negro e do branco no livro didático num quadro onde cita que o branco é

sempre o representante da espécie enquanto que o negro é menos freqüentemente

representado em ilustrações e é representado por etnias, nunca por nome próprio,

como os brancos. Além disso, negros desempenham atividades de menor prestígio

e de menor poder social e são apresentados com traços grotescos e estereotipa-

dos. Sabe-se que o negro foi estereotipado como selvagem, como demônio, como

mau, como primitivo e estereótipos similares (SILVA, 1995). Segundo Silva (1995, p.

44-45), estes nomes eram usados para justificar os maus tratos que os senhores

brancos infligiam aos negros durante a escravidão. A mulher mulata, por sua vez,

foi e ainda continua sendo vista como um ser exótico, lascivo e sedutor.

Todos estes estereótipos em relação às pessoas negras causam graves

conseqüências a elas, começando pela discriminação no mercado de trabalho,

pois o negro é visto, muitas vezes, como desonesto, como mau, como sujo, como

feio e como incapaz, ou seja, é desprezado, tendo-se sempre a “preferência” por

pessoas brancas e dentro do “padrão de beleza”, padrão que pode ser definido

pelos adjetivos: magro/a, alto/a e bonito/a. Além disso, um problema maior é a

identificação de uma criança com um ser estereotipado, fazendo com que essa

criança se auto-rejeite e se exclua da sociedade, percebendo-se desde cedo di-

ferente dos demais, perdendo, além de tudo, sua capacidade crítica.

Em análises de livros didáticos, Silva (1995, p. 51) destaca a associação

de crianças negras a animais, como, por exemplo, macacos, porcos e cães, pas-

sando a visão de um ser sujo, inapto e que polui – tal visão é passada por meio

de ilustrações onde a criança e o animal aparecem fazendo a mesma coisa ou a

criança realizando uma ação comum de um animal, como, por exemplo, se sacu-

dindo como um cão. Outro modo usado para estereotipar é a falta de famílias e

de nomes de família para os negros, sendo tratados somente por apelidos, mui-

tas vezes apelidos forjados de acordo com a cor da pele ou, ainda, são associa-

dos a seres sobrenaturais como o saci, que é sempre negro, ou o diabo. Já as

crianças brancas aparecem nestes livros com nomes próprios, com família, sur-

gindo para ajudar um menino negro a resolver um problema, denotando a idéia

de que os negros não são capazes de resolverem sozinhos seus problemas. O

que também se reserva às crianças negras em livros didáticos são serviços infe-

riores, como empregada doméstica, serviçal, mendigo, favelado, etc.

Page 57: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

64

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus Ferreira - Fernanda Cristina Couto - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Deste modo, de acordo com Silva (1995, p. 59), dando aos negros tais

características, os materiais acabam por omitir a “[...] contribuição econômica e

a diversidade de funções e papéis desempenhados pelo homem negro no Brasil,

desde a sua chegada até os dias atuais”, além de deixar de comentar o acesso das

pessoas negras à profissões reservadas às pessoas brancas, a existência de mães

negras e os inúmeros papéis ocupados por elas na sociedade. Todos estes este-

reótipos educam tanto a criança negra quanto a criança branca já com uma men-

talidade racista. Na próxima seção discutiremos os parâmetros nacionais.

PPPPPARÂMETRARÂMETRARÂMETRARÂMETRARÂMETROS NAOS NAOS NAOS NAOS NACIONAIS: PNLD, PCNS E LEI FEDERAL Nº 10.639/2003CIONAIS: PNLD, PCNS E LEI FEDERAL Nº 10.639/2003CIONAIS: PNLD, PCNS E LEI FEDERAL Nº 10.639/2003CIONAIS: PNLD, PCNS E LEI FEDERAL Nº 10.639/2003CIONAIS: PNLD, PCNS E LEI FEDERAL Nº 10.639/2003

A escolha dos parâmetros nacionais para o Programa Nacional do Livro

Didático, dos Parâmetros Curriculares Nacionais e da Lei Federal nº 10639/2003

se dá principalmente pelo fato de que estes são os documentos oficiais que permeiam

o ensino básico, bem como estes documentos trazem contribuições significativas

para avaliar nosso instrumento de análise (o livro didático) e a questão racial.

Programa Nacional do Livro DidáticoPrograma Nacional do Livro DidáticoPrograma Nacional do Livro DidáticoPrograma Nacional do Livro DidáticoPrograma Nacional do Livro Didático

O surgimento do movimento negro nos anos 1980 e a implantação do

Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 1996 fizeram com que se inici-

asse um interesse por um tratamento diferenciado aos negros. Pesquisadores

desenvolveram uma série de ações para que isso pudesse ocorrer e o PNLD

passou a proibir a circulação de livros didáticos que expressassem preconceitos

de origem, de cor, de condições socioeconômicas, de etnia, de gênero e qual-

quer outra forma de discriminação (ROSEMBERG, 2003, p. 137).

Deste modo, podem-se já perceber mudanças nos livros didáticos na

década de 1990. Silva (2002) afirma que, nestes livros didáticos da década de 1990,

a representação do negro é feita da mesma forma que a dos brancos. Segundo ela,

Eles [os negros] aparecem ilustrados, com status econômico de classe média,com constelação familiar, crianças praticando atividades de lazer, em interaçãocom crianças de outras raças/etnias, com nome próprio, sem aspecto caricaturale freqüentando a escola; adultos negros exercendo funções e papéis diversifica-dos, descritos como cidadãos, interagindo com pessoas de outras raças/etniassem subalternidade, entre outras transformações. (SILVA, 2002, p. 2).

Através desta informação já se pode comprovar que realmente vêm

ocorrendo transformações na visão acerca dos negros e as legislações oficiais

Page 58: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

65

OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

certamente têm contribuído para isto. Estas mudanças são decorrentes de rei-

vindicações ocorridos por pressão de vários movimentos sociais (movimento

negro, movimento feminista e outros) e que foram transformados em parâmetros

nacionais como estes que estamos analisando.

Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNsParâmetros Curriculares Nacionais – PCNsParâmetros Curriculares Nacionais – PCNsParâmetros Curriculares Nacionais – PCNsParâmetros Curriculares Nacionais – PCNs

A visão trabalhada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRA-

SIL, 1998) sobre a temática racial e étnica é abordada como forma transversal através

do tema da pluralidade cultural. Conforme Souza & Menegassi (2004), a abordagem

da pluralidade cultural no contexto escolar é tratada como um desafio pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1998), ou seja, uma luta contra todo tipo de

discriminação. Os autores afirmam ainda que os PCNs adotam como conceito de

raça o “conjunto de indivíduos com caracteres somáticos como cor da pele, tipo de

cabelo”, enquanto etnia é abordada como “grupos sociais diferenciados dos outros

por especificidade cultural”, sendo que o último termo (etnia) seria o mais adequado

para ser trabalhado no meio escolar, pois abrange uma maior dimensão cultural no

que tange às características físicas de um grupo e sua identidade cultural. Enten-

demos, no entanto, o termo raça como um conceito que precisa ser estudado,

por este ainda ter uma grande importância em nossa sociedade. O termo raça

conserva o que foi construído socialmente, culturalmente e historicamente acer-

ca de um determinado grupo étnico, e, no caso dos afro-descendentes, a

momenclatura raça é ainda significativa na sociedade contemporânea.

Segundo Souza & Menegassi (2005), os PCNs propõem uma educação

comprometida com a cidadania, no entanto esses autores revelam que essa temática

relacionada à questão racial e étnica vem sendo tratada de forma errônea. Essa

forma errônea está mais relacionada com a seguinte pergunta: – Como a escola tem

lidado com a questão da diversidade que está sempre presente dentro do âmbito

escolar? Infelizmente o que os resultados de várias pesquisas demonstram é que se

tem mais contribuído para que o preconceito permaneça do que para que ele seja

desconstruído e desafiado (CAVALLEIRO, 2001; FERREIRA, 2004)

LEI FEDERAL Nº 10.639/2003LEI FEDERAL Nº 10.639/2003LEI FEDERAL Nº 10.639/2003LEI FEDERAL Nº 10.639/2003LEI FEDERAL Nº 10.639/2003

A recente Lei Federal nº 10.639 foi aprovada em 9 de janeiro de 2003. Essa

lei torna obrigatório o ensino de Histórica e Cultura Afro-Brasileira e Africana no

Ensino Fundamental e Médio para escolas públicas e particulares, matéria que deve

Page 59: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

66

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus Ferreira - Fernanda Cristina Couto - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

ser ensinada em todo currículo escolar de forma interdisciplinar, mas principalmente

nas disciplinas de História, de Literatura e de Artes. Para colaborar com a efetivação

da Lei Federal nº 10.639/2003, em junho de 2004 o CNE/CP, através do Parecer nº 3/

2004, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. O

parecer mostra várias indicações de como este conteúdo pode ser implementado no

sistema escolar (BRASIL, 2003, 2004). O parecer nos informa que:

[...] procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda dapopulação afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, depolíticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura,identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, soci-ais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e asdiscriminações que atingem particularmente os negros. (BRASIL, 2004, p. 2).

O documento também aponta para questões que precisam ser modifi-

cadas no sistema educacional de ensino e, para tanto, o sistema de ensino e os

estabelecimentos de educação básica, nos níveis de educação infantil, educação

fundamental, educação média, educação de jovens e adultos, educação superior,

precisarão providenciar:

Edição de livros e de materiais didáticos, para diferentes níveis e modalidades deensino, que atendam ao disposto neste parecer, em cumprimento ao disposto noArt. 26A da LDB, e para tanto abordem a pluralidade cultural e a diversidadeétnico-racial da nação brasileira, corrijam distorções e equívocos em obras jápublicadas sobre a história, a cultura, a identidade dos afrodescendentes, sob oincentivo e supervisão dos programas de difusão de livros educacionais do MEC- Programa Nacional do Livro Didático e Programa Nacional de Bibliotecas Es-colares (PNBE). (BRASIL, 2004, p. 11).

Considerando as questões colocadas, além de levar em conta a edição de

livros e de materiais de ensino, ainda há a necessidade de pensarmos como os

professores (sejam aqueles em formação, sejam aqueles já em exercício profissio-

nal) estão sendo preparados para exercer essa nova função. De acordo com resul-

tados de pesquisas feitas recentemente por Ferreira (2004, 2006 e 2007), Gomes &

Silva (2002), entre outros, os professores não estão sendo preparados para lidar

com a comunidade diversa que temos nas escolas brasileiras. Os resultados de-

monstram que há uma necessidade urgente de que as universidades (que formam os

professores) incluam em seus currículos (planos de ensino) e em seus PPPs (proje-

tos político-pedagógicos) estas discussões, para que tenhamos professores mais

preparados, críticos e cientes de seu papel transformador. Trata-se de um papel

Page 60: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

67

OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

que devem exercer dentro do sistema escolar de ensino em prol de práticas sociais

de igualdade étnico-racial, papel que, certamente, também passa pela questão de

saber analisar, de uma forma crítica e analítica, os materiais de ensino que utilizam

em sala de aula. É isso o que passamos a analisar na próxima seção.

ENCAMINHAMENTENCAMINHAMENTENCAMINHAMENTENCAMINHAMENTENCAMINHAMENTOS METOS METOS METOS METOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DO LIVRODOLÓGICOS E ANÁLISE DO LIVRODOLÓGICOS E ANÁLISE DO LIVRODOLÓGICOS E ANÁLISE DO LIVRODOLÓGICOS E ANÁLISE DO LIVROOOOO

Para a análise dos livros didáticos estaremos fazendo uso do livro de

Português intitulado, Português: Linguagens (CEREJA, William Roberto & MA-

GALHÃES, Thereza Cochar, 2002, 2ª edição) de 6ª série. A preferência pelo

material da 6ª série se deu pelo fato de que os respectivos alunos estão em fase

de pré-adolescência, ou seja, é o momento em que estão se preparando para

entrar no mundo adulto, momento em que formam sua consciência crítica e se

preparam para seguir um caminho por eles definido.

Nossa análise estará pautada em figuras e em textos de todo o livro, com os

objetivos de perceber como os mesmos textos propõem atividades com relação aos

aspectos étnico-raciais. O primeiro ponto que procuraremos analisar serão as figu-

ras, se estas representam também o negro e como o fazem. Após, nossa preocupação

se voltará aos textos e aos exercícios propostos pelo material. Procuraremos observar

se esses textos e exercícios propõem reflexões a favor da questão étnico-racial.

ANÁLISE DE FIGURASANÁLISE DE FIGURASANÁLISE DE FIGURASANÁLISE DE FIGURASANÁLISE DE FIGURAS

O livro Português: Linguagens, de 6ª série, está dividido em quatro uni-

dades intituladas: Heróis; Ser diferente; Viagens; e Viagem pela palavra, cada

uma subdividida em três capítulos.

No livro em questão, as ilustrações que proporcionam aos alunos refle-

xões sobre a questão étnico-racial são várias, e há mesmo ilustrações que não

tratam do assunto, o que faz com que os alunos percebam que não há diferenças

entre pessoas negras e pessoas brancas, pois estas aparecem juntas, valorizando

as características também do negro. Isso já pode ser observada na capa do livro,

pois nesta há quatro ilustrações e, entre elas, a primeira é a de uma menina negra

com um livro na mão, para o qual está olhando e sorrindo. Sua aparência é a de

uma criança como todas as outras: limpa e com o cabelo arrumado.

Já na segunda unidade, páginas 76 a 138, o material traz um trabalhovoltado às diferenças, não somente raciais e étnicas, mas também de usos, de

Page 61: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

68

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus Ferreira - Fernanda Cristina Couto - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

costumes, de idéias, etc., propondo também reflexões sobre a questão. Já na pri-meira página desta unidade há uma foto de crianças de diferentes raças e etniasabraçadas, demonstrando a existência de união e de carinho entre elas, do mesmomodo como na página 114, no terceiro capítulo, quando a discussão se volta exclu-sivamente para as diversidades raciais. Na página 78, o livro traz um texto intituladoA pipoca, em que, mesmo não tratando das diferenças raciais, traz a ilustração deuma favela em que há apenas mulheres negras com o corpo bem destacado, talvezpara forçar a idéia do estereotipo da mulher afro-descendente sensual. Isto reforçaa análise feita por Gomes (1995), mencionada na seção da retomada histórica (aci-ma), bem como o estereótipo de que negro mora na favela. Mais à frente, na página101, há uma foto de uma menina afro-descendente com um piercing na língua, tra-tando do preconceito social em relação ao que é diferente.

Na página 118, temos uma propaganda de protetor solar que força a idéiada igualdade racial. Esta traz duas crianças, uma negra e outra branca, abraçadas,porém mais à frente, na página 165 do material, já na terceira unidade, encontramosa ilustração de um homem negro e uma entrevista com ele. Este homem negro contaque ele fazia parte do submundo da violência e das drogas, e, com a ajuda dealgumas pessoas, conseguiu alcançar uma carreira de sucesso. Durante a entrevis-ta, o pedagogo Roberto conta toda a história de sua vida e o que fez com que ele setornasse conhecido como O contador de histórias. Essa história pode auxiliar paraque os alunos consigam desconstruir aquela visão de que os negros são vistoscomo subalternos, trazendo uma visão positiva, e também pode colaborar paramelhorar a auto-estima dos/as alunos/as afro-descendentes. Entretanto, quando omaterial poderia aprofundar o assunto, passa para outras atividades, deixando ape-nas a entrevista sem proporcionar nenhuma reflexão aos alunos/as. Podemos citarainda, nesta parte, a página 149, que traz a ilustração de crianças negras estudando,o que mostra que estas também têm acesso ao estudo. Após, a página 171 aparececom uma ilustração de várias pessoas, negras e brancas, participando de uma festareligiosa e, por último, a página 224 (4ª unidade) contém uma ilustração com váriascrianças cantando, tanto brancas quanto afro-descendentes.

ANÁLISE DOS TEXTANÁLISE DOS TEXTANÁLISE DOS TEXTANÁLISE DOS TEXTANÁLISE DOS TEXTOSOSOSOSOS

Voltamos agora nossa análise para os textos e os exercícios do livrodidático. Num primeiro olhar, na página 103 qualquer um pode elogiar o livro,

pois traz duas crianças afro-descendentes abraçadas. Ocorre, porém, que, após

uma leitura do texto acima desta ilustração, percebemos que o material trata do

Page 62: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

69

OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

preconceito em relação às pessoas portadoras do vírus da Aids. Deste modo, o

aluno, facilmente, interiorizará a idéia de que somente pessoas negras possuem

o vírus, o que parece um ponto negativo trazido pelo material. Neste sentido é

importante perceber o currículo oculto, ou seja, o que é passado para o aluno

sem uma reflexão. Por trás de um texto/ilustração desse tipo certamente estão

subentendidas algumas ideologias que desfavorecem o negro e favorecem o bran-

co, como exemplificamos na seção da retomada histórica.

No terceiro capítulo da segunda unidade, o assunto étnico e racial passa a

ser comentado de uma maneira mais aprofundada. O capítulo vem intitulado como A

cor de um país plural e mostra, logo no início, o preconceito existente no Brasil,

mesmo que não intencionalmente. Para explicar isto ele traz o seguinte enunciado:

“E aí, neguinho?”, “Ô Pelé, pega aquela caixa!”, Tudo bem, japa?”, “Entra aí,alemão!”, “Me dá uma bala, meu: você parece turco!”. Quem nunca ouviu no dia-a-dia frases como essas? O Brasil se diz um país se preconceito racial, mas seráque essas frases não ocultam algum tipo de preconceito?

Cavalleiro (2001, p. 145) afirma que, quando as pessoas negras são trata-

das como “neguinho” e “pretinho”, estes acontecimentos podem parecer apenas um

detalhe do cotidiano pré-escolar, porém “[...] são reveladores de uma prática que

pode prejudicar severamente o processo de socialização de crianças negras, im-

primindo-lhes estigmas indeléveis [...]”, contribui “[...] para um sentimento de recu-

sa às características raciais do grupo negro e fortalece o desejo de pertencer ao

grupo branco”. Cavalleiro (idem) ainda explica que este tipo de tratamento revela

um problema, revelando a existência de “uma hierarquia racial”.

Logo abaixo do terceiro capítulo da segunda unidade há depoimentos

de pessoas negras, algumas famosas, que já sofreram com o preconceito racial,

entre elas Cinthya Rachel, a Biba do Castelo Rá-Tim-Bum; Zezé Mota, cantora e

atriz; Netinho, vocalista do Negritude Júnior na época; Marcelo Pereira Surcin, o

Marcelinho Carioca, jogador de futebol, e outros. Entre estes depoimentos, os

autores do livro explicam que, “[...] segundo a constituição de 1988, todos os

homens nascem livres e iguais em dignidades e direitos”. Após isso, na interpre-

tação dos textos, são propostos alguns exercícios para que os alunos reflitam

sobre os preconceitos e coloquem suas opiniões a respeito, exercícios nos quais

os alunos são convidados a comparar as atitudes tidas em relação às pessoas

brancas com as atitudes tidas em relação às pessoas negras, como nesta questão:

Na sua opinião, os funcionários da loja agiriam da mesma forma com uma pes-

soa branca, mas vestida com roupa simples?, além de perceber refletir sobre os

Page 63: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

70

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus Ferreira - Fernanda Cristina Couto - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

efeitos de preconceitos contra uma pessoa: De acordo com o texto, a ausênciade preconceitos pode aproximar as pessoas: Justifique sua resposta.

Voltando novamente à propaganda da página 118 (mencionada na seção da

análise das figuras), em que há uma criança negra e uma branca abraçadas, o livro

propõe as seguintes questões: Pela imagem do anúncio, pode-se supor que, para oanunciante, a pele dos negros requer cuidado tanto quanto a dos brancos? Justifique.Você diria que a imagem do anúncio é preconceituosa ou não? Por quê? Através destas

atividades elencadas acima é possível que o aluno dê sua opinião sobre o assunto,

sendo que aqui caberia ao professor fazer com que o aluno observasse a ilustração não

como racismo, mas com uma visão positiva sobre o negro, pois mostra que este tam-

bém carece de cuidados com sua pele, ou seja, mostra o negro igual ao branco.

Ainda na página 118 encontramos resultados de pesquisas feitas com

negros, resultados que mostram que estes estão procurando vencer os preconcei-

tos existentes através de uma inserção maior na sociedade. A próxima página traz,

porém, o resultado de uma entrevista, a qual mostra o preconceito ainda existente:

a diferença entre o salário de um branco e o de um negro, ou seja, o baixo salário

deste último. E traz algo o mais impressionante, ou seja, a informação de que os

próprios negros são preconceituosos: “Metade dos negros diz concordar que ne-

gro bom é negro de alma branca” (p.119). Percebe-se aqui que há uma necessidade

de que o professor esteja preparado para lidar com este texto, pois, se não estiver,

pode perpetuar os estereótipos que foram repassados historicamente e socialmen-

te em nossa sociedade sobre o que é ser negro, como discutido na seção dos

parâmetros nacionais. Este texto dá uma fonte enorme de possibilidades para se-

rem “trabalhadas” na sala de aula: questões como embranquecimento, como racis-

mo institucional e como entender o processo que faz com que os próprios negros

reproduzam o que foi construído para eles socialmente e historicamente e que

infelizmente acabam reproduzindo estereótipos que os deixam em desvantagem

social com relação aos demais grupos étnicos (BRASIL, 2004).

Na página 120, os autores do material trazem um texto em que falam do

preconceito existente na televisão. Trata-se do fato de que as principais apresenta-

doras de programas serem loiras, o que, de acordo com as crianças, faz com que

as crianças negras se achem “feinhas, os cabelos feinhos, a cor dos olhos feinhos”

(p.120). Cavalleiro (2001, p. 145) aponta que o resultado de a criança assistir a esse

tipo de material (seja na televisão, seja em cartazes que são mostrados nos corre-

dores das escolas, seja em fotos ou em ilustrações de livros infantis), faz com que

elas percebam “uma suposta superioridade do modelo humano branco”, pois elas

não se vêem representadas nos diversos segmentos sociais.

Page 64: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

71

OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda que paulatinamente, a sociedade brasileira começa a depositar,

sobre o negro, uma nova visão, desta vez menos preconceituosa e mais consciente.

Silva (2002) também chega às mesmas conclusões em sua pesquisa. Grande parte

das discussões e das lutas contra ações racistas ressoam no ambiente escolar, mas

algumas vezes de uma forma discriminatória. O ambiente escolar é um dos locais

em que os alunos interagem e onde, em suas mentes, se formam conceitos e ideolo-

gias que nem sempre levam em consideração as diferenças étnico-culturais, o que

acaba por influenciar a difusão de preconceitos e de práticas racistas. Passamos,

neste momento, a fazer uma análise das omissões, dos limites e das possibilidades

que o livro didático oferece com relação à discussão do tema.

Omissões/limites

• Algumas das figuras e alguns dos textospresentes neste livro estereotipam o ne-gro em papéis de baixo prestígio social.

Possibilidades

• O livro traz muitas propostas de reflexõessobre a questão racial, tanto através de figu-ras quanto através de perguntas e de textos.

Considerando as omissões, os limites e as possibilidades do livro aqui

analisado, Silva (2001) nos ajuda a refletir sobre este assunto quando afirma que

“[...] desmontar a ideologia que desumaniza pode contribuir para o processo de

reconstrução da identidade étnico-racial e da auto-estima da criança negra, com

conseqüentes efeitos positivos na sua aprendizagem [...]” ( p. 57), assim como

que somente quando uma reflexão sobre o estereótipo for realizada seriamente

nos ensinos fundamental e, também, no médio, essa reflexão poderá se constituir

em uma das formas de desconstrução do mesmo estereótipo.

Deste modo, percebemos que o livro didático analisado ainda traz al-

guns estereótipos do negro, como foi demonstrado. Os autores do livro fazem,

no entanto, uma tentativa de um trabalho a favor da igualdade entre o negro e o

branco. Embora o material de ensino apresente muitas possibilidades de discus-

são sobre o tema, é importante enfatizar que o trabalho a ser feito pelo professor

é imprescindível para que se tenha um resultado em prol de um ensino anti-

racista e a favor de práticas sociais inclusivas, pois o material apresenta algumas

omissões e alguns limites que precisam ser analisados com cuidado em sala de aula.

Page 65: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

72

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus Ferreira - Fernanda Cristina Couto - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

NONONONONOTTTTTASASASASAS

1 Este trabalho foi apresentado no Seminário de Estudos da Linguagem, em 2006, na Unioeste, noCampus de Cascavel.

2 Andréia Fernanda Orlando: Graduada em Letras Português/Espanhol em Cascavel/PR pelaUNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Dedicou-se, durante os anos de faculda-de, à monitoria, a projetos de pesquisa e de extensão nessa mesma universidade, sendo que estasatividades se voltaram a reflexões acerca da formação de professores e tecnologia, bem comoligadas à questão da diversidade étnico-racial e, ainda, a análises de obras literárias espanholas ehispanoamericanas e, também, do ensino da língua materna nas escolas e à produção de materiaispropondo um trabalho com a gramática contextualizada. Já no que diz respeito a projetos deextensão, participou de atividades como extensionista bolsista do projeto PILAR (Projeto deIntercâmbio Lingüístico, Artístico e Cultural visando ao incentivo para o desenvolvimento detrabalhos na área da língua estrangeira, no caso, de língua espanhola. Possui várias publicações emanais de eventos locais, regionais e nacionais, bem como em revistas reconhecidas pela Qualis/Capes. Entre seus principais artigos escritos, encontra-se um que se refere ao projeto PILAR e quefoi digno de premiação pelo SEURS (Seminário de Extensão Universitária da Região Sul).

3 Aparecida de Jesus Ferreira é doutora em Educação de Professores e em Lingüística Aplicada pelaUniversity of London - Institute of Education (2004). Suas pesquisas têm ênfase em LingüísticaAplicada em Língua Inglesa e Línguas Estrangeiras e com ênfase em Formação de Professores deLínguas. Ministra aulas no Curso de Letras (graduação), nas seguintes disciplinas: Língua Inglesa,Iniciação à Pesquisa em Linguagem, Prática de Ensino. No mestrado em Letras ministra as seguin-tes disciplinas: Formação de Professores de Línguas e Metodologia de Pesquisa. Faz parte dogrupo de pesquisa: Linguagem e Sociedade e da Linha de Pesquisa: Linguagem e Ensino. As áreasde interesse em pesquisa são: a) Formação de Professores de Línguas; b) Ensino/Aprendizagem deLínguas Estrangeiras; c) Desenvolvimento e Avaliação de Materiais Didáticos para a Sala de Aulade Segunda Língua e Língua Estrangeira. Nos últimos anos suas pesquisas têm se voltado para asquestões de Formação de Professores e seu projeto de pesquisa atual é: Formação de Professoresde Línguas e Práticas Sociais. Seu último livro publicado é intitulado: “Formação de ProfessoresRaça/Etnia: reflexões e sugestões de materiais de ensino”. Cascavel: Coluna do Saber. 2006.Também coordena o Projeto PEAB. E-mail: <[email protected]>. Site:<www.aparecidadejesusferreira.com>.

4 Fernanda Cristina Couto: Graduada em Letras Letras Português/Espanhol em Cascavel/PR, em2007, pela UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Durante a graduação, partici-pou de projetos de pesquisa e de extensão.

5 Luciane Watthier: Atualmente é aluna do primeiro ano do Mestrado em Linguagem e Sociedade, comconcentração na linha de pesquisa “Linguagem e Ensino”, do Curso de Letras da UNIOESTE (Univer-sidade Estadual do Oeste do Paraná). Em 2007 concluiu a graduação em Letras Português/Espanholpela mesma UNIOESTE, no mesmo Campus de Cascavel/PR. Durante a graduação, além de ser alunade iniciação científica (PIBIC), participou de vários outros projetos na área de lingüística textual –formação de professores, práticas sociais e formação da identidade dos alunos. Tem artigos publicadosem anais de eventos regionais e nacionais, tanto na Unioeste quanto em outras universidade públicas,e um artigo publicado no periódico “Educere et Educare”. Seu trabalho de conclusão de curso estávoltado para a diversidade étnico-racial, com foco na formação da identidade dos alunos.

6 Os termos negro e afro-descendente foram utilizados, neste artigo, de forma aleatória. Essanomenclatura serve justamente para mostrar que os dois termos são utilizados para referir aspessoas de ascendência africana.

Page 66: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

73

OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

CAVALLEIRO, Eliane. Educação anti-racista: compromisso indispensável para um mundomelhor. In: CAVALLEIRO, Eliane (Ed.) Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:repensando a escola. São Paulo: Selo Negro Edições, 2001. p. 141-160.

FERREIRA, Aparecida de Jesus. Addressing ‘race’/ethnicity in Brazilian schools: Addressing ‘race’/ethnicity in Brazilian schools: Addressing ‘race’/ethnicity in Brazilian schools: Addressing ‘race’/ethnicity in Brazilian schools: Addressing ‘race’/ethnicity in Brazilian schools: astudy of EFL teachers. PhD thesis. University of London - Institute of Education. London,2004. 325 p.

______. FFFFFormação de prormação de prormação de prormação de prormação de professorofessorofessorofessorofessores raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: es raça/etnia: reflexões e sugestões de materiaisde ensino. Cascavel, PR: Coluna do Saber, 2006.

GOMES, Nilma Lino. A mulher negra que vi de perto: A mulher negra que vi de perto: A mulher negra que vi de perto: A mulher negra que vi de perto: A mulher negra que vi de perto: o processo de construção daidentidade racial de professoras negras. Belo Horizonte: Maza, 1995.

GOMES, Nilma Lino & SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. O desafio da diversidade.In: GOMES, N. L. & SILVA, P. B. (Ed.). Experiências étnico-culturais para a formaçãoExperiências étnico-culturais para a formaçãoExperiências étnico-culturais para a formaçãoExperiências étnico-culturais para a formaçãoExperiências étnico-culturais para a formaçãode professoresde professoresde professoresde professoresde professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

ROSEMBERG, Fluvia; BAZILLI, Chirley & SILVA, Vinícius Baptista da. Racismo noslivros didáticos brasileiros e seu combate: uma revisão da literatura. Educação eEducação eEducação eEducação eEducação ePPPPPesquisaesquisaesquisaesquisaesquisa, 2003, v. 29, n. 1, p. 125-146.

SCHWARCZ, Lilia Moritiz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça naintimidade (Ed.) História da vida privada no Brasil: História da vida privada no Brasil: História da vida privada no Brasil: História da vida privada no Brasil: História da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade. 1998.p. 175-243.

SILVA, Ana Célia da. Desconstruindo a discriminação do negDesconstruindo a discriminação do negDesconstruindo a discriminação do negDesconstruindo a discriminação do negDesconstruindo a discriminação do negrrrrro no livro no livro no livro no livro no livro didáticoo didáticoo didáticoo didáticoo didático.Salvador: EDUFBA, 2001.

______. A representação social do negro no livro didático: A representação social do negro no livro didático: A representação social do negro no livro didático: A representação social do negro no livro didático: A representação social do negro no livro didático: o que mudou?Disponível em: <http://www.anpel.org.br/inicio.html>. Acesso em: 11 dez. 2002. 8p.

______. A discriminação do negro no livro didáticoA discriminação do negro no livro didáticoA discriminação do negro no livro didáticoA discriminação do negro no livro didáticoA discriminação do negro no livro didático. Salvador: CEAO, CED, 1995.

SOUZA, Neucimara Ferreira de; MENEGASSI, Renilson José. A visão do negro nolivro didático de Português. In: Revista Espaço AcadêmicoRevista Espaço AcadêmicoRevista Espaço AcadêmicoRevista Espaço AcadêmicoRevista Espaço Acadêmico, nº 47, abril de 2005,ano IV. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br>. Acesso em: 27 set.2005.

THEREZA, Cochar Magalhães; CEREJA, William Roberto. PPPPPortuguês: ortuguês: ortuguês: ortuguês: ortuguês: linguagens – 6ªsérie. 2. ed. São Paulo: Atual, 2002.

Page 67: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

75

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-55 UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE

PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO:A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO DA

DIVERSIDADE RACIAL NA FORMAÇÃODA IDENTIDADE DOS ALUNOS1

Luciane Watthier 2

Aparecida de Jesus Ferreira3

(Orientadora/UNIOESTE)

INTRINTRINTRINTRINTRODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃO

No Brasil, ainda hoje os afrodescendentes vêm sendo discriminados porindivíduos que se dizem superiores apenas pelo fato de serem brancos (neste tra-balho está-se utilizando indistintamente negro ou afrodescendente e branco oueurodescendente), motivo pelo qual o racismo já está interiorizado em nossa soci-edade. Dessa forma, a identidade nacional foi e continua sendo construída sem adevida valorização da cultura negra. Isso se dá pelo fato de que a população negratem vários estereótipos negativos historicamente construídos a serem contornados.ali

Ao adentrarmos o espaço escolar, observamos que, ali, a situação nãoé diferente. Isso pode ser explicado se considerarmos que o tema dificilmente éabordado nas escolas, pelo fato de os livros didáticos (doravante LDs) não for-necerem, muitas vezes, embasamentos para trabalhos e nem reflexões sobre oassunto em sala de aula e, também, pela falta de formação dos professores, osquais, em sua maioria, se julgam despreparados para tratar do assunto.

Sendo assim, objetiva-se, no presente estudo, observar se os LDs forne-cem subsídios para a inclusão do tema da diversidade em sala de aula e de queforma isto é feito ou se, pelo contrário, fortalecem a questão da desigualdaderacial, vindo a prejudicar a formação da identidade dos alunos.

Para tal, organizamos o trabalho da seguinte forma: na primeira seçãotrazemos parte de nosso referencial teórico, discorrendo sobre a presença doracismo nos LDs e de que forma isto pode afetar na formação da identidade dosalunos; na segunda seção explicamos a metodologia utilizada na pesquisa; naterceira seção trazemos os resultados parciais desta, visto que se trata de umapesquisa de cunho monográfico e que, devido ao pouco espaço disponibilizado,não é possível apresentar toda a análise realizada; por fim trazemos algumas dasconclusões a que chegamos com a realização deste trabalho.

Page 68: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

76

Luciane Watthier - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

CONSTRUÇÃO DCONSTRUÇÃO DCONSTRUÇÃO DCONSTRUÇÃO DCONSTRUÇÃO DA IDENTIDA IDENTIDA IDENTIDA IDENTIDA IDENTIDADEADEADEADEADE

O ambiente escolar é um local que exerce influência intelectual e cida-

dã sobre um indivíduo, vindo a afetar a formação da identidade dos alunos, iden-

tidade a qual é definida pelos comportamentos, pelas atitudes e pelos costumes

de um indivíduo e se modifica com a convivência entre sujeitos, ou seja, se cons-

trói tendo o outro como referência (GOMES, 1996). Por conseguinte, o fato de o

tema da diversidade étnico-racial não ser abordado na sala de aula pode acarre-

tar a não-valorização da pessoa negra pela sociedade, contribuindo para que os

alunos negros percebam suas diferenças como aspectos negativos.

A necessidade de estudar o processo de formação da identidade das crian-

ças sobre esses estereótipos veiculados em nossa sociedade é porque aqui se conside-

ra, conforme Gomes (1996, p. 88), que o processo de construção da identidade “[...] é

um dos fatores determinantes da visão de mundo, da representação de si mesmo e do

outro”. Além disso, ocorre que a identidade da criança está, continuamente, em cons-

trução, podendo ser afetada por nosso meio social, ou seja, é formada ao longo do

tempo e não algo inato, existente na consciência desde o momento do nascimento.

Assim, ela permanece sempre incompleta, está sempre sendo formada, numa interação

entre o eu e a sociedade e modificada num diálogo contínuo com os mundos culturais

“exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem (HALL, 2002).

De acordo com Silva (2002), as representações observadas no cotidia-

no de crianças constituem seu senso comum, elaborado a partir de imagens, de

crenças, de mitos e de ideologias, vindo a formar, então, a identidade cultural.

Sendo assim, o fato de, muitas vezes, os livros didáticos utilizados em sala de

aula retratarem o negro de uma forma estigmatizada pode acarretar danos ao

aluno, que passa a achar normal a discriminação contra os afrodescendentes.

Assim, percebe-se que o processo de construção da identidade se dá

também na escola, local que representa um papel central na formação da identi-

dade social de um indivíduo, principalmente sobre a conscientização de suas

identidades e as dos outros. Isso é assim porque, segundo Moita Lopes (2002),

os significados gerados em sala de aula têm mais crédito social do que em outros

contextos, particularmente devido ao papel de autoridade que os professores

desempenham na construção do significado.

Tudo isso nos remete à preocupação de muitos pesquisadores (GO-

MES, 1996; CAVALLEIRO, 2001; SILVA, 2005), os quais entendem que as discri-

minações que se dão com os estudantes negros os estigmatizam, minando suas

Page 69: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

77

UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO: A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

identidades, porque aprendemos a ser quem nos dizem que somos e a pensar do

outro aquilo que dele imaginamos, sem ter para isso nenhum motivo real.

Nessa perspectiva, a preocupação de promover a igualdade deveria ser

também da escola. Assim, seria fundamental que tivéssemos professores capa-

zes de trabalhar com tais temáticas e de conscientizar seus estudantes da “[...]

diversidade cultural de nossa sociedade e de incentivar o questionamento das

relações de poder envolvidas na construção dessa diversidade [...]” (MOREIRA,

1999, p. 90), uma vez que o despreparo e, conseqüentemente, o não-

aprofundamento da temática poderão resultar em traumas aos alunos/as

afrodescendentes ou em desvalorização da cultura deste povo, deixando-os em

desvantagem social em relação à população branca.

Em razão disso, deve-se concluir que nem a escola nem os professores

poderiam, em momento algum, esquecer ou desconsiderar a diversidade racial e

étnica existente em nossa sociedade, mas, sim, deveriam tornar possível ao alu-

no, desde cedo, a conscientização da existência dessa diversidade e da impor-

tância de todas as etnias dentro da nossa história.

Racismo em LDsRacismo em LDsRacismo em LDsRacismo em LDsRacismo em LDs

A preocupação com a representação do afrodescendente em LDs se justifi-

ca pelo fato de se perceber que o material utilizando no contexto escolar retrata o

negro, muitas vezes, como um ser inferior ao branco, seja pelo fato de esses materiais

não abordarem o tema da diversidade étnico-racial, seja por não representarem os

negros. Essa realidade contribui para reforçar idéias racistas dentro e fora da escola.

Segundo Silva (1995, p. 47), nos LDs há, normalmente, uma melhor re-

presentação do eurodescendente em relação ao afrodescendente, sendo conferida

àquele uma importância maior do que aos afrodescendentes. Assim, os LDs pas-

sam a ter papel fundamental na reprodução de ideologias, pois expandem visões

estereotipadas dos segmentos oprimidos da sociedade (SILVA, 1995, p. 47).

Devido às denúncias da presença do racismo em LDs pelo Movimento

Negro e por pesquisadores interessados em estudar o racismo brasileiro, já exis-

tem vários estudos realizados em materiais didáticos que visam uma proposta

mais ampla de alteração curricular. Estes estudos iniciaram na década de 1950,

com a pesquisa de Dante Moreira Leite: “Preconceito racial e patriotismo em

seis livros didáticos primários brasileiros” (ROSEMBERG, 2003).

De acordo com Rosemberg (2003), após esse estudo de Dante Moreira

Leite surgiram, no entanto, também contribuições de outros pesquisadores. A

Page 70: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

78

Luciane Watthier - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

partir destas pesquisas, pôde-se constatar que muitos LDs veiculavam estereóti-

pos e expressões de inferioridade natural do negro, o que prejudicava a constru-

ção da identidade dos alunos, como:

[...] a não representação de personagens negros na sociedade descrita nos livros;a representação do negro em situação inferior à do branco; o tratamento dapersonagem negra com postura de desprezo; a visão do negro como alguémdigno de piedade; o enfoque da raça branca como sendo a mais bela e a de maispoderosa inteligência. (ROSEMBERG, 2003, p. 133).

Aos afrodescendentes masculinos sempre eram impostos estereótipos

que os caracterizavam como selvagens, como demônios, como maus, como primi-

tivos, enquanto que as mulheres mulatas eram vistas como seres exóticos, lascivos

e sedutores. Além disso, os afrodescendentes eram apresentados de forma pouco

freqüente, desempenhando um número limitado de atividades profissionais, e, mui-

tas vezes, fora de um contexto familiar ou em um contexto invariavelmente pobre.

Quanto às crianças negras, raramente se constatou que estas estavam imersas no

contexto escolar ou desempenhando atividades de lazer (ROSEMBERG, 2003).

Toda essa realidade vai contra os direitos do ser humano, pois “[...] a

educação é um direito social [...]” (GOMES, 2001, p. 84) e deve ser oferecida a

todos, independente da raça e da etnia. Dessa forma, dever-se-ia dar espaço

também à diversidade, apresentando práticas pedagógicas que superem as desi-

gualdades sociais e raciais. Além disso, os professores deveriam ter uma visão

crítica e reflexiva sobre o LD, não permitindo a adoção de materiais que veicu-

lam estereótipos do afrodescendente, o que, facilmente, acontece no contexto

escolar, resultando, assim, na adoção de materiais que veiculam idéias racistas.

Ocorre, porém, que o surgimento de movimentos sociais, especialmente

o surgimento do movimento negro nos anos 1980 e do projeto nacional do livro

didático (PNLD) em 1996, fez com que se iniciasse o interesse pelo tratamento

diferenciado aos negros, pois o PNLD passou a proibir a circulação de LDs que

expressassem preconceitos de origem, de cor, de etnia, de gênero e qualquer outra

forma de discriminação (ROSEMBERG, 2003). A partir disso e com a

obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana em to-

das as disciplinas do currículo escolar e, em especial, nas disciplinas de Educação

Artística, de Literatura e de História, com a aprovação da Lei Federal nº 10.639/

2003 (FERREIRA, 2006), algumas mudanças nos LDs se tornaram perceptíveis.

Assim, em edições mais recentes, houve um tratamento mais cuidadoso

das ilustrações. Tendo como base uma pesquisa realizada na década de 1990, Silva

Page 71: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

79

UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO: A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

(2002) cita, entre essas mudanças, a representação de personagens afrodescendentes

com status econômico de classe média, com constelação familiar, crianças prati-

cando atividades de lazer, em interação com crianças de outras raças/etnias, com

nome próprio, sem aspecto caricatural e freqüentando a escola; adultos

afrodescendentes exercendo funções e papéis diversificados, descritos como cida-

dãos, interagindo com pessoas de outras raças/etnias, sem subalternidade.

No geral, contudo, estes materiais didáticos ainda mantêm uma

homogeneidade na representação do afrodescendente. De acordo com Rosemberg

(2003, p. 136), são muitas as ilustrações que apresentam “[...] o negro escravo,

vinculando-o à passagem daquela condição à de marginal contemporâneo, pou-

co trabalhando a diversidade de sua condição”.

Na próxima seção será realizada a análise do corpus desta pesquisa e das

respostas dos alunos das turmas de primeiro e de terceiro anos às questões do questioná-

rio, bem como registradas algumas considerações a respeito dos resultados obtidos.

METMETMETMETMETODOLOGIAODOLOGIAODOLOGIAODOLOGIAODOLOGIA

Tendo como base os estudos de André (1995), a presente pesquisa está

baseada em uma abordagem qualitativa do tipo estudo de caso, na qual o pesqui-

sador enfoca sua atenção para um único caso, provindo de seu próprio ambiente

profissional (TELLES, 2002). Os resultados da pesquisa qualitativa do tipo estu-

do de caso podem levar outros professores a reflexões sobre seus próprios con-

textos de trabalho e salas de aulas, bem como sobre suas práticas pedagógicas

(TELLES, 2002). Assim, a escolha dessa modalidade de pesquisa se justifica

pelo fato de que esse trabalho tem como objetivo permitir que, com sua realiza-

ção, mais professores possam refletir sobre suas práticas pedagógicas.

A pesquisa parte da análise do livro didático Língua Portuguesa e Literatura,

do ensino médio, o qual está sendo utilizado atualmente pelas escolas públicas. A

análise está restrita ao tema da diversidade étnico-racial, observando se os textos e as

ilustrações propõem atividades com os aspectos étnico-raciais, se valorizam as dife-

renças entre as raças e se propõem reflexões acerca de questões étnico-raciais.

Após isso, o passo seguinte será a coleta dos dados por meio da apli-

cação de questionários a 35 alunos do primeiro ano de ensino médio e outros 35

do terceiro, para observar qual é a contribuição do trabalho com as diferenças

étnico-raciais para a formação da identidade dos alunos. A escolha por estes

participantes se deu porque, segundo a professora de Língua Portuguesa do colé-

Page 72: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

80

Luciane Watthier - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

gio em que foi feita a coleta de dados, o conteúdo da diversidade étnico-racial estava

sendo “trabalhado” pela turma de primeiro ano. Por esse motivo foi decidido realizar

uma comparação entre a maneira como os alunos que estavam “trabalhando” com o

tema e os que não estavam entendiam a questão da diversidade étnico-racial.

Na próxima seção serão apresentados alguns dos resultados desta pesqui-

sa, em contraposição a outras pesquisas, com temas similares a esta, já realizadas.

RESULRESULRESULRESULRESULTTTTTADOS E DISCUSSÃOADOS E DISCUSSÃOADOS E DISCUSSÃOADOS E DISCUSSÃOADOS E DISCUSSÃO

A representação dos negros nos LDsA representação dos negros nos LDsA representação dos negros nos LDsA representação dos negros nos LDsA representação dos negros nos LDs

Em todo o trabalho proposto pelo LD analisado observa-se que, pelo

menos em alguns momentos, há a preocupação com a representação de todos os

grupos étnicos existentes em nossa sociedade, a começar pela capa do material,

a qual ilustra várias crianças estudando, sendo uma branca, uma preta e duas

pardas. A preta aparenta estar limpa e com o cabelo ajeitado. Assim, não induz

o aluno a pensar que somente as pessoas brancas têm acesso ao estudo. Deve-se

ressaltar este aspecto, pois, em pesquisas anteriores (ROSEMBERG, 2003, p.

134), as crianças negras raramente apareciam imersas no contexto escolar.

No primeiro capítulo desse material percebe-se, porém, a veiculação

de um estereótipo em relação aos negros. Na página 24 é apresentada a música

“Construção”, de Chico Buarque de Holanda, a qual traz um verso que se repete

durante toda a letra, o que, assim como explica o material (2006, p. 24), contri-

bui para a representação da monotonia da colocação dos tijolos, um a um, num

trabalho repetitivo. A ilustração trazida ao lado desta música refere-se a um

afrodescendente trabalhando em uma construção. Além disso, esse personagem

não possui nome próprio e é comparado a uma máquina: “Subiu a construção

como se fosse máquina”. Assim, fica a pergunta: “Por que não um eurodescendente

nesta ilustração ao invés do afrodescendente?” e “Por que ele não possui nome

próprio?”. Assim, a ilustração mostrada perpetua o estereótipo de que negro é

sempre pobre e trabalha em posições de trabalhos inferiores, o que pode estar

mostrando uma prática de racismo por parte dos autores e da editora deste LD.

Nos capítulos seguintes, são trazidas algumas imagens de pessoas de diver-

sas raças/grupos étnicos, o que pode contribuir para a construção da identidade do

aluno em relação à pluralidade cultural. É o caso da ilustração trazida no capítulo

Page 73: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

81

UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO: A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

dois, ilustração que trata de uma pessoa afrodescendente que ocupa o cargo de

diretor de uma empresa, como permite afirmar o texto trazido acima dessa imagem.

O trabalho proposto pela unidade três do LD trata da diversidade étnico-

racial, propondo textos e atividades que mostram a existência do racismo na forma-

ção de nossa sociedade. Observa-se, porém, maior enfoque sobre o tempo da escra-

vidão, e pouco se menciona sobre a ocorrência do racismo atualmente, e sobre a

importância da diversidade étnico-racial na história da sociedade brasileira.

Na página 43 são apresentados quatro textos que correspondem a anúncios

de jornais, deixando a seguinte pergunta: – A que tipo de escravidão referem-se esses

textos?. Não há, no entanto, qualquer explicação do que vem a ser esse ato ou quais

tipos de escravidão existem, nem explicação sobre como se deu a escravidão e quais

interesses estavam por trás e quais foram as pessoas que se beneficiaram dela.

Após isso, na página 44 o material propõe a leitura do poema “Essa

Negra Fulô”, de Jorge de Lima, e, depois de trabalhar seus aspectos formais, ele

apresenta algumas atividades por meio das quais se percebe uma preocupação

dos autores em levar o aluno à interpretação do poema, refletindo sobre as fun-

ções que um escravo exercia naquela época.

A identidade cultural é o outro conteúdo abordado pelos autores do

livro nesta unidade. Para isso, é comentado sobre o modo como as pessoas se

vestem e sobre como se alimentam, mostrando marcas da mistura que constitui o

povo brasileiro. Como exemplo, são citadas a música, a religião e os costumes.

A ilustração trazida ao lado desta citação trata de uma negra com um

menino branco a seu lado, o qual representa que depende dela, que ela é muito

necessária para sua formação. Essa atividade pode fazer com que o aluno perce-

ba as variadas funções que uma negra exercia em uma casa e, assim, a influência

e a importância da cultura do preto em nossa formação e em nossa história colo-

nial. Essa reflexão terá, no entanto, que ser realizada pelo aluno por si só, por-

que o material não oferece subsídios para tal reflexão.

Outra ilustração trazida pelos autores do LD retrata a obra de Debret

intitulada “Mercado da Rua Valongo”, a qual representa um mercado de escravos,

com os senhores feudais e os negros, alguns com as mãos amarradas, esperando por

um comprador. Para a reflexão sobre esse aspecto, a seguinte questão é proposta:

“Quais conseqüências se podem observar, ainda hoje, decorrentes desse abandono

de que fala a historiadora?”. Assim, os alunos terão a oportunidade de comentar

sobre a forma como o racismo se expressa atualmente em nossa sociedade.

Após isso, o material comenta sobre o movimento egro, que se organi-

zou para a reivindicação de seus direitos e para a reparação da injustiça do

Page 74: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

82

Luciane Watthier - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

quadro histórico da escravidão. Um dos exemplos citados é o estabelecimento

de cotas para o ingresso dos afrodescendentes no ensino superior. Esse trabalho

poderia ser uma forma de levar o aluno à reflexão sobre o racismo em nossa

sociedade atual, porém falta uma colaboração maior do material para tal.

De posse dessa análise, pode-se concluir que a unidade proporciona

várias reflexões acerca da diversidade étnico-racial, porém a maioria se concen-

tra na época da escravidão e muito pouco se preocupa com a atualidade, não

esclarecendo aos alunos o que vem a ser, realmente, o racismo e como ele apa-

rece na sociedade brasileira. Assim, é necessário um bom preparo do professor

para a condução de suas aulas de maneira a realizar um trabalho que possa

desconstruir estereótipos veiculados em outros capítulos.

O trabalho proposto por este material é importante, pois abre caminhos

para que o professor traga outros debates para aula. Ocorre, no entanto, que, no

livro, a única discussão que foi feita sobre a questão étnico-racial ainda está presa

à escravidão, o que é muito criticado por pesquisadores na área (SILVA, 2001,

GOMES, 2003, ROSEMBERG, et alii, 2003), que mostram que há uma necessidade

de que haja um avanço na discussão da temática da negritude e que não esteja

sempre atrelada à escravidão. Há uma necessidade de discussões que mostram o

que acontece no cotidiano na contemporaneidade, para que assim haja a possibi-

lidade de reflexão de como estão as relações étnico-raciais na sociedade hoje.

Racismo: o entendimento dos participantesRacismo: o entendimento dos participantesRacismo: o entendimento dos participantesRacismo: o entendimento dos participantesRacismo: o entendimento dos participantes

Considerando a análise do LD que propõe um trabalho com a diversi-

dade étnico-racial apenas para o primeiro ano, grandes diferenças puderam

ser percebidas na formação dos alunos das duas turmas participantes da pre-

sente pesquisa. Chega-se a essa conclusão porque os alunos de terceiro ano

pareceram apresentar maiores dificuldades nas respostas às perguntas do ques-

tionário. Isso porque apresentaram dificuldade de conceituação de racismo,

pois o confundiram muito com discriminação em relação a pessoas com defi-

ciências e/ou com diferentes opções sexuais:

“É a discriminação por parte da sociedade com relação à cor da pele dedeterminada pessoa” (Rosa, primeiro ano).

“Preconceito contra negros, preconceito com pessoas com alguma deficiên-cia” (Pedro, terceiro ano).

“Qualquer ato que discrimine alguém (Rafaela, terceiro ano)”.

Page 75: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

83

UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO: A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Como se dá a construção do racismo no indivíduo: a voz dosComo se dá a construção do racismo no indivíduo: a voz dosComo se dá a construção do racismo no indivíduo: a voz dosComo se dá a construção do racismo no indivíduo: a voz dosComo se dá a construção do racismo no indivíduo: a voz dos

participantesparticipantesparticipantesparticipantesparticipantes

Ao serem questionados acerca da forma como as pessoas adquirem o

racismo, alguns alunos do terceiro ano, que não estudaram o tema em sala de

aula, afirmaram que o racismo é algo inato no ser humano, ou seja, todas as

pessoas são racistas porque nasceram assim:

“Pessoas não adquirem o racismo, todos nascem com este defeito” (João,terceiro ano).

Não sou racista, mas a sociedade brasileira é: a contradiçãoNão sou racista, mas a sociedade brasileira é: a contradiçãoNão sou racista, mas a sociedade brasileira é: a contradiçãoNão sou racista, mas a sociedade brasileira é: a contradiçãoNão sou racista, mas a sociedade brasileira é: a contradição

Percebeu-se, também, uma contradição nas respostas dos alunos, por-

que, quando pedimos se eles se consideravam pessoas racistas e se considera-

vam a sociedade brasileira racista, enquanto 72% dos participantes reconhece-

ram que a sociedade brasileira é racista, 87% afirmaram não serem racistas.

Esses resultados podem ser confirmados com a pesquisa de Gomes (2005). Se-

gundo ela (2005, p. 46), 87% da população reconhece que há racismo no Brasil,

mas 96% dizem que não são racistas. Assim, pode-se fazer, aqui, a mesma per-

gunta feita por esta pesquisadora: – Existe racismo sem racista?

O LD em Questão: a visão dos participantesO LD em Questão: a visão dos participantesO LD em Questão: a visão dos participantesO LD em Questão: a visão dos participantesO LD em Questão: a visão dos participantes

Em relação à representação dos grupos étnico-raciais no LD, foi possí-

vel perceber que os alunos do primeiro ano, talvez porque “trabalharam” recen-

temente com a questão da diversidade racial nas aulas de Língua Portuguesa,

conseguiram identificar os grupos étnicos que estão representados no seu LD:

“Pardo, negro, branco, indígena e amarelo” (Rosa, primeiro ano).

“Grupos dos negros, principalmente” (Maria, primeiro ano).

A resposta de Maria nos remete diretamente ao conteúdo do terceiro

capítulo do LD, pois, como esse trata especificamente da temática da diversidade

racial, certamente essa aluna utilizou o que havia “trabalhado” em sala de aula.

Já na turma de terceiro ano, vários alunos preferiram, inclusive, não

responder e/ou não justificar a resposta. Parece que isso seja um indício de

que eles não possuíam conhecimento para identificar a presença de todas as

raças, ou, mesmo, não haviam percebido:

Page 76: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

84

Luciane Watthier - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

“Não, só os mais populares, negros, brancos, etc. E de uma maneira resumi-da” (Pedro, terceiro ano).

As respostas apresentadas acima parecem confirmar uma falta de co-

nhecimentos para identificar a representação de todos os grupos raciais e étni-

cos e sobre a importância dessa representação. Conclui-se isso porque Pedro

acredita que as pessoas brancas e as pretas sejam as “mais populares”,

desconsiderando, dessa forma, as demais raças existentes em nossa sociedade.

A questão seguinte era para ser respondida apenas pelos alunos que

haviam assinalado a primeira alternativa na questão anterior, pois perguntava

como os negros são apresentados no LD.

“Que o negro só serve para ser empregado” (Rosa, primeiro ano).

Ocorre, no entanto, que, como este trabalho proposto pelo LD se pre-

ocupou, na maioria das situações, em trabalhar questões da época da escravi-

dão, alguns alunos, como Rosa, afirmaram que o LD retrata o afrodescendente

com a única função de ser empregado.

Identidade e LDIdentidade e LDIdentidade e LDIdentidade e LDIdentidade e LD

Após perceber qual era a visão dos participantes da pesquisa acerca

dos grupos representados no LD, passou-se a questionar sobre a importância da

representação de todas as raças para a formação da identidade de um indivíduo.

“Sim, pois assim não seria passada a idéia de que um é diferente do outro,as pessoas crescem como sendo iguais” (Karine, primeiro ano).

A resposta de Karine mostra que essa aluna percebe a existência do racismo

em nossa sociedade e entende que a representação dos grupos raciais e étnicos influen-

cia na formação de uma pessoa, no entanto, ela não considera que as pessoas devem

ser tratadas cada uma de acordo com sua diferença e não todas como sendo iguais.

Ao questionar sobre a importância do trabalho com a diversidade étnico-

racial na sala de aula, respostas parecidas foram obtidas, até mesmo em relação à

quantia de alunos do primeiro e do terceiro ano que concordaram e que discordaram

com a importância do trabalho com a diversidade étnico-racial durante as aulas:

“Os professores deveriam se preocupar não só com os conteúdos formais,mas, também, em ensinar o comportamento mais adequado numa sociedadeigualitária” (Rosa, primeiro ano).

“Sim, porque pode nos ajudar a se livrar do racismo que vem desde quenascemos” (João, terceiro ano).

Page 77: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

85

UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO: A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Assim, percebeu-se que os alunos entendem o quanto é importante o

trabalho com a diversidade étnico-racial em sala de aula. A maioria dos partici-

pantes da pesquisa concordou, ainda, que a não-representação de todos os gru-

pos étnico-raciais significa negar e prejudicar a cultura dos afrodescendentes:

“Sim, porque os grupos étnicos discriminam os menos favorecidos e achamque são os donos do mundo” (Lucas, primeiro ano).

“Sim, porque branco é tratado com respeito enquanto o preto é discrimina-do” (Rafaela, terceiro ano).

Quanto a esse questionamento, alguns alunos do terceiro ano não

souberam, ou não quiseram, responder, o que parece se dever à falta de

subsídios escolares para isso.

Com base no que foi analisado, parece que os alunos de terceiro ano

apresentaram maiores dificuldades em entender o que significa o racismo e que

este é adquirido com a formação de nossa identidade, no meio em que vivemos.

Por outro lado, a maioria dos alunos acredita ser importante o trabalho com a

diversidade étnico-racial em sala de aula, concordando que, se isto não for feito,

nega-se a cultura do negro.

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto à representação dos negros nos LDs, no LD analisado constatou-

se que ele trabalha exclusivamente com a questão da diversidade étnico-racial so-

mente num capítulo, destinado ao primeiro ano, visto que esse material é destinado

aos três anos do ensino médio. Entretanto, o foco principal deste capítulo aborda,

principalmente, a temática na época da escravidão, trazendo poucas reflexões acerca

da forma como o racismo é manifestado hoje na sociedade.

No restante dos capítulos, o LD em questão traz algumas imagens que

ora valorizam, ora desvalorizam o afrodescendente, deixando a interpretação a

cargo do aluno, pois são poucas as vezes em que os autores propõem ao aluno

alguma questão ou alguma explicação, sobre o tema, que mostre a igualdade que

deveria existir entre as raças de nossa sociedade.

Devido a essas representações, destaca-se, mais uma vez, a necessida-

de de haver professores preparados para abordar tais questões em sala de aula,

uma vez que, com um trabalho adequado, a partir do que foi proposto por esse

LD, seria possível trazer leituras e atividades paralelas para se “trabalhar”, de

Page 78: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

86

Luciane Watthier - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

maneira mais aprofundada, o tema do racismo nos dias atuais e, também,

desconstruir os estereótipos veiculados pelo material ou perceber a representa-

ção dos afrodescendentes no restante do livro.

A formação da identidade dos alunos de primeiro e terceiro anos do

ensino médio, frente à abordagem ou não do tema da diversidade racial pelo LD, se

torna perceptível quando se percebe que a sociedade brasileira, no geral, ainda

despreza a existência da diversidade étnico-racial e, como percebido com a análi-

se das respostas ao questionário, esse trabalho, quando levado até o aluno de

forma que o faça refletir sobre essas questões, tanto baseado na época da escravi-

dão quanto na realidade dos dias atuais, pode influenciar, positivamente, na forma-

ção de sua identidade, de modo a conduzi-lo a uma valorização das diferenças.

Chega-se a essa conclusão porque os alunos de terceiro ano pareceram

apresentar maiores dificuldades nas respostas às perguntas do questionário. Pri-

meiro apresentaram dificuldade de conceituação de racismo, pois o confundi-

ram muito com discriminação em relação a pessoas com deficiências e/ou com

diferentes opções sexuais. Também apresentaram dificuldade de detectar de que

forma o racismo é adquirido, certamente não sendo algo inato ao indivíduo (como

afirmado por alunos do terceiro ano), mas adquirido durante a formação de sua

identidade, a qual está sempre em construção. Por fim, tiveram dificuldade até

de identificação dos grupos étnico-raciais representados no LD e o reconheci-

mento da importância disso para a formação da identidade de um indivíduo.

De outra forma, os alunos da turma de primeiro ano demonstraram um

conhecimento maior sobre o assunto, até mesmo nas justificativas, as quais muitos

alunos do terceiro ano deixaram em branco. Percebeu-se, no entanto, que este

conhecimento se tornava mais claro quando era possível traçar uma relação com a

época da escravidão, muito abordada pelo LD, pois quando se tratava, especifica-

mente, dos dias atuais, estes também apresentavam dificuldades, uma vez que o

material didático não se preocupa muito em demonstrar o racismo em nossa soci-

edade atual. Em outras palavras, o “trabalho” com a diversidade étnico-racial, ain-

da que tendo como foco principal a época da escravidão, possibilitou aos alunos

do primeiro ano a formação de uma identidade que lhes permite respeitar e, acima

de tudo, entender a formação da diversidade étnico-racial em nossa sociedade.

Por outro lado, a maioria dos alunos acredita ser importante o “traba-

lho” com a diversidade étnico-racial em sala de aula, concordando que a falta

desse “trabalho” significa negar a diversidade étnico-racial de nossa sociedade e

a importância das distintas culturas existentes nela. Tal fato prova, também, a

Page 79: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

87

UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO: A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

importância da formação de um professor que saiba conduzir tal temática em

sala de aula e que não silencie frente a imagens que estereotipam o negro ou,

mesmo, frente a situações reais de racismo que possam ocorrer em sala de aula.

NONONONONOTTTTTASASASASAS

1 Os resultados apresentados são parciais, pois se trata de um trabalho de conclusão de curso. Estetrabalho foi apresentado no VII Seminário Nacional de Literatura, História e Memória e I Simpósiode Pesquisa em Letras da Unioeste. Em outubro de 2007.

2 Luciane Watthier: Atualmente é aluna do primeiro ano do Mestrado em Linguagem e Sociedade, comconcentração na linha de pesquisa “Linguagem e Ensino”, do Curso de Letras da UNIOESTE (Univer-sidade Estadual do Oeste do Paraná). Em 2007 concluiu a graduação em Letras Português/Espanholpela mesma UNIOESTE, no mesmo Campus de Cascavel/PR. Durante a graduação, além de ser alunade iniciação científica (PIBIC), participou de vários outros projetos na área de lingüística textual –formação de professores, práticas sociais e formação da identidade dos alunos. Tem artigos publicadosem anais de eventos regionais e nacionais, tanto na Unioeste quanto em outras universidade públicas,e um artigo publicado no periódico “Educere et Educare”. Seu trabalho de conclusão de curso estávoltado para a diversidade étnico-racial, com foco na formação da identidade dos alunos.

3 Professora orientadora - Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Cascavel.

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. EtnoEtnoEtnoEtnoEtnogggggrafia da prática escolarrafia da prática escolarrafia da prática escolarrafia da prática escolarrafia da prática escolar. Campinas,SP: Papirus, 1995.

BRASIL. Lei No. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Ensino sobre História e CulturaEnsino sobre História e CulturaEnsino sobre História e CulturaEnsino sobre História e CulturaEnsino sobre História e CulturaAfro-BrasileiraAfro-BrasileiraAfro-BrasileiraAfro-BrasileiraAfro-Brasileira. MEC. Brasília. 2003.

CAVALLEIRO, Eliane. Educação anti-racista:Educação anti-racista:Educação anti-racista:Educação anti-racista:Educação anti-racista: compromisso indispensável para ummundo melhor. In: CAVALLEIRO, Eliane (Ed.). Racismo e anti-racismo na educação:repensando a escola. São Paulo: Selo Negro Edições, 2001. p. 141-160.

CENSO. População no Brasil. 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/dtas/populacao/populacao_no_brasil.html>. Acesso em: 27 nov. 2006.

FERREIRA, Aparecida de Jesus. Formação de professores raça/etnia:. Formação de professores raça/etnia:. Formação de professores raça/etnia:. Formação de professores raça/etnia:. Formação de professores raça/etnia: reflexões esugestões de materiais de ensino. Cascavel: Coluna do Saber, 2006.

GOMES, Nilma Lino. Educação cidadã, etnia e raça: o trato pedagógico da diversidade.In: CAVALLEIRO, Eliane (Org.). Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação: repensandonossas escolas. São Paulo: Summus, 2001.

______. Escola e diversidade étnico-cultural: um diálogo possível. In: DAYRELL, Juarez(Org.). Múltiplos olhares sobre educação e culturaMúltiplos olhares sobre educação e culturaMúltiplos olhares sobre educação e culturaMúltiplos olhares sobre educação e culturaMúltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1996.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomas Tadeuda Silva; Guacira Lopes Louro. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002.

Page 80: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

88

Luciane Watthier - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Identidades fragmentadasIdentidades fragmentadasIdentidades fragmentadasIdentidades fragmentadasIdentidades fragmentadas: a construção discursivade raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas: Mercado Letras, 2002.

MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa. Multiculturalismo, Currículo e Formação deProfessores. In: MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa. et alii. CurrículoCurrículoCurrículoCurrículoCurrículo: políticas epráticas. 6. ed. São Paulo: Papirus, 1999. p. 81-96.

LINS, Antonio Eduardo Leitão Navarro; PEDRÃO, Carmen Rodrigues Fróes; CRUZ,Luciana Cristina Vargas da; PAUL, Maria de Fátima Navarro Lins; BUENO Rosa Elena;GUANDALIN, Rosana; PEREZ, Suely Marcolino, 2006. Língua portuguesa e literaturaLíngua portuguesa e literaturaLíngua portuguesa e literaturaLíngua portuguesa e literaturaLíngua portuguesa e literatura.Curitiba: SEED-PR, 2006.

ROJO, Roxane. O perfil do livro didático de língua portuguesa para o ensino fundamental(5ª a 8ª séries). In: ROJO, Roxane; BATISTA, Antonio Augusto Gomes (Orgs.). LivrLivrLivrLivrLivrooooodidático de língua portuguesa, letramento e cultura da escritadidático de língua portuguesa, letramento e cultura da escritadidático de língua portuguesa, letramento e cultura da escritadidático de língua portuguesa, letramento e cultura da escritadidático de língua portuguesa, letramento e cultura da escrita. Campinas, SP:Mercado de Letras, 2003.

ROSEMBERG, Fluvia; BAZILLI, Chirley & SILVA, Vinícius Baptista da. Racismo nosRacismo nosRacismo nosRacismo nosRacismo noslivros didáticos brasileiros e seu combatelivros didáticos brasileiros e seu combatelivros didáticos brasileiros e seu combatelivros didáticos brasileiros e seu combatelivros didáticos brasileiros e seu combate: uma revisão da literatura. Educação ePesquisa, 2003, v. 29, n. 1, p. 125-146.

SILVA, Ana Célia da. A discriminação do negA discriminação do negA discriminação do negA discriminação do negA discriminação do negrrrrro no livro no livro no livro no livro no livro didáticoo didáticoo didáticoo didáticoo didático. Salvador: CEAO,CED, 1995.

______. A representação social do negro no livro didáticoA representação social do negro no livro didáticoA representação social do negro no livro didáticoA representação social do negro no livro didáticoA representação social do negro no livro didático: o que mudou? [On-line] Available at: <http://www.anpel.org.br/inicio.html>. Last accessed: 11 th December2002: 8 p.

SILVA, Maria Aparecida da. Formação de educadores/as para o combate ao racismo:mais uma tarefa essencial. In: CAVALLEIRO, Eliane (Org.). Racismo e anti-racismoRacismo e anti-racismoRacismo e anti-racismoRacismo e anti-racismoRacismo e anti-racismona educaçãona educaçãona educaçãona educaçãona educação: repensando nossas escolas. São Paulo: Summus, 2001.

SILVA, Rosângela Souza da. Racismo e discriminação racial no cotidiano de uma escolapública de nível médio. In: PINTO, Regina Pahim; OLIVEIRA, Iolanda de (Org.). NegNegNegNegNegrrrrroooooe educaçãoe educaçãoe educaçãoe educaçãoe educação: escola, identidades, culturas e políticas públicas. São Paulo: AçãoEducativa, Anped, 2005.

TELLES, João A. “É pesquisa, é? Ah, não quero, não, bem“É pesquisa, é? Ah, não quero, não, bem“É pesquisa, é? Ah, não quero, não, bem“É pesquisa, é? Ah, não quero, não, bem“É pesquisa, é? Ah, não quero, não, bem!” Sobre pesquisa acadêmicae sua relação com a prática do professor de línguas. In: Linguagem & Ensino, Vol. 5, nº2, 2002. p. 91-116. Disponível em: <http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v5n2/f_joao.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2007.

Page 81: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

89

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-56 O DESENVOLVIMENTO DA

SENSIBILIZAÇÃO SOBRE A DIVERSIDADEÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃOINICIAL E/OU CONTINUADA DEPROFESSORES DE LÍNGUAS1

Andréia Fernanda Orlando2

Aparecida de Jesus Ferreira3

(Orientadora/UNIOESTE)

INTRINTRINTRINTRINTRODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃOODUÇÃO

Por meio da cultura, os indivíduos estipulam regras, convencionam va-

lores e significações que possibilitam a comunicação entre os distintos grupos

sociais, podendo, também, se adaptar ao meio que escolheram para viver e adaptá-

lo a si mesmos, transformando-o (GOMES, 2003).

Com isso, sendo a escola uma extensão dos valores, das ideologias e

das hierarquias da sociedade, o planejamento de práticas pedagógicas entraria

como uma maneira de combate à discriminação das classes excluídas, estabele-

cendo um rompimento com a “naturalização” das diferenças raciais (GOMES,

2003), ou seja, a crença, construída social e historicamente, de que os

afrodescendentes não alcançam os mesmos patamares que os brancos, seja na

área profissional, seja na educacional ou cultural, por falta de competência ou de

interesse, ignorando, assim, as desigualdades seculares que a estrutura social

hierárquica cria com prejuízos para os afrodescendentes.

A nomenclatura afrodescendente aqui utilizada se refere tanto aos pretos

quanto aos pardos, uma vez que o Instituto Brasileiro Geográfico Estatístico (IBGE),

que realiza censos demográficos nacionais periodicamente, classifica pretos e par-

dos numa mesma categoria: a de afrodescendente. Além disso, a distinção entre eles

acerca da obtenção de vantagens sociais e de outros bens e benefícios é, nas palavras

de Gomes (2005, p. 40), “tão insignificante estaticamente que podemos agregá-los

numa única categoria, a de negros, uma vez que o racismo no Brasil não faz distinção

significativa entre pretos e pardos, como se imagina no senso comum”.

Explorar esses pontos tanto na sala de aula universitária quanto nos ensi-

nos fundamental e médio significa desmistificar a insistente negação da sociedade

Page 82: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

90

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

brasileira de que aqui não há racismo, nem preconceito racial/social, mesmo quan-

do pesquisas atestam a existência da discriminação nas relações de gênero, no

mercado de trabalho, na educação básica e na universidade (GOMES, 2005).

Com base nisso, a pesquisa realizada objetivou comparar visões e atitu-

des dos professores dos ensinos fundamental e médio do sistema público de ensi-

no do Estado do Paraná e acadêmicos da graduação de Letras pela Universidade

Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) perante a questão da diversidade étni-

co-racial no âmbito escolar, verificando qual a compreensão dos professores e dos

acadêmicos acerca de raça e etnia e seu significado discursivo, bem como o enten-

dimento da questão da diversidade étnico-racial desses professores e acadêmicos

que passaram por formação referente ao tema e daqueles que não passaram.

RECONHECIMENTRECONHECIMENTRECONHECIMENTRECONHECIMENTRECONHECIMENTO DOS DIREITO DOS DIREITO DOS DIREITO DOS DIREITO DOS DIREITOS DOS AFROS DOS AFROS DOS AFROS DOS AFROS DOS AFRODESCENDENTES EMODESCENDENTES EMODESCENDENTES EMODESCENDENTES EMODESCENDENTES EM

LEIS E DOCUMENTLEIS E DOCUMENTLEIS E DOCUMENTLEIS E DOCUMENTLEIS E DOCUMENTOS DOS DOS DOS DOS DA EDUCAÇÃOA EDUCAÇÃOA EDUCAÇÃOA EDUCAÇÃOA EDUCAÇÃO

A partir dos anos 1980 e 1990 os caminhos da educação foram traçados

conforme as necessidades sociais que pediam o domínio de novas tecnologias espe-

cialmente pelo professor, já que este era o responsável pela transmissão dos conhe-

cimentos. Foi, porém, na década de 1990 que as discussões acerca da importância de

uma boa formação do educador tomaram força, à medida que “Os debates dirigiram-

se às propostas de reformulação dos cursos Normais em nível médio e das Licencia-

turas e de re-direcionamento dos cursos de pedagogia” (AMBRÓSIO, 2004).

Como reflexo de anos de reivindicações do movimento negro, que cum-

pre uma “[...] importante tarefa não só de denúncia e reinterpretação da realida-

de social e racial brasileira como, também, de reeducação da população, dos

meios políticos e acadêmicos [...]” (GOMES, 2005, p. 39) ao longo do século

XX, bem como reflexo de pesquisas realizadas no meio acadêmico que postu-

lam a urgência de se levar para a sala de aula o debate sobre questões étnico-

raciais, objetivando desmistificar os estereótipos construídos a respeito dos

afrodescendentes no Brasil e assegurar o direito à igualdade de condições de

vida e de cidadania, o Congresso brasileiro aprovou, no ano de 2003, a Lei Fede-

ral nº. 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura

Afro-Brasileira e Africana na educação básica.

Antes isso, o debate acerca dessa temática e o respeito à diversidade

étnico-racial no espaço escolar foram obter enfoque nos Parâmetros Curriculares

Nacionais da Educação somente a partir do ano de 1997, mesmo tendo o Con-

Page 83: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

91

O DESENVOLVIMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO SOBRE A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

gresso brasileiro promulgado a Lei Federal nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, na

qual se decretava, no artigo 20, que o ato de praticar, de induzir ou de incitar a

discriminação ou o preconceito de raça, de etnia, de cor, de religião ou de pro-

cedência nacional, seja em qualquer espaço social que seja, constituiria crime

com pena de reclusão de um a três anos e multa.

O reconhecimento dos direitos dos afrodescendentes, reconhecimento

apoiado por essa Lei Federal nº 10.639/2003, implica valorar o que distingue os

negros dos outros grupos que compõem a sociedade brasileira, o que requer não

apenas a promulgação de uma lei, mas, principalmente, uma transformação de

discursos, de raciocínios, de lógicas, de gestos, de posturas, de modos de tratar as

pessoas negras e requer, também, desconstruir o mito da democracia racial, ou

seja, a crença, construída social e historicamente, de que os afrodescendentes não

alcançam os mesmos patamares que os brancos, seja na área profissional, seja na

educacional ou cultural, por falta de competência ou de interesse, ignorando, as-

sim, as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuí-

zos para os afrodescendentes (BRASIL, Conselho Nacional de Educação, 2004).

Com a implantação da lei e com o reconhecimento das diferenças en-

quanto constituinte da identidade nacional, no ano de 1996 torna-se lei a

obrigatoriedade de formação em nível superior dos professores de educação

infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental, haja vista os resultados ultra-

passados, improdutivos e pouco eficientes das escolas, buscando-se, cada vez

mais, investir em conhecimento, como verificamos hoje com os modernos paco-

tes educacionais e com a grande variedade de cursos de aperfeiçoamento profis-

sional exigidos, principalmente pelo aumento da população escolar, pelos limi-

tados recursos e materiais pedagógicos e pela entrada, no sistema escolar, de

alunos com dificuldades no ambiente social e familiar.

O conceito de identidade que se considerou neste estudo refere-se à

noção trabalhada por Stuart Hall (2002), que enfatiza que a identidade não é

algo inato, mas algo construído e transformado ao longo do tempo por proces-

sos inconscientes de socialização, pois, segundo este teórico, “[...] se sentimos

que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas

porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora

‘narrativa do eu’” (HALL, 2002, p. 13).

Stuart Hall (2002) repensa a questão da identidade a partir dos conceitos

de local e global, que fazem parte dos discursos teóricos contemporâneos. Por

isso, levanta pontos essenciais para a análise dos discursos que os universitários

Page 84: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

92

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

negros fazem acerca da noção de identidade. Esse autor (2002) observa que a

modernidade, ao introduzir a descontinuidade do eu, coloca em cheque as grandes

identidades sociais coletivas – como a classe, a raça, a nação, o gênero e a de

Ocidente – que passam a não ser capazes de oferecer mais aquela estabilidade, ou

forma de ancoradouro, que era o que ofereciam essas identidades globalizantes.

Nenhuma dessas identidades, a racial entre elas, em nenhum sentido que

fosse abordada (social, histórica ou epistemologicamente), forneceria a mesma

homogeneidade de antes e, assim, seria necessário estarmos atentos a diferenças, a

contradições, a segmentações e a fragmentações, exatamente porque essas identida-

des não produziriam mais a estabilidade e a totalidade no mundo contemporâneo.

Em comunhão com as mesmas perspectivas postuladas pelo Conselho

Nacional de Educação (2004), estão as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licen-

ciatura, de graduação plena (RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, de 18 de fevereiro de

2002), diretrizes que instituem, no artigo 2º, que, dentre as orientações observa-

das na organização curricular da instituição de ensino está, no parágrafo II, a do

acolhimento e do trato da diversidade na formação docente e, no parágrafo III, a

de garantir o exercício de atividades de enriquecimento cultural que abarquem os

vários segmentos da sociedade, já que, no artigo 6º deste mesmo documento, se

faz menção ao comprometimento da escola com seu papel social e com os valo-

res inspiradores da sociedade democrática.

Na atualidade, segundo Tosi (2007) ao fazer referência aos estudos de Jean

Biarnès, o trabalho com essa questão está sendo ou deverá ser, sobretudo, humano,

se a educação se basear no reconhecimento do outro, isto é, na aceitação da diversi-

dade étnico-racial, porque um trabalho que se pretenda pedagogicamente voltado às

diferenças requer o reconhecimento da diversidade existente entre educadores, mé-

todo que permita construir e avaliar as respectivas identidades, pessoais e coletivas.

O tratamento desse assunto em colégios é sublinhado neste estudo por-

que é nesse ambiente onde são formados conceitos e ideologias nas mentes dos

alunos e, uma vez que esses conceitos não são “trabalhados” de maneira a dissu-

adir os estereótipos, definidos por Silva (2001) como uma visão simplificada de

uma pessoa ou de um grupo, sobre o qual se constrói uma idéia negativa, e

considerar as diferenças étnico-culturais, o professor estará influenciando e re-

forçando a difusão de preconceitos e de práticas racistas, indo em contra uma

educação cidadã em prol da justiça social e étnico-racial.

Realizar um diagnóstico de como este assunto é visto pelos professores e

pelos acadêmicos é, também, um modo de refletir sobre estas representações nega-

Page 85: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

93

O DESENVOLVIMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO SOBRE A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

tivas feitas aos afrodescendentes a fim de buscar uma forma de eliminá-las, primei-

ramente, do principal espaço de formação de opiniões e ideologias: a escola.

Vale esclarecer que o termo racismo, quando utilizado na pesquisa, se

referiu às concepções trabalhadas por Gomes (2007), que o diferencia do precon-

ceito e da discriminação. Para ela, o racismo é suscetível a três noções, sendo, por

um lado, um comportamento resultante de uma aversão a pessoas que possuem um

pertencimento racial observável através de sinais como cor de pele, tipo de cabelo

e, por outro, um conjunto de idéias/imagens criadas por grupos que crêem na exis-

tência de raças superiores. Gomes (2007) se refere, também, ao racismo resultante

do desejo de imposição de uma crença particular como única e verdadeira.

Já a noção de preconceito denota um julgamento negativo e prévio dos

membros de um grupo racial, étnico, religioso ou de pessoas que ocupam outro

papel social significativo, sem levar em conta os fatores que o contestam. Desse

modo, o ato de discriminar significa adotar práticas reais que efetivam essas

ideologias preconceituosas e racistas (GOMES, 2007).

Ainda em relação à nomenclatura, optou-se nesta pesquisa pela postu-

ra étnico-racial para embasar o andamento dos respectivos questionamentos,

porque ela envolve uma multiplicidade de dimensões e de questões envolvendo a

história, a cultura e a vida dos afrodescendentes no Brasil. De acordo com esses

argumentos, na seção seguinte faz-se a apresentação e a análise dos principais

dados coletados na pesquisa e que contribuem para as respostas às perguntas de

pesquisa do estudo realizado, bem como para atingir os objetivos propostos.

APRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS PRINCIPAÇÃO E ANÁLISE DOS PRINCIPAÇÃO E ANÁLISE DOS PRINCIPAÇÃO E ANÁLISE DOS PRINCIPAÇÃO E ANÁLISE DOS PRINCIPAIS DAIS DAIS DAIS DAIS DADOS COLETADOS COLETADOS COLETADOS COLETADOS COLETADOSADOSADOSADOSADOS

Quando se propõe a análise das visões desses públicos-alvo a respeito

da temática se está pretendendo refletir sobre o ponto de vista do professor e do

acadêmico, o que pensam e como vêem a questão da diversidade étnico-racial

na escola e/ou na sociedade. Já a referência ao termo atitude o vê enquanto ação,

prática cotidiana dentro de sala de aula fundamentada em tais visões.

Com relação à visão desse educador sobre a questão da diversidade

étnico-racial, observou-se que, dentro de sala de aula, ele possui um alto poder

de persuasão e de influência na formação enquanto ser humano do aluno, pois

seu discurso, exteriorizado a partir de suas concepções de mundo, como ressalta

Moita Lopes, oferece os meios necessários para que essas identidades sejam

“[...] reescritas e reconstruídas em outras bases por meio de práticas discursivas

Page 86: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

94

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

em sala de aula que garantam espaços para viver a natureza multifacetada da

experiência humana” (MOITA LOPES, 2002, p. 192).

Assim, a formação identitária do aluno, principalmente a do

afrodescendente, fica comprometida se o docente não tiver a preparação ade-

quada para estar lidando com esse assunto, sendo que foi isso o que se verifi-

cou na pesquisa, ou seja, uma confusão em algumas respostas que definem a

diversidade, ao dizerem, por exemplo,

[...] seriam pessoas de diversas etnias e raças no contexto mundial(A1, acadêmica Nair).

[...] as diferenças de raças presentes em nossa sociedade (P1, professora Paula).

Nestas respostas se observam contestações generalizadas, tratando os

termos raça e etnia somente por meio da explicação de um deles, sendo que isso

não acontece com o A2 e P2, grupos de participantes nos quais as repostas levam

em conta a cor de pele, a cultura e as origens dos indivíduos:

Pluralidade de raças humanas levando-se em conta a origem e cultura dospovos (A2, acadêmico Camilo).

A ausência de uma disciplina ou de debates no curso formador de professo-res sobre a diversidade étnico-racial fica comprovada quando se nota que grande nú-mero de A2 (50%) que procurou essas discussões ainda nos primeiros anos do curso.

Com base nas respostas obtidas, chega-se ao resultado de que, pormais que possa parecer uma temática simples de ser tratada no contexto escolarou, talvez, que seja algo já extinto de nossa sociedade, o racismo e a discrimina-ção em geral persistem fortemente em nosso convívio, como foi observado namaior parte das respostas, as quais ora afirmavam sua existência, ora deixavammarcas implícitas de racismo internalizado, como nas seguintes:

[...] passar a considerar o ser humano na sua essência, não sua aparência(A1, acadêmica Maria).

Nessa afirmação da acadêmica Maria revela-se um preconceito, o qualdeixa subentendido que, desde que a essência do ser humano seja boa, de cará-ter, a aparência é relevante, isto é, se está confirmando que os traços fenotípicosde um indivíduo lhe conferem maior ou menor valor, status e superioridade.

O professor é, dentro da sala de aula, responsável pela formação deopiniões dos alunos, por isso as concepções e os conteúdos “trabalhados por eledevem estar livres de preconceitos, para não acabar formando indivíduos racis-tas ou mesmo frustrando um aluno que pertença a uma dessas classes social,

racial ou financeira vítimas de discriminação.

Page 87: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

95

O DESENVOLVIMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO SOBRE A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Nesse sentido, uma formação profissional que contemple subsidiar o profes-

sor e o acadêmico com conhecimentos e informações que os levem a respeitar as

diferenças, e que ensine que as diferenças são algo positivo, se torna imprescindível.

Essa preocupação ficou aparente nas respostas de alguns dos participantes, mostrando

o interesse pela questão e a dificuldade em se tratar de um tema sem respaldo teórico:

Com estes cursos, além de deixar de ser preconceituoso, o professor aprenderiacomo lidar com situações de preconceito em sala de aula (P1, professora Beatriz).

Aprenderia a não fugir do problema, o comprometimento com a questão, atratar a diferença com naturalidade e trazer o aluno negro para participarda aula, ser ativo (P2, professora Maiara).

O conhecimento deste tema e o saber lidar com o mesmo no contexto escolaré de extrema importância para a formação do professor e, dessa forma,para a formação da identidade dos alunos (A2, acadêmica Rosa).

Nesses questionários foi relatada a preocupação com a hipótese de

acabar lidando com a temática de modo equivocado, receio justificado pelo

desconhecimento das melhores maneiras de discutir isso em sala sem acabar,

por exemplo, magoando um aluno, discriminando outra raça ou veiculando mais

estereótipos ainda, como se pode averiguar nas contestações seguintes:

[...] não sei se o faço de maneira correta, mas não tenho dificuldades comisso [...] (P1, professora Maura).

No momento, seria um pouco difícil tomar um posicionamento, já que eununca tive um curso com respeito a isso (A1, acadêmica Nair).

Em alguns momentos, os professores e os acadêmicos apontam tomada de

atitudes equivocadas em situações de práticas discriminatórias e racistas em sala de

aula e, ainda, denunciam que muitos colegas educadores são preconceituosos:

Eu discriminaria quem estivesse praticando o racismo (A1, acadêmica Maria).

[...] olharia com desprezo para os racistas. Pois uma das maneiras de pro-testar contra a discriminação é o desprezo para os racistas (A1, acadêmicoClaudionor).

É comum atitudes racistas entre alunos e até professores (A1, acadêmica Maluce).

Nem todos os profissionais da educação estão livres de preconceitos (A1,acadêmica Clara).

A atitude relatada como a mais correta a ser tomada pelos acadêmicos

A1 reflete o total despreparo desses futuros docentes uma vez que tentariam disse-

Page 88: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

96

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

minar as práticas racistas de suas salas por meio, também, da discriminação, o

que só agravaria o problema, porque não se ofereceriam ao aluno explicações a

respeito do porquê da existência de estereótipos sobre algumas raças e algumas

etnias e, ainda, colocando-o em contato com mais veiculação de discriminação.

Nessa perspectiva, como comenta Auad (1998, p. 2), é mais difícil lutar

contra os preconceitos dos alunos se o educador toma atitudes discriminatórias,

porque não tem como criar “[...] condições para que as crianças e adolescentes

conheçam e lidem com suas idéias, sentimentos, corpos e sensações, sem que

tenha conhecido e lidado com ela mesma”.

Frente a isso, percebe-se que as atitudes desses profissionais A1 e P1 medi-

ante situações ou conteúdos do livro didático que exijam um posicionamento crítico

e livre de preconceitos por parte deles são, na maior parte das vezes, erradas, isto é,

reafirmam o preconceito e prejudicam a formação identitária do aluno discriminado.

As respostas dos P1 e dos P2 coincidiram em seus relatos. Os primeiros

(P1) relataram que as maiores dificuldades seriam não ter embasamento teórico

sobre a diversidade étnico-racial e o conseqüente medo de estimular ainda mais

as práticas racistas em sala e ofender o aluno, principalmente o afrodescendente,

por causa de sua raça. Os segundos (P2) relataram, como especial contribuição,

terem obtido, através de curso específico, segurança, respeito e preparo para

tratar do assunto, para saber buscar leituras e materiais apropriados para elabo-

rar atividades relacionadas a isso e para saber agir e falar numa sala de aula

freqüentada por alunos de diversas raças/etnias.

Enfim, levando em conta os professores sem preparo específico, o trato

da diversidade na sala de aula está se constituindo em campo de silêncio, como

assegura Marlucy Alves Paraíso (2007, p. 2), já que os professores “[...] não

conhecem as discussões sobre os temas, não tiveram acesso a essas discussões

durante a sua formação e, na maioria das vezes, nem conseguem ver espaço no

currículo para a sua problematização e discussão”.

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão dos professores e dos acadêmicos acerca de raça e

etnia e seu significado discursivo demonstram, na maioria das definições obti-

das, uma grande generalização dos termos, sem especificar o que cada um signi-

fica, ou seja, ficando, apenas, no senso comum com uma reflexão bem superfici-

al, tendo em vista que 60% deles definiram esses termos como diversas raças e

Page 89: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

97

O DESENVOLVIMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO SOBRE A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

etnias ou diversidade dos povos. Outros 20% dos pesquisados acabaram expli-

cando ambos os termos (raça e etnia) como se fossem sinônimos, como, por

exemplo, diversidade étnico-racial se trata de um grupo de etnias da sociedade.

Ocorre, porém, que 70% dos A2 e P2 citaram, além dos fatores biológi-

cos que originam raças e etnias, também os aspectos sociais e culturais que as

envolvem. Assim, para os públicos-alvo que possuem respaldo teórico para tra-

tar da questão, a diversidade não se refere, portanto, somente às origens das

raças e à descendência de povos, mas enquanto constituída também pelos valo-

res, pelas ideologias, pela cultura e pelos costumes socialmente construídos ou

assimilados por esses grupos raciais e étnicos.

Desse modo, o entendimento demonstrado pelos P2 e A2 foi mais deta-

lhado que o dos P1 e A1, à medida que estes conseguiram oferecer uma visão

mais ampla e crítica da temática, porque englobaram aspectos como cultura,

costumes e valores, aspectos que também influenciam na formação identitária e

na aceitação e na valorização das raças e das etnias em nossa sociedade, o que

não ocorreu nas contestações dos P1, por exemplo.

O entendimento, enquanto ação, da questão da diversidade étnico-raci-

al dos professores e dos acadêmicos que passaram por formação referente ao

tema e daqueles que não passaram, de acordo com as concepções de diversida-

de étnico-racial expostas anteriormente, por parte desse público-alvo sem funda-

mentação teórica acerca do tema, aponta para uma prática realçadora dos este-

reótipos há tempos perpetuados em nossa sociedade sobre os afrodescendentes.

O entendimento destes professores sem a devida formação específica

para o assunto, quando se trata de indicar ações e posicionamentos em contextos

de práticas racistas que os exijam, se demonstra frágil. Trata-se de um entendi-

mento frágil tanto por não saberem qual discurso adotar, quanto por não conse-

guiram se decidir por qual atitude tomar. Dessa forma, muitos deles acabariam

deixando a discussão para uma aula posterior, postergação essa a fim de pode-

rem levar materiais aos alunos ou com o intuito de acalmarem os ânimos dentro

da sala de aula, levando ao esquecimento do ocorrido.

Lidar com a diversidade étnico-racial quando se tem a discriminação

de uma raça por um grupo de alunos no contexto de sala de aula é uma ação

pedagógica desnecessária para alguns deles, na medida em que a solução para

tal caso seria desprezar o racismo ou o racista, o que mostra que, além do des-

prezo dos alunos em relação a algumas raças de seus colegas de turma, essas

crianças e adolescentes ainda terão contato com o desprezo do professor com

Page 90: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

98

Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus FerreiraF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

aqueles que têm esse tipo de atitude e com uma prática que fere tanto quem é discri-minado quanto os outros que encaram as diferenças como algo positivo e natural.

Os acadêmicos e os professores que possuem respaldo teórico paratratar da temática (70%) defendem que o correto tratamento e a correta compre-ensão da questão são cruciais para uma boa formação profissional na área daeducação, porque esta questão lida não só com a formação intelectual do aluno,mas, sobretudo, com sua formação cidadã.

Ao voltar o olhar para o conjunto das respostas dos A2 e dos P2, veri-fica-se que, apesar de já terem tido momentos de discussões sobre a lida com adiversidade em sala de aula, muitos deles apontam a intenção de continuar seaprofundando em leituras e debates. Comprova-se isso ao se contabilizar que60% dos A2 e 20% dos P2 participam de projetos de extensão ou de pesquisa quetrabalham nessa perspectiva de levar essas discussões a um público maior com afinalidade de esclarecimento de visões estereotipadas relacionadas às concep-ções de raça, de gênero, de etnia e de valores a elas incutidos e, também, 10%

dos P2 desenvolvendo projetos de pós-graduação stricto sensu nessa área temática.

NONONONONOTTTTTASASASASAS

1 Este artigo mostra o resultado do TCC de Andréia Fernanda Orlando, apresentado em Outubro de 2007.2 Andréia Fernanda Orlando: Graduada em Letras Português/Espanhol em Cascavel/PR pela UNIOESTE

(Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Dedicou-se, durante os anos de faculdade, à monitoria,a projetos de pesquisa e de extensão nessa mesma universidade, sendo que estas atividades sevoltaram a reflexões acerca da formação de professores e tecnologia, bem como ligadas à questão dadiversidade étnico-racial e, ainda, a análises de obras literárias espanholas e hispanoamericanas e,também, do ensino da língua materna nas escolas e à produção de materiais propondo um trabalhocom a gramática contextualizada. Já no que diz respeito a projetos de extensão, participou de ativida-des como extensionista bolsista do projeto PILAR (Projeto de Intercâmbio Lingüístico, Artístico eCultural visando ao incentivo para o desenvolvimento de trabalhos na área da língua estrangeira, nocaso, de língua espanhola. Possui várias publicações em anais de eventos locais, regionais e nacionais,bem como em revistas reconhecidas pela Qualis/Capes. Entre seus principais artigos escritos, encon-tra-se um que se refere ao projeto PILAR e que foi digno de premiação pelo SEURS (Seminário deExtensão Universitária da Região Sul). Integrante do grupo de pesquisa “Formação de Professores deLínguas e Práticas Sociais”, orientado pela professora Dra. Aparecida de Jesus Ferreira.

3 Professora Orientadora - Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste, Cascavel/PR.

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

AMBRÓSIO, Sueli. A educação na escola pública atual: A educação na escola pública atual: A educação na escola pública atual: A educação na escola pública atual: A educação na escola pública atual: includente ou excludente?Análise sobre a formação de professores no CEFAM de Tupi Paulista, SP. Monografia.Presidente Prudente; Universidade Estadual Paulista, 2004. Disponível em: <http://www.educacaoonline.pro.br/art_a_educacao_na_escola_publica_atual.asp?f_id_artigo=551>. Acesso em: 3 jul. 2007.

Page 91: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

99

O DESENVOLVIMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO SOBRE A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

BRASIL. DirDirDirDirDiretrizes curricularetrizes curricularetrizes curricularetrizes curricularetrizes curriculares de língua estranges de língua estranges de língua estranges de língua estranges de língua estrangeira moderna para a educaçãoeira moderna para a educaçãoeira moderna para a educaçãoeira moderna para a educaçãoeira moderna para a educaçãobásicabásicabásicabásicabásica. Curitiba; Secretaria de Estado da Educação, 2006. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br>. Acesso em: 10 maio 2007.

______. Diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores daDiretrizes curriculares nacionais para a formação de professores daDiretrizes curriculares nacionais para a formação de professores daDiretrizes curriculares nacionais para a formação de professores daDiretrizes curriculares nacionais para a formação de professores daeducação básica, em níveducação básica, em níveducação básica, em níveducação básica, em níveducação básica, em nível superiorel superiorel superiorel superiorel superior, curso de licenciatura, de g, curso de licenciatura, de g, curso de licenciatura, de g, curso de licenciatura, de g, curso de licenciatura, de graduação plena.raduação plena.raduação plena.raduação plena.raduação plena.RESOLUÇÃO CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002.

______. Documentação civil. Política antidiscriminatória. Crimes de tortura.Documentação civil. Política antidiscriminatória. Crimes de tortura.Documentação civil. Política antidiscriminatória. Crimes de tortura.Documentação civil. Política antidiscriminatória. Crimes de tortura.Documentação civil. Política antidiscriminatória. Crimes de tortura.Declaração universal dos direitos humanos. Programa nacional de direitos humanosDeclaração universal dos direitos humanos. Programa nacional de direitos humanosDeclaração universal dos direitos humanos. Programa nacional de direitos humanosDeclaração universal dos direitos humanos. Programa nacional de direitos humanosDeclaração universal dos direitos humanos. Programa nacional de direitos humanos.Brasília; Ministério da Justiça, Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, 1998.

______. Parâmetros Curriculares NacionaisParâmetros Curriculares NacionaisParâmetros Curriculares NacionaisParâmetros Curriculares NacionaisParâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural/orientação sexual.Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília,DF: MEC/SEF, 1997.

FERREIRA, Aparecida de Jesus. Formação de professores raça/etnia: Formação de professores raça/etnia: Formação de professores raça/etnia: Formação de professores raça/etnia: Formação de professores raça/etnia: reflexões esugestões de materiais de ensino. Cascavel: Coluna do Saber, 2006.

GOMES, Nilma Lino. A mulher negra que vi de pertoA mulher negra que vi de pertoA mulher negra que vi de pertoA mulher negra que vi de pertoA mulher negra que vi de perto. Belo Horizonte: Mazza Edições, 1995.

______. Cultura negra e educação. Revista Brasileira Educação. Revista Brasileira Educação. Revista Brasileira Educação. Revista Brasileira Educação. Revista Brasileira Educação. Rio de Janeiro, n.23, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782003000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 2 mar. 2007. Pré-publicação. doi: 10.1590/S1413-24782003000200006.

______; GONÇALVES e SILVA, Petronilha B. (Org.). Experiências étnico-culturaisExperiências étnico-culturaisExperiências étnico-culturaisExperiências étnico-culturaisExperiências étnico-culturaispara a formação de professores.para a formação de professores.para a formação de professores.para a formação de professores.para a formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

______. Educação anti-racista: Educação anti-racista: Educação anti-racista: Educação anti-racista: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03.Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização eDiversidade, 2005. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/anti_racista.pdf>. Brasília, 2005. Acesso em: 23 maio 2007.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidade. Trad. SILVA, Tomaz Tadeuda; LOURO, Guaracira Lopes. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Identidades fragmentadas: Identidades fragmentadas: Identidades fragmentadas: Identidades fragmentadas: Identidades fragmentadas: a construção discursivade raça, gêneros e sexualidade em sala de aula. São Paulo: Mercado de Letras, 2002.

SILVA, Ana Célia da. Por uma representação social do negro mais próxima e familiar. In:BARBOSA, Lucia Maria de A.; SILVA, Petronilha Beatriz G.; SILVÉRIO, Valter Roberto(Orgs.). De preto a afro-descendentes: De preto a afro-descendentes: De preto a afro-descendentes: De preto a afro-descendentes: De preto a afro-descendentes: trajetos de pesquisa sobre o negro, culturanegra e relações étnico-raciais no Brasil. São Carlos, SP: EDUFSCAR, 2003. p. 151-164.

______. A representação social do negro no livro didático: A representação social do negro no livro didático: A representação social do negro no livro didático: A representação social do negro no livro didático: A representação social do negro no livro didático: o que mudou? Do ano2000. Disponível em: <http://www.educacaoonline.pro.br/art_a_representacao_do_negro.asp?f_id_artigo=434>. Acesso em: 12 jun. 2007.

______. Desconstruindo a discriminação do negro no livro didáticoDesconstruindo a discriminação do negro no livro didáticoDesconstruindo a discriminação do negro no livro didáticoDesconstruindo a discriminação do negro no livro didáticoDesconstruindo a discriminação do negro no livro didático. Salvador:EDUFBA, 2001.

Page 92: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

PARTE II

RELATOS DE

EXPERIÊNCIAS

Page 93: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

103

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-57 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE

LÍNGUAS E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA1

Andréia Fernanda Orlando2

Luciane Watthier3

O curso de extensão intitulado Formação de Professores de Línguas eDiversidade Étnico-Racial, promovido pela professora Dra. Aparecida de Jesus

Ferreira no Campus de Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná

(UNIOESTE), iniciou em abril de 2005 e findou no mês de setembro do mesmo

ano. Tal curso tinha como público-alvo professores da rede estadual de ensino,

no entanto, além destes, também participaram pedagogos, diretores de escolas,

uma bibliotecária e alguns professores em pré-serviço, isto é, acadêmicos dos

cursos de licenciaturas, mais especificamente do Curso de Letras.

A promoção desse curso tinha como intuito proporcionar aos professo-

res, estivessem eles em serviço ou em formação, que não tiveram contato com a

questão da diversidade cultural, racial e étnica dentro do meio acadêmico, obter

subsídios científicos para lidar com esta temática em sala de aula, evitando o

silenciamento comum a quem não tem segurança por falta de conhecimento no

tratamento desta temática frente a situações de discriminação.

Participar de discussões, de relatos de experiências de outros profissi-

onais que se vêem diante do mesmo dilema que nós, enquanto professoras em

pré-serviço, significa partilhar dúvidas e construir novos conhecimentos acerca

do que até então era desconhecido e intocável devido ao receio de estar ampli-

ando o problema ao tocar no assunto dentro de sala de aula.

Assim como a oportunidade deste curso de aprimoramento profissio-

nal, também é válida a experiência de participar de outros projetos nesta área e

que se vinculam à pesquisa sobre o contexto sociocultural na construção de iden-

tidade de professores e de alunos. Com essas iniciativas esses atores passam a

pensar a temática e sua abordagem em sala de aula, bem como passam a preo-

cupar-se com propor atividades de inserção desta questão nos conteúdos

programáticos das aulas de línguas.

Page 94: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

104

Andréia Fernanda Orlando - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

A esse respeito, Canen (2001) assegura que estas iniciativas são os melho-

res caminhos por uma “[...] formação docente que sensibilize professores e futuros

professores à pluralidade cultural e favoreça práticas pedagógico-curriculares a ela

coadunadas”. Longe de oferecer receitas prontas de como “trabalhar” esta questão

em sala de aula, a oferta de tais cursos de formação continuada baseia-se num ensino

construído sob uma visão multicultural, conforme ressalta Canen (2006, p. 45), ensi-

no o qual pode buscar meios diversificados que “[...] focalizem as práticas curriculares,

os projetos construídos e as relações interpessoais cotidianas, dentre outras”.

A maior parte dos professores, se não a totalidade deles, ao iniciar esse

curso relatou que estava procurando subsídios teóricos que pudessem embasar as

discussões sobre discriminação e preconceito racial no contexto escolar por sentir

necessidade de tal conhecimento, uma vez que, na prática de sala de aula, estes

profissionais já haviam presenciado muitas situações discriminatórias diante das

quais se silenciaram por falta de informação sobre o tratamento da questão.

As discussões geradas nos encontros abrangiam temas simples, como a

conceituação de preconceito, de discriminação e de racismo, até os mais comple-

xos, ou seja, como estes temas podem e devem ser abordados em sala de aula,

contribuindo com nossa formação no sentido de que tenhamos propriedade para

lidar com a questão quando expostos a situações que exijam tal propriedade.

Nas séries iniciais esta omissão do educador perante tais situações ra-

cistas é mais grave ainda, pois, de acordo com Laing (apud SILVA, 2001), “[...] a

primeira identidade social da pessoa lhe é conferida pelos demais. Aprendemos

a ser quem nos dizem que somos [...]” e, também, a fazer e a pensar dos outros

aquilo que deles imaginamos, sem ter sobre isso nenhuma razão real. Deste modo,

podem estar sendo incutidos valores, crenças e estereótipos errôneos nas mentes

das crianças mesmo sem os professores terem se dado conta disto.

Até mesmo o fato de um educador deixar passar uma simples expressão

ou pequena atitude que denota traços de preconceito já permite ao aluno inferir

que tal postura não é condenada e que pode, perfeitamente, ser repetida. Muitas

destas expressões definem todo um povo e um país por estereótipos que são

perpetuados por séculos, histórica e socialmente construídas, e atribuídos por

fatores tais como raça e etnia de origem ou religião.

Sobre isso, alguns dos professores participantes relataram a existência

de casos de brincadeiras comuns em suas aulas, brincadeiras que, à primeira

vista, parecem inocentes, mas que, se não levadas a sério pelos pais e não consi-

deradas pelo colégio, podem acabar formando pessoas agressivas,

Page 95: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

105

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

preconceituosas e fechadas ao mundo. Ocorre que, no entanto, devido ao pouco

valor dado ao assunto, quase nada se tem feito para bani-lo do ambiente escolar.

Como a sociedade, a escola é um espaço pluriétnico e pluricultural (GO-

MES, 2002), no qual convivem sujeitos sociais pertencentes aos mais distintos gru-

pos sociais e étnico-raciais, que impregnam este contexto com suas particularida-

des e semelhanças, compondo um cenário de diversidade. Diante disso, Canen

(2006) propõe que o cume do trabalho escolar esteja no desafio a dogmatismos e

a visões congeladas sobre o outro, trabalhando no sentido de possibilitar a forma-

ção de identidades abertas à diversidade e à hibridização identitária, como tam-

bém “[...] à desconstrução de discursos congeladores das identidades em marcadores

únicos e ao trabalho com as tensões entre propostas culturais plurais e a necessida-

de da construção de uma identidade escolar multiculturalmente comprometida”.

Para a realização dos primeiros encontros, dividia-se a turma em gru-

pos de aproximadamente cinco integrantes. Visava-se, com isso, que participan-

tes de um grupo pudessem conversar entre si e, depois, partilhar estas reflexões

com os demais grupos. O fato de estarmos em contato com profissionais forma-

dos em nossa área de Letras foi importante para termos idéia da realidade com a

qual certamente nos depararemos ao adentrarmos o espaço da sala de aula, ou

seja, uma carga horária muito grande, falta de tempo para preparar uma boa aula

ou para participar de eventos como congressos, seminários e carga excessiva de

provas e/ou de trabalhos para serem corrigidos.

Nestes momentos em grupo, percebíamos as visões carregadas pelos

educadores em relação ao assunto, a forma como eles a tratavam e, ainda, como se

dava o comportamento de seus alunos a respeito dos colegas afrodescendentes ou

homossexuais. Os educadores relataram várias vezes que só a partir do contato

com o curso e com textos que versavam sobre o preconceito na sala de aula que

eles puderam notar que seus alunos cometiam tais agressões sem estarem cientes

de seus atos e, muito menos, das conseqüências que isso poderia acarretar. Além

disso, eles mesmos, enquanto educadores e formadores de opinião, não viam este

tipo de agressão como tal e, por isso, se omitiam diante da situação.

Com estas discussões pudemos ainda conceituar alguns termos que,

talvez, ainda estejam um pouco confusos entre os professores: preconceito, como

um pré-julgamento; discriminação, como a prática do preconceito, desprezando

as pessoas por sua aparência; e, por fim, racismo, como o resultado do precon-

ceito somado ao poder de exclusão.

Quando falamos em racismo, para a maioria das pessoas a primeira

coisa que vem à cabeça é o negro, mas falando em discriminação, sabemos que

Page 96: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

106

Andréia Fernanda Orlando - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

ela acontece em qualquer lugar, mesmo quando não se tem um afrodescendente

presente. Em especial nos chamou a atenção um exemplo de racismo e de discrimi-

nação relatado por uma professora participante, mostrando que uma pessoa pode

ser discriminada também por seu modo de ser. Tratava-se de um jovem que sofria

preconceito, tanto que inclusive apanhou de seus colegas por ser um menino more-

no, bailarino e homossexual. Isso acontece porque a criança negra, pobre, índia ou

com qualquer outra diferença, perante aquilo que a sociedade julga ser o padrão

de beleza e status, encontra dificuldades de relacionamento e de integração no

grupo escolar, pois os colegas costumam rechaçar esses colegas e, se o professor

não souber conduzir a situação, ele a ignora ou acaba por agravá-la.

Assistindo a um vídeo sobre o fenômeno da bullying, pudemos observar e

conhecer outra forma de se discriminar uma pessoa por uma determinada caracte-

rística física, atribuindo a uma criança e/ou a um adolescente algum apelido. A

imposição de apelido, além de excluir e rejeitar socialmente tal criança ou adoles-

cente, também pode causar nela/e depressão, revolta e fechamento para o mundo.

Assim, a preocupação reside mais uma vez na falta de formação dos professores,

os quais se silenciam frente a essas situações e não tentam solucioná-las.

Além disso, o curso propiciou a reflexão sobre os cuidados que devemos

ter em sala sobre a maneira de tratar os alunos, pois, às vezes, mesmo tratando-se

de uma brincadeira, podemos ofender e traumatizar crianças, chamando-as, por

exemplo, de macacada, de tigrada, etc. Estes exemplos foram citados por uma

professora que comentou ter arranjado problemas com o uso de tal vocabulário.

Lendo um texto que tratava dos direitos e dos deveres dos negros, foi

possível um debate em relação à educação das relações étnico-raciais. Uma

prática pedagógica que se pretenda eficiente não deve concentrar suas preocu-

pações somente na formação do educador, mas principalmente incitar a partici-

pação da família nesse combate, pois este não é um dever exclusivo da escola e

a maior parte dos alunos já traz de casa estereótipos construídos a partir de uma

“herança familiar” (SILVA, 1995, p. 43).

A falta de formação do professor para “trabalhar” com questões relacionadas

à discriminação racial acarreta o medo de se abordar o assunto, construindo-se estere-

ótipos e mitos em relação ao racismo. A preocupação dos professores que buscaram

pelo curso de aprimoramento sobre diversidade era de abolir o receio de, na tentativa

de amenizar um problema relacionado a este assunto, acabar complicando-o mais

ainda, sendo mal interpretado, além da insegurança quanto à forma de abordar o assun-

to, quer dizer, não saber onde começar a discuti-lo e até onde levá-lo.

Page 97: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

107

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Entre alguns dos estereótipos existentes em relação ao afrodescendente,

podemos citar os seguintes: não existe racismo; o negro é menos inteligente;

pertence sempre a uma classe social inferior; e o branco é sempre visto como o

patrão e o negro como o empregado. Em meio a estas reflexões, é importante

esclarecer aos professores em formação e aos alunos em sala de aula que tais

práticas racistas possuem origem na escravidão e até hoje se fazem presentes na

mente social e na construção identitária afrodescendente.

Isto foi o que ocorreu no decorrer do curso Formação de Professores deLínguas e Diversidade Étnico-Racial, curso no qual se propiciou o ensejo de pensar

a presença dos negros no país enquanto partícipes da história do Brasil. Deste

modo, devemos levar em conta três fases históricas importantes: Brasil Colônia,

Brasil Imperial e Brasil Republicano. No Brasil Colônia o negro possuía uma “fun-

ção estratégica” no país, já que o desenvolvimento da colônia se dá somente atra-

vés da presença do negro, isto é, quanto mais negros melhor seria para a elite

burguesa. Nesse período (1500–1822), calcula-se que ingressaram no Brasil cerca

de quatro a dezoito milhões de escravos, cinqüenta a sessenta mil negros por ano,

o que nos leva a afirmar que foi a mão-de-obra negra que sustentou o país.

A segunda fase do regime escravagista (1822–1889) pode ser considerada a

mais conturbada do Brasil, pois, nesta, a presença do afrodescendente já não era mais

tão importante, contudo ainda era bem marcada, tendo em vista que a abolição da

escravatura ocorreu apenas em 1888, um ano antes do término desse período. Aqui, o

Brasil já não é mais colônia e deve construir uma identidade nacional, pressuposto

apoiado pela receptividade e pelo fortalecimento do abolicionismo, a partir do qual se

originaram as teorias raciais. Na terceira fase (a partir de 1889), há um esforço para

mostrar que a presença negra no Brasil não é problemática, isso nos anos entre 1930 e

1945, pois a partir de 1960 já se tem a tentativa de derrubar este mito.

Nesse período tem-se três grupos sociais: positivismo; darwinismo soci-al; e evolucionismo. É o período em que o homem branco evolui para o mestiço, ao

mesmo tempo em que a sociedade também busca uma superação e uma evolução.

No decorrer destes encontros ainda discutimos sobre as ações afirmati-

vas, tendo como apoio o texto “Ação Afirmativa e o Combate ao Racismo Institucional

no Brasil”, de Valter Roberto Silvério (2002), e comentamos sobre o artigo de

Marília Pinto de Carvalho “Quem São os Meninos que Fracassam na Escola?”.

Conversamos, então, sobre o racismo institucional, ou seja, o racismo a

partir de instituições públicas, podendo ser citado o exemplo de um menino

negro que, por estar em sua casa ouvindo música com um volume alto à noite, foi

espancado pelos policiais. De acordo com Silva (2001), este tipo de racismo

Page 98: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

108

Andréia Fernanda Orlando - Luciane WatthierF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

[...] dispõe as instituições (escola, Estado, igrejas) a serviço dos pressupostos doracismo individual; limita a partir de algumas práticas institucionais as escolhas,os direitos, a mobilidade e o acesso de grupos de pessoas (negras) a determina-das posições ou ao seu desenvolvimento pleno. (SILVA, 2001, p. 77).

O racismo pode acontecer em dois níveis: o consciente e o inconscien-

te. O primeiro, como o próprio nome já diz, acontece quando a pessoa está

consciente do que faz. Ocorre com afrodescendentes ou não, podendo aconte-

cer, por exemplo, em relação aos estereótipos apresentados pela mídia, como o

padrão de beleza (loiro, magro, alto, etc.), que pode ser do tipo individual (uso

de nomes para pessoas negras) ou institucional.

O segundo nível de racismo, o inconsciente, ocorre sem a intenção da pessoa

e, algumas vezes, sem que ela perceba. Pode ser causado apenas pelo fato de uma

pessoa rir de uma piada racista ou pelo uso de linguagem racista (“serviço de preto”,

quando alguma coisa está mal feita; “ovelha negra da família”, etc.), entre outros.

Tendo em vista que uma sala de aula é extremamente heterogênea, ou

seja, que os indivíduos se agregam “[...] de acordo com sua pertença e referên-

cia, mobilizados por fatores como gosto musical, nível intelectual, nível social,

etc.[...]” (SILVA, 2005, p. 99), comentou-se, também, que é importante que os

professores tentem ligar o conteúdo à realidade do aluno, o que pode ser feito,

por exemplo, com o uso de vídeos, de músicas e de aulas diversificadas. Entre-

tanto, o que vemos nas escolas é um desinteresse pelo assunto, desinteresse que

o leva a ser camuflado pelas instituições que, mesmo que o coloquem nos planos

de ensino, no entanto não se adquirem materiais para abordá-lo em sala de aula,

ocasião quando ao menos se trabalha com ele junto aos alunos.

NONONONONOTTTTTASASASASAS

1 Reflexões produzidas como trabalho final do Curso de Formação de Professores de Línguas eDiversidade Étnico-Racial em 2005.

2 Andréia Fernanda Orlando: Graduada em Letras Português/Espanhol em Cascavel/PR pelaUNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Dedicou-se, durante os anos de faculda-de, à monitoria, a projetos de pesquisa e de extensão nessa mesma universidade, sendo que estasatividades se voltaram a reflexões acerca da formação de professores e tecnologia, bem comoligadas à questão da diversidade étnico-racial e, ainda, a análises de obras literárias espanholas ehispanoamericanas e, também, do ensino da língua materna nas escolas e à produção de materiaispropondo um trabalho com a gramática contextualizada. Já no que diz respeito a projetos deextensão, participou de atividades como extensionista bolsista do projeto PILAR (Projeto deIntercâmbio Lingüístico, Artístico e Cultural visando ao incentivo para o desenvolvimento detrabalhos na área da língua estrangeira, no caso, de língua espanhola. Possui várias publicações emanais de eventos locais, regionais e nacionais, bem como em revistas reconhecidas pela Qualis/

Page 99: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

109

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: ...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Capes. Entre seus principais artigos escritos, encontra-se um que se refere ao projeto PILAR e quefoi digno de premiação pelo SEURS (Seminário de Extensão Universitária da Região Sul).

3 Luciane Watthier: Atualmente é aluna do primeiro ano do Mestrado em Linguagem e Sociedade, comconcentração na linha de pesquisa “Linguagem e Ensino”, do Curso de Letras da UNIOESTE (Univer-sidade Estadual do Oeste do Paraná). Em 2007 concluiu a graduação em Letras Português/Espanholpela mesma UNIOESTE, no mesmo Campus de Cascavel/PR. Durante a graduação, além de ser alunade iniciação científica (PIBIC), participou de vários outros projetos na área de lingüística textual –formação de professores, práticas sociais e formação da identidade dos alunos. Tem artigos publicadosem anais de eventos regionais e nacionais, tanto na Unioeste quanto em outras universidade públicas,e um artigo publicado no periódico “Educere et Educare”. Seu trabalho de conclusão de curso estávoltado para a diversidade étnico-racial, com foco na formação da identidade dos alunos.

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

SILVA, Rosângela Souza da. Racismo e discriminação racial no cotidiano de uma escolapública de nível médio. In: PINTO, Regina Pahim; OLIVEIRA, Iolanda de (Org.). NegNegNegNegNegrrrrroooooe educaçãoe educaçãoe educaçãoe educaçãoe educação: escola, identidades, culturas e políticas públicas. São Paulo: AçãoEducativa, Anped, 2005.

SILVA, Ana Célia da. A discriminação do negA discriminação do negA discriminação do negA discriminação do negA discriminação do negrrrrro no livro no livro no livro no livro no livro didáticoo didáticoo didáticoo didáticoo didático. Salvador: CEAO,CED, 1995.

SILVA, Maria Aparecida da. Formação de educadores/as para o combate ao racismo:mais uma tarefa essencial. In: CAVALLEIRO, Eliane (Org.). Racismo e anti-racismoRacismo e anti-racismoRacismo e anti-racismoRacismo e anti-racismoRacismo e anti-racismona educaçãona educaçãona educaçãona educaçãona educação: repensando nossas escolas. São Paulo: Summus, 2001.

SILVA, Antonio Ozaí da; Maurício Tragtenberg: Identidade e alteridade. RevistaRevistaRevistaRevistaRevistaUrutágua. Urutágua. Urutágua. Urutágua. Urutágua. N. 01, maio de 2001. Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br//ru18_mtrag.htm>. Acesso em: 1º nov. 2006.

Page 100: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

111

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-58 FORMAÇÃO DE PROFESSORES

E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL:UM CURSO QUE DEU NOVO RUMO

À MINHA PRÁTICA DOCENTE1

Rosani Clair da Cruz Reis2

Hoje, em função da cobrança que está havendo por parte, principal-

mente, do movimento negro e dos órgãos governamentais responsáveis em acom-

panhar e fiscalizar a educação, a temática das relações étnico-raciais está sendo

uma das mais contempladas nas discussões entre os educadores. Isso ocorre

porque, a partir da aprovação da Lei Federal nº 10.633/2003, tornou-se obrigató-

rio o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana em todo o contexto

escolar. Ocorre, contudo, que, embora um grande número de professores esteja

comprometido com a aplicação da lei, são muitas as dúvidas e as inseguranças

que dificultam a realização de um trabalho que dê conta de promover o respeito

pela cultura afro-brasileira e pelo povo afro-descendente.

Esta temática nunca esteve presente nos currículos, de um modo geral,

dos diversos cursos de licenciatura e, portanto, os professores não saíam e não

saem preparados para discutir questões relacionadas a esta temática ao iniciar

sua prática pedagógica. Embora esteja havendo uma certa cobrança no sentido

de que a escola cumpra com o disposto na lei, não está havendo, por parte do

governo (nas três instâncias), empenho em capacitar esses profissionais e, assim:

A inserção da discussão sobre a diversidade no campo de formação de professo-res/as ainda fica restrita ao interesse específico de alguns profissionais, cujo inves-timento se dá devido à sua própria história de vida, pertencimento étnico/racial,postura política, escolha pessoal, desejo e experiências cotidianas que aguçam asua sensibilidade diante da diferença, trazendo-lhes de forma contundente a impor-tância dessa discussão na prática escolar. (GOMES & SILVA, 2002, p. 25)

Essa constatação feita por Gomes e Silva é perfeitamente aplicável ao

contexto no qual realizo minha prática pedagógica. Há apenas uma professora

universitária que discute temas relacionados à diversidade no campo de forma-

ção de professores, a qual promove os cursos que são oferecidos na região, pos-

Page 101: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

112

Rosani Clair da Cruz ReisF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

sibilitando a alguns profissionais a discussão desta temática. Tive o privilégio de,

no ano de 2005, ser uma das professoras participantes de um destes cursos, o

curso “Formação de Professores e Diversidade Étnico-Racial”, que aconteceu entre

setembro e outubro de 2005, na UNIOESTE, Campus de Cascavel, e que teve como

coordenadora a prof. Dra. Aparecida de Jesus Ferreira. Naquela oportunidade tra-

vei meus primeiros contatos com temas como racismo, preconceito, discrimina-

ção, raça, etnia e bullying, temas estes que, seguramente posso afirmar, fizeram e

fazem toda a diferença em minha prática pedagógica. Comecei a olhar a educação

com outros olhos e tomei consciência da responsabilidade enquanto professora

em desenvolver uma prática pedagógica mais humana, que venha a contribuir com

a construção de uma sociedade que respeite o ser humano. Passei a ser, de fato,

professora-pesquisadora, como foi proposto durante os encontros do citado cur-

so, observando como aconteciam as relações inter-pessoais estabelecidas na esco-

la, por meus alunos. Foi assim que me deparei com situações para as quais anteri-

ormente não havia desenvolvido a sensibilidade adequada, sendo as mais sérias a

prática de bullying e as práticas racistas entre os alunos. Perceber como acontecem

essas relações no interior da escola é fundamental se quisermos nelas interferir e

assim melhorar o convívio entre os educandos.

Todos os profissionais da educação deveriam ter a oportunidade de fre-

qüentar cursos como aquele, curso que, além de tratar de temática hoje muito discu-

tida (relações étnico-raciais), utilizou para isso de uma abordagem crítica, apresen-

tando os princípios da educação anti-racista, indo, portanto, muito além da proposta

apresentada pelos PCNs quanto à pluralidade cultural, ou mesmo de uma interpreta-

ção superficial da Lei Federal nº 10.639/2003. Durante os encontros, discutimos as

relações de poder existentes na sociedade, relações de poder por meio das quais são

determinadas as situações socioeconômicas dos cidadãos, colocando por terra má-

ximas como: “As pessoas miseráveis assim o são por não terem vontade de traba-

lhar”. Interligada a esta problemática, discutimos também a situação do negro hoje,

observando dados estatísticos que apontam para as desigualdades raciais presentes

na sociedade hoje e que são decorrentes de uma herança da escravidão: “[...}a popu-

lação negra era de fato imensa, e isso levou as elites a fortalecer as teorias racistas e

a produzir preconceitos contra as pessoas de origem africana, com o objetivo exclu-

sivo de garantir seus privilégios.” (SILVA, 2001, p. 76).

Ao discutirmos estas questões, as ações afirmativas foram lembradas

enquanto medidas criadas como reconhecimento de uma dívida social que a

população brasileira tem para com os descendentes de africanos, dos quais tudo

se tirou e depois foram abandonados à própria sorte em decorrência do fim do

Page 102: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

113

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: UM CURSO QUE DEU NOVO RUMO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

sistema escravista. Políticas públicas não foram adotadas naquela época para

integrar o negro à sociedade, exigindo, da sociedade contemporânea com rela-

ção aos direitos humanos, o reconhecimento de tal dívida.

Ainda durante o curso, como propõe a educação anti-racista, trabalha-

mos com os artigos presentes na Constituição Federal que prevêem o crime de

racismo. Foi solicitada aos cursistas a elaboração de um plano de aula envolvendo

um trabalho pedagógico com tais artigos. Este plano de aula a que estou me refe-

rindo foi posteriormente adaptado por mim e aplicado em sala de aula com o

objetivo de proporcionar ao aluno afro-descendente o conhecimento das leis que o

protegem e ao aluno branco com propensão à discriminação, a racismo ou a

preconceito, o alerta sobre as conseqüências que tais práticas podem acarretar.

A questão dos estereótipos também foi discutida, pois, “No cotidiano

escolar, a educação anti-racista visa à erradicação do preconceito, das discrimi-

nações e de tratamentos diferenciados. Nela, estereótipos e idéias preconcebi-

das, estejam onde estiverem [...] precisam ser duramente criticados e banidos.”

(CAVALLEIRO, 2001, p.150). Assim, foi nos sugerido que analisássemos alguns

livros didáticos verificando se nestes havia a presença de estereótipos e se a

diversidade humana estava ou não neles contemplada. Para esse trabalho, foi nos

fornecida uma ficha na qual tínhamos que pontuar, de acordo com a incidência

ou não, as representações presentes no livro relativas a raça, a gênero, a classe e

a orientação sexual. Esse cuidado foi tomado, pois, conforme bem nos ensina

Cavalleiro, “A utilização de material pedagógico ou de apoio que não contemple

a diversidade dos alunos e alunas presentes na escola também colabora para

reforçar a percepção de que em nossa sociedade determinado grupo é mais

valorizado.” (Idem, p. 153). Esse trabalho desenvolvido durante o curso “Forma-

ção de Professores e Diversidade Étnico-Racial” forneceu-me subsídio para que,

quando da escolha do livro didático, eu possa optar por aqueles que contem-

plem a diversidade humana, possibilitando assim, a meus alunos, um material

que lhes sirva como referencial positivo na construção de sua auto-imagem e de

seu auto-conceito, condições estas imprescindíveis para uma aprendizagem mais

significativa, já que “[...] aprendemos mais e melhor quando emocionalmente

estamos preparados para isso.” (ROMÃO, 2001, p.175)

Ao manifestar o desejo de que todos os profissionais de educação

pudessem participar de cursos semelhantes a esse, faço-o em função de reconhe-

cer o quanto este curso influenciou no aperfeiçoamento, não somente de minha

prática pedagógica, mas também de modo pessoal, na forma de enxergar a pro-

Page 103: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

114

Rosani Clair da Cruz ReisF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

blemática que envolve as relações étnico-raciais, principalmente quanto aos con-

flitos presentes na sociedade, motivados por características fenotípicas. Outro

benefício que me foi proporcionado pelo curso diz respeito ao reconhecimento

de minha afro-descendência, condição esta que, embora dela soubesse, não des-

pertava para o interesse de conhecer a história de meus antepassados.

Durante o curso estávamos sempre sendo levados a refletir sobre nossas

representações e sobre a forma como víamos o outro. Aconteceram momentos

perturbadores, motivados por depoimentos surpreendentes, por meio dos quais os

depoentes se permitiam manifestar sentimentos há muito escondidos, bem guarda-

dos. E, ao manifestarem-se, tinham a possibilidade de refletir sobre situações, so-

bre representações e sobre crenças que sempre os acompanharam. Experiências

como estas são essenciais na formação de professores, pois, conforme bem nos

ensina Gomes & Silva, o profissional da educação deve ser entendido

[...] enquanto sujeito sócio-cultural, ou seja, aquele que atribui sentido e signifi-cado à sua existência, a partir de referências pessoais e coletivas, simbólicas emateriais e que se encontra inserido em vários processos socializadores e forma-dores que extrapolam a instituição escolar. Muitas vezes, esses processos apre-sentam-se como referência e orientação para a prática docente mais do queaqueles que acontecem pela via institucional. (GOMES & SILVA, 2002, p. 21).

Ou seja, antes de sermos professores, somos sujeitos históricos, com uma

identidade construída, conforme nos lembra Berger (1983, p. 228), por meio das

interações sociais que estabelecemos no decorrer de nossas vidas. A prática pedagó-

gica é fortemente influenciada pelas crenças e pelas percepções que o professor foi

subjetivamente construindo desde seu nascimento até o momento em que passa a

atuar enquanto profissional da educação, motivo pelo qual ele deve ser levado a

refletir sobre o modo como enxerga o mundo e as outras pessoas. Nesse sentido,

Gomes e Silva enfatizam a importância que se deve dar durante a formação docente,

propiciando “[...] espaços de interação entre as dimensões da vida pessoal e profis-

sional.” (Idem) As autoras dizem ainda que, por meio dessas interações:

[...] podemos construir práticas pedagógicas que incentivem os/as professores/asa assumir responsavelmente sua formação, dando-lhes um sentido não somentepara sua vida particular, mas também para o grupo profissional a que pertencem,e igualmente para as comunidades junto às quais desenvolvem seu trabalho. (GO-MES & SILVA, 2002, p. 21).

Para Ferreira, “Tornar-se professor não é apenar terminar o curso de

graduação. É necessário refletir criticamente sobre o significado de ser professor

Page 104: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

115

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: UM CURSO QUE DEU NOVO RUMO...

FE

RR

EIR

A.

Ap

are

cid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

no contexto onde este professor irá trabalhar ou está trabalhando.” (FERREIRA,

2006, p. 39). A autora lembra ainda que “A forma como os professores ensinam

será uma influência nas oportunidades futuras de vida dos alunos.” (Idem).

Outra questão bastante discutida durante o curso diz respeito ao “dar

voz aos alunos”. Essa preocupação, evidenciada por Ferreira durante o curso

ministrado, é observada também em seu livro (FERREIRA, 2006, p. 40), quando

ela diz que “Os professores podem refletir e propiciar uma oportunidade para os

aprendizes participarem em discussões que os ajudem a prepará-los como cida-

dãos. Os alunos necessitam de ajuda para aprender a argumentar, a respeitar as

idéias dos outros [...]”. Com relação a este aspecto, o livro didático foi lembrado

durante o curso como um instrumento utilizado, muitas vezes, para silenciar o

aluno, composto por folhas cheias de exercícios para serem preenchidos num

curto espaço de tempo, não sobrando tempo para discussões, por meio das

quais o aluno poderia tornar-se um ser mais reflexivo e crítico.

Parece-me que todos os temas abordados durante o curso “Formação de

Professores e Diversidade Étnico-Racial” apontam para a pedagogia crítica, a qual

se preocupa em formar alunos conscientes de seu papel no mundo enquanto sujei-

tos transformadores e, ao mesmo tempo, sujeitos sócio-históricos influenciados

por questões subjetivas, como pertencimento étnico-racial, classe, gênero e orien-

tação sexual. Concordo com as palavras de Ferreira quando ela menciona que:

[...] pessoas não nascem com conhecimento de conceitos como ensino crítico ereflexivo. Tais conhecimentos têm de ser ensinados, refletidos e desafiados, e asescolas e as universidades são os melhores lugares para que tal conhecimento sejadiscutido e disseminado. (FERREIRA, 2006, p. 40).

Penso que o sistema educacional somente deixará de ser um “elemento

excepcionalmente importante na manutenção das relações existentes de domina-

ção e exploração” (APPLE, 2002, p. 26) quando aos professores for oportunizada

uma formação que os habilite a conduzir sua prática pedagógica de modo refle-

xivo e, portanto, de modo transformador. Esta orientação foi uma constante du-

rante o curso “Formação de Professores e Diversidade Étnico-Racial”.

NONONONONOTTTTTASASASASAS

1 Este artigo foi produzido como reflexão acerca do curso “Formação de Professores e DiversidadeÉtnico-Racial” de que ela participou em 2005.

2 Rosani Clair da Cruz Reis: Possui graduação em Letras Português/Inglês pela Universidade Esta-dual do Oeste do Paraná (1996), especialização em Didática e Metodologia do Ensino de Língua

Page 105: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

116

Rosani Clair da Cruz ReisF

ER

RE

IRA

. A

pa

recid

a d

e J

esu

s (O

rg).

PE

AB

– P

roje

to d

e E

stu

do

s A

fro

-Bra

sile

iro

s: c

on

text

o,

pe

squ

isa

s e

re

lato

s d

e e

xp

eri

ên

cia

s. C

asc

ave

l: U

nio

est

e,

20

08

. IS

BN

: 9

78

-85

-76

44-1

20

-5

Portuguesa – Teoria & Prática, pela Universidade Norte do Paraná (2002) e Mestre em Letras, na áreade concentração “Linguagem e Sociedade”, no qual desenvolve pesquisa relacionada às relações étnico-raciais no contexto escolar, dentro da linha de pesquisa “Linguagem e Ensino”. Rosani é professora darede pública estadual de ensino da cidade de Cascavel e ministrou, entre 2006 e 2007, o curso “A LeiFederal n.10.639/2003 no Contexto Escolar”, promovido pelo Mestrado em Letras e Núcleo Sindical daAPP naquele município. No PEAB, em 2006, a profa. Rosani ofereceu a oficina “O Uso de Narrativas naAbordagem Étnico-Racial” e, em 2007, apresentou seminário discutindo sobre as diversas abordagensnas quais os professores se podem fundamentar para a aplicação da Lei Federal nº 10.639/2003.

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

APPLE, Michael W. Educação e poderEducação e poderEducação e poderEducação e poderEducação e poder. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidadeA construção social da realidadeA construção social da realidadeA construção social da realidadeA construção social da realidade. 11. ed.Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1983.

CAVALLEIRO, Eliane. Educação anti-racista: compromisso indispensável para um mundomelhor. In: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola. SãoPaulo: Summus, 2001.

FERREIRA, Aparecida de Jesus. Formação de professores raça/etnia: Formação de professores raça/etnia: Formação de professores raça/etnia: Formação de professores raça/etnia: Formação de professores raça/etnia: reflexões esugestões de materiais de ensino. Cascavel: Coluna do Saber, 2006.

GOMES, Nilma Lino; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. O desafio da diversidade.In: Experiências étnico-culturais para a formação de professoresExperiências étnico-culturais para a formação de professoresExperiências étnico-culturais para a formação de professoresExperiências étnico-culturais para a formação de professoresExperiências étnico-culturais para a formação de professores. Belo Horizonte:Autêntica, 2002.

SILVA, Maria Aparecida (Cidinha) da. Formação de educadores/as para o combate aoracismo: mais uma tarefa essencial. In: Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:Racismo e anti-racismo na educação:repensando nossa escola. São Paulo: Summus, 2001.

ROMÃO, Jeruse. O educador, a educação e a construção de uma auto-estima positivano educando negro. In: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossaescola. São Paulo: Summus, 2001.

Page 106: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira

Endereço eletrônico deMarcelo Marcio de [email protected]

Página na internet:www.marcelom.pop.com.br

Informações sobre a AAPLAC -Associação de Artistas Plásticos de Cascavelhttp://aaplac.cjb.netwww.aaplac.com

“Solaris”, de Marcelo Marcio de Oliveira

A imagem que ilustra a capa deste livro é de autoria do artista plásticoMarcelo Marcio de Oliveira. Sua formação inclui a oficina de Gravura emMetal, promovida pela Universidade Federal do Paraná e o Curso de Dese-nho e Pintura, promovido pelo Ateliê Respirando Arte, de Cascavel. Seusinteresses são bastante diversificados e incluem artes plásticas, fotogra-fia, cinema, televisão, design e literatura. O diálogo constante entre estasdiversas artes é uma característica que marca sua obra.

A obra original foi fotografada e modificada por meio do software AdobePhotoshop, exclusivamente para fins editoriais.

Os direitos de uso da imagem desta produção artística foram cedidos peloautor, de acordo com convênio assinado entre a Universidade Estadual doOeste do Paraná e a Associação de Artistas Plásticos de Cascavel.

Page 107: 2008 PEAB Projeto Estudos Afro Brasileiros. Organizadora: Aparecida de Jesus Ferreira