2009-04-06=DADOS DA CPT

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  • abril a junho de 2009 Ano 34 N 196Comisso Pastoral da Terra

    pgs. 10 e 11

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    pgs. 08 e 09

    XXI Assemblia Geral reafirma misso da CPT nos caminhos da terra

    Dados da CPT mostram a marca da violncia no campo brasileiro

  • PASTORAL DA TERRA 2 abril a junho de 2009

    uma publicao da Comisso Pastoral da Terra ligada Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

    Secretaria Nacional: Rua 19, n 35, ed. Dom Abel, 1 andar, Centro, Goinia, Gois. CEP 74030-090. Fone: 62 4008-6466. Fax: 62 4008-6405.

    www.cptnacional.org.br [email protected]

    EDITORIAL

    ASSINATURAS

    Anual R$ 10,00.

    Pagamento pode ser feito atravs de

    depsito no Banco do Brasil, Comisso

    Pastoral da Terra, conta corrente

    116.855-X, agncia 1610-1.

    Informaes [email protected]

    RedaoCristiane PassosAntnio CanutoMarina Muniz - estagiriaRede de comunicadores da CPT

    Jornalista responsvelCristiane Passos (Reg. Prof. 002005/GO)

    Diagramao / ImpressoGrfica e Editora Amrica Ltda.(62) 3253-1307www.graficaeeditoraamerica.com.br

    APOIO eeD

    Evangelischer Entwicklungsdienst

    Brot Fr Die WeltPo para o Mundo

    Fundao eugen Lutter

    MZFMissionzentrale der Franziskaner e. V.

    PresidenteDom Ladislau Biernaski

    Vice-presidenteDom Enemsio Lazzaris

    Coordenadores NacionaisPadre Flvio LazzarinEdmundo RodriguesLucimere LeoIsolete WichinieskiPadre Hermnio CanovaPadre Dirceu Fumagalli

    O livro As Romarias da Terra no Rio Grande do Sul: O Povo a caminho da Terra Prometida est em sua segunda edio, atualizada e ampliada em 2009. O autor, Frei Wil-son Dallagnol, membro da CPT Rio Grande do Sul, narra os eventos que marcaram a caminhada da luta pela terra e pela Reforma Agrria no RS. As informaes sobre as Ro-marias da Terra so baseadas em fontes histricas, como relatrios, escritos, documentrios e correspondncias. A obra apresenta um histrico desde a primeira Romaria da Terra no Rio Grande do Sul, em 1978, at a preparao para a trigsima segunda Romaria, em 2009.

    Reafirmando o compromisso com a Terra e com aqueles que a cultivam com cari-nho, a CPT realizou sua XXI Assemblia Geral. Em meio s crises que se abatem sobre a humanidade e o planeta, a CPT reafirmou sua misso e seu compromisso de fidelidade ao Deus dos pobres e aos pobres da terra. Para manter esta fidelidade e sua identidade, a CPT se prope uma profunda autoavaliao que leve a mudanas, pois, parafraseando D. Hlder Cmara, mudamos sempre para sermos sempre os mesmos. O compromisso e a aliana com os povos da terra e das florestas esta a marca da CPT. Um novo com-promisso da CPT a urgncia com o cuidado da me terra. No restam dvidas de que aqueles que agridem os povos do campo so os mesmos que agridem o planeta em que vivemos..

    Expresso desta caminhada ao lado dos homens e mulheres da terra, mais uma vez a CPT a eles emprestou a voz para apresentar os nmeros dos conflitos no campo e da violncia por eles sofrida, em 2008, em plena Assemblia Geral da CNBB, em Itaici (SP). A violncia contra os trabalhadores e as comunidades tradicionais se manteve. Acirrou-se o processo de criminalizao dos movimentos sociais. Tambm cresceu o nmero de denncias de trabalho escravo mostrando que esta praga no fica circunscrita a reas por onde avana o capital, mas atinge tambm estados consolidados.

    A violncia entra por 2009 adentro. A CPT j registrou (dados parciais) nove assassi-natos de trabalhadores. E a criminalizao caminha de vento em popa. Manifestao do MAB, em Tucuru, Par, acabou reprimida, com 18 pessoas presas, obrigadas a desfilar pelas ruas da cidade como trofu da polcia. Ocupao de rea, j desapropriada, na Paraba, culminou em agresses fsicas (at gasolina foi jogada sobre os corpos dos tra-balhadores) e em prises. Acusados pela violncia da qual foram vitimas. Mas nenhum conflito mereceu maior ateno da mdia do que a ocupao de reas do banqueiro Da-niel Dantas, o mesmo a quem Gilmar Mendes concedeu duas liminares na Operao Satiagraha. Este senhor aparece no cenrio brasileiro como o maior criador de gado, proprietrio de 510 mil hectares de terra no Par, muitos deles irregulares. Ocupaes de algumas destas reas irregulares acabaram com 11 trabalhadores feridos a bala, em duas delas. Uma verdadeira armao, pois veculos da imprensa l estavam, transporta-dos pelo proprietrio para acusarem de violentos os sem terra. Um bloqueio de estrada, no Mato Grosso, por sem terra despejados de rea do Incra acabou em duas mortes de trabalhadores.

    Mortes e trabalhadores presos por mais de 30 dias! A CPT se pronunciou. A con-cesso de hbeas corpus, rpida, quando os acusados so da elite, mais do que lenta, quando so trabalhadores, mostra o real sentido da igualdade entre todos, definida pela Constituio. E os atiradores de Daniel Dantas no sofreram qualquer punio! A CPT tambm se pronunciou em relao Medida Provisria 458 que ao encerramento desta edio j se tornou lei e que oficializa a grilagem de terras da Amaznia. Uma rea de 67,4 milhes de hectares, rea superior soma de todas as reas destinadas Reforma Agrria em 27 anos, de 1979 a 2006.

    Apesar da violnca e da criminalizao os movimentos do campo continuam atu-antes. Ai esto as mulheres com suas aes no 8 de maro, a est a jornada de lutas em abril rememorando o massacre de Eldorado de Carajs. A esto os ndios acampados, em Braslia, exigindo a demarcao de seus territrios e a aprovao de um novo Es-tatuto do ndio. A est tambm o apoio da comunidade internacional que concede a Dom Cappio o Prmio Cidado do Mundo reconhecendo os valores da luta contra pro-jetos que degradam a natureza e atingem comunidades como o Projeto da Transposio do So Francisco. O massacre de ndios no Peru que defendiam seus territrios, contra grandes projetos no fez arrefecer a luta. Sua determinao obrigou o governo a recuar.

    Isso tudo voc vai ler nas pginas desta edio.

    Mudamos sempre para sermos sempre os mesmos Pedagogia do Movimento Campons na Paraba:

    Das Ligas aos Assentamentos RuraisO livro Pedagogia do Movimento Campons na Para-

    ba: Das Ligas aos Assentamentos Rurais, lanado em 2009, resultado da tese de doutorado em educao e movi-mentos sociais, defendida pelo professor Antonio Alberto Pereira. A obra tem o objetivo de apresentar o resultado da pesquisa aos militantes, estudantes camponeses, alu-nos e professores do Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria (Pronera) e elucidar sobre o processo de conquista da terra e de re-territorizao na Paraba, des-de as Ligas Camponesas at os assentamentos rurais. Os depoimentos, contidos no livro, relatam as experincias, angstias, histrias e sonhos dos participantes desse pro-cesso, que so considerados co-sujeitos da investigao.

    Despertar a conscincia crist e eclesial para a vivncia da teologia e da espiritu-alidade da Criao, assim que a Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

    define o intuito do livro Mudanas Climticas Provocadas pelo Aquecimento Global: Profecia da Terra. A obra, lan-ada em 2009, apresenta um sentido proftico em conjun-to com o sentimento de esperana de que possvel con-ter o aquecimento global e evitar as mudanas climticas que esto em curso. As transformaes no clima afetam todas as formas de vida do planeta, em especial, a vida das populaes empobrecidas. Sendo assim, preciso que seja repensado o atual modelo de sociedade, as matrizes energticas, os modos de produo e o consumo, j que o aquecimento global fruto do desenvolvimento baseado na economia de mercado capitalista e em toda a ideologia que acompanha este tipo de desenvolvimento.

    Mudanas Climticas Provocadas pelo Aquecimento Global: Profecia da Terra

    As Romarias da Terra no Rio Grande do Sul: O Povo a caminho da Terra Prometida

  • 3PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    Pastoral da Juventude Rural debate a crise

    financeira

    A VI Assemblia Nacional da Pasto-ral da Juventude Rural (ANPJR) foi re-alizada entre os dias 23 e 29 de maro, em Catu (BA). Durante o encontro, os jovens relataram como a crise financeira modificou a realidade local e apontaram iniciativas que defendem a juventude. A misso da Pastoral da Juventude Rural foi discutida e definida como: evange-lizar, conscientizar e formar militantes cristos que contribuam na construo do Projeto Popular e luta pela vida do planeta.

    Dom Izidoro se afasta da Diocese de Trs Lagoas

    Aps mais de 27 anos frente da Diocese de Trs Lagoas (MS) como bis-po, Dom Izidoro Kosinski se afastou da Diocese e voltou para sua cidade natal, Araucria (PR). Dom Izidoro assumiu uma luta de assistncia pastoral aos ri-beirinhos do Rio Paran e aos trabalha-dores sem terra da regio. Entre as aes encabeadas por ele, est a documenta-o de terras de propriedade da Diocese para famlias sem moradia e trabalha-dores rurais.

    Gilmar Mendes suspende o curso

    de veterinria para assentados

    O presidente do Supremo Tri-bunal Federal, ministro Gilmar Mendes, manteve a suspenso do curso de medicina veterinria para assentados do programa de Re-forma Agrria do governo federal, na Universidade Federal de Pelo-tas (UFPEL). A suspenso foi de-terminada pelo Tribunal Regional Federal da 4 Regio a pedido do Ministrio Pblico Federal do Rio Grande do Sul. O curso faz parte do Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria e tem o objetivo de capacitar grupos historicamente desfavorecidos, por meio da criao de condies para reduzir as desi-gualdades sociais.

    Instalao do Frum para Monitoramento

    dos Conflitos Fundirios

    O Conselho Nacional de Justia instalou o Frum Nacional para Mo-nitoramento e Resoluo dos Conflitos Fundirios. O Frum foi criado com o objetivo de monitorar e resolver confli-tos fundirios rurais e urbanos. A ceri-mnia de instalao ocorreu no dia 11 de maio, em Braslia (DF). De acordo com o pesquisador e gegrafo, Eduardo Girardi, o Frum s contribuir para a resoluo de conflitos por terra se optar pela ampliao da Reforma Agrria. En-tre 1999 e 2008, a CPT registrou 5.335 conflitos, na zona rural, envolvendo a posse da terra.

    O monumento erguido, em So Gabriel (RS), em homena-gem ao indgena Sep Tiaraju foi destrudo, pela prefeitura do municpio, no dia 7 de maio. O monumento representava os Sete Povos das Misses e marcava o local, onde soldados espanhis e portugueses massacraram o Povo Guarani, devastaram suas terras e o meio ambiente. Sep Tiara-ju foi lder indgena Guarani e assassinado pelos soldados em 1756. O monumento foi erguido, em 2006, durante a Assemblia Continental Guarani.

    Em Rondon do Par (PA) o trabalhador rural Edvan de Amarantes, de 43 anos, foi assassinado a tiros e facadas, ao passar por uma fazenda. O crime aconteceu no dia 24 de abril, na fazenda gua Branca, cujo proprietrio, conhecido como Erlon, con-tratou pistoleiros para proteger a proprie-

    Para sensibilizar a sociedade sobre a falta de polticas pblicas na rea da ali-mentao, a CPT promoveu o 10 jejum em prol das pessoas que passam fome no mundo. Um grupo de pessoas que apoiam a causa se reuniu, no dia 3 de abril, em frente Assembleia Legislativa de Alagoas,

    Trabalhadores rurais sofrem atentado e so

    despejados

    No dia 2 de abril, trs pessoas dis-pararam com armas de fogo, de dentro de um veculo, em direo ao Acam-pamento Alto da Paz, em Araguatins (TO). Dos cinco disparos, um atingiu o brao de Raimundo Nonato, um dos co-ordenadores do acampamento. No dia seguinte, 3 de abril, foi executada uma ao de despejo, violenta, das 100 fam-lias acampadas. Os acampados resistem margem da fazenda Santo Hilrio h cerca de seis anos, e j sofreram trs aes de despejo. Localizada em terras da Unio, a Fazenda Santo Hilrio est sob disputa judicial entre o Incra e o Instituto de Terras do Estado do Tocan-tins.

    Realizao de atividades contra os efeitos da crise

    No dia 30 de maro, foram realiza-das atividades, promovidas por centrais sindicais e movimentos sociais, em todo o Brasil, contra as demisses provoca-das pela crise financeira. Os trabalha-dores tambm realizaram atividades em defesa de investimentos em polticas sociais e da Reforma Agrria como al-ternativa crise e garantia de trabalho, educao e habitao para a populao do campo.

    CPT promove jejum pelos que passam fome no mundo

    em Macei (AL), onde se realizou o jejum. Ao final do dia, o grupo partilhou po com meninos e meninas de rua. De acordo com estatsticas, no Brasil 32 milhes de pesso-as passam fome e outros 65 milhes ali-mentam de forma precria.

    Trabalhador rural assassinado em Rondon do Pardade. Edvan foi assassinado ao passar por uma estrada da propriedade gua Branca, para buscar ces que tinham fugido para a propriedade vizinha, fazenda Gavio. Ed-van morava em uma rea prxima fazen-da, que est em processo de se tornar um Projeto de Assentamento Estadual.

    Prefeitura de So Gabriel derruba monumento de

    Sep Tiaraju

    Foto: CPT Alagoas

    Foto: CPT Rio Grande do Sul

  • 4PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    Nos dias que seguiram o 8 de maro, mulheres camponesas, sem terra, ribeirinhas, indge-nas e quilombolas realizaram

    uma srie de mobilizaes e atividades pelo Dia Internacional da Mulher. As ma-nifestaes giraram em torno do reconhe-cimento feminino, superao da desigual-dade econmica e luta por uma maior participao social das mulheres. Mas as atividades ultrapassaram a barreira do g-nero e denunciaram a situao das traba-lhadoras e trabalhadores rurais no Brasil.As mulheres ligadas Via Campesina protestaram por um modelo agrcola baseado na pequena agricultura e reali-zao da Reforma Agrria, com medidas de gerao de empregos e qualidade de vida para a populao rural. No dia 8 de maro foi divulgada a Declarao da

    JORNADAS

    Camponesas realizam protestos no Dia Internacional da Mulher

    Marina Muniz*

    No dia 7 de abril teve incio a edio 2009 das atividades promovidas pelo Movi-mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em favor da reforma agrria, conhe-cida como Abril Vermelho. As atividades foram realizadas, em todo o pas, no ms de abril, em rememorao ao Massacre de Eldorado dos Carajs (PA), onde no dia 17 de abril de 1996, policiais militares mataram 19 trabalhadores rurais sem terra. A Jornada Nacional de Lutas contou com dois acam-pamentos no Par, que cobraram a conde-nao dos responsveis pelo massacre, alm de apoio financeiro e mdico do governo s famlias sobreviventes. Em Eldorado dos Carajs, 500 trabalhadores e trabalhadoras rurais participaram do Acampamento da Juventude, que se iniciou no dia 10 de abril.

    No dia 8 de abril, 1.500 famlias ligadas ao MST ocuparam a fazenda Putumuju, da papeleira Veracel Celulose, em Eunpolis (BA), para denunciar os abusos cometidos pelas grandes empresas ligadas ao agrone-gcio e a ocupao de terras devolutas pela Veracel. No dia 9 de abril ocorreu a primeira ocupao urbana em Belo Horizonte (MG), batizada de Dandara, que contou com cer-ca de duas mil pessoas, e foi realizada pelo MST , o Frum de Moradia do Barreiro e as Brigadas Populares. Em Salvador (BA), cer-ca de dois mil trabalhadores e trabalhadores rurais ligados ao MST ocuparam a Secreta-ria de Agricultura, no dia 13 de abril, para pressionar o governo a promover melhorias na infraestrutura dos assentamentos da re-gio. Em Mato Grosso, a principal atividade foi a Marcha por Reforma Agrria, Empre-go e Defesa do Meio Ambiente onde 300 trabalhadores e trabalhadoras rurais cami-nharam os 100 quilmetros entre as cidades de Jangada e Cuiab. No dia 17 de abril, foi lanada, em Cuiab, a Campanha pelo Li-mite da Propriedade da Terra: em defesa da reforma agrria e da soberania territorial e alimentar. O Abril Vermelho tambm le-vantou a luta pela retomada das terras pbli-cas ocupadas por particulares no pas.

    Comisso Internacional das Mulheres da Via Campesina, lanada em Seul, na Coria do Sul. Na Declarao, as campo-nesas exigiram o direito a uma vida dig-na e sem violncia, e o respeito por seus direitos sexuais e reprodutivos. O Dia de Luta dos Movimentos Internacionalistas de Mulheres tambm teve repercusso no Brasil. No segundo dia de atividades foram realizadas manifestaes em Ala-goas, Esprito Santo, Maranho, Paraba, Paran, Pernambuco, Rio Grande do Sul, So Paulo e Braslia, que concentrou os protestos. Na capital federal, um grupo de agricultoras se reuniu com o Diretor Geral da Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e Agricultura (FAO), Jacques Diouf.

    Tambm em Braslia, no dia 10 de maro, cerca de 350 mulheres, integran-tes de movimentos sociais urbanos e da Via Campesina, realizaram uma viglia

    em frente ao prdio do Supremo Tribu-nal Federal (STF) para protestar contra a criminalizao dos movimentos so-ciais. No Senado Federal, outro grupo de mulheres participou do lanamento da Aliana Camponesa Ambientalis-ta em Defesa da Reforma Agrria e do Meio Ambiente, juntamente com as pastorais sociais e organizaes ambien-talistas. No mesmo dia ocorreram pro-testos em Pernambuco e no Par. Em Pernambuco, cerca de 700 mulheres se manifestaram contra a transposio do Rio So Francisco e o avano do agrone-gcio na regio. No Par, 250 mulheres realizaram estudos sobre soberania ali-mentar, questo agrria e a violncia no estado. No dia 11 de maro, ao final da jornada de manifestaes, cerca de 700 mulheres da Via Campesina marcharam em Bag (RS) contra a monocultura do eucalipto na regio.

    Abril Vermelho realiza aes por todo o Brasil

    *Estagiria do Setor de Comunicao da Secretaria Nacional da CPT.

    Foto: MST

    Foto: MST Mato Grosso

  • 5PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    Em sua sexta edio, o Acampamen-to Terra Livre 2009 contou com a participao de mais de mil indge-nas em Braslia, entre os dias 4 e 8

    de maio. Os representantes de mais de 130 etnias vieram exigir respeito, apresentar os problemas que vm enfrentando e aprovar novas propostas para o Estatuto dos Povos Indgenas, cuja tramitao esta parada no Congresso Nacional h quase 15 anos.

    Muito do que foi apresentado repe-tio do que j havia sido colocado em Acampamentos anteriores. Prova de que pouco ou nada se fez para solucionar grandes questes como a do Mato Gros-so do Sul. O estado tem o maior ndice de suicdios e homicdios de indgenas, de acordo com o relatrio de violncia elabo-rado pelo Conselho Indigenista Mission-rio (Cimi). Em 2008, foram 42 indgenas assassinados e 34 cometeram suicdio. No estado, milhares de indgenas vivem confinados em pequenas parcelas de ter-ra, sofrendo discriminao e vendo a des-truio de sua cultura. Para lideranas que participaram do evento, como Romancil Creta, lder do povo Kaingang, preciso que o governo reconhea o protagonismo dos povos indgenas e coloque o Estatuto na ordem do dia. Ele tambm reforou que existe ainda um grande descaso em relao s demarcaes de terras em todo o pas. uma situao que se repete em todo o pas. E nesses mais de 500 anos nossos parentes morreram sem poder se defender. Ns estamos cansados disso e vamos lutar at o fim. A cada participante que apresentava seu testemunho, a ques-to do desrespeito ao territrio dos povos indgenas era reafirmada como origem de praticamente todos os problemas.

    O Estatuto

    O VI Acampamento Terra Livre foi definido como ltima instncia de aprova-o de propostas para o Estatuto dos Po-vos Indgenas. Elaborada pela Comisso Nacional de Poltica Indigenista (CNPI), as propostas foram estudadas durante a se-mana do Acampamento por 20 grupos te-mticos. Os indgenas requerem mudanas profundas em relao ao Estatuto que est

    ABRIL INDGENA

    Indgenas do Acampamento Terra Livre 2009 exigem respeito e terra, mais uma vez

    MARA HEINEN*

    em vigor desde 1973 e ao projeto que est no Congresso. No dia 7 de maio, os ind-genas estiveram em audincia no Senado para pressionar os senadores e deputados a retomarem as discusses sobre o Estatuto. Durante a audincia, os indgenas tambm repudiaram a iniciativa de alguns deputados e senadores, com propostas que ameaam os direitos indgenas. Sabemos que muitos parlamentares tm posies anti-indgenas, mas nossa perspectiva positiva em relao ao Estatuto, diz Sandro Tux, da Articula-o dos Povos Indgenas do Nordeste, Mi-nas Gerais e Esprito (Apoinme). Quando voltarem a discutir o estatuto, voltaremos a Braslia para garantir que o texto aprovado garanta os nossos direitos, afirma.

    Temas recorrentes

    O documento final do Acampamento Terra Livre 2009 registrou as denncias recorrentes de violao aos direitos ind-genas principalmente em relao terra,

    sade e criminalizao. A situao do povo Guarani Kaiow do Mato Grosso do Sul foi destacada como umas das mais problemticas, o que levou a muitas mani-festaes de apoio de vrios povos. Em re-lao a criminalizao, foi dado destaque questo do povo Xukuru em Pernambuco, onde vrias lideranas, inclusive o cacique Marcos Luidson, foram condenadas sem que fossem ouvidas todas as testemunhas de defesa. Tambm foi destacada a situ-ao dos Cinta Larga, em Rondnia, em que esto em andamento 1.546 processos criminais contra os indgenas. A situao da sade tambm foi tema central de um intenso debate. O movimento indgena vem denunciando h anos, as deficincias estruturais no atendimento prestado pela Fundao Nacional de Sade (Funasa) e suas consequncias para os povos indge-nas de todo o Brasil. Ao final, ficou decidi-do apresentar proposta de criao imediata de uma Secretaria Especial de Ateno Sade Indgena, que deve ter vnculo dire-

    to com o Ministrio da Sade e deve assu-mir imediatamente a responsabilidade pela sade indgena.

    Protesto

    Tambm no dia 7 de maio, durante a tarde, os indgenas realizaram uma passeata carregando faixas com dizeres de indignao e reivindicaes. Em frente ao espelho dgua do Congresso Nacional, protestaram contra parlamentares em especial o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que os desrespeitam com projetos anti-indgenas. Para o prximo ano, os indgenas esperam no ser necessrio entregar um documento com as mesmas reivindicaes de todos os anos. Mas que seja um momento de partilha de conquistas com todos os povos indgenas do pas debaixo das lonas pretas, coloridas ou com palhas, em Braslia.

    * Jornalista do Conselho Indigenista Missionrio (Cimi)

    Foto: Mara Heinen - Cimi

  • 6PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    No dia 24 de abril, cerca de 400 pessoas, lideradas pelo Movi-mento dos Atingidos por Bar-ragens (MAB) participaram da

    ocupao do canteiro de obras das eclusas da Hidreltrica de Tucurui, PA. O que le-vou os trabalhadores a fazerem esta ocu-pao?

    Em primeiro lugar era um protesto contra a violncia na regio, mas o que a ao queria era, sobretudo, escancarar diante da nao a situao de centenas de famlias. Aps 25 anos da construo da barragem de Tucuru, muitas ainda no receberam qualquer indenizao e moram em favelas prximas s obras. A Hidrel-trica fornece energia subsidiada s gran-des indstrias eletro-intensivas, mas no atende as comunidades prximas, como a Vila Camet que fica somente a 15 km da obra e que ainda no teve acesso energia eltrica, assim como ocorre com centenas

    ANTONIO CANUTO*

    CRIMINALIZAO

    Represso e Violncia contra Movimentos do Campo

    de pessoas que vivem nas ilhas formadas no lago da barragem. Segundo o MAB, desde 2004 os atingidos tentam assinar um convnio com a Eletronorte que bene-ficiaria mais de 900 famlias da regio. At agora nenhum acordo foi firmado.

    A ao dos atingidos pela barragem de Tucuru foi reprimida com violncia. No dia 26 de abril, s seis horas da manh, 18 trabalhadores foram detidos pela Polcia Militar e levados delegacia. Antes de se-rem conduzidos a Belm, foram obrigados a um desfile por toda a cidade, exibidos como uma espcie de trofu da Polcia Militar. Foram indiciados por dez crimes, entre os quais os de sequestro, incitao ao crime e formao de quadrilha. O pre-sidente da Comisso de Direitos Huma-nos da Cmara Federal, Luiz Couto, em nota afirmou que as acusaes que pesam contra os dezoito presos no se sustentam diante da realidade e no tm consistncia jurdica.. E apresentou o desfile dos pre-sos pela cidade como a prova incontest-

    vel de que a priso foi um ato de persegui-o poltica.

    No dia 13 de maio, em viglia em soli-dariedade aos povos amaznicos, no plen-rio do Senado Federal, em Braslia, Rogrio Hhn, da coordenao do MAB no Par, relatou que os presos, pescadores e campo-neses sem nenhum envolvimento em qual-quer ao criminosa, apresentavam sinto-mas de depresso em virtude das humilha-es sofridas. Nossos companheiros esto presos por estarem reivindicando seus di-reitos negados h 25 anos. Tiraram-lhes a terra, o rio, a liberdade e agora esto lhes tirando a vida, afirmou. Graas mobiliza-o popular, 14 foram postos em liberdade no dia 15 de maio. Os outros quatro, foram liberados no dia 8 de junho, aps conquis-tarem o hbeas corpus.

    Acusados da violncia

    que sofreram

    Mas a violncia praticada contra sem

    terras do MST na Paraba ultrapassou to-dos os limites imaginveis. Eles foram acu-sados das prprias violncias que sofreram. No dia 1 de maio, 60 famlias montaram acampamento s margens da BR 230 pr-ximo Fazenda Cabea de Boi, municpio de Pocinhos, j desapropriada pelo Pre-sidente da Repblica, em 04 de dezembro de 2008. Naquela mesma noite um grupo de homens encapuzados, liderados pela proprietria Maria do Rosrio Rocha, dispararam contra as famlias e detiveram e torturaram sete trabalhadores. Sobre eles foi jogada gasolina e foram ameaados de serem incendiados vivos. Barracos e um carro de um membro do movimento fo-ram incendiados, armas foram colocadas na boca dos trabalhadores. As sesses de tortura s pararam ao raiar do dia, quan-do os encapuzados se retiraram e chegaram policiais, que tambm intimidaram e ame-aaram os trabalhadores que foram levados para o posto da Polcia Rodoviria Federal, e em seguida transferidos para o 2 Bata-lho de Polcia em Campina Grande (PB). Cinco dos detidos foram liberados.

    A polcia, no auto de flagrante registrou que os policiais foram recebidos a tiros por cerca de 30 pessoas, que incendiaram um veculo, impedindo a passagem da polcia.

    As acusaes contra os sem-terra fo-ram de esbulho e de incndio em casa ha-bitada.

    O Ouvidor Agrrio do Estado, Cleofas Caju, porm, que visitou os presos consta-tou que os dois pais de famlia apresen-tavam hematomas, deformao no rosto, queimaduras no corpo e andavam com dificuldade.. Tambm viu que dos cinco que foram liberados, alguns apresentavam queimaduras. Aps 34 dias de priso, no dia 4 de junho, esses trabalhadores foram libertados.

    A Coordenao Nacional da CPT di-vulgou a 27 de maio, nota sobre as violn-cias acima. Nela lembrou do clamor que se elevou quando polticos e empresrios fo-ram presos e algemados e que isso levou o STF a aprovar medida que restringia o uso de algemas. Os presos de Tucuru tiveram que desfilar pelas ruas da cidade como um trofu, diz a nota. E Pergunta: Por acaso alguma voz se ergueu neste pas para con-denar tal ato?.

    * Setor de Comunicao da Secretaria Nacional da CPT.

    Foto: MAB

  • 7PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    Um dos conflitos de maior repercus-so nacional, em abril, foi, sem sombra de dvida, o das Fazendas Esprito Santo e Castanhal, no municpio de Xinguara, no Par. De um lado, a Agropecuria Santa Brbara. Um dos donos Daniel Dantas, do Banco Oportunity. Do outro, trabalha-dores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Federao Nacional dos Trabalhadores na Agricul-tura Familiar (Fetraf) e da Federao dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri).

    Os fatos

    Segundo o MST, 13 fazen-das da Agropecuria Santa Brbara estavam ocupadas desde fevereiro, uma delas, a Fazenda Esprito Santo, no municpio de Xinguara, com 120 famlias. Nesta fa-zenda, no dia 18 de abril, al-guns sem terra, ao voltarem da mata prxima ao acam-pamento, onde tinham ido buscar madeira para reforar os barracos destrudos pelas chuvas, foram ameaados pe-los seguranas armados da fazenda, que retiveram um trabalhador. Os sem terra se propuseram a resgatar o com-panheiro. Como este j havia sido liberado, organizaram uma marcha para apanhar o material recolhido na mata e que haviam abandonado no caminho. Ao chegarem guarita da fazenda foram re-cebidos a bala e saram cor-rendo. Oito sem terra foram baleados. Segundo o MST, os sem-terra no estavam armados, s um posseiro que acompanhava o grupo portava uma es-pingarda.

    A verso veiculada pela imprensa foi a de que houve troca de tiros e que jornalis-tas foram feitos refns e utilizados como escudos humanos. A verso da Santa Br-bara fica bem sintetizada no ofcio envia-do Ouvidoria Agrria Nacional onde

    VIOLNCIA

    Trabalhadores no Par so baleados por capangas do banqueiro Daniel Dantas

    ANTONIO CANUTO afirma : No ltimo final de semana, dia 18, foi veiculado em todos os meios de comunicao que os integrantes do MST, FETRAF e FETAGRI, invadiram a Fazen-da Esprito Santo e Castanhal situadas em Xinguara, estado do Par. Os integrantes invadiram as casas, escritrios e demais dependncias da Fazenda, mataram gado, roubaram veculos, saquearam, fizeram crcere de reprteres, advogada da empre-sa e empregados. Os invasores agrediram os seguranas e o conflito foi inevitvel. Foram feridas pessoas de ambas as partes.

    Coincidncia estranha, um confli-to em rea rural do interior do Par, ter cobertura da imprensa! L estavam um

    cinegrafista e um reprter da TV Liberal, de Belm, afiliada da Globo, um cinegra-fista da Rede TV e um reprter do jornal Opinio, de Marab. Por que l estavam? A convite dos proprietrios e transporta-das em avio de Daniel Dantas. Cheira a armao. Como as equipes de reportagem tiveram acesso fazenda se a via princi-pal estava bloqueada, como se divulgou? Como o cinegrafista conseguiu as ima-gens, se era refm? As imagens mostraram

    os capangas de Daniel Dantas atirando, como ento se disse que houve troca de tiros?

    A Agropecuria Santa Brbara

    Matria de Guilherme Manechini pu-blicada no Jornal Valor Econmico de 15 de janeiro de 2008 esclarecedora. Da-niel Dantas est investindo pesadamente na pecuria... Com a maior parte de suas operaes no Par, com trs anos de in-vestimento, a Agropecuria Santa Brbara detm o maior rebanho bovino do Brasil e um dos maiores do mundo. No fim de

    2007, dois anos depois de tomada a de-ciso de ingressar na pecuria, a Santa Brbara abrigava em suas terras 423 mil cabeas de gado, 365% mais que na mes-ma poca de 2006... No total, as terras da Santa Brbara abrangem cerca de 510 mil hectares - 210 mil de pastagens e 300 mil de reservas nos municpios de Xinguara, Eldorado dos Carajs, Redeno, Paraua-pebas, Marab, So Flix do Xingu e San-tana do Araguaia.

    Boa parte deste imprio, porm, cer-cado de suspeitas de irregularidades fun-dirias. O juiz da Vara Agrria de Reden-o, por exemplo, j havia determinado o bloqueio da matrcula da Fazenda Esprito Santo, onde se deu o conflito, por enten-der que se tratava de terra pblica, patri-mnio do Estado do Par. Mesmo assim a Agropecuria entrou com uma ao de reintegrao de posse na Vara Agrria de Marab. No conseguindo despacho favorvel, apelou ao Tribunal de Justia do Estado que atendeu sua demanda. A CPT do Sul e Sudeste do Par, em nota, denunciou que a empresa conseguiu esta liminar do Tribunal por t-lo induzido a

    erro declarando que o imvel dista apenas 105 quilmetros de Marab, quando na verda-de fica a mais de 170. A nota ainda afirma que o ingresso da Ao na Vara Agrria de Marab foi de m-f, pois o imvel se localiza na rea de jurisdio da Vara Agrria de Redeno, onde j tramitam duas aes referentes Fa-zenda.

    No dia primeiro de junho de 2009, o Ministrio Pblico Federal no Par ajuizou 21 aes civis pblicas, que vi-sam reparar o suposto dano ambiental por desmatamento irregular a maior parte no su-deste do Estado. Nove destas aes so contra fazendas da Agropecuria Santa Brbara.

    Fazenda Maria Bonita

    Os conflitos em terras de Daniel Dantas no terminaram. No dia 9 de maio, trs lavradores ficaram feridos aps terem sido alvejados por seguranas da fazenda Maria Bonita, municpio de Eldorado do Carajs. A empresa alegou ter havido troca de tiros e se defendido de roubo de gado.

    * Setor de Comunicao da Secretaria

    Nacional da CPT.

    Foto: Joo Ripper

  • 8PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    Animados por esse lema, os cerca de 80 agentes pastorais, traba-lhadores e trabalhadoras rurais de todo o pas se reuniram em

    Goinia, Gois, nos dias 16 e 17 de abril, para a XXI Assemblia Geral da CPT. Sob a reflexo dos novos desafios que se confi-guram para os agentes da CPT em todo o pas, o grupo reunido em Assemblia con-tou com a assessoria de Dom Toms Bal-duno, conselheiro permanente da CPT, Roberto Malvezzi, o Gog, agente da CPT e Gilberto Cervinski, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que veio a Goinia especialmente para esse evento.

    Dom Toms analisou inicialmente a importncia da participao indgena, bem como das comunidades tradicionais, no Frum Social Mundial 2009, em janei-ro desse ano na cidade de Belm, Par. Em seguida, em relao ao Estado, Dom Toms foi categrico ao considerar que o governo assumiu e afirmou totalmente o seu compromisso com o agro e hidrone-gcios, deixando movimentos e entidades sociais em uma situao em que no h qualquer proposta alternativa. Alm dis-so, Dom Toms enfatizou a fragilizao dos movimentos sociais diante da insis-tente tentativa do governo e da mdia em criminalizar suas aes e seus militantes. O bispo analisou ainda que o presidente Lula mantm-se numa posio eufrica e fechada diante da grande aceitao popu-lar do seu governo, devido ao sucesso das medidas compensatrias institudas por ele, como o bolsa-famlia. Na contramo segue o restante da Amrica Latina, que tem servido como estmulo com seus go-vernos realmente populares, como a Bol-via, o Equador, a Venezuela e o Paraguai. Dom Toms considera que esse seria um cenrio propcio para um necessrio pla-no continental, unindo as foras e as pers-pectivas de aes futuras para a Amrica Latina. Em relao conjuntura eclesis-tica, ele considerou que por muitas vezes

    XXI ASSEMBLIA GERAL DA CPT

    CPT realiza sua XXI Assemblia Geral e elege nova coordenao nacional

    Fiquem firmes e de cabea erguida, a libertao est prxima (Lc 21, 28).

    Cristiane Passos*a CPT fica em uma posio de resistncia ou de recuo na continuidade de seus tra-balhos, no cumprimento de sua misso, diante da oposio de alguns bispos em

    determinadas regies. Para Dom Toms, a CPT precisa resistir e se manter prxima aos grupos de base, atuando e assessoran-do-os, devendo, tambm, pr em questio-

    namento a centralizao da Igreja local na figura do bispo.

    J Gog fez uma exposio sobre as vrias crises que estamos vivenciando.

    A crise econmica, a crise ecolgica, a cri-se do neoliberalismo... Segundo a sua anlise estamos, na verdade, vivendo uma crise de comportamento da civilizao atual, da maneira como ela vive. Essa maneira de viver acentua todas as outras crises, princi-palmente a crise eco-lgica. Por mais que o capitalismo se recupe-re, a escassez dos ele-mentos bsicos, como a gua, vai trazer uma grave crise sobrevi-vncia da humanida-de. Segundo ele, de acordo com a ONU, cada vez mais teremos menos solo agrcola e agricultvel, menos gua e mais gente para ser alimentada. Have-r uma crise alimen-tar. A perda de rea plantada de arroz nos ltimos 15 anos foi de 1 milho de hecta-res. E perdemos isso, basicamente, para a cana-de-acar, com-pletou Gog. Ele con-sidera que esse um dos grandes dramas enfrentados pela CPT ao discutir e trabalhar com as comunidades. Mostrar a eles que, mesmo com algumas conquistas, com as melhores condies de vida que alguns deles

    Foto: CPT Nacional

  • H mais de 30 anos a Comisso Pastoral da Terra percorre os caminhos do campo brasi-leiro. Nossa misso a fidelidade ao Deus dos pobres e aos pobres da terra. Como dizia D. Hlder Cmara, mudamos sempre para sermos sempre os mesmos.

    Diante de todas as crises que se abatem sobre a humanidade e o planeta no qual vive-mos, reafirmamos nossa misso. Como em nenhuma outra poca necessrio reafirmar o compromisso com a Terra e com aqueles que a cultivam com carinho.

    Nessa XXI Assemblia em que assumimos o compromisso interno de nos reavaliarmos com sinceridade e fraternidade, reafirmamos o trabalho de base, pisando onde o povo pisa, bebendo de sua gua, comendo de seu po, comungando suas dores, participando de suas alegrias.

    Reafirmamos nossa aliana com todos que lutam para permanecer na terra ou para con-quistar a terra que nunca tiveram. A reforma agrria, a limitao da propriedade da terra, a demarcao de territrios indgenas, quilombolas e de outras comunidades tradicionais, continuam irrenunciveis. Essas, juntamente com os sem terra, camponeses, atingidos por barragens, assalariados migrantes, trabalhadores e trabalhadoras em situao anloga de escravo, formam a multido agredida pelo agro e hidronegcio, removidos de seus territ-rios, de seus rios, de suas florestas. Com eles e por eles continuamos existindo. Nesse sen-tido, rechaamos toda criminalizao dos movimentos sociais, particularmente quando essa tentativa vem de altas autoridades do Judicirio que deveriam garantir o Estado de Direito e os direitos do povo.

    No esprito missionrio da Conferncia de Aparecida, reafirmamos a urgncia de cuidar da me Terra. Aqueles que agridem os povos do campo so os mesmos que agridem o pla-neta que vivemos. As empresas do agro e hidronegcio, de minerao, de construo de barragens hidreltricas derrubam as nossas florestas, destroem nossos rios, apropriam-se da terra, da gua, expulsando os povos. Essas empresas e pessoas encontraro em ns sempre um adversrio e um denunciador. Nesse momento de aquecimento global, onde a prpria comunidade da vida est em risco, reafirmamos nosso apoio agroecologia, ao alimento saboroso e saudvel, soberania alimentar de nossos povos, ao uso de energias limpas e terra partilhada.

    Para tirarmos de nosso ba como dizia Jesus coisas novas e velhas, insistiremos na formao de nossos agentes e tambm do povo com o qual trabalhamos. O mundo atual exige novos conhecimentos, aliados aos saberes tradicionais, para que o trabalho seja perti-nente, fecunde a terra e produza seus frutos.

    Conclumos fazendo nossas as palavras do profeta e bispo Pedro Casaldliga:Comprometemo-nos a viver uma ecologia profunda e integral, propiciando uma po-

    ltica agrria-agrcola alternativa poltica depredadora do latifndio, da monocultura, do agrotxico. Participaremos nas transformaes sociais, polticas e econmicas, para uma democracia de alta intensidade.

    Fiquem firmes e de cabea erguida, a libertao est prxima, Lc 21,28

    Goinia, 17 de abril de 2009.13 anos do massacre de Eldorado dos Carajs

    Dia Internacional da Luta Camponesa

    9PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    alcanaram, as conseqncias delas em longo prazo podem ser devastadoras. J segundo Gilberto Cervinski, o MAB ava-lia a crise do atual momento como uma crise genuinamente do capitalismo. De acordo com ele, estamos entrando em um perodo histrico que pode ser de-vastador para o trabalhador, pois a gran-de capacidade da indstria de produo, devido principalmente aos avanos tec-nolgicos dos ltimos anos, aliada ao desemprego, j que grande parte da mo-de-obra industrial foi substituda por essa tecnologia, gera muitos produtos para uma populao que no tem poder de compra. Diante disso qual seria a sa-da? Ou se destri o excedente ou se endi-vida a populao. Crise. E quem vai pa-gar a conta so os trabalhadores, pois o dinheiro pblico que est indo socorrer as grandes indstrias, responsveis pela crise, no vai ajudar tambm os traba-lhadores. E com isso, segundo Cervinski, mantm-se a explorao dessa classe. O MAB avalia que a nica sada seria a mu-dana dessa correlao de foras, atravs da organizao do povo, da sua conscien-tizao e mobilizao, e, principalmente, atravs da aliana entre campo e cidade, em busca de um novo modelo que prio-rize a vida e o bem-estar social, ao invs do lucro e do capital.

    Nova coordenao

    A XXI Assemblia Geral elegeu, tam-bm, a nova coordenao nacional da CP-Tpara o prximo trinio, 2009 a 2012. Fo-ram eleitos: Dom Ladislau Biernaski, bispo de So Jos dos Pinhais (PR), como presi-dente; Dom Enemsio Lazzaris, bispo de Balsas (MA), como vice-presidente; como coordenadores nacionais foram reeleitos padre Dirceu Fumagalli, padre Hermnio Canova e Lucimere Leo, e eleitos Flvio Lazzarin, Edmundo Rodrigues e Isolete Wichinieski. J como coordenadores su-plentes foram eleitos Jane Souza e Luciano Bernardi. Dom Toms Balduino, um dos fundadores da CPT, permanece como con-selheiro permanente da entidade.

    Assumindo o compromisso de se rea-valiar e reafirmando as suas aes de base e a sua aliana com todos que lutam para permanecer na terra ou conquistar a ter-ra que nunca tiveram, a CPT divulgou, ao final de sua XXI Assemblia Geral, uma Carta Aberta sociedade com as suas prioridades e lutas para esse ano.

    Leia a Carta na ntegra:

    CARTA FINAL DA XXI ASSEMBLIA GERAL DA CPT

    A CPT nos caminhos da terra

    * Setor de Comunicao da Secretaria Nacional da CPT.

  • 10PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    No dia 28 de abril, a Comisso Pastoral da Terra (CPT) lanou em Itaici (SP), durante a 47 Assemblia Geral da CNBB, os

    dados dos conflitos no campo no Brasil em 2008. A divulgao contou com a presena do presidente e do vice-presidente da enti-dade, Dom Ladislau Biernaski e Dom Ene-msio Lazzaris, respectivamente, alm de Dom Toms Balduino, conselheiro perma-nente da CPT e Dirceu Fumagalli, membro da coordenao nacional da Pastoral. As anlises dos dados de 2008 apresentados no dia da divulgao tiveram a assessoria do professor da Universidade Federal Flu-minense (UFF), Carlos Walter Porto-Gon-alves. Numa viso geral o nmero de con-flitos no campo teve uma queda acentuada de 2007 para 2008. Entretanto, manteve-se igual o nmero de pessoas assassinadas, 28. Esse dado sinaliza para o aumento da vio-lncia, pois, em 2007, computava-se uma morte para cada 54 conflitos, j em 2008, h uma morte para cada 42 conflitos. Os dados mostram ainda que 72% dos assassi-natos em conflitos no campo aconteceram na Amaznia e que mais da metade dos conflitos atingem diretamente as popula-es tradicionais, deixando claro o interes-se do capital sobre os territrios ocupados pelas mesmas.

    Alm disso, a pesquisa mostra que 2008 foi marcado por uma nova onda de criminalizao dos movimentos sociais do campo e de suas lideranas. Essa investida se deu nas diferentes esferas do poder p-blico. Em alguns estados, houve represso violenta por parte da polcia. No legislati-vo, tanto no mbito dos estados quanto no mbito federal, proliferaram ataques aos movimentos. Mas, sobretudo, foi na esfera do poder Judicirio que se sentiu de forma

    CONFLITOS NO CAMPO BRASIL 2008

    Criminalizao dos movimentos sociais cresce e acirra violncia no pas

    Cristiane Passos*

    Segundo o professor Carlos Walter, possvel notar uma mudana significativa na geografia dos assassinatos, posto que o ano de 2008 retoma o padro histrico da geografia da violncia, onde o Par toma a dianteira com 46,4% dos casos ocorridos no pas, enquanto em 2007 ele contava com apenas cerca de 18% do total de assassina-tos. Cabe destacar que a queda observada no nmero de assassinatos no pas e, sobre-tudo no Par nos anos de 2006 e 2007, se deveu, segundo anlises de Carlos Walter, repercusso do assassinato da freira Do-rothy Stang, o que ensejou que os governos federal e estadual tomassem medidas que, os dados de 2008 agora revelam, no toca-ram no padro histrico de violncia que vem caracterizando a reproduo da nossa

    CPT lana dados dos conflitos no campo no Brasil em 2008 e mostra o acirramento da violncia contra os trabalhadores(as) rurais, e contra

    comunidades tradicionais.

    Muda a geografia da violncia no campo brasileiro

    estrutura de poder. Enfim, o poder pblico, tambm no caso do assassinato de Doro-thy Stang, agiu com medidas emergenciais e no estruturais diante da violncia e, as-sim, o complexo de violncia e devastao permanece com seu padro de reproduo histrico. Observa-se que, alm do Par, outros trs estados tiveram aumento do nmero de pessoas assassinadas no ano de 2008 - Bahia, Rondnia e Rio Grande do Sul.

    As regies Norte e Sul acusaram au-mento do nmero de pessoas assassinadas pela ao direta do poder privado, com 18 casos registrados na regio Norte, aumen-to de 80% em relao a 2007, e 3 no Sul do Brasil, aumento de 33% em relao a 2007. Registre-se que os estados de Ron-

    dnia e Rio Grande do Sul so os nicos em que os dois indicadores de violncia do poder privado aumentaram, isto , tanto o nmero de pessoas assassinadas como o de famlias expulsas pela ao di-reta do poder privado. No caso das fam-lias expulsas, quatro outros estados acusa-ram aumento em 2008 em relao a 2007, todos da regio Nordeste - Alagoas, Para-ba, Piau e Rio Grande do Norte. Aqui, vale salientar que esse aumento se carac-teriza devido retomada da expanso do monocultivo de cana nos estados da Zona da Mata (AL, PB e RN) com os incentivos governamentais em sua campanha pelo etanol e rearticulao das entidades das oligarquias latifundirias com sua violn-cia privada expulsando famlias.

    mais dura esta tentativa de criminalizao. O destaque para este ataque sistemtico aos movimentos fica com o Rio Grande do Sul, onde alm da truculncia da pol-cia e das medidas judiciais, entra em cena o Ministrio Pblico Estadual (MPE), cujo Conselho Superior chegou a propor nada mais, nada menos do que a extino do MST. O professor Carlos Walter Porto-Gonalves atribui a essa ao do poder p-blico, o crescimento de todos os ndices de violncia contra os trabalhadores do cam-po no estado do Rio Grande do Sul.

    O jurista Jacques Tvora Alfonsin, ao analisar as aes do MPE, diz de forma magistral, que por uma sndrome me-drosa e preconceituosa, todo o povo pobre ativo - como so os sem-terra que defen-dem seus direitos - visto como perigoso e tendente a praticar crimes. A mdia, com raras excees, se encarrega de alimentar esse preconceito, a ponto de invadir cabea e corao de administradores pblicos, ju-zes e formadores de opinio..

  • 11PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    No caso da ao do poder pblico exercendo a violncia legal vemos que, apesar da queda geral no pas do nmero de prises e de famlias despejadas, a regio Norte acusa um aumento das aes de despejo lavra-das pelo poder judicirio e cumpridas pelo poder executivo, assim como a regio Sul acusa aumento no nme-ro de pessoas presas, nesse caso com destaque para o estado do Paran com um aumento de 200%!

    interessante observar que em cinco unidades da federao - Mato Grosso do Sul, Esprito Santo, Piau, Amazonas e Rio Grande do Sul - a violncia do Poder Pblico aumentou nos dois indicadores simultaneamen-te, isto , tanto no nmero de famlias despejadas como no de prises. Afora o Rio Grande do Sul onde a violncia do poder Pblico tanto do Executivo como do Judicirio vem instigando o aumento geral da violncia e da con-flitividade, sendo o nico estado em que todos os indicadores aumenta-ram, assinalamos o fato de que nos demais quatro estados em que o Po-der Pblico se destacou em ambos indicadores, a presena dos latifn-dios empresariais monocultores de exportao esteja avanando - Mato Grosso do Sul (cana e monocultivo de madeira), Esprito Santo (mono-cultivo de madeira) e o Piau (soja). Destaquemos, por outro lado, a forte presena de unidades da federao da Amaznia Legal onde o poder pbli-co vem agindo com todo seu peso nos conflitos ou prendendo, ou lavrando ordens de despejo: no Amazonas, nos dois indicadores; no Acre, Par e em Roraima, com prises, e no Mara-nho, com despejo de famlias. O Par um estado que apresenta um com-portamento sui generis na medida em que nele dispara a violncia do poder privado por meio dos assassinatos, mas a violncia institucional por meio da ao do estado se faz, sobretudo, no aumento das aes de despejo de famlias e no no nmero de prises que, ao contrrio, regride. Ou, em n-meros proporcionais, enquanto o n-mero de assassinatos aumentou 160% e em 53% o nmero de famlias des-pejadas, o nmero de ordens de pri-so, simplesmente, caiu cerca de 50%.

    Em 2008 foi registrado o maior nmero de casos denunciados de trabalho escravo, 280, 5,6% a mais que em 2007, 265 casos. O

    maior nmero anteriormente registra-do foi em 2005, com 276 denncias. O nmero de pessoas libertadas alcanou, em 2008, seu segundo maior nme-ro histrico desde a criao do Grupo Mvel: 5.266, logo atrs do ano anterior 5.974. O maior nmero de trabalhado-res libertados o foi no setor sucro-alco-oleiro, 2.553 pessoas, 48% do total. Mas o maior nmero de casos denunciados est vinculado pecuria, 134 casos que junto com o desmatamento (7 casos), correspondem a 51% das ocorrncias (em 2007, 64%). Alm disso, 2008 foi o ano em que mais foram realizadas aes de fiscalizao do Ministrio do Traba-lho e Emprego (MTE).

    Ao se analisarem os casos de traba-lho escravo em todo o pas, possvel perceber que as reas geogrficas de

    Violncia do Poder Pblico

    Cresce o nmero de denncias de trabalho escravocultivo antigo ou de expanso recente da cana-de-acar aumentaram dra-maticamente sua participao no total de libertados em flagrantes de trabalho escravo nos ltimos dois anos. Basta constatar que a regio Norte, que sem-pre liderou esses nmeros no passado, est em 2008 no terceiro lugar pelo n-mero de libertados (19%), aps o Nor-deste (28,4%) e o Centro-Oeste (32,0%). No detalhamento por estado, o ranking bastante esclarecedor: Gois, pelo se-gundo ano consecutivo, acessa ao 1 lu-gar (867 libertados em 6 casos), seguido por Par (811 libertados em 66 casos fis-calizados, de um total de 106 denuncia-dos), Alagoas (656 em 3 casos) e Mato Grosso (581 em 31 casos). Seguem: Paran (391 libertados), Pernambuco (309), Mato Grosso do Sul (236) e Mi-nas Gerais (229). Pelo nmero de casos encontrados, porm, o Norte continua lder incontestado entre as regies, com cerca da metade (46,8%) das ocorrn-

    cias de trabalho escravo, contra ape-nas 18,9% no Centro-Oeste ou 17,9% no Nordeste, e 7,9% no Sul e 8,6% no Sudeste. Territrio mais difcil de acesso para os fiscais, a Amaznia Legal con-centrou, em 2008, 68% dos registros de trabalho escravo, 48% dos trabalhado-res nele envolvidos e 32% dos resgata-dos. O surgimento de novos estados nos registros nacionais de trabalho escravo merece destaque. Em 2008, um ano re-corde em termos de operaes de fisca-lizao, Sul e Sudeste contribuem cada um com 10% do total de libertados, com destaque para Paran (391 resga-tados), Minas Gerais (229), So Paulo (180) e Santa Catarina (132). Em 2008, quase a metade das fiscalizaes com li-bertao efetiva foram assumidas pelas Superintendncias Regionais do Traba-lho e Emprego.

    * Setor de Comunicao da Secretaria Nacional da CPT

    Foto: Joo Zinclar

  • 12PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    A entrega do Prmio de Cidado do Mundo, concedido pela Fun-dao Kant a Dom Luiz Cappio, no ms de maio, na cidade de Freiburg, Alemanha, marcou a retomada na Europa das discusses sobre a transpo-sio e principiou a divulgao da Cam-panha Opar - Povos Indgenas em defesa do Rio So Francisco. Protagonizada pelos indgenas que vivem na bacia do rio, a mobilizao tem a participao de vrias organizaes, entre as quais a Articula-o Popular pela Revitalizao do So Francisco, da Comisso Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Pastoral dos Pesca-dores (CPP). Fico muito feliz que vrios grupos se unam para lutar contra um pro-jeto que no faz sentido. Isso fundamen-tal para dar visibilidade nossa luta, co-memora D. Luiz. A Campanha, atravs de peties populares, relatrio-denncia e manifestaes pblicas, quer pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar aes pendentes contra o projeto de trans-posio, em especial as que tratam das terras indgenas afetadas. Exige tambm a realizao de Audincias Pblicas de-mocrticas, inclusive no STF, para que as questes obscuras e ilegalidades do pro-jeto sejam abertamente debatidas. Uma das pendncias a serem julgadas a Ao Direta de Inconstitucionalidade 4113, que aponta desrespeito ao artigo 49 da Consti-tuio Brasileira, que obriga a consulta ao Congresso Nacional em caso de empre-endimento que envolva terras indgenas. Na bacia do So Francisco vivem 33 tribos e diretamente afetados pela transposio esto quatro povos - Truk, Tumbalal, Pipip, Kambiw - cujos territrios ainda no foram completamente definidos. O Congresso jamais foi ouvido.

    A campanha traz a afirmao da re-lao espiritual e cultural que os povos indgenas tm com o rio, explica o coor-denador geral da Articulao dos Povos e Organizaes Indgenas do Nordeste, Mi-nas Gerais e Esprito Santo (APOINME) e cacique dos Tuxs, Manoel Uilton Tux. Ele ainda afirma que a campanha mais ampla: Os povos indgenas so contra

    SO FRANCISCO VIVO!

    Premiao de Dom Luiz amplia luta pelo So Francisco no exterior

    INGRID CAMPOS*

    todos esses grandes empreendimentos empresariais que esto sendo construdos ao longo da bacia e que h anos tm nos prejudicado. A reivindicao de Uilton reiterada pelo Relatrio-Denncia Povos Indgenas do Nordeste Impactados com a Transposio do Rio So Francisco. O documento elaborado pela APOINME, em conjunto com outras organizaes, com base em cartografias sociais feitas pelas prprias comunidades, aponta v-rias agresses sofridas por estes povos ao longo dos ltimos 50 anos, como as bar-ragens. As obras do Eixo Norte comea-ram em terra comprovadamente Truk, ainda em processo de reconhecimento oficial. No Cear, 90 famlias do povo Anac j foram expulsas de sua terra tradicional e alojadas em assentamentos para a construo do Centro Industrial Porto de Pecm, um dos empreendimen-tos a ser beneficiado pela transposio.

    Campanha tem apoio na Europa

    As aes iniciais j comeam a dar re-

    sultado. O respaldo que D. Luiz adquiriu na Alemanha e na ustria facilitou. Ele se reuniu com parlamentares alemes, como a presidente da bancada do Partido Ver-de no parlamento alemo e ex-ministra de Agricultura, Renate Knast. Esteve em debate com o ministro de Estado, chefe da Casa Civil, Thomas de Maizire e se encontrou com o relator especial das Na-es Unidas para os Direitos Humanos, Richard Falk. D. Luiz divulgou a campa-nha e questionou os exageros da socie-dade de consumo, por exemplo, o gasto excessivo de energia da sociedade alem. A sociedade da abundncia facilmente vira do desperdcio, disse ele. Na ocasio tambm foi criticada a inteno do gover-no alemo de aumentar a porcentagem de etanol nos combustveis para cumprir a meta estabelecida pela Unio Europia de diminuir em 10% o consumo de com-bustveis fsseis. Falamos dos problemas sociais e ambientais que a expanso dos agrocombustveis tem causado no Brasil e enfatizamos que o enfrentamento das mudanas climticas tem que ser global, que eles tambm tm que rever o mode-

    lo e os padres de consumo de energia, explica o agente da CPT Bahia e coorde-nador do Projeto So Francisco, Ruben Siqueira, que acompanhou D. Luiz. A campanha foi divulgada na TV e em jor-nais locais. Cerca de 100 grupos, entida-des, agncias e ONGs alems e austracas esto apoiando. Mais de 10 mil pessoas nesses pases j se manifestaram envian-do cartas ao Supremo Tribunal Federal e ao Governo Federal. Os grupos solid-rios conhecem bem a realidade brasilei-ra e apoiaram prontamente a campanha, comemora D. Luiz.

    Esto sendo planejadas outras aes que culminaro, em setembro, com a di-vulgao de um relatrio-denncia na Europa. No Brasil, mobilizaes e eventos esto sendo programados. O documento ser lanado no seminrio da APOIN-ME, em Salvador, de 27 a 31 de julho e que reunir 350 lideranas de 70 naes indgenas do Nordeste, de Minas Gerais e do Esprito Santo.

    * Assessora de comunicao da Articulao So Francisco Vivo.

    Foto: Wolfgang Max

  • 13PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    A seguir a ntegra da nota:

    A Coordenao Nacional da Co-misso Pastoral da Terra, CPT, se jun-ta ao clamor nacional diante de mais uma agresso ao patrimnio pblico, ao meio ambiente e reforma agrria.

    No ltimo dia 4 de junho, o Sena-do Federal aprovou a MP 458/2009, j aprovada com alteraes pela Cmara dos Deputados, e que agora vai sano presidencial. a promoo da farra da grilagem, como se tem falado com mui-ta propriedade.

    Com o subterfgio de regularizao de reas de posseiros, prevista na Cons-tituio Federal, o governo federal, em 11 de fevereiro baixou a MP 458/2009 propondo a regularizao fundiria das ocupaes de terras pblicas da Unio, na Amaznia Legal, at o limi-te de 1.500 hectares. Esta regularizao abrange 67,4 milhes de hectares de terras pblicas da Unio, ou seja, ter-ras devolutas j arrecadadas pelo Es-tado e matriculadas nos registros p-blicos como terras pblicas e que pela Constituio deveriam ser destinadas a programas de reforma agrria. Desta forma a Medida Provisria 458, ago-ra s vsperas de ser transformada em lei, regulariza posses ilegais. Beneficia, sobretudo, pessoas que deveriam ser criminalmente processadas por usurpa-rem reas da reforma agrria, pois, de acordo com a Constituio, somente 7% da rea ocupada por pequenas proprie-dades de at 100 hectares (55% do total

    NOTA PBLICA

    Oficializada a grilagem da Amaznia

    A aprovao da MP 458 pela Cmara dos Deputados e pelo Senado provocou reaes as mais diversas. Os movimentos sociais e ambientalistas pediram que Lula vetasse os artigos alterados pela Cmara que tornaram o texto muito pior do que o original. Os ruralistas, por sua vez, bombardearam a presidncia da Repblica com uma avalanche de mais de um milho de mensagens pedindo a

    sano da Lei como aprovada pela Cmara. A CPT, na contramo, emitiu nota em que no pedia o veto s alteraes introduzidas. Atacou a MP como um todo, responsabilizando o presidente Lula pela oficializao da grilagem de terras na Amaznia. Esta regularizao corresponde a uma rea equivalente que foi destinada em 27 anos a programas de reforma agrria em todo o Brasil. De 1979 a 2006, foram criados 7.666 assentamentos, beneficiando 913.046 famlias, com rea total de 64.552.767 ha. A Medida legaliza 67 milhes de hectares.

    das propriedades) seriam passiveis de regularizao. Os movimentos sociais propuseram que a MP fosse retirada e em seu lugar se apresentasse um Proje-to de Lei para que se pudesse ter tempo para um debate em profundidade do tema, levando em conta a funo social da propriedade da terra. O Governo, entretanto, descartou qualquer discus-so com os representantes dos trabalha-dores do campo e da floresta.

    Esta oficializao da grilagem da Amaznia est chamando a ateno de muitos pela semelhana com o momen-to histrico da nefasta Lei de Terras de 1850, elaborada pela elite latifundiria do Congresso do Imprio, sanciona-da por D. Pedro, privatizando as terras ocupadas. Hoje um presidente repu-blicano e ex-operrio quem privatiza e entrega as terras da Amaznia s mes-mas mos que se tinham apoderado de-las de forma ilegal e at criminosa.

    Esta proposta de lei, que vai para a sano do Presidente Lula, pavimenta o espao para a expanso do latifndio e do agronegcio na Amaznia, bem ao gosto dos ruralistas. Por isto no foi sem sentido a reduo aprovada pela Cma-ra dos Deputados de dez para trs anos no tempo em que as terras regularizadas no poderiam ser vendidas e a regulari-zao de reas para quem j possui ou-tras propriedades e para pessoas jurdi-cas. Daqui a trs anos nada impede que uma mesma pessoa ou empresa adquira novas propriedades, acumulando reas sem qualquer limite de tamanho. Foi as-

    sim que aconteceu com as imensas pro-priedades que se formaram na Amaz-nia, algumas com mais de um milho de hectares, beneficiadas com os projetos da Sudam.

    Ironia do destino, Lula , que em 1998 afirmou que se for eleito, resolverei o problema da reforma agrria, com uma canetada, ao invs de executar a refor-ma agrria prometida, acabou com uma canetada propondo a legalizao de 67 milhes de hectares de terras griladas na Amaznia, um bioma que no atual momento de crise climtica mundial aguda grita por preservao para garan-tir a sobrevivncia do planeta.

    O mesmo presidente que, em en-trevista Revista Caros Amigos, em novembro de 2002 dizia: No se jus-tifica num pas, por maior que seja, ter algum com 30 mil alqueires de terra! Dois milhes de hectares de terra! Isso no tem justificativa em lugar nenhum do mundo! S no Brasil. Porque temos um presidente covarde, que fica na de-pendncia de contemplar uma bancada ruralista a troco de alguns votos aca-bou sendo o refm desta bancada, pior ainda, recorreu senadora Ktia Abreu, baluarte da bancada ruralista, inimiga nmero um da reforma agrria, para a aprovao da medida no Senado. J ce-dera presso dos ruralistas aprovando a Lei dos Transgnicos. No atualizou os ndices de produtividade estabeleci-dos h mais de 30 anos atrs, o que po-deria possibilitar o acesso a novas reas para reforma agrria. No se empenhou

    na aprovao da proposta de emenda constitucional PEC 438/01 que expro-pria as reas onde se flagre a explorao de trabalho escravo. Alm disso, promo-veu condio de heris nacionais os usineiros e definiu como empecilhos ao progresso as comunidades tradicionais, os ambientalistas e seus defensores.

    Lula que, com o Programa Fome Zero, teve a oportunidade de realizar um amplo processo de reforma agr-ria, transformou-o, porm, em um car-to do Bolsa Famlia que a cada ms d umas migalhas a quem poderia estar produzindo seu prprio alimento e con-tribuindo para alimentar a nao.

    Os movimentos sociais do campo, inclusive a CPT, vem defendendo h anos, por uma questo de sabedoria e bom senso, um limite para a proprie-dade da terra em nosso Pas. Mas o que vemos exatamente o contrrio. Cresce a concentrao de terras, enquanto que milhares de famlias continuam acam-padas s margens das rodovias espera de um assentamento que lhes d digni-dade e cidadania, pois, como bem afir-maram os bispos e pastores sinodais que subscreveram o documento Os pobres possuiro a terra A poltica oficial do pas subordina-se aos ditames implac-veis do sistema capitalista e apoia e esti-mula abertamente o agronegcio.

    Goinia, 09 de junho de 2009.

    Dom Ladislau BiernaskiPresidente da Comisso Pastoral da Terra

  • 14PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    NuESTRA AMRICA

    Os enfrentamentos no Peru so resulta-dos de um conflito entre grupos indgenas defensores da selva amaznica e o governo de Alan Garca que quer explorar riquezas petrolferas, madeireiras e minerrias na regio. Os indgenas agrupados na Asso-ciao Intertnica para o Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep) se mobilizaram contra a destruio e a poluio de seu es-pao. Eles receberam o apoio de numero-sos setores da populao de todo o pas. Mesmo assim, o governo continuou ma-nifestando a sua vontade de abrir caminho s companhias estrangeiras de explorao a qualquer custo. Deixando, com isso, de lado os direitos reconhecidos s comunida-des desde os anos 1970, pelo governo mili-tar progressista de Juan Velasco Alvarado, e protegidos pelas convenes da Organiza-o das Naes Unidas (ONU), ratificadas pelo Peru em 1994.

    Diante da resistncia indgena, preocu-pada com a preservao de suas matas e do territrio amaznico, o governo peruano jogou todo seu aparato policial e arma-mentista contra os vrios grupos indgenas que estavam mobilizados em manifesta-es na cidade de Bagua. O resultado desse enfrentamento foi o massacre de dezenas de indgenas peruanos, cujos corpos foram descartados em um rio prximo ao local do embate. At hoje ningum sabe ao certo o nmero de mortos e desaparecidos nesse massacre que manchou as terras amazni-cas dos nativos peruanos. As mesmas ter-ras que abrigaram a resistncia do grande lder Tpac Amaru assiste agora mais uma tentativa de aniquilao dos povos milena-res, guardies da mata e da regio.

    Histrico do Conflito

    No dia 9 de abril, as associaes que representam cerca de 350 mil indgenas amaznicos de 56 etnias, articuladas na Aidesep, iniciaram uma paralisao. Tre-chos de estradas, oleodutos e gasodutos foram ocupados. No dia 8 de maio foi de-cretado estado de stio e mesmo assim os manifestantes no suspenderam as mobili-

    Massacre de indgenas no PeruDezenas de indgenas foram mortos e outros tantos ficaram feridos aps um

    enfrentamento com a polcia peruana no ltimo dia 5 de junho.

    Cristiane Passos*

    zaes. O Legislativo comeou a dar sinais de que iria ceder. No dia 19, a Comisso Constitucional do Congresso declarou inconstitucional o mais ofensivo dos de-cretos do governo, o 1.090, que permitia a ele vender concesses florestais a crit-rio de um departamento do Ministrio da Agricultura. As comunidades que seriam afetadas sequer foram consultadas ou in-formadas sobre as intenes de explorao de seus territrios. Diante da possibilida-de da anulao desse decreto, os indgenas anunciaram que caso ele fosse revogado, eles suspenderiam os protestos sem es-perar pela anulao dos demais decretos. Mas, no dia 2 de junho, o partido gover-nista Aprista se recusou a colocar a ques-to em votao e no dia seguinte o gover-no ordenou o ataque aos manifestantes.

    Cerca de 2 mil indgenas estavam con-centrados no bloqueio de uma estrada perto da cidade de Bagua, junto fronteira do Equador, quando foram emboscados pela polcia e por soldados fortemente ar-mados e amparados por helicpteros que lanavam bombas de gs sobre os manifes-tantes. Dezenas de ndios foram mortos. A populao de Bagua se revoltou e foi s ruas. Incendiou sedes de rgos governa-mentais e do Partido Aprista, e aprisionou 38 policias que depois foram liberados. Segundo os indgenas, eles foram proibi-dos de recolherem os corpos de seus pa-rentes e companheiros. De acordo com lideranas locais, helicpteros da polcia jogaram os corpos dos ndios em sacos negros no rio Maraon. Ao mesmo tempo, o governo peruano veiculava na televiso

    imagens de policiais feridos por pseudo-nativos e selvagens, que tentam a todo custo impedir o desenvolvimento do Peru e o aproveitamento de seu petrleo. Alm disso, Garca ordenou a priso de lideran-as dos ndios e ainda acusou o presidente da Bolvia, Evo Morales, de dar refgio a algumas dessas lideranas, instigando e apoiando, dessa forma, a revolta deles. O governo fez uma pesada propaganda nos meios de comunicao a fim de inverter os rumos do confronto, rebaixando os agredidos ao posto de agressores. Entre-tanto, com o passar dos dias as atenes e os questionamentos foram virando-se contra o governo peruano. Organizaes indgenas de vrios pases da Amrica La-tina condenaram as aes do governo de Garca e manifestaram apoio aos nativos peruanos.

    Uma carta assinada pelo Conselho Indigenista Missionrio (CIMI), Con-ferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Conselho Nacional de Igrejas Crists (Conic), Movimento dos Traba-lhadores Rurais Sem Terra (MST) e Ar-ticulao dos Povos Indgenas do Brasil, foi entregue embaixada peruana em Braslia expressando todo seu repdio ao massacre perpetrado contra os ndios do Peru pelo governo de Alan Garca. Diante das presses de vrias partes do mundo e principalmente do continente latino-americano, o governo teve de recuar e no dia 10 de junho votou a suspenso dos decretos 1.090 e 1.064, que previa a abertura das terras da selva explorao agrcola. Mesmo assim, nacionalistas e in-dgenas mantm a presso para que haja uma concreta revogao desses decretos, e no apenas a suspenso. Com isso, eles prometeram continuar as manifestaes e paralisaes at que esse objetivo seja alcanado. A tenso na regio continua e novos focos de violncia podem surgir a qualquer momento. Principalmente dian-te de um governo explicitamente alheio aos direitos humanos e preservao da vida de sua populao.

    * Setor de Comunicao da Secretaria Nacional da CPT.

    Foto: Intercontinental Cry

  • 15PASTORAL DA TERRA abril a junho de 2009

    Olhando para a reali-dade global, dois pa-recem ser os desafios centrais: desemprego e

    pobreza. Associado a isso, a falta de alimentos no mercado mun-dial. Junto com a constatao da escassez de alimentos, contudo, surgem algumas questes: Ser mesmo escassez ou m distri-buio de alimentos? Por que no existem solues imediatas? Como pode faltar alimentos com tanta tecnologia e terras favor-veis?

    O livro de Rifkin, O fim dos empregos, faz uma abordagem do contnuo crescimento do de-semprego em todo o mundo, e da revoluo tecnolgica que atin-ge em cheio a agricultura mun-dial. O autor Rifkin trabalha sob vrios enfoques e aspectos que surgem como alarmantes numa realidade que prev 80% da po-pulao como irrevelante, ou seja, no necessria para o sistema glo-balizado.

    No livro apresentada a idia do fim da agricultura ao ar livre; o fim do agricultor; o operaria-do sendo aposentado; o ltimo prestador de servio; o repouso eterno da Classe Trabalhadora. A partir destes aspectos, Rifkin, em seu livro perturbador, afirma que estamos adentrando numa nova fase na histria. Uma fase carac-terizada pelo declnio contnuo e inevitvel do nvel dos empregos. A humanidade apresenta compu-tadores sofistificados, robtica, telecomunicaes e outras tecno-logias da Era da Informao que esto rapidamente substituindo os seres humanos em praticamente todos os setores e mercados. As fbricas e as em-presas virtuais quase despovoadas asso-mam no horizonte.

    Perturbado com tudo isso e vivendo numa regio onde cerca de 80% dos ali-mentos vem de fora, a questo se coloca de forma pertinente: Por que no temos a

    ARTIGO

    O fim dos empregos e a falta de alimentos!?MIlTon CsAr GerhArDT*

    cultura de produzir alimentos? A regio de Misses, mais especificamente o muni-cpio de Santo ngelo, no Rio Grande do Sul, traz de outras regies cerca de 80% de toda produo alimentcia que consome. Que dado alarmante!

    Vivendo nessa onda da falta de ali-mentos, temos dados e nmeros que

    comprovam que no h falta de alimen-tos, mas que estes so concentrados nas mos de alguns. Quando vemos frases do tipo Fome Zero se acaba com transgni-cos; Agricultura forte com transgnicos ou 100% transgnicos, precisamos nos interrogar acerca de que tipo de alimentos estamos produzindo para o nosso con-

    sumo. Parece at que a trans-genia tem a preocupao de acabar com a fome! Isso, sem contar que a transgenia est extinguindo as to sagradas se-mentes dos camponeses, sendo para eles sua real identidade desde os maias e incas na Am-rica Latina.

    A histria da agricultura mostra que quem realmente produz alimentos para a mesa do povo brasileiro a peque-na propriedade rural, onde se destaca a figura do campons que na grande maioria das ve-zes produz braalmente. Por que ento no incentivar e criar polticas favorveis s pessoas para terem condies de pro-duzir e ter sua produo valo-rizada?

    Por isso, consideramos o alimento um direito de todo ser humano e no uma mer-cadoria, como, alis, j defen-de a Declarao Universal dos Direitos Humanos. Cada povo e todos os povos devem ter o direito de produzir seus pr-prios alimentos. Isso se chama soberania alimentar. No bas-ta dar cesta bsica, dar o peixe. Isso a segurana alimentar, mas no soberania alimen-tar. preciso que o povo saiba pescar!

    Aos olhos de muitos pode algum perguntar: Quais so as possveis solues num mundo que parece realmente querer excluir 80% da popu-lao? Acredito que no tenho solues, receitas... Mas in-meras e diferentes iniciativas vm surgindo para contrapor o atual sistema. Para os olhos

    de muitos pode parecer insignificante, mas, pequenas feiras locais, por exemplo, mudam a compreenso no comercializar e consumir, valorizando os produtos e o produtor, gerando, assim, uma mudana significativa.

    *Agente da CPT no Rio Grande do Sul

    Ilustrao: Cerezo Barredo

  • 16PASTORAL DA TERRA

    VIA AReAIMPReSSO

    Pagamento pode ser feito atravs de depsito no Banco do Brasil, Comisso Pastoral da Terra, conta corrente 116.855-X, agncia 1610-1. Informaes: [email protected]

    Brasil ..............................Para o exterior ................

    R$ 10,00US$ 20,00

    Secretaria Nacional: Rua 19, n 35, Ed. Dom Abel, 1Andar, Centro. CEP 74.030-090 Goinia, Gois C.P. 749 - CEP 74.001-970

    COMISSO PASTORAL DA TERRANome:Endereo:Exemplares:

    Assinatura anual:

    Assine ou renove sua assinatura

    abril a junho de 2009

    CORReIOSImpresso especial

    0564/2005 Dr/GTCoM. PAsT. DA TerrA

    CULTURA

    Poema feito aps o assassinato de dois trabalhadores rurais sem terra da fazenda Bordolndia, no Mato Grosso, ocorrido no dia 17 de junho durante manifestao em que as famlias despejadas da fazenda bloquearam a Br 158.

    Meu poema tem hoje a cor do sangue e o sabor amargo da derrota! Vejo agora dois corpos mortos na Br 158 e o sol os queima na tarde trgica e o sangue ainda escorre das feridas terra e sangue misturados.

    imvel a multido atnita mastiga a raiva e clama aos cus!

    os corpos so de dois homens e os homens so lavradores pobres cidados honestos da Ptria amada, idolatrada, Brasil! aqui ficam seus nomes definitivamente vivos para remorso do inCra e de um Governo que traiu os sonhos dos sem terra que nele puseram sua esperana:

    edeuton rodrigues do nascimento abiner Jos da Costa. Paulo Gabriel

    Padre da Prelazia de so Flix do araguaia

    Rquiem por dois sem terra assassinados

    Ilustrao: Cerezo Barredo