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    DEBATE SOBRE A CONSTRUO DA AUTONOMIA

    NO PROCESSO EDUCATIVO

    Jose Lauro Martins1

    Bento Silva2

    RESUMO

    Nesta comunicao propomos a discusso sobre construo da autonomia noprocesso de educativo por considerarmos a sua importncia e a dificuldadeque se tem de observar e medir esse fenmeno no processo de aprendizagem.Embora, em tese, o processo educativo, principalmente a educao formal,tenha por objetivo favorecer aos estudantes a construo da capacidade decompreender e agir de forma autnoma no cotidiano, nem sempre as prticaseducacionais conduz a esse fim. A pesquisa baseia-se num inqurito feitocom 313 concluintes de um Curso de Especializao em CoordenaoPedaggica frequentado por professores da educao bsica. Por meio doinqurito pretendemos conhecer alguns aspetos relativos construo daautonomia na gesto da aprendizagem no ambiente virtual. Pelos resultadosapurados, possvel afirmar que os professores consideram que a autonomiadiscente um fator importante na gesto da aprendizagem e que um curso emambiente virtual tambm pode ajudar na formao continuada quanto ao usopedaggico das Tecnologias Digitais de Informao e Comunicao (TDIC)na Educao.

    PALAVRAS-CHAVE: Gesto da aprendizagem. Autonomia. Formao continuada

    1 INTRODUO

    Alguns aspetos esto implcitos nos processos de aprendizagens e no desenvolvimento

    cognitivo estudantil, porm no so objetivamente trabalhados no currculo escolar. Um

    desses aspectos formativos e paradigmticos a considerar a autonomia que indivduo

    exerce diante de qualquer realidade ao agir sem o suporte direto de outra pessoa. Nesta

    comunicao apontamos para a discusso sobre a construo da autonomia na gesto da

    aprendizagem, tendo como foco a perspectiva dos alunos em um curso deespecializao (lato senso) que fora desenvolvido em ambiente virtual (MOODLE).

    Nesse caso, consideramos que a autonomia no deve ser apenas considerada, mas

    orientada para que o estudante tenha a mediao docente tanto para que apreenda os

    1Professor da Universidade Federal do Tocantins, doutorando no Instituto de Educao e Psicologia da

    Universidade do Minho2Professor no Instituto de Educao da Universidade do Minho

    Martins, J. L., & Silva, B. (2012). Debate sobre a construo da autonomia no processo educativo. III Seminrio

    Web Currculo - Educao e Mobilidade (pp. 1-16). So Paulo: PUC - SP.

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    conceitos necessrios e que tambm domine o processo de aprendizagem como parte da

    sua formao.

    Nessa pesquisa observamos que a questo da autonomia no processo de

    aprendizagem uma preocupao dos docentes que atuam na educao bsica e que os

    esforos para que os alunos do Curso de Especializao em Coordenao Pedaggica

    utilizassem os recursos disponveis para a sua participao foi considerados positivos

    para a formao e contribuiu tambm para a capacitao dos mesmos para o uso dos

    recursos de internet e ambiente virtual em sua pratica pedaggica.

    2 APROPRIAO DA AUTONOMIA

    A questo da autonomia esta implcita na gesto da aprendizagem na medida em que,

    como salientava Paulo Freire, no processo de aprendizagem s aprende

    verdadeiramente aqule que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido,

    com o que pode, por isto mesmo, reinvent-lo; aqule que capaz de aplicar o

    aprendido apreendido a situaes existenciais concretas (FREIRE, 1983, p. 16). Nesse

    sentido, a autonomia na gesto da aprendizagem no pode ser considerada como uma

    concesso, mas sim uma contribuio do processo educativo para que os sujeitosdesenvolvam a capacidade de intervir de forma consciente na realidade.

    Para Perrenoud o sentido do processo educativo a condio de transformao

    que proporciona ao sujeito da aprendizagem. Portanto, o significado do ensino

    refletido na aprendizagem na medida em que o sujeito proativo e assume a construo

    da autonomia ao longo da vida. Diz ele, toda aco educativa s pode es timular o auto

    desenvolvimento, a auto-aprendizagem, a auto-regulao de um sujeito, modificando

    seu meio, entrando em interaco com ele (PERRENOUD, 1999, p. 96).

    Freire e Shor escreveram que A violncia simblica das autoridades, no dia-a-

    dia e na escola, tenta ensinar as pessoas a desistir de seus direitos autonomia e ao

    pensamento crtico (FREIRE & SHOR, 1986, p.78), apontando que h uma cultura do

    silncio instituda nas escolas americanas por meio da desvalorizao da subjetividade

    e das aes dos estudantes, sendo essa violncia simblica combatida por uma

    cultura da sabotagem pelos estudantes. Tambm forma tradicional de ensinar da

    educao bancria(FREIRE,1976) no contribui significativamente para a construo

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    da autonomia e da criatividade, ao contrrio pode contribuir para uma cultura da

    passividade e conformao. De fato, esta estratgia de ensino no coloca o sujeito

    cognoscente no centro do processo, contrariando propostas que fomentem a construo

    da autonomia.No cenrio da educao bancria bem possvelque haja alunos muito

    bem avaliados, devido memorizao mecnica de contedos, mas que no tero um

    bom desempenho social porque no tiveram uma aprendizagem que de fato os

    preparassem para os tempos complexos da sociedade moderna.

    Fonseca (1998, p. 315) lembra que o professor e o formador do futuro tem o

    dever de preparar o estudante para pensar, para aprender a serem flexveis, ou seja, para

    serem aptos a sobreviverem na nossa aldeia de informaes acelerada. Morin (2001)

    considera que preciso que tenhamos capacidades de desenvolver estratgias quepermitam resolver imprevistos, incertezas ou inesperado com as informaes

    disponveis e ao alcance de suas competncias de aprendizagem. Assim, pode-se dizer

    que a autonomia construda por meio do processo de aprendizagem e um exerccio

    de ativao do poder por meio dos conhecimentos e a capacidade de utiliz-los na

    atualidade.

    Freire (2009) considera que no compete escola apenas apresentar aos seus

    alunos as informaes reconhecidamente importantes para a aprendizagem, tambm tem

    o dever de favorecer a independncia, a autonomia e a criatividade dos alunos. Assim,

    os estudantes podem desenvolver as competncias necessrias para assumir um papel

    construtivo nas suas aprendizagens.

    esse contexto em que consideramos que o processo educativo formal tem a

    responsabilidade de contribuir objetivamente com a construo das competncias para a

    gesto autnoma da aprendizagem. No se trata, apenas, de uma aposta nascompetncias individuais para acessar, organizar, processar e utilizar informaes para a

    sua participao social, mas sim de um desenvolvimento social do indivduo que a

    escola pode e tem dever de participar objetivamente.

    Ao observar o currculo escolar preciso tem em conta de que a finalidade da

    escola contribuir para preparar os jovens para um futuro incerto devido rapidez nas

    transformaes que observamos na sociedade contempornea.

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    No tiene sentido seguir desarrollando actividades pedaggicaspara formar un humano para un mundo que ya no existe, pues elloexpresara un desfase con la prctica. Esto provoca que el humanono acte y se retrotraiga. (CABALLERO, 2008)

    Considerando que aprender sempre preparao para a vida, tem-se, ento, quepreocupar sempre com o futuro, visto que o que se aprende sempre para o futuro.

    Porm, a pergunta que preocupa os educadores muito simples: que futuro? Com a

    velocidade em que as mudanas que acontecem atualmente faz do presente cada vez

    menos tempo, o passado facilmente esquecido e o futuro quase presente, mas que em

    muito pouco tempo tudo pode mudar.

    J em 1963, Ansio Teixeira, chamou a ateno dos educadores para a formao

    dos educadores e dos jovens perante a dinmica das transformaes sociais, pois como

    disse ele, est constantemente a mudar-lhe a vida e a obrig-lo a novos e delicados

    ajustamentos (TEIXEIRA, 1963). Ainda no sculo passado, j considerava que

    necessrio ajudar os jovens aprender os mtodos cientficos.

    Tambm 1968, Ausubel, em 1968, escreveu que poucos recursos pedaggicos

    tm sido to veemente repudiados pelos tericos da educao como o mtodo de

    ensino expositivo verbal, o que popularmente chamamos de aula expositiva. Segundo

    ele, desde o inicio do sculo XX diversos mtodos vinham sendo desenvolvidos, tais

    como o ensino baseado em programas de atividades, em projetos, colocando a nfase no

    autodescobrimento ou resoluo de problemas (AUSUBEL, 1968, p. 33).

    A educao que se preocupa apenas em transmitir conhecimentos perde seu

    espao diante de tantas fontes de informaes disponveis. Os alunos vo todos os dias

    para as salas de aula, mas se esquece que tambm que necessrio ensin-los no

    fundamental: aprender a aprender (ROSRIO, 1997). Outros verbos que indicammelhor a ao pedaggica passaram a fazer parte constante do vocabulrio da educao,

    pois cabe ao educador facilitar o acesso a informaes, argumentar para criao de

    senso crtico, problematizar o que parece evidente, apoiar e orientar as buscas para

    alm do dicionrio, da enciclopdia ambulante ou mesmo a enciclopdia online a

    wikipdia!.

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    2.1 Papel da autorregulao e matacognio na construo da autonomia

    O conceito de autorregulao relevante para a compreenso da autonomia do

    estudante na gesto da aprendizagem. Diversos estudos vm sendo realizados por

    pesquisadores que, bem mais que a compreenso do conceito, tm utilizado o conceito

    para investigar os processos de aprendizagem centrados no aluno, tais como Rosrio,

    1999; Soares, 2007; Silva, 2009entre outros.

    Segundo Rosrio (2004) a autorregulao da aprendizagem envolve trabalho

    autnomo, motivao intrnseca, estratgias prprias, anlise de cenrio, identificao

    dos recursos, buscar apoio e autoconfiana, pois os alunos auto-reguladores da sua

    aprendizagem analisam as exigncias da tarefa e ponderam os seus recursos para lhes

    fazer face procurando apoio, sempre que necessrio, de modo a poderem alcanar seus

    objetivos (ROSARIO et al.,2007). Para Zimmermerman (2000, apudROSARIO et

    al., op. cit) a autorregulao tem trs fases que se completam: a fase inicial, a fase de

    controle emocional e a fase de autoavaliao. Consideramos que essas fases no so

    separadas e nem acontecem nessa ordem necessariamente.

    Tomemos como exemplo uma atividade acadmica curricular individual

    estabelecida por um professor e passamos a descrever essas fases conforme nossa

    interpretao.

    Na fase inicial, o estudante analisa e planeja a ao para que haja as condies

    de realizao. Inicialmente o aluno recebe a atividade seja por meio de uma aula

    expositiva ou de um ambiente virtual. Nesta fase inicial comum haver dvidas quanto

    aos objetivos, estabelecidos pelo professor, e quanto s estratgias de produo. muito

    importante que o professor esclarea, ainda que no seja solicitado pelo aluno, qual o

    objetivo da atividade no seu processo de gesto da aprendizagem para que no se torne

    apenas uma atividade mecnica sem papel relevante para o aluno.

    Na fase de controle emocional fundamental que o estudante mantenha o

    controle da ansiedade e a autoconfiana porque as condies subjetivas podem-se tornar

    a principal dificuldade para a realizao da atividade. Sendo uma atividade individual,

    depende das habilidades de gesto do aluno para que mobilize imagens mentais que

    possam ajud-lo, autoinstrues para que solucione problemas a partir de informaes

    que j possua, mantenha a ateno no processo para que suas estratgias sejamadequadas ou adaptadas para otimizar seus esforos. A fase de autoavaliao

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    importante que ocorra espontaneamente pelo estudante, ainda que essa avaliao j

    venha ocorrendo a monitorar as aes durante o processo.

    Embora essas fases possam ser ajustadas ou diferentes para cada estudante e

    para cada atividade, o que fica claro o valor da ao docente para ajudar a construir

    com o estudante uma conscincia positiva de suas capacidades, esclarecimento quanto

    ao objetivo gnosiolgico das atividades e da valorizao do processo na gesto da

    aprendizagem. Deste modo, os educadores so desafiados para trabalharem mais na

    qualidade do processo, das metodologias e das concepes de currculo que norteiam a

    sua ao pedaggica (ROSARIO et al, 2007).

    Outro conceito importante para compreender a construo da autonomia na

    gesto da aprendizagem e o conceito de metacognio. Frison (2007) entende a

    metacognio como a capacidade do individuo perceber e refletir sobre suas

    potencialidades de aprendizagem. Isso envolve as emoes e as demais competncias

    cognitivas que contribuem para que o planejamento de uma atividade seja realmente

    aproximado das possibilidades de realizao. Em outras palavras, a metacognio a

    capacidade do sujeito de refletir sobre seu prprio pensamento, sobre sua capacidade de

    conhecer o prprio pensar e, de ser capaz, de pensar sobre aquilo que est fazendo, o

    que significa desenvolver a capacidade de conhecer e de refletir sobre si prprio, sobre

    sua produo, passando pela capacidade cognitiva, emocional e pelo desenvolvimento

    de suas competncias, que podem estimular maior eficincia na ao.

    Peixoto, Brando & Santos (2007) consideram que o termo metacognio

    muito amplo e usado para descrever diferentes aspectos do processo de aprendizagem.

    Para as autoras esse fenmeno se d em dois nveis: objeto e meta. Entendemos que no

    nvel do objeto buscamos aprender e compreender algo externo e imediato, sejaabstratamente ou empiricamente, e o nvel meta constitui do fluxo de informao para

    um estgio da aprendizagem mais ampla e duradoura. No h uma transferncia

    objetiva de informao entre os nveis propostos, mesmo o sujeito cognoscente toma

    conscincia apenas dos objetos de aprendizagem e o processo metacognitivo

    resultante das competncias do sujeito e da qualidade do processo.

    Feito esta breve reflexo sobre a necessidade e o papel da construo da

    autonomia, apresentamos os resultados da investigao com professores, que no ato

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    dessa pesquisa, eram coordenadores pedaggicos em escolas pblicas e alunos do um

    curso de formao continuada realizado ambiente virtual.

    3

    METODOLOGIA3.1 Objetivo

    Esta pesquisa procurou saber a contribuio de um curso para a construo da

    autonomia dos professores, enquanto alunos que frequentarem e concluram um curso

    de formao continuada, quer sobre os aspectos da autorregulao que o processo

    educativo mediado em um ambiente virtual exige, quer sobre a capacidade de pensar e

    agir na vida profissional.

    3.2 Amostra

    A pesquisa foi realizada no Curso de Especializao em Coordenao

    Pedaggica ministrado na Universidade Federal do Tocantins para coordenadores da

    rede pblica de ensino do Estado. Foram oferecidas 400 vagas, dos quais 313

    concluram com aprovao (78%). Para os objetivos da pesquisa, foi aplicado um

    questionrio de avaliao com 8 questes de mltipla escolha e 3 questes abertas,

    respondido no ambiente virtual do curso. Houve 248 respostas espontneas, o que

    corresponde a 79% participantes concluintes do curso, que passaram a constituir a

    amostra respondente.

    3.3 Instrumento

    As questes do questionrio foram elaboradas para que se pudessem obter

    informaes seguras, optando-se tambm por elaborar poucas questes (11 no total)

    pois ao ser aplicado ao final do curso, junto com outros instrumentos de avaliao,

    poderia haver o risco de saturar os participantes e haver poucos voluntrios para

    responder ao questionrio da pesquisa. Com esse objetivo, tambm as questes foram

    construdas de forma que fossem ao mesmo tempo complementares e com palavras

    chaves diferentes. A atingir-se um nvel de 79% de respondentes espontneos e

    voluntrios, consideramos que este objetivo foi conseguido.

    A primeira questo do inqurito generalizante e as demais oferecem

    possibilidades de confirmar ou contradizer a resposta inicial. Na segunda questo, a

    palavra chave ambiente virtual; na terceira, o foco a relao que os professores

    mantiveram com os alunos durante o curso; na quarta, procura-se saber se o curso

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    ajudou na construo da autonomia; na quinta, a pergunta complementa a anterior

    colocando no centro a questo da promoo da autonomia; a sexta questo procura

    sintetizar todas respostas. Na stima questo colocamos como foco a experincia que os

    alunos obtiveram com as tecnologias utilizadas no curso e na ltima apontamos para a

    questo das metodologias e procura constatar se o aluno se sentia de fato mais capaz de

    realizar suas funes de professor com o aprendizado do curso. Foram disponibilizadas

    7 alternativas para as respostas, em cada questo, em escala do tipo Lickert, sendo:

    Discordo completamente, Discordo parcialmente, Discordo, Concordo, Concordo

    parcialmente, Concordo completamente e Sem opinio.

    3.4 Procedimentos

    O questionrio foi aplicado por meio de recurso do ambiente virtual do curso(MOODLE). As respostas assinaladas foram totalizadas e recebeu uma escala de pesos

    (de 1 a 6), partindo de 1 para Discordo completamente, 2 para Discordo

    parcialmente, 3 para Discordo, 4 para Concordo, 5 para Concordo parcialmente e

    6 para Concordo completamente, sendo as respostas assinaladas com Sem opinio

    foram descartada da anlise.

    4

    RESULTADOS E DISCUSSOOs resultados mdios de cada questo variaram entre 4,9 e 5,3 pontos o que

    indica uma forte concordncia em todas as questes propostas, conforme apresentamos

    no grfico seguinte.

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    Grfico 1: Resultados ponderados (mdia aritmtica por questo)

    1 - Discordo completamente; 2 - Discordo parcialmente; 3 - Discordo; 4 -Concordo; 5 - Concordo parcialmente; 6 - Concordo completamente

    Valorizar a gesto da aprendizagem em cursos mediados em ambientes virtuais

    torna-se uma questo de extrema importncia por se tratar de uma forma de estudar em

    que o professor no est prximo para efetuar as cobranas tradicionais. Nos cursos

    presenciais o fato de o aluno se encontrar com o professor em um corredor, por

    exemplo, pode ajudar a lembrar-se das atividades que precisam ser realizadas.

    Considerando que os alunos que formavam o grupo pesquisado (que

    frequentavam um curso de especializao em coordenao pedaggica), eram

    professores que atuavam como coordenadores na educao bsica infere-se que os

    conceitos utilizados nas questes do inqurito no eram estranhos ao seu vocabulrio.

    Porm, alguns conceitos poderiam gerar algum desconforto ao questionar a prtica

    desses professores. A primeira questo um desses casos (Voc entende que a

    promoo da autonomia do aluno no processo de gesto da prpria aprendizagem

    ajuda na construo do conhecimento?), pois sabemos que questo da autonomia dos

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    estudantes na gesto da aprendizagem no dada a devida relevncia, como bem

    lembrou Shor e Freire (1986). Porm, 96% dos entrevistados manifestaram concordar

    que promoo da autonomia do aluno no processo de gesto da prpria aprendizagem

    ajuda na construo do conhecimento. Ento, como explicar o fato da promoo da

    autonomia no ser uma prtica na educao bsica se quase a totalidade dos professores

    entende a sua importncia? Nesse caso, a realidade da estrutura escolar parece ser mais

    forte que a compreenso do que seria melhor para a educao conforme o entendimento

    manifestado individualmente pelos professores. Talvez a resposta esteja no prprio

    processo de aprendizagem dos professores. O cotidiano desses professores mostra-se

    rotineiro enquanto o processo de aprendizagem possibilita a reviso do real ou a

    construo de realidades. Todavia, o processo de reviso do que at ento

    considervamos verdadeiro ou que simplesmente chamado de real no modificado

    com relativa facilidade. Como disse Bachelard (1996), impossvel anular, de um s

    golpe, todos os conhecimentos habituais. Diante do real, aquilo que cremos saber com

    clareza ofusca o que deveramos saber (p. 18). So mudanas construdas da

    aprendizagem que possibilitam reconhecer o destino dos prprios conhecimentos tidos

    como verdadeiros. Assim, como o processo de aprendizagem contnuo, as novas

    experincias podem resultar na reviso do estatuto de realidade permanentemente desde

    que se permitam novas observaes sobre os mesmos objetos ou fenmenos

    semelhantes.

    Na segunda questo (O ambiente virtual usado nesse curso favorece a iniciativa

    dos alunos para a construo do conhecimento?), 97% dos entrevistados concordaram

    que o ambiente virtual do curso favoreceu a iniciativa dos alunos. Considerando que o

    ambiente virtual de aprendizagem utilizado para a midiatizao do curso (MOODLE)

    possibilita a adequao de suas interfaces, recursos e atividades, as respostas

    contribuem para o reconhecimento da tecnologia usada no curso bem como para a

    metodologia utilizada.

    A terceira questo (Os professores provocaram a iniciativa dos estudantes para

    que o processo de aprendizagem fosse centrado nos alunos? ) abordou um aspecto

    complementar segunda questo no que diz respeito metodologia utilizada no curso,

    obtendo-se 98% de concordncia, o que confirma o resultado. Este valor chama-nos a

    ateno para a aprendizagem que acontece com a contribuio da escola, relacionada

    aprendizagem autnoma do aluno, processo difcil de ser observada em contexto de sala

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    de aula, pois, como diz Freire (2009, p. 278), escola, atravs de uma aprendizagem

    baseada na compreenso, compete favorecer a independncia, a autonomia e a

    criatividade dos alunos, e, de acordo com isto, cabe-lhe promover habilidades

    transversais aos contedos curriculares, que capacitem os alunos a gerirem suas

    aprendizagens.

    A quarta e a quinta questes apresentavam afirmaes conceituais com

    contedos complementares. A quarta questo partia da considerao se os cursos

    centrados nos alunos eram mais eficientes para promover a autonomia no processo de

    aprendizagem questionava se o curso [que frequentaram] estava mais centrado nos

    alunos que nos professores. As respostas obtidas do uma mdia de 4,9 (concordo

    parcialmente), sendo a questo que obteve menor concordncia (87%) e tambm a queteve o maior percentual de discordncia (7%). Considerando que essa questo

    apresentava uma afirmao categrica da qual os entrevistados deveriam partir, pode ter

    havido dvida na interpretao em relao tese da autonomia do aluno contida na

    questo. Tal pode ser compreensvel considerando que os respondentes so professores

    do ensino bsico em escolas da rede pblica que se confronta com alguns problemas

    clssicos, como o da indisciplina dos estudantes, o que em certos casos pode conflituar

    com o conceito de autonomia na gesto da aprendizagem. Observando a questo

    seguinte, que tambm partia do princpio que a autoria na produo acadmica (dos

    alunos) um instrumento de promoo da autonomia e questionava se o curso

    promoveu a autonomia, o resultado tem uma maior concordncia dos inquiridos, no

    havendo discordantes.

    O resultado dessas duas questes incita a uma reflexo sobre as transformaes

    que a gesto escolar est sendo impelida a equacionar em funo do contexto de

    efervescncia tecnolgica. Os cursos tradicionais so centrados na gesto do ensino e a

    questo da autonomia da escola e dos professores sempre foi uma questo presente nas

    discusses sobre a gesto escolar. Porm, como diz Tornero (2007, p. 35), Estamos a

    viver uma transformao to sria na educao que os pilares que sustentavam a

    autonomia escolar, e sobre o qual se assentavam a sua influncia social, parecem estar a

    desmoronar-se a olhos vistos. Isto porque os novos cenrios comunicacionais incluem

    contedos de forma ilimitada, inclusive os contedos escolares. Com o acesso a

    informao facilitada, os alunos passam a exercer um poder maior na escola. Um

    exemplo disso a costumeira interjeio dos professores presta ateno porque eu vou

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    explicar... pode ter um novo sentido para o estudante, na medida em que e le sabe que

    se acessarem aos stios que disponibilizam vdeo ou algumas das tantas bibliotecas

    virtuais pode encontrar vdeo, udio ou animaes com as informaes necessrias e

    muitas vezes de forma muito mais criativa. Com refere Silva (2009, p. 95), com as

    tecnologias digitais e a Internet O aprendiz no est mais reduzido a olhar, ouvir,

    copiar e prestar contas. Ele cria, modifica, constri, aumenta e, assim, torna-se coautor.

    ao utilizar as tecnologias digitais, os estudantes esto-se apropriando de uma autonomia

    no processo de aprendizagem, o que pode tornar-se um gerador de indisciplina, ou a

    escola, pelo contrrio, pode encarar as tecnologias como aliadas no processo educativo e

    os professores passar a inclu-las nas estratgias e metodologias de ensino e

    aprendizagem, como importante fator estratgico para a renovao da escola, do

    currculo e das prticas pedaggicas (Silva, B, 2008b). Em qualquer dos casos, a

    construo da autonomia no processo educativo implicaria em mudanas do processo

    pedaggico.

    As trs ltimas questes apontavam para o exerccio da docncia, a inteno

    incidia na percepo dos inquiridos quanto a formao do curso teria influncia na

    capacitao docente.

    Assim, a sexta questo procurou saber se os professores se consideravam maisaptos ao estudo que antes do curso, obtendo mais 97% de concordncia (62%

    concordaram completamente, o valor mais elevado neste nvel da escala em relao a

    todas as questes. Era esperada uma concordncia muito alta por se trata de inquiridos

    que estavam a concluir o curso e a discordncia teria inclusive um peso moral negativo

    bastante grande, mas, mesmo assim, houve 3% de inquiridos que manifestaram

    discordncia.

    Na stima questo foi perguntado se, enquanto professores, percebiam com maisfacilidade para incorporar as tecnologias digitais no processo de ensino na escola e 98%

    responderam que estavam mais aptos. Resultado semelhante foi obtido na ltima

    questo, onde tambm se perguntou se se consideravam mais aptos para promover

    novas metodologias que inclussem os usos das tecnologias digitais, tendo 97% de

    concordncia.

    Sobre estas duas ltimas questes de referir que o curso no tinha por objetivo

    a formao ou capacitao para o uso das tecnologias nos processos educativos, essaformao se deu com o manuseio e a soluo de problemas com o uso das ferramentas

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    do curso. Isso exigiu dos professores, enquanto alunos participantes do curso, que

    fossem proativos na gesto da aprendizagem, que organizassem o tempo muito escasso

    para quem trabalha 8 horas dirias ou mais, resolvessem problemas de acesso Internet

    e at mesmo reorganizassem a rotina familiar para que pudessem obter xito no curso.

    Esse um aspecto caracterstico dos cursos midiatizados por ambiente virtuais. Moore e

    Kearsley (2007) sintetizam as exigncias e as transformaes no universo da

    aprendizagem mediada pelas TDIC da seguinte maneira:

    Estamos no transcorrer de uma Revoluo de Coprnico, medida que torna-se mais visvel que o aluno constitui o centro douniverso e que o ensino deixou de direcionar o aprendizado; emvez disso, o ensino responde ao aprendizado e o apoia. Talliberdade e oportunidade, no entanto, significa que os alunos

    precisam aceitar as consequncias de assumir maisresponsabilidade na conduo de prprio aprendizado, em termosde quando estudaro, quando deseja aprender e buscandoinformaes e meios. (MOORE E KEARSLEY, 2007, p. 22)

    Essa Revoluo Copernicana na educao exige das instituies educativas

    mudanas significativas. E provvel que a partir da prxima metade deste sculo a

    instituio escola sofra transformaes como no conhecia desde a sua inveno. Como

    observou Zygmunt Bauman, numa das cartas para compreender a educao no mundo

    moderno, no passado a educao assumiu muitas formas e demonstrou capaz deadaptar-se mudana das circunstncias, de definir novos objetivos e elaborar novas

    estratgias, mas, insiste que:

    a mudana atual no igual as que se verificaram no passado. Emnenhum momento crucial da histria da humanidade oseducadores enfrentaram desafio comparvel ao divisor de guasque hoje nos apresentado. A verdade que ns nunca estivemosantes nessa situao. Ainda preciso aprender a arte de viver nummundo saturado de informaes. E tambm a arte mais difcil e

    fascinante de preparar seres humanos para essa vida. (BAUMAN,2011, p. 125).

    5 CONCLUSES PRELIMINARES

    Nesta pesquisa trabalhamos com um grupo de participantes de um curso, com

    algumas peculiaridades, que nos permite chegar a algumas constataes, tanto sobre a

    discncia quanto sobre a docncia, por ser um grupo quantitativamente significativo,

    bem distribudo territorialmente e formado por alunos que frequentaram um curso de

    formao, mas que simultaneamente atuavam como professores na vida profissional. O

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    instrumento utilizado na pesquisa (inqurito) possibilitou levantar questes que permeia

    o cotidiano escolar e permite-nos perceber a importncia da discusso sobre a gesto da

    aprendizagem, em particular sobre a questo da autonomia discente no processo de

    aprendizagem. Algumas constataes so possveis, mas que merecem aprofundamento:

    os professores consideram que a autonomia discente um fator importante na gesto da

    aprendizagem e que um curso em ambiente virtual pode ajudar na formao continuada

    tambm quanto ao uso pedaggico das tecnologias digitais de comunicao no processo

    educativo. No entanto, no possvel concluir se, de fato, enquanto professores vo

    proporcionar apropriao da autonomia aos seus alunos nem se vo utilizar as

    tecnologias digitais integradas ao seu plano pedaggico, at porque isso dependeria do

    contexto escolar. Contudo, possvel afirmar que, ao trmino do curso, esses

    professores reconheceram a contribuio do mesmo para desenvolver as habilidades

    para o uso das TDIC e que esto mais preparados para integr-los na prtica docente.

    Assim, nossa inteno continuar a pesquisa observando as prticas docentes em

    contexto escolar, tendo como referncia a relao entre o uso das TDIC na promoo da

    autonomia da aprendizagem dos estudantes.

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