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    Pluriatividade e Plurirrendimentos nos Estabelecimentos

    Agropecurios do Brasil e das Regies Sul e Nordeste

    Uma anlise a partir do Censo Agropecurio 2006

    Prof. Sergio SchneiderProf. Marcelo A. ConteratoProf. Marcelino de Souza

    Msc. Fabiano EscherMsc.Luciana Maria Scarton

    Bch. Leandro Rckert

    Porto Alegre2011

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    AGRADECIMENTO E RECONHECIMENTO ESPECIAL:

    Este trabalho no teria sido possvel sem o apoio diligente, odesprendimento e a competncia de Antonio Carlos Simes Florido esua equipe do IBGE, especialmente pelo fornecimento deesclarecimentos e pelas tabulaes dos microdados do CensoAgropecurio de 2006 utilizadas neste trabalho. Os autores igualmenteagradecem ao IPEA, especialmente Brancolina Ferreira e FbioAlves, assim como toda Diretoria de Estudos Sociais que financiouas bolsas e os recursos financeiros por meio de Acordo de Cooperaocom o PGDR/UFRGS.

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    TABELAS

    Tabela 1 - Estabelecimentos Agropecurios no Brasil - Pluriativos e No Pluriativos................. 30

    Tabela 2 - Estabelecimentos Totais e Pluriativos no Brasil, segundo a Agricultura Familiar eNo familiar ......................................................................................................................................... 30

    Tabela 3 - Estabelecimentos agropecurios na Regio Sul - Pluriativos e No Pluriativos ......... 32

    Tabela 4 - Estabelecimentos Totais e Pluriativos na Regio Sul, segundo a Agricultura Familiare No familiar ...................................................................................................................................... 32

    Tabela 5 - Estabelecimentos agropecurios na Regio Nordeste - Pluriativos e No Pluriativos 32

    Tabela 6 - Estabelecimentos Totais e Pluriativos na Regio Nordeste, segundo a AgriculturaFamiliar e No familiar....................................................................................................................... 33

    Tabela 7 - Sexo da pessoa que dirige o Estabelecimento Pluriativo e No Pluriativo, segundo aAgricultura Familiar e No Familiar e em relao ao Total de estabelecimentos no Brasil ........ 40

    Tabela 8 - Sexo da pessoa que dirige o Estabelecimento Pluriativo e No Pluriativo, segundo aAgricultura Familiar e No Familiar e em relao ao Total de estabelecimentos na Regio Sul 40

    Tabela 9 - Sexo da pessoa que dirige o Estabelecimento Pluriativo e No Pluriativo, segundo aAgricultura Familiar e No Familiar e em relao ao Total de estabelecimentos na RegioNordeste ............................................................................................................................................... 41

    Tabela 10 - Classes de idade dos produtores dos Estabelecimentos Pluriativos no Brasil, segundoa Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................................................................ 41

    Tabela 11 - Classes de idade dos produtores dos Estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul,segundo a Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ......................................................... 42

    Tabela 12 - Classes de idade dos produtores dos Estabelecimentos Pluriativos na RegioNordeste, segundo a Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................................ 43

    Tabela 13 - Classes de idade do Produtores Pluriativos no Brasil e nas Regies Sul e Nordeste. 43

    Tabela 14 - Nvel de instruo do produtor dos Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativosno Brasil ............................................................................................................................................... 44

    Tabela 15 - Nvel de instruo dos Produtores Pluriativos no Brasil, segundo a AgriculturaFamiliar e Agricultura No Familiar ................................................................................................ 45

    Tabela 16 - Nvel de instruo do produtor dos Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativosna Regio Sul ....................................................................................................................................... 46

    Tabela 17 - Nvel de instruo dos Produtores Pluriativos na Regio Sul, segundo a AgriculturaFamiliar e Agricultura No Familiar ................................................................................................ 47

    Tabela 18 - Nvel de instruo do produtor dos Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativosna Regio Nordeste ............................................................................................................................. 47

    Tabela 19 - Nvel de instruo dos Produtores Pluriativos na Regio Nordeste, segundo aAgricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................................................................... 48

    Tabela 20 - Comparativo do Nvel de instruo dos Produtores Pluriativos no Brasil e nasRegies Sul e Nordeste........................................................................................................................ 48

    Tabela 21 Grupos de rea dos Estabelecimentos Pluriativos no Brasil, por nmero deestabelecimentos e tamanho em hectares, segundo Agricultura Familiar e Agricultura NoFamiliar................................................................................................................................................ 51

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    Tabela 22 - Grupos de rea dos Estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, por nmero deestabelecimentos e tamanho em hectares, segundo Agricultura Familiar e Agricultura NoFamiliar................................................................................................................................................ 52

    Tabela 23 - Grupos de rea dos Estabelecimentos Pluriativos no Nordeste, por nmero deestabelecimentos e tamanho em hectares, segundo Agricultura Familiar e Agricultura NoFamiliar................................................................................................................................................ 53

    Tabela 24 - Estabelecimentos Pluriativos no Brasil, por Agricultura Familiar e Agricultura NoFamiliar, segundo o tipo de atividade................................................................................................ 55

    Tabela 25 - Estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, por Agricultura Familiar e AgriculturaNo Familiar, segundo o tipo de atividade........................................................................................ 55

    Tabela 26 - Estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste, por Agricultura Familiar eAgricultura No Familiar, segundo o tipo de atividade................................................................... 56

    Tabela 27 - Estabelecimentos Pluriativos no Brasil e nas Regies Sul e Nordeste, segundo o tipode atividade.......................................................................................................................................... 56

    Tabela 28 - Estabelecimentos Pluriativos que recebem orientao tcnica especializada no Brasil,segundo a Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ......................................................... 57

    Tabela 29 - Estabelecimentos Pluriativos que recebem orientao tcnica especializada naRegio Sul, segundo a Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ..................................... 58

    Tabela 30 - Estabelecimentos Pluriativos que recebem orientao tcnica especializada naRegio Nordeste, segundo a Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................... 58

    Tabela 31 - Caractersticas da ocupao dos membros da famlia (com laos de parentesco) nosEstabelecimentos Pluriativos no Brasil, por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar. 59

    Tabela 32 - Caractersticas da ocupao dos empregados (sem laos de parentesco) nosestabelecimentos Pluriativos no Brasil, por Agricultura Familiar e No Familiar....................... 60

    Tabela 33 - Pessoal ocupado como empregado (sem laos de parentesco) nos estabelecimentosPluriativos de Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar no Brasil, por tipo de emprego............................................................................................................................................................... 60

    Tabela 34 - Caractersticas da ocupao dos membros da famlia (com laos de parentesco) nosEstabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, por Agricultura Familiar e No Familiar.............. 61

    Tabela 35 - Caractersticas da ocupao dos empregados (sem laos de parentesco) nosEstabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, por Agricultura Familiar e No Familiar.............. 61

    Tabela 36 Pessoal ocupado como empregado (sem laos de parentesco) nos EstabelecimentosPluriativos de Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar na regio Sul, por tipo deemprego................................................................................................................................................ 61

    Tabela 37 - Caractersticas da ocupao dos membros da famlia (com laos de parentesco) nosEstabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste, por Agricultura Familiar e Agricultura NoFamiliar................................................................................................................................................ 62

    Tabela 38 - Caractersticas da ocupao dos empregados (sem laos de parentesco) nosEstabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste, por Agricultura Familiar e Agricultura NoFamiliar................................................................................................................................................ 63

    Tabela 39 Pessoal ocupado como empregado (sem laos de parentesco) nos EstabelecimentosPluriativos de Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar, por tipo de emprego.............. 62

    Tabela 40 Receitas Agropecurias1por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar noBrasil..................................................................................................................................................... 66

    Tabela 41 - Receitas de Aposentadorias e Transferncias Governamentais por AgriculturaFamiliar e Agricultura No Familiar no Brasil ................................................................................ 66

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    Tabela 42 - Receitas de Outras Fontes por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar noBrasil..................................................................................................................................................... 67

    Tabela 43 - Outras Receitas do Trabalho por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiarno Brasil ............................................................................................................................................... 67

    Tabela 44 - Receitas de Atividades No agropecurias por Agricultura Familiar e Agricultura

    No Familiar no Brasil........................................................................................................................ 67

    Tabela 45 - Receitas Agropecurias1por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar naRegio Sul ............................................................................................................................................ 69

    Tabela 46 - Receitas de Aposentadorias e Transferncias Governamentais por AgriculturaFamiliar e Agricultura No Familiar na Regio Sul........................................................................ 69

    Tabela 47 - Receitas de Outras Fontes por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar naRegio Sul ............................................................................................................................................ 70

    Tabela 48 - Outras Rendas do Trabalho por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiarna Regio Sul ....................................................................................................................................... 70

    Tabela 49 - Receitas de Atividades No agropecurias por Agricultura Familiar e AgriculturaNo Familiar na Regio Sul................................................................................................................ 70

    Tabela 50 - Receitas Agropecurias1por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar naRegio Nordeste................................................................................................................................... 71

    Tabela 51 - Receitas de Aposentadorias e Transferncias Governamentais por AgriculturaFamiliar e Agricultura No Familiar na Regio Nordeste.............................................................. 72

    Tabela 52 - Receitas de Outras Fontes por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar naRegio Nordeste................................................................................................................................... 72

    Tabela 53 - Outras Rendas do Trabalho por Agricultura Familiar e Agricultura No Familiarna Regio Nordeste ............................................................................................................................. 73

    Tabela 54 - Receitas de Atividades No agropecurias por Agricultura Familiar e AgriculturaNo Familiar na Regio Nordeste...................................................................................................... 73

    Tabela 55 - Comparao entre os Percentuais dos Plurirrendimentos nos EstabelecimentosPluriativos do Brasil e das Regies Sul e Nordeste........................................................................... 74

    Tabela 56 - Dvidas ou nus reais dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil, segundo aAgricultura Familiar e No Familiar ................................................................................................ 75

    Tabela 57 - Dvidas ou nus reais dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, segundo aAgricultura Familiar e No Familiar ................................................................................................ 75

    Tabela 58 - Dvidas ou nus reais dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste, segundoa Agricultura Familiar e No Familiar ............................................................................................. 76

    Tabela 59 - Financiamentos dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil, segundo a AgriculturaFamiliar e No Familiar ..................................................................................................................... 77

    Tabela 60 - Financiamentos dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, segundo aAgricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................................................................... 77

    Tabela 61 - Financiamentos dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste, segundo aAgricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................................................................... 78

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    GRFICOS

    Grfico 1 - Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos no Brasil e nas Regies Sul e Nordeste............................................................................................................................................................... 33

    Grfico 2 Estabelecimentos Pluriativos, segundo a Agricultura Familiar e No familiar noBrasil e nas Regies Sul e Nordeste ................................................................................................... 34

    Grfico 3 - Sexo das pessoas que dirigem os Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos noBrasil..................................................................................................................................................... 36

    Grfico 4 - Participao masculina e feminina na direo dos Estabelecimentos Pluriativos noBrasil, segundo Agricultura Familiar e No Familiar ..................................................................... 36

    Grfico 5 - Sexo das pessoas que dirigem os Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos naRegio Sul ............................................................................................................................................ 37

    Grfico 6 - Participao masculina e feminina na direo dos Estabelecimentos Pluriativos naRegio Sul, segundo Agricultura Familiar e No familiar .............................................................. 38

    Grfico 7 - Sexo das pessoas que dirigem os Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos naRegio Nordeste................................................................................................................................... 39

    Grfico 8 - Participao masculina e feminina na direo dos Estabelecimentos Pluriativos naRegio Nordeste, segundo Agricultura Familiar e No familiar .................................................... 39

    Grfico 9 Plurirrendimentos dos Estabelecimentos Pluriativos no Brasil, segundo aAgricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................................................................... 65

    Grfico 7 - Plurirrendimentos dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, segundo aAgricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................................................................... 68

    Grfico 11 - Plurirrendimentos dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste, segundo aAgricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................................................................... 71

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    SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................. 123

    1. METODOLOGIA ................................................................................................... 188

    2. REFERENCIAL TERICO...................................................................................... 21

    3. IDENTIFICAO DOS ESTABELECIMENTOS PLURIATIVOS NO BRASIL ENAS GRANDES REGIES SUL E NORDESTE............................................................30

    3.1 Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos no Brasil e em relao AgriculturaFamiliar e Agricultura No Familiar................................................................................. 30

    3.2 Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos na Regio Sul e em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ............................................................ 311

    3.3 Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos na Regio Nordeste, em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar .............................................................. 32

    3.4 Comparao dos estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos entre o Brasil e asregies Sul e Nordeste, em relao Agricultura Familiar e No familiar.. ....................... 33

    4. CARACTERSTICAS DO PRODUTOR RESPONSVEL PELA DIREO DOSESTABELECIMENTOS NO BRASIL E NAS GRANDES REGIES SUL E NORDESTE 35

    4.1 Sexo das pessoas que dirigem os Estabelecimentos Agropecurios no Brasil e nasGrandes Regies Sul e Nordeste.......................................................................................35

    4.1.1 Sexo das pessoas que dirigem os Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativosno Brasil, em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar .......................... 35

    4.1.2 Sexo das pessoas que dirigem os Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativosna Regio Sul, em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ................ 377

    4.1.3 Sexo das pessoas que dirigem os Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativosna Regio Nordeste em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar......... 388

    4.1.4 Comparao dos sexos das Pessoas que dirigem os estabelecimentos Pluriativosentre o Brasil e as regies Sul e Nordeste em relao Agricultura Familiar e No Familiar 40

    4.2 Classes de idade do produtor no Brasil e Grandes Regies Sul e Nordeste ........... 411

    4.2.1 Classes de idade do produtor dos Estabelecimentos Pluriativos no Brasil emrelao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar.............................................. 411

    4.2.2 Classes de idade dos produtores dos Estabelecimentos Pluriativos na Regio Sulem relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar................... ..................... 422

    4.2.3 Classes de idade dos produtores dos Estabelecimentos Pluriativos na RegioNordeste em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar......................... 422

    4.2.4 Comparao das classes de idade dos produtores dos Estabelecimentos Pluriativosentre o Brasil e as regies Sul e Nordeste ....................................................................... 433

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    4.3 Nvel de instruo do produtor no Brasil e Grandes Regies Sul e Nordeste......... 444

    4.3.1 Nvel de instruo do produtor dos estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativosno Brasil, em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ........................ 444

    4.3.2 Nvel de instruo do produtor dos estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos

    na Regio Sul, em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ................ 4664.3.3 Nvel de instruo do produtor dos Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativosna Regio Nordeste, em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar........ 477

    4.3.4 Comparao do Nvel de instruo do produtor dos Estabelecimentos Pluriativosentre o Brasil e as regies Sul e Nordeste ....................................................................... 488

    5. CARACTERSTICAS DOS ESTABELECIMENTOS PLURIATIVOS NO BRASIL ENAS GRANDES REGIES SUL E NORDESTE............................................................50

    5.1 Estrutura fundiria no Brasil e nas Grandes Regies Sul e Nordeste....................... 50

    5.1.1 Grupo de rea total dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil, em relao

    Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar .............................................................. 505.1.2 Grupo de rea total dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar ............................................................ 522

    5.1.3 Grupo de rea total dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste, emrelao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar.............................................. 533

    5.2 Tipo de atividade dos estabelecimentos no Brasil e Grandes Regies Sul e Nordeste 54

    5.2.1 Tipos de atividade dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil .......................... 544

    5.2.2 Tipos de atividade dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul................... 555

    5.2.3 Tipos de atividade dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste.......... 566

    5.2.4 Comparativo de tipo de atividade dos Estabelecimentos Pluriativos no Brasil e nasGrandes Regies Sul e Nordeste..................................................................................... 567

    5.3 Orientao Tcnica nos estabelecimentos no Brasil e Grandes Regies Sul eNordeste......................................................................................................................... 577

    5.3.1 Orientao Tcnica nos Estabelecimentos Pluriativos no Brasil........................ 577

    5.3.2 Orientao Tcnica nos Estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul ................ 577

    5.3.3 Orientao Tcnica nos Estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste........ 588

    6. CARACTERSTICAS DA OCUPAO DA MO DE OBRA NOSESTABELECIMENTOS PLURIATIVOS NO BRASIL E GRANDES REGIES SUL ENORDESTE................................................................................................................... 599

    6.1 Pessoal ocupado nos estabelecimentos Pluriativos no Brasil, segundo a de relao detrabalho .......................................................................................................................... 599

    6.2 Pessoal ocupado nos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul, segundo a relaode trabalho........................................................................................................................ 60

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    6.3 Pessoal ocupado nos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste, segundo arelao de trabalho ......................................................................................................... 622

    7. PLURIRRENDIMENTOS E CARACTERSTICAS FINANCEIRAS DOSESTABELECIMENTOS PLURIATIVOS NO BRASIL E GRANDES REGIES SUL ENORDESTE................................................................................................................... 644

    7.1 Fontes de receita e rendimentos dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil eGrandes Regies Sul e Nordeste..................................................................................... 644

    7.1.1 Receitas dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil .................... ....................... 64

    7.1.2 Receitas dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul.................................. 688

    7.1.3 Receitas dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste ........................... 70

    7.1.4 Comparao dos Plurirrendimentos dos Estabelecimentos Pluriativos entre Brasile Regies Sul e Nordeste ................................................................................................ 744

    7.2 Dvidas ou nus reais dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil e Grandes Regies

    Sul e Nordeste................................................................................................................ 7447.2.1 Dvidas ou nus reais dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil ....................... 74

    7.2.2 Dvidas ou nus reais dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul.............. 755

    7.2.3 Dvidas ou nus reais dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste..... 766

    7.3 Financiamentos dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil e Grandes Regies Sul eNordeste........................................................................................................................... 76

    7.3.1 Financiamentos dos estabelecimentos Pluriativos no Brasil ................................ 76

    7.3.2 Financiamentos dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Sul......................... 77

    7.3.3 Financiamentos dos estabelecimentos Pluriativos na Regio Nordeste................ 77CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................... 799

    REFERNCIAS............................................................................................................. 844

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    SUMRIO EXECUTIVO

    Este relatrio integra o Projeto de Pesquisa de Equipe Anlise dos dados do novo

    Censo Agropecurio 2006, que resulta de um Acordo de Cooperao Tcnica entre a

    Diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicada (IPEA) e oPrograma de Pos-Graduao em Desenvolvimento Rural (PGDR), da Universidade Federal do

    Rio Grande do Sul (UFRGS), que teve como objetivo principal fazer estudos e anlises sobre

    temas especficos a partir dos microdados do Censo Agropecurio (CA 2006).

    O tema deste relatrio a Pluriatividade e os Plurirrendimentos nos Estabelecimentos

    Agropecurios da Regio Sul e Nordeste do Brasil. Desde meados da dcada de 1990, os

    estudos e pesquisas sobre as atividades no-agrcolas no meio rural e a pluriatividade das

    famlias rurais passaram a ser um tema recorrente no Brasil. Contudo, tendo em vista que

    ltimo Censo agropecurio foi realizado em 1995/96 e nele estavam contempladas questes

    que pudessem fornecer informaes sobre estes dois novos fenmenos do meio rural, a grande

    maioria dos estudos e pesquisas manteve-se confinada a recortes locais ou estudos de caso. A

    exceo foram os estudos realizados sob os auspcios do Projeto Rurbano que, no entanto,

    trabalharam com os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domiclios (PNAD), que tem

    o domiclio como unidade de referencia dos dados em no os estabelecimentos rurais

    agropecurios, tal como sabido.

    Este relatrio , portanto, o primeiro estudo realizado no Brasil que opera com oestabelecimento agropecurio como sua unidade de anlise. Os dados e informaes aqui

    utilizados foram obtidos junto Diretoria do Censo Agropecurio do Instituto Nacional de

    Geografia e Estatstica, razo pela qual somos muito gratos ao Senhor Antnio Carlos Florido

    e sua equipe pelo esmero em realizar o processamento dos micro dados e coloc-los a nossa

    disposio. Em face da disponibilidade de tempo e de recursos, optou-se por analisar os dados

    estatsticos em nvel de Brasil e das regies Sul e Nordeste, sendo posteriormente realizado

    um comparativo entre os resultados das mesmas. As informaes foram igualmente

    desagregadas segundo o corte de estabelecimentos identificveis como de agricultura familiare agricultura no-familiar, segundo o critrio legal seguido pelo IBGE.

    Foram identificados 1.910.131 de estabelecimentos Pluriativos em relao ao

    universo total de 5.175.489 estabelecimentos agropecurios recenseados no Brasil pelo CA

    2006, o que representa 37%. Destes, 1.491.080 (78,1%) so classificados como de Agricultura

    Familiar e 419.051 (21,9%) como de Agricultura No Familiar. Entre os estabelecimentos

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    Pluriativos de Agricultura Familiar 86,6% so dirigidos por homens e 13,4% por mulheres,

    enquanto que entre os de Agricultura No Familiar 93% so dirigidos por homens e 7% por

    mulheres. Quanto a idade dos produtores que dirigem estes estabelecimentos, 50,5% so

    adultos nas faixas de 35 a 45 e de 45 a 55 anos e 18,5% so jovens com menos de 25 anos,

    sendo que 41% possuem ensino fundamental incompleto.

    Na regio Sul foram recenseados 1.006.181 estabelecimentos agropecurios (19,4% do

    total do pas), dos quais 355.185 (35,3%) so Pluriativos, sendo que destes 275.945 (77,7%)

    so de Agricultura Familiar e 79.240 (22,3%) so de Agricultura No Familiar. J na regio

    Nordeste, entre os 2.454.006 estabelecimentos agropecurios (47,41% do total do pas)

    identificados, 907.489 (37%) so Pluriativos, sendo que destes 752.040 (82,9%) so de

    Agricultura Familiar e 155.449 (17,1%) so de Agricultura No Familiar.

    Entre os estabelecimentos Pluriativos da regio Sul, 55,6% dos produtores so adultos

    situados nas faixas de idade entre 35 e 45 anos e 45 e 55 anos e apenas 13,8% so jovens com

    menos de 25 anos, sendo que nos de Agricultura Familiar 89,6% so dirigidos por homens e

    93% so dirigidos por mulheres, enquanto entre os de Agricultura No Familiar 92,8% so

    dirigidos por homens e 7,2% por mulheres. J no Nordeste, entre os estabelecimentos

    Pluriativos, 47,3% dos produtores que dirigem os estabelecimentos so adultos e 22.1% so

    jovens, sendo que entre os de Agricultura Familiar 84,2% so dirigidos por homens e 7,2%

    por mulheres, ao passo que entre os de Agricultura No Familiar 91,9% so dirigidos por

    homens e 8,1% por mulheres. Quanto ao nvel de instruo, no Sul 57,1% dos produtores

    possuem ensino fundamental incompleto, enquanto no Nordeste 47,4% dos produtores no

    possuem instruo ou no so alfabetizados.

    Os dados mostram que embora os estabelecimentos Pluriativos da Agricultura

    Familiar representem 78,1%, possuem apenas 19,85% da terra, ao passo que a Agricultura

    No Familiar, que representa 21,9% do total de estabelecimentos Pluriativos do Brasil, possui

    mais de 80% da terra. No que diz respeito aos tipos de atividade exercidas nos

    estabelecimentos Pluriativos, na regio Sul 61,87% realiza atividades no agropecurias

    (predominncia da pluriatividade intersetorial), e na regio Nordeste 48,92% exercematividades agropecurias (predominncia da pluriatividade de base agrria).

    As receitas provenientes de atividades agrcolas e pecurias so as mais importantes

    fontes de ganhos na composio total das receitas, ainda que haja uma considervel variao

    nos percentuais entre Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar e entre as trs unidades

    territoriais. A receita total da Agricultura No Familiar excede em mais de duas vezes a da

    Agricultura Familiar e a receita agrcola em mais de trs vezes. No entanto, na regio Sul as

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    outras receitas do trabalho representam uma importncia considervel na formao da renda

    total, especialmente para a Agricultura Familiar, para a qual representa 11,9%. Na regio

    Nordeste, por sua vez, as receitas de atividades no agropecurias (especialmente salrios

    recebidos fora do estabelecimento) possuem uma importncia considervel, especialmente

    entre os agricultores no familiares.

    Na concluso do trabalho sugere-se avanar em estudos sobre o tema da pluriatividade

    com base nos dados do Censo Agropecurio do IBGE em trs aspectos, a saber: a) pesquisar

    com maior profundidade as razes que explicam a incidncia to significativa da

    pluriatividade nos estabelecimentos de Agricultura No Familiar; b) fazer estudos para sugerir

    adequaes metodolgicas por parte do IBGE em relao aos estabelecimentos classificados

    como Agricultura No Familiar e, por fim; c) avanar na anlise da diversidade dos

    estabelecimentos agropecurios brasileiros atravs da elaborao de tipologias e

    classificaes;

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    INTRODUO

    Nas ltimas dcadas, especialmente desde a metade da dcada de 1990, com todas as

    transformaes advindas daquele perodo, a agricultura brasileira conheceu mudanas

    estruturais que esto alterando vrias de suas caractersticas histricas, socioeconmicas e

    espaciais. Uma das mais evidentes, indubitavelmente, refere-se aos aumentos de produo e

    produtividade dos fatores j diagnosticados e conferidos a partir do acompanhamento de

    desempenho anual das safras e das exportaes. No obstante, outras mudanas, igualmente

    importantes, tais como a ampliao do nmero de assentamentos rurais e a busca por

    qualificao daqueles j existentes, a valorizao do segmento da agricultura familiar, a

    diversificao das atividades rurais, o crescimento da agricultura de base ecolgica e o

    aumento das prticas conservacionistas, entre outras, indicam que esto em marcha processos

    que vm alterando o perfil da produo agropecuria e das caractersticas do meio rural do

    Brasil.

    Seguindo esses processos, estudiosos vm mostrando que a agricultura brasileira est

    modificando suas caractersticas regionais, registrando o desmatamento das florestas, a

    expanso da agricultura e da pecuria para novas reas de fronteira e a insero cada vez mais

    intensa dos negcios ligados economia dos agrocombustveis. Tudo isso, certamente

    acompanhado de profundas modificaes nas relaes de trabalho e de produo no meiorural. Mas todas estas mudanas e alteraes so ainda insuficientemente compreendidas,

    descritas e analisadas. No obstante, os dados estatsticos trazidos a lume pelo IBGE em

    2009, atravs da publicao do Censo Agropecurio 2006, tm sido promissores, ao permitir

    que os pesquisadores e estudiosos venham a utiliz-los de forma criativa, contribuindo assim

    para dar maior amplitude e profundidade ao conhecimento destes processos e transformaes.

    Por isso mesmo, a iniciativa da Diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisas

    Econmicas Aplicada (IPEA), de reunir e animar pesquisadores ligados aos temas rurais e

    agrrios do Brasil com o propsito de realizar anlises e estudos sobre os dados do novoCenso Agropecurio (CA 2006) constituiu-se em uma oportunidade alvissareira para

    elaborao de entendimentos mais aprofundados sobre as transformaes da agricultura e do

    meio rural brasileiro na ltima dcada.

    O Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Rural (PGDR), da Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio de seu coordenador, membros do corpo

    docente e de pesquisadores vinculados, veio atender ao convite realizado pelo IPEA e, atravs

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    do Projeto de Pesquisa de Equipe para Anlise dos dados do novo Censo Agropecurio

    2006, apresentou uma proposta para realizao de estudos temticos sobre os resultados do

    Censo Agropecurio 2006, publicado pelo IBGE em 2009. Esta proposta consistiu em um

    projeto de pesquisa que se desdobrava em um conjunto de seis subprojetos, os quais foram

    realizados sob a coordenao do PGDR. O presente documento se insere no mbito desse

    projeto, como relatrio final do Subprojeto 2 A Pluriatividade e os Plurirrendimentos

    nos Estabelecimentos Agropecurios da Regio Sul e Nordeste do Brasil em 2006,

    contemplando os resultados da pesquisa realizada entre 2010 e 2011.

    Parte-se do conhecimento previamente produzido, cujos diversos trabalhos vinham

    apontando para a crescente importncia das rendas no agropecurias para o desenvolvimento

    das reas rurais.1A pesquisa do Arkleton Trust (1992) sobre a pluriatividade na agricultura

    europia constatou que o nvel, a composio e a evoluo das rendas das famlias rurais

    dependeram crucialmente, entre 1987 e 1991, do contexto regional (cinco zonas de estudo) e

    da situao da pluriatividade (sua maior ou menor intensidade e diversificao). O trabalho

    evidenciou que a mo de obra agrcola est cada vez mais direcionada a atividades no

    agrcolas e a atividades relacionadas com a agricultura fora do estabelecimento. Essa foi

    considerada uma convincente evidncia de que a pluriatividade mostra-se um fenmeno

    estvel e disseminado em todos os tipos de regies estudadas, com 63% dos estabelecimentos

    apresentando algum dos membros da famlia engajado em atividades desta natureza.

    O Banco Mundial tambm tem produzido inmeros relatrios reconhecendo que a

    agricultura no a atividade exclusiva e, em muitos pases, nem sequer a dominante nas reas

    rurais, enfatizando a importncia das rendas no agrcolas nessas reas dos pases em

    desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Na viso do Banco, esse seria na verdade um

    importante componente do desenvolvimento e da reduo da pobreza rural, a ser devidamente

    contemplado nas aes por ele implementadas. A principal recomendao para as estratgias

    de aes para o meio rural estaria em ampliar o foco sobre o rural, abandonando o estreito

    foco do setor agrcola (WORLD BANK, 1997, 2000).

    No Brasil, por volta do final dos anos 1990, foram desenvolvidas vrias pesquisas

    utilizando dados secundrios e primrios, as quais permitiram dimensionar e caracterizar a

    presena e a importncia econmica das atividades no agrcolas entre os agricultores. Entre

    essas pesquisas destaca-se o Projeto RURBANO, coordenado por pesquisadores da

    Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e com a participao de investigadores de

    diversos estados da federao. Este projeto foi composto de trs (3) fases e comeou a ser

    1Para uma reviso aprofundada da literatura pode-se consultar o trabalho de Kageyama (1998).

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    desenvolvido a partir da divulgao pelo IBGE dos microdados das Pesquisas Nacionais por

    Amostra de Domiclios (PNADs): o que tornou possvel realizar uma nova caracterizao da

    populao residente no meio rural brasileiro e do meio rural paulista em particular.2

    Essa pesquisa e outros estudos3 geraram diversos relatrios e publicaes com

    informaes importantes que possibilitaram a redefinio das polticas pblicas, as quais

    passaram a considerar essa nova realidade existente no meio rural do pas, conforme discute

    Schneider (2007). Inclusive, a partir do ano de 2011, o prprio Programa Nacional de

    Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), passou a considerar as atividades no

    agropecurias e os rendimentos delas provenientes entre os critrios que definem o seu

    pblico alvo e a incluso dos beneficirios da poltica.4

    Contudo, apesar dos avanos nos instrumentos de poltica pblica e da existncia

    destas publicaes com diversas informaes importantes, ainda persistem muitas lacunas de

    pesquisa. Por exemplo, no foi possvel com as bases existentes realizar uma caracterizao

    completa das atividades no agrcolas, principalmente no que se refere sua localizao,

    tampouco no que diz respeito a sua importncia econmica, uma vez que as PNADs no

    permitem tal nvel de desagregao e detalhamento.5 Ou seja, ainda no se dispe de

    informaes suficientemente detalhadas sobre as atividades no agrcolas e os contextos que

    geram ou favorecem o aparecimento da pluriatividade no meio rural brasileiro. Tais

    informaes, uma vez obtidas, poderiam ser muito teis para verificar e compreender no

    somente a incidncia destas atividades, mas tambm oferecer subsdios de informaes para

    pesquisas futuras em questes mais especficas, bem como para o prprio aprimoramento das

    polticas pblicas.

    2 As principais concluses da Fase I, II e III foram as seguintes: Fase I: o emprego agrcola diminuasistematicamente desde meados dos anos 80, mas a populao rural ocupada crescia no mesmo perodo; Fase II:revelou a importncia da pluriatividade e dos rendimentos no-agrcolas para as famlias rurais, especialmente opapel das transferncias de renda na forma de aposentadorias e penses aos agricultores familiares; Fase III:impacto positivo da pluriatividade na renda familiar, mas esta ainda menor que o impacto das aposentadorias;

    sua associao a menores ndices de pobreza e que a participao do autoconsumo na composio da rendafamiliar no se revelou elevado.3Os outros estudos mencionados dizem respeito queles conduzidos principalmente por Schneider (2003) nosestados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre outros.4O Ministrio da Fazenda permitir o enquadramento de famlias "com um ou dois membros" cujas atividades"no agrcolas" sejam exercidas fora do estabelecimento rural. Hoje, a lei prev que a mo de obra empregada napropriedade seja "predominantemente" da prpria famlia. A medida para permitir a chamada "pluriatividade" foianunciada ontem, em audincia no Senado, pelo secretrio-adjunto de Poltica Econmica da Fazenda, GilsonBittencourt. A alterao far parte da reforma do Manual de Crdito Rural (MCR). Noticia publicado no JornalValor Econmico em 10.06.20115Adiante voltaremos a essa questo dos avanos e limites das pesquisas sobre pluriatividade com dados dasPNADs.

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    Nesse sentido, a publicao dos dados do Censo Agropecurio 2006 e as inovaes

    por ele trazidas, constituem um fato marcante, que vem contribuir para os estudos sobre

    pluriatividade no Brasil. De acordo com as notas tcnicas divulgadas pelo IBGE:

    Diferentemente dos anteriores, o Censo Agropecurio 2006 incluiu [pela

    primeira vez], questes referentes caracterizao do produtor, como sexo,tempo de direo do estabelecimento e migrao, alm de levantamentosobre a pluriatividade econmicado produtor e membros de sua famlia,residentes no estabelecimento agropecurio (IBGE, 2009, p.31, negritos ecolchetes nosso).

    Com base nas novas possibilidades proporcionadas pela insero de questes que

    permitem apurar a existncia de atividades no agropecurias ou atividades agropecurias fora

    do estabelecimento, essa pesquisa props estudar a pluriatividade econmica e os

    plurirrendimentos dos produtores e dos membros das famlias residentes nos estabelecimentos

    agropecurios no Brasil e nas Regies Sul e Nordeste do pas, por categorias Agricultura

    Familiar e Agricultura No Familiar, com base nos dados do Censo Agropecurio 2006.

    Tendo como objetivos especficos:

    Identificar e quantificar os estabelecimentos onde os produtores e/ou algum dos

    membros das famlias exercem a assim denominada pluriatividade econmica;

    Caracterizar os produtores que dirigem os estabelecimentos que indicam o

    exerccio da pluriatividade econmica segundo: sexo, idade e nvel de

    instruo;

    Caracterizar os estabelecimentos onde se identifica o exerccio dapluriatividade econmica segundo: estratos de tamanho de rea, recebimento

    de orientao tcnica especializada, declarao de dvidas e nus, recebimento

    de financiamentos e tipo de atividade exercida;

    Identificar as principais caractersticas da ocupao da mo de obra ocupada

    nos estabelecimentos que indicam o exerccio da pluriatividade econmica;

    Identificar as distintas fontes de receitas (plurirrendimentos) dos

    estabelecimentos que indicam o exerccio de pluriatividade econmica do

    produtor e/ou de algum membro da famlia, mensurando a importncia de cadauma na formao da receita total.

    Para cumprir os objetivos e expor adequadamente os resultados da pesquisa, alm

    dessa breve introduo, o relatrio divide-se em sete captulos, onde so explicitados os seus

    fundamentos metodolgicos e tericos, apresentados os dados empricos seguidos de breves

    comentrios e derivadas as principais concluses do estudo.

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    No primeiro captulo, so discutidas as principais caractersticas e inovaes

    metodolgicas do Censo Agropecurio 2006 e, a partir dessa metodologia, definidos os

    conceitos operacionais adotados e tambm explicitados os procedimentos que foram seguidos

    para realizar este estudo com base nos dados do IBGE. No segundo captulo, segue uma

    discusso resumida e sinttica sobre o estado de arte dos debates dentro da teoria social

    brasileira e internacional sobre o tema da pluriatividade na agricultura. Deste modo, busca-se

    situar as origens intelectuais das anlises e estudos sobre pluriatividade, definir o conceito em

    termos especificamente tericos e apontar os principais fatores que estimulam a emergncia

    desse fenmeno no meio rural.

    Nos prximos captulos onde efetivamente so apresentados os resultados empricos

    encontrados a partir da aplicao da metodologia anteriormente descrita aos dados do Censo

    Agropecurio 2006 do IBGE. Nestes captulos, o foco responder os objetivos especficos de

    forma pontual, atravs da elaborao de tabelas e grficos seguidos de breves comentrios e

    anlises, inicialmente apresentando os dados estatsticos para o Brasil e para as regies Sul e

    Nordeste e posteriormente comparando os mesmos. Assim, no terceiro captulo, o universo

    dos estabelecimentos Pluriativos em relao ao total (Pluriativos e No Pluriativos)

    identificado, quantificado e mensurado, distinguindo entre estabelecimentos de Agricultura

    Familiar e Agricultura No Familiar. No quarto captulo, caracterizam-se os produtores

    responsveis pela gesto dos estabelecimentos Pluriativos pelas variveis: sexo, classe de

    idade e nvel de instruo. No quinto captulo, os estabelecimentos Pluriativos so descritos

    pelas variveis: tipos de atividade, recebimento de orientao tcnica especializada e grupos

    de estratos de rea (nmero de estabelecimentos e rea por estrato). No sexto captulo,

    identifica-se as principais caractersticas da ocupao da mo de obra, seja para os membros

    da famlia (pessoal ocupado com relaes de parentesco com o produtor), seja para os

    empregados contratados (pessoal ocupado sem relaes de parentesco com o produtor). J no

    stimo captulo, so descritas as caractersticas financeiras dos estabelecimentos, as suas

    distintas fontes de receita (plurirrendimentos), a declarao da existncia de dvidas ou nus

    reais e seus respectivos valores, e o recebimento de financiamentos e seus respectivos valores.

    Por fim, as principais concluses tiradas da anlise dos dados levantados e da

    comparao entre Brasil, Sul e Nordeste so apresentadas, bem como uma agenda de

    pesquisas futura sobre o tema da pluriatividade com base nos dados do Censo Agropecurio

    do IBGE.

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    1. METODOLOGIA

    Os dados que foram utilizados nesta pesquisa so oriundos do Censo Agropecurio de

    2006 (CA 2006), publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) em

    2009. O nvel territorial de anlise proposto contm dados agregados referentes ao Brasil e

    aos estados das regies Sul (3) e Nordeste (9) e a unidade bsica de investigao o

    estabelecimento agropecurio. Conforme definido em suas notas tcnicas (IBGE, 2009a), o

    estabelecimento agropecurio a unidade de pesquisa bsica do Censo Agropecurio de 2006

    e servir como unidade bsica de anlise para todos os dados apresentados nesta pesquisa.

    Sendo assim, o IBGE define estabelecimento agropecurio como:

    Toda unidade de produo dedicada, total ou parcialmente, a atividadesagropecurias, florestais e aqucolas, subordinada a uma nicaadministrao: a do produtor ou a do administrador. Independente de seutamanho, de sua forma jurdica ou de sua localizao em rea urbana ou

    rural, tendo como objetivo a produo para subsistncia e/ou para venda,constituindo-se assim numa unidade recensevel (IBGE, 2006, p.7).

    Conforme exposto nas referidas notas tcnicas, o Censo Agropecurio 2006 teve

    como perodo de referncia o ano de 2006 ou seja: de 1 de janeiro a 31 de dezembro e

    como data de referncia, o dia 31 de dezembro de 2006. Desse modo, os resultados deste

    Censo no so diretamente comparveis ao Censo anterior, de 1995-1996, em funo do

    perodo de coleta dos dados ser diferente e tambm devido s vrias questes levantadas que

    no faziam parte do questionrio aplicado anteriormente. Segundo o IBGE,

    O Censo Agropecurio uma operao estatstica em grande escalarealizada periodicamente para reunir, processar e difundir dados sobre aestrutura dos setores agropecurio, florestal e aqucola do Pas. Os dadosestruturais tpicos so: tamanho da explorao agrcola, uso eaproveitamento da terra, reas cultivadas, irrigao, populao de animais decriao, mo de obra e outros insumos agropecurios, coletados diretamenteem todos os estabelecimentos agropecurios. Desde sua ltima edio,abarcando o perodo 1995-1996, alm das mudanas na economia em geral,ocorreram significativas alteraes setoriais. Assim, devido necessidade demelhor captar as transformaes ocorridas nas diversas atividadesagropecurias e no meio rural, o IBGE elaborou, para o Censo Agropecurio2006, um processo de refinamento metodolgico especialmente no que dizrespeito reformulao do contedo da pesquisa e incorporao de

    conceitos que correspondam a elementos que assumiram notoriedade ou snovidades que se integraram ao universo agrcola nacional (IBGE, 2006, p.1-2).

    Como frequentemente tambm recorre-se s categorias que o IBGE utiliza para

    designar o pessoal ocupado nos estabelecimentos agropecurios, como produtor,

    empregados ou membros da famlia, vale pena trazer as definies do Instituto para as

    mesmas.

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    Foram consideradas como pessoal ocupado no estabelecimento todas aspessoas que trabalharam em atividades agropecurias ou em atividades noagropecurias de apoio s atividades agropecurias, como motorista decaminho, cozinheiro, mecnico, marceneiro, contador e outros, bem comoos produtores ou administrador de exploraes comunitrias, juntamentecom as pessoas que tinham laos de parentesco [membros da famlia] com

    eles e que estiveram trabalhando no estabelecimento, no perodo dereferncia. [...] Para a finalidade do Censo Agropecurio 2006 foramconsiderados os seguintes casos para laos de parentesco: cnjuge, filho(a),pai, me, sogro(a), av, av, genro, nora, companheiro(a), menor sob guardaou tutela, irmo(), neto(a), tio(a), sobrinho(a), primo(a), cunhado(a),enteado do produtor. E as seguintes definies de empregados: Empregadopermanente pessoa contratada para trabalhar de maneira regular e contnuaem atividades do estabelecimento agropecurio, com, no mnimo, seis mesesde contrato ou, se por menor perodo, foi contratada com esta caracterstica.[...] Empregado temporrio pessoa contratada para trabalhar noestabelecimento agropecurio uma ou mais vezes em tarefas temporrias oueventuais [...], sem a intermediao de terceiros. [...] Empregado-parceiro pessoa empregada no estabelecimento e subordinada diretamente pessoa

    que dirigia o estabelecimento, que executou tarefa mediante recebimento deuma cota-parte da produo: meia, tera, quarta, etc.; e Outra condio pessoas que trabalharam no estabelecimento e no se enquadram nascategorias anteriores, como moradores e agregados (IBGE, 2009a, p.20-21,colchetes nossos).

    O IBGE realizou levantamentos que permitem caracterizar aquilo que designou

    pluriatividade econmica do produtor e membros de sua famlia. Contudo, no h nas

    publicaes do CA 2006, uma definio com critrios objetivos para aquilo que ora

    denomina-se estabelecimento pluriativo, a principal categoria de anlise operacionalizada

    nesse trabalho.

    A definio operacional de como seria feita a identificao e o isolamento do universo

    dos estabelecimentos Pluriativos foi o processo mais complicado e trabalhoso dessa pesquisa.

    Contudo, por ser imprescindvel para o andamento da investigao proposta, as dificuldades

    foram superadas atravs da assdua interao entre membros da equipe do Subprojeto 2 e os

    tcnicos responsveis pelo CA 2006 do IBGE. Sem essa definio, no mximo poderia se

    trabalhar em separado com a pluriatividade do produtor e dos membros da famlia, mas

    teria sido impossvel, atravs do mero somatrio de ambos, se identificar o total de

    estabelecimentos que apresentam os atributos que caracterizam o fenmeno da pluriatividade

    nos estabelecimentos agropecurios recenseados pelo CA 2006.

    Malgrado o tortuoso caminho trilhado, acredita-se ter chegado a uma metodologia

    relativamente satisfatria para o cruzamento dos dados e a identificao do universo de

    estabelecimentos agropecurios Pluriativos no Brasil. A definio relativamente simples:

    defini-se como estabelecimento pluriativo aquele estabelecimento agropecurio em que o

    produtor e/ou algum membro da famlia exerceu atividades agropecurias e algum tipo

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    de atividade no agropecuria remunerada e/ou qualquer tipo de atividade remunerada

    fora do estabelecimento.6Portanto, entram neste universo, aqueles estabelecimentos em que

    apenas o produtor exerceu pluriatividade, os estabelecimentos em que algum membro da

    famlia exerceu pluriatividade e aqueles estabelecimentos em que o produtor e algum membro

    da famlia exerceram pluriatividade. A partir da identificao desses critrios possvel

    aplicar operacionalmente o conceito de pluriatividade para identificar, quantificar e

    caracterizar o universo dos estabelecimentos Pluriativos com base nos dados do CA 2006 do

    IBGE.

    Vale a pena tecer um comentrio sobre a utilizao da categoria Agricultura

    Familiar. mister reconhecer que no se pretende realizar uma discusso terica mais ampla

    sobre o uso do termo Agricultura Familiar no mbito desta pesquisa muito embora este

    tenha sido um tema de estudos e pesquisas recorrentes no PGDR, como os trabalhos de

    Schneider (2003, 2006), Niederle (2007), Schneider e Niederle (2008), Conterato (2008) e

    Escher (2011). Para os propsitos do relatrio, trabalha-se com a definio do prprio IBGE

    no que concerne a distino entre estabelecimentos agropecurios de Agricultura Familiar e

    de Agricultura No Familiar. Vale notar que a definio se baseia na Lei 11.326, de 24 de

    julho de 2006, que estabelece as diretrizes para a formulao da Poltica Nacional da

    Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, com base em critrios de

    tamanho de rea (no mximo 4 mdulos fiscais), de mo de obra (predominantemente

    familiar), de rendimento do estabelecimento (maior do que os salrios obtidos fora) e de

    direo do estabelecimento (realizado por membros da famlia) (IBGE, 2009c).

    Ainda antes de adentrar na descrio e anlise dos dados estatsticos propriamente

    ditos, importante retomar os principais elementos do referencial terico e os conceitos

    implicados na anlise do fenmeno da pluriatividade na agricultura tout court.

    6Optou-se definir a pluriatividade de um estabelecimento a partir da resposta positiva as perguntas inseridas noCA 2006 sobre o exerccio de alguma atividade remunerada fora do estabelecimento agropecurio, seja doprodutor ou de algum membro da famlia. Contudo, essa opo pode ter levado a certa subestimao do universodos estabelecimentos Pluriativos, pois tambm poderiam entrar nessa categoria aqueles onde algum integranterealiza atividades no agropecurias dentro do estabelecimento. Esse temtica ser retomada nas consideraesfinais.

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    2.

    REFERENCIAL TERICO

    As pesquisas sobre pluriatividade no Brasil so relativamente recentes, ainda que

    desde meados da dcada de 1990 elas tenham apresentado uma rpida evoluo. Pode-se

    argumentar que houve trs geraes de trabalhos, iniciando com as pesquisas sobre as formas

    complementares de trabalho e renda, a agricultura em tempo parcial e finalmente

    consolidando o tema da pluriatividade.7 A primeira gerao de trabalhos sobre a dupla

    atividade dos agricultores circunscreveu-se a dcada de 1980, sendo os estudos de Seyferth

    sobre os colonos-operrios as principais referncias (SEYFERTH, 1984; 1987).

    J nos anos 1990, a segunda gerao de pesquisas passou a incorporar as noes de

    part-time farminge multiple-job holding, que j haviam sido utilizadas na Europa e em outros

    pases desenvolvidos, para descrever as situaes em que parcela crescente dos agricultores

    dedica apenas uma parte de sua jornada de trabalho s atividades agrcolas; destacando-se os

    trabalhos de Schneider (1994, 1999), Sacco dos Anjos (1995), Carneiro (1996) e Neves

    (1995, 1997), entre outros.

    A terceira gerao iniciou no final da dcada de 1990 e se estende at o perodo atual,

    caracterizando-se pelos estudos sobre pluriatividade na perspectiva que esta noo adquiriu a

    partir da definio de Fuller (1990), que a entende como um elemento de diversificao que

    pode se produzir no interior da famlia ou a partir do exterior, pois ela funciona como uma

    estratgia que se modifica de acordo com a dinmica familiar e de sua relao com a estrutura

    agrria (BRUN; FULLER, 1991). Os principais trabalhos desta fase dos estudos

    (CARNEIRO, 1998; SCHNEIDER, 2003; SACCO DOS ANJOS, 2003; KAGEYAMA, 1998)

    concentraram-se na anlise da combinao de atividades agrcolas e no agrcolas na

    Agricultura Familiar e nos efeitos sobre as economias locais. Neste perodo, as pesquisas

    sobre a pluriatividade vieram acompanhas pelo debate sobre a (nova) ruralidade, quando se

    discutiu temas como as relaes rural-urbano, as mudanas demogrficas, a formao das

    identidades sociais e as representaes simblicas sobre o rural (CARNEIRO, 2001; VEIGA,

    2002; MOREIRA, 2002; WANDERLEY, 2004).

    Mas o impulso decisivo ao estudo da pluriatividade ocorreu medida que se

    ampliaram as pesquisas sobre as mudanas no mercado de trabalho e ocupao rural no

    Brasil. As pesquisas conduzidas no mbito do Projeto RURBANO, como citado

    anteriormente, tornaram-se referncia na anlise das mudanas econmicas, espaciais e

    7O contedo e a forma de exposio do mesmo nesse captulo seguem basicamente os trabalhos de Schneider(2003, 2007, 2009), Schneider e Conterato (2006), Conterato (2008) e Escher (2011).

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    ocupacionais do meio rural (CAMPANHOLA; GRAZIANO DA SILVA, 2004; GRAZIANO

    DA SILVA, 1999). Apoiando-se em um refinado tratamento dos dados das PNADs, vrios

    autores fizeram e continuam a fazer grandes avanos (SOUZA; NASCIMENTO, 2006;

    NASCIMENTO; CARDOZO, 2007). Contudo, so reconhecidos alguns limites dessa base

    dados para pesquisar o tema da pluriatividade no meio rural: por se tratar de uma pesquisa

    amostral, os dados agregados so apenas estimativas, os quais, apesar de estatisticamente

    significativas, no se tratam de dados reais apurados em todos os domiclios, como no caso do

    Censo Agropecurio, considerando que a sua unidade bsica o domiclio (urbano ou rural) e

    no o estabelecimento agropecurio. Alm disso, a pesquisa realizada em regies

    metropolitanas e no metropolitanas, mas no em todos os municpios, micro e meso regies,

    etc.

    Segundo os dados da pesquisa da PNAD 2009, haveria naquele ano 8.749.853

    domiclios rurais no Brasil, sendo que 4.253.466 (48,6%) famlias poderiam ser consideradas

    no pluriativas e 4.496.387 (51,4%) pluriativas. Na regio Sul seriam ao todo 1.452.045

    domiclios rurais, dos quais 742.765 (51,2%) poderiam ser consideradas de famlias no

    pluriativas e 709.283 (48,8%) de famlias pluriativas. E na regio Nordeste haveria 3.957.644

    domiclios rurais, sendo que 1.657.414 (41,9%) poderiam ser considerados no pluriativos e

    2.300.230 (58,1%) poderiam ser considerados pluriativos. Como ser visto apesar de algumas

    tendncias se confirmarem, os dados do Censo Agropecurio evidenciam uma realidade

    diversa.

    Malgrado os avanos que representaram estas pesquisas sobre as mudanas nos

    mercados de trabalho, no perfil ocupacional das pessoas e famlias e nas caractersticas dos

    postos de trabalho rurais, diversos trabalhos principalmente aqueles realizados no Programa

    de Ps-Graduao em Desenvolvimento Rural vm alertando para a necessidade de

    esclarecer as diferenas entre as dinmicas das ocupaes no agrcolas e a pluriatividade das

    famlias (SCHNEIDER, 2003; SCHNEIDER, 2007; CONTERATO, 2006; PERONDI, 2007;

    NIEDERLE, 2007; CONTERATO, 2008; ESCHER, 2011). Mesmo que a pluriatividade seja

    dependente da possibilidade de combinao das atividades agrcolas com as no agrcolas em

    um determinado contexto social e econmico, sustenta-se que a manuteno das mltiplas

    inseres ocupacionais depende de um conjunto de variveis e fatores relacionados

    dinmica das famlias e dos indivduos que as compem. Ao no considerar este aspecto

    fundamental, muitos analistas acabaram tratando a pluriatividade como uma caracterstica

    transitria e efmera, com tendncia ao desaparecimento to logo as condies econmicas do

    entorno melhorassem.

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    Contudo, as situaes que ora caracterizam o fenmeno denominado pluriatividade

    no configuram nem de longe uma completa novidade. Inclusive, esse tipo de concepo

    sobre a pluriatividade como um fenmeno transitrio e efmero, encontra ecos na clssica

    interpretao acerca do desenvolvimento do capitalismo agrrio de Kautsky (1980), segundo a

    qual a permanncia e a reproduo social e econmica dos pequenos proprietrios

    camponeses no interior da agricultura capitalista dominada por empresas agrcolas de

    grande escala poderia ocorrer desde que estes desenvolvessem formas de trabalho rural

    acessrio, como pequenos arrendatrios ou fornecedores de mo de obra assalariada s

    grandes exploraes capitalistas, bem como trabalhadores autnomos ocupados em pequenas

    indstrias a domiclio, subordinadas ao processo de valorizao do valor e acumulao de

    capital em nvel estrutural.

    Outra interpretao clssica, porm contrastante com a de Kautsky, a de Chayanov

    (1974), para o qual as outras atividades rurais no agrcolas assumiam uma importncia

    fundamental para a reproduo social e econmica dos camponeses. Como um conjunto de

    aes conscientes e planejadas que a famlia mobiliza para alcanar seus objetivos, essas

    atividades assumiriam um carter estratgico na adequao das necessidades familiares

    convenincia tcnica de seu especfico sistema de produo e, assim, contribuiriam para

    garantir o equilbrio entre produo e consumo e a corrigir das distores no interior do

    ciclo demogrfico da unidade familiar, causado pela sua crescente insero na diviso do

    trabalho e nos circuitos mercantis capitalistas.

    Para fins de definio, como a entende-se neste trabalho, a pluriatividade que ocorre

    no meio rural refere-se a um fenmeno que pressupem a combinao de pelo menos duas

    atividades, sendo uma delas a agricultura. Estas atividades so exercidas por indivduos que

    pertencem a um grupo domstico ligado por laos de parentesco e consanguinidade (filiao)

    entre si, podendo a ele pertencer, eventualmente, outros membros no consanguneos

    (adoo), que compartilham entre si um mesmo espao domstico e produtivo de moradia e

    trabalho (no necessariamente em um mesmo alojamento ou habitao) e se identificam como

    uma famlia.

    A referncia s vrias (pluri) atividades, portanto, tambm requer uma definio. Uma

    atividade consiste na execuo de um conjunto de tarefas, procedimentos e operaes de

    carter produtivo e laboral, tais como plantio, manejo, colheita, limpeza, preparao,

    organizao, beneficiamento, etc. A atividade agrcola, ou simplesmente a agricultura,

    compreende uma mirade diversificada e complexa de tarefas, procedimentos e operaes que

    envolvem o cultivo de organismos vivos (animais e vegetais) e o gerenciamento de processos

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    biolgicos dos quais resulta a produo de alimentos, fibras e matrias-primas. Em funo

    desta diversidade e complexidade torna-se difcil e muito relativo definir onde comea e

    termina uma atividade agrcola. Para fins de definio, importante considerar que a base

    fsica onde estas se realizam a unidade de produo, isto , o estabelecimento agropecurio.

    Mesmo assim, pode-se falar de atividades agrcolas desempenhadas no prprio

    estabelecimento ou no estabelecimento de terceiros.

    Existem tambm as chamadas atividades para-agrcolas, que formam um conjunto de

    operaes, tarefas e procedimentos que implicam na transformao, beneficiamento e/ou

    processamento de produo agrcola (in natura ou de derivados) produzida dentro de um

    estabelecimento ou adquirida (em parte ou no todo) fora. As atividades para-agrcolas podem

    ter a finalidade de transformar a produo visando o consumo pelos prprios membros da

    famlia ou destin-la venda. E como atividades no agrcolas so consideradas todas aquelas

    que no se enquadram na definio de atividade agrcola ou para-agrcola. Em geral, so

    atividades de outros setores ou ramos da economia, sendo os mais tradicionais a indstria, o

    comrcio e os servios. A interao entre atividades agrcolas, para-agrcolas e no agrcolas

    gera a pluriatividade, que tende a ser mais intensa medida que mais complexas e

    diversificadas forem as relaes entre os agricultores e o ambiente social e econmico em que

    estiverem inseridos.

    O crescimento do nmero de agricultores familiares ocupados em atividades no

    agrcolas est relacionado s alteraes na estrutura e na dinmica do mercado de trabalho

    redundantes da reestruturao produtiva e das mudanas no capitalismo contemporneo, que

    originam novas relaes de trabalho e modos de ocupao da mo de obra. A pluriatividade

    aparece como um fenmeno relacionado a essas alteraes, pois depende da possibilidade de

    combinao das atividades agrcolas com as no agrcolas em um determinado contexto social

    e econmico mercantilizado. Mas a configurao das mltiplas inseres ocupacionais

    depende tambm de um conjunto de fatores e variveis relativos dinmica das famlias e s

    escolhas e opes dos indivduos que as compem. Nestes termos, o recurso pluriatividade

    a expresso de uma forma particular de mercantilizao e um elemento de diversificao da

    Agricultura Familiar, apresentando-se como uma estratgia cada vez mais presente e estvel

    no meio rural, caracterstica mesmo da chamada nova ruralidade em curso no Brasil e no

    mundo.

    Segundo Ellis (2000), a pluriatividade na Agricultura Familiar pode ser entendida

    como uma estratgia de reao, em face de uma situao de risco ou de vulnerabilidade, ou

    ento como uma estratgia de adaptao, quando os indivduos membros de uma famlia

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    possuem certos atributos que lhes permitem optar e decidir frente a um conjunto de

    oportunidades e possibilidades de insero laboral. Assim, a pluriatividade tem a ver com o

    exerccio das capacidades e o poder de agncia dos indivduos. (SCHNEIDER, 2009, p.6).

    Ela pode ocorrer tanto em situaes em que os agricultores se encontram inseridos em

    mercados de produtos, bens e servios, como em situaes onde a ocupao produtiva muito

    instvel ou incipiente. Nesses casos a sua fora de trabalho passa a ser a principal mercadoria

    de que os agricultores dispem para oferecer no mercado, em troca de alguma remunerao.

    Contudo, mesmo nestes casos, o recurso a pluriatividade no implica necessariamente na

    proletarizao dos indivduos, mas implica sobremaneira no aprofundamento da insero dos

    mesmos nos circuitos mercantis, de acordo com as caractersticas existentes no territrio em

    que eles vivem, podendo ocorrer concomitantemente em mercados de produtos e de trabalho.

    Em trabalhos recentes (SCHNEIDER, 2006; PERONDI, 2007; CONTERATO, 2008),

    foram indicadas ainda outras variveis que contribuem para diferenciao da pluriatividade,

    tais como o nvel de escolaridade dos membros da famlia, a superfcie de terra disponvel

    para a produo, o nmero de membros na famlia, a diferenciao etria e o acesso a renda.

    Seja como for, os estudos at aqui realizados sobre pluriatividade permitem concluir que se

    trata de um fenmeno estvel e diversificado que, embora exista desde longo tempo no meio

    rural, apenas recentemente passou a ser estudado sob esta denominao. Tambm j se sabe

    que se trata de uma estratgia de reproduo social das famlias rurais, que recorrem s

    atividades externas por diferentes razes (adaptao, reao, estilo de vida), no sendo a

    pobreza o nico fator determinante, nem o principal, em contraste com o que recentemente

    voltou-se a argumentar (NASCIMENTO; CARDOZO, 2007).

    Autores como Schneider (2009) e Conterato (2008) conseguiram identificar cinco

    como os principais fatores causais (embora possa haver outros) que, no mbito do capitalismo

    contemporneo, condicionam e estimulam a pluriatividade em contextos de mercantilizao

    da agricultura e do meio rural. O primeiro a reduo da utilizao de mo de obra das

    famlias rurais por causa da adoo de tecnologias poupadoras de fora de trabalho, resultante

    especialmente do processo de modernizao da agricultura brasileira, atravs da mudana da

    sua base tecnolgica em curso desde a dcada de 1970, seguindo os preceitos da Revoluo

    Verde.

    O segundo fator a ampliao da contratao de servios de terceiros, seja para a

    realizao de algum trabalho temporrio, seja atravs da prestao de servios auxiliares,

    associada ao aluguel de mquinas e equipamentos para determinadas atividades especficas. A

    terceirizao agrcola tambm pode ser entendida como uma consequncia dessa alterao da

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    base tecnolgica da produo agropecuria nas ltimas dcadas, o que permitiu o surgimento

    de um conjunto de novas ocupaes no agrcolas, tais como motoristas, administradores,

    entre outros.

    O terceiro fator a queda crescente e continuada das rendas agrcolas em funo do

    aumento dos custos de produo, associados ao treadmill tecnolgico (COCHRANE apud

    VEIGA, 2007) e ao cost-price squeeze (PLOEG, 2008, 2009). Estes conceitos demonstram

    que os agricultores modernizados se vem obrigados a incorporar progresso tcnico para se

    manterem competitivos, encontrando-se constantemente presos a uma esteira rolante

    (treadmill) de inovao tecnolgica. Isso significa uma necessidade crescente de adio de

    insumos externos para manter economias de escala, tornando seus custos de produo cada

    vez mais elevados, como atesta a pesquisa sobre consumo intermedirio, desse mesmo

    Projeto. Consequentemente, na medida em que o progresso tcnico incorporado, e que

    aumentam as escalas de seus sistemas de produo, so reduzidos os preos pagos ao

    produtor, ou seja, ocorre um estrangulamento (squeeze) na relao custo-preo.

    O quarto fator refere-se s mudanas estruturais nos mercados de trabalho atravs de

    processos de descentralizao e relocalizao industrial, permitindo o aumento de atividades

    no agrcolas no espao rural ou mesmo o deslocamento de habitantes rurais s imediaes

    urbanas. No Brasil, apenas para citar dois exemplos, tem-se o caso de algumas regies nos

    estados sulinos de Santa Catarina (Vale do Itaja) e do Rio Grande do Sul (Encosta Inferior e

    Superior da Serra do Nordeste), onde houve processos de industrializao relativamente

    descentralizados em reas de elevada densidade demogrfica, sendo que as indstrias que l

    se localizaram, vieram em busca de vantagens competitivas relacionadas ao baixo custo da

    fora de trabalho, s facilidades logsticas e outras (SCHNEIDER, 2003).

    O quinto fator, por fim, diz respeito aos efeitos de certas polticas de

    desenvolvimento rural que estimulam atividades no agrcolas no meio rural, como turismo,

    pequenas e mdias agroindstrias familiares, preservao ambiental, entre outras atividades

    que promovem contenso do fluxo migratrio e do xodo rural. Muito comuns na Europa, em

    geral so polticas que visam gerar empregos, estimular a diversificao das rendas e oferecer

    alternativas econmicas aos agricultores que no sejam exclusivamente ligadas ao aumento da

    produo, fazendo com que possam reanimar as regies desfavorecidas ou pouco

    competitivas. No Brasil, existem exemplos muito embrionrios, como experincias de apoio

    ao turismo rural, ecolgico, tnico-cultural (indgenas, quilombolas, povos tradicionais) e

    agroindstrias familiares rurais.

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    Enfim, para se compreender a diversidade das formas que a pluriatividade pode

    assumir em circunstncias particulares, mediante as caractersticas internas das unidades

    familiares de trabalho e produo e as ligaes externas que elas estabelecem com o ambiente

    social e econmico em que se encontram inseridas, adequado analisar as condies sociais

    de vida e caractersticas especficas dessas famlias, as estratgias de reproduo social e

    econmica que adotam os tipos de atividades e ocupaes em que se envolvem e os recursos

    produtivos e tipos de renda ou fontes de receita a que os seus membros tm acesso. Contudo,

    embora com o atual avano industrial e a expanso generalizada do capitalismo a

    mercantilizao atinja a maior parte das esferas da vida social, econmica e cultural das

    pessoas, inclusive dos agricultores (familiares e no familiares) e da populao rural, ainda

    assim muito comum a existncia de estabelecimentos que realizam apenas atividades

    exclusivamente agropecurias e/ou apenas internamente ao seu estabelecimento

    agropecurio/unidade de produo. A estes estabelecimentos agropecurios, que cita-se

    apenas a ttulo de contextualizao no mbito desse estudo, a fim de contrastar com os

    estabelecimentos pluriativos, denomina-se simplesmente estabelecimentos no

    pluriativos.

    Mas tambm possvel estabelecer alguma distino dentro do universo dos

    estabelecimentos pluriativos. Para isso, mister propor uma espcie de tipologia que pode vir

    a ser til e operacionalizvel com base nos dados do CA 2006: O primeiro tipo, que no h

    como apurar, era comum entre aqueles agricultores que viveram durante o perodo de

    vigncia do sistema produtivo colonial, como aqueles que imigraram da Europa diretamente

    para o Rio Grande do Sul ainda no incio do sculo XIX (SCHNEIDER 2004), onde se

    estabeleceram nas colnias velhas e posteriormente foram migrando dentro do mesmo

    estado, abrindo a fronteira agrcola e constituindo as colnias novas. Ou ento aqueles que,

    com o fechamento da fronteira agrcola gacha, avanaram para os estados de Santa Catarina

    (PLEIN, 2003) e posteriormente Sudoeste e Oeste do Paran (ESCHER, 2011). Na vigncia

    daquele sistema, a pluriatividade ocorria dentro dos limites da propriedade rural dos colonos,

    como uma caracterstica prpria de seu modo de vida e no como um efeito da

    mercantilizao exacerbada. Neste tipo de pluriatividade, denominada tradicional ou

    camponesa, as famlias combinavam suas atividades agrcolas com as para-agrcolas

    (produo, transformao e artesanato), recorrendo fabricao de alimentos transformados

    (queijo, manteiga, embutidos, schmiers, etc.), confeco de objetos para o uso pessoal

    (vesturio, acolchoados, travesseiros de pena, etc.) ou fabricao de instrumentos de

    trabalho (ferramentas como enxadas, foices e ps, balaios e cestos, material de selaria, etc.).

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    Outros trs tipos de pluriatividade podem ser citadas, sendo que apenas as duas

    primeiras devero ser apuradas neste trabalho. A primeira a pluriatividade intersetorial,

    decorrente do crescente processo de encadeamento e articulao da agricultura com os demais

    setores da economia (notadamente indstria e servios), expresso rural das transformaes

    estruturais mais amplas no mercado de trabalho no perodo ps-fordista, ligada

    descentralizao e relocalizao industrial (inclusive em espaos rurais e peri-urbanos),

    segmentao do mercado de trabalho, flexibilizao das relaes de trabalho

    (subcontratao, precarizao, informalizao), expanso crescente das reas de habitao

    no entorno das grandes regies metropolitanas e ao fluxo pendular de pessoas que habitam o

    meio rural mas trabalham em atividades no agrcolas.

    A segunda a pluriatividade de base agrria, realizada dentro do prprio setor

    agropecurio e decorrente da demanda crescente por servios e atividades resultantes do

    processo de modernizao da agricultura, expandindo a terceirizao de etapas ou fases dos

    processos produtivos na agricultura, implicando na subcontratao e aluguel de mquinas e

    equipamentos e na contratao de servios auxiliares para execuo de tarefas que antes eram

    realizadas no interior de cada explorao agropecuria. Ela se manifesta de trs formas: a)

    atravs dos indivduos que residem no meio rural e trabalham na atividade agrcola, mas uma

    parcela relevante, seno a maior parte, de sua jornada de trabalho dedicada prestao de

    servios para de maquinas e equipamentos (plantio, colheita, pulverizao, manejo,

    transporte, etc.) para terceiros, como vizinhos ou mesmo em propriedades mais distantes,

    mediante pagamento (em dinheiro ou em produto), no se tratando de uma forma de ajuda

    mtua; b) a outra refere-se contratao de pessoas que moram no meio rural e integram

    famlias de agricultores para atuar em atividades como processamento, beneficiamento,

    transporte, comercializao, etc. da produo agropecuria, em empregos gerados pela prpria

    dinmica agroindustrial, que ao se desenvolver gera um conjunto de atividades no agrcolas;

    e c) a ltima manifesta-se atravs da informalidade e da precariedade da venda da fora de

    trabalho no meio rural, em larga medida decorrente da sazonalidade dos processos de

    produo na agricultura. No meio rural, existe um conjunto de atividades agrcolas e no

    agrcolas espordicas, intermitentes e temporrias, que no tem jornada de trabalho formal

    pr-estabelecida (servios domsticos, vendedores ambulantes ou de porta-em-porta, diaristas,

    empreiteiros, bias-frias, volantes). A sua execuo pode se dar dentro ou fora do

    estabelecimento agropecurio, assim como ser prxima ou longe da moradia.

    A terceira a pluriatividade para-agrcola que uma evoluo da transformao,

    beneficiamento ou processamento artesanal para o autoconsumo, que passa a ganhar escala

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    (geralmente pequena ou mdia) e a ser orientada para a venda no mercado. medida que este

    tipo de produo cresce e comea a ocupar espaos fora do mbito domstico, ela se torna

    uma atividade independente, inaugurando uma nova jornada de trabalho e rotinas

    diferenciadas, sendo possvel afirmar que surge uma nova atividade ou outra ocupao que,

    combinada com a agricultura como atividade principal, gera uma situao de pluriatividade.

    Em geral, este um tipo de pluriatividade ligada produo de derivados de leite, cana-de-

    acar, carnes, frutas e outros produtos que passaram a ser processados e transformados no

    interior das propriedades mediante agregao de valor, surgindo como uma alternativa de

    emprego, ocupao e renda para as famlias de pequenos agricultores que vislumbram uma

    forma de insero econmica e mercantil por mecanismos diferentes dos usuais esquemas de

    integrao agroindustrial como as aves e sunos ou a produo de commodities como a soja.

    No Brasil, estes empreendimentos vm sendo chamados de agroindstrias rurais familiares,

    constituindo-se em uma enorme diversidade de formas organizativas, que possuem os mais

    diversos tipos de escalas e de gesto (individuais, associativas, cooperativas, etc.) (DUARTE;

    GRIGOLO, 2006; GAZOLLA; PELEGRINI, 2008; SCARTON, 2010).

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    3. IDENTIFICAO DOS ESTABELECIMENTOS PLURIATIVOS NO BRASIL ENAS GRANDES REGIES SUL E NORDESTE

    Neste captulo os estabelecimentos onde os produtores e/ou algum dos membros das

    famlias exercem a assim denominada pluriatividade econmica so identificados e

    quantificados para o Brasil, a Regio Sul e a Regio Nordeste, em relao ao total dos

    estabelecimentos agropecurios. Inicialmente, feita uma distino entre os estabelecimentos

    Pluriativos e os estabelecimentos No Pluriativos. Em seguida, distinguem-se os

    estabelecimentos agropecurios Pluriativos e No Pluriativos entre Agricultura Familiar e

    Agricultura No Familiar. E, por fim, busca-se alguns elementos de comparao para a

    pluriatividade entre os estabelecimentos das Regies Sul e Nordeste e entre Agricultura

    Familiar e Agricultura No Familiar.

    3.1Estabelecimentos Pluriativos e No Pluriativos no Brasil e em relao Agricultura Familiar e Agricultura No Familiar

    De acordo com os dados do Censo Agropecurio 2006, naquele ano foram

    recenseados 5.175.489 estabelecimentos agropecurios em todo Brasil, sendo que 37% destes

    (1.910.131) podem ser considerados Pluriativos, segundo a metodologia adotada.

    Tabela 1 - Estabelecimentos Agropecurios no Brasil - Pluriativos e No PluriativosNo Pluriativos (%) Pluriativos (%) Total (%)

    3.265.358 63,0 1.910.131 37,0 5.175.489 100,0Fonte: Censo Agropecurio 2006 ("tabulao especial" realizada pelo IBGE).Elaborao: Projeto IPEA/PGDR 2010/2011.

    De outro ponto de vista, entre esse total de estabelecimentos agropecurios, 84,4%

    (4.367.902) podem ser classificados como pertencentes categoria Agricultura Familiar, e

    15,6% (807.587) Agricultura No Familiar. Como se pode observar na Tabela 2, entre os

    estabelecimentos de Agricultura No Familiar, 51.9% (419.051) so Pluriativos, ao passo que

    entre os estabelecimentos de Agricultura Familiar apenas 34,1% (1491.080) so Pluriativos.

    Tabela 2 - Estabelecimentos Totais e Pluriativos no Brasil, segundo a Agricultura Familiar e No familiarVariveis Agricultura Familiar (%) Agricultura No Familiar (%)

    Total 4.367.902 100,0 807.587 100,0

    Pluriativos 1.491.080 34,1 419.051 51,9Fonte: Censo Agropecurio 2006 ("tabulao especial" realizada pelo IBGE).Elaborao: Projeto IPEA/PGDR 2010/2011.

    Essa constatao representa uma intrigante surpresa, haja vista que a quase totalidade

    dos estudos sobre pluriatividade no Brasil sempre consideraram este fenmeno como uma

    especificidade da Agricultura Familiar e pouca ateno era dada a sua manifestao em outros

    segmentos (agricultura empresarial, patronal, capitalista, corporativa, etc.). Em parte porque

    os estudos realizados com base nos dados secundrios da PNAD no operavam essa distino

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    e em parte porque os estudos de caso, geralmente eram focados exclusivamente na

    Agricultura Familiar justamente em regies onde essa predominante, assim como nas Sul e

    Nordeste do Brasil, que em conjunto abrigam praticamente 80% da Agricultura Familiar

    nacional.

    Em face da falta de estudos e pesquisas especficas sobre as caractersticas da

    pluriatividade em estabelecimentos no familiares possvel apelar ao senso comum para

    buscar alguma explicao para a sua grande ocorrncia e afirmar que muitos estabelecimentos

    no familiares so, de fato, unidades de produo cuja propriedade pertence a profissionais de

    outras atividades econmicas, como as atividades liberais (mdicos, dentistas, advogados,

    etc). Outra hiptese a ser melhor estudada que profissionais das cincias agrrias, como

    agrnomos, veterinrios, zootecnistas, entre outros, sejam tambm proprietrios de

    estabelecimentos rurais, mas que no exploram a unidade em regime de economia familiar.

    Por fim, h ainda a possibilidade de que muitos destes estabelecimentos no familiares sejam,

    na verdade, stios ou chcaras de lazer, no constituindo especificamente uma unidade de

    produo agropecuria.

    Seja como for, no se pode mais do que postular possveis hipteses explicativas, a

    serem aprofundadas em estudos vindouros, sobre o perfil e as caractersticas da pluriatividade

    em estabelecimentos agropecurios no familiares. Uma possibilidade, por exemplo, seria a

    de cruzar as informaes sobre a pluriatividade com a condio do produtor em relao s

    terras (proprietrio; assentado sem titulao definitiva; arrendatrio; parceiro; e ocupante) e,

    principalmente, com os de condio legal