2013 Implicações Da Autonomia Na Gestão Da Aprendizagem

IMPLICAES DA AUTONOMIA NA GESTO DA APRENDIZAGEM EM

AMBIENTE VIRTUAL

Jos Lauro Martins Bento Duarte da Silva

Universidade Federal do Tocantins Universidade do Minho

[email protected]@ie.uminho.pt

RESUMO: O conceito de autonomia apresentado por diversos autores diz respeito proatividade dos aprendentes para acessar, navegar, buscar os contedos, responder as demandas dos professores. Nossa pergunta : isso suficiente para entender que este ou aquele aprendente autnomo? Para aprofundar esse debate solicitamos a 10 professores que atuaram num curso de ps-graduao online que elencassem elementos para identificar o grau de autonomia dos aprendentes em relao ao processo de aprendizagem. A partir da anlise das respostas, entende-se que a autonomia no pode ser considerada apenas instrumental e que deve fazer parte das estratgias formativas.

Introduo

A autonomia um dos aspectos da formao estudantil que esto implcitos na

aprendncia e no desenvolvimento do aprendente, mas que raramente tratado de forma

objetiva no currculo escolar. Por principio no h processo formativo que no tenha

como finalidade tornar o aprendente mais autnomo para vida e para a sociedade. O que

questionamos que sendo algo intrinsecamente presente na educao e que a sociedade

espera de todos os cidados, ento porque no tratamos objetivamente essa questo?

Alis, ser que as metodologias e gesto escolar contribuem de fato para a construo e

apropriao da autonomia? So perguntas que nos tm intrigado, sobre as quais

procuramos refletir neste artigo, tendo por base elementos de um estudo levado a cabo

na gesto da aprendizagem num Curso de Especializao em Coordenao Pedaggica

(CECP).

Considerando que a construo e a apropriao da autonomia um dos aspectos

formativos e paradigmticos derivado do exerccio do indivduo diante de qualquer

realidade ao agir sem o suporte direto de outra pessoa. Entende-se, porm, que preciso

fazer uma distino clara sobre quem exerce que papel na experincia vivida durante o

processo aprendizagem. Nesse caso, distinguimos a gesto do ensino em que o centro

o professor enquanto na gesto da aprendizagem a ao realizada sobretudo pelo

Atas do XII Congresso Internacional Galego-Portugus de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2013ISBN: 978-989-8525-22-2

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aprendente, com a colaborao de diversos agentes que cooperam para que a capacidade

de autocontrole seja desenvolvida pelo aprendente.

Apropriao da autonomia

A autonomia est sempre relacionada com o poder que o sujeito exerce, dessa

forma um processo educativo que tenha como finalidade a construo e a apropriao

da autonomia trata-se do empoderamento do sujeito. Nesses termos, Michel Foucault

escreve que classicamente o poder foi considerado como algo que emana de uma fonte

para as extremidades. Nesse caso, o poder pode ser uma concesso de algum com mais

poder que concede a outro em escala abaixo (Foucault, 1979, p. 184). Dessa maneira o

poder concede a autonomia a alguns e a obedincia a outros. Sua preocupao era

com o poder que estrutura essa forma de exerccio do poder, ou seja, as extremidades do

poder. Alm disso, para ele o poder algo que circula e no est localizado em lugar

algum, s funciona em rede porque o poder passa por eles e alimenta em cadeia

(Foucault, 1979, p. 183). Se observamos o sentido do poder na escola tradicional vemos

o professor com um representante do poder que lhe foi concedido. Sua autonomia est

diretamente relacionada a sua autoridade. Mas na medida em se prope uma gesto

democrtica, compartilhada, o poder monocrtico perde espao porque se torna sujeito

deciso de um grupo, de um conselho ou de uma coordenao. Ainda mais, na medida

em que os contedos que referendava a autoridade dos professores esto a disposio

dos aprendentes por diversos meios e eles no depende mais do professor para ter

acesso, uma fatia da sua autoridade tambm dispersada. A autonomia docente exercida

enquanto autoridade em relao ao contedo e a prtica pedaggica diluda. Os

aprendentes tem acesso a outras fontes e formas de aprender. Pode-se dizer que h ento

um desempoderamento do professor no sentido tradicional, pois na medida em que

desenvolve novas formas de exerccio da docncia em rede h tambm uma

ressignificao da autonomia e da autoridade docente. Passa haver outra forma de

autonomia que no restringe ao docente, mas uma autonomia que apropriada por meio

da gesto da aprendizagem em rede. Dessa forma a autoridade do professor que est

relacionado com sua capacidade de exercer a dinamizao da rede enquanto os

aprendentes tm uma apropriao da autonomia exercida na rede de aprendizagens.

Para entender o conceito de autonomia Vera Lucia Paiva apresenta em um artigo 15

definies de autonomia (Paiva, 2006, pp. 80-88) que nos ajuda tambm a perceber


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como a autonomia vem sendo entendida, embora nem sempre discutida

sistematicamente e de forma objetiva na formao acadmica. A mesma autora (2006,

p. 90) tambm apresenta um sumrio em 12 pontos com os diferentes aspectos da

autonomia, aos quais concordamos e passamos a reproduzi-los:

1. Autonomia envolve a capacidade inata ou aprendida;

2. Autonomia envolve autoconfiana e motivao;

3. Autonomia envolve o uso de estratgias individuais de aprendizagem.

4. Autonomia um processo que se manifesta em diferentes graus;

5. Os graus de autonomia no so estveis e podem variar dependendo de

condies internas ou externas;

6. Autonomia depende da vontade do aprendiz em se responsabilizar pela prpria

aprendizagem;

7. Autonomia requer conscincia do processo de aprendizagem;

8. Autonomia est intimamente relacionada s estratgias metacognitivas:

planejar/tomar decises, monitorar, e avaliar;

9. Autonomia abarca dimenses sociais e individuais;

10. O professor pode ajudar o aprendiz a ser autnomo tanto na sala de aula quanto

fora dela;

11. Autonomia, inevitavelmente, envolve uma mudana nas relaes de poder;

12. A promoo da autonomia do aprendiz deve levar em considerao as

dimenses psicolgicas, tcnicas, sociais e polticas.

Percebe-se, portanto, que a questo da autonomia precisa ser entendida em sua

complexidade enquanto parte da formao esperada pela sociedade e no apenas com

capacidades instrumentais dos sujeitos. Essa instrumentalidade do sujeito enquanto

caracterstica da autonomia bem presente nos estudos sobre a educao mediada por

tecnologias, como aparece no glossrio da obra de Moore e Keasley (2007, p. 348)

quando ele apresenta uma relao direta entre a distncia do relacionamento e a

necessidade de autonomia

O conceito de que as pessoas tem capacidade para tomar deciso a respeito do que, como e em que grau aprendem. As pessoas diferem em sua capacidade, porem, esta pode ser desenvolvida, quanto maior a distncia do relacionamento


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maior a necessidade de autonomia. Na teoria do relacionamento a distncia, os programas podem ser classificado com o grau exercido de autonomia do aluno.

O que fica claro que a preocupao desses autores com a autonomia deve-se

distncia geogrfica entre o aprendentes e professores quando dependia da iniciativa do

aprendente para que disponibilizasse tempo para o estudo, acessasse os contedos,

estudasse e procurasse seus professores quando necessrio. Fala-se, portanto, de um

problema que se resolveria se fosse em uma situao de ensino presencial, trata-se de

uma autonomia instrumental mas no necessariamente cognitiva.

Porm, concordamos com Paiva (2006, p. 88) quando afirma que a autonomia

no uma questo apenas de assumir a responsabilidade pela prpria aprendizagem,

no algo dado pela abordagem ou tolerado pelo professor. algo muito mais

complexo. O foco da nossa discusso a construo da autonomia do aprendente em

relao a sua capacidade crtica de leitura e interveno no mundo.

Circunstancialmente, consideramos que a autonomia est implcita na gesto da

aprendizagem e propriamente dita nos cursos online, na medida em que, como j

afirmava Paulo Freire:

S aprende verdadeiramente aqule que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isto mesmo, reinvent-lo; aqule que capaz de aplicar o aprendido apreendido a situaes existenciais concretas (Freire, 1983, p. 16).

nesse sentido que a autonomia na gesto da aprendizagem no pode ser

considerada como uma concesso ou como uma necessidade relacionada com

determinada situao. At porque o aprendente do curso presencial fica pouco tempo

com o professor e esse tempo ainda utilizado para transmisso de contedos e muito

pouco para as orientaes sobre a aprendizagem ou para conhecer a histria e o contexto

vivido pelo aprendente. Entende-se que autonomia seja a contribuio do processo

educativo fundamental para que os aprendentes desenvolvam a capacidade de intervir

de forma consciente na sociedade. Dessa maneira, o educador assumindo-se como

sujeito tambm da produo do saber, se convena definitivamente de que ensinar no

transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produo ou a sua

construo. (Freire, 1996, p. 12).

Em outras palavras, a aprendncia pode conduzir para a apropriao da

autonomia de forma direta quando a docncia tem por objetivo estimular a pesquisa e

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dinamizao das redes de aprendizagens. Permite pensar contrariamente e no se limita

a gesto do ensino restrito a inventar problemas que os aprendentes no os reconhecem

e solucion-los sem tem havido questionamentos. A docncia orientada pela gesto da

aprendizagem pressupe a participao ativa dos aprendentes na inveno dos

problemas o que implica menos demanda ao professor para soluo e maior a

apropriao da autonomia.

Mtodo

Objetivos

A Universidade Federal do Tocantins (UFT), no perodo 2010/2011, em parceria

com a Unio Nacional dos Dirigentes Municipais - UNDIME e a Secretaria Estadual de

Educao - SEDUC ofereceu o Curso de Especializao em Coordenao Pedaggica

(CECP), realizado no mbito do Programa Nacional da Escola de Gestores da Educao

Bsica do Ministrio da Educao por meio da Secretaria de Educao Bsica. Foram

matriculados 400 professores que atuavam como coordenadores pedaggicos, oriundos

de 83 dos 139 municpios (60%) do Estado do Tocantins. Esses professores foram

distribudos em 10 turmas de 40 alunos localizadas em sete polos regionais. Para este

trabalho quis saber o que os professores esperavam dos aprendentes e qual seria a

relao para a construo da autonomia na formao dos aprendentes.

Amostra

Para esta pesquisa optou-se por analisar o ponto de vista dos 10 professores

responsveis pelas turmas no que se refere discusso sobre os contedos de formao

dos aprendentes.

Instrumentos

Utilizou-se um questionrio com trs questes abertas e uma de mltipla escola.

Porm, para esta anlise concentrou-se na terceira questo que solicitava aos professores

que apontassem os aspectos que identificava o grau de autonomia dos aprendentes em

relao ao processo de aprendizagem.

Procedimentos

O questionrio fora disponibilizado na Internet e feito o convite a todos a

participar da pesquisa em um perodo de 30 dias. Depois foram baixadas todas as


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respostas e procedida uma leitura sistemtica para que se destacassem as assertivas

objetivamente. O que gerou uma lista de tpicos organizados em quatro categorias:

domnio da tecnologia, ser proativo, capacidade de leitura e escrita e domnio da

metodologia.

Resultados

Seguem os tpicos extrados das respostas organizados em categorias seguidas de

comentrios.

Domnio da tecnologia

o Progressiva interao com as ferramentas do ambiente;

o Assiduidade nos fruns;

o Socializao de perguntas pertinentes nos fruns;

o Comentrios produtivos nos fruns.

A dialogia esperada nos cursos, em que a interatividade tenha um papel relevante, a

comunicao sncrona no ser, necessariamente, a estratgia principal. Pelo contrrio,

o uso de recursos que possibilitam a comunicao assncrona de qualidade pode ser

fundamental por se tratar de curso online em que os participantes tm acesso a qualquer

hora do dia. As questes apresentadas nessa categoria tem relao direta com a

estratgia de comunicao utilizada no curso, no formato de fruns de estudos ou

integrao do grupo. Alis, a participao nos fruns fez parte do processo de avaliao

quantitativa e qualidade da participao, conforme orienta Silva, M. (2006, p. 72).

Ser proativo

o Ser participativo;

o Ser colaborativo;

o Desempenho nas atividades postadas no ambiente virtual;

o Identificao de oportunidades de aprendizagem;

o Disciplina de acesso e estudos.


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A proatividade uma das condies mais esperadas de um aprendente que se

candidata a um curso online, nesse caso a proatividade sinnimo de autonomia na

gesto da aprendizagem. Afinal, por mais que haja um bom contedo, um ambiente bem

desenhado e professores que saibam de fato trabalhar on line, mais o aprendente deve

ter a iniciativa de acessar ao curso, navegar entre os recursos disponveis e interagir de

forma que constitua a rede de aprendizagem. Essa uma dificuldade comum, pois h

uma forte referencia dos aprendentes pedagogia da transmisso onde o aprendente

senta na sala de aula e espera os estmulos do professor. Contrariando, deste modo o que

se espera de aprendentes e professores on line.

Capacidade de leitura e escrita

o Aprimoramento no envio de mensagens e postagens dos textos conforme

normas acadmicas;

o Qualidade das participaes online;

o Progressiva melhora na produo de texto;

o Melhora na escrita das atividades sugeridas.

Categoria comum aos cursos virtuais por ser uma competncia instrumental para

a realizao de uma aprendncia com autonomia. Os cursos online so fortemente

referenciados pela leitura e escrita, no apenas de textos, mas tambm de diversas

linguagens que a tecnologia digital dispe nos ambientes virtuais. Ou seja, estudar

online pode ser mais exigente nesse aspecto, pois se o aprendente no tiver um bom

domnio da lngua ter mais dificuldade para apropriar das diversas linguagens que

podem ser usadas num ambiente virtual.

Domnio da metodologia

o Melhora quanto s intervenes e posturas nos encontros presenciais;

o Articulao dos estudos com a prtica docente diria;

o A busca de informao complementar;

o Apropriao do material do curso.

O domnio da metodologia na forma que aparece nas respostas da terceira

questo est relacionado especificamente com o CECP. Embora os tpicos acima no


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sejam exclusivos ao curso em questo, havia uma referncia clara ao que se esperava

para que os aprendentes tivessem de fato uma autonomia, principalmente instrumental.

Pode-se observar que h um entendimento do que seja o exerccio da autonomia na

gesto da aprendizagem e at mesmo um desejo que os aprendentes exeram a sua

autonomia.

Discusso e Concluses

Todas as habilidades que os professores indicaram como importantes para o

exerccio da autonomia tambm consideramos necessrias no contexto do curso. Porem,

preciso questionar a formao que os aprendentes desse curso tiveram. Sendo eles

oriundos de uma educao predominante tradicional torna-se difcil encontrar nos

aprendentes as competncias e habilidades que os professores indicaram nas suas

respostas. A forma tradicional de ensinar identificada por Freire (1979) como educao

bancria no contribui significativamente para a construo da autonomia e da

criatividade, ao contrrio pode contribuir para uma cultura da passividade e

conformidade. Diz Freire (1979, p. 20)

O educando recebe passivamente os conhecimentos, tornando-se um depsito do educador. Educa-se para arquivar o que se deposita. Mas o curioso que o arquivado o prprio homem, que perde assim seu poder de criar, se faz menos homem, uma pea. O destino do homem deve ser criar e transformar o mundo, sendo o sujeito de sua ao.

Segundo Freire e Shor (1986, p.78) A violncia simblica das autoridades, no

dia-a-dia e na escola, tenta ensinar as pessoas a desistir de seus direitos autonomia e

ao pensamento crtico. Apontam ainda, que h uma cultura do silncio instituda nas

escolas americanas por meio da desvalorizao da subjetividade e das aes dos

aprendentes, a essa violncia simblica combatida por uma cultura da sabotagem

pelos aprendentes. H o culto ao silncio em contraponto ao que se considera problema

o alarido da escola.

preciso muito cuidado nos cursos online porque, em tese, uma forma de

aprendncia estruturada a partir do silncio. Cabe aos educadores criar condies e ter

a sensibilidade para ouvir as renncias de atividades, as desculpas como justificativas,

as longas ausncias, a falta de exemplos prticos nos exerccios, criar canais que


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permitam que os aprendentes possam fazer suas reclamaes sem constrangimentos. O

silncio dos ambientes virtuais pode ser o resultado de uma educao bancria

mediada por TDCI.

Freire (1979, p. 21), ao analisar a educao bancria, afirmou que os que

advogam essa forma de ensinar pensa que quanto mais se d mais se sabe. Mas a

experincia revela que com este mesmo sistema s se formam indivduos medocres,

quando no h estmulo para a criao. De fato, essa estratgia de ensino contrape a

toda proposta que supe a construo da autonomia por no colocar o sujeito

cognoscente no centro do processo. Nesse caso, possvel que haja aprendentes muito

bem avaliados mas que no tenham um bom desempenho social porque no houve uma

aprendizagem efetiva e sim a memorizao mecnica de contedos. bom lembrar que

a memorizao instrumento para o aprendncia, mas no a aprendizagem

propriamente dita. Nesse caso, a educao bancria, como fora definida por Paulo

Freire, contribua para manter a mediocridade por no ser estimuladora da criatividade.

Fonseca (1998, p. 315) lembra que os professores acusam os aprendentes de no

terem aes formativas consistentes, e consequentemente isso interferiria na conduo

autnoma da gesto da aprendizagem. Porm, segundo ele, O professor o formador

do futuro e tem o dever de preparar o aprendente para pensar, para aprender a serem

flexveis, ou seja, para serem aptos a sobreviverem na nossa aldeia de informaes

acelerada. Dessa forma, papel dos educadores planejarem suas atividades formativas

com o foco na mediao e no processo educativo de forma que o papel docente ligue s

disponibilidades de contedos e aos interesses e necessidades dos aprendentes.

No tiramos a importncia dos contedos, at porque a matria prima para a

construo do conhecimento, mas preciso rever os objetivos e os mtodos para que

valorizem de sobremaneira a aprendncia. Assim, entende-se que a docncia contribuir

para construo da autonomia de pensamentos e para a autorregulao da aprendizagem.

Porm, os contedos sistematizados nos livros didticos precisam ser encarados

simplesmente como uma fonte de informao que disputa espao com tantas outras.

Essa diversidade trs desafios diferentes para os professores e expe os aprendentes a

novos desafios para construo da aprendizagem. Por mais estranho ou desafiador que

parea aos docentes educados e formados por meio de manuais, essa falta de lgica


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nas informaes desestruturadas exige que os aprendentes aprendam a aprender para

que sejam capazes de continuar a construo do conhecimento. Alm disso, a sociedade

atual cobra dos aprendentes que sejam capazes de desenvolver estratgias que permitam

resolver imprevistos, incertezas ou inesperado com as informaes disponveis e ao

alcance de suas competncias de aprendizagem (Morin, 2001). Assim, pode-se dizer que

a autonomia construda por meio da aprendncia e um exerccio de ativao do

poder por meio dos conhecimentos e a capacidade de utiliz-los na atualidade.

nesse contexto que consideramos que o processo educativo formal tem a

responsabilidade de contribuir objetivamente com a construo das competncias para a

gesto autnoma da aprendizagem. No se trata de uma aposta apenas nas competncias

individuais para acessar, organizar, processar e utilizar informaes para a sua

participao social, mas sim de um desenvolvimento social do indivduo que a escola

pode e tem dever de participar objetivamente. Para esta pesquisa advogamos a

caracterizao do termo autonomia contida nos PCNs (MEC/SEF, 1997, p. 62)

A autonomia refere-se capacidade de posicionar-se, elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e cooperativamente de projetos coletivos, ter discernimento, organizar-se em funo de metas eleitas, governar-se, participar da gesto de aes coletivas, estabelecer critrios e eleger princpios ticos, etc. Isto , a autonomia fala de uma relao emancipada, ntegra com as diferentes dimenses da vida, o que envolve aspectos intelectuais, morais, afetivos e sociopolticos. Ainda que na escola se destaque a autonomia na relao com o conhecimento saber o que se quer saber, como fazer para buscar informaes e possibilidades de desenvolvimento de tal conhecimento, manter uma postura crtica comparando diferentes vises e reservando para si o direito de concluso, por exemplo , ela no ocorre sem o desenvolvimento da autonomia moral (capacidade tica) e emocional que envolvem auto-respeito, respeito mtuo, segurana, sensibilidade, etc.

Conforme apresentado neste tpico, as definies como base do discurso para o

conceito de autonomia so bastante diversas. Com base nas leituras apresentadas, e

principalmente nos PCNs (1997), considera-se distinguir a autonomia em 3 nveis

conforme o uso desse conceito nos discursos sobre a educao e sua apropriao

enquanto parte da aprendncia:

(1) Instrumental - a autonomia dos aprendentes dos cursos online uma

necessidade circunstancial que pode ser inclusive uma exigncia do curso.

Assim, a autonomia instrumental a mais difundida entre os estudiosos da

educao e tecnologia por se tratar de um desejo dos docentes que os

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aprendentes tenham iniciativa e possam acessar e realizar suas atividades sem a

insistncia dos professores.

(2) Desenvolvimento cognitivo conceitual - a autonomia retratada pelo esforo

e a capacidade de apropriar dos conceitos que fazem parte do material formativo.

Uma vez compreendido, pode ser utilizado em determinadas atividades e

esquecido, nesse caso no se constitui propriamente numa aprendizagem, ou

associar aos conhecimentos j adquiridos e passa a fazer parte do corpus de

conhecimentos do aprendente;

(3) Critica - nvel mais profundo da aprendncia, o que chamamos de

capacidade crtica proporcionada pelo aprendente. Nesse caso, no h forma

segura de avaliao que possa medir a autonomia crtica, considerando que

nem mesmo o prprio aprendente sabe realmente o qu e o quanto aprendeu,

mas constitui a base para sua viso de mundo. O quadro a seguir apresenta

esquematicamente as principais caractersticas em cada nvel de autonomia.

Em sntese, a autonomia deve ser apropriada como fator constitutivo da

cidadania e no apenas como uma questo pedaggica para a mediao em ambiente

virtual de aprendizagem. Deve ser um princpio norteador da aprendncia que deve ser

institudo em todas as instncias do processo pedaggico. No se espera que os

aprendentes sejam autnomos, a autonomia deve ser parte da gesto da aprendizagem

enquanto eixo rizomtico que constitui a proposta pedaggica. Todas as competncias e

habilidades previstas em um projeto pedaggico devem ser orientadas para aprendncia,

o que parece redundante, mas os vcios de nortear o processo educativo pela gesto do

ensino facilmente submete a aprendncia a questes administrativas que dificulta e at

impede a gesto da aprendizagem apropriao da autonomia. Alem do mais, a

apropriao da autonomia pode possibilitar conflitos que em um curso centralizado na

docncia no permitiria. Todavia, entende-se que a autonomia no nasce da ausncia

de diretividade, mas da conscincia dos direitos e dos deveres de um membro ativo da

vida social (Dubreucq, 2010, p. 33). Sendo assim, a qualidade da aprendncia no est

condicionada a ausncia de conflitos ou qualquer outra dificuldade presente, mas de

como participamos e envolvemos os aprendentes enfrentamento dos desafios

vivenciados.


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Referncias

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Agradecimento: Este trabalho financiado por Fundos Nacionais atravs da FCT - Fundao para a

Cincia e a Tecnologia no mbito do projecto PEst-QE/CED/UI1661/2011 do CIEd.

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