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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMBALAGEM
DESENVOLVER, VALORIZARE INTEGRAR TODA A CADEIA DA EMBALAGEM BRASILEIRA. ISSO É O QUE NOS MOVE.
[email protected] 3060-5510
Faça parte da ABRE!
anuncio_24x33cm_agosto2014_SAIDA.pdf 1 04/9/14 11:06 AM
EDITORIAL| 1
Coordenação Geral Infolio Editora
Diretor Executivo Wilgor Caravanti
Diretor de Criação Ericson Straub
Gerente de Projetos Rodrigo Robinson
Redação Larissa Féria e Rodrigo Forbeck
Revisão Alessandro Barbosa e Mônica Ludvich
Designers Fernando Ratis, Patricia Bianco e Rafaela Lech
Ilustração e Capa Fabiano Vianna
Fotos Eduardo Magno
Colaboradores Fabio Haag, Leandro Haberli, Roger Marzochi e Tati Rossi
Impressão Maxi Gráfica
TiragemI 2.000 unidades Venda proibida Distribuição dirigidaWLOWICZ
Conselho Editorial Fernando Faria, Marta Cardoso, Gisela Schulzinger, Gian Franco Rocchiccioli e Lucas Martini
Chief Executive Officer Fernando Faria
Chief Creative Officer Marta Cardoso
Chief Financial Officer Cristina Pacini
Chief Branding Officer Gisela Schulzinger
Chief Strategy Officer Gian Franco Rocchiccioli
A revista da PANDE é uma publicação da PANDE.
Rua Fiandeiras, 929 - 8º andar Vila Olímpia - São Paulo - SP CEP 04545-006 Tel.: +55 11 3849 9099
www.pande.com.br
UM PAÍS EM TRANSFORMAÇÃO
Dentro da PANDE, o design sempre foi visto como uma ferramenta
estratégica. Em nosso dia a dia, praticamos processos que criam marcas
preparadas para vencer, independentemente do cenário em que este-
jam inseridas. Essa forma de agir e de pensar é descrita em alguns dos
conteúdos que você encontrará nesta revista. São artigos e matérias,
algumas feitas com o auxílio de especialistas e convidados, que abor-
dam o design em seus mais interessantes aspectos e refletem o nosso
modo de construir e transformar marcas.
Boa leitura!
Fernando Faria Chief Executive Officer
Trabalhar com marcas é interagir com um universo de significados e
linguagens que está em constante mudança. A relação entre cliente e
marca torna-se cada vez mais próxima e humana. E este novo cenário
faz com que a construção de grandes marcas não seja mais privilégio
exclusivo de grandes organizações.
O momento é favorável para todos. Temos acompanhado a crescente
valorização do design brasileiro no exterior e como os investimentos
em design vêm crescendo no Brasil, ganhando incentivos inéditos do
governo brasileiro e da iniciativa privada.
Em parte, este novo momento é fruto de ações como as promovidas
pela Apex-Brasil na figura de seu presidente Maurício Borges, relata-
das em nossa reportagem de capa. Nela, mostramos como empresas
inovadoras têm mais sucesso em suas estratégias de exportação, além
de obter melhores resultados no mercado externo. É o Brasil em movi-
mento, se transformando. Reinventando-se.
S U M Á R I O03
WINNABILITY _
UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE _
0408
12
13
17
18
20
24
26
SUA MARCA SABE FALAR? _A especialista da PANDE em identidade verbal mostra como o posicionamento de uma marca está ligado às
palavras que ela usa.
FONTES DE INSPIRAÇÃO _Profissionais da PANDE revelam como atividades fora
da agência os inspiram em seus trabalhos.
REINVENTANDO O BRASIL _Maurício Borges, presidente da Apex-Brasil, comenta sobre as ações que vêm adotando para reposicionar a imagem do país no exterior.
TECNOLOGIA DE PONTA _Como o design e a inovação têm impulsionado a produção
brasileira de dispositivos médicos, hospitalares e odontológicos.
O BRASIL ENTRA NA MODA _Conheça a iniciativa que uniu associações para mudar a imagem da moda brasileira no mercado internacional.
DESIGN NA PELE _Couro made in Brazil: design, processos e criatividade.
COMPETITIVIDADE BEM GUARDADA _Como a fabricante de cadeados Papaiz diferenciou seus produtos e criou um novo nicho de mercado.
MODELO PARA O BRASIL _
Como criar diferenciais competitivos a partir de uma identidade que expressa as estratégias da marca.
Gian Franco Rocchiccioli, Chief Strategy Officer da PANDE, aborda a competitividade das empresas sob uma nova perspectiva.
A FORÇA ALÉM DAS PALAVRAS _
30As sensações provocadas pela tipografia comentadas pelo especialista em design tipográfico Fabio Haag.
CRIAÇÃO COLETIVA _32 Gisela Schulzinger, Chief Branding Officer da PANDE, indica como empresas podem promover a inovação em seus negócios.
FACES DA CRIATIVIDADE _34Mentes altamente criativas como Ronaldo Fraga e
Romero Britto revelam suas fontes de inspiração.
BRASIL GANHA LINHA DE CRÉDITO EXCLUSIVA PARA DESIGN _
40BNDES lança o Prodesign, programa de apoio a investimentos na indústria criativa com orçamento de
R$ 500 milhões e juros baixos.
ALÉM DAS FRONTEIRAS _42 Brasil se destaca na Economia Criativa e o design brasileiro começa a atrair o interesse de empresas internacionais.
BRAND GAME _
46Jogo criado pela PANDE desenvolve noções de estratégia para a construção e consolidação de marcas.
Coreia do Sul: as lições que o país ensinou ao mundo.
S U M Á R I OOPINIÃO_TATI ROSSI|3
Assim como as palavras são a
expressão do nosso pensamento,
para uma marca, elas são a ex-
pressão do seu posicionamento.
O que a gente fala e como a gen-
te fala dizem muito sobre quem
a gente é. Os valores em que
acreditamos, cada história que vi-
vemos, a cultura na qual estamos
inseridos, as experiências pelas
quais passamos. Tudo isso ajuda
a construir nossa identidade, que
se manifesta por palavras todas
as vezes em que falamos algo.
Com as marcas é a mesma coi-
sa. Suas palavras podem refletir
seus valores, histórias, culturas,
experiências. E quando todos es-
ses discursos estão alinhados em
forma e conteúdo, eles constro-
em o que em branding chama-
mos de identidade verbal. Por
SUA MARCA SABE
Falar?isso, quanto mais as palavras de
uma marca são pensadas para
refletir seu posicionamento, mais
real e crível ela vai se tornando.
Mais a marca é o que é, e mais
consistentemente ela é capaz de
evoluir para o que deseja ser.
Pense quantas pessoas estão
em contato com você diariamen-
te e o quanto você fala, conversa,
explica, troca mensagens e textos
com elas. Imagine o tamanho
do impacto das palavras de uma
marca, então. Pelo simples fato
de ter um site, por exemplo, ela
já tem o potencial de conversar
com o mundo inteiro.
Quando uma marca entende
que as oportunidades de se ex-
pressar com palavras são oportu-
nidades para afirmar quem ela é,
ela entende que pode aproveitar
todos esses momentos para se
consolidar mais e se tornar mais
reconhecida. E eles acontecem o
tempo todo, do nome da marca
à forma como um funcionário
atende o telefone, do discurso do
presidente aos textos das emba-
lagens de produtos.
Falando nisso, qual o nome
da sua marca? Ela já tem um
nome? E os valores nos quais
acredita? Como ela surgiu, com
que propósito, o que oferece?
Como isso poderia se expressar
com palavras, de um jeito pró-
prio e cheio de personalidade?
Assunto é o que não vai fal-
tar. Porque com certeza, assim
como acontece conosco, uma
marca já tem muitas histórias
antes mesmo de nascer. Mas a
forma como elas são contadas
pode ser criada, construída e re-
novada por diversas ferramen-
tas de identidade verbal.
E como o discurso é também
um exercício de autoconstrução,
além desse tipo de trabalho aju-
dar a consolidar a imagem de
uma marca, ele contribui para
que ela se questione, se enten-
da e amadureça continuamente.
Tanto em relação ao seu propósi-
to quanto nos vínculos que cons-
trói a cada palavra, com todas as
pessoas que têm contato com
ela. Porque quanto mais uma
marca fala, mais se fala dela,
mais ela sabe de si, mais ela tem
para falar.
Tati Rossi é a especialista da PANDE em Identidade Verbal
4|LADO B
FONTES DE
INSPIRAÇÃOO exercício diário da criatividade exige mais do que inspiração. Vivências culturais, trabalhos comunitários e remixes de ideias também ajudam a expandir a mente. Leia abaixo seis histórias de profissionais da PANDE capazes de inspirar a geração de novas ideias
Terapia com as mãosQuando criança, lembro de me sentar com minha Obatiam (avó) e minha mãe para fazer origamis. Desde então, utilizo essa técnica para trabalhar a paciência e a herança cultural de minha família. Recentemente, fiz a decoração da festa do meu afilhado com 17 bonecos dos Minions em papel color plus, cada um com 800 minúsculas pecinhas encaixadas umas nas outras. Fazer origamis, por ser uma tarefa tão minuciosa e requerer muita concentração, me ajuda a ficar mais calma e a ter mais paciência para resolver os desafios do dia a dia.
MELISSA MAYUMI KATAYAMA Gerente de Finalização
O mundo mágico da DisneyTive a oportunidade de fazer um intercâmbio mais que especial para trabalhar na Disneyland. Minha função era cuidar dos personagens em vários locais diferentes dos parques. Foi uma realização trabalhar em uma das empresas mais inspiradoras do mundo na área de entretenimento. Pode-se dizer que tive o pacote completo. Hoje, carrego lembranças de dois meses intensos, de experiências inesquecíveis e de muita aprendizagem sobre como é possível inspirar as pessoas a partir da criatividade. RENATA THOMAZ DesignerTransformação pela fé
Desde 2004 aprendi a exercer a fé de uma forma diferente. Fui a uma reunião de oração na casa de um amigo que teve um impacto muito grande em minha vida. Há cinco anos eu e meu marido fazemos esse mesmo tipo de reunião em nossa casa. Recebemos cerca de 30 pessoas para ouvir uma palavra que ensina princípios e como aplicá-los no cotidiano. São conhecidos, desconhecidos e amigos de amigos, de todas as idades e classes sociais. Tudo isso ajuda muito no meu dia a dia, inclusive no trabalho.
CAMILA COUTINHO Gerente de Atendimento
FOTOS_EDUARDO MAGNO
LADO B|5
A descoberta no teatroQueria ter um hobby e pensei: "O que eu gosto de verdade?". Lembrei do teatro e comecei a procurar cursos, até que uma amiga sugeriu que eu assistisse a uma peça do grupo Oficina dos Menestréis. Adorei e no dia seguinte me inscrevi para fazer a montagem do "Vale Encantado". São sete meses de curso. Escolhi fazer a personagem Mulher Maravilha por também ser morena. Esse curso me ajudou a ser mais alegre, independente, confiante e intuitiva.
ADRIANA PEIXOTO Atendimento
Uma boa história para contarSempre quis fazer um trabalho voluntário com o qual me identificasse, até que em 2011 conheci a Associação Viva e Deixe Viver, que promove a contação de histórias para crianças em hospitais. É muito gratificante poder contribuir de alguma forma para o bem-estar emocional dessas crianças. Não tenho dúvida que foi esse envolvimento com elas que me inspirou a escrever e ilustrar meu primeiro livro infantil: “O Gato do Rabo Comprido”.
RENATA ALMEIDA Diretora de Criação
Esporte para aliviar o estressePor orientação do meu pai, pratico natação desde criança. Já aos 4 anos comecei a me destacar e a participar de campeonatos. A partir de 2003, me especializei em provas de águas abertas. Participo de diversas provas no ano. A competição mais longa na qual nadei foi em 2005. Foram 40 quilômetros no Rio Tietê, da cidade de Barra Bonita a Bauru. Praticar esporte me dá mais disposição para lidar com o estresse do dia a dia e me ajuda a ficar com a cabeça tranquila.
HIGOR AGOSTINI DOS SANTOS Gerente de Novos Negócios
8|CAPA
Pensar muito além dos este-
reótipos. Misturar inovação, cul-
tura, tecnologia e alegria brasi-
leiras com estratégias atraentes
aos investidores estrangeiros.
É com um olho na criatividade
que o Brasil sempre teve e outro
nas tecnologias e estrutura re-
cém-conquistadas que Maurício
Borges vem fazendo com que o
design nacional seja visto de for-
ma inédita lá fora.
Indicado pela própria presiden-
te Dilma Rousseff, Borges assu-
miu em 2011 a presidência da
Hoje eles querem a criatividade brasileira e não apenas nossa matéria-prima. Maurício Borges, presidente da Apex-Brasil, faz o nosso design ser visto lá fora. Conduzindo estratégias de design thinking e inovação, Borges soma forças de indústrias para que os produtos brasileiros cheguem mais fortes ao mercado estrangeiro
Reinventando O BRASIL
Apex-Brasil – Agência Brasileira
de Promoção de Exportações e
Investimentos − e, de lá pra cá,
vem surpreendendo o mercado
de exportação com plataformas
de negócio diferentes, aprovei-
tando em suas estratégias o am-
biente caloroso e a receptivida-
de que encantam o estrangeiro.
Bacharel em Ciências Jurídicas
pela Universidade de São Paulo
(USP), com doutorado em Direi-
to Internacional e mestrado em
Direito Comercial Europeu pela
Universidade de Bristol, na Ingla-
terra, o presidente da Apex-Brasil
acredita que a crise nos mercados
desenvolvidos os obriga a bus-
carem alternativas com quem já
lidou com dificuldades em outras
épocas. Ou seja, os brasileiros
passaram por décadas de insta-
bilidade econômica, por isso têm
a vivência que muitos outros
mercados não experimentaram
e podem, então, oferecer-lhes
soluções inovadoras e sustentá-
veis. “O mundo diminuiu o ritmo
de comércio, mas sempre existe
uma oportunidade. Se um país
POR_RODRIGO FORBECKFOTO_ ASSESSORIA DE IMPRENSA APEX-BRASIL
CAPA|9
"O mundo diminuiu o ritmo de comércio, mas sempre existe uma oportunidade. Se um país tem uma crise, é possível focar em produtos que vão ajudá-lo a enfrentar essa crise."Maurício Borges, presidente da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos)
Reinventando O BRASIL
“Muitos não imaginavam como é a tecnologia brasileira, o know-how brasileiro, a criatividade. O design e a inovação estão entre nossas principais ferramentas para o aumento da competitividade lá fora”, analisa Maurício Borges.
REINVENTANDO PERCEPÇÕES
Há uma década ou duas, o Brasil era sinônimo de exportador de commodities; hoje é visto por muitos mercados internacionais como um forte fornecedor de tecnologia, criatividade e inovação.
tem uma crise, é possível focar
em produtos que vão ajudá-lo a
enfrentar essa crise”, analisa.
E como apresentar nossas
ideias para os que enxergam no
Brasil apenas um fornecedor de
commodities?
Uma das estratégias do presi-
dente da Apex-Brasil é construir,
de fato, uma experiência com a
marca Brasil, aproveitando a es-
trutura de grandes eventos in-
ternacionais, como o Carnaval
ou mais recentemente a Copa
do Mundo. A ideia é aproximar
os executivos e compradores em
um ambiente informal, construin-
do relações de confiança que
tenham como desfecho novos
negócios. Borges os chama para
os eventos festivos e aproveita a
visita para demonstrar que o po-
tencial da indústria brasileira está
muito além do que se conhecia
há alguns anos. De acordo com
o balanço da Apex-Brasil, os re-
sultados das ações da entidade
na Copa do Mundo no Brasil, na
qual cerca de 2.386 empresários
e investidores de 104 países es-
tiveram, comprovam que a estra-
tégia vem trazendo resultados.
“Nos próximos 12 meses serão
concretizados os US$ 6 bilhões
em exportações e investimentos
atraídos ao país, conforme o pre-
visto”, ressalta Maurício Borges.
“Muitos não imaginavam
como é a tecnologia brasileira, o
know-how brasileiro, a criativida-
de. O design e a inovação estão
entre nossas principais ferramen-
tas para o aumento da competiti-
vidade lá fora”, conta.
Só durante a Copa, foram 2,3
mil convidados estrangeiros sen-
do recepcionados por mais de
700 empresas e entidades seto-
riais brasileiras.
Grande entusiasta do design e
da inovação como elementos fun-
damentais para competitividade,
Borges vem apostando no marke-
ting de relacionamento como es-
tratégia para tornar conhecida a
criatividade brasileira.
Além disso, os investidores in-
ternacionais valorizam muito a no-
ção de continuidade e, dentro da
10|CAPA
Os empresários e investidores visitantes
representam 104 países diferentes.
2.386 empresários e investidores estiveram no país entrando em contato
com as ações da Apex-Brasil.
US$ 6 bilhões em exportações e investimentos serão
concretizados nos 12 meses seguintes ao evento.
Cerca de 700 empresas e entidades setoriais brasileiras recepcionaram os convidados
internacionais.
NÚMEROS DA COPA
Durante a última Copa do Mundo no Brasil, a Apex-Brasil atraiu em-presários e investidores interna-cionais ao país. Confira o balanço dos resultados das ações durante o mundial.
Apex-Brasil, Maurício está atento
a seus anseios. “Hoje, as empre-
sas apoiadas pela agência têm um
índice de 80% de permanência na
atividade de exportação, enquan-
to empresas não apoiadas pela
Apex-Brasil apresentam um indi-
cador de apenas 45%”, comen-
ta. A PANDE, por exemplo, pôde
conhecer as melhores estratégias
para a internacionalização graças
ao projeto Brasil Design, progra-
ma da Abedesign (Associação
Brasileira de Empresas de Design)
que promove diversas ações para
a expansão do design brasileiro no
exterior e conta com o apoio da
Apex-Brasil. No programa, a em-
presa foi preparada para detectar
as oportunidades e o potencial de
negócio dos mercados internacio-
nais que prospectava. O resultado
desse apoio fica evidente com o
aumento de 400% no volume de
exportação no primeiro trimestre
de 2014, comparado ao mesmo
período de 2012.
A teoria de que empresas ino-
vadoras são internacionais por
vocação encontra respaldo na
pesquisa "Inovações, padrões
tecnológicos e desempenho das
firmas industriais brasileiras",
conduzida pelo Instituto de Pes-
quisa Econômica Aplicada (Ipea).
Segundo o estudo, as empresas
inovadoras têm 16% mais chan-
ces de sucesso na exportação e
conseguem colocar seus produtos
no exterior por um preço superior
ao das demais exportadoras.
E se por um lado o Brasil per-
deu parte da demanda de seus
antigos mercados, como a Ar-
gentina, já pode ir se preparando
para dar as caras em territórios
antes inimagináveis. Borges prevê
que “no médio prazo, entre dois
e cinco anos, podemos pensar em
mercados que vêm apresentando
crescimento, como os países afri-
canos Moçambique, Nigéria e
Angola, os asiáticos China, Índia
e Indonésia, os sul-americanos
Peru e Colômbia. Além do Mé-
xico, Rússia e Emirados Árabes.
Paralelamente, seguiremos tra-
balhando em mercados robustos
como os Estados Unidos, a Ale-
manha, a Inglaterra e o Japão”.
Nenhuma das apostas é feita no
escuro, garante ele. “A disponibi-
lização de informações sobre os
mercados externos, por meio de
inteligência comercial, é o serviço
de informação estratégica elabo-
rado pela Apex-Brasil para as em-
presas e entidades setoriais que
participam dos nossos projetos. É
um trabalho essencial, que avalia
necessidades, demandas, carac-
terísticas de determinado merca-
do, antes mesmo de iniciarmos
nossa prospecção. E as ações de
capacitação ajudam a desenvolver
nas empresas as habilidades ne-
cessárias para atuar em mercados
internacionais. Dentro desse esco-
po, são avaliados processos e até
mesmo a qualidade dos produtos
e serviços exportados”.
Com o apoio que precisa para
se posicionar estrategicamente
no mercado externo, o design
nacional tem se revelado com-
petitivo, atraente e capaz de
impulsionar o potencial criati-
vo e inovador do Brasil para o
mundo todo.
“As ações de capacitação ajudam a desenvolver nas empresas as habilidades necessárias para atuar em mercados internacionais.” Maurício Borges
CAPA|11
12|ECONOMIA CRIATIVA
Incentivar a indústria nacional
de dispositivos de saúde a inserir
design e inovação no processo de
desenvolvimento de seus produ-
tos, de modo a ganhar mercado
dentro e, principalmente, fora do
país. Esse foi o principal objetivo
do workshop de Design Thinking
apresentado pela PANDE aos fa-
bricantes de artigos médicos,
odontológicos, hospitalares e de
laboratório ligados à Associação
Brasileira da Indústria de Artigos
e Equipamentos Médicos, Odon-
tológicos, Hospitalares e de Labo-
ratórios (ABIMO).
A iniciativa foi idealizada em
parceria com a Apex-Brasil, que
tem promovido feiras e missões
para fortalecer a imagem do
setor de equipamentos médi-
cos em mercados que até então
eram pouco explorados. “As es-
tatísticas apontam que empresas
que investem em design podem
aumentar suas vendas. No setor
de produtos para saúde não é
diferente. Acreditamos que o
design contribui para a imagem
da empresa e agrega valor ao
produto, conferindo característi-
cas de qualidade, confiabilidade,
segurança e tecnologia. Ou seja,
o design não tem função apenas
estética”, fala Clara Porto, coor-
denadora de Promoção Comer-
cial da ABIMO.
Entre as empresas participan-
tes, não faltam exemplos inspi-
radores de novos dispositivos de
saúde que carregam design e
inovação em seu DNA. A Fanem,
por exemplo, venceu os prêmios
Inova Saúde da ABIMO e Hospital
Best da Associação Brasileira de
Medicina do Sono (ABMS) com
o produto Duetto 2386, uma
incubadora de funções híbridas
que opera como incubadora e
berço aquecidos. “Trabalhamos
o design pensando em facilitar
o uso e a assepsia dos produtos,
evitando possíveis contamina-
ções, já que atuamos na área mé-
dico-hospitalar. O workshop de
Design Thinking foi importante
porque nos apresentou um novo
olhar sob a tradicional forma do
pensamento em busca de alter-
nativas capazes de ampliar os ho-
rizontes”, afirma Meire Raquel,
gerente de Marketing da Fanem.
Meire destaca o trabalho feito
pela Apex para a expansão no
WORKSHOP DE DESIGN THINKING
O QUE É?
• Usando a abordagem do Design Thinking, a PANDE en-
sina as empresas a pensarem de maneira criativa na so-
lução de problemas, mantendo o foco nas pessoas, suas
necessidades e seus comportamentos.
• O objetivo é mostrar que com a técnica e a abordagem
adequadas, todos nós, independente de nossas aptidões
profissionais, somos capazes de chegar à solução de pro-
blemas de forma criativa e inovadora.
mercado internacional. “Apesar
de a Fanem exportar desde a dé-
cada de 1970, a parceria com a
Apex foi fundamental para a ex-
pansão da empresa no mercado
internacional. As ações desen-
volvidas pela Apex fortalecem
a imagem do setor de equipa-
mentos médicos como um todo,
beneficiando muitas empresas”,
relata. A participação em proje-
tos de relacionamento promo-
vidos pela associação, como os
feitos na Fórmula Indy, Copa
das Confederações e Copa do
Mundo, também têm contribuí-
do para a aproximação das em-
presas brasileiras com clientes e
prospects internacionais.
PARCERIA DE SUCESSO
Um outro projeto que tem fo-
mentado as exportações das in-
dústrias de artigos e equipamen-
tos da área da saúde é o Brazilian
Health Devices, uma parceria en-
tre a Apex e a ABIMO. Clara Por-
to informa que as 160 empresas
participantes do Brazilian Health
Devices já respondem por quase
26% das exportações de equipa-
mentos de saúde do país. Além
disso, as exportações das empre-
sas participantes aumentaram 7%
entre 2011 e 2013, enquanto as
do setor como um todo sofreram
retração de 14% no período, re-
flexo do crescente déficit da ba-
lança comercial brasileira.
TECNOLOGIA DE PONTA
Em busca de maior reconhecimento internacional, fabricantes nacionais de dispositivos médicos, odontológicos, hospitalares e de laboratório investem em design e inovação
POR_LARISSA FÉRIA
ENTRA NA MODAO BRASIL
Nos últimos anos, graças ao
trabalho de estilistas renomados,
a moda brasileira alcançou iné-
dito reconhecimento internacio-
nal. Tal prestígio, porém, ainda
parece restrito a um seleto time
de profissionais e marcas, en-
quanto lá fora o grosso da pro-
dução da moda brasileira per-
manece pouco valorizado, sendo
muitas vezes associado a meros
estereótipos de um país tropical.
Numa iniciativa destinada a
aumentar a fatia brasileira no
mercado mundial de moda, sete
associações (ABIT, ABEST, ABICAL-
ÇADOS, ASSINTECAL, ABIACAV,
IBGM E CICB) uniram esforços
para reposicionar a imagem do
setor fora – e também dentro – do
país. Liderados pela Apex-Brasil
(Agência Brasileira de Promoção
de Exportações e Investimentos),
o grupo que compõe o Brasil
Apex-Brasil e associações ligadas à moda se unem para reposicionar a imagem do setor no mercado internacional
A cadeia de valor da moda nacional movimenta US$ 74 bi por ano, o equivalente a 3,5% do PIB brasileiro.
Fashion System (BFS) ainda está
em fase final de planejamento,
mas já possui metas e objetivos
muito claros e bem definidos.
Com o intuito de desenhar um
mapa de navegação, a Apex in-
centivou a contratação de uma
empresa de design estratégico
que ficaria incumbida de tocar
o planejamento do projeto. A
PANDE foi a agência escolhida e,
após um ano de trabalho com as
associações, finalizou a elabora-
ção do Plano de Diretrizes Estra-
tégicas que deve nortear as ações
pelos próximos cinco anos.
“A consultoria teve a destreza
de fazer um diagnóstico comum a
partir de visões distintas. Além dis-
so, uma empresa de design estra-
tégico tem um olhar mais calibra-
do para inovação, porque traba-
lha com isso diariamente”, afirma
Rafael do Prado Ribeiro, gerente
de Economia Criativa, Tecnologia
e Saúde da Apex-Brasil.
Para consolidar a percepção in-
ternacional do Brasil como produ-
tor global de moda de qualidade,
a PANDE e os participantes do BFS
decidiram explorar as caracterís-
ticas inovadoras, sustentáveis e
de diversidade do setor. Isto é, os
pontos fortes da moda brasileira,
na visão de compradores e forma-
dores de opinião. França, Itália,
Estados Unidos, China e Inglaterra
foram definidos como países-alvo
no trabalho de promoção no exte-
rior. “Ainda há muito a ser feito,
mas já foi possível perceber que a
união do setor de moda aumenta
a competitividade e a otimização
de recursos, resultando em um
planejamento mais adequado”,
afirma Deborah Rossoni, gerente
de Projetos da Apex-Brasil.
MODA|13
POR_LARISSA FÉRIAFOTOS_EDUARDO MAGNO
Debate sobre a premissa do planejamento estratégico (PE).“O QUE TE FAZ DIFERENTE?”
OBJETIVOAmpliar o entendimento e promover um alinhamento sobre o diferencial competitivo.
#3 APROFUNDAMENTO SOBRE PES
#6.1 DEFINIÇÃO DAS ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS
1.3.1 - ESTRATÉGIA
1.3.2 - ESTRATÉGIA
1.3.3 - ESTRATÉGIA
1.2.1 - ESTRATÉGIA
1.2.2 - ESTRATÉGIA
1.2.3 - ESTRATÉGIA
1.1.1 - ESTRATÉGIA
1.1.2 - ESTRATÉGIA
1.1.3 - ESTRATÉGIA
#1 KICK-OFF
ALINHAMENTO SOBRE:
- OBJETIVOServe para nortear as decisões. Deve ser específico, mensurável e sujeito a prazos.- ESCOPOEspecifica em quais territórios “não entraremos”. Define exatamente o que deve ser feito dentro dos limites estabelecidos.- VANTAGEMAspecto mais crítico da estratégia, resume as atividades singulares que permitem a construção do valor oferecido.
#2 ALINHAMENTO
Discussões individuais com os diferentes agentes
sobre as três principais QUESTÕES
ESTRATÉGICAS.
DEFINIÇÃO DA DECLARAÇÃO ESTRATÉGICA DO BFS
#3 DEFINIÇÕES
OBJETIVOMissão estratégicaVisão estratégica
ESCOPO Cliente / produto Localização geográfica Integração vertical
VANTAGEMProposta de valorAtividades singulares
A definição das principais dimensões do planejamento. Está condicionada ao entendimento da Situação Atual + Objetivo EstratégicoGARGALOS (enfraquecem) + CATALISADORES (aceleram).
2.1 - OBJETIVO 12.2 - OBJETIVO 22.3 - OBJETIVO 3
3.1 - OBJETIVO 13.2 - OBJETIVO 23.3 - OBJETIVO 3
1.1 - OBJETIVO 11.2 - OBJETIVO 21.3 - OBJETIVO 3
#4 DIMENSÕES DO PLANEJAMENTO
Depois de identificadas as dimensões do PE, nosso desafio é a definição dosOBJETIVOS ESTRATÉGICOS ESPECÍFICOS.
#5 DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS
Depois de identificados os OBJETIVOS ESTRATÉGICOS ESPECÍFICOS, partimos para a definição das ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS(conjunto de ações).
#6 DESENHO DAS ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS
Nessa etapa decidiremos quais serão as METAS qualitativas ou quantitativas relacionadas aos resultados a serem alcançados.
#7 DEFINIÇÃO DE METAS
Nessa etapa, nosso objetivo é a construção do PLANO OPERACIONAL, cujo objetivo é garantir a coerência das estratégias definidas e adequação com a capacidade físico-financeira.
#8 DEFINIÇÃO DO PLANO OPERACIONAL
Nesta etapa, nosso objetivo é a construção de um PAINEL DE INDICADORES que servirão de parâmetro para medição e acompanhamento do plano operacional.
#9 DEFINIÇÃODE INDICADORES
METODOLOGIA THE JOURNEYPLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PANDE
14|MODA
Debate sobre a premissa do planejamento estratégico (PE).“O QUE TE FAZ DIFERENTE?”
OBJETIVOAmpliar o entendimento e promover um alinhamento sobre o diferencial competitivo.
#3 APROFUNDAMENTO SOBRE PES
#6.1 DEFINIÇÃO DAS ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS
1.3.1 - ESTRATÉGIA
1.3.2 - ESTRATÉGIA
1.3.3 - ESTRATÉGIA
1.2.1 - ESTRATÉGIA
1.2.2 - ESTRATÉGIA
1.2.3 - ESTRATÉGIA
1.1.1 - ESTRATÉGIA
1.1.2 - ESTRATÉGIA
1.1.3 - ESTRATÉGIA
#1 KICK-OFF
ALINHAMENTO SOBRE:
- OBJETIVOServe para nortear as decisões. Deve ser específico, mensurável e sujeito a prazos.- ESCOPOEspecifica em quais territórios “não entraremos”. Define exatamente o que deve ser feito dentro dos limites estabelecidos.- VANTAGEMAspecto mais crítico da estratégia, resume as atividades singulares que permitem a construção do valor oferecido.
#2 ALINHAMENTO
Discussões individuais com os diferentes agentes
sobre as três principais QUESTÕES
ESTRATÉGICAS.
DEFINIÇÃO DA DECLARAÇÃO ESTRATÉGICA DO BFS
#3 DEFINIÇÕES
OBJETIVOMissão estratégicaVisão estratégica
ESCOPO Cliente / produto Localização geográfica Integração vertical
VANTAGEMProposta de valorAtividades singulares
A definição das principais dimensões do planejamento. Está condicionada ao entendimento da Situação Atual + Objetivo EstratégicoGARGALOS (enfraquecem) + CATALISADORES (aceleram).
2.1 - OBJETIVO 12.2 - OBJETIVO 22.3 - OBJETIVO 3
3.1 - OBJETIVO 13.2 - OBJETIVO 23.3 - OBJETIVO 3
1.1 - OBJETIVO 11.2 - OBJETIVO 21.3 - OBJETIVO 3
#4 DIMENSÕES DO PLANEJAMENTO
Depois de identificadas as dimensões do PE, nosso desafio é a definição dosOBJETIVOS ESTRATÉGICOS ESPECÍFICOS.
#5 DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS
Depois de identificados os OBJETIVOS ESTRATÉGICOS ESPECÍFICOS, partimos para a definição das ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS(conjunto de ações).
#6 DESENHO DAS ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS
Nessa etapa decidiremos quais serão as METAS qualitativas ou quantitativas relacionadas aos resultados a serem alcançados.
#7 DEFINIÇÃO DE METAS
Nessa etapa, nosso objetivo é a construção do PLANO OPERACIONAL, cujo objetivo é garantir a coerência das estratégias definidas e adequação com a capacidade físico-financeira.
#8 DEFINIÇÃO DO PLANO OPERACIONAL
Nesta etapa, nosso objetivo é a construção de um PAINEL DE INDICADORES que servirão de parâmetro para medição e acompanhamento do plano operacional.
#9 DEFINIÇÃODE INDICADORES
MODA|15
SINERGIA
O planejamento coordenado
pela PANDE definiu as metas, as
prioridades e o investimento ne-
cessário para diferenciar os pro-
dutos brasileiros no mercado exte-
rior. A meta é agregar inteligência
competitiva a ações de promoção
comercial, a exemplo de missões
empresariais internacionais e
eventos de moda. “Sem um rumo
é difícil desenvolver qualquer ativi-
dade. O planejamento estratégico
foi importante para unir entidades
que têm atividades complementa-
res e direcionar o caminho a seguir.
Teremos um plano com objetivos,
metas, calendário e orçamento”,
afirma Frederico Bernardo, diretor
da Associação Brasileira da Indús-
tria Têxtil e de Confecção (Abit).
Outra meta do BFS é o desen-
volvimento de plataformas de co-
municação digital e a criação de
estruturas comerciais conjuntas.
“A divulgação da moda brasileira
não pode ser feita isoladamente.
Precisamos integrar ações”, afir-
ma Ilse Maria Bioson Guimarães,
superintendente da Associação
Brasileira de Empresas de Com-
ponentes para Couro, Calçados e
Artefatos (Assintecal).
O próximo passo do BFS passa
pela definição de um plano ope-
racional, de acordo com a capaci-
dade física e financeira do grupo.
“Estamos na fase final do proje-
to. Foi um debate rico, que pro-
piciou o desenvolvimento de uma
análise criteriosa e crítica entre as
associações, que configuraram
iniciativas comuns”, afirma Hei-
tor Klein, presidente-executivo da
Associação Brasileira das Indús-
trias de Calçados (Abicalçados).
Em seguida, a ideia é difundir
esses conceitos para as empresas
ligadas às associações, numa es-
pécie de enraizamento cultural.
“Essa é a parte mais importante.
As empresas ainda não sabem o
que estamos fazendo. É preciso
haver continuidade e um tra-
balho inspirador”, afirma Silvia
Lima, gerente de internacionali-
zação da Associação Brasileira de
Estilistas (Abest).
16|MODA
VALORIZANDO A MODA BRASILEIRA LÁ FORA
O Brasil Fashion System (BFS)
faz parte do Sistema Moda Bra-
sil (SMB) e tem como objetivo
promover a moda brasileira no
mercado exterior. Criado em
2012 pelo Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comér-
cio Exterior, dentro do Plano de
Ações Brasil Maior, o SMB reúne
diversas associações de setores
ligados à moda. O grupo tem
como meta desenvolver proje-
tos, compartilhar informações
e experiências, além de buscar
soluções em conjunto para pro-
blemas comuns.
“O principal ganho do BFS é a maximização
de recursos, a troca de experiência e a
ascensão e promoção da moda.”
Rafael Prado Ribeiro, geren-
te de Economia Criativa,
Tecnologia e Saúde da
Apex-Brasil
“Ao sair do senso comum e criar
novas situações, a metodologia
utilizada pela PANDE fez toda a diferença.
Ela está provocando as pessoas para que
elas pensem além do que sempre foi feito.”
Deborah Rossoni, gerente
de Projetos da Apex-Brasil
“A especialização da PANDE fez a diferença. Ela entende de forma completa o design, conceito que
representa o nosso ponto de convergência.”
Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Calçados (Abicalçados)
“O planejamento estratégico
entrega de bandeja o enraizamento,
que é a parte mais importante para que o
BFS dê certo.”
Silvia Lima, gerente de Internacio-
nalização da Associação Brasileira de
Estilistas (Abest)
“No começo foi difícil convencer que trabalhar junto seria bom
para todos, mas depois as iniciativas começaram a fluir
e dar frutos.”
Ilse Maria Biason Guimarães, superin-
tendente da Associação Brasileira
de Empresas de Componentes
para Couro, Calçados e Artefa-
tos (Assintecal)
“O planejamento estratégico foi fundamental para organizar as
ideias. É difícil para quem está envolvido com o problema
pensar diferente.”
Frederico Bernardo, diretor da Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (Abit)
COURO|17
A ordem de agregar valor atinge
praticamente todos os setores da
economia brasileira. Não é diferen-
te na indústria coureira. Com o se-
gundo maior rebanho do mundo,
o Brasil é hoje um dos principais
fabricantes de couro do mercado
internacional, matéria-prima mui-
to utilizada na moda e no design.
Para os fabricantes, o problema é
que apenas 45% das exportações
do setor são de couro acabado,
que vale muito mais.
“Queremos sair do posiciona-
mento de fornecedor de matéria-
prima e agregar valor ao couro
através do design. Precisamos pro-
mover a aculturação do design na
indústria da pele”, afirma Maurí-
cio Medeiros, consultor do Centro
das Indústrias de Curtumes do
Brasil (CICB).
Do total da produção brasileira
de couro e peles, 70% são desti-
nados ao mercado externo, ten-
do como principal destino a Itália.
Diante da necessidade de aumen-
tar o consumo do couro trabalha-
do e torná-lo mais competitivo no
comércio exterior, surgiu o Design
na Pele. Idealizado pelo CICB, o
programa de incentivo conta com
participação do estilista Ronaldo
Fraga e da artista plástica Heloísa
Crocco, que foram chamados para
dar oficinas criativas e consultorias
nos curtumes de norte a sul.
“Esse projeto motivou as em-
presas a contratar profissionais
para desenvolver novos produ-
tos”, afirma José Fernando Bello,
presidente do CICB.
Nas oficinas criativas foram
desenvolvidos itens como bolsas,
painéis de parede, pufes, luminá-
rias e puxadores. A apresentação
dos produtos criados para o De-
sign na Pele teve início em agosto
de 2013, na Casa Cor Brasil, em
Bento Gonçalves (RS), e foi finali-
zada em março deste ano na APLF,
maior feira do setor de couro no
mundo, realizada em Hong Kong.
A segunda fase do programa
vai envolver trabalhar com gran-
des e médias empresas expor-
tadoras. “A grande cliente dos
curtumes é a indústria de trans-
formação. Queremos influenciar
os empresários do setor para que
eles indiquem o couro a arquite-
tos e designers de interiores, por
exemplo”, explica Medeiros.
Esse trabalho já começa a ren-
der frutos. As exportações de cou-
ros e peles tiveram um crescimen-
to de 25,5% nos quatro primeiros
meses do ano, com US$ 958,6 mi-
lhões. Bello avalia que os números
positivos refletem a valorização do
produto, com um novo posiciona-
mento do couro dentro de diver-
sas indústrias nacionais.
OUTROS CASES DE SUCESSO
Além do Design na Pele, ou-
tros projetos apoiados pela
Apex-Brasil estão sendo desen-
volvidos em linha com o Brasil
Fashion System (BFS). As Mate-
riotecas elaboradas pela Assin-
tecal em conjunto com a Abit
(Associação Brasileira da Indús-
tria Têxtil e de Confecção) apre-
sentam materiais utilizados pe-
las empresas de calçados a em-
presários, designers e estilistas.
A intenção é manter a cadeia
produtiva atualizada com as úl-
timas tendências, tirar dúvidas
sobre os materiais e facilitar o de-
senvolvimento de novos produtos.
Outra iniciativa de estímulo à
moda brasileira é o Selo de Sus-
tentabilidade lançado pela Asso-
ciação Brasileira de Empresas de
Componentes para Couro, Cal-
çados e Artefatos (Assintecal), a
Associação Brasileira das Indús-
trias de Calçados (Abicalçados) e
o Instituto By Brasil para valorizar
as marcas brasileiras e promover
o engajamento das empresas.
O selo será concedido às empre-
sas que apresentarem processos
que contemplem os quatro pila-
res da sustentabilidade – aspectos
ambientais, econômicos, sociais e
culturais. As empresas passarão a
cada dois anos por novas avalia-
ções para validação da certificação.
“O BFS contribuiu para a inte-
gração e aproximação de setores
no desenvolvimento de projetos
comuns. As associações estão
mais abertas e conseguem pen-
sar em ações conjuntas”, afirma
Deborah Rossoni, gestora de
Projetos da Apex-Brasil.
DESIGN NA PELE COURO MADE IN BRAZILNo desafio de aumentar a venda de produtos acabados, indústria coureira aposta em design, processos e criatividade POR_LARISSA FÉRIA
18|REPOSICIONAMENTO
Boa parte desta edição da revis-
ta PANDE, incluindo a reportagem
de capa, aborda a importância do
design e do planejamento estraté-
gico nas exportações brasileiras.
Marca tradicional no mercado de
fechaduras e cadeados, a Papaiz
vem mostrando que inovação e
branding também são armas fun-
damentais para manter a compe-
titividade no mercado interno.
Nos últimos anos, mesmo
com medidas antidumping, a
entrada de cadeados chineses
no Brasil aumentou. Atenta
à invasão de concorrentes de
qualidade ruim e baixo preço, a
Papaiz procurou a PANDE para
repensar os atributos de sua
marca no mercado.
Antes de iniciar o trabalho, a
PANDE começou a trabalhar para
entender todos os detalhes do
negócio. A equipe foi aos pontos
de venda conversar com os consu-
midores e vendedores da Papaiz.
Após o trabalho de pesquisa de
campo e muitas reuniões e con-
versas, surgiram vários insights
para iniciar o projeto.
Em vez de usar a mesma es-
tratégia dos concorrentes chine-
ses, focada em preço, ficou claro
que a Papaiz deveria apostar na
criação de famílias de produtos
com valor agregado exclusivo,
capazes de reposicionar a marca,
tornando-a mais conectada com
assuntos jovens e modernos,
como design e moda.
Além disso, a linguagem visual
da marca deveria estar alinhada
com o mote “Seu mundo bem
guardado”, escolhido para re-
presentar o novo posicionamen-
to da Papaiz no mercado.
As estratégias de branding
postas em prática com apoio da
PANDE revolucionaram a Papaiz.
Além de produtos inteiramen-
te repaginados, novos canais
de distribuição e estratégias de
venda entraram em cena. As
tradicionais lojas de ferragem e
construção continuaram impor-
tantíssimas, mas deixaram de
ser protagonistas únicas no rol
de canais de venda da empresa.
Produtos diferenciados da Pa-
paiz, como a linha Fun, voltada
COMPETITIVIDADEbem Num setor com baixas taxas de crescimento, as
vendas da Papaiz cresceram, a empresa expandiu seus canais
de distribuição e criou um novo nicho de
mercado
POR_LARISSA FÉRIA
GUARDADA
REPOSICIONAMENTO|19
a frequentadores de academia,
ciclistas e praticantes de ativida-
des físicas em geral, hoje estão
presentes em canais impensá-
veis pouco tempo atrás, como
lojas de material esportivo, buti-
ques de grife, eventos de moda
e até salões de beleza.
Uma das pioneiras entre as
novas famílias de produtos com
valor agregado exclusivo, a li-
nha Papaiz Fun começou a ser
exposta nos mesmos canais e
materiais de ponto de venda
dos produtos tradicionais. Po-
rém, o sucesso foi tão grande
que a Papaiz investiu em um
PDV exclusivo.
Ao estampar desenhos dife-
renciados no próprio cadeado, o
produto redefiniu o conceito de
cadeado no Brasil, tornando-o
um objeto de desejo de mulhe-
res que gostam de moda.
A linha Fun também ajudou a
Papaiz no processo de abertu-
ra de novos canais. Como par-
te de seu trabalho de branding
e design estratégico, a PANDE
fez uma pesquisa nesses novos
canais para entender como eles
se comportavam e também para
conseguir montar enxovais com-
pletos que os atendessem.
Para ressaltar o novo posi-
cionamento, a empresa ainda
criou a família Papaiz Fashion,
cujos cadeados extrapolam a
categoria de item de seguran-
ça, podendo ser usados pelas
consumidoras como acessório
de moda, principalmente na
forma de pingentes para cola-
res e bolsas.
Outro ponto fundamental para
o sucesso da estratégia foi o ali-
nhamento da identidade visual
Design estratégico, inovação e branding foram as armas da Papaiz para aumentar as vendas mesmo com a invasão de cadeados chineses
baratos no mercado.
nas embalagens. Em vez das tra-
dicionais cartelas cartonadas com
frontal plástico fechado a vácuo,
que prejudicam a percepção de
valor e são frágeis, os novos ca-
deados da Papaiz foram acon-
dicionados em berços plásticos
termoformados. Além de mais
resistente, essa alternativa tem
aparência moderna, oferecendo
suporte para ganchos no ponto
de venda e maior superfície de
visualização e comunicação.
Outro ponto que mereceu aten-
ção especial durante o processo
de reposicionamento da Papaiz foi
a preparação da equipe de ven-
das. A PANDE desenvolveu uma
pasta mostruário e sugeriu uma
empresa de RH para treinar os
vendedores, preparando-os para
os novos canais de distribuição em
que os cadeados seriam vendidos,
como as lojas de artigos de moda.
INOVAR PARA LIDERAR
Seguindo a estratégia de investir
em branding e design estratégico,
a Papaiz transformou sua marca e
produtos para atender a um novo
perfil de consumidor. Em vez de
acompanhar os concorrentes de
seu ramo de atuação e entrar na
disputa por preços, criou grande
diferencial para sua marca, garan-
tindo não apenas a liderança de
seu segmento, mas também lide-
rando o movimento de inovação
de toda a categoria.
Num setor com baixas taxas de
crescimento, as vendas da Papaiz
cresceram 127%. A empresa tam-
bém expandiu seus canais de dis-
tribuição em 15% e criou um novo
nicho de mercado, o de cadeados
diferenciados, no qual detém share
de 75%. O mais importante, po-
rém, foi permitir um aumento nas
margens de lucro, sobretudo em
um mercado sufocado pela con-
corrência chinesa.
20|INTERNACIONAL
MODELO
PARA O BRASIL
Muita gente sabe que o inves-
timento maciço em educação foi
o propulsor do rápido crescimen-
to econômico da Coreia do Sul,
que até os anos 1960 apresen-
tava níveis sociais comparáveis
aos dos países mais pobres da
Ásia e hoje exibe uma economia
altamente tecnológica e compe-
titiva. Poucos, porém, sabem da
dimensão do papel da inovação
e do design nesse processo de
mudança. Tão importante quan-
to a educação, o design tem sido
um instrumento determinante
para a reviravolta observada na
economia coreana, que hoje fi-
gura como uma das 12 maiores
do mundo. De 1970 para cá, o
PIB per capita cresceu quase dez
vezes, passando de US$ 2.432
para US$ 23.600 em 2013.
Além de revolucionar seu sistema de
educação, a Coreia do Sul deu uma reviravolta
social e econômica ao incentivar suas
indústrias a investirem em design, inovação e
senso estético
“O governo sul-coreano inves-
tiu pesado em duas grandes fren-
tes: educação, enviando pessoas
para estudar na Europa e nos Es-
tados Unidos; e em design, con-
siderado um fator relevante para
aumentar a competitividade de
um negócio”, afirma a professora
Ana Paula Perfetto Demarchi, do
Departamento de Design da Uni-
versidade Estadual de Londrina
(UEL), que já participou de confe-
rências na Coreia do Sul e é espe-
cializada em design e tecnologia.
Para entender o papel do de-
sign e da inovação na ascensão
coreana é preciso voltar no tem-
po. Na década de 1950, ainda
sob os efeitos da guerra com a
Coreia do Norte, que terminou
em 1953 e deixou um milhão
de mortos, o governo da Coreia POR_LARISSA FÉRIA
MODELO
PARA O BRASIL
INTERNACIONAL|21
do Sul fez um planejamento de
longo prazo, tendo como base
sete planos econômicos suces-
sivos, com ciclos de cinco anos
cada um. A estratégia de investir
em inovação e design já consta-
va desse planejamento. Mas só
começou a sair do papel, efeti-
vamente, em 1970, com a cria-
ção do Korea Institute of Design
Promotion (KIDP), organização
incumbida de promover a expan-
são industrial e as exportações do
país. Tendo sido desenhado para
planejar políticas de longo prazo
e intercâmbio com outros países,
hoje o KIDP conta com orçamen-
to anual de US$ 100 milhões e
sede própria instalada em uma
área de 47 mil metros quadrados.
Também na década de 1970
surgiu o Instituto Avançado de
Ciência e Tecnologia da Coreia
(KAIST), que já contava com um
departamento de design indus-
trial, e é considerado até hoje
a melhor universidade do país.
Desde então, o número de uni-
versidades e centros de pesquisa
não parou de se multiplicar. Atu-
almente o país investe em pes-
quisa e desenvolvimento 3,2%
do PIB, que foi de US$ 1,156
trilhão no ano passado. No Bra-
sil, essa taxa é de 1,1%. “O go-
verno sul-coreano fez um plano
de desenvolvimento calcado no
design, com investimento mas-
sivo a fundo perdido”, afirma
Joice Joppert, diretora executiva
da Associação Objeto Brasil. A
associação fez um convênio de
cooperação na área de design
com a prefeitura de Seul.
“A Coreia do Sul mostrou para o mundo e para o Brasil o grande papel do design no processo de construção de uma indústria forte.”
Gabriel Patrocínio, doutor em
Políticas Públicas de Design
22|INTERNACIONAL
DESIGN ESTÉTICO
A indústria coreana estava atra-
sada e o país não teve pudor em
copiar indústrias mais desenvolvi-
das, principalmente a americana,
para se reerguer. Para os coreanos,
copiar é uma forma de aprender a
fazer o que os outros já criaram.
“Copiar fez parte do processo
para construir uma indústria forte.
Eles não copiaram simplesmente.
Com o investimento em educação
e design, a Coreia reposicionou
a imagem que tinha e passou de
copiadora a copiada. Na indústria
automobilística, os automóveis
coreanos pertenciam a uma espé-
cie de segunda divisão no mundo
dos carros e o único atributo que
tinham era o preço imbatível. Hoje
eles competem com as principais
marcas no segmento de luxo”,
afirma Gabriel Patrocínio, doutor
em políticas públicas de design
pela Universidade Cranfield, do
Reino Unido. “A Coreia soube co-
piar aprendendo”, completa Joice.
Segundo os especialistas, o go-
verno sul-coreano apoiou as ini-
ciativas da indústria e investiu para
que grandes empresas do país se
reposicionassem e deixassem de
produzir apenas para o mercado
interno. A ideia era competir em
pé de igualdade com ícones mun-
diais. Foi mais ou menos o que
aconteceu com a Samsung, cuja
imagem era inicialmente asso-
ciada a produtos baratos. Porém,
após alguns lançamentos malsu-
cedidos e investimentos bilionários
em pesquisa e desenvolvimento, a
marca coreana hoje detém a faça-
nha de ter ultrapassado a Apple
no mercado global de smartpho-
nes. “A Samsung tem um insti-
tuto para preparar designers que
vão trabalhar na própria Samsung/
empresa, mas apenas coreanos
podem participar”, explica Joice.
Para Patrocínio, o modelo de
crescimento adotado pela Coreia
“O foco para o desenvolvimento
industrial na Coreia do Sul foi calcado no
design. O governo fez um plano de 20 anos de desenvolvimento,
com recursos massivos a fundo perdido.”
Joice Joppert, diretora executiva
da Associação Objeto Brasil
“Além de desenvolver suas próprias instituições, o governo sul-coreano trouxe para o país universidades e museus estrangeiros, com o objetivo, inclusive, de depurar o gosto estético de seus cidadãos. Essa iniciativa foi importante, porque o país ficou fechado por muito tempo, sem acesso a referências externas de design e inovação.”
Ana Paula Perfetto Demarchi, do Departamento de Design da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
INTERNACIONAL|23
do Sul deveria ser fonte de ins-
piração para o Brasil, a despeito
das particularidades de cada país.
No entanto, ele diz, não basta se
inspirar no case sul-coreano da
boca para fora. É preciso fazer
um planejamento de longo prazo
também. “Não é possível fazer
política de design sem gestão.
Esse tipo de iniciativa não bro-
ta espontaneamente. É preciso
planejamento. Ações isoladas, a
rigor, representam desperdício de
recurso”, afirma o especialista em
políticas públicas de design.
Patrocínio também defende a
criação de uma agência que faça
um planejamento com metas,
tendo uma base de dados sólida,
e invista em pesquisa e desen-
volvimento de projetos. “Essas
ações precisam atingir o país
inteiro e não podem ser concen-
tradas em uma ou duas regiões
mais desenvolvidas”, conclui.
Copiar faz parte do processo de construção de uma empresa forte. Com essa certeza em mente, as coreanas KIA e Hyundai utilizaram o design para dar uma nova roupagem a veículos com tecnologia similar à de outras potências do mercado. Hoje, ambas estão entre as cinco maiores montadoras do planeta.
A Samsung, antes uma marca associada a produtos baratos, em poucos anos conseguiu ser líder mundial no mercado de smartphones. A marca tem um instituto que forma seus próprios designers.
Utilizando toras de pinus para produzir seus móveis e esculturas, o designer coreano Jae Lee Hyo combina técnicas manuais e a introdução de tecnologia para o desenvolvimento de obras tridimensionais de simplicidade e elegância, representando a força da arte coreana contemporânea.
24|WINNABILITY
Quem somos nós? Para onde
vamos? Nos dias atuais, muitas
são as dúvidas e poucas as res-
postas, porém, uma coisa ainda é
certa: o melhor sempre vence. E
o grande desafio parece ser exa-
tamente este. Como ser o melhor
em um mundo no qual regras e
premissas estão sendo constante-
mente questionadas e alteradas?
Para Zygmunt Bauman o mun-
do tornou-se líquido. E é líquido
porque não se imobiliza, não con-
serva sua forma por muito tem-
po. Segundo ele, tudo, ou quase
tudo, está em constante mudan-
ça. E já não é novidade para nin-
guém que vivemos essa instabili-
dade. Os modelos de negócio da
chamada economia tradicional
estão sendo colocados em xeque
diariamente. Interessante é ob-
servarmos que, diferente do que
parece, essas passagens de uma
era para outra não acontecem
da noite para o dia. Elas se dão
a partir de uma sucessão de fatos
que, lentamente, vão modifican-
do a dinâmica social e econômica
vigente e transformando o que
era antes em algo completamen-
te novo e diferente.
Até a Primeira Guerra Mun-
dial, a mão de obra agrícola era
a grande força motriz das econo-
mias. Então veio o advento da Pri-
meira Revolução Industrial, e essa
mão de obra, outrora concen-
trada no campo, começou lenta-
mente a migrar para a indústria.
Os trabalhadores dessa nova era
(a Industrial) multiplicavam-se ao
longo dos anos e sua renda cres-
cia cerca de 25 vezes, ao mesmo
tempo em que a carga de traba-
lho reduzia-se pela metade. Então
veio a Segunda Guerra Mundial e
o trabalhador industrial tradicio-
nal também começou, pouco a
pouco, a ser substituído por um
outro tipo de trabalhador: o tra-
balhador do conhecimento.
Atualmente, vivemos o que vem
sendo chamado pelos economistas
de Terceira Revolução Industrial.
Um período marcado pelo uso in-
“Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar.”
Uma nova abordagem sobre a competitividade das empresas
Immanuel Kant,
pensador alemão
do século 18
POR_GIAN FRANCO ROCCHICCIOLI
tensivo da tecnologia. A informa-
ção em tempo real se transformou
no principal combustível do capita-
lismo. Milhares de novos modelos
de negócios, aliados a uma cres-
cente virtualização do trabalhador,
criam uma necessidade de mão
de obra especializada nunca antes
exigida e as empresas passam a ter
que lidar com o desafio de utilizar
esse poderio tecnológico de forma
sistêmica e sinérgica em suas es-
tratégias de atuação. Como é fá-
cil perceber, manter a estabilidade
tornou-se um enorme desafio e a
única certeza que nos parece pro-
vável, ou seja, passível de prova, é
a “incerteza”.
E que lições podemos tirar dis-
so tudo? Como lidar com tama-
nha instabilidade?
Sobre esse tema, o grande
pensador alemão do século 18
Immanuel Kant nos dá a primei-
ra dica: “Avalia-se a inteligência
de um indivíduo pela quantida-
de de incertezas que ele é capaz
de suportar”.
WINNABILITY
WINNABILITY|25
COMO VENCER NESTA TRANSIÇÃO?
Talvez você esteja se perguntando: e agora? O que
devo fazer? Será que existe alguma forma estrutura-
da para lidar com tudo isso? Nossa resposta é sim.
A conquista de vantagens competitivas num merca-
do de rápidas e complexas transformações tem exigido
das organizações uma completa reformulação de
seus sistemas de crenças, permitindo assim novas
formas de interpretar e agir neste novo cenário. E é
justamente aí que nossa abordagem – WINNABILITY –
torna-se relevante. Ela foi estruturada para lidar com
essas questões de uma maneira simples e segura.
UM CONCEITO MODERNO DE COMPETIÇÃO
“Perdedor é, portanto, apenas o nome que se dá à situação de quem tende a desaparecer.”
Talvez o aspecto mais importan-
te desse nosso conceito – Winna-
bility – resida no fato de que ele
representa um enorme desafio
para a mentalidade padrão do
mundo corporativo. Afinal, ele
parte da estranha premissa de
que para vencer não é preciso
que haja um perdedor.
Essa abordagem que, a princí-
pio pode parecer um tanto quan-
to desafiadora, torna evidente o
fato de que escondida em suas
entrelinhas está uma ideia fas-
cinante. A ideia de que o futuro
deve ser pensado e construído a
partir de propósitos verdadeiros
e que, desta forma, o ambiente
competitivo continua sendo im-
portante, mas torna-se estranha-
mente secundário.
Uma busca rápida sobre o sig-
nificado de competição nos leva à
seguinte definição: competição
é a palavra que ilustra a inte-
ração de indivíduos de uma
mesma espécie, ou de espécies
diferentes, que disputam algu-
ma coisa. Essa disputa pode ser
por um alimento, por um territó-
rio, pela luminosidade, etc., etc.,
etc. Logo, o conceito central do
significado de competição pa-
rece ser o de uma interação que
favorece a um em detrimento de
outros, um processo seletivo onde
há sempre um vencedor e um
perdedor. Representaria, de certo
modo, um processo de extinção
de indivíduos com baixo poder de
adaptação. E é exatamente aí que
encontra-se o nosso grande desa-
fio conceitual. Acreditamos e de-
fendemos a ideia de que tanto vi-
tória quanto derrota, no ambiente
corporativo atual, é meramente
uma questão individual.
Talvez, o melhor sinal dessa
nossa abordagem esteja na pró-
pria definição da palavra perde-
dor. O que é um perdedor? Per-
dedor é aquele que ficou em si-
tuação desvantajosa, que errou o
caminho, que deixou de ser visto
ou ouvido. Ser um perdedor não
pressupõe, necessariamente, que
alguém tenha feito algo para que
ele se encontre nessa situação.
Perdedor é, portanto, apenas o
nome que se dá à situação de
quem tende a desaparecer.
Trazendo esse pensamento para
o terreno de nossa reflexão, o que
ocorre é que a quantidade de em-
presas que potencialmente ten-
dem ao desaparecimento tornou-
se realmente grande. Sobre esta
exclusiva perspectiva, estamos to-
dos na iminência de nossa própria
extinção ou, como preferirmos en-
carar, diante de uma grande opor-
tunidade de TRANSFORMAÇÃO.
Texto extraído do livro "Winnability",
de autoria de Gian Franco Rocchiccioli
e Gisela Schulzinger, com lançamento
previsto para ocorrer em breve.
26|EXPRESSÃO DA MARCA
POR_ RODRIGO FORBECKFOTOS_EDUARDO MAGNO
Quando pensamos em uma pessoa e em suas qualificações, é comum analisarmos como ela se expressa visual e
verbalmente. Comunicar-se bem é fundamental para ser compreendido e conquistar a atenção de quem interage com você. Entre as empresas, o fenômeno é semelhante, por isso as estratégias para criar uma boa expressão de marca têm
ganhado espaço entre as organizações
Companhias que entendem
a verdadeira dimensão de suas
marcas ganham diferenciais es-
tratégicos a partir do uso inteli-
gente de sua expressão. Afinal,
uma marca capaz de dizer quem
é conquista naturalmente um
grande diferencial, pois demons-
tra personalidade e propósito.
A boa identidade visual deve ser
a tradução de um propósito claro
e um conjunto de atributos que
deem a ela um papel relevante
à sociedade. O seu público-alvo
deve enxergá-la inserida em um
contexto e alinhada aos valores
que ele preza. “O principal desafio
de um projeto de identidade é ali-
nhar o que as pessoas esperam e
o que a empresa tem a oferecer. A
partir deste entendimento, criam-
se referências visuais, verbais e
comportamentais que transmitam
isso de forma consistente e ver-
dadeira”, explica Peterson Sironi,
diretor de Criação da PANDE.
Ou seja, deve-se formular uma
promessa de marca clara e obje-
tiva, a partir de um conjunto de
características e diretrizes que
estabeleçam um guia para todos
que interagem com a empresa,
tanto internamente quanto ex-
ternamente. A partir desse estu-
do é definido como a promessa
feita ao consumidor será cumpri-
da. Afinal, ele precisa identificar
no seu produto ou serviço o que
o discurso da marca promove.
Autor do livro “A Empresa Orien-
tada pelo Design”, Marty Neumeier
resume essa premissa de forma
bastante objetiva: “Não se trata do
que você diz que é, mas do que os
outros dizem que você é”.
Se a interação entre a promes-
sa e as vantagens percebidas for
bem alinhada, o consumidor en-
xerga coerência na proposta da
empresa e torna-se um promotor
espontâneo dela. Contudo, o mo-
nitoramento deve ser constante.
A simpatia da empresa não pode
durar apenas os 30 segundos do
comercial; o tom de voz no SAC
precisa ser simpático também. A
força de uma construção de mar-
ca contempla desde a experiência
no ponto de venda até a “musi-
quinha” que será ouvida quando
alguém ligar para seu 0800.
Para o especialista em de-
sign research e estratégia de
marcas da PANDE, Alexandre
Mori, “hoje, os desafios para a
construção de marcas são mui-
to mais complexos do que no
passado. Os consumidores são
mais exigentes e sofisticados,
cobrando uma nova postura das
agências de design. Mais do que
serem apenas consumidores,
eles querem participar, cocriar,
influenciar e se identificar com
as marcas. Por isso, buscamos
sempre entender esse contexto
e superar suas expectativas. Ou
seja, construindo marcas que
tenham propósito e atitude,
que ofereçam experiências re-
levantes e que estejam sempre
em constante evolução".
IdentidadeUMA QUESTÃO DE
EXPRESSÃO DA MARCA|27
“Não se trata do que você diz que é, mas do que os outros dizem que você é.”Especialista em Estratégia de Marca Marty Neumeier
28|EXPRESSÃO DA MARCA
Hugo Freitas, diretor de Criação da PANDE
"Com um trabalho consistente, dentro
da PANDE buscamos transformar os
consumidores em torcedores da marca.”
A marca Coca-Cola é constantemente apontada como uma das três mais valiosas do mundo. O valor da marca isolada − sem considerar a estrutura física da empresa − é estimado aproximadamente em 80 bilhões de dólares.
As ações de relacionamento
com o consumidor da Netflix são
diversas vezes replicadas na web
por demonstrarem sua simpatia e
bom humor. Aproveitando certas
referências da cultura cinemato-
gráfica, a provedora de vídeos
via streaming interage de forma
lúdica e alegre com seu consumi-
dor. Um tom de voz que permeia
a comunicação da marca desde
os e-mails marketing até o aten-
dimento personalizado via chat.
São mensagens que incorporam
à marca uma personalidade que
tem tudo a ver com a empresa
que promete entretenimento a
qualquer hora, em qualquer lugar.
“A maioria das organizações se
preocupa em seguir as tendências
da marca líder. Para ter um cres-
cimento consistente é preciso se
diferenciar e encontrar um valor
único para sua marca. O gran-
de desafio do processo
de gestão de marcas é
mantê-las sempre atra-
entes e relevantes para
as pessoas. Com um
trabalho consistente,
dentro da PANDE buscamos trans-
formar os consumidores em torce-
dores da marca”, defende Hugo
Freitas, diretor de Criação da
PANDE. “Site, pontos de venda,
redes sociais, estande, embala-
gens, cartões, crachás, uniformes.
A boa expressão de uma marca
passa por todos os pontos de con-
tato onde as pessoas possam inte-
ragir com ela”, completa.
A PANDE revitalizou a identida-
de da locadora de veículos Loca-
merica e, dentro desse processo,
comunicou aos profissionais da
empresa não apenas as altera-
ções adotadas, como também
promoveu o enraizamento cultu-
ral da nova marca entre os cola-
boradores. O trabalho desenvol-
vido levou ao pleno alinhamento
de todos com os objetivos da
empresa e fez com que compre-
endessem a forma com que a Lo-
camerica passaria a se expressar.
Dentro da nova identidade,
uma das sugestões foi padronizar
o perfume que seus carros pos-
suem, promovendo a marca em
EXPRESSÃO DA MARCA|29
Eu tenho um problema para reportar.
Problemas no display, senhor.
5ª temp., episódio 13 de Parks andRecreation está com umcomportamento anormal.
Saudações, capitão. Tenente Norm falando aqui.
Nós, da engenharia, temos um problema para reportar.
Aqui é o capitão Mike, da excelente naveNetflix, com qual membro da tripulaçãoestou falando hoje?
E qual o problema, tenente?
NETFLIX CUSTOMER SERVICE
A Netflix entregou um tom de voz amigável na sua interação com o consumidor em seus canais de atendimento. Muitos clientes chegaram a compartilhar seus diálogos em seus perfis nas redes sociais. No caso replicado acima, o cliente entrou na brincadeira do atendente quando este usou referências da série Star Trek.
sentidos que nem sempre são
percebidos pelo consumidor, mas
que podem criar um vínculo entre
eles e a marca. Essa transforma-
ção pela qual a Locamerica pas-
sou ocorre quando se compreen-
de a necessidade de uma expres-
são de marca coerente, o que dá
ainda mais força aos negócios e
afeta positivamente múltiplos ní-
veis da empresa.
“Estabelecer uma conexão
emocional com seu consumidor é
um passo muito importante, pois
são atributos emocionais que
criam produtos de desejo”, refor-
ça Marta Cardoso, Chief Creative
Officer da PANDE.
Para se ter uma ideia dessa im-
portância, um executivo da Coca-
Cola afirmou que se a empresa
perdesse todos os seus recursos
materiais num desastre, a compa-
nhia iria sobreviver. Contudo, se
todos os consumidores tivessem
um lapso de memória e esque-
cessem tudo relacionado à marca
Coca-Cola, ela iria à falência.
A construção de marcas sólidas,
que consigam se diferenciar frente
à concorrência, evoluiu ao longo
dos anos e atualmente passa por
questões que sequer eram pensa-
das algumas décadas atrás. Essa
pluralidade de significados tem
se tornado um grande desafio na
definição das expressões. Se an-
tes um banco só precisava adotar
a cor azul, uma tipografia séria
e um tom de voz superior para
transmitir confiança, hoje, além
de confiável, ele também preci-
sa ser humano, próximo, flexível,
sustentável e ter o tom certo para
se comunicar com clientes, cola-
boradores, fornecedores, empre-
sários e governos, sem perder sua
consistência. O mesmo ocorre em
diversos tipos de negócio, como
na telefonia, na indústria auto-
motiva, nas marcas de entreteni-
mento, no varejo, etc. As marcas
adotam cada vez mais estratégias
e expressões complexas para tor-
nar seu entendimento claro, sim-
ples e distinto, mantendo assim
sua competitividade.
Afinal, não existe mais B2B nem
B2C, agora é tudo human to hu-
man. Neste cenário, as empresas
que investem em discursos claros,
humanos e verdadeiros certamen-
te desfrutam de uma enorme van-
tagem competitiva e constroem
marcas coerentes e eficientes para
se comunicar com seu público.
A PANDE reestruturou toda a identidade da Locamerica, empresa locadora de veículos. Dentro da nova identidade, uma das sugestões foi a padronização do perfume dos carros, promovendo a marca em sentidos que nem sempre são percebidos pelo consumidor.
Você não as percebe, mas sem
elas, toda vida moderna não exis-
tiria; na verdade, todo o desen-
volvimento da humanidade – da
ciência, da filosofia, do pensa-
mento humanista que nos tirou
da escuridão da Idade Média –
não aconteceria se não fossem
por elas: as letras à nossa volta. A
linguagem escrita já existia sécu-
los antes de Gutenberg produzir o
primeiro livro impresso, mas o que
a sua tecnologia possibilitou foi o
acúmulo e a reprodução de co-
nhecimento em escala industrial,
e somos gratos a ele até hoje.
A onipresença das letras no
mundo atual as tornou uma ex-
celente ferramenta para a cons-
trução de marcas. Ao listarmos
todos os pontos de contato entre
uma marca e seus públicos, per-
cebemos que as letras permeiam
mais da metade dessas intera-
ções; podendo carregar os atri-
butos da marca de acordo com o
seu design, elas se tornam pode-
rosas armas do branding.
Como especialista internacio-
nal em design tipográfico (somos
17 nacionalidades diferentes na
equipe e 23 anos de experiência),
a Dalton Maag teve o prazer de
colaborar com a PANDE no pro-
jeto do logotipo Viver. Sempre é
preciso balancear forma e fun-
ção. De um lado, é preciso ex-
pressar um conceito, de outro,
há a funcionalidade – as pessoas
não querem ver letras, elas que-
rem ler. Conceitualmente, torna-
mos o logotipo sutilmente mais
sofisticado, menos casual. Tecni-
camente, lapidamos suas formas
deixando-o mais claro, legível e
consistente. Um projeto colabo-
rativo onde a execução é tão im-
portante quanto a ideia.
O traço sério de uma pena caligráfica: terminações retas, precisas e traços variando de espessura transmitem mais seriedade e sofisticação.
O traço infantil de uma caneta hidrocor: terminações redondas, suaves e traços monolineares transmitem uma sensação informal.
antes
depois
OPINIÃO_FABIO HAAG|31
Fabio HaagBusiness Development DirectorDalton Maag
Não é de hoje que a geração
e implementação de inovações
viraram uma espécie de mantra
para empresas de praticamente
todos os setores. O ambiente de
alta competitividade dos merca-
dos, aliado a uma busca quase
frenética pela atenção do con-
sumidor cada vez mais exigente,
tornam este assunto assíduo nas
corporações e proporcionam o
surgimento de mitos em torno
da inovação. Três exemplos recor-
rentes: inovar exige alta tecno-
logia, muito dinheiro e somente
acontece com mudanças radicais.
Na visão de Gisela Schulzinger,
Chief Branding Officer e Head
da área de Inovação da PANDE,
Inovação não se refere apenas às mudanças radicais ou envolvimento somente de especialistas. Além de viável financeira e tecnicamente, ela deve considerar os pequenos movimentos, as soluções incrementais e
o engajamento de pessoas com diferentes expertises
inovações devem ser exequíveis
e não precisam custar fortunas.
Além disso, a responsabilidade
por inovar não deve se restrin-
gir somente a especialistas ou a
uma área determinada da em-
presa. Pelo contrário, o ideal é
que todos possam participar do
processo. “O segredo da inova-
ção está no estímulo constante
da capacidade criativa das pes-
soas e na formação de um am-
biente propício ao exercício da
criatividade, onde todos os cola-
boradores se sintam encorajados
e estimulados a dar sugestões”,
sintetiza a sócia da PANDE.
Outra boa dica é promover a
interdisciplinaridade e a colabo-
CRIAÇÃO
ração. Ou seja, a partir da cria-
ção de grupos de trabalho for-
mados por pessoas com vários
expertises − podem se juntar,
por exemplo, pessoas das áreas
de recursos humanos, departa-
mento financeiro, marketing,
entre outras − cada um, a partir
de sua especialidade, contribui
com um ponto de vista diferen-
te, com uma postura colaborati-
va, gerando inputs importantes
para a empresa como um todo.
“É fundamental que o proces-
so de aculturamento para inova-
ção seja feito de maneira orga-
nizada, com a empresa abrindo
espaço sistematicamente em seu
dia a dia para que os colaborado-
res tragam e implantem ideias”,
afirma Gisela, salientando que
essas iniciativas devem, necessa-
riamente, ser apoiadas pelos ges-
tores desses profissionais e pelos
líderes das empresas.
No Google, por exemplo,
eles trabalham com o conceito
70/20/10 na divisão de tempo
que as pessoas dedicam para
projetos. Durante o período que
está na empresa, 70% do tem-
po é gasto com projetos em que
se esteja diretamente envolvido;
20% são dedicados a propos-
tas de outras áreas nas quais a
pessoa tenha interesse e outros
10% podem ser empregados
em projetos pessoais.
32|MITOS DA INOVAÇÃO
POR_LARISSA FÉRIA
VALE DO SILÍCIO
Exemplos inspiradores de cultu-
ra inovadora podem ser observa-
dos no Vale do Silício (EUA), onde
Gisela fez uma imersão a fim,
exatamente, de conhecer de per-
to estratégias voltadas a azeitar as
engrenagens do processo criativo.
Na meca da indústria tecnológica
e do empreendedorismo, ela pôde
confirmar a importância dos am-
bientes corporativos projetados
intencionalmente para facilitar o
fluxo de ideias. Dessa forma, as
pessoas sabem o tempo todo o
que está acontecendo na empresa
e têm estímulos para dar suges-
tões e participar dos projetos.
Os espaços físicos são pensa-
dos para que haja a organização
necessária a qualquer negócio,
mas para que também não haja
barreiras à colaboração das pes-
soas. ”Lá, os espaços interferem
na formatação do modelo men-
tal, na formatação do próprio
pensamento. Por isso, em boa
parte das empresas visitadas, não
há paredes nos espaços e os tra-
balhos ficam disponíveis ao olhar
de todos. E mesmo nas corpora-
ções em que os ambientes são
mais divididos, algumas das pa-
redes são móveis (possuem rodi-
nhas) e funcionam como espaços
para o registro e desenvolvimen-
to de ideias”, afirma.
Essa promoção da cultura da
inovação permite que colabora-
dores com diferentes experiências
de vida e talento contribuam com
seu ponto de vista sobre determi-
nado projeto, gerando ideias inu-
sitadas e insights significativos.
O cenário indica que a maioria
das empresas brasileiras ainda pre-
cisa evoluir muito para consolidar
uma real cultura corporativa inova-
dora. “O grande problema das em-
presas é o medo de errar. Através
da inovação, a empresa cria novas
perspectivas, novas formas de ga-
nhar dinheiro. Na verdade, a ino-
vação funciona como oxigênio das
corporações”, diagnostica Gisela,
afirmando que empresas inovado-
ras precisam estar dispostas a inves-
tir em ideias mesmo sem a certeza
de que elas serão bem-sucedidas.
“As empresas não podem ser so-
mente orientadas por resultados e
pelo alcance de metas. Elas devem
considerar também que para acer-
tar é preciso errar. É preciso desen-
volver processos de experimenta-
ção”, alerta. Isso não significa que
os projetos não devam ser devida-
mente avaliados e limites, defini-
dos e considerados. “Hoje em dia
existem ferramentas que podem
controlar ou minimizar os erros. A
utilização da prototipagem rápida
de ideias e de processos é um des-
ses recursos”, complementa Gisela.
PERTENCIMENTO
Introduzir uma cultura de inova-
ção em um ambiente corporativo
é um desafio que leva tempo. Até
porque mudanças costumam ge-
rar insegurança e resistência. Para
minimizar esses efeitos e fazer a
equipe se envolver, o caminho das
pedras passa por recompensar as
ideias de sucesso. Um retorno da
sugestão dada ou o reconheci-
mento pela contribuição podem
ter mais poder do que se imagina.
Isto é, as pessoas precisam saber
que suas ideias fizeram a diferença.
"As empresas devem considerar também que para acertar é preciso errar. Desenvolver processos de experimentação é essencial.”
“É uma questão de pertencimen-
to, de fazer parte do processo de
desenvolvimento e crescimento da
empresa”, afirma Gisela.
Para haver cultura da inovação
é preciso que as pessoas sejam e
estejam o tempo todo motivadas
e saibam com clareza como par-
ticipar do processo. “Pode existir
a maior tecnologia do mundo, o
espaço de trabalho mais bacana
do mundo e disponibilidade de
dinheiro, mas se as pessoas não
se sentirem motivadas a partici-
par e não se sentirem valorizadas
nesse processo, não haverá en-
gajamento que gere transforma-
ções relevantes ou significativas
para a corporação.”
“Uma empresa que quer ser
protagonista do futuro, relevante
no seu segmento de atuação e an-
tecipadora das necessidades e dos
desejos das pessoas deve conside-
rar todos estes aspectos nos seus
planejamentos e, principalmente,
não pode temer a ousadia e deve
estimular a coragem para daí sim
realizar grandes transformações”,
completa Gisela.
MITOS DA INOVAÇÃO|33
Respeitados fora do país e alçados à condição de ícones
da cultura contemporânea brasileira, o estilista Ronaldo
Fraga e o artista plástico Romero Britto defendem que o conceito
de criatividade é necessário no dia a dia para resolver até o
menor dos problemas
A INVENTIVIDADE
DO COTIDIANO
34|FACES DA CRIATIVIDADE
POR_ROGER MARZOCHI Para o estilista mineiro Ronaldo
Fraga, viver da criatividade é uma
constante busca de driblar a mor-
te. “Quando você cria é como se
você ganhasse mais um tempo
de vida”, diz o único brasileiro
escolhido para a edição de 2014
da Design of the Year, uma das
mais importantes exposições de
arte do mundo, realizada no De-
sign Museum, em Londres. Fraga
define criatividade como uma
“lufada individual, uma oxigena-
da que pode ser vista num texto,
num desenho, na escolha de uma
cor. Uma oxigenada que pode vir
do óbvio, das velhas coisas lidas
de uma forma diferente. É uma
via de mão dupla, para quem cria
e para quem você cria. Se eu crio,
é um oxigênio que me mantém.
Por sua vez, o papel da minha
criatividade é trazer oxigênio para
quem vir ou consumir”.
Entre as principais fontes de
inspiração, o estilista inclui os
absurdos do homem comum, as
páginas esquecidas da cultura
brasileira e a literatura. A chance
de figurar entre os 76 artistas es-
colhidos para a exposição Design
of the Year 2014 foi conquistada
com a coleção “Carne Seca ou
um Turista Aprendiz em Terra Ás-
pera”, apresentada na São Paulo
Fashion Week de 2013 e inspi-
rada na cultura do semiárido do
FACES DA CRIATIVIDADE|35
Nordeste. Para criar essa coleção,
o artista mergulhou na cultura da
região e na literatura de Graciliano
Ramos. Foram seis meses de pes-
quisa. O projeto nasceu de outro,
sobre o design do couro no país.
“Eu sou da corrente que não
acredita no momento mágico
da inspiração. É preciso traba-
lho, esforço. Se você não se
inspirou, olhe direito”, afirma,
sobre o medo de perder a cria-
tividade. “Claro que pode não
vir a criatividade em dado mo-
mento. Quando termino de lan-
çar uma coleção, sinto saudade
do tempo em que ficava parado
um mês. O momento de respi-
ro é importante. De tempos em
tempos você precisa limpar a
caixa de gordura, para que seja
suja novamente.”
Para encontrar a inspiração, ele
recomenda encontrar o próprio
“playground criativo, o que te ali-
menta”. “Eu falo com quem está
começando que, ao longo de
uma vida, o estilo você constrói
até a morte. Só se define um es-
tilo depois que a pessoa morreu.
Você tem que estar em constante
transformação”, conclui.
“Eu sou da corrente que não acredita no momento mágico da inspiração. É preciso trabalho, esforço. Se você não se inspirou, olhe direito.”
36|FACES DA CRIATIVIDADE
A aversão das pessoas a ae-
roportos pode ser explicada por
vários motivos: estresse causado
pela necessidade de chegar na
hora, medo de perder o voo, ex-
cesso de gente (principalmente
em feriados), risco de extravio das
bagagens, demora no embarque
e na decolagem. Além, é claro,
do terror de acidentes aéreos.
Nenhum pensamento dessa na-
tureza, porém, passa pela cabeça
de Romero Britto, pernambucano
respeitado mundialmente como
ícone da cultura pop moderna,
com pinturas e esculturas presen-
tes em mais de 100 galerias de
todos os continentes.
“Eu viajo tanto que, às vezes,
pode parecer estressante e chato.
Mas eu amo estar no aeroporto.
Eu gosto de chegar cedo para
que toda a experiência seja cal-
ma, e então eu tenho a oportuni-
dade de observar as pessoas. De-
sejando saber de onde elas estão
chegando, para onde vão, o que
estão fazendo. Eu entro em con-
tato com muitas pessoas enquan-
to estou num aeroporto. E as mi-
nhas mais diferentes experiências
com as pessoas são sempre fonte
de inspiração para o meu traba-
lho”, narra o artista. “Estar no
aeroporto à espera por um voo
é, geralmente, um dos poucos
momentos no qual estou longe
de meu estúdio ou do trabalho,
o que possibilita um grande mo-
mento de reflexão para mim”.
Ampliando a ideia comum que
restringe o conceito de criativida-
de ao campo estético das artes,
Britto defende que criatividade é
um estado de espírito, um mo-
mento em que alguém se sente
inspirado ou motivado a fazer
alguma coisa − qualquer coisa.
É a criatividade do cotidiano.
“Obviamente, todo artista preci-
sa ser criativo. Mas, na verdade,
este é um atributo que todos
devem ter. Quando engenheiros
constroem estradas, estão sendo
criativos. Quando designers de
moda fazem vestidos, eles estão
sendo criativos. Quando os pais
constroem um ambiente seguro
e amoroso para seus filhos, eles
estão sendo criativos. Criativida-
de é o que faz deste mundo um
lugar magnífico.”
O artista começou a pintar em
sucatas, jornal e papelão, aos 8
anos, em Recife. Hoje mora em
Miami e busca sua inspiração nas
pessoas e nas cenas do cotidiano.
“Eu encontro inspiração em todos
os lugares. Eu sou inspirado em
todos os fatos do cotidiano − mo-
rando em Miami, gosto de passe-
ar ao sol, olhar o oceano e obser-
var as palmeiras. Eu vejo pessoas
bonitas todos os dias em Miami,
na praia, fazendo exercí-
cios, fazendo compras,
comendo. Apenas cur-
tindo a vida. Eu gosto
de interagir com meus
amigos e usar histórias
engraçadas e memó-
rias como inspiração
para minhas pinturas.
Me inspiro em emo-
IMORTALIDADE
“Engenheiros que constroem estradas e pais que constroem um ambiente seguro e amoroso para seus filhos estão sendo criativos. Criatividade é o que faz deste mundo um lugar magnífico.” Romero Britto
ções felizes − alegria, paz, amor.
E sou inspirado por livros, música,
e viagens − Estou constantemente
tirando fotos e gravando imagens /
música / palavras com as quais me
conecto em todo o mundo para
usar como inspiração para pintu-
ras no futuro.”
FACES DA CRIATIVIDADE|37
Escolhido pela Fifa para ser-
vir aos torcedores VIPs que as-
sistiram aos jogos da Copa do
Mundo, em São Paulo, o chef
Viko Tangoda já experimentou
a sensação de perder a criati-
vidade. Teve a sensibilidade de
admitir. E conseguiu buscar, “na
ousadia adolescente”, a energia
que precisava para voltar a criar.
Deu tão certo que, há 25 anos
no mercado, seu buffet também
responde por garantir a energia
dos foliões do camarote da Brah-
ma, na Marquês de Sapucaí, no
Carnaval do Rio de Janeiro.
“Em algum momento, perce-
bi que envelheci, que faltava a
ousadia adolescente, de poder
errar. Depois de um tempo no
mercado, você não tem mais o
direito de errar. E a gente en-
velhece no sentido de que você
quer pisar num terreno mais
sólido, menos arriscado, pan-
tanoso. E eu acho que perdi a
criatividade nesse momento, foi
um exercício conseguir enten-
der isso e conseguir sair dessa
faixa de conforto.”
Para reencontrar a criatividade, o chef que serviu os torcedores VIPs da Arena de São Paulo nos jogos da Copa decidiu sair de sua zona de conforto
“Em algum momento, percebi que envelheci. Resolvi buscar na minha antiga ousadia de adolescente a energia que precisava para voltar a criar.” Chef Viko Tangoda
Sua história é um exemplo de
reinvenção. Tangoda nasceu em
Fernandópolis, com ascendência
japonesa do lado materno e es-
panhol do paterno. Em 1981, foi
morar em São Paulo para cursar
faculdade de Eletrotécnica. Para
sobreviver, montou com a mãe
uma oficina de costura. De uma
amiga ouviu uma observação sin-
cera, que o ajudou a tomar novo
prumo na vida: “Ela me disse que
minhas roupas eram lindas, mas a
minha comida era melhor”.
A partir da experiência de
uma tia que, no interior, ven-
dia comida japonesa, Tangoda
começou a fazer bufês de sushi
em festas na casa de amigos,
até montar seu negócio. “Eu
não tinha um puto. A primeira
coisa que fiz foi um cartãozinho
desses de máquina. Eu nunca
pensei em cozinhar na minha
vida, foi uma coisa que aconte-
ceu de fato.”
O chef diz que sua criativida-
de é crucial na importante mis-
são de selecionar cardápios e
combinações de sabores. “Essa
habilidade eu busco exercer
quando viajo. A gastronomia é
cultural. O seu paladar cresce
e se desenvolve conforme você
tem experiências. Gastronomia
é o acúmulo de sua vivência,
por onde você passou, fica tudo
marcado”, explica. De viagens
ao Peru, Tangoda voltou com
novos temperos e técnicas de
cozimento, que lhe renderam
eventos no Consulado do Peru,
além de um jantar beneficente
para o GRAACC, entidade de
combate ao câncer infantil.
Outro grande desafio foi pre-
parar um cardápio composto
apenas por alimentos brancos
num evento de lançamento de
geladeiras coloridas. Foram usa-
dos ingredientes como queijo
e couve-flor. “Fiz um copo com
purê de couve-flor e só usei a
flor e, em cima, fiz uma couve-
flor crua meio adocicada, azeda e
salgada, que fazia contraste com
o creme doce da couve-flor, dava
uma textura e fechava o sabor. E
fiz um cake de queijo de cabra
que tem um sabor bem intenso.
Foram seis a sete itens de canapés
brancos, bandejas brancas e gar-
çons vestidos de branco. A comi-
da branca não é lá muito atrativa
e o desafio é ter sabor. Foi muito
legal, as pessoas curtiram.” Após
a apresentação da nova linha de
geladeiras, o ambiente se tornou
colorido, incluindo o cardápio.
“A criatividade é a capacidade
de um novo olhar, para mostrar
ângulos diferentes.”
OUSADIA DE ADOLESCENTE
38| FACES DA CRIATIVIDADE
O artista plástico Alexandre
Keto, 26 anos, venceu um prê-
mio do Ministério da Cultura do
Brasil pelo seu trabalho de arte e
educação com jovens de Dakar,
no Senegal. Mas a sensação de
que seu trabalho foi reconhecido
veio em outra etapa do projeto.
Mais especificamente quando os
jovens senegaleses se reconhece-
ram ao ver na parede o principal
personagem do artista brasileiro:
uma mulher negra, muitas vezes
em vestes de cores vibrantes, em
posições que denotam o sagrado,
o respeito à tradição e à cultura.
“Minha primeira viagem ao
Senegal, país onde tenho muitos
laços e onde morei por um bom
tempo, foi muito importante.
Quando as pessoas de lá viram
os grafites que fiz, foi como um
espelho. Eles estavam se vendo
artisticamente. Desde então sur-
giram novos artistas em Dakar
trazendo elementos da cultura
deles. Antes disso, muitos gra-
fiteiros senegaleses carregavam
mais as influências de Nova York
e da França, que são grafites tra-
dicionais. A transformação que a
arte propicia é relativa, diferente
para cada pessoa.”
Seu trabalho foi desenvolvido
dentro do “Hip Hop Akademy”,
projeto da associação Africultur-
ban, que busca promover o de-
senvolvimento e a divulgação das
culturas urbanas africanas. Aliás,
quando Keto tinha 12 anos, um
projeto com esse mesmo espírito
despertou sua arte. Na época, um
projeto social no Parque São Lucas,
populoso bairro da zona leste pau-
listana, realizava workshops sobre
hip hop. Morador da região, Keto
ficou fascinado com os grafiteiros.
Com o irmão mais velho, come-
çou a pintar os muros do bairro
durante o dia. Inspirado na mãe,
que criou os filhos sozinha, Keto
começou a esboçar a personagem
feminina que lhe permitiria percor-
rer o mundo e se familiarizar com a
cultura de rua africana.
“A admiração por essa figura
de mulher vem do fato de que
fui criado só pela minha mãe,
uma presença forte, que des-
pertou em mim respeito pelas
mulheres em geral. O fato de re-
presentar as mulheres africanas
vem da crença de que todos os
brasileiros, independente do tom
de pele, têm raízes europeias e
africanas. No meu caso, o san-
gue africano pulsa mais forte por
conhecer e desmistificar a matriz
africana. É uma analogia da mãe
África, a forma de representar o
que eu mais respeito.”
A criatividade para criar a per-
sonagem feminina de seu traba-
lho foi alimentada por estudos
étnicos e antropológicos sobre a
cultura africana, principalmente
a cultura iorubá. “Essa persona-
gem está em eterna evolução,
tem mudado bastante ao longo
do tempo e consigo projetá-la
evoluindo ainda mais.”
A sua visão de carreira artística
transcende o universo das expo-
sições. Keto engrossa o coro da
arte como instrumento de trans-
formação social. Seja como for,
ele concorda que criatividade é
vital. “É um sentimento, uma
sensação vital, necessária para
sobreviver. E se for analisar e ver
as várias camadas sociais e várias
formas de trabalho, todas pre-
cisam de criatividade para estar
inserida em um contexto. É vital
exercitar a criatividade, seja lendo
livro, ouvindo, conversando. Eu
acredito na arte de renascer. O
que eu faço é simplesmente viver
e perceber a vida diária.”
CRIATIVIDADE ANTROPOLÓGICA
Artista plástico brasileiro ganha prêmio por projeto que estimulou grafiteiros senegaleses a utilizarem sua própria cultura − e não a americana ou francesa − como fonte de inspiração
FACES DA CRIATIVIDADE |39
Muros, fachadas, painéis e gra-
fites costumam surgir como obra
autônoma na mente de artistas
urbanos. Mas essa dinâmica cria-
tiva normalmente muda quando
esses mesmos artistas trabalham
para empresas, produtos ou mar-
cas. Nesse caso, a liberdade de ex-
pressão precisa estar devidamente
alinhada ao briefing do cliente.
Foi exatamente a habilidade de
conciliar suas próprias referências
ao que as empresas esperam de
seu trabalho que fez o grafiteiro
Speto, atuante desde a década
de 1980 em São Paulo, ter sido
escolhido para elaborar toda a
identidade visual da Coca-Cola
para a Copa do Mundo 2014.
Alcançando 207 países, a
campanha representa, nas pala-
vras do próprio artista, o ápice
de sua carreira no mundo das
marcas. “A ideia é a de todos
compartilhando o mesmo mo-
mento, que é o futebol, reuni-
dos em torno do maior esporte
do mundo”, resume Speto.
Sua escolha para a empreitada
veio sem grandes expectativas.
Em 2007, logo após o Brasil ter
sido anunciado como país sede da
Copa do Mundo 2014, a Coca-
Cola começou a pesquisar artistas
nacionais para participar de sua
campanha mundial para o even-
to. Aos 42 anos, Speto conta que
percebeu “uma certa movimenta-
ção” da empresa em busca de um
artista, mas nunca imaginou que
seria o escolhido. O namoro entre
eles começou em 2011 e foi uma
grande surpresa para o artista.
“Eu não suspeitei, mas veio o con-
vite. Não é novidade, para mim,
fazer campanha, tenho amigos
no mundo corporativo, mas tive a
sorte de encarar essa.”
PARA CADA PAÍS, UMA IDENTIDADE
A concepção da identidade vi-
sual da Coca-Cola para a Copa do
Mundo 2014 envolveu um traba-
lho exaustivo, em que mais de 60
versões de desenhos e grafismos
foram criadas. O trabalho demo-
rou mais de seis meses e teve a
participação ativa de executivos
como Todd Brooks, diretor de Glo-
bal Brands da Coca-Cola, Cristina
Grether, gerente de Design da
companhia, e James Sommerville,
VP de Global Design. Este último
já havia trabalhado com Brooks na
revitalização da marca Coca-Cola
em 2006, quando atuava na com-
panhia britânica Attik, da qual é
cofundador.
“A gente ficou no meu es-
túdio alguns dias desenhando.
Trocávamos desenhos, um dese-
nhava em cima do desenho do
outro, até criar a ideia-base da
campanha”, lembra Speto. “Eu
tive que ter uma força muito
grande para entender o que a
Coca-Cola representa no mundo
inteiro”, descreve Speto.
O artista conta que teve total
liberdade na escolha das técnicas
utilizadas. Para esse processo, ele
desenhou no papel, grafitou, en-
talhou na madeira xilogravuras e
usou o computador. “Foi muito
livre. A ideia era fazer uma coisa
muito humana. No final, a arte
da campanha acabou sendo feita
em madeira, porque a xilogravu-
ra é uma técnica muito antiga, e
tinha que ter cara de comida ca-
seira”, brinca o artista.
O resultado final do trabalho
envolve uma grande variedade
de desenhos e grafismos. Com
traços estilizados que trazem
conceitos de paz, celebração e
pluralidade étnica, todo esse mo-
saico criativo permite que cada
país seja representado por uma
identidade visual única.
Questionado sobre eventuais
críticas de outros artistas ao seu
trabalho com uma corporação
como a Coca-Cola, Speto não
vê problema nenhum. “Estou tri-
lhando o meu caminho e sempre
tive uma postura muito aberta,
como pessoa e artista. Eu não te-
nho preconceitos, sempre pintei
na rua. Para mim são todos desa-
fios que devem ser feitos de uma
forma específica, e você sempre
vai aprender. Eu não gosto de fi-
car estagnado”, afirma o artista,
que começou a pintar influencia-
do pelo cinema. Ao longo da car-
reira, ele também buscou várias
referências na música.
Aliás, há cinco anos, Speto con-
ta que passou por uma crise de
criatividade. Em busca de um es-
tilo próprio, sentia que repetia for-
mas. “Além da prática de ioga, o
que me salvou na época foi apren-
der a tocar guitarra. Gosto muito
de blues e rockabilly. Sempre pro-
curo aprender alguma coisa, por-
que, por essência, não acredito
que a gente deve beber sempre
da mesma fonte”, diz o artista.
Para se inspirar e desenvolver
suas fórmulas criativas, Speto
também mergulha no universo de
personalidades como Bruce Lee e
Mohammed Ali. “A gente nunca
deve se limitar, para não ficar com
uma visão muito romântica das
coisas, virar um purista. Meu lema
é: da mortadela ao caviar, a gente
não deve se limitar. Tem que expe-
rimentar de tudo.”
Aos 42 anos, o artista urbano Speto, que
desde a década de 1980 atua nas ruas de
São Paulo, foi escolhido para elaborar a
identidade visual da Coca-Cola para a
Copa do Mundo 2014
INSPIRAÇÃO
CUSTOMIZADA
Conhecido por financiar a ju-
ros convidativos empresários que
precisam investir em equipamen-
tos, fábricas e aumento da capa-
cidade produtiva, pela primeira
vez na história o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) criou uma linha de
crédito exclusiva para design.
A novidade se deu com a cria-
ção do Prodesign, programa de
apoio a investimentos em design,
moda e fortalecimento de marcas,
que tem uma das menores taxas
do mercado. Os juros partem de
5% ao ano, mais 0,9% de risco.
São contemplados os segmentos
têxtil, de confecções, calçadista,
moveleiro, de higiene pessoal,
perfumaria, cosméticos, utilidades
domésticas, brinquedos, metais
sanitários, joias, relojoeiro, emba-
lagens, eletrodomésticos e revesti-
mentos cerâmicos.
Na visão de Job Rodrigues,
gerente de Estudos Setoriais do
BNDES, o design é uma variável
estratégica na disputa pela atribui-
ção de valor à marca. De acordo
com Rodrigues, estudo feito pelo
BNDES com empresas dos setores
têxtil, de confecções, calçadista e
moveleiro identificou que o design
tem ganhado espaço e se firmou
como uma das principais dimen-
sões estratégicas dos negócios
(etapas do processo produtivo e
criativo de uma empresa). “Em-
bora não permita um cálculo esta-
tístico, 46% das empresas consul-
BRASIL GANHA
PARA DESIGN Batizado de Prodesign, programa pioneiro do
BNDES tem orçamento de R$ 500 milhões e uma das taxas de juros mais baixas do mercado
tadas afirmaram que os projetos
diretamente ligados a design são
elaborados por um núcleo exclusi-
vamente dedicado ao tema”, de-
talha o gerente do BNDES.
A ascensão do design também
se traduz em números. Os gastos
anuais das empresas brasileiras
na área vêm aumentando ano a
ano e já chegam a 1,6% da re-
ceita operacional bruta. Segundo
o BNDES, 37,5% das empresas
pretendem aumentar significati-
vamente o percentual aplicado no
conjunto formado por marketing,
design e P&D (exclusive design e
marketing), enquanto 25% plane-
jam um leve aumento, totalizando
62,5% de respostas positivas.
Além de agregar valor e au-
mentar a competitividade, o
estudo do BNDES mostrou que
investimentos em design po-
dem otimizar custos atrelados à
logística, escala, seleção de ma-
térias-primas e processos produ-
tivos. Ademais, o levantamento
destacou que o design pode
economizar materiais e viabilizar
a substituição de componentes
excessivamente caros por outros
igualmente eficazes. O estudo
do BNDES concluiu também que
a indústria brasileira encontra-se
em posição intermediária em re-
lação ao design, que ainda há es-
paço para iniciativas públicas e as
empresas podem aperfeiçoar os
esforços nos investimentos.
O DESIGN NAS EMPRESAS BRASILEIRAS
INVESTIMENTO
TRABALHAM COM NÚCLEOS DE DESIGN
46%
Pretendem aumentar significativamente
o investimento no conjunto formado por
marketing, design e P&D
Planejam um leve aumento no investimento
62,5%
37,5%
25%
LINHA DE CRÉDITO EXCLUSIVA
40|FINANCIAMENTO
POR_LARISSA FÉRIA
SIMPLES E RÁPIDO
A linha do BNDES foi criada
porque muitas empresas, principal-
mente as ligadas à moda, não con-
seguiam crédito no programa de
inovação. “Era difícil decidir o que é
inovador ou não. Nessa discussão,
percebemos que os projetos liga-
dos à moda não conseguiam se en-
quadrar em inovação. Calça jeans é
sempre uma calça jeans. Não tem
como inovar. Não queríamos ficar
nesse debate e percebemos que
havia espaço para criar uma linha
para o fortalecimento da marca. O
Prodesign é mais livre, simples e rá-
pido”, afirma Job Rodrigues.
Para que pequenas e médias
empresas possam se beneficiar da
linha, o BNDES reduziu de R$ 20
milhões para R$ 3 milhões o va-
lor mínimo de apoio. Lançado em
setembro de 2013, as solicitações
de empréstimo somam aproxima-
damente R$ 230 milhões do total
de R$ 500 milhões reservados ini-
cialmente para o programa. “As
empresas investem em torno de
0,5% do faturamento em design.
Se o valor (de apoio) fosse muito
alto, ninguém ia acessar a linha.
Por isso, ajustamos a realidade a
esse tipo de investimento”, expli-
ca Job Rodrigues.
Como ainda é pouco conheci-
do, o BNDES tem apresentado o
programa para as empresas que
vão buscar outras linhas. “Qua-
se todas as empresas que vêm
ao banco buscar crédito acabam
incluindo um subcrédito de de-
sign”, explica Job Rodrigues.
O gerente de Estudos Setoriais
do BNDES reforça que as peque-
nas e médias empresas que não
se enquadrarem nas condições
do Prodesign podem recorrer
ao Cartão BNDES ou ao BNDES
Automático. Pelo Cartão BNDES
é possível financiar a contrata-
ção de serviços de pesquisa,
desenvolvimento e inovação
de produtos e processos, como
a aquisição e transferência de
tecnologia, serviços de prototi-
pagem, design e ergonomia. A
taxa cobrada é baseada na LTN
(Letra do Tesouro Nacional) e di-
vulgada mensalmente na pági-
na principal do Portal de Opera-
ções do BNDES. Já o BNDES Au-
tomático tem linhas disponíveis
para micro, pequenas e médias
empresas, indústria de bens de
capital, indústria agropecuária,
infraestrutura e turismo, comér-
cio e serviços. O financiamento
de até R$ 20 milhões é feito por
meio de instituições financeiras
credenciadas.
JUROS A PARTIR DE
AO ANO
5 %
FINANCIAMENTO PRODESIGN
SAIBA QUAIS SEGMENTOS SÃO BENEFICIADOS PELO PRODESIGN
TÊXTIL
CONFECÇÕES
CALÇADISTA
MOVELEIRO
HIGIENE PESSOAL
PERFUMARIA
COSMÉTICOS
UTILIDADES DOMÉSTICAS
BRINQUEDOS
METAIS SANITÁRIOS
JOIAS E RELOJOEIRO
EMBALAGENS
ELETRODOMÉSTICOS
REVESTIMENTOS CERÂMICOS
FINANCIAMENTO|41
não há máximo estabelecido
42|ECONOMIA CRIATIVA
ALÉM DAS
POR LEANDRO HABERLI
FRONTEIRAS
Nas últimas décadas, pratica-
mente todos os setores da eco-
nomia tiveram que repensar seus
modos de atuação e as empresas
não só passaram a reconhecer a
importância do conhecimento
como insumo de produção, como
também perceberam claramente
o seu papel transformador no sis-
tema produtivo.
Além do capital, da matéria-pri-
ma e da mão de obra, as áreas es-
tratégicas das companhias volta-
ram suas atenções para o uso das
ideias como um recurso essencial
para a geração de valor.
Como decorrência direta dessas
transformações, entre tantos se-
tores da economia, as atividades
ligadas à criatividade, representa-
das pela Economia Criativa, vêm
se destacando como uma das mais
promissoras fontes de investimen-
to capazes de gerar o crescimento
de países em todo o mundo.
No Brasil, segundo o estudo Ma-
peamento da Indústria Criativa no
Brasil, produzido pela FIRJAN (Fe-
deração das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro), 2,7% do total
produzido pelo país já é provenien-
te da Indústria Criativa.
O dado é ainda mais surpreen-
dente se avaliado apenas o PIB
Criativo gerado pelas, aproximada-
mente, 240 mil empresas que atu-
am no segmento. Com produção
de R$ 110 bilhões, o Brasil está en-
tre os maiores produtores de cria-
tividade do mundo, na frente de
países como Itália (R$ 102 bilhões)
e Espanha (R$ 70 bilhões).
A crescente valorização da In-
dústria Criativa Brasileira é resul-
tado da formação de uma nova
economia de âmbito global pau-
tada na comercialização de bens
e serviços intangíveis. Neste novo
cenário, as distâncias foram redu-
zidas e as barreiras comerciais da
economia tradicional, ultrapassa-
das. A criatividade brasileira tra-
fega pelo mundo, por exemplo,
em forma de arte e de design,
conquistando o reconhecimen-
to de países da Europa, África e
América Latina, entre outros.
No segmento do Design, um
exemplo dessa aproximação do
mercado criativo brasileiro com ou-
tros países é a PANDE. A agência
vem exportando seus serviços em
design estratégico para países da
América Latina, Europa e África.
Com vasto leque de alimentos
Entre os maiores produtores de criatividade do mundo, o Brasil se destaca na Economia Criativa
e o design brasileiro começa a atrair o interesse de empresas internacionais
FRONTEIRAS
“O mais gratificante na nossa experiência com a PANDE tem
sido uma busca contínua de razões estratégicas que sustentem o trabalho
de design”, Max Vidal, diretor de Marketing da Alicorp.
ECONOMIA CRIATIVA|43
Para atender ao mercado peruano, a PANDE promoveu a imersão de sua equipe nos diferentes perfis de canais em Lima e Trujillo. A partir de entrevistas, observação dos shoppers e análise dos pontos de venda foi possível identificar insights e oportunidades para a construção de marcas inseridas neste contexto.
e produtos de higiene e limpeza
em seu portfólio, a Alicorp passou
a usar os serviços da PANDE em
suas estratégias de marca e na
criação da identidade visual de di-
ferentes itens.
“O mais gratificante na nossa
experiência com a PANDE tem sido
uma busca contínua de razões es-
tratégicas que sustentem o traba-
lho de design. A PANDE também
apresenta um interessante frescor
na sua variedade de propostas e
ideias, além de uma excelente vo-
cação de serviços e notável atitude
de escuta. Tudo isso nos permite,
em equipe, chegar à melhor alter-
nativa de design, considerando os
mínimos detalhes. Essas caracte-
rísticas têm sido altamente reco-
nhecidas e valorizadas por nossa
equipe”, diz Max Vidal, diretor de
Marketing da Alicorp.
Diferente do que ocorreu com
a africana Unifood, o contato en-
tre a brasileira PANDE e a peruana
Alicorp (maior fabricante de bens
de consumo doméstico do Peru,
com operações na América do
Sul, Central e do Norte) foi impul-
sionado pela parceria da Apex-Bra-
sil e da Abedesign (Associação
Brasileira de Empresas de Design),
que desde 2008 divulgam escri-
tórios brasileiros de design no
exterior. Resumidamente, comiti-
vas de empresários brasileiros do
ramo de design visitam empresas
e eventos realizados fora do país,
como feiras de embalagem, insu-
mos e tecnologia. Posteriormen-
te, os estrangeiros contatados
são convidados a virem ao Brasil
para conhecerem os escritórios de
design locais e seus portfólios. A
fórmula tem dado certo.
“A Alicorp é uma empresa que
sempre busca a excelência no de-
senvolvimento de seus produtos.
Para tanto, requer fornecedores
de serviços que satisfaçam os al-
tos padrões estabelecidos dentro
da companhia. Também enten-
demos que o design de embala-
gens tem um alto valor estratégi-
co dentro do mix de marketing.
Por tudo isso, buscamos empre-
sas com suficiente experiência
e comprovado talento, que nos
permitam alcançar os requeri-
mentos para sermos exitosos
frente a grandes competidores
globais como os que enfrenta-
mos”, fala Max Vidal sobre os
motivos que levaram a Alicorp a
escolher a PANDE como sua for-
necedora de serviços de branding
e design estratégico.
44|ECONOMIA CRIATIVA
Com o intuito de renovar seus equities visuais e mostrar ao mercado o dinamismo de sua marca, a Unifood pediu que a PANDE desenvolvesse a nova identidade corporativa da empresa. Integrado às peças de comunicação da marca, o novo logo foi criado para permitir aplicações diversas e ganhou terminações arredondadas que remetem à alegria e ao sabor que oferecem seus produtos.
Em breve, Chile, México e Estados
Unidos entrarão na mira da estratégia
de expansão internacional da PANDE.
Projeto Bolívar, desenvolvido
para a Alicorp (Peru).
Gian Rocchiccioli, Chief Strategy Officer Fernando Faria, Chief Executive Officer
CARACTERÍSTICAS EM COMUM
As semelhanças culturais e econômicas entre Brasil e África contribuíram para que a Unifood, indústria de ali-
mentos sediada na Costa do Marfim, escolhesse a brasileira PANDE como seu principal fornecedor de design e
estratégias de branding. “Acreditamos que esses dois países tenham muitos pontos em comum. Isso permite à
PANDE compreender e atender com mais facilidade nossas necessidades”, diz Khalil Salhab, diretor-geral da
Unifood da Costa do Marfim.
Com vendas nas Áfricas Ocidental e Central (principalmente em Togo, Gana, Senegal, Mali, Nigéria,
Camarões e Gabão), a Unifood produz sob o guarda-chuva da marca Tomy confeitos, biscoitos e bom-
bons, enquanto a marca Sossa abriga itens salgados como maionese e caldos culinários. A empresa
também fabrica gomas de mascar e outras guloseimas voltadas ao segmento infantil. Além da
marca institucional da Unifood, a PANDE criou as novas logomarcas e toda a identidade visual
das linhas Chocobon e Sossa.
“Nossos produtos são degustados em momentos de prazer. Eles nos remetem à infância
e também lembram ocasiões de celebração e festa. Estamos felizes com a PANDE, pois
ela entendeu que nossas embalagens precisam ser atraentes e alegres”, complementa
Salhab, lembrando que a situação econômica na Costa do Marfim é difícil, mas pro-
missora. “O país está saindo de uma longa crise e concentra 50% da população na
faixa etária com até 20 anos. Em contrapartida, apresenta taxa de crescimento
econômico superior a 9% e atrai progressivos investimentos internacionais”.
ECONOMIA CRIATIVA|45
Antes de tirar do papel seu pro-
jeto de internacionalização, a PAN-
DE planejou e executou uma série
de ações. A primeira foi tornar a
expansão fora do país a principal
meta do planejamento estratégico
para os próximos cinco anos. Até
2017, a PANDE quer estar entre as
dez principais agências de design
do mercado latino-americano.
Para iniciar a exploração de no-
vos mercados, a PANDE contou
com o apoio do projeto Interagên-
cia, da Abedesign (Associação Bra-
sileira de Empresas de Design),
que tem como objetivo principal
internacionalizar a atuação de
empresas brasileiras no setor do
design. “O que nos interessou no
Interagência foi o nosso objetivo
de exportar. Dentro da PANDE,
entendíamos que a exportação
era essencial, mas a gente enfren-
tava a barreira de como expor-
tar, o que fazer para exportar. O
projeto Interagência nos ajudou
a vencer. É importante falar que
o primeiro grande benefício foi
o acesso direto a um potencial
comprador. Nessa viagem que fi-
zemos para o Peru e a Colômbia,
a gente conheceu um potencial
POR DENTRO DA EXPANSÃO INTERNACIONAL
cliente, que acabou se tornando
cliente da PANDE”, afirma Gian
Rocchiccioli, Chief Strategy Offi-
cer da PANDE.
No atendimento aos clientes
estrangeiros, a empresa trabalha
de duas formas. Com institutos
de pesquisa locais, que fornecem
informações de mercado, e a par-
tir de visitas e imersões de cam-
po. “Recentemente enviamos dois
profissionais para uma semana
de imersão no mercado peruano
e realização de ‘focus group’ com
clientes”, diz Gian.
A agência contratou uma pro-
fessora de espanhol para treinar
os profissionais que vão traba-
lhar com clientes na América do
Sul. Num segundo momento fo-
ram feitos investimentos em in-
fraestrutura para o atendimento
a distância dos clientes. “Depois
separamos em nossa equipe uma
gerente exclusiva para merca-
dos internacionais e iniciamos
viagens de prospecção regulares
para Peru e Colômbia”, acrescenta
Gian, citando os dois países que
estão no foco inicial do projeto de
internacionalização da PANDE.
O desempenho da exportação
para os negócios da PANDE é con-
siderado fundamental e o trabalho
feito com o projeto Interagência e
o apoio da Abedesign é essencial
para atingir resultados satisfató-
rios. “Comparando os dados de
2013, quando fizemos essa ação, e
os de 2012, vemos um aumento de
54% no volume de exportação da
PANDE, mas o principal foi o resí-
duo que isso nos deixou. Nos três
primeiros meses de 2014, esse au-
mento foi de 400%. A gente sabe
que é uma base pequena, por isso o
tamanho do aumento, mas isso nos
deixa empolgados, porque estamos
no caminho certo”, completa Gian.
Com as primeiras contas con-
quistadas, a PANDE já começa a
estudar novas possibilidades de
atuação internacional. Uma ideia
é fechar acordos operacionais com
agências locais. Outra é a contrata-
ção de um country manager para
atuar nos mercados externos onde
a empresa já detém contas ativas.
Além da Unifood e da Alicorp, a
PANDE já desenvolveu projetos in-
ternacionais para Kimberly-Clark,
Nestlé e Hellmann’s, neste último
caso concebendo a identidade vi-
sual da marca para toda a América
Latina. Hoje o foco internacional
da empresa está voltado para Peru
e Colômbia. Mas, em breve, Chile,
México e Estados Unidos entrarão
na mira da estratégia de expansão
internacional.
Alexandre Guedes Mussnich (Lubianca), Gian Franco Rocchiccioli (PANDE) e Adriana Correa (Abedesign - Colômbia) prospectando o mercado colombiano na Expomarketing Colômbia 2014.
Até 2017, a PANDE quer estar entre as dez principais agências de design do mercado latino-americano.
46|JUNTOS PELA INOVAÇÃO
O excesso de tarefas e a comple-
xidade da rotina do dia a dia nas
empresas, muitas vezes, inibem o
desenvolvimento da criatividade
dos funcionários e o entendimen-
to claro das estratégias de negó-
cio. Para sair do piloto automático
e do costume de enxergar tudo da
mesma forma, além de criar um
ambiente favorável, as empresas
podem adotar ações que estimu-
lem os funcionários a lançarem
um novo olhar sobre as mesmas
questões. Foi com esse objetivo
que a PANDE e a Fundação Dom
Cabral desenvolveram juntas um
jogo de estratégia que permite
aos participantes terem um maior
conhecimento entre as definições
estratégicas da empresa e o traba-
lho de construção e consolidação
de suas marcas.
Líder mundial no setor de em-
balagens PET e HDPE, a Plasti-
pak do Brasil procurou a PANDE
para treinar o espírito e a visão
empreendedora entre seus fun-
cionários. “Precisávamos de um
parceiro como a PANDE que,
através de métodos-processos de
questionamento de abordagem
ao mercado, permite conjugar as
unicidades de uma empresa com
Game desenvolvido pela PANDE em parceria com a Fundação Dom Cabral
permite que participantes descubram a importância
de ter uma estratégia clara para o trabalho de
construção e consolidação de suas marcas
BRAND GAME
POR_LARISSA FÉRIA
JUNTOS PELA INOVAÇÃO|47
as necessidades do mercado, fa-
cilitando tornar a habilidade da
empresa uma vantagem compe-
titiva, alavancando os resultados
econômicos e financeiros”, afir-
ma Dinis Mota, diretor-geral da
Plastipak do Brasil.
Mais do que inovar no desen-
volvimento dos produtos em si, a
Plastipak quer despertar o espí-
rito empreendedor no processo
de planejamento diário das ope-
rações. Um dos trabalhos feitos
pela PANDE foi a aplicação do
game da Fundação Dom Cabral.
Para Dinis, o treinamento fez as
pessoas entenderem o objetivo
do negócio a curto, médio e lon-
go prazos e a importância de ter
uma estratégia clara, quantifica-
da e perceptível. “A experiência
foi ótima. Tivemos diferentes
posturas, que serviram para dar
aprendizado no nosso dia a dia.
Tivemos grupos que tentaram
entender a técnica. Outros se-
guiram a intuição e alguns fo-
ram mais emocionais. Isso é a
vida empresarial. É necessário
entender por que fazer de um
modo e não do outro e qual é
o impacto dessa decisão”, com-
pleta o diretor-geral.
“A PANDE é uma empresa diferente no mercado de
soluções. Além de ser uma parceira que acrescenta valor,
ela auxilia a sustentar esse valor ao longo do tempo.”
Dinis Mota, diretor-geral da Plastipak do Brasil
O JOGO
48|JUNTOS PELA INOVAÇÃO
A metodologia utilizada no
Brand Game é simples e direta:
mãos na massa. Depois de se-
rem apresentados a um merca-
do fictício, os participantes são
divididos em grupos (empresas)
de três a cinco pessoas. Cada
equipe recebe R$ 300 milhões
e deve decidir em qual mercado
investir, quais ações estratégicas
e táticas serão tomadas para
construir suas marcas, conquis-
tar mercados e fidelizar clientes.
O principal desafio é transfor-
mar uma marca desconhecida
em referência nos cinco diferen-
tes segmentos de mercado pos-
síveis no jogo. “Certas coisas são
difíceis de explicar teoricamente.
Às vezes, a decisão pode parecer
óbvia, mas na prática é muito di-
ferente. O jogo traduz os dilemas
do mercado e os participantes
têm uma experiência indireta”,
afirma Paulo Vicente Alves, pro-
fessor de Estratégia da Fundação
Dom Cabral.
Composto por ciclos de to-
madas de decisões e análises de
resultados, o game permite que
os participantes invistam no de-
senvolvimento de projetos de
branding, no planejamento estra-
tégico e em inovação. “Esses são
temas relevantes e aumentam as
chances de um bom resultado,
principalmente no longo prazo,
porque diminuem os riscos. Ao
conhecer o mercado, fica mais fá-
cil tomar as melhores decisões”,
explica Gian Franco Rocchiccioli,
Chief Strategy Officer da PANDE.
Ter uma equipe unida, que com-
partilha os mesmos objetivos, é es-
sencial para um bom desempenho.
"Assim como na vida real, o grupo
que briga menos tem grande van-
tagem porque trabalha melhor em
equipe e toma as melhores deci-
sões", analisa o professor da Fun-
dação Dom Cabral.
No fim, os próprios parti-
cipantes devem decidir qual
equipe é a vencedora. “Um dos
desafios do jogo é incentivar
os participantes a adivinharem
quem ganhou o jogo. Normal-
mente, eles sempre chegam à
mesma conclusão”, afirma Al-
ves. Mas nem sempre ter mais
dinheiro em caixa significa ter
o melhor resultado. É preciso
avaliar qual o posicionamento
das marcas, o valor de merca-
do destas empresas, o valor das
marcas, as perspectivas futuras
e o portfólio disponível. Para Al-
ves, a experiência do jogo pode,
muitas vezes, ser traduzida para
a realidade da empresa.
“Muitas vezes é possível traduzir a experiência do jogo para a realidade da empresa.” Paulo Vicente Alves, professor de Estratégia da Fundação Dom Cabral
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