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Walter Benjamin e marxismo: a tarefa do materialismo histórico Rafael Zacca Fernandes Doutorando/Cnpq PUC-RJ Or. Prof. Dr. Pedro Duarte de Andrade Uma das mais famosas teses “Sobre o conceito de história” tenta responder à situação de emergência em que foi escrita. Em 1940, o nazismo e o fascismo ascendiam na Europa, e deixavam perplexos os entusiastas da liberdade prometida pela modernidade. Um mundo que, após se soltar das amarras da tradição e da opressão mítica das ditas “sociedades fechadas”, tinha a seu serviço o esclarecimento como símbolo da liberdade viu florescerem regimes totalitários que pareciam regressivos se comparados com o aparente progresso feito pela civilização nos séculos anteriores. O fascismo parecia impossível, e, uma vez instalado, “bárbaro”, por oposição ao mundo liberal que o cercava. Walter Benjamin pensou a questão do estado de exceção um pouco diferente. Em suas teses sobre o conceito de história, postulou que a “tradição dos oprimidos” permite elaborar um conceito de história em que o estado de exceção tem sido a regra. Se a “luta de classes” é o que um historiador que aprendeu com Marx “tem sempre diante dos olhos” (é isso o que afirma a tese IV), podemos afirmar com alguma segurança que, para o materialista histórico vislumbrado por Benjamin, a história da luta de classes é a

2015 UFRRJ Walter Benjamin e Marxismo Resumo

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Page 1: 2015 UFRRJ Walter Benjamin e Marxismo Resumo

Walter Benjamin e marxismo: a tarefa do materialismo histórico

Rafael Zacca Fernandes

Doutorando/Cnpq

PUC-RJ

Or. Prof. Dr. Pedro Duarte de Andrade

Uma das mais famosas teses “Sobre o conceito de história” tenta responder à situação

de emergência em que foi escrita. Em 1940, o nazismo e o fascismo ascendiam na

Europa, e deixavam perplexos os entusiastas da liberdade prometida pela modernidade.

Um mundo que, após se soltar das amarras da tradição e da opressão mítica das ditas

“sociedades fechadas”, tinha a seu serviço o esclarecimento como símbolo da liberdade

viu florescerem regimes totalitários que pareciam regressivos se comparados com o

aparente progresso feito pela civilização nos séculos anteriores. O fascismo parecia

impossível, e, uma vez instalado, “bárbaro”, por oposição ao mundo liberal que o

cercava. Walter Benjamin pensou a questão do estado de exceção um pouco diferente.

Em suas teses sobre o conceito de história, postulou que a “tradição dos oprimidos”

permite elaborar um conceito de história em que o estado de exceção tem sido a regra.

Se a “luta de classes” é o que um historiador que aprendeu com Marx “tem sempre

diante dos olhos” (é isso o que afirma a tese IV), podemos afirmar com alguma

segurança que, para o materialista histórico vislumbrado por Benjamin, a história da luta

de classes é a história do estado de exceção.. Veremos como essa identificação entre

história da luta de classes e história do estado de exceção torna clara, para Benjamin,

uma tarefa [Aufgabe] do materialismo histórico: a tarefa de encerrar a história da luta de

classes, que é, ao mesmo tempo, a tarefa de encerrar a história do fascismo. Esse

contínuo histórico a ser destruído é o que impediu os povos de todos os tempos de

alcançarem a felicidade. Benjamin compreende que superar o capitalismo não é a meta

final do materialismo, mas, mais profundamente, que a luta contra o capitalismo (seja o

“democrático”, seja o do “estado de exceção”) é a luta pelo fim da história da opressão.

Palavras-chave: marxismo; estado de exceção; luta de classes