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Súmula 532-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Súmula 532-STJ Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO DO CONSUMIDOR PRÁTICAS ABUSIVAS Envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor Súmula 532-STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa administrativa. STJ. Corte Especial. Aprovada em 03/06/2015. Você já deve ter passado por esta situação ou conhece alguém que já a vivenciou: determinado dia, chega em sua casa uma correspondência do banco; ao abri-la você verifica que lá existe um cartão de crédito com seu nome e uma carta da instituição financeira dizendo que, para usufruir dos serviços, você deve ligar gratuitamente para a central de atendimento e desbloquear o cartão. Você, então, pensa: mas eu não solicitei este cartão... Por que me mandaram? Algumas pessoas acabam ligando e desbloqueando o cartão, outras simplesmente o quebram e descartam. Diversos consumidores, no entanto, sentiram-se realmente incomodados com tal prática e passaram a ingressar na Justiça questionando a legalidade dessa conduta das administradoras de cartões de crédito, pedindo indenização pelos danos morais causados. As instituições financeiras defenderam-se dizendo que o envio dos cartões de crédito consiste em mera oferta de um serviço, ou seja, uma comodidade proporcionada aos clientes e que os cartões são enviados bloqueados, de forma que não haveria nenhum prejuízo aos consumidores. Argumentaram, ainda, que esta prática não acarreta dano moral indenizável, gerando, no máximo, um mero aborrecimento corriqueiro aos clientes. A questão chegou ao STJ em diversas oportunidades. O que foi decidido? É permitido enviar cartão de crédito ao cliente sem este ter solicitado? NÃO. Isso configura algo que o Código de Defesa do Consumidor chama de “prática abusiva”. Trata-se, portanto, de ato ilícito porque viola o art. 39, III, do CDC: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (...) III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; Haverá prática abusiva mesmo se o cartão de crédito que for enviado estiver bloqueado? SIM. Não importa que o cartão de crédito esteja bloqueado. Se ele foi enviado ao consumidor sem que este tenha feito pedido pretérito e expresso isso já caracteriza prática comercial abusiva, violando frontalmente o disposto no art. 39, III, do CDC (STJ REsp 1199117/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012). O consumidor que recebeu o cartão de crédito terá direito de receber indenização por danos morais? SIM. O STJ reconhece o direito do consumidor à indenização por danos morais nestes casos.

2015jun08 - Receber Cartao Sem Solicitar Sumula-532-Stj

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  • Smula 532-STJ Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 1

    Smula 532-STJ Mrcio Andr Lopes Cavalcante

    DIREITO DO CONSUMIDOR

    PRTICAS ABUSIVAS Envio de carto de crdito sem prvia e expressa solicitao do consumidor

    Smula 532-STJ: Constitui prtica comercial abusiva o envio de carto de crdito sem prvia e expressa solicitao do consumidor, configurando-se ato ilcito indenizvel e sujeito aplicao de multa administrativa.

    STJ. Corte Especial. Aprovada em 03/06/2015.

    Voc j deve ter passado por esta situao ou conhece algum que j a vivenciou: determinado dia, chega em sua casa uma correspondncia do banco; ao abri-la voc verifica que l existe um carto de crdito com seu nome e uma carta da instituio financeira dizendo que, para usufruir dos servios, voc deve ligar gratuitamente para a central de atendimento e desbloquear o carto. Voc, ento, pensa: mas eu no solicitei este carto... Por que me mandaram? Algumas pessoas acabam ligando e desbloqueando o carto, outras simplesmente o quebram e descartam. Diversos consumidores, no entanto, sentiram-se realmente incomodados com tal prtica e passaram a ingressar na Justia questionando a legalidade dessa conduta das administradoras de cartes de crdito, pedindo indenizao pelos danos morais causados. As instituies financeiras defenderam-se dizendo que o envio dos cartes de crdito consiste em mera oferta de um servio, ou seja, uma comodidade proporcionada aos clientes e que os cartes so enviados bloqueados, de forma que no haveria nenhum prejuzo aos consumidores. Argumentaram, ainda, que esta prtica no acarreta dano moral indenizvel, gerando, no mximo, um mero aborrecimento corriqueiro aos clientes. A questo chegou ao STJ em diversas oportunidades. O que foi decidido? permitido enviar carto de crdito ao cliente sem este ter solicitado? NO. Isso configura algo que o Cdigo de Defesa do Consumidor chama de prtica abusiva. Trata-se, portanto, de ato ilcito porque viola o art. 39, III, do CDC:

    Art. 39. vedado ao fornecedor de produtos ou servios, dentre outras prticas abusivas: (...) III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitao prvia, qualquer produto, ou fornecer qualquer servio;

    Haver prtica abusiva mesmo se o carto de crdito que for enviado estiver bloqueado? SIM. No importa que o carto de crdito esteja bloqueado. Se ele foi enviado ao consumidor sem que este tenha feito pedido pretrito e expresso isso j caracteriza prtica comercial abusiva, violando frontalmente o disposto no art. 39, III, do CDC (STJ REsp 1199117/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012). O consumidor que recebeu o carto de crdito ter direito de receber indenizao por danos morais? SIM. O STJ reconhece o direito do consumidor indenizao por danos morais nestes casos.

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    Alm disso, haver algum outro tipo de punio para a instituio financeira? SIM. Alm de arcar com a indenizao por danos morais, a instituio financeira tambm poder ser condenada a pagar multa administrativa imputada pelos rgos de defesa do consumidor (ex: PROCON), nos termos do art. 56, I, do CDC. E se o consumidor, mesmo no tendo solicitado o carto, optar por ficar com ele? Flvio Tartuce defende que, no caso de envio de carto de crdito sem solicitao, se o consumidor quiser com ele permanecer, a instituio no poder cobrar anuidade, devendo esse servio ser considerado como amostra grtis, com base no art. 39, pargrafo nico, do CDC (Manual de Direito do Consumidor. So Paulo: Mtodo, 2014, p. 377):

    Art. 39 (...) Pargrafo nico. Os servios prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hiptese prevista no inciso III, equiparam-se s amostras grtis, inexistindo obrigao de pagamento.