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Dia da Poesia 21 de Março

21 de março dia da poesia 2

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Dia da Poesia

21 de Março

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Dia da poesia a braços com o PNL

Sophia e a Poesia

“Encontrei a poesia antes de saber que havia literatura. Pensava que os poemas não eram escritos por ninguém, que existiam em si mesmos, que eram como que um elemento natural, que estavam suspensos, imanentes. E que bastaria estar quieta, calada e atenta para os ouvir. (…)

Deixar que o poema se diga por si, sem intervenção minha (ou sem intervenção que eu veja), como quem segue um ditado (que ora é mais nítido, ora mais confuso), é a minha maneira de escrever. (…)” Sophia de Mello Breyner Andresen

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Dia da poesia a braços com o PNL

O poema me levará no tempoQuando eu já não for euE passarei sozinhaEntre as mãos de quem lê.

O poema alguém o diráÀs searas

Sua passagem se confundiráCom o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitaráO espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentesSuas sílabas redondas(Ò antigas ó longasEternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontraráUma praia onde quebrar as suas ondasE entre quatro paredes densasDe funda e devorada solidãoAlguém seu próprio ser confundiráCom o poema no tempo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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O POETA POR ELE PRÓPRIO

“Não se escreve com emoções; escreve-se com a memória. Como um oleiro, ao trabalhar num vaso, quando escrevo estou só preocupado em transformar essa memória em palavras, em música. “ Sentir, sinta quem lê”, como dizia o Fernando Pessoa.”

Eugénio de Andrade, in Jornal de Letras, Artes e Ideias, 29 de Novembro de 2000

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“Todos os meus versos são um apaixonado desejo de ver claro mesmo nos labirintos da noite. O amor da transparência é a minha fraqueza, mas a minha força também.

Quanto a mim, gosto das palavras que Sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do Verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisa como seixos, rugosas como o pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol.”

Eugénio de Andrade, Poética, introdução ao folheto da exposição “Eugénio de Andrade – 30 anos de trabalho”, de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 1976.

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VER CLARO

Toda a poesia é luminosa, atéa mais obscura.O leitor é que tem às vezes,em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.E o nevoeiro nunca deixa ver claro.Se regressaroutra e outra veze outra veza essas sílabas acesasficará cego de tanta claridade.Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede.

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“ O poema começa pela biografia. A um primeiro nível, o poema conta o próprio poeta. Só depois o poema se debruça para si próprio, se sistematiza uma poética.”

Nuno Júdice, Prefácio a “Noção de poema”, Cadernos de Poesia.

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Assim, o que um poetafaz com as palavras, aotocá-las com os dedos,não é sóo que o músico faz com os sonsou o pintor com as cores.As palavras,cuja composição espessa cimentao cérebro e lhe dá peso,não se reduzem às matérias visuale acústica respectiva-mente da cor e do som.A queda desamparadado sentido para dento de umpequeno espaço de escrita,assim como a súbita relaçãoestabelecida entre esse factoe a minha consciência dele, desde logoampliam o horizonte expressivodo poema.E se o raciocínio e o gesto, em parte, não entram nele,não quer isto dizer que uma (outra)razão, talvez mais profunda,o inspire e penetre.É que ela não se manifestaexpressamente pois, pelo contrário,só no seu aspecto ocultoe “longínquo” se revela- imediatamente -o Poético. Nuno Júdice, Obra Poética (1912-1989)

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Poesia …sinceridade ou fingimento?

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Autopsicografia

O poeta é um fingidor.Finge tão completamenteQue chega a fingir que é dorA dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,Na dor lida sentem bem,Não as duas que ele teve,Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de rodaGira, a entreter a razão,Esse comboio de cordaQue se chama o coração.

FERNANDO PESSOA, 1/4/1931

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Dizem que finjo ou mintoTudo o que escrevo. Não.Eu simplesmente sintoCom a imaginaçãoNão uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo.O que me falha ou finda,É como que um terraçoSobre outra coisa ainda.Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meioDo que não está o pé,Livre do meu enleio,Sério do que não é.Sentir? Sinta quem lê!

FERNANDO PESSOA, Abril 1933

ISTO

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Meus versos são meu sonho dado.Quero viver, não sei viver,Por isso, anónimo e encantado,Canto para me pertencer.

O que salvamos, o perdemos.O que pensamos, já o fomos.Ah, e só guardamos o que demosE tudo sermos quem não somos.

Se alguém sabe sentir meu cantoMeu canto eu saberei sentir.Viverei com minha alma tantoTanto quanto antes vivi.

FERNANDO PESSOA, Agosto 1930

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Dia da poesia a braços com o PNL

Ser poeta é ser mais alto, é ser maiorDo que os homens! Morder como quem beija!É ser mendigo e dar como quem sejaRei do reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendorÉ não saber sequer que se deseja!É ter cá dentro um astro que flameja,É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!Por elmo, as manhãs de ouro e de cetim…É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente …É seres alma, sangue, e vida em mimE dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca, Charneca em Flor (1930)

SER POETA

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Na poesianatureza variáveldas palavras,nada se perdeou cria,tudo se transforma:cada poemano seu perfilincertoe caligráfico,já sonhaoutra.

Carlos de Oliveira, “Sobre o lado esquerdo”.

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Dia da poesia a braços com o PNL

Deixa-me ver friamentea realidade nuasem ninfas de iludirou violinos de lua.

Vai-te, poesia!

Não transformes o mundodescarnado e terrívelnum céu de esquecer com mendigos de nuvensfamintos de estrelase feridas a cheirarem a cravos- enquanto os outros, os de carne verdadeira,uivam em vãoa sua fome de cadelase de pão.

Vai-te, poesia!

Deixa-me ver a vidaexacta e intolerávelneste planeta feito de carne humana a choraronde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabeloscom bandeiras de lume nos olhos,para fabricar sonhoscarregados de dinamite de lágrimas.

Vai-te, poesia!

Não quero cantar.Quero gritar.

José Gomes Ferreira, Poesia III, 6ª ed., Ed. Diabril, 1975

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Dia da poesia a braços com o PNL

“Peguem num poema e leiam-no. Não é preciso mais nada.”

Eugénio de Andrade, in Público, 21 de Junho de 2001.

Richard Clayderman- Feelings