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    www.unasp.edu.br/kerygma/monografia9.02.asp

    Ano 5 - Nmero 1 - 1. Semestre de 2009www.unasp.edu.br/kerygma

    pp.99

    Trabalho de Concluso de Curso

    ESTUDOS BBLICOS NA IDADE MDIA

    Rodrigo Follis Santos

    Bacharel em Teologia pelo Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

    TCC apresentado em dezembro de 2008Orientador: Vanderlei Dorneles, Ms.

    Resumo: Atravs da anlise de trs estudos bblicos em formato udio-visual (DVD),produzidos pela Igreja Adventista do Stimo Dia (IASD) se discute alguns conceitos do

    campo comunicacional ps-moderno, tais como: Crise da verdade; Mdia como poderdominante; poder da imagem; ditadura da imagem e do entretenimento. Esta

    investigao objetiva entender o papel da religio dentro da Idade Mdia. Ele procuratambm buscar solues para uma eficiente contextualizao miditica dos princpios

    bblicos tradicionais atual gerao.

    Palavras-chave:Estudos Bblicos, Igreja Adventista do Stimo Dia, Ps-Modernidade,

    Saturao da Imagem.

    Bible Studies in the Age of Media

    Abstract: Through the analysis of three Bible studies in audio-visual format (DVD)

    produced by the Seventh-day Adventist Church, this research discusses some concepts

    in the field of Postmodern Communication such as: The Crisis of Truth; Media as a

    dominating power; power of image; dictatorship of image and entertainment. Thisinvestigation seeks to understand the role of Religion in the Age of Media. It also

    searches for solution towards an efficient Media contextualization of the traditionalbiblical principles for the present generation.

    Keywords: Bible Studies; Seventh-day Adventist Church; Postmodernism; Image

    Saturation.

    http://www.unasp.edu.br/kerygma/monografia9.02.asphttp://www.unasp.edu.br/kerygmahttp://www.unasp.edu.br/kerygmahttp://www.unasp.edu.br/kerygma/monografia9.02.asp
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    CENTRO UNIVERSITRIO ADVENTISTA DE SO PAULO

    FACULDADE ADVENTISTA DE TEOLOGIA

    ESTUDOS BBLICOS NA IDADE MDIA

    Rodrigo Follis Santos 4 B

    Pesquisa em cumprimento parcial dosrequisitos da matria de Trabalho deConcluso de Curso, para obteno dottulo de Bacharel em Teologia.Orientador: Ms. Vanderlei Dorneles.

    Artur Nogueira / Engenheiro Coelho SP

    2008

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    Int. Dia. Cena da DedicatriaA cmera est focada. Fecha o close emRodrigo Follis. Ele olha para a lente e recita:

    Rodrigo Follis

    Mame. Dedico-te este trabalho.

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    RESUMO

    Atravs da anlise de trs estudos bblicos em formato udio-visual (DVD), produzidos

    pela Igreja Adventista do Stimo Dia (IASD) se discute alguns conceitos do campocomunicacional ps-moderno, tais como: Crise da verdade. Mdia como poderdominante. Poder da imagem. Ditadura da imagem e do entretenimento. Objetivandoentender o papel da religio dentro da Idade Mdia. Tendo em vista buscar solues parauma eficiente contextualizao miditica, dos princpios bblicos tradicionais, a atualgerao.

    Palavras-chaveEstudos Bblicos, Igreja Adventista do Stimo Dia, Ps-Modernidade, Saturao daImagem.

    ABSTRACT

    Through of three bible studies in audio-visual format (DVD), produced by the SevenAdventist Church (SDA), it is discussed some concepts in the postmoderncommunication field, as such: Truths crisis. Media as dominant power. Power of theimage. Tyranny of image and entertainment. Trying to understand the role of thereligion inside Middle Age. Having in mind the search for solutions to an efficient

    midiatic contextualization, of traditional bible principles, today generation.

    Palavras-chaveBible studies, Seven Day Adventist Church, Postmodern times, Tyranny of image.

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    ESTUDOS BBLICOS NA IDADE MDIA

    Trabalho de Concluso de Curso

    Apresentado em Cumprimento Parcial

    dos Requisitos para obteno do Ttulo de

    Bacharel em Teologia

    Por

    Rodrigo Follis Santos

    COMISSO DE APROVAO

    ____________________________ ____________________________

    Orientador AvaliaoVanderlei Dorneles

    ____________________________ ____________________________

    Leitor Data da AprovaoBerndt Dietrich Wolter

    ____________________________

    Diretor do Curso de TeologiaAmin Amrico Rodor

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    SUMRIO

    Introduo ....................................................................................................................... 6

    Adventismo e imagens miditicas do culto .................................................................. 6

    Definio do problema .................................................................................................. 7

    Escopo e delimitao do estudo .................................................................................... 7

    Metodologia .................................................................................................................. 8

    Diviso do trabalho ....................................................................................................... 9

    1. Evangelismo Adventista: Breve Resumo Histrico/Metodolgico ....................... 11

    Bases bblicas para a misso adventista ...................................................................... 12

    Estudos bblicos: porta de entrada no adventismo ...................................................... 14

    Evangelismo impresso e pela rdio ............................................................................ 14

    Evangelismo pela televiso ......................................................................................... 15

    Concluso parcial ........................................................................................................ 16

    2. Ps-Modernismo e o Cristianismo ........................................................................... 18

    Do modernismo ao ps-modernismo .......................................................................... 18

    Caractersticas ps-modernas ..................................................................................... 20

    Cristianismo e a ps-modernidade .............................................................................. 24

    Concluso parcial ........................................................................................................ 26

    3. Predominncia Ps-Moderna da Imagem .............................................................. 27

    Palavra vs. imagem ..................................................................................................... 29

    Incio da religio-mdia ............................................................................................... 30

    Concluso parcial ........................................................................................................ 33

    4. Anlise Crtica dos Estudos Bblicos Miditicos .................................................... 34

    Anlise estrutural dos estudos bblicos televisivos adventistas .................................. 34

    Problemas para a contextualizao ps-moderna ....................................................... 36

    Princpios para a pregao na idade ps-moderna ...................................................... 39

    Concluso parcial ........................................................................................................ 41

    Concluso Geral ............................................................................................................ 43

    Referncias Bibliogrficas ............................................................................................ 45

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    Introduo

    A crescente participao dos evanglicos na mdia tem levado muitos estudiosos

    a se preocuparem com tais questes1. FONSECA (2003, p. 271) mostra que o

    televangelismo acaba por induzir a pregao evanglica a uma secularizao. MARTN-

    BARBERO (1997, p. 112) complementa este pensamento quando diz que

    para a grande maioria das pessoas a mdia misteriosa, mgica, excitante e encanta comas novelas, as estrelas, a habilidade de criar evento como os Jogos Olmpicos, o frenesidas disputas esportivas e o espetculo dos reavivamentos religiosos. Alm disso, amdia eliminou a distncia entre sagrado e profano. Televiso o local para avisualizao de nossos mitos comuns, ela articula e catalisa a integrao dos mitos da

    nossa sociedade (dolos e artistas). (...) O que estamos testemunhando, no o conflitoda religio com a modernidade, mas a transformao da modernidade em encantamento

    por intermdio das ligaes das novas tecnologias de comunicao com a lgica dareligiosidade popular.

    A mdia televisiva divulga os modelos, a viso prevalecente de mundo, mitos e

    valores. Um dos fenmenos marcantes nesta sociedade ps-moderna a proliferao da

    religiosidade na mdia eletrnica. Os meios de comunicao, alm de divulgar, so as

    principais armas nessa batalha simblica pelos fiis e uma condio fundamental de

    existncia e manuteno das atividades religiosas (BASSO, p.1). Neil POSTMAN(1994) acaba por resumir os porqus de se estudar assuntos relacionados mdia e a f:

    Precisamos saber se a televiso muda nossa concepo da realidade, o relacionamentoentre ricos e pobres, a idias de felicidade em si. Um pregador que se confina para

    pensar como um meio de comunicao pode aumentar sua audincia, deixar de notar aquesto significativa: em que sentido um novo meio de comunicao altera osignificado de religio, de igreja e at mesmo de Deus? (p. 29).

    Adventismo e imagens miditicas do culto

    Os adventistas2sempre se caracterizaram pela pregao bblica para pessoas que

    ainda no so de sua f. Tal pregao tem por base a priorizao da razo, utilizando

    como mtodo primrio de ensino o texto escrito, atravs de sries de estudos bblicos

    produzidos pela denominao (SILVA, 2002, p. 13).

    1 Uma demonstrao de tal preocupao a criao da Rede Eclesiocom, ligada a CtedraMetodista-Unesco para o desenvolvimento da comunicao. Alguns trabalhos podem seracessados em http://www.metodista.br/eclesiocom2

    Optou-se pela utilizao do termo adventistas quando se tenciona citar os membros da IgrejaAdventista do Stimo Dia; assim como Igreja Adventista para quando se cogita a congregaodestes membros em comunidade.

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    possvel, em tempos recentes, notar uma preferncia progressiva na

    substituio dos estudos impressos pelos televisivos (sendo estes em DVD, produzidos

    para a TV ou para a Internet). possvel atribuir tal interesse a atual fase de produoacelerada de novos ttulos miditicos, o que no retira a percepo desta possvel troca

    do estudo textual para o visual.

    Definio do problema

    Paulo Cilas da Silva (2002) analisa a composio dos principais estudos

    bblicos3adventistas ao longo dos anos, chegando at mesmo a analisar alguns estudos

    de carter miditico, embora no gaste muito tempo nestes.Entre as perguntas que surgem dentro desta temtica, foram enfocadas as

    seguintes: A adaptao dos antigos estudos bblicos adventistas, antes escritos agora

    miditicos, tem obtido sucesso na transposio necessria ao novo meio utilizado?

    Como ocorre a aproximao das imagens de cultos/estudos bblicos adventistas com as

    imagens miditicas? Como reverter os efeitos negativos da era ps-moderna e usar a

    imagem como verdadeiro instrumento evangelstico?

    Em suma, o objeto de estudo desta pesquisa o tipo de influncia e de persuasodo discurso religioso nos programas televisivos da Igreja Adventista do Stimo Dia (a

    partir de agora IASD), no processo de converso dos fiis, na reconstruo do sagrado e

    de valores morais projetados atravs de simulacros por meio da mdia televisiva. A

    problemtica analisada o caminho percorrido dentro das produes da IASD no que se

    refere ao uso da imagem como meio evangelstico.

    Escopo e delimitao do estudo

    Teve-se por inteno a analise de trs objetos miditicos produzidos pela IASD

    em tempos recentes4. Tal analise indicou, por amostragem, um universo maior ao qual

    est diretamente relacionada (i.e. a tendncia dos estudos bblicos se convergirem para

    instrumentos de comunicao da cultura de massa).

    3A expresso estudos bblicos uma expresso usada pelos adventistas, com a finalidade deindicar o estudo da Bblia oferecido por um membro adventista a uma pessoa que no seja

    praticante desta f, geralmente na forma de perguntas e respostas apoiadas em passagens

    bblicas. Mtodo praticado extensivamente desde 1880, principalmente atravs de visitao decasa em casa (SILVA, 2002, p. 5).4Todos os objetos analisados tm datas de produo entre 2005 a 2008.

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    Como instrumentos de estudos foram selecionados: 1) O estudo bblico, em

    formato DVD, intitulado O Grande Conflito, apresentado pelo Pr. Luiz Gonalves;5o 2)

    estudo bblico, em formato DVD, intitulado Princpios A Resposta do Fim Est noPrincipio6; 3) O estudo bblico, em formato DVD, intitulado Ouvindo a Voz de Deus,

    apresentado pelo Pr. Alejandro Bulln7.

    Para tais escolhas apresentamos as seguintes razes: 1) Todas as produes so

    consideradas semelhantes nos objetivos, e derivam de uma fonte histrica comum;82)

    Tais DVDs so produzidos oficialmente pela IASD; 3) As produes em anlise

    tiveram e tm grande repercusso no meio adventista, sendo utilizadas como presentes

    evangelsticos

    9

    por membros da igreja adventista. 4) Embora tais produes sejamencontradas, para esta anlise, no formato de DVDs todas j foram em alguma poca

    recente divulgadas na televiso e internet.

    Metodologia

    Quanto a anlise dos objetos pretendidos consideramos a tese de Alberto Klein10

    como ponto de partida. Tal tese nos levou a conhecer melhor, a Semitica da Cultura11,

    principalmente a partir das contribuies de Ivan Bystrina12 e Norval Baitello Jr.,

    adotadas neste trabalho. Quanto ao conceito de imagem foram escolhidas as abordagens

    5O Grande Conflito. Direo de Osmar Reis. Braslia-DF: Igreja Adventista do Stimo Dia,2005. 344 min., Cor, Dublado. (DVD/NTSC. Palestra).6 Princpios: O Dia que o Mundo No Acabou. Direo de Wilton Costa. Jacare-SP: NovoTempo, 2008. 359 min., Cor, Dublado. (DVD/NTSC. Palestra).7Ouvindo a Voz de Deus. Direo de Fernando Iglesias. Jacare-SP: Novo Tempo, 2008. 370min., Cor, Dublado. (INTERNET/NTSC. Palestra).8 Todas as palestras em DVD analisadas tiveram o mesmo objetivo ao serem produzidas, o detranspor os antigos estudos bblicos realizados pela IASD para um formato miditico, no queconsiste a abordagem deste trabalho, analisar os efeitos de tais transposio.9

    Tais produes no tem o seu pice na exibio televisiva em canais aberto (por mais quetambm sejam exibidas em canais da TV aberta como a Bandeirantes, a CNT ou a Gazeta). Acomercializao de DVDs e a distribuio massiva por parte dos membros da Igreja Adventistatm contribudo para a propagao destes materiais.10 Klein, 2006. A tese de FONSECA, 2003 tambm foi utilizada como base do presente estudo.11Para um estudo introdutrio sobre a Semitica da Cultura Cf. BAITELLO, Norval. O Animalque Parou o Relgio. So Paulo: Anna Blume, 1998; So Paulo: Anna Blume, 1998,MACHADO, Irene. Escola de Semitica: A Experincia de Trtu-Moscou para o Estudo daCultura. Cotia-SP: Ateli Editorial, 2003; MACHADO, Irene (Org). Semitica da Cultura eSemiosfera. So Paulo: Anna Blume, 2007. Sobre as Teorias da Comunicao recomenda-se:MATTELART, Michele. Histria das Teorias da Comunicao.So Paulo: Loyola, 2005; e,HOHLFELDT, Antnio; MARTINHO, Luiz C.; FRANA, Vera Veiga (Orgs.). Teorias daComunicao:Conceitos, Escolas e Tendncias. Petrpolis-RJ: Vozes, 2003.12

    Uma introduo ao pensamento de Bystrina pode ser encontrado em: BYSTRINA, Ivan.Tpicos de Semitica da Cultura. Pr-print. Trad. Norval Baitello Jr. e Snia Castino. SoPaulo: PUC-SP, 1995.

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    metodolgicas discutidas por Dietmar Kamper e Has Belting13, por consider-las mais

    adequadas aos objetivos pretendidos. A tese doutoral de Paulo Cilas da Silva14forneceu

    as bases iniciais para o desenvolvimento cronolgico/metodolgico de como os ASD seutilizaram para o ensino da Bblia (embora tal tese se restrinja aos formatos impresso),

    assim como para a metodologia de anlise dos contedos de tais estudos.

    Aberto Timm e George Knight fornecem as bases bblicas e histricas quanto

    importncia dos estudos bblicos, na compreenso adventista. Quanto s conseqncias

    do ps-modernismo e modernismo, e como tais movimentos afetam as crenas Crists,

    deve-se a Gene Veith15 as bases inicias do estudo. Quando necessrio se realizou

    incurses em diversos tericos da comunicao, sociologia e da religio os quaisajudam a expandir e esclarecer as reas abordadas.

    Diviso do trabalho

    O trabalho foi divido em quatro partes: 1. Evangelismo e a IASD: Breve

    Resumo Histrico/Metodolgico; 2. Ps-modernismo e o Cristianismo; 3.

    Predominncia Ps-Moderna da Imagem; 4. Anlise Crtica dos Estudos Bblicos

    Miditicos. Seguidos de uma concluso parcial ao trabalho.Tais fatos merecem algumas elucidaes: Quanto ao Captulo 1, realizado um

    breve panorama histrico sobre as metodologias e suas respectivas bases bblicas,

    13 Grande parte da bibliografia, em lngua portuguesa, destes autores pode ser acessadalivremente no site do Centro Interdisciplinar de Semitica da Cultura e da Mdia(www.cisc.org.br).14 SILVA, Paulo Cilas da. Sries de Estudos Bblicos da Igreja Adventista do Stimo Dia noBrasil: Breve Histria e Anlise Comparativa de seu Contedo (Tese de Doutorado sob

    Orientao de Alberto Timm). Engenheiro Coelho-SP: Unaspress, 2002. Outro livro de grandevalor para se entender a importncia da palavra escrita como base de propagao dos ensinos dosadventistas do stimo dia pode ser encontrada em: TIMM, Alberto Ronald (Ed.). Anaisdo 2Simpsio da Memria Adventista no Brasil: A Colportagem Adventista no Brasil: Uma brevehistria. Engenheiro Coelho- SP: Unaspress, 2000.15 Da literatura crist referente ao ps-modernismo, em lngua portuguesa, pode se indicaralgumas importantes obras: Para uma anlise geral do ps-modernismo cf. VEITH, GeneEdward. Tempos Ps-Modernos. So Paulo: Editora Cultura Crist, 1999; GRENZ, Stanley.Ps-modernismo: um guia para entender a filosofia do nosso tempo. So Paulo: Vida Nova,1997. Em relao Hermenutica Ps-moderna Cf. VANHOOZER, Kevin. H Um SignificadoNeste Texto? So Paulo: Editora Vida, 2005. Um estudo sobre o Cristo e a Cultura cf.HORTON, Michael S. O Cristo e a Cultura: Orientao Bblica para o Crente. So Paulo:Editora Cultura Crist, 2006. Uma resposta Crist aos ataques ps-modernos a religio

    encontrada em: DSOUZA, Dinesh. A Verdade Sobre o Cristianismo: Porque a ReligioCriada por Jesus Moderna, Fascinante e Inquestionvel. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil.2008.

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    usadas pelos adventistas brasileiros na pregao bblica para os que no so dessa f16.

    Nos captulos 2 e 3 se dispe um panorama da sociedade atual e introduzi-se a discusso

    sobre a saturao da imagem e de que forma a cultura de massa afeta a percepo damensagem Crist. No captulo 4, foi realizada a anlise das obras em discusso, com

    enfoque no formato visual da produo, assim como uma anlise dos contedos

    discutidos e uma breve comparao com o pensamento moderno e ps-moderno.

    16 Mostra-se no segundo captulo que os adventistas sempre se caracterizaram pelo forte

    evangelismo, objetivando, principalmente, os cristos de fora da f adventista. Tal evangelismose utiliza de diversos meios e mtodos. Sempre se caracterizando como pioneiros no uso dosmeios de comunicao em massa (Cf. FONSECA, 2003, 45-57).

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    1.Evangelismo Adventista: Breve ResumoHistrico/Metodolgico

    A Igreja Adventista do Stimo Dia (IASD) tem origem no movimento

    doutrinrio de Guilherme Miller, durante a dcada de 184017. Por meio da liderana de

    Thiago White18, Ellen White19e Jos Bates20a IASD foi organizada oficialmente em 21

    de maio de 186321(KNIGHT, 2000, p. 15).

    Logo aps o desapontamento de 184422, no qual o movimento milerita se

    fragmenta, os fundadores do movimento sabatista, (o qual viria a se tornar,

    posteriormente, a IASD) tiveram que rever e expandir todo o sistema de interpretao

    proftica. As tentativas de compreender mais claramente a verdade bblica levou-os a

    conservar alguns elementos do sistema milerita, a mudar outros, e a incorporar novas

    dimenses doutrinarias (TIMM, 2000, p. 58).

    Todo o contexto para entender o pensamento da IASD vem da compreenso da

    funo proftica23deste movimento, como entendido por eles prprios. Se por alguma

    razo a IASD investe tanto em mtodos e tcnicas de evangelismo atravs de estudos

    bblicos pode se afirmar que tal situao se deve ao pensamento proftico/escatolgico.

    Todo programa missionrio produzido pelos adventistas, tais como as

    publicaes e conferncias bblicas visto como formado ao redor dos estudos sobre

    a purificao do santurio, mencionado em Daniel 8:14, e sobre as trs mensagens

    anglicas de Apocalipse 14:6-12. Tal sistema foi de vital importncia para a formao

    17Para uma compreenso do pensamento de Guilherme Miller (em ingls William Miller) Cf.NICHOL, Francis D.The Midnight Cry: A defense of the character and conduct of WilliamMiller and the millerites, who mistakenly believed that the second coming of Christ would take

    place in the year 1844. Hagerstown-EUA: Review and Herald, 1945.18

    Cf. WHEELER, Gerald.James White: Innovator and overcomer. Hagerstown-EUA: Reviewand Herald, 2005.19 Cf. DOUGLASS, Herbert E.Mensageira do Senhor. Tatu- SP: Casa Publicadora Brasileira,2001.20 Cf. KNIGHT, George.Joseph Bates: The real founder of Seventh-day Adventism.Hagerstown-EUA: Review and Herald, 2004.21Para uma rpida introduo sobre a histria da IASD Cf. KNIGHT, George R. Uma IgrejaMundial: Breve histria dos Adventistas do Stimo Dia. Tatu-SP: CPB, 2000. Tambm Cf.SCHWARZ, Richard Willian.Portadores de Luz: Historia de la Iglesia Adventista del SptimoDa. Argentina: Asociacin Casa Editora Sudamericana, 2002.22Para compreender melhor o significado proftico de 1844 Cf. GOLDSTEIN, Clifford.1844:Uma explicao simples das principais profecias de Daniel. Tatu-SP: Casa PublicadoraBrasileira, 2005.23

    Sobre como o desenvolvimento doutrinrio da IASD e como tais crenas modificaram suaforma de agir no mundo Cf. KNIGHT, George R.Em Busca de Identidade: O desenvolvimentodas doutrinas Adventistas do Stimo Dia. Tatu-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005.

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    de uma comunidade que poderia participar no processo de aperfeioamento e de

    transmisso do novo sistema doutrinrio. (TIMM, 2000, p. 66). A crena de que

    possuam a verdade presente deu aos primeiros adventistas (...) uma auto-identidademarcante e um senso especfico de misso no mundo (TIMM, 2000, p. 119).

    Por surgir em pleno Sculo XIX, o qual se v tomado pela grande expanso da

    cincia e do pensamento modernista, de fcil entendimento as razes da tradio que

    este movimento tem em buscar sistemas lgicos para formular crenas como tambm de

    transmisso do conhecimento acumulado.

    Bases bblicas para a misso adventista

    George Knight, historiador adventista, mostra que dentre os 150 anos de

    existncias de Adventismo, este movimento tem resistido tentao de formalizar um

    corpo de crenas que sejam inflexveis, mesmo tendo com o passar do tempo definido

    suas crenas fundamentais. A IASD teve apenas trs declaraes de crenas que

    alcanaram grau de aceitao oficial24 (2005, p. 22).

    Ellen G. White aconselha a igreja a no pensar que toda a verdade j foi

    encontrada que as principais colunas da f j foram compreendidas e que j se pode

    repousar neste conhecimento. A verdade uma verdade progressiva e devemos andar

    em luz crescente (...). Devemos ter viva a f em nossos coraes e alcanar maior

    conhecimento e luz mais avanada (RH, 25 de maro de 1890).

    Depois do desapontamento de 1844, o remanescente quase desintegrado.

    ento que animado com a clara mensagem: necessrio que profetizes a respeito de

    muitos povos, naes, lnguas e reis (Apocalipse 10:11). Neste contexto a IASD

    comea a entender a funo do movimento dentro do contexto bblico/cristo. Ao

    entrar em contato com a mensagem dos trs anjos de Apocalipse 14, a Igreja Adventista

    compreenderia o chamado do Esprito Santo, o qual iluminaria a Terra com sua glria

    (Apocalipse 18:1) e chamaria o povo de Deus que estava em todas as naes a sair de

    Babilnia25(Apocalipse 18:3-4).

    24 Como apresentao aos conceitos bblicos defendidos pelos Adventistas do Stimo Diaconsultar a obra: Associao Geral dos Adventistas do Stimo Dia. Nisto Cremos: 27 ensinos

    bblicos dos adventistas do stimo dia. Traduo de Hlio L. Grellmann. Tatu-SP: CasaPublicadora Brasileira, 2000.25

    A babilnia neste contexto entendida como todas as igrejas que no obedecem lei de Deus.Para um estudo mais amplo sobre a viso adventista das profecias ver: BELVEDERE, Daniel.Seminrio as Revelaes do Apocalipse.Tatu-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006; SHEA,

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    A primeira mensagem anglica (Apocalipse 14:6-7) era considerada comochamando a ateno do povo para o fim dos 2.300 anos. A segunda mensagemanglica (Apocalipse 14:8) era entendida como libertando o povo de Deus da

    escravido das igrejas nominais para abraar totalmente a mensagem relacionadacom o fim dos 2300 anos (TIMM, 2000, p. 129). Os adventistas sabatistas viama terceira mensagem anglica como uma mensagem de restaurao destinada aunir o povo remanescente de Deus sob a grande verdade assinaladora dosbado e preparando-os para o tempo de angstia. O derramamento futuro doEsprito Santo em profuso era visto como os capacitando a sarem e

    proclamarem o sbado mais plenamente (TIMM, 2000, p. 131).

    Tais mensagens, de Apocalipse 14, foram consideradas o ltimo e grande alerta

    que deveria ser dada ao mundo relativo salvao da raa humana. Tais mensagens

    tambm trazem novas e inditas responsabilidades ao povo de Deus. Agora eles no

    devem apenas pregar a converso e a obedincia, mas tambm a volta do Senhor e a

    diferena entre obedecer lei Deus e a lei dos homens. Por esta rao a IASD v como

    sua responsabilidade o ensino das sagradas escrituras26.

    A viso sobre Apocalipse 14 deu igreja uma nova perspectiva sobre a funo a

    qual deve exercer no ministrio do ensino bblico ao mundo. Fundamentando-se nessas

    interpretaes, os sabatistas comearam a se ver como um povo proftico detentor de

    uma mensagem escatolgica de tremenda urgncia. Eles passaram a se considerar como

    tendo o dever de pregar a mensagem do terceiro anjo (KNIGHT, 2005, p. 75-83).

    Na percepo da misso que o movimento teria de exercer est tambm Mateus

    24:14. Onde o Senhor indica como a igreja tem que fizer a obra: uma obra de pregao

    com o propsito de fazer discpulos para dar testemunho a todos os grupos humanos da

    Terra (RODE, 2004, p. 340). Os primeiros adventistas sabatistas falaram muitas vezes

    de si mesmos como cumprindo a misso do terceiro anjo (TIMM, 2000, p. 120).

    A crena de ser o remanescente fiel, o qual iria restaurar a verdade para o tempodo fim oferece um sentido especial Igreja Adventista, pois ela deixa de ser uma igreja

    esttica e se transforma em um movimento histrico com propsito bem definido,

    pregar a ltima mensagem de advertncia ao mundo (OTTO, 2004, p. 330).

    William H. Estudos Selecionados em Interpretao Proftica. Engenheiro Coelho-SP:Unaspress, 2007.26

    Para entender como os adventistas aceitam as escrituras e as interpretam Cf. REID, George W.(Ed.).Compreendendo as Escrituras: Uma abordagem Adventista. Engenheiro Coelho - SP:Unaspress, 2007.

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    Estudos bblicos: porta de entrada no adventismo

    Desde o sistema doutrinrio dos primeiros adventistas, a IASD caracterizada

    por uma forte preocupao missiolgica. Misso definida em termos (1) da restaurao

    da verdade bblica no contexto escatolgico do fim dos tempos e (2) na preparao de

    outros para a breve volta de Cristo (TIMM, 2000, p. 120). Desde os primrdios do

    movimento adventista o princpio de doutrinao/batismo/comunho mantido.

    atravs dos chamados estudos bblicos que tal feito realizado. Paulo Cilas (2002, p. 11

    seq.) discute a importncia do preparo pr-batismal para se aceitar um membro dentro

    da comunidade de f adventista.

    Tendo em mente que o perigo mais srio a destruio da identidade cristadventista da igreja remanescente. (...) A unidade uma verdadeira credencial divina

    que identifica os cristos adventistas como a igreja de Deus no tempo do fim

    (VELOSO, 2004, p. 245). Este medo de perder a identidade proftica leva a IASD a

    passar um sistema de crena no qual existe uma necessidade intrnseca de ser mais

    terico do que emocional (VELOSO, 2004, p. 244).

    Tal viso completa e codifica a forma como a IASD ver a utilizao dos meios

    de comunicao para a pregao do evangelho, muito alm de ser um canal de pregao considerado como forma de chegar at onde no se poderia ir de outra forma, ou seja,

    para se cumprir a promessa da volta de Cristo (o evangelho ser pregado a todo reino27)

    preciso mais do que um meio.

    Evangelismo impresso e pela rdio

    A primeira publicao adventista28 foi o peridico Presenth Truth editado e

    publicado em Connecticut, EUA, em 1849. Posteriormente passa a ser o The Advent

    Review na Sabbath Herald, atualmente se constitui peridico oficial da IASD nos EUA.

    O incio do Adventismo no Brasil no foi diferente.

    27Em Mateus 24:6 o sinal mximo para a volta de Cristo parece se restringir a pregao do povode Deus aqueles que no so da f, da se incorre uma das razes para a pregao evangelstica.28As duas prximas sees so baseadas em informaes muitas vezes no muito confiveis,devido a pouca produo acadmica sobre tais assuntos abordados aqui. A tese de FONSECA(2002) tem diversas incoerncias e datas equivocadas. Das outras citaes, mesmo sendo maisconfiveis erram pela pouca citao primria existente. A dissertao de COSTA (2003) foi degrande contribuio, onde se encontrou boas referncias, mas incorrendo tambm na falta de

    citao primria. Em detrimento a tais causas nestas sees, as estruturas esto muitosemelhantes matrias j existentes. A lacuna de um trabalho bem feito que venha suprir acarncia de catalogao da histria do uso das mdias pela IASD ainda existir.

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    A revista Stimme der Waheit(A Voz da Profecia) foi entregue pelo correio a um

    vilarejo de Santa Catarina (COSTA, 2003, p. 48). No muito tempo aps inicia-se no

    Brasil a Casa Publicadora Brasileira(CPB), tendo como primeira produo a revista OArauto da Verdade, datado de 1900 e editada, pelo primeiro adventista batizado no

    Brasil, Guilherme Stein Jr. (LESSA, 2000, p. 34).

    Posteriormente, O Arauto da Verdadeseria substitudo pela Sinais dos Tempos,

    e depois O Atalaiae depois novamente Sinais dos Tempos(BORGES, 2001, p. 183). O

    rdio comeou a ser utilizado pela IASD na dcada de 1920. Em 1926, H. M. S.

    Richards colocou no ar um programa em Fresno, Bakersfield, Califrnia. Somente em

    1937 que surgiu o programa The Voice of Profecy, sob a coordenao de H. M. S.Richards. No Brasil,A Voz da Profeciacomea a ser transmitida em 26 de setembro de

    1943, sob a coordenao e locuo do pastor Roberto Rabello (AZEVEDO, 1977, p.

    70). Este viria a ser o primeiro programa radiofnico religioso de alcance nacional

    (BORGES, 2001, p. 136; Cf. COSTA, 2003, p. 49).

    Evangelismo pela televiso

    Em 25 de novembro de 1962, foi ao ar o primeiro programa evanglico da

    televiso brasileira, o programa F Para Hoje, na extinta TV Tupi. Ficou no ar, em

    cadeia nacional por 17 anos, sendo transmitido pela TV Bandeirantes, TV Record e

    tambm na TV Morada do Sol em Araraquara-SP (FONSECA, 2003, p. 57). Durante 20

    anos tem sido transmitido, pelas TVs Gazeta, de So Paulo, e Novo Tempo.29

    O programa Its Writing surgiu em 1956, nos EUA e chegou ao Brasil com o

    nome deEst Escritoem 03 de novembro 1991 (FONSECA, 2003, p. 56). O primeiro

    programa veiculado no Brasil foi a palestra Onde estavas t?, dirigida pelo pastor

    George Vandeman. A transmisso do programa no Brasil s foi possvel graas ao

    apoio de um grupo de empresrios adventistas que ficaram impressionados com os

    resultados alcanados em outros pases (AZEVEDO, 1977, p. 83).

    Com um ano de exibio no Brasil, foi mudado o orador mundial do programa.

    Buscava-se dar maior nfase no evangelismo pblico, o que no era exatamente o foco

    de Vandeman. Neste momento o pastor evangelista Mark Finley convidado para ser o

    orador mundial doEst Escrito a partir de 1992.

    29Informaes histricas gerais obtidas no site oficial do programa www.feparahoje.com.br.

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    O primeiro programa com o Pr. Mark Finley no Brasil data-se de 9 de julho de

    1995 com o programa intitulado Facada Covarde. Nesta poca j se pensava em

    colocar um orador local na apresentao do programa Est Escrito.O primeiro programa com o pastor peruano Alejandro Bulln foi ao ar em 22 de

    maio de 1994, recebendo crticas positivas. Alguns meses depois eram contabilizadas 65

    emissoras transmitindo o Est Escrito em todo o Brasil. Calculando isso em

    porcentagem, pode se considerar uma abrangncia com cerca de 70% do territrio

    nacional.

    Em 19 de maio de 2006, a programao do Sistema Adventista de Comunicao

    (TV Novo Tempo) passa a ser transmitida. Com sede em Jacare-SP e chamada de TVSetorial ela atinge as cidades de Pindamonhangaba, Taubat, So Jos dos Campos,

    Guaratinguet, Aparecida, Lorena e a prpria Jacare-SP. A partir de Maio de 2008

    entrou na grade de canais bsicos da Sky TV por assinatura.30

    Com a inaugurao da TV Novo Tempo em canal aberto realizado um forte

    investimento em novas produes, as quais muitas so transformadas para DVD e

    vendidas aos membros da igreja. Com esta nova onda de novas produes, outras

    entidades ligadas IASD comeam tambm a produzir materiais em DVD31.

    Concluso parcial

    No programa divino de restaurao, a funo designada IASD continua sendo

    reparar a brecha na Lei de Deus e em sua Palavra. finalizar a obra da reforma da

    salvao por meio de Deus e por sua Palavra somente (CAESAR, 2007, p 282).

    O conhecimento do prprio papel no Grande Conflito fornece ao Adventista do

    Stimo Dia, unidade espiritual, doutrinria, estrutural e principalmente missiolgica.

    Um estrutura que materializada em uma organizao com objetivo, que serve misso

    e nela se confirma, at o momento da parousia [volta de Cristo] (VELOSO, 2004, p.

    250). Tal funo requer todo o uso possvel de meios e formas de comunicao, a

    30Dados histricos obtidos no site oficial da fundao Novo Tempo (www.novotempo.org.br).31 Entre os mais importantes pode se destacar os seguintes:.Estudos Bblicos com LuizGonalves: Apocalipse a Resposta / O Grande Conflito; Est Escrito com Fernando Iglesias:Criacionismo / Sbado 24h de Descanso; Princpios / O Caminho Pr. Roberto Rabello (Voz):Deus Revela o Seu Amor; Pr. Alejandro Bulln: Paixo de Cristo / Srie Profecias do

    Apocalipse / Paz para Viver / Ouvindo a Voz de Deus; Internacionais Traduzidos: The FinalEvents of Bible Prophecy - Doug Batchelor; Mark Finley: Alm do Ano 2000 / Cartas de umaIlha Solitria / Descobertas nas Profecias.

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    misso grande e urgente, por isso a utilizao dos principais meios da indstria

    cultural, como o Rdio, a Internet e a TV so apoiadas pela IASD.

    A utilizao da forma televisiva trouxe uma grande influncia, tanto internacomo externa, para a Igreja Adventista como um todo. Pode se afirmar que ocorreram

    sensveis mudanas em sua forma de pregao. Aqui inicia uma maior preocupao com

    a plstica, com os efeitos e com tudo o mais que caracteriza a mensagem televisiva e a

    sociedade ps-moderna, a qual tem uma queda para tudo o que visual.

    A religio que gera uma mudana tica, uma converso, exige reflexo ededicao ao estudo sistemtico da doutrina. Isso requer tempo e esforo, duasvariveis que as pessoas parecem pouco dispostas a aplicar na sua

    espiritualidade. Seja por estarem tomadas pela lgica do entretenimento oumesmo pela dificuldade de encarar a complexidade do contemporneo. Por outrolado a expulso da manifestao sobrenatural realizada pelas organizaesreligiosas centradas no clericalismo e seus intelectuais j deu mostra de falncia.A exemplo de alguns pases europeus, onde as igrejas se tornaram apenas pontosde atrao tursticas. Encontrar o meio termo entre a necessidade de adorarnovas linguagens que expressem uma espiritualidade relevante na era ps-moderna e a transformao do culto em mero entretenimento o grande desafio.(SATHLER, 2007, p. 85)

    Isso no necessariamente ruim para a televiso, que um veculo mais

    superficial e imprprio para mensagens mais profundas. Sem falar que o espetculo

    prprio desse meio. Mas quando isso comea a afetar o tipo de apresentao no plpito

    e nos estudos bblicos uma reflexo mais profunda se faz necessria.

    Embora tal misso abra o caminho para a utilizao dos meios de comunicao,

    seu formato ser de maneira distinta, como demonstrado no Captulo 4. Mas antes ser

    preciso, de maneira mais detalhada, analisar: A forma dos seres humanos pensar, dentro

    da era ps-moderno (Segundo Captulo); E realizar uma anlise detida da influncia da

    imagem nesta atual sociedade (Terceiro Captulo).

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    2.Ps-Modernismo e o Cristianismo

    A partir do decreto da Morte de Deus32

    como ponto de transio damodernidade para a ps-modernidade, possvel perceber um esfriamento do poder

    conferido ao texto escrito como tambm o aumento dos questionamentos sobre as

    utilidades deste como canal comunicativo.

    Em certo sentido o pensamento ps-moderno tem razo em duvidar do

    instrumento de interpretao. difcil saber quanto da interpretao do texto33 na

    verdade a mensagem pretendida pelo autor, um significado objetivo, ou apenas nossos

    prprios reflexos e pensamentos (VANHOOZER, 2005, p. 106).

    Parece que as antigas bases estruturais do modernismo ruram. Com isso a

    revoluo industrial est dando lugar chamada Era da Informao. A sociedade, a

    tecnologia, os valores e as categorias bsicas do pensamento esto mudando. Um novo

    modo de ver o mundo est emergindo.34

    Do modernismo ao ps-modernismo

    No modernismo tentou-se implantar uma era da Razo, em que todas as coisas

    fossem provadas e todo o caos cientificamente explicado. Neste contexto a Cincia

    obteve grande destaque e acabou por se colocar como a forma mais precisa de se obter

    respostas. Tal fato acabou por conced-la o poder de lastrear e condenar quaisquer

    outras pretensas formas de se encontrar o conhecimento. DOLL Jr. afirma: que a cincia

    cumpriu to bem a tarefa de controle, que durante este sculo ela se expandiu, de uma

    disciplina ou procedimento, para um dogma, (...) criando [assim] o cientismo [ou o

    cientificismo]. (1997, p.18).

    32Filsofos como Friedrich Nietzsche (1844-1900) propem a morte de Deus. Tal decreto naverdade o anncio que os homens no mais serem capazes de crer numa ordenao csmicatranscendente, o que os levaria a uma rejeio dos valores absolutos e, por fim, descrena emquaisquer valores. Nietzsche no se coloca como o assassino de Deus, como o tom provocador

    pode dar a entender: o filsofo enfatiza um acontecimento cultural, e diz: "fomos ns que omatamos". A frase no nem uma exaltao nem uma lamentao, mas uma constataosociolgica (Cf. LEFRANC, Jean. Compreender Nietzsche. Petrpolis: Vozes, 2005)33Por texto entendemos a compreenso da Semitica da Cultura, que no o restringe ao mbitodo verbal: uma determinada vestimenta, um sinal de trnsito, uma msica, um layout ou umquadro so considerados textos" (GUIMARES, 2000, p. 3).34

    Para uma discusso sobre a relao existente entre modernidade, ps-modernidade e a mdiaCf. THOMPSON, John B. A Mdia e a Modernidade: Uma teoria social da mdia. Petrpolis-RJ: Vozes, 1999.

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    A cincia moderna delimita a atitude cientfica busca de conhecimentos de leis

    e princpios que regem a realidade. Sendo que por realidade se entende apenas algo

    esttico, determinado, mecnico e regulado por leis fixas. Um conhecimento baseado naformulao de leis, tem como pressuposto a idia de ordem e de estabilidade do mundo,

    as idias de que o passado se repete no futuro (SANTOS, 1999, p. 17).

    Assim, os indivduos conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos

    culturalmente neles (MORIN, 2000, p. 25). E tal pensamento uma das vertentes que

    possibilita o surgimento do ps-modernismo, pois a desiluso humana com as

    promessas da era da razo e da cincia foi enorme. Em exemplos temos a urbanizao

    extremamente desumanizante, a monstruosa desigualdade social, a indstria de morte dearmas e das drogas, a construo de campos de concentrao, a confeco e exploso

    das bombas atmicas sobre o Japo (LIBNIO, 1998, p. 62).

    A sucesso das lutas e acumulao das frustraes vai aprofundando a crise da

    cincia moderna. Convertida no fato scio-cultural total, a cincia tornou-se o lugar de

    nossas esperanas e de nossas angstias. (JAPIASSU, 1985, p. 93). Com a atual crise

    do modelo cientfico35, tais angstias e esperanas voltam a estar sem um porto seguro.

    O ser humano precisa pr sua crena em algum local.

    Afinal, a cincia no fornece as respostas que a maioria de ns exige. Sua histria arespeito de nossas origens e nosso fim , no mnimo, insatisfatria. Para a pergunta:Como tudo comeou?, a cincia responde: Talvez por acidente. Para a pergunta:Como tudo terminar?, a cincia responde: Talvez por acidente. E para muitas

    pessoas, a vida acidental no vale a pena ser vivida (POSTMAN, 1994, p. 168).

    Dado que todos os locais existentes foram testados e encontrados em falta, onde

    se encontrar alento? Pontos de vista que respondem ao fracasso do Iluminismo e do

    cientificismo, relacionados com o enfraquecimento completo da verdade, esto

    surgindo36; O intelecto substitudo pela vontade; A Razo substituda pela sensao;

    35Para uma discusso maior sobre a crise da cincia moderna ver: EPSTEIN, Isaac. Cincia eAnti-cincia. Comunicao & Sociedade, So Bernardo do Campo, n. 29, p. 13-33, 1998;JAPIASSU, Hilton. O Mito da Neutralidade Cientfica.Rio de Janeiro: Editora Imago, 1985;

    NOVAES. Allan. A Crise da Cincia: Ps-modernidade e a prtica do jornalismo cientfico emSuperinteressante . Acesso em: 13 de Abril de2008.36A mentalidade ps-moderna tem e aprimorado na busca por uma nova forma de religiosidade,onde o sentido de vida possa ser unido crena cientificista, resultando em uma nova busca pela

    realidade ltima da criao. Claro que se distanciando dos ensinos Cristos tradicionais. Cf.BROCKELMAN, Paul.Cosmologia e Criao: A importncia espiritual da cosmologiacontempornea. So Paulo-SP: Loyola, 1999.

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    A moralidade fica substituda pelo relativismo. Essa viso de mundo emergente desafia

    o cristianismo de formas diferentes daquelas do velho modernismo.

    A era ps-moderna promete para os cristos bblicos. Mas contm tambm perigosnovos e diferentes. As heresias modernistas caram, mas agora heresias ps-modernistasas substituem. O racionalismo, tendo fracassado, cede lugar ao irracionalismo e ambosso hostis revelao de Deus, ainda que de maneiras diferentes. Os modernistas nocriam que a Bblia fosse verdadeira. Os ps-modernistas lanaram fora completamente acategoria da verdade (VEITH, p. 187).

    Caractersticas ps-modernas

    A sociedade ps-moderna dilui-se em massas que procuram experincias

    fragmentadas e seguem um fluxo de euforia. O que mais preocupa que junto a tais

    modificaes sociais, tambm obtemos uma substituio mais acentuada do racional

    pelo emocional, onde se abre mo do significado em favor do entretenimento imediato

    (cf. SARTORI, 2001).

    A midiatizao da sociedade traz uma nova forma de pensar o mundo, a forma

    da tecno-interao, pode ser tambm denominada de Tecnoplio (cf. Postman, 1994),

    As tecnologias das informaes [TV, internet, etc.] construram um novo regime

    espao-temporal: da coexistncia e da coabitao, onde a imposio da imediatez e a

    acelerao do saber se transformam em uma categoria valorativa (BERGER, 2007,26). Tais tecnologias da informao acabam por mapear uma geografia de cognio a

    qual surge em territrios cujo domnio sobre a matria efmero, cuja posio no

    espao tnue, cuja temporalidade medida antes em atos de participao que em

    coincidncia de local (DRUCKREY, 2003, p. 392).

    Walter Benjamin (2000, p. 221-256) indica que est cada dia mais forte o

    impulso de tentar se capturar um objeto a uma distncia bem curta por meio de sua

    semelhana, de sua reproduo. Tal fato pode ser inferido em grande parte apredominncia da atual cultura em privilegiar a percepo visual como fonte principal

    do conhecimento. Onde cada vez h mais informaes e menos interpretaes, criando

    assim um comodismo social.

    Tal estrutura funcional foi denominada de tecnoplia, por Neil Postman

    (1994), de sociedade do espetculo por Guy Debord (1997) ou de modernidade

    lquida por Zygmunt Bauman (2004). No final o que parece de semelhante em cada

    uma destas teorias o fato do escapismo, atravs do entretenimento, tornar mais fcil as

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    decises, que vo sendo adiadas ou simplesmente ignoradas. ADORNO (1971) nos

    lembra que tal conformismo substitui a conscincia (p. 293).

    O critrio de medio da experincia sua capacidade de produzir entusiasmo, eno sua profundidade ou utilidade. A experincia gera o maior impacto possvel e se

    torna obsoleta rapidamente, abrindo assim o caminho para novas experincias e

    consumos. A rotatividade das informaes imensa, e algo s permanece como

    espetculo at que deixa de preencher a demanda das massas, ou seja, at que pare de

    ser consumida pelos espectadores. Nas palavras de Debord:

    O que o espetculo oferece como perptuo fundado na mudana, e deve mudar comsua base. O espetculo absolutamente dogmtico e, ao mesmo tempo, no pode chegar

    a nenhum dogma slido. Para ele, nada pra; este seu estado natural e, no entanto, omais contrrio sua propenso (DEBORD, 1997, p. 47).

    Na democracia clssica, a deciso final tem lugar aps todos do grupo terem

    oportunidade de participar, de maneira igual, do debate, da discusso e da crtica

    pblica. A maior parte da comunicao flui de maneira circular pelos cidados e entre

    eles (FAGEN, 1971, p. 39). Pode se argumentar que tal democracia no mais existe37.

    Quanto a tal fato Sartori afirma:

    A televiso privilegia (...) a emotivizao da poltica, isto , uma poltica relacionada oureduzida a pencas de emoes. (...) Ela faz isso narrando avalanches de histriaslacrimosas e peripcias tocantes. Ou, de modo inverso, faz isso decapitando oumarginalizando cada vez mais as cabeas que falam, (...) Em geral, a questo que acultura da imagem gerada em primazia do visual portadora de mensagens quentesque, justamente, esquentam as nossas emoes, acendem os nossos sentimentos,excitam os nossos sentidos e, em suma, apaixonam. (...) E por mais que a palavra possainflar (por exemplo, no rdio) a palavra de fato menos aquecedora do que a imagem.Portanto, a cultura da imagem quebra o equilbrio delicado entre paixes eracionalidade. A racionalidade do homo sapiens est retrocedendo. E a poltica emotiva,emotivizada e aquecida pelo vdeo, levanta e atia problemas sem fornecer qualqueridia de como resolv-los. E desse modo os agrava ainda mais (Sartori, 2001, 102).

    Vive-se em favor de um realismo mgico, ou seja, o real se mistura ao

    ficcional, criando uma nova categoria midiatizada de fatos. O critrio da notcia nada

    mais do que o interesse do espectador, assim sendo, temos a vida transformada em

    entretenimento, e como essa s vezes pode ser pouco atrativa, explora-se a criatividade

    do fictcio. Jos Arbex trabalha tais conceitos da seguinte maneira:

    37

    Para uma discusso introdutria sobre como o consumo tende a modificar as estruturasdemocrticas Cf. CANCLINI, Nestor. Consumidores e Cidados. Rio de Janeiro: EditoraUFRJ, 2005.

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    Um dos desafios enfrentados diariamente pelos estrategistas da mdia consiste,precisamente, na elaborao de estratgias de deduo do telespectador/leitor, operandoum inevitvel espao de ambigidade do fato comunicativo. Trata-se de transformar a

    ambigidade em seu oposto o consenso aparente, imposto, fabricado por tcnicas depropagandas, principalmente quando o assunto remete esfera da poltica e daeconomia. Como faz-lo? Resposta: restringindo ao mximo o espao de interlocuo,

    por meio do uso de esquemas e slogans que traduzam a verdade em frmulas simplese tranqilizantes. Criando, enfim, metforas que explicam segundo receitasmaniquestas e de fcil compreenso: determinada opo econmica (por exemplo, amoratria da divida externa) boa ou m porque se situa no campo bom ou maudas coisas da poltica e do mundo. (2003, p. 115).

    Algo no real a menos que seja visto na TV (VEITH, p. 58). Essa atitude

    revela o tipo de comportamento das empresas de comunicao, que usam suas

    mensagens persuasivas para tentar mudar a direo do comportamento social, suas

    expectativas e exigncias culturais (cf. MORAES, 2006).

    A indstria cultural dita as regras que esto inclusas no modismo atravs de

    discursos mascarados pelo colorido das mensagens publicitrias. Isso acaba por

    contribuir para uma ordem social com dificuldades de percepo crtica embalada pelo

    consumismo. A mdia cria a necessidades de personalidades fortes com linguagens

    ambguas (...) permitindo assim a cada grupo descobrir naquelas mensagens (...) o que

    quer achar (FABRINI, 1990, p. 177 apud SARTORI, 93).Ela no conduz apenas as regras sociais, mas tambm a forma de se analisar o

    mundo: ela impede a formao de indivduos autnomos, independentes, capazes de

    julgar e decidir conscientemente (ADORNO, 1971, 295). Todo pensamento

    imaginativo, o qual foge do que hoje considerado fato comprovado, no pode ser

    tolerado. Tudo que tem para ser pensado j o foi.

    Esse mecanismo de fabricao da opinio simula a democracia: aparentemente, aopinio divulgada pela mdia interfere no curso dos acontecimentos, dando a iluso de

    que o pblico foi levado em considerao. Na realidade, os indivduos permanecemisolados, espalhados pelas diversas cidades, regies, estados e pases, sendovirtualmente unificados pela mdia, mas sem terem qualquer interlocuo. a goraeletrnica que simula a antigapolis,onde tudo se debatia. (ARBEX, 2003, p. 56).

    assim que a construo das muitas visualidades, da produo, dos objetos que

    cercam o homem ps-moderno, muitas vezes so efmeras. Grupos musicais so

    mitificados momentaneamente, desaparecendo da mdia em pouco tempo, assim como

    do imaginrio coletivo; novelas de televiso permanecem no ar ditando modelos

    aparentemente imutveis, mas estas imagens se fragmentam, quando novas imagens de

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    novas novelas entram em cartaz, invadindo o imaginrio dos grupos, e os seres

    mitificados anteriormente cedem lugar a novas mitificaes e assim sucessivamente.

    FAGEN afirma que independente de qual for a realidade e coerncia que osacontecimentos tm para ns, originam-se da maneira como eles foram comunicados

    (1971, pg. 20). A escolha da massa tem mais a ver com a forma de se dizer algo, e no

    tanto pelo que dito.

    Desapareceu a legitimao das grandes narrativas neste contemporneo de

    narrativas transitrias, constitudas de pequenas histrias sem a viso de um princpio,

    meio e fim. A questo a ser tratada no a se o povo escolher errado, mas sim a

    impossibilidade deste mesmo povo de se aprofundar nas questes importantes, devido saturao de informao na qual esto inseridos. ARBEX declara:

    Bombardeado pela crescente velocidade das inovaes tcnicas, cientficas e culturais, ohomem sente o tempo presente como algo cada vez mais fugido, criando umacontradio: ao mesmo tempo em que o capitalismo contemporneo concentra aomximo as demandas de consumo no momento presente, ele o torna cada vez maisinstvel, inseguro de si, enfraquecendo a estabilidade do sujeito contemporneo. Oenfraquecimento do tempo presente exacerbado pela perda da capacidade deinterlocuo de que fala Habermas. (2003, p. 91).

    Debord (1997, p. 44) o espetculo parece se resumir a um instrumento para a

    pacificao e despolitizao onde os sentidos so chocados e os sujeitos sociais so

    distrados da tarefa mais urgente da vida real (KELLNER, 2004, 123).

    Neste sentido, a crtica dos contedos veiculados pela mdia sempre depender,

    evidentemente, dos recursos interpretativos que o espectador dispe. Mas como o leitor

    poder mobilizar tais informaes dentro de uma sociedade da informao, onde se

    produz toneladas de informaes referentes a todo tipo e assuntos?

    O regime nazista teve que se utilizar de preconceitos j existentes na sociedade

    germnica para poder caracterizar os judeus como fonte do mal. E, mesmo no auge do

    poder, Hitler teve dificuldades para impor o seu programa de eugenia (eliminao dos

    germnicos portadores de deficincia fsica e/ou mental): a fase inicial do programa

    (1937-1942) permaneceu secreta, tornando-se pblica apenas quando j no adiantava

    mais negar (ARBEX, 2003, p. 137).

    Tal fato pode indicar que ainda existir alguma soluo para a atual crise da

    superfcie. A mdia influencia a sociedade, mas ela no impe a verso dos fatos que

    quer como verdade. Isso ocorre exatamente porque a comunicao depende docontexto extralingstico.

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    Sempre h um conjunto de dados extralingsticos que condicionam o uso das

    metforas, expresses, jarges e clichs empregados na estruturao da narrativa.

    ARBEX (2003, p. 136) indica que a confrontao da verso construda pordeterminado veculo, com a verso apresentada por outros veculos de comunicao

    pode ser uma sada eficaz para tal crise.

    Cristianismo e a ps-modernidade

    Analisando as civilizaes que estavam prximas de rurem, Toynbee mostra

    que as sociedades que esto se desintegrando caem numa sensao de abandono, um

    estado mental que aceita o antinomianismo38como substituto da criatividade (1948, p

    399). A tica se torna relativa, abrindo espao para a fuga do que correto em benefcio

    da resoluo dos problemas do grupo.

    as pessoas param de crer na moralidade e cedem a seus impulsos custa de suacriatividade (...) cedem ao escapismo, buscando evitar seus problemas ao fugir para seus

    prprios mundos de distraes e entretenimento. (TOYNBEE, 1948, p. 404).

    A sociedade ps-moderna acaba sendo regida pela cultura pessoal, e como tal

    cultura provm principalmente daquilo que se recebe dos meios de comunicao. A

    massa passa a consumir cultura como um produto, e enquanto houver demanda, aindstria cultural estar l para fornecer aquilo que a sociedade julga estar escolhendo, o

    que na verdade j foi programado.

    A mdia ento passa a controlar o que verdade e o que no , j que sua

    credibilidade totalitria na mente do espectador. Parece ser um fato que quando no

    existem verdades absolutas, a vontade pessoal tomar o local do intelecto. Em muitos

    momentos, critrios estticos sero os que ditaram a razo a se utilizar. Verdades antes

    consideradas absolutas caem no por ser uma inverdade, mas independente disso.

    Porque acreditar no inferno, se tal verdade nada traz de til para a vida prtica?

    VEITH (1999) lembra que a averso do ser humano para com a doutrina crist,

    tal como o inferno, parece ser natural. Embora deve ser entendido que a principal

    questo no se existe o inferno ou no, pois a realidade poucas vezes levada em conta

    nossa preferncia pessoal, mesmo ao se tratar das facetas mais triviais da vida cotidiana.

    Gostar de algo e querer que sejam verdadeiras o nico critrio das suas crenas (p.

    188). Segundo o historiador Stephen Benko (1984, p. 56-8), em seu estudo da

    38Os antinomistas so aqueles que cultivam qualquer averso pela lei.

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    propaganda anticrist na Roma Imperial, segundo ele uma das principais razes para os

    primeiros cristos terem sidos perseguidos foi a declarao de posse na nica verdade.

    Em sua decadncia, a cultura romana se havia tornado de certa forma parecida com acultura ps-moderna, defendendo o relativismo cultural (sob o controle romano,

    naturalmente) e a validade de todas as religies (contanto que todos queimassem

    incenso a Csar).

    Qualquer cristo da poca, o qual se recusasse reconhecer a deidade do

    Imperador enervava os antigos romanos, mas nada os deixavam com tanta raiva,

    como mostra Benko, do que esses escravos presunosos reivindicarem possuir a

    nica verdade (VEITH, p. 220-1).As implicaes da hermenutica da ps-modernidade acabam por tornar a mensagemdas Escrituras inacessvel a Igreja. Se levarmos at o fim o seu subjetivismo erelativismo inerentes, acabamos sem Escrituras, sem revelao, se verdade e sem

    pregao. O pregador pode, no mximo, pregar apenas uma interpretao sua do textomais jamais a verdade divina. As conseqncias lgicas so graves e devemos encar-las: se no podemos alcanar o sentido das Escrituras no restar base objetiva para adoutrina e a prtica da igreja, para decises teolgicas, para o ensino doutrinrio, para aordem eclesistica. Instala-se o caos hermenutico, onde cada um pode interpretar comoqueira as Escrituras. (LOPES, 2004, p. 203).

    Os cristos compreendem, atravs da doutrina do pecado original, o queacontece com os seres humanos quando estes reivindicam autoridade mxima para si.

    Como seres cados, a capacidade intelectual humana no s limitada como enganosa

    (Rom 1:21-28). Por causa da natureza humana pecaminosa, existe uma tendncia nata

    deste se rebelar contra a fonte de toda a verdade.

    Seres humanos deixados por si mesmos podem professar idias que soam

    nobres, mas na prtica acarretam males terrveis. Questiona-se Deus e no local dEle

    colocado o eu como autoridade mxima. A razo usada, desajeitada como , pararacionalizar os pecados e construir sistemas que permitam ao homem passar sem Deus.

    No final parece que toda a discusso sobre moralidade e verdade vem apenas para servir

    como disfarce do desejo de poder (nem que seja poder de mandar em si mesmo).

    Brados por justia, pela libertao e pelo fim da opresso s podem ser mecanismosretricos. (...) O exerccio nu do poder, sem as amarras de limitaes morais, umafrmula que leva primeiramente ao terrorismo e depois ao totalitarismo. (...)Politicamente, a tica do desejo significa lutas cruis por entre grupos competidores.(...). Para os indivduos isolados, a tica do desejo significa egosmo, promiscuidade e

    descontrole moral. (...) Sem uma estrutura moral, a sociedade se desintegra em facesque iro guerrear entre si e contra indivduos isolados e depravados. Resultar numretorno violncia, perverso e anarquia (VEITH, p. 192).

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    Aqueles que acreditam no existirem absolutos repudiam os que rejeitam o

    relativismo chamando-os de intolerantes, por tentarem forar suas crenas em outras

    pessoas. Com a relativizao da vida cotidiana, o pecado de antes passa a ser algorelativo agora. C.S. Lewis (2006, p. 109) recorda que nenhuma pessoa, que diz no

    acreditar no Certo ou Errado universais deixar de voltar atrs em seu pensamento,

    quando algo lhe ocorrer de prejudicial.

    Ser que os ps-modernistas, esto agindo com coerncia, ou mesmo agindo de

    acordo com o que afirmam, mantendo honestamente as implicaes de sua prpria

    teoria? mesmo possvel viver sem buscar os fundamentos universais de uma crena?

    Concluso parcial

    A Bblia esclarece que o entender a palavra de Deus atravs da iluminao do

    Esprito Santo, o qual opera por meio da Palavra e habita os membros da igreja (I

    Corntios 2:9-16). Isso no abre a porta ao subjetivismo nem a interpretao particular

    (II Pedro 1:20). O Esprito Santo se utiliza das palavras da Bblia que so inspiradas

    pelo Esprito, para convencer os leitores do pecado e testemunhar da obra de Jesus

    Cristo (Joo 16:8-15). A igreja torna-se uma espcie de comunidade interpretativa39.

    Existe uma verdade universal, embora no se deva cair no erro de acreditar que

    existir um mtodo universal que levar no-crentes a Cristo. Pode se afirmar que uma

    das maiores contradies do ps-modernismo que ao este exacerbar o individualismo

    acaba por criar uma massa homognea ligada pelo entretenimento. Tal massa ser

    conduzida a Cristo apenas quando tratada dentro desta individualidade-massiva.

    A igreja tem razo em buscar meios de se comunicar com a sociedade

    contempornea e apelar para ela Ao se buscar ser relevante a atual cultura a igreja no

    deve ousar deix-los onde os encontrou (VEITH, 1999, p. 219). Com nfase particular,

    a igreja deve se firmar na moralidade e na verdade. Provavelmente ter-se- de apelar s

    emoes das pessoas, mas logo precisar ensin-las a pensar biblicamente.

    39Pode se perceber na atual literatura destinada a crescimento da igreja (seja adventista ou no)uma maior nfase na importncia do relacionamento dos irmos como forma de adorao. Em

    outras palavras, a maior busca por Pequenos Grupos, Igrejas no Lar, Clulas (ou outro nome queindique a mesma ideologia) na verdade uma tentativa da igreja de ser relevante na cultura ps-moderna.

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    3.Predominncia Ps-Moderna da Imagem

    Aps a inveno da fotografia, cinema, televiso e internet, sbio esperar uma

    maior importncia da percepo visual. Tais invenes possibilitaram com que a

    cultura contempornea comeasse a privilegiar a percepo visual como fonte principal

    do conhecimento em detrimento as antigas formas orais e escritas.

    Muitos acreditam no ser possvel qualquer manipulao da mensagem que a

    imagem passa. verdadeiro lembrar que a fotografia/imagem tem valor incontestvel

    por proporcionar em todo o mundo fragmentos visuais que informam as mltiplas

    atividades do homem e de sua ao sobre os outros homens e sobre a Natureza.

    Embora no se deva esquecer que a mesma fotografia/imagem se prestou e sempre se

    prestar aos meios diferentes e interesseiros usos dirigidos. As diferentes ideologias,

    onde quer que atuem, sempre tiveram na imagem fotogrfica um poderoso instrumento

    para a veiculao das idias e da conseqente formao e manipulao da opinio

    pblica (KOSSOY, 2002, p. 20).

    Cada vez mais se confunde o ver com o saber (ARBEX, 2003, p. 35).

    Trata-se de uma tradio solidamente ancorada nas razes da nossa cultura. Quando

    testemunhamos diretamente um evento (...) acreditamos realmente que o que estamos

    vendo a verdade do fato (ARBEX, 2003, p. 34). E tal manipulao tem sido

    possvel justamente em funo da mencionada credibilidade que as imagens tem junto

    massa, para quem, seus contedos so aceitos e assimilados como a expresso da

    verdade (KOSSOY, 2002, p. 20).

    A crena do observador neutro se no um erro, ao menos, uma viso

    incompleta do sistema miditico. Quando um observador testemunhar um evento este

    tambm o constri. Seria equivocado opor de forma maniquesta, uma supostaneutralidade objetiva daquele que presencia diretamente um acontecimento

    intencionalidade manipuladora da cmera de televiso, sendo que o olhar daquele

    que v social e culturalmente moldado assim como o a memria individual que faz

    reviver o evento presenciado. (ARBEX, 2003, p. 35).

    por definio, as imagens visuais sempre propiciam diferentes leituras para os diferentesreceptores que as apreciam ou que dela se utilizam enquanto objetos de estudo. Por talrazo elas se prestam a adaptaes e interpretaes convenientes por parte dessesmesmos receptores, sejam os que desconhecem o momento histrico retratado naimagem, sejam aqueles engajados a determinados modelos ideolgicos, que buscamdesvendar significados e adequ-los conforme seus valores individuais, seus

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    comprometimentos, suas posturas aprioristicamente estabelecidas em relao a certostemas ou realidades, em funo de suas imagens mentais. A imagem fotogrfica, comotoda a sua carga de realismo, no corresponde necessariamente verdade histrica,

    apenas ao registro (expressivo) da aparncia... fonte, pois, de ambigidades. (2002, p.44-45)

    Tais fatores acabam por ajudar na criao de um novo parmetro de vida mental,

    cujo modelo de realizao intelectual parece no conseguir ultrapassar a superfcie das

    imagens40. Durante o modernismo, tentava-se negar o envolvimento dos fotgrafos

    com o objeto/sujeito fotografado. Sendo estes nada mais do que meros observadores

    imparciais gravando o que estava ao redor com olhos passivos e a fotografia era o

    melhor rbitro entre a nossa percepo visual e a memria do que foi visto (KOZLOF,1979, pg. 101).

    A objetividade modernista verificava ritualmente o que estava em volta e

    denominava de realidade. A fotografia era uma prova concreta de que ningum havia

    alucinado durante o processo. J no ps-modernismo tal discusso modificada, se

    acusa, como uma das principais caractersticas da contemporaneidade, a predominncia

    da imagem manipulada. Fredric JAMESON (1997) insiste na existncia de alguma

    coisa especial sobre a midiatizaoda nossa cultura atual: a mdia visual est desafiando

    a hegemonia de antigas formas da mdia lingstica.

    O trabalho e o lazer esto cada vez mais centrados na mdia visual,

    proporcionando ao ser humano uma experincia de visualizao muito mais ampla do

    que em qualquer outra poca.

    Todas estas coisas, mostram que a hiptese de que a sociedade contempornea

    rege-se pela midiatizao com tendncia para a virtualizao nas relaes humanas

    (Muniz Sodr, 2006, p. 20), se encontra to esvaziada de verdades transcendentes que

    acaba por se alimentar de imagens com inacreditvel potncia persuasiva. (MORAES,

    40Faz-se necessrio abarcarmos consideraes acerca do conceito de imagem. Tal termo acabapor ser muito utilizado, o que parece torn-lo mais difcil de identificar em apenas umadefinio. Partindo da perspectiva dos meios de comunicao de massa, a imagem estariaenvolvida num processo de representao e seria um segundo objeto de uma imagem inicial queela mesma representaria. As nossas consideraes sobre o conceito de imagem buscam apreenderuma possibilidade de definio, considerando que a imagem contempornea engloba, entreoutras, a imagem miditica, e que esta envolve a televiso, cinema, corpo, pintura, imagensdigitais, entre outras tantas possibilidades. Nas palavras de Norval Baitello Jr. no [so] apenasimagens visuais. So tambm imagens acsticas e conceituais porque imagem a palavra grega

    que gera imaginao. Podemos, ento, considerar que existe uma imagem visual, acstica etambm a projeo. (disponvel no site do CISC emhttp://www.cisc.org.br/portal/biblioteca/bombardeio.pdf acessado em 24/08/2008).

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    2006, p.34). interessante notar o fato da imagem ps-moderna, diferente da imagem

    encontrada em outras eras41, parece no trazer consigo nenhum significado, a no ser ela

    mesma.Ver permanece superficial. A profundidade do mundo no para o olho. E quando oolhar penetra, apenas aumentam novamente as superfcies e superficialidades. A eraptica j o provou ex negatio. Seu lema Tornar visvel todo o invisvel era duplamenteenganoso. No se acercou do invisvel e produziu uma nova invisibilidade. (Kamper InBaitello, s/d. p. 5).

    Palavra vs. imagem

    A muito sabe que as imagens visuais provocam diferentes impactos em

    diferentes pessoas (KOSSOY, 2002, p. 46). Tais impactos acabam por contribuir nasmodificaes no funcionamento do sistema social, incluindo a estrutura litrgica da

    religio. Na atual sociedade se percebe uma rejeio das palavras e uma substituio

    destas por imagens (visuais). O que por sua vez, parece ser a conseqncia natural, se

    incluirmos as invenes recentes, do cinema, da TV e o constante aperfeioamento das

    tecnologias da imprensa (KLEIN, 2006, p. 21; Cf. ADAUTO, 2004, p. 11).

    A imagem j no ilustra a palavra; a palavra que estruturalmente, parasita da

    imagem, a palavra no mais vem subliminar, patetear ou racionalizar a imagem. Naspalavras de Barthes, o preo pago por tal feito o fato de a palavra hoje no passar de

    uma espcie de vibrao segunda, quase inconseqente da imagem (BARTHES, 2000,

    333). A conseqncia direta que os Cristos podem sentir de tais modificaes que a

    antiga premissa cristo-protestante, onde a palavra colocada como fonte de maior

    ensinamento deixa de ter importncia. Logrando para escanteio os fundamentos da

    verdade absoluta da revelao de Deus.

    A ironia e tais modificaes visualizadas no Protestantismo maior quando secompara a tradicional celebrao do culto sempre centrado no campo auditivo, onde o

    espao dedicado ao pregar a palavra cantar hinos e fazer oraes, intensificando

    sempre foram mais importantes do que a imagem do pr-leitor de cada ato (KLEIN,

    2006, p.21). No final parece que a sobrevivncia da palavra, na moderna sociedade da

    imagem, s ser possvel atravs da unio com a imagem. Barthes recorda que:

    temos mais a fazer do que recensear diretamente os contedos ideolgicos de nossotempo, pois tentando reconstruir em sua estrutura especfica o cdigo de conotao de

    41 Klein (2006) faz uma interessante abordagem sobre o desenvolvimento da imagem(principalmente relacionando-a ao mbito religioso).

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    uma comunicao to larga como a fotografia imprensa, podemos esperar reencontrar,em sua finura mesma, as formas de que nossa sociedade usa para se serenar, e por aapreender a medida, os desvios e a funo profunda desse esforo (BARTHES, 2000,

    338).

    Ao fazer tal uso, a palavra provavelmente no ter seu antigo valor de volta, mas

    ao menos poder passar a mensagem pretendida. A imagem ps-moderna no est

    procura de denotaes certeiras, mas sim buscando ampliar ao mximo as suas

    possibilidades conotativas, procurando avidamente a participao ativa do espectador,

    nesse jogo de interpretaes, j que no h verdades nicas, permanentes, universais, a

    serem propagadas e encontradas (CAUDURO, 2002, p.2).

    Ser visto se resume a parecer ser. A coero para transformar pessoas

    complexas, corpos vivos em imagens torna-se cada dia mais forte. Tais corpos devem

    integrar uma nova lgica de produo, onde passam a participar sem resistncia desta

    nova ordem social. Dentro desta mesma lgica cresce assustadoramente o espao para a

    comunicao distncia, com as mquinas de imagens, com as imagens sintticas, os

    seres digitais, as simulaes e os simuladores. (BAITELLO, 2005a, p. 20-1).

    A pergunta que no final se acha para ser respondida no como modificar tal

    situao, dado que parece no ter como reverter tais atos sociais. Seria mais sensatoperguntar como reter o interesse de leitores e telespectadores diante dos sinais de

    esgotamento com o bombardeio dirio de mensagens de todo tipo?

    Um paliativo tem sido reduzir a durao dos spots televisivos para menos de 20segundos. O anncio tradicional j no consegue fisgar um espectador disperso e zonzoentre tantas presses externas para provar, preferir e adquirir. (...) O marketing ocultofaz malabarismo para tentar contornar a fadiga, desenvolvendo tcnicas de comunicaoque apresentam o produto de maneira inusitada, a fim de evitar que o pblico-alvo

    perceba tratar-se de uma abordagem mercadolgica convencional (MORAES, 2006, p.42).

    O fato preocupante que tal problemtica j tomou posse do campo religioso,

    no apenas em busca de uma resposta, mas de forma pragmtica para atender, da

    melhor forma, a nova gerao-consumidora da religio.

    Incio da religio-mdia

    O que acontece com a imagem religiosa a partir do momento em que se torna

    uma imagem da mdia? Enquanto as igrejas histricas catolicismo e protestantismo usavam os meios de comunicao de massa como instrumento de sua mensagem, como

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    transportadores de seus contedos, as novas religies nascem fundidas, geneticamente

    produzidas pela mdia, particularmente a televiso (BERGER, 2007, p. 31).

    A preocupao compreender as transformaes da imagem em umaperspectiva de apropriao pelos meios de comunicao a imagem ressignificada,

    mas tambm retrabalhada e, em certos momentos, passa por uma inverso de sentidos.

    A postura iconoclasta que marca substancialmente o protestantismo histrico, sucedeironicamente um processo de recriao e devoo a imagem, agora encarnadas na figurado lder religioso, que chega a dar autgrafos nas ruas. (...) Tradicionalmente, o sagradotornava-se visvel nos cones religiosos parecem reivindicar para si o cultoanteriormente dedicado s imagens (KLEIN, 2006, p.21).

    As igrejas histricas usavam os meios de comunicao para chamar os fiis aosofcios religiosos nunca para substitu-lo. Aos poucos passam a aceitar que o templo

    tambm pode se transferir para o cenrio da TV. (BERGER, 2007, p. 29).

    sbio lembrar que tais modificaes no esto concludas, sendo facilmente

    encontrados movimentos hbridos dentro do sistema. O preocupante, talvez, seja a

    dimenso que tal fenmeno tem adquirido. KLEIN (2006) nos lembra que no se trata

    mais de uma relao espordica, na qual seitas e igrejas alugavam espao em emissoras

    tradicionais para transmitir programas religiosos.

    A escatologia religiosa tradicional projetava um futuro onde haveria a redeno

    dos fiis. Tal escatologia parece ser cada vez mais rejeitada pela religio da mdia. Em

    sintonia, mdia e religio compartilham o contexto espetacular, no qual vivem, se

    movem e existem (RAMOS, 2007, p. 189).

    O que vemos agora um rearranjo no campo religioso que inclui,

    especificamente, uma alterao substancial na forma de trabalho das instituies

    religiosas e tambm da mdia. Havendo uma hibridao entre as linguagens miditicas e

    religiosas, nunca vista antes.

    Percebe-se que mesmo aps quatro dcadas de programas religiosos na mdia

    brasileira, ainda existem discrepncias nas formas de trabalhar as imagens da religio

    nos espaos da mdia. Muniz SODR escrevendo sobre a midiatizao da sociedade

    lembra que chamar a ateno, atrair e manter sobre si mesmo o olhar do outro,

    converte-se em valor moral, tudo em conseqncia de uma mdia que se torna

    uma espcie de suporte da conscincia prtica na medida em que os fluxos informativos

    fazem interface, reorganizam ou mesmo inventam rotinas inscritas no espao-tempoexistncia. A prpria recepo ou consumo dos produtos miditicos podem ser vistos

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    como uma atividade cotidiana. E tudo com um contedo moral prprio. (SODR, 2006,p. 29).

    A religio torna-se motivo de escolha, marca de uma sociedade ps-moderna,

    que ao ser fragmentada e individualizada abre espao para a dvida e assim para a

    concorrncia. Toda a religiosidade tradicional deixa de ser um fato para se tornar mais

    uma dentre tantas crenas.

    E a mdia encontra papel importante nesse contexto de marginalizao onde

    pode se vislumbrar uma anlise homognea da linguagem miditico-religiosa. Klein

    mostra que o show evanglico sustenta-se a partir da conjuno de trs elementos: a

    horizontalizao do espao, o distanciamento entre palco e platia e a iluminaoprojetada sobre o lder religioso (KLEIN, 2006, p. 226).

    A comparao entre as afirmaes de Sodr e Klein leva ao questionamento

    sobre a validade das imagens religiosas intermediadas pela tela. Parece bvio inferir que

    o fiel, ao se postar diante da tela para ver e ouvir a mensagem religiosa, est realizando

    uma ao social.42A dificuldade entender em qual momento os programas miditico-

    religiosos, por diversas razes, acabam por se render lgica do entretenimento,

    funcionando mais como um show ou apresentao miditica do que propriamente umculto (BERGER, 2007, p. 30).

    As bases para a moderna indstria do entretenimento esto na prtica, comum a

    muitos segmentos religiosos, de depor o racional e entronizar o sensacional. A pregao

    crist quando transportada para o vdeo acaba por gerar um deslocamento do campo do

    verbal-oral para o imagtico-visual. Fato este que ir gerar uma nova forma de se

    visualizar o culto. A imagem e o estilo tornam-se mais importantes do que o

    contedo, sendo que o espetculo privilegia o sentido da viso se colocando de

    forma incisiva na contramo do dilogo, embora ali ainda possa ser encontrada, em

    partes, a antiga narrativa bblica.

    Uma vez que a homiltica espetacular focaliza-se sobre o significante, a homilticatradicional mantm seu foco no significado, os telepregadores tendem a se ocuparmenos com a verdade do que com o que parece ser a verdade; por essa razo trocam os

    princpios hermenuticos, que orientariam a ressignificao e a presena da mensagemevanglica no presente. A profundidade da f passa a ser medida seno pela qualidadeteolgica dos seus postulados, mas pela intensidade dos sentimentos do indivduo que seabandona no fervor religioso (RAMOS, 2007, p. 189).

    42Cf. Bourdieu, Pierre. A Economia das Trocas Simblicas (org. Srgio Miceli). So Paulo:Perspectiva, 1992, p. 79-98.

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    Concluso parcial

    A televiso, seja como meio ou como fonte de inspirao esttica, tornou-se

    reduto do pendor humano pela adorao de imagens. As antigas esttuas e pinturas

    religiosas parecem ter sobrevida atravs do horizonte miditico de nossa realidade

    embora neste contexto esteja deslocadas, revestidas por um novo espetculo. Muitos

    encontros clticos tm se parecido mais com shows de auditrio televisivos do que com

    cultos protestantes.

    preciso pensar em quais fatores as produes miditicas adventistas esto

    diferindo de outras produes evanglicas. Fugindo desta moderna iconofagia a qual

    muitas vezes se anuncia como o nico horizonte possvel de sobrevivncia dosagrado. (KLEIN, 2006, p. 227). Ao analisar a melhor forma de se contextualizar o

    evangelho na idade mdia, tema do prximo captulo, o caminho que se segue parece ser

    o de cada vez mais migrar para as formas miditicas (ou televisivas) de se comunicar.

    Pesquisas recentes tentam demonstrar que a nossa compreenso de textos e imagens sempre narrativa: quando lemos ou olhamos, construmos histrias - inserimos oselementos que vemos ou lemos numa estrutura narrativa que nos ajuda a produzirsentido sobre eles; e que esta compreenso narrativa no um dado natural, mas umanecessidade cultural: a narrativa no est l em nossa mente; ela surge porque nos d

    uma srie de vantagens culturais - nos ajuda a memorizar o que vemos ou lemos, e emum nvel mais metafsico nos ajuda a dar coeso as nossas vidas (ARAUJO e PAULA,2008, p. 3).43

    A preocupao que se levanta, no entanto, de ao se utilizar o poder da mdia

    para pregao do evangelho, no venha a submet-lo de forma que a essncia da

    pregao adventista chegue a se perder. No prximo captulo sero analisadas algumas

    produes adventistas e por fim propostos caminhos para evitar o que Klein chama tele-

    viso do culto, o que representa a devorao da mdia e do culto, um pelo outro (2006,p. 213).

    43 Cf. tambm BAITELLO, Norval. A Era da Iconofagia. So Paulo: Hacker Editores, 2005;

    MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicao como Extenses do Homem. So Paulo:Cultrix, 1974; BAITELLO, Norval, (Org.) Os Meios da Incomunicao. So Paulo:Annablume e CISC, 2005.

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    4. Anlise Crtica dos Estudos Bblicos Miditicos

    Uma das promessas bsicas da contemporaneidade , nas palavras de MORAES

    (2006), o fato de que querem nos convencer que perdemos em durabilidade embora

    ganhamos em intensidade, a vida passa a ser medida atravs das necessidade e

    satisfao, removendo-se aquilo que retarde o mpeto de consumir ou protele a extino

    dos impulsos, sendo que a experincia deve se adequar ao mximo impacto e

    imediata obsolescncia, limpando o terreno rapidamente para novas e apaixonantes

    aventuras (p. 36).

    De modo geral deve-se creditar aos programas religiosos-midiaticos pontos

    positivos, como a expanso de formao e informao sobre as igrejas como tambm

    a criao de um senso de comunidade ou comunho entre seus telespectadores

    (FONSECA, 2003, 276). As oportunidades e desafios que estas produes enfrentam

    conduzem a anlise do quanto estas produes conseguem se adaptar e falar a atual

    gerao midiaticamente, sem perder a essncia da pregao adventista tradicional?

    Anlise estrutural dos estudos bblicos televisivos adventistas

    Das produes analisadas sistematiza-se a seguintes caractersticas 1) O estilo

    doutrinrio-sistemtico, o qual tem em mente a inteno de pregar um sistema

    doutrinrio completo, 2) a pregao de uma mensagem em formato de estudo bblico (se

    assemelhando completamente a tradicional forma de se ensinar a Bblia usada pelos

    adventistas), onde se explana uma lio sobre como a Bblia trata um determinado

    tema44. 3) O uso da lgica e racionalidade so priorizados de maneira significante.

    Na tabela45 abaixo se conciliou a nfase trabalhada em cada estudo bblico

    analisado com os pensamentos do modernismo e ps-modernismo. Tal comparao

    busca descobrir qual a linguagem adotada nestas produes (nos pontos analisados

    existem um M, para quando o modelo se destina a gerao passada (ou Moderna) e P

    para a atual gerao ps-moderna).

    44 Dento destes temas muitas das posies da IASD tm um distanciamento interpretativo dediversos grupos evanglicos.45Tabela adaptada (parte dos pensamentos moderno e ps-moderno) de RAHDE, Maria Beatriz.

    CAUDURU, Flvio. Imagens e Imaginrios: do moderno ao ps-moderno in acessado em 15 de junhode 2008.

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    Viso Moderna Viso Ps-moderna ? O Grande Conflito ? Princpios ?Ouvindo a Voz de

    Deus

    Paixo pelo novo;acredita no progresso,

    na qualidade superior donovo sobre otradicional.

    Valoriza oecletismo, combina

    diversos estilosnuma mesma

    estrutura;bricolagem ehibridao de

    mltiplas diferenas,antigas ou novas.

    M>

    Combina cenas emambientesdiferentes, mas

    esttico e semgrandes inovaes

    no estilo.

    P>

    Grande variaode cenrios,

    forma e gnerosna abordagem

    (msicas,imagens e

    ilustraes).

    P>

    Apenas um cenrio.Forte dinamismo

    devido ao formato debate-papo

    descontrado.

    Singularizador atravsdas suas descobertas.

    Relativizador atravsdas suas colagens.

    M>

    Coloca supremaciano texto como forma

    de converso.

    M>

    Sustenta atravsde filosofias e

    provas cientficasos argumentosapresentados.

    P>

    Mostra que apesar deexistir duvida, o

    interlocutor escolheuaquele caminho porser o melhor entre

    tantos.

    Elitista, cientfico,sistmico, unitrio,

    dogmtico, universal.

    Populista,vernacular, ecltico,

    pluralista, relativista,

    local.

    Separao rgida entreeu e o outro.

    Continuao do euno outro.

    O pensamento ps-moderno v no interlocutor apenas um possvel exemplo doque ele mesmo . No se preocupa muito com o contedo discutido dando maisnfase no sentimento compartilhado. Pensa das seguintes formas: Eu sinto-me

    assim. Quero me sentir deste modo. Quero ter a f desse apresentador. Essahistria parecida com minha vida.

    Procura auniversalidade.(oposicional)

    Procura a multi-dimensionalidade.

    (combinatrio)

    M>

    No leva emconsiderao a

    singularidade decrenas e credos,

    tenta passar-se comotendo a verdade

    absoluta.

    P>

    Tenta buscar auniversalidade de

    suas crenasdentro da cincia.Analisa a Bbliacomo uma dasformas de se

    interpretar acincia e a vida.

    P>

    Tenta mostrar atravsde histrias pessoaise da Bblia o porqu

    de acreditar.

    Acredita nas aparentesverdades das

    metanarrativas.

    Acredita no prazerdo jogo e dassimulaes.

    M>

    Por terem a crena comum em uma histria linear e na verdade absoluta darevelao de Deus, atravs da Bblia, tais programas tendem a se mostrar

    pouco aberto ao evangelismo ps-moderno neste ponto. Todos se utilizamdo mtodo cartesiano de pergunta e resposta o qual se distancia da realidade

    ps-moderna do mtodo da histria.

    Acredita na histriacomo progresso linear

    de eventos, naobjetividade e progresso

    do mundo real.

    Suspeita que sexistam histrias-

    narrativas eequivalentes visesculturais de mundo.

    Imagem comodescoberta de grandes

    verdades.

    Imagem comoentretenimento,

    diverso. M>

    O ps-moderno tende a ter na televiso, e na imagem em geral, uma busca

    maior pelo entretenimento, o qual condiciona a ser um eterno consumidor deimagens. Tal pensamento prejudica a relao dos estudos bblicos analisadose a natureza com que o ps-moderno ir encarar tais produes.Rejeita histria,

    narrativas, simbolismos,smiles.

    Cultiva alegorias,aluses, pardias,

    pastiches.

    Apolneo, sacrificial, oideal futuro.

    Dionsico,prazeroso, o presente

    possvel.

    M>

    Pouca contextualizao nas necessidadespresentes dos telespectadores.

    P>

    Contextualizaocrescente e nfase narelao de tal crenacom a vida pessoal.

    Projetos de descoberta einveno.

    Processos deconstruo esimulao. M

    >

    Como salientado o pensamento ps-moderno se dedica a aplicar tais fatores vida diria. Tais fatores so melhores visualizados atravs de simulaes

    do que no formato de descobertas empricas. Todos os estudos se preocupamnesta contextualizao, embora caiam mais para uma forma modernista de

    enxergar a vida.

    Acredita em totalizaes

    da realidade (global).

    Aceita scontextualizaes(local, regional).

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    Os pontos predominantes na anlise acima demonstram que tais produes se

    dirigem a uma mentalidade modernista, o que por si no os tornam invlidos para a

    atualidade (quando se pensa no sistema de crenas racionais que este tende a enfatizar).At mesmo porque dentro do pensamento ps-moderno aberta uma leva de diferentes

    tipos de abordagens para grupos diferentes, sendo assim possvel um ps-moderno ser

    convertido por uma abordagem moderna. O pensamento que deve ser predominante

    aqui qual a melhor forma de se comunicar a atual gerao, por se tratar de um meio de

    comunicao em massa, este deve ser comunicado a massa e no apenas a grupos

    isolados (sendo que considera tal grupo com pensamento moderno uma exceo).

    A problemtica que surge deste