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99 Resenha Comunicação & Inovação, São Caetano do Sul, v. 14, n. 27:(99-100) jul-dez 2013 Homero Leoni Bazanini Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) – São Caetano do Sul (SP), Brasil. E-mail: [email protected] O lado obscuro das novas tecnologias The dark side of new technologies O livro “O Dilema da Inovação – quando as novas tec- nologias levam empresas ao fracasso” 1 , de Clayton M. Christensen, foi escrito em 1995/1996 e publicado pela primeira vez em 1997, atualizado em publicação em 2011 pela M.Books do Brasil Editora. O conteúdo proposto dis- cute o termo inovação em uma nova perspectiva incomum: na perspectiva do fracasso de empresas administradas de forma tradicional. O problema central é apresentado da seguinte forma: Porque as empresas bem administradas fracassam? Com argumentos fundamentados na lógica paradoxal, o autor constata que a causa do fracasso de empresas, que são concebidas até como modelo a ser imitado, está em não reconhecer que as capacidades, culturas e práticas são importantes em determinadas condições e que essas condições não podem ser generalizadas. A causa desse fracasso é a falta de percepção por parte dos gestores de que as mesmas práticas de administra- ção que possibilitaram à empresa se tornar líder do setor e que, frequentemente, estão relacionadas às tecnologias incrementais responsáveis pelo bom desempenho dos produtos com base na preferência dos clientes, embora sejam aplicadas por várias empresas, não se constituem práticas soberanas. O autor ressalta que se, por um lado, as práticas tradicio- nais são adotadas por inúmeras empresas, por outro cons- tituem empecilhos que dificultam extremamente o desen- volvimento de tecnologias de ruptura. Essa dicotomia conduz a um novo questionamento: ou grandes empresas foram mal administradas e contaram com a sorte nos sucessos que alcançaram ou existe algo de errado com a denominação “boa administração” que conduz inevitavelmente ao fracasso. 1 CHRISTENSEN, Clayton M. O Dilema da Inovação: quando as novas tecnologias levam empresas ao fracasso. São Paulo: M. Books, 2011. 304 p. A pesquisa do autor posiciona- se em defesa da ideia de que a razão mais poderosa pela qual as empresas foram malsucedi- das pode ser atribuída aos prin- cípios da assim denominada boa administração, como: ouvir clientes, investir agressivamente em tecnologia, estudar cuida- dosamente as tendências do mercado etc. A estrutura dessa falha é construída a partir de três pres- supostos: distinção entre tecnologias incrementais e tec- nologias de ruptura, mudanças aceleradas nos mercados decorrentes do progresso tecnológico e a tendência de grandes empresas disfarçarem as classificações de inves- timentos que lhe parecem atrativas em relação às empre- sas que ingressam no mercado. Dentre esses atributos, em termos de inovação, a distin- ção tecnológica merece atenção especial, uma vez que as tecnologias de ruptura mudam a proposição de valor no mercado e quase sempre oferecem inicialmente menores desempenhos em termos dos atributos a que os consumi- dores tradicionais estão habituados. Para explicar mais detalhadamente as tecnologias de rup- tura, o autor sintetiza nas páginas 298-299 os quatro prin- cípios de sua teoria: 1. As empresas dependem de clientes e investidores para obter recursos. Por essa razão, muitas empresas consideram muito difícil investir recursos em tecnologia de ruptura para não con- trariar seus clientes. 2. Pequenos mercados não resolvem as necessidades de crescimento de grandes empresas. Contrariamente ao proposto, para manter suas taxas de crescimento, as empresas devem estar focalizada em gran- des mercados.

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    Resenha

    Comunicao & Inovao, So Caetano do Sul, v. 14, n. 27:(99-100) jul-dez 2013

    Homero Leoni BazaniniMestrando do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade Municipal de So Caetano do Sul (USCS) So Caetano do Sul (SP), Brasil. E-mail: [email protected]

    O lado obscuro das novas tecnologiasThe dark side of new technologies

    O livro O Dilema da Inovao quando as novas tec-nologias levam empresas ao fracasso1, de Clayton M. Christensen, foi escrito em 1995/1996 e publicado pela primeira vez em 1997, atualizado em publicao em 2011 pela M.Books do Brasil Editora. O contedo proposto dis-cute o termo inovao em uma nova perspectiva incomum: na perspectiva do fracasso de empresas administradas de forma tradicional.

    O problema central apresentado da seguinte forma: Porque as empresas bem administradas fracassam?

    Com argumentos fundamentados na lgica paradoxal, o autor constata que a causa do fracasso de empresas, que so concebidas at como modelo a ser imitado, est em no reconhecer que as capacidades, culturas e prticas so importantes em determinadas condies e que essas condies no podem ser generalizadas.

    A causa desse fracasso a falta de percepo por parte dos gestores de que as mesmas prticas de administra-o que possibilitaram empresa se tornar lder do setor e que, frequentemente, esto relacionadas s tecnologias incrementais responsveis pelo bom desempenho dos produtos com base na preferncia dos clientes, embora sejam aplicadas por vrias empresas, no se constituem prticas soberanas.

    O autor ressalta que se, por um lado, as prticas tradicio-nais so adotadas por inmeras empresas, por outro cons-tituem empecilhos que dificultam extremamente o desen-volvimento de tecnologias de ruptura.

    Essa dicotomia conduz a um novo questionamento: ou grandes empresas foram mal administradas e contaram com a sorte nos sucessos que alcanaram ou existe algo de errado com a denominao boa administrao que conduz inevitavelmente ao fracasso.

    1 Christensen, Clayton M. O Dilema da Inovao: quando as novas tecnologias levam empresas ao fracasso. So Paulo: M. Books, 2011. 304 p.

    A pesquisa do autor posiciona-se em defesa da ideia de que a razo mais poderosa pela qual as empresas foram malsucedi-das pode ser atribuda aos prin-cpios da assim denominada boa administrao, como: ouvir clientes, investir agressivamente em tecnologia, estudar cuida-dosamente as tendncias do mercado etc.

    A estrutura dessa falha construda a partir de trs pres-supostos: distino entre tecnologias incrementais e tec-nologias de ruptura, mudanas aceleradas nos mercados decorrentes do progresso tecnolgico e a tendncia de grandes empresas disfararem as classificaes de inves-timentos que lhe parecem atrativas em relao s empre-sas que ingressam no mercado.

    Dentre esses atributos, em termos de inovao, a distin-o tecnolgica merece ateno especial, uma vez que as tecnologias de ruptura mudam a proposio de valor no mercado e quase sempre oferecem inicialmente menores desempenhos em termos dos atributos a que os consumi-dores tradicionais esto habituados.

    Para explicar mais detalhadamente as tecnologias de rup-tura, o autor sintetiza nas pginas 298-299 os quatro prin-cpios de sua teoria:

    1. As empresas dependem de clientes e investidores para obter recursos.

    Por essa razo, muitas empresas consideram muito difcil investir recursos em tecnologia de ruptura para no con-trariar seus clientes.

    2. Pequenos mercados no resolvem as necessidades de crescimento de grandes empresas.

    Contrariamente ao proposto, para manter suas taxas de crescimento, as empresas devem estar focalizada em gran-des mercados.

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    Comunicao & Inovao, So Caetano do Sul, v. 14, n. 27:(99-100) jul-dez 2013

    O lado obscuro das novas tecnologias

    3. Mercados que no existem no podem ser analisados.

    Por serem muito realistas, as empresas tradicionais ficam paralisadas quando se deparam com tecnologias de rup-tura, visto que no dispe de dados sobre mercados que ainda no existem.

    4. Fornecimento de tecnologia pode no se igualar demanda do mercado.

    Apesar de as tecnologias de ruptura serem inicialmente uti-lizadas apenas em pequenos mercados, posteriormente, tendem a se tornar competitivas nos mercados tradicionais uma vez que o ritmo do progresso tecnolgico frequente-mente excede a taxa de melhoria que os clientes tradicio-nais querem ou podem absorver.

    Diante do exposto, um dos grandes equvocos que os geren-tes cometem ao lidar com novas tecnologias est em com-bater ou superar os Princpios da Tecnologia da Ruptura ao se manterem atrelados s prticas da administrao tradi-cional com base nas tecnologias incrementais.

    Como soluo prtica, o autor prope quatro orientaes bsicas para os gerentes que enfrentam as tecnologias de ruptura:

    1. Dar a responsabilidade das tecnologias de ruptura s organizaes cujos clientes necessitam delas para fazer fluir os recursos.

    2. Criar uma organizao diferente, pequena o bastante para se entusiasmar com ganhos modestos.

    3. Considerar no planejamento a possibilidade de fracasso e, para isso, no apostar todos os recursos para acertar logo na primeira vez. Inicialmente, uma tecnologia de

    ruptura deve servir como oportunidade de aprendizagem. Fazer revises medida que os dados sejam coletados.

    4. No confiar nas rupturas. Ir alm do mercado tradicional para descobrir que as tecnologias no atrativas para os mercados tradicionais sero as mesmas nas quais os novos mercados sero construdos.

    Transcorridos 15 anos de seus escritos, o autor atualiza o conceito de inovao de ruptura como aquela que transforma um produto caro e complexo em algo acessvel e simples.

    Uma inovao de ruptura aquela que transforma um produto que historicamente era to caro e complexo que s uma pequena parte da populao podia ter e usar, em algo que to acessvel e simples que uma parcela podia ter e usar. Em geral, isso cria um novo mercado. Ocasionalmente, o produto de ruptura pode se enraizar na base de um mercado existente. Mas, em ambos os casos, a economia do produto e de mercado to pouco atraente que os lideres no setor so levados a se afastar da ruptura, em vez de combat-la. (Christensen, 2011, p. 14)

    Em termos funcionais, o contedo do Dilema da Inovao consiste em um conjunto de regras para se avanar alm da inovao incremental com o intuito de auxiliar os administrado-res em discernir as situaes em que se deve ou no ouvir os clientes, quando se deve investir no desenvolvimento de pro-dutos com menor desempenho e margens menores, e como aproveitar as oportunidades para se buscar mercados menores custa daqueles aparentemente maiores e mais lucrativos.

    Enfim, o livro prope uma srie de princpios, regras e exem-plos de sua aplicabilidade em vrias empresas para que os administradores possam analisar criticamente a pertinn-cia do dilema da inovao em nossa contemporaneidade.