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www.camara.leg.br/camaranoticias Disque - Câmara 0800 619 619 BRASÍLIA-DF, TERÇA-FEIRA, 1º DE OUTUBRO DE 2013 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ano 15 | Nº 3076 LEIA ESTA EDIÇÃO NO CELULAR EDIÇÃO ESPECIAL A constante pressão por reformas 25 ANOS DA CONSTITUIÇÃO Ainda há divergências em torno da MP, como a contratação de estrangeiro como bolsista e a validação do diploma Mais Médicos vai a voto em comissão Projetos com urgência trancam pauta do Plenário da Câmara Não há prazo para mudança nas eleições, diz deputado O deputado Candido Vaccarezza, coordenador do GT da minirrefor- ma eleitoral, diz que tempo é curto para mudar regras de 2014. | 4 | 3 | 3 Marcello Casal Jr. - ABr Chapadinha (MA) - Médicos cubanos do programa conhecem as instalações onde irão trabalhar

25 ANOS DA CONSTITUIÇÃO A constante reformas · da Lei Rouanet (8.313/91), ao finan-ciar projetos culturais, a oferecer con - ... Reforma eleitoral - O PMDB de-fende a votação

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www.camara.leg.br/camaranoticiasDisque - Câmara 0800 619 619

BRASÍLIA-DF, TERÇA-FEIRA, 1º DE OUTUBRO DE 2013 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ano 15 | Nº 3076

LEIA ESTA EDIÇÃO NO CELULAR

EDIÇÃOESPECIAL

A constantepressão por reformas

25 ANOS DA CONSTITUIÇÃO

Ainda há divergências em torno da MP, como a contratação de estrangeiro como bolsista e a validação do diploma

Mais Médicos vai a voto em comissão

Projetos com urgência trancam pauta do Plenário da Câmara

Não há prazo para mudançanas eleições, diz deputado

O deputado Candido Vaccarezza, coordenador do GT da minirrefor-ma eleitoral, diz que tempo é curto para mudar regras de 2014. | 4

| 3

| 3

Marcello Casal Jr. - ABr

Chapadinha (MA) - Médicos cubanos do programa conhecem as instalações onde irão trabalhar

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Diretor: Sérgio Chacon (61) 3216-1500 [email protected]

[email protected] | Redação: (61) 3216-1660 | Distribuição e edições anteriores: (61) 3216-1827

1ª Vice-PresidenteAndre Vargas (PT-PR)2º Vice-Presidente Fábio Faria (PSD-RN)1º SecretárioMarcio Bittar (PSDB-AC)2º Secretário Simão Sessim (PP-RJ)3º SecretárioMaurício Quintella Lessa (PR-AL)4º SecretárioBiffi (PT-MS)

Presidente: Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)

Diretor de Mídias IntegradasFrederico SchmidtCoordenador de Jornalismo Antônio Vital

Editora-chefeRosalva NunesEditoresSandra CrespoJuliano Machado Pires

DiagramadoresGilberto MirandaRoselene GuedesRenato Palet

Suplentes: Gonzaga Patriota (PSB-PE), Wolney Queiroz (PDT-PE), Vitor Penido (DEM-MG) e Takayama (PSC-PR)Ouvidor Parlamentar: Nelson Marquezelli (PTB-SP)Procurador Parlamentar: Claudio Cajado (DEM-BA)Corregedor Parlamentar: Átila Lins (PSD-AM)Presidente do Centro de Estudos e Debates Estraté-gicos: Inocêncio Oliveira (PR-PE)Diretor-Geral: Sérgio Sampaio de AlmeidaSecretário-Geral da Mesa: Mozart Vianna de Paiva

Mesa Diretora da Câmara dos Deputados - 54a Legislatura SECOM - Secretaria de Comunicação Social

Jornal da Câmara

Impresso na Câmara dos Deputados (DEAPA)

TERÇA-FEIRA1º de outubro de 2013

AGENDA

LEIA AGENDA COMPLETA NO CELULAR

selo verde

1º de outubro de 20132 | JORNAL DA CÂMARA

SESSÃO SOLENE | Igreja atua com juventude desde 2004

Força Jovem Universal ganha homenagem

A Câmara homenageou com ses-são solene a Força Jovem Universal, programa da Igreja Universal do Rei-no de Deus que já beneficiou dois milhões de pessoas no País. O de-putado que sugeriu a homenagem, Márcio Marinho (PRB-BA), disse que a instituição atua desde 2004, rea-lizando trabalhos em benefício da sociedade.

Marinho citou diversos projetos da entidade, como o Dose Mais For-te, de conscientização e prevenção às drogas; o Consciência Jovem, que atua na área de cidadania e desen-volvimento social; e o Jovem Nota 10, que ministra cursos nas áreas de libras, pré-vestibular, informática e idiomas. “Os programas desenvolvi-dos têm sido fundamentais no resga-

te de pessoas em todo o País.” O deputado George Hilton (PRB-

-MG) lembrou que o programa está presente em mais de 180 países. “Ninguém quer que o jovem seja to-lhido de ser jovem, mas faça da sua juventude algo que lhe dê prazer na velhice”, declarou. “Que a Força Jo-vem continue o trabalho que reali-za, sendo referencial para os jovens do País”, afirmou o deputado Vitor Paulo (PRB-RJ).

O presidente Henrique Eduardo Alves encaminhou pronunciamento também destacando a reabilitação de pessoas. “A reinserção na socie-dade de jovens em situação de ris-co significa um resgate em favor da vida. Vida que se quer harmoniosa, feliz, produtiva e útil”.

IdososSessão Solene em homenagem aos 10 anos do Estatuto do Idoso. Plenário Ulysses Guimarães, 9h

Livro e leituraAs comissões de Educação e de Cultura realizam a audiência “Políticas públi-cas para o livro, leitura e biblioteca”. Plenário 10, 9h30

VelhiceA Comissão de Seguridade promove o seminário “Um olhar atualizado sobre a velhice”. Plenário 7, 9h30

Mais MédicosA comissão mista da MP do Mais Mé-dicos (MP 621/13) se reúne para apre-ciar o relatório final. Plenário 2, Ala Nilo Coelho, Senado, 11h30

PescaA Comissão de Integração realiza audi-ência sobre pesca e suas restrições em Amazonas, Rondônia e Rio Grande do Sul. Plenário 15, 14h

Cultura e EducaçãoA Comissão de Cultura promove o se-minário “Construção de um Plano Articulado para Cultura e Educação”. Plenário 10, 14h. Às 14h30, haverá ho-menagem ao educador Paulo Freire. São convidados os ministro da Educação, Aloizio Mercadante; e da Cultura, da Cultura, Marta Suplicy.

Seguro privadoA Comissão de normas para seguro pri-vado se reúne para apresentar o relató-rio final. Local a definir, 14h15

Futebol femininoA Comissão de Turismo e Desporto re-aliza audiência sobre a situação do fu-tebol feminino. Plenário 5, 14h30

Empresa de laticíniosA Comissão de Agricultura e Pecuária

realiza audiência sobre o fechamento de fábricas da empresa Lácteos Brasil (LBR). Plenário 6, 14h30

Imprensa NacionalA Comissão de Trabalho realiza audi-ência sobre o projeto do governo para a Imprensa Nacional. Plenário 12, 14h30

Clones e genéticaA Comissão de Ciência e Tecnologia re-aliza audiência sobre controle de mate-rial genético animal. Plenário 13, 14h30

Código de MineraçãoA Comissão do Código de Mineração (Projetos de Lei 37/11 e 5807/13) realiza audiência sobre a questão socioeconô-mica. Plenário 14, 14h30

Ensino médioA comissão de reformulação do ensi-no médio realiza audiência. Plenário 16, 14h30

Zona FrancaA Comissão da Zona Franca de Manaus

(PEC 103/11) se reúne para discutir o relatório final. Plenário 11, 14h30

Transporte como direitoA Comissão do Transporte como Di-reito faz audiência. Plenário 4, 15h

Apreciação de MPsA Comissão sobre a apreciação de MPs realiza audiência com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Plenário 9, 15h

Exploração sexualA CPI da Exploração Sexual de Crian-ças e Adolescentes faz audiência. Ple-nário 11, 17h

SaúdeA Frente da Saúde debate o financia-mento do setor. Plenário 13, 18h

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 3

MAIS MÉDICOS | Relator afirma que atendeu 90% das demandas, mas há dificuldades

Entidades, governo e deputados não chegam a consenso sobre MP

CULTURA

Rouanet: uso poderá exigir contrapartida

A Comissão de Cultura aprovou proposta que obriga empresas que recebem benefícios fiscais por meio da Lei Rouanet (8.313/91), ao finan-ciar projetos culturais, a oferecer con-trapartida social como a distribuição de ingressos a preços reduzidos ou apresentação gratuita em comunida-des carentes. O texto aprovado é uma emenda da deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) ao PL 4085/12, do depu-tado Onofre Santo Agostini (PSD-SC).

A emenda limita a aplicação da norma apenas às pessoas jurídicas que atuem no setor cultural, enquanto o projeto original requer contrapartida de qualquer empresa que se utilize da isenção prevista na Lei Rouanet. Rose de Freitas argumenta que só as empre-sas que atuem no setor cultural têm condições de oferecer ingressos a pre-ço reduzido, como prevê o texto.

Segundo Rose, as empresas que participam como incentivadoras não controlam ingressos. “O que se finan-cia não são as pessoas jurídicas, mas os projetos”, disse.

Contrapartida - A emenda deter-mina que a venda de ingressos seja a preço reduzido, com apresentação trimestral gratuita para comunidades carentes e outras ações previstas em regulamento. Já o texto original defi-ne que sejam ofertados ingressos de meia-entrada como contrapartida so-cial, além das apresentações.

Os dois textos diferem ainda sobre a duração da medida. A emenda apro-vada determina que as ações de con-trapartida social sejam realizadas en-quanto durar o projeto financiado pela Lei Rouanet, enquanto o texto original prevê que as ações durem o tempo da isenção fiscal recebida pela empresa.

Tramitação - A proposta, que tra-mita em caráter conclusivo, será ana-lisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).

Rose de Freitas é a autora da emenda

Várias pontos foram discutidos, como um concurso em nível nacional para médicos

A medida provisória que criou o Programa Mais Médicos (MP 621/13) deverá ir hoje a votação, na comis-são especial que a analisa, ainda sem consenso entre médicos e governo sobre pontos como carreira no SUS e avaliação dos diplomas de profis-sionais que se formaram no exterior. Representantes de associações médi-cas e dos ministérios da Saúde e da Educação se reuniram ontem com o relator da proposta, deputado Rogé-rio Carvalho (PT-SE), e com o líder do governo na Câmara, Arlindo China-glia (PT-SP), a fim de definir pontos de concordância.

Os médicos pedem a realização de concurso para o programa. “Não con-cordamos com o método de contra-tação por bolsa e solicitamos de ime-diato o concurso público e a carreira federal disponibilizando esses pro-fissionais para o município”, disse o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Geraldo Ferreira. “Defende-mos uma política de Estado para qua-lificar a assistência e a formação do profissional”, acrescentou a presiden-te da Associação Brasileira de Educa-ção Médica, Jadete Barbosa Lampert.

Chinaglia respondeu que não há como fazer concurso agora, pois o programa já está em funcionamen-to, mas, segundo ele, o governo está aberto a discutir a carreira médica. “Surgiu até a ideia de se dar um prazo e, a partir desse prazo, os próximos contratados seriam por meio de uma carreira com um piso salarial e um

Partidos da base querem a votação da PEC 190/07, que trata do Estatuto dos Servidores do Poder Judiciário

O impasse em torno da votação do projeto de lei da minirreforma eleitoral (PL  6397/13, do Senado) mantém a pauta do Plenário tran-cada por três projetos com urgên-cia constitucional. A pauta das ses-sões ordinárias está trancada pelos projetos 5740/13, que cria a Agên-cia Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater); 6053/13, que cria funções comissionadas para o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit); e 3471/12, que anistia as dívidas das Santas Casas de Misericórdia. Este último já foi incorporado ao texto da MP 619/13, aprovada pelo Plená-rio, mas continua tramitando com urgência.

Reforma eleitoral - O PMDB de-

fende a votação desses projetos para que a Câmara possa analisar o pro-jeto da minirreforma eleitoral, que diminui custos de campanha e muda procedimentos de prestação de con-tas dos candidatos e partidos.

Já o PT é contra a votação dessa minirreforma e, assim como outros partidos da base, pretende votar o segundo turno da PEC 190/07, que trata do Estatuto dos Servidores do Judiciário, da deputada Alice Portu-gal (PCdoB-BA) e do ex-deputado

Flávio Dino. A proposta determina que o Supremo Tribunal Federal en-vie ao Congresso, em 360 dias, pro-jeto de lei complementar sobre o Es-tatuto dos Servidores do Judiciário.

Os deputados poderão anali-sar ainda requerimentos de urgên-cia para o projeto da minirreforma eleitoral e para o PL  4471/12, do deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que cria regras para a apuração de mortes e lesões corporais decorren-tes das ações de agentes do Estado, como policiais.

Idoso - Amanhã, às 10h, os depu-tados participam de Comissão Ge-ral para debater a violência contra idosos. A comissão foi convocada a pedido do deputado Vitor Paulo (PRB-RJ).

Pauta prossegue trancada por urgênciasPLENÁRIO | Às 10h de amanhã haverá comissão geral para discutir violência contra idodos

aperfeiçoamento continuado”, dis-se. Ele ressaltou, no entanto, que não houve consenso sobre esse ponto.

Já o relator da MP, Rogério Carva-lho, explicou que não cabe a ele tratar de carreira profissional em seu rela-tório. “Isso é projeto de lei específico de iniciativa do Executivo.”

Diplomas - Também não houve consenso sobre a participação dos médicos formados no exterior no Exa-me Nacional de Revalidação de Diplo-mas Médicos (Revalida). Os profissio-nais defendem que os que possuem diploma expedido por outro país pas-sem pelo exame acompanhado pelas entidades médicas. O relator discor-da. “Se isso for feito, esse médico vai

trabalhar em qualquer lugar do País, deixando as áreas que mais necessi-tam de médico sem a presença desse profissional. Por isso, o programa está focado numa avaliação específica das universidades que dão auditoria”.

Entre outros pontos, Rogério Car-valho adiantou que há consenso so-bre a universalização da residência médica para todos os formandos e o acerto para investir em infraestrutu-ra de saúde nos próximos cinco anos.

Carvalho mostrou-se aberto às demandas dos médicos e disse ter acatado 90% delas em seu relatório, que deve ser apresentado hoje. China-glia se disse confiante na votação na comissão hoje e no Plenário amanhã.

Zeca Ribeiro

Luis Macedo

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1º de outubro de 20134 | JORNAL DA CÂMARA

ELEIÇÕES | Se o projeto for aprovado hoje, Dilma terá apenas dois dias para sancioná-lo, argumenta o deputado

É tarde para votar reforma, diz Vaccarezza

O deputado Cândido Vaccarezza defende a minirreforma e diz que as denúncias de que o texto estimula o caixa dois são “demagogia”.

O presidente Henrique Alves anunciou que pretende colocar em votação na terça-feira o projeto de minirreforma eleitoral que veio do Senado. O sr. acha possível aprová--la em tempo para as eleições do ano que vem?

Vaccarezza - Eu acho melhor não aprovar na terça. O meu motivo é que, se votarmos na terça, vai chegar para a presidente na quarta [ama-nhã] e aí ficariam apenas dois dias úteis para ela analisar o texto. Eu já havia dito que, ou nós votaríamos na semana passada, ou não teria senti-do votar mais. Agora, se o presidente colocar para votar, nós vamos votar.

O seu próprio partido, segundo o líder José Guimarães, não tem inte-

resse em votar a reforma, que é muito pequena. O que o sr. acha disso?

Vaccarezza - O PT fechou questão pela obstrução. Eu, como filiado e di-rigente, voto com o PT. Meu voto no painel será com o partido, diferente mente de muitos do PT que me cri-ticam e não votam com o partido. O texto proposto pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) é bom, mas é pos-sível melhorá-lo para, por exemplo, retirar a proibição de campanhas eleitorais em propriedades privadas. É um direito do cidadão manifestar apoio a alguém na casa dele.

Que mudanças constam dessas reformas que poderiam melhorar as próximas eleições?

Vaccarezza - Por exemplo, o dis-positivo que proíbe candidatos even-tualmente considerados ‘ficha-suja’ de renunciarem à candidatura em nome de outros dias antes da elei-

‘Denúncia de caixa dois é demagogia de quem é contra’ção. Tanto no texto em análise na Câmara - que deixou de ser aprovado em julho quando já estava pronto -, quanto neste do Senado, fica defini-do um prazo mínimo para renunciar às candidaturas. Isso impede que, não havendo tempo para fazer a al-teração do nome e da foto nas urnas eletrônicas, o povo não correria mais o risco de votar em um candidato e acabar elegendo outro.

Um dos pontos polêmicos no texto do Senado é o que supostamente per-mite que concessionárias de serviços públicos repassem dinheiro a candi-datos e partidos por meio de outras empresas. Como o sr. vê essa questão?

Vaccarezza - Isso é demagogia de quem combate a minirreforma. Se você excluir todas as empresas que fazem parte de grupos que têm con-cessão, você vai impedir que diver-sas empresas do País façam doações.

Mesmo discordando, Vaccarezza diz que votará com o PT

O coordenador do grupo de tra-balho (GT) da reforma política na Câmara, deputado Cândido Vac-carezza (PT-SP), disse que o proje-to de lei da minirreforma eleitoral que veio do Senado (PL 6397/13) não deverá ser votado nesta terça-feira (1º). Mesmo favorável ao texto, Vac-carezza explicou que o problema é o curto prazo que a presidente Dilma Rousseff teria para decidir se sancio-na ou veta o projeto.

Para Vaccarezza, o texto propos-to pelo senador Romero Jucá (PMDB--RR) é bom, mas seria preciso cor-rigir alguns pontos. Segundo ele, o texto que vem sendo trabalhado pelo grupo de trabalho da Câmara é melhor. “Lamento que não tenha-mos tido tempo suficiente para re-solver essa questão na Câmara. Isso foi ruim para o Brasil”, afirmou o de-putado.

Doações - A Lei 9.504/97 proíbe qualquer doação, direta ou indireta, de concessionários e permissioná-rios de serviços públicos. O texto do Senado acrescenta a ressalva de que essa proibição só valerá quando as concessionárias forem as responsá-veis diretas pela doação.

“O texto do Senado só clareou a lei. Não é verdade que ele permitiu [a doação de concessionárias]. Isso é demagogia de quem combate a mi-nirreforma”, disse Vaccarezza.

O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), no entanto, já adiantou que essa parte do texto deverá ser objeto de destaque. “Seria o mesmo que incluir no valor de uma obra pú-blica aquilo que se está oferecendo a título de doação para os candidatos”, criticou.

Por sua vez, o líder do PT, José Guimarães (CE), vem afirmando que o partido continuará a obstruir a vo-tação de qualquer reforma eleitoral que não seja ampla.

Luis Macedo

Arte: Lucas Pádua

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EDIÇÃO ESPECIAL - TERÇA-FEIRA, 1º DE OUTUBRO DE 2013

a pressão por mais

reformas

25 ANOS DEPOIS

Ex-secretário conta histórias do dr. Ulysses | 11

O que mudou com a Constituiçãode 1988 | 4 e 5

Deputadosconstituinteslembram ostrabalhos

| 20 a 23

Do Brasil de 1988 ao Brasil de 2013 | 8 e 9

Ex-relatordefendereformaprofunda | 10

Protestosacordaramo Brasil,diz Alves | 3

João ArnolfoRodolfo Stuckert

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1º de outubro de 20132 | JORNAL DA CÂMARA

Após 25 anos e 81 emendas, apressão por reformas continua

Emenda/ano O que diz

72, de 2013 Equipara os direitos trabalhistas entre os trabalhadores domésticos e os demais trabalhadores

66, de 2010 Modifica os requisitos para o divórcio, suprimindo o prazo de separação judicial por mais de um ano 53, de 2006 Reformula o fundo nacional para a educação e piso salarial único para professores

47, de 2005 Segunda reforma da Previdência introduz a contribuição de servidores públicos inativos e pensionistas

45, de 2004 Reforma do Judiciário – cria as súmulas vinculantes e os conselhos nacionais da Justiça e do Ministério Público

42, de 2003 Minirreforma Tributária – institui prazo de 90 dias para a modificação de alíquotas de vários impostos e estabelece anterioridade de um ano para criação de impostos

41, de 2003 Primeira reforma da Previdência - acaba aposentadoria integral com paridade 35, de 2001 Modifica a imunidade parlamentar e permite que deputados sejam processador pelo Supremo Tribunal Federal 32, de 2001 Estabelece a tramitação de medidas provisórias e proíbe a reedição

22, de 1999 Cria juizados especiais federais para acelerar ações mais simples

20, de 1998 Reforma da Previdência. Institui o tempo de contribuição como parâmetro para as aposentadorias e cria o fator previdenciário

19, de 1998 Reforma administrativa 16, de 1997 Institui a reeleição para os cargos de prefeito, governador e presidente da República

15, de 1996 Dificulta a criação de municípios

12, de 1996 Cria a CPMF

1, de 1992 Vincula salários dos vereadores aos dos deputados estaduais e destes aos dos deputados federais

• Ao todo, foram aprovadas 75 emendas constitucionais e outras seis de revisão

anos

Principais mudanças em

Detalhamento do texto constitucional leva a uma tensão permanente por mudanças nas regrasCarol Siqueira

Tramitam na Câma-ra mais de mil propostas de emenda à Constituição (PECs). Esse número reflete a constante pressão por re-formas, desde a promulga-ção, em 5 de outubro de 88, e decorre do fato de a Cons-tituição ser detalhada.

A maioria dos líderes partidários cobra as refor-mas política e tributária. Eles defendem ainda a al-teração do rito das medidas provisórias (PEC 70/11), o fim do voto secreto (PEC 349/01, já aprovada pela Câmara), mudanças nas re-lações trabalhistas e a in-clusão do transporte como direito social (PEC 90/11), entre outros pontos.

O Congresso também lida com a pressão popular. O Plenário da Câmara che-gou a ser invadido duas ve-zes neste ano por protestos relacionados a propostas de emenda à Constituição: por índios contrários à PEC 215/00, que transfere para o Congresso a responsabi-lidade sobre demarcação de terra, e por policiais e bom-beiros defensores da PEC 300/08, que garante piso sa-larial nacional para as duas categorias.

As manifestações de ju-nho, que levaram milhões às ruas de mais de 100 ci-dades brasileiras cobrando melhores serviços públicos e o fim da corrupção, rea-cenderam o debate sobre a reforma política e tam-bém conseguiram sepultar justamente uma mudança constitucional em discus-são: a PEC 37/11, que limi-tava o poder de investigação do Ministério Público.

Os deputados também

são cobrados ainda por ca-tegorias profissionais como advogados públicos, que buscam autonomia profis-sional; agentes penitenciá-rios, que reivindicam a cria-ção da polícia penal (PEC 308/04); servidores de ex--territórios como Roraima e Amapá, que cobram a mu-dança para quadros federais (PEC 11/11); entre outros.

Para facilitar o proces-so de atualização da Cons-tituição, os líderes do PSD, deputado Eduardo Sciar-ra (PR); do PDT, deputa-do André Figueiredo (CE); e do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), defendem a criação de uma assembleia revisora. A revisão poderia, segundo eles, acelerar a tra-mitação das reformas polí-tica e tributária.

O líder do PT, José Gui-marães (CE), avalia que há muita distância entre o discurso e a prática. “Virou moda os deputados falarem que são fundamentais as re-formas política e tributá-ria. Mas qual é a vontade em fazer essas reformas?”, questionou o petista.

O governo é um dos al-vos da pressão por mudan-ças, especialmente para abrir os cofres em favor de estados e municípios. No entanto, o líder do go-verno, Arlindo Chinaglia (PT-SP), diz que “é mui-to fácil” pedir o aumento dos repasses, mas isso não vai resultar em desenvol-vimento e pode compro-meter as finanças públi-cas. “O pacto federativo não envolve apenas en-viar mais recursos, tam-bém envolve as dívidas contraídas por esses entes em outros governos e os acordos firmados”, disse.

Arte: Gastão Cared

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 3

Protestos de junho acordaram o Brasil para as mudanças, diz AlvesDefensor das emendas do Orçamento impostivo e do voto aberto, presidente prega atualização constante

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, dis-se que a Constituição precisa ser constantemente atuali-zada para responder às mu-danças sociais. “Ela precisa se modernizar e se adequar sempre às necessidades de um mundo que se transfor-ma a cada dia, a cada momen-to”, disse.

Alves lembrou o papel das manifestações de junho, que levaram todas as pessoas pú-blicas a refletir sobre o cum-primento dos seus deveres. “O mês de junho fez com que o Brasil acordasse mais para

desse assunto para moderni-zar o processo político brasi-leiro, que é a base da demo-cracia”, disse. Ele destacou o trabalho feito pelo grupo de trabalho da reforma políti-ca, coordenado pelo deputa-do Cândido Vaccarezza (PT--SP), que tem recebido várias sugestões até mesmo via in-ternet. “Em outubro eu leva-rei ao Plenário uma proposta possível de reforma política,

cujos temas irão a referendo popular”, disse.

Melhor possívelPara Alves, que participou

da Assembleia Constituinte, a Carta de 1988 é a melhor pos-sível, especialmente por tratar dos direitos dos cidadãos e co-locá-los como cláusula pétrea, ou seja, esses direitos nunca poderão ser reduzidos. “Ela foi a melhor porque foi a Car-

ta Cidadã, a que visou os direi-tos sociais dos cidadãos, sem apenas cobrar os deveres, tor-nando mais igual e mais jus-to. O grande avanço foi tornar essa norma mais protetora do cidadão”, disse

É justamente esse olhar para os direitos e anseios dos cidadãos que virou, na avalia-ção do presidente, o grande legado de Ulysses Guimarães, que presidiu a Assembleia

“A Constituição cumpriu seu papel ao fazer a rutpura de um regime autoritário para o democrático, mas ficou detalhada demais, precisa ficar mais enxuta.”

Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB

“O texto da Constituição é perfeito, assegura muitos direitos, como saúde, educação, etc., mas precisamos garantir o cumprimento desses direitos.”

Nilson Leitão (PSDB-MT), líder da Minoria

“É necessário fazer algumas revisões que o tempo impõe, como a modernização das relações de trabalho, a reforma política, a reforma tributária.”

Eduardo Sciarra (PR), líder do PSD

“A partir da reforma política, as transformações necessárias acontecerão, em razão da mudança de critério da escolha dos parlamentares e governantes.”

Arthur Lira (AL), líder do PP

“Nós precisamos modernizar. Por exemplo, temos que permitir a participação popular em plebiscito e referendo via internet.”

José Guimarães (CE), líder do PT

Gustavo Lima Gustavo Lima Gustavo Lima Saulo CruzGustavo Lima

“Nós precisamos reestruturar a forma de participação direta da população. A representação política hoje está fragilizada.”

Jô Moraes (PCdoB-MG), coord. bancada feminina

Rodolfo Stuckert

aquilo que o povo reclama, sobretudo na qualificação dos serviços públicos”, disse. Ele ressaltou, no entanto, que a Câmara está sempre aberta à participação popular. “Tran-sitam pela Casa cerca de 10 mil pessoas por dia, numa movimentação de represen-tantes e lideranças cobrando direitos”, disse.

Para o presidente, é ur-gente realizar a reforma po-lítica. “Já estamos tratando

Henrique Alves: “A Constituição precisa se modernizar e se adequar sempre às necessidades de um mundo que se transforma a cada dia, a cada momento.”

“O mês de junho fez com que o Brasil acordasse mais para aquilo que o povo reclama.”Henrique Alves

Gustavo Lima

Constituinte e hoje dá nome ao Plenário em que os depu-tados discutem os projetos de lei. “A marca dele foi res-peitar o cidadão, o direito de reclamar, de protestar. Ainda que sejam radicais e impulsi-vas, essas manifestações são importantes. É esse impulso dos jovens que faz os mais ex-perientes se modernizarem e avançarem nas suas concep-ções”, disse Alves.

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1º de outubro de 20134 | JORNAL DA CÂMARA

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1º de outubro de 20136 | JORNAL DA CÂMARA

“Como dizia o dr. Ulysses, é uma Constituição cidadã, que apontou caminhos para a participação popular.”

Sarney Filho (MA), líder do PV

“Não podemos abrir mão dos direitos individuais do cidadão, a questão da liberdade de expressão e de liberdade de imprensa.”

Jovair Arantes (GO), líder do PTB

“É uma Constituição libertária, tem vocação e índole democrática. Traz o princípio fundamental, a dignidade da pessoa humana.”

Jean Wyllys(Psol-RJ)

“A grande virtude é a legitimidade. As pessoas estão protestando nas ruas, mas ninguém está pedindo para revogar a Constituição.”

Gilmar Mendes, ministro do STF

“O momento é propício para avanços, com o povo na rua, mas temos que estar preocupados com os retrocessos que vêm de setores conservadores.”

Ivan Valente (SP), líder do Psol

“Tem muita coisa para mudar, uma delas é a redução da maioridade penal. Temos que ouvir as ruas. Ou nós mudamos, ou nos mudam.”

Dr. Carlos Alberto (RJ), líder do PMN

Protegidos contra emendas, direitos individuais se mantêm como vitrineDebate sobre ampliação de direitos civis e de minorias se concentra em normas infraconstitucionaisMaria Neves

Tanto deputados quanto especialistas são unânimes – a Constituição não pode retroceder nas conquistas da cidadania. Direitos como liberdade de expressão, de ir e vir e de organização são cláusulas pétreas – não po-dem ser reduzidos nem por meio de emendas.

Os parlamentares fazem coro ao afirmar que o gran-de legado desta Constitui-ção foi a ampliação do exer-cício da cidadania.

Para o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), as mani-festações “que sacudiram o País” em junho são fruto desta Constituição. “Foi o ambiente democrático que ela instaurou que permitiu que a democracia se mani-festasse”, disse.

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, acredita que esta é a melhor Constituição que o País já teve. “Ela visou muito os aspectos sociais, os direi-tos dos cidadãos, tornar o País mais igual, mais jus-to, mais fraterno, esse foi o grande avanço”, disse.

DireitosO texto que agora com-

pleta 25 anos significou o rompimento com uma di-tadura militar de 29 anos, o que lhe valeu várias ca-racterísticas – a principal

delas, tentar assegurar ao máximo os direitos do ci-dadão.

Pela primeira vez, pas-sou a constar no texto constitucional que qual-quer atentado aos direitos fundamentais será punido pela lei, e o crime de racis-mo também foi constitucio-nalizado. A partir de 1988 a inviolabilidade do domicí-lio foi ampliada. Qualquer autoridade só pode entrar numa casa com autorização do morador ou mandado ju-dicial. Antes, bastava a or-dem do delegado de polícia.

Para as mulheres, a de-putada Jô Moraes (PCdoB--MG) acredita que a con-quista mais importante foi o reconhecimento pleno dos seus direitos. “A socie-dade brasileira nos deu ple-na cidadania”, sustenta.

Representantes de cor-rentes políticas opostas, como os deputados Ivan Valente (Psol-SP), Andre Moura (PSC-SE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), assim como o líder do governo na Câmara, Arlindo Chi-naglia (PT-SP), concordam que esses conquistas devem

ser preservadas a todo cus-to. “Os avanços em termos de democracia, em termos de liberdade de expressão acima de tudo, liberdade de imprensa, são pontos que devem permanecer e, se possível, ser ampliados”, defende Moura.

LegitimidadePara o ministro do Su-

premo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, a grande virtude da Consti-tuição é sua legitimidade: “Hoje se veem as pessoas nas ruas protestando con-

tra a qualidade dos servi-ços públicos, mas ninguém está pedindo pra revogar a constituição. Elas estão reivindicando com base na liberdade de reunião que a Constituição lhes outorga.”

Todos concordam que os direitos e garantias in-dividuais listados no arti-go 5º são cláusulas pétreas e, portanto, não podem ser abolidos. Há dúvidas sobre

outros direitos espalhados pela Constituição.

Ao fixar a maioridade penal em 18 anos (art. 228), a Constituição protegeu os menores. Muitos juristas sustentam que essa regra também é cláusula pétrea, enquanto outros dizem que não e defendem a redução da maioridade penal para 16 anos, como forma de combater a onda de violên-cia entre adolescentes.

No campo da cidadania, também se discute o direito de minorias – mas o debate se concentra em normas le-gais e não propriamente no texto constitucional.

Um dos temas em discussão é a possibilidade ou não de reduzir a maioridade penal, fixada em 18 anos

Gustavo Lima Renato AraújoGustavo Lima Gustavo Lima Rodolfo Stuckert

Jovens vão para as ruas em todo o País; liberdade de expressão é um dos direitos individuais

Zeca Ribeiro

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 7

Direitos sociais são amplos, mas ainda precisam ser consolidadosEmbora seja concedido precariamente, direito à saúde e à educação levou ao aumento do IDHVania Alves

Pela primeira vez na his-tória constitucional brasi-leira, em 1988, os direitos sociais foram explicitados. Educação, saúde, habitação têm espaço diferenciado e privilegiado. Mas, ao con-trário dos direitos de liber-dade, para os quais basta a não interferência do Estado para que sejam garantidos, os direitos sociais custam caro. Por isso mesmo, estão abso-lutamente sujeitos ao que o Supremo Tribunal Federal chama de reserva do possí-vel. Ou seja, só dá para garan-tir esse direito se houver di-nheiro para isso – o que nem sempre ocorre. Por isso, não faltam críticas à situação de atendimento no Sistema Úni-co de Saúde (SUS) ou ao aces-so às escolas públicas ou mes-mo à falta de creches.

Mas ninguém nega os avanços de 88. Para o deputa-do Jean Willys (Psol-RJ), não se esperava que o País mu-dasse de um dia para o outro: “Os deputados constituintes não tinham a consciência de que o texto iria transformar a realidade de imediato, mas ia servir de norte para a trans-formação.”

SaúdeA grande revolução na

saúde foi a criação do SUS. União, estados e municípios são responsáveis por um sis-

tema integrado de atendi-mento à saúde ao qual todo cidadão brasileiro e até mes-mo estrangeiros têm acesso. Antes, apenas quem era filia-do ao Inamps podia utilizar os hospitais públicos. O res-tante era atendido pelas San-tas Casas e outras entidades beneficentes. Para o deputa-do Rogério Carvalho (PT-SE), foi a conquista da saúde como direito da cidadania. Mesmo reconhecendo as carências, ele ressalta que houve a de-mocratização da saúde.

EducaçãoO texto de 88 colocou a

educação como dever do es-tado inclusive para quem não teve acesso a ela na idade cer-ta – cláusula fundamental num país com altos índices de analfabetismo. Após 88, foi ampliada a educação rural e enfatizados os esforços para incluir as crianças com defi-ciência e a população indíge-na. Mas até hoje o brasileiro estuda em média sete anos, enquanto nos EUA a média é de 13 anos.

O País tem 198 mil esco-las públicas e privadas, que oferecem educação infan-til, básica e ensino médio. Na educação básica, são 52,6 milhões de crianças matricu-ladas. O ministro da Educa-ção, Aloizio Mercadante, afir-ma que o acesso à educação e a exigência constitucional da Lei de Diretrizes e Bases

da Educação foi o que permi-tiu que houvesse um salto na qualidade de vida dos brasi-leiros, refletido no Índice de Desenvolvimento Humano.

Entre 1991 e 2010, o IDH cresceu 47,5% no País, de 0,493 para 0,727. Esse índice é composto por três variáveis (educação, saúde e renda). O desempenho de uma locali-dade é melhor quanto mais próximo o indicador for do número um.

“A educação explica 71% da melhora do IDH dos municípios brasileiros nos últimos 20 anos.”

Aloizio Mercadante, ministro da Educação

“Em termos de mudança constitucional, nós defendemos 10% do PIB para a educação e 10% para a saúde.”

“A reforma que o Brasil quer, pelo menos é o que nós estamos debatendo com a população, é a reforma da melhoria da qualidade de vida.”

Décio Lima (PT-SC), presidente da CCJ

“Temos que atingir as metas relacionadas à educação, que é a base para a formação e para o crescimento de um país.”

George Hilton (MG), líder do PRB

“Passamos a ter um instrumento do Estado para assegurar aos brasileiros o direito à saúde, acabando com a figura do indigente.”

Rogério Carvalho(PT-SE)

“O PDT defende uma assembleia revisora, mas garantindo a inclusão daqueles que foram apartados do processo econômico.”

André Figueiredo (CE), líder do PDT

O deputado Ivan Valente (Psol-SP) reconhece os avan-ços conquistados pela Consti-tuição, mas acredita que haja brechas que hoje ameaçam direitos garantidos por esse mesmo texto: “Nós temos também coisas que deixaram brechas para retrocessos, que é a permissão para que educa-ção e saúde pudessem ser co-mercializados, isto é, libera-dos para a iniciativa privada.”

Mesmo os defensores do

texto de 88 reconhecem que ele deixou tarefas a fazer no reconhecimento de direi-tos. Mas mesmo aí, apontou caminhos que deveriam ser seguidos no futuro, como aponta do deputado Rubens Bueno (PPS-PR), referindo--se aos direitos dos trabalha-dores domésticos. “Há uma dívida social muito grande em que a Constituição pode ajudar, como está ajudando. Veja a PEC das Domésticas. Você está trazendo um novo patamar para a vida do País, onde resquícios de escravidão existiam até então.”

Mudanças profundasO cientista político José

Álvaro Moisés também acre-dita que é preciso desenvolver políticas públicas que concre-tizem os direitos garantidos pela Constituição, mas que ainda não fazem parte da vida dos brasileiros, como mostraram as últimas mani-festações: “É necessária uma mudança mais profunda no sentido de aperfeiçoar servi-ços públicos e algumas polí-ticas públicas fundamentais.

No Brasil, política de se-gurança ainda é um grande problema. Em aproximada-mente 27 anos, cerca de 1 milhão de pessoas foram as-sassinadas no Brasil. O mo-vimento de estudantes no Brasil colocou em xeque o sis-tema de transporte das me-trópoles.”

Brizza Cavalcante Leonardo Prado Zeca Ribeiro Laycer Tomaz Gustavo Lima

Espera por atendimento: rotina no SUS

Gustavo Lima

Paulo Pereira da Silva (PDT-SP)

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1º de outubro de 20138 | JORNAL DA CÂMARA

Música mais tocada

Ilariê (Xuxa)

MoedaCruzado

Astro do esporteAyrton Senna

DO BRASIL DE

29 de setembro: O desempregado Raimundo Nonato sequestrou um Boeing da Vasp que fazia o trajeto BH-Rio, planejando pousar o avião sobre o Palácio do Planalto. Após Nonato matar o co-piloto, o comandante do voo conseguiu aterrissar em Goiânia, onde o sequestrador foi morto

9 de novembro: Tropas do Exército invadem uma unidade da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda, no Rio, para reprimir a greve dos metalúrgicos. Três trabalhadores morremnos con�itos

31 de dezembro: Uma embarcação de turismo Bateau Mouche com 153 passageiros naufraga na Baía da Guanabara, deixando55 mortos

30 de outubro: Ayrton Senna conquista seu primeiro título mundial no Japão

18 de fevereiro: O ditador chileno, Augusto Pinochet, é derrotado em um plebiscito que pretendia renovar seu mandato por oito anos

Agosto: Fim da guerra entre Irã e Iraque, con�ito que já se arrastava desde 1980

29 de novembro: Os presidentes José Sarney e Raúl Alfonsin (Argentina) dão início à criação do Mercosul

inflação980,22% (IPCA-IBGE)

Desemprego5,2% Fonte: IBGE

Expectativa de vida 65,8 anos

Analfabetismo 17% da população acima de 15 anos

Frota de automóveis 10 milhões de veículos (Denatran)

PIB per capita US$ 6.600 (Em dólares de 2009)

Salário mínimo R$ 415,00 (valor aproximado/Dieese)

Dívida externaUS$ 113,5 bilhões (em dólares de 2009)

Dívida interna 21,3% do PIB (Banco Central)

Carga tributária 23,4% do PIB (fonte:IBGE)

Mundo

População

milhões

Manifestação pela reforma agrária

Monza, o carro do ano, segundo a revista Autoesporte

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Texto: Roberto Seabra Arte: Pablo Alejandro

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 9

194

Música mais tocadaTe esperando (Luan Santana)

Moeda Real

AO BRASIL DE

Astro do esporteNeymar

Mundo

Inflação 6,6% (Jun/2013, acumulado 12 meses)

Desemprego5,8% (maio de 2013)

Expectativa de vida74 anos (2012)

Analfabetismo8,6% da pop. acima de 15 anos (IBGE)

Frota de automóveis70,5 milhões de veículos (2011, Detran)

PIB per capitaUS$ 12.465 (2012)

Salário mínimoR$ 678,00Dívida externaUS$ 316 bilhões (2012)

Dívida interna35,1% do PIB (Banco Central)

Carga tributária36,27% do PIB (fonte:IBPT)

População

milhões

Junho: O aumento nas passagens de ônibus e metrô em São Paulo

desencadeia uma série de manifestações pelo País, onde populares pedem mais

recursos para saúde e educação e o fim da corrupção. Pressionado pelas ruas, o

Congresso Nacional arquiva a PEC 37, que restringia o poder de investigação do

Ministério Público, e aprova medidas moralizadoras

11 de Fevereiro: O Papa Bento 16 renuncia. Para o seu lugar é escolhido o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco

Junho: Um ex-agente da CIA denuncia um esquema de monitoramente montado pela inteligência dos EUA, para espionar cidadãos norte-americanos e de outros países, incluindo o Brasil

Janeiro: Incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), mata 242 pessoas e deixam

outras 116 feridas. A grande maioria das vítimas eram de jovens. A Câmara cria uma

Comissão Externa para acompanhar as investigações

Junho: Mesmo com os protestos contra os gastos com a Copa, O Brasil realiza com sucesso a Copa das Confederações, evento preparatório para a Copa de 2014. No final da competição, o time do Brasil vence a seleção da Espanha, atual campeã mundial, por 3 x 0

Manifestação em 2013, parte de uma onda de protestos

Laycer Tomaz

Divulgação

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Gol, carro mais vendido em 2013, segundo aFenabrave

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1º de outubro de 201310 | JORNAL DA CÂMARA

Ex-relator defende uma “reformaprofunda” para corrigir distorçãoCabral afirma que a rejeição do parlamentarismo está na raiz das denúncias de compra de votosJoão Arnolfo

A atual crise de represen-tatividade brasileira será en-frentada quando um presi-dente da República tomar para si, logo no início do mandato, a tarefa de mobi-lizar o Congresso e a socie-dade em torno de um projeto de reforma política profun-do. A reforma é necessária para corrigir distorções de-correntes do fato de que a Constituição foi elaborada com a expectativa da apro-vação do sistema parlamen-tarista de governo, e o siste-ma escolhido acabou sendo o presidencialismo.

A avaliação é do ex-re-lator-geral da Assembleia Nacional Constituinte, Ber-nardo Cabral, 81 anos, atual assessor jurídico da Confe-deração Nacional do Comér-cio, no Rio. Ex-deputado cassado pelo AI-5 em 1968, eleito pelo PMDB do Ama-zonas deputado constituin-te em 1986 e depois senador, foi também ministro da Jus-tiça no governo Collor (90-92). Como relator da Cons-tituinte, transformou mais de 40 mil emendas no texto promulgado em 5 de outubro de 1988.

O parlamentarismo foi aprovado na Comissão de Sistematização, mas derro-tado no Plenário. Nessa oca-sião, Cabral articulou a der-rubada também das medidas provisórias, próprias do par-lamentarismo, mas não ob-teve êxito.

“No sistema presiden-cialista, se vocês deixarem a medida provisória, o pre-sidente da República vai se transformar no maior di-tador de todos os tempos” – disse na época Bernardo Cabral a Humberto Lucena, que liderava a corrente pre-sidencialista com o apoio de José Sarney, então presiden-te da República. “Estaríamos melhor atualmente se tivés-semos conseguido aprovar em plenário o parlamenta-rismo”, garante Cabral.

Seu raciocínio é claro: no parlamentarismo, o chefe de governo recorre à medida

provisória num quadro em que já tem o apoio do par-tido ou da coligação que o sustenta; o programa de go-verno foi combinado previa-mente e não é preciso mais negociar votos. Se não tem os votos necessários para aprovar determinada me-dida, é porque já não tem a confiança do Parlamento, que então pode ser dissolvi-do, com a convocação de no-vas eleições. Ou seja, o go-verno cai e é substituído sem

crises, não dependendo de formar maioria a cada vota-ção importante no Congres-so. “Nunca teremos partidos fortes na vigência do presi-dencialismo”, diz.

Para Cabral, problemas como o mensalão – em que a Presidência da República no primeiro mandato do ex-pre-sidente Luiz Inácio Lula da Silva teria comprado votos

no Legislativo – não acon-teceriam se a Constituição tivesse mantido a propos-ta parlamentarista sugeri-da por um grupo de notá-veis, antes da instalação da Constituinte, em fevereiro de 1987, em documento que o então presidente Sarney mandou publicar no Diário Oficial e depois ignorou so-lenemente.

Quem derrubou a pro-posta parlamentarista? Para Cabral, os interessados no presidencialismo eram os políticos que queriam che-gar a presidente da Repú-blica – como o presidente do PMDB, deputado Ulysses Guimarães – em aliança com quem já estava lá, no caso o então presidente Sarney. “Com o tempo, o dr. Ulysses também virou parlamenta-rista”, garante. A derrota do parlamentarismo, durante a Constituinte, foi reafirmada em plebiscito em 1993.

Aos que defendem o pre-sidencialismo dando como exemplo o sistema ameri-cano, o jurista Bernardo Ca-bral lembra que, no sistema bipartidário de fato, como existe nos Estados Unidos,

há independência da políti-ca monetária, que não sofre interferência do Executivo. Só isso já garante a estabi-lidade econômica indepen-dente do Congresso. “Lá, o presidente do Banco Central (Federal Reserve) entra an-tes e só sai depois do término do mandato do presidente da República, o que evita qual-quer intervenção na fixação das taxas de juros”.

Cabral ainda defende o

formato extenso da Cons-tituição, com 245 artigos, como necessário para abran-ger todos os problemas acu-mulados pela formação histórica brasileira. Mas la-menta que não tenha sido aproveitada a oportunidade de fazer a revisão constitu-cional prevista para cinco anos após a promulgação, quando já poderia ter sido

atualizado o sistema polí-tico e a legislação eleitoral, além de outros pontos que não condiziam com o siste-ma presidencialista ou com as urgências de 1988.

Responde com o exemplo da história aos catastrofistas que alardeavam que o texto em gestação deixaria o país “ingovernável, não duraria seis meses”. Cabral não cita diretamente José Sarney, atribuindo tais previsões a “assessores maledicentes”, mas se emociona ao falar so-bre “o que fizeram contra o sistema parlamentarista e o instituto da desapropriação de terras para reforma agrá-ria”. No primeiro caso foi o grupo de Sarney, no segundo foram os ruralistas que fre-aram uma reforma agrária mais ampla.

Ele entende que a Consti-tuição cidadã, como Ulysses a chamou, continua adequa-da. “É a melhor Constituição que já tivemos, foi fruto da participação popular, tanto é que consolidou a passagem da ditadura para a democra-cia e assegurou transições de divdersos governos des-de então.

Cabral mostrou-se surpreso com notícias de que o colega Nelson Jobim incluiu trechos que não passaram por votações: “Não acredito que seja verdade.”

“No parlamentarismo, o presidente não precisa negociar apoio no Congresso em cada votação.”Bernardo Cabral

Bernardo Cabral, em sua sala, na CNC:“Nunca teremos partidos fortes na vigência do presidenci-alismo.”

João

Arn

olfo

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 11

Ex-secretário lembra bastidores da atuação de Ulysses GuimarãesOswaldo Manicardi era tão próximo do dr. Ulysses que intermediou o pedido de d. Mora em casamentoRoberto Seabra

Durante 44 anos, ele foi secretário de Ulysses Gui-marães. Acompanhou-o por onze mandatos parlamenta-res, estava a seu lado quando era aclamado nos comícios pelas Diretas-Já, acompa-nhou sua dupla eleição para presidente da Assembleia Nacional Constituinte e da Câmara dos Deputados, pre-senciou a reunião na qual se discutiu, madrugada aden-tro, quem assumiria a Pre-sidência após a morte de Tancredo Neves e por pouco não embarcou no helicópte-ro junto com ele e a esposa, dona Mora, naquele fatídico 12 de outubro de 1992.

Oswaldo Manicardi, 85 anos e com uma memória primorosa, contou em entre-vista à TV Câmara detalhes da vida pessoal de Ulysses Guimarães e lembrou as-pectos pouco conhecidos da carreira do político mais im-portante do País em sua fase de redemocratização – como o episódio em que precisa-vam decidir quem assumiria a Presidência com a doença e posterior morte de Tancredo Neves. Manicardi afirmou que os militares não que-riam que Sarney assumisse a vaga. “Diziam que Ulysses é quem deveria assumir, pois era presidente da Câmara. Mas Ulysses não quis, por-que ele queria ser eleito pelo povo. Ao mesmo tempo, ele não podia dizer que não seria ele, pois isso poderia gerar uma crise”, contou.

Segundo Manicardi, Ulysses não se cansava de alertar para o perigo de uma divisão nas forças democrá-ticas. “Ele dizia: ‘Os milita-res estão no poder. Eles não precisam fazer nada para continuar, não precisam ele-ger ninguém.’ Foi quando o senador Afonso Arinos foi para a televisão dizer que o Sarney não era vice do Tan-credo, mas vice do Brasil”, relatou. Ulysses aproveitou o argumento e bateu o mar-telo. “Não vamos polemizar. O presidente será o Sarney. Vamos lutar para ser ele.”

Outro episódio lembrado por Manicardi foi o esforço de Ulysses para acumular as presidências da Câmara e da Constituinte, sob pena de ver naufragado o sonho de aprovar uma nova Constitui-ção apenas três anos após o fim do regime militar.

Promulgada a nova Cons-tituição em 5 de outubro de 1988, Ulysses era o político mais influente e popular do País. Mas isso não foi sufi-ciente para que conseguisse se eleger presidente da Re-pública na primeira eleição direta, ocorrida no ano se-

guinte. Segundo Manicardi, seu partido, o PMDB, estava dividido. “Não havia unani-midade entre os governado-res, pois cada um tinha seus interesses. Por isso indica-ram Ulysses, que foi o mais votado na convenção, mas ele não queria ser”. O re-

sultado, disse Manicardi, é que a campanha eleitoral foi péssima. “Os líderes de cada estado faziam um belo co-mício, mas depois não bus-cavam votos para o dr. Ulys-ses. Ele não teve o apoio do partido”, resumiu.

Manicardi foi tão próxi-mo de Ulysses que, quando perguntado sobre sua forma-ção, ele não titubeia na res-posta: “Conviver com o dr. Ulysses foi uma escola políti-ca, uma escola de convivên-cia com as pessoas. Essa foi a minha formação”. Formado em Direito, ele deixou a ad-vocacia para trabalhar com Ulysses.

Essa proximidade que gerou histórias engraçadas. Como no dia em que Ulysses pediu a Oswaldo que ele son-dasse dona Mora sobre um possível casamento. “Como eu trabalhava em cartório, ele me perguntou como era esse negócio de casamento e me pediu que eu conseguisse com ela os documentos para a cerimônia. Fui até a casa dela e quando cheguei lá descobri que ele não a havia pedido em casamento! Ela chorou, disse que estava vi-úva havia pouco tempo, com dois filhos e que não pensava em se casar de novo. Eu dis-se: pois a senhora se prepare que ele quer casar e vai lutar por isso.” Dias depois foi o próprio Manicardi quem ofi-cializou a união de Ulysses e Mora, que continuaram jun-tos até a morte.

Oswaldo Manicardi se emociona quando lembra o 12 de outubro de 1992, quan-do o helicóptero em que via-javam Ulysses e dona Mora, além do senador Severo Go-mes e a esposa, caiu no mar. O corpo de Ulysses foi o úni-co que não foi encontrado. Essa lembrança traz outra, a de que Manicardi foi sal-vo da morte por Ulysses. Ele já estava sentado dentro do helicóptero, quando o chefe o dispensou. “Me disse: fi-que aí Oswaldo, vá passear, namorar. Somos apenas ca-sais. Desci do helicóptero e eles seguiram. O Dr. Ulysses salvou a minha vida.”

Manicardi no Plenário da Câmara e em caminhada com dr. Ulysses: 44 anos de convivência

Luís Macedo

Luís Macedo

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1º de outubro de 201312 | JORNAL DA CÂMARA

19871/2 Instalação

2/3Aprovação do Regimento Interno

1/4Instalação de comissõestemáticas

14/6Apresentação dos relatórios das comissões temáticas

26/6Relator apresenta anteprojeto e abre prazo para emendas

10/7Relator analisa emendas

e apresenta projeto

11/7Comissão de

Sistematização aprova projeto

15/7Começa discussão do

projeto no Plenário

13/8Fim do prazo de emendas. Foram

apresentadas 20.791

26/8Relator apresenta

1º substitutivo, sem emendas populares

Relator apresenta2º substitutivo, comemendas populares

24/9Início da votação

na Comissão deSistematização

Entrega do projeto ao presidente

Ulysses Guimarães

24/11

19/9

PORTA-RETRATOS

1 – manifestantes barrados na rampa; 2 – índios acompanham votações; 3 e 4 – Genoíno e Bernardo Cabral no Plenário

1

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3 4

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 13

1988Aprovação da reforma do regimento proposta pelo Centrão, que permite mais emendas

20/1Relator apresenta parecer para emendas e projeto de�nitivo

27/1Início da votação no Plenário

20/4Instalação da Comissão de Redação

1/6Fim da votação da parte permanente

30/6Fim da votação das Disposições Transitórias

5/7Entrega do projeto B ao presidente

1/9Fim da votação do projeto B

22/9Aprovação no Plenário da redação �nal

5/10Promulgação

5/1

5 – FHC conversa com Lula e Mario Covas; 6 – Flávio Telles de Menezes (E), Gilvam Viana e Ronaldo Caiado; 7 – Lula;8 – Florestan Fernandes; 9 – �m da votação

6

Arte: Gastão CaredFotos: Acervo Câmara dos Deputados

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1º de outubro de 201314 | JORNAL DA CÂMARA

Sistema político-eleitoral é falhoe tem de mudar, dizem analistasCâmara discute reforma política desde 95, sem acordo; debate ganha fôlego com a pressão das ruasLara Haje

A Constituição precisa de mudanças nos dispositivos relativos ao sistema político--eleitoral. Isso é consensual entre analistas e parlamen-tares. O problema é encon-trar um acordo sobre as no-vas regras.

“Esta é uma das partes em que a Constituição foi falha”, afirma o consultor legislativo Antonio Octávio Cintra. “A prova de que há aspectos do sistema políti-co-eleitoral ainda não resol-vidos é o fato de se falar o tempo todo de reforma po-lítica”, complementa o de-putado Alessandro Molon (PT-RJ). “A dificuldade está no fato de que quem está no poder quer se manter no po-der”, opina o líder da Mino-ria, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT).

Desde 1995, o Congresso discute uma reforma políti-ca. Funciona atualmente na Câmara um grupo de tra-balho (GT) sobre a reforma, coordenado pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que vai apresentar até o fim deste mês uma proposta com alterações no sistema políti-co-eleitoral.

Esta é a segunda vez que um colegiado com esse fim é constituído apenas nes-ta legislatura. O deputado Henrique Fontana (PT-RS) trabalhou por dois anos em um texto, no âmbito da Co-missão Especial sobre Refor-ma Política, mas a proposta

apresentada, em 2011, não chegou a ser votada em Ple-nário por falta de consenso.

O cientista político João Paulo Peixoto acredita que, agora, a pressão popular pode contribuir para que a reforma seja concluída.

FinanciamentoPara o professor de Ciên-

cia Política da Universidade de São Paulo (USP) José Ál-varo Moisés, há pelo menos dois pontos que estão fun-

Sistema proporcionalDe acordo com o profes-

sor Álvaro Moisés, o segundo aspecto necessário de uma reforma político-eleitoral é a mudança do atual sistema proporcional (eleições de de-putado e vereador).

“Apareceu com grande força nas manifestações nas ruas a ideia de que as pessoas querem se sentir represen-tadas, querem algum grau de controle sobre o desem-

penho de seu representante. Isso exige mudança no siste-ma eleitoral”, disse.

Na proposta apresentada ao GT da Reforma Política, Alfredo Sirkis sugere a ins-tituição de um sistema elei-toral misto para deputados. Pela proposta, metade dos deputados seria eleita pelo sistema proporcional e a outra metade seria escolhi-da pelo sistema majoritário em distritos eleitorais.

Fim das coligaçõesA proposta de Fontana

prevê a substituição das co-ligações eleitorais por fede-rações partidárias, que dura-riam por toda a legislatura. Hoje, a Constituição asse-gura aos partidos políticos autonomia para definir suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vincu-lação entre as candidaturas em âmbito nacional, esta-dual, distrital ou municipal, nem prevê um tempo míni-mo para sua duração.

“O essencial é acabar com o financiamento privado das campanhas eleitorais.”

Manuela D’Ávila (RS), líder do PCdoB

“O PSDB defende o fim da reeleição, mandato de 5 anos e voto distrital misto, entre outros pontos.”

Carlos Sampaio (SP), líder do PSDB

“Proibir as empresas de doar a candidatos pode promover uma explosão do caixa dois.”

Alfredo Sirkis(PV-RJ)

“Há um sentimento de baixa representatividade da política em geral e não podemos ignorar isso.”

Ricardo Berzoini(PT-SP)

“A reforma política não vai resolver totalmente o problema da corrupção eleitoral.”

Cândido Vaccarezza(PT-SP)

Gustavo LimaSaulo Cruz

“Nós só vamos conseguir fazer a reforma política por meio de um projeto de lei de inciativa popular.”

Luiza Erundina (PSB-SP)

Zeca Ribeiro

n Financiamento público das campanhas

n Voto proporcional, voto distrital, sistema misto

n Fim das coligações em eleições proporcionais

n Coincidência de eleições

n Fim da reeleição e mandato de cinco anos

TEMAS EM DEBATE

sentou proposta que limita as doações privadas a cam-panhas eleitorais. “Temos de diminuir a influência do po-der econômico nas eleições”, disse. “O financiamento pú-blico é uma boa proposta, mas enfrenta grande resis-tência da sociedade.”

Fontana acredita que as empresas devem ser proi-bidas de fazer doações em campanhas e deve haver li-mites para os gastos.

Gustavo Lima. Gustavo LimaLuis Macedo

Atualmente, um grupo de trabalho (acima) e uma frente parlamentar (abaixo) discutem propostas de reforma política

“A Câmara precisa se sintonizar com a população. Não precisamos de mais grupos de trabalho, precisamos votar.”Henrique Fontana

cionando mal no sistema político-eleitoral brasileiro. O primeiro é o financiamen-to das campanhas eleitorais. “O Brasil é um dos países que tem as campanhas eleitorais mais caras do mundo”, des-tacou. Segundo Moisés, o esquema atual abre a pos-sibilidade de corrupção e de formação de caixa dois.

Hoje, as campanhas elei-torais são financiadas pelo fundo partidário, financiado pelo Orçamento da União e multas eleitorais. Além dis-so, os candidatos podem re-ceber contribuições de elei-tores e de empresas.

O deputado Alfredo Si-rkis (PV-RJ), relator do GT da Reforma Política, apre-

Cefot

Cefot

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 15

Carolina Nogueira

Nos últimos 25 anos, o Brasil passou do pluriparti-darismo tímido da Assem-bleia Constituinte para uma profusão de partidos polí-ticos: mais de 30 legendas estão registradas no Tribu-nal Superior Eleitoral, sen-do 23 com representantes no Congresso. Na evolução das forças políticas, banca-das suprapartidárias que re-presentam setores da socie-dade – como empresários, sindicalistas ou ruralistas – também ganharam peso.

Deputados e senadores eleitos para a Assembleia Constituinte já refletiam em alguma medida a plu-ralidade da sociedade bra-sileira, rompendo com o bi-partidarismo que marcou a ditadura.

Treze partidos estavam representados na Assem-bleia Constituinte, eleita em 1986. Protagonista do pro-

PMDB perde posição de liderança; bancadas temáticas ganham forçaProfusão de partidos é outra característica da evolução do quadro político brasileiro pós-Constituinte

cesso de redemocratização, em 1988, o PMDB contava 302 dos 559 parlamentares constituintes. Sua força se mostrava ainda mais nos es-tados: das 24 Unidades Fe-deradas da época, 23 eram governadas pelo partido. O PT, nascido da representa-tividade sindical, tinha 16 deputados e senadores en-tre os constituintes e não governava nenhum estado.

Hoje, o maior partido do Congresso é o PT, com 101 parlamentares. O PMDB aparece logo em segui-da, com 100. O PSDB, nas-cido de uma dissidência do PMDB j u s t a -m e n t e d u r a n -te a dis-c u s s ã o da Cons-tituinte,

é o terceiro maior partido do Congresso, com 61 par-lamentares.

Partidos mais recentes ou menores também estão representados no Legisla-tivo. O Partido Social De-mocrático, PSD, nasceu em 2011, de uma dissidência do Democratas e tem hoje 42 parlamentares. O Partido Ecológico Nacional, PEN, foi

criado em 2012 e conta com dois deputados federais.

Além das forças partidá-rias, ganhou força ao longo dos anos a organização po-lítica de setores específicos da sociedade, que possuem bancadas parlamentares ar-ticuladas no Congresso.

Parlamentares ligados ao agronegócio, por exem-plo, que, segundo o De-partamento Intersindical de Assessoria Parlamentar

(Diap) somam 158 de-putados e senado-

res, têm força po-lítica expressiva

na decisão de temas rela-c i o n a d o s ao setor. Em 2011 e 2012, por exemplo, a ban-cada foi ativa du-rante a discussão

do Código Florestal.As bancadas feminina e

evangélica, e frentes parla-mentares, como a da saúde e da educação, também têm atuação semelhante, articu-lando-se politicamente nos seus temas de interesse.

302 100

29153125

17

TOTAL 594559

Assembleia Constituinte

1988

Composiçãoatual do CongressoPartidos

Partidos extintos Novos partidos

Deputados e senadores

Fonte: Perfil da Constituinte Said Farhat

Fonte: Site do Congresso Nacional

PMDBPT

PSBPCdoB

PDTPTBPSC

PFL 135

PDS 40PL 7PDC 6PCB 3PMB 1

PSDB 60

PSD 47PP 44PR 43DEM 30PPS 10PRB 11PV 11PSol 4

PMN 3

PTdoB 3PRP 2PEN 2PHS 1PRTB 1PSL 1Sem partido

3

1623

2518

1

Partidos vêm perdendo sua identidade, diz historiadorO historiador e pro-

fessor da Universidade de Brasília (UnB) Antonio Barbosa avalia que um dos resultados do novo ordenamento jurídico foi a alternância de partidos na Presidência da Repú-blica, com o PSDB à fren-te por oito anos e o PT por 12, considerando o atual mandato completo.

Entretanto, Barbosa con-sidera a cultura política bra-sileira muito frágil. Os parti-dos, diz ele, não têm solidez, e os brasileiros não estão pre-parados para eleger a partir de posicionamentos ideológi-cos. “A política contemporâ-nea gira em torno de imagens criadas por marqueteiros, e isso ocorre no mundo inteiro, não só no Brasil”, disse.

vão perdendo a identidade ao longo do tempo. Como exemplo, ele citou o PMDB, hoje muito diferente do an-tigo MDB que fazia oposi-ção ao regime militar. “Nas eleições estaduais de 1982, o PMDB optou por congre-gar oligarquias estaduais e deixou de lado a ambição de ter o poder nacional. O par-tido se amoldou às diferentes

situações políticas que predominaram no País”, analisou. Para ele, pro-cesso semelhante pode ter ocorrido com o PT.

Na opinião do profes-sor, a solução para forta-lecer a democracia seria investir em educação bá-sica, a fim de formar elei-tores mais consciewntes. (NN)

Outras vezes, mais do que um recorte temático ou partidário, o debate demo-crático dentro do Congres-so é pautado por interesses regionais. Foi o que aconte-ceu, por exemplo, na discus-são da partilha dos royalties do petróleo, quando as ban-cadas parlamentares do Rio e do Espírito Santo se po-sicionaram em divergência com as das demais regiões.

O PMDB era o maior partido, com 302 congressistas e 23 governadores; hoje tem 100 congressistas e 5 governadores

A falta de solidez dos par-tidos se reflete na Câmara, segundo ele. Independente-mente de 23 partidos esta-rem representados na Casa, ele diz que prevalecem os grupos de interesse ligados a temas diversos e formados por parlamentares de dife-rentes legendas.

Além disso, na avalia-ção de Barbosa, os partidos

101

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1º de outubro de 201316 | JORNAL DA CÂMARA

“Dentro de curtíssimo prazo, o Pais ficará totalmente ingovernável.”(Então presidente José Sarney, em 26/7/88, em referência ao texto

que estava sendo votado. Ele repetiu essa avaliação diversas vezes nos meses seguintes)

“A fome, a miséria, a ignorância, a doença inassistida são ingovernáveis.”Ulysses Guimarães, em resposta na TV, em 27/7/88

“Haverá tentativas de que esta Constituição, construída de baixo para cima, com cheiro de povo e de Brasil, não alcance toda a sua eficácia.” (Ulysses, na véspera da promulgação)

“Eu me sinto como uma noiva. Uma noiva muito emocionada, partindo para um casamento tão duradouro quanto as instituições” (Idem, pouco antes da promulgação)

“Esperei mais de 20 anos por este dia.”(Idem)

“Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.”(No discurso da promulgação)

“Ecoam nesta sala as reivindicações das ruas. A nação quer mudar. A nação deve mudar. A nação vai

mudar.” (Nos discursos de abertura da Constituinte e no da promulgação)

“Com isso [a nova Carta], o PMDB poderá voltar a subir em palanques.”(Ulysses, após a promulgação)

“Saio daqui para ir por todo o Brasil, certo da vitória. Vamos às urnas.”(Três dias após a promulgação, em comício em Goiânia, já em pré-campanha presidencial)

“Se permitíssemos que as coisas tomassem esse caminho [redução do mandato de presidente para quatro anos], o processo democrático estaria gravemente comprometido, a transição ameaçada.” (Então presidente José

Sarney, em rede nacional de TV, na véspera da promulgação)

“Considero que a tempestade passou. Está passando. Estamos com a vitória ao alcance das nossas mãos. (...) Chegamos ao fim do processo de transição.” (Idem)

“Só nos resta o dragão da inflação, mas nós iremos vencê-lo também.” (No programa Conversa ao Pé do Rádio, um dia após a

promulgação)

Fotos: Acervo Câmara dos Deputados

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 17

“Ficarei em casa, redigindo decretos.”(Saulo Ramos, então consultor-geral da República, um dos maiores críticos da Constituição - após a promulgação)

“O Ulysses está transformando essa promulgação num convescote presidencial. Mas, no momento, o PMDB precisa ganhar o pleito municipal, para depois pensar na sucessão.” (Então deputado Helio Duque, do PMDB-PR)

“Precisamos preservar os pontos positivos da nova Carta, apesar de suas falhas, e apresentar sugestões de mudanças.”(Márcio Thomaz Bastos, então presidente da OAB)

“Na semana que vem, 23 governadores virão a Brasília, e ninguém vai bater na porta dos ministros. O poder mudou de campo.”(Tasso Jereissati, então governador do Ceará)

“Direito individual assegurado, direito social sem garantia – eis a situação.”(Então senador Afonso Arinos (PSDB-RJ), ao discursar na promulgação em nome dos constituintes)

“Paramos em Tancredo Neves. Hoje estamos recomeçando tudo.”(Então governador do Rio, Moreira Franco, desconsiderando o governo Sarney)

“A tarefa de administrar a economia vai ser mais difícil com a nova Constituição, mas não impossível.” (Mailson da Nóbrega, então ministro da Fazenda)

“Não concordamos com os juros em 12% ao ano, com o direito irrestrito de greve e a discriminação anacrônica ao capital estrangeiro.”(Mário Amato, então presidente da Fiesp)

“É preciso fazer ajustes no campo econômico. Para o setor rural, ela cumpriu uma missão importante e desviou tendências radicais.”(Alysson Paulinelli, então presidente da Confederação Nacional da Agricultura)

“A nova Constituição não é o termo final, pois precisa ser interpretada.”(Rafael Mayer, então presidente do STF)

“Temos que superar desilusão e desânimo, egoísmos e injustiças. É tempo de esperança. A lei magna oferece meios novos para superar a desigualdade social.” (D. Luciano Mendes de Almeida, então presidente da CNBB)

“O povo não vai mais nessa conversa. O presidente Ulysses Guimarães não vai transformar um País miserável em rico só pela Constituição.” Deputado José Lourenço, então líder do PFL (hoje DEM)

“O Brasil mudou para se reencontrar com seu povo. É a hora da democracia.” Então senador Severo Gomes (PMDB-SP)

“A carta autoritária morreu, afinal.”Waldir Pires, então governador da Bahia

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1º de outubro de 201318 | JORNAL DA CÂMARA

Líderes apontam concentração derecursos na União; governo discordaEstados e municípios pressionam por maior fatia na arrecadação; empresários pedem menos impostos

“O pacto federativo é mais do que necessário. Os municípios perdem cada vez mais, recebem cada vez mais o ônus, mas não recebem o bônus.”

Andre Moura (SE), líder do PSC

“O Brasil vive hoje uma crise federativa. É preciso devolver os recursos previstos inicialmente para os municípios, que estão falidos.”

Anthony Garotinho (RJ), líder do PR

“Os prefeitos poderiam dizer que nunca receberam tantos recursos do governo federal como nos últimos dez anos.”

Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo

“O que a Constituição precisa é das reformas política e tributária. Seriam mudanças para daqui a 8, 10 anos, com uma transição tranquila.”

Beto Albuquerque (RS), líder do PSB

“A reforma tributária é fundamental. O Brasil hoje está asfixiado. O cidadão trabalha quatro meses e dez dias só para pagar impostos.”

Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM

“A maior conquista dos trabalhadores em 1988 foi a redução da jornada de 48 para 44 horas. Agora, estamos em busca de 40.”

Vicentinho(PT-SP)

Noéli Nobre

De um lado, os empresá-rios fazem pressão pela redu-ção da carga tributária, que consideram uma das mais al-tas do mundo. De outro lado, estados e municípios lutam por mais recursos. Os muni-cípios, especialmente, se di-zem falidos e reclamam do excesso de atribuições sem orçamento correspondente. No meio está a União, que também não abre mão de arrecadação.

Esse cenário vem impe-dindo há décadas a aprova-ção de uma reforma tribu-tária. Todos concordam que é preciso haver mudanças, mas ninguém concorda em perder, nem com a promessa de ganhos futuros.

Os líderes partidários manifestam-se favoravel-mente à reforma tributária, a fim de reduzir impostos. O líder do DEM, deputado Ro-naldo Caiado (GO), diz que os brasileiros não suportam mais “esse peso” e reclama que os impostos não retor-nam na forma de saúde, edu-cação ou segurança.

Outros líderes defendem que se modifique a forma de distribuição de recursos en-tre União, estados e muni-cípios. O líder do PSC, de-putado Andre Moura (SE), defende mais respeito ao chamado pacto federativo e mais atenção aos muni-

cípios. “Nós não podemos permitir que nosso país te-nha uma carga tributária tão onerosa, a mais pesada do mundo”, acrescenta.

Andre Moura e também o líder da Minoria, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), reclamam da concentração da arrecadação nos cofres da União. “O recurso tem que estar no caixa das prefeitu-ras, das entidades filantró-picas, das santas casas, nos estados. É lá que o cidadão sai da sua casa e vai passar em uma rua, com iluminação pública ou não, com sanea-mento ou não, com asfalto

ou não”, afirma Leitão.O líder do governo, Ar-

lindo Chinaglia (PT-SP), responde às pressões di-zendo que o pacto federa-tivo envolve não só o envio de recursos para os municí-pios, mas também as dívidas contraídas por eles em ou-tros governos e os acordos firmados. Ele argumenta, por outro lado, que os mu-nicípios nunca receberam tantos recursos. “É verdade que a Constituição deu mui-tas atribuições ao município, mas é verdade também que o governo federal tem apor-tado recursos que antes não

chegavam lá”, avalia. O líder afirma também que a União precisa de recursos para para induzir o desenvolvimento em regiões carentes e redu-zir as desigualdades.

Por fim, Chinaglia diz que a reforma tributária te-ria mais repercussão social imediata do que a política, porque “poderá distribuir mais renda, taxar mais quem pode mais e menos quem pode menos”.

O líder do PT, José Gui-marães (CE), diz que “não adianta falar de reforma tri-butária sem taxar as grandes fortunas.”

Ainda na área econômi-ca, existem pressões para mudanças constitucionais em favor dos trabalhadores. “A tensão entre o mundo do trabalho e o capital é perma-nente”, observou o líder Ar-lindo Chinaglia.

A pauta de reivindica-ções trabalhistas na Câmara é intensa. Um dos principais itens é a proposta de emen-da à Constituição que reduz a carga máxima semanal de trabalho de 44 para 40 horas (PEC 231/95), que está pronta para análise do Plenário.

O deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), que é empresá-rio, diz que os direitos dos trabalhadores só aumenta-ram após a promulgação da Constituição. “O cenário eco-nômico atual tem fortalecido o trabalhador, no sentido de haver uma oferta maior de emprego, de o trabalhador poder escolher onde traba-lhar. Tem havido um cresci-mento de salários”, acredita.

O deputado Paulo Perei-ra da Silva (PDT-SP), presi-dente da Força Sindical, diz que praticamente não houve avanços depois da promulga-ção da Constituição. Assim como a CUT, a Força Sindical se empenha para aprovar as 40 horas.

Impostômetro: um protesto contraa carga tributária

Divulgação

Trabalho tempauta extensa

Zeca Ribeiro Gustavo Lima Gustavo LimaLaycer Tomaz Luís Macedo Gustavo Lima

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1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 19

Comissão começa a propor leis para 112 pontos ainda não regulamentadosUm dos temas aprovados neste ano foi a regulamentação do trabalho dos empregados domésticos

PONTOS SUJEITOS A REGULAMENTAÇÃOMurilo Souza

Uma comissão mista de deputados e senadores re-cebeu em março deste ano a tarefa de encaminhar pro-postas para complementar dispositivos da Constitui-ção. Após 25 anos, pelo me-nos 112 pontos ainda aguar-dam a aprovação de outras leis que os regulamentem. Entre os próximos temas a serem regulamentados estão questões indígenas, a greve no funcionalismo público e o crime de terrorismo. Até hoje 257 dispositivos já estão regulamentados em lei (ordi-nária ou complementar).

Desde o início dos traba-lhos, a comissão já aprovou três projetos. Um deles regu-lamenta os direitos de tra-balhadores domésticos, que foram incluídos na Carta de 1988 pela Emenda Consti-tucional 72. O texto da re-gulamentação define, por exemplo, que a jornada de 44 horas semanais prevista na emenda terá intervalo de 30 minutos a 2 horas para al-moço, para quem não dorme no serviço. Também prevê o trabalho em regime de plan-tão, com 12 horas seguidas de trabalho e 36 de descanso. No caso de trabalho noturno

Reunião da comissão mista de regulamentação da Constituição

(22h a 5h), estabelece o pa-gamento de 20% a mais por hora trabalhada e de 50% a mais em relação a horas ex-tras, sempre que não for pos-sível compensá-las.

Presidente da comissão, o deputado Cândido Vacca-rezza (PT-SP) afirmou que a

regulamentação do trabalho doméstico foi um dos primei-ros temas analisados por en-volver milhões de brasileiros. “Esse tema era uma urgência da sociedade, para dar equi-líbrio e definir como iria fun-cionar essa emenda constitu-cional”, disse ele, lembrando

que a emenda foi regula-mentada em tempo recorde e aguarda apenas a votação no plenário da Câmara.

Vaccarezza também des-tacou a aprovação dos pro-jetos que regulamentam o processo de eleição indireta para cargos de presidente e vice-presidente da Repúbli-ca, em caso de vacância nos últimos dois anos, e a inclu-são de produção cultural lo-cal na programação regional de rádio e TV. “Já tivemos ca-sos de vacância do presiden-te, mas nunca tivermos ao mesmo tempo de presidente e de vice. Se nós tivéssemos essa situação, viveríamos um vazio jurídico absoluto”, dis-se o deputado.

Ao comentar que é dele a escolha dos assuntos que serão regulamentados pri-meiro, Vaccarezza afirmou que procura “ter o cuidado de ver as necessidades da so-ciedade naquele momento” e associar isso à ordem com que os textos dos anteproje-tos vão ficando prontos para votação na comissão.

Os próximos temas sub-metidos a regulamentação, segundo ele, são a lei anti-terrosimo, o exercício do di-reito de greve no setor pú-blico e questões ligadas a

demarcação e o acesso a ter-ras indígenas. “Nós já inicia-mos o debate sobre uma lei para a prática do terroris-mo, principalmente porque vamos sediar em breve uma Copa do Mundo e, em segui-da, as Olimpíadas, e por não termos regras específicas é também urgente regula-mentar em lei essa questão”, completou.

Propostas já aprovadas pela comissão mista

n Direitos dos trabalhadores domésticos

n Eleição indireta para presidente em caso de vacância

n Tempo de programação regional no rádio e na TV

Prioridades para este semestre

n Definição do crime de terrorismo

n Direito de greve de servidores públicos

n Questões indígenas, como exploração de recursos naturais em reservas

Outros temas pendentes

n Lei que limite a compra de terras por pessoas físicas e jurídicas estrangeiras

n Licença-paternidade

n Criação de municípios

n Autonomia universitária

n Imposto sobre grandes fortunas

n Critérios de avaliação para demissão de servidores públicos

O presidente da Comis-são Mista de Regulamenta-ção da Constituição e Con-solidação das Leis acredita que tanto os três projetos já aprovados até agora quanto outros que estão em análise ou serão analisados poderão se transformar em lei ainda em 2013. A comissão é com-posta por seis deputados e seis senadores e tem como relator o senador Romero Jucá (PMDB-RR). A previ-são é que os trabalhos sejam concluídos até 2015.

Entre as prioridades da comissão para este semestre estão a regulamentação dagreve no serviço públicoe a exploração de terras indígenas

257 regulamentados 112 não regulamentados

Luis Macedo

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Arnaldo Faria de Sá(PTB-SP)

Arolde de Oliveira (PSD-RJ)

Asdrubal Bentes (PMDB-PA)

Augusto Carvalho(PPS-DF)

“Na Constituinte, presidi a Subcomissão de Ciência e Tecnologia e da Comunicação. Apresentei mais de 111 emendas, sendo que 24 delas foram aprovadas e integram hoje a Carta Magna. Estive presente nas comissões da Família, Educação, Cultura e Esportes. Vivi com serenidade a fase mais importante da minha carreira, e a mais difícil, porque eu na Constituinte não era eu, era milhares de pessoas que me delegaram representação. Como não podia consultá-las a cada momento para aferir meus passos, procurei ser fiel à minha vocação liberal, à minha índole combativa, ao meu espírito realizador e à minha formação cristã.”

“Eu tive o privilégio e a honra de representar o povo paraense na Assembleia Nacional Constituinte. Foi um momento histórico decisivo para a consolidação da democracia em nosso país, e sob a presidência do inesquecível e eterno presidente Ulysses Guimarães e a liderança do saudoso Mario Covas, o nosso partido, o PMDB, contribuiu de forma decisiva de forma muito importante para que a democracia se consolidasse, inserindo na Constituição cidadã preceitos da maior valia, tanto para a saúde, para a educação, os respeitos e os direitos e as garantias individuais, um capítulo destinado às minorias, aos índios, aos quilombolas, etc.”

“Parlamentar de primeiro mandato, logo senti que não estávamos convocados para elaborar uma Constituição, mas, sim, um novo documento de proteção absoluta à nacionalidade republicana e à cidadania. Era preciso salvá-las do caos provocado por 21 anos de repressão e arbítrio. Suportamos trancos e barrancos mas chegamos à Carta de 88. Vencemos? Começamos a vencer. Porque, com poucos anos, foi capaz de enfrentar o impedimento de um presidente, sem apelos a soluções heterodoxas. Assim, defendê-la , aperfeiçoá-la é a tarefa parlamentar de agora. E , a isto, mais uma vez, saberemos dizer: presente!”

Deputados relatam significadode participar da ConstituinteDos 513 deputados da atual legislatura, 25 ajudaram a elaborar a atual Constituição, em 1987/88

Deputados constituintes que permanecem na Câmara na atual legisla-tura resumiram, para esta edição especial, um pouco da sua experiência e falam da importância daquele momento histórico. Muitos exerciam seu primeiro mandato e já chegaram com a missão de elaborar a Constituição

que faria a transição do regime militar para a democracia. Os deputados observam que o momento político era efervescente e que a sociedade par-ticipou ativamente dos debates. Todos ressaltam os avanços do texto cons-titucional e muitos citam a necessidade de reformas.

Ilustração: Lucas Pádua

Rodolfo StuckertLuis Macedo Gustavo Lima Saulo Cruz Renato Araújo

“Comecei a vida política como constituinte em 1987 e tinha o sonho de que a Constituição tivesse um capítulo inteiro de previdência e assistência social. Tive muita dificuldade já no começo, porque o então senador Fernando Henrique não queria esse assunto na Constituição. Ajudado pelo saudoso Ulysses Guimarães, consegui fazer prevalecer essa posição, e a Constituição tem esse capítulo, apesar de os presidentes Fernando Henrique e Lula terem suprimido depois alguns desses direitos. Nós estamos lutando até hoje para que a previdência pública seja um ancoradouro seguro para os trabalhadores. É difícil, mas sem dúvida valeu a luta da Constituinte.”

1º de outubro de 201320 | JORNAL DA CÂMARA

(PSDB-SP)Antonio Carlos Mendes Thame

“A Constituinte de 1987 e 1988 procurou resgatar direitos e definir deveres dos entes federados e dos cidadãos. Constituiu-se, na prática, em uma ruptura com o período de ditadura militar, ao procurar estabelecer um efetivo Estado de Direito, base para uma democracia madura e consolidada. O resultado é que poucas constituições, em todo mundo, têm uma definição tão clara dos direitos humanos e sociais, os quais, estando na Constituição, não podem ser mudados (cláusulas pétreas) ou para tanto exigem quórum qualificado (três quintos dos deputados e senadores, em duas votações em cada uma das Casas Legislativas).”

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Bonifácio de Andrada (PSDB-MG)

Inocêncio Oliveira (PR-PE)

Costa Ferreira(PSC-MA)

José Genoíno(PT-SP)

Gonzaga Patriota (PSB-PE)

Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)

Hugo Napoleão(PSD-PI)

Humberto Souto (PPS-MG)

“A Constituição foi votada num ambiente de generalizadas pressões políticas, resultando daí avanços e deficiências que refletem a vida brasileira. Os capítulos dos direitos e garantias individuais e o que se refere às prerrogativas do trabalhador são positivos. No entanto, a organização dos Poderes não está resultando nos benefícios políticos esperados, pois há nessa área crises conhecidas e instrumentos antidemocráticos, como as medidas provisórias. Também a Federação é praticamente inexistente, com os excessos de atribuições do Poder central, ou seja, a União. Há assim a necessidade de uma ampla reforma.”

“A Constituição de 1988, diferente de outras que faziam após uma pré-constituição com juristas, começou do zero. Foram criadas 24 subcomissões que drenaram para oito comissões temáticas, para a Comissão de sistematização e por último, a Comissão de Revisão. O marco da Constituição de 1988 foi a conquista dos direitos individuais e coletivos de todos os cidadãos e a organização do Ministério Público, além de ter sido a primeira Constituição do mundo com um capítulo dedicado ao meio ambiente.”

“Recebi do povo do Maranhão a honra de ser deputado constituinte. Integrei a Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais e a Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. Trabalhando arduamente e ouvindo os diversos setores da sociedade, pude votar com coerência e aprovar 49 projetos de minha autoria. Lembranças da ditadura suscitaram dúvidas quanto ao cumprimento dos avanços estabelecidos. Entretanto, estes 25 anos confirmaram a solidez dos princípios sociais e democráticos da Carta Magna, representativa da vontade soberana da população.”

“A Constituinte foi resultado de um processo de democratização que começou com a Anistia. Foi um momento de intensa participação popular e de elevação do papel da política na definição dos parâmetros da nova Constituição brasileira, tanto no capítulo dos direitos individuais e coletivos, nas prerrogativas democráticas e na inclusão de novos temas na Constituição, como meio ambiente, índios, o fim da censura, o capítulo da comunicação (este ainda dependendo de regulamentação). Acho que esta Constituição merece as palavras de Ulysses Guimarães: é uma Constituição cidadã.”

“Depois de exercer mandato de deputado estadual em Pernambuco, tive a honra de ser ungido para a Assembleia Nacional Constituinte e, aqui, ainda jovem, ter aprovado propostas à Constituição Cidadã de Ulysses Guimarães, como a aposentadoria de trabalhadoras e trabalhadores rurais e a inserção, no Plano Nacional de Viação e Transportes, da Ferrovia Transnordestina, entre outras propostas que estão ajudando a retirar milhões de brasileiros da miséria. Hoje, ao final do meu sexto mandato parlamentar, posso testemunhar a importância do nosso trabalho na Constituinte de 88.”

“A Constituinte foi um momento mágico vivido pelo Brasil e por esta Casa. Em 21 meses, o País se transformou. Foram dias inesquecíveis para todos os que tiveram o raro privilégio de participar da feitura da Constituição Cidadã. Não resolvemos todos os problemas, mas avançamos muito em matéria de direitos individuais, sociais e trabalhistas, de estabilidade econômica e no rumo da modernidade. A Constituição contribuiu para que nosso País se tornasse mais justo e desenvolvido, cuidou de assegurar educação, saúde, assistência e dignidade aos brasileiros, apontou caminhos para um futuro melhor.”

“Creio que avançamos em matéria dos três Poderes e dos direitos individuais e coletivos. O ponto nevrálgico talvez tenha sido no campo econômico: a excessiva presença do Estado brasileiro. Tal questão sofreu, depois, profunda revisão porque, pouco após a promulgação, caiu o Muro de Berlim, desfez-se a “cortina de ferro” e reduziram-se a três os países comunistas: Cuba, Coréia do Norte e China, que, todavia, está com a economia globalizada. Apresentei proposições relativas à organização do Estado e à estruturação dos grupos de pressão, tal como concebidos na melhor doutrina da Teoria do Estado.”

“A nação nos incumbiu do dever de escrever a nova Constituição de olhos voltados para o século 21, mas sem esquecer os equívocos ocorridos em um passado recente. Um quarto de século após a promulgação da Carta, estou convicto de que fizemos o melhor que era possível naquele momento. Dotamos o País de uma Constituição democrática e afirmativa dos direitos humanos. O desafio agora é o resgate dessa enorme dívida social e o combate vigoroso à corrupção, que tanto prejuízo causa ao nosso País. Meu desejo e minha esperança é que, nos próximos vinte e cinco anos, esses ideais se concretizem.”

Renato Araújo Gustavo Lima Gustavo Lima Gustavo Lima

Gustavo Lima Rodolfo Stuckert Gustavo Lima Gustavo Lima

1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 21

Júlio Campos(DEM-MT)

“Fico muito feliz em ter contribuído com a elaboração do capítulo do meio ambiente, que representa verdadeira revolução na política ambiental do Brasil. O artigo 225 tratou o ambiente como um bem público, um direito fundamental do cidadão, e pontuou a obrigação do Estado em promover um meio ambiente ecologicamente equilibrado, para assegurar às futuras gerações o que já se ensejava desenvolvimento e sustentabilidade. Enfim, nós, constituintes, ao elaborar esse capítulo, tivemos como premissa que a segurança ao meio ambiente se traduz em proteção da própria espécie humana.”

Gustavo Lima

Benedita da Silva (PT-RJ)

“Participei de momentos únicos. Muito me orgulhou ter feito parte da Mesa e ter presidido uma das sessões da Constituinte. Vejo nisso um símbolo da ascensão política das populações excluídas – das quais eu era uma representante. Além disso, apresentei 93 Emendas e tive 25 aprovadas. Lutei pelos direitos das mulheres, dos negros, das crianças e adolescentes, idosos, pessoas portadoras de deficiência, aposentados, trabalhadores rurais. Lembro-me também da forte atuação da Bancada Feminina, era apenas 26 deputadas, que independente da coloração partidária, se configuraram em uma bancada unida.”

Renato Araújo

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Roberto Freire(PPS-SP)

Miro Teixeira(PDT-RJ)

Rose de Freitas(PMDB-ES)

Roberto Balestra (PP-GO)

Sarney Filho (PV-MA)

Lael Varella(DEM-MG)

Mauro Benevides (PMDB-CE)

“Foi um grande momento. Ali significava a ruptura com o regime ditatorial instalado em 1964. É o mais longo período de liberdade democrática da história republicana do Brasil. É esse vivido de 1988 até agora. É importante salientar que avanços foram feitos não apenas nas liberdades, mas também na sociedade brasileira, nos seus mais variados aspectos. Tudo aquilo que disse na época, reafirmo agora: esta Constituição Cidadã, no dizer de Ulysses Guimarães, apesar das suas emendas, apesar de muitas críticas, ela é fundamental para dizermos que o Brasil vive hoje em plena democracia e com a República em funcionamento.”

“O povo marcha pelas ruas pedindo que seja fundada a República conforme nós a definimos, no artigo 1º da Constituição. As pessoas gritam palavras de ordem pedindo os fundamentos da República: 1) a soberania; 2) a cidadania, desacatada a todo instante pela falta de leitos nos hospitais, pela falta de vagas nas escolas; 3) a dignidade da pessoa humana, desrespeitada pelo desaparecimento dos cidadãos, pelos crimes insolúveis; 4) os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, permanentemente desacatados; 5) e o pluralismo político, cada vez mais confundido com pluralismo partidário.”

“Nós estávamos em plena ditadura e havia uma vontade muito grande de mudança. Não era ninguém trabalhando por partido. Era uma frente democrática que queria mudanças, que buscava melhorias. Cada momento era um aprendizado. Eu assinei a Constituição muito emocionada, dizendo ‘valeu a pena’. Nós construímos um novo tempo. Ajudamos a construir um novo Brasil. Durante o período da Constituinte, fui autora da tribuna livre, que foi um espaço onde a sociedade organizada podia falar, um espaço para o povo falar. Fui também a primeira mulher a assumir a vaga de vice-líder na Casa.”

“Na Constituinte houve uma longa discussão na qual todas as classes sociais defendiam seus interesses. Eu e outros parlamentares ruralistas defendíamos os trabalhadores, que não tinham direitos. Nossa proposta, ao final aprovada, dava igualdade de direitos aos trabalhadores rurais em relação aos trabalhadores urbanos. Hoje, 25 anos depois, e eu ainda parlamentar no sétimo mandato, posso comemorar aquela vitória com muitos outros direitos que foram acrescentados. Acabou o trabalho infantil rural (que começava aos 7 anos), acabou a indiferença da sociedade e hoje temos um trabalhador que se profissionaliza.”

“A Constituinte de 1988 consolidou o processo democrático no País, lançando as raízes para a participação efetiva da população na construção de uma sociedade mais justa. Com grande orgulho, participei da construção do capítulo 225 da Carta Constitucional, que estabeleceu o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Esta luta continua desafiadora como nunca!”

“Eu sou um dos poucos que restam na Câmara, que participaram da Constituinte de 88. Eu me sinto muito honrado com isso, embora nem tudo que a gente gostaria que constasse no texto tenha sido incluído. O Poder Judiciário, principalmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ), precisaria ser mais independente. Em vez de lista tríplice para o presidente da República indicar os seus membros, estes deveriam ser escolhidos entre os juízes de carreira dos tribunais. Teríamos um Judiciário mais forte e teríamos, consequentemente, uma democracia maior. Isso faltou na Constituição.”

“Como vice-presidente que fui, da Assembleia Nacional Constituinte, assisti a todos os memoráveis debates ali travados, ao lado do inolvidável Ulysses Guimarães, a quem se deve, acima de todos nós, o reencontro do Brasil com o Estado Democrático de Direito. Nos instantes de maior agitação, a irrepreensível postura daquele eminente brasileiro era acatada por seus pares, assegurando-se, na data aprazada, a promulgação da Carta Cidadã, sob aplausos de todos os segmentos sociais. A partir daquele episódio inapagável, o Brasil passou a respeitar os legítimos direitos da Cidadania.”

Diógenis Santos Zeca Ribeiro Zeca Ribeiro Leonardo Prado

Renato Araújo Renato Araújo Gustavo Lima

1º de outubro de 201322 | JORNAL DA CÂMARA

Sérgio Brito(PSD-BA)

Simão Sessim(PP-RJ)

“Durante a Constituinte, surgiu um grande volume de demandas populares, aliado a uma desconfiança generalizada na lei e à necessidade de garantias de uma sociedade que acabara de vivenciar um período marcado pelo autoritarismo. O texto constitucional chega aos 25 anos. Uma vez alcançada a democratização do País, o debate público hoje se dirige à luta por qualidade de vida, traduzida no bom funcionamento dos serviços sociais básicos, como a educação, a alimentação saudável, a saúde, a segurança nacional e os transportes.”

“A vida em sociedade melhorou muito. Hoje é assegurada a livre manifestação do pensamento, a liberdade de consciência e de crença, o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão. Houve a definição do racismo como crime; a todo cidadão está assegurado o direito de, mesmo sem representação, ingressar com ação popular contra atos que sejam lesivos à moralidade administrativa e outros. Por todas as mudanças que a sociedade brasileira tem conhecido a partir da Constituição de 1988, não resta dúvida que não houve honra maior para um legislador brasileiro do que viver os momentos de construção dela.”

Renato Araújo Gustavo Lima

Jutahy Junior(PSDB-BA)

Jutahy Jr. integrou as subcomissões do Poder Executivo, da Organização dos Poderes e Sistema de Governo e foi suplente da Subcomissão dos Estados e da Comissão da Organização do Estado. Em 88, licenciou-se para ocupar a Secretaria de Justiça da Bahia. Ele lembrou sua atuação em recente discurso: “Lembro-me muito de que, na Constituinte, seu grande presidente, o dr. Ullysses Guimarães, dizia uma frase extraordinária: ‘Vamos votar.’ Aquilo mobilizava todos os presentes no sentido de procurar soluções efetivas, dando seu voto para as questões que ali estavam em curso.”

Gabriela Korossy

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Wilson Silveira

O deputado Mauro Bene-vides (PMDB-CE), que foi o 1º vice-presidente da Cons-tituinte, disse que “todos os segmentos da sociedade participaram da elaboração da nova Constituição, nin-guém ficou indiferente”.

Então senador, ele divi-diu com o deputado Ulysses Guimarães a condução da elaboração da atual Carta. Ao relatar sua participação nos trabalhos, Benevides lembrou que coube a ele re-ceber a emenda de iniciativa popular relativa aos direitos das crianças e adolescentes.

Ele também apresentou a emenda do salário mínimo nacional. Antes, ele havia apresentado projeto de lei com o mesmo objetivo, aca-bando assim com os salários mínimos regionais. Depois, incluiu o dispositivo na Constituição.

“A Constituição pre-encheu a grande aspi-ração do povo brasilei-ro. Depois de 21 anos de autoritarismo, de arbítrio, em que não se respeitavam os direitos individuais e coletivos, a Carta restaurou o Es-

tado Democrático de Direi-to”, avaliou o deputado.

Questionado sobre o que destacaria naquele período, Benevides afirmou que foi o “grande esforço de conci-liar aquelas tendências que antagonizavam durante o debate”. Nesse sentido, se-gundo ele, o papel do re-lator, Bernardo Cabral, foi fundamental.

“Vivenciávamos grandes momentos de confrontos e disputas, mas todos impreg-

nados da preocupação maior de legar ao País uma carta que consubstanciasse, na-quele momento, os anseios

da coletividade”, disse.Sobre as falhas do texto

aprovado, Benevides lamen-tou que a revisão previs-ta pelos constituintes para cinco anos depois não tenha sido bem-sucedida.

“Nós tivemos falhas, nós tivemos omissões, e nós mesmos, por antecipação, delimitamos o espaço de cinco anos para que pudés-semos processar as altera-ções necessárias”, disse ele.

ParlamentarismoBenevides lembrou que o

maior confronto se deu en-tre presidencialistas e par-lamentaristas. A Constitui-ção estava sendo elaborada com a previsão de que o go-verno seria parlamentaris-ta, pois esse sistema havia sido aprovado na Comissão de Sistematização.

Entretanto, o então se-nador Humberto Lucena (PMDB-PB) liderou uma re-ação presidencialista, que derrotou o parlamentaris-mo no Plenário.

“Houve uma falha. Nós terminamos deixando uma lacuna, que é o instituto da medida provisória, importa-da da Itália, que é parlamen-tarista. Nós cochilávamos, digamos assim, naquele mo-mento. Essa falha se tornou irreparável, porque a medi-da provisória aí está sendo utilizada desbragadamente por todos os presidentes da República”, afirmou.

“Hoje, a enxurrada de medidas provisórias faz com que nós trabalhemos, exclusivamente, na Ordem do Dia, a apreciar medidas provisórias. São raríssimos os projetos de inciativa par-

lamentar que chegam a tramitar nas duas Casas e se transfor-mam em lei. Nós vive-mos sob o império das medidas provisórias”, acrescentou.

Ninguém ficou indiferente à elaboração da Carta, diz ex-viceBenevides ressalta iniciativa popular e critica a manutenção das MPs após derrota do parlamentarismo

“Vivemos sob o império das medidas provisórias, são raríssimos os projetos que viram lei.”

Benevides, diante

de painel sobre a

Constituinte: “A medida

provisória aí está sendo

utilizada desbraga-

damente por todos os

presidentes.”

Zeca Ribeirio

A imprensa atribui a Sarney a vitória do presidencialismo

n 9h O cardeal de Brasília, d. José Freire Falcão, e o pastor evangélico Josiel Nunes Gomes celebram culto ecumênico no gramado da Esplanada dos Ministérios

n 10h30 Ulysses Guimarães recebe os cumprimentos das delegações estrangeiras no Salão Nobre da Câmara

n 15h20 O presidente José Sarney, Ulysses e o presidente do STF, Rafael Mayer, passam em revista as tropas do Exército, Marinha e Aeronáutica diante do Congresso

n 15h25 No hall do Salão Negro, os três serão recebidos pelo presidente do Senado, Humberto Lucena, e pelos membros das Mesas da Constituinte, Câmara e Senado mais o relator Bernardo Cabral. Sarney e Mayer são depois levados ao Salão Nobre do Senado

n 15h30 Ulysses instala a última sessão da Constituinte e nomeia uma comissão de líderes para acompanhar Sarney e Mayer até a mesa dos trabalhos. Depois de anunciar que a sessão se destina a promulgar a nova Constituição, Ulysses determina a execução do Hino Nacional por uma banda militar que está nas galerias. Em seguida, o presidente da Constituinte assina os originais da Constituição e a declara promulgada. Sarney, Mayer e Lucena recebem um exemplar da nova Carta.

n 17h Coquetel oferecido às autoridades estrangeiras e brasileiras

n 20h30 Ulysses oferece jantar às delegações estrangeiras, presidentes de Assembléia Legislativa e líderes partidários na Constituinte, no restaurante do 10º. andar (Anexo IV) da Câmara dos Deputados

O 5 DE OUTUBRO DE 1988

1º de outubro de 2013 JORNAL DA CÂMARA | 23

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1º de outubro de 201324 | JORNAL DA CÂMARA

Diretor: Sérgio Chacon (61) 3216-1500 [email protected]

[email protected] | Redação: (61) 3216-1660 | Distribuição e edições anteriores: (61) 3216-1827

1ª Vice-PresidenteAndre Vargas (PT-PR)2º Vice-Presidente Fábio Faria (PSD-RN)1º SecretárioMarcio Bittar (PSDB-AC)2º Secretário Simão Sessim (PP-RJ)3º SecretárioMaurício Quintella Lessa (PR-AL)4º SecretárioBiffi (PT-MS)

Presidente: Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)

Diretor de Mídias IntegradasFrederico SchmidtCoordenador de Jornalismo Antônio Vital

EdiçãoWilson Silveira

DiagramaçãoRenato Palet

ArtePablo AlejandroGastão CaredLucas Pádua

Suplentes: Gonzaga Patriota (PSB-PE), Wolney Queiroz (PDT-PE), Vitor Penido (DEM-MG) e Takayama (PSC-PR)Ouvidor Parlamentar: Nelson Marquezelli (PTB-SP)Procurador Parlamentar: Claudio Cajado (DEM-BA)Corregedor Parlamentar: Átila Lins (PSD-AM)Presidente do Centro de Estudos e Debates Estraté-gicos: Inocêncio Oliveira (PR-PE)Diretor-Geral: Sérgio Sampaio de AlmeidaSecretário-Geral da Mesa: Mozart Vianna de Paiva

Mesa Diretora da Câmara dos Deputados - 54a Legislatura SECOM - Secretaria de Comunicação Social

Jornal da Câmara/Edição Especial

Impresso na Câmara dos Deputados (DEAPA)

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