9
Av. N2 Anexo “E” do Senado Federal CEP: 70165-900 — Brasília DF Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880 E-mail: [email protected] Os boletins do Legislativo estão disponíveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html RECURSOS HÍDRICOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL Carlos Henrique R. Tomé Silva 1 INTRODUÇÃO Especialistas estimam em 1 bilhão e 386 milhões de quilômetros cúbicos o volume de água no Planeta, valor que tem permanecido praticamente constante nos últimos 500 milhões de anos (REBOUÇAS, 2002). Desse total, 97,5% estão, sob forma de água salgada, nos mares e oceanos; 68,9% da água doce encontra-se em geleiras e nas calotas polares 2 . Apesar do quadro de escassez verificado em âmbito mundial, avalia-se em 35% o desperdício médio de água no Brasil; nos países desenvolvidos essa perda é de até 20%. O Direito Internacional ainda não dispõe de uma convenção ou tratado abrangente sobre a preservação e o uso racional da água. As iniciativas mais relevantes nesse sentido se concentram no Fórum Mundial da Água, que reúne, a cada três anos, representantes de governos, organizações internacionais, organizações não governamentais, instituições financeiras e indústrias, além de cientistas, especialistas em assuntos hídricos, empresários e acadêmicos. Contudo, embora conte com a participação de delegações oficiais de diversos países, não se trata de evento oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). O “rascunho zero” da Rio+20, intitulado “o futuro que queremos”, reconhece a necessidade de estabelecer metas para o gerenciamento dos recursos hídricos, inclusive em relação à redução da poluição da água por fontes domésticas, industriais e agrícolas, bem como para a promoção da eficiência hídrica, tratamento e uso de águas servidas. 1 Consultor Legislativo do Senado Federal para as áreas de Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia. Engenheiro Civil (UnB, 1995). Bacharel em Direito (UnB, 2007), Especialista em Geotecnia (UnB, 1997). Especialista em Relações Internacionais (UnB, 2009). Mestre em Relações Internacionais (UnB, 2011). 2 Ou seja, 99,22% da água total no Planeta está nos mares (água salgada) ou em geleiras e nas calotas polares (gelo). Resta apenas 0,78% (cerca de 11 milhões de quilômetros cúbicos) para aproveitamento, quantidade mais ou menos disponível a depender da posição em que se encontra no ciclo hidrológico e do grau de degradação (poluição) a que está submetida.

26 Recursos Hidricos e Desenvolvimento Sustentavel No Brasil

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Recursos Hidricos e Desenvolvimento Sustentavel No Brasil

Citation preview

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    RECURSOS HDRICOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NO BRASIL

    Carlos Henrique R. Tom Silva1

    INTRODUO

    Especialistas estimam em 1 bilho e 386 milhes de quilmetros cbicos o

    volume de gua no Planeta, valor que tem permanecido praticamente constante nos ltimos

    500 milhes de anos (REBOUAS, 2002). Desse total, 97,5% esto, sob forma de gua

    salgada, nos mares e oceanos; 68,9% da gua doce encontra-se em geleiras e nas calotas

    polares2. Apesar do quadro de escassez verificado em mbito mundial, avalia-se em 35% o

    desperdcio mdio de gua no Brasil; nos pases desenvolvidos essa perda de at 20%.

    O Direito Internacional ainda no dispe de uma conveno ou tratado abrangente

    sobre a preservao e o uso racional da gua. As iniciativas mais relevantes nesse sentido se

    concentram no Frum Mundial da gua, que rene, a cada trs anos, representantes de

    governos, organizaes internacionais, organizaes no governamentais, instituies

    financeiras e indstrias, alm de cientistas, especialistas em assuntos hdricos, empresrios e

    acadmicos. Contudo, embora conte com a participao de delegaes oficiais de diversos

    pases, no se trata de evento oficial da Organizao das Naes Unidas (ONU).

    O rascunho zero da Rio+20, intitulado o futuro que queremos, reconhece a

    necessidade de estabelecer metas para o gerenciamento dos recursos hdricos, inclusive em

    relao reduo da poluio da gua por fontes domsticas, industriais e agrcolas, bem

    como para a promoo da eficincia hdrica, tratamento e uso de guas servidas.

    1 Consultor Legislativo do Senado Federal para as reas de Meio Ambiente e Cincia e Tecnologia. Engenheiro

    Civil (UnB, 1995). Bacharel em Direito (UnB, 2007), Especialista em Geotecnia (UnB, 1997). Especialista em Relaes Internacionais (UnB, 2009). Mestre em Relaes Internacionais (UnB, 2011).

    2 Ou seja, 99,22% da gua total no Planeta est nos mares (gua salgada) ou em geleiras e nas calotas polares (gelo). Resta apenas 0,78% (cerca de 11 milhes de quilmetros cbicos) para aproveitamento, quantidade mais ou menos disponvel a depender da posio em que se encontra no ciclo hidrolgico e do grau de degradao (poluio) a que est submetida.

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    1 RECURSOS HDRICOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    Segundo a ONU, aproximadamente 20% da populao mundial no tem acesso a

    gua potvel e cerca de 40% no dispe de gua suficiente para uma estrutura adequada de

    saneamento bsico e higiene. Em 20 anos, a quantidade mdia de gua disponvel para cada

    indivduo ser reduzida a um tero da atual. Em 2050, a depender das taxas de crescimento

    populacional e das iniciativas polticas tomadas para minorar a crise, a escassez de gua

    afetar quase 3 bilhes de pessoas. Nos pases em desenvolvimento, a demanda por gua

    dever crescer significativamente, em virtude do aumento populacional aliado s expanses

    industrial e agrcola3. Os pases desenvolvidos, entretanto, continuaro a apresentar maiores

    ndices de consumo per capita.

    O rascunho zero da Rio+20 reconhece a importncia do uso racional da gua

    para a promoo do desenvolvimento sustentvel. O documento reitera a importncia do

    direito gua potvel segura e limpa e saneamento como um direito humano que essencial

    para se ter uma vida plena e para que se cumpram todos os direitos humanos. O texto

    reafirma, ainda, a crucial importncia dos recursos hdricos para o desenvolvimento

    sustentvel, incluindo a erradicao da pobreza e da fome, a sade pblica, a segurana

    alimentar, a energia hidreltrica, a agricultura e o desenvolvimento rural.

    2 RECURSOS HDRICOS NO BRASIL

    O Brasil detm cerca de 12% da gua doce superficial disponvel no Planeta e

    28% da disponibilidade nas Amricas. Possui ainda, em parte de seu territrio, a maior

    reserva de gua doce subterrnea, o Aqufero Guarani, com 1,2 milho de quilmetros

    quadrados. Entretanto, a distribuio geogrfica desses recursos superficiais ou subterrneos

    bastante irregular. A regio Norte, com 8,3% da populao, dispe de 78% da gua do

    Pas, enquanto o Nordeste, com 27,8% da populao, tem 3,3%.

    3 A agricultura responde hoje por 70% do consumo mundial de gua. A expanso das fronteiras agrcolas tem,

    portanto, significativo impacto sobre a disponibilidade hdrica, tornando-se imprescindvel o desenvolvimento e a aplicao de novas tecnologias que reduzam o consumo de gua destinada irrigao.

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    O Nordeste a regio brasileira mais afetada pela escassez de gua. A situao

    mais insustentvel para os mais de 8 milhes de habitantes do semirido. Estudos realizados

    pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) revelam que as chances dos

    agricultores colherem boas safras so de trs anos em dez na regio. Em quatro anos, a

    produo cai muito e, em trs, as perdas so quase totais. Nesses anos de secas mais intensas,

    o Produto Interno Bruto (PIB) agrcola da regio sofre uma reduo de 60%.

    A crise de gua no consequncia apenas de fatores climticos e geogrficos,

    mas principalmente do uso irracional dos recursos hdricos. Entre as causas do problema

    figuram: o fato de a gua no ser tratada como um bem estratgico no Pas, a falta de

    integrao entre a Poltica Nacional de Recursos Hdricos (PNRH) e as demais polticas

    pblicas, os graves problemas na rea de saneamento bsico e a forma como a gua doce

    compreendida, visto que muitos a consideram um recurso infinito.

    Para preservar os corpos hdricos e garantir o acesso a eles, o Brasil ter de

    promover uma gesto eficiente, que busque a equalizao inter-regional e intertemporal da

    gua. Para a definio dos marcos regulatrios principais e da capacidade de suporte de cada

    bacia, fundamental o conhecimento das necessidades dos diversos usurios e da capacidade

    de oferta e de renovao das fontes naturais (FREITAS, 1999).

    O comprometimento da qualidade da gua pela contaminao por esgotos

    domsticos, muitas vezes lanados no ambiente sem tratamento prvio, implica, entre outras

    consequncias, o aumento da incidncia de doenas de veiculao hdrica, como clera,

    diarreia, amebase e esquistossomose. Essa preocupao assume propores mais graves em

    pases ou regies onde maior a pobreza. Nos pases em desenvolvimento, 90% das doenas

    infecciosas so transmitidas pela gua (FREITAS, 1999).

    A soluo desses problemas passa pela adoo de polticas pblicas eficazes.

    Devido escassez de recursos financeiros, o tratamento de gua e de esgotos , por vezes,

    relegado a segundo plano. No Brasil, o maior percentual de residncias sem instalaes

    sanitrias ocorre nas regies Norte e Nordeste, que concentram a populao mais carente do

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    Pas. O ndice de mortalidade infantil guarda relao inversa com a porcentagem de

    domiclios atendidos pelos servios de distribuio de gua e coleta de esgotos.

    As consequncias das ms condies de saneamento so agravadas pela falta de informao,

    mais comum entre a populao de baixa renda.

    A racionalizao do uso dos recursos hdricos passa pela reduo do consumo, a

    reutilizao e a reciclagem. A reduo do consumo diz respeito simples economia de gua,

    por meio da eliminao de vazamentos e da diminuio do gasto em atividades domiciliares,

    industriais e agrcolas, entre outras. A reutilizao pode ser definida como o uso de gua j

    utilizada para determinada funo, mesmo que sua qualidade tenha sido reduzida durante esse

    uso inicial; o reaproveitamento feito antes que essa gua atinja a rede de esgoto.

    A reciclagem consiste no reaproveitamento da gua que j passou pela rede de esgoto e por

    uma estao de tratamento.

    3 LEGISLAO E POLTICAS PBLICAS SOBRE RECURSOS HDRICOS NO BRASIL

    3.1 Legislao

    A Constituio, ao definir que todas as guas pertencem Unio ou aos Estados

    includo o Distrito Federal , conforme sua localizao, caracterizou a gua como um bem

    pblico. Inspirada no modelo francs, a Lei n 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a

    Poltica Nacional de Recursos Hdricos (PNRH), dirimiu qualquer dvida sobre a extino

    dos conceitos de guas comuns, municipais e particulares, anteriormente previstos no Cdigo

    de guas (Decreto n 24.643, de 10 de julho de 1934). Entre os fundamentos da PNRH figura

    a disposio de que a gua um bem de domnio pblico.

    Outros fundamentos da PNRH so: a) a gua um recurso natural limitado,

    dotado de valor econmico; b) em situaes de escassez, o uso prioritrio dos recursos

    hdricos o consumo humano e a dessedentao de animais; c) a gesto dos recursos hdricos

    deve sempre proporcionar o uso mltiplo das guas; d) a bacia hidrogrfica a unidade

    territorial para implementao da PNRH e atuao do Sistema Nacional de Gerenciamento de

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    Recursos Hdricos (SINGREH); e e) a gesto dos recursos hdricos deve ser descentralizada e

    contar com a participao do poder pblico, dos usurios e das comunidades.

    Os objetivos da PNRH so: (i) assegurar atual e s futuras geraes a necessria

    disponibilidade de gua, em padres de qualidade adequados aos respectivos usos; (ii) a

    utilizao racional e integrada dos recursos hdricos, incluindo o transporte aquavirio, com

    vistas ao desenvolvimento sustentvel; e (iii) a preveno e a defesa contra eventos hidrolgicos

    crticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

    Entre as diretrizes gerais de ao para implementao da PNRH figuram: (i) a

    gesto sistemtica dos recursos hdricos, sem dissociao dos aspectos de quantidade e

    qualidade; (ii) a adequao da gesto de recursos hdricos s diversidades fsicas, biticas,

    demogrficas, econmicas, sociais e culturais das diversas regies do Pas; (iii) a integrao

    da gesto de recursos hdricos com a gesto ambiental; (iv) a articulao do planejamento de

    recursos hdricos com o dos setores usurios e com os planejamentos regional, estadual e

    nacional; (v) a articulao da gesto de recursos hdricos com a do uso do solo; e (vi) a

    integrao da gesto das bacias hidrogrficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.

    Da leitura dos tpicos acima, depreende-se a preocupao do legislador com o

    desenvolvimento sustentvel e a gesto integrada e sistemtica dos recursos hdricos,

    assegurada a participao dos usurios e da sociedade civil, a fim de garantir a oferta de gua

    em quantidade suficiente e com qualidade satisfatria para as atuais e futuras geraes, alm

    de resguardar o uso mltiplo das guas. A Lei n 9.433, de 1997, mostra-se, antes de tudo, um

    importante mecanismo de planejamento da explorao das guas.

    Para serem colocadas em prtica e no serem excludas do cotidiano do

    gerenciamento hdrico, as diretrizes precisam estar inseridas nas vrias etapas dos

    procedimentos de outorga do direito de uso das guas, na elaborao dos Planos de Recursos

    Hdricos e na efetivao do sistema de cobrana pelo uso das guas (MACHADO, 2002).

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    Para atingir esses objetivos e implementar essas diretrizes de ao, a Lei n 9.433,

    de 1997, criou uma srie de instrumentos, dentre os quais merecem destaque os Planos de

    Recursos Hdricos, a outorga dos direitos de uso e a cobrana por esse uso.

    O Singreh, criado pela Lei n 9.433, de 1997, tem organizao distinta da estrutura

    administrativa existente (Unio, estados, Distrito Federal e municpios). A lei cria organismos

    necessrios execuo das novas atividades, as quais, por terem base territorial diversa da

    diviso poltico-administrativa do Pas, no poderiam ser exercidas pelos rgos existentes,

    que tm base municipal, estadual ou federal. As Agncias de gua tm como rea de atuao

    uma ou mais bacias hidrogrficas e suas competncias primordiais so o planejamento dos

    recursos hdricos da bacia e a cobrana pelo uso da gua (KETTELHUT, 1999).

    A lei promove a descentralizao da gesto: da sede do poder pblico para a

    esfera local da bacia hidrogrfica, buscando parceria entre o poder pblico e a sociedade civil

    organizada. O Estado cede parcela dos seus poderes que, por sua natureza, podem ser

    compartilhados ou delegados. O poder decisrio passa a ser compartilhado nos Comits de

    Bacia Hidrogrfica e nos Conselhos Nacional ou Estaduais de Recursos Hdricos. A lei

    autoriza a delegao, s Agncias de gua, da cobrana pelo uso desse recurso natural, mas

    mantm como atribuio do poder pblico conceder outorgas de direito de uso.

    A lei busca assegurar ao sistema viabilidade financeira (ao destinar parte dos

    recursos arrecadados com a cobrana pelo uso da gua ao custeio dos organismos que

    integram o sistema e ao financiamento das intervenes identificadas pelo processo de

    planejamento) e administrativa (ao criar organismos de apoio tcnico, financeiro e

    administrativo aos colegiados do sistema).

    De acordo com a Lei n 9.433, de 1997, modificada pela Lei n 9.984, de 17 de

    julho de 2000, que criou a Agncia Nacional de guas (ANA), o Singreh integrado por:

    Conselho Nacional de Recursos Hdricos (CNRH); Secretaria de Recursos Hdricos e

    Ambiente Urbano (SRHAU) do Ministrio do Meio Ambiente (MMA) Secretaria-Executiva

    do CNRH; ANA; Comits de Bacia Hidrogrfica; rgos do poder pblico federal, estadual e

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    municipal, cujas competncias se relacionam com a gesto de recursos hdricos; Agncias de

    gua (SANTOS, 2002).

    3.2 Polticas Pblicas

    No Brasil, a implementao de polticas pblicas referentes aos recursos hdricos

    de domnio da Unio est concentrada na ANA. Dentre os vrios programas conduzidos pela

    entidade, merecem destaque:

    PRODES Programa Despoluio de Bacias Hidrogrficas: criado em maro

    de 2001, o programa, tambm conhecido como programa de compra de esgoto tratado,

    uma iniciativa inovadora que no financia obras ou equipamentos, mas paga pelos resultados

    alcanados, ou seja, pelo esgoto efetivamente tratado. O Prodes consiste na concesso de

    estmulo financeiro pela Unio, na forma de pagamento pelo esgoto tratado, a Prestadores de

    Servio de Saneamento que investirem na implantao e operao de estaes de tratamento

    de esgotos, desde que cumpridas as condies previstas em contrato4.

    Produtor de gua: tem como objetivo a reduo da eroso e do assoreamento

    dos mananciais nas reas rurais. O programa, de adeso voluntria, prev o apoio tcnico e

    financeiro execuo de aes de conservao da gua e do solo, como, por exemplo, a

    construo de terraos e bacias de infiltrao, a readequao de estradas vicinais, a

    recuperao e proteo de nascentes, o reflorestamento de reas de proteo permanente e

    reserva legal, o saneamento ambiental, entre outros. Prev tambm o pagamento de incentivos

    (ou uma espcie de compensao financeira) aos produtores rurais que, comprovadamente,

    contribuem para a proteo e recuperao de mananciais, gerando benefcios para a bacia e a

    populao. A concesso dos incentivos ocorre somente aps a implantao, parcial ou total,

    das aes e prticas conservacionistas previamente contratadas. Os valores a serem pagos so

    calculados de acordo com os resultados: abatimento da eroso e da sedimentao, reduo da

    poluio difusa e aumento da infiltrao de gua no solo5.

    4 Fonte: www.ana.gov.br (Acesso em 1 de junho de 2012). 5 Fonte: www.ana.gov.br (Acesso em 1 de junho de 2012).

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    Programa Nacional de Avaliao da Qualidade das guas (PNQA): tem por

    meta geral oferecer sociedade conhecimento adequado da qualidade das guas superficiais

    brasileiras, para subsidiar a tomada de deciso na definio de polticas pblicas para a

    recuperao da qualidade das guas. O Programa surgiu da constatao de uma srie de

    questes, como a existncia de lacunas geogrficas e temporais no monitoramento de

    qualidade da gua no Brasil, a falta de padronizao e de informaes sobre a realizao das

    coletas e anlises laboratoriais e a divulgao insuficiente de informaes para a populao e

    os tomadores de deciso, o que gera dificuldades para a anlise efetiva da evoluo da

    qualidade das guas e elaborao de um diagnstico nacional6.

    CONSIDERAES FINAIS

    A comunidade internacional ainda no dispe de uma conveno ou tratado

    abrangente sobre a preservao e o uso racional da gua. O rascunho zero da Rio+20

    menciona a necessidade de renovao dos compromissos firmados com relao ao

    desenvolvimento e implementao de gerenciamento integrado de recursos hdricos e planos

    de eficincia hdrica. Alm disso, o texto reafirma o compromisso com a Dcada

    Internacional 2005-2015 para Ao gua para Vida.

    No Brasil, a implementao da PNRH, instituda pela Lei n 9.433, de 1997,

    depende do poder pblico, dos usurios e das comunidades. Observa-se que os maiores

    obstculos sua efetivao dizem respeito cobrana pelo uso dos recursos hdricos e

    criao dos Comits de Bacia Hidrogrfica e das Agncias de gua, exemplos das profundas

    inovaes introduzidas por essa lei na administrao das guas no Brasil.

    O duplo domnio das guas, consagrado pela Constituio Federal, implica

    delicadas negociaes entre gestores de recursos hdricos da Unio e dos Estados, e entre os

    usurios e a sociedade civil, para a implantao e a operacionalizao dos instrumentos da

    PNRH nas bacias que apresentam corpos de gua com essas caractersticas. Alm disso, a

    6 Fonte: www.ana.gov.br (Acesso em 1 de junho de 2012).

  • Av. N2 Anexo E do Senado Federal CEP: 70165-900 Braslia DF

    Telefones: +55 (61) 3303.5879 / 5880E-mail: [email protected]

    Os boletins do Legislativo esto disponveis em: www.senado.gov.br/senado/conleg/boletim_do_legislativo.html

    criao da ANA como entidade federal de implementao da PNRH e de coordenao do

    Singreh fortalece institucionalmente a Unio para o exerccio da gesto de recursos hdricos.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    FREITAS, Marco Aurlio Vasconcelos de & SANTOS, Afonso Henriques Moreira. Importncia da gua e da Informao Hidrolgica. In: O Estado das guas no Brasil. Braslia: ANEEL e ANA, 1999.

    KETTELHUT, Jlio Thadeu Silva et. al. Aspectos Legais, Institucionais e Gerenciais. In: O Estado das guas no Brasil. Braslia: ANEEL e ANA, 1999.

    MACHADO, Paulo Affonso Leme. Recursos Hdricos Direito Brasileiro e Internacional. Malheiros Editores: So Paulo, 2002

    REBOUAS, A. C. gua doce no mundo e no Brasil. In: REBOUAS, A. C. et al. (orgs.) guas Doces no Brasil Capital Ecolgico, Uso e Conservao. So Paulo: Escrituras, 2002. 2 Ed. Revisada e ampliada.

    SANTOS, Thereza Christina Carvalho e CMARA, Joo Batista Drummond (Orgs.). GEO Brasil 2002 Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil. Braslia: Edies Ibama, 2002.

    Recursos Hdricos e Desenvolvimento Sustentvel no Brasil