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trabalho de direito civil
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DIREITO CIVIL I Prof. Adeilson José de Freitas Jr.
PARTE GERAL
LIVRO I : DAS PESSOAS NO CC/2002
Duas são as espécies de pessoas: natural e jurídica.
1.1. PESSOA NATURAL (“PESSOA FÍSICA”)
É o ser humano, sem qualquer discriminação (sexo, raça, cor, idade,
religião, etc.).
Toda pessoa natural possui PERSONALIDADE!
1.2. PERSONALIDADE
Terminologias: PERSONALIDADE JURÍDICA = PERSONALIDADE CIVIL =
PERSONALIDADE
É a aptidão genérica para ser titular de direitos e reclamar a
proteção dedicada pelos direitos da personalidade (honra, imagem, dignidade,
privacidade, etc.).
Para o direito civil os animais não possuem personalidade, são
OBJETOS DE TUTELA (proteção) pelo direito ambiental e demais leis esparsas.
1.3. INÍCIO DA PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL
Conforme a primeira parte do artigo 2º do Código Civil, a
personalidade da pessoa natural começa do nascimento com vida, tornando-se
sujeito de direito, mesmo que venha a falecer em seguida.
- Nascimento: ocorre quando o feto é separado do ventre da mãe,
independentemente de ter cortado o cordão umbilical (em sentido contrário
Washington de Barros Monteiro);
- Vida: acontece com a primeira respiração, mesmo que por alguns segundos
(procedimentos médicos: Docimasia Hidrostática de Galeno).
Assim, podemos concluir que o início da personalidade civil da
pessoa natural decorre de seu nascimento com vida, independentemente de outros
requisitos.
Dessa forma devemos derrubar alguns mitos:
- O registro do nascimento em cartório não determina o início da personalidade
da pessoa natural, é documento de cunho meramente declaratório.
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- Não é exigido que tenha viabilidade de vida, forma humana, tempo de nascido,
etc.
Segundo FARIAS e ROSENVAL (2015, p.259/260), na França e na
Holanda exige-se que o nascido seja viável. Já na Espanha, exige-se a forma
humana e tempo de nascido (pelo 24 horas), como requisito.
1.3.1. O TRATAMENTO JURÍDICO DO NASCITURO
Etimologicamente, nascituro vem do latim nasciturus, que significa
aquele que deverá nascer ou que está por nascer.
Assim, nascituro é aquele que já foi concebido, no ventre materno,
mas ainda não nasceu.
A doutrina é extremamente tormentosa no que diz respeito à
natureza jurídica do nascituro. A discussão é acirrada em razão da imprecisão
(pouca clareza) do art. 2º da Código Civil.
Temos, segundo a doutrina mais respeitada, três grandes teorias
sobre o tema:
A. Teoria natalista: segundo a qual a personalidade civil da pessoa natural
somente se inicia com o nascimento com vida. Assim, para essa teoria
inexistem direitos para o nascituro antes do seu nascimento (Teoria é seguida
por Silvio Rodrigues, por exemplo).
De acordo com essa teoria o nascituro não teria direito algum antes do seu
nascimento com vida, mas mera “expectativa de direito”.
Obs.: O grande problema dessa teoria é que ela não consegue responder a seguinte
pergunta: se o nascituro não tem personalidade, não é pessoa; desse modo, o
nascituro seria uma coisa? A resposta seria positiva se considerarmos que esta
teoria considera que o nascituro tem apenas expectativa de direitos.
B. Teoria da personalidade condicional: afirma que desde a concepção o
nascituro já possui direitos da personalidade (personalidade jurídica formal),
estando os direitos patrimoniais (decorrentes de herança, legado ou doação)
condicionados ao nascimento com vida (personalidade jurídica material).
Dessa forma, tendo em vista que os direitos patrimoniais estão
condicionados, sustenta essa teoria que a própria personalidade está
condicionada, apesar de os direitos da personalidade já serem reconhecidos
desde a concepção. (seguida por Washington de Barros e Maria Helena
Diniz).
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Portanto, se nascer com vida adquire personalidade jurídica material, mas se
tal não ocorrer nenhum direito patrimonial terá.
C. Teoria concepcionista: para esta teoria, o nascituro tem direitos da
personalidade reconhecidos desde a concepção e, em razão disso, já dispõe
de personalidade jurídica, apesar de seus direitos patrimoniais ficarem
condicionados ao nascimento com vida. Assim, para esta teoria, se o
nascituro já tem direitos da personalidade é porque já dispõe da própria
personalidade jurídica, mesmo que os direitos patrimoniais estejam
condicionados.
Esta teoria é a mais moderna e que vem crescendo muito na
jurisprudência.
Temos inclusive o Enunciado nº 274 do CJF (1ª Jornada de Direito
Civil) defendendo a teoria concepcionista.
Na doutrina, seguem esta teoria: Pontes de Miranda, Pablo Stolze,
Rodolfo Pamplona, Flávio Tartuce, dentre vários.
Nesse contexto, verifica-se que não há distinção prática entre
as teorias da personalidade condicional e concepcionista. Ambas reconhecem
direitos ao nascituro, apenas divergindo quanto ao reconhecimento da
personalidade civil, que para os adeptos da segunda teoria (personalidade
condicional) estaria submetida a uma condição, enquanto que os
concepcionistas já admitem a personalidade desde o momento da concepção.
_____________
1.4. CAPACIDADE CIVIL DA PESSOA NATURAL
1.4.1. Capacidade de direito e a capacidade de fato
Para Maria Helena Diniz, capacidade, que é elemento da
personalidade “é a medida jurídica da personalidade”.
Temos dois tipos de capacidades:
a. Capacidade de Direito (ou de gozo): reconhecida a todo e qualquer titular de
personalidade; é a aptidão para ser titular de direitos e deveres. É o exercício
mínimo da personalidade (art. 1º, CC). Toda pessoa tem!
Não existe incapacidade de direito (gozo)!
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b. Capacidade de fato (ou de exercício): é a aptidão para praticar/exercer
pessoalmente (por si só) os atos da vida civil, dependendo do discernimento
(discernimento é o critério). Nem toda pessoa tem!
Ex.: uma pessoa de sete anos de idade possui capacidade de direito (que é a
potencialidade de ser direito de relações jurídicas), embora não disponha de
capacidade de fato, não lhe sendo possível praticar pessoalmente qualquer ato
jurídico.
- possuir uma casa = capacidade de direito.
- negociar a casa = capacidade de fato (falta discernimento?).
Toda pessoa é capaz de direito, mas nem todas são capazes de
fato!
Assim, quem tem as duas espécies de capacidade tem a
CAPACIDADE PLENA. Quem só tem a capacidade de direito, tem capacidade
limitada, devendo ser visualizada a fórmula abaixo:
Capacidade de Direito + Capacidade de Fato = CAPACIDADE CIVIL PLENA.
Capacidade de Direito – Capacidade de Fato = INCAPACIDADE.
1.4.2. A distinção entre “capacidade de fato” e “legitimação”:
Não se pode confundir a “capacidade de fato” estudada acima com
“legitimação”. Esta última, nada mais é, do que a condição especial para celebrar um
determinado ato ou negócio jurídico, um requisito específico, uma exigência legal.
Às vezes, mesmo sendo, a pessoa, maior e capaz (plenamente
capaz), não poderá praticar o ato jurídico por falta de legitimação.
Exemplo: venda de ascendente a descendente, sem o expresso consentimento de
todos os demais herdeiros. Neste caso, não havendo a autorização dos demais
herdeiros, por exemplo, o ascendente terá capacidade plena (direito + fato), mas não
terá a legitimidade, sendo o negócio jurídico anulável (art. 496, CC).
Ex.: na alienação de bem imóvel por pessoa casada (exceto pelo regime da
separação convencional de bens) exige-se, além da capacidade plena, da outorga
conjugal (consentimento), sob pena de anulabilidade (art. 1.647, CC).
1.4.3. Teoria das incapacidades
É a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. Trata-se de
exceção à regra, e, por isso, deve estar expressamente prevista em lei.
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A incapacidade pode ser absoluta (total) ou relativa (parcial):
a) Incapacidade absoluta: é a restrição TOTAL para o exercício (pessoal)
do direito. Assim, os absolutamente incapazes possuem direitos, mas não
podem exercê-los pessoalmente. Neste caso, a incapacidade é suprida pela
“representação”, sob pena de nulidade (art. 166, I, CC).
- Representação: nas situações de incapacidade absoluta quem pratica o ato ou
negócio jurídico é o representante legal, pois o incapaz sequer participa.
Obs.: contra absolutamente incapaz não corre prazo prescricional ou
decadencial.
b) Incapacidade relativa: é a restrição PARCIAL para o exercício (pessoal)
do direito. Neste caso, a incapacidade será suprida pela “assistência”, sob
pena de gerar anulabilidade do ato (art. 171, I, CC).
1.5. ROL DAS INCAPACIDADES ABSOLUTAS
O art. 3º do CC/02 traz o rol taxativo dos absolutamente
incapazes:
I) Os menores de 16 anos (menor impúbere)
A lei entendeu que estes não possuem discernimento, intelectual e
psicológico suficientes para a prática da vida civil. Será representado por
seus pais (que tem o poder familiar), ou, na falta destes, por um tutor.
II) Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem
necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil.
Enfermidade mental é uma doença que acomete pessoa mentalmente sã,
retirando dela discernimento necessário para a prática dos atos da vida
civil. Normalmente é transitória, ex.: depressão profunda.
Já a deficiência mental é uma alteração na capacidade psíquica da pessoa
e que acaba por comprometer o seu quociente de inteligência.
Normalmente é permanente e congênita, mas nada impede que atinja a
pessoa de forma abrupta, como por exemplo, o traumatismo craniano;
Obs.: é necessário um processo de interdição, de natureza declaratória, cuja
sentença será registrada no Registro Civil da comarca em que residir o interdito.
Neste caso será nomeado um curador ao incapaz.
Obs.: A idade avançada e o estado de decadência orgânica não são
motivos legais para interdição, porém, esta não poderá deixar de ser
decretada quando a pessoa não consegue, pela palavra escrita ou falada,
manifestar seu pensamento, cuidar de seus negócios, reger a si própria e
administrar seus haveres.
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Obs.: Nosso ordenamento jurídico não admite a “teoria dos lúcidos
intervalos” (a teoria que se presta a validar os atos praticados pelo
incapaz sob a alegação de que esta pessoa estava num intervalo de
lucidez), pelo fato de a incapacidade mental estar revestida de caráter
permanente, bem como, por segurança jurídica.
III) os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade.
Ex.: a pessoa está em coma (que não perdure muito tempo); hipnose;
súbita perda de memória.
O inciso III ficou bastante abrangente, alargando a incapacidade absoluta.
Nestes casos, o art. 1.767, II, CC veda a interdição, pois a causa é
transitória, e a interdição só é possível quando a causa é duradoura.
Assim, os atos urgentes serão realizados por um curador.
Situação do surdo-mudo:
Inclui-se na hipótese do inciso III, o surdo-mudo que não pode manifestar
sua vontade. Porém, se o surdo-mudo puder exprimir sua vontade, será
considerado relativamente incapaz ou até plenamente capaz, dependendo
do grau de possibilidade de sua expressão.
1.6. ROL DAS INCAPACIDADES RELATIVAS
O art. 4º do CC traz o rol dos relativamente incapazes:
I) Maiores de 16 anos e menores de 18 anos. (menor púbere)
Entendeu o legislador que nesta fase há pouca experiência e maturidade
para a prática total dos atos civis.
No dia em que a pessoa completa 16 anos ela já é considerada
relativamente incapaz (interpretação do art. 180, CC).
Exceção: o maior de 16 e menor de 18 anos, mesmo sem assistência
pode: ser testemunha; firmar testamento; votar; casar (neste caso vai
precisar apenas de autorização dos pais p/ o casamento, mas não será
assistido!)
II) Ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência
mental, tenha o discernimento reduzido;
- Ébrio é o alcoólatra. São exigidos dois requisitos: a) embriaguez habitual
(uso constante da bebida!); b) perturbação do discernimento afetado.
- o viciado em tóxico, a lei não exige habitualidade, portanto, o consumo
pode ser intervalado. São exigidos dois requisitos: a) uso reiterado da
substância; b) perturbação do discernimento.
- deficiência mental com discernimento reduzido (P.ex.: Mal de Alzheimer)
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Eventualmente, dependendo do teor do laudo médico, as pessoas
elencadas podem ser enquadradas como absolutamente incapazes, em
particular nos incisos II e III do art. 3º do CC. Exemplificando, um ébrio
habitual que esteja em coma por grande lapso temporal será
absolutamente incapaz. (Tartucce).
Obs.: As pessoas deste inciso II devem ser interditadas, sendo-lhes
nomeado assistente denominado “curador”.
III) Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo.
É um preciosismo do legislador, com intuito de proteger a pessoa portadora
de deficiência mental leve, que não se enquadraria na última parte do inciso II, do
art. 4º (Ex. Síndrome de Down; pessoa com QI baixo).
Destaca-se que o portador de síndrome de Down pode ser ainda plenamente capaz,
dependendo da sua situação.
A doutrina é divida sobre a necessidade de interdição, no entanto, por segurança
jurídica ficamos com entendimento sobre a necessidade de interdição.
IV) Os pródigos.
É a pessoa que dilapida patrimônio, de maneira imoderada e habitual, realizando
gastos desnecessários e excessivos, colocando em risco o seu próprio sustento e o
de sua família. Ex.: pessoa viciada em jogatinas.
Para que seja possível a interdição do pródigo, são necessários dois requisitos: a)
gastos habituais; b) risco ao próprio sustento e ao de sua família.
Deve haver a interdição, sendo nomeado um assistente, denominado “curador” para
os atos que envolvam o seu patrimônio. Todavia, poderá o pródigo, sem assistência,
exercer atos que não envolvam a administração direta de seus bens, como se casar
ou exercer profissão (art. 1.782, CC).
INTERDIÇÃO: é um procedimento especial de jurisdição voluntária, mediante o qual
se apura a capacidade ou incapacidade de pessoa maior de 18 anos. Se constatada
a incapacidade, será decretada a proibição absoluta ou relativa, para que o interdito
pratique, por si, atos jurídicos, bem como será nomeado um curador, que deverá
representá-lo ou assisti-lo.
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1.7. CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE
Cessa a incapacidade quando desaparecerem as causas que lhe
deram origem. Assim, p. ex. termina a incapacidade do pródigo quando cessar a
enfermidade (decidido judicialmente) que determina a restrição ao exercício de seus
direitos, devendo haver o levantamento da interdição.
Em relação ao menor relativamente incapaz, a incapacidade
cessa:
- pela maioridade: quando o menor atinge 18 anos (art. 5º, CC);
- pela emancipação: é a antecipação da capacidade civil a um menor de idade, ou
seja, o menor deixa de ser incapaz e passa a ser capaz para os atos da vida civil
(art. 5º, par. único, CC).
A EMANCIPAÇÃO pode ser classificada de três formas: voluntária;
judicial e legal.
a) Emancipação Voluntária: os pais conferem a emancipação aos filhos
menores de idade - o menor deve ter no mínimo 16 anos completos -, que é
feita através de escritura pública (no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Naturais) e, não precisa ser homologado judicialmente. Ainda que os pais
sejam solteiros, separados ou divorciados a emancipação deverá ser feita por
ambos. Somente poderá ser unilateral na falta de um dos pais (ex.: morte ou
destituição do poder familiar). Havendo divergência entre os pais, a
emancipação deverá ser feita através de procedimento judicial.
b) Emancipação Judicial: é aquela feita pelo Juiz onde emancipa um menor
tutelado (16 anos pelo menos). O tutor não tem o mesmo poder dos pais na
emancipação, ele sempre deve pedir via judicial.
Também é utilizada em casos em que um dos pais não concorda com a
emancipação, contrariando a vontade do outro.
A sentença que reconhecer a emancipação será registrada no Registro Civil
das pessoas naturais.
c) Emancipação legal: ocorre de forma automática, decorre de determinados
fatos previstos em lei:
C1. Casamento (art. 5º, II, CC): pelo casamento do menor. É bom frisar que a
idade núbil tanto do homem quanto da mulher é de 16 anos (art. 1.517, CC),
sendo possível o casamento do menor se houver autorização de ambos os pais,
ou dos seus representantes legais.
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Obs.: Excepcionalmente, o art. 1520 do Código Civil permite que o juiz autorize o
casamento (e, por conseguinte, admita a emancipação legal) do menor de 16
anos quando houver gravidez.
Obs.: o divórcio, a viuvez e a anulação do casamento não implicam no retorno à
incapacidade.
C2. Exercício de emprego público efetivo (art. 5º, III, CC): todos os cargos ou
empregos públicos efetivos, desde que haja nomeação de forma definitiva.
Estão afastadas, assim, as hipóteses de serviços temporários ou cargos
comissionados.
C3. Colação de grau em curso superior (art. 5º, IV, CC): deve ser curso
superior! A presente situação é praticamente impossível de ocorrer na prática;
C4. Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria: necessário que o menor tenha pelo menos 16 anos,
revelando amadurecimento e experiência desenvolvida. No entanto, na prática,
há dificuldade para se provar tal “economia própria”.
Com relação a comprovação desta hipótese emancipação, vale
destacar os ensinamentos de Silvio de Salvo Venosa: “Discutível e apurável será
no caso concreto a existência de economia própria, isto é, recursos próprios de
sobrevivência e manutenção. Este status poderá gerar dúvidas a terceiros e poderá
ser necessária sentença judicial que declare a maioridade do interessado nesse
caso”.
Obs1: Regra geral a emancipação é definitiva, irretratável e irrevogável!
Obs2: O menor emancipado não pode tirar habilitação para dirigir, o Código de
Trânsito Brasileiro (CTB), no seu art. 140, ao mencionar a habilitação para a
condução de veículos automotores e elétricos, dentre outros requisitos, exige
que o condutor seja penalmente imputável. O menor, embora emancipado,
continua sendo menor para fins penais e, portanto, permanece inimputável.
1.8. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL
A pessoa natural se identifica pelo nome, pelo estado e pelo
domicílio.
A. NOME (art. 16 a 19, CC e a Lei nº 6.015/73 – LRP)
É o elemento pelo qual se individualiza e se designa a pessoa
natural, identificando-a na sociedade e integrando a sua personalidade.
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É inalienável, imprescritível e juridicamente protegido, pois, além do
aspecto individual consistente no direito ao nome, existe, também, o interesse
público de que as pessoas sejam corretamente identificadas na sociedade.
Art. 16, CC. “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome
e o sobrenome”.
O nome é um direito da personalidade!
A1. Elementos ESSENCIAIS do nome:
- PRENOME: é o nome próprio da pessoa e serve para distinguir os membros da
mesma família. Pode ser “simples” (José, Antonio, Maria) ou “composto” (Luis
Fernado; Ana Paula).
- SOBRENOME (também conhecido como “apelido de família” e “patronímico”):
é o elemento do nome que indica a procedência familiar da pessoa. Também pode
ser “simples” (Silva, Souza) ou “composto” (Alcântara Machado; Mendes
Campos).
A2. Elementos FACULTATIVOS do nome:
- PARTÍCULA: é a preposição de, da(s), do(s). Ex.: da Silva; dos Reis; de Freitas.
- “ALCUNHA”: vulgarmente chamado de “apelido”, que consiste na designação
dada à alguém em virtude de alguma particularidade (trabalho exercido; aparência
física; etc). Ex.: Tiradentes, Aleijadinho, Pelé . Pode ser acrescentada ao nome da
pessoa natural, sob certas condições, como é o caso do presidente LULA.
-“AGNOME”: atribuídas ás para diferenciar parentes com o mesmo nome. Por
exemplo: Junior; Neto; Sobrinho; Segundo; Terceiro.
- PSEUDÔNIMO (art. 19, CC): é aquela designação que a pessoa utiliza para o
exercício da atividade profissional. É muito utilizado no meio artístico. Ex.: “Fernanda
Montenegro” = Arlete Pinheiro; “Lima Duarte” = Ariclenes Martins; “Zeca Pagodinho”
= Jessé Gomes da Silva Filho, etc.
Art.19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se
dá ao nome.
A3. PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE/INALTERABILIDADE DO NOME: em regra o
nome não pode ser alterado, porém, excepcionalmente, admite-se sua alteração,
nas hipóteses previstas na Lei 6.015/1973.
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São hipóteses de alteração do prenome:
a) no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil (antes de completar
19 anos), imotivadamente, desde que não prejudique o sobrenome. Deverá
ser requerida extrajudicialmente, via cartório (art. 56 da LRP). Ex.: João quer
mudar o seu nome p/ Pedro.
b) quando o nome expuser a pessoa ao ridículo (nome vexatório). Ex.: Amim
Amou Amado; Aricléia Café Chá; Hiltler; Osama Bin Laden.
c) Nome com erro gráfico evidente. Ex.: Osvardo; Crovis; Durce; etc. É caso de
retificação e não alteração (art. 110 da LRP).
Obs.: Inicialmente é dispensável a participação judicial, desde que haja parecer
favorável do Ministério Público.
d) Tradução ou adaptação do nome do estrangeiro no pedido de naturalização.
Ex.: pessoa se chama John é quer se chamar João.
e) Em razão de fundada coação ou ameaça decorrente de colaboração com a
apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente (Ex.:
vítimas e testemunhas de crime).
f) Tem-se admitido a alteração do nome para solucionar problemas de
homonímia, quando se admite o acréscimo de mais de um prenome ou
sobrenome.
g) Tem-se admitido em caso de mudança de sexo.
h) Admite-se a alteração compulsória do prenome no caso de gêmeos ou irmãos
com igual prenome, que deverão ser inscritos com prenome duplo ou nome
completo diverso para que possam ser distinguidos entre si.
São hipótese de alteração do sobrenome:
a) adoção;
b) casamento;
c) divórcio.
b. ESTADO
Consiste no conjunto de qualidades que indicam à pessoa natural, e
pode ser classificado como: “individual”; “familiar” e “político”.
- “Estado individual”: está relacionado à idade (maior e menor), ao sexo (feminino
e masculino) e a saúde mental e física (são de espírito, alienado e surdo-mudo) da
pessoa.
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- “Estado familiar”: busca-se se saber quem é a pessoa dentro da sua família,
pode ser determinada em razão do casamento (solteiro, casado, divorciado, viúvo)
ou do de parentesco (filho; pai; mãe; irmão; etc.).
“Estado político”: busca-se saber quem é aquela pessoa no país em que ela se
encontra. Ex.: quem é a pessoa no país: “brasileiro nato”; “estrangeiro”; “brasileiro
naturalizado”.
c. DOMICÍLIO
Em regra, domicílio é onde a pessoa reside, com ânimo definitivo
(art. 70, CC).
O “andarilho”, “artista de circo” e “cigano”, dentre outras
pessoas, não possuem ânimo de permanecer, sendo considerado o seu domicílio
o local onde ela for encontrada (art. 73 do CC)
A pessoa pode ter pluralidade de domicílio. Ex.: o sujeito tem um
AP no Rio de Janeiro e fica 5 meses do ano lá; tem outro AP em SP e passa outra
parte do ano lá.
- Domicílio profissional: é o local onde a pessoa exerce a sua profissão, somente
para os atos que dizem respeito ao exercício profissional. Se você trabalha em
diversos municípios, pode haver também uma pluralidade de domicílio profissional.
(art. 72, CC).
C1. Espécies de domicílios:
O domicílio pode ser: voluntário; necessário (legal); de eleição.
1. Domicílio voluntário: é aquele que é escolhido livremente pela pessoa
natural. Ex.: meu domicílio é Itapetininga, porque eu resido em Itapetininga
com ânimo de lá permanecer.
2. Domicílio necessário (legal ou compulsório): é determinado por lei.
Algumas pessoas não podem escolher livremente o seu domicílio, pois a lei
impõe o seu domicílio, são elas (art. 76, CC): a. incapaz; b. servidor
público; c. militar; d. marítimo; e. o preso.
O domicílio dessas pessoas é (art. 76, par. único, CC):
a. Incapaz: é o domicílio do representante ou assistente;
b. Servidor público: domicílio é onde ele exerce permanentemente as suas
funções públicas, mesmo que resida em outro local.
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c. Militar: se for do exército domicílio é onde ele servir; mas se for da marinha/
aeronáutica: o domicílio será o da sede do comando (em terra) onde se
encontrar subordinado.
d. Marítimo: é o tripulante da marinha mercante; seu domicilio é lugar onde o navio
estiver matriculado (art. 39, CC).
e. Preso: o domicílio é onde ele cumpre sentença.
Obs. Perigosa: o preso que se refere o parágrafo único do art. 76 do CC é o preso
que tenha sentença com trânsito em julgado (decisão irrecorrível), já o preso
provisório (prisão preventiva ou temporária) apresenta o “domicílio voluntário”
e não necessário.
3. Domicílio de eleição (contratual): pactuado nas últimas cláusulas do
contrato, onde as partes elegem o local que será resolvido qualquer litígio que
venha a ocorrer (art. 78, CC).
1.10. FIM DA PERSONALIDADE
O fim da personalidade da PN se dá com a MORTE (art. 6º, CC).
Há duas espécies de morte: a. morte real; b. morte presumida.
a. Morte real: é aquela em que há um corpo em que as funções vitais
cessaram. Há prova da materialidade (cadáver), onde o médico atesta o
óbito.
Obs.: Para efeito de doação de órgãos (Lei 9.434/97), basta que cesse a
função cerebral.
Obs.: Para fim de doação de órgãos, a lei de transplantes exige que a morte
seja atestada por dois médicos que não faça parte da equipe de remoção.
Obs.: Para a cremação a LRP exige a assinatura de dois médicos ou de um
médico legista. Em caso de morte violenta (criminosa), é possível a
cremação, mas depende de autorização judicial.
b. Morte Presumida: aqui não há um corpo, mas há um juízo de probabilidade
muito forte sobre a ocorrência da morte. Não há prova da materialidade.
Decorre de uma declaração judicial (é o juiz que vai declarar a morte
presumida).
Haverá morte presumida de duas formas:
A – Morte presumida SEM decretação da ausência (Pelas hipóteses do art. 7º
do CC):
Aqui a probabilidade de morte é muito grande!
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I – Desaparecimento do corpo da pessoa, sendo extremamente provável a
morte de quem estava em perigo de vida.
Ex.: catástrofes naturais; desastres; acidentes. É o caso do avião Air France que
caiu no mar e não é encontrado o corpo. Neste caso será declarada a morte
presumida das pessoas não encontradas, SEM o procedimento de ausência.
II – Desaparecimento de pessoa envolvida em campanha ou feito prisioneiro,
não sendo encontrado até dois anos após o término da guerra.
Ex.: o sujeito foi para guerra, mas esta acabou há mais de dois anos sem que o
mesmo tivesse voltado. Neste caso será declarada a sua morte presumida, SEM o
procedimento da ausência.
Obs.: Nesses casos deve ser preenchido um único requisito para que o juiz
declare a morte presumida (art. 7º par. único, CC): as buscas e averiguações
devem ser esgotadas.
Obs.: Nas hipóteses de morte presumida a medida cabível é ação de justificação
de óbito, onde o juiz profere uma sentença declarando o sujeito morto, e
fixando, inclusive, a data provável da morte e, com base nessa sentença, lavra-
se o óbito no cartório competente, no livro próprio e, posteriormente, expede-se
certidão de óbito.
B – Morte presumida COM decretação de ausência (art. 22 a 39, CC):
A morte presumida com declaração de ausência está prevista na
segunda parte do artigo 6º do Código Civil:
Art. 6º. A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se
esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura
de sucessão definitiva.
A ausência civil ocorre quando a pessoa desaparece e não dá
notícias do seu paradeiro e não deixa quem a represente.
Nessa hipótese deve ser aberto um procedimento de ausência
(processo judicial), que possui 03 fases: 1ª) Curadoria (dos bens do ausente); 2ª)
Sucessão Provisória; 3ª) Sucessão Definitiva.
Trata-se de jurisdição voluntária, podendo ser requerido por
qualquer interessado e pelo Ministério Público.
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1ª FASE: CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE
O Juiz, após a análise da inicial, em se convencendo do
desaparecimento da pessoa declarará a sua ausência, arrecadará os bens e
nomeará um curador para administrar os bens do ausente (art. 24, CC).
Quem pode ser curador do ausente?
O art. 25 do CC determina as pessoas que podem ser curadoras do
ausente, nesta ordem: cônjuge não separado judicialmente ou de fato por mais de
dois anos; companheiro (Enunciado 97 do CJF); pais ou descendentes.
A lei não exige prazo mínimo de desaparecimento para abrir o
procedimento da ausência.
Finda a arrecadação dos bens, o juiz determinará a publicação de
editais durante um ano, reproduzidos de 02 em 02 meses.
Passado este período de um ano, com a publicação dos editais, três
situações poderão ocorrer:
1ª) Retorno do ausente: neste caso o ausente assume todos os seus bens,
extinguindo-se o procedimento. O ausente terá direito a todos os frutos e
rendimentos dos seus bens, deduzindo-se, no entanto, eventuais despesas com a
administração dos mesmos.
2ª) Certeza da morte provada por meio de atestado de óbito: o procedimento é
convertido em inventário.
3ª) Persistência da ausência: neste caso, o procedimento avança para a segunda
fase (sucessão provisória).
2ª FASE: SUCESSÃO PROVISÓRIA
Os interessados poderão requerer que se abra provisoriamente a
sucessão (art. 26, do Código Civil).
O art. 27 do Código Civil menciona quais as pessoas interessadas
na abertura da sucessão provisória. Abrange também o companheiro.
O Ministério Público poderá também requerê-la, desde que não
haja interessados, ou, em havendo, nenhum deles formular o pedido (art. 28, §1º, do
Código Civil).
O Juiz proferirá sentença determinando a abertura da sucessão
provisória, que depois de transitado em julgado, terá inicio o inventário e partilha
dos bens do ausente.
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Feita a partilha dos bens entre os herdeiros, passaram a estes a
responsabilidade de administrar os bens do ausente.
Os bens não poderão ser vendidos sem autorização judicial,
pois os herdeiros ainda não adquiriram a propriedade, mas somente a posse
dos bens do ausente.
3ª FASE: SUCESSÃO DEFINITIVA
Passados 10 anos da sentença que determinou a sucessão
provisória, ou, após 05 anos a contar de suas últimas notícias daquele que
conta com 80 anos de idade, se o ausente não apareceu, qualquer interessado
poderá requerer a declaração de morte presumida e conversão da sucessão
provisória em definitiva (art. 37, Código Civil).
Com a sucessão definitiva os herdeiros poderão vender os
bens?
A resposta é positiva, mas se o ausente retornar até 10 anos
seguintes à abertura da sucessão definitiva terá direito aos bens no estado em
que se encontrarem, ou ao preço que os herdeiros houverem recebido com a
sua venda. Porém, se retornar após esses 10 anos, não terá direito a nada (art.
1.168, do CPC).
1.11. COMORIÊNCIA OU MORTE SIMULTÂNEA (art. 8º do Código Civil):
A comoriência não constitui uma presunção quanto à existência das
mortes, mas quanto ao seu momento.
Se duas ou mais pessoas, parentes, ou não, falecerem na mesma
ocasião, não havendo prova efetiva de quem morreu primeiro, presumir-se-ão
simultaneamente mortos.
A expressão “na mesma ocasião” utilizada pelo art. 8º do Código
Civil não significa que a morte tenha que ocorrer na mesma localidade, basta
que não seja possível averiguar a ordem cronológica dos óbitos.
Vale a pena conferir o exemplo de ROSENVALD e FARIA (2015,
316):
“Imagine-se um casal que, sem deixar descendentes ou
ascendentes, morre em um desastre automobilístico. Provando-se
que ele morreu primeiro, os parentes colaterais dela serão
chamados a suceder integralmente, já que ela herdaria dele, que
teria sido premoriente. Não haveria, nesta hipótese, qualquer direito
hereditário para os parentes colaterais dele. Se, contudo, forem
comorientes, dissolve-se o vínculo sucessório entre si, não havendo
qualquer transmissão de um para o outro, convocando, por
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conseguinte, os colaterais de ambos para recolher suas respectivas
cotas hereditárias”.
2. PESSOA JURÍDICA
É a unidade de pessoas naturais ou de bens, que visa atingir certos
fins, reconhecida pelo ordenamento jurídico como sujeito de direitos e obrigações.
Portanto, assim como as pessoas naturais, as pessoas jurídicas
também podem ser titulares de direitos e deveres.
1. Classificação da pessoa jurídica (art. 40, do Código Civil):
A pessoa jurídica pode ser de “direito público” ou de “direito
privado”.
As pessoas jurídicas de direito público classificam-se em:
a. PJ de Direito Público Interno (art. 41, do Código Civil): União; Estados;
Distrito Federal, Municípios, dentre outros.
O Código Civil apenas nos informa quem são as estas pessoas (PJ
de direito público interno), mas quem cuidará da matéria será o Direito
Administrativo.
b. PJ de Direito Público Externo: (art. 42, do Código Civil): Estados
estrangeiros (E.U.A., França, etc.) e as pessoas regidas pelo direito
internacional público (ONU; OMS; OIT, etc...).
Da mesma forma, o Código Civil apenas nos informa quem são
estas pessoas (PJ de direito público externo), mas a matéria será tratada pelo
Direito Internacional Público.
Portanto, interessa para o Direito Civil as pessoas jurídicas de direito
privado, que passaremos a analisar.
PJ de Direito Privado (art. 44, do Código Civil): é a pessoa jurídica instituída pela
vontade de particulares, visando a atender os seus interesses. São elas:
associações; as sociedades; as fundações; as organizações religiosas, partidos
políticos e, a empresa individual de responsabilidade limitada – EIRELI.
É importante destacar que o rol do artigo 44 do Código Civil não é
taxativo (não é exaustiva!), já que admite a possibilidade de existência de outras
pessoas jurídicas de direito privado, sendo, portanto, considerado um rol
exemplificativo, conforme Enunciado 144 do CJF (Conselho da Justiça Federal).
Enunciado 144 – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de Direito
Privado, constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil, não é exaustiva.
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Obs.: também são consideradas pessoas jurídicas de direito privado: empresa
pública e a sociedade de economia mista; sindicatos; cooperativas.
Passamos a analisar, a partir de agora, as pessoas jurídicas de
direito privado elencadas no art. 44 do Código Civil:
a) Partidos políticos: as regras sobre os partidos políticos serão disciplinadas por
lei específica. (art. 44, §3º, do Código Civil).
b) Organizações religiosas: apresentam uma ampla liberdade de criação, de
organização, de estruturação interna e de funcionamento, sendo vedado ao poder
público negar-lhes reconhecimento ou registro de seus atos constitutivos (art.
44, §1º, do Código Civil).
c) Associações e as sociedades: são muito semelhantes porque surgem da
mesma maneira, isto é, de um agrupamento de pessoas. Mas há diferenças
fundamentais entre elas, tais quais:
1ª diferença básica: na “sociedade” há finalidade econômica, o que significa
que os sócios irão dividir os eventuais lucros da atividade. Já, na
associação, não há finalidade econômica, não havendo divisão de lucros
entre os associados.
Vale ressaltar que, a associação possui outras finalidades, que não lucrativa,
tais como: a recreativa, a desportiva, etc.
: A associação pode promover atividade rentável (festa; bingo; rifa, etc..),
o que não pode é repartir a renda (“lucros”) dessa atividade entre os seus
associados.
2ª diferença básica: o ato constitutivo da sociedade denomina-se “contrato
social”, onde existirá entre os sócios direitos e obrigações recíprocas. Já na
associação, o ato constitutivo denomina-se “estatuto”, não havendo entre os
associados direitos e obrigações recíprocas.
d) Fundação (arts. 62/69, do Código Civil):
Segundo CAIO MÁRIO, “o que se encontra, aqui, é a atribuição de
personalidade jurídica a um patrimônio, que a vontade humana destina a uma
finalidade social”.
A fundação é constituída por ato de seu instituidor, por escritura
pública ou testamento, que irá separar alguns bens, que adquirirá
personalidade jurídica, formando a fundação.
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No entanto, a formação da fundação deve observar as seguintes
etapas (fases):
1ª fase = dotação especial de bens livres: nesta fase o instituidor irá separar
(afetar) alguns bens livres, através de “escritura pública” ou “testamento”,
especificando determinada finalidade não econômica.
: Se os bens separados para a formação da fundação se mostrarem
insuficientes, e o instituidor não previu nada a este respeito, tais bens serão
destinados a outra fundação igual ou semelhante (art. 63, Código Civil).
2ª fase = elaboração de estatutos: os estatutos trarão as diretrizes (regras) sobre o
funcionamento da fundação. Pode ser elaborado pelo próprio instituidor (forma
direta) ou, por uma terceira pessoa indicada pelo instituidor (forma indireta), no
prazo assinado por este. Contudo, se o estatuto não for elaborado no prazo
assinado pelo instituidor a incumbência caberá ao Ministério Público. Caso, o
instituidor não tenha estabelecido prazo para elaboração do estatuto, este será de
180 dias, após a incumbência recairá ao Ministério Público (art. 65, paragrafo único,
do Código Civil).
3ª fase = aprovação dos estatutos: deverá haver a aprovação por uma autoridade
competente, sendo esta, o Ministério Público Estadual (art. 66, CC), que verificará se
foram observadas as bases da fundação e se os bens dotados são suficientes ao fim
a que ela se destina (art. 1.200 do CPC).
: o §1º do art. 66 do Código Civil foi declarado inconstitucional pelo STF,
na ADIN 2.794-8.
4ª fase = registro: deverá haver o registro dos atos constitutivos da fundação,
no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Com este registro será
atribuído personalidade jurídica a PJ.
: a diferença entre a associação e fundação está na sua estrutura interna,
enquanto a primeira é formada por um conjunto de pessoas, a segunda é formada
por um conjunto de bens.
As hipóteses de extinção da fundação privada encontra previsão
no art. 69 do Código Civil, que fazem cessar a sua personalidade jurídica. Nesse
caso, fundação responde pelos seus débitos com a força de seu patrimônio. Após
isso, o saldo positivo desse patrimônio deverá ser destinado à fundação com fim
igual ou semelhante.
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2. Começo da personalidade da PJ:
O começo da personalidade da PJ de direito publico depende da
própria lei que a criou.
No entanto, a personalidade da PJ de direito privado tem início a
partir do registro (inscrição) do seu ato constitutivo (art. 45, Código Civil).
Exceção: Algumas PJ de direito privado, além do registro do ato constitutivo,
necessitam de autorização ou aprovação do Poder Executivo (Ex.: cooperativas;
agências de seguro; instituições financeiras; bolsas de valores, etc.).
Obs.: Mas esta resposta não é pacífica. Parte da doutrina (minoritária), dentre eles o
prof. Fábio Ulhoa Coelho entende que a personalidade da PJ de direito privado
inicia-se a partir da elaboração dos seus atos constitutivos.
A Pessoa Jurídica pode sofrer dano moral?
Resposta: na prática a questão é polêmica. No entanto, o STJ firmou
posicionamento favorável (é possível), nos termos da Súmula 227 do STJ.
3. Princípio da separação patrimonial:
A pessoa jurídica é uma realidade autônoma, capaz de direitos e
obrigações, tendo, portanto, uma personalidade jurídica própria, ou seja,
comprando, vendendo, alugando, etc., que não se confunde com a personalidade
de seus sócios. Dessa forma, não se confunde o patrimônio da pessoa jurídica com
o de seus sócios.
Diante disso, há o que chamamos de “princípio da separação
patrimonial”, que não se encontra previsto expressamente na atual legislação civil,
porém, o princípio ainda existe.
4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (art. 50, CC)
A exceção à regra do “principio da separação patrimonial” é a
“desconsideração da personalidade jurídica”.
Como vimos, a pessoa jurídica é uma realidade autônoma, com
direitos e obrigações próprias, que não se confundem com a dos seus sócios.
Por esta razão, alguns sócios podem querer utilizar a pessoa jurídica
como “escudo” para à prática de fraudes e abusos. Para impedir esta prática foi
criada a “teoria da desconsideração da pessoa jurídica”, também conhecida
como “teoria da penetração”, no ordenamento jurídico brasileiro, onde o juiz
“penetrará” no patrimônio particular dos sócios visando coibir os abusos ou fraudes.
Esta medida deve ser utilizada com muita cautela, pois trata-se de
uma medida excepcional!
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Pelo Código Civil (Art. 50, CC) a pessoa jurídica somente poderá ter
a sua personalidade desconsiderada quando houver ABUSO DE
PERSONALIDADE.
O ABUSO DE PERSONALIDADE ocorre quando restar
caracterizado o “desvio de finalidade” ou a “confusão patrimonial”.
- Desvio de finalidade: ocorre quando a pessoa jurídica se desviar dos fins (objetivo
diferente do ato constitutivo para prejudicar alguém; mau uso da finalidade social)
que determinaram a sua constituição.
- Confusão patrimonial: mistura do patrimônio da PJ (empresa com o patrimônio
particular do sócio, causando dano a terceiro. Ex.: sujeito (sócio) começa a pagar
suas contas particulares com o capital da empresa.
Obs.: “Também é possível, no caso de confusão patrimonial, responsabilizar a
empresa por dívida dos sócios, por meio da desconsideração inversa ou
invertida. O exemplo típico é a situação em que o sócio, tendo conhecimento de
eventual separação ou divórcio, compra bens com capital próprio em nome da
empresa (confusão patrimonial). Pela desconsideração poderão ser alcançados pela
separação, fazendo com que o instituto seja aplicado no Direito de Família.” (Flávio
Tartuce)
A desconsideração não põe fim a pessoa jurídica, é apenas
medida processual, em que o juiz, na fase de execução do processo, inclui no polo
passivo os sócios da PJ.
Sobre tema, vale destacar a existência de duas teorias:
- Teoria MAIOR: tem que comprovar o abuso na personalidade, através de desvio
de finalidade ou confusão patrimonial, exatamente como previsto no art. 50 do CC.
Portanto, é aplicável ao Direito Civil a teoria maior.
- Teoria MENOR: exige menos requisitos, não sendo necessário provar o abuso de
personalidade da PJ, necessitando apenas da comprovação de insolvência da PJ
e a possibilidade de prejuízo da parte prejudicada. Essa teoria, segundo boa parte
da doutrina e jurisprudência, se aplica ao CDC!
- De acordo com regras do Direito Civil, o juiz, de ofício (sem provocação da
parte), pode desconsiderar a personalidade jurídica da PJ?
R.: NÃO, no direito civil há a necessidade de requerimento da parte ou do MP,
conforme prevê o art. 50, CC.
Obs.: quando se tratar de relação de consumo, aplica-se o CDC (art. 28, §5º) e não
o CC, sendo possível a desconsideração da personalidade jurídica da PJ de ofício e
sem motivação, pois, estaremos diante de uma relação não isonômica, onde o
consumidor é o vulnerável.
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- Na Justiça do Trabalho é possível a aplicação da desconsideração da
personalidade jurídica da PJ?
R.: Sim, mas a CLT não possui previsão sobre a desconsideração da personalidade
jurídica, portanto, a sua aplicação será por analogia.
- Utiliza-se analogicamente o Código Civil ou do Código de Defesa do
Consumidor para aplicar o instituto da desconsideração da personalidade da
PJ na Justiça do Trabalho?
R.: Aplica-se o CDC por analogia, pois, assim como o consumidor, o empregado é a
parte mais fraca da relação. Aqui também há possibilidade de desconsideração da
pessoa jurídica de ofício pelo juiz do trabalho, bastando a mera insolvência (teoria
menor).
Obs.: segundo entendimento jurisprudencial, em caso de abuso de personalidade, é
perfeitamente possível à desconsideração de pessoas jurídicas de direito privado
sem fins lucrativos (ex.: associação), conforme Enunciado 284 do CJF.
5. DOMICILIO DA PJ
As pessoas jurídicas de direito público interno possuem domicílio
especificado em lei: art. 75, do CC, art. 99 do CPC, e art. 109, §§ 1º e 2º da CF/88.
O domicílio da pessoa jurídica de direito privado é o lugar onde
funcionarem as respectivas diretorias e administrações, isto quando os seus
estatutos não constarem eleição de domicílio especial.
Se houver mais de um estabelecimento relativo a mesma pessoa
jurídica, em lugares diferentes, cada qual será considerado domicílio para os atos
nele praticados.