3 EXEGESE DE JONAS 4,1-11 3.1 O texto hebraico e sua tradução, notas filológicas e crítica textual Mas isto foi extremamente mau para Jonas 93 1a e ele ardeu em ira 94 . 1b Então ele rezou 95 a YHWH 2a e disse: 2b Ah! YHWH! Não era esta a minha palavra, estando em minha terra? 2c !" Por isso, me antecipei 96 , em fugir para Társis, 2d # # $ %& ’ ( ( pois sabia 2e # ’ que tu és um Deus de piedade e misericordioso, lento para a ira e rico em bondade 2f ) * )+ &+! # ’ , e te arrependes do mal. 2g ) E agora, YHWH, 3a # tira-me a minha vida 3b ! - ( . % porque é melhor a minha morte do que a minha vida. 3c , / ’ Disse YHWH: 4a 93 Cf. SWEENEY, M. A.,“Jonah”. In: the Twelve Prophets I. Collegeville, Liturgical Press, 2000, p. 328. 94 Cf. ALONSO SCHÖKEL., Dicionário Bíblico Hebraico-Português, Paulus, 2004 3 , p. 328. 95 Cf. - rezar - hiphil, o emprego deste verbo se faz nos capítulos 2 e 4 de forma paralela. No c.2 Jonas reza por estar angustiado e no c.4 Jonas reza por estar irado. 96 Cf.ALONSO SCHÖKEL, Dicionário Bíblico Hebraico-Português, p. 570.
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EXEGESE DE JONAS 4,1-11
3.1 O texto hebraico e sua tradução, notas filológicas e crítica
textual Mas isto foi extremamente mau para Jonas93
1a
e disse: 2b
Ah! YHWH! Não era esta a minha palavra, estando em minha
terra?
2c !"
2d # #$%&' ((
pois sabia 2e # '
que tu és um Deus de piedade e misericordioso, lento para a ira e
rico em bondade
2f
E agora, YHWH, 3a #
tira-me a minha vida 3b !-(. %
porque é melhor a minha morte do que a minha vida.
3c ,/'
Disse YHWH: 4a
Jonas havia saído da cidade, 5a &0
sentou-se ao oriente da cidade, 5b )1(
fez para si, ali, uma tenda, 5c '2,)(3
sentou-se debaixo dela, na sombra, 5d 45##(
até que visse 5e (
designou97 YHWH-Elohim um rícinio98
6a &%%) &
que cresceu sobre Jonas, para tornar-se sombra sobre a sua cabeça,
a fim de o livrar do seu mal
6b 4( 0
6c 3&%1 3
Designou Elohim um verme ao despontar a aurora no dia
seguinte
7a - 6 5 #)& 7
e este secou. 7c (
designou Elohim um vento oriental cortante99,
8b ( )%+ )&
e o sol feriu a cabeça de Jonas 8c ( (6*#
E ele desfaleceu100, 8d 8
e desejou com sua alma morrer 8e (. (+
97 Cf. ALONSO SCHÖKEL., Dicionário Bíblico Hebraico-Português, p.
383. 98 Cf. A tradução por rícinio é uma conjectura difusa e
aceita. BJ traduz por “mamoeira” que é uma espécie deste gênero;
ARA por “aboboreira”, que pertence ao gênero Curcubita,
constituindo arbustos. Ibn Ezra, comentador judeu do século XII,
propõe a hipótese de que a planta fosse uma “aboboreira”. TEB
manteve-se numa opção mais genérica e simplesmente traduziu por
“planta”. 99 Cf. O adjetivo aplicado a rûah, identificada com o
vento cortante do siroco, mostra a força deste vento, que faz
silenciar o homem. 100 Cf. ALONSO SCHÖKEL., Dicionário Bíblico
Hebraico-Português, p. 569.
DBD
é melhor a minha morte do que a minha vida.
8g /
Está bem que te irrites por causa do rícinio?
9b &%1 * /
Disse então YHWH: 10a
que não cultivaste, 10c 5# (
nem o fizeste crescer; 10d #$
que, filho de uma noite foi, 10e &5(
e, filho da noite, pereceu. 10f " &+
E eu não terei compaixão de Nínive, a grande cidade,
11a 9 ,+"
na qual existem mais de cento e vinte mil homens101,
11b 5 3 )#(5 :5 ( ( )"
que não sabem discernir entre a sua direita e a sua esquerda, e
animal numeroso?
11c 3 &5 ( 5 +
O aparato crítico da BHS do texto de Jn 4,1-11 não apresenta
nenhuma variante
textual ao Texto Massorético. Apenas, é proposto ao v. 8a a
variante (adjetivo
cortante da raiz ).
A LXX traz , “o Senhor”, pressupõe . Targ e a Vg
Domine, “Senhor”, amparam o Texto Massorético.
101O termo se encontra no infinitivo absoluto hiphil de tem aqui
uma função substantiva como sujeito (cf. 2Sm 1,4, “uma multidão”);
o seguinte antes do numeral aponta comparativamente à diferença
(“mais que”).
DBD
Na tradução da LXX a frase contém o complemento
“para Jonas”. Optamos pela tradução do texto hebraico, por estar
implícito que o
diálogo se faz entre YHWH e Jonas.
O termo é usado no infinitivo absoluto com significado
adverbial102; a
tradução Siríaca traz a forma , “justamente ou apenas”, Áquila
e
Teodocião traz , Vulgata “bem” todos trazem à tona o sentido melhor
do
que a LXX (“passionalmente”, “violentamente”) igualmente ao
Targum
como no contexto do v. 9 mostra especificamente. Consideramos que
o
Texto Massorético deve ser conservado.
- v.1:
A raiz que significa “agir mal103”, “ser um mau para ou diante de”,
na
forma verbal está bem atestada no Antigo Testamento com este
sentido, onde
algo desagrada ao homem104 ou desagrada a YHWH105.
- v.2:
A raiz verbal piel com o infinitivo deve ser entendido aqui como
um
verbo relativo com um significado adverbial “fazer algo
primeiro”106.
- v.3: Este substantivo !"refere-se somente a Jonas107.
- v.4:
O verbo no qal é rico em significados: “tramar”, “planejar”,
“reacionar”, “irritar-se”, “ser incapaz de ouvir”, “ser ciumento”.
Optamos por
“irritar-se”, mas é preciso levar em conta toda essa gama de
significados.
- v.8:
O significado da palavra( na BHS é provavelmente mais correto
se
levarmos em conta a tradução da LXX , ao invés do Targ #$ $
“gentil”, “calmoso”. Em IQH 7:4f a palavra é usada para descrever
“um vento de
tempestade hostil”, que coloca um navio em perigo. É melhor então
derivar a
102 Cf. BrSynt § 93d. 103 Cf.ALONSO SCHÖKEL., Dicionário Bíblico
Hebraico-Português. p. 622. 104 Cf. Gn 21,11 ; 1Sm 8,6 ; Ne
2,10;13,8. 105 Cf. Gn 38,10 ; 2Sm 11,27 ; 1Rs 16,25 ; 1Cr 21,7 ; Sl
106,32 ; Is 59,15. 106 Cf. Ges-K §§ 114n, 120a. 107 Cf. $% alma
como princípio de vida, cf. ALONSO SCHÖKEL., Dicionário Bíblico
Hebraico- Português, p. 443.
DBD
palavra de “escavar”, “cortar”, “esfaquear”. O adjetivo ( da raiz
verbal
significa “trabalhar a terra ou o metal” por isso, optamos por
“cortante”108.
- v.10:
Sobre o pronome relativo !; é uma construção mais rara de (cf. Ex
33,11;
Dt 25,2); “filho de uma noite” aqui descreve o “pertencer” de duas
noites
sucessivas que nascem e perecem, ao invés da “idade” de uma única
noite109.
- v. 11:
É uma pergunta com longa argumentação. O pronome interrogativo pode
ser
omitido em perguntas retóricas; o contexto, a ligação com a frase
anterior por
meio do e a modulação do discurso deixa claro que a frase é uma
pergunta110.
3.2 Delimitação e unidade textual: Jn 4,1-11
a) Delimitação
O texto de Jn 4,1-11 constitui o capítulo final do Livro de Jonas.
Portanto, a
parte posterior do texto está delimitada pela finalização do
próprio livro. Quanto à
delimitação em seu início (v. 4,1), já não é tão evidente. À
primeira vista o texto
de Jn 4,1-5 parece continuar a seção anterior (Jn 3,5-4,5) que se
compõe de duas
cenas: a primeira que tem seu início em Jn 3,5 estendendo-se até Jn
4,5 e refere-se
à conseqüência da atuação de Jonas na cidade de Nínive e a seus
habitantes; a
segunda em Jn 4,6-11 está voltada para a conduta de Jonas em
relação a Elohim-
YHWH.
Levando-se em conta a possibilidade de o verbo no Wayyiqtol
(v.1)
desempenhar a função adverbial de modo, que caracteriza certas
técnicas da
narrativa bíblica de começar novos relatos111, pode-se ver aí, a
introdução de uma
nova situação. Também o fato de não aparecer mais em 4,1-11 os
elementos da
seção anterior: Nínive, seus moradores e animais, a penitência, a
conversão, a
desistência do castigo e o perdão de YHWH tudo isto são indícios de
que se trata
108 Cf. ALONSO SCHÖKEL., Dicionário Bíblico Hebraico-Português. p.
708. 109 Cf. KOEHLER ; BAUMGARTNER., Syntactica. 7 e 8, 1967, VT 3,
p. 299-305. 110 Cf. MEYER., 33§111,2c 111 Cf. WOLFF, H.,
Dodekapropheton 3, Obadja und Jona, Biblischer Kommentar Altes
Testament, Neukirchen-Vluyn, 1977.
DBD
de uma seção autônoma. Somente Deus, Jonas e a planta movimentam o
episódio
de Jn 4,1-11. O texto de Jn 3,5-10 faz sentido e se encerra com o
episódio da
conversão dos ninivitas e do perdão de YHWH. Portanto, novos
personagens e
novas situações se apresentam.
Concluindo, o texto de 4,1-11 está delimitado anteriormente pela
seção 3,5-
10. A introdução de uma nova narrativa é exigência do próprio
relato, já que as
seções anteriores deixam entrever situações que requerem uma
finalização. A
ordem para a missão em Nínive fora executada. Contra toda a
expectativa, Nínive
fez penitência e se converteu. Deus, também se arrependeu do mal
que ameaçara
fazer-lhes e não o fez (Jn 3,10). E, diante desse desfecho, como
fica Jonas? É
exatamente sobre a reação de Jonas ao perdão concedido por YHWH aos
ninivitas
que se ocupará a nova narrativa.
b) Unidade
Embora, o texto de Jn 4,1 descreva a reação de Jonas para com YHWH
por
sua decisão de poupar a cidade, que precederá imediatamente a Jn
3,10, isto não
será razão suficiente para concluirmos que o capítulo 4 deve ser
ligado como uma
unidade literária com capítulo 3112. O capítulo 4 dará ênfase à
reação de Jonas para
a demonstração da misericórdia divina sobre os inimigos de Israel.
Anteriormente,
o livro narrava à tentativa de Jonas de evitar participar em um
processo no qual
ele esperava um resultado benéfico para os assírios. Agora que isso
aconteceu,
descobriremos o quão é odioso este resultado para Jonas. A ênfase
do capítulo 3
estava nos Ninivitas e na sua conversão. O foco do capítulo 4 irá
deslocar a reação
de Jonas e as lições que ele aprendeu a partir de YHWH. Nenhuma
menção é feita
a Jonas na perícope anterior (3,3 b-10). Agora ele é o personagem
central e
demonstrará toda a sua humanidade.
A perícope do capítulo 4 contém duas divisões, vv. 1-4, em que
Jonas
despeja toda a sua frustração em Deus; vv. 5-11, em que a lição do
rícinio expõe
Jonas em toda a sua pequenez. Ambas ocorrem na sequência da
pregação de
Jonas; a primeira quando Jonas está absolutamente certo de que a
cidade não vai
ser punida, e por ultimo, enquanto os "quarenta dias" ainda estão
em andamento e
112 Cf. STUART, D., Hosea-Jonah, Word Biblical Commentary,
Publishers Since, Nashville, 1987, p. 409.
DBD
Jonas ainda espera algum juízo para Nínive. Os vv. 5-11 funcionam
como uma
seção final, por ser um flashback de um tempo quando a tentativa
de
arrependimento dos Ninivitas ainda não era evidente.
A forma da perícope está viva em uma sensacional narrativa
histórica,
continuando, o estilo didático que caracteriza o livro como um
todo. Há uma
concentração um pouco densa nos diálogos deste capítulo. Em um
primeiro
momento, Jonas e Deus conversam indo e voltando. Este método de
narração
permite que o ouvinte - leitor aprenda em primeira mão, em vez de
adivinhar.
Jonas expõe suas próprias idéias e atitudes, egoísta e incoerente,
bem como as
razões de Deus que por suas ações vão entrar em contradição com os
desejos de
Jonas. Tudo está finalmente explicado ao ouvinte-leitor, de modo
que o livro
acaba não deixando qualquer dúvida quanto à sua mensagem: Deus tem
todo o
direito de mostrar a sua misericórdia para todas as nações e para
todos os povos, e
nós (como Jonas) não temos direito de pensar que alguns são menos
merecedores
do que outros desta misericórdia.
3.3 Estrutura de Jn 4,1-11
A estrutura da passagem pode ser descrita da seguinte forma:
A irritação de Jonas e a resposta de YHWH vv.1-4
Introdução narrativa .. v.1
Confissão de Jonas e a sua insatisfação com YHWH v.2
Jonas deseja morrer v.3
Uma lição de YHWH vv.5-11
A história do rícinio vv.5-7
Jonas deseja morrer v.8
A teimosia de Jonas e a explicação de YHWH vv.10-11
A) A irritação (4,1.4.9)
A oração do capítulo 4 não possui o mesmo estilo da oração do
capítulo 2.
Enquanto Jonas está angustiado no ventre do peixe, o autor introduz
a oração de
DBD
Jonas: “Rezou Jonas a YHWH, seu Elohim, das entranhas do peixe”
(cf. Jn 2,2), a
oração seguinte é introduzida com rapidez e brevidade “Rezou a
YHWH
dizendo”. O quadro desta oração é distinto, é dado pelo verso de
transição em 4,1
“Mas isto foi extremamente mau para Jonas e ele ardeu em ira. Jonas
“ardeu”,
expressão equivalente a “irritado”. Esta segunda oração se faz num
clima de
irritação, que revela-se na pergunta de YHWH ao término das
palavras iniciais de
Jonas: (* /) v.4 e antes das palavras finais do próprio YHWH (/ *
)
seguida da resposta de Jonas ( /) v.9.
B) Palavras e gestos de Jonas (2-3.5).
Jonas fala empregando 39 vocábulos. Segue-se uma pergunta de
YHWH
sobre sua ira e Jonas responde com uma série de gestos: sai e se
senta, constrói
uma cabana e senta-se.
O verbo é empregado num jogo de palavras com o substantivo
&,
mostrando um duplo propósito da planta: providenciar a sombra e
livrar Jonas do
mal.
O verbo qal aparece por duas vezes no capítulo 4 com o uso
consciente
da linguagem. Em 4,2 (# ) Jonas mostra conhecimento e intimidade
com o seu
Deus, afirmando se tratar de um Deus justo e misericordioso e em
4,11 (' %)
YHWH poupa a população por sua ignorância.
O verbo ( qal é usado com diversos sujeitos, conservando sua
significação, com um emprego refletindo sobre o outro, ele aparece
em 4,5 (3 )
quando Jonas faz para si uma cabana para ficar a espera da
destruição de Nínive.
Este verbo piel (v.2) significa uma das chaves estruturais do
livro: a
antecipação dos acontecimentos. Jonas antecipa-se à misericórdia de
Deus113
C) Gestos e palavras de YHWH (4,6-8.10-11).
Jonas falou e fez gestos. YHWH faz gestos e fala. Aos gestos de
Jonas
YHWH responde com três gestos iniciados com o mesmo verbo (&)
que aparece
três vezes em 4,6.7.8, designando o arbusto, um verme e um vento
oriental. A
pergunta inicial sobre a ira de Jonas é repetida, seguida por uma
resposta; e
YHWH fala, empregando 39 vocábulos igualmente a Jonas. 113 Cf.
MAGONET, J., Form and Meaning, p. 88.
DBD
A raiz do verbo - subir qal e fazer subir – hiphil é
cuidadosamente
empregada, cada emprego com um sujeito diferente. O mal dos
Ninivitas sobe,
Deus faz Jonas subir de sua descida, o arbusto sobe sobre Jonas, a
aurora sobe,
havendo um jogo de sonorização entre os vocábulos do capítulo 4,6
e
4,7 #114.
O verbo hithpael (v.6) produz um jogo de palavras e uma oposição
com
a raiz (v.7).
3.4 Unidade redacional
Ao estudo da unidade literária de Jn 4,1-11 se sobrepõem algumas
questões:
a) A duplicação da solução para a sombra que cobre a cabeça de
Jonas:
Jonas constrói uma tenda e Deus faz crescer a planta. Algumas
tentativas de
resolução: glosa? Reminiscência de uma tradição diferente que o
autor não quis
eliminar?
b) A presença da diversidade nos modos de nomear Deus: em Jn
4,1-5,
YHWH; em 4,6 ) ; em Jn 4,7-9, )e em Jn 4,10-11, .
Estas questões não chegam a perturbar a unidade literária; não são
tensões
que chegam à contradição flagrante. O primeiro caso não constitui
nenhum
problema sério; segundo Alonso Schökel no contexto atual ele também
tem
sentido. Mais obscuro é o v. 4,5 ao lado do v. 4,6. O v. 4,5 que
parece melhorar
após o v. 3,4 onde parte do problema desaparece115. Atualmente se
impõe a
tendência de conservar o v. 4,5 no seu lugar atual, limitando-se a
traduzir 0 pelo
verbo na conjugação mais-que-perfeito (“havia saído”), em lugar da
conjugação
no modo perfeito (“saiu”). Quanto à diversidade dos nomes dados à
Deus,
provavelmente, seja devido a simples questão estilística e ocorre
em outras seções
).
Cf. HALPERN-FRIEDMAN.,Composition and paronomasia in the Book the
Jonas, HebAnR
4, 1980, p. 86. 115 Cf. ALONSO SCHÖKEL; SICRE DIAZ. Profetas,
Grande Comentário Bíblico, Paulinas, 1991, p. 1039.
DBD
literária da seção de Jn 4,1-11.
3.5 Comentário exegético de Jn 4,1-11 3.5.1 A irritação
(4,1.4.9)
v.1 Mas isto foi extremamente mau para Jonas e ele ardeu em
ira.
v.4 Disse YHWH: Está bem que te irrites?
v.9 Disse Elohim a Jonas: Está bem que te irrites por causa do
ricínio? Ele disse:
Está bem que me irrite até a morte.
v.1
O substantivo e o adjetivo juntos ##desempenham papel preponderante
no
desenvolvimento temático do livro. Em 3,8.10 o termo é usado para
o
comportamento pecaminoso dos cidadãos de Nínive, do qual eles se
afastam e, em
3,10 é a palavra para o desastre que YHWH havia ameaçado, mas
não
implementado116. O sujeito desta frase está contido em 3,10 onde
explica o porque
Deus retirou sua palavra de julgamento117. O capítulo 4 fica agora
desenhado e
determinado pela pergunta se ##de Jonas pode ser superado como o
##dos
ninivitas e o ## de Deus (cf. 4,2). No versículo 1 esta
expressão,
especificamente, significa desaprovação da decisão de Deus ( cf.
3,10)118
Sintaticamente, a primeira sentença tem ligação maior com a
sentença que a
precede do que com o princípio de toda a cena. O sujeito da
sentença pode ser
nenhum dos dois, nem Jonas, nem ##temos que olhar o evento ocorrido
em Jn
3,10119. YHWH revoga o desastre. Qual a importância de qal quer
dizer “ser
mau, nocivo”? Sem um sujeito explícito o objeto interno é somado ao
9 ##,
“grande dano” que vai ser interpretado como uma intensificação do
estado de
116 Cf. WOLFF, H., Dodekapropheton 3, p. 166. 117 Cf. DAVIES, G.
H.,“The uses of Qal and Meaning of Jonah 4:1 (manuscript). 118
Semelhante a Neemias 2,10. 119 Cf. Jn 3,10 “E YHWH viu as suas
obras, como se converteram do seu mau caminho, e Deus se arrependeu
do mal que tinha dito lhes faria e não o fez”.
DBD
desgosto em que se encontra Jonas. Isto, apenas faz justiça a
escolha das palavras
pelo narrador.
A preposição ! tem o seu uso em combinação com qal; “mau” $
5 que são modos expressados no Antigo Testamento120, e na forma
$como
objeto interno, temos também dois casos no Antigo Testamento, em Ne
2,10 e Ne
13,8. Por outro lado, ! sublinha um propósito de movimento121. Se
também
tem o significado de mal ou parecer mau, também pode pretender
trazer o mal,
(como $ em 2Sm 20,6; Sl 106,32), este significado poderá ser
aplicado junto a
preposição !. Esta interpretação remete ao fato de que o objeto
interno admite a
palavra dando ênfase por três vezes em 3,8.10. Embora o sentido
literal vai
variar em suas combinações, com Nínive, YHWH e Jonas, tendo
vários
significados como maldade, desastre e desgosto, o significado para
"prejudicará" é
compartilhado por todas as combinações. Tanto a violência de
Nínive, quanto a de
YHWH apontam para o desastre. Quando Nínive e YHWH se voltam para
longe
das suas intenções, isto causará um mal terrível para Jonas. O
profeta é,
especialmente, obcecado pelo pensamento sobre a maldade de Nínive,
agora
YHWH retira a ameaça do desastre. Assim, a palavra chave repetida
não faz
acentuar somente a oposição entre Jonas e o julgamento Divino; isto
também se
tornará uma tensão entre Jonas e Nínive, que terão seus papéis
invertidos. Isto
demonstra que a misericórdia dada por YHWH à Níniver traz a “grande
maldade
em Jonas” trazendo um tom para narrativa dramático e
satírico122.
O verso 1b descreve o resultado do verso 1a.A expressão elíptica só
diz que
"e ele ardeu em ira", mas, esta é umalembrança implícita de)]*como
sujeito de
: a raiva (bufando = nariz) dele esquentou-o. Jonas estava com
tanta raiva que
saía “fogo por suas ventas”. Esta oração também é de transição,
para entendermos
a expectativa do v.9b e seu cumprimento no v.10: Deus se voltaria
para longe das
cinzas quentes, incandescente da ira de Jonas. Isto enfatizará,
imediatamente, a
revolta de Jonas contra o resultado previsto na cena em Nínive
despertando a
expectativa do leitor, embora o problema principal seja até agora
ligado ao
emocional.
120 Cf. Gn 48,17; Is 59,15; 1Cr 21,7. 121 Cf.BrSynt § 108ª. 122 Cf.
FRETHEIM, T., The Message of Jonah, p. 232.
DBD
v.4
A acusação que Jonas sofre de que é insensível à desgraça, pode ser
vista de
uma outra forma, como uma grande explosão de sentimentos. O
narrador faz
YHWH responder de forma concisa, interpretando a torrente de
palavras como ira,
de acordo com v.1 indaga, brevemente, se a irritação de Jonas é
apropriada.
Neste caso, a partícula + não tem um significado interrogativo;
pode ser
ocasionalmente exclamativa123. Porém, esta interpretação depende da
suposição de
que o v.4 não se opõe as palavras do v.5.Mas, o paralelo preciso do
v.4 com o v.9
tende a ser visto como uma questão para a qual também há uma
resposta.
Portanto, devemos entender melhor o v.4 como uma pergunta e, ver o
v. 5 como
uma substituição da resposta124. Se a pergunta de YHWH ecoa como a
formulação
usada por Caim em Gn 4,6, sendo uma peça sobre a inveja de Caim por
Abel, não
está completamente esclarecido. Em todos os eventos, a reação
inicial de YHWH
é de resignação para com o rebelde Jonas, sua bondade para tirar
Jonas do seu
mal-humor e levá-lo a uma auto-análise125.
O diálogo será interrompido, pois Jonas não responde à pergunta
de
YHWH, o seu silêncio pode ser considerado como resposta?
v.9
O diálogo reabre, mas a resposta de Jonas é brutal e negativa. Nega
a sua
vida e mais uma vez nega a justa resposta para a pergunta que lhe
foi feita. Jonas
continua fugindo de YHWH.
Quando YHWH recomeça, palavra por palavra, sua pergunta,
igualmente,
feita no v. 4, Jonas pode relacionar a pergunta a algo diferente:
ela é provocada
pela ira de Jonas sobre o arbusto. A mesma pergunta feita por YHWH
a Elias em
1Rs 19,9.13 deve ser avaliada diferentemente em Jonas126. O Livro
de Jonas passa
a ter uma nova percepção por meio do paradigma da sabedoria.
Anteriormente,
Jonas estava indignado porque YHWH tomou partido de Nínive. Agora,
é a auto-
compaixão que incita sua indignação. Ao mostrar Jonas pronto para
morrer por
123 Jöuon traduz: “Você está de fato com raiva!”; cf. JÖUON, P., A
Grammar of Biblical Hebrew, Tradução de Muraoka, Pontificio
Istituto Biblico, 1993. 124 Cf. RUDOLPH. W., Joel-Amos-Obadja-Jona.
In: Kommentar zum alten Testament. Gütersloh: Gerd Mohn, 1971, p.
328. 125 Cf. MAGONET. J., Form and Meaning, p. 192. 126 Cf.
FEUILLET, F., Les sources du livre de Jonas , RB 54, 1947, p.
168.
DBD
não haver mais sombra, o tom satírico expõe o fato de que sua
primeira expressão
de relutância, também, estava profundamente enraizada em
auto-compaixão, não
em uma preocupação verdadeira sobre a validade da palavra e da
justiça de
YHWH. Anteriormente lhe foi perguntado se “era certo estar irado”
em face da
bondade de YHWH no que se refere à cidade de Nínive; agora lhe é
perguntado a
mesma coisa, no contexto da destruição por YHWH do que o havia dado
prazer
pessoal.
Como Jonas responderá esta nova pergunta? Dizer “não” seria admitir
a
injustiça de sua ira. Pois, apesar de tudo, ele não tinha
reclamação alguma sobre a
sombra da planta: a alegria que ela lhe deu era um presente. Mas ao
concedê-lo
ele teria que, simultaneamente, admitir que YHWH estivesse livre
para perdoar
Nínive. Por outro lado, se ele insistisse em seu direito de estar
irado por causa da
planta, então teria de clamar pela bondade duradoura de YHWH para
consigo, e
mal poderia negar Nínive. Logo, em seu jogo de sabedoria com o
rebelde Jonas, o
Criador tornou-se o tutor irrefutável de Jonas, mesmo que sua
resposta à pergunta
seja “sim” ou “não”127.
Jonas mantém que sua ira está certa “ao ponto de morrer”. ",- como
um
superlativo que diz mais do que “o mais extremo”; como a palavra
final de Jonas
aponta novamente para seu desejo de morrer128 (cf. Jn 4,3.8). A
última pergunta de
YHWH, embora ele a tenha respondido, o forçou a admitir a compaixão
gratuita
de YHWH e com esse Deus ele não quer viver. Paradoxalmente, Jonas
nem quer
viver sob o domínio da gratuidade da graça (cf. Jn 4,1-3), nem está
preparado para
viver sem o domínio de YHWH (cf. Jn 4,7-9). Se viver significa
viver com um
Deus que está livre para misericórdia, então ele escolhe a
separação final: morte.
Ele pensa que, na terra do esquecimento, a confissão da fé que ele
cita no
versículo 2 não seria mais conhecida (cf. Sl 88,10-12), embora YHWH
já o
tivesse salvado da morte antes (cf. Jn 1,17ss). Este é o impasse
insensato no qual
Jonas está envolvido ao longo de seu protesto contra o direito da
soberania de
YHWH de ser compassivo e misericordioso.
127 Cf. FRETHEIM, E.T., Jonah and Theodicy, ZAW 90, 1978, p.
227-237. 128 Cf. THOMAS, W. D., A consideration of Some Unusual
Ways of Expressing the Superlative in Hebrew. VT 3, 1953, p.
220.
DBD
As palavras e gestos de Jonas: (4,2-3.5)
Então ele rezou a YHWH e disse: Ah! YHWH! Não era esta a
minha
palavra, estando em minha terra? Por isso, me antecipei, em fugir
para Társis,
pois sabia que tu és um Deus de piedade e misericordioso, lento
para a ira e rico
em bondade e te arrependes do mal. E agora, YHWH, tira-me a minha
alma
porque é melhor a minha morte do que a minha vida. Jonas havia
saído da
cidade, sentou-se ao oriente da cidade, fez para si, ali, uma
tenda, sentou-se
debaixo dela na sombra, até que visse o que aconteceria a
cidade.
v.2
Na oração que segue, Jonas revela o problema que lhe aflige. A
oração é
introduzida como um lamento.A oração dos marinheiros pagãos em 1,14
começa
exatamente o mesmo modo: !"./0. Com uma surpreendente arte
narrativa, o
espetáculo que o escritor agora põe em discussão nos leva a
pergunta geral que
está por de trás da novela como um todo. Ele introduz um
retrospecto para a
primeira cena quando Jonas recebe o chamado ("estando sobre a minha
terra?");
Jonas se lembra do plano de YHWH sendo o motivo da sua fuga para
Társis. Os
pensamentos do profeta permanecem escondidos do leitor. Somente
quando o
resultado da pregação em Nínive estiver relacionado com o
conhecimento prévio
que Jonas tem de YHWH, ele divulga o que foi dito no momento da sua
partida.
Agora o retrospecto deste momento terá efeito dramático ao
questionar tudo que
YHWH fez com Jonas130.
A pergunta demonstra a arrogância de Jonas “Não era esta a
minha
palavra, estando sobre a minha terra?”. Ao mesmo tempo revela o
fato que o
profeta termina em desespero total. Se o narrador percebeu isto, ou
se ele não o
fez, a pergunta $ é reminiscente do Êxodo 14,12, é a mesma
pergunta
posta a Moisés no deserto pelos israelitas depois da perseguição
ocorrida pelos
egípcios: $ , “Não é esta a palavra que te temos falado no Egito,
dizendo:
129 Cf. HARDMEIER. C., Kritik der Formgeschichte, Heidelberg, 1975,
p. 190. 130 Cf. LANDES. G., The Kerygma of the Book of Jonah,
Interp 21, 1967, p. 13.
DBD
Deixa-nos que sirvamos aos egípcios? Pois que melhor nos fora
servir aos
egípcios do que morrermos no deserto”131. Não havia nenhuma
sepultura no
Egito132? Em Jonas, também, a pergunta leva ao pedido de morte. Em
Êxodo 14 o
desespero de Israel está relacionado com o medo da morte do povo no
deserto.
Nosso Jonas desespera por seu chamado e por sua missão.
Com relação à Ex 34,6 (&+! )+ ) e a ausência do nome de YHWH
na
afirmação de Jonas, o simples uso de coaduna bem com a presença do
profeta
fora de sua pátria. Jonas mostra conhecimento e intimidade com o
seu Deus,
afirmando se tratar de um Deus justo e misericordioso e, em 4,11,
YHWH poupa
a população por sua ignorância. Esse versículo explica a atitude de
Jonas, pois o
verbo (' ) saber sustenta a narrativa. Jonas sabe, conhece a YHWH
e, sendo
sabedor de sua misericórdia, o profeta foge. O narrador mostra na
contradição de
Jonas todo o seu sarcasmo.
É o próprio Jonas que descobre a razão especial (1“porque”) para o
seu
desespero quando ele citar o seu "conhecimento", # "pois sabia",
como uma
afirmação de alguém que está totalmente seguro de si. "Quem sabe?”
em Jn
3,9 que tem um sentido de esperança. Jonas sabia o que Nínive nunca
soube: que
YHWH é um Deus misericordioso.Mas, desde que ele não quis admitir o
seu
conhecimento, o que ele já havia feito anteriormente ao reconhecer
YHWH como
Criador do céu, do mar e da terra (cf. Jn 1,9), deixando neste
momento de ouvir
YHWH; e só lhe resta o desejo de morte.
A citação de Jonas do elogio de Deus usado em sons de adoração soa
de
modo sarcástico, desde que, limitada para servir como declaração de
sua raiva
contra YHWH. Isto fica mais claro com o uso do predicado. &+!
significa Deus
que se inclina com bondade aos humildes e necessitados133. )+
significa a
providência bondosa, aquela que protege e sustenta vida como uma
mãe134. A
expressão ) * “lento para a ira” se torna evidente em Jonas, porque
o elogio
de Deus se torna uma acusação.Este será o primeiro momento em que a
fórmula
litúrgica toca o contexto narrativo135.O “calor da ira de YHWH"
(cf. Jn 3,9) é
131 Cf. MAGONET. J., Form and Meaning, 1973, p. 137. 132 Cf.
MAGONET. J., Form and Meaning, 1973, p. 134. 133 Cf. ZIMMERLI. W.,
Studien zur alttestamentlichen Theologie und Prophetie. München:
Kaiser, 1974, p. 367. 134 Cf. JEPSEN. A., Der Herr ist Gott,
p.261-271. O autor usa o termo !! como ventre materno. 135 Cf. Ex
34,6; Sl 86,15; 103,8; 145,8; Ne 9,7; Jl 2,13.
DBD
substituído pela fórmula litúrgica "lento na ira", isto é, que
“prolonga-se por longo
tempo”136. A frase significa o adiamento paciente da ira que foi
merecida, mas
YHWH não destrói o culpado (cf. Is 48,9). Em Jeremias, a paciência
de YHWH é
demonstrada com os seus perseguidores (cf. Jr 15,15).No contexto
destas idéias,
o elogio da paciência divina nos lábios de Jonas se torna uma
repreensão137. É uma
característica da fórmula litúrgica não incluir elementos de
limitação ao
comportamento de YHWH para com Israel. Isso é verdadeiro ao final
do livro,
quando Jonas afirma o seu “conhecimento”. Em Jonas 3,4 é enunciado
que vai
significar a revogação compassiva e que significará a destruição
que foi
proclamada.O mesmo componente será, somente, encontrado em Joel,
mas o que
é proclamado à Jerusalém no Livro de Joel agora será aplicado a
Nínive138. Em Ex
34,6 e no Sl 86,15 !2 , indica a fidelidade de YHWH e é
interpretada no mesmo
sentido de misericordioso e piedoso como no Sl 103,8 e no Sl
145,8139.Mas, em
Joel e Jonas está relacionado ao oráculo de juízo que anteriormente
foi
proclamado, mas que YHWH em sua misericórdia, deixou de
implementar140,sto
expõe a razão para o desespero de Jonas. YHWH fundamenta a
repreensão.
YHWH não cumpre a palavra de juízo, pelo contrário, por sua
misericórdia põe ao
lado de Israel seus inimigos impiedosos.Desta maneira, Jonas adere
as palavras
proferidas pelo povo com quem Malaquias discute (cf. Ml 3,14
“Inútil é servir a
YHWH”).
v. 3
A perda de certeza da destruição tem um resultado auto-destrutivo
para
Jonas, ele prefere morrer do que viver141. O uso técnico para
expressar essa
vontade tem a ver com uma citação explicita de 1Rs 19,4142. O
profeta sabe que a
136 Cf. SAUER. G., The dawn of world redemption, THAT 1, p.
220-224. 137 Cf. ZIMMERLI. W., Studien zur alttestamentlichen
Theologie und Prophetie. München: Kaiser, 1974, p. 374. 138 Cf.
SASSON, J. M., Jonah. Anchor Bible 24, 1990, p. 282. 139 Cf. Sl
103,8 “Misericordioso e piedoso é YHWH; longânimo e grande em
benignidade”; Sl 145,8 “Piedoso e bom é YHWH; Ne 9,17 “Oh! YHWH
perdoador, clemente e misericordioso, tardio em irar-te, e grande
em beneficência, tu os não desamparaste”. 140 Cf. SCHMIDT. L., De
Deo: Studien zur Literarkritik und Theologie des Buches Jona, ZAW
143, 1976, p. 102. 141 Cf. HEINRICH. K., Parmenides und Jona, 1966,
p.108. Sobre esta questão, cf. BICKERMANN. E., RHPhR 45, 1965,
p.339. Diz: “A penitência dos gentios será a destruição dos
judeus”. 142 Cf. MAGONET. J., Form and Meaning, p. 75-76.
DBD
penitência dos gentios será um desastre para o povo de Israel. A
expressão # , “e
agora” introduz o resultado: ele implora para morrer 143.Não há
nenhum equivoco
no fato do narrador colocar palavras da tradição de Elias na boca
de Jonas144,
especialmente, depois do v.8, feita uma leitura paralela com 1Rs
19,4, há chances
de ouvir sobre a marcha do dia (cf. 1Rs 19,4 e Jn 3,4) e sobre os
40 dias e noites e
em 1Rs 19,9 seguirá um grande diálogo, assim como em Jonas145. É
com ironia
que a oração de Elias foi escolhida. Elias está sofrendo
perseguição; Jonas sofre
por um sucesso obtido que ele não quis ter. Elias se vê como sendo
“não melhor
que seus antepassados”, Jonas sofre com a desaprovação de YHWH.
Jonas se
desespera porque YHWH operou a justiça (cf. Jn 4,9)146. A
declaração “porque é
melhor a minha morte do que a minha vida” é uma reminiscência de um
Israel
desesperado no Êxodo que achava que a escravidão e a morte no Egito
eram
melhores do que morrer no deserto (cf. Ex 14,12)147. Para Jonas, o
problema da
validade da palavra e da justiça divina, se tornou um problema
existencial.
Observa-se uma notável mudança, por um lado, o fato do
arrependimento de
Nínive, como a condição prévia para a misericórdia de YHWH (cf. Jn
3,8-10)148,
que não passa pela cabeça de Jonas; por outro lado, seu próprio ego
(“eu” aparece
9 vezes no v.2) passa para o primeiro plano quando se trata do seu
próprio
tormento.
v.5
A tradição da LXX lê (“na sombra”)149, isto não nos permite
ver
& como secundário, fazendo desta a solução para os pares
mínimos de Jn 4,6b150.
O verbo – sentar-se - qal, o emprego deste verbo nos traz uma
contraposição. Enquanto o rei senta-se sobre as cinzas, em Jn. 3,6
((); em Jn.
4,5 ((), Jonas senta-se ao oriente da cidade, faz uma cabana e
senta-se a sua
sombra.
143 Cf. Gn 3,22; 47,4; Am 7,16; Ml3,15ss. 144 Cf. 1Rs 19,4 - (.%#
“Agora YHWH, tira-me a vida”. 145 Cf.FEUILLET. A., Le Source, RB 54
, p. 168. 146 Cf. MAGONET. J., Form and Meaning, p. 124;201. 147
Cf. FEUILLET. A., Sources du livre de Jonas, p. 166. 148 Cf. WOLFF.
W., Obadia and Jonah, p. 168. 149 Cf. Ges-K §§ 114n, 120a. . 150
Cf.COHN, G. H., Book of Jonah, p. 18.
DBD
O uso técnico & qal tem emprego neutro e reflete um novo tipo
de fuga de
Jonas, quando YHWH o questiona sobre a razão de sua ira e, o
profeta não
responde. De modo que possa trazer a lição direta de YHWH a Jonas,
o narrador
tem de, em primeiro lugar, interpolar o fato de que Jonas já tinha
há muito, saído
da cidade, pareceria ser imediatamente após ele ter cumprido seu
dever, em Jn 3,4
e havia sentado ao oriente151 em uma cabana agradável que havia
feito para si;
enquanto o rei de Nínive havia se sentado na poeira152. O propósito
da atitude de
Jonas é então enfatizado: para que ele pudesse esperar “à sombra” e
sem pressa,
até ver o que aconteceria à cidade. À luz do v. 4, nos permite ver
uma resposta à
pergunta de YHWH153. Sem usar palavra alguma, sua atitude é uma
resposta
desafiadora: devemos ver se minha ira é justificada ou não! Ele
mostra seu
desdém por YHWH ao esperar pela mudança “na cidade” ao invés de
examinar a
si mesmo. O v.5 é a terceira menção “à cidade”. Em sua opinião
desaprovadora, é
na cidade que toda a atenção de Jonas está concentrada. Irá a
cidade em breve ter
uma recaída de sua própria maldade? E irá YHWH intervir depois de
tudo? Ele
está determinado a “ver” algo diferente do que YHWH “viu”. No fluir
da
narrativa, não é meramente o v.5 que é indispensável para a
preparação para os
vv.6ss; o v.5 é igualmente importante como uma reação ao v. 4. De
acordo com a
história como a temos, até o fim do v.5, Jonas em sua teimosia
insistente,
responde a gentil indagação de YHWH (v.4) somente com o oposto
da
concordância de poupar Nínive.
Designou YHWH-Elohim um rícinio, que cresceu sobre Jonas, para
tornar-
se sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu mal.
Alegrou-se Jonas pelo
151 Cf. O termo "3", que significa “oriente”, “pôr-se diante”.
Jonas não responde a YHWH, mas escolhe um lugar e toma uma posição
específica em contraposição ao que ressoou três vezes ao seu
ouvido, cf. Jn 1,2.6; 2,2. 152 Cf. O termo "3"que significa , além
de “oriente” , “tempo antigo”, “pôr-se diante”. Jonas não respondeu
a YHWH, mas escolheu um lugar e tomou uma posição estratégica.
Existe uma contraposição no emprego deste verbo. Enquanto o rei
senta-se sobre as cinzas no c. 3,6 ( !4%) , no c. 4,5 ( !%)Jonas
senta-se ao oriente da cidade , faz uma cabana e senta-se a sua
sombra. 153 A frase !5 "+ até que visse faz referência a Jonas em
4,2 que confessara quem é YHWH. Enquanto YHWH vê as boas obras dos
Ninivitas em 3,10 ($%6%), Jonas senta-se para constatar o destino
que caberá à cidade.
DBD
ricínio uma grande alegria. Designou Elohim um verme ao despontar a
aurora no
dia seguinte e feriu o rícinio, e este secou. E então, ao surgir do
sol, designou
Elohim um vento oriental cortante e o sol feriu a cabeça de Jonas.
E ele
desfaleceu e desejou com sua alma morrer. Então disse: é melhor a
minha morte
do que a minha vida. Disse então YHWH: Tu te compadecer-se do
rícinio, que
não cultivaste, nem o fizeste crescer, que filho de uma noite foi e
filho da noite,
pereceu. E eu não terei compaixão de Nínive, a grande cidade, na
qual existem
mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a
sua direita e a
sua esquerda, e animal numeroso?
v.6
O verbo hithpael (v.6) produz um jogo de palavras e uma oposição
com
a raiz (v.7). Esta raiz verbal depende do emprego do 7#e)em
4,3.8.9, que
com a expressão “Não foi esta a minha palavra ao estar eu em minha
terra”
contém uma citação implícita de Ex 14,12.
YHWH continua a série de ações como sujeito predominante.
Jonas
continua sendo o alvo destas ações. Devemos observar os diferentes
nomes
divinos como sujeitos do mesmo verbo em Jn 2,1; 4,6. 7. 8. YHWH não
abandona
Jonas, com seu olhar irado em direção à Nínive, nem tampouco, segue
seu olhar.
O que ele faz, no entanto, é deixar de respondê-lo com palavras.
Assim como em
Jn 1,17, YHWH “enviou” um grande peixe, agora, ele envia uma
planta. A
transição a esta atitude educativa concorda com a retirada do uso
do nome
“YHWH”. O sujeito & “enviou”, no v.6 é ) “YHWH Elohim”; no
v.7
) “o Elohim” [ou “o Senhor (no controle está)”], no v. 8 ) “Elohim”
(e de
novo no v. 9). Podemos supor que o narrador estava trabalhando em
cima de um
modelo próprio. A mudança no nome de YHWH é feita com uma
intenção
teológica particular, e que )[] “[o] Elohim”, aponte ao Deus
escondido, na
forma como Ele age com os Gentios154. O capítulo primeiro, no
entanto, fala
contra esta visão. É mais plausível supor que o narrador usou
material já pronto.
Ao fazê-lo, ele não faz distinção perceptível entre ) “Elohim” e )
“o
154 Cf. BOMAN. T., Jave og Elohim i Jonaboken, NTT 37, 1936,
p.159-168; cf. ROSIN. H, The Lord is God, 1956, p. 6-33.
DBD
Elohim”. O nome ) , “YHWH Elohim” tem um significado de
transição155.
Ele também deveria ser lembrado na primeira menção do sujeito
divino de &
“enviar”, na cena final, na qual a fórmula em 1,17 é &, “YHWH
enviou”.
Novamente, o texto demonstra o contraste entre “descontentamento” e
“alegria”,
fala do desequilíbrio emocional de Jonas que passa do
descontentamento para a
alegria e depois volta ao descontentamento. Jonas apresenta
sentimentos opostos e
extremos, ele exterioriza toda a sua humanidade. A locução “grande
alegria” é
comum no Antigo Testamento em profusão pública156. Aqui estamos
diante de um
paradoxo, Jonas faz festa sozinho, pois YHWH não recebe
nenhum
agradecimento.
Se o rícinio foi escolhido como equivalente ao zimbro sob o qual
Elias se
sentou e pediu pela morte (cf. I Rs 19,4), isto requer alguma
consideração, em
vista da ligação entre o v.8 e o mesmo texto157.
Em toda a probabilidade, &%1 é o ricinio communis (logo
),
embora a LXX traduza por ( ) e S é possível que tenha em mente
a
garrafa de cabaça, e ( ) e Vg (herdera) hera. Uma vez que o rícinio
cresce
rápido, dá sombra em abundância através de suas folhas em forma de
prato, ela
também morre facilmente e era encontrada facilmente às margens do
Jordão158.
Esta é a forma pela qual esta planta incomum foi conhecida em
tempos do pós-
exílio. YHWH a permite crescer ao longo do Jordão de modo a dar-lhe
sombra. O
fato da sombra do rícinio ser mencionada logo após a sombra da
cabana (v.5c)
pode ser devido à combinação de diferentes tradições. Em todos os
eventos que se
seguem, o narrador está agora pensando somente na sombra que
YHWH
deliberou. Ela foi feita para a cabeça de Jonas, que está
particularmente
precisando de uma. Não há sugestão de que a sombra feita pela
cabana teria sido
insuficiente, especialmente quando não era mais novidade. Das duas
frases
infinitivas que estão assindeticamente (sem conectivo) lado a lado,
a primeira é
quase indispensável à seqüência nos vv.7-9. A segunda retoma ao
v.1a, logo
unindo o jogo didático e ilustrativo de YHWH na ocasião que deu
instrução
155 Cf. WESTERMANN. C., Commentary, Genesis 1-11 and 1Chron 17:16,
p. 198-199. 156 Cf. Jz 9,19; 1Sm 11,15; 1Rs 5,21; 2Rs 11,20; Pr
23,24; Is 39,2 157 Feuillet, também vê a história da cabana de
Jonas no v. 5 como tendo sido inspirada pela caverna de Elias em I
Reis 19,9. Cf. FEUILLET. A., Source, RB 54, 1947, p. 161-186. 158
Cf. STOMMEL. E., Zum Problem der Früchristlichen
Jonasdarstellungen, 1958, p. 112-115.
DBD
necessária devido ao ressentimento malicioso de Jonas. O par mínimo
pode
novamente voltar à absorção do material que já tinha assumido uma
forma fixa. A
asindesis, desordem que faz com que idéias ou pensamentos não
possam ser
unidos por um conceito coerente, pode ser explicada pelo prazer que
nosso
narrador tem de usar aliteração ( &) ...& ...)159. Quando a
intenção por trás
do presente da sombra é explicada – para livrar Jonas de seu
profundo enfado –
com rápido sucesso do experimento de YHWH com a psique de Jonas que
é ainda
mais deslumbrante: Jonas é coberto por uma “alegria ao extremo”
sobre o rícinio.
A construção desta oração, com o objeto interno e absoluto da mesma
raiz verbal,
é uma reminiscência formal do v.1. Mas, Jonas agora é o sujeito; é
uma
construção que permite o leitor apreciar intensamente a mudança no
curso dos
eventos. A ironia é inconfundível: a mudança não tem nada a ver com
Nínive,
nem com o problema da palavra de YHWH ou sua justiça, tem haver
somente
com o senso de trivialidade do bem-estar do próprio Jonas.
v.7
Nota-se um jogo consonantal das palavras 5 #. Verme em hebraico,
é
feminino e é sujeito do verbo 8 (ferir) hifil que é um dos
principais verbos
presentes no livro do Êxodo (cf.Ex 2,11). Moisés, diante da atitude
dos egípcios
que agridem um dos seus irmãos, fica indignado e o “feriu” de
morte, é o começo
de uma trajetória que mostrará YHWH ferindo o Egito muitas vezes
através da
força da natureza.
A raiz está em relação ao rícinio que seca. O substantivo indica
a
oposição entre a terra seca e o mar. A conseqüência da ação deste
verme evoca a
apresentação que Jonas fizera de YHWH: “que fez o mar e a terra
seca” (Jn 1,9).
O substantivo feminino singular ##%vem da mesma raiz verbal (9999
significa que
YHWH, pelo verme, seca a planta que designara a Jonas.
O jogo de YHWH continua. Depois da planta poderosa e miraculosa,
ele
“envia” o minúsculo verme, a larva de mosca que já havia estragado
o maná (cf.
Ex 16,20ss). Desde as primeiras horas do amanhecer em diante, esta
nova criatura
de Deus, determina o que acontecerá no dia seguinte: o verme fura a
planta de
modo que este perece; encontramos 8 hiphil em uma ferida mortal em
2Sm 159 Cf. BrSynt §133c.
DBD
10,18, (por exemplo; cf. também Lv 24,18). Então, a razão para a
“alegria ao
extremo” de Jonas é logo levada embora.
v.8
Neste versículo, o narrador usa a técnica de slow motion e retarda
a
narrativa. Pouco mais de uma hora se passa entre o primeiro
vislumbre de luz do
sol nascente160, YHWH ordena o próximo evento: o vento oriental,
que é descrito
pela palavra que, possivelmente, vem a ser o quentíssimo siroco161,
com o
qual Israel já estava familiarizado162. Então dois ataques são
organizados contra a
“alegria ao extremo” de Jonas: através do verme e do vento. YHWH,
por duas
vezes, designou um meio para salvar Jonas (o grande peixe e a
planta) e, por duas
vezes, designou a revogação do seu ato (o verme e o vento
cortante). Um impasse
sobre a missão de Jonas para mostrar que YHWH não age segundo os
critérios da
determinação do profeta, mas possui liberdade total de decidir.
Winckler acredita
que o vento do leste derrubou a cabana163. O texto não fala nada
sobre isso. Mas, é
verdade que o efeito da dupla sombra também é contado em duas
frases. Primeiro,
o sol fere a cabeça de Jonas. : é uma repetição do v.7; 8hiphil,
com o sol
como sujeito, significa um sol que fere (cf.Sl 121,6; Is 49,10), o
sol “fere” a
cabeça das pessoas como uma flecha de um arco (cf. 1Rs 22,34; 2Rs
9,24). A
menção especial à cabeça de Jonas nos remete ao propósito da sombra
do rícinio
no v.6. Depois, nos é dito que Jonas “desmaiou”; aqui o autor deve
estar pensando
na combinação de um sol que fere e o siroco164. Então a alegria
extrema de Jonas é
rapidamente engolida por uma completa exaustão. Isto dá um fim ao
diálogo
silencioso nos vv.5-8165. Assim como no v.3, o narrador usa
palavras tiradas da
história de Elias (cf. 1Rs 19,4 - + (. () e com a pequena
frase
retirada do v.3, faz com que Jonas venha a pedir a morte em um “ato
desesperado”
160 Cf. DALMAN, G., Grammatik des Jüdisch-Palästinischen Aramäisch,
AuS 2, p. 13-16. 161 Vento quente, muito seco, que sopra do deserto
do Saara em direção ao litoral Norte da África, comumente na região
da Líbia. Foi o vento que trouxe os gafanhotos para o Egito e é
visto como agente divisor das águas no mar vermelho. Cf. Ex 10,13;
14,21. 162 Cf. NOTH, M., Die Welt des Alten Testaments,1962, p.29;
cf. GOOD, E, Irony, 1965, p. 52. Este autor acredita que o autor do
livro de Jonas nunca esteve de fato na Mesopotâmia. 163 Cf.
WINCKLER, H., Zum buche Jona, Altorientalische Forschungen 2, 2,
1900, p. 260-265. 164 Cf. Am 8,13 Este verbo produz um jogo de
palavras e uma oposição com a raiz . Amós usa o verbo para falar da
fraqueza das “virgens” pela sede e também cf. WOLFF, H., Joel/Amós,
BK 14, p. 380. 165 Cf. WOLFF, H., Obadiah and Jonah, p. 162.
DBD
de quem se sente abatido por todos os lados por YHWH. Seu
abatimento deve-se
ao fracasso de sua profecia, o verme que destruiu a sua sombra, o
vento cortante e
o sol do deserto que lhe tiram a vontade de viver. Então, o jogo
proposital de
YHWH Criador, o levou precisamente ao ponto de sua acusação.
v.10
Mas, YHWH não deixa Jonas ir, muito embora, o próprio Jonas não
veja
outra solução. Ele retorna uma segunda vez com sua parábola
didática, nos vv.6-8,
afirmando o fato para Jonas. Com base em sua reação nos vv.8 e 9 o
narrador usa
a palavra ; “compadecer-se”, que adquire um significado decisivo em
Jn 4,11. A
palavra ocorre 24 vezes no A.T. Em 15 dessas vezes tem o olho como
o sujeito
(cf. Gn 45,20); 5 vezes no Deuteronômio (cf. Dt 7,16) e 8 vezes em
Ezequiel (cf.
Ez 5,11) a noção de “fluir” e “chorar” não surge distintamente mas,
o nublado, o
triste olhar não está diretamente afirmado (embora o contexto seja
sempre dos
israelitas). Em 17 casos, a razão é adicionalmente apresentada com
; em 15 a
palavra toca os seres humanos (cf. Sl 72,13; Jr 21,7) de maneira
que o significado
de “ter compaixão” esteja também implícito. Somente duas vezes ele
se refere a
coisas, de modo que aceitamos o significado de “estar triste”,
“sofrer”166. No caso
que estamos considerando, é mais provável que o narrador queira
dizer “chorar
pela perda de algo, copiosamente”, isto porque, ele usa
deliberadamente ;
paralelamente ao versículo 11, onde está claramente relacionado às
pessoas. Deste
modo, ele está de acordo com o uso quase exclusivo de ; em conexão
com seres
humanos (Gn 45,20 é a exceção). O fato da palavra, geralmente,
expressar um
sofrimento que também significa pena é mostrado pelo fato de que
em
Deuteronômio ; também traria um julgamento menos severo, de modo
que não
signifique meramente “olhar angustiosamente”, mas também
“olhar
compadecidamente”, além disso, o paralelo sinônimo a ; é geralmente
,
“sentir compaixão”, “poupar”167.
O narrador faz YHWH definir o comportamento de Jonas como um
lamento
compassivo pela planta, desta forma, ele mais uma vez, mostra seu
uso habilidoso
166 Cf. Gn. 45,20 às alfaias que foram deixadas para trás; em Jn
4,10 à seca da planta. 167 Cf. Dt 13,9; Ez 7,4.9; 8,18; 9,5.10;
16,5 ou piel “ter compaixão” (cf. Is 13,18), ou ambos significados
como em Jr 13,14;21,7.
DBD
da ironia, ele quer dizer, exatamente, o contrário do que YHWH diz:
Jonas não
está realmente sofrendo pela planta que secou; ele está apenas
sentindo falta de
seu próprio conforto, assim como antes não era por causa de Nínive
que ele sofria:
era por causa de seu próprio prestígio teológico168. Foi a planta
que provocou sua
auto-compaixão. Neste ponto da narrativa, YHWH mostra que ele não
tinha “se
esforçado” pessoalmente no cultivo da planta. O verbo ocorre
somente em uso
posterior para trabalho problemático, tanto para o físico169 quanto
para o mental
(cf. Ecl 2,19-21). O aspecto penoso do significado da raiz é
considerado tardio,
mostra que o crescimento da planta é dom gratuito de Deus170.
A planta cresceu como um puro presente de YHWH para Jonas. A
continuação: “nem a fizeste crescer” enfatiza o mesmo ponto. <no
piel é usado
também para a educação de uma criança e também para o cultivo de
plantas171. A
raiz < usada no piel com o significado de nutrir, educar, fazer
crescer, é colocada
pelo autor na boca de Deus, nas suas últimas palavras dirigidas a
Jonas. A
presença desta raiz é notada em todo o Livro de Jonas, porém, este
é seu único uso
na forma verbal. Aplicado a planta, que Jonas não nutriu, sugere
uma relação com
Nínive, a grande cidade para YHWH.
No caso da planta, Jonas não estava envolvido de maneira alguma na
origem
e nem no crescimento dela. Finalmente, a natureza efêmera da planta
é enfatizada
a razão ostensiva para o lamento de Jonas. Ela floresceu numa noite
e morreu em
outra. Sobre !172 a forma e o significado do par 173 sobre o fato
relatado em Jn
4,6-7, à primeira luz, antes do amanhecer (cf. Jn 4, 8a) e logo
ainda durante a
noite seguindo o dia da grande alegria, a planta secou. Aqui, a
palavra usada é
, “pereceu”. É, portanto, um eco da palavra chave com a qual em Jn
1,6.14; 3,9
o pagão espera e reza para “que eles não venham a perecer”. O que
uma rejeição
de tal esperança significa? Jonas foi capaz de aprender pelo
exemplo da planta.
Ele lamenta em causa própria, e não deve nunca mais desejar
qualquer rejeição
semelhante à Nínive, ainda assim, a frase final indica quão trivial
esse assunto
168 Cf. BURROWS, M., The Literary Category of the Book of Jonah, p.
99. 169 Cf. Pr 16,26; Ecl 2,11; Sl 127,1. 170 Cf. WOLFF., Obadiah
and Jonah, p. 173-174. 171 Cf. Is 44,14; Ez 31,3ss. 172 Cf. WAGNER,
M., Die Lexikalischen und Grammatikalischen Aramaismen im
Alttestamentlichen Hebräisch, ZAW 96, 1966, p. 110. 173 Cf. HAAG,
H., Bibel-Lexikon, p. 679.
DBD
pode causar em Jonas tamanho sofrimento. Este fato deve fazê-lo
entender o
grande assunto que está ocupando YHWH174.
v.11
Uma pergunta final é desenhada para fazer com que Jonas consentisse
em
fazer a vontade de YHWH. A pergunta retórica nos leva à uma
reflexão. Usa-se o
v.10 com a palavra-chave: “Tiveste compaixão do rícinio... e não
hei de ter
compaixão da grande cidade de Nínive...?” Nínive é o espaço
geográfico onde o
acontecimento principal deve realizar-se. Wolff175 lê na descrição
feita de Nínive a
intenção do autor de criar um antítipo de Jerusalém.
Assim, a raiz ; é usado junto a YHWH em outras 10 ocasiões (de
um
total de 24), 7 delas na negativa: YHWH se mostra como Senhor, não
permitindo
ser movido pela compaixão176. É dito, também, que não olharão com
misericórdia
as vítimas das grandes conquistas militares177. Em um caso
encontramos uma
oração em que o rei de Israel pode ter compaixão dos pobres (cf. Sl
72,13).
Somente em uma única ocasião o A.T reporta que YHWH teve ;(cf. Ez
20,17);
por duas vezes ele é implorado a fazê-lo. Estes dois textos são
próximos ao final
da história de Jonas, ambos em conteúdo e na datação. Em Ne 13,22,
questiona a
compaixão de YHWH ( ;#=), relatando seu abundante amor
incondicional (>?";$
91$), de acordo com isto, ;de YHWH corresponde ao grande ;!! citado
por
Jonas no v.2. Jonas está tomando consciência de uma nova atitude em
relação ao
conhecimento da sua fé. A súplica ;#= pode ser encontrada uma
segunda vez em
Joel 2,17. Há um retorno à promessa profética de Joel 2,13ss, o que
encoraja
Israel, por um lado, aos mesmos predicados divinos (v.13) que
encontramos
repetidos palavra por palavra em Jonas 4,2. Por outro lado,
encoraja a esperança
pela desistência compassiva de YHWH da ameaça de julgamento (v.14),
que
podemos verificar, novamente palavra por palavra, em Jonas 3,9. Em
ambos os
paralelos, o jargão decisivo é ( # #-) #. Foi este trecho sobre a
desistência
compassiva da ameaça (cf. Jn 3,10) que, particularmente, enfureceu
Jonas no
174 Cf. Jr 12,1-5 ; 45,3-5. Cf. BLANK, H., Does Thou Well to Be
Angry? A Study in Self-Pity, HUCA, 26, 1955, p. 29-41. 175 Cf.
WOLFF., Obadiah and Jonah, p. 147. 176 Cf. Jr 13,14; Ez 5,11;
7,4.9; 8,18; 9,10; 24,4. 177 Cf. A raiz ; em Is 13,18 ; Jr
21,7.
DBD
v.2ss. A pergunta final vai levantar o questionamento se YHWH deve
ou não
exercer #. Há uma pequena mudança no significado da palavra. No
uso
teológico sempre refere-se a um ato anterior, um plano anterior, ou
uma fala
de YHWH que foi pronunciada em algum ponto178; ;, por outro lado,
é
direcionado, inteiramente, ao que exerce a compaixão imediata. No
v.10 é
simulado a cena da planta que acabou de ser vivenciada e, no v.11 é
Nínive do
momento presente que está sob consideração. Não há lembrança da
ameaça que
foi retirada ou do arrependimento da cidade (cf. Jn 3,8-10) ou, até
mesmo, o fato
implicitamente sugerido de que Nínive é uma criação de YHWH,
somente é
mencionado o que motiva a compaixão de YHWH aqui e agora .
É o tamanho da cidade que é focado logo de início, isto foi
mencionado no
começo da história, em Jn 1,2, e elaborado em Jn 3,3. Neste
momento, o número
preciso de habitantes da cidade é dado: 120.000 homens. O autor
mantém seus
leitores em suspense através dos novos detalhes até o minuto final.
O número
pode ser um detalhe não tão preciso do tamanho de Nínive no período
do império
neo-Assírio. Neste período de Senaqueribe (704-681 a.C), a
população foi
estimada em aproximadamente 300.000 homens179; de acordo com a
estela de
Ashurnasirpal II (883-859) 69.574 pessoas viviam em Kalah, o que
era somente a
metade do tamanho de Nínive180. O verbo significa todos os
habitantes. A
frase relativa não nos permite pensar somente em termos de
crianças. A frase
explica que existe outra razão para a misericórdia de YHWH, que a
capacidade de
distinguir e julgar que não estão totalmente desenvolvidos entre os
Ninivitas como
Jonas gostaria que estivessem. Assim, significa “distinguir”.
Novamente há
um tom de ironia aqui. “Direita” e “esquerda” são pontos de
orientação. Pode
traduzir o sentido de “bem” e “mal”. Do ponto de vista religioso
podemos fazer
uma interpretação: se Nínive não sabe distinguir a direita da
esquerda, o povo
eleito, representado por Jonas não sabe distinguir a vontade de
YHWH181.
O que Jonas está disposto a desprezar é para YHWH uma razão a mais
para
ter compaixão. Isto também se aplica ao grande número de animais.
Carinho e
amor por animais raramente encontram lugar no Antigo Testamento
(cf. Dt
178 Cf. JEREMIAS. J., Die Reue Gottes, BSt 65, 1975, p. 16.
179 Cf. OLMSTEAD. A., History of Assyria, 1960, p. 326. 180 Cf.
WISEMAN. D., A New Stele of Ashurnasirpal II, Iraq 14, 1958, p. 28.
181 Cf. Ex 34, 6-7.
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22,6ss). Aqui o gado tem um papel na decisão de YHWH de ter
misericórdia da
cidade. Animais são mais próximos dos seres humanos do que plantas,
assim
como os escritos Sacerdotais mostram da maneira mais clara possível
(cf. Gn
1,11ss). Este versículo nos remete ao Gênesis, faz-nos lembrar a
“pelejante
intercessão” de Abraão com YHWH sobre o plano divino de destruição
de
Sodoma e Gomorra182. Jonas se mostra o oposto de Abraão e
despreocupado com
a benção prometida para todas as nações da terra183. Ao final, a
derradeira
pergunta procede do menor (pena da planta) para o maior, tentando
conquistar a
resistência de Jonas através de argumentos convincentes.
O v.11 é uma pergunta com longa argumentação. É assim que o
breve
escrito de Jonas se fecha mas falta a resposta do profeta, deixando
em aberto o
escrito, para que cada geração de ouvintes-leitor seja interpelado
sobre a
“teshuvah”.
182 Cf. Gn 18,16-33; cf. RENDTORFF, R., The Canonical Hebrew Bible,
A Theology of the Old Testament, Leiden, 2005, p. 289. 183 Cf. Gn
12,3; 18,18.
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