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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 1 3 Geotecnologias aplicadas ao cadastro e a identificação parcelaria Miguel Águila Diego Alfonso Erba Índice 1. Geotecnologias aplicadas ao cadastro............................................................................... 2 Introdução .................................................................................................................................. 2 Elementos sobre geotecnologias .............................................................................................. 2 Sistemas de Coordenadas ........................................................................................................ 9 Sistemas de Informação Territorial.......................................................................................... 12 Bancos de Dados para um SIT ............................................................................................... 12 Aplicações SIT ......................................................................................................................... 18 Administração da Informação Territorial (Espacial) ................................................................ 19 Padrões ................................................................................................................................. 20 Padronizando a Informação Territorial .................................................................................. 21 2. A Nomenclatura Cadastral ................................................................................................. 23 Introdução ................................................................................................................................ 23 Características ......................................................................................................................... 23 Sistemas hierárquicos de identificação ................................................................................... 28 Identificadores de localização ................................................................................................. 33 Sistemas de Geolocalização Absoluta .................................................................................. 37 Sistemas de Geolocalização Indireta .................................................................................... 38 Identificadores híbridos hierárquicos e/ou de quadrícula ........................................................ 43 Sistemas hierárquicos de Trato Sucessivo ............................................................................. 46

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 1

3

Geotecnologias aplicadas ao cadastro

e a identificação parcelaria Miguel Águila

Diego Alfonso Erba

Índice

1. Geotecnologias aplicadas ao cadastro...............................................................................2

Introdução..................................................................................................................................2

Elementos sobre geotecnologias ..............................................................................................2

Sistemas de Coordenadas ........................................................................................................9

Sistemas de Informação Territorial..........................................................................................12

Bancos de Dados para um SIT ...............................................................................................12

Aplicações SIT.........................................................................................................................18

Administração da Informação Territorial (Espacial) ................................................................19 Padrões .................................................................................................................................20 Padronizando a Informação Territorial ..................................................................................21

2. A Nomenclatura Cadastral .................................................................................................23

Introdução................................................................................................................................23

Características.........................................................................................................................23

Sistemas hierárquicos de identificação ...................................................................................28

Identificadores de localização .................................................................................................33 Sistemas de Geolocalização Absoluta ..................................................................................37 Sistemas de Geolocalização Indireta ....................................................................................38

Identificadores híbridos hierárquicos e/ou de quadrícula........................................................43

Sistemas hierárquicos de Trato Sucessivo .............................................................................46

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 2

1. Geotecnologias aplicadas ao cadastro Introdução Praticamente todos os procedimentos geotecnológicos são aplicáveis em maior ou menor grau

`as necessidades cadastrais. A diferença entre eles e sua aplicabilidade depende dos

parâmetros de custo-benefício que, por sua vez, estão diretamente relacionados com as

precisões cartográficas que se desejam alcançar. As necessidades reais de precisão que

impomos ao nosso Cadastro conduzem `a eleição do método e dos produtos mais apropriados.

A descrição que desenvolvemos a seguir sobre as técnicas e produtos cartográficos busca

apenas destacar as particularidades de sua aplicação e não desenvolver uma revisão profunda

sobre a técnica em si.

Elementos sobre geotecnologias Uma das primeiras inquietudes do homem foi conhecer o espaço no qual desenvolveria suas

atividades. Determinar as formas e dimensões da Terra, bem como representá-la graficamente,

foi uma necessidade, particularmente, a partir da conquista de novos territórios.

Ao longo dos anos, a evolução tecnológica tem atingido todas as áreas do conhecimento, e com

particular ênfase as disciplinas envolvidas com a Mensuração. Isto é do interesse de

profissionais da arquitetura, geologia, engenharia, agrimensura, cartografia, agronomia e tantas

outras atividades profissionais que utilizam o mapeamento para desenvolver a maioria de seus

projetos.

Muito antes de existirem a fotografia e as imagens de satélite, as primeiras medições eram

realizadas por métodos rudimentares, utilizando instrumentos simples, mantendo sempre o

objetivo de descrever a realidade física da área levantada mediante desenhos efetuados em um

plano de representação.

Descrever lugares foi, então, uma das principais preocupações do homem, e esta necessidade

abriu espaço para a criação e o desenvolvimento de uma nova área de estudo: a TOPOGRAFIA.

Etimologicamente, a palavra é formada pela conjunção dos termos gregos topos e graphein.

TOPOGRAFIAgraphein (descrição)topo (lugar)

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Além da Topografia, pode-se destacar três outras ciências diretamente ligadas aos processos de

levantamento e representação de parte da superfície terrestre: a Cartografia, a Geodésia e a

Fotogrametria.

Define-se Cartografia como o conjunto de estudos e observações científicas, artísticas e técnicas

que, a partir de resultados de observações diretas ou da exploração de documentos, elabora

cartas, planos e outros modos de expressão, assim como a sua utilização. A carta, vista como

um meio de transcrição gráfica dos fenômenos geográficos, constitui o objeto principal da

Cartografia. O objetivo primordial é, portanto, a pesquisa de métodos, processos de elaboração e

utilização de cartas, além do estudo exaustivo de seu conteúdo.1

A Geodésia (do grego geo = terra, daiein = dividir) é uma ciência que tem por finalidade a

determinação da forma e as dimensões da Terra. A ciência geodésica compreende o estudo das

operações ou medições, assim como os métodos de cálculos aplicados para determinar a forma

e as dimensões da Terra e o seu campo gravitacional.2

A Fotogrametria pode ser definida como a ciência, arte e tecnologia de se obter informações

confiáveis a partir de fotogramas aéreos ou terrestres. Divide-se em duas áreas de

especialização: métrica e interpretativa. A fotogrametria métrica tem uma grande importância

para área de mensuração, pois permite a determinação de distâncias, elevações, volumes etc;

além de elaborar de documentos cartográficos a partir de medidas realizadas nos fotogramas. A

fotogrametria interpretativa tem por objetivo proporcionar o reconhecimento de alguns padrões

de objetos (formas, comprimentos, tonalidades, texturas etc.) baseados em imagens

fotográficas.3

Finalmente, a Topografia é definida como a ciência aplicada que tem como objetivo estudar e

desenvolver métodos e instrumentos destinados a levantar e processar dados do terreno, a partir

dos quais seja possível representar graficamente a realidade física em um documento

cartográfico.

Para a representação da superfície física, a Topografia utiliza um plano sobre o qual cada ponto

topográfico é ortogonalmente projetado. Este plano não tem existência física real, é uma

1 ASSOCIAÇÃO CARTOGRÁFICA INTERNACIONAL, 1996, apud SILVA et al., 2001. 2 Silva et al., 2001. 3 Wolf e Brinker, 1994.

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abstração definida pelo topógrafo para poder representar as três dimensões espaciais do

terreno. Podemos pensar que o plano corresponde à folha de papel utilizada para o desenho.

Conforme ilustração da Figura 1, os pontos topográficos estão distribuídos espacialmente ao

longo da superfície terrestre e suas posições podem ser determinadas a partir de coordenadas.

Há casos em que o conhecimento das posições dos pontos topográficos no plano de

representação (A´, B´, C´ e D´) satisfaz as necessidades dos técnicos. Um exemplo é o

mapeamento dos limites das parcelas territoriais que compõem o cadastro imobiliário de uma

prefeitura. Porém, a maioria dos projetos de engenharia, tais como obras viárias, aeroportos,

complexos habitacionais, canalizações, dutos, etc., exigem que sejam determinadas as posições

espaciais (x, y, z) dos pontos topográficos (Figura 1).

Terreno

Plano de Representação

A’

B’

C’

D’

A

B

C

D

Figura 1 – Representação do terreno no plano topográfico

A necessidade de efetuar uma série de convenções que permitam representar de forma clara e

compreensível o terreno fez surgir a Topologia, área específica da Topografia que tem como

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principal objetivo estudar as formas do relevo, estabelecendo modelos que o representem. Este

conceito está intimamente relacionado ao Desenho Topográfico, o qual se ocupa de transferir

para a planta todos os detalhes obtidos nos trabalhos topométricos.

Em termos operacionais, o estudo topológico da área a ser levantada deve preceder aos

trabalhos de campo, pois “entender o terreno” é fundamental para otimizar as tarefas de

mensuração e conseguir objetividade na escolha dos pontos topográficos.

Todas as considerações realizadas até aqui acerca da Topografia são rigorosamente aplicáveis

sempre e quando as deformações decorrentes da projeção da superfície curva da Terra sobre

um plano sejam desprezíveis. Sabendo que o objeto de estudo da topografia são porções da

superfície terrestre, cabe perguntar: até onde vai o campo de trabalho da Topografia? Ou, em

outras palavras, até onde é válido utilizar um plano para representar a superfície do planeta

Terra? Para encontrar a resposta necessitamos recordar alguns conceitos básicos, muitos deles

conhecidos da escola secundária.

A superfície da Terra é visivelmente irregular devido à

presença de montanhas, depressões, vales, cerros e

tantas outras formas de relevo. Porém, essas

irregularidades são insignificantes se comparadas

com as dimensões do planeta, pois os

aproximadamente 20 km que separam o ponto mais

alto (monte Everest no Himalaia com quase 9 km de

altitude) da profundidade máxima (fossa abisal de

Marianas, no Oceano Pacífico, com 11 km)

correspondem a menos de 0,3% do raio considerado

médio da “esfera” terrestre. Isto se comprova ao

observar uma fotografia do planeta, pois “olhando de

longe” a superfície terrestre parece lisa e, a primeira

vista, esférica. A Figura 2 ilustra a situação.

Figura 2

Para definir a forma do planeta foi convencionado efetuar o prolongamento dos mares em calma,

sob os continentes. A superfície resultante recebeu o nome de Geóide. Contrariamente ao que

se imagina esta superfície não é regular. O Geóide é gerado por um líquido em repouso e

portanto perpendicular à direção da vertical em cada ponto topográfico e as variações de

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intensidade e direção da gravidade implicam em imperfeições desta superfície, tal como mostra

a Figura 3.

As irregularidades do Geóide não seguem uma

lei matemática, sendo, portanto, impossível

determinar uma fórmula que o descreva com

exatidão. Assim, foi necessário efetuar inúmeros

estudos para encontrar um ente matemático que

se aproximasse dele e, consequentemente,

pudesse ser utilizado como sistema de

referência. Devido a complexidade de modelar

matematicamente o Geóide, os geodesitas

concluíram que a forma física da Terra pode ser

modelada por um Elipsóide de Revolução.

O Elipsóide é uma superfície de revolução

gerada a partir da rotação de uma elipse em

torno de um de seus dois semi eixos (o maior ou o menor), e fica determinado quando seus

parâmetros são conhecidos. A Figura 4 ilustra um elipsóide de revolução. Esses parâmetros

provém da elipse que o gerou, sendo eles: a = semi-eixo maior, b = semi-eixo menor e α =

achatamento = a

ba −.

Figura 3

O elipsóide terrestre definido como global, e que mais se aproxima do Geóide, é geocêntrico e

formado pela rotação da elipse em torno do eixo que passa pelos pólos Norte e Sul geográficos

(Figura 4).

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ba

Equador

Meridiano de Greenwich

Antimeridiano de Greenwich

PN

PS

Figura 4

As diferenças existentes entre o Geóide e o Elipsóide tem peculiaridades em cada continente,

em cada país, em cada porção da Terra. Desta maneira, existem diferentes elipsóides os quais

são posicionados para atenderem as necessidades de cada local, recebendo o nome elipsóides

locais. O centro geométrico do elipsóide local (C.G.E) não coincide com o Centro de Massa da

Terra - CMT. Já o elipsóide global é utilizado no posicionamento de pontos por satélites (Global

Positioning System – GPS) e o seu centro geométrico coincide com o CMT. A Figura 5 ilustra as

três superfícies: o Geóide, o Elipsóide Local e o Elipsóide Global.

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Geóide

Elipsóide Global

ElipsóideLocal

Área de melhor ajuste pelo Elipsóide Local

C.G.E

C.M.T

Figura 5

Assim, cada país, de acordo com a sua conveniência, adota um elipsóide próprio para

elaboração de seus produtos cartográficos. No caso do Brasil, o elipsóide adotado oficialmente

pelo órgão que rege as atividades de Cartografia e Geodésia é o chamado elipsóide de

referência internacional SAD-69 (South American Datum). Este elipsóide foi adotado como

referência no Brasil desde 1979 e antes dessa data foi utilizado o chamado elipsóide de

referência internacional de Hayford. A situação do Uruguai é muito similar.

De acordo com o exposto até aqui, há três superfícies de interesse da Topografia: a física -

aquela na qual o homem desenvolve suas atividades e constitui o objeto a ser descrito pela

Topografia; o Geóide – superfície equipotencial de fundamental importância para os

levantamentos altimétricos de grandes áreas; e o Elipsóide – que possui parâmetros conhecidos

e se aproxima muito do Geóide. Estas duas últimas, poderiam ser utilizadas como referencia

para determinar o posicionamento espacial dos pontos topográficos. A Figura 6 ilustra as

principais superfícies utilizadas na mensuração.

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Geóide(Nível Médio do Mares)

Elipsóide

Normal ao Elipsóide

Vertical do Lugar

Superfície Física da Terra

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Figura 6

Sistemas de Coordenadas

Determinar as posições de pontos topográficos é a função da topografia. Para que todos esses

pontos tenham uma relação espacial, ou plana, é necessário definir um sistema de sistema de

coordenadas. Coordenadas são valores lineares ou angulares que indicam a posição ocupada

por um ponto em um sistema de referência.

O posicionamento de pontos sobre o elipsóide se realiza mediante o sistema de Coordenadas

Geodésicas, as quais correspondem a ângulos diedros que tem como referência meridianos e

paralelos. Os meridianos são seções elípticas que surgem da interseção de planos que contém o

eixo de rotação da Terra com o elipsóide. Os paralelos são círculos resultantes da interseção de

planos perpendiculares ao eixo de rotação com o elipsóide. A Latitude Geodésica (φ)

corresponde ao ângulo formado entre a normal do observador e ao plano do Equador. A sua

variação é de 0º a 90º no hemisfério norte e de 0º a -90º no hemisfério sul, tendo como origem o

círculo máximo do Equador. A Longitude Geodésica (λ) corresponde ao ângulo diedro formado

entre o Meridiano de Greenwich e o meridiano do observador. A sua variação é de 0º a 180º a

leste do citado meridiano e de 0º a -180º a oeste do mesmo. Assim, por cada ponto P da

superfície terrestre passa um meridiano e um paralelo, os quais definem seu posicionamento. A

Figura 7 ilustra a Latitude e a Longitude Geodésica de um determinado ponto P, sobre a

superfície do elipsóide.

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Meridiano deGreenwich

Equador

Paralelo de P

Meridianode P

λϕ

P

h

Figura 7

A terceira coordenada de P é dada pela distância vertical desde a superfície terrestre até a

superfície de referência (Elipsóide) e denomina-se altura geométrica (h).

O Sistema de projeção

Universal Transversal de

Mercator (UTM) é resultado

da modificação da projeção

Transversa de Mercator (T.M)

que também é conhecida

como projeção de Gauss

Krüger. Esta projeção foi

idealizada pelo belga Gerard

Krämer (Mercator), a partir de

modificações efetuadas na

projeção conforme de Gauss,

o sistema UTM e utiliza como

Figura 8

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superfície de projeção 60 cilindros transversos e secantes à superfície de referência (Figura 8).

Cada cilindro é responsável pela representação de 6º de amplitude em longitude, contadas a

partir do anti–meridiano de Greenwich. O primeiro fuso UTM, situa-se de forma intermediária

entre os meridianos 180º e 174º W, ou seja 177º. A Figura 9 ilustra a divisão dos fusos UTM em

relação ao território brasileiro.

Figura 94

Observa-se que os Meridianos Centrais estã localizados nas longitudes múltiplas de 6º

o

acrescidas de 3º. Sobre este meridiano, as distâncias apresentam-se deformadas segundo o

coeficiente de deformação, K0 = 0.9996. Portanto as distâncias no terreno serão reduzidas nesta

região, à medida que se afasta do MC, para direita ou para esquerda.

4 Adaptada de Silva, 1999.

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Sistemas de Informação Territorial Os Sistemas de Informações Geográficas - SIG, são ferramentas auxiliares que permitem

parametrizar modelos de planejamento e visualizar os dados de forma gráfica (ou cartográfica),

os quais são de mais fácil compreensão que os tabulares ou relatórios. Quando os SIG são

utilizados para gerenciar dados cadastrais, geralmente recebem o nome de Sistemas de

Informação Territorial – SIT.

A característica básica de um SIT é ter a capacidade de tratar relações espaciais entre objetos

geográficos, sendo que a essa estrutura de relacionamentos espaciais que se pode estabelecer

entre objetos geográficos é denominada de topologia. Armazenar a topologia dos elementos que

constam em um mapa é o que diferencia um SIG de um CAD; outra diferença é que um SIG

pode trabalhar com diversas projeções cartográficas.

Entre as funções principais dos SIT encontram-se as de integrar informações espaciais de dados

cartográficos, censitários e de cadastro, de imagens de satélite, redes de pontos e modelos

numéricos do terreno; utilizando uma base única de dados; bem como cruzar informações

através de algoritmos de manuseio para gerar mapeamentos derivados; consultar, recuperar,

visualizar e permitir saídas gráficas da base de dados5.

Dentro da estrutura polivalente que atualmente se da aos Cadastros Territoriais, os SIT são

muito apropriados para relacionar dados provenientes de diferentes fontes bem como para

gerenciar as mesmas por médio de camadas (layers) de dados, facilitando desta forma a

organização e distribuição. Este último ponta reforça a importância que tem o

georeferenciamento das parcelas e de todos os elementos urbanos na estruturação de um

cadastro multifinalitário.

Bancos de Dados para um SIT O Cadastro territorial, como vimos, é constituído numerosos dados provenientes de censos e

levantamentos, sendo alguns deles alfanuméricos e outros cartográficos (plantas, fotografias ou

imagens).

Um Banco de Dados Alfanumérico é um conjunto organizado de dados relacionados a tópicos ou

assuntos específicos e, no caso do Cadastro Multifinalitário, os aspectos considerados são os

5 Camara et. Al., 1996.

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 13

econômicos (variáveis que levam a determinar o valor do imóvel), os geométricos (como a

localização, forma e dimensões da parcela), os jurídicos (que determinam a relação homem-

parcela), os sociais (que permitem delinear o perfil do proprietário ou possuidor) e ambientais.

Nos sistemas analógicos (manuais) os dados são armazenadas em arquivos organizados em

pastas ou gavetas e a geração e distribuição das informações geradas a partir dessa base é

bastante tediosa.

Já nos sistemas digitais (computadorizados) os dados são arquivados em meios magnéticos e

seu tratamento se realiza através de programas específicos.

A história dos bancos de dados digitais é recente. Até 1985, o mercado oferecia poucas opções

de programas para gerenciamento de dados mediante micro-computadores tipo PC, enquanto

que hoje os produtos lançados estão orientados para o desenvolvimento de aplicativos pelos

usuários finais, facilitando o dia-a-dia dos profissionais e agilizando as tarefas das instituições.

Porém, os sistemas modernos permitem que ao operacionalizar o aplicativo, este passe a ser

utilizado por usuários que não devem ou não podem modificar a estrutura do programa, entrando

em jogo fatores importantes com segurança/confiabilidade, espaço ocupado em disco, volume

de dados, dicionário de dados, produtividade e tempo de indexação/ordenamento, localização,

atualização, etc.

As vantagens que apresentam os sistemas computadorizados são principalmente a agilidade

que estes oferecem para recuperação e atualização e a possibilidade de compartilhar dados com

vários usuários simultaneamente, evitando redundância e ocupando menos espaço físico (meios

magnéticos são menos volumosos que o papel).

Basicamente, cada registro do banco alfanumérico de um sistema cadastral se refere a uma

parcela e contém, pelo menos, um identificador a partir do qual se realizam as conexões com a

cartografia digital estruturada em uma plataforma SIG.

Para compreender a filosofia de trabalho de um banco de dados relacional, é suficiente seguir

um exemplo. Na área de Cadastro Territorial, os antigos sistemas analógicos arquivavam os

dados de interesse para a administração de um município, tais como localização e dimensões

das parcelas, características das construções, serviços, proprietários, etc.; numa ficha única.

Passando esta idéia rudimentar para o computador, todos os dados poderiam ser organizados

em uma única tabela o planilha eletrônica na qual as linhas corresponderiam as diferentes

Parcelas cadastradas e as colunas as características particulares de cada uma (Tabela 1).

Cadastro Endereço Frente Fundo Serviços Proprietário

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 14

01-001-231 Andradas 1234 12,20 35,40 A - L - T Carlos Martins 01-002-421 Floriano Peixoto 321 10,00 29,47 A - L Maria Gonzales 02-001-123 Av. Pres. Vargas 1880 17,30 45,80 A - L - B João Bahia 02-005-432 Duque de Caxias 3456 25,05 50,40 A - L - G Fernando Guiuliani 02-005-111 7 de setembro 3901 19,00 45,00 A - L - G Tamara Perez Rocha 01-002-078 Av. Pres. Vargas 1789 12,00 35,00 A - L - T Gabriela Perino

... ... ... ... ... ... Tabela 1- Estrutura tabular de dados cadastrais para

tratamento em computador por sistema não relacional

Com um banco de dados como este, muitos dados acabariam sendo armazenados de forma

repetida, pois cada vez que se pretenda adicionar, por exemplo, uma nova parcela, seria

necessário incluir o nome do proprietário e seu endereço. Além disso, se ocorrer qualquer

modificação nos dados que a ele correspondem, seria necessário alterá-las em todos os

registros em que aparecesse, tal vez dezenas deles.

Para contornar os problemas que surgem ao usar procedimento como o descrito anteriormente

surgiram os Bancos de Dados Relacional (BDR), nos os dados são armazenados em várias

tabelas menores, inter-relacionadas mediante códigos ou identificadores. Estas plataformas

garantem maior rapidez e confiabilidade na manutenção dos dados, sendo porém necessário

que se armazene também informações sobre como as tabelas se relacionam.

Voltando ao exemplo do Cadastro Territorial, a tabela geral única pode ser desdobrada em pelo

menos duas: a Tabela de Parcelas (Tabela 2), na qual são registrados os dados físicos e

serviços, e a Tabela de Proprietários (Tabela 3), que contem os dados pessoais do titular do

direito de domínio (ou o possuidor). Ambas tabelas são relacionadas pelo código do

proprietário, garantindo assim que se algum dado correspondente ao ele muda, somente será

necessário efetuar a atualização na Tabela de Proprietário para que o sistema Cadastral fique

completamente atualizado e sem erros.

ID Cadastro Endereço Frente Fundo Serviços ID_Proprietário 01-001-231 Andradas 1234 12,20 35,40 A - L - B - T - 2123 01-002-421 Floriano Peixoto 10,00 29,47 A - L - B 2124 02-001-123 Av. Pres. Vargas 17,30 45,80 A - L - B - T 2125 02-003-543 Duque de Caxias 10,00 28,40 A - L - B - T 2123

.... .... .... .... .... ....

Tabela 2- Tabela de Parcelas Territoriais em um sistema relacional

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 15

Cód_Proprietário C.I. Nome Endereço 2123 10.234.567 Carla Perez Dr. Bozando 120 - Ap 01 2124 5.999.743 Maria Schuch Jaguarão 321 2125 13.888.909 João Cassol Lima e Silva 444 - Ap 02 2126 7.231.322 Gabriela Seffrin Av. Pres, Vargas 1789

.... .... .... .....

Tabela 3 - Tabela de Proprietários em um sistema relacional

Os bancos de dados relacionais, tal como seu nome indica, relacionam tabelas através de

códigos (também denominados de identificadores) o qual agiliza o gerenciamento de grandes

bases. A Figura 10 mostra como se relacionam tabelas no ambiente de um banco de dados

relacional.

Figura 10 – Relacionamento de Tabelas em um banco de dados cadastral

A partir do relacionamento de duas ou mais tabelas é possível gerar informações que permitem

efetuar estudos estatísticos, bem como exportar as mesmas para o ambiente SIG onde são

geradas as cartas temáticas. No exemplo apresentado, o campo ID Cadastro é o que viabiliza a

conexão entre o banco alfanumérico e a base cartográfica digital.

A Cartografia Cadastral Urbana no caso do Brasil normalmente é elaborada por técnicas

topográficas ou fotogramétricas. No primeiro caso é difícil encontrar um exemplo genérico a nível

de país pois os profissionais utilizam nomenclaturas e sistemas de coordenadas arbitrários. Isto

não significa que os documentos cartográficos assim gerados sejam de má qualidade, mas a

falta de georeferenciamento acaba causando problemas na hora de integrar os dados gerados

pelo cadastro com cartas provenientes de outras instituições (inclusive do órgãos

governamentais da própria Prefeitura municipal).

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

A

Já as plantas geradas por restituição fotogramétrica, respondem (de forma mais ou menos geral)

ao formato representado na Figura 11. Em esses documentos os dados são organizados em

níveis de informação os quis são amarrados a algum sistema de referência de coordenadas as

quais são representadas mediante uma grade.

Figura 11 - Planta Cadastral

C

766.0

A

r

m

6

plicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 16

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

6765.8

6765.6

6765.4

6765.2

6765.0414.4 414.6 414.8 415.0 415.2 415.4 414.6 414.8 416.0

PREFEITURA MUNICIPALDE CIDADE BRASILEIRA

FOLHA 10

ARTICULAÇÃO

FOLHA 04 FOLHA 05 FOLHA 06

FOLHA 09 FOLHA 11

FOLHA 17 FOLHA 18 FOLHA 19

NQNGNM

R á l Té i

DATASAEROFOTOSAPOIORESTITUIÇÃODESENHO

Elementos CartográficosDatumsProjeção

ESCALASAerofotos

EMPRESA DEFOTOGRAMETRIA

NORTESITUAÇÃO

CIDADE

CONVENÇÕES

DATA

PLANTA CADASTRALLEVANTAMENTO PLANIALTIMÉTRICO

VISTO 0

lguns municípios optam pelo uso de ortofotos (Figura 12) aliadas às plantas geradas por

estituição fotogramétrica o qual permite verificar (ao efetuar vôos em períodos sucessivos) as

odificações que se produzam na base cadastral.

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 17

Figura 12 – Ortofotografia Fonte: ENGEFOTO, disponível em http://www.engefoto.com/ortofotos.html, obtida em 27 de junho de 2004.

Finalmente, considera-se importante destacar ainda que a pesar dos avanços produzidos nos

últimos anos, as imagens de satélite ainda não são apropriadas para a atualização de bases

cartográficas cadastrais, servindo, porém, para a identificação de construções não declaradas e

identificação de novos loteamentos e assentamentos irregulares.

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

Aplicações SIT Uma das aplicações mais difundidas dos SIT no âmbito municipal é visualização dos dados

cadastrais através da geração de cartas temáticas. Tal como mostra a Figura 13, é possível

visualizar na planta o valor cadastral de cada parcela registrado na base de dados alfanumérica.

É importante salientar que as cores correspondentes a cada valor são redefinidas

automaticamente cada vez que o banco de dados alfanumérico é atualizado.

Figura 13 – Valor dos terrenos em 2003 no Setor 7 de Novo Hamburgo, RS.

Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 18

Outra forma de visualizar dados cadastrais é, por exemplo, através da geração de superfícies

que representem a variação do valor dos imóveis em um determinado setor da cidade. A

diferença entre as representações das Figuras 13 e 14 é que enquanto na primeira os valores

são apresentados de forma pontual (parcela-a-parcela) na segunda a variação é analisada de

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 19

forma contínua pois a superfície é gerada a partir de um Modelo Digital de Valor que interpola os

dados.

(a)

(b)

Figura 14 – Representação da variação contínua dos valores cadastrais em formatos vetorial (a) e raster (b)

Administração da Informação Territorial (Espacial) Na área tecnológica, os conceitos tem se alterado, adecuando-se aos novos tempos. Em 1998 a

Comissão 3 da FIG modificou a denominação de seu campo de atuação de Informação

Geográfica e SIG para Sistemas de Administração da Informação Espacial.

O conceito de Administração da Informação Espacial – AEI – se baseia na idéia de que os

dados, as pessoas, o software e o hardware interagem e que é possível obter sinergia através da

coordenação das mudanças e do desenvolvimento. O conceito cobre diversas áreas tais como

tecnologia de informação, temas organizacionais e infra-estrutura espacial. A AEI é uma

disciplina urgente para as organizações, à administração pública e as empresas individuais (nível

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 20

micro), bem como para a sociedade em geral (nível macro). No primeiro, ha enfoque mais

técnico, enquanto no nível macro são destacados os temas nacionais, de política internacional e

organizacionais.6

As respostas para este novo e exigente público estão se tornando viáveis com o

desenvolvimento constante de equipamentos e métodos orientados para otimizar a produtividade

dos sistemas de informação. Afortunadamente enquanto a demanda por dados precisos,

atualizados e georeferenciados cresce, novos produtos surgem com menores preços permitindo

a popularização de novas tecnologias.

Entre os numerosos desafios que ainda existem no campo da informação territorial na América

Latina, a dificuldade de padronizar processos e produtos merecem destaque.

Padrões Ao pensar em padrões, certamente uma das primeiras idéias que surgem são as normas ISO

elaboradas pela International Organisation for Standardization. Esta instituição não

governamental de amplitude mundial criada em 1946 com o objetivo de facilitar a coordenação e

unificação de padrões industriais, atualmente congrega aos institutos nacionais de padronização

de 147 países7.

Os padrões contribuem enormemente na maioria dos aspectos da vida, embora não se perceba.

Na verdade o que normalmente fica evidente é a falta de padrões, como por exemplo, ao

comprar produtos de má qualidade, que não cabem, não encaixam, que são incompatíveis com

algum aparelho já existente, que dão pouca confiabilidade ou são perigosos. Quando os

produtos resolvem as expectativas é muito provável que tenham passado pelos processos de

padronização.

Para os governos os padrões internacionais proporcionam as bases tecnológicas e científicas

que sustentam a saúde, a segurança e a legislação ambiental. Cabe então a pergunta: tem

sentido pensar em padrões em Cadastro?

6 Ryttersgaard, J. Commision 3 Spatial Inforamtion Mangement – Progress Report. Washington, FIG XXII International Congress, 2002. 7 Obtido em: http://www.iso.org em 14/09/2003.

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 21

A resposta é ampla, pois no “mundo cadastral” estão envolvidas questões tecnológicas

(softwares, formatos de arquivos, etc.), de legislação e de administração, com todas as

particularidades que acompanham a cada una delas.

A FIG tem realizado esforços orientados a padronizar procedimentos e ferramentas

tentando uma cooperação forte com a ISO. Como primeira atividade desenvolveu um paper em

1994 e o enviou a Secretaria Central da ISO. Depois de um árduo trabalho concluiu que é

possível padronizar as bases de dados (alfanuméricas e cartográficas), porém considerou

extremamente difícil padronizar os processos envolvidos na atividade cadastral. Esta afirmação

deriva das particularidades legislativas de cada jurisdição.

Padronizando a Informação Territorial Na busca constante em facilitar e acelerar o aceso aos dados, as empresas que desenvolvem

sistemas criaram várias formas de armazenar os documentos cartográficos. Houve uma época

em que cada empresa tinha seus próprios formatos de arquivos e a dificuldade de interâmbio

entre diferentes plataformas era grande. Com o passar do tempo ficou claro que, embora a

coexistência de formatos diferentes continuaria ocurrendo, era necessário também permitir que

usuários de um determinado sistema posma migrar para outro sem perdas significativas de

dados.

Entre as instituições de nome internacional que se ocupam de trabalhar com padronização de

dados referentes ao território o Open GIS Consortium (OGC) e a Global Spatial Data

Infrastrucutre (GSDI) têm papeis destacados. O consorcio internacional OGC é formado por 258

companhias, agências estatais e universidades que participam o desenvolvimento de

especificações para geoprocessamento. As interfaces abertas e os protocolos definidos pelo

OpenGIS apóiam soluções que "geo-permitam" a interação dos serviços via Web, sem fio ou de

qualquer outro tipo.

A GSDI afirma que o acesso global a informação geográfica se alcança com as ações

coordenadas entre as nações às organizações que promovam conhecimento, padrões comuns e

mecanismos eficientes para o desenvolvimento e a abertura de dados geográficos digitais. Estas

ações contemplam as políticas de organização, os dados, as tecnologias, os mecanismos de

entrega e os recursos financeiros e humanos necessários para garantir que essas que trabalham

na escala global e regional não estão impedidas de resolver seus objetivos. A GSDI lançou o

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 22

Receituário de Infra-estrutura de Dados Espaciais (IDE), traduzido para espanhol pela equipe de

trabalho de Mercator, no qual afirma que a infra-estrutura deve incluir dados, atributos

geográficos e documentação suficiente e algum método para proporcionar o acesso aos

mesmos. Além disso, para que a infra-estrutura seja mais completa, deve haver serviços

adicionais ou software que permita desenvolver aplicações dos dados. Para tornar funcional uma

IDE devem ser incluidos acordos organizacionais necessários para coordenar e administrar a

infra-estrutura a escala regional, nacional e transnacional. Justamente esta última frase mostra

que o processo será tanto mais complicado quanto mais restrita seja a legislação de terras da

jurisdição.

Na Europa existem instituições que trabalham em favor da aproximação das instituições, entre

as quais podem ser mencionadas: a Organização Européia para a Informação Geográfica

(EUROGI), o Escritório Internacional de Cadastro e Registros Territoriais (OICRF) e o Comitê

Permanente sobre o Cadastro na União Européia.

Na América Latina o Comitê Permanente da Infra-estrutura de Dados Espaciais para as

Américas - CP IDEA é o órgão que congrega os interessados em discutir padronização.

A partir do trabalho coordenado, todos aqueles que necessitam de informação ao nivel da

parcela poderão obtê-la de uma camada de dados estabelecida em algum sistema integrador,

sem importar onde se encontra. Normalmente estes sistemas são identificados com o anglicismo

Clearinghouse8, encontrando-se já muito disseminados nos países latino-americanos (embora

com diferentes níveis de desenvolvimento e detalhamento).

Particularmente na área cadastral, a pesar da existência de instituições devidamente

organizadas e dos métodos já desenvolvidos para padronizar dados, o processo de ajuste não

esta sendo rápido. Boa parte dos cadastros territoriais na América Latina já está estruturada em

plataformas digitais e se bem nem todas as instituições tem Sistemas de Informação Geográfica,

a existência de cartografia e de bases de dados em formato digital está amplamente difundida e

8Termo que tem várias acepções, mas que, de forma geral, pode ser relacionado com um centro distribuidor de informação formado por uma rede na qual cada instituição participante constitui um nó. Praticamente todos os países da américa latina têm suas próprias Clearinghouse, e alguns exemplos são: ClearingHouse Uruguai (http://www.clearinghouse.gub.uy) ClearingHouse Guatemala (http://www.clearinghouse.segeplan.gob.gt) ClearingHouse Nicaragua (http://www.clearinghouse.gob.ni/ ) ClearingHouse Salvador (http://clearinghouse.cnr.gob.sv/metadatos ) ClearingHouse Honduras (http://www.usgs.unitec.edu )

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 23

crescendo a cada dia. É o momento de padronizar, antes de gerar volumes de dados de difícil

acesso.

Em grande parte das aplicações disseminadas na América Latina a implementação de soluções

baseadas totalmente na tecnologia não tem sido muito eficiente. Isto se deve a que o problema

cadastral é muito mais amplo e a incorporação de novas tecnologias não veio acompanhada dos

mudanças necessárias nos procedimentos e na legislação.

2. A Nomenclatura Cadastral

Introdução9 Neste capítulo desenvolvemos também um dos temas básicos para o cadastro ao qual

normalmente se dá pouca importância. Nos referiremos aos sistemas que podem ser usados

para a identificação das parcelas. O tema é extremamente importante tendo em conta que, como

dizemos desde o início do curso, um dos pilares fundamentais da estrutura de um Cadastro

Multifinalitário é a correta e universal identificação de parcelas. Uma vez mais, nossa estratégia é

descrever alguns sistemas utilizados no mundo, apresentando alguns exemplos (entre eles da

América Latina), estabelecendo suas vantagens e desvantagens de maneira que o estudante

possa contextualizar o sistema que se utiliza em sua jurisdição e descrevê-lo com clareza, bem

como pensar em alternativas para a melhoria do mesmo.

Características A nomenclatura cadastral estabelece a identificação de cada parcela e sua definição é

fundamental para a vinculação com diferentes bases de dados territoriais.

O sistema de identificação mais simples consiste em atribuir à parcela um número que segue um

ordem seqüencial de registro. Este tipo de identificador foi usado desde os tempos remotos

quando se introduziu o registro nas colônias antigas, e está ainda em uso em muitos países em

via de desenvolvimento, tais como Zâmbia e Moçambique. Apesar de suas vantagens, esta

9 Como documento básico tomaremos o Apêndice A do livro de Gerhard Larsson Land registration and cadastral systems, traduzido pela Eng. Agrim. Hilda Herrera em 1998.

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classe de designação não dá nenhuma indicação da localização da parcela e se torna pouco

prática quando cresce o número de unidades e subdivisões. O mesmo se pode dizer dos índices

de proprietários, que identificam a unidade pelos nomes do comprador e vendedor. Este sistema

é muito usado especialmente nos Estados Unidos e em algumas partes de Canadá, mas a longo

prazo não dá uma definição única da parcela. Portanto na maioria dos países se aplicam outros

métodos. Em relação aos requisitos, é conveniente que o sistema de identificação de parcelas

seja:10

a) Fácil de compreender

Os números de parcela não devem ser desafios criptográficos para especialistas, senão que

deveriam levar-nos fácilmente à localização do imóvel e, ainda que pareça singelo, é algo que

normalmente esquecemos em nossos desvairios tecnocráticos.

Não devemos perder de vista que o mundo cadastral não está circuscrito aos técnicos com

especialização universitária, senão que transcende além dos limites da organização para entrar

em todos os ramos e status da Administração Pública e, o que é mais importante, de seus

administrados.

b) Fácil de recordar para o proprietário

Não é muito prático que o proprietário deva ter permanentemente a mão o “recibo anterior” do

imposto predial ou então um cartão velho, porque é impossível recordar algo como: Parcela

008H0978654*BG013J. Esta nomenclatura pode ser o resultado do critério de um perfeccionista

apoiado em sua nuvem tecnológica, sem analisar o fim prático para o qual criou o sistema de

identificação. Nomenclaturas como esta podem ser úteis apenas para trabalhos que se

desenvolvem dentro da instituição cadastral, sendo utilizada internamente por servidores

públicos especializados ou por um sistema informatizado automático.

c) Fácil de usar para o público e para os administradores

Ainda que a afirmação seguinte possa parecer elitista ou soberba e com o maior respeito para os

menos favorecidos pela educação, devemos buscar elementos para facilitar o uso para o público

e a para os administradores.

10 Dale, P.F. e MacLaughlin, J.D., Land Information Management. Clarendon Press, Oxford, 1988.; Ziemann H., Land Unit Identification. An Analysis. National Research Council of Canada, Ottawa, 1976.

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Ainda quando tenhamos um país com 90% ou mais de alfabetização, o nível de entendimento

dos formulários ou “papéis” da Administração, pode ser muito diferente para “o público” do que

para os administradores.

d) Permanente

Provevelmente ninguém pensará em usar um sistema no qual cada proprietário tenha seu

número próprio como um PIN pessoal ou que autorizemos para os imóveis placas

personalizadas como nos automóveis. Se exige permanência do sistema de individualização

parcelária (se não muda a parcela ou sua localização administrativa, o número não muda). Por

exemplo, se for permitido modificar a identificação pelo simples fato de transmitir-se a

propriedade, como nos sistemas de livro e folha, sem que existam mudanças que obriguem a

uma nova identificação cadastral (e que impliquem além disto em mudanças na matrícula ou no

folio real do Registro da Propriedade) deveremos ter na Base de Dados Cadastrais uma tabela

especial histórica para seguir o trato sucessivo dos diferentes números que teve a parcela, para

então identificar esta em relação aos documentos anteriores (ainda que seja a mesma parte de

território). Pensemos ainda nas complicações subseqüentes para todos os demais registros

(impostos, registros da propriedade, registros ambientais, registros administrativos, etc.) que se

nutrem da informação cadastral.

e) Capaz de ser atualizado em subdivisões e unificações

Em todos os países onde os registros adotaram os sistemas de matrícula e folio real, parte-se da

condição básica de que a nomenclatura da parcela é única e corresponde a uma determinada

porção de territorio, objeto de direitos, e que não se altera pela mudança de direitos (ver item

anterior) mas sim ante uma mudança de forma ou área.

Isto exige que se estabeleça um sistema no qual os números de parcela, dentro de uma

jurisdição dada, não se repitam e não se mantenham ante mudanças importantes de suas

dimensões geométricas. Por exemplo, em caso de dividir-se uma parcela, as parcelas geradas

deverão ter números diferentes da original, já que darão lugar a nomenclaturas diferentes no

Registro de Imóveis. O mesmo se aplica no caso de unificações (fusões) quando a nova parcela

deverá ter um número diferente de qualquer das parcelas anteriores que a constituiram.

f) Único e com perfeita correspondência entre os registros e o terreno

A unicidade é uma característica elementar quando falamos de um identificador. Não é prático

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nem econômico ter diferentes identificadores para a mesma parcela e a correspondência parece

tão evidente que nem valeria a pena comentá-la. Mesmo assim existem exemplos de

multiplicidade de identificadores para a mesma parcela tais como nomenclatura cadastral, rua e

número de porta, número de unidade de propriedade horizontal e número de departamento

seqüencial, que são utilizados por diferentes organismos da Administração Pública ou por

Empresas de Serviços, o que dificulta (e até inviabiliza) o cruzamento da informação e

conseqüentemente a estruturação de um Cadastro Multifinalitário.

Isso não quer dizer que por razões práticas não convenha ter a informação em diferentes

campos da Base de Dados Cadastral para seu aproveitamento por diferentes usuários. Se

geramos um Sistema de Informação para aplicações sanitárias, por exemplo, a base de dados

deve conter a nomenclatura cadastral (a qual eventualmente deve ser sub-codificada em

unidades), mas o dado prático que deverão ter os encarregados dos levantamentos ou os

médicos tem que ser nome da rua e nº de porta. Por esta razão é conveniente que na base de

dados se registrem diferentes identificadores para que possa ser aproveitada por diferentes

usuários, mas a nomenclatura continuará sendo única.

Paralelamente não resultaria prático o sistema inverso, isto é adotar como identificador “nome de

rua e nº de porta” já que é frequente a existência de múltiplas parcelas com acesso à via pública

por uma viela ou corredor comum.

Outro problema típico de falta de unicidade na identificação se dá na codificação de ruas. A

proliferação de Sistemas de Informação, sistemas de gestão de cobrança, etc. a diferentes níveis

da Administração que requerem códigos de identificação para as ruas, deu lugar a códigos

diferentes para a mesma via de trânsito, o qual em alguns casos é quase impossível unificar.11

g) Preciso e pouco provável de ser transcrito erroneamente

Esta afirmação é relevante pois, por um lado, a simplicidade da nomenclatura evita confusões e,

por outro, permite desenvolver procedimentos de controle auto-gerados a partir do próprio

identificador (dígitos de controle).

11 A título de exemplo cabe relatar a experiência da cidade mexicana de Guadalajara onde, no momento em que se implementou um sistema de información geográfica, foram detectados até 48 nomes diferentes para a mesma rua, com diferenças mínimas de abreviaturas, maiúsculas/minúsculas, etc.

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 27

h) Bastante flexible para ser usado em todas as formas de administração

territorial

Isto mais do que um requisito nos parece ser o resultado de uma vontade de uso conjunto como

boa prática de cooperação inter-administrativa orientada à multifinalidade. Independentemente

de que diferentes escritórios da Administração se encontrem em condições de desenvolvimento

distintas, umas “ricas” e outras “pobres”, umas informatizadas e outras não; terá que se estudar

a simplicidade e flexibilidade da nomenclatura para que seu uso seja realmente geral.

Neste sentido, temos que analisar muito cuidadosamente o uso de dígitos de controle auto-

gerados (que é um sistema excelente a que todos quereríamos chegar), quando os escritórios do

cadastro ou dos usuários de sua informação (municipalidades, registro, etc.) não têm a

possibilidade de usar meios informatizados.

i) Econômico para introduzir e manter

A economia de geração e manutenção é uma necessidade óbvia em qualquer sistema que se

pretenda gerir adequadamente.

O perigo reside nos sistemas prontos que são gerados a partir de recursos ou cooperação

internacional, que financia uma empresa externa, a qual gera um sistema de acordo com suas

capacidades e costumes. Não é raro que esta empresa produza sistemas similares aos de seu

país de origem, os quais nem sempre são apropriados para o país de destino do projeto.

Sistemas altamente sofisticados ou que requerem equipamentos ou tecnologia de ponta,

desenvolvidos a partir de outra realidade para serem implantados em países em via de

desenvolvimento, correm o risco de nunca serem utilizados, porque não podemos levar a equipe

desenvolvedora onde se produziram mudanças, porque já não se conta com a cooperação

internacional ou porque não temos fundos continuar o desenvolvimento. Na América Latina

temos casos de sistemas baseados em tecnologias de ponta que fracassam sem sair da versão

“demo” ou do “plano piloto”.

A simplicidade normalmente está relacionada com a economia e a facilidade (que implica

possibilidade) de manutenção.

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Sistemas hierárquicos de identificação Abordamos este tema através de exemplos concretos, evitando longas explicações teóricas,

chegando de forma mais direta ao ponto de interesse, que é entender como funcionam alguns

sistemas de identificação para do que o estudante avalie a eventual necessidade de mudar o

que está vigente em sua jurisdição.

Volume e folio

A identificação “Vol. 45, Fol. 175” por exemplo, significa que a unidade está descrita na página

175 do livro 45, o que também indica normalmente o ordem seqüencial do primeiro registro da

parcela dentro do distrito em questão. É um sistema simples mas apresenta certas limitações:

conserva muitos dos inconvenientes encontrados nos sistemas que seguem estritamente a

ordem do registro e a informação se concentra num determinado distrito.

Transcrevemos algumas observações do Standard on Digital Cadastral Maps and Parcel

Identifiers:

... em vez de livros podem ser utilizados mapas como referência. Um sistema baseado em

mapas é de uso simples e fácil. Neste sistema, o próprio mapa cadastral se incorpora no

identificador parcelario.

O identificador parcelario consiste num mapa, bloco (ou grupo) e um numero de parcela como

32-02-16, onde 32 representa o mapa onde se encontra a parcela, 02 indica o bloco no mapa, e

o 16 identifica a parcela nesse bloco.

Os mapas rurais normalmente não usam designações por bloco.

Em algumas jurisdições os mapas estão unidos em livros. Nesses casos, os identificadores

parcelarios podem consistir no número do livro de mapas, página e número de parcela. Os

identificadores baseados em mapas são, em certa medida, uma referência a uma zona

geográfica e são adequados na área rural.

Podem ser gerados alguns problemas neste sistema quando se apresentam desenvolvimentos

imobiliários extensivos, que requerem um remapeamento e atribuição de novos identificadores

parcelarios; no entanto, em áreas estáveis, o sistema pode ser satisfatório. 12

12 Transcrição de Standard on Digital Cadastral Maps and Parcel Identifiers. IAAO. http://wvgis.wvu.edu/stateactivities/standardsandguidelines/tax/IAAO_tax_standard_july03.pdf. O original menciona “mapa avaliatório” que alteramos para “mapa cadastral” por entendermos que é mais identificado com nossas realidades.

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 29

Parece pouco adequado, nos tempos modernos, vincular um sistema de identificação parcelaria

a documentos ou a mapas físicos e menos ainda a uma menção de seu registro em livros.

Este procedimento está baseado na imobilidade e isso por si mesmo o faz inadequado, sendo

inaceitável que se indique como um “problema” o desenvolvimento de novas áreas parceladas.

Sua adequação a áreas estáveis indica que poderia ser apto para zonas com normas

urbanísticas que proíbem a divisão de parcelas.

Vendo-o sob outro prisma, uma mesma localidade urbana poderia ter várias formas de

identificação parcelaria, segundo as normas urbanísticas que se apliquem a cada zona.

Número da planta e número da unidade

Esta identificação surge do número do planta inscrita em um cadastro no qual as unidades

territoriais estão numeradas seguindo alguma ordem consecutiva dentro do plano. Uma

alternativa é usar o número de cada folha do mapa topográfico, e atribuir números às unidades

dentro de cada folha em ordem cronológica ou espacial (de acordo com a data do registro ou de

acordo com a posição geográfica).

Este sistema corresponde a atribuir às parcelas os números com que o Agrimensor identifica os

lotes em seus planos de medição. O sistema é muito simples, pois o plano de medição está

relacionado com a parcela que se subdivide e não encontraremos diferenças entre as descrições

dos documentos legais e os derivados do cadastro.

No entanto, este sistema pode dar lugar a nomenclaturas diferentes nos casos em que não

existam normas bem definidas para que os profissionais identifiquem de forma uniforme e

sistemática as parcelas que geram.

Sistemas em árvore

Uma unidade municipal (tal como um povoado, distrito ou município) é dividida em quadras e

sub-quadras, dentro das quais as parcelas são numeradas em alguma ordem consecutiva. As

divisões geralmente estão baseadas nas sub-unidades existentes, tais como partes de cidade ou

limites administrativos-históricos, como aqueles que limitam um município ou povoado. O nome

do município ou povoado pode ser usado em uma designação alfanumérica, mas com freqüência

é substituído por uma série de números, especialmente para facilitar o processamento de dados.

Uma unidade por exemplo pode ter o número 12-08-15-045, o que significa que é a unidade

número 45 dentro do povoado número 15, no distrito número 8, dentro do municipio número 12.

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 30

Na prática diária o usuário e o servidor público só usam o nome do povoado e o número de

unidade.

Estes sistemas são característicos dos cadastros com alguns anos de história, que tiveram sua

origem em necessidades fiscais.

O sistema pode ter uma identificação numérica ou alfanumérica, mas por razões de clareza para

o público é conveniente que a identificação esteja permanentemente unida aos nomes pelos

quais se conhecem as unidades de grupamento.

Normalmente a nomenclatura chega até o nível bairro, mantendo-se só referências numéricas

para as quadras e parcelas. Desta forma o usuário só deve recordar dois números, o da parcela

e o da quadras, sendo o restante composto por nomes comuns e de uso corrente (seu bairro,

seu povoado, seu estado). A Figura 15 mostra como se organiza esta nomenclatura.

Nivel estado ou província

Estado A

Nivel localidade urbana

Povoado A Cidade B Povoado C

Nivel Bairro ou colonia (optativo)

Bairro A Bairro B Bairro D Bairro E

Nivel quadra 1 2 3 4 5 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 4 5

Nivel parcela

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

1 2 3 4 5 6 7 ...

Figura 15

O sistema em árvore se usa em vários países latinoamericanos e uma de suas características é

ter dois níveis de identificação para a informação: uma orientada ao usuário (explícita) e outra de

uso interno (codificada).

Vejamos por exemplo como se organiza o identificador no Uruguai:

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para os Departamentos (divisão administrativa principal) usa-se mesma codificação das

matrículas de automóvel (exceto Montevideo), que é a codificação mais geralmente usada

na Administração Pública;

dentro de cada Departamento as localidades urbanas se codificam como AA, AB, AC,

AD, etc., em função de sua importância, sendo A a capital Departamental e procurando usar

a mesma codificação de localidade que usa a Intendência Municipal desse Departamento;

dentro de cada localidade numeram-se sequencialmente as quadras ou grupamentos

urbanos, sem um critério georreferencial; e

dentro de cada quadra, numeram-se sequencialmente as parcelas (como identificador na

quadra, não como nomenclatura cadastral).

Todas essas chaves de identificação se usam para o manejo eficiente da Base de Dados, mas

não integram diretamente a identificação da parcela tal como a conhece o público. As parcelas

em si têm nomenclatura independente mas correlacionada com a anterior, sendo seqüencial

para cada localidade urbana e que não se repete dentro dela.

O usuário do sistema adota como identificador cadastral o número seqüencial referido à

localidade. Por exemplo: recenseamento 2345 da localidade de Piriápolis. Com isso fica

univocamente identificada a parcela, dado que para essa localidade o recenseamento 2345

corresponde à casa 4 da quadra 32 da localidade cadastral Piriápolis, localizada no

Departamento de Maldonado.

Dentro da Base de Dados, os identificadores são B-NG-2345, onde B é a identificação do

Departamento de Maldonado, NG corresponde à Localidade Cadastral Piriápolis e 2345 é o

número de recenseamento (que como vimos é único na localidade). As únicas eventualidades de

confusão (não para o sistema, mas sim para o usuário) seriam que existissem duas localidades

com o mesmo nome em províncias ou departamentos diferentes.

Cada um dos dados se localiza na tabela correspondente da Base de Dados, de maneira que se

possa acessar a informação com a identificação do departamento, localidade e número de

recenseamento ou com a identificação do departamento, localidade, quadra e casa.

Paralelamente existem tabelas complementares que correlacionam os números de

recenseamento com o nome da rua e número de porta.

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Endereços

Uma série de números pode ser substituída pelo nome da rua. O endereço é provavelmente o

melhor compreendido de todos os identificadores, mas nem todas as unidades territoriais estão

localizadas ao longo de uma rua ou têm alguma vinculação natural com uma estrada e também

nem todas as ruas e estradas são permanentes.

No entanto, o endereço é normalmente usado junto com outras designações da unidade

territorial, como dado complementar que o proprietário conhece perfeitamente.

Os casos mais evidentes de inadequação do sistema se apresentam quando existem parcelas

definidas ao longo de uma servidão de passagem, porquanto é normal que as municipalidades

numerem a entrada da servidão e não dêem números para imóveis localizados em vias que não

sejam caminhos públicos. Um sistema adequado de numeração é agregar letras ou barras ao

número principal de acesso à servidão, como por exemplo 2619E (ver figura 16).

Rua e número

viela ou servidão

E (NO 2619E)

(2619)

DC

BA

Rua e número não definemposição

E(sistema geográfico)

N(sistema geográfico)

X (sistema local)

Y (sistema local)

Figura 16

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Uma forma de numeração que pode servir para a identificação parcelaria é a utilizada na

Holanda, onde se dá números de porta a todas as unidades que têm acesso por uma única

entrada. Neste caso, ainda que seja útil para o cadastro, a numeração é bastante confusa para

os transeuntes porque os números que se vêem sobre a rua não têm a continuidade a que

estamos acostumados na América Latina.

Identificadores de localização Este tipo de identificadores está sendo utilizado com mais intensidade a partir da popularização

dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), nos quais encontrar um ponto interno da parcela

é uma atividade simples e praticamente automática. As coordenadas deste ponto normalmente

são utilizadas para a definição da nomenclatura cadastral.

Sistemas de identificação de quadrículas

Uma quadrícula é um conjunto de linhas verticais e horizontais que formam quadrados iguais

sobre o mapa e pode ser usada como referência para a localização de pontos e polígonos. As

coordenadas da quadrícula são um par de números, que localizam um ponto com relação a sua

distância a dois eixos de referência.

A quadrícula pode estar relacionada à latitude e longitude. No entanto, normalmente se usa um

sistema de coordenadas baseado em algum tipo de projeção cartográfica – neste caso nos

referimos ao sistema nacional cartográfico de quadrículo. As coordenadas dos vértices que

compõem o polígono que delimita a parcela, permitem localizá-la. Entretanto, se são usadas

coordenadas como identificadores, deve ser eleito um único ponto. Normalmente se usa o ponto

denominado centróide que não é o “ponto central” propriamente dito (alguns exemplos de

centróides se apresentam na Figura 17). Se as coordenadas desse centróide se utilizam para

definir a nomenclatura cadastral, dizemos que o sistema adota um geocódigo.

Os geocódigos são muito úteis para a localização da informação de base parcelaria num SIG e

são utilizados cada vez com mais freqüência nos registos cadastrais. Sendo que normalmente

têm muitos dígitos, na prática chegam a ser incômodos para o usuário em general, podendo

obter-se melhor desempenho ao usar as coordenadas em blocos. Vejamos um exemplo

latinoamericano de uso de geocódigo como é o de República Dominicana.

Nesse país recentemente foi implementado um SIG que administra a atribuição da identificação

parcelaria utilizando uma nomenclatura posicional baseada na combinação das coordenadas L e

N do sistema de projeção UTM.

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Figura 17 - Geocódigos e outras formas de identificação

Para formar a nomenclatura cadastral se usa um esquema misto com os valores L e N,

intercalando-os sucessivamente. Isto permite a rápida identificação de sucessivos retângulos nos

quais a parcela está localizada. Por exemplo, uma parcela cujas coordenadas do centróide são L

= 403.883m e N = 041.687m, resulta:

40 04 31 86 88 37 LN LN LN LN LN LN

Os dígitos de cada valor das coordenadas são emparelhados tomando cada um por separado da

série que forma a coordenada L e adicionado com o correspondente dígito da coordenada N.

Este sistema de dígitos emparelhados é usado como gerador de um identificador único da

parcela. Tem algumas vantagens sobre o simples arranjo dos valores das coordenadas L e N.

Cada par de dígitos relaciona graficamente a uma pequena área retangular do sistema de

coordenadas. Desta maneira, o identificador parcelario provê uma seqüência sistemática de

pequenas janelas que permitem chegar à exata posição da parcela sem necessidade de mapas

com chaves ou outros arranjos de natureza arbitrária.

Do ponto de vista técnico é vantajoso quando os sistemas de referência e de projeção

cartográfica são estáveis, além de ter uma relação direta com a superfície da Terra.

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Paralelamente, entre as desvantagens encontramos que, embora esteja intimamente unido à

localização, é compreendido só pelos técnicos, especialistas na matéria e não tem significado

para o usuário comum (inclusive pode chegar a confundí-lo), além de estar constantemente

sujeito a mudanças se for alterado, por exemplo, o sistema de referência ou a projeção

cartográfica utilizada.

Centróide Visual ou Paracentróide

Neste sistema o ponto de identificação para cada parcela é o centro aproximado, ou centróide

visual, o qual pode ser calculado por computador mas é tipicamente definido por um técnico

cartógrafo qualificado.

No estado norte-americano da Carolina do Norte, por exemplo, os números de identificação

parcelaria se denominam PIN (Parcel Identification Number) e estão baseados no Sistema

Estadual de Coordenadas Planas. Compõem-se de uma abscissa ou designação leste-oeste e

uma ordenada ou designação norte-sul.

Para criar um PIN devem seguir-se os seguintes passos (exemplo de Henderson County –

Figura 18):

1. Estabelecer o centro visual, ou centroide da parcela,

2. Ler as coordenadas usando um escalímetro, e identificar os 14 dígitos que se

necessitam: 7 para o Leste e 7 para o Norte (as leituras de 6 dígitos são precedidas de um

0).

Vejamos um exemplo, sendo que o plano estadual da Carolina do Norte está em pés (ft),

um ponto determinado tem as seguintes coordenadas:

coordenada “X” (LESTE) = L 1,025,565 ft ao leste de 0

coordenada “Y” (NORTE) = N 0,636,735 ft ao norte de 0

3. Tomar cada dígito separadamente da coordenada Leste e combina-lo com o

correspondente da coordenada Norte, emparelhando-os (sempre primeiro o Leste):

10 06 23 56 57 63 55 LN LN LN LN LN LN LN

4. Com essa organização,no exemplo apresentado o identificador parcelario pode ser

organizado como segue: 10 – 0623 – 56 – 5763 – 55

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Geotecnologias

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aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

NO

RTE

Y

0,636,735 ft Norte

LESTEX0,0

1,025,565 ft Leste

Figura 18

Isto corresponde ‘a seguinte desagregação na qual pareceria que as divisões são arbitrárias. Medidas en pés

Milhões 10 Mil & 100 Mil milhares centenas & dezenas

unidades

- MAP - BLOCO - LOT - 10 - 0623 - 56 - 5763 - 55

Número líder. Mudará quando se alcança uma marca de milhão.

Número do módulo básico do mapa (1’=400’)

Número do Bloco

Número do lote - centroide da parcela

Para extender a capacidade do sistema. p.ex.: casas auto-construídas *

*condominios, casas auto-construídas e edificios em leasing são identificados com um

número de parcela “similar” ao da terra onde estão localizados. Os últimos dois dígitos

(unidades) são a parte do PIN que se altera. Nesta forma podem ser avaliadas

separadamente ou vinculadas a diferentes proprietários, mas sua localização geográfica

está identificada na parcela onde se localiza. Por exemplo uma porção de terra pode ter

dois registros parcelarios:

10-0623-56-5763-55 proprietário da terra (landowner)

10-0623-56-5763-01 proprietário de casa auto-construída (manufactured homeowner)13

13 http://www.henderson.lib.nc.us/county/ca/howpins.html.

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O sistema identifica realmente o paracentróide da parcela, por suas coordenadas em centenas e

dezenas de pés, deixando as coordenadas em pés para serem mudadas segundo o tipo de

objeto parcelario que o número identifique.

É também curioso, que a informação estabeleça em forma preceptiva que as coordenadas se

medem com um escalímetro, quando poderia fazer-se em forma mais cômoda e rápida com uma

mesa digitalizadora.

O sistema permite dois números de parcela para a mesma porção de território, um para a terra e

outro para as construções, as quais podem pertencer a pessoas diferentes, embora sem definir

claramente as limitações legais dessa situação.

Esta última situação seria impossível na América Latina (com exceção de Cuba, onde a terra é

normalmente pública) ao considerar a acessão como forma de adquirir o domínio. Mantendo a

possibilidade (em alguns países) de existirem diferentes proprietários para o terreno e para as

construções, somente para os casos de vendas de terrenos a prazo, nos quais alguém compra

um terreno a prazo e nele edifica algo. Neste caso a pessoa é proprietária das construções e

promitente compradora do terreno. Pode-se consolidar esta situação mediante uma escritura de

compra em cumprimento de promessa (só pelo terreno). No caso da venda do conjunto, se

transmite a propriedade da edificação e se transfere a a promessa de compra e venda do

terreno, ficando o novo comprador nas mesmas condições.

Sistemas de Geolocalização Absoluta Este tipo de sistema é o que geralmente usam os SIG para a identificação dos objetos poligonais

e sua conexão com os atributos alfanuméricos correspondentes.

Durante bastante tempo utilizou-se a identificação do polígono e seus atributos pela posição do

centróide calculado automaticamente como baricentro da figura poligonal, mas há o

inconveniente de que para certas figuras o baricentro fica fora do polígono, como exemplificado

na figura 19, na qual o baricentro da parcela B tem forma de L (verde claro), e fica dentro dos

limites da parcela lindeira A (verde escuro).

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 38

B

A

Centroide Parcela B

N(sistema geográfico)

X (sistema local)

Y (sistema local) Centroide Parcela A

L(sistema geográfico)

Figura 19

Como foi apontado, um grande inconveniente (talvez apenas temporário) para o uso de sistemas

absolutos de geocodificação ocorre a partir das mudanças de elipsóides, datums e projeções

para a cartografia em diversas zonas do mundo, como os propostas pelo Projeto SIRGAS, que

tem como objetivo estabelecer um sistema de referência uniforme para as Américas. As

mudanças na cartografia obrigarão a que as referências mudem e, dependendo de qual seja a

nova projeção adotada, poderemos encontrar diferenças que podem influir nos números usados

para definir a nomenclatura, fazendo inclusive que mude a referência parcelaria.

Sistemas de Geolocalização Indireta Estes sistemas utilizam códigos para definir os “grandes quadros” de um sistema de

geocodificação, como exemplo as quadrículas quilométricas ou deca-quilométricas mediante

letras ou números. Desta forma se procura evitar que a referência tenha demasiados algarismos,

facilitando sua memorização.

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 39

Um exemplo disso é o sistema do Cadastro Espanhol que apresentamos a seguir, no qual a

referência cadastral se compõe de duas partes: a referência de plano, que indica em que planos

se encontra a parcela e a referência da parcela, a qual se geocodifica com a referencia do canto

inferior esquerdo do plano de escala maior, a posição do centróide da quadra e o número do lote

na quadra (Figuras 20a e 20b)14.

Vejamos em primeiro lugar como se geram as referências cadastrais. O sistema chega à

definição da localização absoluta por coordenadas UTM do canto inferior esquerdo de cada

hectêmetro nas folhas de cartas quilométricas em zonas urbanas, continuando com uma

localização relativa a maçã e parcela. A partir desses identificadores parcelarios ou referências

cadastrais, o Cadastro Espanhol agrega à Referência Cadastral quatro dígitos, que se

denominam ‘Cargo dentro da Finca’, e correspondem à numeração interna, com a identificação

do local ou andar, e outras duas letras que servem como controle auto-gerado a partir das 18

posições anteriores. Por exemplo, 9872023 – VH5797S – 0001 – WX.

Nesse contexto, uma unidade de pagamento de tributos para o Cadastro Espanhol é um

identificador com 20 posições, na qual:

14 correspondem à definição parcelaria (7 de referência de plano e 7 de referência de

parcela),

4 correspondem à definição da unidade de pagamento na parcela (que pode ser a unidade

de propriedade no caso de propriedade horizontal), e por fim

2 letras de controle.

14 Exemplos de georreferenciação indireta de parcelas disponíveis em Apuntes de Cartografía catastral, Escuela Universitaria de Ingeniería Técnica Topográfica. Universidad Politécnica de Madrid. Obtido em http://nivel.euitto.upm.es/~jjarranz/apuntes em 22/03/2005.

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Geotecnologias aplicadas ao cadastro e identificação parcelaria

Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 40

Figura 20a

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Figura 20b

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Aplicações do Cadastro Multifinalitario na Definição de Políticas de Solo Urbano 42

Nas zonas urbanas as referências de plano são:

dois caracteres (números ou letras) para quadro de 100 km,

dois caracteres para quadro de 10 km,

dois caracteres para quadro de 1 km, e

N ou S se o plano base é 1:1000, ou A, B, C, D, E, F, G ou H: se o plano é 1:500.

Assim, a referência cadastral é:

a) Referência do canto inferior esquerda do quadro hectométrico UTM:

a.1) Dois caracteres: quilômetro e hectômetro em X,

a.2) Dois caracteres: quilômetro e hectômetro em Y,

b) Um dígito (de 1 a 9) - quadro onde se localiza o centro da quadra,

c) Dois dígitos para o número do lote na quadra.

Nas zonas rurais, as referências de plano são:

dois caracteres - sempre 00,

dois caracteres para quadro de 100 km,

dois caracteres para quadro de 10 km, e

A, B, C, D, E, F, G, ou H se o plano base é 1:5000.

E a referência cadastral é:

a) dois dígitos: sempre 00,

b) dois dígitos de 1 a 25 com a localização no plano base,

c) três dígitos com o número da parcela.

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Identificadores híbridos hierárquicos e/ou de quadrícula Também pode ser possível usar identificadores híbridos hierárquicos e/ou de quadrícula. Por

exemplo o estado e o município podem ser identificados pelo nome ou número, enquanto o resto

da identificação da unidade territorial pode seguir um método de quadrícula.

Nos Estados Unidos os municípios (townships) são parte do Sistema Público de Medições,

estabelecido pelo Congresso Continental em 1785 para organizar e transmitir a propriedade da

terra. Esta é uma norma criada depois da Independência para as áreas que fossem colonizadas,

e então não é usada nos 13 estados originais da União.

As divisões civis municipais como os povoados podem ou não ser condizentes com as medições

dos townships. Os townships são quadrados de 36 milhas quadradas, seguindo paralelos e

meridianos, organizados a partir de um paralelo e um meridiano centrais para diferentes zonas

dos EEUU.

Identificam-se mediante um sistema coorden ado de L-township e X–faixa, no que o township

cresce de sul a norte e a faixa cresce de oeste a leste.

Este sistema é um sistema hierárquico que consiste da definição de uma quadrícula básica em

cada uma das diversas áreas medidas, que cobrem normalmente um ou mais estados.

O área é dividida em municípios, cada um de seis milhas quadradas, e subdividido em 36

seções, cada um de uma milha quadrada (640 acres), e ainda há algumas variações no tamanho

das seções devido à curvatura da Terra, mudanças em declives e elevações, etc.

Os townships de 36 milhas quadradas estão numerados como “municípios” ao norte ou sul da

origem (somente norte no Canadá), e em faixas ao leste ou ao oeste do primeiro meridiano

(somente oeste no Canadá).

Dentro do município, numeram-se as 36 seções. Nos Estados Unidos, normalmente a

numeração começa no canto superior direito (nordeste), crescendo em forma meândrica. Dentro

de cada seção, os 4 quartos de seção são designados como nordeste, noroeste, etc., e os

quartos dos quartos de seção são designados do mesmo modo. Por exemplo, o quarto nordeste

do quarto sudeste da seção 1, município 8 norte, faixa 3 este do quarto meridiano principal é o

identificador específico e o que localiza à parcela de 40 acres no Condado de Dane

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(Wisconsin)15,16. Este sistema provê a localização geográfica, mas pode ser pouco prático nos

casos de excessiva subdivisão, por exemplo numa área urbana.

Os identificadores gerados neste sistema têm relação com uma quadrícula original mas não

deixam de ser estruturas em árvore, que definem implicitamente uma localização geográfica.

Assim podemos denominá-los sistemas hierárquicos em árvore de geolocalização incompleta.

O sistema do Condado de Blount (Alabama) é uma variante dos sistemas anteriores, mas é

curiosa a a resposta dada a uma das Perguntas mais Frequentes (FAQ – Frequently Asked

Questions), presente em sua página WEB:

Por quê posso ter dois números de identificação parcelaria se tenho só uma

propriedade?

Múltiplos números de parcela não afetam a carga impositiva de sua propriedade. Esses

números são simplemente para localização e identificação. A seguir listamos algumas

das muitas razoes para existirem múltiplos números de identificação parcelaria:

a) A propriedade cai em duas seções diferentes. Cada seção é numerada

independentemente.

b) Cada parcela foi previamente propriedade de diferentes indivíduos.

c) A propriedade foi adquirida em épocas diferentes.

Podemos apreciar a mistura entre identificação parcelaria e identificadores legais ou números de

identificação de propriedades, indicando que uma mesma porção do território deste condado,

pode ter identificações diferentes segundo qual seja o escritório de destino ou o tipo de

necessidade emergente (legal, promotora, etc.). Compare este sistema com o indicado ao

princípio deste trabalho.

De acordo com o que temos defendido neste curso sobre as condições que deve cumprir a

identificação de uma parcela, a pergunta proposta pelo contribuinte deveria ter só uma resposta:

“você tem DUAS parcelas, ainda que a municipalidade lhe apresente uma só fatura de

impostos”.

15 Fisher, K.P. e Moyer, D.D. Land Parcel Identifier for Land Information Systems, Chicago Press, 1973. 16 http://dcimap.co.dane.wi.us/.

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Apresentamos ainda o exemplo da cidade de Boston, no estado de Massachussets17 (em honra

ao Lincoln Institute of Land Police), a qual usa um número de dez dígitos como Identificador

Único Parcelario (UPI – Unique Parcel Identifier) e inclui os números de ward (ou setor), parcela

e subparcela. Por exemplo, a UPI 0300275000 corresponde a:

Setor: 03

Parcela: 00275

Sub-parcela: 000

Sobre estes sistemas usados nos Estados Unidos, podemos realizar uma reflexão, que

acreditamos ser aplicável a outros países com sistemas municipais de cadastro.

Os sistemas de identificação cadastral aplicados nos estados que criaram a União americana,

são diferentes do Sistema Retangular de Medição Territorial e diferentes também nos diferentes

condados em que este sistema se aplica (a forma de identificar os quartos e os quartos de

quartos são diferentes). Em muitos casos se identificam os quartos com seu rumo, como quarto

NE ou SE e os quartos de quartos como NE de SE ou SO de NE, em outros se identificam como

1, 2, 3 e 4 os quartos, ou como 100, 200, 300, 400 e se tomam números seqüenciais em forma

meãndrica para os quartos de quartos.

O resultado é que não existem identificadores parcelario uniformes no território dos Estados

Unidos e nem sequer dentro de muitos Estados, o que dificulta sensivelmente o estabelecimento

de Sistemas de Informação que cheguem ‘a escala parcelaria com cobertura além de um único

condado.

A pressão da oferta de SIG, também faz que normalmente cada condado tenha seu sistema, o

que, ao lado do argumento anterior, chega praticamente a impedir a realização de estudos sobre

áreas importantes de território que devam ter informação desagregada na escala parcelaria, sem

que evitar o uso de procedimentos especiais de gestão da informação ou a geração prévia de

identificadores “únicos”, relacionados tabularmente com os identificadores prediais oficiais.

17 Recomendações gerais para a geração de identificadores prediais nos Estados Unidos, que são parcialmente coincidentes com as anteriores, podem ser obtidas nas páginas seguintes: http://wvgis.wvu.edu/stateactivities/standardsandguidelines/tax/IAAO_tax_standard_july03.pdf, da International Association of Assessing Officers. – Associação Internacional de Avaliadores e na página da Univ. de Massachussets http://www.umass.edu/tei/ogia/parcelguide/index.html.

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Sistemas hierárquicos de Trato Sucessivo Na Suécia, por exemplo, usa-se um sistema hierárquico que começa com o nome da

municipalidade e normalmente continua com o nome do povo ou cidade. Na designação Alby

5:18 na municipalidade de Botkyrka, Botkyrka é a municipalidade, Alby é o povoado, 5 é uma

das localidade originais no povoado, enquanto o agregado 18 é determinado mais tarde pelas

partições e subdivisões.

Denominamos o sistema sueco “de trato sucessivo” pois mediante um procedimento (que não é

sistemático) temos a referência da origem da parcela na sua nomenclatura.

No plano da Figura 21, a parcela Berga 5:2 se divide separando o lote A, que dá origem à

parcela Berga 5:11. Essas parcelas têm como lindeiras as parcelas Berga 5:6 e Vika 7:1. Os

nomes nas parcelas correspondem ‘as parcelas originais, denominadas Berga e Vika, que hoje

correspondem a nomes de povoados mas que originalmente eram os nomes dos proprietários

registrados nos primeiros levantamentos cadastrais com fins fiscais que podem ser de 1650.

Quando se subdividiu, por exemplo, a parcela Vika, esta deu origem às parcelas Vika 1, Vika 2,

....., Vika 7, etc., e a posterior subdivisão da parcela Vika 7 deu origem às parcelas Vika 7:1,

Vika 7:2,etc.

As relações numéricas não vão além de duas posições, agregando-se mais dígitos na última

posição, como em qualquer sistema seqüencial simples. Por exemplo se dividimos a parcela

Vika 7:1, poderia gerar-se a parcela Vika 7:12.

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Figura 21

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