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1 1 2 PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 3 VOLUME 2 IMPACTOS, VULNERABILIDADES E ADAPTAÇÃO 4 5 Capítulo 4 Título Recursos Naturais e Manejos, Ecossistemas e seus Usos (Sub)Seção: 4.1 Recursos Hídricos Autores Autores Principais: Francisco de Assis de Souza Filho-UFC Autores Colaboradores: Alfredo Ribeiro Neto-UFPE; Joaquim Gondim- ANA; Autores Revisores: Carlos Eduardo Morelli Tucci- UFRGS; Demetrios Christofidis- MIN; Rosa Maria Johnsson - UERJ (Sub)Seção: 4.2: Ecossistema de Água Doce e Terrestre Autores Autores Principais: Fabio Rubio Scarano - UFRJ Autores Colaboradores: Braulio Ferreira de Souza Dias- MMA Francisco de Assis de Souza Filho-UFMG Ricardo Bomfim Machado- UnB Autores Revisores: Fábio Roland- UFJF Simey Thury Vieira Fisch- UNITAU (Sub)Seção: 4.3: Sistemas Costeiros e Áreas Costeiras Baixas Autores Autores Principais: Antonio Henrique da Fontoura Klein- UFSC Helenice Vital- UFRN João Luis Nicolodi- UFRG; Autores Colaboradores: Carlos Augusto França Schettini- UFPE Gilberto Fonseca Barroso- UFES Luciana Costa- Ecology Brasil Ltda. Luiz Francisco Ditzel Faraco- ICMBio Mario Luiz Gomes Soares- UERJ Autores Revisores: Jarbas Bonetti Filho- UFSC Paulo da Cunha Lana- UFPR (Sub)Seção: 4.4: Ecossistema Oceânico

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PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 3

VOLUME 2 – IMPACTOS, VULNERABILIDADES E ADAPTAÇÃO 4

5

Capítulo 4

Título Recursos Naturais e Manejos, Ecossistemas e seus Usos

(Sub)Seção: 4.1 Recursos Hídricos

Autores Autores Principais: Francisco de Assis de Souza Filho-UFC

Autores Colaboradores: Alfredo Ribeiro Neto-UFPE; Joaquim Gondim-

ANA;

Autores Revisores: Carlos Eduardo Morelli Tucci- UFRGS;

Demetrios Christofidis- MIN;

Rosa Maria Johnsson - UERJ

(Sub)Seção: 4.2: Ecossistema de Água Doce e Terrestre

Autores Autores Principais: Fabio Rubio Scarano - UFRJ

Autores Colaboradores: Braulio Ferreira de Souza Dias- MMA

Francisco de Assis de Souza Filho-UFMG

Ricardo Bomfim Machado- UnB

Autores Revisores: Fábio Roland- UFJF

Simey Thury Vieira Fisch- UNITAU

(Sub)Seção: 4.3: Sistemas Costeiros e Áreas Costeiras Baixas

Autores Autores Principais: Antonio Henrique da Fontoura Klein- UFSC

Helenice Vital- UFRN

João Luis Nicolodi- UFRG;

Autores Colaboradores: Carlos Augusto França Schettini- UFPE

Gilberto Fonseca Barroso- UFES

Luciana Costa- Ecology Brasil Ltda.

Luiz Francisco Ditzel Faraco- ICMBio

Mario Luiz Gomes Soares- UERJ

Autores Revisores: Jarbas Bonetti Filho- UFSC

Paulo da Cunha Lana- UFPR

(Sub)Seção: 4.4: Ecossistema Oceânico

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4- Recursos Naturais e Manejos, Ecossistemas e seus Usos 16

Índice 17

4.1 Recursos Hídricos .............................................................................................................5 18

4.1.1. Introdução .....................................................................................................................5 19

4.1.2.Forçantes dos Recursos Hídricos ...................................................................................6 20

4.1.3. Disponibilidade e Demanda Hídricas no Brasil ............................................................8 21

4.1.3.1. Disponibilidade Hídrica ...................................................................................................... 8 22

4.1.3.2. Tendências e Variabilidade da Disponibilidade Hídrica................................................... 12 23

4.1.3.3. Demanda ........................................................................................................................... 14 24

4.1.4. Cenários de Mudanças Climáticas nos Recursos Hídricos .........................................19 25

4.1.4.1.Visão geral ................................................................................................................19 26

4.1.4.2.Bacias Hidrográficas e Regiões Brasileiras ..............................................................21 27

4.1.4.3.Águas Subterrâneas ...................................................................................................22 28

4.1.4.4.Qualidade da Água ....................................................................................................22 29

4.1.4.5.Usos da água .............................................................................................................22 30

4.1.5.Estratégia de Adaptação ...............................................................................................23 31

4.1.6.Desastres Naturais ........................................................................................................26 32

Autores Autores Principais: Fábio Hissa Vieira Hazin- UFRPE

Paulo Eurico Pires Ferreira Travassos- UFRPE

Autores Colaboradores: Humberto Gomes Hazin- UFRPE

Autores Revisores: Silvio Jablonski – UERJ

Jorge Pablo Castello- UFRG

(Sub)Seção: 4.5: Sistema Alimentar e Segurança

Autores Autores Principais: Giampaolo Pellegrino- EMBRAPA

Maya Takagi- MDS

Autores Colaboradores: Carmem Priscila Bocchi- MDS

Arnaldo Carneiro Filho – SAE

Andrea Koga Vicente -CEPAGRI/UNICAMP

Susian Christian Martins- EMBRAPA

Paula Rodrigues Salgado- EMBRAPA

Iedo Bezerra As – EMBRAPA

Autores Revisores: Aryeverton Fortes de Oliveira- EMBRAPA

Jurandir Zullo Junior- UNICAMP

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3

Referências Bibliográficas ....................................................................................................27 33

4.2. Ecossistemas de Água Doce e Terrestres .......................................................................40 34

4.2.1. Introdução ...........................................................................................................40 35

4.2.2. Vulnerabilidade e Impacto ..................................................................................40 36

4.2.3. Ecossistemas de Água Doce ...............................................................................42 37

4.2.4. Ecossistemas Terrestres ......................................................................................42 38

4.2.5. Adaptação ...........................................................................................................43 39

4.2.6. Adaptação baseada nos ecossistemas .................................................................44 40

4.2.7. Restauração ecológica ........................................................................................45 41

4.2.8. Biocombustíveis .................................................................................................46 42

4.2.9. Lacunas de dados e de pesquisas ........................................................................46 43

4.2.10. Conclusões e perspectivas ..................................................................................47 44

Referências Bibliográficas ....................................................................................................47 45

4.3. Sistema costeiro e áreas costeiras baixas .......................................................................54 46

4.3.1.Introdução ....................................................................................................................54 47

4.3.2. Manguezal E Marismas ...............................................................................................54 48

4.3.2.1 Principais Forçantes Sobre o Ecossistema Manguezal .............................................54 49

4.3.2.2 Ocorrência, composição e funcionamento das marismas ao longo do litoral brasileiro 57 50

4.3.2.3 Potenciais Impactos das Mudanças Climáticas Sobre o Ecossistema Manguezal ....58 51

4.3.2.4 Potenciais Impactos das Mudanças Climáticas Sobre as Marismas .........................62 52

4.3.2.5 Vulnerabilidade do Ecossistema Manguezal às Mudanças Climáticas ....................64 53

4.3.2.6 Estratégias de Adaptação ..........................................................................................67 54

4.3.3. Lagunas, Lagoas e Lagos Costeiros ............................................................................68 55

4.3.3.1. Introdução ................................................................................................................68 56

4.3.3.2 Potenciais Impactos das MCGs em Lagoas Costeiras ..............................................71 57

4.3.3.3. Ações estratégicas de Adaptação às mudanças climáticas .......................................77 58

4.3.4. Plataforma Continental e Praias ..................................................................................78 59

4.3.4.1 Introdução .................................................................................................................78 60

4.3.4.2 A orla marítima .........................................................................................................79 61

4.3.4.3 Erosão Costeira .........................................................................................................80 62

4.3.4.3.1 Evidências, causas e monitoramento. ....................................................................80 63

4.3.4.3.2. Plataforma Continental .........................................................................................86 64

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4

4.3.4.3.3 Potenciais Impactos das Mudanças Climáticas Sobre a Orla Marítima e Plataforma 65

Continental ............................................................................................................................87 66

4.3.5. Vulnerabilidade da zona costeira: aspectos naturais, sociais e tecnológicos ..............88 67

4.3.5.1. Introdução ................................................................................................................88 68

4.3.5.2 Região Nordeste ........................................................................................................91 69

4.3.5.3 Região Sudeste .........................................................................................................95 70

4.3.5.4 Região Sul .................................................................................................................98 71

4.3.6 Subsídios para a ação do Poder Público .....................................................................102 72

Referências Bibliográficas ..................................................................................................103 73

4.4. Ecossistemas Oceânicos ..............................................................................................114 74

4.4.1. Introdução .................................................................................................................114 75

4.4.2. Impactos e vulnerabilidades ......................................................................................115 76

4.4.2.1. Aspectos ambientais (físico-químicos) das mudanças climáticas ..........................115 77

4.4.2.2. Aspectos biológicos ...............................................................................................117 78

4.4.2.2.1 Alterações na biota marinha .................................................................................117 79

4.4.2.2.2. Eventuais impactos sobre recursos pesqueiros ...................................................119 80

4.4.3. Estratégia de adaptação .............................................................................................124 81

4.4.4. Conclusão ..................................................................................................................125 82

Referências Bibliográficas ..................................................................................................126 83

4.5.1.Introdução ..................................................................................................................131 84

4.5.2.Produção de alimentos e sua interação com as mudanças climáticas ........................133 85

4.5.2.1.Cenários de demanda e oferta de terras ..................................................................133 86

4.5.2.2.Uso da água para produção de alimentos ................................................................137 87

4.5.2.3.Análise da vulnerabilidade dos sistemas agrícolas para produção de alimentos frente às 88

mudanças climáticas ...........................................................................................................138 89

4.5.3.Armazenamento, Distribuição e Acesso aos Alimentos e sua interação com as Mudanças 90

Climáticas 141 91

4.5.4.Análise integrada de alternativas de adaptação para aumento da segurança alimentar144 92

4.5.4.1.Ações de adaptação no contexto da segurança alimentar .......................................144 93

4.5.4.2.Políticas Públicas no setor agropecuário brasileiro .................................................147 94

4.5.4.3.Políticas Públicas de Produção e Disponibilidade de Alimentos ............................149 95

4.5.4.4.Políticas Públicas de Acesso à Alimentação Adequada ..........................................150 96

4.5.4.5.Direcionamento de novas medidas adaptativas ......................................................151 97

Referências bibliográficas ...................................................................................................151 98

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5

99

4.1 Recursos Hídricos 100

4.1.1. Introdução 101

A disponibilidade hídrica na escala planetária é distribuída de forma que 97,500% está nos Oceanos, 102

2,493% é água doce de difícil acesso e apenas 0,007% encontra-se acessível (World Resources 103

Institute, ONU 2008). 104

O desenvolvimento econômico e o crescimento populacional têm aumentado significativamente a 105

demanda de recursos hídricos. A irrigação é o maior uso na escala planetária utilizando 70% da água; 106

seguido pela indústria, que utiliza 20%, e pelo abastecimento urbano, 10%. Atualmente, o volume 107

demandado pela irrigação no planeta é 2.660 km3/ano enquanto os rios têm um volume de água 108

estocado de 2.000 km3 e uma vazão de 45.000 km

3/ano (Oki e Kanae, 2006). O uso da água para a 109

irrigação já é da ordem de grandeza do estoque de água nos rios; demonstrando que o uso de água já é 110

da escala da disponibilidade hídrica. Além do fator quantitativo, a distribuição espacial irregular impõe 111

que em algumas regiões a escassez hídrica se intensifique enquanto em outras haja maior abundância. 112

As atividades humanas exercem impactos no meio ambiente, com implicações significativas para 113

disponibilidade e serviços ambientais da água, impondo riscos crescentes para os seres humanos e a 114

natureza (Wagener et al., 2010). O crescimento populacional e o aumento da riqueza (Kundzewicz et 115

al., 2007), a mudança do uso e ocupação do solo e as alterações climáticas são os principais vetores que 116

modificam os padrões de ocorrência da oferta e da demanda hídrica. 117

Pesquisas têm demonstrado a estreita relação entre as atividades antrópicas e a mudança global do 118

clima e, mesmo nos cenários mais otimistas, são esperados efeitos, em diferentes níveis, por todo o 119

planeta. Fator limitante para uma análise mais conclusiva a respeito da disponibilidade de água 120

resultante dos cenários do IPCC é a falta de concordância dos modelos climáticos para grande parte do 121

território brasileiro como já identificado no Quarto Relatório do IPCC (Pachauri e Reisinger, 2007). 122

Grandes áreas do Norte, Nordeste, Centro Oeste encontram-se nessa situação. Apenas o leste a 123

Amazônia e o Sul do País possuem áreas em que mais de 66% dos modelos de mudança climática 124

concordam quanto ao sinal da mudança, sendo o sinal de redução na Amazônia e aumento no Sul do 125

Brasil (Pachauri e Reisinger, 2007). 126

As incertezas advindas da grande variabilidade dos cenários e a variabilidade climática na escala 127

interanual e multidecadal impõem estratégias de adaptação e gestão de riscos em recursos hídricos. As 128

atuais práticas de gestão de água provavelmente serão insuficientes para reduzir os impactos negativos 129

da mudança climática sobre a garantia de abastecimento de água, risco de inundação, saúde, energia, e 130

dos ecossistemas aquáticos (Kundzewicz et al., 2007). A incorporação de estratégias de gestão dos 131

recursos hídricos relacionadas à variabilidade climática atual faria a adaptação à mudança do clima 132

futuro mais fácil (Kundzewicz et al., 2007). Neste contexto, as pesquisas sobre clima têm uma dupla 133

tarefa (Hulme e Carter, 1999): (i) aumentar a compreensão do sistema climático; (ii) articular e se 134

possível quantificar as incertezas associadas com vistas a instrumentalizar de forma adequada as 135

estratégias de adaptação e gestão do risco. O setor de recursos hídricos tem que aprimorar seus métodos 136

e práticas para melhor enfrentar os desafios de um mundo em mudança. No qual as variáveis 137

hidrológicas não podem mais ser consideradas estacionárias (Milly et al., 2008). Independente das 138

incertezas envolvidas na mensuração dos impactos da mudança climática futura sobre o regime hídrico, 139

a escassez de recursos financeiros e a existência de áreas atualmente deficitárias na implementação da 140

gestão dos recursos hídricos indicam a necessidade de se adotar medidas de adaptação “sem 141

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arrependimento” (no regrets), que são aquelas dirigidas à solução de problemas associados à 142

variabilidade climática existente enquanto, ao mesmo tempo, aumentam a resiliência aos efeitos de 143

uma possível mudança climática. Ou seja, enfrentando-se os problemas atuais, aumentar-se-á a 144

capacidade da sociedade e da economia de lidar com as alterações esperadas. 145

Neste documento, buscou-se entender o estado da arte dos impactos da mudança do clima sobre os 146

recursos hídricos no Brasil, por meio de ampla revisão bibliográfica, demonstrando a situação atual, 147

tendências observadas e perspectivas de mudanças estimadas pelos modelos do IPCC. O aquecimento 148

global observado durante várias décadas tem sido associado a mudanças no ciclo hidrológico de grande 149

escala, tais como: aumento da quantidade de água retida na atmosférica; alteração nos padrões de 150

ocorrência da precipitação (intensidade e extremos); cobertura de neve reduzida e derretimento de gelo; 151

e mudanças na umidade do solo e do escoamento (Bates et al. 2008). 152

Estas alterações climáticas modificam a quantidade e qualidade da água potencialmente afetando: (i) a 153

produção de alimentos, podendo levar à diminuição da segurança alimentar e maior vulnerabilidade dos 154

agricultores pobres, especialmente nos trópicos áridos e semi-árido (Bates et al. 2008); (ii) a saúde dos 155

ecossistemas e do crescimento e propagação de doenças relacionadas à água. (Kabat et al., 2002); (iii) 156

o abastecimentos de populações humanas; (iv) a função e operação de infra-estrutura hídrica existente, 157

bem como práticas de gestão da água (Kundzewicz et al., 2007). 158

O clima também condiciona a demanda. A demanda de água urbana e agrícola, por exemplo, são 159

influenciadas pela temperatura e outras variáveis meteorológicas. Desta forma as mudanças climáticas 160

afetam os recursos hídricos em sua oferta e demanda. 161

As implicações da variabilidade e alterações climáticas não têm sido integralmente consideradas nas 162

atuais políticas de recursos hídricos e nos processos de tomada de decisões (Kabat et al., 2002). Isto é 163

particularmente verdadeiro nos países em desenvolvimento, onde os recursos financeiros, impactos 164

humanos e ecológicos são potencialmente maiores e onde os recursos hídricos já podem estar em 165

situação de grande estresse, associado à pequena capacidade de se enfrentar e se adaptar as mudanças 166

(Kabat et al., 2002). 167

O Brasil é um país que tem sua economia e populações humanas significativamente condicionadas pelo 168

clima; sendo conseqüentemente sensível às mudanças climáticas. A economia fortemente dependente 169

de recurso natural diretamente ligada ao clima, notadamente a agricultura e a geração de energia 170

hidroelétrica, corroboram esta afirmação; assim como, os vastos setores das populações submetidas a 171

eventos climáticos extremos, tais como, as do semi-árido nordestino, as em área de risco de 172

deslizamentos em encostas, e as que habitam zonas submetidas a inundações nos grandes centros 173

urbanos (Freitas, 2005; Freitas e Soito, 2008). 174

175

4.1.2.Forçantes dos Recursos Hídricos 176

O principal desafio da ciência hidrológica é lidar com mudanças induzidas pelo homem, notadamente 177

no uso do solo e no clima. Como observam Wagener et al. (2010), as atividades humanas na atualidade 178

são rivais das forças da escala geológica (Kieffer, 2009), com uma pegada que se aprofunda e alarga 179

rapidamente por todo o planeta (Sanderson et al., 2002). Manifestações dessa pegada são visíveis, entre 180

outros, no declínio das geleiras resultante de mudanças climáticas induzidas pelo homem (BARNETT 181

et al., 2008), na rápida redução do armazenamento em aquífero devido ao bombeamento excessivo de 182

águas subterrâneas (Rodell et al., 2009), na modificação do regime de escoamento dos rios devido à 183

construção de represas (Poff et al., 2007), e na recarga de água subterrânea alterada devido a mudanças 184

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do uso do solo (Scanlon et al., 2006). De forma similar, modificam-se as demandas das populações por 185

energia, água e alimentos, tendo estas uma tendência de crescimento (King et al., 2008, Jackson et al., 186

2001, Vörösmarty et al., 2000). 187

A disponibilidade de água em uma bacia hidrográfica é influenciada por forçantes de ordem climática e 188

não-climática (IPCC, 2007a). As forçantes climáticas dominantes são precipitação, temperatura e 189

evaporação e as não-climáticas estão associadas ao uso do solo, ao lançamento de poluentes e às 190

retiradas para consumo poluentes. 191

A influência das forçantes climáticas globais sobre as variáveis hidrológicas em uma bacia hidrográfica 192

encontra uma ampla documentação na literatura. Diversos estudos (Kousky et al., 1984; Kayano al., 193

1988; Ropelewski e Halpert, 1987 e 1989) mostram que as condições de temperatura da superfície do 194

mar no Oceano Pacífico na região do El Niño influenciam, através da circulação de Walker1 (Walker, 195

1928), o regime hidrológico do Nordeste do Brasil, Leste da Amazônia e Sul do Brasil. O Oceano 196

Atlântico, também, influencia o regime de precipitações notadamente no Nordeste do Brasil (Moura e 197

Shukla, 1981; Servain, 1991). O conhecimento dessa dinâmica dá previsibilidade com alguns meses de 198

antecedência ao regime de chuvas no Nordeste do Brasil (Hastenrath, 1990; Hastenrath e 199

Greishar,1993; Hastenrath e Moura, 2002; Alves et al. 1995, Alves et al., 2005; Alves et al., 2006, Sun 200

et al., 2005; Sun et al., 2006). 201

As regiões Sul e Sudeste do Brasil têm seus regimes de precipitação influenciados pela passagem e pela 202

intensidade de sistemas frontais (Oliveira, 1986; Guedes et al., 1994), pelo posicionamento do jato 203

subtropical da América do Sul (Kousky e Cavalcanti, 1984; Browing, 1985) e por Complexos 204

Convectivos de Mesoescala (CCM), (Madox, 1983; Miller e Fritsch, 1991). A Zona de Convergência 205

do Atlântico Sul (ZCAS) é definida como uma banda de nebulosidade convectiva que geralmente se 206

origina na Bacia Amazônica e se estende em direção à região Sudeste do Brasil passando pelo Centro-207

Oeste e alcançando o Oceano Atlântico (Satyamurti et al., 1998). 208

As forçantes não-climáticas influenciam os recursos hídricos pela mudança do uso do solo, construção 209

de reservatórios e emissão de poluentes (IPCC, 2007a). As modificações naturais e artificiais na 210

cobertura vegetal das bacias hidrográficas influenciam o seu comportamento hidrológico (Tucci e 211

Clarke, 1997; Tucci, 2002, Tucci, 2003; Zhao et al., 2010). Os fluxos globais de vapor d'água da 212

superfície terrestre estão se modificando devido à ação do homem. O desmatamento é uma força motriz 213

tão grande quanto a irrigação em termos de mudanças no ciclo hidrológico. O desmatamento diminuiu 214

os fluxos globais de vapor a partir da terra em 4% (3.000 km3/ano), uma diminuição que é 215

quantitativamente tão grande quanto o fluxo de vapor causado pelo aumento da irrigação - 2.600 km3/ 216

ano (Gordon et al., 2005). 217

O uso da água ainda é conduzido por mudanças na população, consumo de alimentos, política 218

econômica, tecnologia, estilo de vida das sociedades (Oki, 2005) e economia internacional (Ramirez-219

Vallejo e Rogers, 2004). 220

Existem amplas evidências de que mudanças no uso do solo e a variação do clima nas bacias dos rios 221

Alto Paraná, Paraguai e Uruguai podem ter contribuído para um aumento de 30% no fluxo médio do rio 222

1 A Célula de Walker é o resultado de uma gangorra de pressão à superfície entre os setores oeste e leste ao longo do

cinturão equatorial da bacia do Oceano Pacífico Tropical (Walker, 1924). As circulações do tipo Walker são marcadas por

zonas de ascensão de ar (fonte quente) na parte oeste do Pacífico Tropical e descida de ar no extremo leste desse oceano.

Isso faz com que a parte oeste do Oceano Pacífico seja uma região de chuva frequente e, de forma oposta, a parte leste, na

costa da América do Sul, seja uma região de chuva escassa. É importante ressaltar que anomalias nas temperaturas da

superfície do mar nessa faixa do oceano (El Niño/ La Niña) provocam alterações na circulação normal da Célula de Walker.

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Paraná desde 1970. Tucci e Clarke (1998) perceberam que este incremento na vazão dos rios aconteceu 223

após grandes áreas terem experimentado o desmatamento ou mudanças no uso da terra. A 224

intensificação da atividade agrícola e industrial na região motivou uma transição de café para soja e 225

cana-de-açúcar, assim como criação de gado na bacia do alto Paraná. O aumento do uso do solo 226

representou aproximadamente 1/3 do aumento médio de 30% da vazão. 227

A queda sistemática nas vazões dos Rios Paraíba do Sul (Marengo et al.,1998) e Piracicaba (Morales et 228

al., 1999) em vários pontos de observação aponta para incrementos na área agrícola e no uso da água 229

como causas dessa diminuição, e não uma queda ou distribuição no regime de chuvas nas bacias dessas 230

áreas (Marengo, 2001b). 231

Observa-se aqui que o uso do solo tem um efeito no escoamento devido a modificação da relação 232

chuva-defluvio ou devido as retiradas dos usos da água implantados na bacia. Podendo, desta forma, 233

aumentar ou diminuir a vazão em dada seção fluvial. 234

Os efeitos adversos do clima sobre os sistemas de água doce agravam os impactos de outras pressões, 235

tais como crescimento populacional, mudança de atividade econômica, uso da terra e urbanização. 236

4.1.3. Disponibilidade e Demanda Hídricas no Brasil 237

4.1.3.1. Disponibilidade Hídrica 238

O conhecimento e quantificação das disponibilidades hídricas é imprescindível para que se possa 239

quantificar e qualificar como uma possível mudança do climática atuará sobre essas disponibilidades, 240

permitindo, assim, que se processem medidas de adaptação. 241

Parte do cenário desejável para o futuro corresponde a uma situação em que a disponibilidade hídrica é 242

maior que a demanda, válida para todas as bacias hidrográficas, aí evidentemente incluídos os aspectos 243

quantitativos e qualitativos. Tudo indica, entretanto, que, ao longo do século XXI, a disponibilidade 244

dos recursos hídricos diminuirá, quer por interferências climáticas e antrópicas, quer pelo simples 245

aumento das demandas. 246

A Tabela 4.1.1 apresenta as vazões (média, estiagem e disponibilidade hídrica) nas regiões 247

hidrográficas brasileiras. 248

Tabela 4.1.1 - Disponibilidade hídrica e vazões médias e de estiagem (PNRH, 2006a) 249

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9

250

Fonte: Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2009 / Agência Nacional de Águas. -- Brasília : ANA, 2009. 251

A vazão média anual dos rios em território brasileiro é de 179 mil m3/s, o que corresponde a 252

aproximadamente 12% da disponibilidade hídrica superficial mundial, que é de 1,5 milhões de m3/s 253

(44.000 km3/ano, Shiklomanov, 1998). 254

Levando-se em consideração as vazões oriundas de território estrangeiro que entram no país 255

(Amazônica – 86.321 m3/s, Uruguai – 878 m

3/s e Paraguai – 595 m

3/s), a disponibilidade hídrica total 256

atinge valores da ordem de 267 mil m3/s ou 8.427 km

3/ano – 18% da disponibilidade hídrica superficial 257

mundial (PNRH, 2006a). 258

A região hidrográfica Amazônica detém 73,6% dos recursos hídricos superficiais nacionais. Ou seja, a 259

vazão média desta região é quase três vezes maior que a soma das vazões de todas as demais regiões 260

hidrográficas brasileiras (PNRH, 2006a). 261

A Figura 4.1.1 apresenta a contribuição intermediária das bacias hidrográficas brasileiras em termos de 262

vazão média específica (ANA, 2009). 263

A vazão específica indica a capacidade de geração de vazão de uma determinada bacia. No Brasil, a 264

vazão específica varia de menos de 2 L/s.km² nas bacias da região semiárida até mais de 40 L/s.km2 no 265

noroeste da região Amazônica (PNRH, 2006a). 266

A baixa vazão específica observada na região do Pantanal (Região Hidrográfica do Paraguai) mostra 267

que esta área, apesar da abundância de água oriunda da região de Planalto, possui baixa contribuição 268

específica ao escoamento superficial (PNRH, 2006a) devido à grande quantidade de água utilizada para 269

prover sustentação ao ecossistema nas áreas pantaneiras alagadas. 270

A partir dos dados apresentados, fica evidente a heterogeneidade da disponibilidade hídrica superficial 271

das regiões hidrográficas brasileiras. Tal fato torna-se de grande relevância para os estudos de cenários 272

relacionados à mudança do climática, que, certamente, implicará em comportamentos também 273

heterogêneos com relação às vazões. 274

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10

275

Figura 4.1.1 – Distribuição espacial das vazões específicas no território brasileiro. (Fonte: Conjuntura dos 276 recursos hídricos no Brasil 2009 / Agência Nacional de Águas. -- Brasília: ANA, 2009). 277

Atenção especial deve ser dada à região do semiárido Brasileiro, que se caracteriza, naturalmente, 278

como de alto potencial para evaporação da água em função da enorme incidência de horas de sol e altas 279

temperaturas. Esta elevada evaporação e a grande variabilidade interanual dos deflúvios proporcionam 280

significativa oscilação da disponibilidade hídrica superficial. 281

A variação do escoamento nos rios é influenciada por diversos fatores, entre os quais se destaca a 282

precipitação ocorrida na bacia de contribuição. No país, a precipitação média anual (histórico de 1961-283

2007) é de 1.761 mm, variando de valores na faixa de 500 mm na região semiárida do Nordeste a mais 284

de 3.000 mm na região Amazônica. A Figura 4.1.2 apresenta o mapa de precipitação média para o 285

histórico de 1961 a 2007. 286

287

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11

288

Figura 4.1.2 – Precipitação média de 1961 a 2007. As regiões hidrográficas estão representadas de acordo com 289 as seguintes siglas: A – Amazônica; B – Tocantins-Araguaia; C – Atlântico Nordeste Ocidental; D – Parnaíba; E 290 – Atlântico Nordeste Oriental; F – São Francisco; G – Atlântico Leste; H – Atlântico Sudeste; I – Atlântico Sul; 291 J – Uruguai; L – Paraná; M – Paraguai. (Adaptado de: Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2009 / Agência 292 Nacional de Águas. -- Brasília: ANA, 2009). 293

Sobre as reservas hídricas subterrâneas, embora seu uso seja complementar ao superficial, em muitas 294

regiões, em outras áreas do país a água subterrânea representa o principal manancial hídrico. No Brasil, 295

15,6% dos domicílios utilizam exclusivamente água subterrânea (IBGE, 2002). Estima-se que existam 296

no país pelo menos 400 mil poços (Zoby e Matos, 2002). A água de poços e fontes vem sendo utilizada 297

intensamente para diversos fins, tais como abastecimento humano, irrigação, indústria e lazer, 298

desempenhando importante papel no desenvolvimento socioeconômico. 299

O domínio fraturado ocupa cerca de 4.600.000 km2, que equivalem a 54% do território nacional. Esse 300

domínio apresenta, em geral, sistemas aqüíferos com potencial hídrico inferior àqueles pertencentes aos 301

domínios hidrogeológicos fraturado-cárstico e poroso (PNRH, 2006a). No cristalino do semiárido 302

nordestino brasileiro, a produtividade dos poços fica restrita às zonas fraturadas na rocha. Os poços, 303

muito comumente, apresentam vazões entre 1 e 3 m3/h, e a água possui elevada salinidade, 304

frequentemente acima do limite de potabilidade. Apesar disso, em muitas pequenas comunidades do 305

interior nordestino, esses poços constituem a fonte de abastecimento disponível (PNRH, 2006a). 306

O domínio fraturado-cárstico ocupa aproximadamente 400.000 km2, uma área correspondente a 5% do 307

país. Os principais sistemas aquíferos são Jandaíra, da bacia Potiguar (província hidrogeológica 308

costeira), e Bambuí (província hidrogeológica São Francisco). O fluxo de água nesses sistemas 309

aquíferos é influenciado pelas feições de dissolução cárstica associadas à presença de descontinuidades 310

rúpteis (fraturas) nas rochas calcárias. Em função disso, esses sistemas aquíferos apresentam poços 311

com produtividade muito variada (PNRH, 2006a). A faixa mais comum de vazão dos poços é de 5 a 60 312

m3/h para profundidades geralmente entre 50 e 150 m (PNRH, 2006a). 313

O domínio poroso ocupa uma área de cerca de 3.500.000 km2, equivalente a 41% do território nacional. 314

Ele inclui os aquíferos de maior vocação hídrica no país e está situado nas bacias sedimentares. As 315

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maiores bacias sedimentares brasileiras são do Paleozóico (540 a 250 milhões de anos), destacando-se 316

as bacias do Paraná, do Parnaíba e do Amazonas (PNRH, 2006a). A vazão dos poços situa-se, na sua 317

maioria, entre 5 e 400 m3/h para profundidades entre 50 e 400 m (PNRH, 2006a). 318

Além da quantidade e distribuição, é importante considerar que a degradação da qualidade da água 319

provoca a redução da porção efetivamente disponível às atividades humanas e aos processos naturais. 320

Em âmbito nacional, o principal problema de qualidade da água é o lançamento de esgotos domésticos, 321

pois apenas 47% dos municípios brasileiros possuem rede coletora de esgoto e somente 18% dos 322

esgotos recebem algum tratamento. A carga orgânica doméstica total do país é estimada em 6.389 t. 323

DBO5, 20/dia (ANA, 2005b). 324

A eutrofização dos corpos d’água, outro problema relacionado com a qualidade da água, é 325

caracterizada pelo aumento da concentração de nutrientes, especialmente o nitrogênio e o fósforo, 326

causando o crescimento excessivo das plantas aquáticas a níveis tais que interferem nos seus usos 327

desejáveis. Embora possa ocorrer em rios, a eutrofização acontece principalmente em lagos e represas e 328

está usualmente associada ao uso e à ocupação do solo na bacia hidrográfica (PNRH, 2006a). 329

4.1.3.2. Tendências e Variabilidade da Disponibilidade Hídrica 330

A oferta hídrica é definida pelo comportamento médio e variabilidade do regime hidrológico, que 331

define os eventos extremos de secas e cheias. Desta forma, a avaliação do comportamento médio e sua 332

alteração (tendência) e dos padrões de variação é relevante para a estimativa da disponibilidade hídrica 333

futura. 334

Diversos estudos têm sido realizados para identificação de tendências em diferentes regiões e bacias 335

hidrográficas brasileiras, considerando as variações naturais e os possíveis efeitos da mudança do 336

clima. 337

Na Amazônia, não foram verificadas tendências significativas nas chuvas ou vazões, ainda que o 338

desmatamento tenha aumentado gradativamente nos últimos vinte anos (Marengo e Valverde, 2007). 339

Observaram-se algumas mudanças sistemáticas de chuva e dos componentes do balanço hidrológico 340

desde 1975-76, o que pode associar-se mais a mudanças decenais com períodos de 20-30 anos de clima 341

do que a uma tendência sistemática unidirecional de queda ou aumento de longo prazo (Dias de Paiva e 342

Clarke, 1995a; Dias de Paiva e Clarke, 1995b; Marengo , 2001, Costa e Foley, 1999, Curtis e 343

Hastenrath, 1999; Marengo, 2003). 344

No Nordeste, foi observado por alguns pesquisadores um ligeiro aumento de chuvas no longo prazo 345

(Wagner,1996; Hastenrath e Greischar, 1993, Costa dos Santos et al. 2009), por outros, redução 346

(Moncunill, 2006, Lacerda et al., 2009), e, ainda, por outros, que a tendência não é estatisticamente 347

significativa (Marengo e Valverde, 2007). 348

Para o Rio São Francisco, as séries no posto de Sobradinho (Sampaio, 2001) apontam para quedas 349

sistemáticas nas vazões desde 1979 (Marengo, 2001b). Por outro lado, estudo realizado por Tröger et 350

al. (2004), que investigou a aceitação da hipótese de estacionariedade das séries de vazões naturais das 351

usinas hidrelétricas de Três Marias e Sobradinho para o período 1931-2001, não observou evidências 352

para rejeição da hipótese de estacionariedade da série de vazões médias anuais naturais dos 353

reservatórios estudados. Na Figura 4.1.3 é apresentado o fluviograma médio anual (ano hidrológico) da 354

usina hidrelétrica de Sobradinho e seu desvio com relação à média de vazões do período abrangido pelo 355

estudo. Pode-se observar que a série considerada não apresenta tendências importantes, ou quaisquer 356

mudanças de comportamento que possam caracterizar uma ruptura. 357

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358

359 Figura 4.1.3 – Fluviograma médio anual de Sobradinho. Adaptado de: Tröger et al. 2004 360

As precipitações e as vazões fluviais na Amazônia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas 361

escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendências de aumento ou redução (Datsenko 362

et al., 1995; Souza Filho, 2003; Marengo e Valverde, 2007). Essa variabilidade está associada a 363

padrões de variação da mesma escala de tempo nos oceanos Pacífico e Atlântico, como a variabilidade 364

interanual associada ao El Nino, Oscilação Sul, ENOS, ou à variabilidade decadal do Pacífico (PDO - 365

Pacific Decadal Oscillation), do Atlântico (NAO - North Atlantic Oscillation) e à variabilidade do 366

Atlântico Tropical e do Atlântico Sul (Guedes et al., 2006; Marengo e Valverde, 2007). 367

No sul do Brasil e norte da Argentina, observaram-se tendências para aumento das chuvas e vazões de 368

rios desde meados do século XX (Marengo e Valverde, 2007). 369

O Rio Prata-Paraná apresentou uma tendência de queda desde 1901 a 1970 e um aumento sistemático 370

nas vazões desde o início dos anos 70 até o presente (Barros et al., 1999; Tucci, 2001), consistente com 371

o aumento das precipitações observado (Hulme e Sheard,1999). A bacia do Rio Paraná, que drena os 372

estados do Sul e parte do Paraguai, tem apresentado um importante aumento de vazão nas últimas 373

décadas. A região do Pantanal também faz parte desta bacia, de modo que qualquer alteração na vazão 374

dos rios mencionados tem implicações diretas na capacidade de armazenamento desse enorme 375

reservatório natural. As vazões aumentaram aproximadamente 15% desde a década de 60, elevação 376

consistente com os crescentes valores da precipitação observados nessa bacia. (Marengo et al., 1998; 377

Marengo, 2001b; Garcia e Vargas, 1998; Barros et al., 1999). 378

A Bacia do Rio Paraná possui sua série de vazões não-estacionária (Müller et al., 1998) tendo como 379

características: (1) as séries de vazões naturais dos rios Tietê, Paranapanema e Paraná (a jusante do rio 380

Grande) não são estacionárias, apesentando aumento de vazões médias após o ano de 1970; (2) a taxa 381

de aumento das vazões médias cresce de montante para jusante; (3) os postos pluviométricos nas bacias 382

dos rios Grande, Tietê e Paranapanema também apresentam não-estacionariedade; e (4) somente a 383

bacia do rio Paranaíba manteve a estacionariedade de vazões para todo o período de análise. 384

Um degrau climático em 1970-1971 foi identificado para os rios que correm no Centro-Oeste 385

brasileiro, Sudeste e Sul dentro da faixa zonal variando de 15oS a 30

oS, exceto o Paraíba do Sul e rio 386

Doce. As bacias localizadas mais a leste da região Sul e Sudeste não apresentam o degrau na vazão 387

pós-1970 (Guetter e Prates, 2002). 388

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As bacias da região Sul e Sudeste são de grande importância para a geração hidrelétrica, 389

correspondendo a 80% da capacidade instalada brasileira. A não-estacionariedade das séries de vazões 390

pode ter impacto significativo no cálculo da energia assegurada. 391

A análise das tendências do regime pluvial na região metropolitana de Belo Horizonte indicou uma 392

possível tendência de aumento de precipitação no período mais seco (abril-setembro), em 393

contraposição a uma tendência de diminuição de chuvas no período mais chuvoso (outubro-março), 394

apesar de neste período ter sido observada tendência significativa em apenas uma série pluviométrica. 395

Tanto o regime anual quanto os totais mensais máximos anuais da região não apresentaram evidências 396

de mudanças em suas séries. (Alexandre et al., 2010). 397

A não-estacionariedade das séries de vazões pode estar associada às forçantes climáticas e não 398

climáticas. As não climáticas podem estar associadas à: (i) alterações no uso do solo, como 399

desmatamento e uso de diferentes práticas agrícolas; (ii) construção de reservatórios de diferentes 400

portes a montante na bacia; (iii) inconsistências nos dados hidrológicos ao longo de muitos anos, seja 401

por medida e/ou por alteração no leito do rio na seção de medição; e (iv) retirada de água para usos 402

consuntivos (irrigação, principalmente) (Tucci e Braga, 2003). As forçantes climáticas estão 403

relacionadas à variabilidade interanual associada ao El Nino Oscilação Sul, ENOS, ou à variabilidade 404

decadal do Pacífico (PDO - Pacific Decadal Oscillation), do Atlântico (NAO - North Atlantic 405

Oscillation) e à variabilidade do Atlântico Tropical e do Atlântico Sul. 406

A análise da não-estacionariedade das séries hidrológicas demanda informações sobre tendências e 407

padrões de variação de baixa frequência do clima (décadas a séculos). O clima das próximas décadas 408

depende tanto de variações climáticas naturais como das forças antropogênicas. Previsões climáticas 409

decadais devem tentar cobrir a lacuna entre a previsão sazonal/interanual com prazos de dois anos ou 410

menos e projeções de mudanças climáticas de um século à frente (Cane, 2010). Não há nenhuma teoria 411

amplamente aceita para este tipo de previsão e não se sabe se a sua evolução passada é a chave para seu 412

futuro (Cane, 2010). No entanto, como a extensão de registros tem aumentado, os hidrólogos tomaram 413

consciência da estrutura de baixa frequência do clima (por exemplo, oscilações ENSO, PDO, NAO) e 414

tem procurado desenvolver cenários de vazões considerando essa variabilidade (Dettinger et al, 1995;. 415

Ghil e Vautard, 1991; Keppenne e Ghil, 1992a; Keppenne e Lall, 1996; Lall e Mann, 1995; Mann e 416

Park, 1993, 1994, 1996; Know et al., 2007, Souza Filho et al., 2008). 417

4.1.3.3. Demanda 418

Os usos da água podem ser não consuntivos – aqueles que não afetam significativamente a quantidade 419

da água; e consuntivos, aqueles que implicam a redução da disponibilidade hídrica. No Brasil, a vazão 420

de retirada para usos consuntivos no ano de referência de 2000 foi de 1.592 m3/s (ANA, 2005a) e 421

cresceu para 1.842 m3/s em 2009 (ANA, 2009). Cerca de 53% desse total (983 m

3/s) foi efetivamente 422

consumido e 854 m3/s retornaram à bacia (PNRH, 2006a). Os usos da água por tipo são apresentados 423

na Figura 4.1.4 (ANA, 2009). 424

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425

Figura 4.1.4: Demandas Consuntivas no país (ANA, 2009). 426

A irrigação é responsável pela maior captação de água, com a vazão de retirada no país estimada em 427

866 m3/s (47% do total). É também o maior consumo de água, correspondendo a 69% do total (PNRH, 428

2006a). 429

No mundo, uma área da ordem de 1,541 bilhões de hectares está ocupada pela produção agrícola, dos 430

quais cerca de 277 milhões de hectares contam com infraestrutura hídrica de irrigação. A área irrigada 431

corresponde a 18% do total cultivado e é responsável por cerca de 44% da produção agrícola total. No 432

Brasil, a área irrigada corresponde a menos de 10% da área total cultivada, mas responde por mais de 433

25% do volume total e 35% do valor econômico total de produção (ANA, 2009). O Brasil detém um 434

potencial superior a 13% das capacidades mundiais de incorporação de novas áreas à agricultura 435

irrigada (Christofidis, 2005). 436

O total de área irrigada no território brasileiro, no ano de referência de 2006, levantado pelo Censo 437

Agropecuário, era de 4,6 milhões de hectares. A área irrigada estava distribuída da seguinte forma: 438

24% no método de inundação; 5,7% por sulcos; 18% sob pivô central; 35% em outros métodos de 439

aspersão; 7,3% com métodos localizados; e 10% com outros métodos ou molhação (ANA, 2010). 440

Apesar do visível incremento da superfície ocupada por irrigação percebido no Brasil desde a década 441

de 1950, representada na Figura 4.1.5, o país ainda está longe de atingir seu potencial, estimado em 442

mais de 29 milhões de hectares. O crescimento da atividade significa aumento da demanda por água. 443

No entanto, cabe destacar que as áreas irrigadas por métodos de superfície, especialmente inundação, 444

têm crescido a ritmos mais lentos em relação às áreas com métodos mais eficientes no uso da água, 445

inferindo-se uma tendência de redução do índice de água captada por hectare irrigado. 446

447

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448

Figura 4.1.5: Evolução da área irrigada no Brasil, 1950-2006. Fonte: Christofidis e Goretti, 2009 449

Entre os usos não consuntivos, destaca-se no Brasil o aproveitamento do potencial de geração de 450

hidroeletricidade, que constitui a base da matriz energética do país. O desenvolvimento 451

socioeconômico está cada vez mais baseado no uso intensivo de energia. Constata-se uma crescente 452

demanda por energia elétrica no mundo, bem como a importância dessa expansão para o 453

desenvolvimento das nações e para a melhoria dos padrões de vida. De acordo com o Departamento de 454

Energia – DOE – dos EUA, o consumo de eletricidade praticamente irá dobrar até o ano de 2025 455

(MMA, 2006b). 456

Os dados sobre a evolução da capacidade de produção de energia elétrica instalada no Brasil, 457

consideradas todas as fontes de energia, revelam que, entre 2007 e 2009, houve um acréscimo de quase 458

6.000 MW na capacidade total do sistema, sendo 1.853 MW referentes à geração hidrelétrica 459

(ANA,2010). A evolução do consumo de eletricidade e da potência instalada é mostrada na Figura 460

4.1.6 (MME, 2005). 461

Até 2016 está previsto um crescimento do consumo de energia elétrica no setor residencial em média 462

de 5,5% ao ano, levando o consumo de 78.469 GWh, em 2004, para 152.705 GWh em 2016. Além do 463

aumento do alcance da eletrificação através de programas como o Luz para Todos do Governo Federal, 464

o consumo médio, por unidade consumidora, deverá aumentar de 140 kWh/mês, em 2004, para 191 465

kWh/mês, em 2016 (MME, 2005). 466

467

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468

Figura 4.1.6: Evolução do consumo de eletricidade – TWh e da potência instalada – GW. Fonte: MME, 2005. 469

O uso industrial dos recursos hídricos tem participação no total consumido ainda reduzida em 470

comparação com países desenvolvidos. No entanto, apresenta importância não somente pelas retiradas, 471

mas também pelo lançamento de efluentes. Com relação às águas residuárias, estudos do IPEA 472

indicaram que a maioria dos estabelecimentos pesquisados afirmou realizar o descarte na rede pública 473

de esgoto. Importante destacar que as indústrias com maior demanda de água são também aquelas que 474

em sua maioria fazem pré-tratamento dos efluentes antes do lançamento nos corpos hídricos, a saber: 475

81% das indústrias de alimentos e bebidas; 100% das indústrias têxteis; 100% das indústrias de papel e 476

celulose; e 75% das indústrias de metalurgia. Contrariamente, 90,9% das indústrias que utilizam a rede 477

pública para o lançamento de seus efluentes não fazem nenhum pré-tratamento (MMA, 2006c). 478

O uso mais nobre dos recursos hídricos é o abastecimento humano, que vem alcançando mais 479

brasileiros ao longo do tempo. Entretanto, parte da população, especialmente aquela dispersa em 480

núcleos rurais, ainda não recebe água potável encanada. 481

Segundo os dados levantados pela PNSB 2008, a distribuição de água chega a 78,6% dos domicílios 482

brasileiros, com tratamento em 87,2% dos municípios. Já o SNIS 2008 aponta que 81,2% da população 483

tem acesso à rede de distribuição de água. Em ambas as pesquisas, grandes diferenças são percebidas 484

entre as diversas regiões do país no que diz respeito ao atendimento e à qualidade da água distribuída. 485

Nas regiões Norte e Nordeste estão os menores percentuais de domicílios atendidos. Na região Norte, 486

20,8% dos municípios com rede de abastecimento não realizam qualquer tratamento da água. Do total 487

de municípios que distribui água sem qualquer tipo de tratamento, 99,7% têm população até 50.000 488

habitantes e densidade demográfica menor que 80 habitantes por quilômetro quadrado. Na tabela 4.1.2 489

são mostrados os índices de cobertura de abastecimento de água desde 2004, levantados pelo SNIS. 490

Tabela 4.1.2: Índices de cobertura de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, segundo resultados 491 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS (2004-2008). 492

493

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495

496

Figura 4.1.7: Distribuição percentual em relação à população analisada, segundo o diagnóstico de abastecimento. 497 Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS 498

A PNSB 2008 levantou informações sobre a ocorrência de racionamento de água: em 1.296 municípios 499

(23,4%), ocorreu racionamento de água. As regiões com maior ocorrência desse tipo de problema 500

foram a Nordeste (40,5%) e a Norte (24,9%). Na Região Nordeste, chamam a atenção os estados de 501

Pernambuco (77,3%), Ceará (48,9%) e Rio Grande do Norte (46,7%); na Região Norte, os estados do 502

Amazonas (43,5%) e Pará (41,4%). Os motivos mais frequentes apontados pelos municípios para o 503

racionamento de água são: problemas relacionados à seca/estiagem (50,5%); insuficiência de água no 504

manancial (39,7%); deficiência na produção (34,5%); e deficiência na distribuição (29,2%). 505

A quantidade de perdas nos sistemas de distribuição de água são, ainda, bastante elevadas no Brasil. No 506

entanto, o SNIS 2008 registrou o menor valor de toda sua série histórica de 14 anos, desde 1995: média 507

de 37,4% para o país. Mais uma vez, percebem-se diferenças regionais, com perdas de 53,4% e 44,8% 508

nas regiões Norte e Nordeste, e de 26,7% na região Sul. Esses índices de perda elevados refletem uma 509

infraestrutura física de má qualidade e uma gestão ineficiente dos sistemas. 510

Problema crescente para o abastecimento de água tem sido a escassez devido a problemas de qualidade 511

da água. Em pesquisa realizada pela Agência Nacional de Águas, empregando o índice de qualidade de 512

água – IQA, esta foi considerada boa ou ótima em 80% dos rios e péssima ou ruim em 8% (Figura 513

4.1.8). Um grande número de corpos d’água (69%) está eutrofizado,eutrófizado (ANA, 2010). 514

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19

515

Figura 4.1.8: Percentual das classes de IQA dos pontos de amostragem nos anos de 2006 e 2008. 516

Fonte: ANA, 2010. 517

Em relação à coleta de esgotos, o SNIS e a PNSB mostram números bastante parecidos. De acordo com 518

o primeiro, somente 43,2% dos esgotos são coletados, enquanto a segunda indica 47,3% dos domicílios 519

com acesso a este serviço. Novamente, grandes diferenças regionais são percebidas, com extremos de 520

5,6 % de coleta na região Norte e 66,6% no Sudeste. 521

Do esgoto coletado, menos de 70% é tratado, resultando em um valor próximo a 30% de tratamento do 522

volume total de esgoto gerado no Brasil. A região Norte apresenta os piores índices. Com base nesses 523

dados, o Instituto Trata Brasil (2010) estima que cerca de 114 milhões de pessoas no país não contam 524

com esgotamento sanitário. 525

Quanto ao uso da água para navegação, o Brasil tem uma extensão total de 28.834km de rios. Na 526

realidade, desse total somente cerca de 8.500km (29,42%) são efetivamente navegáveis durante todo o 527

ano, 5.700km (67%) dos quais se encontram na Bacia Amazônica (ANA, 2010). 528

4.1.4. Cenários de Mudanças Climáticas nos Recursos Hídricos 529

4.1.4.1.Visão geral 530

O ciclo hidrológico está diretamente vinculado às mudanças de temperatura da atmosfera e ao balanço 531

de radiação. Com o aquecimento da atmosfera, de acordo com o que sinalizam os modelos de previsão 532

climática, esperam-se, entre outras consequências, mudanças nos padrões da precipitação (aumento da 533

intensidade e da variabilidade), o que poderá afetar significativamente a disponibilidade e a distribuição 534

temporal da vazão nos rios. Em resumo: estudos mostram que os eventos hidrológicos críticos, secas e 535

enchentes, poderão tornar-se mais frequentes e mais intensos. O recente relatório do IPCC sobre 536

Gerenciamento de risco de eventos extremos e desastres para a adaptação as mudanças do clima mostra 537

as mudanças nos extremos climáticos e seus impactos no ambiente físico natural (Seneviratne et al, 538

2012). 539

Somadas aos impactos esperados no regime hidrológico, estão as prováveis mudanças na demanda de 540

diversos setores usuários, que possivelmente aumentará acima das previsões realizadas a partir da 541

expectativa de crescimento populacional e desenvolvimento do país. A elevação da temperatura e da 542

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evapotranspiração poderá acarretar, entre outros efeitos, maior necessidade de irrigação, refrigeração, 543

consumo humano e dessedentação de animais em determinados períodos e regiões, além de afetar a 544

capacidade de reservação e o balanço hídrico. 545

Segundo Chiew et al (2009), o aquecimento global vai levar a mudanças na precipitação e outras 546

variáveis climáticas, cujos efeitos serão ampliados no escoamento. 547

O efeito projetado das mudanças climáticas no escoamento superficial e na recarga subterrânea é 548

variável, dependendo da região e do cenário climático considerado, mas relaciona-se, em grande parte, 549

com as mudanças previstas para a precipitação (IPCC, 2001; Krol et al., 2006). Prevê-se que a 550

magnitude e a frequência de vazões máximas aumentem na maioria das regiões do planeta e que as 551

vazões mínimas sejam menores em muitas regiões (Mello et al., 2008). 552

O impacto da mudança climática sobre o escoamento pode ser estimado diretamente a partir do 553

histórico do clima sazonal ou anual e séries temporais do escoamento de forma direta, ou com base em 554

conceitos das elasticidades clima de escoamento ou ainda utilizando modelagem hidrológica (Augustin 555

et al., 2008; Gray e Mccabe, 2010, Sankarasubramanian et al., 2001; Fu et al., 2007, Escarião, 2009, 556

Schaake, 1990; XU, 1999; Chiew e Mcmahon, 2002, Medeiros, 2003, Tomasella et al., 2009, Nóbrega 557

et al., 2011). Os modelos hidrológicos podem ser alimentados por modelos climáticos regionalizados 558

estatisticamente ou dinâmicos (Charles et al., 2004; Raje e Mujumdar, 2009; Mehrotrae Sharma, 559

2010; Raje e Mujumdar, 2010; Gordon e O’Farrell, 1997; Nunez e Mcgregor, 2007, Ambrizzi et al., 560

2007). A combinação dos resultados dos modelos tem sido buscada como forma de melhoria da 561

informação (Manning et al., 2009; Stocker et al., 2010). Outra classe de abordagem é o cálculo das 562

vazões diretamente dos modelos climáticos globais (Milly et al., 2005). 563

A mudança climática desafia a suposição tradicional de que a experiência hidrológica do passado 564

fornece um bom guia para as condições futuras. As consequências das mudanças climáticas podem 565

alterar a confiabilidade dos sistemas de água atual e a gestão dos usos e das infraestruturas de 566

suprimento (Bates et al., 2008). 567

Problemas com a disponibilidade de água e as secas devem aumentar em regiões semiáridas a baixas 568

latitudes (IPCC, 2007b). Estudos mostram que muitas dessas áreas, dentre elas, o nordeste brasileiro, 569

poderão sofrer uma diminuição dos recursos de água devido às alterações climáticas (Kundzewicz et 570

al., 2007). 571

Avaliação da destreza dos modelos em representarem o clima atual mostrou a dificuldade destes em 572

representar o balanço hídrico nas regiões hidrográficas Atlântico Nordeste Ocidental e Atlântico 573

Nordeste Oriental. As vazões das regiões hidrográficas do Tocantins, Atlântico NE Ocidental, 574

Atlântico NE Oriental, Atlântico Leste, Parnaíba, São Francisco e Amazônia apresentaram diminuição 575

até 2100. Houve pequena alteração nas regiões do Atlântico Sul, Atlântico SE e Uruguai. Uma pequena 576

elevação pode ser identificada nas bacias do Paraná e do Paraguai no final do século XXI (Salati et al., 577

2008). 578

Verifica-se que um fator limitante para uma análise mais conclusiva a respeito da disponibilidade de 579

água resultante dos cenários do IPCC é a falta de concordância dos modelos climáticos para grande 580

parte do território brasileiro. 581

O relatório síntese do AR4 (Pachauri e Reisinger, 2007) indica que menos de 66% de 12 modelos 582

climáticos para o cenário A1B concordaram com o sinal da mudança da precipitação entre os períodos 583

2090-2099 e 1980-1999 para grandes áreas do Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Norte. Apenas o leste 584

da Amazônia e o Sul do País possuem áreas em que mais de 66% dos modelos concordam quanto ao 585

sinal da mudança, sendo o sinal de redução na Amazônia e aumento no Sul do Brasil. 586

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4.1.4.2.Bacias Hidrográficas e Regiões Brasileiras 587

De forma geral, verifica-se que as simulações realizadas na escala das bacias hidrográficas (Nóbrega et 588

al., 2011; Tomasella et al., 2009; Campos e Néris, 2009; Medeiros, 2003) concordam com os estudos 589

realizados em nível global (Milly et al., 2005; UK Met Office, 2005) e nacional (Salati et al., 2008) no 590

que diz respeito ao sinal da mudança. 591

As precipitações no Norte e Nordeste do Brasil deverão ser reduzidas de -2 a -4mm/dia para o cenário 592

A2 e a temperatura deverá aumentar de +2°C a +6°C para todo o território brasileiro, segundo 593

Ambrizzi et al. (2007), que utilizaram simulações do modelo MCG HadAM3P no período de 2071 a 594

2100. 595

Os rios no leste da Amazônia e Nordeste do Brasil devem ter redução da vazão de até 20% (valores 596

médios de 12 modelos do IPCC - Milly et al., 2005). UK Met Office (2005) utilizando o modelo 597

climático do Hadley Centre HadGEM1 para os cenários A1B e A2 (pessimista com relação à emissão 598

de gases de efeito estufa), verificou concordância com os resultados de Milly et al. (2005) para a 599

Amazônia e discordância quanto à modificação da vazão no Nordeste. Ribeiro Neto et al. (2011) 600

encontrou valores próximos aos de Milly et al. (2005) em simulação do balanço hídrico no Estado de 601

Pernambuco. 602

A bacia do rio Tocantins, para o cenário A1B (período de 2080-2090) apresenta redução da vazão da 603

ordem de 30%, com a possibilidade de alcançar até 60% no período de estiagem; o impacto não é 604

uniforme para o ano inteiro e pode variar a depender das características físicas da sub-bacia analisada 605

(Tomasella et al., 2009). 606

As precipitações anuais podem reduzir e as temperaturas médias aumentar no Estado da Bahia 607

(Tanajura et al., 2009; Tanajura et al., 2010). O rio Paraguaçu, no Estado da Bahia, apresentou 608

ausência de modificação da vazão média anual com os resultados do modelo UKHI (Serviço 609

Meteorológico da Inglaterra) e redução média anual de 40% com o modelo CCCII (Centro de Clima 610

Canadense) e acréscimos na evapotranspiração (Medeiros, 2003). 611

A bacia hidrográfica do rio Paracatu, afluente do rio São Francisco, apresentou tendência de aumento 612

na disponibilidade hídrica em todas as estações fluviométricas, variando de 31 a 131% até 2099 para o 613

cenário B2. Já para o cenário A2, não foi verificada nenhuma tendência significativa (MELLO et al., 614

2008). 615

Na região do semiárido do Nordeste brasileiro (Krol e Bronstert, 2007), identificou-se tendência 616

significativa de redução nas vazões do Rio Jaguaribe após 2025, considerando cenário de redução de 617

50% da precipitação nas próximas cinco décadas. Em um cenário de redução de 21% da precipitação, 618

os autores não encontraram tendência significativa de alteração da vazão. A bacia Várzea do Boi, no 619

Ceará, apresenta diminuição de precipitação de 12%, no escoamento de 32% e na evaporação de -0,1%, 620

havendo uma perda substancial na disponibilidade hídrica (Campos et al., 2003). 621

Adicionalmente, fatores não relacionados à mudança do clima, como o assoreamento, podem afetar os 622

estoques de água. Foi observada uma taxa média de sedimentação, no Ceará, de 1,85% por década 623

(Araujo et al., 2003). 624

O aumento global de temperatura tem efeito significativo no aumento da evaporação (Mitchell et al., 625

2002), o que poderá prejudicar a eficiência de armazenamento nos lagos. Por exemplo, a análise da 626

evaporação para o reservatório Epitácio Pessoa (Boqueirão), que abastece a cidade de Campina 627

Grande, Paraíba, para o cenário B1, no período de 2011 a 2030, mostrou aumento médio na evaporação 628

de 2,16% (FERNANDES et al., 2010). A avaliação das alterações da regularização de vazão em 629

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reservatórios do Estado do Ceará devido à mudança climática mostra que a vazão regularizada é 630

reduzida de forma significativa (Campos e Néris, 2009). 631

Análises dos efeitos da mudança do clima sobre a Região Metropolitana de Belo Horizonte utilizando 632

os modelos climáticos regionais Precis e ETA constataram significativa discrepância no resultado dos 633

mesmos tendo o modelo ETA apresentado forte tendência negativa (Alexandre et al., 2009). 634

A bacia hidrográfica do Paraná-Prata deverá ter aumento da vazão (entre 10% e 40%) no cenário A1B 635

até meados do século XXI segundo 12 modelos climáticos analisados por Milly et al. (2005). UK Met 636

Office (2005) utilizando o modelo climático do Hadley Centre HadGEM1 para os cenários A1B e A2 637

(pessimista com relação à emissão de gases de efeito estufa), verifica concordância com estes 638

resultados. 639

O Rio Grande, afluente do rio Paraná, apresenta significativa discordância entre as alterações de vazões 640

estimadas pelos diferentes modelos climáticos para o cenário A1B, (Nóbrega et al., 2011). A vazão 641

aumenta com o ECHAM5 (+13%) e HadCM3 (+9%), reduz com CCCMA (-14%), IPSL (-28%) e 642

HadGEM1 (-10%) e apresenta pequena alteração para o CSIRO (-2%). Em virtude dos resultados 643

obtidos, os autores sugerem que a escolha do modelo climático é a maior fonte de incerteza para a 644

projeção de impactos nas vazões dos rios (Nóbrega et al., 2011). 645

4.1.4.3.Águas Subterrâneas 646

A mudança climática deverá afetar as taxas de recarga de águas subterrâneas, ou seja, o recurso águas 647

subterrâneas renováveis e os níveis de águas subterrâneas. No entanto, mesmo o conhecimento de 648

recarga corrente e níveis nos países desenvolvidos e em desenvolvimento são pobres. Tem havido 649

pouca pesquisa sobre o impacto das mudanças climáticas sobre as águas subterrâneas, incluindo a 650

questão de como as mudanças climáticas afetarão a relação entre as águas superficiais e aquíferos, que 651

são hidraulicamente conectados (Kundzewicz et al., 2007). Estima-se que as águas subterrâneas no 652

Nordeste do Brasil devem ter uma redução na recarga em 70% até 2050 (Doll eFlorke, 2005). 653

4.1.4.4.Qualidade da Água 654

Apesar de poucos estudos sobre qualidade da água e clima terem sido realizados, espera-se que esta 655

seja impactada por alterações do clima (Hostetler, 2009; Wilby et al., 2006; Ludovisi e Gaino, 2010). 656

As mudanças climáticas devem impactar a oferta de água, assim como a demanda em seus diversos 657

setores. 658

4.1.4.5.Usos da água 659

O aumento das temperaturas em decorrência do aquecimento global pode provocar perdas nas safras de 660

grãos de R$ 7,4 bilhões já em 2020 - número que pode subir para R$ 14 bilhões em 2070 - e alterar 661

profundamente a geografia da produção agrícola no Brasil (Assad e Pinto, 2008). O uso da água na 662

agricultura deverá ser alterado com a nova geografia da produção agrícola no Brasil associada ao 663

aquecimento global (Pinto et al., 2008; Macedo Junior et al., 2009), assim como impactos na pecuária 664

(SILVA et al., 2009). 665

A mudança do clima pode, de fato, funcionar como fonte adicional de pressão na demanda de água 666

para irrigação. Estudos na Bacia do Jaguaribe no estado do Ceará apontam que a elevação nos níveis de 667

evapotranspiração de referência, como consequência da elevação de temperatura, agravada pela 668

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redução na precipitação, deve aumentar a necessidade de irrigação complementar (GONDIM et al., 669

2011). 670

4.1.5.Estratégia de Adaptação 671

Os impactos da mudança climática sobre as vazões de escoamento afetam a função e operação de 672

infraestrutura de água existente, incluindo hidrelétricas, defesas estruturais contra inundações, 673

drenagem e sistemas de irrigação, bem como práticas de gestão da água. Práticas de gestão corrente de 674

água podem não ser suficientemente robustas para lidar com os impactos da mudança do clima sobre a 675

confiabilidade de abastecimento de água, riscos de inundação, saúde, agricultura, energia e dos 676

ecossistemas aquáticos (Bates et al., 2008). Adaptação e medidas de enfrentamento são dependentes de 677

escala e podem variar de famílias individuais para as comunidades locais, bem como do nível nacional 678

para escalas internacionais (Kabat et al., 2002). 679

As opções de adaptação destinadas a assegurar o abastecimento de água em condições médias e de 680

secas requerem ações do lado da demanda, bem como do lado da oferta (Bates et al., 2008). Do lado 681

da demanda, deve-se melhorar a eficiência do uso da água, por exemplo, pelo seu reuso. O uso de 682

instrumentos de incentivo econômico, de cobrança e de regulação do uso da água tem a capacidade de, 683

ao indicar o valor do recurso, diminuir o desperdício e aumentar a eficiência do aproveitamento. 684

Do lado da oferta, as estratégias de adaptação geralmente envolvem aumento da capacidade de 685

armazenamento, captações de cursos de água e as transferências de água, além de ações de recuperação 686

das bacias hidrográficas para produção de água. A gestão integrada dos recursos hídricos constitui um 687

quadro importante para alcançar as medidas de adaptação em sistemas socioeconômicos, ambientais e 688

administrativos. Para ser eficaz, deve-se promover abordagens integradas à escala apropriada ou 689

escalas necessárias para facilitar ações efetivas para resultados específicos (Bates et al., 2008). 690

A suscetibilidade dos sistemas hídricos à mudança do clima depende da gestão da água. O paradigma 691

do Gerenciamento Integrado dos Recursos Hídricos pode colocar a água no centro da elaboração de 692

políticas públicas que podem reduzir a vulnerabilidade dos sistemas hídricos aos efeitos da mudança 693

climática. Nesse sentido, é fundamental que os agentes públicos responsáveis pela execução da Política 694

Nacional de Recursos Hídricos coloquem em prática os instrumentos previstos por essa política (IPCC, 695

2007a). 696

Para alguns especialistas, a crise da água no século XXI é muito mais de gerenciamento do que uma 697

crise real de escassez e estresse (Tundisi, 2008). Entretanto, para outros especialistas, ela é resultado 698

de um conjunto de problemas ambientais agravados com outros problemas relacionados à economia e 699

ao desenvolvimento social (Gleick, 2002). ,A gestão dos recursos hídricos é vista como uma decisão 700

política, motivada pela escassez relativa (Barth e Pompoeu, 1987). Nesse contexto o arcabouço 701

jurídico, político e institucional do sistema de recursos hídricos torna-se essencial para o processo de 702

gestão e adaptação dos recursos hídricos à mudança climática. 703

A Lei n°9.433, de 1997, conhecida como Lei das Águas, revolucionou a gestão dos recursos hídricos 704

no Brasil, sendo citado como modelo de gestão integrada das águas (UNDP, 2006). A Lei das Águas 705

trouxe, como um de seus objetivos, o desenvolvimento sustentável e definiu instrumentos para 706

gerenciar conflitos. Esta e a criação da Agência Nacional de Águas (Lei 9984) constituíram-se nos 707

marcos legais da atual gestão de águas do Brasil. Reformas modernizantes têm ocorrido não só na 708

União como nos Estados; a UNDP (2006) cita o processo ocorrido no Ceará como um exemplo de 709

reforma bem sucedida. 710

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Os riscos relacionados à mudança do clima não são suficientemente considerados no desenvolvimento 711

do setor de água e em seus planos de gestão (Biemans et al., 2006). Para atender às metas do milênio e 712

demais metas do setor de recursos hídricos, investimentos substanciais em ações estruturais 713

(armazenamento, controle de transporte) e não-estruturais (gestão da procura, gestão de várzea, a 714

prestação de serviços, etc.) e abordagens para a gestão da água são obrigatórios (Biemans et al., 2006). 715

Tais investimentos são de longo prazo e, portanto, devem ser concebidos de modo a refletir os riscos 716

associados com a variabilidade e mudanças climáticas. 717

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) considera risco como sendo a 718

probabilidade de ocorrência de prejuízos ou perdas resultantes da interação entre perigos naturais e os 719

sistemas humanos. Normalmente, adota-se o risco como função do perigo, da exposição e da 720

vulnerabilidade. 721

A Política Nacional sobre Mudança do Clima define vulnerabilidade como o “grau de suscetibilidade e 722

incapacidade de um sistema, em função de sua sensibilidade, capacidade de adaptação, e do caráter, 723

magnitude e taxa de mudança e variação do clima a que está exposto, de lidar com os efeitos adversos 724

da mudança do clima, entre os quais a variabilidade climática e os eventos extremos”. 725

Os efeitos da mudança do clima atingem a sociedade de forma desigual. A população mais pobre 726

geralmente é mais vulnerável aos impactos da variabilidade e mudanças climáticas sobre a água e 727

normalmente tem menor capacidade de lidar com tais impactos (Kabat et al., 2002). Apresenta-se, 728

dessa forma, uma questão de Justiça Ambiental associada às mudanças do clima, na qual se deve 729

reconhecer que o acesso à água doce potável é agora considerado como um direito humano universal 730

(Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 2003; Kundzewicz et 731

al., 2007). 732

Diante da expectativa de mudança global, a capacidade de responder adequadamente às novas 733

necessidades da sociedade e de fazer previsões em escalas relevantes para a sociedade vai exigir o 734

desenvolvimento de uma visão holística e entendimento quantitativo da mudança de comportamento de 735

sistemas hidrológicos e seus subsistemas (Wagener et al., 2010). 736

A gestão de risco em múltiplas escalas temporais se faz necessária como estratégia de adaptação. A 737

resposta às mudanças climáticas envolve um processo iterativo de gestão de risco que inclui ações de 738

mitigação e adaptação, tendo em conta os danos reais ocorridos devido à mudança e os evitados, co-739

benefícios, sustentabilidade, equidade e as atitudes ao risco. Técnicas de gestão de risco podem 740

explicitamente acomodar a diversidade setorial, regional e temporal, mas a sua aplicação requer 741

informações sobre os impactos não só resultantes de cenários climáticos mais prováveis, mas também 742

os impactos decorrentes de menor probabilidade, assim como as consequências de eventos, das 743

políticas e das medidas propostas (IPCC, 2007b). 744

Atualmente, não há opções de gestão que sejam especialmente apropriadas para adaptação às alterações 745

climáticas que seriam mensuráveis, diferentemente daquelas já empregadas para lidar com a 746

variabilidade do clima contemporâneo (Van Beek et al., 2002). A única diferença substantiva é saber se 747

se deve adotar uma estratégia mais convencional e incremental numa abordagem "sem 748

arrependimentos" (BANCO MUNDIAL, 2010; Kabat et al., 2002) ou uma abordagem mais preventiva 749

e de precaução (Van Beek et al., 2002). Medidas "sem arrependimentos" são aquelas cujos benefícios 750

são iguais a ou excedem o seu custo para a sociedade. Elas são, por vezes, tidas como 'medidas que 751

valem à pena fazer de qualquer maneira’, (Van Beek et al., 2002). A definição de estratégias robustas é 752

desejável (IPCC, 2007b). Entende-se esta estratégia como a que mantém sob uma variedade de 753

abordagens, métodos, modelos e hipóteses, e espera-se ser relativamente pouco afetado pelas incertezas 754

da realidade (Godet, 2000). 755

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A elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), lançado em 2006, empregou uma 756

metodologia prospectiva de cenários para antecipar as imprevisibilidades acerca dos recursos hídricos. 757

Como ponto de partida para a construção desses cenários, foi estabelecido que eles deveriam descrever 758

futuros alternativos como ferramenta do planejamento de uma realidade carregada de riscos (PNRH, 759

2006b). 760

O PNRH aborda o tema mudança climática somente em seu Subprograma IV.1 - Desenvolvimento, 761

Consolidação de Conhecimento, Inclusive os Conhecimentos Tradicionais, e de Avanços Tecnológicos 762

em Gestão de Recursos Hídricos, inserindo a necessidade de estudos e pesquisa com vistas ao 763

entendimento das relações entre a dinâmica das disponibilidades hídricas e o comportamento climático 764

(PNRH, 2006b). No seu processo de revisão, foi realizado o Seminário “Diálogo Água e Clima: 765

adaptação aos riscos relacionados aos impactos das mudanças climáticas”, quando foram debatidas 766

possíveis contribuições da gestão de recursos hídricos na adaptação aos riscos e minimização de 767

impactos advindos de alterações climáticas. 768

Por sua vez, o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, lançado em dezembro de 2008, com foco em 769

medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa, pouco abordou a temática dos recursos 770

hídricos. O Plano apontou a necessidade de estudos e pesquisa para levantamento de impactos da 771

mudança climática sobre a disponibilidade hídrica e de atuação em monitoramento e previsão de 772

eventos hidrológicos extremos. 773

Uma grande variedade de medidas específicas de gestão, estruturais e não estruturais, utilizadas 774

rotineiramente para acomodar a atual variabilidade servirá para a adaptação com vistas à redução dos 775

impactos da variabilidade climática e mudanças climáticas (Kabat et al., 2002). O mesmo autor observa 776

que não existe uma abordagem de adaptação única e universal (Kabat et al., 2002). 777

Avaliações do risco utilizando dados históricos e estatística por si só não são o bastante quando se 778

avalia um futuro em mudança climática (Biemans et al., 2006). Padrões de projeto e estratégias de 779

gestão deverão levar em conta os prováveis efeitos das mudanças futuras nos ciclos hidrológicos e 780

clima. 781

Investimento em clima para a redução de risco de desastres é tendência essencial. O aumento dos 782

custos tem que ser invertidoinvertido. Isso pode ser feito através do conceito de "SafetyChain" 783

(prevenção, preparação, a intervenção de risco, recondicionar, reconstrução - Biemans et al., 2006). 784

Instrumentos econômicos como seguros (Righetto et al., 2007) e contratos com base na informação 785

climática (Sankarasubramanian et al., 2009) podem ter papel importante na construção de uma 786

estratégia de gestão do risco. 787

As atividades humanas exercem impactos no meio ambiente em escala global, com implicações 788

significativas para a água doce e perigos para os seres humanos e a natureza (Wagener et al., 2010). A 789

abordagem atual da ciência da hidrologia precisa mudar significativamente para que possamos 790

compreender e prever essas implicações (Wagener et al., 2010). Esse ajustamento é um pré-requisito 791

necessário para o desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos e para a construção de uma 792

estratégia de gestão de água que possibilite, no longo prazo, a segurança da água para as pessoas e o 793

meio ambiente (Wagener et al., 2010), sendo este o desafio da produção de conhecimento para a 794

sustentabilidade hídrica. 795

A hidrologia requer uma mudança de paradigma em que as previsões do comportamento do sistema 796

que estão além da faixa de variabilidade observada anteriormente ou que resultem de alterações 797

significativas de características físicas (estruturais) do sistema se tornem a nova norma (Wagener et al., 798

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2010). Para este fim, a formação de uma base de dados que unifique as informações meteorológicas, 799

da água da superfície e da água subterrânea (Clarke e Dias, 2003) torna-se fundamental. 800

Habilidades na previsão de inundações e secas precisam ser melhoradas em toda a gama de horizontes 801

temporais de interesse. Este é o lugar onde a pesquisa aplicada e a tecnologia tem um papel importante 802

a desempenhar (Kabat et al., 2002). As previsões de médio prazo do clima, neste momento, ainda 803

podem ser utilizadas na gestão da água em muitas partes do mundo, em parte por falta de capacidade, 804

mas também porque o potencial ainda não foi realizado por gestores de recursos hídricos (Kabat et al., 805

2002). 806

O Brasil possui hoje diversos trabalhos que possibilitam a utilização de modelos climáticos na tomada 807

de decisão em recursos hídricos, notadamente a tomada de decisão na escala de tempo sazonal a 808

interanual. Esses modelos são baseados no acoplamento entre modelos climáticos e hidrológicos 809

(Collischonn e Tucci, 2005; Collischonn et al., 2005; Souza Filho e Porto, 2003; Block et al., 2009), na 810

utilização de modelos climáticos para o cálculo de vazões de forma direta (Souza et al., 2009) ou 811

utilizando modelos estatísticos para a previsão de vazões (Souza Filho et al., 2003; Kim e Dias, 2003; 812

Souza Filho e Lall, 2004; Pinto et al., 2006a; Pinto et al., 2006b; Sabóia et al., 2009). Esse conjunto de 813

modelos possibilita a operação de sistemas de reservatórios (Cardoso et al., 2007; Cardoso et al., 2009) 814

e são ferramentas de gestão de recursos hídricos na alocação de água e em seguros foram propostas 815

(Souza Filho e Brown, 2008; Broad et al., 2007; Sankarasubramanian et al., 2009). 816

4.1.6.Desastres Naturais 817

O risco de desastres naturais deve ser analisado em conjunto com os conceitos de exposição e 818

vulnerabilidade das populações. Enquanto a exposição se refere à presença da população em locais que 819

podem ser afetada por eventos climáticos, a vulnerabilidade diz respeito à propensão e predisposição da 820

mesma população ser afetada (IPCC, 2012). Dessa forma, impactos extremos podem resultar de 821

eventos não extremos, onde a exposição e vulnerabilidade são elevadas. As comunidades mais expostas 822

e vulneráveis são as sujeitas a processos de desenvolvimento equivocados, em que há associação com 823

degradação ambiental, urbanização de áreas de risco, falhas de governança e escassez de opções de 824

sustento para a população pobre. 825

Os principais desastres naturais relacionados com o clima são as secas, inundações, deslizamentos, 826

furações, incêndios florestais e elevação do nível do mar. O principal efeito esperado de mudança do 827

clima sobre os desastres naturais no Brasil está relacionado com a mudança dos regimes de chuva nas 828

diversas regiões. Simulações de 14 MCG’s do CMIP3 indicam que, no século XXI, haverá redução do 829

tempo de retorno da precipitação de 1 dia de duração e tempo de retorno de 20 anos (referente aos 830

valores de precipitação do final do século XX) (IPCC, 2012). Nas regiões correspondentes ao Nordeste 831

do Brasil, Amazônia e Sul-Sudeste da América do Sul, os resultados dos modelos indicam que, para o 832

cenário A1B e período 2081-2100, a precipitação que no final do século XX levava 20 anos para ser 833

repetida em média, passará ocorrer, aproximadamente, com uma recorrência de 10 anos em média. Isso 834

pode significar o aumento da freqüência dos eventos extremos. Com o aumento da freqüência das 835

chuvas intensas, espera-se que ocorra aumento, também, da freqüência de inundações. Essa categoria 836

de desastre natural é a que provoca o maior número de perdas humanas no Brasil (Kobiyama et al., 837

2006). 838

A gestão do risco de desastres naturais deve: i) entender os mecanismos dos fenômenos naturais; e ii) 839

aumentar a resistência da sociedade contra esses fenômenos (Kobiyama et al., 2006). O entendimento 840

dos mecanismos é um processo contínuo, que necessita de investimentos em pesquisas que estudem os 841

fenômenos que ocorrem já no clima atual a exemplo dos eventos de seca na Amazônia (Tomasella et 842

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al., 2005), inundações no Nordeste (Ribeiro Neto et al., 2011; Fragoso Júnior et al., 2010) e inundações 843

no Rio de Janeiro (Canedo et al., 2011). 844

O segundo elemento, aumento da resistência contra os fenômenos naturais, consiste no 845

desenvolvimento de um sistema que envolva governo, setor privado, instituições de pesquisa e 846

sociedade civil, de maneira que cada componente possa contribuir de forma complementar para o 847

gerenciamento do risco de acordo com suas funções e capacidades. Nessa linha, a criação em 2011 do 848

Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), vinculado ao 849

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, foi um importante passo dado no sentido de aumentar a 850

capacidade da sociedade em reduzir os efeitos das catástrofes naturais no Brasil. O Ministério da 851

Integração Nacional é responsável pela Defesa Civil Nacional que se articula com a defesa civil dos 852

estados e municipal. A defesa civil nacional desenvolveu manual de planejamento em defesa civil 853

como instrumento orientativo de sua ação (Castro, 2007). 854

O desenvolvimento e implementação de plano integrado de gestão de desastres deve incluir (i) sistema 855

de alerta precoce com capacidade de disseminação rápida da informação; (ii) coordenação dos planos 856

de ações local, estadual e nacional com vistas a procura, resgate e evacuação da população afetada; (iii) 857

clara definição de responsabilidade entre os diversos agentes; (iv) sistema de previsão de longo prazo 858

de cheias e secas no estado da arte; (v) efetiva parceria público-privada para gestão de desastres, 859

mitigação e alívio das populações; (vi) avaliação rápida dos danos de secas e cheias (Gopalakrishman e 860

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40

4.2. Ecossistemas de Água Doce e Terrestres 1357

4.2.1. Introdução 1358

O Brasil é um dos 17 países megadiversos do planeta, ou seja, pertence ao conjunto de países que 1359

detêm 70% da biodiversidade do mundo (Mittermeier et al. 1997). Além disso, dispõe de c. 20% dos 1360

recursos hídricos globais (Freitas 2003), um dos maiores estoques naturais de carbono (Gibbs et al. 1361

2007) e é auto-suficiente na produção de alimentos (Burlandy 2009), petróleo (Goldemberg e Lucon 1362

2007) e possui matriz energética predominantemente hidrelétrica (Lucena et al. 2009). Entretanto, o 1363

acelerado crescimento econômico do país nas últimas décadas muitas vezes se deu a expensas do uso 1364

não sustentável de recursos naturais. Por exemplo, biomas como a Mata Atlântica e o Cerrado são hoje 1365

classificados como hotspots de biodiversidade, pelo contraste entre sua riqueza natural e o alto grau de 1366

degradação sofrido historicamente (Myers et al. 2000). Vários rios e cursos d´água encontram-se 1367

poluídos ou degradados (Agostinho et al. 2005). O histórico de mau uso é exemplificado pelo fato de, 1368

apesar de ser o sexto PIB do planeta, o índice de desenvolvimento humano do país (IDH) é apenas 84º 1369

no mundo e a distribuição de renda está entre as três mais desequilibradas do continente latino-1370

americano (Scarano et al. 2012). Esse panorama sugere que a crescente demanda por geração de 1371

energia, infra-estrutura, produção mineral e agrícola, bem como o crescimento urbano absolutamente 1372

desordenado e sem planejamento, podem aumentar a vulnerabilidade dos sistemas naturais às 1373

mudanças no uso da terra (Geist e Lambin 2002, Kim et al. 2009, Dobrovolski et al. 2011). A 1374

combinação desses fatores de perturbação deve acelerar ainda mais os efeitos das mudanças climáticas 1375

previstas pelos cenários do IPCC (Foley et al. 2005). 1376

Esse capítulo está organizado em duas seções. Uma discute vulnerabilidade e impacto - primeiramente 1377

tratando da água doce e em seguida dos ambientes terrestres - e a outra trata de adaptação às mudanças 1378

climáticas e de uso da terra, agregando ambientes terrestres e aquáticos em uma mesma abordagem, 1379

justamente para integrar os compartimentos que no tópico anterior foram vistos de forma separada. A 1380

estrutura, portanto, visa apenas facilitar a clareza do texto, já que esses compartimentos são conectados 1381

e interdependentes e, portanto, devem ser tratados como tal, por exemplo, quando de ações práticas 1382

voltadas para conservação (Amis et al. 2009). 1383

4.2.2. Vulnerabilidade e Impacto 1384

Conversão de ecossistemas naturais é a segunda maior fonte de mudança climática induzida pelo 1385

homem, somando de 17 a 20% das emissões de gases antropogênicas (Gullison et al. 2007; Strassburg 1386

et al. 2010) e é a mais importante causa da extinção de espécies (Baillie et al. 2004). O Brasil foi o 1387

líder mundial de desmatamento de florestas tropicais, suprimindo c. 19.500 km2 por ano entre 1996 e 1388

2005, o que representou historicamente de 2 a 5% da emissão global de CO2 (Nepstad et al. 2009). Esse 1389

cenário se torna particularmente grave ao considerarmos que recentes evidências apontam para o fato 1390

que, em termos de conservação da biodiversidade em florestas tropicais, nada substitui a relevância das 1391

florestas primárias, cada vez mais raras nos trópicos (Gibson et al. 2011). Entre julho de 2005 e julho 1392

de 2009, o desmatamento na Amazônia brasileira caiu 36% em relação ao valor histórico, o que esteve 1393

em parte relacionado à expansão da rede de áreas protegidas que hoje cobrem c. 51% do remanescente 1394

florestal do bioma (Nepstad et al. 2009). Nesse capítulo, a cobertura por áreas protegidas é vista como 1395

uma medida da variação da vulnerabilidade entre os biomas, ainda que a incorporação de critérios de 1396

vulnerabilidade ao planejamento da conservação seja, todavia, problemático (Wilson et al. 2005). Além 1397

disso, se reconhece também a existência de grandes proporções de espécies ocorrentes fora de áreas 1398

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protegidas (Chazdon et al. 2009) e as limitações das áreas protegidas em conservar espécies e serviços 1399

ambientais frente às mudanças climáticas (Heller e Zavaleta 2009). 1400

O Brasil possui seis grandes biomas sujeitos a diferentes tipos de impactos e cujos recursos naturais 1401

variam em relação ao grau e tipo de vulnerabilidade, além do ambiente marinho, não tratado nesse 1402

capítulo. A tabela 4.2.1 indica que enquanto mais de 50% do bioma amazônico estão protegidos na 1403

forma de unidades de conservação ou terras indígenas, todos os demais biomas têm 10% ou menos de 1404

seus territórios protegidos. A situação é distinta no pantanal e nos pampas, onde a proteção formal é 1405

inferior a 5% de suas áreas originais. 1406

A variação em vulnerabilidade e a origem do impacto sobre os biomas também muda de acordo com o 1407

histórico de ocupação humana e com as características naturais e posição das regiões. Por exemplo, a 1408

Mata Atlântica abriga c. 60% da população brasileira e a maioria das grandes cidades do país (Galindo-1409

Leal e Câmara 2003) e contém apenas 12% de sua cobertura vegetal original e mesmo assim distribuída 1410

em pequenos fragmentos florestais (Ribeiro et al. 2009). Já o Cerrado, conta hoje com taxas de 1411

desmatamento de 2 a 3 vezes superiores às do bioma amazônico, principalmente em função da 1412

expansão agropecuária (Sawyer 2008). O Pantanal (Harris et al. 2005) e os Pampas (Overbeck et al. 1413

2007) são biomas que requerem controle de espécies invasoras e algum grau de manejo, seja com fogo 1414

ou pastejo, para manter sua estrutura e funcionamento, o que sugere que unidades de conservação de 1415

proteção integral nem sempre sejam a modalidade ideal a ser empregada. A Caatinga já tem 15% de 1416

sua cobertura ameaçada de desertificação em decorrência do uso inadequado do solo (Leal et al. 2005). 1417

Por fim, a Amazonia, apesar da grande proporção de áreas protegidas, a expansão de projetos infra-1418

estruturais e da atividade agropecuária representam riscos à integridade desse sistema que responde por 1419

15% da fotossíntese terrestre global e que é um dos principais propulsores da circulação atmosférica 1420

global (Malhi et al. 2008). 1421

1422

Tabela 4.2.1. Extensão das unidades de conservação (UC)* e terras indígenas (TI)** por bioma brasileiro. Áreas 1423 marinhas não foram incluídas por não serem tratadas nesse capítulo. 1424

1425

Bioma Área (km2) UC total (km

2)

até 2009

% total

até 2009

TI (km2) % total

Amazônia 4.196.943 1.152.900 27,5 1.087.200 25,9

Caatinga 844.453 86.091 10,0

18.058

0,4

Cerrado 2.036.448 185.737 9,1

Pantanal 150.355 7.531 5,0

Mata Atlântica 1.110.182 118.478 10,7

Pampas 176.496 5.932 3,4

Brasil 8.514.877 1.556.669 18,2 1.105.258 13,0

1426

(adaptado de * Fonseca et al. 2010 e ** http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-1427

indigenas/demarcacoes/localizacao-e-extensao-das-tis) 1428

1429

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42

4.2.3. Ecossistemas de Água Doce 1430

Ecossistemas de água doce são os ambientes mais ameaçados do planeta (Abell et al. 2008) e a 1431

agricultura é a maior usuária dos recursos hídricos mundiais, somando 70% do suprimento total 1432

(Beddington 2010). O Brasil é um dos 8 países do mundo que contribuem para 50% da pegada hídrica 1433

do mundo, qualificando-o como um dos maiores consumidores. Isso se deve ao fato que 90% da água 1434

consumida no país é destinada à agricultura (Hoekstra e Chapagain 2007). Para países onde a economia 1435

é ainda muito centrada na agricultura, como no caso do Brasil, a tendência é que haja um aumento da 1436

competição por recursos hídricos com outros setores (Beddington, 2010) durante o desenvolvimento do 1437

país, como, por exemplo, o setor energético. Em 2006, 83% da energia no país foi gerada por 1438

hidrelétricas e Lucena et al. (2009) demonstraram que a energia hidrelétrica, a energia eólica e a 1439

produção de biodiesel deverão ser particularmente vulneráveis às mudanças climáticas. 1440

De acordo com o Plano Nacional de Recursos Hídricos (MMA, 2006a) c. 83% dos recursos hídricos 1441

brasileiros estão concentrados em bacias hidrográficas de menor densidade demográfica, em particular 1442

no bioma Amazônico (que detém 74% dos recursos hídricos superficiais e é habitado por menos de 5% 1443

da população brasileira; Marengo 2008). A resultante é que áreas mais densamente urbanizadas contêm 1444

54% da população brasileira e apenas 12% dos recursos hídricos. Além disso, problemas têm sido 1445

detectados na estratégia de conservação de rios pertencentes a bacias que atendem grandes cidades 1446

(e.g., Moulton et al. 2007). 1447

Existem evidências do declínio da biodiversidade nos ecossistemas aquáticos continentais brasileiros, 1448

problema atribuído amiúde à poluição e eutrofização, assoreamento, construção de represas e controle 1449

do regime de cheias, pesca e introduções de espécies, especialmente nas regiões mais populosas do país 1450

(Agostinho et al. 2005). Dentre os componentes da biodiversidade aquática, os peixes são os 1451

organismos mais bem conhecidos (Abell et al. 2008) e o Brasil possui a mais rica ictiofauna do planeta 1452

(Nogueira et al. 2010). Por exemplo, as 540 pequenas microbacias brasileiras abrigam 819 espécies de 1453

peixes de distribuição restrita. Entretanto, 29% dessas microbacias perderam mais que 70% da sua 1454

cobertura vegetal original e apenas 26% possuem sobreposição significativa com áreas protegidas ou 1455

terras indígenas. Além disso, 40% das microbacias possuem sobreposição com hidrelétricas ou 1456

apresentam poucas áreas protegidas e grande taxa de perda de habitat (Nogueira et al. 2010). 1457

4.2.4. Ecossistemas Terrestres 1458

Perda de hábitats e fragmentação são duas das principais ameaças às espécies e aos ecossistemas 1459

terrestres brasileiros (UNFCCC 2007). Espécies tropicais são mais numerosas, tendem a ter maiores 1460

taxas de endemismo e são mais restritas em distribuição que espécies de regiões temperadas e, 1461

portanto, estão mais sujeitas à extinção que outras espécies. Há aproximadamente uma ordem de 1462

magnitude a mais de espécies ameaçadas de anfíbios e sete a mais de aves e mamíferos nos hotspots 1463

tropicais que nos não tropicais (Brook et al. 2008). Por exemplo, o Brasil possui c. 15% de todas as 1464

espécies de plantas terrestres do planeta e c. 6% (ou 2291) das espécies da flora terrestre brasileira são 1465

raras (área de ocorrência com até 10000 km2) e, portanto, virtualmente sob o risco de extinção 1466

(Giulietti et al. 2009). Além disso, mudanças no uso da terra terão reduzido a disponibilidade de 1467

habitats para espécies amazônicas de plantas em 12 a 24%, resultando em 5 a 9% das espécies se 1468

tornando ameaçadas de extinção (Feeley e Silman 2009). 1469

Previsões do efeito de mudanças climáticas sobre a extinção de espécies projetam valores globais de 15 1470

a 37% de perdas até 2050, incluindo os biomas Amazônia e Cerrado em diferentes cenários (Thomas et 1471

al. 2004). A perda de espécies e declínio de populações previstas estão relacionadas às projeções de 1472

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mudanças em temperatura e pluviosidade. Por exemplo, Marengo et al. (2011) preveem até 2100 1473

aquecimento de 4 a 6% na América do Sul continental e redução nas chuvas com decorrente seca nas 1474

bacias da Amazonia oriental e do São Francisco. Exemplos do efeito dessas mudanças climáticas sobre 1475

grupos taxonômicos específicos dão conta que no Cerrado, para 26 espécies de aves endêmicas, 1476

projeta-se uma retração em até 80% na distribuição geográfica e um deslocamento médio de 200 km no 1477

sentido sudeste (Marini et al. 2009), enquanto na Mata Atlântica prevê-se a extinção local de até 20% 1478

das 49 espécies de Piprídeos analisados (Anciães e Peterson 2006). Resultados semelhantes também 1479

foram obtidos com a modelagem da distribuição potencial de 162 espécies de plantas vasculares do 1480

Cerrado, indicando extinções e deslocamento para sudeste e sul das regiões estudadas (Siqueira e 1481

Peterson 2003). Os biomas Mata Atlântica e Cerrado são marcadamente sensíveis, a se julgar pelo fato 1482

que das 627 espécies que constam da lista oficial das espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção 1483

(MMA 2003) estima-se que mais de 72% delas estão concentradas em apenas dois hotspots: Mata 1484

Atlântica e Cerrado (Paglia et al. 2008). Esse padrão irá ter impactos negativos sobre populações 1485

humanas pobres nesses biomas. Por exemplo, Nabout et al. (2011) geraram modelos de cenários 1486

climáticos para 2080 que indicaram grandes perdas de ambientes apropriados para o pequi (Caryocar 1487

brasiliense Camb. Caryocaraceae), planta nativa importante à economia de municípios pobres na 1488

região. 1489

As novas regiões indicadas pelos modelos de distribuição potencial dos diversos grupos analisados sob 1490

o cenário de alteração climática futura são aquelas que, na atualidade, apresentam as piores situações 1491

de fragmentação e cobertura vegetal remanescente. Regiões como o centro e norte de São Paulo, sul e 1492

oeste de Minas Gerais e oeste do Paraná são os locais onde a ocupação humana é antiga. A cobertura 1493

nativa remanescente chega a menos de 10% da área original de Cerrado em São Paulo (MMA 2009). A 1494

Mata Atlântica encontra-se reduzida a menos de 12% da cobertura original em estados como São 1495

Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro ou Paraná (SOS Mata Atlântica e INPE 2010). Além disso, 1496

conforme já mencionado, somente 2,2% do Cerrado estejam protegidos por unidades de conservação 1497

de proteção integral (Klink e Machado 2005), sendo que as áreas mais expressivas estão localizadas na 1498

porção norte do domínio. Na Mata Atlântica, por sua vez, as áreas protegidas existentes representam 1499

menos de 2% da área original desse domínio (Tabarelli et al. 2005). Áreas protegidas em altitudes 1500

elevadas, insulares e costeiras e aquelas com limites abruptos com terras com uso antrópico também 1501

são particularmente vulneráveis (Muehe 2010; Laurence et al. 2011). 1502

Se por um lado o estado de conservação de alguns grupos pode se agravar no futuro, por outro é 1503

igualmente preocupante as perspectivas de mudanças na ocorrência geográfica de espécies 1504

transmissoras de doenças em decorrência das alterações climáticas. Peterson e Shaw (2003) sugerem 1505

que os vetores da leishmaniose podem ampliar suas distribuições para regiões onde normalmente não 1506

existiam e novos casos de leishmaniose podem ocorrer. 1507

Atividades ligadas ao desenvolvimento e produção de matéria prima e bens de consumo (agricultura, 1508

energia, infra-estrutura, óleo, gás e minério) são frequentemente associadas à perda de recursos naturais 1509

no país (Neistein et al. 2004.). Contudo, em extensa revisão sobre os fatores causais de processos de 1510

extinção de espécies, Brook et al. (2008) demonstram que distintos fatores atuam em sinergia sobre as 1511

espécies e que, portanto, tratamento individual de fatores não é recomendável e conclui que ações 1512

como preservação de hábitats, restauração de áreas degradadas, manutenção ou criação de 1513

conectividade, evitar sobreexplotação, reduzir risco de queimas e conter emissão de carbono, dentre 1514

outros, devem ser planejados de maneira integrada. 1515

1516

4.2.5. Adaptação 1517

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Adaptação é definida como ajustes em sistemas humanos ou naturais, incluindo estruturas, processos e 1518

práticas (IPCC 2007). Há um reconhecimento na literatura que desenvolvimento em adaptação nas duas 1519

últimas décadas progrediu pouco em comparação com mitigação de emissões (Heller e Zavaleta 2009). 1520

Nesse tópico revisaremos algumas iniciativas em curso no Brasil. 1521

4.2.6. Adaptação baseada nos ecossistemas 1522

O papel dos serviços ambientais na adaptação às mudanças climáticas ainda é um tema relativamente 1523

novo na arena científica e política, e que demanda diálogo e acordo entre distintos atores da academia, 1524

da sociedade civil e dos setores privado e público. Esquemas como o pagamento de serviços 1525

ambientais, REDD+ e manejo comunitário são exemplos da chamada adaptação baseada nos 1526

ecossistemas, que começa a se difundir na América Latina (Vignola et al. 2009). Por trás desses 1527

esquemas está o princípio da valoração de ecossistemas e seus serviços, cuja lógica é a de maximizar os 1528

benefícios que sociedades derivam da interação com ecossistemas alocando eficientemente recursos 1529

naturais escassos para usos potencialmente benéficos, porém competidores. Contudo, as premissas 1530

inerentes às valorações econômicas podem não ser apropriadas quando aplicadas a serviços ambientais. 1531

Por exemplo, Abson e Termansen (2010) argumentam que valoração de ecossistemas deva refletir não 1532

só os benefícios econômicos e culturais decorrentes da interação homem-ecossistema, mas também a 1533

capacidade dos ecossistemas assegurarem o fluxo desses benefícios no futuro. 1534

Os esquemas de pagamento por serviços ambientais já apresentam exemplos bem sucedidos no 1535

continente, normalmente envolvendo remuneração a serviços ligados à regulação de fluxo hídrico, 1536

estocagem de carbono, provisão de habitat para a biodiversidade e beleza cênica. (DeKoning et al. 1537

2011, Montagnini e Finney 2011). O Programa Bolsa Floresta, em funcionamento no Estado do 1538

Amazonas desde 2007, é um exemplo brasileiro onde populações indígenas e tradicionais recebem 1539

compensação financeira e assistência de saúde, em troca de assumirem compromisso de desmatamento 1540

zero em áreas de florestas primárias. Um ano depois de ser lançado, cerca de 2700 famílias já eram 1541

beneficiadas (Viana 2008). 1542

O manejo comunitário de áreas naturais também é uma eficiente ferramenta para a adaptação às 1543

mudanças climáticas e conservação da biodiversidade. Porter-Bolland et al. (2012), ao comparar áreas 1544

protegidas com áreas de manejo comunitário em diversas partes do mundo tropical, inclusive no Brasil, 1545

constataram que áreas protegidas possuem maior taxa de desmatamento que áreas de manejo 1546

comunitário. Na mesma linha, Nelson e Chomitz (2011) encontraram para a América Latina, incluindo 1547

dados brasileiros, que (i) áreas protegidas de uso restrito reduziram substancialmente o fogo, mas que 1548

áreas protegidas multi-uso foram ainda mais efetivas e (ii) em áreas indígenas a incidência de fogo 1549

florestal foi reduzida em 16 pontos percentuais em comparação com áreas não protegidas. Além disso, 1550

já surgem no continente protocolos de pesquisa e monitoramento que remuneram comunidades locais 1551

que atuam diretamente na coleta de informações científicas no campo (Luzar et al. 2011). 1552

Ainda nesse contexto, está em curso o debate se conservação da biodiversidade e serviços ambientais 1553

em paisagens agrícolas serão mais efetivamente alcançados através de práticas de alta produtividade 1554

agrícola permitindo dedicação de áreas mais extensas à conservação, ou por meio de práticas mais 1555

amigáveis à vida selvagem onde propriedades teriam maior valor de habitat mas uma menor 1556

produtividade (Green et al. 2005). Schrott et al. (2011) estudaram o caso das cabrucas (plantio de cacau 1557

à sombra) baianas e propõem que uma combinação dessas estratégias é o mais desejável, a partir de 1558

casos de sucesso na (i) expansão do sistema de áreas protegidas; (ii) promoção de práticas agrícolas 1559

produtivas para o cacau, mas ao mesmo tempo favoráveis à biodiversidade e (iii) assistência a 1560

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proprietários para implementar a legislação ambiental (código florestal) e reservas privadas voluntárias 1561

(RPPNs). 1562

Todavia, a conservação da biodiversidade ainda está em grande parte confinada às áreas protegidas, 1563

mas com a magnitude das mudanças climáticas projetadas para o século se espera que muitas espécies e 1564

tipos vegetacionais percam sua representatividade dentro de áreas protegidas (Heller e Zavaleta 2009). 1565

O Brasil realizou um estudo onde foram indicadas as áreas prioritárias para a conservação da 1566

biodiversidade (MMA 2002, 2006b), sendo que os principais remanescentes de vegetação nativa 1567

existentes em várias regiões naturais do país foram apontados como importantes para a manutenção de 1568

espécies da fauna e da flora. Contudo, o exercício não considerou os cenários climáticos futuros e é 1569

bem provável que áreas que não foram identificadas na atualidade como importantes poderiam ser 1570

destacadas nos cenários de mudanças climáticas. Hannah et al.(2002) apontam algumas ações básicas 1571

que compõem a integração das mudanças climáticas com estratégias de conservação (Climate Change-1572

integrated Conservation Strategies ou CCS) que podem ser adotadas por diferentes governos. Tais 1573

ações englobam desenvolvimento de modelagens regionais, expansão das redes de áreas protegidas, 1574

manejo da matriz da paisagem, coordenação regional de esforços e transferência de recursos. 1575

Obviamente a expansão da rede de áreas protegidas, sejam elas públicas ou privadas, e o manejo da 1576

matriz de paisagem representam as ações mais imediatas para atenuar os potenciais efeitos das 1577

mudanças climáticas, em especial nas situações onde se espera uma alteração da distribuição geográfica 1578

de espécies e ecossistemas. Dados analisados pela Empresa Brasileira de Agropecuária – EMBRAPA 1579

(Assad et al. 2008) indicam que para diversos cultivos (soja, arroz, milho e café), as áreas mais 1580

setentrionais no Brasil apresentarão maiores riscos climáticos e as áreas mais meridionais poderão 1581

apresentar condições climáticas mais estáveis. Em outras palavras, as mesmas áreas que serão criticas 1582

para a manutenção de espécies e ecossistemas no cenário de mudanças climáticas serão as mesmas 1583

regiões onde os atuais cultivares poderão ser plantados sem grandes riscos. 1584

4.2.7. Restauração ecológica 1585

Ações de restauração ecológica aumentam a provisão de biodiversidade e serviços ambientais em 44% 1586

e 25%, respectivamente, conforme estimado por Benayas et al. (2009) a partir de uma meta-análise de 1587

89 estudos de restauração no globo, incluindo a América do Sul. Além disso, tais ações aumentam o 1588

potencial de sequestro de carbono e promovem organização comunitária, atividades econômicas e 1589

melhoria de vida em áreas rurais (Chazdon 2008), como é exemplificado em casos na Mata Atlântica 1590

(Rodrigues et al. 2011, Calmon et al. 2011). A Mata Atlântica hoje concentra os principais esforços em 1591

restauração florestal no país, mas ainda encontra dificuldades em fazê-lo a baixo custo, planejar em 1592

escala de paisagem e se adequar a circunstâncias sócio-políticas em escala local (Rodrigues et al. 1593

2009). Uma dessas dificuldades diz respeito a até que ponto a ciência pode embasar legislação sobre 1594

restauração florestal. Aronson et al. (2011) discutem o exemplo da legislação no estado de São Paulo 1595

(SMA 08-2008) que estabelece números mínimos de espécies arbóreas nativas e a proporção de tipos 1596

funcionais e espécies ameaçadas a serem alcançados dentro de um determinado período de tempo em 1597

projetos de restauração. Enquanto para alguns cientistas essa legislação é apropriada, para outros não 1598

há um caminho único para a efetividade de um projeto de restauração e a ciência disponível ainda é 1599

insuficiente para estabelecer normas técnicas ou metodológicas. 1600

Apesar da importância da restauração ecológica como estratégia de adaptação, Jackson et al. (2005) 1601

alertam para o risco de plantações florestais terem efeito negativo sobre o balanço hídrico de solos, 1602

inclusive nos pampas da América do Sul. Resta ver até que ponto tal risco seria detectável também para 1603

esforços de restauração com espécies nativas no Brasil. Além disso, autores chamam a atenção para o 1604

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fato que práticas de restauração aplicáveis a algumas áreas, podem não ser adequadas para outras. Por 1605

exemplo, enquanto a fertilização pode facilitar o estabelecimento de mudas em ambientes pobres em 1606

nutrientes (Zamith e Scarano 2006), essa prática pode aumentar o risco de eutrofização de lagos e rios 1607

se aplicada em ambientes sujeitos à inundação (Dias et al. 2011). 1608

4.2.8. Biocombustíveis 1609

Biocombustíveis são promissoras fontes renováveis de energia e o Brasil tem grande destaque 1610

internacional na produção de bioenergia. Em 2006, a matriz energética brasileira já consistia 29,7% em 1611

energia gerada a partir de biomassa contra 38,4% de combustíveis fósseis (Nass et al. 2007). Todavia, 1612

os biocombustíveis apresentam problemas potenciais ligados à emissão líquida positiva de gases estufa, 1613

ameaças à biodiversidade, aumento nos preços dos alimentos e competição por recursos hídricos, os 1614

quais podem ser revertidos ou atenuados (Koh e Ghazoul 2008). Lapola et al. (2010) demonstraram que 1615

mudanças diretas no uso da terra para plantio de biocombustível (e.g., plantação de biocombustível 1616

substituindo pecuária) teriam pequeno impacto na emissão de carbono, enquanto mudanças indiretas 1617

(e.g., plantação de biocombustível substituindo pecuária que é empurrada em direção à floresta) 1618

poderiam emitir o carbono compensado pelo biocombustível. Esse mesmo estudo aponta que etanol da 1619

cana-de-açúcar e biodiesel derivado da soja contribuem cada para c. metade do desmatamento indireto 1620

projetado para 2020 (121.970 km2), criando um débito de carbono que levaria c. 250 anos para ser pago 1621

de volta pelos biocombustíveis em substituição aos combustíveis fósseis. Por exemplo, uma eventual 1622

expansão da área plantada de cana-de-açúcar será impacto ainda mais severo nos estados de Alagoas, 1623

Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Essa região é hoje a segunda maior produtora de açúcar e 1624

etanol do país, e uma das porções mais ameaçadas de florestas tropicais do planeta (apenas 12% 1625

restante, ~ 1% legalmente protegido), com a maior parte dos fragmentos florestais menores que 100 ha 1626

e várias espécies endêmicas na iminência da extinção (Bernard et al. 2011). 1627

Iniciativas como a moratória da soja na Amazônia exercem um efeito inibitório sobre taxas de 1628

desmatamento. Rudorff et al. (2011) demonstraram que de 2008 a 2010 soja foi plantada apenas em 1629

0,25% da area desmatada o que representa 0,027% da area de soja no Brasil. A maior proporção de soja 1630

plantada em área de desmatamento após o lançamento da moratória da soja foi no estado do Pará 1631

(2,52%) e a menor em Rondônia (0,03%). Lapola et al. (2010) demonstraram também que o óleo de 1632

palma (dendê) causaria menos mudanças no uso da terra e débito de carbono associado que outras 1633

culturas de biocombustível. 1634

4.2.9. Lacunas de dados e de pesquisas 1635

Embora o Brasil conte com sólidas bases de dados acerca de clima (http:\\www.inpe.br) e de socio-1636

economia (http:\\www.ibge.gov.br), ao país ainda faltam bases de dados abrangentes e acessíveis sobre 1637

biodiversidade e serviços ambientais, apesar de alguma boas iniciativas recente 1638

(http:\\sinbiota.biota.org.br ; http:\\floradobrasil.jbrj.gov.br). Essa lacuna de dados sistematizados em 1639

parte explica a dificuldade em integrar clima-natureza-homem em análises e construções de modelos. 1640

As relações entre biodiversidade, serviços ambientais e bem-estar humano são aparentes nesse relato, 1641

mas evidências empíricas ainda são pouco disponíveis para o Brasil. Esse tipo de pesquisa tem caráter 1642

claramente interdisciplinar e vem sendo chamada de ciência da sustentabilidade (Bettencour e Kaur 1643

2011). 1644

Outra lacuna óbvia diz respeito à valoração de serviços ambientais, etapa essencial para muitas das 1645

ações de adaptação baseadas em ecossistemas. O Brasil possui expertise no tema (e.g. Motta 2006), 1646

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mas essa linha tem demanda grande a ser atendida. Existem diversas ferramentas disponíveis (e.g. 1647

TEEB 2010) aguardando por uma aplicação mais sistemática no país. 1648

Uma terceira importante lacuna de pesquisa diz respeito à adaptação de espécies e assembléias às 1649

mudanças climáticas. Avanço aqui depende de integração entre genética da adaptação ao clima e 1650

dinâmica de populações. Lavergne et al. (2010) admitem essa como sendo uma lacuna global e 1651

fortemente relacionada à separação histórica entre ecologia e evolução, que hoje impede o avanço na 1652

compreensão das conseqüências das mudanças climáticas para espécies e assembléias. 1653

4.2.10. Conclusões e perspectivas 1654

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquáticos continentais brasileiros são 1655

sujeitos incluem a) desmatamento, fragmentação e impacto sobre recursos hídricos a partir de 1656

mudanças no uso da terra; e b) impacto sobre a qualidade de recursos hídricos e sobre o solo por 1657

poluição derivada de ação antrópica. Esses dois tipos de impacto, por sua vez, têm efeito direto sobre o 1658

clima. Impactos projetados até 2100, decorrentes de mudanças climáticas, incluem redução de chuvas e 1659

aumento de temperatura em boa parte do território brasileiro, implicando em extinção ou mudanças da 1660

distribuição geográfica de espécies. 1661

Todos os biomas brasileiros apresentam pontos de vulnerabilidade: a) a Mata Atlântica, por sua 1662

pequena e fragmentada cobertura florestal remanescente; b) o Cerrado, por sua pequena cobertura de 1663

áreas protegidas frente à expansão agrícola; c) a Caatinga, pela degradação ambiental acelerada que em 1664

alguns pontos já leva à desertificação; d) o Pantanal, vulnerável a mudanças no seu regime de 1665

inundações, principalmente diante dos cenários de seca projetados; e) os Pampas, pelas profundas 1666

mudanças de uso da terra combinadas com susceptibilidade à invasoras; e, finalmente, f) a Amazônia, 1667

pela demanda de expansão infra-estrutural que não pode correr o risco de ser desordenada. Em todos 1668

esses biomas, as mudanças tornam também a sociedade vulnerável, em componentes como economia e 1669

saúde. 1670

Por tudo isso, o país precisa avançar na construção e implementação de estratégias de adaptação às 1671

mudanças em curso. Esse relato aponta para a já existência de algumas iniciativas de sucesso, que, 1672

entretanto, precisam ganhar escala. Isso necessitará ter como base uma ciência mais interdisciplinar e 1673

com maior sucesso ao se comunicar com a tomada de decisão nos setores público e privado (Scarano e 1674

Martinelli 2010). 1675

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4.3. Sistema costeiro e áreas costeiras baixas 1930

4.3.1.Introdução 1931

A resposta das sociedades frente mudanças nos padrões climáticos constitui-se em um dos principais 1932

desafios enfrentados pela humanidade no Século XXI. Seu potencial para causar impactos econômicos 1933

e sociais é considerável, com efeito direto na qualidade de vida das populações costeiras. Este desafio 1934

somente poderá ser enfrentado a partir de ações integradas entre os diversos setores da sociedade e 1935

fundamentado no conhecimento profundo dos cenários atuais e previstos. 1936

As zonas costeiras na sua aparente simplicidade paisagística e na sua dinâmica habitual exigem 1937

considerações similares ou até mais complexas do que os espaços interiores, já que envolvem questões 1938

relacionadas com as variações do nível do mar, paleoclimas e história vegetacional (Ab’ Saber, 2000). 1939

O litoral brasileiro, com 8.698 km de extensão e área aproximada de 514 mil km2, constitui-se em um 1940

perene desafio à gestão em face da diversidade de situações existentes neste território. São 1941

aproximadamente 300 municípios defrontantes com o mar, os quais têm, na faixa de praia, um espaço 1942

privilegiado para o desenvolvimento de atividades turísticas, lazer, pesca, entre outras. É nesse cenário 1943

dinâmico e de alta mobilidade, tanto física quanto socioeconômica, que residem aproximadamente 20% 1944

da população do país, sendo que 16 das 28 regiões metropolitanas encontram-se no litoral. Essas áreas 1945

de adensamento populacional convivem com amplas extensões de povoamento disperso e rarefeito. São 1946

os habitats das comunidades de pescadores artesanais, dos remanescentes de quilombos, de tribos 1947

indígenas e de outros agrupamentos imersos em gêneros de vida tradicionais. 1948

Além dos já conhecidos e discutidos problemas ambientais incidentes nessa porção do território, 1949

desenha-se, atualmente, uma nova perspectiva frente às questões relativas às mudanças climáticas, 1950

principalmente no que tange às suas causa e efeitos. A necessidade de adaptação a essa nova realidade 1951

e de mitigação dos problemas por ela causada devem constituir-se em pauta constante dos órgãos 1952

públicos tomadores de decisão. 1953

Nesse contexto, torna-se fundamental a compreensão das interações entre oceanos e zonas costeiras 1954

com as variáveis relacionadas às mudanças climáticas. Além disso, é vital a construção de uma visão 1955

estratégica desta porção do território com vistas às medidas de adaptação a novos cenários de 1956

aquecimento global, elevação do nível do mar, erosão costeira, entre outros. 1957

É sob esta ótica que o presente capítulo visa avaliar a atual situação da zona costeira brasileira, dando 1958

especial enfoque aos recursos naturais e manejados, ecossistemas e seus usos. Para tanto o conteúdo 1959

apresentado será abordado de maneira ecossistêmica, com análises específicas para ambientes de 1960

plataformas rasas e praias, manguezais e marismas, estuários e lagoas e lagunas costeiras. Será 1961

abordado ainda um estudo sobre vulnerabilidade da zona costeira que engloba aspectos não apenas de 1962

cunho ambiental, mas também social e tecnológico. 1963

4.3.2. Manguezal E Marismas 1964

4.3.2.1 Principais Forçantes Sobre o Ecossistema Manguezal 1965

Manguezais são ecossistemas florestais costeiros de influência marinha, localizados na zona entre-1966

marés de regiões tropicais e subtropicais, sendo, portanto, considerados ecossistemas costeiros 1967

marinhos, visto a forte dependência da energia das marés e da intrusão salina. A ocorrência dos 1968

manguezais é determinada, em uma escala global, por algumas condições básicas (Walsh,1974): (i) 1969

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temperatura média do mês mais frio superior a 20 oC e amplitude térmica anual inferior a 5 oC; (ii) 1970

presença de ambientes costeiros abrigados e; (iii) presença de água salgada. 1971

No Brasil os manguezais ocorrem desde o extremo norte (Rio Oiapoque – 04º 20’ N) até Laguna, em 1972

Santa Catarina (28º 30’ S). Dada essa ampla distribuição latitudinal, esse ecossistema está submetido a 1973

diferentes combinações de intensidades das forçantes que controlam sua estrutura, funcionamento e 1974

dinâmica. 1975

Na tabela 4.3.1 apresenta-se uma breve comparação entre as divisões da costa brasileira propostas por 1976

diversos autores. Nessa tabela são apresentadas ainda, para cada um dos segmentos da costa brasileira, 1977

as principais forçantes que controlam tanto a ocorrência de florestas de mangue, como o 1978

desenvolvimento estrutural dessas florestas. Já a tabela dois diferencia algumas das principais 1979

características entre marismas e manguezais. 1980

Tabela 4.3.1 – Divisão da costa brasileira e forçantes associadas à ocorrência e desenvolvimento de florestas de 1981 mangue, segundo classificações propostas por Schaeffer-Novelli et al. (1990) e Muehe (2010). 1982

Divisão da Costa Brasileira Forçantes Associadas à

Ocorrência e Desenvolvimento

das Florestas de Mangue Schaeffer-Novelli et al. (1990) Muehe (2010)

Costa do Amapá

Costa Norte Dominada por

Marés e Manguezais

Regime de macromarés, clima

úmido com excedente hídrico

anual, forte aporte sedimentar e de

água doce de origem continental,

com destaque para o rio Amazonas

Golfo do Amazonas

Reentrâncias Maranhenses

Costa Leste do Maranhão ao

Cabo Calcanhar (RN)

Costa Nordeste com Déficit

Sedimentar

Domínio de falésias com planícies

costeiras pouco desenvolvidas e

áreas abrigadas restritas a

desembocadura de rios e estuários,

clima com deficit hídrico anual mais

acentuado na porção norte

Costa Nordeste do Cabo

Calcanhar ao Recôncavo

Baiano

Recôncavo Baiano a Cabo Frio

Costa Dominada por

Falésias e Deltas

Dominados por Ondas

Regime de micromarés,

precipitação e evapotranspiração

similares numa base anual, com

déficit hídrico em alguns trechos,

presença mais acentuada de

falésias na porção norte,

alternância no domínio de

processos climático-oceanográficos

tropical e subtropical

Cabo Frio a Torres Costa com Lagunas Regime de micromarés, clima

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56

Associadas a Cordões

Arenosos Duplos

úmido com excedente hídrico

anual, domínio da Serra do Mar,

com limitação de áreas abrigadas

em alguns trechos, as quais

ocorrem associadas a sistemas

lagunares/planicies costeiras em

trechos onde a Serra do Mar se

afãs ta linha de costa e a

desembocaduras de rios

Costa Sudeste Dominada

por Costões Rochosos

Costa do Rio Grande do Sul

Costa Arenosa do Rio

Grande do Sul com

Domínio de Cordões

Arenosos Múltiplos

Não ocorrência de manguezais por

limitação climática

1983

Tabela 4.3.2 - Algumas características dos manguezais e das marismas. 1984

Marismas Manguezais

Ocorrência Predominam na zona entre-

marés das regiões

temperadas, geralmente em

áreas abrigadas ou semi-

abrigadas e em ambientes de

deposição de sedimentos;

nos locais em que coexistem

com os manguezais ocupam

as porções mais baixas e

podem colonizar clareiras

resultantes de perturbações

naturais e antropogênicas

Predominam na zona entre-

marés das regiões tropicais e

subtropicais, geralmente em

áreas abrigadas ou semi-

abrigadas e em ambientes de

deposição de sedimentos

Distribuição Todo o litoral brasileiro, mas

restritas a faixas estreitas e

com baixa diversidade nos

locais em que coexistem com

os manguezais

Limite sul de ocorrência em

Laguna, Santa Catarina.

Produtividade primária Alta Alta

Diversidade florística Baixa Baixa

Importância para a fauna

estuarina

Importantes como local de

refugio e alimentação para

juvenis de vertebrados e

invertebrados marinhos e

importantes como local de

refugio e alimentação para

juvenis de vertebrados e

invertebrados marinhos e

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57

estuarinos estuarinos

Tipos de plantas que

dominam

Plantas vasculares herbáceas

halófitas

Plantas vasculares lenhosas

halófitas

Biomassa vegetal* Maior na porção subterrânea

(raízes e rizomas)

Maior na porção aérea

(troncos, galhos, folhas)

Taxa de cobertura do solo

pelas plantas e de insolação

Maior cobertura do solo e

maior insolação

Menor cobertura do solo e

menor insolação

Produção de detritos** Maior no inverno Maior no verão

Fauna bêntica Maior densidade e riqueza de

espécies

Menor densidade e riqueza

de espécies

Estratégias reprodutivas Principalmente reprodução

vegetativa

Arvores são vivíparas e a

dispersão dos propágulos é

feita pela água

* A informação apresentada para os manguezais baseia-se em poucos estudos disponíveis sobre a biomassa 1985 subterrânea e não pode ser considerada um padrão geral do ecossistema. 1986

** Evidências de estudos na Baia de Paranaguá, litoral do Paraná, revisados por Lana (2003). 1987

4.3.2.2 Ocorrência, composição e funcionamento das marismas ao 1988

longo do litoral brasileiro 1989

As marismas estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo e fornecem uma série de serviços 1990

ambientais para as sociedades humanas. No entanto, os usos diversos e a alta concentração de 1991

população e atividades humanas na costa têm resultado em constantes manipulações desse ecossistema, 1992

com consequentes alterações na estrutura, funções e distribuição das marismas (Gedan et al., 2009). 1993

Apesar do registro de diversas espécies nas marismas do Brasil, na maior parte do litoral o padrão de 1994

ocorrência desse ecossistema é na forma de bancos monoespecíficos de gramíneas do gênero Spartina 1995

ocupando as partes mais baixas da região entremarés, em frente aos manguezais. Nessas áreas, as 1996

marismas podem ser vistas como formações pioneiras que tendem a ser substituídas pelos manguezais, 1997

sendo sua expansão aparentemente limitada pela atenuação da luz pela copa das árvores de mangue 1998

(Lana et al., 1991; Costa &Davy, 1992; Lana, 2003; Braga et al., 2011). Pode-se considerar que, alem 1999

dessa competição com as árvores de mangue, as forçantes que controlam a ocorrência e 2000

desenvolvimento das marismas na maior parte do litoral brasileiro são as mesmas descritas para os 2001

manguezais (tabela 4.3.1). 2002

Nessas regiões de coexistência entre marismas e manguezais, não há estimativas sobre a área total 2003

ocupada pelas marismas, principalmente pela dificuldade de mapeá-las usando técnicas tradicionais de 2004

sensoriamento remoto, já que por formarem faixas estreitas e bastante próximas aos manguezais, é 2005

difícil separá-las visualmente ou analiticamente destes, ou mesmo dos baixios não vegetados adjacentes 2006

(Lana, 2003). 2007

As marismas convivem com os manguezais, e são competitivamente limitadas por eles, até a região de 2008

Laguna, em Santa Catarina, limite austral de distribuição das espécies de mangue no Brasil (Schaeffer-2009

Novelli et al., 1990). Nas lagoas costeiras da região de Laguna as marismas ainda ocorrem 2010

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predominantemente como bancos monoespecíficos de Spartina alterniflora, havendo indícios de que 2011

sofram competição com os taboais na sua distribuição ao longo do estuário e das lagoas (Valgas, 2009). 2012

É no estuário da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, que as marismas passam a ser mais 2013

desenvolvidas, mais extensas e mais diversas, ocupando uma área total de aproximadamente 70 km2 e 2014

podendo ser divididas em 25 unidades espacialmente distintas, separadas por características de sua 2015

cobertura vegetal ou por descontinuidades físicas na sua ocorrência (Costa et al., 1997). 2016

Nessa região, predominam estudos voltados para a composição de espécies, produtividade primária e 2017

distribuição espacial de diferentes associações de plantas (Costa, 1998a; Isacch et al., 2006; Seeliger et 2018

al., 1998; Cunha et al., 2005;Peixoto & Costa, 2004), além de estudos sobre usos dos recursos e 2019

impactos das atividades humanas sobre as marismas (Seeliger& Costa, 1998; Costa & Marangoni, 2020

2000; Marangoni & Costa, 2009b; Marangoni & Costa, 2010), os quais estão marcadamente ausentes 2021

das demais regiões, com raras exceções, como a descrição feita por Miranda (2004) da exploração de 2022

sururu nas marismas do Complexo Estuarino de Paranaguá, ou a avaliação dos efeitos de um 2023

derramamento experimental sobre a vegetação das marismas, também realizado no litoral do Paraná 2024

(Wolinski et al., 2011). 2025

Além da diversidade de espécies, da extensão e da complexidade estrutural, outro fator importante 2026

separa as marismas da Lagoa dos Patos (e as de Laguna, apesar destas não terem a diversidade de 2027

espécies ou a complexidade estrutural daquelas) das demais marismas do litoral brasileiro: elas são 2028

classificadas como irregularmente alagadas, pois ocorrem no estuário de uma lagoa estrangulada e 2029

estão sujeitas a um regime de micromarés, com grande variabilidade sazonal e anual nos índices 2030

pluviométricos, situação em que a salinidade e o tempo de inundação são bastante variáveis e 2031

dependem principalmente do aporte de água doce e da direção dos ventos (Costa, 1998b; Costa et al., 2032

2003). As demais marismas brasileiras estão, em geral, sujeitas a inundações periódicas e regulares, sob 2033

influencia preponderante de regimes de meso e macromarés, ainda que variações no aporte de água 2034

doce também tenham influencia sobre a salinidade e o tempo de inundação (Lana 2003). 2035

4.3.2.3 Potenciais Impactos das Mudanças Climáticas Sobre o 2036

Ecossistema Manguezal 2037

Considerando-se as forçantes determinantes para a ocorrência dos manguezais, bem como o modelo de 2038

assinatura energética, que controla o desenvolvimento estrutural das florestas de mangue, podemos 2039

identificar alguns aspectos das mudanças climáticas que podem afetar direta ou indiretamente o 2040

ecossistema manguezal. Alongi (2008) e Gilman et al. (2008) destacam como principais alterações com 2041

potencial impacto sobre o ecossistema manguezal as alterações na temperatura, no regime de chuvas, 2042

na concentração de CO2 atmosférico, na incidência de eventos extremos (marés extremas e 2043

tempestades) e nos padrões de circulação oceânica. 2044

Dentre esses efeitos a elevação do nível médio do mar é considerada a alteração com maior impacto 2045

potencial sobre os manguezais (Gilman et al., 2008), pois implica em alterações na zona entre-marés, 2046

na frequência de inundação e na dinâmica sedimentar. 2047

Em estudo recente, Soares (2009) analisou as respostas dos manguezais a variações ocorridas no 2048

passado, sobretudo no Quaternário, descritas em estudos realizados em diversos manguezais do mundo. 2049

Nessa análise, esse autor considerou aspectos relacionados à morfodinâmica dos sistemas onde os 2050

manguezais ocorrem e às exigências fisiológicas das espécies de mangue, além de características chave 2051

das regiões de ocorrência das florestas de mangue (e.g. regime de marés, dinâmica costeira, dinâmica 2052

sedimentar, geomorfologia costeira). Com base nesses dados Soares (2009) propôs um modelo 2053

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conceitual para analisar a resposta dos manguezais à elevação do nível médio do mar. Segundo esse 2054

modelo (figura) o comportamento dos manguezais dependerá de fatores primários locais, tais como: (i) 2055

topografia; (ii) fonte de sedimento; (iii) taxa de aporte de sedimento; (iv) hidrologia e área da bacia de 2056

drenagem; (v) amplitude de marés; (vi) dinâmica costeira; (vii) taxa de elevação do terreno; (viii) taxa 2057

de elevação do nível médio do mar. Esses fatores determinarão, basicamente, o balanço entre elevação 2058

do nível do mar e sua compensação através de processos de deposição de sedimentos, bem como a 2059

existência de áreas planas para uma possível acomodação/retração dos manguezais, caso haja uma 2060

elevação do nível médio relativo do mar. Esse processo de acomodação/retração dependerá ainda da 2061

competição com comunidades não halófitas existentes na planície costeira e da compatibilidade da taxa 2062

de elevação do nível médio relativo do mar com o ciclo de vida das espécies de mangue. Como 2063

resultado, podemos identificar três possíveis comportamentos das florestas de mangue: (a) erosão; (b) 2064

retração; (c) resistência, os quais determinarão três modos de ocorrência dos manguezais: (a) 2065

manutenção; (b) exclusão; (c) ocorrência em refúgios. 2066

2067

Figura 4.3.1 – Modelo conceitual de resposta dos manguezais à elevação do nível médio do mar. Fonte: 2068

Soares (2009) 2069

No que se refere ao Brasil, apenas duas regiões possuem informações reais que relacionem alterações 2070

no ecossistema manguezal com uma possível elevação do nível médio do mar. Esses estudos referem-2071

se a manguezais nos estados do Rio de Janeiro e no Pará. Todavia, encontramos ainda alguns estudos 2072

relativos a manguezais do nordeste do Brasil, que apontam a possibilidade de alterações em áreas de 2073

manguezal associadas à elevação do nível médio do mar. 2074

No Rio de Janeiro, os manguezais localizados na Reserva Biológica Estadual de Guaratiba (baía de 2075

Sepetiba) são alvo de um programa de monitoramento permanente mantido pelo NEMA/UERJ desde 2076

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60

1996, permitindo a construção de uma série de dados singular. Os resultados desse monitoramento 2077

possibilitaram a identificação do processo de colonização da planície hipersalina, adjacente à floresta 2078

de mangue, por espécies de mangue (Soares et al., 2005). Com base na observação desse processo, 2079

esses autores reavaliaram os padrões de distribuição das espécies de mangue, que haviam sido 2080

definidos como reflexo de um padrão estático de zonação das mesmas, segundo o gradiente de 2081

frequência de inundação pelas marés. Nessa nova abordagem foi possível identificar um processo 2082

dinâmico de sucessão ecológica, no qual o manguezal estaria migrando em direção ao continente e 2083

ocupando (colonizando) áreas anteriormente ocupadas pelas planícies hipersalinas. Após diversas 2084

análises pode-se constatar que esse processo estaria sendo induzido pela elevação do nível médio do 2085

mar (Soares et al., 2005). Para tanto, vários possíveis agentes de indução de alterações foram 2086

descartados. Um dos pontos para esse entendimento foi a compreensão de que apesar da planície 2087

hipersalina estar localizada na região entre marés, a mesma possui características físico-quimicas 2088

impróprias ao desenvolvimento de espécies de mangue. Portanto, a colonização dessa região por 2089

vegetais de mangue é um forte indicio de alteração dessas condições. O principal agente para a 2090

alteração das características físico-quimicas dos substratos dessa região seria uma alteração na 2091

frequência de inundação pelas marés. 2092

Apesar da região de Guaratiba (Rio de Janeiro) ser a única área de manguezais do litoral brasileiro com 2093

um monitoramento permanente de longo prazo visando à análise da resposta desse ecossistema a 2094

processos relacionados às mudanças climáticas, outros estudos pontuais possuem relevância e apontam 2095

análises em outras regiões. Para a região norte do Brasil, Lara et al. (2002) e Cohen & Lara (2003) 2096

identificaram, através da análise de série de 25 anos de imagens de radar e de satélites, processos de 2097

retração e expansão de manguezais no Pará. Cohen & Lara (2003) atribuíram esse comportamento 2098

principalmente à resposta a processos geomorfológicos. Todavia, em algumas regiões os manguezais se 2099

expandiram em direção ao continente, sobre planícies colonizadas por vegetação herbácea (planície 2100

hipersalina) de forma contínua, a qual pode ser uma resposta não a processos geomorfológicos cíclicos, 2101

mas a uma tendência de longo prazo, como por exemplo elevação do nível médio do mar, conforme 2102

hipótese levantada pelos autores e sustentada pelo modelo apresentado por Soares (2009). Segundo 2103

Lara et al. (2002) no período analisado (1972 a 1997) houve uma redução na área ocupada por 2104

manguezais na região estudada (península de Bragança, Pará), todavia, na parte central da península, 2105

foi observada uma expansão da floresta de mangue sobre áreas topograficamente mais elevadas 2106

anteriormente ocupadas por vegetação herbácea, a qual foi progressivamente invadida por Avicennia 2107

germinans. Esses autores ainda relatam que o limite atual (na época em que a análise foi realizada) 2108

entre a vegetação herbácea e a floresta de mangue possui uma frequência de inundação de cerca de 40 2109

dias/ano, apresentando indivíduos de Avicennia germinans com altura entre 1 e 5 metros. Já a região 2110

correspondente ao limite anterior (de 1972) entre a vegetação herbácea e a floresta de mangue possui 2111

atualmente uma frequência de inundação de cerca de 60 dias/ano, com indivíduos de Avicennia 2112

germinans com altura entre 8 e 10 metros. 2113

Lacerda et al (2007) estimaram as alterações na descarga do rio Pacoti (Ceará) e destacam a expansão 2114

de área de manguezal devido a essas alterações e processos, sobretudo ao abandono de antigas salinas e 2115

construção de barragens para abastecimento humano e irrigação. Todavia, a análise dos dados 2116

apresentados por Lacerda et al (2007) permite algumas reflexões adicionais. Além da identificação da 2117

expansão de áreas de manguezal sobre antigas salinas e sobre bancos lamosos às margens do rio e em 2118

novas ilhas (bancos lamosos) formadas, que indicam alterações associadas aos processos anteriormente 2119

descritos, observa-se um processo significativo de expansão das florestas de mangue sobre áreas mais 2120

elevadas (ocupadas originalmente por vegetação herbácea de marismas). Essa observação pode sugerir 2121

um aumento da influência salina em direção a essas áreas elevadas, como sugerido no modelo de 2122

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Soares (2009), em resposta a uma suposta elevação do nível médio do mar. Essa observação pode 2123

indicar que o processo descrito para o sudeste do Brasil, nos estudos de Soares et al. (2005) no Rio de 2124

Janeiro e no norte nos estudos de Lara et al. (2002) e Cohen & Lara (2003) para o Pará, também 2125

estejam ocorrendo na região nordeste. Todavia, estudos e análises mais detalhados são necessários para 2126

que possamos discriminar os efeitos de alterações locais (sobretudo do efeito da redução da vazão de 2127

rios sobre o aumento da influência marinha em áreas mais elevadas), de ciclos climáticos e de fatores 2128

relacionados às mudanças climáticas sobre a dinâmica dessas florestas de mangue, posto que apenas no 2129

Rio de Janeiro dispõe-se de informações oriundas de um monitoramento sistemático dos manguezais, 2130

visando especificamente à análise de processos relacionados às mudanças climáticas. 2131

O comportamento dos manguezais de Guaratiba (Rio de Janeiro), anteriormente descrito como sendo 2132

regido pela oscilação do nível médio relativo do mar, através de uma análise mais cuidadosa indica 2133

cenários mais complexos e a possibilidade de um controle climático (Soares et al., 2005). Ao 2134

analisarem os padrões de desenvolvimento estrutural da floresta madura dessa região, esses autores 2135

identificaram patamares na vegetação do manguezal estudado. Essas “feições” demonstram que o 2136

processo de avanço do manguezal sobre a planície hipersalina não ocorre de forma contínua, mas sobre 2137

a forma de pulsos. Assim sendo, provavelmente ocorre um controle da sucessão por características que 2138

regulam o crescimento da vegetação de mangue. 2139

A hipótese proposta por Soares et al. (2005) para a formação dos pulsos no manguezal em questão está 2140

relacionada à variabilidade nos parâmetros meteorológicos. Sob esse prisma, haveria uma sobreposição 2141

de agentes no controle do processo sucessional. A elevação do nível médio relativo do mar atuaria 2142

aumentando a frequência de inundação pelas marés e por conseguinte tornando as condições físico-2143

químicas favoráveis ao crescimento e manutenção das espécies de mangue. Paralelamente, a 2144

disponibilidade de água (representada pela precipitação) exerceria papel fundamental nas fases iniciais 2145

desse processo, que seriam representadas pela produção de propágulos, recrutamento de propágulos e 2146

crescimento e sobrevivência inicial de plântulas e jovens. 2147

Os estudos desenvolvidos em Guaratiba (Rio de Janeiro) por Almeida (2007, 2010) e Almeida et al. 2148

(2007) ainda apontam para o papel de sistemas continentais de água doce, os quais funcionam como 2149

atenuadores das condições mais rigorosas durante os períodos secos (figura 4.3.2). Em outras palavras, 2150

em regiões com fonte de água doce de origem continental, tais como rios e brejos, os manguezais se 2151

expandem principalmente durante os períodos úmidos e durante os períodos secos se mantém com 2152

pouca expansão. Já em regiões sem aporte de água doce continental, em anos secos pode-se observar 2153

uma retração das florestas de mangue devido ao alto estresse hídrico. Essas observações comprovam a 2154

importância da análise de toda a paisagem costeira em conjunto, no que se refere aos efeitos da 2155

disponibilidade hídrica e da precipitação sobre as florestas de mangue. 2156

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2157

Figura 4.3.2 – Esquema conceitual de comportamento das florestas de mangue em resposta à variabilidade 2158 climática, segundo Almeida (2010). 2159

A análise anteriormente apresentada, no que se refere ao comportamento dos manguezais de Guaratiba 2160

(Rio de Janeiro), apesar de tratar de ciclos/variabilidade climáticos apresenta extrema relevância para o 2161

entendimento da resposta dos manguezais sob condições climáticas distintas, tais como aquelas 2162

oriundas das mudanças climáticas globais. 2163

4.3.2.4 Potenciais Impactos das Mudanças Climáticas Sobre as 2164

Marismas 2165

Os principais impactos previstos das mudanças climáticas sobre as marismas são os mesmos previstos 2166

para os manguezais e outras formações estuarinas que ocupam a faixa entremarés. Esses impactos 2167

devem ser considerados em associação com outras atividades humanas que já vêm modificando esses 2168

ecossistemas, uma vez que as atividades humanas também devem se modificar em resposta às 2169

mudanças climáticas, gerando efeitos variados sobre os ecossistemas costeiros, em processos de 2170

continua retroalimentação, ocorrendo ao longo de diversos níveis das escalas espacial e temporal 2171

(Scavia et al., 2002; Day et al., 2008). 2172

No caso das marismas, quando estas coexistem com os manguezais, geralmente ocupam as áreas de 2173

menor elevação da zona entre-marés e estão sujeitas a taxas de inundação mais elevadas (Lana, 2003), 2174

ficando mais propensas a desaparecer, caso sua taxa de acreção vertical relativa seja menor do que a 2175

dos ecossistemas que ocupam as áreas mais elevadas. 2176

Portanto, para a maioria das marismas do litoral brasileiro, a opção de migrar em direção ao continente 2177

fica dependente do comportamento dos manguezais. E mesmo nas áreas ao sul de Laguna (SC), fora do 2178

limite de ocorrência dos manguezais, as marismas podem não conseguir acompanhar a subida do nível 2179

do mar se tiverem taxas de acreção menores do que as dos pântanos salobros e de água doce que 2180

ocorrem em áreas mais altas ou mais internas do estuário, o que já foi demonstrado para outras regiões 2181

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63

(Craft, 2007). Esse problema pode se somar a mudanças na descarga de água doce associada a uma 2182

crescente demanda pela população que vive ao longo das bacias de drenagem e por variações 2183

decorrentes das mudanças climáticas, como mudanças nos regimes de chuvas. 2184

Assim, as ameaças às marismas, a exemplo dos manguezais, têm origem em duas frentes: por um lado, 2185

a ocupação humana da zona costeira extrai recursos de maneira insustentável e limita o espaço 2186

disponível para migração desses ecossistemas, além de afetar fatores como o aporte de sedimentos, o 2187

volume de água subterrânea e a descarga de nutrientes e poluentes; por outro, as mudanças climáticas 2188

globais, principalmente a subida do nível do mar, pressionam as margens desses ecossistemas voltadas 2189

para o oceano, provocando erosão, mortalidade e perda de área (Taylor &Sanderson, 2002). 2190

Além do nível do mar e dos impactos das atividades humanas, as marismas, a exemplo dos 2191

manguezais, sofrerão os efeitos de alterações em outros fatores relacionados às mudanças climáticas, 2192

sendo os principais: mudanças nos padrões de circulação das águas costeiras; aumento da temperatura 2193

do ar e da água do mar; aumento do CO2 atmosférico; aumento na frequência e intensidade de 2194

tempestades; aumento na intensidade de ondas e ventos; e, alterações no aporte de água doce, 2195

sedimento e nutrientes, decorrentes de mudanças nos regimes de chuvas e dos padrões de uso e 2196

ocupação das bacias hidrográficas(Scavia et al., 2002; Gilman et al., 2008; Lovelock& Ellison, 2007; 2197

McLeod&Salm, 2006; Day et al., 2008). 2198

A maioria dos estudos realizados sobre marismas da costa brasileira não trata diretamente das 2199

mudanças climáticas e de seus possíveis impactos sobre esse ecossistema. Apenas Davy& Costa (1992) 2200

mencionam a perspectiva de aceleração da elevação do nível do mar e suas implicações para os estudos 2201

sobre marismas, destacando a importância de se compreender os mecanismos que controlam a 2202

distribuição das espécies ao longo do gradiente de inundação, e Seeliger & Costa (1998) mencionam o 2203

aquecimento global e a subida do nível do mar como impactos sobre os ecossistemas costeiros e 2204

marinhos do extremo sul do Brasil. 2205

No entanto, várias das linhas de pesquisa que já vêm sendo desenvolvidas no litoral brasileiro 2206

apresentam relações com o tema no sentido de que fornecem subsídios que permitem avaliar a 2207

exposição, sensibilidade e capacidade de resposta das marismas aos efeitos previstos das mudanças 2208

climáticas. A seguir, considerando-se os potenciais impactos descritos, apresentamos algumas das 2209

possíveis relações entre os estudos já realizados no Brasil e os efeitos esperados das mudanças 2210

climáticas sobre as marismas. 2211

Estudos como o de Marangoni & Costa (2010), sobre os usos tradicionais das marismas por pecuaristas 2212

e agricultores na Lagoa dos Patos, são importantes para análises de vulnerabilidade às mudanças 2213

climáticas e de possíveis estratégias de adaptação, pois demonstram a importância que o ecossistema 2214

tem para essas populações, que mudanças vêm ocorrendo e como essas atividades vêm sendo 2215

impactadas pelas mudanças. Por exemplo, os pecuaristas usuários das marismas entrevistados pelos 2216

autores relataram um aumento da invasão das áreas de campo e de macega (Spartinadensiflora) pelo 2217

junco, o que acaba por diminuir as áreas disponíveis para pastagem. Essa expansão estaria relacionada 2218

a uma diminuição da salinidade na Lagoa dos Patos devido a um maior aporte de água doce no 2219

estuário. A tendência observada na região é de um aumento das chuvas nos últimos 50 anos (Marengo, 2220

2006). Se essa tendência continuar, ou mesmo se intensificar, em decorrência das mudanças climáticas, 2221

isso poderia levar a uma intensificação desse processo de invasão pelo junco. De forma semelhante, 2222

estudos que incluam o impacto que as atividades humanas vêm tendo sobre as marismas (Seeliger& 2223

Costa, 1998; Costa & Marangoni, 2000; Marangoni & Costa, 2009b; Wolinski et al., 2011) tornam-se 2224

bastante relevantes uma vez que essas atividades podem afetar não apenas a composição de espécies, a 2225

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estrutura e o funcionamento das marismas, mas também sua própria capacidade de se adaptar aos 2226

efeitos das mudanças climáticas. 2227

Exemplo desse tipo de análise é o estudo de Marangoni & Costa (2009a), que observaram mudanças no 2228

tamanho das áreas de marismas na Lagoa dos Patos na segunda metade do século XX. As perdas de 2229

área observadas se devem principalmente a processos erosivos e expansão urbana. Os processos 2230

erosivos são causados por ondas geradas por ventos associados a passagens de frentes frias no inverno 2231

e outono e ao anticiclone do Atlântico Sul na primavera e no verão. Esse tipo de erosão parece ser 2232

intensificado durante os meses mais chuvosos, no inverno, quando o aumento do aporte de água doce 2233

eleva o nível da água do estuário, caracterizando assim mais uma ameaça às marismas relacionada à 2234

descarga de água doce na Lagoa dos Patos e ao nível do mar, ambos processos dependentes do clima, e 2235

das atividades humanas ao longo da bacia hidrográfica, e com alterações previstas em decorrência das 2236

mudanças climáticas. 2237

São relevantes também estudos que analisem a competição entre as plantas de marisma e a influencia 2238

das taxas de inundação e da salinidade sobre essas interações bióticas (Costa et al., 2003), ou que 2239

analisem como a distribuição dos ecossistemas entre-marés, e dos ecossistemas adjacentes, é afetada 2240

por alterações nos padrões de inundação, na salinidade, na pluviosidade, no aporte de sedimentos e na 2241

presença de perturbações antropogênicas. Um exemplo é o estudo de Valgas (2009) nas lagoas 2242

costeiras de Laguna, Santa Catarina. O autor compara as marismas com os taboais e sugere que a taboa 2243

Typhadominguensis pode estar substituindo competitivamente S. alterniflora nas áreas mais internas e, 2244

possivelmente, nas intermediarias do estuário. A taboa teria uma capacidade maior de se estabelecer 2245

quando a salinidade esta baixa e, após esse estabelecimento, impediria a chegada de S. alterniflora, que 2246

estaria restrita às áreas com maior salinidade. Essa dinâmica pode ser alterada caso ocorra uma 2247

elevação do nível do mar ou uma mudança no regime de chuvas e ventos na região, em consequência 2248

das mudanças climáticas. 2249

Ao contrário do paradigma predominante, de que as marismas são controladas primariamente por 2250

fatores abióticos, há indícios de que fatores bióticos, tais como a herbivoria, podem ter um papel 2251

importante e que precisam ser estudados e considerados nas ações de gestão (Gedan et al., 2011). No 2252

caso do Brasil, há evidências de que a ação de herbívoros pode afetar significativamente a 2253

produtividade e a capacidade competitiva das espécies de marisma (Costa et al,. 2003), mas não há 2254

estudos mais detalhados sobre essa relação específica entre a fauna e a flora. Estudos nessa linha são 2255

importantes, especialmente considerando as possíveis correlações entre herbivoria e outros impactos. 2256

Por exemplo, maior temperatura do ar e maior eutrofização das marismas tendem a resultar em 2257

aumento da produtividade primária, mas potencialmente diminuem a diversidade e aumentam a 2258

atratividade das plantas para os herbívoros, enquanto atividades humanas, como a pesca, podem 2259

eliminar predadores e favorecer a proliferação dos herbívoros (Gedan et al., 2011). 2260

4.3.2.5 Vulnerabilidade do Ecossistema Manguezal às Mudanças 2261

Climáticas 2262

A vulnerabilidade da zona costeira brasileira às mudanças climáticas foi objeto de algumas análises 2263

recentes (Muehe, 2010; Nicolodi &Petermann, 2010), as quais focaram basicamente na vulnerabilidade 2264

à erosão e riscos de inundações, relacionados à elevação do nível médio do mar e a eventos extremos, 2265

tendo como objeto principal uma análise da vulnerabilidade de populações e infraestrutura costeiras a 2266

essas alterações. Todavia, no que se refere à vulnerabilidade dos manguezais brasileiros às mudanças 2267

climáticas, poucos foram os estudos que focaram especificamente esse tema. Dentre esses, destacam-se 2268

os estudos realizados para o município do Rio de Janeiro (Soares, 2008), para a Região Metropolitana 2269

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do Rio de Janeiro (Soares et al., 2011) e para a baía de Paranaguá (Faraco et al., 2010), os quais 2270

basicamente focaram na vulnerabilidade dos manguezais à elevação do nível médio do mar. 2271

Considerando que existem, vivendo próximas a esses ecossistemas, populações que dependem 2272

diretamente de seus recursos e serviços ambientais para sua subsistência, e ao mesmo tempo funcionam 2273

como fontes de impactos e de diminuição de sua resiliência, torna-se essencial analisar conjuntamente 2274

esses sistemas, considerando-os como acoplados, ou seja, como sistemas socioecológicos (Adger, 2275

2006, Berkes et al., 2003, Gallopín, 2006); necessidade que também é bastante enfatizada nos estudos 2276

de vulnerabilidade (Wisner et al., 2004). 2277

Retornando à análise da vulnerabilidade dos manguezais em escala nacional é importante 2278

considerarmos a possibilidade dessa análise em diferentes escalas espaciais, dependendo do 2279

refinamento desejado, da disponibilidade de informações detalhadas e dos objetivos da referida análise. 2280

Nesse sentido, os critérios que definem a resiliência ou capacidade de adaptação dos manguezais a 2281

dados cenários de alterações também podem ser abordados em diferentes escalas de refinamento. Dessa 2282

forma, sob um prisma global Alongi (2008) elenca as áreas de manguezais do mundo consideradas 2283

“muito vulneráveis” ou “pouco vulneráveis” à elevação do nível médio do mar, considerando-se 2284

basicamente sua capacidade de compensar, através de processo de sedimentação, a taxa de elevação do 2285

nível médio do mar. Assim, partindo da premissa de que áreas submetidas a regime de macromarés, em 2286

costas tropicais úmidas e/ou em áreas sob influência de aporte fluvial significativo e áreas consideradas 2287

remotas (onde a ocupação humana não impediria a migração das florestas em direção ao continente) 2288

são as menos vulneráveis às alterações do nível médio do mar, esse autor cita dentre essas áreas a 2289

região norte do Brasil, sob influência de macromarés e do aporte do Amazonas. Por outro lado, as áreas 2290

consideradas “muito vulneráveis” seriam aquelas localizadas em ilhas baixas e/ou em ambientas 2291

carbonáticos, onde as taxas de aporte de sedimento e a disponibilidade de terras para migração das 2292

florestas são reduzidas ou ainda em áreas com baixa contribuição fluvial ou onde ocorre um processo 2293

de subsidência da massa continental. 2294

Sob o ponto de vista da análise global realizada por Alongi (2008), todas as regiões de manguezais do 2295

Brasil fora da influência de macromarés e do aporte do Amazonas não são incorporadas nas classes 2296

apresentadas, o que pode nos levar a uma análise equivocada de que tais áreas encontram-se sob um 2297

grau intermediário de vulnerabilidade. Na análise de vulnerabilidade as características geomorfológicas 2298

tomam outra dimensão, ao se tornarem fator determinante da resiliência do sistema, expressa na 2299

disponibilidade de áreas para migração/acomodação do sistema, conforme descrito no modelo de 2300

Soares (2009). Gilman et al. (2008) também citam que a resistência e resiliência dos manguezais à 2301

elevação do nível médio do mar dependem de alguns fatores, dentre os quais a taxa de elevação do 2302

nível relativo do mar e a existência de áreas livres para migração dos manguezais em direção ao 2303

continente. Sob essa análise, poderíamos inferir com base nas características geomorfológicas da costa 2304

brasileira, descritas de forma geral por Silveira (1964) e aprofundadas por Schaeffer-Novelli et al. 2305

(1990) e Muehe (2010) – tabela I – e com base no modelo de Soares (2009), que numa escala de 2306

grandes feições geomorfológicas teríamos uma região menos vulnerável à elevação do nível médio do 2307

mar, com capacidade de adaptação ao norte do Brasil, como consequência da presença de extensas 2308

planícies costeiras, intenso aporte sedimentar e baixa densidade populacional, corroborando o proposto 2309

em escala global por Alongi (2008). A costa do Brasil que se estende desde o nordeste até o sul pode 2310

ser incorporada numa categoria de maior vulnerabilidade, pelo domínio de feições geomorfológicas 2311

que limitam a possibilidade de migração/acomodação dos manguezais em direção ao continente, 2312

representadas ora pela formação Barreiras, ora pela Serra do Mar. O grau de vulnerabilidade nesse 2313

segmento da costa pode ainda ser reduzido, naquelas porções onde essas feições se afastam da linha de 2314

costa, permitindo a formação de planícies costeiras mais extensas e que possuam baixa taxa de 2315

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ocupação humana. Por outro lado, nesse segmento a maior vulnerabilidade ocorrerá nas porções onde 2316

essas feições se aproximam da linha de costa e reduzem a área disponível para retração/acomodação 2317

das florestas de mangue e/ou onde as planícies costeiras possuem alta ocupação humana, reduzindo da 2318

mesma forma as áreas para acomodação do sistema frente às novas condições. 2319

Apesar das considerações anteriormente apresentadas para a costa brasileira, uma análise mais 2320

detalhada ainda está por ser feita, para que possamos categorizar, com maior segurança e precisão, os 2321

diferentes trechos ocupados por manguezais, no que se refere à vulnerabilidade à elevação do nível 2322

médio do mar. 2323

Esse tipo de análise é apresentada na avaliação da vulnerabilidade de florestas de mangue do município 2324

do Rio de Janeiro, realizada por Soares (2008) e posteriormente ampliada para a Região Metropolitana 2325

do Rio de Janeiro (Soares et al., 2011). Essas podem ser consideradas as únicas análises, com 2326

refinamento em escala local, sobre a vulnerabilidade de manguezais brasileiros à elevação do nível 2327

médio do mar. 2328

A principal resposta esperada para os manguezais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, segundo 2329

Soares et al. (2011) é a acomodação, através de retração em direção à planície costeira, como já 2330

detectada em alguns manguezais estudados nessa região (Soares et al., 2005; Soares, 2009). Todavia, a 2331

manutenção dessas florestas no novo cenário, ainda dependerá da ocupação urbana nas áreas vizinhas. 2332

Assim, com base nos cenários de elevação do nível médio do mar, na resposta dos manguezais a essas 2333

mudanças e na dinâmica de ocupação da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, os diversos 2334

manguezais foram classificados como possuindo baixa, média e alta vulnerabilidade à elevação do 2335

nível médio do mar. 2336

Foram consideradas com baixa vulnerabilidade as florestas de mangue associadas a uma planície 2337

costeira não urbanizada ou com muito baixa urbanização, caracterizando, portanto, uma possível área 2338

para acomodação/retração frente à elevação do nível médio do mar. As florestas classificadas como de 2339

alta vulnerabilidade foram aquelas localizadas em regiões sem área disponível para sua 2340

acomodação/retração, tais como aquelas próximas a montanhas ou associadas a planícies altamente 2341

urbanizadas ou ainda com algum tipo de obstáculo a sua retração em direção ao continente (e.g. 2342

estradas e vias urbanas). Por fim, foram consideradas com média vulnerabilidade aquelas florestas em 2343

áreas associadas a planícies costeiras com tendência de ocupação, onde ainda existe área para sua 2344

acomodação/retração no limite com a planície, mas na qual já se observa uma urbanização das partes 2345

mais internas da planície. 2346

O método de análise realizado por Soares et al. (2011) para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2347

pode facilmente ser aplicado para outras áreas urbanas do Brasil, nas quais importantes áreas de 2348

manguezais são encontradas. Exemplo é análise realizada por Costa et al. (2010), para a Região 2349

Metropolitana do Recife, a qual pode ser utilizada para uma análise da vulnerabilidade dos manguezais 2350

dessa região frente à elevação do nível médio do mar. Esses autores descrevem a cidade de Recife 2351

como uma das cidades mais vulneráveis ao aumento do nível do mar do litoral brasileiro, devido às 2352

suas características físicas e aos diversos problemas referentes a inundações e erosão costeira. 2353

Segundo Muehe (2010) a costa brasileira de uma maneira geral está sob forte processo erosivo, porém 2354

o mesmo se distribui de forma irregular ao longo da costa. Considerando-se a possibilidade de elevação 2355

do nível médio do mar, esse processo erosivo pode se agravar e o cenário de vulnerabilidade das 2356

florestas de mangue anteriormente apresentado pode ser modificado, sobretudo com o aumento da 2357

vulnerabilidade de algumas áreas de manguezal. Essa possibilidade de aumento da vulnerabilidade de 2358

algumas áreas de manguezal baseia-se na possibilidade de aumento do grau de exposição de áreas 2359

atualmente abrigadas e, portanto propicias à ocorrência de manguezais. Esse cenário também é previsto 2360

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no modelo conceitual de Soares (2009) – figura4.3.1, através do rompimento de cordões arenosos (ilhas 2361

barreiras) e alteração da exposição e dinâmica dos sistemas estuarinos/lagunares por eles formados e 2362

consequente erosão de áreas anteriormente ocupadas por manguezais. 2363

4.3.2.6 Estratégias de Adaptação 2364

Como contribuição ao manejo destes ecossistemas, faz-se as seguintes sugestões: 2365

a) Medidas efetivas para eliminação de diferentes fontes de estresse que incidem sobre os manguezais 2366

e as marismas devem ser adotadas, de forma a reduzir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência 2367

desses sistemas às mudanças climáticas. Nesse processo, é importante distinguir entre as diferentes 2368

fontes de estresse e seus potenciais impactos sobre os manguezais e marismas. Atenção especial 2369

deve ser dada às atividades potencialmente mais prejudiciais, tais como aquelas que venham a 2370

promover a ocupação de áreas adjacentes aos manguezais, impedindo sua migração em direção ao 2371

continente, que alterem a circulação de marés e o aporte de água doce, nutrientes e sedimentos, que 2372

causem a supressão da vegetação, com consequências como a erosão ou a substituição completa do 2373

ecossistema por outro tipo de uso do solo ou que contribuam como fonte de resíduos e poluentes. 2374

Nesse contexto deve-se reconhecer a importância da exploração de recursos associados a esses 2375

ecossistemas, por parte de populações tradicionais que deles dependem; 2376

b) Necessidade de se incorporar nos processos de gestão e planejamento urbano e de licenciamento 2377

ambiental, as variáveis relacionadas às mudanças climáticas, incluindo aspectos associados às 2378

adaptações a tais mudanças, de forma a garantir a conservação dos ecossistemas em geral e 2379

especificamente dos remanescentes de manguezais e de marismas; 2380

c) Incorporar e implementar instrumentos que efetivamente garantam a conservação dos 2381

remanescentes de manguezais frente às mudanças climáticas, através de sua acomodação ao novo 2382

cenário, garantindo a resiliência de tais ecossistemas; 2383

d) Articulação intersetorial e integrada das diferentes políticas setoriais, incorporando a questão de 2384

conservação dos ecossistemas costeiros de forma efetiva, considerando-se os cenários de mudanças 2385

climáticas; 2386

e) Incorporar nos Planos Estaduais e Nacional de Gerenciamento Costeiroas variáveis relacionadas às 2387

mudanças climáticas, incluindo ações relacionadas à conservação e adaptação dos sistemas 2388

naturais, considerando-se ainda as atividades em toda a bacia hidrográfica costeira, que possam 2389

afetar a vulnerabilidade e a resiliência desses ecossistemas frente às mudanças climáticas; 2390

f) Evitar que medidas de adaptação às mudanças climáticas, a serem adotadas por outros setores, 2391

comprometam a capacidade de resistência e a resiliência das florestas de mangue e das marismas 2392

frente a essas mudanças; 2393

g) Incorporar no planejamento da zona costeira, medidas para garantir a disponibilidade de áreas 2394

necessárias à migração de longo prazo de manguezais e marismas, como parte do processo de 2395

acomodação frente à elevação do nível médio do mar; 2396

h) Garantir, através de mecanismos legais, incluindo na revisão do Código Florestal, que tramita no 2397

Congresso Nacional, a conservação de planícies hipersalinas, planícies costeiras e brejos costeiros, 2398

associados a florestas de mangue, como áreas non aedificandi (em itálico), para facilitar o processo 2399

de acomodação das florestas de mangue num cenário de elevação do nível médio do mar e, por 2400

conseguinte, garantir a perpetuação desse ecossistema; 2401

i) Evitar a ocupação de planícies hipersalinas e campos salgados por empreendimentos de 2402

carcinicultura (criação de camarão marinho), tendo em vista serem essas áreas fundamentais para a 2403

acomodação dos manguezais a um cenário de elevação do nível do mar, garantindo dessa forma a 2404

resiliência do sistema; 2405

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j) Adotar medidas que garantam a resiliência de florestas de mangue e marismas, identificadas como 2406

de baixa vulnerabilidade e que restituam a resiliência das florestas com média e alta 2407

vulnerabilidade; 2408

k) Necessidade de adequação e planejamento de unidades de conservação, considerando-se a 2409

ampliação das áreas protegidas em direção ao continente, para que as mesmas garantam a 2410

acomodação/migração dos manguezais e marismas. Incorporar ainda a visão de gestão integrada, 2411

agregando numa mesma unidade de conservação ou em mosaicos de unidades de conservação, os 2412

sistemas naturais que possuem conexão, garantindo assim a funcionalidade dos mesmos no 2413

contexto da paisagem, e considerando os eventuais usos dos recursos de manguezais e marismas 2414

por populações humanas como fator importante a ser inserido no processo de gestão dessas 2415

unidades de conservação; 2416

l) Controlar a ocupação das áreas de entorno dos manguezais e marismas, sobretudo em áreas onde a 2417

pressão humana ainda é passível de um planejamento adequado; 2418

m) Considerando-se ainda as incertezas de cenários associados às mudanças climáticas, bem como dos 2419

efeitos dessas sobre manguezais e marismas, é fundamental o estabelecimento de programas de 2420

monitoramento de larga escala e de longo prazo e estudos sistemáticos das diferentes questões 2421

envolvidas com as mudanças climáticas e seus efeitos sobre os sistemas costeiros, para que a 2422

gestão desses sistemas, incluindo análise de estratégias de adaptação às mudanças, possam ser 2423

constantemente revistas, aprimoradas e implementadas; 2424

n) Manguezais e marismas estão sujeitos basicamente as mesmas forçantes e coexistem em grande 2425

parte do litoral brasileiro, portanto a vulnerabilidade e capacidade de adaptação desses 2426

ecossistemas está intimamente ligada. Assim, os estudos de monitoramento da resposta desses 2427

sistemas à elevação do nível do mar devem incluir também a avaliação dos processos de interação 2428

entre manguezais e marismas, especialmente no sentido de entender as dinâmicas diferenciadas de 2429

acreção de solo e colonização de novas áreas e o processo de competição entre as plantas, os quais 2430

podem resultar em respostas adaptativas diferentes entre os dois ecossistemas, com possibilidade 2431

de redução da área de marismas em resposta à elevação do nível do mar, nas regiões onde os 2432

ecossistemas coexistem. 2433

4.3.3. Lagunas, Lagoas e Lagos Costeiros 2434

4.3.3.1. Introdução 2435

Ao longo da zona costeira do Brasil, mais precisamente entre os estados do Rio Grande do Sul e do Rio 2436

Grande do Norte, são encontrados diversos sistemas lacustres que apresentam diferentes características 2437

quanto à área, formato, orientação em relação à linha de costa, propriedades hidroquímicas e 2438

produtividade biológica. Embora com a predominância de sistemas rasos, com poucos metros de 2439

profundidade, as áreas das lagoas variam em diversas ordens de magnitudes, compreendendo desde 2440

pequenas lagoas alimentadas pelo lençol freático entre dunas arenosas, com área inferior a 1 hectare, a 2441

alguns milhares de quilômetros quadrados, com destaque para o complexo lacustre do Rio Grande do 2442

Sul (lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira com 9.280, 3.520 e 802 km2, respectivamente) (Von 2443

Sperling, 1999). 2444

Ao longo da costa com clima úmido os fluxos hidrológicos aportam consideráveis quantidades de 2445

sedimentos como silte e argila, que em suspensão causam a turbidez da água. Já em climas semiáridos 2446

as águas tendem a apresentar considerável transparência, inclusive alcançando o sedimento. A água 2447

também pode ser turva devido à presença de matéria orgânica dissolvida na forma de ácidos orgânicos 2448

(i.e., húmicos e fúlvicos) (Wetzel, 2001). Em ambos os casos a produtividade biológica tende a ser 2449

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elevada, seja por meio de macrófitas aquáticas emergentes em lagos túrbidos ou por microalgas 2450

fitoplanctônicas em águas de menor turbidez. 2451

Apesar da grande diversidade fisiográfica, em essência, as lagoas costeiras são bacias lacustres situadas 2452

em planícies costeiras do Período Quaternário recente cujo processo de gênese esteve associado ao 2453

isolamento do mar por uma ilha barreira. Os fatores que controlam e mantém a gênese destes sistemas 2454

são associados à história de elevação e rebaixamento do nível do mar, com a consequente inundação e 2455

dessecamento das planícies, à deriva litorânea e o respectivo transporte de sedimentos de origem 2456

marinha e a variação de maré que regula o transporte de sedimentos em curta escala temporal (Martin e 2457

Dominguez, 1994). As lagoas costeiras associadas às formações deltaicas Quaternárias, como no caso 2458

do Baixo Rio Doce (ES), tiveram ainda sua gênese complementada pelo aporte de sedimento de origem 2459

continental transportado por fluxos fluviais e deposição em um sistema paleolagunar (Martin e 2460

Dominguez, 1994; Martin et al., 1996a, 1996b, 1997). 2461

Apesar de constituírem sistemas lacustres geologicamente recentes, aproximadamente 5.000 anos A.P., 2462

as lagoas costeiras são consideravelmente dinâmicas em relação aos fatores geológicos, hidrológicos, 2463

climáticos e ecológicos (BIRD, 1994). Algumas lagoas sofreram intenso assoreamento, reduzindo 2464

drasticamente sua profundidade enquanto outras tiveram sua superfície e volume reduzido devido a 2465

alterações nos fluxos hidrológicos. O processo de segmentação lacustre é resultante da segmentação de 2466

uma lagoa de formato alongado e paralelo à linha de costa por meio de esporões e cúspides internos 2467

formados peladeposição de sedimentos conforme a hidrodinâmica lacustre é controlada por ventos 2468

predominantes. 2469

A dinâmica lacustre costeira é mais evidente nos sistemas lagunares. As lagunas apresentam conexão 2470

permanente, ou mesmo intermitente, com o oceano e como consequência apresentam gradientes halinos 2471

com a mistura de água doce de origem fluvial ou lençol freático com a água do mar. Sob condições 2472

climáticas onde a evapotranspiração é superior a precipitação e sob reduzido aporte de água doce as 2473

lagunas podem apresentar salinidades superiores as do mar (salinidade > 35 ‰) (BIRD, 1994). Na 2474

laguna hiperalina de Araruama (RJ), por exemplo, a salinidade pode ser de até 56 ‰ (Souza et al., 2475

2003). 2476

Quanto ao padrão de metabolismo lacustre Bozelli et al., (1992) propuseram os padrões dinâmicos ou 2477

intermitentes para as lagoas do Baixo Rio Doce (ES). O padrão dinâmico, representativo das lagoas da 2478

planície aberta, com reduzida profundidade e com exposição ao vento, apresenta estratificação diurna e 2479

circulação noturna (i.e., polimixia), elevada turbidez e ciclagem dinâmica de nutrientes. O padrão 2480

intermitente, representativo das lagoas encaixadas nos vales da Formação Barreiras (Período Terciário) 2481

com profundidades eventualmente superiores a 25m, apresenta estratificação sazonal (i.e., monomíticos 2482

quentes), reduzida turbidez e ciclagem de nutrientes sujeita a pulsos nos períodos de misturas da coluna 2483

d’água. Em termos de vulnerabilidades à eutrofização os sistemas dinâmicos podem ser considerados 2484

mais suscetíveis do que os sistemas intermitentes. 2485

A importância dos ecossistemas lacustres na costa do Brasil remonta a cerca de 5.700 anos A.P. a partir 2486

de atividades de coletor-caçador-pescador do homem primitivo no entorno e nas lagoas (Ybert et al., 2487

2003). Atualmente esta dependência, embora pareça pouco evidente, pode ser considerada como 2488

significativa em se tratando de diversos bens e serviços ambientais que os lagos podem proporcionar à 2489

sociedade, como benefícios não extrativos e suprimento de água e outros bens como peixes 2490

(O'Sullivan, 2005). O complexo lagunar Mundaú-Manguaba (AL), por exemplo, contribui 2491

significativamente para a dimensão socioeconômica e cultural local, particularmente devido à 2492

dependência da comunidade ribeirinha com extrativismo de moluscos e crustáceos (Teixeira e Sá, 2493

1998; ANA, 2006). 2494

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A complexidade estrutural e funcional das lagoas costeiras tem sido objeto de estudo de diversos 2495

programas e projetos de pesquisa científica. A necessidade de melhorar a compreensão sobre a 2496

dinâmica dos processos geomorfológicos, físicos, químicos, biológicos e ecológicos é essencial para 2497

subsidiar estratégias de gestão destes ecossistemas aquáticos, principalmente em decorrências de 2498

pressões ambientais impostas pelas atividades humanas. O padrão global de intensa ocupação costeira, 2499

com densidades até três vezes superiores a média global (Small e Nicholls, 2003), impõe uma série de 2500

perturbações como aportes de esgotos domésticos, drenagem pluvial, incremento de fluxos de 2501

nutrientes, sedimentos e contaminantes, introdução de espécies exóticas, sobrepesca, redução de 2502

volume de água lacustre por drenagem, entre outros. As pressões ambientais não se restringem ao 2503

entorno mais próximo das lagoas, mas também de modo indireto por atividades desenvolvidas em áreas 2504

mais distantes das bacias hidrográficas lacustres e mesmo em bacias vizinhas que compartilham a 2505

mesma bacia atmosférica. 2506

Nesse contexto os sistemas lagunares e lacustres, em geral, são considerados como integradores dos 2507

processos geológicos, climáticos e ecológicos que ocorrem em determinado local. A interconexão se dá 2508

por meio de fluxos hidrológicos superficiais e subterrâneos (Winter, 2001). A paleolimnologia dedica-2509

se a entender o passado geológico recente (i.e., alguns poucos milhares de anos A.P.) da trajetória de 2510

um lago a partir da investigação da estratigrafia, datação e taxonomia de microfósseis do sedimento 2511

embasando inferências sobre os processos geológicos, climáticos e ecológicos que influenciaram o 2512

sistema lacustre, sua bacia hidrográfica e paisagem (Binford, Deevey & Crisman, 1983). Em face de 2513

inexistência de amplas séries de dados históricos que possibilitem avaliar a dinâmica intra e interanual 2514

dos ecossistemas lacustres a paleolimnologia constitui uma efetiva ferramenta para subsidiar o manejo 2515

destes sistemas (Smol, 1992). 2516

Em face ao cenário de mudanças climáticas globais (MCG) os lagos constituem excelentes indicadores 2517

no âmbito da paisagem. A Conferência sobre Lagos e Reservatórios como Sentinelas, Integradores e 2518

Reguladores da Mudança Climática realizada em setembro de 2008 em Nevada (Ohio, EUA), 2519

promovida por ‘American Geophysical Union - AGU‘, indicou os lagos como ecossistemas ‘sentinelas’ 2520

dos efeitos das mudanças climáticas nas bacias hidrográficas e atmosféricas e paisagem terrestre como 2521

um todo. A característica de funcionar como ecossistema integrador de processos climáticos, 2522

geológicos, ecológicos, possibilitando inclusive o registro das atividades humanas, fazem dos sistemas 2523

lacustres efetivos indicadores para o monitoramentos dos efeitos das MCGs. Além disso, os lagos 2524

possibilitam uma rede de ecossistemas localizados em diferentes regiões geográficas e climáticas, 2525

localizados na porção inferior de bacias hidrográficas o que possibilita o registro nos sedimentos 2526

lacustres de processos relacionados às MCGs e atividades humanas (Adrian et al., 2009; Schindler, 2527

2009; Williamson et al., 2009). 2528

A condição de sistema sentinela para os efeitos das MCGs é bastante representativa para os sistemas 2529

lacustres costeiros considerando os possíveis efeitos de elevação do nível do mar e intrusão halina. 2530

Avaliar alterações na estrutura das comunidades biológicas lacustres nos processos biogeoquímicos 2531

com reflexos sobre a produtividade e conectividade com os ecossistemas aquáticos associados (i.e., 2532

estuários e ambiente marinho) torna-se imprescindível (Brito et al., 2012). No entanto, programas de 2533

pesquisas científicas voltados para avaliação dos efeitos de MCGs são ainda incipientes no âmbito 2534

internacional e, principalmente, nacional. Sem uma base de dados extensiva ao longo dos anos e 2535

baseada em indicadores representativos e modelos ecológicos consistentes, o gerenciamento 2536

sustentável baseado em estratégias adaptativas a serem efetivamente integradas nos sistemas sócio-2537

ambientais das lagoas costeiras torna-se intangível (Terwilliger e Wolflin, 2005). 2538

Nesse contexto, o embasamento do presente texto baseia-as em revisão da literatura relacionada às 2539

lagoas costeiras e lagos naturais como um todo, representando estudos de caso desenvolvidos em todo 2540

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o mundo, com ênfase na vulnerabilidade e efeitos das MCGs em sistemas launares e lacustres costeiros 2541

tropicais e subtropicais. 2542

4.3.3.2 Potenciais Impactos das MCGs em Lagoas Costeiras 2543

Os efeitos das MCGs vão muito além do aumento médio da temperatura global e os consequentes 2544

aquecimentos das massa d’água e elevação do nível do mar em decorrência do derretimento de geleiras 2545

alpinas e calotas polares e expansão da água do mar. Alterações na composição de gases na atmosfera e 2546

na incidência de radiação ultravioleta, bem como modificações nos regimes de pluviosidade e de 2547

tempestades podem causar efeitos significativos nos ecossistemas lacustres costeiros. 2548

A. Fatores Atmosféricos 2549

O aumento da temperatura média da atmosfera, na faixa de 2 a 3ºC (IPCC, 2007) deve alterar os 2550

padrões de circulação e consequentemente alterar os regimes de ventos locais, tendo como 2551

consequência o aquecimento da água dos sistemas lacustres o que implica em alterações no padrão de 2552

estratificação térmica e mistura da coluna d’água. O aquecimento da coluna d’água poderá resultar no 2553

incremento da temperatura do hipolímnio e consequente redução da concentração de oxigênio 2554

dissolvido, inclusive com possibilidade de ocorrências de condições hipóxicas (< 2,0 mg/L) ou 2555

anóxicas. Períodos de estabilidade térmica mais prolongados agravam a tendência de eventos de 2556

hipoxia/anoxia. Lagos profundos de regiões temperadas têm apresentado tendências de aquecimento do 2557

hipolímnio durante o verão como consequência associada as MCGs (Ambrosetti e Barbantti, 2003). 2558

Embora as lagoas costeiras brasileiras sejam rasas (profundidade média < 5,0 m) e localizadas em 2559

clima tropical e subtropical o aumento da temperatura poderá alterar o regime de ventos quanto a 2560

predominância de direção, intensidade, frequência e sazonalidade. Este fato poderá ter implicações 2561

sobre o padrão de estabilidade térmica das lagoas devido à mudança no aporte de energia para mistura 2562

da coluna d’água. (Nickus et al., 2010). Esteves et al (1988) verificaram que duas lagoas costeiras do 2563

litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, mesmo que adjacentes, apresentaram padrões térmicos 2564

diferenciados, uma com tendência a estratificação e outra à mistura, em função da orientação do eixo 2565

da lagoa quanto à exposição ao vento predominante. 2566

Na laguna Thau (França), 70 km2 e profundidade média de 4,0 m, um importante sítio de produção de 2567

ostras (15.000 t/ano), eventos de anoxia ocorrem durante o verão quando as temperaturas da coluna 2568

d’água são mais elevadas e os ventos são de baixa intensidade. O fenômeno denominado regionalmente 2569

como ‘malaïgues’ parece ser comum nas lagunas do Mediterrâneo, sobretudo na Itália e Tunísia. A 2570

depleção do oxigênio na laguna Thau está relacionada a decomposição da matéria orgânica, em 2571

particular detrito de macroalgas, nas áreas de ostreicultura. A partir da análise de uma série histórica 2572

de 33 anos de dados de ocorrência de eventos de anoxia foi identificada uma correlação com oscilações 2573

climáticas, particularmente com a oscilação climática do Atlântico Norte no mês de julho e com a fase 2574

quente da Oscilação Sul-El Niño – OSEN no mês de maio (Harzallah e Chapelle, 2002). 2575

Além das variações de temperatura fatores como umidade relativa, cobertura de nuvens, ventos e 2576

radiação também podem afetar os componentes estruturais e processos funcionais lacustres. A 2577

qualidade e intensidade da radiação solar incidente nos ecossistemas aquáticos é de grande relevância 2578

para sua integridade e dinâmica. A radiação ultravioleta - UV (290 a 400 nm) tem efeitos negativos 2579

sobre as comunidades biológicas aquáticas como cianboactérias, fitoplâncton, macroalgas e macrófitas 2580

aquáticas. Em geral a radiação UV causa danos às células dos organismos e fotoinibição nas taxas 2581

fotossintéticas (Häder et al, 2011). O zooplâncton também tende a ser afetado negativamente, inclusive 2582

com a perda de espécies mais sensíveis e a dominância de poucas espécies mais tolerantes a exposição 2583

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ao UV. Os efeitos da radiação UV-B (290 a 320 nm) também ocorrem de modo indireto na biota 2584

aquática. Em condições de incidência de radiação UV-B contaminantes como cádmio (Cd) e cobre 2585

(Cu) apresentam efeitos deletérios sinérgicos com microalgas e cianobactérias. 2586

Segundo (Häder et al, 2011) o incremento da incidência de UV nos ecossistemas aquáticos pode estar 2587

relacionado à redução da efetividade da camada de ozônio em reter esta faixa de radiação do espectro 2588

eletromagnético, bem como devido ao aumento da transparência da água, inclusive em decorrência 2589

indireta de MCGs, como alteração nos padrões de ventos, chuva e aportes de matéria orgânica 2590

dissolvida (MOD). A MOD é bastante eficaz em atenuar a radiação UV devido ao processo de 2591

fotodegradação do carbono orgânico dissolvido, produzindo moléculas menores que favorecem o 2592

desenvolvimento do bacterioplâncton. Conforme a MOD vai sendo degradada aumenta a penetração do 2593

UV. 2594

As lagoas costeiras distróficas, ou seja, os ecossistemas lacustres ricos em MOD na forma de ácidos 2595

orgânicos que conferem cor de chá a água, parecem contar com maior proteção contra a radiação UV 2596

devido a sua atenuação na coluna d’água. Por outro lado, a intrusão de água do mar em lagunas 2597

costeiras tende a aumentar a transparência e, portanto, indiretamente favorecer a penetração da radiação 2598

UV podendo reduzir a produção primária em até 25% devido ao efeito de fotoinibição (Conde et al., 2599

2002). 2600

B. Fatores Hidrológicos 2601

Além do aumento do nível do mar, as projeções das MCGs para os próximos 30 anos mostram 2602

anomalias na distribuição de precipitação na zona costeira brasileira, indicando que pode haver tanto 2603

variações desde níveis muito baixos para um aumento expressivo na precipitação, quanto até mesmo 2604

um déficit dos níveis de precipitação (Nobre et al., 2007). O cenário de intensificação de precipitações 2605

acarreta em incrementos dos aportes superficiais e subterrâneos de nutrientes para os sistemas lacustres, 2606

influenciando assim a produtividade destes ecossistemas (Paerl e Huisman, 2008; Schindler, 2009). 2607

Moreira-Turq (2000) avaliou o efeito da redução da salinidade da lagoa de Araruama (RJ), uma laguna 2608

com 210 km2 e profundidade média de 3,0 m, devido à variação na pluviosidade. No ano hidrológico 2609

de 1989-1990 a salinidade média da lagoa diminui de 52 para 41‰ promovendo uma mudança do 2610

metabolismo trófico oligotrófico e bentônico para eutrófico e pelágico. Com a redução da salinidade a 2611

comunidade fitoplanctônica foi favorecida em função do incremento da concentração de nutrientes 2612

oriundos da remineralização de material orgânico do sedimento. 2613

As mudanças também afetam as taxas de evaporação, porém de modo diferenciado. Os lagos são duas a 2614

quatro vezes mais sensíveis às mudanças na precipitação do que alterações na evaporação (Bruce, 2615

1997). Estes efeitos têm implicações no volume de água na bacia lacustre, restringindo assim a 2616

capacidade de captação para usos humanos. Em regiões de clima úmido a redução de 25% na 2617

precipitação demanda um incremento de 400% no armazenamento de água para uma captação 2618

sustentável (Bruce, 1997). 2619

Embora, de um modo geral, as variações na precipitação não sejam significativas, se realizadas afetarão 2620

negativamente as regiões que já experimentam déficit hídrico como o Nordeste semiárido (Muehe, 2621

2010). Os impactos que estas mudanças podem causar nos ecossistemas costeiros brasileiros já são 2622

observados. Recentemente, eventos climáticos extremos têm afetado os ecossistemas e cidades 2623

costeiras do Brasil expressando-se através do avanço acelerado do mar para o continente (Muehe, 2624

2006) e por inundações de grandes proporções. Em junho de 2010 chuvas intensas e o rompimento de 2625

barragens fluviais na bacia da Lagoa Mundaú (AL) causaram perdas de vidas humanas, milhares de 2626

desabrigados, e destruição de propriedades particulares e infraestrutura pública. 2627

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Os efeitos das MCGs nos ecossistemas lacustres constituem apenas um dos fatores sobre a dinâmica 2628

destes ecossistemas. É necessário ressaltar que estes efeitos têm sinergismo com efeitos das mudanças 2629

impostas por atividades humanas. Desmatamento, represamento de rios, obras hidráulicas, construção 2630

de estradas, pavimentação da superfície, mineração, agricultura e pecuária são atividades que 2631

influenciam os fluxos hidrológicos de água, sedimentos, nutrientes e contaminantes para os lagos. Em 2632

um cenário de redução da frequência e intensificação de eventos de pluviosidade é previsível o 2633

incremento das cargas de sedimentos para os sistemas lacustres. Cabe ressaltar, porém, que os fatores 2634

controladores da erosão e assoreamento dos ecossistemas aquáticos são a vegetação e as boas práticas 2635

agrícolas do uso do solo na bacia de drenagem e de construção civil e infraestrutura. Assim, é 2636

imperativo que os potenciais efeitos das MCGs devem ser levados em consideração no contexto de 2637

outras mudanças impostas por atividades humanas em nível das bacias hidrográficas e paisagens nas 2638

quais as lagoas costeiras estão inseridas (Bruce, 1997). 2639

C. Componentes estruturais e processos funcionais de lagoas costeiras 2640

Sem considerar os efeitos da elevação do nível do mar, os efeitos do aumento global da temperatura e 2641

das alterações no ciclo hidrológico local, já se refletem em impactos que afetam negativamente as 2642

lagoas costeiras quanto à perda da biodiversidade (dominância de espécies tolerantes às condições 2643

presentes) afetando toda a rede trófica e refletindo: (i) na qualidade da água (em uso para 2644

abastecimento); (ii) na qualidade e quantidade do pescado como fonte de alimento; (iii) na perda das 2645

qualidades cênicas e (iv) nas suas funções ecológicas.. Numa perspectiva da ecologia de sistemas os 2646

efeitos das MCGs nas lagoas costeiras podem ser considerados nos componentes estruturais e 2647

processos funcionais. Componentes estruturais são aqueles relacionados aos aspectos físicos (e.g., 2648

hidrosfera, temperatura e luz), químicos (e.g., matéria orgânica e nutrientes inorgânicos dissolvidos) e 2649

biológicos (e.g., comunidade biótica), enquanto que os aspectos funcionais se referem aos processos 2650

ecológicos (e.g., produtividade primária e secundária, decomposição da matéria orgânica, ciclagem de 2651

nutrientes, relações tróficas e sucessão ecológica). 2652

O efeito do aquecimento da água sobre o ecossistema da lagoa da Mangueira (RS), sistema lacustre 2653

subtropical costeiro e raso (área de 820 km2 e profundidade média de 2,6 m) com estado trófico entre 2654

oligotrófico e mesotrófico, considerado a partir da modelagem integrada de fatores hidrodinâmicos, 2655

qualidade da água e processos biológicos, resulta no aumento da transparência da água. O incremento 2656

da transparências e dá pelo controle dos nutrientes devido à extensão do período de crescimento de 2657

macrófitas aquáticas submersas (Fragoso Jr. et al., 2011). Como recomendação, os autores indicam a 2658

manutenção do nível da lagoa durante o período de estiagem e restrições a captação de água para 2659

irrigação. 2660

Variações hidrológicas como vazão dos córregos tributários e nível lacustre, em função de alterações 2661

no regime de pluviosidade, também têm reflexos sobre a concentração de nutrientes e sais dissolvidos, 2662

transparência da coluna d’água e comunidade biótica. Variações no nível d’água dos lagos estão 2663

relacionadas aos controles hidrológicos, condições do substrato, topografia das margens e 2664

estabelecimento da vegetação. O desenvolvimento da vegetação litorânea lacustre é de grande 2665

importância para estes sistemas, sobretudo para os sistemas com baixa profundidade média, devido às 2666

interações das regiões litorâneas e pelágicas. Redução da riqueza de espécies, incremento e dominância 2667

de espécies invasoras, substituição de comunidades de macrófitas por fitoplâncton, e perda geral da 2668

biodiversidade são alguns dos efeitos biológicos associados (Abrahams, 2008). Os efeitos ecológicos 2669

biológicos se referem a potencial perda das regiões litorâneas, geralmente associadas a áreas 2670

alagáveis/inundáveis que exercem o potencial de retentor de nutrientes e sedimentos e, 2671

consequentemente, com elevada produtividade biológica (Jørgensen e Löffler, 1995). 2672

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Geralmente lagos com altas concentrações de fósforo e baixas concentrações de carbono orgânico 2673

dissolvido (COD) tendem a ser autotróficos, isto é tendem a absorver dióxido de carbono (CO2) da 2674

atmosfera, enquanto que lagos com baixas concentrações de fósforo (P) e altas concentrações de COD 2675

tendem a ser heterotróficos, isto é, tendem a emitir CO2 para a atmosfera (Cole e Pace, 2000). Um dos 2676

efeitos do aumento da salinidade em ecossistemas aquáticos está relacionado com a troca gasosa com a 2677

atmosfera (Hoover e Berkshire 1969; Wanninkhof e Knox 1996), uma vez que lagos salinos possuem 2678

valores de pH mais alto e, portanto, a maior parte do carbono inorgânico dissolvido (CID) está na 2679

forma de bicarbonato (HCO3-) e carbonato (CO3

2-), reduzindo, assim,a emissão de CO2. 2680

Na Lagoa Carapebus (RJ) nas áreas influenciadas por efluentes domésticos e, portanto com altas 2681

concentrações de fósforo total (PT) e nitrogênio total (NT), as emissões de CO2 são menores do que na 2682

área com menor influência dos efluentes. O enriquecimento com nutrientes, em geral, estimula a 2683

produtividade primária no lago como incremento de biomassa dofitoplâncton, sobretudo cianobactérias, 2684

favorecendo um estado menos heterotrófico seguido de menor emissão de CO2. Em contrapartida foi 2685

constatado que a pressão parcial e a emissão de CO2 aumentam consideravelmente conforme a 2686

intensidade da precipitação pluvial (Marotta et al, 2010). 2687

Por outro lado em condições hipereutróficas pode ocorrer anoxia no fundo da coluna d’água, ou mesmo 2688

em todo volume d’água, causando extensivas mortandades de peixes devido ao predomínio de 2689

condições heterotróficas. A laguna Rodrigo de Freitas (RJ) apresenta alternância de metabolismo 2690

autotrófico/heterotrófico com condições de supersaturação de oxigênio dissolvido (> 100% de 2691

saturação) na superfície e hipoxia/anoxia no fundo (Souza et al, 2011). Eventualmente, em função da 2692

incidência de fortes ventos e orestrito aporte de água do mar pelo assoreamento do canal de conexão 2693

com o oceano, há forte depleção de oxigênio causando extensiva mortandade de peixes estuarinos. A 2694

ocorrência de condições heterotróficas pode ser constatada pelas elevadas concentrações de bactéria 2695

heterotróficas associadas ao alto conteúdo de matéria orgânica na água e sedimentos resultantes de 2696

aportes de esgotos domésticos (Gonzales, Paranhos e Lutterbach, 2006). O metabolismo anóxico 2697

promove fluxos de carbono reduzido como o gás metano (CH4), importante gás relacionado ao 2698

processo de aquecimento global, a partir da decomposição anaeróbia por bactérias heterotróficas 2699

(Conrad et al., 2011). A importância dos ecossistemas aquáticos continentais no ciclo do carbono e a 2700

relação com o clima têm sido reconhecidas recentemente, inclusive pela emissão de CH4lacustre ser 2701

superior àoceânica (Tranvik et al., 2009). 2702

Jeppesen et al (2010b) ressaltaram que o incremento do processo de respiração da matéria orgânica e os 2703

consequentes fluxo de CO2, óxido nítrico (NO2) e CH4 estão associados ao processo de eutrofização 2704

dos ecossistemas aquáticos continentais. Considerando o cenário de necessidade de incrementar a 2705

produção de alimento e biocombustíveis e o consequente incremento de fluxos de nutrientes para os 2706

ecossistemas aquáticos, têm-se como efeito o agravamento dos processos de eutrofização dos 2707

ecossistemas aquáticos receptores. 2708

Os efeitos das MCGs não se restringem aos aspectos estruturais geoquímicos dos lagos, mas também 2709

quanto a alterações na estrutura das comunidades aquáticas, em particular quanto ao fitoplâncton. O 2710

aquecimento da água, incremento dos períodos de estratificação e estabilidade térmica e aumento da 2711

carga interna de nutrientes podem favorecer florações de cianobactérias (Paerl, 2008; Paerl e Huisman, 2712

2008; Wagner e Adrian, 2008). Estes fatores favorecem as taxas de crescimento, dominância, 2713

persistência e distribuição geográfica das cianobactérias, consideradas nocivas pelos efeitos negativos 2714

das florações (e.g., depleção de oxigênio com o decaimento da floração) e produção de cianotoxinas 2715

com potenciais efeitos hepáticos e neurotóxicos (CODD, 2000). 2716

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As florações de cianobactérias nocivas (CyanoHABs) se desenvolvem com a estabilidade térmica da 2717

coluna d’água o que favorece a flutuabilidade de florações de superfície formando ‘natas’ ou espumas, 2718

sombreando a coluna d’água. O aumento da temperatura reduz a viscosidade da água favorecendo a 2719

migração vertical de espécies de cianobactérias. Segundo Paerl (2008) A migração em direção a 2720

superfície otimiza a produção fotossintética enquanto a migração para o fundo otimiza a absorção de 2721

nutrientes. Kosten et al., (2011) demostraram em um estudo comparando 147 lagos da Europa e 2722

América do Sul, incluindo lagoas costeiras, que o aquecimento dos lagos indiretamente induz o efeito 2723

de sombreamento devido ao elevado biovolume nas florações de cianobactérias. 2724

No Brasil, extensivas florações crônicas de cianobactérias têm sido registradas em lagoas costeiras, 2725

principalmente durante o verão. Na lagoa de Jacarepaguá (RJ), uma laguna hipereutrófica com 3,7 km2 2726

e 3,3 m de profundidade média, florações apresentam concentrações extremamente elevadas de 2727

clorofila a (máximo de 9.770 µg/L) e tendo como consequência reduzida transparência da água (entre 2728

10 e 50cm). Gomes et al., (2009) também constataram níveis elevados de microcistina, uma 2729

cianotoxina, de forte efeito hepático nos tecidos peixes da lagoa, o que resultou na restrição de pesca e 2730

comercialização de pescado do complexo lagunar de Jacarepaguá pela Secretaria Estadual de Meio 2731

Ambiente no ano de 2007. 2732

A Lagoa do Patos, sistema lagunar com 10.227 km2 e profundidade média de 5m (Zanotta, Gonçalves e 2733

Ducati, 2009), tem um histórico de florações de cianobactérias, principalmente Microcystis, 2734

cianobactéria de células cocóides e formadoras de colônias com grande capacidade de flutuabilidade, 2735

produtoras de microcistinas e associadas à temperaturas acima de 20 ºC, baixas relações entre 2736

nitrogênio e fósforo (TN:TP < 16:1) e período de cheia na lagoa. As florações sofrem estresse halino 2737

em águas salobras na porção estuarina da laguna liberando toxinas para o meio extracelular gerando, 2738

assim potenciais riscos relacionados ao consumo de pescado na laguna e balneabilidade na Praia do 2739

Cassino em Rio Grande (RS) (Yunes, 2000 e 2009). 2740

O problema da tolerância de Microcystis a flutuações temporais de salinidade (15 a 20 ‰) viabilizando 2741

a sobrevivência desta cianobactéria em águas salobras pode expandir as florações em ambientes 2742

estuarinos. Paerl (2009) ressalta que cianobactérias tolerantes à salinidade têm sido responsáveis por 2743

florações em águas salobras em diversas regiões do mundo como Mar Báltico (Europa), Mar Cáspio 2744

(Ásia), estuário do rio Swan (Austrália), Baía de San Franciso (Califórnia, EUA) e lago Ponchartrain 2745

(Lousiana, EUA). Em face do potencial de intrusão halina pela elevação do nível do mar o problema 2746

das cianobactéria constitui um significativo risco para estrutura o funcionamento e os usos dos 2747

ecossistemas lacustres costeiros. 2748

O aumento da abundância de microalgas, incluindo as florações de cianobactérias, aumenta a turbidez 2749

na coluna d’água de lagoas costeiras rasas e suprime o crescimento de macrófitas aquáticas, afetando 2750

negativamente o habitat subaquático de muitos invertebrados e peixes planctívoros (Kosten et al., 2009; 2751

2010). Além disso, densas florações de cianobactérias provocam a depleção noturna de oxigênio, o que 2752

pode resultar em mortandades de peixes e aumentar a concentração de nutrientes oriundos do 2753

sedimento. Florações de cianobactérias também podem causar distintos problemas de odor pela 2754

produção de geosmina e outros produtos químicos (Izaguirre e Taylor, 2004; Uwins et al., 2007). 2755

O controle das florações tem sido associado à redução das cargas de nutrientes, principalmente de 2756

fósforo, para os ecossistemas lacustres. A partir da análise de modelagens, séries históricas e estudos 2757

experimentais, conclui-se que os fluxos de nutrientes constituem indutores primários no 2758

desenvolvimento das florações de cianobactérias, enquanto o incremento da temperatura e a 2759

estabilidade térmica parecem ser fatores secundários (Brookes e Carey, 2011; Kosten et al., 2011). A 2760

redução de fluxos de nutrientes, inclusive de nitrogênio, a partir do controle do uso do solo nas bacias 2761

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hidrográficas é não somente imprescindível (Paerls, 2004, 2008 e 2009; Kosten et al., 2009, 2011; 2762

Brookes e Carey, 2011), mas também muito mais exequível na escala regional e ao longo das décadas, 2763

do que o aquecimento global que irá se estender até o ano 2100, mesmo que mantidos os níveis de 2764

gases do efeito estufa do ano 2000 (Brookes e Carey, 2011). 2765

O potencial invasivo das cianobactérias é outra dimensão do problema, como, por exemplo, 2766

Cylindrospermopsisraciborskii, espécie com potencial de fixação de nitrogênio molecular (N2) e 2767

produção de cianotoxina (Paerl, 2009), cilindrospermopsina, anatoxina-a e saxitoxina. C. raciborskii é 2768

considerada uma cianobactéria com alto potencial invasivo e formador de florações em condições 2769

eutrófica e com grande capacidade dispersiva em amplas regiões geográficas e sob condições 2770

climáticas e físico-químicas distintas (Amand, 2002). 2771

De acordo com Bierwagen, Tgomas e Kane (2008) a proliferação de espécies invasoras ou espécies não 2772

nativas podem ser favorecida pelas MCGs seja pela mudança nos padrões de introdução, influência nos 2773

mecanismos de colonização, dispersão/distribuição, ou seja, na alteração na resiliência dos habitats 2774

para as espécies invasoras. Segundo estes autores, o controle e a prevenção de espécies invasoras 2775

requer o planejamento adaptativo envolvendo programas de monitoramento, regulamentação de uso de 2776

ecossistemas aquáticos e abordagens multidisciplinares. 2777

Alterações significativas na estrutura e no funcionamento das lagoas costeiras impõem limitações na 2778

capacidade de resiliência destes ecossistemas. A resiliência é a capacidade de retorno à dinâmica 2779

ecológica anterior à perturbação, sejam estas de origem natural ou antrópica, e levando-se em 2780

consideração as características da perturbação quanto à frequência, temporalidade, duração, intensidade 2781

e reversibilidade (Leslie e Kinzing, 2009). Perturbações estocásticas ou mesmo crônicas podem levar a 2782

uma mudança de fase no ecossistema, geralmente associadas à menor biodiversidade, estabilidade e a 2783

perdas de bens e serviços ambientais. Os efeitos das MCGs através do aquecimento da água, incidência 2784

de radiação ultravioleta, mudanças nos fluxos hidrológicos de água, sedimentos, matéria orgânica e 2785

nutrientes, nível e volume lacustre e conectividade com o ambiente marinho podem levar os sistemas 2786

lacustres costeiros a significativas mudanças de fase. O problema da abertura artificial de barras de 2787

lagoas costeiras serve para ilustrar as mudanças de fase e a limitação para resiliência associada ao 2788

incremento da salinidade pela intrusão de água do mar. 2789

A comunidade zooplanctônica na lagoa Imboacica (RJ), área de 3,26 km2 e profundidade máxima de 2790

2,0m, apresenta resiliência diferenciada dependendo das condições prévias da abertura artificial da 2791

barra da lagoa. Abertura das barras lacustres (i.e., cordão arenoso) implica em aumento da salinidade, 2792

mudanças na comunidade biótica aquática, redução do estado trófico lacustre e exportação de matéria 2793

orgânica e nutrientes para o oceano. Kozlowsky-Suzuk e Bozelli (2004) verificaram que a 2794

recomposição da comunidade zooplanctônica lacustre da fase salobra/salina, com baixa biodiversidade 2795

e biomassa dominada por copépodes e larvas meroplanctônicas pode apresentar alta resiliência levando 2796

dois meses. Em comparação a comunidade mais biodiversa, com maior biomassa, dominada por 2797

copépodes em águas oligohalinas (< 2,0 ‰) e eutróficas apresenta baixa resiliência, podendo levar até 2798

dois anos para recuperação após um evento de abertura artificial (Santangelo et al., 2007). 2799

Santos e Esteves (2004) constataram o decaimento de bancos da macrófita aquática 2800

Eleocharisinterstincta em função da redução do nível da Lagoa Cabiúnas (RJ), laguna com área de 2801

0,35 km2 e profundidade máxima de 3,5m, durante o período de estiagem no final do inverno. O 2802

decaimento dos bancos também é associado à abertura artificial da barra da lagoa após período de 2803

chuvas intensas. Nessas ocasiões um intenso fluxo de fitodetritos das macrófitas é exportado para o 2804

ambiente marinho adjacente, implicando na exportação de nutrientes. Em ambos os casos as 2805

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populações de E. interstincta parecem ser bastante resilientes a abertura da barra lacustre, respondendo 2806

em curto prazo (cerca de 30 dias) para recuperação da biomassa. 2807

A resiliência para controle das florações de cianobactérias está relacionada ao controle dos aportes de 2808

nutrientes para os sistemas lacustres (Brookes e Carey, 2011), porém os efeitos parecem se manifestar 2809

em médio prazo em decorrência da carga interna de nutrientes. 2810

4.3.3.3. Ações estratégicas de Adaptação às mudanças climáticas 2811

Nas agendas internacional e nacional relacionadas à sustentabilidade dos recursos hídricos podem ser 2812

destacados os seguintes aspectos: melhoria do entendimento científico sobre ecossistemas aquáticos; 2813

desenvolvimento de estratégias para proteção dos ecossistemas; aprimoramento dos sistemas de 2814

gerenciamento de recursos hídricos; e por fim, a promoção desenvolvimento integrado dos recursos 2815

hídricos. O foco nos ecossistemas aquáticos é nos rios, lagos, represas e lagoas de água doce. As lagoas 2816

com águas salobras, assim como os estuários têm sido consideradas em segundo plano devido ao não 2817

reconhecimento das águas salobras como recursos hídricos. Apesar disso, as lagoas costeiras 2818

funcionam como ecossistemas chave na paisagem costeira devido às importantes funções ecológicas no 2819

gradiente terra-rio-planície costeira-plataforma continental. Além dos aspectos relacionados à 2820

biogeoquímica e à biodiversidade as lagoas costeiras contribuem efetivamente com uma série de bens e 2821

serviços ambientais de modo direto e indireto para economia local/regional e bem estar das populações 2822

do entorno (Kenissh e Parel, 2010). Assim, mesmo não sendo objeto de gestão de recursos hídricos 2823

pela eventual salinidade da água, os sistemas lacustres costeiros precisam ser conservados, sendo que 2824

para isso os efeitos socioambientais negativos advindos das atividades humanas e naturais, como as 2825

MCGs precisam ser avaliados. 2826

A necessidade de levar em consideração os serviços dos ecossistemas lacustres costeiros e implementar 2827

a abordagem ecossistêmica pode implicar em considerável complexidade e incertezas no processo de 2828

planejamento e tomada de decisão. As incertezas são inerentes ao desenvolvimento do conhecimento e, 2829

como consequência o resultado de uma dada política ou ação de gestão (i.e., gerenciamento de recursos 2830

hídricos na zona costeira em face às MCGs) não pode ser previsto com confiança (Linstead et al., 2831

2010). Em via de regra, quanto mais pobre for o conhecimento maior será a incerteza nas predições. A 2832

incerteza está relacionada ao conhecimento inadequado ou como reflexo da inerente variabilidade dos 2833

sistemas socioambientais. Tendo em vista que a compreensão científica sobre a estrutura e 2834

funcionamento dos ecossistemas aquáticos, sob as atuais condições climáticas, é bastante avançada o 2835

entendimento sobre os principais indutores de efeitos diretos das MCGs nos ecossistemas (e.g., 2836

temperatura, hidrologia, nutrientes e substâncias tóxicas) é relativamente incerto. Por outro lado, os 2837

efeitos de indutores indiretos (e.g., práticas agrícolas, uso do solo, águas subterrâneas e outras 2838

dimensões socioeconômicas) são bem menos compreendidos (Linstead et al., 2010). 2839

Nesse contexto, o desenvolvimento de programas de monitoramento conciso e integrado da bacia 2840

hidrográfica e lagos que proporcionem sinais prévios de importantes efeitos de MCGs nos lagos e suas 2841

bacias (Schindler, 2009). Essa proposta se justifica devido à capacidade dos sistemas lacustres em 2842

refletir de modo integrador os processos climáticos, hidrológicos e antrópicos que afetam os sistemas 2843

lacustres e suas bacias hidrográficas ao longo de diversas configurações climáticas e geográficas, 2844

podem ser considerados como potenciais indicadores ou sentinelas das MCGs (Adrian et al., 2009; 2845

Schindler, 2009; Tranvik et al., 2009; Williamson, 2009). Um exemplo nesse sentido é o Programa de 2846

Rede Global de Observatório Ecológico de Lagos (Global Lake EcologicalObservatory Network – 2847

GLEON, www.gleon.org) que visa avaliar os efeitos das MCGs a partir de indicadores relacionados ao 2848

metabolismo lacustre, sendo este a principal variável de estado alterada como resposta às MCGs. O 2849

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Programa GLEON tem como ênfase os lagos temperados, ficando restrita a capacidade de avaliação 2850

dos efeitos das MCGs sobre os sistemas tropicais, sobretudo na zona costeira. 2851

Conforme foi ressaltado na introdução, programas de pesquisas científica voltados para avaliação dos 2852

efeitos de MCG são ainda incipientes no âmbito internacional e, principalmente, nacional. Sem uma 2853

base de dados extensiva ao longo dos anos e baseada em indicadores representativos e modelos 2854

ecológicos consistentes, o gerenciamento sustentável baseado em estratégias adaptativas a serem 2855

efetivamente integradas nos sistemas sócio-ambientais das lagoas costeiras torna-se intangível 2856

(Terwilliger e Wolflin, 2005). Entretanto, Williamson et al (2009) ressaltam que não é imprescindível 2857

desenvolver uma série histórica consistente para então, ser possível avaliar os sinais das MCGs. 2858

Eventos climáticos extremos e episódicos como Oscilações Sul-El Niño e La Ninã – OSEN poderiam 2859

ser usados como estratégia para avaliar mudanças acentuadas sobre a estrutura e o funcionamento dos 2860

ecossistemas aquáticos e inferir sobre sua capacidade de resiliência. Williamson ET AL., (2009) 2861

destacam ainda a dificuldade em distinguir os efeitos de mudanças impostas por atividades humanas 2862

como eutrofização e acidificação que podem superestimar os efeitos das MCGs. 2863

No Brasil, O Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração - PELD do Conselho Nacional de 2864

Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, conta com uma rede de onze ecossistemas, sendo 2865

três lacustres costeiros (Lagoas costeiras do Norte Fluminenses - RJ, Lagoa do Patos e Banhado do 2866

Taím – RS) poderia dar ênfase na linha de pesquisa “padrões de frequência de perturbações naturais e 2867

impactos antrópicos” com destaque para efeitos das MCGs. Os sítios costeiros do PELD poderiam 2868

formar a base de uma rede de avaliação de lagos costeiros brasileiros quanto aos efeitos das MCGs. 2869

Esta rede seria complementada ainda pela inclusão de lagoas nos estados de Santa Catarina, Espírito 2870

Santo, Bahia, Alagoas. Rio Grande do Norte e Ceará, abrangendo assim diferentes latitudes e condições 2871

fisiográficas e climáticas. 2872

4.3.4. Plataforma Continental e Praias 2873

4.3.4.1 Introdução 2874

Consideradas como um dos principais atrativos turísticos no Brasil, as praias correspondem a uma área 2875

de aproximadamente 82.800 hectares, sendo que apenas 2,7% estão inseridas em territórios protegidos 2876

por Unidades de Conservação de proteção integral. No caso de Unidades de Conservação de uso 2877

sustentável, este percentual sobre para 21,5%, totalizando algo em torno de 24% (MMA, 2010). 2878

Segundo a Lei n.° 7.661/88, entende-se por praia a área coberta e descoberta periodicamente pelas 2879

águas, acrescida da faixa subsequente de material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e 2880

pedregulhos, até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece outro 2881

ecossistema. 2882

Por comporem a unidade fisiográfica limite entre o continente e o oceano, as praias constituem-se em 2883

porções do território com grande aptidão a sentirem os efeitos de mudanças climáticas. Agrega-se a isto 2884

o fato de que a faixa litorânea, quando não rochosa, é sujeita a variações espaciais em curto espaço de 2885

tempo, uma vez tratarem-se de ambientes dinâmicos influenciados diretamente por ondas e correntes 2886

marinhas. Essa dinâmica está associada, também, a processos antrópicos que potencializam os efeitos 2887

da erosão, conferindo à orla peculiaridades que requerem esforços permanentes para manutenção de 2888

seu equilíbrio dinâmico. 2889

Nesta ótica, torna-se fundamental o dimensionar o que representam as variações espaciais no âmbito do 2890

planejamento ambiental e territorial, bem como determinar os efeitos das alterações climáticas globais 2891

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na orla. Muitos países têm adotado faixas de proteção ou restrição de usos desses ambientes visando à 2892

manutenção das características paisagísticas e a redução de perdas materiais em decorrência da erosão 2893

costeira. 2894

Soma-se a isso, as questões referentes a segurança para moradia e para as demais as estruturas 2895

existentes na orla, com consequencias graves para os setores imobiliário, turismo e de infra – estrutura, 2896

além da perda de biodiversidade ligada a alteração dos ecossistemas costeiros. 2897

4.3.4.2 A orla marítima 2898

A delimitação da zona costeira no Brasil baseia-se em critérios políticos e administrativos. A porção 2899

terrestre é delimitada pelos limites políticos dos municípios litorâneos e contíguos conforme os Planos 2900

Estaduais de Gerenciamento Costeiro, enquanto a porção marinha é delimitada pela extensão do Mar 2901

Territorial (12mn ou 22,2km da linha de base). 2902

Em termos legais, a partir de 2004 institui-se um novo espaço de gestão territorial: a Orla Marítima, 2903

que foi definida no Artigo 22 do Decreto 5.300 como a faixa contida na zona costeira, de largura 2904

variável, compreendendo uma porção marítima e outra terrestre, caracterizada pela interface entre a 2905

terra e o mar. 2906

Já o Artigo 23 do mesmo Decreto define os critérios para delimitação da orla marítima, sendo eles: I –2907

limite marítimo: isóbata de dez metros, profundidade na qual a ação das ondas passa a sofrer influência 2908

da variabilidade topográfica do fundo marinho, promovendo o transporte de sedimentos; II –limite 2909

terrestre: cinquenta metros em áreas urbanizadas ou duzentos metros em áreas não urbanizadas, 2910

demarcados na direção do continente a partir da linha de preamar ou do limite final de ecossistemas, 2911

tais como as caracterizadas por feições de praias, dunas, áreas de escarpas, falésias, costões rochosos, 2912

restingas, manguezais, marismas, lagunas, estuários, canais ou braços de mar, quando existentes, onde 2913

estão situados os terrenos de marinha e seus acrescidos. 2914

Tal definição cria um espaço de gestão territorial dotado de especificidades e características que lhe 2915

inferem uma especial relação com os efeitos das mudanças climáticas, uma vez que agrega três fatores 2916

determinantes: zona de contato entre os oceanos e os continentes, alta mobilidade geomorfológica e 2917

suscetibilidade ambiental e grande pressão antrópica, uma vez tratar-se de uma região muito 2918

valorizada. 2919

Dentre as ações governamentais incidentes nesse espaço do território nacional, destaca-se o Projeto 2920

ORLA; ação sistemática de planejamento da ação local coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente 2921

(MMA) e Secretaria de Patrimônio da União (SPU), visando a gestão compartilhada, incorporando 2922

normas ambientais e urbana na política de regulamentação dos usos dos terrenos e acrescidos de 2923

marinha, como um processo mais inclusivo de alocação de recursos e tomada de decisões. Suas linhas 2924

de ação estão embasadas em métodos que exploram fundamentos de avaliação paisagística, a dinâmica 2925

geomorfológica e de uso e ocupação do litoral, para pensar cenários com rebatimentos na aplicação dos 2926

instrumentos de ordenamento do uso do solo para gestão da orla. 2927

Tais características conferem ao Projeto ORLA o espaço político e institucional para o trato das 2928

questões envolvendo uma das principais linhas de ação em mudanças climáticas: adaptação. Dentre as 2929

principais ações de adaptação, destacam-se aquelas relacionadas com elevação do nível do mar e, 2930

principalmente, erosão costeira, fenômeno este que tem obrigado governos a tomarem medidas como a 2931

remoção de comunidades inteiras. Um exemplo é o caso da Vila do Cabeço (Sergipe), que em função 2932

de altas taxas de retração da linha de costa junto à desembocadura do Rio São Francisco foi realocada 2933

alguns quilômetros para o interior do continente. 2934

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80

O fenômeno da erosão costeira é o assunto do próximo tópico, onde serão abordadas as evidências, 2935

causas e relações com as mudanças climáticas ao longo da orla brasileira. 2936

4.3.4.3 Erosão Costeira 2937

4.3.4.3.1 Evidências, causas e monitoramento. 2938

O litoral brasileiro caracteriza-se por possuir grande diversidade de ambientes costeiros que se 2939

desenvolveram ao longo do Quaternário, sendo caracterizados por depósitos de areias marinhas, na 2940

forma de cordões litorâneos, pontais e planícies de cristas de praia. Também ocorrem segmentos 2941

representados por terraços lamosos ocupados por manguezais e falésias em sedimentos consolidados, 2942

precedidas por praias muito estreitas ou muitas vezes ausentes (Muehe, 2006). As principais forçantes 2943

que condicionam a zona costeira são as interações entre ondas e marés e o aporte sedimentar. 2944

As modificações na posição da linha de costa decorrem em grande parte da falta de sedimentos, 2945

provocado pelo esgotamento da fonte, principalmente a plataforma continental. O processo se dá pela 2946

transferência de sedimentos para campos de dunas ou por efeitos decorrentes de intervenção do 2947

homem, principalmente a construção de barragens ou obras que provocam a retenção do fluxo de 2948

sedimentos ao longo da costa. 2949

A estabilidade da linha de costa também é influenciada diretamente por alterações nos padrões do 2950

clima de ondas ou da altura do nível relativo do mar. Nos últimos 11.000 anos esta variação do nível do 2951

mar foi de aproximadamente 100 m, resultando numa migração da linha de costa, a uma taxa de 7 a 14 2952

m/ano, correspondente a largura da atual plataforma continental (Muehe, 2006). 2953

Pode-se afirmar que, de uma forma geral, trechos do litoral em erosão predominam em relação aos 2954

trechos em processo de progradação, com maior erosão nas praias, seguido pelas falésias e pelos 2955

estuários (El Robrini et AL, 2006, Souza-Filho e Paradella, 2003, Krause e Soares, 2004, Vital et al., 2956

2006, Bittencourt et al., 2006, Neves et al., 2006, Neves &Muehe, 1995; Manso et al., 2006, 2957

Dominguez et al., 2006, Muehe& Neves, 2008, Klein et al., 2006, Horn, 2006, Angulo et al., 2006, 2958

Toldo et al., 2006, Calliari et al, 1998, Speranski& Calliari, 2006.). 2959

Dentre as causas da erosão aponta-se o fator antrópico como relevante variável, principalmente no que 2960

diz respeito à intervenção do homem nos processos costeiros e na urbanização dos espaços litorâneos. 2961

O balanço sedimentar negativo seja por esgotamento da fonte natural (plataforma continental interna), 2962

ou seja, por retenção de sedimentos nos rios e dunas, também constituem-se em causas do fenômeno. 2963

Variações climáticas podem alterar a intensidade e frequência de tempestades que atingem a costa, 2964

alterando as características das ondas incidentes, principalmente quanto a sua altura, período e direção. 2965

Tais variações podem provocar alterações da concentração da energia das ondas por efeito da refração 2966

controlada pela topografia do fundo marinho, acelerando o processo erosivo em alguns setores do 2967

litoral e até mesmo criando novas áreas de erosão. Cabe ressaltar que estudos preliminares realizados 2968

por Machado et al. (2010) investigaram os padrões de ciclones que atingem a costa sul do Brasil 2969

durante os últimos 30 anos e não identificaram diferenças significativas entre a quantidade e 2970

características de eventos extremos sobre essa região. 2971

Como forma de sistematizar as informações acerca da temática em tela, a tabela 4.3.3 relaciona a 2972

compartimentação da costa brasileira e da Plataforma Continental (bem como suas principais 2973

características) com a situação do litoral brasileiro em termos de erosão costeira. 2974

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81

Tabela 4.3.3 – Divisão da Costa Brasileira 2975

DIVISÃO DA COSTA BRASILEIRA PLATAFORMA

CONTINENTAL CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES NA

LINHA DE COSTA UF Silveira

(1964) Schaeffer-

Novelli Et Al.

(1990)

Do

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(200

9)

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(201

0)

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aré

5-8

m

1-2

m a

lt. 1

3s

forte aporte sedimentar e

de água doce de origem continental, com

destaque para o rio

Amazonas. Predominio

siliciclastico . Planicies

de lama com manguezais

na costa amapaense, enquanto a costa Para-

Maranhão é

extremamente irregular, dominada pela presença

de manguezais, grande

número de pequenos estuários

macromacromaré

bordejados por falésias baixas, ilhas, praias

arenosas, pontais, dunas

frontais e alguns campos de dunas transgressivas

ativas, destacando-se o

maior campo de dunas do Brasil e um dos

maiores do mundo, o

parque nacional dos lençóis Maranhenses

(Souza Filho et al., 2009;

Heso et al., 2009).

forte aporte sedimentar e de

água doce de origem continental, com destaque para

o rio Amazonas. Predominio

siliciclastico . Largura média

300 km; quebra da plataforma a

profundidade média de 100 m;

Cobertura sedimentar siliciclastica moderna, com

predominio na plataforma

interna e média de areias transgressivas recobertas, a

norte do rio Amazonas, por

cunha de lama com mais de 20 m de espessura (Figueiredo &

Nittrouer 1995; Nittrouer et al.

1996; Souza Filho et al., 2009 ; plataforma externa carbonática

relicta. Destaca-se a presença

do leque submarino do Amazonas (sopé e talude

continental) e canyion do

Amazonas com 400 m profundidade e 9 km de

largura.

A planicie lamosa da costa

amapaense registrou colonização por manguezais e rápida acresção

pelo menos até 1000 anos BP,

entretanto idade C14 indicam que

atualmente encontram-se em

erosão (Allison et al., 1995)

Erosão observada por na praia estuarina de Mosqueiro e ao

longo da costa Atlântica na região

de Salinópolis e Ajuruteua (El Robrini et AL, 2006). Variações

da linha de costa na região de

Bragança (PA) entre 1972 e 1998, indicam 60,6% de áreas erosivas

e 39,4% de áreas acrescidas

(Souza-Filho e Paradella, 2003). As maiores mudanças observadas

estão relacionadas a áreas de

manguezais sendo ocupadas por baixios arenosos, tornando essas

áreas mais suscetíveis à erosão.

Com base em levantamentos da morfologia praial, destacam as

variações em menor escala

espacial da península de Bragança, incluindo as praias de

Buçucanga, Ajuruteua e Vila dos

Pescadores (Krause e Soares, 2004). Os autores relacionam a

erosão na área com intervenções

antrópicas, com a ocupação, desmatamento de manguezais e

estreitamento de canais de maré

sendo relacionados com a tendência erosiva da região.

Campos de dunas ativas migram

através de campos de dunas vegetadas, manguezais e sistemas

de canais estuarinoss

PA

Golfo do Amazonas

MA

Reentrâncias

Maranhenses

Costa Leste

do Maranhão

ao Cabo Calcanhar

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82

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Clima de ondas fortemente sazonal e

diretamente associado

com o comportamento dos ventos dominantes,

Dezembro a abril com

ventos aliseos de NE gerando ondas swell e

durante resto do ano

ventos aliseos de SE geram ondas sea (Hesp

et al., 2009). Intenso

transporte sedimentar por deriva litorânea.

Domínio de falésias com

planícies costeiras arenosas pouco

desenvolvidas e áreas

abrigadas restritas a desembocadura de rios e

estuários, caracterizada

pela presença marcante de rochas praiais

(beachrocks) e campos

de dunas ativas).

Largura média 40 km; quebra

da plataforma a profundidade

média de 60 m; Apresenta

formas de relevo com forte influência tectônica e vulcânica

Predominio de carbonatos na

plataforma externa e areias siliciclásticas na plataforma

interna.

Episódios de estabilização de

nível do mar estão

representados por terraços de

abrasão na borda da

plataforma ou por feições

submersas (10, 25, 40 e 60 m de

profundidade) correlatas a

rochas praiais (e.g. Amaral et

al., 2001; Michelli et al., 2001;

Vital et al., 2007, 2008). Análise

petrografica destes corpos

areniticos submersos

mostraram serem os mesmos

equivalentes aos encontrados

na zona costeira atual,

representando portanto antigas

linhas de costa (Santos et al

2007, Cabral Neto et al 2011).

A plataforma continental

também apresenta vestígios de

drenagem escavada em épocas de nível do mar mais baixo que

o atual. Vales incisos, ainda

não completamente preenchidos, e canyons

encontram-se associados com

os principais rios ao longo da plataforma NE, e apresentam

uma clara expressão na

batimetria da plataforma continental. A presença de

lamas nesta plataforma

encontra-se restrita ao interior destes vales inciso e aos

canions que cortam o talude

continental NE (e.g. Dominguez 2009; Vital et al

2005, 2008, 2010).

No setor semi-árido, os

segmentos mais impactados pela

erosão costeira estão no Ceará, na

região ao norte do Porto de Pecém e em Fortaleza. Em Macau

e Guamaré (RN) a recessão da

linha de costa está colocando em risco estações de bombeamento

de petróleo (Vital et al., 2006).

De acordo com os autores, a erosão é acelerada pela

construção de estruturas

perpendiculares nas praias de Macau, Caiçara do Norte e

Touros.

Na costa de falésias sedimentares, a erosão é ampla e ocorre em

quase toda a linha de costa do sul

do Rio Grande do Norte ao longo da Paraíba, Pernambuco e

Alagoas. O contrário ocorre na

costa de Sergipe, onde a abundante quantidade de

sedimentos trazida pelos rios

mantém aproximadamente 57% da costa em equilíbrio, enquanto

21% estão em erosão (Bittencourt et al., 2006). Na Paraíba,

segmentos da costa em erosão

representam em torno de 42% dos 140 km de linha de costa (Neves

et al., 2006). Em Pernambuco,

aproximadamente 30% das praias apresentam processos erosivos. A

maioria destas apresenta erosão

em função de fatores naturais, como a circulação costeira e

déficit sedimentar, enquanto

intervenções antrópicas muitas vezes intensificam esse processo

(Neves & Muehe, 1995; Manso et

al., 2006). Em Alagoas a vulnerabilidade costeira é causada

pelo reduzido aporte fluvial de

sedimentos. A erosão é concentrada principalmente na

porção norte do estado, que

apresenta maior atividade relacionada ao turismo (Araújo et

al., 2006). Em Sergipe, de acordo

com Bittencourt et al. (2006), os

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RN Costa

Nordeste

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Associadas a

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83

segmentos em erosão estão

localizados em Atalaia Nova

(norte de Aracajú) e ao sul da

desembocadura do rio São Francisco, onde a Vila do Cabeço

foi completamente erodida. Áreas

com grande variabilidade da linha de costa estão localizadas nas

adjacências das desembocaduras

dos rios Real, Vaza Barris e Sergipe, onde episódios erosivos

causaram danos materiais

significativos. De forma geral, a costa da Bahia entre Mangue

Seco, na desembocadura do rio

São Francisco, e Salvador está em equilíbrio (Dominguez et al.,

2006).

Planícies de cordões litorâneos se desenvolveram em frente aos rios

Jequitinhonha e Caravelas, na

Bahia, rio Doce no Espírito Santo, e rio Paraíba do Sul no Rio

de Janeiro. Nessa região da

Bahia, aproximadamente 60% da costa está em equilíbrio, e 26% da

costa está em erosão, com intensos processos erosivos

ocorrendo nas adjacências de

desembocaduras fluviais. Grandes extensões de falésias no sul da

Bahia, de Cumuruxatiba a divisa

com o Espírito Santo, estão sofrendo um balanço sedimentar

negativo de longo-termo

(Dominguez et al. 2006). No Espírito Santo, a linha de costa se

alterna entre grandes extensões

em erosão ou em equilíbrio, e alguns segmentos em acresção.

Na região norte do Rio de

Janeiro, próximo a divisa com o Espírito Santo até Cabo Frio,

erosão acentuada ocorre na região

ao sul do rio Paraíba do Sul em Atafona, onde areia está sendo

retida na plataforma continental

interna pela cobertura de lama aportada pelo rio e pela deriva

litorânea dominante em direção

ao sul, para fora da área afetada

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84

(Muehe et al., 2006). Outras áreas

em erosão incluem as costas

altamente urbanizadas de Macaé

e Rio das Ostras (Muehe et al., 2006). Retração da costa na

ordem de 10 a 15m foi observada

em diversos lugares, sendo consequência principalmente de

um grande evento de tempestade

em maio de 2001. Não obstante a linha de costa, considerando

como tal a interseção da face

praial com o nível médio do mar, entre Niterói e Arraial do Cabo,

tem-se mantido estável (Muehe,

2011). Na região metropolitana do Rio de Janeiro, que inclui a

costa de Niterói, a grande

densidade populacional torna a costa oceânica e estuarina mais

vulnerável a erosão, alagamentos

e deslizamentos. A expansão de áreas urbanizadas sobre regiões

baixas de antigas lagunas (e.g.

Barra da Tijuca) com capacidade de drenagem limitada,

representam riscos que vão aumentar sob cenários de

aumento do nível do mar e de

aumento nas intensidades de

tempestades (Muehe & Neves,

2008).

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Não ocorrência de

manguezais por limitação climática.

Do Cabo de Santa Marta

ao Chuí, a linha de costa é formada por uma

extensa e larga faixa de

praia com sedimentos predominantemente

finos em frente a um

múltiplo sistema de ilhas-barreira. Deriva

litorânea dominante na

região é para norte, com algumas inversões

relacionadas à

sazonalidade do clima de ondas e orientação da

linha de costa (Siegle &

formas são resultantes de

processos sedimentares presença de siliciclasticos e

carbonatos.

porção interna, muito influenciada pelo modelado

costeiro. O relevo continental

montanhoso se reflete principalmente na sinuosidade

das isolinhas o que é mais

notável nas isóbatas 10 e 15m (ABREU, 1998),

Aporte sedimentar.

Predominância de sedimentos finos na plataforma média e

externa. Regime sedimentar

dominantemente terrígenos com a predominância de

sedimentos relíquias e

Modificações na linha de costa

em função de erosão, em São Paulo, geralmente são isoladas e

associadas com obstáculos

naturais ou artificiais que interrompem o fluxo de

sedimentos ao longo da costa

(Tessler et al., 2006). No Paraná, as modificações mais

significativas da linha de costa

ocorrem nas adjacências de desembocaduras estuarinas. Essas

modificações incluem erosão e

acresção em diferentes trechos da costa e ocorreram com taxas de

até 100m em menos de uma

década (Angulo et al., 2006). A linha de costa oceânica é mais

estável, sendo as áreas mais SC

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85

Asp, 2007). palimpséticos enquanto as

fontes de suprimentos

modernos estão confinadas e

relacionadas com a afluência do rio da Prata e da

desembocadura da laguna dos

Patos (Corrêa, 1987). Morfologia bastante regular e

homogênea, com sua largura

variando de 100 km a 190 km e com a presença da zona de

quebra na profundidade de 160

m (Martins et al., 2005). presença de inúmeros bancos,

canais, paleocanais e

paleolinhas de costa afogadas (Correa 1990). presença do

paleocanal do rio da Plata sobre

a parte sul

impactadas pela erosão as praias

de Flamengo e Riviera e a porção

central da praia de Matinhos,

restaurada com realimentação praial (Angulo et al., 2006). Em

Santa Catarina, na porção

continental, os riscos associados à erosão costeira são o resultado de

ocupação desordenada e a

ocorrência de tempestades. Pontos mais críticos estão

localizados em Barra Velha,

Piçarras e Penha, com erosão de média intensidade, enquanto

Bombinhas está sofrendo erosão

de menor intensidade (Klein et al., 2006). Na ilha de Santa

Catarina, processos erosivos estão

ocorrendo ao longo da costa oceânica da ilha. O maior risco

ocorre nas áreas urbanas do norte

da ilha e na costa noroeste na Barra da Lagoa. Áreas

urbanizadas na costa leste e sul

com risco erosivo de médio a alto incluem Campeche, Armação e

Pântano do Sul (Horn, 2006).

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As praias mostram grande variabilidade morfodinâmica com

alternância entre longos trechos

de avanço e retração da linha de costa (Toldo et al., 2006) com

reversões nesses padrões ao longo

do tempo (Esteves et al., 2006). Segmentos localizados de erosão

costeira foram descritos por

Calliari et al (1998) e Speranski & Calliari (2006) e são

relacionados a convergência de

ondas no Litoral Médio e na praia do Hermenegildo (extremo sul),

onde a linha de costa vem

recuando a uma taxa média de 3,6 m/ano (LOG, 2011).

2976

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86

4.3.4.3.2. Plataforma Continental 2977

Inserida em uma margem passiva ou tipo Atlântico, a margem continental Brasileira envolve em sua 2978

maior parte uma região tropical (até ~22-25º S), e subordinadamente subtropical, na porção mais a sul. 2979

A margem continental brasileira tem as características de margem passiva clássica, com os elementos 2980

fisiográficos, tectono-magmáticos e sedimentares bem definidos em toda a sua extensão. Poucas 2981

margens continentais apresentam maior diversidade de morfologia, ambiente e tipos de sedimentos que 2982

a margem continental brasileira, tornando-a extremamente atrativa, tanto do ponto de vista científico 2983

quanto econômico. 2984

A plataforma brasileira varia consideravelmente em forma e largura. Apresenta-se mais larga na foz do 2985

Amazonas (cerca de 300 km) e mais estreita ao largo de Salvador (~5-8 km). No geral é muito estreita 2986

(média de 50 km). Entretanto, torna-se mais larga ao norte e ao sul, resultado de maior aporte 2987

sedimentar, bem como na região de Abrolhos (maior recife de coral do Brasil e de todo o Atlântico 2988

Sul), devido atividade vulcânica (Zembruscki et al. 1971, Dominguez 2009, Vital et al 2010) . A 2989

quebra da plataforma é observada em geral em torno de 80m. A cobertura sedimentar apresenta 2990

composição predominantemente siliciclástica ao norte, carbonática no nordeste e mista no sul do 2991

Brasil. Em contraste com outras plataformas tropicais, os corais estão virtualmente ausentes, assim 2992

como os óoides e outras formas de carbonatos precipitados. Os sedimentos carbonáticos são dominados 2993

por algas coralinas recentes. A fauna dos recifes de coral brasileiros apresentam baixa diversidade e um 2994

endemismo significante. 2995

A plataforma continental é a extensão natural do território continental de um país costeiro, que é 2996

detentor dos direitos de soberania para “exploração e aproveitamento dos recursos do solo e subsolo 2997

marinhos” de acordo com a Convenção das Nações Unidas, sobre o Direito do Mar, que entrou em 2998

vigor no Brasil a partir do decreto no. 1.530, de 22 de junho de 1995. Esta convenção instituiu o 2999

conceito de Zona Econômica Exclusiva (ZEE), onde todo país costeiro “tem direitos de soberania para 3000

fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos e não- vivos das 3001

águas do mar, do leito do mar e do seu subsolo e no que se refere a outras atividades com fins 3002

econômicos”. A água do mar contém vários recursos minerais, como o próprio sal marinho, que 3003

também é fonte de elementos economicamente importantes. 3004

A crescente escassez dos recursos minerais sobre os continentes para atender à demanda cada vez 3005

maior, faz com que os oceanos representem importante área para mineração na Terra. Os recursos 3006

minerais marinhos devem ser entendidos, hoje em dia, como recursos essencialmente estratégicos. No 3007

Brasil, sob o ponto de vista político e estratégico, é necessário conhecer a geologia e os recursos 3008

minerais de nossa terra. 3009

A morfologia de fundo da plataforma interfere diretamente nos processos erosivos e deposicionais 3010

através dos seus efeitos sobre a refração das ondas (e.g. Tabosa et al. 2001, Vital et al., 2005ab, 2006). 3011

O padrão de refração de ondas gerado pela morfologia da plataforma adjacente, localmente 3012

influenciado pela tectônica local e associado ao padrão de correntes, resulta em erosão e/ou deposição 3013

praial, afetando todo o litoral brasileiro. 3014

3015

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87

4.3.4.3.3 Potenciais Impactos das Mudanças Climáticas Sobre a Orla 3016

Marítima e Plataforma Continental 3017

Os oceanos possuem grande variedade de recursos vivos e minerais de interesse para o homem. Além 3018

disso, o papel dos oceanos como fonte de oxigênio à atmosfera, no controle climático global e no ciclo 3019

do carbono é vital para o homem e todos os outros seres vivos. Embora os oceanos ocupem a maior 3020

parte (70%) da superfície terrestre, a maior produtividade é concentrada nas águas costeiras e da 3021

plataforma continental. As águas mais produtivas estão associadas à proximidade do continente, 3022

recebendo grande influência dos processos que ali ocorrem. Consequentemente, essas também são as 3023

áreas marinhas mais impactadas pelas atividades humanas, como a mineração de areia, as dragagens, a 3024

explotação de recursos minerais, a construção de barragens e os desmatamentos ao longo de rios. A 3025

maior parte da exploração de petróleo, no Brasil, ocorre em ambiente marinho profundo, porém os 3026

impactos dessa atividade também atingem as áreas costeiras e a plataforma. Por ali passam os dutos e 3027

os navios que transportam os hidrocarbonetos extraídos para as plantas de processamento em terra. 3028

Além dos vazamentos de petróleo, que afetam a biota e a qualidade da água, a presença de oleodutos e 3029

gasodutos interfere localmente nos padrões de sedimentação e o tráfego de navios obriga as dragagens 3030

dos canais de navegação, que podem alterar a distribuição de sedimentospara as áreas adjacentes mais 3031

profundas. 3032

As dragagens podem resultar em alteração no padrão de sedimentação local, alterando o tipo de 3033

sedimento depositado, com consequente morte de organismos sésseis e fuga das espécies com 3034

capacidade de locomoção. Por outro lado, o despejo de rejeitos de canais de navegação ou outros tipos 3035

de resíduos sólidos causa o soterramento dos organismos na área de despejo, com possível alteração da 3036

composição sedimentar do local e introdução de contaminantes. A construção de inúmeras barragens 3037

para geração de energia elétrica vem bloqueando cargas sedimentares, uma vez que muitos sedimentos 3038

ficam retidos nos lagos artificiais. Assim como a retenção dos sedimentos, o controle dos fluxos 3039

impede a ocorrência de picos de vazões, importantíssimos para o aporte sedimentar para a costa. Por 3040

outro lado, as atividades agrícolas e o desrespeito à manutenção das matas ciliares em margens de rios 3041

aumentam o suprimento sedimentar. 3042

O aumento das atividades mineradoras nas regiões de plataforma continental, principalmente na região 3043

nordeste, exige uma ação firme das agências controladoras na exigência de estudos ambientais prévios 3044

para um melhor conhecimento e monitoramento do ecossistema e, em conseqüência, para escolha da 3045

metodologia mais adequada de exploração e explotação destes recursos minerais. Principalmente ao 3046

considerarmos que a maior parte da plataforma ainda não é conhecida e estudos atuais têm 3047

demonstrado, por exemplo, a presença de corais em profundidades maiores que 20 m, anteriormente 3048

não mapeados. 3049

È importante ressaltar que o interesse no aumento de riscos de inundações costeiras em um clima mais 3050

quente no futuro geralmente se concentra nos efeitos das mudanças no nível médio da mar. Entretanto, 3051

este é apenas um, dos principais fatores, que incluem também as marés e o clima, que afetam o nível do 3052

mar. A maior parte da variabilidade diária no nível dos mares costeiros é normalmente devido às marés. 3053

As marés costeiras são resultado da propagação da energia de maré a partir dos oceanos profundos, 3054

onde as marés são geradas por forças de maré gravitacional. Apesar de mudanças nas forçantes de 3055

marés astronômicas serem neglegíveis, localmente pode ocorrer mudanças significantes na amplitude 3056

das marés. Particularmente em estuários a prática de dragagem para navegação e canalização de rios 3057

são fatores que influenciam a variação das marés. Da mesma forma, mudanças futuras na frequência e 3058

intensidade de tempestades irá afetar a probabilidade de inundação costeira. 3059

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88

4.3.5. Vulnerabilidade da zona costeira: aspectos naturais, sociais e 3060

tecnológicos 3061

4.3.5.1. Introdução 3062

A análise de risco ambiental deve ser vista como um indicador dinâmico das relações entre os sistemas 3063

naturais, a estrutura produtiva e as condições sociais de reprodução humana em um determinado lugar e 3064

momento. Neste sentido, é importante que se considere o conceito de risco ambiental como a resultante 3065

de três categorias básicas: a) risco natural: relacionado a processos e eventos de origem natural ou 3066

induzida por atividades humanas; b) risco tecnológico: circunscreve-se no âmbito dos processos 3067

produtivos e da atividade industrial (Castro et al. 2005); c) risco social: categoria que pode ser 3068

analisada e desenvolvida por óticas distintas. Para este trabalho, adota-se o viés proposto por Egler 3069

(1996), onde o risco social é visto como resultante das carências sociais ao pleno desenvolvimento 3070

humano que contribuem para a degradação das condições de vida. Considerando estas três dimensões 3071

básicas para a construção de uma concepção abrangente de risco ambiental, a elaboração de uma 3072

metodologia para sua avaliação deve fundamentar-se em três critérios básicos (Egler, op. cit.): a) a 3073

vulnerabilidade dos sistemas naturais, compreendida como o patamar entre a estabilidade dos processos 3074

biofísicos e situações instáveis onde existem perdas substantivas de produtividade primária; b) a 3075

densidade e o potencial de expansão da estrutura produtiva, que procura expressar os fixos e os fluxos 3076

econômicos em uma determinada porção do território em uma concepção dinâmica; c) o grau de 3077

criticidade das condições de habitabilidade, vista como a defasagem entre as atuais condições de vida e 3078

àquelas consideradas mínimas para o pleno desenvolvimento humano. 3079

No caso deste trabalho as análises serão desenvolvidas em nível municipal, compatibilizando as 3080

informações existentes na base do Ministério do Meio Ambiente (MMA) publicadas no 3081

Macrodiagnóstico da Zona Costeira e Marinha do Brasil (2008), com as quais foram realizadas as 3082

análises de vulnerabilidade dessa porção do território. A saída gráfica se dará em macro escala, 3083

definindo a vulnerabilidade para a costa brasileira por regiões, fornecendo assim subsídios para o 3084

planejamento de ações de mitigação e adaptação das mesmas (figura 4.3.3) 3085

3086

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89

Figura 4.3.3. Exemplo da região de Itajaí, SC, com a integração de dados espacializados dos três tipos de risco: 3087 (a) Risco Natural; (b) Risco Social e (c) Risco Tecnológico, no litoral centro norte o Estado de Santa Catarina. O 3088 resultado é apresentado pela (d) Vulnerabilidade da costa (adaptado de Nicolodi & Petermann, 2010). 3089

3090

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90

Denominada por Ab' Saber (2000) como 'Litoral Equatorial Amazônico', apresenta, em linhas gerais, 3091

grau de vulnerabilidade baixo, com exceções das adjacências das três grandes cidades ali existentes: 3092

Macapá (AP), Belém (PA) e São Luiz (MA). Nestes casos a vulnerabilidade foi classificada como alta 3093

ou muito alta (Figura 4.3.4). 3094

3095

Figura 4.3.4. Vulnerabilidade da Costa Norte Brasileira. Grau de vulnerabilidade baixo, com exceções às 3096 adjacências das três grandes cidades ali existentes: Macapá, Belém e São Luiz (adaptado de Nicolodi & 3097 Petermann, 2010). 3098

Tal classificação explica-se por uma conjunção de fatores de caráter eminentemente físico (dinâmica 3099

costeira e geomorfologia), socioeconômico (renda média da população, carências de serviços básicos) e 3100

tecnológico (tipo de indústria, tipologia de poluição e representatividade das mesmas quanto ao número 3101

de empregados). 3102

As características geomorfológicas da costa do Pará constituem-se em entraves físicos a um processo 3103

de povoamento intenso do litoral. Porém, alguns trechos desse segmento vêm registrando crescimento 3104

populacional desordenado. Tal situação, agregada às informações sobre saneamento básico, leva a um 3105

coeficiente de proporção entre população total e população exposta ao risco social de 33,7% para a 3106

região norte, o que, em números absolutos, pode ser traduzido por 2.206.138 de habitantes, em sua 3107

maioria residentes nas capitais e periferias (Astolpho& Gusmão, 2008). 3108

Colaboram ainda para a definição de altos graus de vulnerabilidade das regiões metropolitanas do norte 3109

do país a associação entre os complexos metal-mecânico e de papel e celulose no litoral dos estados do 3110

Pará e Maranhão, com grandes investimentos na produção de minerais metálicos, como o ferro e o 3111

alumínio, associados às grandes extensões plantadas para a produção de celulose. Tal fator é 3112

determinante na elevação do risco tecnológico e da vulnerabilidade da zona costeira em pontos críticos, 3113

como é o caso de Barcarena, no estado do Pará, ou São Luís, no Maranhão (Egler, 2008). 3114

3115

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91

4.3.5.2 Região Nordeste 3116

Ao contrário da região norte, onde apenas as regiões metropolitanas apresentam vulnerabilidade alta, a 3117

região nordeste demonstra uma alternância entre os cinco níveis de vulnerabilidade os quais não têm, 3118

necessariamente, relação direta com a dinâmica da população (figuras 4.3.5, 4.3.6, 4.3.7, 4.3.8). 3119

3120

Figura 4.3.5 - Mapa de Vulnerabilidade da Região Nordeste, mostrando os Estados de Piauí, Ceará e Rio Grande 3121 do Norte (adaptado de Nicolodi & Petermann, 2010) 3122

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3123

Figura 4.3.6 - Vulnerabilidade da costa os estados de Paraíba, Pernambuco, alagoas e Sergipe (adaptado de 3124 Nicolodi & Petermann, 2010) 3125

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93

3126

Figura 4.3.7 - Núcleos urbanos no estado da Bahia onde o grau de vulnerabilidade é elevado devido a alta 3127 densidade populacional e as condições de saneamento básico deficitárias (adaptado de Nicolodi & Petermann, 3128 2010) 3129

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3130

Figura 4.3.8 - Região metropolitana de Salvador. Altos índices de vulnerabilidade associados a um cenário de 3131 alto risco tecnológico (adaptado de Nicolodi & Petermann, 2010) 3132

Para a região nordeste do Brasil o coeficiente de proporção entre população total e população exposta 3133

ao risco social é de 25,71%, o que, em números absolutos, pode ser traduzido em 12.286.455 de 3134

habitantes, os quais são os mais potencialmente vulneráveis aos efeitos de mudanças climáticas 3135

(Nicolodi &Pettermann, 2010). 3136

Outro fator que contribui para a elevação da vulnerabilidade nesta região é o deslocamento do 3137

complexo químico para o litoral nordestino no eixo Salvador-Aracaju-Maceió, associado à expansão da 3138

fronteira energética no litoral. Tal fenômeno faz com que a concentração de dutos, terminais e fábricas 3139

seja expressiva. O entorno do Recôncavo Baiano e de cidades como Aracaju (SE), Maceió (AL), 3140

Recife-Cabo (PE) e Macau-Guamaré (RN) são expressões marcantes deste processo, onde o 3141

equipamento energético associado ao equipamento produtivo potencializa as condições de risco 3142

ambiental (Egler, 2008). 3143

A Baía de Todos os Santos, onde se localiza a região metropolitana de Salvador apresenta população 3144

próxima dos 3.500.000 habitantes, o que representa 23% da população total da Bahia, percentual muito 3145

próximo à média nacional. Neste setor, os altos índices de vulnerabilidade encontrados estão 3146

associados às questões sociais e tecnológicas (Nicolodi &Petermann, 2010). 3147

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95

Apresenta-se também um cenário de alto risco tecnológico determinado prioritariamente pela presença 3148

do pólo industrial de Camaçari, com destaque para a indústria petrolífera e suas sub unidades; a 3149

Refinaria Landulpho Alves, a Unidade de Produção de Gás Natural Candeias e as Usinas 3150

Termoelétricas da Termobahia, Rômulo Almeida e Camaçari. 3151

4.3.5.3 Região Sudeste 3152

O litoral capixaba e o norte fluminense é constituído por segmentos costeiros identificados como de 3153

vulnerabilidade média a baixa. Apenas três localidades recebem classificação de maior vulnerabilidade: 3154

Rio Doce, a região da Grande Vitória e as áreas interiores da drenagem do Rio Paraíba do Sul (figura 3155

4.3.9). 3156

3157

Figura 4.3.9 - Localidades com classificação de vulnerabilidade média a muito alta: Rio Doce, região da grande 3158 Vitória e as áreas interiores da drenagem do Rio Paraíba do Sul (adaptado de Nicolodi & Petermann, 2010) 3159

Os graus mais elevados de vulnerabilidade identificados no litoral oriental fluminense estão associados 3160

às regiões de Cabo Frio e Macaé, que nas últimas duas décadas vem experimentando um acentuado 3161

desenvolvimento urbano vinculado às atividades de exploração petrolífera na plataforma continental 3162

contígua (figura 4.3.10). A região da Baia da Guanabara congrega uma das maiores densidades 3163

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populacionais do país, por vezes dispostas ao longo dos baixos cursos dos rios que deságuam no 3164

sistema. Em situações de maré excepcionais (associadas a passagens de sistemas frontais que afogam 3165

as drenagens em seus baixos cursos), acompanhadas de precipitações intensas no complexo serrano à 3166

retaguarda (que aumentam o volume das descargas fluviais), a área do contorno interno da baía, mais 3167

rebaixada, fica exposta a fenômenos de inundação. 3168

3169

Figura 4.3.10 - Graus mais elevados de vulnerabilidade identificados no litoral oriental fluminense associados às 3170 regiões de São João da Barra e Macaé (adaptado de Nicolodi & Petermann, 2010) 3171

Aliado a todo este contexto, o Rio de Janeiro apresenta a mais alta relação ente população exposta e 3172

população total observadas no Brasil, com uma taxa de 78%, o que equivale a um contingente de 3173

11.194.150 habitantes, sendo aproximadamente 5 milhões na capital. Agrega-se a estes fatores 3174

condicionantes de alto grau de vulnerabilidade o fato da região metropolitana do Rio de Janeiro abrigar 3175

um dos mais importantes pólos petroquímicos do país, com a existência de uma intrincada rede de 3176

refinarias, unidades de produção de gás natural, dutovias, campos de exploração offshore e portos 3177

(figura 4.3.11). 3178

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3179

Figura 4.3.11 - Alto grau de vulnerabilidade da região metropolitana do Rio de Janeiro. Já a região costeira ao 3180 sul da Baía da Guanabara apresenta baixa vulnerabilidade (adaptado de Nicolodi & Petermann, 2010) 3181

A região da Baixada Santista que congrega a baía e estuário de Santos, bem como as áreas urbanizadas 3182

de seu entorno, abrigam o maior porto marítimo do país e complexos industriais assentados nas 3183

pequenas planícies flúvio-marinhas que se desenvolvem no interior das enseadas, próximas à base dos 3184

altos contrafortes da Serra do Mar (figura 4.3.12). Outro fator que agrega vulnerabilidade a toda região 3185

é a evidente concentração produtiva no trecho entre Santos (SP) e Macaé (RJ), onde estão presentes 3186

campos de extração, terminais e dutos de petróleo e gás, usinas termoelétricas e nucleares e expressiva 3187

concentração dos complexos químicos e metalomecânico. 3188

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3189

Figura 4.3.12 - Região da Baixada Santista e estuário de Santos. Características socioeconômicas e a 3190 configuração geomorfológica determinam o alto grau de vulnerabilidade (adaptado de Nicolodi & Petermann, 3191 2010) 3192

4.3.5.4 Região Sul 3193

Neste segmento estão presentes três importantes portos marítimos (Paranaguá, São Francisco do Sul e 3194

Itajaí). Tais municípios e/ou as regiões circunvizinhas possuem densidades populacionais 3195

significativamente maiores que a média de habitantes por km2 do litoral sudeste brasileiro. Esta 3196

conjunção de fatores topográficos, populacionais e a importância socioeconômica desses núcleos 3197

urbanos, combinada a fatores de instabilidade na linha de costa, determinam graus de vulnerabilidade 3198

média a alta (figura 4.3.13). 3199

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3200

Figura 4.3.13 - Vulnerabilidade da porção norte da Região Sul. A topografia, a densidade populacional e fatores 3201 socioeconômica dos núcleos urbanos determinam graus de vulnerabilidade médio a alto (adaptado de Nicolodi & 3202 Petermann, 2010) 3203

Na costa catarinense, a região de Joinville, o Vale do Itajaí e a Grande Florianópolis apresentam grau 3204

muito alto de vulnerabilidade por representarem grandes adensamentos urbanos localizados em cotas 3205

altimétricas inferiores a 10 metros. Enchentes como as ocorridas em 1983 e 1984 e o evento de 3206

novembro de 2008, onde 135 pessoas morreram e mais de 1,5 milhões de pessoas foram afetadas, 3207

demonstraram, na prática, tal vulnerabilidade. Tais adensamentos urbanos, embora apresentem índices 3208

de IDH relativamente altos, possuem um número elevado de pessoas expostas ao risco social (figura 3209

4.3.14). 3210

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3211

Figura 4.3.14 - A região de vulnerabilidade alta e muito alta corresponde a porção distal da bacia hidrográfica do 3212 rio Itajaí-Açu, a qual vem sofrendo com inundações sistemáticas nos últimos anos, com destaque para os eventos 3213 ocorridos em 1983, 1984 e 2008 (adaptado de Nicolodi & Petermann, 2010). 3214

O litoral do Rio Grande do Sul é caracterizado por uma linha quase retilínea de 620 km que abriga um 3215

intrincado sistema de lagoas costeiras, com destaque para a Lagoa dos Patos, componente 3216

especialmente grandioso na zona costeira brasileira. É na desembocadura desta laguna que se verifica o 3217

único local definido como de alta vulnerabilidade no Rio Grande do Sul: a região do Município de Rio 3218

Grande (Nicolodi &Petermann, 2010) 3219

Contribuem para esse cenário o fato de que no interior do estuário está o principal núcleo urbano, com 3220

população estimada de 196.337 habitantes e altas taxas de risco social. A estimativa da população 3221

exposta ao risco social, ou seja, com déficit de serviços básicos (coleta de lixo e esgotamento sanitário) 3222

e baixa renda por domicílio chega a quase 100% da população (186.544 habitantes) (figura 4.3.15). 3223

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101

3224

Figura 4.3.15 - Do sul do estado de Santa Catarina ao limite com o Uruguai o grau de vulnerabilidade é 3225 relativamente baixo, com exceção do núcleo urbano de Rio Grande. Esta região está sujeita a eventos 3226 meteorológicos de grande magnitude, como o Furacão Catarina em 2004 (adaptado de Nicolodi & Petermann, 3227 2010) 3228

O papel do porto de Rio Grande nesta porção do território, onde os níveis de vulnerabilidade são 3229

relevantes, deve ser considerado em conjunto com a Área Metropolitana de Porto Alegre, no que diz 3230

respeito ao sistema lagunar em que estão situados. As possibilidades de incremento da movimentação 3231

da matriz energética e mercadorias e a implantação de novas indústrias na área em função de sua 3232

posição quanto ao MERCOSUL, são elementos particulares que provavelmente intensificarão o grau de 3233

risco tecnológico do litoral sul nas próximas décadas (Egler, 2008). 3234

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102

4.3.6 Subsídios para a ação do Poder Público 3235

A conclusão mais relevante da análise aqui apresentada diz respeito a carência de informações 3236

relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas costeiros no Brasil, bem como 3237

da vulnerabilidade desses ecossistemas a tais alterações. As poucas informações disponíveis referem-se 3238

a alguns estudos locais e tratam basicamente dos efeitos de uma possível elevação do nível médio do 3239

mar sobre tais sistemas. Análises sobre vulnerabilidade existem em escala nacional, conforme aqui 3240

apresentado ou em escala local, o que deixa uma lacuna em termos de planejamento. 3241

Alia-se a estes fatores o grau de incerteza na própria definição quantitativa das mudanças climáticas em 3242

todo o globo, criando assim um cenário de indefinições quanto à tomada de decisão pelo poder público. 3243

Conhecer as regiões mais ou menos vulneráveis aos impactos causados por efeitos diretos de 3244

alterações climáticas é fundamental para a tomada de decisões do poder público. Essas ações devem 3245

pautar-se nos principais tipos de riscos relacionados às mudanças climáticas em zonas costeiras a partir 3246

da aplicação de metodologias que integrem as variáveis inseridas no processo. 3247

Agrega-se a este arcabouço outros fatores que influenciarão indiretamente na dinâmica dessa porção do 3248

território, como por exemplo, a possibilidade de alterações significativas nas vazões dos principais rios 3249

brasileiros com aumento de volume nas bacias do Prata e Paraná e redução nas bacias Amazônicas e do 3250

Pantanal. A variação destes volumes implicará em uma nova dinâmica de transporte sedimentar e seus 3251

consequentes efeitos na linha de praia. 3252

Estes efeitos já foram preliminarmente identificados em um esforço governamental levado a cabo pelo 3253

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE (Neves &Muehe, 2008), sendo que os mesmos devem 3254

ser ressaltados quando da elaboração de estratégias de ação do poder público: a) erosão e progradação 3255

costeira; b) danos a obras de proteção costeira; c) prejuízos estruturais ou operacionais a portos e 3256

terminais; d) danos a obras de urbanização de cidades litorâneas; e) danos estruturais ou prejuízos 3257

operacionais a obras de saneamento; f) exposição de dutos enterrados ou danos estruturais a dutos 3258

expostos; g) intrusão salina em estuários; h) intrusão salina em aquíferos; i) evolução dos manguezais; 3259

j) danos a recifes de coral. 3260

O cenário está posto e não há dúvidas que o desafio de adaptação e mitigação das consequências destes 3261

fenômenos é enorme e não pode ser levado a cabo sem um detalhado referencial técnico composto de 3262

análises de vulnerabilidade em micro e macro escala. 3263

Outro aspecto que deve ser amplamente debatido pela sociedade é o papel das instituições no processo. 3264

Nesse aspecto, é inegável que, em termos de gestão, o Ministério do Meio Ambiente deve ter 3265

prerrogativa de liderança, uma vez que a legislação o define como coordenador do processo de 3266

Gerenciamento Costeiro no Brasil. 3267

É justamente nesse escopo de planejamento estratégico integrado que as variáveis relacionadas à 3268

vulnerabilidade devem ser inseridas, principalmente quando da análise geográfica de prioridades de 3269

atuação. 3270

Dentre as ações que devem compor o referido planejamento estratégico integrado destacam-se a 3271

efetivação de monitoramento ambiental sistemático e de longo prazo, o ordenamento territorial efetivo, 3272

principalmente em nível municipal, a efetivação das políticas estaduais de gerenciamento costeiro, o 3273

planejamento prévio e a priorização de estudos para as formas clássicas de respostas aos efeitos 3274

esperados de mudanças climáticas como recuo, acomodação e proteção. Além disso, torna-se 3275

fundamental a adoção de medidas que visem à adaptação dos ecossistemas às novas condições, o que 3276

só pode ser alcançado por meio da gestão do território costeiro de forma integrada e multisetorial. 3277

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4.4. Ecossistemas Oceânicos 3699

4.4.1. Introdução 3700

As mudanças climáticas são consideradas atualmente como o maior desafio ecológico, social e 3701

econômico da humanidade, com evidências científicas de que as atividades antrópicas têm contribuído 3702

sobremaneira para esta situação (Cleugh et al, 2011). O Painel Intergovernamental sobre Mudanças 3703

Climáticas (IPCC), criado pelas Nações Unidas e pela Organização Meteorológica Mundial em 1988, 3704

afirma que uma parte significativa do aquecimento global observado nos últimos 50 anos está associada 3705

ao aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, provocado, em grande medida, 3706

pelo homem (IPCC, 2007). 3707

Evidentemente, os oceanos, em decorrência das suas relações com a atmosfera e por cobrirem 70% da 3708

superfície do planeta, vêm sendo diretamente afetados pelas mudanças climáticas. Esses efeitos 3709

decorrem principalmente do armazenamento de uma quantidade considerável de calor nos oceanos 3710

proveniente da atmosfera2, o qual provoca, além do aumento da temperatura da água das camadas 3711

superficiais, o aumento do nível do mar em decorrência da expansão térmica da água. Uma outra 3712

consequência não menos grave é a acidificação dos oceanos decorrente da formação e subsequente 3713

dissociação do ácido carbônico (CO2 + H2O H2CO3) em razão da dissolução do dióxido de 3714

carbono na água, aspecto agravado pela elevada solubilidade desse gás3. Desta forma, as alterações 3715

observadas nos oceanos decorrentes das mudanças climáticas têm efeitos diversos sobre a vida 3716

marinha. 3717

Os recursos vivos marinhos apresentam, de uma maneira geral, uma elevada sensibilidade às variações 3718

dos parâmetros físico-químicos do ambiente no qual estão imersos, quando comparados aos animais 3719

terrestres (Jurado-Molina e Livingston, 2002). Por essa razão, mudanças das condições normais dos 3720

oceanos podem provocar efeitos importantes sobre o comportamento destes organismos, interferindo 3721

em diversos processos biológicos, como na reprodução e nas interações entre presas e predadores, 3722

retardando ou acelerando significativamente a recuperação de um determinado estoque pesqueiro. 3723

Embora o ecossistema pelágico oceânico, que sustenta importantes atividades econômicas de 3724

explotação direta, como a pesca, tenha atraído um interesse crescente da comunidade científica no 3725

sentido de melhor entender sua dinâmica ambiental, pouco ainda se sabe sobre os efeitos das mudanças 3726

climáticas sobre este ecossistema e os organismos marinhos que nele habitam, muitos dos quais são 3727

recursos pesqueiros de elevado valor comercial ou de grande relevância para a segurança alimentar de 3728

inúmeras comunidades costeiras. Por esta razão, as consequências da pesca e dos efeitos das mudanças 3729

ambientais sobre estes recursos, têm sido motivo de grande preocupação de gestores e pesquisadores no 3730

mundo inteiro, estimulando o desenvolvimento de pesquisas e atividades de monitoramento que 3731

permitam melhor avaliar a saúde do ambiente marinho (Francis, 1990). 3732

Do ponto de vista pesqueiro, além da dificuldade de se conseguir informações confiáveis sobre a 3733

cadeia produtiva da pesca, a relação entre as condicionantes bióticas e abióticas do ecossistema 3734

marinho é extremamente complexa, particularmente em um cenário de variações climáticas cada vez 3735

2 O calor específico elevado da água faz com que a mesma seja um bom armazenador de calor, enquanto o seu coeficiente

de condutividade térmica relativamente baixo faz com que ela não ceda o calor absorvido com facilidade.

3 A solubilidade do CO2 na água, igual a 1,7 g·l

-1 a 20°C e 1013 hPa, é cerca de 200 vezes maior do que a do O2, igual a

0,009 g·l-1

;

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mais intensas. Considerando-se, portanto, o atual nível de explotação a que os estoques estão 3736

submetidos, associado à crescente instabilidade do clima, torna-se urgente o desenvolvimento de 3737

modelos de previsão que permitam projetar no futuro o conhecimento do que poderá ocorrer se uma 3738

determinada situação acontecer, no intuito de prevenir e antecipar possíveis impactos das mudanças do 3739

clima sobre o ambiente, sobre a biodiversidade e sobre a pesca, permitindo, consequentemente, uma 3740

melhor administração e uso sustentável dos mesmos. 3741

4.4.2. Impactos e vulnerabilidades 3742

4.4.2.1. Aspectos ambientais (físico-químicos) das mudanças 3743

climáticas 3744

Em decorrência das conexões entre a atmosfera e o oceano, as mudanças climáticas globais, 3745

provocadas por fatores naturais e antrópicos, têm provocado importantes alterações nos oceanos do 3746

planeta, principalmente no que se refere às concentrações de CO2 e calor. 3747

Neste último caso, pesquisas tem demonstrado um aumento considerável na quantidade de calor 3748

estocado nos oceanos desde 1970, sendo esta uma evidência clara do aquecimento do planeta (Bindoff 3749

et al 2007). As camadas superficiais dos oceanos, portanto, tem, cada vez mais, armazenado uma maior 3750

quantidade de calor proveniente da atmosfera, com consequências diretas na elevação do nível do mar, 3751

decorrente da expansão térmica da água. De acordo com Levitus et al (2005), um aumento da ordem de 3752

15.1022

joules no calor armazenado nos oceanos foi observado entre 1955 e 1998, com uma média de 3753

0,2 watts.m-2

. No último século, o nível do mar subiu 1,7 mm.ano-1

, mas dados obtidos por 3754

sensoriamento remoto, indicam que desde 1993 o nível do mar vem subindo a taxas bem mais elevadas, 3755

que variam de 2,5 mm.ano-1

(Cabanes et al, 2001) a 3,0 mm.ano-1

(UNESCO, 2010). Estudos tem 3756

demonstrado que até 2100 o nível do mar aumentará de 0,5 m a 0,8 m, podendo subir até 1,0 m 3757

(Rahmstorf, 2007). Considerando-se também o derretimento de geleiras e reservas glaciais do planeta, 3758

o nível do mar poderá subir mais 0,2 m a 0,7 m (Raper e Braithwaite, 2006). Do ponto de vista 3759

ambiental, os efeitos da elevação do nível do mar serão mais acentuados na zona costeira, onde 3760

ecossistemas de elevada importância ecológica para diversos organismos marinhos serão diretamente 3761

afetados, como as lagoas, estuários e manguezais. 3762

Entretanto, os efeitos do aquecimento global não se restringem apenas ao aumento do nível dos 3763

oceanos. Além deste, o aquecimento anômalo da temperatura da superfície do mar (TSM), alterações 3764

na estrutura da termoclina, associadas à propagação do calor para zonas mais profundas do oceano, e o 3765

aumento na intensidade dos ventos e velocidade das correntes, são efeitos potencialmente importantes 3766

das mudanças climáticas sobre os oceanos. 3767

A temperatura da superfície do mar (TSM), avaliada sob o prisma das suas anomalias, positivas ou 3768

negativas, tem sido utilizada como um dos principais parâmetros indicadores das mudanças climáticas 3769

sobre os oceanos. Aumentos da TSM tem sido observados em diversas regiões do planeta, com um 3770

aumento global da ordem de 0,6oC no último século (Herr e Galland, 2009). Nas águas que banham a 3771

costa da Austrália, tem se observado, desde 1900, um aumento da ordem de 0,9oC da sua temperatura, 3772

dos quais 0,4oC ocorreram nos últimos 50 anos (Cleugh et al, 2011). Entretanto, o ritmo das mudanças 3773

climáticas não é o mesmo em todas as zonas dos oceanos e nem as respostas das espécies às variações 3774

de um determinado parâmetro ambiental, como a temperatura da água, são iguais, dificultando a 3775

avaliação dessas mudanças sobre os recursos vivos marinhos de forma abrangente e generalizada 3776

(Hobday et al, 2012). Com base na análise de diversas variáveis ambientais e usando tendências 3777

históricas e projeções de aquecimento global, estes autores sugerem que as regiões de hotspots 3778

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geralmente ocorrem na periferia das bacias oceânicas, em áreas com elevada dependência humana dos 3779

recursos marinhos, como o sudeste da Ásia e da África ocidental, as quais deveriam ser consideradas 3780

para melhor avaliar os impactos das mudanças climáticas sobre os oceanos e seus recursos vivos, 3781

propondo alternativas de adaptação face a estas mudanças. 3782

No que se refere à termoclina, camada que em razão do seu forte gradiente térmico apresenta também 3783

uma marcada descontinuidade faunística, tem se observado uma diminuição da sua profundidade média 3784

no Pacífico Centro-oeste (Yeh et al, 2009). Embora estes efeitos sejam mais evidentes durante a 3785

ocorrência de fenômenos climáticos periódicos, como o El Niño, o aquecimento global a longo prazo, 3786

provocado por causas naturais ou pela ação do homem, poderá provocar alterações ainda mais 3787

importantes e duradouras na estrutura térmica dos oceanos e, por consequência, no clima do nosso 3788

planeta. 3789

Em relação à produtividade primária, alguns trabalhos já mostram indícios de sua diminuição 3790

(“desertificação dos oceanos”), com um aumento da ordem de 7 x 106 km

2 das áreas oligotróficas nos 3791

últimos 10 anos, principalmente nas bacias do Atlântico e Pacífico (Valentin 2008). Segundo o mesmo 3792

autor, esse processo seria decorrente da elevação da temperatura superficial, a qual, consequentemente, 3793

acentuaria o gradiente térmico da termoclina, reduzindo a taxa de fertilização por processos de mistura 3794

vertical com águas mais profundas e ricas em nutrientes (Behrenfeld, et al. 2006; Behrenfeld, 2011; 3795

Siegel e Franz, 2010; Boyce at al., 2010; Huisman et al, 2004). A redução da biomassa fitoplânctonica, 3796

por sua vez, reduzirá a capacidade dos oceanos de absorverem CO2, potencializando o efeito do 3797

aquecimento global através de um processo de feedback positivo (Behrenfeld, 2011). 3798

Ao longo da história geológica do planeta, os oceanos sempre atuaram como um imenso sumidouro do 3799

dióxido de carbono atmosférico, seja na forma dissolvida, em razão da elevada solubilidade desse gás 3800

na água, seja em razão na sua fixação e posterior sedimentação de organismos planctônicos que fixam 3801

o carbono em seus constituintes orgânicos. Cabe ressaltar que a hipótese mais aceita para a formação 3802

do petróleo, a hipótese biogênica, assim como dos clatratos de metano, é de que o mesmo se originaria 3803

da biomassa planctônica sedimentada, sob certas condições de temperatura e pressão. As reservas 3804

planetárias de combustíveis fósseis, portanto, seriam, assim, o testemunho mais evidente da 3805

importância dos oceanos para o sequestro de carbono atmosférico ao longo das eras geológicas. 3806

Trabalhos recentes, contudo, têm indicado que os oceanos do mundo podem estar perdendo parte da 3807

sua capacidade de absorver CO2, devido, entre outros fatores, à intensificação dos ventos (Le Quéré, 3808

2007). 3809

Fortes variações da circulação atmosférica têm sido igualmente observadas em decorrência das 3810

variabilidades climáticas, entre as quais aquelas causadas pelo El Niño, processo que provoca um 3811

aquecimento anômalo da temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico, ocasionando mudanças 3812

na atmosfera próxima à superfície, com consequências em escala global. O aquecimento do oceano, 3813

porém, provoca mudanças na circulação da atmosfera, desde os níveis mais baixos até os mais altos, 3814

determinando mudanças nos padrões de transporte de umidade e, portanto, variações na distribuição 3815

das chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas. 3816

Um dos mecanismos capazes de desencadear ou amplificar mudanças climáticas num período 3817

relativamente curto é a circulação termohalina (Bradley, 1999). Um aumento da precipitação em 3818

latitudes elevadas, associada à intensificação do processo de derretimento da calota polar, geleiras e 3819

cobertura glacial da Groelândia, por exemplo, poderá causar potencialmente uma redução significativa 3820

da salinidade das águas superficiais do Atlântico Norte e, consequentemente, da sua densidade, 3821

enfraquecendo ou mesmo interrompendo o afundamento das mesmas em razão do seu resfriamento, 3822

nos mares da Islândia e Noruega. Tal fenômeno teria como consequência a suspensão da circulação 3823

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termohalina e a paralisação da chamada esteira transportadora de calor do Atlântico Norte (North 3824

Atlantic Conveyor Belt) e um consequente recuo da Corrente de Golfo gerando, paradoxalmente, um 3825

progressivo arrefecimento da atmosfera e da superfície das águas oceânicas dessa região do Atlântico, 3826

com um possível resfriamento significativo do continente europeu4 (Weaver e Hillaire-Marcel, 2004) e 3827

um aumento das temperaturas em regiões extratropicais do hemisfério sul (Machado e Justino, 2011). 3828

Outro fenômeno que, potencialmente, poderia agravar o aquecimento global pelo efeito estufa seria a 3829

eventual, e possivelmente progressiva, liberação do metano contido nas camadas congeladas de 3830

clatratos ou hidratos presentes no subsolo marinho ou continental (permafrost). Embora as avaliações 3831

da quantidade de carbono contida nesses compostos sejam ainda bastante variáveis, as mesmas 3832

apontam para volumes que vão desde a metade a mais de duas vezes e meia o montante existente no 3833

planeta sob todas as outras formas de combustíveis fósseis, com o agravante do metano possuir um 3834

potencial de aquecimento global cerca de 20 vezes maior que o dióxido de carbono. O risco nesse caso 3835

seria o possível surgimento de um processo de feedback positivo mediante o qual a intensificação da 3836

liberação do metano contido nessas reservas agravaria o efeito estufa, elevando a temperatura do 3837

planeta e causando, assim, a liberação de mais metano. 3838

Outro aspecto importante ligado indiretamente à mudança climática, mas com consequências diretas 3839

sobre o ecossistema marinho, é a acidificação dos oceanos. Esse processo, como mencionado acima, 3840

decorre da dissolução do CO2 atmosférico na água do mar, transformando-se em ácido carbônico (CO2 3841

+ H2O H2CO3) e causando uma consequente diminuição do pH (Valentin, 2008). Estimativas 3842

apontam que o pH da superfície oceânica tenha diminuído em cerca de 0,1, numa escala logarítmica, 3843

com uma diminuição da ordem de 0,3 a 0,5 até 2010 (Caldeira e Wickett, 2003). Uma aceleração dessa 3844

mudança no próximo século, em princípio, poderá ter tanto consequências positivas como negativas 3845

sobre o crescimento do plâncton. Durante a fotossíntese o fitoplâncton absorve o CO2 e libera oxigênio, 3846

sequestrando, assim, o CO2 atmosférico, processo chamado de “bomba biológica” e que é favorecido 3847

por uma maior disponibilidade de dióxido de carbono dissolvido na água (Behrenfeld, 2011). Por outro 3848

lado, entretanto, certas espécies necessitam fixar carbonato de cálcio nas suas carapaças, processo 3849

dificultado pela acidificação do meio ambiente marinho, da mesma forma que a sua dissolução é 3850

facilitada em níveis de pH mais baixos. 3851

O mesmo impacto atinge também diretamente outros grupos taxonômicos importantes, como os corais, 3852

moluscos e crustáceos que utilizam o carbonato de cálcio em suas carapaças ou outros constituintes 3853

orgânicos (Valentin, 2008). 3854

4.4.2.2. Aspectos biológicos 3855

4.4.2.2.1 Alterações na biota marinha 3856

Embora algumas alterações nas características ambientais dos oceanos, principalmente em regiões 3857

costeiras, estejam associadas às variabilidades climáticas naturais e mesmo às ações antrópicas locais, 3858

as mudanças climáticas que vem ocorrendo no planeta tem sido responsáveis por transformações 3859

importantes nos oceanos. Mudanças na temperatura da água, nas correntes e nas ressurgências costeiras 3860

são exemplos das alterações das condições ambientais dos oceanos como resultado das mudanças 3861

climáticas (Bakun, 1990; IPCC, 2007; Diaz e Rosenberg, 2008), as quais podem afetar direta e 3862

indiretamente importantes processos biológicos (alimentação, reprodução, distribuição, migração, entre 3863

4 Essa possibilidade hipotética foi explorada cinematograficamente no filme “O dia depois de amanhã”.

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outros) de diversos representantes de vida marinha. Entretanto, entre os fatores ambientais, a 3864

temperatura da água certamente é o que mais influencia os organismos em diferentes ecossistemas 3865

marinhos (Laevaustu, 1993). 3866

Uma elevação da temperatura da água do mar promoverá certamente alterações importantes na 3867

composição específica, e consequente dinâmica, dos ecossistemas marinhos, com consequências 3868

extremamente difíceis de prever. O equilíbrio existente entre as diversas espécies integrantes de um 3869

determinado ecossistema será alterado em função de suas respectivas tolerâncias a diferentes 3870

temperaturas, conduzindo o mesmo a uma nova condição de equilíbrio baseada em diferentes relações 3871

entre competidores e entre presas e predadores. As interações interespecíficas na teia alimentar 3872

marinha, porém, são bastante complexas, tornando praticamente impossível prever variações de 3873

abundância entre as diversas espécies (Benincá, 2008). O mapa de distribuição geográfica de uma parte 3874

significativa da biota aquática será, portanto, redesenhado, com consequências extremamente 3875

relevantes para a biodiversidade e para a atividade pesqueira. Algumas espécies se tornarão mais 3876

abundantes em áreas onde eram antes escassas, enquanto outras diminuirão ou desaparecerão. A 3877

tendência predominante, no entanto, devido ao estresse associado a essas mudanças deverá ser uma 3878

perda ou alteração, possivelmente acentuada, de biodiversidade. De qualquer forma, as respostas das 3879

diferentes espécies frente às mudanças do ambiente estarão diretamente associadas as suas capacidades 3880

de tolerância (espécies eurióicas e estenóicas) e adaptabilidade às novas condições ambientais e 3881

também, claro, à velocidade em que elas ocorrem. 3882

As composições fito- e zooplanctônicas poderão sofrer alterações significativas, com um possível 3883

aumento na intensidade e floração de algas nocivas (Van de Waal, 2011), por exemplo, em particular 3884

nas regiões costeiras sujeitas a um maior grau de eutrofização. Em consequência das possíveis 3885

alterações no plâncton, os processos de desenvolvimento larval de diversas espécies poderão ser 3886

diretamente afetado, seja em razão do aumento na incidência de doenças e parasitas, seja pela redução 3887

na disponibilidade de organismos forrageiros, em decorrência das variações na abundância e 3888

composição planctônica. Além disso, temperaturas mais elevadas poderão causar o desacoplamento 3889

espaço-temporal dos processos reprodutivos, antecipando, por exemplo, o período de desova e fazendo 3890

com que o mesmo ocorra fora de fase com o pico de disponibilidade de organismos forrageiros e em 3891

áreas diversas daquelas tradicionalmente utilizadas (e.g. mais distantes da costa), onde a sobrevivência 3892

larval poderá ficar comprometida. 3893

As comunidades coralíneas, por sua vez, sofrerão não apenas com a alteração na temperatura, mas 3894

com o processo de acidificação associado ao aumento na concentração de CO2, favorecendo o 3895

desenvolvimento de corais em regiões antes não ocupadas pelos mesmos e restringindo a sua presença 3896

nos ecossistemas onde se encontram atualmente presentes. Considerando-se, contudo, o tempo de 3897

desenvolvimento bastante lento dessas comunidades, é provável que o impacto no curto prazo seja 3898

muito mais negativo do que positivo. Além disso, as novas áreas onde as condições de temperatura 3899

poderão eventualmente ser favoráveis ao desenvolvimento de corais, poderão não apresentar outras 3900

variáveis adequadas ao crescimento desses organismos, como a transparência da água, por exemplo. 3901

Temperaturas da água do mar mais elevadas também reduzem a solubilidade e consequente 3902

disponibilidade do oxigênio, contribuindo para o branqueamento dos corais. Os organismos coralíneos 3903

possuem uma alga simbiótica, as zooxantelas, da qual dependem diretamente os seus processos 3904

nutritivos. Por razões ainda não muito bem compreendidas, mas aparentemente associadas à elevação 3905

da temperatura, os corais eventualmente expelem as suas zooxantelas, embranquecem e morrem. Para 3906

dar uma ideia do possível impacto desse fenômeno, em 2002, mais da metade dos 40 mil km2 da grande 3907

barreira de corais australiana sofreu algum grau de branqueamento (Stone, 2007). 3908

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A consequência desses processos, associados a outros fatores contributivos para a perda de qualidade 3909

do ecossistema marinho, como a poluição oriunda dos continentes e o aumento da quantidade de 3910

material em suspensão, tem sido uma progressiva redução das áreas cobertas por corais em todo 3911

mundo, tendência esta que deverá se acentuar substancialmente com o agravamento do aquecimento 3912

global. O impacto negativo do aquecimento do planeta sobre essas comunidades seriam ademais 3913

potencializados ao longo dos diversos níveis tróficos, em razão do grande número de espécies que 3914

dependem desses ecossistemas, para abrigo, reprodução e alimentação. As consequências sobre os 3915

processos de recrutamento das espécies capturadas comercialmente poderão ser catastróficas, com 3916

graves prejuízos não somente para a biodiversidade, mas para a segurança alimentar de inúmeras 3917

comunidades costeiras em todo mundo, principalmente nos pequenos países insulares em 3918

desenvolvimento, muitos dos quais dependem diretamente desses ecossistemas para a sua subsistência, 3919

tanto de forma direta, pela atividade pesqueira, como indireta, como resultado do turismo. 3920

Além dos efeitos do aquecimento oceânico diretamente sobre os processos reprodutivos e de 3921

recrutamento, nas relações presa-predador e na consequente distribuição geográfica das diversas 3922

espécies integrantes da biota aquática, acima discutidos, o aumento da temperatura poderá ter outros 3923

impactos menos evidentes, como alterações, por exemplo, nas proporções sexuais em diversas espécies, 3924

a exemplo das tartarugas marinhas já que temperaturas mais elevadas durante o processo de 3925

desenvolvimento embrionário tende a aumentar a proporção de fêmeas. Nesse caso específico, porém, a 3926

estratégia reprodutiva dos machos parece ser capaz de compensar proporções sexuais diferenciais ao 3927

nascimento mesmo em situações com uma forte predominância de fêmeas (Wright et al., 2012). 3928

As possíveis alterações na biota marinha decorrentes do aquecimento global terão, inexoravelmente, 3929

impactos importantes e diretos na atividade pesqueira, tanto costeira, como oceânica. Alguns efeitos 3930

diretos de alterações ambientais importantes, mesmo que temporárias e associadas, de uma maneira 3931

geral, à variabilidade climática global provocada pelo fenômeno de El Niño, na pesca oceânica de 3932

grandes peixes pelágicos, serão discutidos a seguir. 3933

4.4.2.2.2. Eventuais impactos sobre recursos pesqueiros 3934

No ecossistema pelágico oceânico, a pesca é provavelmente a única atividade humana que poderá 3935

sofrer diretamente os impactos das alterações nas características deste ambiente provocadas pelas 3936

mudanças climáticas do planeta. Entre as pescarias desenvolvidas em mar aberto, a pesca de atuns e 3937

espécies afins certamente será a mais atingida, em decorrência da sua vasta abrangência espacial, uma 3938

vez que é praticada nos oceanos Atlântico, Pacífico e índico, e também pelos elevados valores que as 3939

espécies-alvo atingem no mercado mundial de pescados. Esta pescaria apresenta como característica 3940

principal uma variação bem definida no tempo e no espaço, a qual está diretamente associada à forte 3941

variabilidade das condições do ambiente pelágico oceânico (Fonteneau, 1998a, 1998b). É a 3942

heterogeneidade espaço-temporal das características deste ecossistema que condiciona a concentração 3943

das diferentes espécies em um determinado setor e época do ano, onde e quando as condições 3944

oceanográficas são favoráveis ao crescimento, reprodução e alimentação desses importantes recursos 3945

pesqueiros (Fonteneau, 1998b; Travassos, 1999a). 3946

Estudos realizados sobre as principais espécies de atuns capturadas por diversas artes de pesca no 3947

Oceano Atlântico comprovaram que as mudanças climáticas têm afetado não apenas o recrutamento 3948

dessas espécies, mas igualmente sua distribuição e abundância e, em consequência, suas capturas 3949

(Cayré e Brown, 1986; Fonteneau e Roy, 1987; Lehodey et al. 1997; Marsac, 1992; Travassos, 1999a). 3950

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Embora os atuns e outras espécies de grandes peixes pelágicos, como alguns tubarões, sejam espécies 3951

euritérmicas5 (Block e Stevens, 2001), a temperatura da água exerce grande influência nas suas 3952

distribuição e abundância. Entretanto, se as variações espaço-temporais das principais espécies de atuns 3953

são relativamente bem conhecidas e estão associadas, em grande parte, ao ciclo anual da TSM, outros 3954

fatores oceanográficos apresentam também um efeito importante sobre as capturas dessas espécies. 3955

Entre esses parâmetros, a estrutura da termoclina (profundidades do topo e da base, espessura e 3956

gradiente térmico) é provavelmente o mais importante para a pesca, principalmente para aquela 3957

praticada com espinhel. Alterações importantes na TSM e na estrutura da termoclina podem influenciar 3958

diretamente o comportamento dessas espécies, promovendo mudanças nos seus padrões de distribuição 3959

e abundância, com efeitos diretos na atividade pesqueira. As mudanças de TSM também irão afetar a 3960

estrutura e posição geográfica das frentes termohalinas. As frentes tem um marcado papel na 3961

distribuição dos atuns e na sua pesca (Sund, 1981; Olson et al., 1994) . A afinidade de várias espécies 3962

de atuns com as frentes são muito claras aqui no sul de Brasil, particularmente pela influencia exercida 3963

pela Convergência Sub-tropical (Schroeder e Castello, 2007). 3964

Um exemplo desta relação foi observado no Atlântico tropical, no Golfo da Guiné, em decorrência de 3965

importante anomalia climática que ocorreu em 1984 (Piton, 1985; Hisard et al, 1986; Philander, 1986). 3966

De acordo com Fonteneau e Roy (1987), a área adjacente ao cabo Lopez (Gabão), no sudeste do Golfo 3967

da Guiné, é tradicionalmente conhecida como uma importante zona de pesca de atuns com rede de 3968

cerco, cujas capturas anuais variam de 10.000 t a 20.000 t de bonito listrado (Katswuonus pelamis) e 3969

juvenis de albacora laje (Thunnus albacares) e albacora bandolim (Thunnus obesus). Ainda segundo 3970

estes autores, essas capturas elevadas decorrem das condições oceanográficas favoráveis, vigentes de 3971

maio a setembro, principalmente no que se refere à presença de uma frente termohalina (frente do Cabo 3972

Lopez), que separa as águas quentes da Baia de Biafra (mais ao norte) das águas frias das ressurgências 3973

costeiras do Gabão, favorecendo a formação e concentração de cardumes de atuns e as suas capturas 3974

nesta época do ano. Com as fortes alterações ambientais registradas em 1984, foram observadas 3975

anomalias da TSM de até 4oC acima da média climatológica para a região, assim como a ausência total 3976

da ressurgência, responsável pelo enriquecimento biológico desta zona e pela formação da frente 3977

termohalina. Desta forma, nenhuma das condições que se acreditava serem as responsáveis por 3978

promover elevadas concentrações de atuns e bons resultados nas pescarias estava presente naquele 3979

período do ano no Cabo Lopez. Entretanto, as capturas excepcionalmente elevadas de bonito listrado, 3980

com uma média de 9,7 t/dia de pesca (maio a julho), fizeram com que esta espécie contribuísse com 3981

70% da captura total, índice bastante elevado e jamais registrado nesta pescaria, demonstrando que, 3982

pelo menos para esta espécie, outros fatores ambientais e também biológicos interferiram para 3983

promover uma forte abundância da mesma naquele setor (Fonteneau e Roy, 1987). As capturas das 3984

albacoras laje e bandolim juntas, por sua vez, foram bem mais baixas, da ordem de 2,8 t/dia de pesca. 3985

Não se sabe ao certo o que promoveu esta elevada captura do bonito listrado, em detrimento das duas 3986

outras espécies, mas fatores como o aporte de nutrientes dos rios, decorrentes das fortes chuvas que 3987

ocorreram no período, promovendo o enriquecimento biológico do ambiente, uma maior quantidade de 3988

objetos flutuantes trazidos pelos rios (ex. troncos), que agregam e facilitam a captura de atuns, e 3989

também a memória genética da população, podem ter determinado a migração da espécie para o cabo 3990

Lopez, de forma independente das condições ambientais vigentes (Fonteneau e Roy, 1987). 3991

5 Espécies que possuem a capacidade de regular sua temperatura corpórea através de processos fisiológicos e

comportamentais, possuindo certo grau de independência da temperatura da água do mar, ampliando a abrangência espacial

do seu habitat nos oceanos.

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Entretanto, nem sempre os efeitos das mudanças no ambiente pelágico oceânico são favoráveis à 3992

atividade pesqueira. Analisando as anomalias da TSM no Atlântico Sul e a distribuição espaço-3993

temporal da albacora branca (Thunnus alalunga), espécie de atum de águas temperadas, Travassos 3994

(1999b) observou que, embora as fortes anomalias da TSM observadas na área de desova, ao largo da 3995

costa brasileira, não tenham interferido na migração reprodutiva da espécie, provocaram quedas 3996

importantes nos rendimentos da pesca. Tanto a migração de reprodução da albacora branca no 3997

Atlântico Sul6, como a sua migração trófica de retorno às áreas de alimentação em latitudes elevadas, 3998

após a desova, são efetuadas de forma sincronizada com as estações do ano (Travassos, 1999b). Ao 3999

contrário das espécies tropicais de atuns, como o bonito listrado e as albacoras laje e bandolim, que se 4000

reproduzem com maior frequência, dependendo das condições do ambiente (comportamento 4001

oportunista), a albacora branca só realiza a sua reprodução uma vez por ano, em áreas e épocas bem 4002

definidas, onde e quando as condições ambientais são favoráveis à desova (Cury, 1994, 1995). Isto 4003

implica em uma periodicidade regular desses deslocamentos de larga escala, cujo início provavelmente 4004

está associado a um estímulo externo que, em princípio, deve apresentar também essa mesma 4005

periodicidade (Cayré, 1990). Considerando-se que este estímulo seja a temperatura da água do mar, 4006

cujas variações sazonais podem ser acompanhadas pelos deslocamentos das isotermas, a ocorrência de 4007

anomalias positivas ou negativas da TSM poderia provocar um avanço ou um atraso no início das 4008

migrações transoceânicas da albacora branca (Travassos, 1999b; Figura 1). No caso da migração 4009

reprodutiva, seu início ocorre normalmente a partir de agosto/setembro no sul da África (costas da 4010

Namíbia e África do Sul), principal zona de alimentação da albacora branca e concentrações 4011

importantes da espécie podem ser observadas na área de desova, ao largo da costa brasileira, já a partir 4012

de outubro e até fevereiro, quando a temperatura da água na região é adequada à desova. Analisando 4013

mudanças ambientais e a distribuição espaço-temporal da espécie (capturas e índices de abundância) no 4014

Atlântico sul, entretanto, Travassos (1999b) constatou que mesmo as anomalias de TSM mais fortes 4015

registradas no sul da África (1973, 1984 e 1987) não provocaram alterações na migração reprodutiva da 4016

espécie em direção à costa do Brasil, com a mesma se iniciando sempre em agosto/setembro. As 4017

concentrações na zona tradicional de desova de outubro a fevereiro também foram observadas, apesar 4018

das fortes anomalias positivas de TSM registradas. Era de se esperar que estas anomalias provocassem 4019

mudanças no processo migratório da espécie, com a mesma buscando outras áreas onde as condições 4020

ambientais fossem mais favoráveis a sua desova. Entretanto nenhuma captura anormal da espécie, que 4021

pudesse confirmar tais mudanças, foi observada em outras zonas de pesca do Atlântico sul. Estes 4022

resultados mostraram que a albacora branca apresenta um comportamento obstinado, que consiste em 4023

retornar ao local de nascimento para se reproduzir (“homing”; Cury, 1994), independentemente das 4024

condições ambientais vigentes no seu habitat (Travassos, 1999; Figura 1). Entretanto, se a espécie está 4025

sempre presente na área e época da desova ao largo da costa brasileira, como explicar as quedas nas 4026

capturas da albacora branca quando da ocorrência de fortes anomalias positivas da TSM no momento 4027

da reprodução? 4028

O Atlântico sudoeste tropical ao largo da costa brasileira é uma conhecida zona de pesca da espécie, 4029

em decorrência da elevada concentração reprodutiva que ocorre de outubro a fevereiro entre o Recife e 4030

o Rio de Janeiro, a qual está diretamente associada às temperaturas adequadas à desova e ao 4031

desenvolvimento das larvas (Bard, 1988). Nesta área de desova, as condições térmicas de superfície e 4032

subsuperfície são, de uma maneira geral, relativamente estáveis ao longo do ano. Entretanto, 4033

6 A ICCAT (International Commission for the Conservation of Atlantic Tuna), Organização Regional de Ordenamento

Pesqueiro responsável pela gestão das pescarias e conservação das espécies de atuns do Atlântico, considera a existência de

três estoques: o do Mar Mediterrâneo, o do Atlântico Norte e o do Atlântico Sul. Estes últimos estão separados pela latitude

de 5oN.

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aquecimentos anômalos importantes, acima de 2oC, foram registrados durante o período de desova da 4034

espécie, na primavera e verão de 1972/1973, 1973/1974 e 1987/1988 (Travassos, 1999a, 1998b), 4035

associados ao fenômeno El Niño 1972/1973 e 1986/1987 (Rebert e Donguy, 1988; Nicholson, 1997)7. 4036

Estudando os efeitos das alterações ambientais sobre a pesca da albacora branca no Atlântico sul, 4037

Travassos (1999b) observou que a ocorrência destas fortes anomalias positivas da TSM foram as 4038

responsáveis pelas quedas nos rendimentos da pesca durante estes períodos. 4039

É preciso, contudo, conhecer um pouco da ecologia da espécie para melhor entender como estas 4040

alterações ambientais provocaram um efeito negativo sobre as capturas da espécie ao largo do Brasil, 4041

sem interferir na sua migração. Sendo uma espécie temperada, a preferência térmica (faixa de 4042

temperatura ótima) da albacora branca é por águas com temperaturas entre 15oC e 20

oC, embora sua 4043

tolerância seja bem mais ampla, suportando águas que variam de 7oC a 25

oC (Boyce et al., 2008). 4044

Portanto, quando a espécie se encontra nadando em águas quentes da camada de mistura (>25oC) da 4045

zona tropical para se reproduzir, sua temperatura corpórea tende a aumentar significativamente acima 4046

de níveis tolerados pela espécie, causando um desconforto térmico (Figura 2). Se em águas frias a 4047

albacora branca recorre à termorregulação fisiológica, regulando a eficiência de seu sistema trocador de 4048

calor8 para aumentar e manter sua temperatura corpórea em níveis fisiológicos aceitáveis, em águas 4049

quentes superficiais a espécie utiliza a termorregulação comportamental, mergulhando para águas frias 4050

a fim de dissipar o excesso de calor absorvido (Graham e Dickson, 1981; Figura 2). Neste contexto, a 4051

migração da albacora branca para zonas tropicais visa exclusivamente a atender às necessidades 4052

térmicas de ovos e larvas, cujas sobrevivência e desenvolvimento dependem diretamente da 4053

temperatura da água do mar, a qual deve se situar acima de 24oC para garantir o sucesso da desova 4054

(Schaefer, 2001). 4055

Em decorrência destas necessidades, a desova da espécie ocorre na camada de mistura, acima da 4056

termoclina, onde a temperatura da água é elevada. Temperaturas acima de 25oC da camada de mistura, 4057

associadas à própria atividade metabólica da reprodução, vão produzir um excesso de calor corporal 4058

que é necessário eliminar (Travassos, 1999b). Conforme mencionado acima, a albacora branca recorre 4059

aos deslocamentos verticais (Laurs et al, 1980) entre as camadas acima (águas quentes >25oC) e abaixo 4060

da termoclina (águas frias <15oC) para dissipar o excesso de calor adquirido. Em condições normais, 4061

sem aquecimentos atípicos da camada superficial do oceano, a espécie consegue permanecer mais 4062

tempo nos primeiros 100 m de profundidade para efetuar a sua desova. Como os anzóis do espinhel 4063

pelágico empregado nas capturas da espécie se distribuem também nesta faixa de profundidade 4064

(Travassos, 1999b), os rendimentos da pesca são elevados. Entretanto, durante a ocorrência de fortes 4065

anomalias positivas da TSM, a espécie é forçada a realizar com maior frequência estes deslocamentos 4066

verticais, permanecendo mais tempo nas camadas mais profundas, de águas frias, abaixo da termoclina 4067

e fora do alcance dos anzóis do espinhel, dissipando o excesso de calor corpóreo, o que explica as 4068

quedas nas suas capturas (Figura 3). É importante salientar, entretanto, que se as anomalias positivas 4069

afetam negativamente a atividade reprodutiva dos adultos da espécie, é provável que, em decorrência 4070

das necessidades térmicas de ovos e larvas, um aumento na temperatura da água favoreça a 4071

7 Embora o El Niño 1982/1983 tenha sido considerado mais forte que estes (força 5, segundo Rebert e Donguy, 1988),

anomalias positivas da TSM associadas a ele só foram observadas na área de desova da albacora branca a partir de fevereiro

de 1984, já no fim do período de reprodução da espécie, não apresentando, portanto, influencia nos resultados da pesca da

espécie. Os efeitos decorrentes deste El Niño no Atlântico tropical foram muito intensos no lado leste da bacia, no interior

do Golfo de Guiné, promovendo alterações ambientais muito mais severas no primeiro semestre de 1984, conforme

mencionado acima (Fonteneau e Roy, 1987).

8 Sistema de vasos sanguíneos (artérias e veias) dispostos em contracorrente, permitindo a troca de calor entre eles (Graham

e Dickson, 2001).

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sobrevivência e o desenvolvimento larvar, garantindo o sucesso da desova. Estes aspectos precisam ser 4072

melhor estudados, incluindo os possíveis efeitos negativos provocados por quedas na temperatura da 4073

água. 4074

Outra questão ambiental não menos importante são as prováveis modificações que possam vir a 4075

ocorrer no regime de correntes marinhas, em decorrência das mudanças climáticas globais (Herr e 4076

Galland, 2009). Caso estas modificações envolvam a Corrente Sul Equatorial (CSE) no Atlântico, 4077

certamente alterações importantes também ocorrerão na delimitação setentrional da área de desova da 4078

albacora branca do Atlântico sul. Ao se aproximar da costa brasileira entre 5oS e 10

oS, a CSE se 4079

bifurca, formando a Corrente Norte do Brasil (CNB), que se desloca ao longo da costa nordeste e norte 4080

do País em direção ao mar do Caribe, e a Corrente do Brasil (CB), que segue para o sul, se encontrando 4081

com águas da Corrente das Malvinas em torno da latitude de 36oS (Francisco e Silveira, 2004). Esta 4082

bifurcação da CSE desempenha um papel ecológico de grande relevância para a albacora branca, 4083

definindo o limite norte da sua zona de reprodução (Travassos, 1999b). Caso a desova ocorra acima 4084

deste limite, as larvas serão transportadas pela CNB em direção ao hemisfério norte, alimentando, 4085

assim, o estoque da albacora branca do norte. Para que atividade reprodutiva da espécie alcance seu 4086

objetivo de manter a biomassa do estoque do sul, a desova deve ocorrer ao sul desta bifurcação, cujas 4087

águas serão transportadas para o sul, através da CB, que também desempenha um papel ecológico 4088

importante para a albacora branca, transportando suas larvas de uma zona extremamente oligotrófica, 4089

onde ocorre a desova, para zonas ricas em alimento, em latitudes mais elevadas (Travassos, 1999b). 4090

Alterações neste regime de correntes associadas às mudanças climáticas, certamente teriam um efeito 4091

negativo sobre atividade reprodutiva da albacora branca, principalmente no que se refere à delimitação 4092

da sua área de desova e ao transporte de larvas para zonas ricas em alimento do Atlântico sul. 4093

Outro exemplo da influência das variações climáticas na pesca de grandes peixes pelágicos pode ser 4094

observado para o espadarte (Xiphias gladius). Estudando a ecologia desta espécie no Atlântico Sul, 4095

Hazin (2006) observou um decréscimo importante nos valores de CPUE (captura por unidade de 4096

esforço de pesca) em áreas com anomalias positivas da TSM acima de 1°C. Segundo o autor, esta 4097

queda na CPUE estaria relacionada diretamente com os deslocamentos horizontais e verticais que a 4098

espécie realiza em busca de condições termicamente favoráveis, alterando suas distribuição e 4099

abundância e assim, os rendimentos da pesca. Hazin e Erzini (2008) observaram que as anomalias de 4100

TSM parecem influenciar apenas os jovens, em função de serem estes mais termodependentes do 4101

ambiente e, portanto, mais vulneráveis às alterações da TSM. Estes mesmos autores identificaram que 4102

jovens da espécie (<125 cm de comprimento MIF9) apresentam uma distribuição vertical e horizontal 4103

bastante restrita, com temperatura da água acima de 25oC, localizando-se em áreas tropicais próximas 4104

da costa e de bancos e ilhas oceânicas, consideradas como áreas de alimentação e desenvolvimento. 4105

Esses autores observaram também que indivíduos entre 130 e 170 cm de comprimento utilizam a zona 4106

oceânica equatorial do Atlântico para amadurecimento gonadal, antes de migrarem para fins 4107

reprodutivos e tróficos na direção de latitudes elevadas (Amorim e Arfelli, 1979; Arfelli, et al. 1997; 4108

Hazin e Erzini, 2008). 4109

Entretanto, os efeitos da elevação da temperatura dos oceanos sobre os diferentes representantes de 4110

vida marinha não se restringem apenas as suas distribuição e abundancia. Diversos aspectos da biologia 4111

das diferentes espécies são afetados, em maior ou menor grau. Mudanças importantes nas taxas de 4112

crescimento de mortalidade natural, no tamanho de primeira maturação sexual e fecundidade, no 4113

recrutamento, nos deslocamentos para fins reprodutivos, assim como na esperança de vida e na 4114

9 MIF - Medida entre a extremidade da mandíbula inferior até a furca da nadadeira caudal.

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produção de biomassa dos seus estoques, entre outros fatores, tem sido reportados para diferentes 4115

espécies de regiões polares, temperadas e tropicais (Roessig et al., 2004). Embora realizado em zona 4116

estuarina, o trabalho de Schroeder e Castello (2010), abordando os efeitos das mudanças climáticas 4117

sobre os recursos pesqueiros da Lagoa dos Patos (RS), evidencia também as consequências, positivas e 4118

negativas dessas mudanças, como o aumento da temperatura da água sobre diversos aspectos da 4119

biologia das principais espécies capturadas na região. 4120

No caso da maricultura, algumas atividades poderão ser beneficiadas, enquanto outras prejudicadas 4121

com o aquecimento marinho. Espécies como o mexilhão, Perna perna, nativo de águas brasileiras e 4122

cultivado na costa sudeste do País, poderão ter a sua taxa de crescimento elevada e área favorável ao 4123

cultivo expandida, enquanto outras, como a ostra japonesa, Crassostrea gigas, adaptada a águas mais 4124

frias, poderão ter o seu cultivo em águas brasileiras comprometido (CGEE, 2007). No caso da 4125

carcinicultura do Litopenaeus vannamei, praticada principalmente na costa nordestina, um aquecimento 4126

da temperatura poderá tanto beneficiar a atividade, a partir da aceleração do crescimento e 4127

abreviamento do ciclo de cultivo, como acarretar prejuízos decorrentes de uma maior incidência de 4128

doenças, decorrente da proliferação facilitada de micro-organismos patológicos em águas mais quentes, 4129

associada a um maior nível de estresse a que os camarões estarão submetidos em razão do aumento da 4130

taxa metabólica e da redução da solubilidade do oxigênio dissolvido. 4131

Neste contexto, a produtividade da atividade pesqueira, tanto da pesca como da aquicultura, tem sido e 4132

serão cada vez mais afetadas, em diversas partes do mundo, pelas alterações no ambiente oceânico 4133

decorrentes das mudanças climáticas, as quais, na maioria das vezes, mas nem sempre, como veremos 4134

no item a seguir, acarretam efeitos negativos para a atividade. O monitoramento ambiental dos 4135

oceanos, portanto, associado a um melhor conhecimento das respostas dos organismos marinhos aos 4136

efeitos das mudanças climáticas poderão, certamente, ajudar na tomada de decisões e na adoção de 4137

medidas que contribuam para minimizar estes efeitos. 4138

4.4.3. Estratégia de adaptação 4139

As alterações ambientais nos oceanos decorrentes das mudanças climáticas tem, em maior ou menor 4140

grau, afetado os organismos marinhos e, em consequência, a atividade pesqueira. Estudos realizados 4141

sobre os efeitos das mudanças climáticas na distribuição de organismos marinhos têm demonstrado que 4142

peixes e invertebrados tendem a se deslocar para latitudes elevadas e camadas mais profundas do 4143

oceano, como resposta às mudanças do ambiente em que vivem, principalmente no se refere ao 4144

aumento da temperatura da água (Perry et al, 2005; Dulvy et al, 2008). Estudo realizado por Cheung et 4145

al (2009) demonstrou que as mudanças climáticas podem promover uma redistribuição em larga escala 4146

do potencial de captura de várias espécies, com um aumento de 30% a 70% em regiões de altas 4147

latitudes e quedas acima de 40% nos trópicos (Figura 4). Os autores basearam-se em dois cenários 4148

climáticos distintos para as projeções de seus modelos: um com elevada emissão de gases do efeito 4149

estufa, com concentração de CO2 de 720 ppm em 2100 (cenário 1), e outro, de baixa emissão de gases, 4150

da ordem de 365 ppm, nível da concentração de CO2 no ano 2000 (cenário 2). Os resultados deste 4151

trabalho mostraram que embora o potencial máximo de captura (PMC) global não tenha praticamente 4152

alterado entre 2005 e 2055 (1%), escala temporal definida para as projeções, as mudanças climáticas 4153

poderão promover alterações importantes na distribuição espacial do PMC, principalmente entre as 4154

regiões tropicais e temperadas. De uma maneira geral, boa parte das zonas costeiras terá seu PMC 4155

reduzido de 15% a 50%, com uma queda ainda maior no entorno da Antártica (acima de 50%), quando 4156

considerou o cenário 1. Por outro lado, um aumento de mais de 50% no PMC poderá ser observado nas 4157

latitudes elevadas, com maior evidência nas zonas oceânicas ao norte do Pacífico e Atlântico e também 4158

no oceano austral, no entorno da latitude de 50oS (Figura 4). Os resultados por faixas de latitude no 4159

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oceano Atlântico mostraram que as perdas e ganhos no PMC nas latitudes tropicais serão da ordem de 4160

10% (Figura 5), mas podem chegar a valores entre 15% e 50% do lado oeste tropical, ao largo da costa 4161

brasileira. Nos três oceanos, as zonas costeiras, sobre a plataforma continental, sofrerão os maiores 4162

impactos, com reduções do PMC nas regiões situadas entre 50oN e 50

oS, chegando a até 25% no 4163

equador (Figura 6). A análise do PMC por Zona Econômica Exclusiva (ZEE) mostrou novamente que 4164

alguns países situados em altas latitudes terão aumento do seu potencial de captura, enquanto a maioria 4165

dos países tropicais e subtropicais sofrerá um decréscimo. Entre os 20 países com capturas mais 4166

elevadas na ZEE no ano 2000, a Rússia e os Estados Unidos (Alaska) apresentaram um aumento do 4167

PMC de cerca de 20% no Pacífico, enquanto países como Islândia e Noruega, no Atlântico, 4168

apresentaram um aumento de 18% e 45%, respectivamente, entre 2005 e 2055, sob o cenário de 4169

elevada emissão de gases do efeito estufa (Figura 7). Países tropicais e subtropicais apresentaram as 4170

maiores quedas (Indonésia) para este mesmo cenário, com o Brasil diminuindo em 6% seu PMC em 4171

2055. Estes resultados mostram que as mudanças climáticas podem ter um impacto considerável sobre 4172

a redistribuição espacial do PMC, a qual está associada, em grande medida, aos deslocamentos das 4173

diferentes espécies provocados pelo aquecimento das águas dos oceanos. Um possível exemplo desse 4174

fenômeno pode ser encontrado no crescente nível de abundância relativa do atum azul no Golfo de 4175

Saint Lawrence, no Canadá, nos últimos anos (Vanderlaan, 2011), apesar da condição sobre-explotada 4176

do estoque e tendências estáveis ou declinantes de captura ao longo da última década, a exemplo do 4177

Golfo do México. 4178

Neste contexto, considerando-se o cenário atual das mudanças climáticas e as diferentes projeções 4179

realizadas até o final do século XXI, faz-se necessária a implantação de um sistema de informações 4180

climáticas e oceânicas no Brasil, com o objetivo de acompanhar de forma contínua a evolução espaço-4181

temporal de diferentes parâmetros ambientais e processos resultantes das interações entre a atmosfera e 4182

o oceano. Este sistema permitiria avaliar com mais eficiência e rapidez as reações dos organismos 4183

marinhos a estas mudanças climáticas, principalmente no que se refere aos seus padrões de distribuição 4184

e abundancia, com ênfase nos recursos pesqueiros explorados ao largo da costa brasileira, na sua ZEE 4185

ou em águas internacionais adjacentes. Um programa de monitoramento pesqueiro e biológico das 4186

principais espécies conhecidas e exploradas pela pesca ao longo da costa brasileira seria parte 4187

complementar deste sistema. 4188

No caso do ecossistema oceânico, devido ao elevado custo operacional para obtenção de variáveis 4189

ambientais in situ, por prospecção oceanográfica, o uso de sensores remotos orbitais para se estimar 4190

parâmetros oceanográficos tem despontado como uma alternativa extremamente útil, não apenas em 4191

razão de sua grande abrangência espaço-temporal, apresentando dados de forma sinótica e diária de 4192

vastas zonas oceânicas, mas também pelo custo relativamente baixo de acesso aos dados, muitos dos 4193

quais se encontram disponíveis ao público, sem qualquer ônus. Esse recobrimento espacial e temporal é 4194

de extrema importância para o acompanhamento da evolução espaço-temporal de parâmetros 4195

oceanográficos que possam vir a influenciar a biologia populacional e a distribuição e abundancia de 4196

diversas espécies, incluindo aquelas de interesse para a pesca (Zagaglia, 2003), particularmente em um 4197

cenário de mudança climática. 4198

4.4.4. Conclusão 4199

Muito ainda precisa ser compreendido sobre as mudanças climáticas e seus efeitos sobre os oceanos e 4200

os seres que neles habitam, principalmente no que se refere aos recursos pesqueiros, em decorrência de 4201

sua importância socioeconômica a nível mundial. É certo que, na maioria dos casos, tem se dado ênfase 4202

aos efeitos negativos das alterações ambientais provadas pelas mudanças climáticas. Considera-se, por 4203

exemplo, que o aumento da temperatura e da acidificação da água do mar impactará negativamente os 4204

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ecossistemas marinhos e também a pesca, com a biota marinha sofrendo perdas significativas de 4205

diversidade, com comprometimentos tão sérios quanto difíceis de prever. Menciona-se ainda que a 4206

redução potencial da produtividade biológica marinha implicará no empobrecimento quantitativo e 4207

qualitativo dos oceanos, com impactos significativos na atividade pesqueira e, consequentemente, na 4208

segurança alimentar. Falhas de recrutamento e reduções de abundância dos estoques pesqueiros 4209

explotados tenderão a agravar ainda mais a já delicada situação dos mesmos, com o acirramento da 4210

sobrepesca, colocando a atividade frente ao enorme desafio de atender à crescente demanda de 4211

alimentos de origem marinha, com um potencial produtivo cada vez mais reduzido. 4212

É importante salientar, entretanto, que embora, na maioria dos casos, os efeitos das mudanças 4213

climáticas apontem para um cenário negativo, há muitas incertezas sobre a questão que precisam ser 4214

melhor avaliadas. Aspectos positivos decorrentes de mudanças no ambiente poderão também ocorrer, 4215

conforme relatado acima, com estudos que apontam para um aumento da produção pesqueira em 4216

algumas regiões, em decorrência de alterações nos padrões de distribuição e abundância de algumas 4217

espécies, entre outros aspectos da sua biologia. 4218

Neste contexto, as respostas a essas questões certamente não poderão ser encontradas nem construídas 4219

sem a realização de pesquisas que permitam aprofundar os conhecimentos sobre as conexões entre a 4220

atmosfera e o oceano, principalmente no que se refere aos efeitos das mudanças climáticas sobre este 4221

ecossistema e seus habitantes. 4222

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131

4.5. “Sistema alimentar e segurança” 4387

4.5.1.Introdução 4388

O Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) é o sistema público criado pela Lei nº 4389

11.346/2006 - Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) para articular e gerir as 4390

políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). A exemplo de outros sistemas 4391

públicos, o SISAN tem a responsabilidade de articular e promover as relações gerenciais entre todos os 4392

entes federados, sendo que todos devem ter como meta comum a realização plena do Direito Humano à 4393

Alimentação Adequada (DHAA). 4394

A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e 4395

permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras 4396

necessidades essenciais, tendo, como base, práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a 4397

diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis (LOSAN, art. 3º). 4398

A maioria dos indicadores analisados no Relatório do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e 4399

Nutricional (CONSEA) divulgados em 2010 apresentam avanços importantes na realização do DHAA 4400

no país entre a promulgação da Constituição Federal de 1988 e os dias atuais. Destaque foi dado no 4401

Relatório ao período que se inicia em 2003 até meados de 2010, no qual o Governo Lula colocou a 4402

superação da fome e a promoção da segurança alimentar e nutricional em posição central na agenda 4403

governamental. Com isso, o Brasil é hoje um dos países em que o número de pessoas em insegurança 4404

alimentar vem diminuindo progressivamente. No entanto, o Relatório destaca que persistem desafios 4405

históricos para a plena realização do DHAA no país, como a concentração de terra, as desigualdades 4406

(de renda, étnica, racial e de gênero), a insegurança alimentar e nutricional dos povos indígenas e 4407

comunidades tradicionais, entre outros. Além disso, novos desafios emergiram na sociedade brasileira: 4408

o Brasil é o maior comprador de agrotóxicos do mundo; existe um risco ainda não mensurável com a 4409

liberação das sementes transgênicas; instalou-se uma epidemia da obesidade; e houve o aumento do 4410

consumo de alimentos com alto teor de sal, gordura e açúcar (CONSEA, 2010). Também existem os 4411

riscos enfrentados pelo setor agropecuário devido às mudanças climáticas iminentes. 4412

No Brasil, estudos foram feitos sobre os impactos das mudanças climáticas na agricultura. 4413

Recentemente, Assad et al. (2007), Hamada et al. (2008), Nobre et al. (2005), Pinto et al. (2007, 2008) 4414

and Zullo Jr et al. (2006, 2011) elaboraram estudos detalhados sobre o futuro da agricultura brasileira 4415

em função dos cenários previstos para o clima regional. Pinto et al. (2008) concluíram que o 4416

aquecimento global poderá colocar em risco a produção de alimentos no Brasil, caso nenhuma medida 4417

mitigadora e de adaptação seja realizada. 4418

A Tabela 4.5.1 foi adaptada de Pinto et al. (2008) e mostra as possíveis alterações na produção agrícola 4419

brasileira em função do aquecimento global. Os resultados foram obtidos por estudos desenvolvidos 4420

pela EMBRAPA e UNICAMP utilizando o cenário A2 do IPCC. 4421

Tabela 4.5.1 – Alterações futuras nas áreas cultivadas com produtos agrícolas em função do cenário A2 do IPCC 4422 (adaptada de Pinto et al., 2008). 4423

Cultura Área Potencial Atual Área Potencial em 2020 Variação

(Km2) (%)

Algodão 4.029.507 3.583.461 -11,07

Arroz 4.168.806 3.764.488 -09,70

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132

Café 395.976 358.446 -09,48

Cana-de-açúcar 619.422 1.609.010 159,76

Feijão 4.137.837 3.957.481 -04,36

Girassol 4.440.650 3.811.838 -14,16

Mandioca 5.169.795 5.006.777 -03,16

Milho 4.381.791 3.856.839 -11,98

Soja 2.790.265 2.132.001 -23,59

4424

A utilização de novas práticas de manejo agrícola tem contribuído para a superação de problemas 4425

ocasionados por extremos climáticos, como por exemplo, na defesa contra geadas que incidam sobre o 4426

cafeeiro ou a adoção de cultivares mais tolerantes à seca em culturas não irrigadas. O desenvolvimento 4427

de novas tecnologias agrícolas, além de promover a redução na emissão dos Gases de Efeito Estufa 4428

(GEEs), deve promover o aumento da produtividade das culturas. A associação de transformações 4429

tecnológicas em sistemas de produção com ações de monitoramento e controle de externalidades, como 4430

o desmatamento e uso pouco eficiente das terras, representa uma possibilidade para mudar uma 4431

tendência global da atividade produtiva. Pode-se admitir que a agricultura brasileira deixará de ser 4432

acusada como uma das principais responsáveis pelo aquecimento global e passará ser considerada 4433

como uma mitigadora eficaz do problema, num futuro muito próximo. 4434

Numa conjuntura brasileira marcada pelo aumento da renda familiar, a tendência é de elevação da 4435

demanda por alimentos no país. Contudo, o ritmo de crescimento da produção agrícola, em grande 4436

medida destinada à exportação, é muito superior ao da produção de alimentos destinados ao consumo 4437

interno. No período 1990-2008, a produção de cana-de-açúcar cresceu 146% e a de soja, 200%, 4438

enquanto o crescimento da produção de feijão foi de 55%; de arroz, 63%; e de trigo, 95% (CONSEA, 4439

2010). 4440

A área plantada com grandes monoculturas avançou consideravelmente em relação à área ocupada 4441

pelos cultivos da agricultura familiar, mais diversificados e com produtos direcionados ao 4442

abastecimento interno. Apenas quatro culturas de larga escala (milho, soja, cana e algodão) ocupavam, 4443

em 1990, quase o dobro da área total ocupada por outros 21 cultivos. A monocultura cresceu não só 4444

pela expansão da fronteira agrícola, mas também pela incorporação de áreas destinadas a outros 4445

cultivos. A agricultura familiar destina quase a totalidade de sua produção ao mercado interno, 4446

contribuindo fortemente para garantir a segurança alimentar e nutricional dos brasileiros. Em 2006, os 4447

agricultores familiares forneciam 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 4448

46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo, 58% dos leites de vaca e cabra, e 59% do 4449

plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos. Além disso, absorve 75% de toda a população 4450

ocupada em estabelecimentos agropecuários no país: 16,5 milhões de pessoas. O potencial de geração 4451

de renda da agricultura familiar se revela no fato de responder por 33% do total das receitas e 38% do 4452

valor da produção, mesmo dispondo de apenas cerca de 25% da área total e ter acesso a 20% do crédito 4453

oferecido ao setor. O fortalecimento da agricultura familiar e do agroextrativismo é estratégico para a 4454

soberania e segurança alimentar e nutricional da população (CONSEA, 2010). 4455

Os dados históricos da produção brasileira revelam uma elevada especialização e concentração da 4456

produção em poucos Estados, o que, somadas às dificuldades de infraestrutura e de logística, com 4457

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grandes perdas no transporte e na pós-colheita, eleva os gastos públicos com despesas de carregamento 4458

de grãos e transporte para os centros consumidores. 4459

Diante desse quadro, procura-se analisar aqui os possíveis impactos das mudanças climáticas, e as 4460

perspectivas de adaptação a eles, sobre duas vertentes principais da segurança alimentar: o sistema de 4461

produção de alimentos e os sistemas de armazenamento, distribuição e acesso aos alimentos. Ainda, 4462

sempre que possível, procura-se analisar os temas de forma integrada e suas correlações com outros 4463

setores como disponibilidade de terra e água, produção de bioenergia, infraestrutura de distribuição e 4464

armazenamento. 4465

4.5.2.Produção de alimentos e sua interação com as mudanças 4466

climáticas 4467

4.5.2.1.Cenários de demanda e oferta de terras 4468

Santana et al. (2011), no documento intitulado “Foresight Project on Global Food and Farming Futures 4469

- Regional case study: Productive capacity of Brazilian agriculture: a long-term perspective”, 4470

apresentam uma caracterização interessante do sistema brasileiro de produção de alimentos, realizando 4471

projeções de demandas e analisando a capacidade do país de atendê-las, considerando inclusive as 4472

projeções de alterações na área potencial futura de diversas culturas realizadas por Pinto et al. (2008). 4473

Partes de suas conclusões são traduzidas a seguir. 4474

Segundo os autores, “a perspectiva de longo prazo da capacidade produtiva agrícola do Brasil é 4475

bastante positiva. A produção das culturas selecionadas e gado de corte deve aumentar 4476

substancialmente nos maiores estados produtores durante os próximos 20 anos, sem provocar uma 4477

pressão muito forte sobre a expansão de terras, ameaçar a sustentabilidade ambiental e aumentar a 4478

perda de recursos de biodiversidade. 4479

O panorama da produção doméstica destes produtos aponta na direção de aumentos maiores neste 4480

período, atingido níveis de produção de grãos, cana-de-açúcar, café e gado de corte substancialmente 4481

mais altos em 2030 que na média de 2007-2009 (ou seja, entre 47% e 68%, dependendo do produto). 4482

Ademais, sinaliza que, com exceção do trigo, o crescimento do consumo doméstico destes produtos 4483

deverá ser mais do que atendido pelos níveis esperados de produção. O excesso de produção deverá 4484

permitir ao país continuar a desempenhar um papel importante nos mercados internacionais de soja, 4485

açúcar, café, algodão e carne. 4486

Um aspecto digno de nota por trás deste desempenho é que, sob um cenário de manutenção das 4487

tendências de produção do passado, a ‘área líquida’ total necessária para produzir o volume estimado 4488

de produção das culturas selecionadas em 2010-2030 deveria crescer a uma taxa média anual muito 4489

menor que aquela observada em 2000-2009, isto é, 1,1% em comparação com 3,3%, respectivamente. 4490

A perspectiva para o crescimento dos níveis de produção com menor pressão sobre a expansão de 4491

terras, maior sustentabilidade ambiental e perda limitada de biodiversidade é ainda reforçada por 4492

diversos aspectos, incluindo a possibilidade de materialização de um cenário de maior produtividade 4493

das culturas. O total de ‘área líquida’ necessária para produzir o volume estimado para as culturas 4494

selecionadas no conjunto de 18 estados em 2030 deverá ser de 50 milhões de hectares e 37,5 milhões 4495

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de hectares, respectivamente, nos cenários um e dois10

. A diferença entre estas estimativas destaca o 4496

efeito ‘poupador de terras’ (spare-land effect) resultante de produtividades mais elevadas. 4497

A análise aqui realizada acende uma ‘luz amarela’ que demanda atenção a respeito dos impactos 4498

negativos que um eventual aumento nas temperaturas mundiais poderá ter em três culturas importantes 4499

para o consumo interno do Brasil e de comércio exterior: trigo, café e soja.” 4500

Assim como no trabalho de Santana et al. (2011), um consenso parece existir entre aqueles que 4501

produzem cenários e projeções de demanda para os itens da agricultura nacional: a de que ela deverá 4502

crescer nas próximas décadas, puxada pelas taxas de crescimento dos países emergentes (FAO, 2011; 4503

USDA, 2011; MAPA, 2011). Diversos fatores condicionam este cenário de demanda crescente. 4504

Segundo a FAO (2011), os preços internacionais estão num patamar nunca visto e isto se deve a uma 4505

complexa rede de fatores, a saber: intempéries climáticas, redução dos estoques mundiais de milho, 4506

arroz, trigo e soja, pressão dos biocombustíveis, aumento da renda mundial e aumento da população. 4507

Dados do CEPEA/USP (2011) indicam que o preço médio nominal do açúcar no biênio 2010-2011 foi 4508

108% superior ao preço histórico; o preço da arroba do boi foi de 63% e, da saca de soja, 29%. A 4509

mesma tendência de alta da demanda mundial, acompanhada pela manutenção dos preços em 4510

patamares elevados, foi projetada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 4511

2011). 4512

Ainda segundo CEPEA/USP (2011), o mercado interno é expressivo para os produtos agropecuários, e 4513

o mercado internacional, em particular nos países emergentes, tem apresentado acentuado crescimento 4514

do consumo. Países superpopulosos terão dificuldades de atender às demandas devido ao esgotamento 4515

de suas áreas agricultáveis. As dificuldades de reposição de estoques mundiais, o acentuado aumento 4516

do consumo especialmente de grãos como milho, soja e trigo e o processo de urbanização em curso no 4517

mundo criam condições favoráveis aos países como o Brasil, que têm imenso potencial de produção e 4518

tecnologia disponível. 4519

No caso da agricultura, estas projeções são mais bem formuladas para a agricultura voltada para o 4520

mercado externo do que para a agricultura de abastecimento interno ou a familiar. Isto devido às 4521

incertezas do processo de inclusão social dos dias atuais e das demandas oriundas deste processo. 4522

Os próximos anos serão ainda caracterizados por um cenário de retração da economia mundial e, como 4523

consequência, de redução da demanda por produtos manufaturados. Mesmo assim, o agronegócio 4524

brasileiro tem grande potencial de crescimento puxado principalmente pelos países emergentes e pelo 4525

crescimento da demanda interna. 4526

Apesar de o Brasil apresentar, nos próximos anos, forte aumento das exportações, o mercado interno 4527

continuará sendo um fator importante de crescimento. Em 2020, 65% da produção de soja deverão ser 4528

destinados ao mercado interno, e, no milho, 85% da produção deverão ser consumidos internamente. 4529

Haverá, assim, uma dupla pressão sobre o aumento da produção nacional, devida ao crescimento do 4530

mercado interno e das exportações do país. 4531

Nas carnes, também haverá forte pressão do mercado interno. Em 2020, serão necessários, para 4532

abastecer o mercado interno, 67% do aumento previsto na produção de carne de frango, 83% da carne 4533

10 No texto original de Santana et al. (2011), traduzido aqui a partir do documento intitulado “Foresight Project on Global

Food and Farming Futures - Regional case study: Productive capacity of Brazilian agriculture: a long-term perspective”, o

“cenário um” considera a continuidade das tendências passadas e o ”cenário dois” reflete a possibilidade de observação de

maiores produções.

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bovina e 81% da carne suína. Deste modo, embora o Brasil seja, em geral, um grande exportador de 4534

vários desses produtos, o consumo interno é predominante o destino da produção (MAPA, 2011). 4535

A tendência histórica de inclusão tecnológica na agricultura brasileira já pode ser percebida nos dados 4536

censitários das últimas décadas (IBGE, 2007). Tanto na agricultura como na pecuária, as séries 4537

históricas indicam baixa correlação linear direta entre o aumento da produção e da área plantada. Ou 4538

seja, enquanto se segue acumulando incrementos de produção, não se observa uma incorporação 4539

equivalente de novas áreas agrícolas (Figura 1). Isto é visto por alguns especialistas como uma 4540

mudança para um patamar mais virtuoso na agricultura nacional. 4541

4542

Figura 4.5.1. Série histórica da produção de grãos e pecuária e área equivalente. Fonte IBGE, 2007. 4543

É necessário ter sempre em conta que os métodos de projeção de demanda não conduzem a resultados 4544

perfeitos e a chance de erros aumenta à medida que se avança na projeção de futuros mais distantes. 4545

Devem-se considerar também a dinâmica e as mudanças dos mercados, que continuamente oferecem 4546

uma gama enorme de fatores aleatórios, que as projeções não conseguem captar. 4547

As projeções de demanda apresentadas a seguir se apoiam também em métodos qualitativos, baseados 4548

no julgamento de entidades de classe, que tenham condições de opinar sobre as demandas futuras. 4549

Estas não se apoiam em nenhum modelo matemático, embora possam ser conduzidas de maneira 4550

sistemática. Considerou-se ainda as projeções de demanda oriundas de métodos quantitativos, baseadas 4551

em modelos econométricos, apoiados nas demandas históricas para se chegar a uma previsão futura. 4552

Todas as demandas foram expressas em unidade de área (hectares) e embutem as expectativas do 4553

mercado interno e externo, além de previsões de ganhos de produtividade motivadas pelas inovações 4554

tecnológicas. 4555

As estimativas realizadas pelo MAPA (2011) até 2020 são de que a área total plantada com lavouras 4556

deverá passar de 62 milhões de hectares em 2011 para 68 milhões em 2020. Um acréscimo de 8 4557

milhões de hectares. Essa expansão de área estará concentrada na soja, mais 5,3 milhões de hectares, e 4558

na cana-de-açúcar, mais 2,0 milhões. As previsões feitas pela Abiove (2010) são mais conservadoras e 4559

prevêem um crescimento da ordem de 4 milhões de hectares no mesmo período, enquanto que a Unica 4560

(2010) prevê um incremento de área plantada de 5 a 6 milhões de hectares, atendendo principalmente 4561

um crescimento do setor alcooleiro. A expansão das áreas de soja e cana-de-açúcar deverá ocorrer pela 4562

incorporação de áreas novas e também pela substituição de outras atividades agropecuárias que deverão 4563

ceder área. Com relação à expansão da produção voltada para biocombustíveis, é importante mencionar 4564

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136

a elaboração do Zoneamento da Cana de Açúcar11

, lançado pelo Ministério da Agricultura e 4565

Abastecimento, por meio do qual a Embrapa e parceiros levantaram as áreas aptas para o plantio da 4566

cultura, protegendo áreas de matas nativas e de bacias, visando, também, a preservação da produção 4567

alimentar. 4568

O milho deverá ter uma expansão de área por volta de 500 mil hectares e as demais lavouras analisadas 4569

mantêm-se praticamente sem alterações ou perderão área, como o café, arroz e laranja, entre outros. 4570

Para diversas culturas, o aumento de produção projetado decorre principalmente de ganhos de 4571

produtividade e incorporação tecnológica. 4572

Segundo dados da ABRAF (2010), o país possui aproximadamente 6,8 milhões de florestas plantadas. 4573

Estas florestas atendem, em boa parte, as demandas da matriz de papel e celulose, para os mercados 4574

interno e externo. O Plano Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC) apresenta o incentivo às 4575

atividades de reflorestamento como uma das metas para eliminar a perda líquida da área de cobertura 4576

florestal no Brasil até 2015, focando reduzir de forma significativa o desmatamento. Conforme é 4577

apresentado neste documento, o “intuito é expandir a área de florestas plantadas no Brasil dos atuais 4578

6,5 milhões de hectares para 12 milhões de hectares em 2020, sendo 2 milhões de hectares com 4579

espécies nativas, promovendo o plantio prioritariamente em áreas de pastos degradados, visando à 4580

recuperação econômica e ambiental destas”. Entidades representantes do setor (ABRAF e 4581

BRACELPA) preveem um crescimento da ordem de 7,5 milhões de hectares nos próximos 10 anos. 4582

A despeito dos significativos avanços tecnológicos, imensas porções do território foram incorporadas 4583

às diversas atividades produtivas, cumprindo assim sua vocação para a produção de biomassa para 4584

múltiplos fins. Mais de um terço do território nacional foi incorporado às atividades agropecuárias, 4585

perfazendo algo em torno de 320 milhões de hectares (IBGE, 2006). A pecuária se destaca como 4586

grande mobilizadora de terras (~170 milhões ha), vinculada a uma prática extensiva e com baixos 4587

níveis de produtividade, em desacordo com o potencial das terras (Barioni12

, 2011). Segundo dados do 4588

último censo agropecuário (IBGE, 2006), as áreas de pecuária cujo índice de lotação (cabeças/ha) não 4589

ultrapassa o valor de uma unidade perfazem um total aproximado de 90 milhões de hectares, dispersos 4590

pelo Brasil. 4591

Dados históricos indicam que esta tendência de intensificação da atividade pecuária já ocorre no Brasil, 4592

podendo ganhar mais velocidade se políticas públicas revigorantes forem implementadas. Esta 4593

transformação da atividade pecuária, além de atenuar a dinâmica da fronteira agrícola nacional, poderá 4594

oferecer parte do seu “estoque de terras” para novos arranjos produtivos, seja para uma pecuária mais 4595

intensiva e eficiente, seja a integração e uso parcial das terras para outras atividades agrícolas e/ou 4596

florestais. Sparovek et al. (2010) estimam que, ao menos, 57 milhões de hectares da pecuária possuem 4597

alto potencial produtivo para a agricultura. 4598

Cenários futuros colhidos junto a especialistas do setor (GTPS13

, 2010) indicam que nas próximas 4599

décadas, como resultado da intensificação da atividade pecuária, esta deverá disponibilizar um grande 4600

conjunto de terras para outros usos agrícolas, dispersas pelo território e que poderão atender demandas 4601

11

Decreto 6961/2009, aprovou o zoneamento da cana-de-açúcar e determinou ao Conselho Monetário Nacional o

estabelecimento de normas para as operações de financiamento ao setor sucroalcooleiro. 12

Luiz Gustavo Barioni, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, comunicação pessoal.

13 GTPS - Grupo de Trabalho (GT) da Pecuária Sustentável foi criado no final de 2007 e formalmente constituído em junho

de 2009. É formado por representantes de diferentes segmentos que integram a cadeia de valor da pecuária bovina no

Brasil.; comunicação pessoal de seus representantes.

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diferentes e novas. Os cenários formulados pelos representantes da pecuária (CNPC14

, ABIEC15

, 2010) 4602

prevêem que, graças à intensificação e introdução de tecnologias, o setor deverá disponibilizar uma 4603

área equivalente a 70-85 milhões de hectares, dispersos pelo território nacional. Estes podem, dentro de 4604

uma estratégia nacional de planejamento territorial, atender à totalidade das demandas projetadas pelos 4605

diferentes setores (grãos, cana-de-açúcar e florestas plantadas). Paira uma incerteza sobre o ritmo deste 4606

processo, mas, no território, ele define seus contornos e se concentra no entorno do setor industrial, 4607

tendo os frigoríficos como seus indutores. 4608

Estimativas preliminares apontam que, do total de terras a serem disponibilizadas pela pecuária, apenas 4609

15-20 milhões seriam suficientes para atender a necessidade de expansão de outras culturas (MAPA, 4610

2011). Restariam 70% de terras (~50 milhões de hectares) com necessidades de novas oportunidades de 4611

negócios, tendo, a matriz florestal, a capacidade de absorver estas terras se as políticas públicas forem 4612

capazes de atrair e estimular novos negócios florestais, envolvendo inclusive uma política industrial de 4613

base florestal. 4614

4.5.2.2.Uso da água para produção de alimentos 4615

Focando na demanda de água para a produção de alimentos, Santana et al. (2011) apresentam a 4616

seguinte análise: “Em 1999, o Ministério Brasileiro do Meio Ambiente – MMA – estimou o potencial 4617

para o desenvolvimento da agricultura sustentável em 29 milhões de hectares. Em 2002, estas 4618

estimativas foram revisadas e confirmadas como ainda válidas, apesar do lapso de tempo (Christofidis, 4619

2002). Esta revisão considerou o total de terras adequadas para irrigação, a disponibilidade de recursos 4620

hídricos sem o risco de conflitos com outros usos prioritários e a necessidade de atender os requisitos 4621

da legislação ambiental. De acordo com os resultados desta projeção, os estados com maior potencial 4622

para o desenvolvimento sustentável da irrigação são: Tocantins, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Minas 4623

Gerais, Rio Grande do Sul, Roraima, São Paulo, Paraná e Goiás. 4624

Entre esses estados, estima-se que o crescimento da agricultura irrigada deverá ser mais significativo 4625

nas áreas de Cerrado da região Centro-Oeste (Telles e Domingues, 2006). Mais especificamente, a 4626

fronteira agrícola do Mato Grosso e os estados de Minas Gerais, Bahia, Tocantins, Roraima e Sul do 4627

Maranhão e Piauí, dependendo da melhoria das rodovias e do armazenamento de energia nestas 4628

regiões. 4629

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) estimou também o total da área irrigada no país em 2020. De 4630

acordo com a instituição, a área irrigada no Brasil deverá chegar a cerca de 5,6 milhões de hectares em 4631

2020. 4632

Portanto, segundo essas pesquisas, a área irrigada no país deverá estar situada entre 4,4 milhões e 5,6 4633

milhões de hectares em 2020. Contudo, se a taxa de crescimento registrada entre 1996 e 2006 no Censo 4634

Agropecuário (ou seja, 1,8 milhões de hectares/ano) for observada nos próximos anos, a área irrigada 4635

no Brasil poderá exceder 6 milhões de hectares em 2020. 4636

Segundo Machado (2006), no Brasil, uma unidade de área irrigada é equivalente a três unidades de área 4637

de planalto em termos de volume de produção. Ademais, corresponde também a 8,4 unidades de área 4638

de planalto em valor econômico. Consequentemente, a expansão da irrigação nos próximos anos, além 4639

14

CNPC - Conselho Nacional da Pecuária de Corte, comunicação pessoal de seus representantes.

15 ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, comunicação pessoal de seus representantes.

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de permitir o crescimento na produção de cana-de-açúcar e arroz, deverá resultar em uma substancial 4640

elevação na produtividade e nos indicadores econômicos da agricultura brasileira.” 4641

Previsões indicam que a demanda anual de água doce e as reservas renováveis deverão apresentar uma 4642

diferença crescente até 2030, denotando uma preocupante escassez de água doce no mundo. A reserva 4643

hídrica do Brasil é considerada a maior do planeta, mas, em algumas regiões importantes do país, já 4644

existe escassez de água, podendo se agravar com o crescimento da economia brasileira, aumentando 4645

significativamente o uso da água nas diversas atividades produtivas. 4646

O setor agrícola consome a maior quantidade de água do planeta, podendo ocorrer diferenças com 4647

relação ao consumo para diferentes culturas e regiões. No Brasil, as estimativas são que 69% do total 4648

de água no país são para uso em irrigação (ANA, 2011), com elevado desperdício desse recurso, devido 4649

à utilização de técnicas inapropriadas e ao plantio de algumas culturas em locais inadequados ao seu 4650

desenvolvimento. Apesar deste uso intenso da água, a irrigação no Brasil é responsável por apenas 4% 4651

da sua produção agrícola. Em termos globais, de 1,5 bilhão de hectares cultivados no mundo, cerca de 4652

270 milhões de hectares são irrigados, ou seja, 18% do total, que respondem por metade da produção 4653

de alimentos. De acordo com pesquisa da Companhia Energética de Minas Gerais (SMA/SP, 2010), a 4654

utilização de métodos e sistemas de racionalização de uso de água na irrigação tem o potencial de 4655

economia de 20% de água e 30% de energia. 4656

Segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA/SP, 2010), no Estado, 4657

são utilizados 37,3% da água para irrigação. Embora essa porcentagem seja menor que a apresentada 4658

em nível nacional, ainda representa o maior percentual de consumo, comparativamente aos setores 4659

doméstico (32,4%) e industrial (30,4%). 4660

4.5.2.3.Análise da vulnerabilidade dos sistemas agrícolas para 4661

produção de alimentos frente às mudanças climáticas 4662

Estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 1993) na década de 90 indicou que 4663

95% das perdas na agricultura brasileira eram devidas a eventos de seca ou chuva forte. Com base 4664

nesses dados, foi instituído, em 1996, o programa de zoneamento de riscos climáticos no Brasil - 4665

política pública adotada atualmente pelos Ministérios da Agricultura (MAPA) e do Desenvolvimento 4666

Agrário (MDA) - para orientar o crédito e o seguro agrícola do país. O zoneamento estabeleceu, 4667

estatisticamente, níveis de riscos das regiões estudadas para vários tipos de cultura, admitindo perdas 4668

de safras de no máximo 20%. O zoneamento de riscos climáticos é uma ferramenta que indica o que 4669

plantar, onde plantar e quando plantar, de acordo com as características climáticas regionais, sendo 4670

possível adequar a “geografia agrícola” nacional, ou seja, a distribuição de cada cultura em função da 4671

condição climática de cada região. 4672

Programas governamentais de créditos agrícolas e seguros rurais, que hoje são estabelecidos em função 4673

do zoneamento de riscos climáticos – levando em conta os níveis probabilísticos de perdas de safras – 4674

também serão afetados com as mudanças climáticas. A projeção de um futuro com temperaturas entre 4675

1,4°C e 5,8°C mais altas e com variações na precipitação tornou necessário que se refizesse a 4676

simulação do zoneamento para o futuro e se verificassem as alterações regionais quanto ao risco 4677

climático e as datas de plantio para as principais culturas econômicas do país. Paralelamente, deverão 4678

ser estabelecidas novas estratégias regionais de manejo de água para atender as novas necessidades 4679

hídricas das culturas agrícolas diante das possíveis alterações climáticas. 4680

No Brasil, a agricultura é responsável por grande parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e, 4681

ao mesmo tempo, é o setor mais vulnerável às mudanças climáticas, principalmente nas regiões Norte e 4682

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Nordeste (CEDEPLAR/UFMG e FIOCRUZ, 2008). As mudanças climáticas devido ao aumento da 4683

emissão de GEEs pelo homem causam modificações no regime hídrico e na temperatura global, 4684

influenciando diretamente a produtividade das culturas. Segundo os dois últimos relatórios do IPCC 4685

(IPCC, 2001, 2007), nas regiões de clima tropical, as simulações sugerem que haverá reduções mais 4686

acentuadas na produção agrícola prejudicando seriamente a segurança alimentar, principalmente no 4687

Brasil. O aumento da temperatura ameaçará o cultivo de muitas plantas agrícolas, intensificando o 4688

problema da fome em grande parte do mundo. 4689

Em plantas submetidas a experimentos de laboratório, o aumento da concentração de CO2 atmosférico 4690

causa aumento da taxa de crescimento, pois o CO2 é o substrato primário para fotossíntese (Taiz e 4691

Zeiger, 1991). Segundo vários autores, as plantas com metabolismo C3 são mais beneficiadas pelo 4692

aumento de CO2 atmosférico do que plantas com metabolismo C4 (Tubiello et al., 2000; Siqueira et al., 4693

2001; Streck, 2005). Porém, simulações com a cana-de-açúcar em câmaras de topo aberto, com elevada 4694

concentração de CO2, Buckeridge et al. (2010) tiveram aumentos expressivos da produção de 4695

biomassa, mesmo sendo esta cultura uma C4. 4696

Apesar da provável “fertilização” pelo aumento da concentração de CO2, se este for acompanhado de 4697

aumento da temperatura do ar, poderá não haver aumento no crescimento e no rendimento das culturas, 4698

principalmente em razão do encurtamento do seu ciclo de desenvolvimento (Butterfield e Morison, 4699

1992; Siqueira et al., 2001) e aumento da respiração do tecido vegetal (Taiz e Zeiger, 1991; Streck, 4700

2005). Mesmo existindo alguns benefícios referentes à maior concentração de CO2 na atmosfera, o 4701

aumento da temperatura resultante da maior concentração desses GEEs poderá resultar em inúmeras 4702

injúrias às plantas, impedindo um ganho efetivo de produtividade (Siqueira et al. 2001; Streck, 2005; 4703

Streck e Alberto, 2006; Carvalho et al., 2010). 4704

Outro efeito sobre a produção agrícola causado pelo aumento da temperatura e concentração de CO2 4705

está relacionado com a incidência de pragas e doenças nas plantas cultivadas. Uma vez que o ambiente, 4706

os patógenos e os insetos estão interligados, as mudanças climáticas provavelmente influenciarão a 4707

geografia e a distribuição temporal das pragas e doenças, podendo causar impactos (positivos, 4708

negativos ou neutros). Ghini, et al. (2008) verificaram um aumento na infestação, tanto do nematóide 4709

quanto do bicho mineiro em cafeeiros, como reflexo de um número maior de gerações por mês. 4710

No Brasil, vários estudos foram feitos sobre os impactos das mudanças climáticas na agricultura. 4711

Recentemente, Hamada et al. (2008), Pinto et al. (2007, 2008), Assad et al. (2007), Zullo Jr et al. 4712

(2006) e Nobre et al. (2005) elaboraram estudos detalhados sobre o futuro da agricultura brasileira em 4713

função dos cenários previstos para o clima regional. Pinto et al. (2008) concluíram que o aquecimento 4714

global poderá colocar em risco a produção de diversas culturas agrícolas no Brasil, caso nenhuma 4715

medida mitigadora seja realizada, como já apresentado na Tabela 1. O estudo demonstra que as 4716

produções potenciais das culturas analisadas poderão sofrer com o aumento da deficiência hídrica e/ou 4717

das temperaturas. Em resumo, para o Brasil, projeta-se que a soja deverá ser a cultura mais atingida, 4718

com perdas de até 40% de áreas de baixo risco até 2070 no pior cenário do IPCC. O café arábica deverá 4719

perder até 33% da sua área de plantio em baixo risco climático só nos estados de SP e MG, podendo ter 4720

um aumento de área plantada no sul do país, caso a falta de estação seca e o fotoperíodo não sejam 4721

limitantes. No nordeste brasileiro, as culturas do milho, arroz, feijão, algodão e girassol sofrerão perda 4722

significativa da produtividade devido à forte redução da área de baixo risco, uma vez que o aumento da 4723

temperatura irá promover um aumento da evapotranspiração e, consequentemente, da deficiência 4724

hídrica. A mandioca terá um ganho geral da área de baixo risco, mas deverá ter grandes perdas no 4725

nordeste, onde ela representa a base da cultura alimentar. A cana-de-açúcar será a única cultura que 4726

poderá dobrar a produção nos próximos anos, uma vez que a área de baixo risco poderá aumentar em 4727

160% (Pinto et al., 2008). 4728

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140

Compreender e prever o impacto das mudanças climáticas em culturas agrícolas requer abordagens que 4729

envolvam manipulação experimental da precipitação, temperatura, CO2 e O3. Alguns estudos 4730

relacionados aos impactos das mudanças climáticas sobre as pragas, doenças e plantas daninhas nas 4731

principais culturas em ambiente controlado já estão sendo desenvolvidos. No Brasil, o sistema FACE 4732

(Free Air Concentration Enrichment) implantado em Jaguariúna (Embrapa Meio Ambiente) com a 4733

cultura do cafeeiro, possibilitará estudar os efeitos do aumento da concentração de CO2 sobre as pragas 4734

e doenças, plantas daninhas, bem como a fisiologia do cafeeiro 4735

(Projeto Climapest: http://www.macroprograma1.cnptia.embrapa.br/climapest) 4736

Os eventos atmosféricos extremos - chuvas intensas, tempestades, ondas de calor ou de frio, estiagens, 4737

geadas, El Niños e La Niñas intensos, entre outros.-, tanto quanto aumentos nas médias da 4738

concentração de CO2 e temperatura, representam uma ameaça à segurança alimentar, por afetarem a 4739

disponibilidade e acesso aos alimentos, podendo provocar quebras nas safras, comprometimentos na 4740

disponibilidade e qualidade da água, degradação do solo, danos à infraestrutura de transporte e 4741

distribuição de alimentos (Rosenzweig et al., 2001; Gregory et al., 2005; FAO, 2008). 4742

O entendimento dos eventos atmosféricos extremos é tarefa complexa nas condições climatológicas 4743

atuais, tornando-se ainda mais desafiadora face às mudanças climáticas. Porém, é uma demanda 4744

premente, pois poderá contribuir para direcionar estudos na questão dos impactos destes fenômenos 4745

para vários setores, em especial para a vulnerabilidade da segurança alimentar no Brasil em cenários 4746

futuros. Exemplificado essa complexidade, principalmente diante de um panorama de mudanças 4747

climáticas, é importante notar que a relação entre o aumento da média e a frequência da mudança de 4748

extremos não é linear. Desta forma, mesmo uma pequena mudança da média poderá resultar em uma 4749

mudança grande na frequência de extremos (Mearns et al., 1984). Em escala global, é muito provável 4750

que extremos positivos de temperatura, ondas de calor e precipitações intensas se tornem mais 4751

frequentes já no século XXI, deflagrando impactos aos sistemas de produção e distribuição de 4752

alimentos. 4753

No Brasil, tendências positivas de extremos de chuva vêm sendo observadas, principalmente para as 4754

regiões Sul e Sudeste (Groisman et al., 2005; Haylock et al., 2005). As projeções para possíveis 4755

cenários de eventos extremos para o Brasil foi feita a partir de modelos globais (nove modelos 4756

utilizados no AR4 do IPCC) e um regional (HdRM3P) por Marengo et al. (2007). Os cenários 4757

simulados mostram o aumento na frequência de dias secos consecutivos nas regiões Nordeste e leste da 4758

Amazônia, acompanhados de diminuição da redução nas chuvas intensas, o que implica na maior 4759

ocorrência de veranicos. De forma geral, essas áreas poderão ter condições acentuadas de estresse 4760

hídrico, prejudicando o cultivo de diversas culturas e pastagens (Pinto et al., 2008). 4761

A região semi-árida do Nordeste do Brasil é atualmente bastante vulnerável quanto à segurança 4762

alimentar e, de acordo com a FAO (2008), as áreas já vulneráveis serão as primeiras afetadas em 4763

condições de mudanças climáticas. As secas severas poderão aumentar em frequência e intensidade, 4764

elevando o número de áreas com alto risco para a cultura da mandioca, fundamental para a segurança 4765

alimentar da região (Pinto et al., 2008). Simulações para cenários considerando aumento e diminuição 4766

de chuvas e evapotranspiração potencial mostraram que o rendimento da cultura de feijão pode ser 60% 4767

menor em anos de secas severas (Magalhães et al., 1988). A menor disponibilidade de água e as 4768

maiores taxas de evapotranspiração implicariam na necessidade de irrigação, podendo acarretar na 4769

salinização, degradação de solos agricultáveis e desertificação, em algumas regiões. A qualidade da 4770

água potável se deteriorará, tornando este recurso mais escasso e, consequentemente, prejudicando as 4771

culturas irrigadas. Os prejuízos econômicos e sociais associados a estas mudanças poderão levar à 4772

migração do Nordeste para outras partes do país, a exemplo do ocorrido na seca de 1982/83. 4773

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Outros panoramas simulados (Marengo et al., 2007) mostram a tendência de aumento na frequência de 4774

eventos extremos de precipitação no oeste da Amazônia, Sudeste e Centro-Oeste, fato que poderá 4775

contribuir para ampliar a ocorrência de inundações nestas regiões. 4776

O aumento de noites quentes e a redução de dias frios foi um padrão fundamental projetado pelos 4777

modelos para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul (Marengo et al., 2007). Esta tendência poderá beneficiar a 4778

produção agrícola na região Sul, que teria diminuído o risco para culturas como a cana-de-açúcar, 4779

mandioca e café, mas perderia áreas de cultivo de soja (Pinto et al., 2008). 4780

Embora análises do fenômeno El Niño tenham mostrado que têm ocorrido eventos mais fortes e mais 4781

frequentes desde os anos 1980 (IPCC, 2001; Timmermann et al., 1999), não houve resultados 4782

conclusivos da tendência do fenômeno com base nos modelos utilizados no AR4 (Marengo et al., 4783

2007). O El Niño e a La Niña têm grande influência na produção agrícola, em especial nas regiões 4784

Nordeste e Sul. Na região Sul, o El Niño está associado à ocorrência de chuvas intensas e, portanto, à 4785

maior disponibilidade hídrica no solo (Alberto et al., 2006). Em estudo realizado por Berlato et al. 4786

(2005), foi observado que em anos com registro de anomalias positivas de chuva (relacionados com 4787

anos de El Niño), há aumento da produtividade do milho, enquanto que em anos de La Niña há redução 4788

na produtividade, sendo o mesmo observado para a soja (Berlato e Fontana, 1999). Os anos de La Niña 4789

estão associados à estiagem no Sul, porém, são favoráveis ao rendimento de grãos na cultura do trigo 4790

(Alberto et al., 2006). 4791

No Nordeste, o El Niño acarreta em períodos de estiagem, e a La Niña aumento na precipitação. Rao et 4792

al. (1997) relacionaram La Niña e aumento de produtividade no milho. 4793

4.5.3.Armazenamento, Distribuição e Acesso aos Alimentos e sua 4794

interação com as Mudanças Climáticas 4795

Os últimos 20 anos foram marcados por transformações profundas na estrutura do abastecimento 4796

alimentar, com domínio crescente da lógica privada, por meio da rápida expansão do setor varejista, 4797

por um lado, e, por outro, pela perda de capacidade de atuação direta ou de regulação pública pelos 4798

órgãos do Estado. O país passou a ser líder na produção e exportação de alimentos agropecuários, mas, 4799

ainda, convive com a insegurança alimentar de sua população (30,2%)16

devido à falta de acesso aos 4800

alimentos. A produção sustentável convive com um padrão não sustentável de produção agrícola 4801

associado à apropriação e especulação de terras, ao desmatamento e a práticas que agridem e poluem o 4802

solo e o meio-ambiente. 4803

No período mais recente, houve grandes avanços em relação à diminuição da insegurança alimentar, da 4804

desnutrição infantil e da pobreza no Brasil, ligados a políticas governamentais de transferência de renda 4805

e assistência social. Ao mesmo tempo, observaram-se mudanças negativas nos padrões de consumo e o 4806

perfil nutricional da população brasileira. Dados atuais mostram que, na população adulta brasileira, 4807

50,1% dos homens e 48% das mulheres estão com excesso de peso. Entre as crianças de 5 a 9 anos, 4808

16,6% dos meninos e 11,8% das meninas sofrem de obesidade17

. Este padrão de consumo está 4809

associado à evolução em direção a uma dieta pouco diversificada, baseada em um número reduzido de 4810

produtos alimentares e em um baixo consumo de alimentos frescos, como frutas e hortaliças. 4811

Se por um lado o avanço da tecnologia contribui para maior oferta e/ou variedade de alimentos no 4812

mercado, por outro, a atual complexidade do processo produtivo de alimentos poderá colocar a 4813

16

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD/IBGE 2009. 17

Pesquisa de Orçamentos Familiares (PO 2008/2009), publicada pelo IBGE em 2011.

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sociedade brasileira diante de novos riscos à saúde. O uso intensivo de agrotóxicos nas culturas 4814

alimentares, a maior resistência bacteriana associada ao uso indiscriminado de medicamentos 4815

veterinários, o aumento do consumo de refeições fora do lar, somados ao alto grau de processamento 4816

dos alimentos industrializados - cuja composição é afetada pelo uso excessivo de açúcar, sódio e 4817

gorduras gerando alimentos de elevada densidade energética - passam a exigir adequações no marco 4818

regulatório de alimentos. 4819

Assim, o foco nas grandes commodities de exportação e nos paradigmas da revolução verde poderá ter 4820

forte impacto nas questões de segurança alimentar, no que se refere à renda e às quantidades de 4821

alimentos, principalmente no fornecimento de proteína e energia para a população urbana. Entretanto, 4822

com respeito à qualidade dos alimentos produzidos, novos paradigmas de produção local, agricultura 4823

periurbana e outros atributos de qualidade dos alimentos exigirão adequações dos aspectos nutricionais 4824

e nas questões de armazenamento, distribuição e acesso aos alimentos. A agricultura familiar, pelos 4825

seus métodos de produção e por sua permeabilidade e foco no consumo local, poderá contribuir com 4826

parte da solução desses aspectos, principalmente para os problemas de distribuição e acesso aos 4827

alimentos. No Brasil, a importância do setor da agricultura familiar pode ser dimensionada pelo seu 4828

peso na economia do país: representa em torno de 10% do PIB brasileiro e pouco mais de um terço do 4829

total do valor da produção agrícola nacional (Gotilho et al., 2007)18

. O Censo Agropecuário de 2006 4830

apresentou informações que demonstram o papel relevante deste setor na dinâmica da produção de 4831

alimentos no Brasil. Ao todo, são 4,36 milhões de estabelecimentos de agricultores familiares, o que 4832

corresponde a 84,4% do total de estabelecimentos rurais do país. O setor da agricultura familiar 4833

emprega cerca de 74,4% da mão de obra no campo e é responsável por colocar na mesa a parte mais 4834

expressiva (cerca de 70%) dos alimentos que são consumidos diariamente pelos brasileiros (mandioca, 4835

feijão, carne suína, leite, milho, aves e ovos bem como frutas e hortaliças). 4836

A Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional em vigor no Brasil (Decreto 7.272/2011) 4837

está alicerçada em oito diretrizes construídas para dar conta do complexo circuito de promoção da 4838

segurança alimentar e nutricional (SAN), e que abrange processos relacionados à produção, 4839

armazenamento, conservação, processamento, comercialização e consumo dos alimentos. As diretrizes 4840

são: 4841

- promoção do acesso universal à alimentação adequada e saudável; 4842

- promoção do abastecimento e estruturação de sistemas sustentáveis e descentralizados de base 4843

agroecológica, de produção, extração, processamento e distribuição de alimentos; 4844

- instituição de processos permanentes de educação alimentar e nutricional; 4845

- promoção, universalização e coordenação das ações de segurança alimentar e nutricional voltadas 4846

para quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais, povos indígenas e assentados da reforma 4847

agrária; 4848

- fortalecimento das ações de alimentação e nutrição em todos os níveis da atenção à saúde, de modo 4849

articulado às demais ações de segurança alimentar e nutricional; 4850

- promoção do acesso universal à água de qualidade e em quantidade suficiente e para a produção de 4851

alimentos da agricultura familiar; 4852

18 Joaquim J. M Gotilho et al. PIB da Agricultura Familiar: Brasil-Estados. Brasília, NEAD/MDA,

2007.

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143

- apoio a iniciativas de promoção da soberania alimentar e do direito humano à alimentação adequada 4853

em âmbito internacional; 4854

- monitoramento da realização do direito humano à alimentação adequada. 4855

Além dessas diretrizes, outro fator bastante relevante na questão da relação entre segurança alimentar e 4856

nutricional e efeitos das mudanças climáticas é a recente tendência de volatilidade dos preços dos 4857

alimentos em nível mundial, iniciada em 2007, e que teve dois momentos de alta dos preços: no início 4858

de 2009 e no início de 2011. Entre os fatores que explicam este fenômeno estão as mudanças 4859

climáticas, o aumento da demanda por alimentos, o uso de grãos para fabricar biocombustíveis e o 4860

encarecimento do petróleo. A relação entre a alta dos preços e o seu impacto sobre a segurança 4861

alimentar e nutricional (SAN) da população tem preocupado sobremaneira os países, que têm buscado 4862

fortalecer e aplicar medidas de garantia da SAN nas suas políticas internas e externas. Entre estas, 4863

pode-se citar as políticas de armazenamento e estoques de alimentos. 4864

Diante desta necessidade de uma política nacional de abastecimento alimentar que estivesse mais 4865

próxima das preocupações atuais relacionadas aos impactos das mudanças climáticas, à volatilidade 4866

dos preços dos alimentos e à necessidade do aumento e regularização do acesso aos alimentos, a 4867

Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN)19

vem elaborando uma 4868

política de abastecimento que possa assegurar e estruturar uma rede pública de unidades 4869

armazenadoras, localizadas estrategicamente, considerando as necessidades específicas dos diversos 4870

tipos de alimentos, como suporte às operações governamentais de abastecimento, incluindo o 4871

atendimento às demandas sociais e emergenciais. O acompanhamento sistemático dos preços dos 4872

alimentos, da produção ao consumo, nos níveis nacionais e internacionais, tem sido apresentado como 4873

uma medida necessária para enfrentar a volatilidade em âmbito nacional. 4874

No Brasil, os dados de armazenamento de alimentos mostram que a capacidade estática dos armazéns 4875

está hoje em 139.537.752 toneladas, sendo que, deste total, 113.949.428 são de armazéns que estocam 4876

produtos a granel e 25.588.324 são de armazéns convencionais20

. A produção nacional de grãos 4877

estimada para a safra 2010/2011 foi de 161,54 milhões de toneladas21

. 4878

Estudo da CONAB realizado em 200522

, ao analisar a capacidade de armazenagem nos principais 4879

estados produtores, demonstra a existência de regiões mais carentes de espaço armazenador. A 4880

demanda de armazenagem, representada pela produção e importação de grãos, incluindo café e cana-4881

de-açúcar, para o ano de 2005, superava a oferta de 104 milhões de toneladas de capacidade estática. O 4882

estudo aponta que houve uma estagnação do crescimento da capacidade de armazenagem no período 4883

entre as safras 1993/1994 e 2000/2001 e que foi retomado pelo entusiasmo proporcionado com a 4884

produção de soja, quando o setor privado demonstrou interesse em investir em armazéns. Mesmo 4885

assim, segundo o estudo, os investimentos na infraestrutura de armazenagem não acompanharam este 4886

ritmo de crescimento, constatando-se um déficit de armazenagem real próximo de 7%. 4887

19

A Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) é um dos componentes do Sistema Nacional

de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN (regulamentada pelo Decreto 6273/2007) e tem a participação de 19

ministérios/órgãos federais. Dentre as suas atribuições está a de coordenar a implementação do Plano e da Política Nacional

de Segurança Alimentar e Nutricional. 20

Mapa da Capacidade Estática dos Armazéns.In: http://www.conab.gov.br/detalhe.php?a=1077&t=2. Dados de

31/08/2011. 21

CONAB. Acompanhamento da Safra Brasileira 2010/11- Grãos. Relatório de agosto de 2011. 22

CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento). Armazenagem Agrícola no Brasil. Dezembro, 2005.(Disponível em

www.conab.gov.br, em publicações)

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144

Por fim, destaca-se que o comportamento dos estoques públicos é crucial para uma política de 4888

abastecimento. O poder público atua como agente regulador nos momentos em que os mercados 4889

apontam para a necessidade de intervenção. Um dos efeitos mais desejáveis da implementação da 4890

política de estoques é a redução na volatilidade dos preços agrícolas, especialmente nos períodos de 4891

safra, quando tendem a ser mais baixos e, eventualmente, inferiores ao preço mínimo estabelecido. Para 4892

que a ação do governo, de fato, sustente o preço é necessário que os instrumentos de apoio tenham um 4893

alcance representativo e que as intervenções ocorram de maneira contínua e planejada. Essa 4894

possibilidade de gestão tem especial importância para o cenário de maior instabilidade na produção 4895

agrícola e uma das estratégias de adaptação mais defendidas por especialistas é o aumento da 4896

capacidade de lidar com um ambiente mais instável por meio de instrumentos de gestão da produção e 4897

do armazenamento. 4898

4.5.4.Análise integrada de alternativas de adaptação para aumento da 4899

segurança alimentar 4900

4.5.4.1.Ações de adaptação no contexto da segurança alimentar 4901

Diante dos cenários expostos nos itens anteriores, nas duas principais vertentes apresentadas, ou seja, 4902

nos impactos das mudanças climáticas sobre a produção de alimentos e sobre seu armazenamento, 4903

distribuição e acesso, este item procura fazer uma análise integrada das alternativas, ou ações de 4904

adaptação, focando a segurança alimentar e uma síntese das principais políticas no setor que possam 4905

colaborar para sua implementação em três aspectos: estruturação do setor agropecuário brasileiro; 4906

produção e disponibilidade de alimentos e acesso à alimentação adequada. 4907

Existem várias medidas de mitigação que os países estão tomando a fim de reduzir o aquecimento 4908

global nos próximos anos. Além disso, os pesquisadores brasileiros têm desenvolvido tecnologias que 4909

permitem a adaptação das culturas a temperaturas mais elevadas. Essas iniciativas, juntamente com a 4910

capacidade comprovada do homem para superar grandes desafios, oferecem uma visão otimista do 4911

futuro, sem reduzir a necessidade de continuar a fortalecer os esforços em curso. 4912

Ações de pesquisa e extensão em desenvolvimento visam fornecer alternativas aos produtores 4913

agrícolas que lhes permitam se adaptar às mudanças climáticas e reduzir os seus impactos. Essas 4914

iniciativas envolvem: o desenvolvimento de cultivares mais resistentes à seca; o uso da água residual e 4915

de biossólidos; os sistemas de consorciação; a quantificação da biomassa, celulose e energia e outros 4916

possíveis subprodutos; o efeito da temperatura sobre pragas, controladores biológicos e doenças; além 4917

do desenvolvimento de sistemas orgânicos de produção. Também existem diversas demandas, não 4918

atendidas, por sistemas de produção agrícola que, a partir da introdução de tecnologias alternativas, 4919

atendam a múltiplos propósitos como o de adaptar-se às mudanças climáticas, continuar produzindo 4920

alimentos de forma sustentável e simultaneamente contribuir para a redução e sequestro de emissões de 4921

GEEs. A quantificação da fixação ou redução de emissões e análise das possibilidades de participação 4922

no mercado internacional de carbono tornam necessário que, aliada ao atendimento daquelas demandas, 4923

se realize a avaliação dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, decorrentes. 4924

Desenvolvimento de novos cultivares é uma das medidas eficazes para a adaptação ao aumento das 4925

temperaturas e secas, podendo-se citar como exemplos: i) a variedade de soja desenvolvida pela 4926

Embrapa Cerrados para condições de altas temperaturas e menor disponibilidade de água cultivada no 4927

Centro-Oeste; e ii) a espécie de cana-de-açúcar desenvolvida pela Embrapa Agroenergia que demanda 4928

menor quantidade de água e está em fase de testes. 4929

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145

O sistema de arborização promove a interceptação da radiação incidente, que contribui para atenuar os 4930

extremos térmicos e diminuir a evapotranspiração, aumentando a umidade relativa no ambiente 4931

próximo à cultura. Esta técnica mostrou resultados eficientes na proteção contra a geada na cafeicultura 4932

(Morais et al., 2007), sendo que a temperatura da folha do cafeeiro em locais plantados com 4933

sombreamento de árvores pode chegar a ser entre 2o a 4

oC mais elevada que aquelas plantadas sem 4934

arborização (Caramori et al., 1996). 4935

Os eventos extremos podem ter efeitos positivos em alguns casos ou em algumas áreas. Pode-se citar, 4936

como exemplo, as condições derivadas do El Niño de 1998 que se refletiram em níveis abundantes de 4937

umidade no solo, o que ocasionou uma safra recorde de soja no Brasil (Rosenzweig et al., 2001). Desta 4938

forma, o sistema de monitoramento de eventos climáticos pode contribuir para o planejamento da 4939

seleção e plantio das espécies, visando aproveitar as características de determinados fenômenos. 4940

Dado que o principal impacto das mudanças climáticas sobre o sistema de produção de alimentos é o 4941

aumento do déficit hídrico, para se alcançar, efetivamente, mais sustentabilidade no agronegócio 4942

brasileiro, é preciso reduzir os riscos de escassez de água, promovendo o uso eficiente desse recurso 4943

natural e, até mesmo, reduzir o risco de imagem negativa, que pode estar associada à má utilização 4944

desse recurso. 4945

Além dos incentivos fiscais, o Brasil pode estimular programas de pesquisa que privilegiem o 4946

desenvolvimento e o uso racional da água na agricultura, por meio de seus institutos de pesquisa e 4947

programas de financiamento em pesquisa. Pode criar, ainda, incubadoras de tecnologia, utilizando-se o 4948

know-how acumulado em suas universidades e institutos, criando parcerias com empresas para o 4949

desenvolvimento tecnológico e a incorporação de tecnologias ambientalmente limpas do processo 4950

produtivo (SMA/SP, 2010). 4951

No Estado de São Paulo, existem políticas públicas importantes com relação ao uso racional da água e 4952

à conservação dos recursos hídricos. Atualmente, encontra-se em elaboração o Programa de Pagamento 4953

por Serviços Ambientais, que visa prover aos produtores rurais um incentivo para que tomem medidas 4954

de conservação, como a recuperação de nascentes e matas ciliares. Existe, também, a cobrança pelo uso 4955

da água, já institucionalizada em alguns Comitês de Bacia Hidrográfica, com exemplos semelhantes 4956

também nos estados do Paraná e de Santa Catarina (SMA/SP, 2010). 4957

Outras ações importantes no contexto da SAN, que se relacionam mais de perto com o enfrentamento 4958

das mudanças climáticas, referem-se ao fortalecimento de práticas agroecológicas, como, por exemplo, 4959

sistemas agroflorestais, recuperação de sementes crioulas, reflorestamentos de espécies nativas, 4960

recuperação de nascentes e bioenergia, bem como investimentos em pesquisa e tecnologias alternativas. 4961

Diversas iniciativas, ainda que de pequena escala, estão sendo implementadas nos Ministérios do 4962

Desenvolvimento Agrário (MDA), do Meio Ambiente (MMA) e da Agricultura (MAPA). A 4963

agroecologia tem suas raízes na revalorização dos métodos tradicionais de manejo e na gestão 4964

ambiental que evoluíram a partir dos conhecimentos acumulados por populações locais em sua 4965

convivência íntima com os bens da natureza disponíveis e sua otimização nos vários biomas e 4966

ecossistemas, visando o atendimento de suas necessidades de reprodução biológica e social. A ideia da 4967

diversidade é a dimensão central na agroecologia. Ela tem grande significado para uma alimentação 4968

adequada e saudável, diretamente relacionada com a conservação, manejo e uso da agrobiodiversidade 4969

(diversidade de espécies, variedades genética e diversidade de sistemas agrícolas ou cultivados) e, junto 4970

com a diversidade alimentar e cultural, constituem-se em grandes desafios para a garantia da segurança 4971

alimentar e nutricional. Esta abordagem reafirma o respeito às especificidades ambientais, econômicas, 4972

socioculturais e climáticas. 4973

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Outra forma de valorizar a biodiversidade nas políticas públicas é o Plano Nacional da 4974

Sociobiodiversidade do governo federal, por meio do qual são direcionados recursos de crédito, da 4975

Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) e da alimentação escolar para o fortalecimento de 4976

cadeias da sociobiodiversidade, como babaçu, açaí e castanha, associados ao extrativismo sustentável, 4977

em especial na Amazônia. 4978

Várias ações na área da SAN, principalmente aquelas relacionadas ao fortalecimento da agricultura 4979

familiar, acesso à água, agricultura urbana e implementação de uma política de abastecimento 4980

alimentar, que aproxime a produção do consumo, podem ser consideradas medidas de enfrentamento 4981

dos efeitos das mudanças climáticas, assim como formas de adaptação a estas mudanças. 4982

No contexto atual da construção da Política Nacional de SAN, torna-se urgente a necessidade de 4983

implementação de uma política nacional de abastecimento alimentar. A questão do acesso aos 4984

alimentos ainda permanece como um desafio para a realização da SAN da população, em especial para 4985

os mais vulneráveis ou para populações específicas. O incremento na renda e a melhoria da qualidade 4986

de vida de boa parte da população foi um ganho incomparável para a segurança alimentar, uma vez que 4987

a questão da renda (ou da não-renda) é a principal condição para o acesso aos alimentos. A 4988

aproximação entre produção e consumo é considerada uma das principais formas de garantia da SAN, e 4989

que seria alcançada por uma atuação integrada do abastecimento no nível local, por meio da formação 4990

de redes de equipamentos públicos que atuem de forma integrada. 4991

Nesse sentido, a promoção de ações de fortalecimento da agricultura familiar favoreceu bastante o 4992

cenário da participação da agricultura familiar na produção nacional. Destacam-se tanto a política de 4993

crédito direcionado - o Pronaf, quanto as políticas de aquisição de alimentos. O Programa de Aquisição 4994

de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), através do qual o poder público adquire alimentos de 4995

agricultores familiares com dispensa de licitação, com limites estabelecidos de acordo com a 4996

modalidade a ser acessada, e os destina às pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional 4997

atendidas pela rede socioassistencial, ajuda a sustentar a renda e a promover a segurança alimentar e 4998

nutricional da população, ao canalizar o poder de compra público para a agricultura familiar. 4999

Em 2009, com a aprovação da lei que regulamenta o Programa Nacional de Alimentação Escolar 5000

(PNAE - Lei 11.497/2009), uma medida de grande impacto para a SAN, tanto em relação à dimensão 5001

da agricultura familiar quanto em relação ao acesso aos alimentos, foi a determinação de que 30% dos 5002

recursos pelo PNAE repassados pelo governo federal para estados e municípios sejam direcionados 5003

para a compra de alimentos da agricultura familiar. 5004

Como sintetiza Santana et al. (2011), “Em resumo, o Brasil enfrenta uma perspectiva positiva quanto à 5005

capacidade produtiva de seu setor agrícola. A transformação desta perspectiva em realidade, todavia, 5006

depende de vários fatores, alguns dos quais podem ser influenciados por políticas públicas, outros não. 5007

Assim, é essencial que o governo assegure uma estabilização contínua da economia, adote políticas 5008

macroeconômicas e agrícolas sólidas e seja bem sucedido nos esforços para reduzir as taxas de juros 5009

internas pagas pelos produtores e consumidores. Ademais, é indispensável aumentar os investimentos 5010

na pesquisa agrícola e no desenvolvimento em infraestrutura, simplificar procedimentos de exportação, 5011

encontrar uma solução para o problema de endividamento de crédito rural enfrentado por um grande 5012

número de fazendeiros no Brasil e expandir a produção de fosfato e potássio para produção de 5013

fertilizantes. Acima de todos esses elementos, é fundamental que o governo mantenha uma forte 5014

vontade política para tomar as medidas oportunas requeridas para um crescimento sustentado da 5015

agricultura e da economia”. 5016

Essa síntese embute um grande desafio no campo da segurança alimentar e nutricional e sua adaptação 5017

às mudanças climáticas que é fazer com que as políticas públicas atuem de forma integrada, 5018

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intersetorial, levando em conta todos estes processos, fazendo com que eles não atuem de forma 5019

isolada. É a partir desta integração que será possível enfrentar a questão de um desenvolvimento 5020

sustentável que seja feito de forma a preservar o meio ambiente, enfrentar as mudanças climáticas e 5021

assegurar uma justa redistribuição de recursos. 5022

Com essa visão, apresentam-se abaixo as principais políticas públicas relacionadas ao setor 5023

agropecuário brasileiro e à segurança alimentar e sua interação com as mudanças climáticas. 5024

4.5.4.2.Políticas Públicas no setor agropecuário brasileiro 5025

Em 2009 foi aprovada a Lei Federal no 12.187 que instituiu a Política Nacional de Mudanças 5026

Climáticas com o objetivo de reduzir voluntariamente as emissões do Brasil projetadas até 2020 entre 5027

36,1% e 38,9%. Essa redução se dará principalmente pela redução do desmatamento na Amazônia e 5028

Cerrado, adoção de boas práticas agropecuárias, eficiência energética, energia renovável e 5029

biocombustíveis. 5030

O Plano Nacional sobre Mudança do Clima tem como base duas metas principais, sendo elas: a) 5031

mitigação das emissões de GEEs nos setores energia, agropecuária e florestas, indústria, resíduos, 5032

transporte e saúde, principalmente no que diz respeito à redução das emissões provenientes da mudança 5033

do uso do solo e da floresta; b) adaptação às mudanças climáticas, principalmente as populações 5034

consideradas mais vulneráveis. 5035

Portanto, pelo menos duas grandes referências institucionais precisam ser analisadas para a construção 5036

de um caminho efetivo rumo à sustentabilidade da agropecuária no Brasil: (i) O Plano Agrícola e 5037

Pecuário (PAP), como documento principal de propostas no setor agropecuário; (ii) As políticas de 5038

incorporação de sustentabilidade na agropecuária, contempladas no PNMC (Monzoni e Biderman, 5039

2010). 5040

5041

Plano Agrícola Pecuário 5042 A política agrícola adotada pelo Governo Federal visa assegurar o apoio necessário ao produtor rural. 5043

Isso é fundamental para garantir a superação dos desafios da agricultura e pecuária, adequando o setor 5044

às novas dinâmicas dos mercados interno e externo. Para a safra 2011/2012 foram destinados R$ 107,2 5045

bilhões, 7,2% maior em relação à safra anterior, para o financiamento de operações de custeio, 5046

investimento, comercialização e subvenção ao prêmio do seguro rural. Pela primeira vez, houve 5047

recursos públicos em condições mais favoráveis para a retenção e compra de matrizes e reprodutores, 5048

bem como para a recuperação de pastagens degradadas. No caso da cana-de-açúcar e dos 5049

biocombustíveis, foram asseguradas linhas de financiamento para a expansão e renovação de canaviais. 5050

Por fim, o Governo destinou verbas para garantir preços mínimos de referência aos produtores cítricos 5051

e manteve as linhas de financiamento para os cafeicultores via FUNCAFÉ (PAP/MAPA, 2011). 5052

Além dessas ações previstas no Plano Agrícola e Pecuário 2011/2012, o Governo Federal optou pelo 5053

aperfeiçoamento das ações referentes ao uso de tecnologias direcionadas à sustentabilidade da 5054

produção agropecuária, consolidando o Programa ABC, lançado no ano anterior. O Programa 5055

Agricultura de Baixa emissão de Carbono, que incorpora o Produsa e o Propflora, dará incentivos ao 5056

produtor que adotar boas práticas agronômicas para minimizar o impacto da emissão de gases de efeito 5057

estufa. O Programa ABC destinou R$ 3,15 bilhões aos produtores em 2011/2012. A idéia é ampliar a 5058

competitividade do setor, aprofundando os avanços tecnológicos nas áreas de sistemas produtivos 5059

sustentáveis, microbiologia do sistema solo-planta e recuperação de áreas degradadas. A agricultura 5060

pode contribuir para a preservação do meio ambiente, seja por meio do sequestro de carbono, pelo 5061

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desenvolvimento vegetal ou pela redução do desmatamento. Isso se dará mediante a ampliação das 5062

atividades agropecuária e florestal em áreas degradadas ou em recuperação. Um grande esforço de 5063

transferência de tecnologia será exigido para o real sucesso do plano ABC. (PAP/MAPA, 2011). Essas 5064

ações ampliam a eficiência e a sustentabilidade do setor agropecuário, bem como consolidam o país nas 5065

primeiras posições no mercado mundial de alimentos. 5066

5067

Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) 5068 O PNMC (2008) define ações e medidas que visem à mitigação, bem como à adaptação à mudança do 5069

clima, sendo os seguintes os seus objetivos específicos: 5070

- Fomentar aumentos de eficiência no desempenho dos setores produtivos na busca constante do 5071

alcance das melhores práticas. Para que o desenvolvimento do País ocorra em bases sustentáveis, as 5072

ações governamentais dirigidas ao setor produtivo deverão buscar, cada vez mais, a promoção do uso 5073

mais eficiente dos recursos naturais, científicos, tecnológicos e humanos; 5074

- Buscar manter elevada a participação de energia renovável na matriz elétrica, preservando a posição 5075

de destaque que o Brasil sempre ocupou no cenário internacional; 5076

- Fomentar o aumento sustentável da participação de biocombustíveis na matriz de transportes nacional 5077

e, ainda, atuar com vistas à estruturação de um mercado internacional de biocombustíveis sustentáveis; 5078

- Buscar a redução sustentada das taxas de desmatamento, em sua média quadrienal, em todos os 5079

biomas brasileiros, até que se atinja o desmatamento ilegal zero; 5080

- Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal no Brasil, até 2015; 5081

- Procurar identificar os impactos ambientais decorrentes da mudança do clima e fomentar o 5082

desenvolvimento de pesquisas científicas para que se possa traçar uma estratégia que minimize os 5083

custos sócio-econômicos de adaptação do País. 5084

Para alcançar os objetivos do Plano, serão criados mecanismos econômicos, técnicos, políticos e 5085

institucionais que: 5086

- Promovam um desenvolvimento científico e tecnológico do setor produtivo que inclua as 5087

considerações ambientais a favor da coletividade; 5088

- Aumentem a consciência coletiva sobre os problemas ambientais da atualidade e propiciem o 5089

desenvolvimento de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária; 5090

-Valorizem a floresta em pé e façam com que a conservação florestal seja uma atividade atraente, que 5091

gere riqueza e bem-estar àqueles que vivem dela; 5092

-Incentivem e estimulem medidas regionais que sejam adequadas às condições diferenciadas, onde 5093

cada região, e mesmo cada estado da nação, possa identificar suas melhores oportunidades de redução 5094

de emissões e remoção de carbono. 5095

Em escala estadual, diversas ações vêm sendo implementadas desde o ano 2000, sendo que foram 5096

criados 13 fóruns estaduais até o momento, abrangendo os estados do Amazonas, Acre, Piauí, Bahia, 5097

Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Mato, Rio de Janeiro, Espírito Santo, 5098

Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mantidas suas características e políticas 5099

regionais, os fóruns estaduais têm como foco e abrangência: Mudanças climáticas e biodiversidade 5100

(São Paulo e Bahia); Mudanças climáticas e o uso racional da água (Espírito Santo); Mudanças 5101

climáticas e conservação ambiental e desenvolvimento sustentável (Amazonas e Acre); Mudanças 5102

climáticas e combate à pobreza (Piauí); Mudanças climáticas globais (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa 5103

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Catarina, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Pernambuco, Mato Grosso). Em todos os estados, há um 5104

interesse muito forte em estabelecer o próprio inventário de gases de efeito estufa, inventário este bem 5105

adiantado nos Estados de Minas Gerais e São Paulo. 5106

4.5.4.3.Políticas Públicas de Produção e Disponibilidade de Alimentos 5107

a. Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) - Ao se analisarem os últimos 11 anos 5108

agrícolas de implementação do Pronaf Crédito, verifica-se que foram efetivamente aplicados R$ 71,7 5109

bilhões em contratos de financiamentos para a agricultura familiar, partindo de um montante anual de 5110

R$ 1,1 bilhão na safra 1998/1999, aumentando gradualmente até atingir R$ 10,8 bilhões em 2008/2009. 5111

Um dos principais desafios desse Programa é como adequar uma política de crédito agrícola aos 5112

agricultores familiares mais empobrecidos. 5113

5114

b. Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) - Apresenta maior cobertura nas regiões Nordeste, 5115

Sudeste (semiárido mineiro) e Sul. O MDS é o responsável pelo maior aporte de recursos do Programa. 5116

Dois terços dos recursos do PAA são voltados para a produção de leite e de seus derivados, bem como 5117

de grãos e cereais. O terço restante é aplicado numa diversidade significativa de alimentos. No que se 5118

refere aos produtores, a participação de agricultores familiares mais pobres é maior principalmente na 5119

Região Nordeste (sobretudo no CE, BA, PE e PB). Considerado em sua globalidade, o PAA avançou 5120

substancialmente em um curto espaço de tempo. Esse progresso sinaliza para a necessidade de 5121

fortalecer políticas de produção voltadas à agricultura familiar alternativas à tradicional política de 5122

crédito desempenhada pelo PRONAF. Ademais, a demanda crescente pelo programa demonstra que a 5123

garantia de renda sem o risco de endividamento oferecida pelo mesmo contribui para elevar a 5124

capacidade produtiva e o padrão de vida dos participantes. 5125

5126

c. Política de Garantia de Preços Mínimos/Formação de Estoques Públicos (PGPM) - 5127

Recentemente, dentre as medidas importantes para reerguer a PGPM como instrumento público para 5128

intervenção no mercado agrícola, além de assegurar os recursos orçamentários e financeiros 5129

necessários para as intervenções, foi a promoção de uma significativa recomposição dos preços 5130

mínimos. Na safra 2008/09, diante da crise mundial de alimentos, o Estado utilizou os preços mínimos 5131

como estímulo para a produção de alimentos. Tais medidas causaram impactos diretos na regulação dos 5132

preços e valorizaram produtos como arroz, milho e trigo. 5133

5134

d. Reforma Agrária – Os assentamentos rurais compõem parcela importante da agricultura familiar. 5135

Ao final de 2009, estavam em execução quase 8,6 mil projetos de assentamento, que abrigavam quase 5136

1 milhão de famílias assentadas em diferentes tipos de projetos em todo País, todos direcionados para o 5137

fortalecimento da agricultura familiar e na promoção da agrobiodiversidade. Pouco mais de 3/4 das 5138

famílias assentadas estão nas regiões Norte (43%) e Nordeste (33%). Mas, apesar dos avanços, a 5139

concentração fundiária e a morosidade na implantação da reforma agrária persistem como obstáculos 5140

ao desenvolvimento e à consolidação dos sistemas familiares de produção rural no Brasil. Uma política 5141

articulada do Estado, que vise promover a segurança e a soberania alimentar e nutricional, deve ter 5142

como componentes estratégicos as políticas de fortalecimento da agricultura familiar e de efetivação da 5143

reforma agrária, igualmente importantes para o enfrentamento da pobreza e das desigualdades raciais e 5144

de gênero no meio rural. 5145

5146

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150

4.5.4.4.Políticas Públicas de Acesso à Alimentação Adequada 5147

a. Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE – Foi recentemente reformulado, por meio 5148

da Lei nº 11.947/2009, que o estendeu para toda a rede pública de educação básica (incluindo o ensino 5149

médio) e de jovens e adultos alcançando 47 milhões de escolares (em 2010). Esta Lei instituiu o 5150

investimento de pelo menos 30% dos recursos destinados ao PNAE na compra de produtos da 5151

agricultura familiar, sem necessidade de licitação, priorizando os alimentos orgânicos e/ou 5152

agroecológicos, de forma a facilitar a oferta de uma alimentação mais saudável e mais próxima dos 5153

hábitos alimentares locais. Também possui repasses financeiros ampliados para os alunos indígenas e 5154

quilombolas. Como desafio, é importante que o PNAE consolide e dissemine o seu sistema de 5155

monitoramento e de avaliação, assim como a sistemática ampliação e qualificação de ações de 5156

educação alimentar e nutricional, para fazer do Programa um espaço efetivo para a promoção da 5157

alimentação saudável e para a formação de sujeitos de direitos. 5158

5159

b. Rede de Equipamentos Públicos de SAN – criada a partir de 2003, tem mais de 500 unidades em 5160

funcionamento atualmente. São equipamentos públicos voltados para municípios grandes e médios e 5161

estão mais presentes nas regiões Sul e Sudeste. O desafio principal é a ampliação da capilaridade desta 5162

rede para todo o território nacional. Além disso, há necessidade de institucionalização, definição dos 5163

compromissos e responsabilidades dos entes federados, padronização dos serviços, sustentabilidade dos 5164

equipamentos pela ação direta do Estado e integração destes com o PAA, a fim de fortalecer a 5165

estruturação de redes descentralizadas de SAN. 5166

5167

c. Distribuição de Alimentos a Grupos Específicos – Tendo como foco a distribuição de alimentos a 5168

populações extremamente vulnerabilizadas, foram entregues mais de 220 mil toneladas de alimentos 5169

entre 2003 e 2008, por meio de cestas de alimentos, para as famílias acampadas que aguardavam o 5170

Programa de Reforma Agrária, às comunidades de terreiros (pela capilaridade que possuem junto à 5171

população negra e de menor poder aquisitivo), aos indígenas, aos quilombolas, aos atingidos por 5172

barragens e às populações residentes em municípios vítimas de calamidade pública. 5173

5174

d. Carteira Indígena - Os projetos da Carteira Indígena apóiam a produção de alimentos para a auto-5175

sustentação, tais como a criação de hortas comunitárias, criação de animais, agroflorestas, artesanato, 5176

agroextrativismo, recuperação de áreas degradadas, acesso à água e construção de equipamentos de 5177

alimentação, entre outros. Há quase 300 projetos apoiados, atendendo 22 mil famílias indígenas. A 5178

instabilidade institucional é o seu principal desafio, por fazer parte de um projeto que encerra em 2011. 5179

5180

e. Acesso à Água para Consumo e Produção – Foram analisados dois programas voltados para a 5181

região semiárida nordestina: o Programa de Cisternas (Primeira Água), que construiu 273 mil cisternas 5182

entre 2003 e 2009, e que atende 1,4 milhão de pessoas; e o Programa Segunda Água (água para 5183

produção), que fez 2.892 implantações entre 2007 e 2009. Um desafio destas ações é o monitoramento 5184

da qualidade da água disponível às famílias. 5185

5186

f. Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT –Atendia 131 mil empresas em agosto de 2010, 5187

contemplando 13 milhões de trabalhadores. É um Programa concentrado no Sudeste e tem mais de 70% 5188

dos trabalhadores com menos de cinco salários mínimos. Na agenda do PAT, tornam-se necessárias 5189

revisões importantes em seu marco legal, que permitam ampliar o acesso dos trabalhadores aos 5190

benefícios, acompanhando as mudanças que vêm ocorrendo no mercado de trabalho e que possam 5191

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151

também levá-los para regiões onde o desenvolvimento industrial ainda está sendo construído. Como em 5192

outros programas, o componente de educação alimentar e nutricional necessita ser fortalecido no PAT. 5193

4.5.4.5.Direcionamento de novas medidas adaptativas que busquem o 5194

aumento da segurança alimentar 5195

Conclusivamente, depreende-se dos subitens acima que diversas ações e políticas colaboram 5196

efetivamente para adaptação do sistema de segurança alimentar, em diversos níveis de atuação. De 5197

qualquer forma, um direcionamento mais integrado de novas medidas adaptativas poderia promover 5198

avanços na incorporação de novos modelos e paradigmas de produção agropecuária. 5199

De um lado, poder-se-ia focar na descentralização da produção, na busca de soluções mais adaptadas às 5200

condições locais, na diversificação da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional, e de outro, 5201

na capacidade de lidar com instrumentos de gestão da produção e do armazenamento – principalmente 5202

diante de novas instabilidades trazidas pela mudança climática – e na adoção de medidas que permitam 5203

reestruturar os sistemas de produção agrícola. Essas medidas devem atender a múltiplos propósitos e, 5204

mesmo ao adaptar-se às mudanças climáticas, continuar produzindo alimentos de forma sustentável e 5205

contribuindo para a redução e sequestro de emissões de GEEs e, simultaneamente, respeitar e trazer 5206

melhorias dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, delas decorrentes. 5207

O meio para se alcançar tais avanços deve incluir, em conjunto com programas de garantia e 5208

transferência de renda, de crédito e de pesquisas para adaptação, um esforço de inovação no campo, 5209

baseada na criação de um ambiente institucional adequado. Do ponto de vista do desenvolvimento 5210

sustentável, especial atenção deve ser dada a: a rearticulação e capacitação continuada da rede de 5211

extensão rural, pública e privada; a transferência de conhecimentos e tecnologias adaptadas às 5212

condições locais; a promoção do desenvolvimento regional; as ações de formação de capital humano 5213

para as cadeias produtivas ligadas à agricultura; e a organização de produtores e agrupamentos 5214

regionais de produção. 5215

Objetivamente, mesmo diante dos novos desafios trazidos pelas mudanças climáticas, esse 5216

direcionamento deve levar à sustentabilidade, na sua concepção mais plural ou multisetorial, e a 5217

agricultura familiar parece dar alguns indícios de que há caminhos possíveis para atingi-la, desde que 5218

se esteja apto a adotar alterações significativas dos modelos e paradigmas atuais de produção, 5219

distribuição e acesso aos alimentos. 5220

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