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O TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO POR JORNADA EXAUSTIVA FRENTE AO CONSENTIMENTO DO OFENDIDO. WORK FROM ANALOG TO SLAVE FOR JOURNEY EXHAUSTIVE FRONT OF CONSENT OF THE OFFENDED. Thais Caroline Anyzewski Marcondes 1 Fábio André Guaragni 2 “Um homem se humilha Se castram seu sonho Seu sonho é sua vida E vida é trabalho... E sem o seu trabalho O homem não tem honra Se morre, se mata...” (Gonzaguinha) RESUMO: Analisa-se o trabalho análogo ao de escravo, especialmente em relação à hipótese da jornada exaustiva, frente ao consentimento da vítima. Assim, procurará delimitar o conteúdo do termo jornada exaustiva através do contido na Constituição Federal de 1988 e da Consolidação das Leis Trabalho ao que se refere à jornada laboral. Na esfera penal far-se-á a análise do artigo 149 do Código Penal e do bem jurídico penalmente tutelado, verificando a sua disponibilidade ou indisponibilidade. Por fim, far-se-á o exame do instituto do consentimento do ofendido, de modo a verificar seu teor, alcance, requisito e validade, para então determinar a possibilidade jurídica ou não, de que este afaste o injusto penal do delito em comento. 1 Mestranda em Direito Empresarial e Cidadania pelo UNICURITIBA. Graduada em Direito pelo UNICURITIBA e em Administração de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná. Advogada. Email: [email protected]. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4101555819509313. 2 Promotor de Justiça no Estado do Paraná. Doutor e Mestre em Direito das Relações Sociais (UFPR). É Professor de Direito Penal Econômico do Programa de Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA. É Professor de Direito Penal do UNICURITIBA, FEMPAR, ESMAE, CEJUR e LFG.

3 Trabalho Escravo e Consentimento Do Ofendido

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TRABALHO ESCRAVO

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OTRABALHOANLOGOAODEESCRAVOPORJORNADAEXAUSTIVA FRENTE AO CONSENTIMENTO DO OFENDIDO. WORKFROMANALOGTOSLAVEFORJOURNEYEXHAUSTIVEFRONTOF CONSENT OF THE OFFENDED. Thais Caroline Anyzewski Marcondes1 Fbio Andr Guaragni2 Um homem se humilha Se castram seu sonho Seu sonho sua vida E vida trabalho... E sem o seu trabalho O homem no tem honra Se morre, se mata...(Gonzaguinha) RESUMO: Analisa-se o trabalho anlogo ao de escravo, especialmente em relao hiptese dajornadaexaustiva,frenteaoconsentimentodavtima.Assim,procurardelimitaro contedo do termo jornada exaustiva atravs do contido na Constituio Federal de 1988 e da Consolidao das Leis Trabalho ao que se refere jornada laboral. Na esfera penal far-se- a anlisedoartigo149doCdigoPenaledobemjurdicopenalmentetutelado,verificandoa suadisponibilidadeouindisponibilidade.Porfim,far-se-oexamedoinstitutodo consentimentodoofendido,demodoaverificarseuteor,alcance,requisitoevalidade,para entodeterminarapossibilidadejurdicaouno,dequeesteafasteoinjustopenaldodelito em comento. 1MestrandaemDireitoEmpresarialeCidadaniapeloUNICURITIBA.GraduadaemDireitopelo UNICURITIBAeemAdministraodeEmpresascomHabilitaoemComrcioExteriorpelaFundaode Estudos Sociais do Paran. Advogada.Email: [email protected]: http://lattes.cnpq.br/4101555819509313. 2PromotordeJustianoEstadodoParan.DoutoreMestreemDireitodasRelaesSociais(UFPR). Professor de Direito Penal Econmico do Programa de Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do Centro Universitrio Curitiba - UNICURITIBA. Professor de Direito Penal do UNICURITIBA, FEMPAR, ESMAE, CEJUR e LFG. ABSTRACT:Analyzesthelaboranalogoustoslavery,especiallyinrelationtothe hypothesis of the exhausting journey, against the consent of the victim. So seek to define the termcontentsexhaustingjourneythroughcontainedintheFederalConstitutionof1988and theConsolidationofLaborLawstorespecttheworkday.Incriminalfarwilltheanalysisof Article 149 of the Penal Code and the criminal and legal ward, checking their availability or unavailability. Finally, far-will is the examination of the Institute of consent of the victim, in ordertoverifyitscontent,scope,andvalidityrequirementandthendeterminethelegal possibility or not, that it departs from the unjust criminal offense in comment.

PALAVRA-CHAVE:EscravidoContempornea;JornadaExaustiva;Consentimentodo Ofendido; Injusto Penal. KEYWORDS: Contemporary Slavery; Journey Exhaustive; Consent of the Offended; Unjust Criminal. INTRODUO Otrabalhoanlogoaodeescravoumarealidadepresenteemarcantenasociedade brasileira,masaestanoserestringe.Infelizmente,resquciosdeumpassadoescravocrata persistemempasesqueaindapossuemaculturadaexploraodesmedidadotrabalho humano. Nestecontexto,soinmerososcasosemqueseconstataaescravido contempornea, que se revela em uma situao de fato, baseada de forma geral na submisso desereshumanosatrabalhosforados,jornadasexaustivas,condiesdegradantesde trabalho ou restries de liberdade. ExatamenteaestassituaesqueoCdigoPenalBrasileirosereportaaoeleg-las comoelementoscaracterizadoresdocrimeprevistonoartigo149.Existindoquaisquer daquelas hipteses juntas ou alternativamente h a conformao ao tipo penal. NoBrasil,otrabalhoanlogoaodeescravoatingeostrabalhadoresdocampoeda cidade.Apesardamaioriadoscasosaindaseencontrarnomeiorural,jperceptvelo aumentodasuaincidncianomeiourbano,principalmentenoqueserefereindstriada confeco, onde no param de surgir novos casos, ligados ainda utilizao de trabalhadores estrangeiros que se encontram muitas vezes em situao de permanncia ilegal. Asformasdegestoassumemtambmpapelrelevantedentrodocontextosocial contemporneoedasnovasrelaesdetrabalho,jquesodirecionadasaoaumentoda produoedolucro,ignorandomuitasvezesapessoadotrabalhadorcomautilizaodo trabalho anlogo ao de escravo.Aglobalizaoquepossibilitouomaiorfluxodemercadoriasepessoas,tambm possibilitou as empresas maior mobilidade, permitindo a mudana da localizao da produo conformeadiminuiodecustos.Logo,cabeaosacionistasmoveracompanhiaparaonde querquepercebamouprevejamumachancededividendosmaiselevados,deixandoatodos os demais presos como so localidade a tarefa de lamber as feridas, de consertar o dano [...] (BAUMAN, 1999, p.15). Dentro deste contexto, o custo com a mo-de-obra torna-se fator determinante.Todavia,ospasesapresentamdiferentesformasdelidarcomanovarealidadeda rpidamudanadasempresasedocapitaldentrodoglobo.Haquelesqueafrouxamasua legislao trabalhista, outros que mantm uma legislao precria e ainda aqueles que embora tenhamumaparatolegaladequadodeproteoepreservaodedireitostrabalhistas,no conseguem prevenir a ocorrncia do trabalho anlogo ao de escravo.OBrasilencontra-senoterceirogrupo,ouseja,apresentaumroldeleistrabalhistas adequadas defesa dos direitos e interesses do trabalhador. No entanto, no consegue muitas vezes coibir e evitar a ocorrncia de situaes em que o trabalhador colocado em condies anlogasdeescravo.Nestaperspectiva,ecomoformaderepudiarumpassadohistrico escravocrata, o Cdigo Penal Brasileiro atravs do artigo 149 conferiu proteo ao trabalhador frenteaotrabalhoanlogoaodeescravo,comomeiocontundentedeprevenireevitartal prtica.Entreashiptesesprevistasnoartigo149doCdigoPenal,d-sedestaqueajornada exaustiva. Realidade de muitos trabalhadores no pas, que, contudo, muitas vezes nem tomam conhecimentodeestaremsendosubmetidosaumacondioanlogadeescravo,ouque mesmoadquirindocincianopossuempossibilidadedeescolha,poisprecisamdotrabalho para sua sobrevivncia e de sua famlia.Destemodo,muitostrabalhadoresconsentememtrabalharemtalcircunstncia.No entanto, preciso analisar a validade desse consentimento. Diante do exposto, percebe-se a relevncia e atualidade do tema proposto, levando-se em considerao que muitos fecham os olhos para a jornada exaustiva, prtica cada vez mais presente no mundo capitalista.Dentro desta perspectiva, o artigo analisa a relao do trabalho anlogo ao de escravo por jornada exaustiva e a categoria dogmtica do consentimento do ofendido.Paratanto,primariamentefar-se-umabreveanlisedoartigo149doCdigoPenal brasileiro, verificando seu contedo e abrangncia.Emseguida,pretende-seidentificaroquecompreendeotermojornadaexaustivae qual seu alcance. Nesta medida far-se- a anlise da legislao ptria, de forma a delimitar os contornos legais da jornada de trabalho no Brasil.Posteriormente, far-se- a anlise do bem jurdico diretamente tutelado pelo artigo 149 doCdigoPenal,demodoaauferirasuadisponibilidade,dadocentralparaoexameda categoria dogmtica do consentimento do ofendido, examinado ainda nas suas demais linhas gerais. Finalmente verifica-se em que medida o consentimento da vtima de trabalho anlogo ao de escravo por jornada exaustiva pode afastar o injusto penal. 1 O TRABALHO ANLOGO AO DE ESCRAVO POR JORNADA EXAUSTIVA Otrabalhoconsideradoanlogoaodeescravoquandopresentesascondies previstas no artigo 149 do Cdigo Penal Brasileiro. Com a nova redao dada ao art. 149 do CP pela Lei n.10.803/2003, ficou delimitado queparaqueexistaaconfiguraodotrabalhoanlogoaodeescravo,apessoadeveser submetidasseguintescondies:trabalhosforadosouajornadaexaustiva;condies degradantesdetrabalho;ousersubmetidarestriodesualocomooemrazodedvida contrada com o empregador ou preposto. So estas as formas vinculadas pelo legislador para a prtica do injusto penal. Ashipteseselencadassoproposiesalternativas,bastandoconfigurar-seapenas umadelasparaaconformaoaotipopenalexpressonocaputdoart.149doCP.Todasas alternativasrepresentamformasdeabusoedesrespeitoaotrabalhohumano,afrontaao princpio e fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do trabalho, como expresso no art. 1, incisos III e IV da Constituio Federal, afinal: ACFinstituiuumanovaconcepodeEstado oEstado DemocrticoeSocialde Direito e o adotou como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa humana. Dignidadepersonificadanosobjetivosperseguidospelanovaordemimplantada, comoosdaconstruodeumasociedadelivre,justaesolidria,daerradicaoda pobrezaemarginalizao,dareduodasdesigualdadessociaiseregionais,assim como nos princpios da inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, seguranaenosdireitossociaiseconmicosaliprevistos.(ROCHA;SANTIAGO, 2012, p. 209). Deve-selevaremconsideraoqueadenominadaescravidocontempornea 3no se configura nos moldes daquela vigente outrora, ligada ideia de navios negreiros, senzalas e escravosacorrentados.Talcomparaoacabadificultandoocombatenovaformade explorao do trabalho humano, levando at mesmo a uma falta de sensibilizao ao contexto das novas maneiras de abuso sobre o labor do homem (SILVA, 2009). Assim, preciso compreender o problema do trabalho anlogo ao de escravo dentro do contexto social atual e das novas relaes de trabalho.Ressalte-sequeaescravidocontemporneamaissutil,nosentidodequea restrio liberdade no se configura apenas na ideia literal de impedimento de ir e vir, mas tambmemummbitomaisamplo,queserefereexatamenteaosdiversosaspectos econmicosqueenvolvemaquelequeestsubmetidoatalcondio,caracterizadapela impossibilidade de escolha. Apenas livre aquele que pode escolher. A privao da liberdade pode decorrer de restrio de meios, impossibilitando que algumas pessoas consigam alcanar ummnimodoquedesejariampelaausnciadeoportunidadesprimrias,sujeitando-sea situaesdetrabalhodegradanteseextenuantescomoformadesobrevivncia(SEN,2000). Logo,aquelequetemasualiberdadeedignidadevioladastratadocomocoisa,havendo, portanto, a desmedida explorao do ser humano, que usado como meio e no como um fim em si. Afirmava Kant (2008, p.276): Masumserhumanoconsideradocomoumapessoa,isto,comoosujeitodeuma razomoralmenteprtica,guindadoacimadequalquerpreo,poiscomopessoa (hommonoumenon)noparaservaloradomeramentecomoummeioparaofim de outros ou mesmo para seus prprios fins, mas como um fim em si mesmo, isto , ele possui uma dignidade (um valor interno absoluto) atravs do qual cobra respeito por si mesmo de todos os outros seres racionais do mundo. [...]. 3 A expresso escravido contempornea utilizada para denominar o trabalho anlogo ao de escravo. Refere-se explorao do trabalho do homem no contexto social atual e das novas relaes de trabalho. Odesrespeitoliberdadeedignidadehumana,ultrapassandooslimitesque diferenciam as pessoas dos objetos em si, no se d apenas por meio da coao, mas tambm atravsdaviolaodosdireitosfundamentaisexpressosnaConstituioFederal,comoo direito ao trabalho digno. Esta conjuntura acaba impedindo o indivduo de se autodeterminar, estabelecendoigualmenteumasituaodereduoacondioanlogadeescravo.Afinal, quem por livre opo - e com outras possibilidades - continuaria, mesmosem impedimentos fsicosoucoao,atrabalharemcondiesdegradantesouexaustivas?Assim,paraa configuraododelitodoart.149doCP,precisoqueosujeitopassivoestejasubmetido quelas situaes especficas elencadas, e que no tenha domnio sobre si mesmo. 4

O tipo penal doart. 149do CP encontra-se presente no Captulo Dos Crimes contra liberdadeindividualnaSeoDoscrimescontraaliberdadepessoal.Suapresenanesta regiotopogrficadoCdigoexplica-seporumapreocupaodecorrentedaprpriahistria noqueserefereliberdadedohomem.Pormuitotempomuitoshomensforamreduzidosa objeto e privados de sua liberdade, eis que se admitia socialmente a escravido5.No entanto, com as modificaes no tipo penal, trazidas pela Lei 10.803/2003, a tutela penal inclinou-se mais para as relaes de trabalho do que para a liberdade, buscando amparar eprotegerotrabalhadordosdesmandosqueaatividadeeconmicapodeproporcionar. Avultou a preocupao com a dignidade da pessoa humana in genere.6 Antes da modificao trazidapelaleide2003,oartigo149tinharedaoimprecisaaoapenasexpressaremseu texto: reduzir algum a condio anloga de escravo. No especificava as hipteses de sua configurao,tutelandoaliberdadeindividual.Comaalterao,deu-seaespecificaodas condutas que configuram o delito em questo. Mais: alterou-se o mbito de proteo. Feitas tais consideraes relevantes e necessrias sobre o tema, ressalte-se que no se pretende esgotar o contedo de todas as hipteses previstas no art. 149 do CP. Analisa-se to-saquelaquesereferejornadaexaustiva,emseusaspectosquantitativosequalitativos. Aqueles concernem essencialmente ideia de tempo da jornada de trabalho; estes, forma e 4 Como exposto pela Ministra Rosa Webber em seu voto no INQ. 3.412/AL, a privao da liberdade e a afronta dignidadedapessoaocorremtambmquandoestatratadacomocoisaenocomopessoahumana,gerandoa violao de seus direitos bsicos, inclusive direito ao trabalho digno, colocando-a em uma situao em que no tem escolha, no pode se autodeterminar, j que no tem domnio sobre si mesma.5Ahistriatrazemdiversospontosaescravidodohomem.AescravidoeracomumnaGrciaantigaeno Imprio Romano. Ainda no perodo na colonizao da Amrica a mo de obra escrava foi vastamente utilizada. 6NestesentidosoosvotosdosMinistrosCezarPelusoeCarlosAyresBrittonoINQ.3.412/AL.Oprimeiro entendequeatuteladoartigo149 doCPfoideslocadaparaaproteoda dignidadedapessoanacondiode trabalhador, e o segundo expressa que independentemente de se apegar a uma interpretao baseada no indivduo ou no trabalhador, ou seja, mais ampla ou mais restritiva, a dignidade da pessoa humana encontra-se presente e penalmente tutelada. condies(constncia,magnitude,desgaste)emqueestetrabalhorealizado.7Portudo, preciso estabelecer e delimitar o que permitido em relao jornada laboral pela legislao brasileira. AConstituioFederalde1988estabeleceemseuart.7,XIII,ajornadanormalde trabalhoemoitohorasdiriasequarentaequatrosemanais.Contudo,noincisoXVIdo mesmo artigo, determina a remunerao do servio realizado aps as oito horas dirias, com adicionaldenomnimo50%sobreahoranormal,ouseja,possibilitando,portanto,horas extraordinrias de trabalho.O artigo 59 da CLT estabelece ainda, que a durao normal de trabalho de oito horas, poderserestendidapornomximoduashorassuplementares,desdequeexistaacordo escrito entre o empregador e empregado ou por meio de acordo coletivo de trabalho. AConstituioFederalaindaprevajornadadeseishorasparaotrabalhorealizado emturnosininterruptosderevezamento(art.7,XIV),orepousosemanalremunerado,de preferncia aos domingos (art. 7, XV), frias anuais remuneradas (art.7, XVII), dentre outras disposieselencadasnosdemaisdispositivosenoprprioartigoemcomento,coma finalidade de proteo e preservao da sade dos trabalhadores. Almdisso,aCLTpossuivriosartigoscomointuitodeproteoaotrabalhador. Entreestesimportantemencionaralgunsreferentesjornadadetrabalhoeaodireitode descanso do obreiro.Assim o art. 66 da CLT estabelece que haja um perodo mnimo de descanso de onze horas entre duas jornadas trabalhadas; o art. 71 da CLT elenca os intervalos intrajornadas que devem ser observados e o art. 129 da CLT dispe sobre as frias que devem ser concedidas ao trabalhador.Percebe-se que h a preocupao com o bem-estar do trabalhador, essencialmente com a sua sade, sejafsica ou mental, tanto na Constituio Federalcomo naCLT e nas demais legislaesinfraconstitucionais.Emparticular,talpreocupaorevelaqueashoras extraordinrias devem assumir o seu papel eventual e excepcional. importante,porm,quehajaumefetivocontroledajornadadetrabalhoedos descansoslegais,comafinalidadedeevitarirregularidadeseresguardarobem-estardo trabalhador. Comodemonstrado,possvelaotrabalhadorumajornadadeatdezhorasdirias, considerandosoitohorasnormaiseasduasextraordinriasadmissveis.Assim,otrabalho 7AsformasquantitativasequalitativassobemdemonstradasnoManualdeCombateaoTrabalhoem Condies Anlogas de Escravo do Ministrio do Trabalho e Emprego. emhorassuplementarespermitidodentrodoslimiteslegais,tendocomocontraprestao umaprestaopecuniria.Contudo,odescumprimentodasnormastrabalhistasgerara devidaresponsabilizaoeopagamentodaindenizaodevida,oqueporsis,no representa trabalho anlogo ao de escravo, mas descumprimento da legislao do trabalho. Ashorasextrasdesempenhadasnosoautomticosinnimodejornadaexaustiva. Nem sempre que ultrapassarmos o critrio quantitativo do tempo legal de oito horas dirias de jornada se configurar o trabalho anlogo ao de escravo, eis que admissvel a realizao de duashorasextrasdiriasnosparmetroselimitesestabelecidospelaCLT,bemcomoem casos de necessidade imperiosa por motivo de fora maior ou para atender a concretizao ou conclusodeserviosinadiveis,emcasosemqueasuanorealizaopossaocasionar manifesto prejuzo, como expresso no art. 61, caput da CLT. Entretanto,quandoajornadaexigiresforosalmdoqueacapacidadedohomem comumcapazdetolerar,ultrapassandoseuslimites,levando-seemcontaafrequncia,a intensidadeeodesgastegerado,oquepodeocorrer,mesmodentrodajornadalegaldeoito horas, haver a configurao de jornada exaustiva. Como dito, a anlise tambm qualitativa, no apenas quantitativa. exemplar a rea laboral atinente ao corte de cana: Aprodutividadeumdesafiodirio.Ocortedacanaumtrabalhosolitrio.O ganhodeterminadopelametragempelopesoepelotipodacanacortada.um clculo complexo, difcil deser entendido pelos trabalhadores que estohabituados lgica econmica do roado e do trabalho na terra. Na cana tudo diferente. No ar semprepairaasuspeitaderoubonasmedies,pormareclamaopodeimplicar advertncias,ganchosedemisses.Diantedesseriscosecalam.Nocorteos movimentosrequeremdestrezaehabilidade,osriscosdeacidentessograndes.O padro mnimo de produtividade das usinas para cada trabalhador de 10 toneladas decanapordia.Paracumpriressameta,ocorpoprecisaderesistnciafsica,daa necessidade de trabalhadores jovens nos canaviais.O ritmo de trabalho alucinante, os trabalhadores ficam no limite da sua capacidade fsica. (NOVAES, 2009, p.121). Omesmoseverificaemcasosdetrabalhadoresqueatuamnaextraodecarvo vegetal e so submetidos jornada extenuante devido intensidade do trabalho empreendido (VERAS;CASARA,2004),nosendonecessariamenteextrapoladoocritriotemporal, conquanto possa incidir concomitantemente ao critrio qualitativo. Ajornadaexaustivacaracterizaumacondiodegradantedetrabalho(RAMOS FILHO, 2008), atingindo a dignidade do trabalhador, no sentido de violar as suas limitaes fsicas e psquicas, que devem ser observadas dentro do contexto do trabalho digno. Afinal, o trabalho encontra sua base na Constituio Federal, e, portanto, deve ser lido sobre o prisma dadignidadedapessoahumana.Otrabalhohqueserdigno,poisdocontrriopromovea mitigao do valor fundamental do Estado Democrtico de Direito, ou seja, a prpria pessoa humana (MIRAGLIA, 2010). A jornada exaustiva se caracteriza pelo excesso de horas trabalhadas, bem como pelo esforoempreendido,quandolevaotrabalhadorexausto,aumesgotamentoqueo impossibilitademanterumavidaforadombitolaboral,prejudicandoasuasadeesuas relaessociais.Emtaissituaes,osujeitopassivododelitosubjuga-seaodomniodo sujeito ativo, de forma a no ter escolha, de no se autodeterminar.Logo, a coao para que este realize o trabalho em jornadasexaustivas, extenuantes, vem da falta de possibilidade de opo, como meio de manuteno de sua sobrevivncia. Em tal contexto, caso determinado ao trabalhadorqueobreporquinzehorassemintervalos,ataexaustototal,otrabalhadoro far.Noprecisoestarimpedidodesairdolocaldotrabalho,pormeiodeforafsica.A foraqueimperaeconmica:opta-seentrenoternadaouteropoucoquepermitaa sobrevivncia.Exemplares,paraalmdajornadaexaustiva,soaquelassituaesemqueo trabalhadorobrigadoacomprarsuacestabsicadealimentaodeseuprprio empregador, quase sempre por preos superiores aos praticados no mercado (GRECO, 2009, p.544),circunstnciaemqueacabaporsetransformaremumrefmdasuaprpriadvida, passando a trabalhar to somente para pag-la [...] (GRECO, 2009, p.544). Apreocupaoprotetivalaboralultrapassaarbitadodireitonacional.Atuam,no planointernacional,dasconvenesn.29en.105daOIT(OrganizaoInternacionaldo Trabalho), que tratam da erradicao e abolio do trabalho forado e obrigatrio, as quais o Brasilratificou.Resguardamotrabalhadordasflexibilizaescontratuaislaborais promovidas pelo capitalismo, com o intuito, atravs das formas de gesto, de atingir a mxima produtividade e o maior lucro, sacrificando a sade fsica e mental do trabalhador. Evitam-se tambm acidentes de trabalho, que levam morte ou a incapacidades fsicas.Feitas tais ponderaes, analisam-se os bens jurdicos tutelados pelo artigo 149 do CP no que refere jornada exaustiva. 2OSBENSJURDICOSTUTELADOSPELOART.149,CPQUANDOCOBE SUBMISSO JORNADA EXAUSTIVA Osbensjurdicosrepresentamdadosmateriaiseimateriais,quepossuemproteo legal,devidovaloraoquerecebemdosindivduosedasociedade.Muitosbensjurdicos possuemcarterpatrimonial,suscetveisdevaloraoeconmica.Outros,conquantode relevnciaparaoshomens,nosopassveisdeaferiopecuniria(PIERANGELI,2001, p.107-108). Noart.149doCP,aproteojurdica,noquesereferescondiesaque submetido o trabalhador por jornada exaustiva, dirige-se dignidade do trabalhador no mbito daorganizaodotrabalho,comomeiodetutelaracoletividadedetrabalhadores.A dignidadedapessoahumanarepresentaqualidadeinerenteaoserhumano,queofaz merecedor de respeito por toda coletividade e pelo Estado. Respeito sua integridade fsica e moral,atravsdeumaparatocompostopordireitosfundamentaisquelhepreserveme resguardem de qualquer ato degradante e desumano (SARLET, 2001, p.60). Ao indivduo, deve ser garantida uma vida digna, em que este possa se autodeterminar, participando ativamente do seu destino e do futuro da sociedade. Todosossereshumanos possuemamesmadignidade,nopodendoumsersubjugadoposiodemeroobjetode disposiodeoutro,pararealizaodeseusfins.Nestaperspectiva,abre-seaconcepoda dignidade da pessoa do trabalhador.Arealidadeeconmicabrasileiraestpermeadadaincidnciadestahiptesede violao.Nombitodotrabalhadorrurcola,jaludimosaosquecolhemcana-de-acar, carregadoscomogadoemcaminhesabertos,semnenhumasegurana,esubmetidosauma jornadaextenuante,quegeradoenaseatmesmoamorte(LOPES,2007).Noambiente laboralurbano,cite-seoexemplodaempresaZara,emSoPaulo,queseutilizoude bolivianoseperuanoscomomo-de-obraanlogaescravaemconfeces.Talcasoteve grande repercusso. Alm de se enquadrar nas demais hipteses previstas no art. 149 do CP, a jornada exaustiva era constante e flagrante, eis que os operrios da costura trabalhavam at 16 horas dirias (PYL; HASHIZUME, 2011). Ofatoqueasformasdegestoempresarial(desdeasmaisantigasproposiesda administrao de empresas, como o fordismo ou o taylorismo) em busca do lucro desmedido ultrapassamsempudoresolimitepondervel,suportvelelegaldajornadadetrabalho, afrontandoadignidadedapessoahumananasuacondioexistencialdetrabalhador. Ceifando da sua vida a sade, a convivncia familiar e social.No h dvida da importncia do trabalho na vida do homem, mas do trabalho digno. Aquele que lhe garante as condies mnimas de uma vida digna, eis que o prprio trabalho fundamental para tal finalidade. AprpriaConstituioFederalestabelecenoart.1,incisosIIIeIV,adignidadeda pessoahumanaeovalorsocialdotrabalhocomofundamentosdaRepblica.Proclamano art.170,comofundamentodaordemeconmica,avalorizaodotrabalhohumano,coma finalidadedeasseguraratodosaexistnciadigna.Logo,nohexistnciadigna,sem valorizao do trabalho, que, portanto, h que ser digno tambm. Adeclaraodosdireitoshumanosde1948estabeleceodireitoaotrabalho,a condies justas e favorveis de trabalho, bem como, de livre escolha de emprego. E vai alm, aodeterminardireitoarepousoelazer,limitesrazoveisdejornadadetrabalhoedefrias peridicas remuneradas. Nestaconjuntura,acoletividadedetrabalhadoresdestinatriodatuteladobem jurdicoorganizaodotrabalho(GUARAGNI,2010).Defende-seadignidadedos trabalhadoresenquantoconjunto,vezqueconstituemapartemaisfracanarelaolaboral. Dentrodestaperspectiva,pode-sefazerumacomparao,edizerqueadignidadepossui mbito individual e coletivo: cada ser humano nico e, portanto, titular de direitos prprios, mas a dignidade humana transcendea pessoa considerada particularmente, abarcando todo o corpodecidadosobreirosempotncia.Logo,entende-sequeohomemtrabalhador, submetido condio anloga de escravo, um todo parte, eis que a parte de um todo, fazendoumasingelaanalogiaaopensamentodeCarlosAyresBrittonoqueconcernea dignidade da pessoa humana (BRITTO, 2007). Desse modo, a conduta que reduz o trabalhador a condio anloga de escravo atinge direitosconstitucionaisfundamentais.Assim,conformeentendimentodoSupremoTribunal Federal,acondutaqueviolaasinstituiesquegarantemosdireitosdostrabalhadoresde formacoletiva,lesionaaorganizaodotrabalhonocomponenteaoqualsedestinaa proteo,ouseja,ohomemtrabalhador,quandopraticadanombitodasrelaeslaborais, indo de encontro ao princpio da dignidade da pessoa humana.8 8ComodemonstradonoVotodoMinistroJoaquimBarbosanoRE398041/PA,aorganizaodotrabalho deveabarcartambmoelementohomem,entendidodeformaampla,noqueserefereprincipalmentesua liberdade, autodeterminao e dignidade. Nasuma:ocrimedereduocondioanlogadeescravoumcrime pluriofensivo,vezqueabrangemaisdeumbemjurdico.Primordialmentetutelaa organizaodotrabalho,protegendoaindaaliberdadeeaprpriadignidadedapessoa humana. 3 O CONSENTIMENTO DO OFENDIDO Emrelaoaoconsentimentodoofendidodistingueadoutrinatradicionalmente, entreumconsentimentoexcludentedatipicidadeeoutrojustificante(excludentede antijuridicidade)(ZAFFARONI,etal.,2010,p.237).Dentrodesteentendimento,o consentimentoexcluiriaaantijuridicidadequandoaoposiodavontadedavtimano constitui elemento do tipo legal e excluiria a tipicidade quando a conduta tpica est expressa no delito e exercida contra a vontade do titular do bem jurdico9 (ZAFARONI, et al, 2010).Nestaperspectiva,oconsentimento,comocausadeexclusodetipicidade,podese configurardeduasformas:quandootipopressupeodissensodavtima;paraintegr-la, quandooassentimentodavtimaconstituielementoestruturaldafiguratpica. (BITENCOURT,2013,p.407).ExistemalgunscasosdentrodaparteespecialdoCdigo Penalquepodemexemplificaredemonstrartalsituao.Naprimeirahiptese,tem-seo dissenso da vtima, como o caso do art. 150 do Cdigo Penal, que corresponde ao delito de invasodedomiclio.Estetipoprevacondutadeentraroupermanecerdentrodacasado titular do bem, contra a sua vontade expressa ou tcita. Na segunda hiptese, o consentimento davtimaconstituiverdadeiraelementardocrimecomoocorria,porexemplo,norapto consensual (art. 220, tambm j revogado) e no aborto consentido (art. 126). Nesses casos, o consentimento da vtima elemento essencial do tipo penal (BITENCOURT, 2013, p.407) e, naturalmente, integra-o, ao invs de exclui-lo. Paraalmdeeventualatipicidadelegal,oinstitutoemquestoconstituiriasempre segundo a orientao tradicional em destaque - causa supralegal de excluso da ilicitude penal (logo,noreferidanalei),porafastaralesividadeenquantocontedomaterialdeinjusto 9 Atravs da categoria da tipicidade conglobante, Zafaroni d peculiar tratamento questo do consentimento do ofendido,excludentedaconflitividadeentreopragmacomportamentoconcretonomundoeobemde proteo, ipso facto, excludente da prpria tipicidade. (SANTOS, 2004).De fato, atravs do consentimento do titular, h renncia proteo penal sobre o bem, desde que no defeso o espao de disponibilidade (SANTOS, 2004).Todavia,opensamentotradicionalesbarranaideiadequeaverificaodalesoao bemjurdico,provocadapelocomportamentodelituoso,realizadanotipo,segundoo sistema analtico de crime atual. nele que se revela a conflitividade entre o comportamento concretamenterealizadoeobemdeproteo.Nestestermos,sendovlidooconsentimento doofendido,nohestaconflitividade.Daresultaatipicidadematerial,paraalmdas situaesemqueoconsentimentoexclua,porventura,atipicidadeformalobjetiva.Bempor isso,ClausRoxinapresentaocorretoentendimentodequeoconsentimentorealtemefeito somentedeexcludentedetipicidade,eisquerepresentariaexerccioconstitucionalda liberdadedeaodotitulardobemjurdico(ROXIN,1997).Nestassituaes,otitularda proteopenalrenuncia,porautocolocaoemperigoouaceitaodaheterocolocaoem perigo, ao campo de proteo que o tipo lhe confere. Isto exonera de tipicidade as condutas de quem participa na autocolocao em perigo alheia ou daquele que coloca sob risco o titular do bem jurdico. Deumououtromodoeistoquesedevefrisar-,oconsentimentodoofendido afasta o injusto penal, por falta de contedo material.Paravalidadedoconsentimentodoofendidoprecisoauferiracapacidadedotitular do bem jurdico, seu discernimento e compreenso em relao ao significado e da amplitude do ato consentido, bem como das consequncias que dele decorrem.Quantocapacidadeinabstracto,admissveloconsentimentodoofendidoapartir da maioridade civil, ou seja, a partir dos 18 anos de idade. Afirma Jakobs (2008, p.352): [...] noquedizrespeitoaoreconhecimentodacapacidadededisposio,oDireitoPenal permanecevinculadoaoDireitoCivil,porquecasocontrrio,seriafaticamentepossvel,por meiodeumconsentimento,atingirjustamenteumresultadoquenopodeseratingidopelas regras jurdico-negociais. Tal orientao deve ser firmada como regra geral.Entretanto,noserejeitaaideiaqueoindivduoaquiescente,antesdecompletar18 anos, adquira a plena capacidade de compreenso dos fatos e, portanto, de consentir. Compete aomagistradonestacircunstnciaanalisaravalidadedoconsentimentodentrodecadacaso concreto(PIERANGELI,2001).Istosedemreasdavidanasquaisnoseobtmuma espcie de burla validade das regras jurdico-civis negociais. Pari passu, existem mbitos de consentimentoprpriosdeincapazes,mesmonombitocivil:nosenega,socialmente,que adolescentesmenoresde18anosdisponhamdesuasliberdadesambulatriasparausarem transportes coletivos. No respectivo uso, d-se uma relao de consumo (lato sensu, jurdico-civil). Quantoaoincapaz,aprerrogativaparaconsentirdospaisouresponsveis, excluindo-seasquestesrelativasadecisesexistenciaisouligadasapersonalidade (SANTOS 2004). De outra parte, requer-se tambm uma capacidade em concreto: no basta o indivduo termaturidadeetriaesanidadementalparaqueseuconsentimentosejavlido.Afinal, possvel que seja capaz em geral para expressar consentimentos, mas, na situao em que est concretamenteenvolvido,notenhacompreensooualcancedoobjetosobreoqualrecair seuconsentimento.Assim,porexemplo,podeserquepessoa,capazdeconsentimentoem geral, se submeta a testes laboratoriais no compreendendo os previamente anunciados efeitos nocivos neurofuncionais que seriam porventura produzidos no seu organismo. Tal situao pode derivar de circunstncias comuns, como a pura e simples ignorncia, falta de domnio de vocabulrio,analfabetismo,etc.E,nohavendocompreensoadequada,peloconsenciente, acerca do objeto consentido, a categoria dogmtica do consentimento do ofendido no produz efeitos. Alm disso, deve-se verificar se a vontade do aquiescente se manifesta de forma livre, afastando-se de eventuais defeitos de vontade, por meio de erro, fraude ou coao. Assim: O consentimento deve, ademais, achar-se livre de vcios de vontade (engano, erro e coao) de sorte que, por exemplo, o consentimento de um recluso de um campo de concentrao nazista em sua castrao resultar ineficaz [...] (JESCHECK, 1981, p.522). A liberdade de vontade, comopressupostodevalidadedoconsentimento,adquirepapelrelevantenotemadas jornadas exaustivas. Este papel ser adiante abordado. Verifica-seainda,queoconsentimentodeveserpreferencialmenteexpresso, perceptvel e claro. O consentimento expresso pode-se dar das seguintes formas: por meio de comunicaooral,realizadadeformadiretaentreoaquiescenteeoagente,oupormeiode terceiros;podesermanifestadopormeioescritoeporqualqueratoqueotorneclaroe perceptvel(PIERANGELI,2001).Logo,oconsentimentodeveserclaro,eidentificado externamentedealgumaforma,poisquehojeserequerqueoconsentimentotenhasido reconhecvelexternamentedealgummodo,semque,todavia,seapeleaosparmetrosdo direito civil sobre a declarao de vontade [...] (JESCHECK, 1981, p. 521).Ainda, deve-se observar que o agente s estar amparado e isento de responsabilidade penalnaformaelimitesestabelecidospeloconsentimento.Trata-sedorequisitoda correspondnciaentreoconsentidoeorealizado.Ressalte-setambmqueseexistirmaisde umtitulardobemjurdico,todosestesdeveroconsentir,paraqueoconsentimentoseja vlido. O consentimento deve ainda ser anterior conduta do agente, pois quando se d aps a prticadacondutatornar-sesemimportncia,nombitododireitopenal.Arazode ordemlgica.Nosepodeconsentircomalgoquejfoirealizado,simplesmenteanuir.O consentimento presume uma tomada de deciso prvia ao fato. [...] (BUSATO, 2013, p.515-516). Resumidamente,tem-sequeparavalidadedoconsentimento,otitularouostitulares do bem jurdico, que manifestam o consentimento, devem possuir pleno entendimento do seu atoedasconsequnciasdomesmo,possuindo,portanto,plenacapacidadeinabstractoetin concreto. Alm disso, o bem jurdico deve estar no mbito de disponibilidade do seu titular aspectoquesermelhorexploradoadiante-,acondutatpicaconcretizadadevesera consentida e tal manifestao deve ser livre de vcios de vontade (TOLEDO, 1994). Nota-seaindaapossibilidadedoconsentimentopresumido,dentrodocontextode determinadascircunstncias(OLIVEIRA,2008,p.1587).Acondutadoagente,baseadano consentimento presumido do titular do bem jurdico de forma geral, uma ao fundamentada nointeressealheio,masadmite-setambmaideiadeaonointeresseprprio(SANTOS, 2004). Logo, pode se basear na ideia de que o titular do bem jurdico consentiria se indagado, ouainda,queoconsentimentopodeserconseguido,masnosefaznecessrio10(SANTOS, 2004). Quanto ao requisito da disponibilidade do bem jurdico, central para o texto, far-se-o consideraes a seguir. 10 Tal como demonstrado por Juarez Cirino dos Santos, utilizando como exemplo no primeiro caso uma cirurgia urgenteemvtimainconscientedeacidente,enosegundo,oexemplodaentradaemcasaalheiaparaapagar incndio. 4ADISPONIBILIDADEDOBEMJURDICOCOMOCRITRIODEVALIDADE DOCONSENTIMENTODOOFENDIDOESUAAUSNCIAEMRELAO JORNADAEXAUSTIVACOMOFORMAVINCULADADEREALIZAODO ARTIGO 149, CP Paraqueexistaapossibilidadevlidaeeficazdedisposiodeumbemjurdico atravs do consentimento do ofendido, de forma a afastar a responsabilizao penal, preciso estabelecer um parmetro que o autorize.Nestesentido,construiu-seoentendimentodanecessidadedeumcritriopara determinar a disponibilidade ou indisponibilidade do bem jurdico. O primeiro critrio que se deve mencionar o critrio do balanceamento dos interesses ouequivalnciadosinteresses.EstateoriasurgiunocomeodosculonaAlemanha (PIERANGELI,2001).Contudo,apresenta-semaisadequadaquandomaisdeumbem jurdico tutelado pela norma incriminadora (crimes complexos), v.g., oroubo e aextorso. Isto se deve porque o tipo no traduz dois interesses, um disponvel e outro indisponvel, mas simumquepreponderanasituaocomaqualsedefronta.(GONTIJO,2000).Logo,a validadedocritrioconsideradarelativa,poisapesarderevestidoderelevncia,estese apresenta insuficiente. Almdisso,constata-sequeparaaanlisedoaludidocritrio,existeautilizao significativadecritriossubjetivosdevalorao.Entretanto,estaponderaodeveocorrer sobre determinados limites, porque o juzo individual deve ser ponderado frente ao interesse coletivo no que se refere defesa dos bens jurdicos. (JESCHECK, 1981, p.516): Outrocritrioutilizadoparaseauferirdisponibilidadeaquelequeserefere utilidadesocialdobem.Obemjurdicoconsideradodisponvelquandoestenoapresenta imediatautilidadesocial,reconhecendooEstadoexclusividadedeseuusoegozoao indivduo. Todavia, quando o bem de imediato demonstrar a sua utilidadesocial, este bem indisponvel (PIERANGELI, 2001). Verifica-se que h neste sentido, um modo mais comum de expressar tal diferenciao, levando-se em conta se o bem de interesse individual ou coletivo. Dentro desta perspectiva, aquelesbensconsideradosdeinteresseindividualrevelamumcartereminentementedeum bemdisponvel,enquantoosbensconsideradoscoletivosapresentamafeioda indisponibilidade. Logo,precisodelimitaroqueseriabemjurdicodeinteresseindividualede interesse coletivo. Obemjurdicodeinteressecoletivocorresponderiaquelesbensqueso determinantes e relevantes para coletividade. Apresentando-se, portanto, como imprescindvel paraaconformaosocial,sendoquesualesocomprometeriatodoosistemasocial,pois estes so essenciais para a vida em sociedade. Os bens de interesse particular seriam os demais bens, que estariam a princpio, no rol dosbensdisponveis,podendoserdispostosporseutitular,dentrodoslimitesdaadequao social estabelecida pela sociedade11. Ainda, tal disposio do bem, no poderia comprometer ocontidonaordemconstitucional,taiscomoseusprincpiosedireitosfundamentais. Todavia,talcritriosemostrafalho,namedidaemque,dentrodestaperspectiva,existem bensjurdicosindividuaisquesoconsideradospeloordenamentojurdicobrasileirocomo indisponveis, como o caso da vida. A vida um bem jurdico do qual o sujeito submetido legislaobrasileiranopodelivrementedispor.Basta,paraademonstraodisso,a incriminao das hipteses de ortotansia sob a forma de homicdio privilegiado e de auxlio, instigaoeinduzimentoaosuicdio,aindaqueestenoseconsume.(BUSATO,2013,p. 515).Ainda h a forma de distinguir os bens disponveis dos bens indisponveis baseada no direitoprocessual.Assim,quandoodelitoemquestoforsubmetidoaopenalpblica incondicionada,haveriaasuposiodequeestebemindisponvel.Emcontrapartida,no casodeumcrimeserapuradoporaopenaldeiniciativaprivada,obemofendidoseria presumidamenteumbemdisponvel.Entretanto,talmeiosemostrafalho,eisqueomodo utilizado para determinar se a ao ser pblica incondicionada, condicionada a representao ou privada, um critrio de oportunidade (PIERANGELI, 2001).Logo,verifica-sequenohcomoelegerentreoscritriosestabelecidos,umquese mostre suficientemente seguro para se determinar a disponibilidade de um bem jurdico.Por outro lado, a partir do conceito do bem jurdico tutelado penalmente sustentando, porexemplo,porZaffaroni,pode-seconcluirquenoexistembensjurdicosindisponveis. Talvez seja a melhor sada para o problema. O professor platino esclarece que bem jurdico penalmente tutelado a relao de disponibilidade de um individuo com um objeto, protegida pelo Estado, que revela seu interesse mediante a tipificao penal de condutas que o afetam (ZAFFARONIePIERANGELI,2007,p.399).Assim,oautorentendequenohbem 11 Pelo princpio da adequao social possvel as mes colocarem brincos em seus bebs, ou as pessoas fazerem tatuagens, apesar de constiturem leso corporal, a conduta adequada socialmente, admitida pelo corpo social. indisponvel,sendotodososbensjurdicosemcertamedidadisponveis.Afinal,oquese protege em todo e cada bem jurdico, a prpria relao de disponibilidade entre um sujeito e umobjeto.Hqueseafastaraconfusoestabelecidaentreadisposiodeumbemporseu titular com a faculdade de destruio. Diz Zaffaroni (2007, p. 400): Uma crtica muito freqente afirma que h bens jurdicos que no so disponveis, o que se pretende demonstrar nos casos dos bens jurdicos vida e Estado. Antes de mais nada, esta objeo parte da crena de que s se pode dispor ilimitadamente, porqueconfundedisposiocomfaculdadededestruio.Ansparecebvio que a destruio um limite da disposio e, alm do mais, muito estranho e pouco usado.Identificaratodedisposiocomatodedestruioprpriodeuma concepojurdicaquecorrespondeaodireitocivilquiritrioouaoEstadoliberal entendidocomoEstadogendarme.NoEstadosocialdedireitocontemporneo, esta identificao no tem cabimento. Sendoobemjurdicoumarelaodedisponibilidade,parececlaroquenohbem indisponvel.Todavia,existemformasdedisposiovedadasemlei.OEstadocircunscreve um campo de disponibilidade mais ou menos elstico para que o titular faa uso de umente oucoisa.Assim,sedeumladonohbemindisponvel,poroutroarelaode disponibilidade tampouco sempre assegurada em plenitude pelo ordenamento jurdico. DaquiderivaadiscussodosmotivospelosquaisoEstadopodelimitarcamposde disponibilidade do indivduo, sobretudo no marco da equao liberal, em que o Estado existe para o indivduo, e no o avesso. Sem esgot-los, pode-se afigurar, de partida, dois grupos de casos: a) situaes em que a limitao da disponibilidade diz com a preservao de interesses supraindividuais,semqueistoseconfundacomointeressedoEstadoenquantopessoa jurdica (serve, aqui, distinguir entre interesses pblicos primrios, que permitem a limitao darelaodedisponibilidade,esecundrios,aprincpioimprpriosparafundamentarema limitao,salvoquesecoloqueemxequeaprpriaexistnciadapessoajurdicadedireito pblico);b)situaesemqueaagnciaestatalemiteordenamentojurdicolimitadordo mbitodedisponibilidadeindividualtendoemcontafragilidadesdoprprioindivduo. certo que, aqui, um Estado paternalista pode sofrer crticas e sua interveno no se mostrar legtima.Inclusive,umpaternalismoexacerbadoconduzquebradaequaoliberale, portanto,amodelosautoritriosdeEstado.Porm,inadequadaarecusadetodaa interveno estatal limitadora da disponibilidade do titular em relao ao ente, desde que haja efetiva necessidade de proteger o indivduo de si mesmo, por exemplo, quando portadores de psicopatologiasqueosconduzamaexporem-sediantedeperigos,ouparacompensar situaes em que a posio do indivduo desinformada (faltando-lhe adequada compreenso doobjetodeaquiescncia)ouseucampodedisponibilidadeestejatoconstritoquea liberdade de vontade esteja diante de gargalos intransponveis (ausncia de vontade livre). Neste segundo grupo de casos, inserem-se os limites relao de disponibilidade entre osbensjurdicostuteladosnoart.149doCPeseustitulares.Defato,arelaode disponibilidadedobemjurdicoorganizaodotrabalho,quetemcomodestinatrioa coletividade dos trabalhadores, limitada. As proibies contidas no art. 149, CP, no recuam diantedaaceitao,porpartedotrabalhador,gruposdetrabalhadoresourgosde representaonosentidodeaceitaremtrabalhoforado,submissojornadaexaustiva, condiesdegradantesdetrabalhoourestriodelocomoo.Tudoderivadoordenamento jurdico trabalhista assegurar direitos sociais vista: a) da eventual ignorncia do trabalhador emrelaoscondieslegaisdelaborsquaissesubmete;b)danecessriaposiode hipossuficinciadoobreiroanteoempregador,premidopelarealidadeeconmicaque condiciona seu acesso ao consumo de bens e servios efetiva entrega das energias do corpo ao detentor dos meios de produo, mediante salrio. Portanto,nohquesefalaremvalidadedoconsentimentodavtimanashipteses mencionadas,porseultrapassaroslimitesdedisponibilidadeimpostospelocorposocial atravsdoseuordenamentojurdicoaosbensjurdicospenalmenteprotegidospresentesno art. 149 do CP. Quando a Constituio, no art. 7, incisos XIII e XIV, ressalva a possibilidade deacordoscoletivosdisciplinaremasmatriasrespectivasjornadadiriaeturnosde trabalho,f-lodentrodolimitedehorassemanais,apenasconcedendocampode disponibilidadeemrelaosmecnicasdecompensaodejornadas.Veja-seoprecedente judicial do TRT da 15 Regio: Minutosqueantecedemousucedemjornada.Previsocoletivadetolernciade20 minutos.Inexistnciadevantagememcompensao.Nulidade.Nadaobstantea negociaocoletivaencontreseupermissivolegalnosincisosXIVeXXVIdoart. 7 da Constituio Federal, aautonomia conferida aos sindicatos tem limites nalei, especificamentenoart.58,1queestipuloucincominutoscomotolernciapara anteceder e suceder a jornada, pois a entidade profissional no conserva soberania a pontodevulnerardireitosmnimos,asseguradosconstitucionalmente,excetose apresentarumbenefcioouvantagemcomocompensao.Inexistindonosacordos coletivos qualquer benefcio ou vantagem para adoo de 20 minutos como limite de tolernciaparaantecederousucederajornadadetrabalho,nosepodeconsiderar vlidaareferidaclusula.Recursoordinrioprovidonesteaspecto.(TRT,15 Regio;3Turma,Proc.n.01120-2003-012-15-00-3,Rel.juizLorivalFerreirados Santos. DJSP 19/8/2005.) (BARROS, 2007, p. 241). ReportadoprecedentedestacadoporAlexandreReisPereiradeBarros,queaps afirma, quanto aos acordos coletivos de trabalho, que no so renncias consentidas: [...] alm da verificao da existncia de transao e no mera renncia a direitos, motivadapelaconstanteameaadedemissesemmassaporpartedascategorias econmicas , preciso verificar se a conveno ou o acordo coletivo expressam, de fato,avontadedacategoriaprofissional,manifestadaatravsdasrespectivas assemblias, pois esse esprito do princpio da autonomiada vontade coletiva, to valorizado pelo texto constitucional (arts. 7, inciso XXVI, 8, incisos III e VI e 114, 1 e 2). (BARROS, 2007, p. 241). Portodooexposto,restaclaroquetalfatonodependedanaturezaindividualou coletivadobem.Caracterizadaajornadaexaustivadentrodosparmetrosquantitativose qualitativospropostos,nohquesefalaremconsentimentodoofendidocomocausade excluso do injusto penal, eis que presente a conformao da figura tpica expressa no art. 149 doCPeailicitudedaconduta,poisquehaultrapassagemdoslimitesimpostosa disponibilidade do bem jurdico organizao do trabalho. Poder-se-iapensarnapossibilidadedequeoconsentimentodavtimaemrealizar horasextrascomadevidacontraprestaopecuniriaresultassenoafastamentodoinjusto penal. Contudo, s possvel a realizao de horas extras mediante a devida remunerao na formaestabelecidaemleieapenasnestamedida.Ultrapassando-seolimiteconsiderado legalmenteaceitvel,entra-senombitodajornadaexaustivae,portanto,configura-seo delito e a conduta ilcita. Assim, a realizao de horas suplementares alm daquelas previstas na legislao com oconsentimentodotrabalhador,mesmocomcontraprestaopecuniria,caracterizao trabalho em condio anloga ao de escravo. Tal consentimento, no tem a fora de afastar o injustopenal,poissepretendeaquitutelaraorganizaodotrabalhoquetemcomo destinatrio da proteo a coletividade dos trabalhadores, resguardando ainda a sua dignidade e liberdade. Consequentemente protege-se o obreiro em seu bem-estar, sade fsica e mental. Possibilita-seaostrabalhadoresoconvviofamiliaresocial.Ajornadaexaustivaretiratal possibilidade, afrontando a dignidade do trabalhador e lesionando a organizao do trabalho. 5 CONSIDERAES FINAIS Otrabalhoemcondiesanlogasaodeescravorealidadepresentenasociedade brasileira, constatando-se sua presena no campo e nos centros urbanos. Com o intuito de prevenir e evitar a submisso dos trabalhadores a condies anlogas de escravo, o direito penal chamado a intervir.Assim se encontra presente no corpo do Cdigo Penal, especificamente no art. 149, o tipopenalquedisciplinaenomeiaassituaesouhiptesesquecaracterizamotrabalhoem condio anloga de escravo. O artigo de lei em questo sofreu modificaes significativas comaLein.10.803/2003,queestabeleceuasquatrohiptesesdeconfiguraodotrabalho anlogoaodeescravo,quaissejam:trabalhosforados,jornadaexaustiva,condies degradantes e restrio de locomoo. Dentrodestevastocampodeanlise,opresentetrabalhodedicou-seaopontoda jornada exaustiva, observando-se que:a)ajornadadetrabalholegaldeoitohorasdiriasequarentaequatrosemanais, havendoapossibilidadedarealizaodeduashorasextrasdirias,desdequehajaadevida contraprestao pecuniria, com adicional de no mnimo 50% superior ao da hora normal;b)vriosdispositivoslegaisvoltadosaassegurarodescansoeconsequentementea sade do trabalhador;c)adelimitaodajornadaexaustivadevetercomobasecritriosquantitativose qualitativos;d)ocritrioquantitativorefere-sequantidadedehorastrabalhadas,tendocomo limite, a jornada diria legal permitida composta com as horas suplementaresadmitidas pela legislao;e)ocritrioqualitativovolta-seintensidade,frequnciaedesgastegeradopelo trabalho desenvolvido dentro da jornada laboral.Resumidamente, quando se ultrapassar os limites e condies legais e suportveis pelo homem, levando-o ao total esgotamento fsico e mental, restar presente a jornada exaustiva e consequentementeotrabalhoemcondioanlogadeescravo.Nestasituao,atinge-sea dignidade do trabalhador. A restrio do convvio social e familiar, lado a lado com as ofensas dasadefsicaepsquica,retiram-lheoautopertencimento.Otrabalhadorreduzidopelo agente agressor a um simples meio de obtenode seus fins. Ambientescom tais contornos, porfim,transcendemoobreiroatingidodemodoaalcanaraprpriaorganizaodo trabalho, lesando-a. Aseuturno,oconsentimentodoofendidopodelevarexclusodoinjustopenal, desdequeoconsentimentoestejadentrodeummbitodedisponibilidadejuridicamente admitido, vez que esta no ilimitada. Porm,obemjurdicopresentenoart.149doCPquecompreendeaorganizaodo trabalho, tem como destinatrio da proteo a coletividade dos trabalhadores, o resguardo de seus direitos sociais, no havendo possibilidade de validar o consentimento do trabalhador em submeter-seajornadasexaustivas.Oordenamentolaboraldelineiaoslimitesdajornadade trabalho para:a) evitar a explorao do obreiro que ignora seus direitos sociais (falta de compreenso do objeto da aquiescncia);b) compensar a circunstncia de liberdade constrita que obriga o trabalhador a curvar-se s condies constantes de sua relao de emprego como forma nica de acesso imediato, mediante salrio, ao consumo de produtos e servios (vontade no livre). 6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BARROS,AlexandreReisPereirade.Oslimitesnegociaocoletivaeadenominada flexibilizaodosdireitostrabalhistas.InMeritum.BeloHorizonte,v.2,n.1,jan./jun. 2007. BAUMAN, Zygmunt. Globalizao: as consequncias humanas. Traduo: Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. 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