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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais

DIREITO MARTIMO, LEX MERCATORIA E LEX MARITIMA: BREVES NOTAS1

MARITIME LAW, LEX MERCATORIA AND LEX MARITIMA: A GENERAL OVERVIEW

Osvaldo Agripino de Castro Junior

RESUMO O artigo objetiva apresentar, de forma introdutria, os principais aspectos do Direito Martimo e sua relao com a Lex Mercatoria e Lex Maritima, a m de que essa fonte de direito seja recepcionada de forma crtica pelo direito brasileiro, com base na ordem pblica, portanto, com reservas. PALAVRAS-CHAVE: Direito Martimo Lex Mercatoria Lex Maritima

ABSTRACT This article aims to give a general overview of the main aspects of Brazilian Maritime Law and its relationship with Lex Mercatoria and Lex Maritima, in order to introduce the last one into Brazilian Law in a critical approach based on the public order, thus, with restrictions. KEY-WORDS: Maritime Law Lex Mercatoria Lex Maritima

________________________________Artigo recebido em 29 de abril de 2010 Advogado (www.adsadvogados.adv.br), Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Cincia Jurdica da UNIVALI (www.univali.br/ppcj), Doutor em Direito (UFSC), onde coordena o Grupo de Pesquisas Regulao da Infraestrutura e Juridicidade da Atividade Porturia (CNPq). Ps- Doutor em Regulao da Infraestrutura Harvard University, com recursos da CAPES. Ocial de Nutica da Marinha Mercante, ex-piloto de navios da Petrobras, Vale do Rio Doce e Libra e viajou durante quatro anos para 27 pases. Endereo eletrnico: [email protected]

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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais Direito Maritimo, Lex Mercatoria e Lex Maritima: Breves Notas Introduo De forma introdutria e conceitual, esse artigo objetiva, em breves notas, contribuir para o Direito Internacional Privado brasileiro por meio do estudo dos principais aspectos do Direito Martimo e da Lex Maritima, ora considerada como os usos e costumes usados no transporte martimo internacional, bem como indicar bibliograa bsica sobre o tema. Assim, o artigo pretende, ainda, revigorar a Teoria Geral do Direito Martimo e do Direito Internacional Privado brasileiros e difundir o Direito Martimo, disciplina autnoma que tem como objeto regular as relaes jurdicas que se do em torno do navio, como contratos de transporte de bens e pessoas, contratos de afretamento de embarcaes, responsabilidade civil, ressaltando-se que o navio opera num ambiente de regulao interna (ANTAQ, CONIT4, DPC5, dentre outros) e externa (IMO, OMC, OMA Organizao Mundial das Aduanas, dentre outros). O Direito Martimo, como sofre grande inuncia da economia internacional, uma disciplina com forte grau de dinamismo e que, portanto, requer um processo constante de atualizao. Alm disso, h uma preocupao permanente em reconhecer o Direito Martimo e sua relao com o Direito Regulatrio do Transporte Aquavirio e da Atividade Porturia, como instrumentos importantes para a eccia dos objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil6. O Direito e a Regulao devem atender, preservado o interesse pblico, as demandas dos agentes econmicos, nesse caso usurios dos servios de transportes martimos, aumentar a ecincia das transaes comerciais e, conseqente, reduo dos seus custos, de forma sustentvel. Nesse cenrio, a crtica da Lex Maritima, ou sua incorporao com a ltragem com fundamento na ordem pblica, relevante, no obstante parte da doutrina estrangeira defend-la como importante para a uniformizao do Direito Martimo. Pretende-se, dessa maneira, tratar da percepo do Direito Martimo como disciplina que possa contribuir para defesa dos interesses dos usurios dos servios de transportes martimos, vez que o Brasil, ao transportar somente 1 % das mercadorias do seu comrcio exterior em navios de bandeira prpria, tem alto grau de dependncia dos transportadores internacionais. So vrias as razes para tal dependncia, mas dentre elas podem ser enumeradas a falta de uma poltica de Marinha Mercante de longo prazo, ou seja, poltica de Estado, bem como a concorrncia desleal que as empresas de navegao brasileiras sofrem dos navios de bandeira de convenincia e a ineccia do Poder Pblico para combater tais ilegalidades7, especialmente contrato de transporte de adeso, ______________________________2

Sobre o tema, com maior profundidade, com a abordagem de vrios temas relevantes para o Direito Martimo, por meio de treze artigos que tratam da regulao econmica do setor de transportes martimos, contratos internacionais, cabotagem, NVOCC, Direito Ambiental Martimo, Representao do Brasil na IMO, dentre outros: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. (org.) Direito Martimo, Regulao e Desenvolvimento, no prelo. 3 Nessa linha de revigoramento do Direito Martimo brasileiro sem, contudo, aprofundar as relaes da disciplina nos ambientes interno (agncia reguladora independente ANTAQ) e internacional (supranacional OMC, UNCTAD e IMO): DOS ANJOS, Jos Haroldo; GOMES, Carlos Rubens Caminha. Curso de Direito Martimo. Rio de Janeiro: Renovar, 1992, do qual tivemos oportunidade de colaborar; MARTINS, Eliane Maria Octaviano. Curso de Direito Martimo. Vols. I e II, 3. ed. So Paulo: Manole, 2008. 4 Conselho Nacional de Integrao de Polticas de Transportes, criado pela Lei n. 10.233/2001, cuja primeira reunio se deu no segundo semestre de 2009, ou seja, quase uma dcada aps sua criao. 5 Diretoria de Portos e Costas, com sede no Rio de Janeiro, exerce importante atuao na esfera da autoridade martima brasileira, que o Comandante da Marinha. 6 Conforme art. 3, da Lei Maior: Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: I construir uma sociedade livre, justa e solidria; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao. 7 Sobre o tema da concorrncia desleal no setor de transportes e portos, deve-se mencionar o I Seminrio UNIVALI e CADE sobre Defesa da Concorrncia e Regulao Econmica de Transportes e Portos, indito no Brasil, realizado no dia 30 de maro de 2010, a pedido do CADE, na UNIVALI, Campus de Itaja, sob coordenao do Programa de Mestrado e Doutorado em Cincia Jurdica da mesma universidade.

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Osvaldo Agripino de Castro Junior com clusulas abusivas, com lei aplicvel decorrente de conveno no raticada pelo Brasil e foro no estrangeiro, fundados na Lex Maritima. Tal assertiva tem fundamento na linha de atuao que o Brasil adotou ao no raticar qualquer das quatro convenes que regulam a responsabilidade civil no transporte martimo, apesar dos usurios brasileiros, regra geral, sem opo de transporte ou orientao regulatria, aceitarem as clusulas do Bill of lading conhecimento de embarque martimo que se fundamentam em tais normas por meio da fonte de direito denominada Lex Maritima8. O texto ser desenvolvido de forma interdisciplinar em dois captulos. O Captulo 1 trata de alguns conceitos relevantes do Direito Martimo, conceitua-o e relaciona-o com outras disciplinas jurdicas e ramos do conhecimento. O Captulo 2 trata da relao da citada disciplina com outros ramos do Direito, a Lex Mercatoria e a Lex Maritima. Por m, so feitas as concluses para melhor percepo critica da Lex Maritima no direito brasileiro9. Captulo 1. Direito Martimo: Conceitos relevantes 1.1. O transporte martimo no Mundo Globalizado

O globo terrestre possui 27 % da superfcie do globo formada por continente e 73 % de espaos martimos,10 o que faz com que cerca de mais de 90 % das mercadorias sejam transportadas pelo mar. A atividade comercial que envolve o transporte aquavirio (business shipping) conceituada como o movimento fsico de bens e pessoas de portos fornecedores para portos de demanda assim como as atividades exigidas para apoiar a facilitar tal movimento. Segundo Kendall e Buckley:o transporte de mercadoria por navios o que d vitalidade economia de muitos pases, situados ou no no litoral (...). Com quase trs quartos da superfcie da terra coberta por gua. O transporte martimo necessariamente possui um papel muito relevante no comrcio internacional11.

A economia do transporte martimo bastante complexa, seja pela quantidade de indstrias e servios que o dinmico cluster martimo12 demanda, seja pelos altos valores necessrios para uma expedio martima13. Trata-se de indstria que demanda uma grande sinergia entre vrias cadeias de fornece ______________________________Considerada como usos e costumes do transporte martimo internacional que, todavia, no podem prevalecer no direito brasileiro se violarem a ordem pblica, nos termos do art. 17 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil, que assim dispe: Art. 17 - As leis, atos e sentenas de outro pas, bem como quaisquer declaraes de vontade, no tero eccia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pblica e os bons costumes. Embora haja autonomia da vontade nos contratos internacionais, essa autonomia no absoluta, mas relativa, vez que encontra limite no ordenamento jurdico ptrio, seja na LICC, seja na Teoria Geral dos Contratos do Cdigo Civil. 9 Pesquisa de jurisprudncia realizada na Jurisprudncia Unicada da pgina eletrnica do Portal da Justia Federal da expresso Lex Maritima, no encontrou julgado, mas com Lex Mercatoria, obteve-se seis julgados, relativos homologao de sentena estrangeira e carta rogatria, todavia, nenhum relacionado ao transporte martimo. BRASIL. Portal da Justia Federal. Administrado pelo Conselho da Justia Federal. Jurisprudncia Unicada. Disponvel em:. Acesso em: 10 abr. 2010. 10 DE MOURA, Geraldo Bezerra. Direito da Navegao. So Paulo: Aduaneiras, 1991, p. 65-66. 11 KENDALL, Lane C.; BUCKLEY, James J. The Business of Shipping. 7th edition. Centreville: Cornell Maritime Press, 2001, p. 7. 12 Acerca do cluster martimo gerado pelo desenvolvimento da cabotagem brasileira: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de; LACHMANN, Marianne Von. O valor da cabotagem brasileira na viso dos transportadores. Apresentao realizada no I Seminrio Nacional sobre Cabotagem. Realizao ANTAQ e Syndarma. Disponvel em: . Acesso em: 20 dez. 2009. Na Europa: WIJNOLST N.(dir.) Dynamic: European Maritime Clusters. Amsterdam: IOS Press, 2006. 13 Sobre o tema: STOPFORD, Martin. Maritime Economics. London and New York: Routledge, 2004; BRANCH, Alan E. Elements of Shipping. 8th edition. London and New York: 2007. Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais, Curitiba, 12: 84-101 vol. 1 ISSN 1678 - 29338

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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais Direito Maritimo, Lex Mercatoria e Lex Maritima: Breves Notas dores de produtos (minerao, siderurgia, construo de naval, dentre outros) e prestadores de servios (engenharia naval, nanas, assessoria jurdica, dentre outros), de modo que o papel do Estado, por meio da regulao setorial independente, fundamental. Por sua vez, o grau de especializao das empresas de navegao grande e o business model do sucesso de tais companhias, em decorrncia do dinamismo do comrcio internacional, pode mudar no futuro prximo. Dessa maneira, no h como entender a economia do setor sem analisar a conjuntura econmica internacional e o papel do transnacionalismo, bem com das entidades de classe dos transportadores martimos, adiante mencionadas. 1.1.1. International Chamber of Shipping (ICS) A ICS a principal associao internacional que congrega os transportadores martimos e compreende associaes nacionais de armadores que representam 66 % da tonelagem da frota mercante mundial. Ressalte-se que o Brasil e o Panam, dentre outros pases, no fazem parte da mesma. Criada em 1921, a ICS se preocupa com todas as questes tcnicas, jurdicas e polticas que possuem impacto no transporte martimo internacional. O Secretariado da ICS exercido pela Maritime International Secretariat Services Limited (Marisec), que pertence ao ICS e sua organizao parceira International Shipping Federation (ISF), adiante tratada. A ICS engajada ativamente nos seguintes organismos internacionais: International Maritime Organization (IMO), United Nations Division of Ocean Affairs and the Law of the Sea (DOALOS), United Nations Conference on International Trade Law (UNCITRAL), Organization for Economic Co-operation and Development (OECD), World Customs Organization (WCO) e World Trade Organization (WTO)16. Alm disso, a ICS possui um relacionamento estreito com autoridades martimas nacionais e com relevantes departamentos e agncias da Unio Europia. Nos ltimos trinta e cinco anos, a ICS tem exercido um papel inuente no desenvolvimento, implementao e subseqentes revises do SOLAS17 e da MARPOL18 e dos seus Anexos e Cdigos, bem como do ISM e dos ISPS, e de toda a regulao adotada pela IMO. Mencione-se, ainda, que a ICS possui forte relao com o IACS, seguradoras, o Grupo Internacional de Clubes de P&I e outras agncias especializadas martimas, bem como organizaes nogovernamentais cujas polticas e procedimentos possuem impacto no transporte martimo19. A ICS representa todos os setores da indstria global de transporte martimo nas discusses nos foros internacionais, especialmente na IMO e proporciona: a) orientao nos desenvolvimentos da regulao e efetividade das normas do setor; b) promove as melhores prticas, incluindo a produo de publicaes especializadas, para a maioria dos pases martimos; c) a participao da sua associao de classe nacional como membro da ICS como se fosse a participao automtica do pas na IMO e indica um srio envolvimento do pas no transporte martimo global20. ______________________________A construo naval tem exercido um papel fundamental na economia dos pases industrializados, de modo que relevante o estudo comparativo do processo histrico do papel do Estado no nanciamento desse setor, inclusive sobre a economia da bandeira de convenincia (agging out) exercida pelos governos (p. 203-206) e o papel da OCDE e da Coria do Sul. ROSA, Angelo L.. Contrariety: Divergent Theories of State Involvement in Shipping Finance Between the United States and the European Union. In: Tulane Maritime Law Journal. vol. 29, 2004-2005, p. 187216. Recomenda-se a anlise do estudo comparado dos microfundamentos do nanciamento de projetos orientado construo naval no Brasil: DA SILVA, Marcello Muniz. Anlise da Estrutura de Financiamento Indstria Naval no Brasil. Dissertao de Mestrado em Engenharia Naval e Ocenica. So Paulo: Escola Politcnica da USP, 2007, 346 p. 15 LORANGE, Peter. Shipping Company Strategies Global Management under Turbulent Conditions. London: Emerald, 2008, p. 185. 16 ICS. International Chamber of Shipping. Brochure. London: ICS, 2009, p. 1. 17 The International Convention for the Safety of Life at Sea (SOLAS), 1974. 18 The International Convention for the Prevention of Pollution from Ships (MARPOL 73/78). 19 ICS. International Chamber of Shipping, p. 4. 20 ICS. International Chamber of Shipping, p. 6.14

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Osvaldo Agripino de Castro Junior 1.1.2. International Shipping Federation (ISF) A ISF a nica entidade internacional dedicada os problemas martimos que representa os empregadores e proporciona orientao e assessoria aos seus membros de forma direta ou por meio da sua rede de contatos global, inclusive a categoria de empregadores nos foros internacionais. A ISF especializada na STCW Convention21 e orienta os seus membros no que tange aos seus detalhes tcnicos, e seu secretariado apia outras organizaes internacionais, tais como a International Chamber of Shipping (ICS) e o International Maritime Employers Committee (IMEC)22. Alm disso, a entidade rgo consultivo da OIT, onde co-coordena a posio dos armadores martimos em todos os encontros e na IMO, bem como atua no acompanhamento da legislao nos Estados Unidos e participa, por meio da OIT, das reunies do Memorando de Entendimento de Paris sobre Port State Control, e atua como membro ativo no International Committee on Seafarers Welfare (ICSW) e possui contato regular com representantes dos sindicatos martimos, incluindo a International Transport Workers Federation (ITF)23. 1.2. Empresa Transnacional

Alm da concorrncia desleal, do cartel e do contexto de liberalizao dos transportes martimo internacional24, nessa indstria, muitas empresas buscam reduzir custos, especialmente com o registro dos seus navios em pases de bandeiras de convenincia, de forma que essas empresas podem ser consideradas transnacionais. Nesse sentido, relevante a lio de Jos Cretella Neto ao conceituar esse tipo de empresa como:a sociedade mercantil, cuja matriz constituda segundo as leis de determinado Estado, na qual a propriedade distinta da gesto, que exerce controle, acionrio ou contratual, sobre uma ou mais organizaes, todas atuando de forma concertada, sendo a nalidade de lucro perseguida mediante atividade fabril e/ou comercial em dois ou mais pases, adotando estratgia de negcios centralmente elaborada e supervisionada, voltada para a otimizao de oportunidades oferecidas pelos respectivos mercados internos26.

______________________________International Convention on Standards of Training, Certication and Watchkeeping for Seafarers Conveno sobre Padres de Treinamento, Certicao e Servio de Quarto para aquavirios. 22 ISF. International Shipping Federation. Disponvel em: . Acesso em: 1 fev. 2010. 23 ISF. International Shipping Federation. Disponvel em: . Acesso em: 1 fev. 2010. 24 Numa perspectiva liberal, com base, na poltica de liberalizao do uso dos mares do holands Hugo Grotius, autor de Mare Liberum sive de iure quod Batavis competit ad Indicana Commercia (1609), a qual no nos liamos, e com o objetivo de estudar se o Direito Internacional contm regras gerais que, na ausncia da tratados especcos (bilateral, regional, internacional), limita a vontade dos governos para desenvolver polticas de transportes protecionistas: PARAMESWARAN, Benjamim. The Liberalization of Maritime Transport Services With special reference to the WTO/GATS Framework. Hamburg: Springer, 2004. Sobre o tema, com a proposta dos organismos internacionais subsidiarem uma abertura mais ampla e convel: COSTA, Jos Augusto Fontoura; DE ANDRADE, Thiago Pedroso. A Liberalizao do Transporte Martimo Internacional. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. (Org.) Temas Atuais de Direito do Comrcio Internacional. Vol. I. Florianpolis: OAB/SC Editora, 2004, p. 209-244. A propsito, menciono a obra Mare clausum, seu de domino maris, do poltico e jurista ingls John Selden (1584-1654), publicada em 1634 para opor-se aos argumentos de Grotius, tendo em vista a pretenso dos holandeses de pescarem na costa inglesa. 25 Tais empresas buscam atuar em espaos deslegalizados, a m de reduzir custos com tripulao, segurana, manuteno da embarcao e tributao, com grave risco ao meio ambiente e a vida humana no mar, bem como ofensa ao interesse pblico. Nesse sentido, relevante mencionar a criao de uma linha de pesquisa no Programa de Mestrado e Doutorado em Cincia Jurdica da UNIVALI denominada Direito e Transnacionalidade. Sobre o tema: CRUZ, Paulo Mrcio; STELZER, Joana. (orgs.). Direito e Transnacionalidade. Curitiba: Juru, 2010. Mencione-se, ainda, a disciplina lecionada em 2009-II, juntamente com o Prof. Dr. Zenildo Bodnar, no Programa de Doutorado, denominada Dimenses Jurdicas Transnacionais, onde se discute o papel do direito no mundo ps-crise de 2008 e do resgate do papel do Estado, dos organismos internacionais e dos atores no estatais na regulao dos espaos deslegalizados, por meio da reconstituio do Domnio Pblico Global, especialmente em face da estratgia da Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais, Curitiba, 12: 84-101 vol. 1 ISSN 1678 - 293321

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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais Direito Maritimo, Lex Mercatoria e Lex Maritima: Breves Notas Ademais:grande parte da transnacionalizao (no sentido de transposio a uma dimenso no-nacional, formal ou informal) do direito deve-se ao avano irrefrevel da Lex mercatoria. Este uido econmico-comercial voga no somente sob a forma de acordos internacionais, mas tambm se inltra, tal como a gua, em ordens jurdicas nacionais cada vez mais permeveis. Deste modo, a transnacionalizao soaria antagnica ao Estado e ao direito27.

1.3.

Navio

O navio, espcie do gnero embarcao, a ferramenta principal desse setor relevante da economia mundial, no qual o Direito e a Economia devem navegar juntos para que haja o seu desenvolvimento, mas para que isso ocorra preciso que as instituies funcionem com eccia28, tendo como marco fundamental a Constituio Federal29. Assim, as agncias reguladoras, como ANTAQ, ANVISA e ANTT, dentre outras, bem como departamentos do governo, como DPC (Diretoria de Portos e Costas) e SEP (Secretaria Especial dos Portos), possuem papel relevante, dialgico. Nesse quadro, o direito e o Estado, num cenrio de busca pela transnacionalidade, embora num cenrio de combate ao terror30, especialmente aps 11 de setembro de 200131, exercem papel relevante na economia martima, porque a regulao desse importante setor da economia mundial proporciona segurana jurdica32 e econmica33 para os altos valores investidos e usurios do transporte martimo34. ______________________________indstria de transportes martimos, com as bandeiras de convenincia, dos crimes do sistema nanceiro e dos poluidores do meio ambiente terrestre e aqutico. 26 NETO, Jos Cretella. Empresa Transnacional e Direito Internacional. Exame do Tema Luz da Globalizao. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 27. 27 VENTURA, Deisy. Hiatos da Transnacionalizao na Nova Gramtica do Direito em Rede: Um esboo de conjugao entre estatalismo e cosmopolitismo. Mimeo, 2009, p. 3. 28 Nesse sentido, a Anlise Econmica do Direito relevante. A economia institucional tem sido frequentemente descrita como uma revolta contra o formalismo. SPIEGEL, 1971, p. 629 Apud MERCURO, Nicholas; MEDEMA, Steven G. Economics and the Law From Posner to Post Modernism and Beyond. 2nd. edition. Princeton: Princeton University Press, 2006, p. 209. 29 Sobre o tema: BUCHANAN, James M. The Domain of Constitutional Economics. In: MERCURO, Nicholas. (Ed.) Law and Economics. Critical Concepts in Law Public Choice. Vol. II. New York: Routlegde, 2007, p. 57-71. Acerca da teoria da escolha pblica e a regulao dos contratos: OHARA, Erin Ann. Opting out of regulation A public choice analysis choice of Law. In: MERCURSO, Nicholas. (Ed.) Law and Economics. Critical Concepts in Law Public Choice, p. 209-256. 30 Sobre o tema: MORELLA JUNIOR, Jorge Hector. Transnacionalizao e Segurana no Comrcio Mundial: A importncia do poder econmico na difuso das normas anti-terrorista aps 11 de setembro e sua implementao no Direito Brasileiro. Dissertao de Mestrado em Cincia Jurdica. Itaja: UNIVALI, 2009; PLATCHEK, Ricardo Moiss de Almeida. As Bandeiras de Convenincia e a Segurana Mundial. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. (org.) Direito Martimo Made in Brasil. So Paulo: Lex, 2007, p. 457-492; DIAS, Cristiano Gomes. A Pirataria e a Navegao Martima. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. (org.) Direito Martimo Made in Brasil, p. 493-520. 31 Nesse contexto, os navios de bandeira de convenincia, alm de serem os maiores poluidores do meio ambiente marinho, por no se submeterem ao rigor scalizatrio, so considerados mais propensos a serem usados pelos terroristas. Para aumentar a segurana no setor necessria uma ao cooperativa multilateral. Nessa linha: WING, Maria J. Rethinking the Easy Way Out: Flags of Convenience in the Post-September 11th Era. In: Tulane Maritime Law Review. Vol. 28, 2003-2004, p. 173-190. 32 A segurana jurdica deve ser proporcionada pelo Estado e requisito essencial para o aumento da conana e da honestidade entre os diversos atores na economia, tais como advogados, empresrios e reguladores. Sobre o tema, na perspectiva norte-americana, por meio do estudo de casos, dentre os quais, o problema de aceitao da fraude; o efeito do ambiente e da cultura na conana e na honestidade e implementao da conana e da honestidade: FAGAN, Mark; FRANKEL, Tamar. Trust and Honesty in the Real World. A Joint Course for Lawyers, Business People and Regulators. Anchorage: Fathom, 2007, 224 p.

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Osvaldo Agripino de Castro Junior Ademais, o risco martimo35 inerente a tal atividade. No por acaso que o seguro dos dias modernos, tem origem no nauticum foenus, ou seja, no seguro martimo. A histria do mundo est vinculada histria das grandes navegaes. Por sua vez, os grandes sinistros martimos sempre tiveram destaque na histria dos povos36, o que foi agravado pelos acidentes que causaram danos ambientais, como Exxon Baldez37, Prestige38 e Amoco Cadiz. Isso tem exigido, cada vez mais, normas mais rgidas para a segurana da navegao e proteo do meio ambiente marinho. 1.4. Direito Martimo: Aspectos Destacados A origem do Direito Martimo incerta, mas historiadores mencionam que normas jurdicas regulando o transporte martimo datam do sculo XVIII A.C, no Cdigo de Hamurabi. Pesquisadores sustentam que um sosticado sistema internacional de Direito Martimo existe desde a Idade Antiga no Mediterrneo39. ______________________________Sobre a efetividade de tais princpios: AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSO DE LIMINAR. AO CIVIL PBLICA. LESO ORDEM PBLICA E ECONMICA CONFIGURADA. INSEGURANA JURDICA E RISCO BRASIL AGRAVADO. 1. No mbito especial da suspenso liminar, cujos limites cognitivos prendem-se vericao das hipteses expressas na Lei n 8.437/92, art. 4, descabem alegaes relativas s questes de fundo. 2. Caracterizado o risco inverso, reetido no cenrio de insegurana jurdica que pode se instalar com a manuteno da liminar, que, em princpio, admite a quebra do equilbrio dos contratos rmados com o Poder Pblico, lesando a ordem pblica administrativa e econmica e agravando o risco Brasil, defere-se o pedido de suspenso. 3. Agravo regimental provido. AgRg na SL 57 / DF. Rel. Min. Edson Vidigal. DJ 06/09/2004; REsp n. 201.726. 34 Para maior aprofundamento: CRUZ. Paulo Mrcio. O Estado como principal sujeito da sociedade internacional. In: STELZER, Joana (org.) Introduo s Relaes do Comrcio Internacional. Itaja: UNIVALI, 2007, p. 47-61; DE MACEDO, Paulo Emlio Vauthier Borges de Macedo. Outros atores da sociedade internacional. In: STELZER, Joana (org.). Introduo s Relaes do Comrcio Internacional, p. 81-94; DE OLIVEIRA, Odete Maria. Relaes Internacionais e a questo dos seus paradigmas. In: STELZER, Joana (org.). Introduo s Relaes do Comrcio Internacional, p. 95-113; CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. As organizaes internacionais: importncia e caractersticas. In: STELZER, Joana (org.). Introduo s Relaes do Comrcio Internacional, p. 63-79; FARIA, Jos Eduardo de. Poucas certezas e muitas dvidas: o direito depois da crise nanceira. Mimeo, 2009, 23 p.; RUGGIE, John Gerard. Reconstituting the Global Public Domain. Issues. Actors and Practices. In: European Journal of Internacional Relations (forthcoming), 50 p. 35 Sobre a gesto da segurana e a anlise do risco martimo, por meio de estudo de casos de acidentes da navegao realizado pelo engenheiro naval noruegus: KRISTIANSEN, Svein. Maritime Transportation Safety Management and Risk Analysis. London: Elsevier, 2008; e na Unio Europeia: BOISSON, Philippe. Lefcacit de la politique de lUnion Europenne em matire de scurit maritime. In: GRARD, Loe.(dir.) LEurope des transports. Actes du colloque dAgen Universit Montesquieu-Bordeaux IV 7 et 8 octobre 2004. Paris: La Documentation Franaise, 2005, p. 645-662. 36 Acerca do tema: WEISS, Jeffrey A. Maritime Disasters Through The Ages. In: Journal of Maritime Law & Commerce. Vol. 32. n.2, April, 2001, p. 215-239; 37 Essa tragdia martima que ocorreu em 24 de maro de 1989, na costa do Alaska, derramou 11 milhes de gales leo cru nas guas do Prince William Sound, e afetou no somente o meio ambiente mas arrasou a economia da regio. O caso Exxon Shipping Co. V. Baker e mais 32.000 pessoas, todos autores no 1 grau, dos quais 20 % haviam falecido em 2008, ano do julgamento pela Suprema Corte dos Estados Unidos, envolveu o julgamento do valor da indenizao por danos punitivos e de danos compensatrios (danos materiais). A Suprema Corte entendeu que os danos punitivos deveriam ser pagos na razo de 1:1 em relao aos danos materiais, o que reduziu a indenizao em cerca de U$ 2 bilhes. O valor da condenao cou em torno de U$ 1 bilho. SCHOENBAUM, Thomas J. US Supreme Court Rules Punitive Damages Award Excessive. In: The Journal of International Maritime Law. Vol.13, 2008, p.199. Esse acidente fez que com que os Estados Unidos adotassem poltica mais rigorosa de proteo ao meio ambiente marinho, especialmente contra o derramamento de leo, e editassem no ano seguinte (1990) o Oil Pollution Act. 38 Esse acidente fez com que a IMO agilizasse a exigncia de navios petroleiros com duplo casco. Acerca do tema: GALIANO, Elizabeth. In the Wake of the Prestige Disaster: Is and Earlier Phase-Out of Single-Hulled Oil Tankers the Answer ? In: Tulane Maritime Law Journal. Vol. 28, 2003, p. 113-133. Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais, Curitiba, 12: 84-101 vol. 1 ISSN 1678 - 293333

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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais Direito Maritimo, Lex Mercatoria e Lex Maritima: Breves Notas O Direito Martimo o conjunto40 de normas jurdicas que disciplinam as atividades necessrias para que as embarcaes efetuem o transporte pela via aquaviria. uma disciplina jurdica autnoma41, tendo inclusive, em face da sua relevncia, obtido assento constitucional (art. 22, inciso I, da CF/88), e tem como objeto principal regular as relaes jurdicas que se do em torno do navio42 43, aqui considerado espcie de embarcao44, por meio das relaes jurdicas que se do atravs dos contratos de transportes45 e de afretamento de embarcaes, hipoteca naval46, registro de embarcao47, dentre outras. Se no Direito Martimo, no Direito do Mar e Direito da Navegao Martima, a diferena entre navio e embarcao relevante, para o Direito Tributrio Martimo, segundo Heleno Taveira Trres, ela inexiste:A navegao martima opera-se por navios e embarcaes, mesmo que discutvel essa distino, e em matria tributria completamente despicienda. Navio, usa-se para indicar o meio de realizao dos atos constitudos nos respectivos contratos de transporte martimo48.

Mencione-se a relevncia desse ramo do Direito Martimo, vez que a carga da tributao no transporte martimo no Brasil alta. A tributao setorial no tem poltica nacional, vez que no somente a Unio e os Estados, mas os municpios tambm procuram tributar as operaes que envolvem indistintamente o modal. ______________________________SCHOENBAUM, Thomas J. Admiralty and Maritime Law, 3rd. ed., 2001, p. 3 Apud TAYLOR, J. Michael. Evaluating the Continuing GATS Negotiations Concerning International Maritime Transport Services. In: Tulane Maritime Law Journal. Vol. 27, 2002-2003, p. 148-149. 40 A referncia a conjunto indica a ordenao dessas normas em um sistema, evitando as contradio e as lacunas. JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. 4. Ed. So Paulo: Saraiva, 2009, p. 1. 41 Trata-se do mesmo entendimento de: ARROYO, Ignacio. Compendio de Derecho Martimo. Segunda edicin. Madrid: Tecnos, 2002, p. 22. 42 Possui trs requisitos no comuns a todas as embarcaes: robustez, estanqueidade e vencer as fortunas do mar. Como espcie do gnero embarcao, todo navio embarcao mas nem toda embarcao navio. Essa diferena relevante, especialmente quando se trata de competncia, tal como o art. 109, IX, da CF/88: Art. 109 - Aos juzes federais compete processar e julgar: IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competncia da Justia Militar; Nesse caso, deve-se ter cautela, pois um crime ocorrido a bordo de uma embarcao de recreio, como iate ou lanche, no ser julgado na Justia Federal, por no se tratar de navio, mas de embarcao, sendo cabvel o julgamento pela Justia Estadual. 43 Na terminologia nutica inglesa, o pronome pessoal she (ela) e no it (coisa). O navio was nearer and dearer to the sailor than anyone except his mother. Acreditava-se que um navio era mais prximo e querido para o marinheiro do que qualquer pessoa, com a exceo de sua me. Segundo a tradio, haveria razo melhor do que essa para chamar seu navio de ela? A tradio martima menciona, ainda, que o navio o bem mais aguardado no cais, por vrios grupos de homens, alm de sua manuteno ter alto valor. 44 Segundo o art. 2, inciso V da Lei n. 9.537, de 11 de dezembro de 1997, que dispe sobre a segurana do trfego aquavirio em guas sob jurisdio nacional e d outras providncias (Lei de Segurana do Trfego Aquavirio - LESTA): V - Embarcao - qualquer construo, inclusive as plataformas utuantes e, quando rebocadas, as xas, sujeita a inscrio na autoridade martima e suscetvel de se locomover na gua, por meios prprios ou no, transportando pessoas ou cargas. 45 Considerado como aquele celebrado entre o embarcador (shipper) e o transportador (carrier) por meio do qual esse se obriga, sob sua custdia, a transportar pela via aquaviria, de um porto a outro, mercadoria ou pessoa, e aquele se obriga a pagar uma remunerao por esse servio, denominado frete. 46 efetuada no Tribunal Martimo, conforme Lei n. 2.180/54. 47 Nos termos do art. 2, inciso XVIII da LESTA: Registro de Propriedade da Embarcao - registro no Tribunal Martimo, com a expedio da Proviso de Registro da Propriedade Martima; 48 TRRES, Heleno Taveira. Regime Jurdico das Empresas de transporte areo e martimo e suas implicaes scais. In: TRRES, Heleno Taveira (coord.). Comrcio Internacional e Tributao. So Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 397.39

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Osvaldo Agripino de Castro Junior Como o Direito Martimo aquele que trata da navegao comercial pelo meio aquavirio realizado por embarcaes, inclui, portanto, a navegao de tais embarcaes em rios, lagoas, canais, estreitos e baas. Deve-se mencionar que o Direito Martimo, direito misto, pois possui normas de direito privado e direito pblico, engloba o trco martimo, que compreende a atividade de explorao comercial do navio, no se confunde, portanto, com o Direito da Navegao Martima, inserido no direito pblico, porque possui como objeto o trfego martimo, que abrange o trnsito das embarcaes, visando a segurana da navegao. Trata-se de disciplina que, tendo em vista a natureza internacional do transporte aquavirio, possui alto grau de internacionalidade e complexidade49, e que exige prossionais capacitados para lidar com as suas especicidades. Nesse quadro, a Lei n. 9.537/97 LESTA Lei de Segurana do Trfego Aquavirio a principal norma que regula a segurana da navegao martima e que deve ser regulamentada por decreto, o que foi feito pelo Decreto n. 2.256/98 (Regulamento da LESTA - RELESTA). Ocorre que, com base na violao ao princpio da legalidade, o TRF da 4. Regio, declarou que no subsistem multas aplicadas pela Autoridade Martima empresa que, segundo essa, violou o RELESTA.Apelao Cvel n. 2006.70.08.001267-3/PR. Relator: Des. Federal Edgard Antnio Lippmann Jnior. EMENTA. INFRAES. TRFEGO AQUAVIRIO. DECRETO N 2596/98. PRINCPIO DA LEGALIDADE. No subsistem as multas aplicadas Parte Autora com fundamento no Regulamento de Segurana do Trfego Aquavirio, aprovado pelo Decreto n 2596/98, por ofensa ao princpio da legalidade. Deciso 25/09/2008.

O trfego martimo, pela sua abrangncia e complexidade, dotado de alto grau de transnacionalidade, como leciona Heleno Taveira Trres porque:(...) pela transnacionalidade de suas operaes, envolve grande nmero de associaes defensoras dos interesses de armadores, operadores ou trabalhadores. o caso da International Shipping Federation (ISF), que congrega armadores de todo o mundo e cuja principal preocupao diz respeito ao preparo do pessoal para as funes de bordo; a International Chamber of Shipping (ICS), voltada para as questes vinculadas com a segurana dos navios e a poluio do meio marinho; a International Transport Federation (ITF), que rene sindicatos de trabalhadores de bordo; o Baltic & International Maritime Council (BIMCO), que congrega armadores, agentes, brokers e Clubes P & I; entre outras de grande porte50.

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No direito comparado, relevante mencionar, em face da complexidade do Direito Martimo, a diversidade de temas regulados: ROSE, F.D. General Average: Law and Practice. 2nd. Ed. London: LLP, 2005, a obra compara os dispositivos que tratam da avaria geral das Regras de York-Anturpia de 2004, 1994 e 1974, com base na Association of Average Adjusters Rules of Practice; CLARKE, Malcolm; YATES, David. Contracts of Carriage by Land and Air. London: LLP, 2004, o livro analisa com profundidade as clusulas e comenta as principais convenes e contratos internacionais do setor; GLASS, David A. Freight Forwarding and Multimodal Transport Contracts. London: LLP, 2004, o livro atravs de estudo de casos trata dos contratos usados pelos operadores de transportes martimos relacionados ao movimento de mercadorias, incluindo freight forwarders, fornecedores, operadores multimodais e operadores de contineres, e abrange as convenes aplicadas aos contratos internacionais; ROSE, F.D. Marine Insurance: Law and Practice. London: LLP, 2004, o livro um dos que melhor trata o tema do seguro martimo luz dos princpios tradicionais e direito comercial, bem como aborda as clusulas-padro de seguro martimo, especialmente o International Hull Clauses 2002, revisada em 2003, e Institute Clauses; OZAYIR, Z. Port State Control. 2nd Ed. London: LLP, 2004; MICHEL, Keith. War, Terror and Carriage by Sea. London: LLP, 2004, trata da cobertura de seguro martimo no International Hull Clauses, the International War and Strikes Clauses, e pelas P & I and War Risk Associations, incluindo uma anlise do dever da boa-f e uma anlise detalhada das emendas de dezembro de 2002 SOLAS 1974 Convention e dispositivos do International Ship and Port Facility Security (ISPS) Code relativos aos problemas de segurana (safety) e combate ao terrorismo (security) martimo e seus impactos jurdicos; TODD, Paul. Maritime Fraud. London: LLP, 2003, a obra abrange todas as variedades de fraude martima e descreve os mtodos usados e riscos aos comerciantes (traders) e transportadores (carriers).

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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais Direito Maritimo, Lex Mercatoria e Lex Maritima: Breves Notas Por sua vez, no direito espanhol, segundo Ignacio Arroyo:El Derecho martimo es el conjunto de relaciones jurdicas que nacen o se desarrollan con el mar. Por consiguiente, el mar y lo martimo constituyen los criterios delimitadores de la materia. Esa denicin signica reconecer la autonomia de la disciplina, primero en el plano cientco y despus en los niveles legislativo, judicial y acadmico o universitrio; Y, por otra parte, el Derecho martimo se concibe com um derecho general que incluye tanto aspectos de Derecho privado como pblico, nacional e internacional. Esa idea supone una concepcin ms amplia que la contemplada en los textos positivos (Cdigo de Comercio principalmente) y en los planos de estudios de neustras Facultades de Derecho que trocean em Derecho martimo entre Derecho Mercantil (las relaciones martimas privadas) y el Derecho internacional pblico (El denominado Derecho pblico del mar)51.

Captulo 2. Direito Martimo: Relao com outros ramos do Direito, a Lex Mercatoria e a Lex Maritima O Direito Martimo, em funo da sua complexidade e regulao feita por organismos internacionais, uma disciplina jurdica que se relaciona como vrios outras disciplinas, como Direito do Mar52, que envolve casos envolvendo os Estados, julgados pelo Tribunal Internacional de Direito do Mar53 e a proteo das riquezas no Domnio Martimo54 ,Direito da Navegao Martima55, Direito Porturio56, Direito da Concorrncia, Direito Internacional Pblico, Direito Internacional Privado57, na qual a ordem pblica58, a m de preservar a equidade nas relaes contratuais de transporte internacional, possui um relevante papel, Direito Ambiental, Direito Aduaneiro59, Direito Civil, Direito Comercial, bem outros ramos do con conhecimento, como Engenharia Naval, Meteorologia, Fsica, Oceanograa, dentre outras. ______________________________TRRES, Heleno Taveira. Regime Jurdico das Empresas de transporte areo e martimo e suas implicaes scais, p. 402-403. 51 ARROYO, Ignacio. Compendio de Derecho Martimo, p. 22. 52 Tem como objeto as relaes jurdicas que se do em torno do mar e como fontes do direito, a Conveno de Montego Bay, j raticada pelo Brasil, pelo Decreto n. 1.650 e a Lei n. 8.617/1993, que dispe sobre o Domnio Martimo brasileiro. Essa disciplina tem potencial e assumir cada vez mais importncia com a explorao de petrleo e dos recursos marinhos da Amaznia Azul, expresso criada para simbolizar o tamanho do domnio martimo brasileiro aps o acrscimo de cerca de 1.000.000km plataforma continental brasileira pela Comisso de Plataforma Continental da ONU. 53 Criado pela Conveno das Naes Unidos sobre o Direito do Mar, em 1982, foi formalmente instalado em 1996. Dentre outras atribuies, no que tange competncia ratione materiae, o Tribunal tem competncia para julgar i) casos litigiosos (sobre quaisquer disputas que: a) envolvam a interpretao ou aplicao da conveno, b) envolvam a interpretao ou aplicao de outros acordos, desde que tenham relao com a Conveno, c) envolvam a Cmara de Disputas dos Fundos Marinhos, d) envolvam a pronta liberao das embarcaes e suas tripulaes e ii) competncia consultiva. MICHELS, Gilson Wessler. Tribunal Internacional do Mar. In: BARRAL, Welber. (Org.). Tribunais Internacionais - Mecanismos Contemporneos de Soluo de Controvrsias. Florianpolis: Fundao Boiteux, 2004, p. 98-100. 54 Sobre o processo histrico para chegar cooperao internacional no mar, desde as conseqncias dos Tratados de Westflia, da Conveno Ramoge e Conveno de Montego Bay, com nfase na proteo do meio ambiente marinho: DE BARROS, Jos Fernando Cedeo. Direito do Mar e do Meio Ambiente A proteo das zonas costeiras e litorais pelo Acordo Ramoge: Contribuies para o Brasil e Mercosul. So Paulo: Lex, Aduaneiras, 2007. 56 Tem como objeto as relaes jurdicas que se do em torno da segurana da navegao martima, especialmente da salvaguarda da vida humana no mar. Suas principais fontes de direito so a Lei n. 9.537/97 Lei de Segurana do Trfego Aquavirio - LESTA, bem como convenes da International Maritime Organization, dentre os quais RIPEAM Regulamento Internacional para evitar abalroamento no mar. A autoridade martima brasileira, ou seja, o Comando da Marinha, por meio da Diretoria de Portos e Costas, competente para a efetividade da normas. Sobre a50

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Osvaldo Agripino de Castro Junior Ressalte-se que, de acordo com ke Moder e Harry Scheiber, o Direito do Oceano (Ocean Law) e o Direito Martimo mudaram bastante desde a II Guerra Mundial, especialmente a partir da dcada de 197060. Nesse sentido, segundo ke Moder:De forma crescente estamos trazendo leis globais para as guas ocenicas. Este conceito de transio tem uma histria que inicia por volta de 1970, com a Conferncia da ONU realizada em Estocolmo para o Meio Ambiente, em 1972. A partir dessa data que a gerao do psguerra comeou a contribuir na formulao da agenda para o futuro. Daquele ano at hoje, o direito internacional, direito pblico talvez mais do que direito privado, tem exercido um papel crescente e importante para os polticos e juristas. Como Laurence Juda escreveu em seu artigo, ns devemos considerar o direito internacional como uma ferramenta para promover coerente e integrada gesto do espao ocenico. Os legisladores, dessa forma, ainda possuem um importante papel na construo do Direito do Oceano.(...) Para a maioria dos juristas, o direito aplicado na terra tem sido considerado mais importante do que o Direito do Oceano. Aquele direito foi na era pr-moderna mais ou menos idntico ao direito privado. Direito do Oceano, contudo, tem sido classicado tradicionalmente como direito internacional pblico, ius gentium. Historicamente os oceanos tm sido a infraestrutura para o transporte global e um requisito para a colonizao das ndias e das Amricas. Tais batalhas eram feitas para que houvessem regras de direito internacional pblico em face dos oceanos sem fronteiras, embora, fossem uma parte menor do problema do sculo XX. O processo de globalizao tm dado novas dimenses a esta situao. Especialmente com dinmicas entre macro e micro-relaes, entre o local e o global, e nesta modernizao, tm demonstrado diferenas entre as culturas poltica e jurdicas. A tendncia para harmonizar o direito internacional pblico com a ajuda de instrumentos jurdicos como convenes e declaraes tem provocado conitos entre conceitos culturais de diferentes tipos61.

______________________________disciplina: NETO, Pedro Duarte. A Autoridade Martima e a Lei de Segurana do Trfego Aquavirio. In: CASTRO JUNIOR. Osvaldo Agripino de. (Org.) Direito Martimo Made in Brasil. So Paulo: Lex, 2007, p. 375-426; FILHO, Guilherme Alves de. O processo administrativo na Capitania dos Portos e no Tribunal Martimo. In: CASTRO JUNIOR. Osvaldo Agripino de. (Org.) Direito Martimo Made in Brasil, p. 427-256. 56 Tem como objeto o porto e como principais fontes do direito, a Lei n. 8.630/93, Lei de Modernizao dos Portos, Lei n. 10.233/2001 - Lei de criao da ANTAQ, Convenes Internacionais da OIT e da IMO, dentre as quais ISPS Code, bem como resolues e atos administrativos da ANTAQ e da Secretaria Especial dos Portos. Sobre o tema, com 14 artigos: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de; PASOLD, Cesar Luiz (orgs.). Direito Porturio, Regulao e Desenvolvimento. Prefcio Pedro Calmon Filho. Belo Horizonte: Forum, 2010, 474 p. 57 Para maior aprofundamento: ARROYO, Diego P. Fernndez. Derecho Internacional Privado Comparado Conceptos y Problemas Bsicos del Derecho Internacional Privado. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. (Org.) Temas Atuais de Direito do Comrcio Internacional. Vol. I. Florianpolis: OAB/SC Editora, 2004, p. 245-280; SALEME, Edson Ricardo; NIARARDI, George Augusto. Das clusulas de hardship nos contratos internacionais. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de (Org.). Temas Atuais de Direito do Comrcio Internacional. Vol. II. Florianpolis: OAB/SC Editora, 2005, p. 389-406. 58 Acerca do aspecto transnacional da ordem pblica, embora sustentemos que supranacionalidade diverso de transnacionalidade, vez que aquela ocorre quando o Estado transfere o poder de regular para um organismo regional e essa, ocorre quando h espao deslegalizado. JAYME, Erik. Identit Culturelle et Intgration: Le Droit International Priv Postmoderne Cours Gnral de Droit International Priv. The Hague, Boston, London: Martinus Nijhoff, 2000, p. 231. Sobre o dialogo das fontes - Le dialogue de sources (p. 259). 59 Acerca do tema, sob nossa orientao, inclusive com abordagem da pena de perdimento de embarcao: MADEIRA, Carlos Eduardo Camargo. A natureza jurdica da pena de perdimento por dano ao Errio no Direito brasileiro. Monograa de Especializao em Comrcio Exterior - Universidade do Vale do Itaja e Secretaria da Receita Federal. Itaja: UNIVALI, 2007. Sobre o potencial de pesquisa da disciplina, com bibliograa bsica: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. Direito Aduaneiro: Limites e possibilidades nas pesquisas dos Cursos de Direito. In: Consulex, v. 35, 2005, p. 22-24. 60 KE MODER, Kjell. Ocean Law and the process of Globalization. Law of the Sea Institute. Occasional Paper # 04. 2007. Disponvel em:. Acesso em: 31 jan. 2010. Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais, Curitiba, 12: 84-101 vol. 1 ISSN 1678 - 2933

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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais Direito Maritimo, Lex Mercatoria e Lex Maritima: Breves Notas Mencione-se, ainda, a lio de Michael Taylor ao discorrer sobre a doutrina da liberdade dos mares , que regulada pelo Direito do Mar, e sua importncia para a economia dos pases, da seguinte forma:62

Liberdade dos mares, tambm conhecida como liberdade de navegao, est bastante consolidada no mundo atualmente. Ela vem sendo graduada com a aplicao histrica de doutrinas como a regra do tiro de canho (agora incorporada pelo conceito de guas territoriais) e temas de preocupao nacional (como segurana da nao e meio ambiente), e o direito internacional determina que os Estados permitam o movimento dos navios. Contudo, a histria demonstra que a doutrina da liberdade dos mares se funda num tnue equilbrio entre o objetivo multilateral de promover o comrcio e a auto-promoo dos interesses dos prprios Estado. Como discutido adiante, as fortes naes martimas dos tempos modernos, ao contrrio de usarem o poder naval, possuem a habilidade para usar ferramentas de comrcio e medidas econmicas para promover suas agendas nacionais63.

2.1. Direito Martimo e Lex Mercatoria Insiste-se, o Direito Martimo no se confunde com o Direito Porturio, embora no cotidiano, por exemplo, muitas avarias ocorrem na armazenagem porturia ou no manuseio da carga fora do navio, de forma que relevante identicar o INCOTERMS (International Commercial Term) para analisar as responsabilidades64. Nesse cenrio, segundo Tetley:O transporte martimo tem provocado o desenvolvimento de um importante parte do Direito Pblico e do Direito Privado. No Direito Privado, avaria geral, salvamento, afretamento e seguro martimo esto entre os mais antigos princpios desenvolvidos como resposta a tais lutas do comrcio martimo, e que se difundiram princpios equivalentes nos pases de tradio romano-germnica e anglo-saxnica. Esse conito de leis cresceu, em larga medida, do comrcio internacional em mares diversos, o que provocou na Europa Medieval, o nascimento da transnational Lex mercatoria (Law Merchant), incluindo a transnacional Lex maritima (maritime Law)65.

Acerca da Lex Mercatoria, Teubner sustenta que se trata de um direito corrupto, vulnervel a toda sorte de ataques66. Indo alm, Neves estima que as ordens correspondentes aos governos privados cons______________________________KE MODER, Kjell. Ocean Law and the process of Globalization. Law of the Sea Institute. Occasional Paper # 04. 2007. Disponvel em:. Acesso em: 31 jan. 2010. 62 Deve-se mencionar, contudo, que para as potncias martimas, essa doutrina era bastante permissiva, porque permitia a pases como a Gr-Bretanha, usarem o mximo do seu poder martimo para maximizar os seus interesses nacionais no exterior. 64 TAYLOR, J. Michael. Evaluating the Continuing GATS Negotiations Concerning International Maritime Transport Services, p. 154. 65 Acerca da integrao das prestaes prprias do operador porturia (na carga e descarga) no transporte martimo de mercadorias e responsabilidades no direito espanhol: VARONA, Francisco Javier Arias. Manipulacin Portuaria Y Daos a las Mercancas La responsabilidade extracontratual del operador portuario. Granada: Comares, 2006, p. 20-35. 65 TETLEY, William. International Maritime and Admiralty Law. Qubec: ditions Yvon Blais, 2002, p. 4. Acerca da histria do Direito Martimo e do Almirantado: p. 3-30. 66 Apud NEVES, Marcelo. Entre Tmis e Leviat: Uma relao difcil. So Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 267.61

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Osvaldo Agripino de Castro Junior tituem direito trivializado pela economia mundial67, o que requer ainda mais a interveno do Estado na defesa do interesse pblico, caso haja conexo com o direito brasileiro, com base no princpio da ordem pblica brasileira disposto no art. 17 da LICC. Uma sociedade hiper-complexa exige, ao menos, procedimentos complexos, o que demanda micro-sistemas jurdicos e, dessa forma, disciplinas jurdicas mais especializadas como o Direito Martimo, com fontes especcas e distintas de ramos tradicionais do direito, como Direito Penal, Direito Civil e Direito do Trabalho. No Brasil, essas fontes do Direito Martimo (quase 100 % dependente das frotas de bandeiras estrangeiras, especialmente de convenincia) operadas e aplicadas de forma automtica e acrtica pelos operados de direito, em regra, so decorrentes da produo feita no exterior da Lex Maritima. Tais usos e costumes carecem, portanto, de ltragem jurdica crtica que contemple a eccia dos interesses, pela ordem, dos usurios brasileiros de transporte aquavirio e dos carriers de nacionalidade brasileira, tambm chamados na terminologia regulatria setorial de EBNs (Empresas Brasileiras de Navegao). Nesse contexto, relevante a lio de Arruda Junior:O espao acadmico importante, se no crucial, ao avano compreensivo da realidade que se pretende conhecer. Problemtica a tendncia acadmica academicista (um contrasenso), a tal que do alto de confortvel abrigo institucional ou, pretensamente sem partido da arena social, reduz a realidade que da se v contemplativa e isoladamente o artce do trabalho intelectual universitrio. O lugar da universidade em essncia o lugar de universalidades. O seu cho no paira sobre a realidade, a vida, ao contrrio, s pelo estado das coisas como esto e so conservadas pode o mandarinato acadmico, tendncia diretiva na burocracia universitria, manter-se legtima e justicadamente como casta graticada com o numerrio dos contribuintes68.

O Direito Internacional Privado disciplina relevante para o Direito Martimo, especialmente pelo grande quantidade de nacionalidades existentes na expedio martima, com grande potencial de conito, o que demanda a necessidade de identicar lei e foro aplicveis69. Dessa maneira, deve-se mencionar que comum a clusula de eleio de foro no estrangeiro em contrato de transporte martimo, todavia, o Supremo Tribunal Federal, historicamente tem interpretado a autonomia da vontade para eleio de foro, a m de observar se o acordado foi a expresso inequvoca da vontade das partes. Como exemplo, ao revisar deciso de instncia inferior, o STF ao analisar o Recurso Extraordinrio n. 18.615, julgado em 21 de junho de 1957, no considerou a citada clusula de eleio de foro para Amsterd, na Holanda, em contrato de adeso de transporte martimo70, vez que, de acordo com a doutrina francesa, a vontade presumida e ocorre uma co, no h, portanto, concurso de vontades. Assim, segundo Ndia de Arajo: ______________________________NEVES, Marcelo. Entre Tmis e Leviat: Uma relao difcil, 268. ARRUDA JNIOR, Edmundo Lima de. Direito Alternativo e Contingncia Histria e Cincia Manifesto. Florianpolis: IDA-CESUSC, 2007, p. 8. 69 Com nfase nos problemas envolvendo os contratos de transporte martimo, inclusive na Unio Europeia: LAMY, Eduardo de Avelar. Contrato de Transporte Martimo Internacional: Legislao aplicvel e competncia. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de (Org.). Temas Atuais de Direito do Comrcio Internacional. Vol. II, p. 407-431; SILVRIO, Fernando; MAY, Otvia de Oliveira. A Clusula de Eleio de Foro no Conhecimento de Transporte Martimo (Bill of Lading). In: CASTRO JUNIOR. Osvaldo Agripino de. (Org.) Direito Martimo Made in Brasil. So Paulo: Lex, 2007, p. 121-164; CALABUIG, Rosario Espinosa. Resolucin de controvrsias y derecho aplicable em el transporte martimo internacional: El caso de La Unin Europea. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de (Org.) Temas Atuais de Direito do Comrcio Internacional. Vol. II, p. 433-466. 70 Ressalte-se que tal prtica vem sendo efetuada at hoje pelos pases que possuem grande frota mercante aos exportadores e importadores de pases com pequena frota mercante, como o Brasil, inclusive determinando como lei aplicvel a Conveno para Unicao de Certas Regras de Direito concernentes aos Conhecimentos Martimos, provenientes da Conveno de Bruxelas, de 25 de agosto de 1924, assinada mas no raticada pelo Brasil e as Regras de Haia, de 1968.68

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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais Direito Maritimo, Lex Mercatoria e Lex Maritima: Breves NotasNo seu voto, o Min. Villas Boas esclareceu que tinha como perfeitamente vlida a conveno que transfere o conhecimento das questes do gnero a uma jurisdio estrangeira, mas no caso no podia admiti-la porque inexistia uma prova cabal da vantagem que uma determinada clusula daria a uma das partes no foro de Amsterd, e por isso achou que a parte estaria mais protegida na jurisdio brasileira71.

Sobre o tema, a jurisprudncia do STF est consolidada no sentido de admitir a eleio do foro e a prorrogao, mas com algumas particularidades, cabendo destacar, segundo Franceschini:(...) os acrdos dos eminentes e saudosos Mins. Carlos Maximiliano, Sent. Estr. 993, de Portugal, RT 136/824; Hahnemann Guimares, Sent. Estr. 1.080, DJ 09.08.1949, p. 2.035; Annibal Freire, Sent. Estr. 1095, DJ 24.09.1949, p. 3.003-3.004 com referncia a minha opinio, Estudos, 726, e Jos Linhares, Arq. Jud. 45/298-300, mas sempre com as restries da ordem pblica e da fraude lei (parecer Proc. Geral acolhido, Arq. Jud. 73/88). Perdurou nessa diretriz, Sents. Estrs. 1.546, RTJ 10/401, 1.855, RTJ 34/404, 1.820, RTJ 35/155. E continuou nos ltimos acrdos, avultando-se os de lavra do eminente Min. Luiz Gallotti, Rec. Extr. 10.419, DJ 09.12.1950, p. 3.218, reconhecendo plenamente a submisso voluntria; no Rec. Extr. 34.606, RTJ 4/313, no a admitindo com toda a procedncia, nos contratos de adeso (transportes, seguros etc) onde no existe um verdadeiro e inequvoco acordo de vontade; e Sent. Estr. 1.649, DJ 23.04.1959, 380, prorrogao pelo comparecimento sem alegar a incompetncia72

Diante de tal quadro, pode-se sustentar que no Brasil permitido o pactum de foro prorrogando expresso ou tcito, quando inexistir fraude lei, violao aos princpios de ordem pblica, desateno aos limites da liberdade contratual em tema de Direito Processual Internacional ou ofensa aos princpios fundamentais de Direito das obrigaes em matria contratual73. No se deve, portanto, aceitar a eleio de foro sem qualquer conexo de carter objetivo ou subjetivo admitido pelo Direito Processual Internacional74, to somente em decorrncia da experincia ou tradio de um determinado foro em face da exigncia da especializao de certas matrias, tais como a do foro ingls para as questes de Direito Martimo, emprstimos em eurodlares ou relativas ao comrcio internacional de gros, dentre outros75. ______________________________ARAJO, Ndia de. Contratos Internacionais e a Jurisprudncia Brasileira: Lei Aplicvel, Ordem Pblica e Clusula de Eleio de Foro. In: RODAS, Joo Grandino. (coord.). Contratos Internacionais. 3a. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 219. 72 FRANCESCHINI, Jos Incio Gonzaga. A Lei e o Foro de Eleio em tema de Contratos Internacionais. In: RODAS, Joo Grandino. (coord.). Contratos Internacionais. 3a. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, p. 101. 73 Sobre o tema, com maior profundidade especialmente no que tange aos contratos internacionais de compra e venda celebrados na internet, ver: CASTRO JR, Osvaldo Agripino de. Direito das Obrigaes. Os Contratos Internacionais de Compra e Venda. In: FERREIRA JUNIOR, Lier Pires; CHAPARRO, Vernica Zarate (Coord.) Curso de Direito Internacional Privado. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2006, p. 361-408. 74 Os elementos de convenincia de foro indicativos da competncia internacional rationi loci em matria contratual, devem ser reconhecidos como razoveis pela ordem jurdica ptria, dentre os quais, o domiclio, o local do cumprimento da obrigao, a nacionalidade, o local da ocorrncia do fato que gerou a obrigao. 75 Dentre os quais, citam-se os contratos de trabalho de estrangeiros residentes no Brasil, celebrados por agncias situadas em Maca, Rio de Janeiro, representantes de empresas norte-americanas que operavam para a Petrobrs na Bacia de Campos na dcada de 1990, nos quais tivemos oportunidade de atuar como advogados. Tais working agreements dispunham como foro de eleio a cidade de Cingapura, sem que houvesse qualquer elemento de convenincia para determinar a competncia (foro) ratione loci, vez que a prestao de servios se dava no domnio martimo brasileiro (lex loci executionis), portanto, aplicveis o foro brasileiro e a legislao trabalhista ptria, para dirimir as controvrsias decorrentes do descumprimento das convenes coletivas de trabalho das categorias prossionais dos trabalhadores martimos estrangeiros que atuam no offshore.71

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Osvaldo Agripino de Castro Junior A nica exceo refere-se possibilidade de eleio de juzo arbitral em pas neutro diverso daquele a cuja jurisdio esteja submetida cada uma das partes litigantes, desde que se trate de disputa a respeito de matria comercial e que envolva Estados raticantes do Protocolo relativo s Clusulas de Arbitragem, assinado em Genebra aos 24.09.1923 (art. 1 do Protocolo), e raticado no Brasil pelo Decreto n. 21.187, de 22 de maro de 1932. Vale ressaltar que numa compra e venda internacional, por exemplo, h vrias espcies de relaes jurdicas, todas elas gerando direitos e deveres para as partes. Dentre as relaes, podemos citar: a) as que ocorrem entre os operadores e o sco, em face da ocorrncia dos fatos geradores que geram obrigao tributria, tal como o imposto de renda, e o Imposto de Importao; b) aquelas envolvendo operadores de comrcio exterior, transporte martimo e os operadores porturios que, algumas vezes, causam avarias s cargas e possuem o dever de indenizar; c) entre os exportadores e os importadores que, por estarem no exterior e acreditarem na impunidade, no honram o contrato com as empresas brasileiras, dentre outras. Por sua vez, o Direito Internacional Pblico76 que tem como objeto regular e uniformizar as relaes jurdicas entre Estados e/ou organismos internacionais, por meio de tratados, considerados acordos celebrados por escrito entre dois ou mais Estados e/ou organismos internacionais. Trata-se da disciplina jurdica que, depois desde a fundao da ONU em 1945, com a assinatura da Carta da ONU, mais afetou o direito interno dos pases. Com o aproveitamento para ns domsticos e paccos das tecnologias criadas na busca armamentista da Guerra Fria, como internet, jato, radar, computador, laser, dentre outras, os custos das comunicaes e de transportes reduziram sobremaneira. Isso fez com que houvesse um aumento no comrcio de bens e servios bem como de viagens de pessoas. Alm disso, o DIP por meio do procedimento de aceitao tcita criado pela IMO, faz com que as convenes possam ser emendadas e implementadas, com um tempo mnimo, desde que no sofram oposio de uma quantidade de pases. Assim, esse instituto tem sido outro instrumento do DIP, dentre outros. Sem tais procedimentos, novos institutos que revolucionaram o Direito Internacional Pblico e Privado, a IMO no teria cumprido o papel relevante que vem exercendo desde sua criao e seria, to somente, um organismo internacional sem efetividade e desatualizado77. O Direito Internacional Pblico, portanto, essencial no processo de segurana jurdica ao meio ambiente marinho e no combate ao comrcio internacional injusto. Para Jacques Guillaume, a instncia pblica denitivamente deve retomar nas mos aquilo que jamais deveriam ter perdido: o esprito da regulao78. No h, portanto, como confundir o Direito Martimo com o Direito do Mar e Direito da Navegao Martima, nem com o Direito Porturio79. Aquela uma disciplina autnoma, com objetos e fontes ______________________________Acerca da relao do mar com o Direito Internacional Pblico, inclusive com meno s bandeiras de convenincia e ao meio ambiente marinho e gesto da crise: DE BARROS, Jos Fernando Cedeo. Direito do Mar e do Meio Ambiente A proteo das zonas costeiras e litorais pelo Acordo Ramoge: Contribuies para o Brasil e Mercosul. So Paulo: Lex, Aduaneiras, 2007, p. 51-194. 77 PAMBORIDES, George P. International Law and Its Impact on Private Shipping Law. In: RDHI, vol. 50, p. 203204. 78 GUILLAUME, Jacques. Les transportes maritimes dans La mondialisation. In: GUILLAUME, Jacques (org.). Les transports maritimes dans La mondialisation. Paris: Harmattan, 2008, p. 22. 79 Sobre a disciplina, decorrentes da produo do Grupo de Pesquisa Regulao da Infraestrutura e Juridicidade da Atividade Porturia: PASOLD, Cesar Luiz. Lies Preliminares de Direito Porturio. Florianpolis: Conceito Editorial, 2009; CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. Aspectos jurdicos e polticos do processo de municipalizao do Porto de Itaja: uma experincia de luta pela cidadania. In: Revista Martima Brasileira, v. 127, 2007, p. 153-165; e as seguintes dissertaes de Mestrado em Cincia Jurdica: HAECKLER, Gabriela. Portos Secos: Aspectos Jurdicos e Polmicos destacados, 2009; RAMONIGA, Miriam. A natureza jurdica do rgo gestor de mo de obra: uma anlise a partir da Lei n. 8630, de 25 de fevereiro de 1993, 2008; sob nossa orientao no Programa de Mestrado: DE OLIVEIRA, Jackeline Daros Abreu. Responsabilidade Civil da Unio na Atividade Regulatria Porturia, 2009; COLLYER, Wesley Oliveira. A Lei de Modernizao dos Portos e o Conselho de Autoridade Porturia: Estudo de caso de Itaja, 2007; FRIEDRICH, Marlo Froelich. Limites e Possibilidades da Nova Lex Mercatoria no Direito Brasileiro, 2007; PLATCHEK, Ricardo Moiss de Almeida. Limites e Possibilidades de Aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor no Contrato de Transporte Martimo, 2007; TOMAZ, Roberto Epifanio. Limites e Possibilidades do Dilogo entre o Direito Empresarial e o Direito Comercial, 2006. Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais, Curitiba, 12: 84-101 vol. 1 ISSN 1678 - 293376

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Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais Direito Maritimo, Lex Mercatoria e Lex Maritima: Breves Notas de direito diversas das disciplinas que foram mencionadas. Alm dessas disciplinas, o Direito Martimo sofre grande inuncia do Direito da Regulao do Transporte Aquavirio e da atividade porturia, cujo objeto a regulao setorial da atividade martima, na qual se insere o navio, e do porto, considerado o pulmo dos mares, local onde o navio carrega e descarrega suas mercadorias (goods). O Direito da Concorrncia tambm relevante, especialmente pelas prticas protecionistas dos pases desenvolvimento, no obstante participem, regra geral, da OMC. Nesse cenrio de desigualdade e prticas desleais, relevante a lio de Pierre Bauchet: Com o mercantilismo renascendo, o transporte pode no se tornar um elemento de bom comrcio, mais um instrumento de dominao, como Colbert no passado dizia80. O Direito Martimo tambm se relaciona sobremaneira com o Direito Internacional Pblico, vez que como o navio navega em vrios mares bem como se destina para vrios portos em diversos pases, alm de ter uma nacionalidade prpria e tripulao, muitas vezes com vrias nacionalidades, sofre grande regulao dos tratados internacionais, especialmente os editados pela IMO, OIT (Organizao Internacional do Trabalho) e OMC (Organizao Mundial do Comrcio), dentre outras. O Direito Martimo atua em espaos jurdicos diversos, e encontra tenso dialtica entre o direito nacional e o direito internacional81. Cabe acrescentar que o Direito Martimo ainda possui ramos do direito voltados para os objetos das especicidades da atuao do navio, como Direito do Trabalho Martimo82, Direito Tributrio Martimo83, Direito Previdencirio Martimo e Direito Ambiental Martimo84. ______________________________Avec le mercantilisme renaissant, le transport risque de ne plus tre un lment du bonne commerce, mais un instrument de domination, comme Colbert lavait dailleurs conu. BAUCHET, Pierre. Les transports mondiaux, instrument de domination. Paris: Economica, 1998, p. 274. 81 Sobre o direito nacional e o direito internacional, bem como acerca do Registro Internacional Francs (RIF) e diferena entre o internacional e o intracomunitrio no transporte martimo. CHAUMETTE, Patrick. Marine Marchande. Navegations et espaces juridiques. In: GUILLAUME, Jacques (org.). Les transports maritimes dans La mondialisation. Paris: Harmattan, 2008, p. 233-244. 82 Acerca do tema: ZANINI, Gisele Duro. A Aplicao da Lex Fori nos Processos Trabalhistas dos Martimos com Conexo internacional que laboram nos Espaos Martimos Brasileiros. Dissertao de Mestrado Programa de Doutorado e Mestrado em Cincia Jurdica da UNIVALI. Itaja: UNIVALI, 2009. 83 Sobre os aspectos tributrios do transporte martimo, inclusive com abordagem acerca do tonnage tax: TRRES, Heleno Taveira. Regime Jurdico das Empresas de transporte areo e martimo e suas implicaes scais. In: TRRES, Heleno Taveira (coord.). Comrcio Internacional e Tributao. So Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 395454; ADONNINO, Pietro. Aspectos Impositivos de las Empresas de Transporte Areo y Martimo. In: TRRES, Heleno Taveira. Comrcio Internacional e Tributao, 455-498. 84 Para maior aprofundamento no tema, no direito brasileiro: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. Aspectos destacados da proteo ao meio ambiente marinho no Brasil. In: Revista de Direito Ambiental, v. 43, 2006, p. 222245; LEITO, Walter de S. As convenes internacionais e os esquemas voluntrios de responsabilidade e compensao por danos de poluio do mar por petrleo. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de (Org.). Temas Atuais de Direito do Comrcio Internacional. Vol. II. Florianpolis: OAB/SC Editora, 2005, p. 233-268; MARTINS, Eliane Maria Octaviano. A responsabilidade internacional por danos causados ao meio ambiente marinho. In: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de (Org.). Temas Atuais de Direito do Comrcio Internacional. Vol. II, p. 207-232; BARBRIO, Alessandro Luiz. A proteo da gua de lastro no Direito Brasileiro. In: Osvaldo Agripino de. (Org.) Direito Martimo Made in Brasil. So Paulo: Lex, 2007, p. 331-373; e sob nossa orientao, atravs de estudo de caso luz da gesto e da Norma da Autoridade Martima n. 20 (NORMAM 20): BERTOLDI, Renata Granemann. A importncia do controle da gua de lastro para o Porto de Itaja. Monograa de Especializao. Universidade do Vale do Itaja. Itaja: UNIVALI, 2007. No direito internacional: GAUCI, Gotthard. Oil Pollution At Sea. Civil Liability and Compensation for Damage. New York: John Wiley $ Sons, 1997; IMO. International Maritime Organization. Civil Liability for Oil Pollution Damage. Texts of Conventions on Libiality and Compensation for Oil Pollution Damage. London: IMO, 1996 e na Unio Europia: KESSEDJIAN, Catherine et allii. Le dveloppement durable, quelles limites aux modes de transport ? In: GRARD, Loe.(dir.) LEurope des transports, p. 709-748; VIALARD, Antoine. Responsabilit limite et indemnisation illimite en cas de pollution des mers par hydrocarbures. In: GRARD, Loe.(dir.) LEurope des transports, p. 749-766; GAUTIER, Marie. Quelles sanctions pnales lencontre des polluers des mers. In: GRARD, Loe.(dir.) LEurope des transports, p. 767-774; FARRE80

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Osvaldo Agripino de Castro Junior CONCLUSO Por m, pode-se concluir que: a) O Direito Martimo brasileiro disciplina de direito privado que tem como objeto regular as relaes jurdicas em torno do navio, como contrato de transporte, contrato de afretamento e responsabilidade civil, e que tem como fontes as convenes internacionais, Cdigo Civil, Cdigo Comercial e Lex Maritima. b) O Direito Martimo no se confunde com o Direito da Navegao Martima, Direito do Mar e Direito Porturio, que possuem como objeto, regular, respectivamente, as relaes jurdicas que se do em torno da segurana da navegao e da proteo do meio ambiente marinho (DNM), o mar, tal como a plataforma continental (DM) e o porto (DP). c) As referncias sugeridas no artigo visam contribuir para a difuso de tais disciplinas e melhor compreenso e efetividade do Direito Martimo no Brasil, pas com forte dependncia desse setor de servios, numa perspectiva crtica e que defenda os interesses dos usurios de servios de transporte martimo (cargo owners) e das empresas de navegao brasileiras (Direito Martimo Made in Brasil). d) No obstante o uso da Lex Maritima no Direito Martimo brasileiro, esse deve ser recepcionado com a ltragem fundada na observncia do princpio da ordem pblica disposto no art. 17, LICC e no Cdigo de Defesa do Consumidor, especialmente em face das clusulas abusivas que tais contratos de transportes padronizados (adeso) possuem, com grave prejuzo aos usurios brasileiros. REFERNCIAS KE MODER, Kjell. Ocean Law and the process of Globalization. Law of the Sea Institute. Occasional Paper # 04. 2007. Disponvel em:. Acesso em: 31 jan. 2010. ARAJO, Ndia de. Contratos Internacionais e a Jurisprudncia Brasileira: Lei Aplicvel, Ordem Pblica e Clusula de Eleio de Foro. In: RODAS, Joo Grandino. (coord.). Contratos Internacionais. 3a. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 195-229. ARROYO, Ignacio. Compendio de Derecho Martimo. Segunda edicin. Madrid: Tecnos, 2002. ARRUDA JNIOR, Edmundo Lima de. Direito Alternativo e Contingncia Histria e Cincia Manifesto. Florianpolis: IDA-CESUSC, 2007. BAUCHET, Pierre. Les transports mondiaux, instrument de domination. Paris: Economica, 1998. BRASIL. Portal da Justia Federal. Administrado pelo Conselho da Justia Federal. Jurisprudncia Unicada. Disponvel em:. Acesso em: 10 abr. 2010. DE MOURA, Geraldo Bezerra. Direito da Navegao. So Paulo: Aduaneiras, 1991. FRANCESCHINI, Jos Incio Gonzaga. A Lei e o Foro de Eleio em tema de Contratos Internacionais. In: RODAS, Joo Grandino. (coord.). Contratos Internacionais. 3a. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, p. 66-121. GUILLAUME, Jacques. Les transportes maritimes dans La mondialisation. In: GUILLAUME, Jacques (org.). Les transports maritimes dans La mondialisation. Paris: Harmattan, 2008. ICS. International Chamber of Shipping. Brochure. London: ICS, 2009. ISF. International Shipping Federation. Disponvel em: . Acesso em: 1 fev. 2010. JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. 4. Ed. So Paulo: Saraiva, 2009. KENDALL, Lane C.; BUCKLEY, James J. The Business of Shipping. Seventh Edition. Centreville: Cornell Maritime Press, 2001. LORANGE, Peter. Shipping Company Strategies Global Management under Turbulent Conditions. London: Emerald, 2008. ______________________________MALAVAL, Margerie. Les nouvelles exigences communautaires relatives la conception des ptroliers: La Double-coque impose. In: GRARD, Loe.(dir.) LEurope des transports, p. 775-784. Cadernos da Escola de Direito e Relaes Internacionais, Curitiba, 12: 84-101 vol. 1 ISSN 1678 - 2933 100

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