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Politecnia n.º 24 Maio / 2010

5 PararParaPensarL. M. Vicente Ferreira

6 RondadasEscolas12 Dossiê ObesidadeInfantileAlimentação Joana Sousa

19 EmpreendorismoIPLapostanoauto-emprego

Francisco Costa Pereira

20 HistóriasdeSucessoVâniaFernandes,cantora

Clara Santos Silva

27 OAcontecimentoISELeoProgramaNeptune

Penim Loureiro

32 NovoeInteressanteAlunosdoISCALvencem24hdeGestão

Jorge Silva

35 HomenagemVeraCastro

Vanessa de Sousa Glória

41 AGrandeEntrevistaSérgioMachadodosSantos

Vanessa de Sousa Glória

48 OProtagonistaPerfildeJoãoBrites

Paulo Silveiro

59 SonsdaFrenteNunoPintoeoclarinete

Sérgio Azevedo

60 ParaReflectirOslivrosealeitura

Nuno Medeiros

62 Estante

64 AmanhãseránotíciaIPLapoiacientistas

Jorge Silva

66 TribunaLivreMaria Manuela Rebelo Duarte

12A Escola Superior de TecnologiadaSaúdededicaumagrandeaten-çãoaoproblemadaobesidade,queafecta já mais de 30% dos ado-lescentes portugueses. A soluçãopassaporcampanhasdesensibili-zação para uma alimentação sau-dável, iniciativa objecto já de umaparceriaentreoIPLeoAuchan.

32

AequipaformadapelosalunosdalicenciaturaemGestão,doISCAL,ven-ceua4.ªediçãodoprestigiadojogodesimulaçãoempresarial"24horasdeGestão".Ogrupoéconstituídoporalunosdohoráriopós-laboral,doisdosquaisingressaramatravésdascandidaturasdemaioresde23anos.

41 O consultor da Agência de Ava-liação e Acreditação do EnsinoSuperior, Sérgio Machado dosSantos,dizqueos inquéritosaosestudantes são uma boa formade aferir a qualidade dos cursos.O catedrático defende, em entre-vista àPolitecnia, a extinção daslicenciaturascomdeficiências.

48OencenadorJoãoBrites,professordaEs-colaSuperiordeTeatroeCinema,e fun-dadordogrupoOBandoéoprotagonistadestaedição.Airreverência,queocarac-teriza desde a adolescência, é uma dasimagensdemarcadestehomemdeteatro.NoValedeBarris,emPalmela,criaespec-táculosondeosactoresinteragemcomosespectadores.Aos62anosoensinoocupaumaparteimportantedasuavida.

Sumário

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Politecnia n.º 24 Maio / 2010

ESTATUTO EDITORIAL

1. A revista Politecnia é uma publicação trimestral, editada pelo Instituto Politécnico de Lisboa, que assegura e disponibiliza informação de referência sobre a vida do IPL e a actividade das oito escolas que o integram;

2. A Politecnia respeita a Constituição da República e as leis que se enquadram nos direitos, obrigações e deveres da Imprensa, tendo em conta o Código Deontológico dos jornalistas. E compromete ‑se a respeitar os direitos e deveres inerentes à liberdade de expressão e ao direito a ser informado, observados que sejam os princípios consignados neste Estatuto Editorial;

3. A Politecnia rege ‑se por critérios de rigor e honestidade, sem dependências de ordem ideológica, política ou económica, no respeito integral pelos Estatutos e a Lei Orgânica do IPL;

4. A Politecnia elege como público de referência as instituições (económicas, políticas e sociais) da sociedade civil e o corpo docente das oito escolas do IPL, e os alunos, pais e educadores em geral;

5. A Politecnia quer contribuir para a unidade do IPL e a afirmação da sua cultura própria, em prol do desenvolvimento em Portugal de um Ensino Superior de qualidade, apostado na qualificação profissional dos alunos;

6. A Politecnia diferencia os artigos de conteúdo opinativo dos artigos informativos e reserva ‑se o direito de interpretar e comentar, nos seus espaços de opinião, os factos e acontecimentos de âmbito educativo que se relacionem com a sua actividade;

7. A Politecnia está aberta à colaboração de todos os docentes do Instituto Politécnico de Lisboa que tenham contributos, no domínio da Educação, importantes que queiram partilhar;

8. A Direcção da Politecnia reserva ‑se o direito de não publicar a colaboração não solicitada, que considere não ter a qualidade pretendida;

9. A responsabilidade dos textos publicados é inteiramente assumida pelos seus autores;

10. A Politecnia participa no debate dos grandes temas da actualidade educativa, relacionados com o Ensino Superior, tendo em vista a discussão de questões de interesse para o IPL e a troca de ideias entre aqueles que se preocupam e dedicam ao seu desenvolvimento e prestígio.

AnoIXNúmero24Maio2010

DirectorL.M.VicenteFerreira

EditorOCorrerdaPena

RedactoresBárbaraGabriel,ClaraSantosSilva,JorgeSilva,MargaridaJorge,MatildeRoque,PauloSilveiroeVanessadeSousaGlória

FotografiaCatarinaNeves,JoãoCosta,JoséAlexandre,MargaridaJorge,PedroPina,SofiaGomes,SofiaGuerraeSusanaPaiva

CorrespondentesMariaDuarteBello(ComunicaçãoSocial),JoãoCosta(Dança),LucyWainewright(Educação),LuísaMarquesePedroAzevedo(TeatroeCinema),JoãoMartins(ContabilidadeeAdministração),AnaRaposoeClaúdiaGuerreiro(TecnologiadaSaúde)

ColaboradoresPermanentesAntónioSerrador,LuísOsório,LuísaMarques,ManuelEsturrenho,PauloMorais--AlexandreeSérgioAzevedo

ColaboradoresCristinaMarques,DavidTavareseManuelCorreia

ColunistaMariaManuelaRebeloDuarte

GrafismoePaginaçãoOrlandoRaimundo(coordenador),ClaraSantosSilva,PauloSilveiroeVanessadeSousaGlória

PropriedadeInstitutoPolitécnicodeLisboaEstradadeBenfica,5291549-020LisboaTelefone:217101200Fax:217101236e-mail:[email protected]:www.ipl.pt

Redacção,Admin.ePublicidadeEstradadeBenfican.º5291549-020Lisboa

ImpressãoTipografiaPeres,RuadasFontaínhas,Lote2VendaNova2700-321AmadoraDepósitoLegal-158054/2000ISSN-1645-006x

Tiragem:4000exemplares

Capa:VanessadeSousaGlória(arranjográfico)FigurinosdeVeraCastro

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Parar para Pensar

5Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Parar para Pensar

5

L.M.VicenteFerreira

AvaliaçãodoEnsinoSuperior

Apesar do pouco tempo que as instituições de ensino superior dispõem para

promover todo este processo, o IPL está apostado em implementar um bom

Sistema Interno de Garantia de Qualidade, que entre em

funcionamento no prazo estipulado pela agência

O PROCESSO de avaliação eacreditaçãodasinstituiçõesdeen-sinosuperiorporpartedaAgênciadeAvaliaçãoeAcreditaçãoNacio-nal, designada porA3ES, iniciou-secomaintrodução,naplataformainformática,detodososcursosmi-nistradosnoespaçonacional.

Esteprocessoqueparaoscur-sos novos terminou a 30 deDe-zembrode2009eparaosoutroscursos terminoua05deAbril de2010 decorreu comnormalidade,apesardasobrecarganosistema,sobretudonosúltimosdias,terori-ginadoalgunsmomentosdemaiormorosidadederesposta.

Cumprida esta primeira eta-pa iniciar-se-á a partir de agoraoprocessodeavaliaçãodoscur-sos. Para suportar esta fase asinstituições de ensino superiortêm de produzir um documentode auto-avaliação ao curso/insti-tuição,sustentadoporumconjun-to de referenciais e indicadorespré-estabelecidos,atravésdeumSistema Interno de Garantia deQualidade.ÉintençãodaagênciaqueoSistemaInternodeGarantiadeQualidade de cada instituiçãoestejaoperacionalapartirdeOu-tubrode2010.

Osreferenciaiseindicadoresjádisponibilizadospelaagênciasão,desde logo,boas ferramentasdetrabalho para que as Instituiçõespossam debruçar-se sobre elese estabelecerem os parâmetrosparaoseuprocessodeauto-ava-liação, sendo garantido, que umbomSistemaInternodeGarantiadeQualidadepode vir a ser cer-tificadopelaprópriaagência,comtodasasconsequênciaspositivasquetalfactoacarretará.

Apesar do pouco tempo queas instituições de ensino supe-riordispõemparapromovertodoesteprocesso,oInstitutoPolitéc-nicodeLisboaestáapostadoemimplementarumbomSistemaIn-ternodeGarantiadeQualidade,queentreem funcionamentono

prazo estipulado pela agência.Para isso, nomeou uma comis-são de trabalho para desenvol-veroprojectoepretendediscutirembrevecomasunidadesorgâ-nicas,amelhormetodologiapa-raasuaconcretização.Parasegarantirumaboaoperacionalida-de na sistematização e coorde-nação dos dados consideramosfundamental, dada a dimensãodo IPL, o suporte informatizadode todoosistema.Nessesenti-do,estamosaestudarcomalgu-

mas empresas de “Software” amelhorsoluçãoaaplicar.

Contudo,paraseterumbomSistema InternodeGarantiadeQualidade, é preciso satisfa-zer também elevados padrõesde qualidade, em particular aonível do corpo docente. A leiexige,paragarantiro funciona-mentodeumcurso,instalaçõesadequadas e um corpo docen-te na área científica respectivacommaisde15%dedoutorese35%deespecialistas.

Sabendo-se que a figura deespecialista é uma figura nova,que se constituiu com a aprova-çãodoRegimeJurídisodasInsti-tuiçõesdeEnsinoSuperior,artigo48.ºdaLein.º62/2007,de10deSetembro, e posteriormente comaaprovaçãodoD.L.n.º206/2009,de31deAgosto,equeaexigên-cia de doutores no sistema po-litécnico é obrigatória apenas apartir da aprovação do novo Es-tatuto da Carreira Docente, D.L.nº 207/2009, de 31 de Agosto,sendo, por isso, extemporâneasas exigências impostas, que nãoprevêemprazosrazoáveisparaaaplicaçãodanorma, importa quefaçamos um enorme esforço, demodo a que possamos cumprirosvaloresmínimosestabelecidosporlei,comparticularênfaseparaonúmerodedoutorados.

Todavia, não podemos deixardereferir,emmatériadedoutora-mentos,quesedeveráressalvarasituação particular de duas áreascientíficasdeformaçãodoInstitutoPolitécnicodeLisboa:ArtesPerfor-mativas e Tecnologias da Saúde.De facto, estas áreas pelas suasespecificidades e enquadramentonacional, dificilmente cumprirãoos rácios de doutorados, porquesendodomíniosexclusivosdeen-sino politécnico, e este sistemanãopodedardoutoramentos,estápraticamentevedadaaosdocentesa formaçãoavançadaaoníveldoterceirociclo.

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Ronda das Escolas

EstudantesdoIPLlideramAssociaçãoAcadémica

LuisCastronodiscursodetomadadeposse

Lutarcontraoconformismo

FINALISTAdo curso deContabili-dade e Gestão da AdministraçãoPública, Luís Castro é já, aos 27anos, uma figura de renome nosmovimentos estudantis nacionais.O presidente da associação deestudantesdo ISCAL,que já inte-grava a anterior direcção da As-sociação Académica de Lisboa,resolveu avançar para a sua lide-rançaparainverteraestagnaçãoaquechegouaassociaçãolisboeta.Quando participava nas reuniõesestudantis nacionais, Luís Castroficavaconstrangidocomafaltaderepresentatividade da associação,queinclusivelhecustouapercadelugaresnosórgãosnacionais.

A ideiade formarumaequipaque mudasse esta situação, foisendo amadurecida durante al-gum tempoeapesar do lugar depresidentenuncatersidoumaam-biçãopessoal,acaboupor liderara listaúnicaqueseapresentouaescrutínio. Esta associação con-tinuaaserdirigidaporumaequi-pa onde estão integrados muitosalunos do InstitutoPolitécnico deLisboa,oquedemonstraaimpor-tânciadesteensinonomovimentoassociativoestudantil.

LUÍS Castro presidente da Associa-çãodeEstudantesdoInstitutoSupe-riordeContabilidadeeAdministraçãode Lisboa é o novo presidente daAssociaçãoAcadémica de Lisboa.Adirecçãoeleita tema responsabilida-dededirigirumadasmais importan-tesassociaçõesacadémicasdopaís,representando148.000Estudantese81InstituiçõesdeEnsinoSuperior.

Na cerimónia de tomada deposse, realizada no passado dia 8de Março, no Espaço Ágora, paraalémdopresidenteedeváriosalu-nosdo InstitutoSuperior deConta-bilidadeeAdministraçãodeLisboa,tomaram posse na nova direcçãoalunos do Instituto Superior de En-genhariadeLisboa,dasEscolasSu-perioresdeTecnologiadaSaúdedeLisboa,deEducaçãodeLisboaedeComunicaçãoSocial.

Numaplateia repletadeestudan-tes, estiveram presentes o presiden-te do IPL, Professor Doutor VicenteFerreira,apresidentedaAssembleiadeRepresentantesdaESTeSL,eosrepresentantesdosparceirosestraté-gicosdaAAL.Nodiscursodetomadade posse, Luís Castro demonstrouconfiança, apesar das dificuldadespor que passa a Associação Aca-démica de Lisboa, no renascimentoda associação levando-a a ocupar olugar que já lhe pertenceu, como a

maioracademiadopaísnosseusvin-teecincoanosdeexistência.

A principal preocupação destadirecção passa pela recuperação fi-nanceira da AAL, pelo que estão aser estudados apoios financeirosquebrevementeestarãodisponíveis.Estão igualmente emcursonegocia-ções com aAdministração do PortodeLisboaparaadinamizaçãodoEs-paçoÁgoraecomoutrasinstituiçõescomo a CGD, o Instituto Portuguêsda Juventude e aCâmaraMunicipalde Lisboa. Luís Castro entende queénecessárioaAALrealizarmaisac-tividades, que permitam uma maiorvisibilidadedosparceirosedaprópriaassociação. Como exemplo apontouo novo site daAssociaçãoAcadémi-cadeLisboa,queconstituiumespa-ço de divulgação das actividades daacademia,eummeioprivilegiadodecomunicaçãocomasassociaçõesdeestudantes e com toda a populaçãoacadémicadeLisboa.

AAssociaçãoAcadémicadeLisboaquer,igualmente,desempenharumpa-pelmaisactivonadiscussãodapolíticaeducativa, emitindo opiniões sobre osregulamentoseasleisqueforemsendocriadas.LuísCastro,afirmouqueestadirecçãovaicombateraapatiaqueseinstalou no passado, apostando numfuturorisonhoquevolteafazerdaAALumareferêncianacional.

FotodeSofiaGuerra

FotodeSofiaGuerra

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Parar para Pensar

7Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Ronda das Escolas

OpresidentedoInstitutoPolitécnicodeLisboaeoministrodaCiência,Tecnologiae Ensino Superior, Professores Doutores Vicente Ferreira e Mariano Gago,presidiram à cerimónia de inauguração do novo edifício daEscola Superior deMúsicadeLisboa,noCampusdeBenfica.Acerimónia fezparte integrantedascomemoraçõesdo24.ºaniversáriodoIPL.

Texto de Paulo Silveiro l Reportagem fotográfica de Sofia Guerra

24.ºAniversáriodoPolitécnicodeLisboa

InauguradonovoedifíciodaEscoladeMúsica

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Ronda das Escolas

Politecnia Maio n.º 24 / 20108

Ronda das Escolas

VicenteFerreiraeMarianoGago

OministrofoirecebidoàentradapelosdirigentesdoIPLepeloArq.CarrilhodaGraça

ActuaçãodaOrquestraSinfónicadaEscolaSuperiordeMúsicanoGrandeAuditório

A CONSTRUÇÃO do emblemático edifí-cio,projectadopeloarquitectoCarrilhodaGraça,éamaterializaçãodeumsonhodopresidentedoIPLedesucessivosdirigen-tesdaEscolaSuperiordeMúsica,algunsdos quais estiveram presentes, podendotestemunharcomaemoçãoestampadanorosto,ainauguraçãodaobra.

AcomitivateveaoportunidadederealizarumavisitaàsinstalaçõesdaEscolaSuperiorde Música de Lisboa, acompanhada pelasexplicaçõesdeCarrilhodaGraça sobreasespecificidades do edifício para o ensinoartístico.Enumdiaondeotemafoiamúsi-ca,osalunosabrilhantaramafestacomumprograma completíssimo, onde orquestrase agrupamentos puderam demonstrar aosconvidadosgrandetalentoartístico.

OGrandeAuditóriofoiopalcoondede-correuasessãosolene,tendoosdiscursosproferidos pelo ministro e pelo Presidentedo IPL demonstrado o contentamento deambos, pela obra que inauguraram e pelaforçaqueoEnsinoSuperiorPolitécnicoactu-almenteapresenta.MarianoGago,agradadocomavisita,relembrouohistorialdaEscolaSuperiordeMúsicadeLisboa,“agrandeher-deiradatradiçãodoConservatórioNacional”.

A lição de sapiência esteve a cargodoprofessorJorgeMoyano,pianistaedo-centedaEscola,queconjugoucomgran-demaestria as palavras com os sons dopiano,proporcionandoumespectáculodegrandebelezaequalidade.

Duranteacerimóniaforamaindaempos-sados os pró-presidentes do Instituto Poli-técnicodeLisboa,AntónioBelo,paraaáreadacomunicação,ManuelCorreiaparaadasaúde,ePauloMorais-Alexandre,paraadasartes. Realizou-se igualmente a tradicionalhomenagem aos funcionários que se apo-sentaramduranteoanode2009,tendore-cebidoamedalhadepratadeeméritopelasfunçõesquedesempenharamnoInstituto.

O bailarino Pedro Ramos, antigo alunodaEscolaSuperiordeDança,evencedordoPrémiodeMelhorBailarinoContemporâneono Portugal DanceAwards, e o realizadorJoãoSalaviza,antigoalunodaEscolaSupe-riordeTeatroeCinema,vencedordograndeprémio de Cannes para Curtas-Metragens,foramosalunoshomenageados,pelaquali-dadedosseustrabalhos.Acerimóniaencer-roucomaactuaçãodaOrquestradeJazzdaEscolaSuperiordeMúsicadeLisboa.

Opresidente

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Politecnia Maio n.º 24 / 2010 9

Ronda das Escolas

inauguramEscolaSuperiordeMúsica

ActuaçãodaOrquestraSinfónicadaEscolaSuperiordeMúsicanoGrandeAuditório

doIPLeoministronoprimeiromomentomusical AsexplicaçõesdoArquitectoCarrilhodaGraçanavisitaaonovoedifício

ProfessorJorgeMoyanohomenageadopelopresidentedoIPLsoboolharatentodoministro

FotodeGab.C

om.E

SCS

FotodeGab.C

om.E

SCS

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10 Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Ronda das Escolas

IPLnopódioSeatVodafoneTIAGOCosta eMiguel Faísca fo-ramoscampeõesdoInstitutoPoli-técnicodeLisboanoDesafioSeatbyVodafone, tendoalcançadoumextraordinário 3.º lugar na fase fi-nal doevento, quedecorreua 17deAbril,noautódromodoEstoril.

AequipaquerepresentouoIns-titutoPolitécnicodeLisboa,consti-tuídapelosalunosquefrequentamo curso de engenharia mecânicano ISEL, tiveram uma prestaçãobrilhante,tendoMiguelFaíscafeitoobrilharetedeterrealizadoome-lhortemponotreinocronometrado,o que lhe permitiu largar da poleposition.Acorrida foimuitodispu-tadaentreaequipadoIPL,easdaUniversidadedoMinhoedoInstitu-toPolitécnicodoPortoque,comodecorrer da prova, conseguiu dis-tanciar-sedosoutrosconcorrentesealcançaro1.ºlugar.TiagoCosta,queconduziaocarronofimdapro-va, travou uma luta renhida paraasseguraro3.ºlugaratrásdocarroda Universidade no Minho, numaalturaemqueváriosconcorrentesdisputavamaquelelugar.

ParaosalunosdoIPL,quetive-ramdeultrapassarasquatrofasesdodesafio,estafoiumaexperiên-ciaúnica,tendoambosrealçadooespíritodeconvívioquereinouen-tretodososconcorrentes.

OPRESIDENTEdoInstitutoPolitécnicodeLisboa,VicenteFerreira,empossouaprofessoraCristinaLoureirocomoPresi-dentedaEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboaeasprofessorasTeresaVas-conceloseMarianaDiascomopresiden-tesdoConselhoTécnico-CientíficoedoConselhoPedagógico,respectivamente.

Anteriormente, já tinha sido em-possado no cargo de Presidente doConselho de Representantes o pro-fessorJoãoRosa.

Acerimóniarealizou-sea7deMaio,nosServiçosdaPresidênciadoIPL.

CristinaLoureirodirigeEducação

O GRANDE crítico do teatro, CarlosPortoescreveupoesia,traduziudrama-turgos,efoieleprópriodramaturgo.Umdos mais conhecidos textos que nosdeixoufoianarrativa“FábricaSensível”,cujo documento original foi projectadonaEscolaSuperiordeTeatroeCinema,servindodefundoaumaleituraencena-dadosalunosdo2.ºanodalicenciaturaemTeatro.Ainiciativadecorreunoâmbi-todahomenagemprestadapelaescolaepeloInstitutoPolitécnicodeLisboa,co-moformadeagradecimentodadoaçãodepartedoseuespólio,feitapelaviúvadocríticoteatral,TeresaPorto.

CarlosPorto:apaixãopeloteatro

Aescolarecebeupertodecincomillivros e revistas, tendo feito todos osesforçospara “acolher o espólio comtodaadignidade”,naspalavrasdeFili-peOliveira,presidentedaESTC.

Nahomenagem forammuitososquequiserammarcarpresençaparaouvirostestemunhosdequemconvi-veudepertocomCarlosPorto.Ace-rimóniapôdecontarcomopresiden-tedoInstitutoPolitécnicodeLisboa,VicenteFerreira,quefezquestãodeentregar a Teresa Porto a medalhadepratadainstituição,comosinaldereconhecimento.

FotodeSofiaGuerra

FotodeSofiaGuerra

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11Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Ronda das Escolas

NASEQUÊNCIA do estágio das tur-masdo2.ºanodocursodeAnimaçãoSociocultural da Escola Superior deEducaçãodeLisboarealizaram-seali,em24e26deMarço,doisespectácu-losdeTeatro.

Nodia24deMarçoapresentou-senoAnfiteatrodaESELx,ogrupodeTeatro Fórum do Vale da Amorei-ra daMoita com o espectáculo “X-perar”.Otexto,criaçãocolectivadogrupo, que surgiu de factos reais,abordava o tema da sexualidadenajuventude:cuidadosaternousodopreservativoouqualomomentomais adequado para ter a primeirarelaçãosexual.Osactoresmuitojo-venstêmentre11e20anos.

Este espectáculo, na linha doTeatroFórum,queéumadasformasdoTeatrodoOprimido,foicriadope-lo dramaturgo, encenador e escritorAugustoBoaletemaparticularidadede incitaropúblicoadarasuaopi-nião,sobreoquesepassaempalco.O curinga (instigador do debate nofinaldapeça)discutecomopúblicoocomportamentodaspersonagenseoquepassouempalco.Quandoal-guémnão concorda como compor-tamentodeumapersonagemécon-vidadoa iràcena,substituiroactoremquestãoe,assimtentarencontraruma solução para o conflito. Nesteespectáculo houve um debate vivoque se prolongou quase por duashorase,levoualgunsalunosquees-tavamnaplateiaairaopalcoesubs-tituirosactores.

No dia 26 do mesmo mês apre-sentou-senoSalãoNobreogrupodeTeatroReflexodeSintracomapeçapara crianças “Scherazade a conta-doradehistórias”.Opúblicoeracom-posto por 200 crianças doBairro daBoavista que vieram de propósito ànossaEscolaparaassistiraoespec-táculo.Oespectáculofoiumêxitoeareacçãodascriançasfoidesurpresa,alegria e de contentamento, pois to-dasouquasetodasnuncatinhamtidooprazerdeverTeatro.

O trabalho dos professores AnaSimões, Joana Campos e JoãoMe-nauedasestagiáriasReginaDuartee

TeatronaEscolaSuperiordeEducação

ElizabetePassos,comacomunidadenãovaificarporaqui.

Nodia29deAbrilàs19h30 tivé-mos o prazer de receber no nossoAnfiteatro o grupo de Teatro Refu-giActo,doCentrodeAcolhimentopa-raosRefugiados(CPR),comapeça“Abrigo”, comencenaçãodeDavoudGhorbanzadeh e com a colaboraçãoda estagiária Teresa Silva. A parti-cularidade deste grupo é ter na suamaioria actores estrangeiros e dasmaisdiversasnacionalidades.Ogru-

podeTeatroexistedesde2004e,aideia deo formar emergiu dasaulasda Drª Isabel Galvão, professora doensino-aprendizagem da língua por-tuguesanoCPR.No final doespec-táculohaveráumdebatesobreoqueéserumRefugiadoeseusproblemasdeintegraçãonasociedadeportugue-sa,orientadopelapresidentedoCPRDr.ªTeresaTitodeMorais.

Para além destas iniciativas, ou-trosalunosdaAnimaçãoSocioculturaltêm igualmenteemcursoaprepara-çãodavindadeoutrasactividadesar-tísticas,anunciandoumalinhaquesedesejadecontinuidade.

É com estas e outras iniciativasculturais que poderemos abrir novoshorizontes aos futuros Animadores,professores do Ensino Básico, pro-fessorese funcionáriosdestaEscola,assimcomodarmosaestascriançaso prazer de ver Teatro, a fruição doobjectoartísticoemostrar-lhesnovoscaminhos de conhecimento e enten-dimento; para que os seus mundosseabrame,nãosejamtolhidospelosexemplosdaviolênciaedeabandonodoseuBairro.

Um agradecimento especial àJunta de Freguesia de Benfica quenoscedeuos5autocarrosquetrou-xeramascriançasdoBairrodaBoa-vistaatéànossaEscola.

JoãoMenau

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Dossiê

AOBESIDADEnainfânciaeadoles-cênciaestáatornar-seumautênti-co flagelo, não apenas nos paísesdesenvolvidosmastambémnospa-íses em vias de desenvolvimento.Nos Estados Unidos da América,62%dapopulaçãotemobesidadeeestima-seque,nospróximosanos,

OMSpreocupadacomascrianças

AobesidadeéumgraveproblemadesaúdepúblicaemPortugal

AspreocupaçõescomaobesidaderemontamaotempodeHipócrates.Estediziaqueoshomensobesosmorriammaiscedoqueoshomensnãoobesos.Aobesidade,emtemposconsideradacomoumproblemaestético,maisdoquemédico,éhoje,oficialmentereconhecidacomoumproblemapreocupantedeSaúdePública.

Texto de Joana Sousa ( professora da EsteSL)

a taxa suba para os 75%. Já emPortugalmaisde50%dapopulaçãopadece deste grave problema deSaúdePública.

AOrganizaçãoMundialdaSaúdeconsidera a obesidade comoo novosíndrome mundial, caracterizando-ocomoapandemiadoséculoXXI.

Aobesidade representaumadaspatologiasmaisdifíceisdetratar,sen-doapontadacomoodistúrbionutricio-nalmaisfrequenteemcriançaseado-lescentes nos países desenvolvidos.Asevidênciassugeremqueoproble-maestáaagravar-serapidamente.Oaumentodaprevalênciadeobesidade

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13Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Dossiê

infantilpodefazercomqueapróximageração apresente indicadores deobesidade no adulto superiores aosindicadores actuais. Pelo facto de aobesidadeestarintimamenteassocia-daadiferentespatologiascrónicasfazcomqueestejamosperanteumenor-medesafioparaosistemadecuida-dosdesaúde.

A classificação de obesidade emcrianças e adolescentes não é fácil,pelofactodeaalturaeacomposiçãocorporalestarememconstantealtera-çãoetaisalteraçõespoderemocorreremdiferentesmomentosdavidaetra-duzirem-seemdiferentestaxasentrepopulações diferentes. Nas criançaseadolescentes, é consensual autili-zação dos percentis de IMC obtidosestatisticamente através de uma po-pulaçãodereferência.

Foi desenvolvido um estudo emPortugalquetevecomoobjectivode-terminar a prevalência de obesidadeinfanto-juvenilemPortugal,dadoqueatéàdataeradesconhecido.Fizeramparte do estudo 5708 adolescentesdistribuídosdenorteasuldopaís.

Concluiu-sequeemPortugalexis-tem30,4%deadolescentesentreos10eos18anoscomexcessodepeso(Figura1).

Constatou-se que, quer na pre-valência de pré-obesidade, quer deobesidadeosindicadoreseramsupe-rioresnosrapazes.Asraparigasapre-sentam excesso de peso em 29,3%doscasoseosrapazesem31,7%doscasos(Figura2).

Quando avaliada a distribuiçãoda prevalência de pré-obesidade eobesidade tendo em conta a idadeconstatou-sequedeumaformageralàmedidaqueaidadeaumenta,apre-valênciadepré-obesidadeouobesida-dediminui,oquepodereflectirqueosadolescentesestãoatornar-seobesoscadavezmaiscedo(Figura3).

Comosepodeconstatarestamosperanteumgraveproblemanacionalde Saúde Pública, não esquecendoqueestesadolescentessãoosadul-tos de amanhã com todas as impli-caçõesdemorbilidadeemortalidadeassociadas,peloquese tornaemer-genteumaintervençãoefectiva.

O tratamento recomendado paraque crianças e adolescentes com ex-

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14 Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Dossiê

OAUDITÓRIOdaescola foi opal-co do evento, organizado pelaProf. Doutora Luísa Veiga e peloProf. Doutor Miguel Brito, do De-partamento de Ciências Naturaise Exactas da Escola Superior deTecnologiadaSaúde.Osdocentesabordaram vários factores destegrave problema de saúde, que em2025atingirácercade50%dapo-pulaçãomundial.

A luta contra a obesidade exi-ge uma intervenção multidiscipli-nar, onde profissionais de saúdecomo médicos, bioquímicos, ge-neticistas,nutricionistas,dietistas,psicólogosetécnicosdeexercíciofísicoterãoumpapelimportanteadesempenhar.

Peranteumaplateiacommaisde 150 participantes inscritos, osoradores convidados onde se in-cluíam a Prof. Doutora Isabel doCarmo, Endocrinologista do Hos-pital de Santa Maria; Dr. JoséSilva-Nunes, Endocrinologista doHospitalCurryCabral;MariaJoãoFagundes, Psicóloga do Hospitalde Santa Maria; José Camolas,NutricionistadoHospitaldeSantaMaria (que integramaPlataformaContra aObesidade daDirecção-GeraldaSaúde);eoDr.ElvisCar-nero,daUniversidadedaCorunha,

TecnologiadaSaúdeentranaluta

GraçaAndrade,docentedaESTeSL,foiumadasoradoras

cesso de peso consigam atingir umpeso mais saudável utiliza quatro es-tratégias comportamentais primárias:reduçãodoaporteenergético,aumentodogastoenergético (aumentodaprá-tica de actividade física e diminuiçãodapráticadeactividadessedentárias),participaçãoactivadospaiseeducado-resnoprocessodemudançaeajudadoambientefamiliardesuporte.

Aprevençãodoexcessodepesoécríticaparaumtratamentocomsu-cessodevidoaos resultadosa longoprazo.Factoresgenéticos,ambientaisouacombinaçãodefactoresderiscoquepredispõemacriançaouadoles-centeparaaobesidadepodemede-vemseridentificados.

apresentaram estratégias alimenta-res para a perda ou amanutençãode peso corporal, assim como osaspectospsicológicosqueajudamaestaintervenção.

OcontributodaESTeSLesteveacargodasProfessorasGraçaAndra-deeJoanaSousa,quesepronuncia-ram sobre a abordagem cognitivo-

comportamental na intervençãopsicológica na obesidade e sobreaintervençãodietéticaemcriançasobesas,respectivamente.

Estas jornadas constituíramummomentomuitoimportante,naabor-dagemdaobesidade,enquantopa-tologiamultifactorial.

JorgeSilva

FotodeSofiaGuerra

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15Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Dossiê

ALERTAR os portugueses para aimportância de uma alimentaçãosaudáveleequilibradaéoobjectivodos folhetos do programa “Alimen-taçãoSaudável”queestáaserdis-tribuído aos clientes e funcionáriosdas lojasAuchan. Dicas sobre ali-mentos,receitasfáceisdecozinhareeconómicassãoalgumasdas in-formaçõesúteisquealiestão.

Abóbora, batata, alho francês,cebola,azeite,saleáguasãoosin-gredientesessenciaisparacozinhar,porexemplo,umasopadeabóbora,fácil de confeccionar e acessível atodososbolsos.Seadicionarmosàreceitasementesdelinhaçaestamosapreveniroaparecimentodedoen-ças cardiovasculares, o ingrediente“aumenta o teor de ácidos gordospolinsaturados (ómega3)”.Adicaédodietistaeconstanofolheto“Sopatodososdias”,doprograma“Alimen-taçãoSaudável”,com150milexem-plares distribuídos em 22 lojas dogrupoAuchanportodoopaís.Coma participação da Escola SuperiordeTecnologiadaSaúdedeLisboaoprojecto,daautoriadoAuchan,–quepretende sensibilizar e informar so-breasmelhoresopçõesalimentares–englobanãosóadisponibilizaçãode folhetos em todas as lojas mastambémaformaçãoespecíficaparaclientese funcionários.Oprogramaé candidato aoNutritionAwards de2010, umconcurso quedistingueepremeiainiciativaspioneirasnaáreadaNutriçãoemPortugal.Osclientes

As famílias devem ser educadasantecipadamenteparareconheceroim-pactoquetêmnoshábitosalimentaresedeactividadefísicanavidadascrian-çaseadolescentes.Práticasalimenta-res que incentivem a moderação emvezdoconsumoexcessivodevemserpromovidas, enfatizando escolhas ali-mentaressaudáveisemvezdepadrõesalimentaresrestritivos.Actividadefísicaregular deve ser promovida de formaprioritárianoambientefamiliar,escolarecomunitário.Ocaminhoidealparaa

prevenção é o de aliar a intervençãodietéticacomaactividadefísica.

As crianças e adolescentes de-vem ser ajudados precocemente adesenvolverhábitosalimentaresedeactividadefísica,porqueasinterven-çõestornam-semaisefectivasquan-do os hábitos comportamentais seestãoaformar.

Com a obtenção destes resulta-dos, considera-sedeextrema impor-tânciaumarápidaactuaçãodeSaúdePública, em que o Governo deverá

assumir umpapel relevante ao níveldo desenvolvimento de estratégiaspreventivas que permitam reduzir osindicadoresencontrados.Taisestraté-giasdevemincidirsobreumcontrolodos hábitos alimentares e consumoenergético total e aomesmo tempo,proporcionar um aumento da práticade actividade física por parte destapopulação com uma reestruturaçãodoprogramaescolarecomacriaçãodeinfra-estruturasquefacilitemaprá-ticadecomportamentossaudáveis.

Aprenderregrasdebemcomer

aderiramde imediatoàcampanhadesensibilização,provadissofoioregistodevendasdesementesdelinhaçaqueaumentou consideravelmente, segun-doPauloMonteiro,directordenutriçãosaúdeebem-estardoAuchan.

A ideia do programa vai maisalém do que informar tenciona-sesensibilizar e educar para os méri-tosebenefíciosdeumaalimentaçãosaudávelatravésdesugestõesquepermitam alterar hábitos e estilosde vida dos consumidores.A recei-

tadasopadeabóboraéexemplodisso “Paraalémdeserumpratotradicional portuguêsmuito rico eequilibrado, sob o ponto de vistanutricional, torna-se numa exce-lente opção nos tempos de criseem que vivemos”, quem o diz éo professor Lino Mendes, res-ponsável pela área científica docurso de Dietética e Nutrição daESTeSL, que se congratula pelaparticipaçãodaescolanoprojecto. VanessadeSousaGlória

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16 Politecnia n.º 24 Maio / 2010

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Através de combinações “práti-cas,económicasesaborosas”pretende-sequeosdestinatá-

riosdoprojecto"AlimentaçãoSaudá-vel",umainiciativadoGrupoAuchancomaEscolaSuperiordeTecnologiadaSaúde,possammelhoraroshábi-tos alimentares aproveitando a dietamediterrânea praticada em Portugal,caracterizada pela variedade dosseuscomponentes,explicaLinoMen-des, responsável pelo grupo de tra-balhodaESTeSL.Comamissãodedesenvolverconteúdosdebasecien-tífica para o programa, LinoMendesfazquestãodeexplicarqueaparceriafoidesenvolvidacomumúnicopropó-sitoodepromoverecontribuirparaaeducaçãoalimentar.Oprotocoloentreas duas instituições foi assinado noanopassado,emborajáexistisseumacolaboraçãoanterior,atravésdaqualosfinalistasdalicenciaturadeFarmá-cia realizaram estágios nas Parafar-máciasdoAuchan.

Desde o primeiro momento emque foicriadaqueaEscolaSuperiorde Tecnologia da Saúde de Lisboatem adoptado e fomentado comoestratégia o apoio e a intervençãocomunitária.Pordiversasocasiõesalicenciatura em Dietética e Nutriçãotem desenvolvido, através de proto-colos,acçõesemcâmarasmunicipaise escolas. A atitude foi reconhecidae elogiada peloAuchan: “O carácterprático e a ligação à sociedade docursoforamfactoresimportantesquepesaram na escolha da escola paraser parceira neste projecto” explicaJoséCordeiro,responsávelpelaáreadeprodutodogrupo.

“SOPAtodososdias”éoprimeirodeumasériedequatrofolhetoscolec-cionáveisque,atéfinaldoano,vãoes-tardisponíveis.“SALADASaofresco”,“FRUTAdoceesaudável”e“MASSAScomtudo”sãoospróximostemasase-rem retratadosnacampanhadesen-sibilizaçãoqueteveinícionoanopas-sadoeterminaem2011.Nestaúltimafasedoprograma–quetambémincluiaparticipaçãodaESTeSL–prevê-searealizaçãodeumaabordagemnutricio-

Vivaadietamediterrânica

nalporgruposefaixasetárias.Sónaprimeirafasedacampanha,em2009,quando se abordou os temas: Fibra,Gordura,AçúcareSal,équeaescolanãoparticipounoprojecto.

Os folhetos informativos incluemumapartededicadaaocálculonutri-cional;umapropostade receitasau-dáveleadicadodietistaquepodeserumaperguntaousugestãodealimen-tosounutrientes.NaelaboraçãodosconteúdosogrupodetrabalhodaES-TeSL, constituído pelos professoresLinoMendes,JoanaSousaeMarisaCebola,preocupou-seemutilizarumalinguagem descodificada e acessívelaosclientesefuncionáriosque,desdelogo,àentradadaslojas,têmfolhetosdisponíveisemportareceitas.

A campanha incluiu ainda umstand, utilizado para momentos deteatralização,ondedecorremacçõesdedegustação,ou,porexemplo,on-

de os clientes podem saborear umpequeno-almoço saudável. Existemainda, em vários pontos das lojas,elementos de sinalética relativos àAlimentação Saudável e aos temastratados durante este ano que indi-cam,porexemplo,alocalizaçãodasfrutas, legumes, os alimentos commaisfibras,oumenossal.

Uma das particularidades dacampanha “Alimentação Saudável”é de não ter marcas associadas aoprojecto.OgrupoAuchanesteveuni-camente preocupado em transmitirinformação credível, com conteúdoselaboradosporumaentidadedereco-nhecidomérito,nãopretendendoqueoconsumidordemonstrassequalquersinal de desconfiança, explica JoséCordeiro,quedizcomorgulho,“oAu-chanéaúnicaempresadosectorcer-tificadaemResponsabilidadeSocial”.

V.S.G.

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Dossiê

ENQUANTOdirectordeNutrição,Saú-de e Bem-estar, Paulo Monteiro ex-pressavontadeemdesenvolverarela-çãoentreoInstitutoPolitécnicoLisboae oAuchan, o que em seu entenderapenasdependerá“dacriatividadedeambas as partes”. No mundo actualemquearealidadesealteraaumave-locidadequeaescolatemdificuldadeemacompanhareadistânciaexistente

Parceriacomempresaséumcaminhoaseguir

PauloMonteiro,directordeNutriçãoSaúdeeBem-estardoGrupoAuchan,felicitao

presidentedoInstitutoPolitécnicodeLisboapelaestratégiaadoptadanaapostanarelaçãocomomundoempresarial.AassinaturadoprotocolodoIPLcomacadeiadehipermercados,naáreadaalimentaçãosaudável,

éexemplodisso.

V. S. G.

entreoníveldeambiçãoeaescassezde recursos é cada vezmaior, a so-lução passa pelo estabelecimento deparcerias,acreditaPauloMonteiroqueafirma “este é um caminho de futuroquetemdeserpercorrido”.Asempre-sas têmdeabrirasportasàs institui-çõesdeensinosuperiorevice-versa.Desta forma os alunos para além dacomponenteteóricadocursoganham

uma vertente prática preparando-osmelhorparaoquevãoencontrarquan-doterminamalicenciatura.“Aimersãono mundo profissional, por vezes éum choque e muitos alunos sentem-se impreparados”,dizPauloMonteiroquedefende“Asparceriasaproximamosconteúdosacadémicoscomavidareal,diminuindooníveldeansiedadeeatédefrustraçãodosalunos".

PauloMonteirodefendeaaproximaçãodasinstituiçõesdeensinoàsempresas

FinalistaestagianoAuchanVERA Ricardo frequenta o último anoda licenciaturaemDietéticaeNutriçãona Escola Superior de Tecnologia eSaúdedeLisboaeiniciou,emMarçode2010,umestágionaáreadaalimenta-çãosaudávelnogrupoAuchan.Aalunaé a primeira do curso a usufruir destaoportunidade resultante do protocoloestabelecidoentreasduas instituições.Afinalista trocouohabitualestágioemcontextoclínicopelaexperiêncianogru-poAuchanporqueacreditaque iráde-senvolvercompetênciasnumaáreaqueconsiderainovadora.

Apesardenãoconhecerbemoscantosàcasa,VeraRicardonãoseacanha em dizer que são várias asideiasquegostavadepôrempráticanasuapassagempelogrupoAuchan.Noplanoindividualdeestágioaalunapara alémde desempenhar o papeldeelodeligaçãoentreaESTeSLeoAuchannoProgramadeAlimentaçãoSaudável,pretendefazeraconselha-mentonutricionalaosclientesdaslo-jasSaúdeeBem-estar,esensibilizá-losparaaimportânciadaleituradosrótulosdosprodutos.

FotodeSofiaGuerra

FotodeSofiaGuerra

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18 Politecnia n.º 24 Maio / 2010

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ATRAVÉS de desenhos coloridos ejogosdidácticosacorujaRikeoleãoRok, os “embaixadores” da acçãoeducativadogrupoAuchan,mostramneste livro às crianças, de forma di-vertidae,em jeitodebrincadeira,asvantagens em praticarem uma ali-mentaçãosaudável.AiniciativapartiudoClubeRik&Rok e tema partici-paçãoespecialdaEscolaSuperiordeTecnologia da Saúde de Lisboa queficouresponsávelpelosconteúdosdapublicação.ElaboradosporumgrupodeprofessoresdocursodeDietéticaeNutriçãodaESTeSLostemascomoarodadosalimentosouaimportânciadaáguaparaonossoorganismosãoexplicados, através de uma lingua-gemsimpleseacessível,àscriançasdosseisaosonzeanos.

“Peranteoproblemadaobesidadeinfantilexistentenosdiasdehojenãopodemosficar indiferentes”dizPaulaAmêndoa,responsávelpeloprojecto,queexplicaainda“quandoascriançasentramparao5.ºanodeescolarida-deospaisperdemocontrolosobreasuaalimentação,porissoéessencial

TecnologiadaSaúdeeducaRik&Rok

educá-losdesdepequeninosparaquesaibamcomercorrectamentequandochegamaestaidade”.

Olivro,distribuídoemmaisde58bibliotecas das escolas básicas portodoopaís,pretendeservirnãosópa-raleituramastambémquesirvacomoferramentadetrabalhonasaulasparaosprofessores.

MasacolaboraçãodaESTeSLcomoClubeRik&Roknãoseficaporestainiciativa.PaulaAmêndoajápediuàes-

colaaelaboraçãodedicasesugestõessobreaalimentaçãosaudáveldestina-dasaositeeànewsletterqueoclubedisponibilizaparaoseupúblicoinfantil.

JácomumadécadadeexistênciaoClubeRik&Rok,dogrupoAuchan,tem,desdesempre,desenvolvidoac-çõeseducativas,cumprindoumobjec-tivodidácticojuntodosmaispequenos,retratandoquestõesrelevantescomoareciclagem,o respeito pelomeioam-biente,entreoutrostemas.

NASOCIEDADEportuguesaactual,onde os problemas de saúde de-rivados dos erros alimentares sãopreocupantes, o dietista assumeumpapelde“extremaimportância”,adverte o professor Lino Mendes,responsáveldoCursodeDietéticaeNutriçãodaEscolaSuperiordeTec-nologiadaSaúdedeLisboa.

Aprocuradocursotemaumenta-donosúltimostempos,sendoosalu-nosmaioritariamentedosexofemini-noealtamentepreocupadoscomasaúdeeobem-estardoscidadãos.

No contexto europeu, o dietistaactua, na prática, em três grandesáreas de especialização: clínica;comunitária ou de saúde pública egeneralista.Odietistaclínicotemaseu cargo a educação e avaliaçãode planos nutricionais destinados

Odietistaenquantoanjosocialparaoutente/doentenarecuperaçãodasaúdenutricionalefuncional.Jáodietista comunitáriooude saúdepú-blicaéoresponsávelpelapromoçãoeeducaçãoparaasaúde,ésuamissão“fazercomqueaspessoasaprendama comer melhor e transmitam essainformaçãoparaascrianças”,explicaLino Mendes. O dietista generalistaactua no âmbito da restauração co-lectivaepública.Aelecompete-lheoacompanhamentodaplanificaçãodasementasproporcionandoumaalimen-tação ajustada. Para Lino Mendescomeça a haver uma preocupaçãocrescente nesta área: “As empresasdemonstram uma atitude de respon-sabilidadesocial,preocupando-seemter funcionários felizes com um bomestado de saúde, que não tenhamobesidade,nemdiabetes.” LinoMendes

FotodeSofiaGuerra

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19Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Empreendorismo

Vemaío8.ºConcursoPoliempreende

A IDEIA é apoiar a transferência detecnologia que resulte de processosde inovação, cooperando com o te-cido empresarial em prol do desen-volvimento socioeconómico regionale nacional.A Plataforma FINICIA doIAPMEI,aqueoIPLestáassociado,pode dar umaboa contribuição paramaterializar estes objectivos com ofinanciamento dos projectos e a suaapresentaçãoaosBusinessAngelseàsCapitaisdeRisco.

EstamosemMaiodepoisdeumanodemuito trabalho,aproxima-seofinaldoanolectivoeofinaldo7.ºConcurso regionalde IdeiasdoPo-liempreende. É altura de efectuar-mosumbalanço.Começamosmuitobem, com uma grande adesão decandidatos, foram quase duas cen-tenas,odobrodoanoanterior.

ComaformaçãoinicialdaoficinaE1 e a percepção de que ser em-preendedorpoderiasermaisdoqueumameraaprendizagemdeconteú-dos, levou a quemuitos dos candi-datos desistissem tendo a segundaformação da oficina E2 terminadocom um sexto dos candidatos. Noentanto este grupo final contribuiupara o concurso com 11 projectosoriundosdequase todasasescolasdoInstitutoPolitécnicodeLisboa,de-vido em grande parte ao empenha-mento e disponibilidade mostradaspelos formadores e representantesdas Escolas que têm sido incansá-veisnamobilizaçãodospromotores.

PolitécnicodeLisboaapostanofomentodoauto-emprego

OInstitutoPolitécnicodeLisboapodeviradarnopróximoano,comaorganizaçãodo8.ºConcursoPoliempreende,umsaltoqualitativo,contribuindoparaqueemcadaEscoladoIPLenosServiçosdaPresidênciasepossamdarcondiçõesparaacriaçãodeunidadesdenegócio,fomentandooauto-emprego.

Texto de Francisco Costa Pereira

Temosprojectosmuitointeressantescoma particularidade de numaper-centagemsignificativaospromotoresquererem ir para além do concursoeconstituirasuaempresa.Estamosnobomcaminho,podemosdizerqueesteanosuperouemmuitoosresul-tados do ano passado, mas aindatemos um caminho longo a percor-rer.Comopotencialquetemos,doscerca de 14000 alunos do InstitutoPolitécnicodeLisboa,existeapossi-bilidadedenospróximosanospoder-mos superar sempre os resultadosdos anos anteriores. Para o efeitoé preciso que o empreendedorismoseja assumido por todos comouma

prioridade como está bem explicitonoContratodeConfiançaqueo IPLassinoucomoMinistériodaCiênciae EnsinoSuperior e já ratificado noConselhoGeral.

Podemosdizerqueoprojectodoano passado que ganhou o concur-so regional já está numa fase mui-to avançada para a constituição daempresa comos apoios dados pelaPlataforma FINICIA. Temos aindaquatro projectos do ano passado aser trabalhados na Plataforma paraserem apoiados. Esperamos esteanoapoiaraindamaisprojectosparaqueosseuspromotorespossamcriarassuasunidadesdenegócio.

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Ronda das Escolas

Politecnia Maio n.º 24 / 201020

Histórias de Sucesso

OSEUgostopelamúsicavemdepeque-na,masaidadenemsemprepermitiuquepudessecantarcomogostaria.Foipartici-pandoempequenosconcursos,naMadei-ra,atéqueem1997acabouporvenceroprimeiro.Foioinicioedesdeentãonuncamaisparou.

Afrequentaro1.ºanodocursodejazzdaEscolaSuperiordeMúsicadeLisboa,Vânia Fernandes vem de uma famíliahumilde,mas que sempre a apoiou nassuasdecisões.Com frequênciaouvia amãecantarofadoenquantofaziaostra-balhosdecostura.Aavómaternatocavaguitarraportuguesaeaavópaternatocagaita. Desde a infância que o contactocomamúsicafoiacontecendo.

Naaltura,ospaisnuncaimaginaramopercurso que viria a ter nomeiomusical.Temconsciênciaquetendonascidonumailha,asoportunidadessãomuitomenores.Reconhecida pela sua humildade consi-deratertidomuitasorteporqueconheceusempreaspessoascertas.

NaMadeira, o Conservatório é quasequedelivreacesso,dadaadensidadepo-pulacional, as vagas sãomais do que asnecessáriasparaoscandidatosexistentes.No caso de Vânia, as dificuldades foramoutras. Quando tentou o ingresso não ti-nhaaidadeexigidaparaestudarCanto.Asregrasditamquesóserãoaceitesalunos

NascidanaIlhadaMadeira,foiláquedeuosprimeirospassosnamúsica.AvitórianoconcursodaOperaçãoTriunfomostrou-a,em2008aPortugalContinental.Entrecáelá,VâniaFernandes

divideotempopelocursodejazzdaEscolaSuperiorde

MúsicadeLisboaeosmuitosprojectosmusicaisaquese

dedica.

Textos de Clara Santos Silva

Cantorada

VâniaFernandes:

apósos17,ou18anos,alturaemqueamudançadevozjásedeu.Quandocome-çouacantar,Vâniatinhacercade12anos.

Esperou o tempo necessário, massempressas,porquejásabiacomtodaacertezaqueamúsicaeraoseucaminho.Na altura estudava línguas, mas com acertezadeserapenasdepassagem.

O Conservatório da Madeira inte-grava duas escolas, uma profissional e

a outra de ensino livre. Vânia estudoudurante alguns anos no curso normal,mas acabou por ingressar na vertenteprofissional.AparceriaexistenteentreainstituiçãodeensinoeoHotClubePor-tugal,permitiu-lhefrequentarocursodeJazzaossábados.Assim,durantease-manatentavaserumacantoraclássicaeaofim-de-semanaentravanomundodojazzeconheciaomaestroPedroMorei-

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Politecnia Maio n.º 24 / 2010 21

Histórias de Sucesso

“OperaçãoTriunfo”

umaflordaMadeira

ra,agoraseuprofessornaEscolaSupe-riordeMúsicadeLisboa.

As circunstâncias levaram-na a umaprimeiraabordagemaogénerojazzístico,nogrupomadeirense,“OsOficina”,naal-tura,semvocalista.Aceitouficarnogrupoeatravésdelesfoiconhecendomaispes-soasdomeio.

AformaçãonoConservatórioeraconci-liadacomosespectáculosdasunidadesho-teleirasdailhadaMadeira,queaperformerdizseremumaverdadeiraescola.Foiumaexperiênciaqueafezperceberquenãopo-deriacantarapenasparasiprópria,massimparaumpúblico.Entendeuqueoartistatemsemprequeiraoencontrodoseupúblicoedaquiloqueestequerouvir. “Sãoestasvi-vênciasquelevamaqueumahumildadeseconstrua,passandoocantorparaumplanosecundáriomasdeacordocomumequilí-brioquevaiaprendendo”,diz.

Chegado o momento de ingresso noensinosuperior,aopçãoinicialfoiaEsco-laSuperiordeMúsicaeArtesdoEspectá-culo,noPorto.Isto,porqueem2007nãohaviacursodejazzemLisboa.OfactodeteramigosmadeirensesavivernoPorto,também conduziu à escolha e facilitou asua adaptação à cidade. Ainda pensoucandidatar-seaoclássicoeao jazz,masnoprimeirogéneronuncasesentiumuitosegura. É um timbre que não reconhecequando canta e, por isso, não se senteidentificadacomele.

Realizouasprovasexigidasecorreutudomuitobem,acabandoporgarantirasuaen-trada.QuaseemsimultâneosurgeaterceiraediçãodoconcursodaRTPOperaçãoTriun-fo,aoqualVâniadecidiuconcorrer.ComaevoluçãodoconcursooptouporabandonarocursodejazznaESMAE.VâniaacabouporsesagraravencedoradaOperaçãoTriunfo.

Apesar da importância assumida dasuavitóriacolocaaexperiênciadoprogra-ma ao nível de um pequeno espectáculoque possa ter feito na Madeira. Tudo nasuavidaéimportante.

Quasesemtempopararespirar,aindaaassimilartudooqueestavaaacontecer,surgiu, cercadeummêsapósofinaldaOT,umcontactopore-mailcomumcon-viteparairaoFestivaldaCanção.Oseucompanheiro e colega da OT, Luís Sou-sa, mais adepto das novas tecnologias,alertou-aparaasconstantestentativasdecontacto. Vânia considerou tratar-se deuma brincadeira, porque não lhe pareciarazoável receber um convite para con-correraoFestivalporcorreioelectrónico.ConfessaqueaajudadoLuísfoipreciosanestecampo,poiso factodeestaraser“bombardeada” pela comunicação socialtambémajudavaasentiralgumadescon-

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22 Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Histórias de Sucesso

fiança. Foi o namorado que acaboupordarrespostaaoautordoconvite,oprodutorCarlosCoelho.

ArespostanãodemorouachegareCarlosCoelhoconseguiufinalmen-te falar com Vânia, dizendo-lhe quetinhaumtemapreparadoparaela,epedindo-lhequeoouvisse.Deu-seo

primeirocontactocomacanção,masnaversãoinglesa,“LadyoftheSea”.Deinicionãogostoumuito,principal-mentedoarranjo.Foiouvindootemamaisvezeseasenti-lo,acabandoporperceberquetinha“miolo”.Ocontactocomopoemaemportuguêstambémteveumainfluênciamuitopositiva.

O também autor da letra, Car-losCoelho, disse-lhe que iria até àMadeira para poderem fazer umaprimeira gravação. Usaram o estú-diodeumamigodaintérprete,Pau-loFerraze começarama trabalhar,masdestavezcomonovoarranjo,jácomorquestra.Essagravaçãofoi

Grandesmúsicosfazemumagrandeescola

PerformancedaOrquestradeJazzdaEscolaSuperiordeMúsicanacerimóniadeinauguraçãodonovoedifício

DEPOIS das vitórias, Vânia de-cidiu voltar aos estudos. A pro-ximidade com o Maestro PedroMoreira,jádesdeocursodejazznaMadeira,levou-aàEscolaSu-perior de Música de Lisboa. Noano lectivo de 2008/2009 tinhaa possibilidade de fazer as pro-vas de ingresso,mas como nãotinha feito a inscrição não pôdefazê-lo,adiandoparaoanolecti-voqueestáagoraemcurso.

No ano de interregno, os tra-balhos foram-se sucedendo, aca-bandoporperceberque,caso fre-quentasseocursodejazznãoiriaaproveitá-lo como gostaria. Esteano, apesar de conciliar o cursocom outros trabalhos tem conse-guidogerirtudodamelhorforma.

Gostamuitodocursoeaconselha-oa todos aqueles que queiram seguircarreira na área. “Tem tudo o que énecessário”, diz. Uma das principaisvantagens é o facto dos professoresserem acima de tudo grandes músi-cos.AprofessoraecantoraMariaJoãoé a suamentora deeleição. Justificaaescolhacomofactodeserotipodedocente que permite que o aluno sedescubracomoartista–“aMariaJoãomostraumcaminho,mascomliberda-de,éexigenteeissoéimportante”.OmaestroPedroMoreiranãoficaatrás,éaqueleaquemchamade “mestre”.Caracteriza o experientemaestro co-mo alguémque “sabe tanto, que tor-nacomplicado,porvezesaosalunos,acompanhartudoquequertransmitir”.O“idealégravarasaulas”,diz.

Esteano,aalunateveoportuni-dadedecantarcomaOrquestradeJazzdaEscolaSuperiordeMúsicadeLisboa,nacerimóniadeinaugu-raçãodonovoedifício.Nãosendocantora da orquestra, sabe queestaestáasermuitobemdirigidapelomaestroLarsArsen.Enquantoaluna,performereamantedojazz,VâniagostamuitodeBigBand,daíqueacomponentepráticadocursolheagrade,especialmente.

QuandofaladaEscolaSuperiordeMúsicadeLisboanãodeixaderessaltarquegrandepartedosalu-nosqueafrequentam,sãojágran-desmúsicosdejazzemPortugal,jácomtrabalhosgravados,mascujahumildade os leva à escola paraaprendermais.

FotodeSofiaGuerra

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Histórias de Sucesso

VâniaFernandesaocentro,comoutrosconcorrentesdaOperaçãoTriunfo

Agrandemúsicanegra

O JAZZ surgiu um pouco poracasonavidadeVâniaeoCon-servatório da Madeira teve umpapelfundamentalnisso,atravésda parceria que realizou, na al-tura, com o Hot Clube Portugal.Para a aluna de jazz da EscolaSuperiordeMúsicadeLisboa,amúsica tem uma ligação com omundoemdesenvolvimentocadavezmaioreojazzéumexemplodisso, pelas influências que vaibuscaraváriosgéneros.

Apesardojazzsermaisrecentequeamúsicaprofanaouerudita,te-

veumprocessodiferente,porquesãomuitoos recursosqueusa,nomeada-mente do clássico, principalmente namúsicaorquestraljazzística.

Noseupercursoenquantoperfor-mer também Vânia vai acumulandoexperiências,umadasmaisimportan-testemavercomasuaparticipaçãonoQuartetoJúlioResende,em2005.NaépocaaindaestudavanoConser-vatório da Madeira e foi numa dasfestasdoComboqueopianistaJúlioResende lhe foiapresentadoporumamigo.Trocaramcontactos,voltarama encontrar-se e actuaram juntos no

OndaJazz, em Lisboa. Continuama trabalhar desde então, quer emquarteto,queremduo.

A sua principal influência sem-prefoi,eserá,EllaFitzgerald,por-que“temtudo”,dizVânia.Cadavezouvemaisjazz,apreciandomuitooladomais tradicional,presenteemBillieHoliday,SaraVaughneCar-menMcRae.Mas,gostaclaramen-tedeoutrosgéneros,poisosrótu-lossãoalgoquenãousa.Tambémaworldmusic,amúsicaalternativaeamúsicabrasileiraestãosemprepresentesnoseudia-a-dia.

a primeira abordagem à música eacabou por se tornar a versão quese ouve no meio musical. Na altu-ra os coros foram executados porcroatas. O autor damúsica é aliásumcroata,AndrejBabic´.

No último contacto, Carlos Coe-lhodisse-lheque iriaenviaragrava-çãoparaaRTP,epediu-lhequees-colhessecincopessoasparaocoro,comasquaissesentisseàvontade,levando-aaescolhercolegasdaOT.Oprodutoreautordotemamostrava-seconfianteejáfalavanavitória,enaviagematéàSérvia,alertandoVâniaparaotrabalhoqueimplicaria.

VâniaFernandese"Cumplicidade",comJúlioResendeaopiano,JoãoCustódionocontra-baixoeAlexandreFrazãonabateria

FotodeRicardoCoelho

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Histórias de Sucesso

AMÚSICAserveparaafastarealimentarassuastriste-zas,maséacimadetudo“ummododevida”.VâniaFer-nandesnãopensaserpossívelviversemmúsica,porqueelaestápresenteemtudo,mesmonossonsdanatureza.

Semprevalorizoumuitoaexploraçãodossentidos,oquenasuaopiniãosóreforçaascapacidadesdequem

tambémo faz.AalunadaEscolaSuperiordeMú-sica de Lisboa vê oscantores como veí-

culos da mensa-gem e da

música,

Dadificuldadedeviversemmúsicaporquenarealidadeéopúblicoqueasente,“équalquercoisasuperioratodosnós”,diz.Mantémsemprepresen-teaideiaderelatividadedetudooquenosrodeiaedequãopequenasesenteperantetudoàsuavolta.

Nuncatomanadacomogarantido.“Tudonavidaéinstável”,afirmaaintérprete.Nocasodasuaferramentade trabalho,avoz,maisacreditanesteseu lema.Sãomuitososfactoresquepodeminfluenciaraalteraçãodotimbre.Vâniaacreditaqueopróprioestadodealmapo-deexercerinfluênciasnavoz,oquesócomprovaasuafragilidade.Aindaserecordadaépocaemquecantava,mesmonãopodendo frequentarasaulasdecanto, fi-candomuitasvezesafónicacomoesforço.

Aespiritualidadefazpartedasuavida,eéumladoqueconsideramais importantequeoexterior.O lema“corpo

são,mentesã”fazpartedoseudia-a-dia.Vênaalmaaquiloquenosdistingueunsdosoutros,pois

nocorpoépossívelfazermuitasmu-danças,aalmaéúnica.Estasuamaneiradeestarlevou-aacon-siderarseguirocaminhodaFi-losofia,porqueéumaáreaqueafascinaprofundamente,mas

escolheu a música comocaminho.

EscolaSuperiordeMú-sica de Lisboa vê oscantores como veí-

culos da mensa-gem e da

música,

de trabalho,avoz,maisacreditanesteseu lema.Sãomuitososfactoresquepodeminfluenciaraalteraçãodotimbre.Vâniaacreditaqueopróprioestadodealmapo-deexercerinfluênciasnavoz,oquesócomprovaasuafragilidade.Aindaserecordadaépocaemquecantava,mesmonãopodendo frequentarasaulasdecanto, fi-candomuitasvezesafónicacomoesforço.

Aespiritualidadefazpartedasuavida,eéumladoqueconsideramais importantequeoexterior.O lema“corpo

são,mentesã”fazpartedoseudia-a-dia.Vênaalmaaquiloquenosdistingueunsdosoutros,pois

nocorpoépossívelfazermuitasmu-danças,aalmaéúnica.Estasuamaneiradeestarlevou-aacon-siderarseguirocaminhodaFi-losofia,porqueéumaáreaqueafascinaprofundamente,mas

escolheu a música comocaminho.

VâniatinhaacabadodevenceraOperação Triunfo e, parecia-lhe im-provávelqueopúblicoapostassenu-ma “quase desconhecida”.A equipaproporcionou uma excelente convi-vência,apesardomuitonervosismosentido. Todas as suas forças eraminvestidas em muito trabalho paraque,acimade tudo,nãodesiludisseopúblico.O seumaior receioeraodeaspessoasacharemquenãoes-tava à altura.Queria acima de tudomanteronível.

Quando soube da vitória, nãoquis acreditar. A sua falta de con-fiança era tal, que nem a levou adesmarcar antecipadamente outrostrabalhos em curso, nomeadamen-te a sua participação na Orquestrada União Europeia com temporadamarcadaparaaEslovénia.

Consideratersidoumavitóriaain-damelhordoqueadaOT,porqueserumreforçodoapoiodopúblico.

A estadia em Belgrado, para oFestival da Eurovisão, correu-lhemuito bem. Os portugueses eramtratadoscomosendoosmelhorese

por isso diz ter sido sempremuito“mimada”. Apesar dos resultadosda votação, Vânia, foi eleita pelosjornalistas presentes como a me-

AalunadaEscolaSuperiordeMúsicacomopianistaJúlioResende

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Histórias de Sucesso

lhor do Festival, chegarammesmoa pedir-lhe para cantar na Confe-rênciade Imprensa.Temparticipa-do entretanto em vários encontrosdefãsdaEurovisãoemalgunsdospaísesparticipantes.

A TERCEIRA edição da OperaçãoTriunfoiniciouoscastingsem2007,enaaltura,VâniaFernandes,apesardapoucaconfiançadecidiuconcorrer.

Vivia semana a semana, masnunca considerou a possibilidadede entrar,muito porque não sentirseraconcorrentemodelodestetipodeconcursos.

A aposta sempre foi um cursosuperior,eafamanuncaestevenalista dos seus objectivos. A preo-cupação prendia-se precisamentecomapossibilidadedeperderapaza que estava habituada com o re-conhecimento público. Mas, senteagora que tudo decorreu natural-menteeéalgoquenãoaincomoda.Poroutro lado,mantinhapresente,uma das principais razões que alevaramaconcorrer–aProfessoraMariaJoão.

A primeira gala da OperaçãoTriunfo realizou-se, e dela saíramdois concorrentes. Na altura, Vâ-niaestavamatriculadanaESMAE,mas nem considerava a hipótesedeanularamatrículaporquesem-prepensouserumadaseliminadas.Osmesesforampassandoe,cons-ciente de que ocupava uma vagaquepoderiadestinar-seaoutroalu-no,optouporabandonarocursoeasuaparticipaçãodaOrquestradaUniãoEuropeia.

Foi uma decisão complicada,masporoutroladoaexperiênciadaOTestavaaseróptima.Diztersidoumaescola,que,nasuaopiniãode-veriaseraplicadanavidareal,“massemcâmaras”,claro.Mesmoestascomeçaram a passar despercebi-dasapartirdedadomomento.

Oníveldeexigênciaeragran-de, houve momentos em que sesentiuperdida,massempresees-

AEscolaOperaçãoTriunfo

forçou por corresponder, tendo sidonomeada apenas uma vez, para afinaldoprograma.

Aquandodafinal, pediuà famíliapara não votar nela, porque sempreassumiuqueficariaemterceirolugar.Não tinha tidoumaprovadopúblicoemtermosdevotação,comotal,ga-nharseriapoucoprovável,mas foioqueveioaacontecer.

Nestas circunstâncias há umaperguntasempreinerente–avitóriater-lhe-á “aberto portas”? Não sabese talaconteceu,masodinheirodo

prémio foi investido nos estudose ajudando quem precisava. Umacerteza tem, a de que passou arespeitaraindamaisopúblico,pelaapostaquefizeramnela.Foicomoqueumapontardededo,umafor-ma de saber que estava no cami-nho certo e que tinha tomado asdecisõescorrectas.

Vânia Fernandes continua comumacerteza,adequeaOperaçãoTriunfofoiapenasmaisumaetapa,que não quer que seja recordadacomoopontoaltodasuacarreira.

ActuaçãodaartistamadeirensenumadasGalasdaOperaçãoTriunfo

Antesdetodaestaeuforiarela-cionada comos festivais ter inicio,VâniaFernandesjátinhafeitoaudi-ções,em2007,paraaOrquestradeJazzdaUniãoEuropeia(EuropeanMovement Jazz Orchestra). A Or-

questraeraconstituídapormúsicosdaAlemanha,PortugaleEslovéniae surgiu durante a presidência doConselhoEuropeudostrêspaíses.Acantorafoiseleccionadaediztersidoumaexperiênciaúnica.

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Histórias de Sucesso

“AlmaMarinheira”prestesanavegarVÂNIAFernandesestevenosúltimostempos a trabalhar no seu primeiroálbumasolo,cujolançamentoseavi-zinha.De nome “AlmaMarinheira”, otrabalho é o resultado do prémio daOperaçãoTriunfo.Muitotempopassoudesdeoprograma,masfoicomplicadoparaaperformerescolherumcaminhotendoelaumgostomusicaltãovasto.Oseurespeitopelopúblico levou-aaescolher um trabalho que traduzisseumagradecimentoàspessoas,eporissonãopoderiadeformaalgumaserelitistamassimacessívelatodos.

O músico madeirense Marino deFreitas,tambémbaixistadeMariza,foiodirectormusicaldodisco,quesegun-doVânia,temváriasinfluências,desdeojazzaosamba.Nasuaopiniãoéumtrabalho de “música do mundo”, queconseguiujuntarumpoucodetudo.

Sendomadeirense,Vânianãoficouindiferenteàtragédiaqueseabateuso-brea IlhadaMadeira.Apesardenãoestarlánaaltura,temidoàilhaquasetodososfins-de-semanaparaparticipareminúmerasiniciativasdesolidarieda-de.Nocontinente,umadasúltimasemqueparticipoufoinagala“UmaFlorpa-raaMadeira”realizadacomoapoiodaPresidência da República, que reuniunopalcodoColiseudosRecreiosgran-desmúsicosportugueses.

Quanto ao futuro, Vânia Fernan-desdizserpossívelviverparaamúsi-caemPortugal,masviverdamúsicajáserámaisdifícil.“Amúsicaaovivonão tem muita importância para aspessoas”, diz, levando a quemuitosdosmúsicosdetopotenhamquedaraulasparasobreviver.EstajáéparaaalunadaESMLumasaída,atéporquevão surgindo convites para master-classesnoConservatóriodaMadeira,queaceitadesdequesesintaàaltura.

Aaquisiçãodemaisformaçãoes-tarásemprenosplanosparaofuturo,porquetemconsciênciaqueamúsicaestásempreaevoluir,esóassimpo-deráacompanhá-la.

Asuamaiorambiçãoé“cantar,es-tarempaz,serfelizefazerosoutrosfelizes”.Atéaquidiztertidomuitasor-te,equeporissosesenteumapes-soaabençoada.

FotodeSofiaGuerra

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O Acontecimento

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Projectodemobilidadeinovador

Programa NeptuneExperiênciaúnicaparaalunosdoISEL

Osobjectivostraçadosinicialmenteparaaparticipaçãonumprojectodestetipo,foramemlargaescalaultrapassados.Dastécnicasde“Icebreak”,aosjogospedagógicosparaauto-conhecimento,passandopelafortemotivaçãoincutidanosalunos,atéàdescobertadasváriaspersonalidadesecapacidadestécnicasdecadaum,dentrodogrupodetrabalho,permitiramtrazeraodecimaomelhordecadaelementoeorganizar,planear,discutir,gerireatingirumobjectivobastanteambicioso,odecriarumprojectointernacionalcheiodeideiasinovadoras.

Textos de Penim Loureiro

ParticipantesdoProgramaNeptune,em2001,noInstitutoSuperiordeEngenhariadeLisboa

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O Acontecimento

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OPROGRAMANeptune,“NetworkforEnvironmentalProjects inTechnology,UnitedinEurope“,reúneváriasinstitui-çõesdeensinosuperior,pertencentesadiferentespaíseseuropeus,associa-dasem tornodeum temacomum,oAmbienteConstruídocomapremissadeintegrardiferentesáreasdoconhe-cimento e alcançar uma cooperaçãoentrealunosdediferentesáreasdisci-plinaresenacionalidades.

O ISEL integra-se no círculo IV,composto por cinco universidadesdeengenharia,promovendoumpro-jectointernacionalporanonoâmbi-toda“Watermanagementandurbansurroundings”queabordaassuntos,tais como, a reabilitação urbana, avalorizaçãodoambiente construídocom base em estruturas hídricassustentáveis, e mobilizando estu-

InstituiçõesParceirasdoProgramaNeptune

Holanda NHLSchooloftheBuiltEnvironment

Alemanha FachhochschuleOldenburg

Dinamarca VitusBeringCollegeHorsens

Finlândia MikkeliUniversityofAppliedSciences

GrupodetrabalhodoProgramaEuropeuNeptune

dantesedocentesprovenientesdasinstituiçõesparceiras.

Trata-se de um programa inten-sivo, cujo objectivo é a realizaçãode umprojecto internacional basea-do em casos reais e actuais com opropósito de reforçar o sentido decooperação entre estudantes de di-ferentespaíses,atravésda trocadeconhecimentosmultidisciplinares.

Este Programa decorre anual-mente,emdiferentescidadeseuro-peias,segundoumprocessodees-colharotativa.

A primeira fase do programaNEPTUNE é constituída pela reali-zaçãodoprojectopreliminar,comosalunosparticipantesaindanasinstitui-çõesdeorigem,nasseissemanasan-tecedentesdaviagempararealizaçãodoProjectonoPaísanfitrião.

Uma vez reunidos na cidade an-fitriã,osestudantesparticipantessãodivididosemseisgruposdeprojecto,cadaumcoordenadoporumprofes-sorsupervisorprovenientedasváriasinstituições participantes, para quecada equipa de trabalho fique com-postapor6elementoscomdiferenteformaçãoenacionalidade.

Os trabalhos iniciam-se pela re-colhadeinformaçõesacercadaáreade intervenção, tendo sido elabora-daspropostaspreliminares,edadasa conhecer aos outros grupos atra-vésdeumaexposiçãooral.

Umsupervisorseránomeadoparacadaequipadetrabalho.Esteacom-panhaoprocessodeaprendizagemeéaprincipalpessoadecontactoparaosalunosenfrentaremproblemas.

Ocrescenteritmoevolutivodostra-balhosdesenvolvidospelosváriosgru-posdeestudantesémantido,porumareunião de avaliação efectuada dia-riamente, promovida pelo respectivoprofessor supervisor. Esta metodolo-giapermitetestar,deformaininterrup-ta, todoo processode formaçãodosestudantes, fazendo um balanço dasopções tomadas, orientando e catali-sandoodesenvolvimentodoprojecto.

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O Acontecimento

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TudocomeçouparaoISELem1997DE1997a2002oInstitutoSuperiordeEngenhariadeLisboaparticipounoprogramaNEPTUNE,dentrodo“Mammoth Circle” proporcionandoummaior envolvimento em projec-tos internacionais com resultadosconcretosnadivulgaçãoereconhe-cido no exterior do Instituto, tendosaído,osseusalunos,prestigiadoscomestasactividades.

Duranteoanode2001coubeàcidade de Lisboa ser o local ondedecorreu o Programa NEPTUNE,pelaprimeiravezemPortugal,ten-do sido organizado pelo ISEL comadesignaçãoLISBOA-2001,“TheWakeningofanAtlanticGate”.

Desde 2006 que o InstitutoSuperiordeEngenhariadeLisboareafirmou o seu vínculo a esteprograma de mobilidade, tendoproporcionado a participação dealunos e docentes dos Departa-mentosdeEngenhariaQuímicaeCivilnosProjectos Internacionais

AlunosdoISEL,emAmesterdãonoanode2006

O projecto termina com as apre-sentações finais das seis diferentespropostas,tendotodososestudantesde defenderem publicamente, e eminglês,assoluçõesdoseugrupo,quesão avaliadas por umpainel exteriorde peritos e acompanhadas por re-presentantes domunicípio e de em-presas envolvidas. Todos os alunos

recebem um certificado de participa-çãonoprojecto.

O Programa Neptune é a confir-mação da qualidade dos alunos doISELalémfronteiras.

Por diversas ocasiões foi comen-tadopelosprofessores representantesdas diferentes escolas participantes,queosestudantesportugueses, tendo

facilidade de comunicação e relacio-namento com os diversos elementosdo grupo, desempenharam um papelimportante na organizaçãodentro dosgruposdetrabalho,funcionandocomoelosdeligação,sendoigualmenteres-ponsáveispelassoluçõesdeconsensoentreasvertentesdeengenharia,am-bienteearquitectura,facilitandoaapre-sentaçãofinaldassuasideias.

Maisdesessentaalunosedocen-tesdoISELconcretizaram,atravésdoProgramaNeptune, uma experiênciainesquecível.

Umacaracterísticaatractivadesteprogramaresidenofascínioexercidopela percepção de novos pontos devista,novasvisões.

Tirando proveito desta sinergia, aparticipação nesta iniciativa permiteavaliar a capacidade dos alunos pa-ra resolver novos problemas.A auto-avaliação torna-se, portanto, umaconsequência natural deste projectointernacional, onde a articulação denovasperspectivassetransformanuminstrumentoparanosconhecermelhor.

“The Middle Sea” 2006-Holanda,“Alexanderheide – Giving back toHuman and Nature” 2007-Alema-

nha, “Port of Horsens” 2008-Di-namarca e “Mikkeli Waterfront”2009-Finlândia.

EncontrodeparticipantesnoISEL

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LISBOAfoiacidadeeleitaparaare-alização do Projecto InternacionalNeptuneem2010.Comotema“UmaTravessiaSustentáveldoTejo”,éumprograma intensivo organizado pe-lo Instituto Superior de Engenhariade Lisboa onde participarão cercade trinta estudantes e dez professo-res provenientes de várias Universi-dades Europeias cujo objectivo é arealização de um projecto baseadoem situações reais e actuais com acaracterística inovadora de intensifi-carcontactosentreestudantesdedi-ferentespaíses,numaperspectivadetroca de conhecimentos integrada earticuladanoespaçoeuropeu.

Irá realizar-se em Portugal, pelasegundavez,oprojectointernacionalNEPTUNE, inteiramente organizadopeloISEL,sendoestemembrodocír-culodecincouniversidadeseuropeiasquepromoveanualmenteumprojec-to, a decorrer em diferentes cidadeseuropeias, no âmbito da “Gestão daÁgua na Construção Urbana” abor-dando assuntos, tais como, a valori-zaçãodasperiferiasurbanasatravésde estruturas hídricas sustentáveis,qualidade da água e reabilitação doambienteconstruído.

Oobjectivodoprojectoorganiza-doemLisboaéconceberváriaspro-postas contemplando os impactesprovenientesdaTerceiraTravessiadoTejo, determinar como os minimizar,como aproveitar as suas sinergias ecomo fazeraarticulaçãourbanados

ISELcoordenaprojectoEuropeu

acessosàterceiraponteaolongodoValedeChelas.

Lisboa apresenta um sistema devales, que caracterizam a paisagemribeirinha, dos quais destaca-se oValedeChelas,cujaslinhasdeáguaestruturamamaisvastabaciaHidro-gráficadeLisboaquemodelouosolo,suportedaZonaOrientaldaCidade.

Aáreade intervençãodeste pro-jectoéricaemvestígiosdapresençahumana,desdeaocupaçãopré-histó-ricaatéaoespóliodarevoluçãoindus-

trial.Noséc.XVImereceuaatençãodo tratadista Francisco de Holandaqueprojectouumpoderoso conjuntopalaciano, junto à Madre de Deus,estendendo-seosjardinsaolongodoVale,tirandoproveitodosistemaoro-gráficodeChelasondeoenfiamentoaSulpermitequeavistaalcanceasserranias da Arrábida, na margemoposta.

A partir da segunda metade doséc.XX,oplanaltodeAlvalade,aqua-setotalidadedasencostassobreoriodaZonaOriental(Encarnação,OlivaisNorte e Sul e Chelas), bem como azona ribeirinha do Parque das Na-ções, foram objecto de planeamentoderaiz.ContudoosValesdosistemahidrográficodeChelas“beneficiaram”de um relativo atraso da ocupaçãoedificada, lentamente iniciadanadé-cadade60.

Linhas férreas existentes consti-tuemobstáculosgeradoresdeconfli-tuonacontinuidadedotecidourbano.

Actualmente o Vale de Chelas écaracterizadoporáreasdeisolamen-tourbanocompostaspornúcleosedi-ficadosdispersosacompanhadosporespaços livres residuais e pela des-

VistaaéreadoValedeChelas

Caminho-de-ferrodoValedeChelas

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UmatravessiasustentáveldoTejo

Durantenovedias,umgrupode 30 estudantes de cincopaíses diferentes e de di-

ferentes áreas disciplinares traba-lham juntos para resolver um pro-blemacomplexoambiental.De12a20deNovembrode2010,ospar-ticipantes provenientes dos váriospaíses europeus irão reunir-se noISEL e conceber várias propostascontemplando para além da inter-vençãofísicadearticulaçãoUrbanados acessos à Terceira TravessiadoTejonoValedeChelas,soluçõesfuncionaiseeconómicasdeformaaviabilizarosprojectosnaperspecti-vadodesenvolvimentosustentável.

A Terceira Travessia do TejomaterializaaligaçãoentreosEixosLisboa - Porto e Lisboa - Madrid,comumaconfiguraçãoquepermiteacomodarparaalémdasviasdeal-tavelocidadeferroviária,asdestina-dasaocaminho-de-ferroconvencio-naleumanovaligaçãorodoviária.

AconexãoentreaLinhadeCin-tura e a LinhadoAlentejo estabe-lecidapelanovatravessiapermitiráofechodoanelferroviárioLisboa–Barreiro-PinhalNovo–Pragal-Lis-boa,interligandoasváriasurbanasseparadaspeloTejo,comconexãoferroviáriadirectaaoNovoAeropor-todeLisboa,contribuindodeformadecisivaparaamelhoriadodesem-penhodosistemademobilidadedaÁreaMetropolitanadeLisboa.

O desenho dos múltiplosacessos da ponte em ambas asmargensapresenta-semuitocondi-cionado pelo tecido urbano, proxi-midade de património classificado,necessidadededesnivelamentodasdiferentesviasferroviáriaserodoviá-riasqueconvergemparaaponte,asquais deverão evitar erros antigos,

minimizando a intrusão urbana e pro-movendoacontinuidadedoterritório.

MuitosdoselementosafectadospelaTerceiraTravessiadoTejoestãoassociados à potencial intercepçãodeníveisfreáticospelasescavaçõese túneis; à impermeabilização dosterrenos;aoatravessamentodepe-rímetrosdeprotecçãodecaptaçõesdeáguasubterrâneaparaabasteci-mentopúblicoeàafectaçãodirectadecaptações.

Associaram-se a esta iniciativa,promovida pelo Instituto Superior deEngenharia de Lisboa, várias enti-dades, tais como a RAVE, LisboaE-Nova, Programa Viver Marvila,SIMTEJO,ParqueExpo,Carris,Me-tropolitano de Lisboa, Caixa GeraldeDepósitos,JuntadeFreguesiadeMarvila,Opway,quedarãoapoioemdiversasactividades.

Este programa permitirá aos es-tudantesaoportunidadedetrabalharnum projecto concreto, juntamentecomcolegasprovenientesde váriospaíses, ficando a conhecer novas ediferentes abordagens a problemasespecíficos,noespaçodacomunida-deeuropeia.

Na sessão de apresentação final,serãoexpostasasseisdiferentespro-postas,tendotodososestudantesde-fendidopublicamente,eeminglês,assoluçõesdoseugrupo,napresençadeum júri composto por representantesdomunicípio,deempresasenvolvidas,especialistasemengenharia,arquitec-turaegestãoderecursoshídricos,queescolheráamelhorproposta.

Poder-se-á concluir, através dosbalanços dos anteriores projectos,que os resultados têm sido positi-vos, tendo lançado bases metodo-lógicas no sentido de o estudanteadquirir competências habilitando-o:

a entender o processo dedecisão e reflectir nos proble-mas que podem ocorrer nu-ma equipa de projecto multi-nacional e multi-disciplinar;

na prática de planear, dis-cutir, produzir e apresentarum projecto conjunto numpequeno prazo de tempo;

napercepçãodediferenteses-pecialidades de colegas estudan-tes em diferentes países atravésdo intercâmbio de informação;

no desenvolvimento da ex-pressão em inglês, sobretudono campo das terminologiasespecíficasdoprojecto;eviden-ciando assim a enorme impor-tância deste tipo de formação,visandoaprevisívelmobilidadecomqueosprofissionaisdeen-genharia se irão confrontar naEuropadofuturo.

Aocolaborarnesteprojectoin-ternacionalosdocentespossuirãoumaoportunidadeparareunircomcolegas de diferentes disciplinase diferentes países europeus, en-quantoosalunosdo ISEL terãoapossibilidade única de participarnumapropostaderesoluçãodeumproblemareal.

Éderealçaraimportânciadaor-ganizaçãodoprogramaNeptunenoalargamentodohorizonteprofissio-nal de estudantes ao lhes permitirumadupla integração: formarumaequipa de trabalho multidisciplinare aprender a utilizar qualificaçõesprofissionais que nem sempre es-tãodirectamenterelacionadascomasuaespecialidade,numambientedecooperaçãointernacional.

continuidadedotecidourbanoprovo-cado,sobretudo,poreixoseferroviá-riosquecriamobstáculos.

Paraazonaencontra-seplaneadauma quantidade invulgar de propos-tas; taiscomoosacessosàTerceira

Travessia do Tejo, o ParqueUrbanode Chelas, o centro Hospitalar deLisboa, constituídopelaunidadequeirásubstituiro InstitutoPortuguêsdeOncologiaeonúcleodestecentro-ofuturohospitaldeTodososSantos–

queparaalémdetodasasvalênciasmédicas,estenovohospitalterátam-bém a possibilidade de ter “funçõesdeensino” recebendoestudantesdaFaculdade de Ciências Médicas daUniversidadeNovadeLisboa.

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Novo e Interessante

Equipavencedoradas24HorasdeGestão(daesquerdaparaadireita):SóniaSousa,MiguelAlmeida,NunoAlexandre,FernandoArezeBrunoSousa

A EQUIPA “ISCAL-TisQM” cons-tituída pelos alunos Bruno Sousa,Miguel Almeida, Nuno Alexandre,FernandesArez,PedroSantoseSó-niaSousatodosdocursodegestãodoISCALfoiagrandevencedorada4.ªediçãodas24horasdeGestão–2009,queserealizounosdias28e

AlunosdoISCALvencem24horasdeGestão

UmaequipadoISCALobteveo1.ºlugarna4.ªediçãodas24horasdeGestão–2009,umjogoqueconsistenumsimulacrodecriaçãodeempresasegestãoempresarial,visando testar a destreza intelectual e a resistência física dos participantes.Representadopormaisquatroequipasdealunos,o Institutoobteveaindaos4.º,6.º,7.ºe12.ºlugares,sendogalardoadocomodiplomaeotroféudaInstituiçãoquepatrocinoumaisequipas

Textos de Jorge Silva l Fotos de Clara Santos Silva

Alémdiplomademérito,atribuídoaoInstituto

29deNovembrode2009,noespaçoÁgoraemLisboa.

Esta competição, destinada aosalunos finalistas do ensino superior,deeconomiaegestãodetodoopaís,consistiu num exercício teórico-práti-cosobo temadaempregabilidadeeda sustentabilidade, onde os alunos

têm que gerir uma empresa atravésdaresoluçãodeváriasprovas.

As equipas foram confrontadascomagestãodeumaempresa, ten-doderesolverumconjuntodedezoitoprovas,quelhesiamsendopropostasequetinhamdeentregarnofinaldas24horas.AequipadoISCALtevede

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responderadesafioscomoaelabora-çãodeumplanodecontingência,porumdosprodutosdaempresasercan-cerígeno,arealizaçãodeumaconfe-rência de imprensa ou a elaboraçãodeestudosdemercado.

Asprovaseramcronologicamenteorientadas de situações aplicadas aessaempresa,simulandoumambien-teempresarialrealparaoqualaequi-

APESAR de já se conhecerem háalgumtempo,haviao receiodeseregistaremchoquesdepersonalida-des,entreosparticipantesdaequi-pa.Paraevitar issoacordaramemaplicaralgumasregrasinternaspa-raobomfuncionamentodaequipa.Umadelasera,emcasodeconflito,um dos elementos da equipa serescolhidoparaexercerumvotodequalidade.Nuncahouvenecessida-dedeaplicarestaregra.

Como são todos trabalhadoresestudantes, acabarampor aprovei-tarasexperiênciasprofissionaisquecada um possuía. Assim, o NunoAlexandre, que é técnico oficial decontas,ocupou-sedapartedacon-tabilidade,oBrunoSousa,informá-tico,oPedroSantoseaSóniaSou-sa,comerciais,trataramdapartedaproduçãoedomarketingeoMiguelAlmeida foioestratega.Adistribui-çãodetarefasfoiimportanteparaosucessofinal,haviasemprequatroelementos a trabalhar nos quatroscomputadores, enquanto o quintodava apoio a quem necessitasse.Quando surgia uma dúvida o ele-mentocommaisconhecimentosnaáreadavaoseucontributo.Nofun-dohouvesempreumcontrolesobreomodocomoasprovasestavamaserfeitasoquepermitiuummelhoraproveitamentodotempo.

Outro factor importante foi o daliderança ser partilhada. O facto denãohaverumlíderautoritárionaequi-pa,permitiuqueosassuntosfossemdiscutidos,entretodos,easdúvidaspartilhadas.Comopassardotempoadinâmicadaequipa foiaumentan-

Aimportânciadoespíritodegrupo

do,etudosetornoumaisfácil,apesarde, em face do acumular do númerodeprovasedoaumentodocansaço,apreocupaçãopelaqualidadeterdesersacrificadaemproldarapidez.

Ahumildadecomoaequipaenca-rouo jogo também foi importantenoresultado final.A vitória no jogo não

era uma obsessão para os alunosdoISCAL,oimportanteerateremaoportunidade de participarem numdesafio como pessoas que traba-lham, têm famíliaeseajudamunsaosoutrosnoverdadeirodesafiodasuavida,queétirarumcursosupe-riornoregimenocturno.

pa tinhade ir encontrandosoluções.A maioria das provas era resolvidano interior do Espaço Ágora, houveapenas uma que exigiu a desloca-çãodosmembrosparaoexteriordorecinto. Um dos trunfos que condu-ziuaoêxitofinal,foiumaboagestãodo tempo,para resolverasprovaseacompanharoritmocomqueelasiamsendo apresentadas. A equipa con-

fessou que a primeira, uma análiseeconómico-financeira, só foi conclu-ída muito perto das 24 horas.A es-tratégia passoupela distribuiçãodasprovaspelosmembrosdaequipa,atéporque a avaliação das mesmas sófoi efectuadano fimdo jogo, no seudecursonãohouvenenhumainforma-çãosobreoscritériosdeavaliaçãoouovalordadoacadaprova.

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NOFIMdas24horasdegestão,aequipa nunca pensou que seria avencedora, acima de tudo estavasatisfeitacomotrabalhoefectuado.Quandoforamproclamadosvence-doresasurpresafoigeral,equandoregressaram ao ISCAL todos de-monstraramumenormeorgulhonotrabalho que tinham feito. Órgãosde Gestão, professores e alunosdo Instituto, congratularam-se coma vitória, que foi encarada comoofrutodaqualidadedoensinoqueéministradonoISCAL.

SóniaSousafoioelementofemi-ninonumaequipadehomens,apesar

Avitóriafoiumpassoemdirecçãoaofuturodissoconsideraquetodosseportarambem,comounscavalheiros, tendo tidocuidadocomosexcessosdelinguagem.

A aluna do ISCAL afirma ainda aimportânciadetodososelementosdaequipaseremalunosdocursonoctur-no.No fundo todos concordamque aentreajuda entre os alunos do horáriopós-laboral émuito grande, a partilhadeinformaçõesematerialacadémicoémaiordoqueentreosalunosdiurnos.

Quanto ao prémio, como estáestipulado no regulamento, a equi-pa recebeu 5000€ que terão que seraplicados na criação de uma empre-sanumprazodeumano.Masnãoé

fácil encontrar um consenso entrecinco pessoas. Neste momento asideiasaindaestãoaserestudadas,tantomaisqueaprioridadedosalu-nosestánaconclusãodoseucurso.Outromotivodeorgulhonestavitóriaéofactodedoiselementosdaequi-pa,oBrunoeoNuno,teremingres-sadonocursoatravésdoconcursodemaioresdevinteetrêsanos.Paraelesasatisfaçãoédupla,apósumainterrupçãodosestudosduranteumperíodo de tempo alargado, conse-guiram provar a si próprios e aosoutros,queconseguemalcançarasmesmasmetasqueosdemais.

SóniaSousa NunoAlexandre BrunoSousa

Este jogo diferencia-se de todososoutros,pelapressãoquetransmi-te aos concorrentes. Enquanto nosoutros,otempoparadecidirédediasousemanas,nas24horastudotemqueserdecididonahora.O ritmoéalucinante, as provas sucedem-seumasàsoutras,nãodeixandomuitotempoaos concorrentesparadiscu-tirem as resoluções dos problemas.Oambiente tambémnãoeraomaispropício para a concentração e oraciocínio, havia música a tocar equando a equipa estava a começara abordar uma prova, por vezes, jáoutraestavaaserdistribuída.

Esteambienteéoretratofieldoque se passa nas empresas, ondeosprofissionaistêmqueabordarvá-riosprojectossimultaneamente,com

umruídodefundoconstituídoporte-lefonesatocarepessoasafalar.

No desenvolvimento do jogo, aequipa utilizou como instrumentos ainternet e livros de apoio, masmaisumavezo tempoeramuitoescassopara uma consulta pormenorizada.Aquiostrunfosutilizadospelosalunosforamosconhecimentos,queocursode gestão lhes proporcionou e quelhes permitiu um raciocínio correctonaabordagemdosproblemas.

Aideiadeparticiparnestejogopar-tiudoBrunoSousa,queconseguiucon-vencerosoutroscolegasaparticiparnodesafio,tantomaisqueoISCALpagouainscriçãodetodasascincoequipasdoInstitutoqueparticiparamnas24horas.Todososelementosjátinhamexperiên-ciade trabalharemgrupo,desdeque

se conheceram quando entraram nocursoem2007.BrunoSousaentendeuqueaparticipaçãonas24horasdeges-tão, eraumaoportunidadeparadaraconhecerocurso,juntodasoutrasinsti-tuiçõesdeensinosuperioredomerca-dodetrabalhoeumaoportunidadeparaelestestaremoquetinhamaprendido.Oresultadoveioprovarqueocursoéválidoeestáentreosmelhorescursosdegestãodopaís,compensandotodosos sacrifícios que os alunos têm feitoparaofrequentarem.

Este1.ºlugaracabaporserame-lhorpublicidadequeocursopodeter,oqueconjuntamentecomaparticipaçãodasoutrasequipasdoInstituto,acabouporseróptimoparaapromoçãodaima-gemdoInstitutoSuperiordeContabili-dadeeAdministraçãodeLisboa.

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Homenagem

VeraCastro(1946-2010)

‘’A Segunda Pele’’

Otestamentoartísticodeumagrandepedagoga

“OPapeldaSegundaPele”éotítuloqueaartistaVeraCastro–falecidanopassadomêsdeFevereiro,aos63anos–deuaoseuúltimotrabalhodeinvestigaçãosobreofigurino.Éotestamentoartísticodeumagrandepedagoga,quedurantemaisde15anoshonrouaprofissãodeprofessornaEscolaSuperiordeTeatroCinema.

Texto de Vanessa de Sousa Glória

FotodeAntónioPedroFerreira/Expresso

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AVERACastro era umapessoatímida, muito discreta, extrema-mente observadora do mundoque a rodeava e, com facilidadese extasiava perante a belezaqueasurpreendiaenãoeratoda.Assumiafidelidadetotalaosami-gosdeeleição,queerampoucos,algunsdosbancosdaescola.Fa-zia novosamigosegostavadis-so, mas era duma selectividadeporvezesaterradora.

A Vera era de uma lealdadeextrema, não se deixava ador-meceremcimadeumproblema,nemcediaperanteamentira.De-testavaosociosos.Assituaçõespouco claras. Profissionalmentede uma exigência sem limites,sem cedências à mediocrida-deeà invejamesquinha, oquea parecia fazer arrogante. Nãopactuava com o desleixo nemo facilitismo em nada da vida etudocomeçavaporela.Nãosa-crificavaoseu trabalhoe ideiasaocomodismodaproduçãoe,sepreciso fosse fazia ela ou cola-borava. Por tudo isto teve umavida difícil pontuada de algunsmomentosdefelicidade,masdemuitaangústiaesofrimento.

Direi, sem exagerar, que asua inteligênciaerafina.Francó-fona assumida, adorava o belona arte da pintura, escultura, te-atroedançaentreoutros,comosseusídolos.Elacontribuiudecidi-damente para o enriquecimentodo figurino contemporâneo emPortugale,dissonãoapodemosesquecer nem desvalorizar. Nãorestamdúvidas!

AméricoGuerreiro

UmapessoatímidaA MINISTRA da Cultura, GabrielaCanavilhas, lamentou publicamentea morte da artista, referindo o seucontributo, como docente, para aqualificação de novos profissionaisdas artes em Portugal e o grandecontributo para o teatro, dança eóperacontemporâneas.

“O Papel da Segunda Pele” sãomais de cem páginas com imagensdefigurinosdasuaautoriaemespec-táculos de teatro, dança e ópera, eencontramos também neste trabalhooregistodetestemunhosdeprestigia-dos profissionais das artes do palcocomosquaisVeraCastroconviveuaolongodasuacarreira.Comosleitoresa figurinista pretendeupartilhar, con-forme diz na introdução do trabalho,“omododepensar,osaber,aspeque-nashistóriasdeumahistóriamaior,depercursosexemplaresdepaixão,de-dicaçãoepartilha”.Éumrelevanteeenriquecedor testemunhoparaahis-tóriadofigurinoemPortugaldeixadopelapintora,figuristaecenógrafa,queconsideraqueotemaé“umamatériasobreaqualpoucose fala,muitoseignoraequasenadaseescreve”.

DeOutubrode2005aJaneirode2006,alturaemquegozoudelicençasabáticaparaarealizaçãodoprojec-to,VeraCastrorecolheudepoimentosdos vários intervenientes na cons-trução de um espectáculo desde oprogramadoredirectordeartístico,odirectordoMuseudoTeatro,passan-do pelos figurinistas; encenadores eactores;coreógrafasebailarinas,críti-cosdeteatroedançaenãodescuran-doamestraeazeladoradeguarda-roupa.CristinaReis,NunoCarinhas,RitaLopesAlves,MarianaSáNoguei-ra, António Lagarto, Bernardo Mon-teiroeMariaGonzagaforamossetefigurinistas portugueses que viram asuapráticaserabordadapelaartista.MasVeraCastroquisaindaincluirnoseuprojecto“otestemunhodaquelesquedeumamaneiraououtracomes-ta matéria se relacionavam”. Razãopela qual a artista recolheu o depoi-mento dos encenadores e actoresLuísMiguelCintra,BeatrizBatardaeJoãoBritesedascoreógrafasebaila-rinasVeraMantero,OlgaRorizeAnaLacerda.Tambémotrabalhodequemexecutaezelapeloguarda-roupa foi

contemplado. A figurinista ouviu amestraAdelaideMarinhoeazeladoraMariaJoséPardal.Opapeldequemestádooutro ladodopalcofoi igual-mentevalorizadoderamoseudepoi-mento os críticos de teatro e dança

João Carneiro e Cláudia Galhós; oprogramador e director artístico Jor-geSalavisaeodirectordoMuseudoTeatro José Carlos Alvarez. “Muitosoutrosnomesficaramde fora”, dizaautoraquesecingiuaosprofissionais

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HABITUALMENTEaspalavrasparadescreveraVeraCastrosão:gran-de pintora, cenógrafa e figurinista.Sim, foi realmente tudo isso, mas,paramim,foitambémumaexcelen-teprofessora,grandeamiga,dotadadeumagrandesensibilidade,serie-dadeecompaixão.

SemprequemerecordodaVerarelembrooseubonitosorriso,asuacalmaeadisponibilidadeemajudar.

TiveoprivilégiodeteraVeraco-moprofessora.Alguémquenãosómetransmitiuosseusensinamentose conhecimentos mas também osseusmétodosevalores.

Recordo,comalgumaestranhe-za,queaminharelaçãocomaVeranão foi de imediata empatia, pelocontrário, foiumarelaçãoquedes-deoseuiniciosefoidesenvolvendolentamente, e como todas as boasrelações, foi construindo os seusprópriosalicerces,transformando-senumaligaçãoparatodaavidaepa-raalémdela.

Os seis meses de estágio delicenciatura que realizei sob a suaorientação foram um marco deci-sivo quer em termos do desenvol-vimento do nosso relacionamentoenquanto professora/aluna/amiga,como profissionalmente enriquece-dor emarcante para projectos queviriaadesenvolverfuturamente.FoiapartilhadiáriacomaVeraquemedeuaconheceroseuladomaisdes-contraídoedivertido,mastambémoseurigoreprofissionalismo.

Oseutalentoeoseusentidoes-tético são inquestionáveis. Recordoalgunsdostrabalhosquevi,compos-tosporimagensfortes,massimulta-neamente simples e claras quemeirãoacompanharparasempre.

UmaexcelenteprofessoraHoje, ainda me custa a acre-

ditar que a Vera não está cá, àdistância de um telefonema. Masconforto-me ao saber que emboranãopossaouvirasuavozoiçoain-da os seus conselhos, pois o queelameensinou já “vive”dentrodemim. São assim os grandes pro-fessores,embrenham-sedentrodenós, deixam-nos marcas que nosacompanhamparasempre.

Aindahoje, semprequeme re-cordo da Vera e pronuncio o seunomevem-melágrimasaosolhos…lágrimasdesaudade.

AtéjáVera,eobrigadoporfaze-respartedaminhavida.

AnaPaulaRocha

FigurinoexistentenaESTC

noactivodasuaprofissão,em2005,altura em que iniciou a sua recolhaparaoestudo.

O temadaóperanão foiaborda-dono trabalho “Opapeldasegundapele”porque“emrelaçãoaoteatroeàdança,nestemomento,aproduçãonacionaléquaseinexistente”,explicaVeraCastro.

Aautora terminaassima introdu-ção ao seu trabalho: “A todos agra-deço o tempo que me dispensaramo que sei nemsempre ter sido fácil.Masnãoserá issoaomesmo tempoumbomsinal?!...”

Vera Castro nasceu em Ango-la no dia 11 deSetembro de 1946.Estudou pintura na Escola AntónioArroioenaEscolaSuperior deBe-las-Artes, em Lisboa, e mais tardegravura na Sociedade Cooperativade Gravadores Portugueses. Comapenas 24 anos iniciou carreira noensino mas só em 1991 é que foiconvidadaparadaraulasnaEscolaSuperior de Teatro e Cinema ondesemanteveaté2007alturaemquesereformou.NaESTCleccionouvá-riasdisciplinas:técnicasdedesenhoepintura,cenografiaecenotécnica.

Naqualidadedecenógrafaefiguri-nistadesenvolveuváriostrabalhosparaespectáculosdeteatroeópera.RicardoPais,JoséWallenstein,JoãoLourenço,

Ana Tamen, Jorge Listopad, RogériodeCarvalho,NunoCarinhas,FilipeLaFériaeCuchaCarvalheiroforamalgunsdosencenadoresconceituadoscomosquaistrabalhou.VeraCastrocriouain-dafigurinosparaosartistasOlgaRoriz,Paulo Ribeiro, Né Barros, Rui LopesGraçaeMehmetBalkan.

FigurinodeSalomé

A pintora está representada nacolecção do Ministério da Culturae em várias colecções particulares.Vera Castro realizou também váriasexposiçõesemespaçosculturais,em2007,naGaleriadoTeatroMunicipaldeAlmada e em 2002, na Casa daCercaemAlmada.

FotodeSofiaGuerra

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Minha querida Escola,

Agora que vou partir porque a nossa história chegou ao fim, um turbilhão de sentimentos e sentidos cruzam-se ora de forma avassaladora, ora de forma apaziguadora. Despeço-me, a pouco e pouco da efervescência dos alunos nos corredores, do “olá” caloroso da Dra. Luísa, da magnólia do pátio que em cada ano floresce e do olhar cúmplice da Eugénia. Esvazio o armário de fichas e trabalhos de alunos. O que será feito deles, que caminhos andarão a trilhar? Tento não me envolver neste mês de Outubro com os que este ano começam mas não resisto a um comentário interior: olha este parece interessante. Como virá a ser o seu percurso? Saboreio melhor cada instante porque vou ficar privada deles: da relação com os alunos, de tudo o que me deram e me obrigaram a questionar, a tentar perceber os seus modos de pensar e estar, da riqueza única que se faz na troca entre uma geração que acumulou saber e a outra que ainda tem tanto para ver e poder depois escolher. Bastou às vezes um ou dois alunos para sentir que valia a pena, e esse estímulo era o suficiente para me dar a força de enfrentar o lado mais sombrio que algum quotidiano da Escola por vezes me reservava. Mas não é afinal essa a natureza humana?! Conhecer o seu melhor e o seu pior não nos torna mais aptos a perceber essas personagens que são as do teatro?!Obrigada Escola pelo convite que um dia me fizeste pela mão do Professor Listopad e obrigada àqueles que estiveram ao meu lado quando mais era preciso. Obrigada a toda essa energia renovada de gerações de alunos que me ensinaram a manter viva e atenta e a perceber melhor o futuro próximo.

Vera Castro, Outubro 2007

Carta da despedida da Escola de Teatro e Cinema

CONHECI a Vera em 1998 quandocheguei à Amadora, ainda estava aescola na fase final da suamudança.Entre caixotes de livros e outra do-cumentação começam as aulas e osalunos a entrarem-me porta dentro.Vinda de umabiblioteca dasCiênciasdaTerra,vejo-mede repentenoensi-noartísticoesemtempoparameinte-grar pois era necessário dar respostaàs pesquisas que me eram pedidas.Estávamosaindadependentes deumcatálogo manual, oquenão facilitava.Rapidamente pedia ajuda dos docen-tesparaquepudesseterosprogramasdasdisciplinaseoseuapoionoqueosalunos tinhamque estudar. Foi nessaalturaquefaleipelaprimeiravezcomaVera.Sempredisponívelparacolaborarfoi-me dando informações para novasaquisições.Eraconstanteasuapreo-cupaçãoparaqueosalunostivessemapossibilidadedeencontrarnabibliotecaas referências essenciais para quemumdiaquisesseserumbomprofissio-nal.Comentavacomigomuitasvezes:“Estesalunosnemnumaagulhasabempegar!Nãosabemqueparasemandarfazerháquesabercomosefaz!”

AVeraempenhava-seemensinaresempre commuita paciênciamostravacomofazer.Queriaqueosalunosperce-bessemqueoqueestavaemcausaeraumfigurinoqueseriaasegundapeledequemofossevestir.Tinhaquesepassardoactodacriaçãoàexecuçãoequemvestisseaquelapeçateriaquesesentirconfortáveldentrodela.Quantasvezespassavapelabibliotecatodafelizporqueosalunosestavamentusiasmadoseotrabalho corria bem. Outras vezes de-sanimavaevinhacomentarcomgrandetristeza: “Estes alunos não se interes-sampornada,nãoqueremaprender!”.

Esteviveraescolaéprópriodaque-lesquegostamdoquefazemeaVeragostavamuitodeensinar,deaprender,de criar. Percebia-se que profissional-mentefaziaoquemaisgostava.Comasuaposturaeleganteealgotímida,numsorriso quente conseguiu mostrar-mequeaperfeiçãonãoexistemascomonossorigorpodemostentarencontrá-la.

LuísaMarques

AVeranabiblioteca

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criação e a relação com os objec-toscriados;oconfrontodoartistaeda obra como público; a crítica, omercadoeaobraquesobreviveaotempo”. Do princípio, Do aprender,Dofazer,Domostrar,Docriticar,Dovendere,porfim,Daposteridade.

Vera Castro foi co-autora dotexto e da dramaturgia deste es-pectáculo paralelamente com JoséWallenstein, com quem teve umaincontornável parceria nas artes enavida.JoséWallensteinreferiunu-maentrevistarecenteacercadesteespectáculo“(…)podedizer-sequefoiumespectáculodeVeraCastro,emqueeurealmentefizaencena-ção de uma ideia dela, e de umadramaturgiaqueelaconstruiu,edeumainvestigaçãoqueelafez.”

ParaVeraCastroesteespectá-culo foiumdosquemaisaempol-gou,umavezquecriouumaideiaderaiz,eumtexto,dosquaisasuace-nografia e figurinos surgiram comoconsequêncianaturaleinevitável.

Da Posteridade é a sequênciafinal deste espectáculo. Estou cer-tadeque,damesmaformaqueasimagenscriadasporVeraCastrofi-caramgravadas indelevelmente nanossa memória, também o talentoeasensibilidadesingularesdasuaobraperdurarãoparaaposteridade.

Obrigada,queridaVera.Atélogo!SusanaSantosSilva

Daquiloquesefaznointervalo

FigurinodeDamadeHonor

FigurinodeFada

PARALELAMENTEcomoensinodapinturaVeraCastrofoidesenvolven-dooseupercursocomoartistaplás-tica.Noanode1982,foiconvidadapeloencenadorAlbertoLopes(apóster visto alguns dos seus quadros)para fazer a cenografia e figurinosparaoespectáculoReiRamiro.Es-tetrabalhofoidetalformamarcantequelogoseseguiramoutrosconvitestendovindoacriarcenografiase/oufigurinosparadiversosencenadorescomoFilipeLaFéria,MárioFelicia-no,NunoCarinhas,JorgeListopad,João Lourenço, Adolfo Gutkin, RuiMendes, Miguel Guilherme e JoséPedro Gomes, João Canijo, JoséWallenstein, Ana Tamen, RicardoPais,entreoutros.

Vera Castro criou uma lingua-gem plástica própria e tornou-senuma das expressões artísticasmais emblemáticas e requisitadasda cenografia portuguesa dos úl-timos anos. Foi, também, respon-sávelpelacriaçãodeumaestéticavisualpatenteemmaisdecinquen-ta espectáculos de teatro tendo-seestendidoaindaàóperaeàdançacontemporânea.

Poderíamos falar deVeraCas-tro artista plástica, figurinista oucenógrafa, e dentro destas duasúltimas categorias, nomear inúme-rosespectáculosassinadosporelaondeamarcadasuarefinadasen-sibilidadeartísticasefeznotar,mas

como,paraVeraumacenografiabemconseguidaeraaquelaqueresultavade um trabalho cúmplice e parale-lo comoencenador, noqual não sepoderiam distinguir as fronteiras dacriação,gostariadereferiraquelequedetodososespectáculosmaisserveessepropósito:ENoIntervaloFaz-seQualquerCoisa.

O título deste espectáculo surgedeumacélebre frasedeFrancisBa-con“Nasce-se,vive-seemorre-se,e,no intervalo, faz-se qualquer coisa”.Este espectáculo para além de umafortíssima imagem plástica e de um“esplêndidocenário(…)quecriacomo seu trabalho o equivalente drama-túrgicodaobradeartedequesefalaotempotodo(…)”,éconsubstancia-

do por uma necessidade que partiudaprópriaVeraemconjugarquestõessobrepinturaeartesplásticas,servin-do-sedoteatroparaquestionaraarte,asuagéneseeosseusfazedores.

A sua construção teve por basetextosdouniversodasartesplásticas,comoensaios,entrevistasoulendas,“(…)que funcionaramcomomaterialtextual ou ponto de partida para si-tuações cénicas”. O cenário, repletodereferênciasimagéticas,épovoadoporpersonagenssaídasdaspinturasdereferência(deBruegel,aChirico),coabitandocomarepresentaçãofísi-cadosprópriosartistas(PaulaRêgo,Matisse,Bacon).Asuaestruturadra-matúrgica assenta na reflexão sobremomentos importantes do processodecriaçãoartística.“Aorigemdapin-tura,aaprendizagem,osmétodosde

“A verdadeira obra de arte, separada do artista, adquire vida própria e converte-se numa personalidade, num sujeito independente, um sujeito vivo com existência

real – um Ser.” Wassily Kandinsky

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até um tanto fechada, Vera Castroera uma mulher muito corajosa edeterminada. Desadequada, artis-ticamente, num curso (RealizaçãoPlástica do Espectáculo) marcado,durante décadas, por um tremendofechamento à contemporaneidade,Vera Castro impunha-se a alunos e

colegaspelasuaobstinaçãoedeter-minaçãodecarácter.Nãosecalavaperante as injustiças e ataques enuncafugiaacumprirosseusdeve-resdecamaradasolidária.

Tínhamos o nosso código deconduta e de entendimento. Sinto-asempre queme sento nomeu lugarda Sala deProfessores sob a égidedeAlmeidaGarrett.Precisava– cer-

VERACastro(1946-2010)entroudesupetão na minha vida de espec-tadora nos primeiros anos do meupercursodecríticade teatronose-manárioExpresso.Fezdiferençanaeducaçãodomeuolharmostrando-meuma imaginaçãopujantedeco-reseformasestilizadase,deespec-táculoparaespectáculo,foipossívelseguir-lheoirromperdeimagensdegrandeintimidade.

Dois espectáculos poderiam ba-lizar essa descoberta. O primeirofoi Amor de Perlimplim com Belisaemseu Jardim, creio queem1987,noACARTE da Fundação CalousteGulbenkian. Era a primeira encena-ção de Nuno Carinhas e, verdadeseja dita, nunca mais esqueci esseespectáculo seminal. O imagináriodos dois artistas-pintores casava-seaínumarevisitaçãodeLorcamarca-da,plásticaesemiologicamente,porum desassombro pós-moderno, porum ludismo simbólico (verde, cinco,terra, o leque, facas, roda de afiar,etc.) literariamente referencial mas,sobretudo,deprofundasconotaçõespsicanalítico-ideológicas.

Ooutroespectáculo,ENo Inter-valo Faz-se Qualquer Coisa, reali-zou-se noTeatro doBairroAlto, em1998.Esseespectáculomostrou-mequalquercoisaqueelagostoumuitoque eu tivesse compreendido: VeraCastroeraaliumaautoraapartein-teira e pude inscrevê-la com toda ajustiça no livro que publiquei nesseano,MulheresqueEscreveramTea-tronoSéculoXXemPortugal(Lisboa,Colibri).Eparaessemesmolivromecriouelaumacapa,sobreumafoto-grafiadeoutroespectáculoseu,comduasfigurasfemininas,umadelas,aactrizIsabeldeCastro.(Ovolumeláestava–ficouparaoRui-naestan-tedoseuatelierquandofuirecolherlivrosseusqueafamíliagentilmentemeofereceueàEscolaSuperiordeTeatroeCinema).

MinhacolegadaEscolaSuperiordeTeatro desde o início da décadade 90, Vera Castro mostrou-me as-pectosmuitotocantesdasuaperso-nalidadepoucoconspícua.Tímidae

AminhaVera

“O talento é como um prego no fundo de um saco:

sacode-se e tem de sair alguma coisa”

(Vera Castro para os alunos)

tamentequeocorpoa informavadeperdadeforçasquenãoentendia–dese reformar,epodia fazê-lopois tra-balhavadesdeosdezoitoanos,massofreutremendamenteporabandonaraEscolaeosseusestudantes.Acartaquenosescreveuédeumaprofundatristezaetenhodificuldadeemareler.

Vera Castro era respeitada eadmiradacomoartistae,nosúltimosanos, retomou a arte da pintura. ÉtremendaasuacolecçãodequadrossobreFigurinos (“Ent[re]idades”), ob-jectos sem corpos dentro com umadimensão fantasmática que, se nosrecordarmosbem, estavaemmuitosdosseusfigurinosecenografias.

Perdi recentemente, e o teatrotambém, duas pessoas importantesda minha vida: o meu irmão JorgeVasques (1950-2009) – que gostavamuito da Verinha - e a Vera Castro,minhacolega,cúmpliceecompanhei-rade trajecto.Fizemosconfidências,trocámos risose lágrimas,enãomeconformocomestasperdas.

EugéniaVasques

Figurinode"Napalmadamão" Figurinode"Napalmadamão"

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Parar para Pensar

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A Grande Entrevista

InquéritoaestudantesémecanismoamplamentedivulgadonaEuropa

Interveniente activo do processo demodernização do ensino superior, enquantoconsultordaAgênciadeAvaliaçãoeAcreditação,SérgioMachadodosSantosdizque os estudantes, as famílias e os empregadores devem ser encarados comoconsumidores,cujadefesapassapor “umamelhor informaçãosobreaqualidadedasformaçõesoferecidas”.LembrandoqueosinquéritosaosalunossãoumadasfórmulasemvoganaEuropa,ocatedráticosugerequeoscursosqueapresentemdeficiências,quenãopossamsercorrigidasemtempoútil,deverãoserencerrados.

Entrevista conduzida por Vanessa de Sousa Glória l Fotos de Sofia Guerra

SérgioMachadodosSantos,consultordaAvaliação

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A Grande Entrevista

SÉRGIO Machado dos Santos éprofessor catedrático aposentadoe reitor honorário da UniversidadedoMinho,ondepresideoConselhoExecutivodaFundaçãoCarlosLloydBraga.Actualmentetemsededicadoà investigaçãodepolíticasdoensi-nosuperiorsendoautordediversosestudoseco-autordealguns livros.No ano passado publicou, em for-mato electrónico, o estudo AnáliseComparativa dos Processos Euro-peusparaaAvaliaçãoeCertificaçãodeSistemasInternosdeGarantiadaQualidadeePercursodaFormaçãoContínuadeProfessores:UmOlharAnalítico e Prospectivo. Foi aindaautordeoutraspublicações:ReviewoftheQualityAssuranceandAccre-ditationPoliciesandPracticesinthePortugueseHigherEducation(CNA-VES,2006),eAmbiçãoparaaExce-lência−AOportunidadedeBolonha,(Gradiva,2005).

Naáreadaavaliaçãoeacredita-ção tem desempenhado vários car-gos de relevo a nível nacional e in-ternacional.De1994a2008presidiu,por designação governamental, aoConselho Científico-Pedagógico daFormaçãoContínua,oórgãodeacre-ditaçãodeacçõesdeformaçãocon-tínuae formaçãoespecializadapara

Oembaixadordaavaliaçãoeacreditação

professoresdosensinosbásicoese-cundário.De1998a2007foimembrodoConselhoNacionaldeAvaliaçãodoEnsinoSuperior(CNAVES).Represen-touPortugalnaEuropeanAssociationforQualityAssuranceinHigherEduca-tion(ENQA)de2000a2006.MembroVitalíciodaInternationalAssociationofUniversity Presidents (IAUP), SérgioMachadodosSantos integraogrupode peritos do Institutional EvaluationProgramme dirigido pela EuropeanUniversityAssociation.

Membro Conselheiro da Ordemdos Engenheiros, Doutor HonorisCausa pela UNIVALI, no Brasil, oprofessorfoi,em1995,condecoradocomaGrã-CruzdaOrdemdeInstru-çãoPúblicae,em2002,comaGrã-CruzdaOrdemdoInfante.

Licenciou-se em EngenhariaElectrotécnica na Universidade doPorto. Émestre em Electrónica Di-gitaledoutorou-seemSistemasdeControlopelaUniversityofManches-terInstituteofScienceandTechnolo-gynoReinoUnido.

Foi nomeado professor catedrá-ticodeCiênciasdaComputaçãonaUniversidadedoMinhoem1979car-goquedesempenhouaté2002.Foio reitor desta universidade durantemais de dez anos (1985 a 1998).PresidiuoConselhodeReitoresdasUniversidadesPortuguesas,de1991a1998,e,durante trêsanos,assu-miuapresidênciadaConfederaçãodosConselhosdeReitoresdaUniãoEuropeia (1999-2001). Membro doConseil Universitaire Jean Monnet(1996-2007), presidiu a comissãoinstaladoradaEscoladeCiênciasdaSaúdedaUniversidadedoMinhoefoiPresidentedoConselhoGeraldaFundaçãodasUniversidadesPortu-guesas(2001-2009).

POLITECNIA – As preocupaçõescom a garantia da qualidade doensino superior só começaram aganhar relevono iníciodadécadade90.Porquêsóentãoesobqueformas?SÉRGIOMACHADODOSSANTOS–Estaquestãotemavercomasmodifi-caçõesradicaisqueseverificaramnaenvolventedoensinosuperiornoúlti-moquarteldoséculopassado.Essasmodificações tiveram, entre outrosefeitos, o de levantar preocupaçõessériasemrelaçãoàgarantiadaquali-dade,tantonointeriordasinstituiçõescomoporpartedasociedade.POL.–Umnovodesafio?S.M.S.–Narealidade,as instituiçõesviram-seconfrontadascomnovosde-safioseexpectativas,nomeadamente

o problema de como conseguirman-ter qualidade face a um crescimentoexplosivo, e por vezes descontrola-do, sentindo de forma crescente anecessidade de olhar de uma formamais institucionalizada para a qua-lidade. Na prática, verificou-se que,comograndenúmerodealunose ocrescimento muito rápido dos corposdocentes,atradiçãodeexigênciaeri-gordiluiu-seedeixoudesersuficienteparagarantir,deformaimplícita,aqua-lidadeinerenteaoensinosuperior.Porsuavez,doladodasociedade,oscan-didatosaoensinosuperior,asfamíliaseosempregadores,faceaumagran-dediversificaçãodaofertaeatécnicasdemarketingporvezesagressivo,co-meçaramasentirnecessidadedeumamelhor informação sobre a qualidade

dasformaçõesoferecidas,levandoosgovernosatomarmedidasnosentidoda‘defesadoconsumidor’.POL.–Foiessetipodepreocupa-çõesquelevouàcriaçãodossiste-masdegarantiadaqualidade?S.M.S. –Foi.Começarama ser ins-tituídossistemasdegarantiadaqua-lidade, assumindo formasdiferencia-das, nomeadamente em termos doschamados ‘processos de avaliação’,que predominaram na Europa Oci-dental, e dos ‘processos de acredi-tação’, desenvolvidos por exemplonaEuropadeLeste,aproveitandodavastaexperiênciadosEstadosUnidosdaAméricanestedomínio.Gostaria de salientar que avaliaçãoeacreditaçãotêmobjectivoscomple-mentares, em ambos os casos com

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posteriormente a aderir as demaisinstituiçõesdeensinosuperior.Osu-cessodessainiciativa,emtermosdoimpactoquetevenointeriordasinsti-tuições,ficoubempatentenorelatóriode auto-avaliação do sistema portu-guêsdeavaliaçãopreparadoem2006para efeitos da avaliação promovidapelaENQA.

POL. – É essa a posição que temvindoaserconsideradanoâmbitodoProcessodeBolonha?S.M.S. – É. Lê-se, por exemplo, noComunicadodeBerlimque,emcon-formidadecomoprincípiodaautono-mia institucional, a responsabilidadeprimáriapelagarantiadaqualidadenoensinosuperior resideemcadaumadas instituiçõesemsimesma,oqueconstituiabaseparauma responsa-bilização real do sistema académicodentro do quadro nacional de quali-dade.Verifica-se,consequentemente,umesforçoconsiderávelnoseiodasinstituiçõesnosentidodaconcepçãoe instalaçãodesistemas internosde

Em termos de efectiva melhoria dos sistemas de

ensino superior, há dúvidas sobre se o esforço financeiro

dispendido compensa realmente

um considerável interesse social.Efectivamente, enquanto a avalia-ção,tendoemvistaamonitorizaçãoemelhoria constante daqualidade, re-presentaoquesepoderáconsiderarcomoafunçãomaisnobreedemaiorimpacto na comunidade, que é a dapromoçãodaqualidadedasactivida-des de ensino, investigação, acçãoculturaleacçãonomeioexteriorde-senvolvidas no seio das instituições,aacreditaçãovisaagarantiadecum-primentodos requisitosmínimosqueconduzem ao reconhecimento oficialdocursoouinstituiçãoavaliados.POL.–Umadualidadedecritérios.S.M.S. – Uma dualidade, que ini-cialmente existiu entre os processosde avaliação e de acreditação, masque tem vindo progressivamente aesbater-se. É hoje razoavelmenteconsensualqueavaliaçãoeacredita-çãosãoprocessosindissociáveis.Narealidade, faria pouco sentido que oprocesso de avaliação, ao transmitirpublicamenteumamensagemsobreaqualidadedeumainstituiçãooucurso,não identificasse de forma objectivaoscasosemqueoscritériosmínimosdequalidadesubjacentesàacredita-çãonãoestejamcumpridos.Porsuavez,aacreditação,porsisó,forneceàsociedadeumainformaçãoqueéim-portante,mas insuficiente, dado queum curso pode cumprir os critériosmínimosdequalidadeparaoseure-conhecimento,masserdequalidaderelativamente baixa.Por essa razão,osprocessosdeavaliaçãotendemac-tualmente a conciliar dois propósitoscomplementares:amelhoriacontínuadasinstituiçõeseaprestaçãodeinfor-maçãofidedignasobreoseudesem-penho(funçãode“accountability”).POL. – As instituições de ensinosuperiortêmassumidoaresponsa-bilidadepelaqualidadedasuaofer-taformativa?S.M.S.–Aresponsabilidadepelaqua-lidade e a garantia da qualidade noensino superior reside, em primeirolugar, nas próprias instituições. Asuniversidades portuguesas assumi-ram claramente este princípio quan-do, em1993, tomaramelas própriasainiciativadelançarumprogramadeavaliaçãodinamizadordeumacultu-rainternadequalidade,aquevieram

garantia da qualidade, como é evi-denciadoporexemplonodocumentoTRENDS 2010 dado a conhecer nopassadomêsdeMarço.POL.– Oestabelecimentodesis-temasinternosdegarantiadaqua-lidade é obrigatório em todos ospaíses?S.M.S. – Com a adopção dos pa-drões europeus para a garantia daqualidade na Cimeira Ministerial deBergen, em 2005, e a consequentetransposição desse referencial paraos sistemas jurídicos nacionais, aobrigatoriedade do estabelecimentodesistemas internosdegarantiadaqualidade é uma realidade na tota-lidade dos países que aderiram aoProcessodeBolonha.EmPortugal,avertentedaavaliaçãointernaétrata-danoartigo147.ºdoRegimeJurídicodas Instituições deEnsinoSuperior,ondesedefinequeasinstituiçõesdeensino superior devem estabelecer,nos termosdos seusestatutos,me-canismos de auto-avaliação regulardoseudesempenho.POL.–Quaissãoascaracterísti-cas básicas para esses sistemasinternos?S.M.S.–Emprimeirolugar,maisdoqueumexercícioburocráticodecon-trolo e verificação de conformidadecom orientações externas, a avalia-çãointernaéessencialmenteumpro-cesso permanentemente orientadoparaamelhoriacontínuadaqualida-de.Comotal,envolveprocedimentosdemonitorizaçãoecontrolo,mastam-bémdereflexãoeposteriorinterven-ção. Pressupõe o acompanhamentosistemáticodasdiversasactividades,o levantamento de dados e a cons-truçãodeindicadores,i.e.,incluiumadimensãodemensurabilidadequeéessencialparaacredibilidadedopro-cessodeavaliação,paraoestabele-cimentodebenchmarkingseparaareflexão posterior sobre os elemen-tosdeacompanhamento recolhidos,reflexãoessadaqualdeverãoserex-traídasconclusõeseconsequências,expressasempropostasdemedidasdeadaptaçãooucorrecção,parame-lhoriadeprocessoseresultados.Poroutraspalavras,aavaliaçãoenvolveumprocessoderetroacçãoparame-lhoriadaqualidade.

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poderão ser os maiores inimigos deuma verdadeira cultura para a quali-dade.OprogramaAUDIT,decertifica-çãodossistemasinternosdegarantiada qualidade, é cumulativo com osprogramas VERIFICA e ACREDITA,correspondentesàacreditação inicialeà reacreditaçãoperiódicade todososcursos,oquenãoparececorres-ponderaoquesecomeçaaidentificarcomopráticasrecomendáveisaníveleuropeu.POL.–Queéqueestudanteseso-ciedade vão ganhar com a imple-mentaçãodeumsistemadequali-dadenoensinoportuguês?S.M.S.–Entreaspessoasquesetêmdedicadoaoestudoemprofundidadedestastemáticascomeçaaformar-se

aideiadequefrequentementesepro-curatirardossistemasdegarantiadaqualidade, principalmente por partedopoderpolítico,maisdoqueaquiloqueessessistemaspodemdar, i.e.,colocam-se expectativas irrealistasnosprocessosdeavaliaçãoexternacomo se aí residisse uma panaceiaparaaqualidadedoensinosuperior.Nãoquer istodizerqueumsistemade garantia da qualidade bem con-cebido não possa ter efeitos muitobenéficos para a qualidade, em es-pecialseoseufocoseorientarmaispara aspectos demelhoria contínuadoquepara aspectos de controlo econformidade. Pessoalmente, pen-so que a aplicação de um ciclo deacreditação conduzido com rigor ecomasconsequênciasdevidaséal-tamente benéfico, por permitir iden-tificar e corrigir ou expurgar casosde qualidade deficiente que se temconsciênciadequeexistemmasnun-ca foramencaradosa sérionopas-sado.Aacreditaçãoconstituiumselode conformidade compadrões basedequalidadeesimultaneamenteumaforma de persuasão junto das insti-

degarantiadaqualidade,quepodein-cluiraavaliaçãodealgunscursosporamostragem.EmPortugal,osistemaestabelecidopelaLein.º38/2007se-gue uma tendência que se verificouem diversos países da Europa Oci-dentalapartirdoiníciodadécada,deintroduçãodaacreditaçãodecursos,masemrelaçãoaoqualsetêmvindoaverificaralgunsmovimentossignifi-cativosdeafastamento,afavordesis-temasmaislevesemotivadoresparaainovaçãoeacriatividadenointeriordas instituições.A intençãodaAgên-ciaA3ESde,apósafasecorrentedeacreditação de todos os cursos emfuncionamento, instituir um modelomais simplificado de acreditação poramostragem em relação às institui-

çõesquevenhamaterosseussiste-masinternosdegarantiadaqualidadecertificados através de um processodeauditoriainstitucional,seguenessebomcaminho,perspectivandoumsis-temanacionalresponsabilizanteparaasinstituiçõeseorientadoparaame-lhoriacontínuadaqualidade.POL. – A Espanha, onde desde1981osalunospreencheminquéri-tospara avaliar o graude satisfa-çãocomoensino,éumexemploaseguir?S.M.S.–EmPortugalhá instituiçõesque começaram a instituir os inqué-ritosaosestudantesno iníciodadé-cada de 90, pelo que se dispõe jánopaísdeumapreciosaexperiêncianestedomínio.ActualmenteemEspa-nhaasinstituiçõesdeensinosuperiorvêem-seconfrontadas commecanis-mos múltiplos de avaliação externa,tanto a nível institucional como doscursos considerados individualmen-te, num sistema que, ameu ver, setorna pesado. As universidades es-panholas têm aderido bastante bema esses mecanismos, mas existe orisco de cansaço e rotinização, que

POL. – A avaliação interna incidesobre todas as actividades e ele-mentosdainstituição?S.M.S.–Todas:oensino,após-gra-duação, a investigação, a extensãocomunitária, bem como os agentesenvolvidos. A avaliação deve envol-veractivamente todososactores re-levantes, numprocesso comsentidode responsabilidade colectiva, comoalgoquediz respeitoa todosea to-dosenvolve.Nãomenos importante,oprocessodeavaliaçãointernadeveobedecer a uma política institucionalparaagarantiadequalidadeeseguirprocedimentos devidamente institu-cionalizados. Quer isto dizer que aavaliação interna não é compatívelcomprocessosadhoc,exigindo,pelo

contrário, procedimentos pré-defini-doseestruturasdeapoioadequadas.POL.–Oqueseesperadosestu-dantesedascomunidadesinternasnestecaminharpelaqualidade?S.M.S. – Como se referiu atrás, es-pera-se um envolvimento activo eempenhado, que é fundamental pa-raa interiorizaçãodeumaculturadequalidadequepermeietodoofuncio-namentodainstituição.POL.–Osistemaportuguêsparaagarantiadaqualidadeémuitodife-rentedoquesepraticaemoutrospaíseseuropeus?S.M.S. – Apesar das orientaçõesgerais estabelecidas pelos padrõeseuropeus, verifica-se uma enormediversidade de abordagens entrepaíses, desde sistemas de controloexterno muito estrito, nomeadamen-te nos países em que é obrigatóriaa acreditação individual dos cursosconducentes a grau, a outros siste-mas orientados predominantementeparaamelhoriadaqualidadedoen-sino superior, em que, tipicamente,é efectuada uma avaliação externa(certificação) dos sistemas internos

Se alguns dos cursos em funcionamento, agora submetidos a acreditação, apresentarem deficiências que não possam

ser corrigidas em tempo útil, designadamente quanto à qualificação do corpo docente, então esses cursos deverão

ser encerrados

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riosmínimosdequalidadeexigíveis,masqueamanter-sesemalteraçõesapós esse ciclo traria poucasmais-valias face ao esforço exigido. No

entanto, obomsensoexpressonasintençõesmanifestadaspelaAgênciaA3ES a este respeito faz pressuporquealegislaçãoseráinterpretadadeformaflexível,paraquesenãodes-perdicemesforçoserecursosemca-sosdequalidadecomprovada.

tuiçõesdeensinosuperiorparaumaauto-contençãodasuaofertaforma-tiva face às condições ambientaisexistentes, nomeadamente no querespeitaarecursoshumanosqualifi-cados.Umoutroaspecto importanterespeita à qualidade da informaçãodisponibilizada pelas instituições,quepassaráaserapoiadaporproce-dimentosinternosdevidamenteinsti-tuídosemelhorcontrolada.POL. – A legislação nacional doensino superior está adequada àsexigênciasdaqualidade?S.M.S.–Oquadronormativonacio-nal segue de perto os padrões eu-ropeusparaagarantiadaqualidadenoensinosuperior,comavantagemde ser mais abrangente, ao incluira totalidade damissão institucional,dadoqueospadrõeseuropeusape-nas cobrem a dimensão do ensino.O sistema nacional de garantia daqualidade assume como filosofiade base a acreditação de cursos, oque, como se disse anteriormente,épositivoparaumprimeirociclodeavaliações, que faça uma triagemabrangente dos cursos existentes,contribuindo para a eliminação dosque não consigam cumprir os crité-

POL. – O Regime Jurídico dasInstituições de Ensino Superioraborda com especial atenção osprincípiosdaTransparência, Infor-maçãoePublicidade,traduzindoapreocupaçãocomumainformaçãoconstanteeactualizadaaopúblico.Estessãoaspectosrelevantesparaaavaliaçãointerna?S.M.S.–Essapreocupaçãoprende-secom a função de “accountability” an-teriormente referida. Com a massifi-cação que se verificou no acesso aoensino superior, expressa na diversi-ficação das formações, tanto de gra-duação como de pós-graduação, nadiversificação institucional, comode-senvolvimento do ensino politécnicoe do sector privado, bem como nasnovas expectativas que a sociedadepassou a colocar no ensino superiorenquantoprocuradeformaçãonãosópara elites,mas também, e principal-mente,paraoexercíciodeumacida-daniaactivanocontextodasociedadedo conhecimento, é fundamental queas instituiçõesdisponibilizem informa-çãoactualizada,imparcialeobjectiva,tanto quantitativa como qualitativa,acercadoscursosegrausoferecidos,oqueconstitui,aliás,umdossetepa-

SérgioMachadodosSantos:"Oscandidatosaoensinosuperior,asfamíliaseosempregadores,(…)começaramasentirnecessidadedeumamelhorinformaçãosobreaqualidadedasformaçõesoferecidas(…)"

A independência das Agências é um requisito indispensável para a sua

participação na ENQA

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A Grande Entrevista

easinstituições,nomeadamentecomvistaàmelhoriadosmodelosdeava-liaçãoeaoapoioàsinstituiçõesparaatarefacomplexadeassumiremelaspróprias a responsabilidade, em pri-meiro lugar, pela sua qualidade. EmPortugal,nãosóatravésdoConselhoConsultivodaA3ES,ondeasinstitui-çõesestão representadas,mas tam-bém,eprincipalmente,pelaaberturaquetemsidodemonstradapeloCon-selhodeAdministraçãodaAgência,oclimadecooperaçãoediálogopare-

ce-meserfrancamentepositivo.POL.–Oquevaiaconteceràsinsti-tuiçõesquerecebamnotanegativanaavaliação?S.M.S. – Estou convicto de que aAgência vai privilegiar a indução damelhoria do sistema, apontando àsinstituições os aspectos a corrigir,dentrodeprazosrazoáveisedeme-canismos de acompanhamento rigo-rosos.Contudo,sealgunsdoscursosemfuncionamento,agorasubmetidosaacreditação,apresentaremdeficiên-cias que não possam ser corrigidasemtempoútil,designadamentequan-

to à qualificação do corpo docente,então esses cursos deverão ser en-cerrados.Questãodiferenteéaacre-ditaçãodenovoscursos,emqueseráfundamental que sejam cumpridos àpartidaosrequisitosdequalidadele-galmenteexigíveis.Masestouconvic-toqueamaioriadasinstituiçõesvão,elas próprias, assumir uma posiçãode auto-contenção, não submetendoà acreditação cursos que não cum-pramosrequisitosnecessários.POL. – Não receia que o sistemainterno de qualidade se resuma aummero exercício burocrático decontrolo?S.M.S.–Esse riscoexistesempre,énecessário evitá-lo. Por isso mesmo,osreferenciaisparaossistemasinter-nos que foram recentemente coloca-dosemdiscussãopúblicasãosuficien-temente abertos para não induziremabordagens de mera conformidade,desafiandoasinstituiçõesàcriativida-deeinovaçãonodesenvolvimentodosseus sistemas internos de qualidade,adaptadosàculturaprópriadainstitui-ção.Oenvolvimentoempenhadodascomunidades académicas é funda-mental para queo sistema tenha co-mofinalidadeessencialaassunçãodeumaculturainternadequalidade.POL.–Algumas instituiçõesestãojáaaderirasistemasdequalidade.ÉocasodoIPLjácertificadopelaNormaNPENISO9001:2000.Seráistomeiocaminhoandado?S.M.S.–Hájábastantecaminhoper-corridopelasinstituiçõesportuguesas,de formadiferenciada,oquesóenri-quece o sistema, mas de um modogeral as abordagensà garantia inter-na da qualidade não são ainda sufi-cientemente integradas, por forma aconstituírem um verdadeiro sistema.As instituiçõesdevemdesenvolverosseussistemasinternosdequalidadeapartir das valências já desenvolvidase testadas, aproveitando os padrõeseuropeus e os referenciais nacionaisqueestãoemconstruçãoparacomple-tarememelhoraremosseussistemas.POL. –Aquemcompete sensibili-zarosdecisorespolíticosparator-naremosprocessosdegarantiadaqualidademaisflexíveis?S.M.S.–OposicionamentodaAgên-ciaé fundamentalaesse respeito,e

drões europeus aplicáveis aos siste-masinternosdegarantiadaqualidade.POL.–Dequeformaéqueasins-tituiçõesvãopoderverificaracom-petênciadosdocentes?S.M.S.–Ummecanismodeavaliaçãoda prestação docente amplamente di-vulgadonas instituiçõeseuropeiaséodaaplicaçãodeinquéritosaosestudan-tes.Comodissehámomentos,emPor-tugalesses instrumentosdeavaliaçãocomeçaramaserusadosemPortugalno início dadécadade90, nomeada-mentenaUniversidadedoMinhoenoIST,queforampioneirosaesserespei-to.A análise do aproveitamento esco-lardosestudanteseaavaliaçãopelospares efectuada nas provas académi-cas previstas no Estatuto da CarreiraDocente contribuem igualmente parauma apreciação da competência do-cente. Os regulamentos de avaliaçãoindividualdosdocentes,queestãoaseradoptadospelasinstituiçõesdeensinosuperior,irãoseguramentevalorizares-sesaspectos,apardeoutrosquesãorelevantes para o conteúdo funcionaldasdiversascategoriasdacarreira.POL. – Porque razão os procedi-mentosdeavaliaçãodosobjectivosde aprendizagem dos estudanteslevammaistempoaimplementar?S.M.S. –Porquenãohavia uma tra-diçãonessesentido,aavaliaçãocen-trava-semaisnaaquisiçãoecapaci-dadedeutilizaçãodeconhecimentosenãotantonaaquisiçãodecapacida-des transversais,comooaprenderaaprendereoutrasdenaturezapesso-ale interpessoalquesãohojemuitomais valorizadas pelos empregado-res.AsreformasdeBolonhaavança-ram bastante nos aspectos formais,como seja as estruturas de graus,masosprogressosna reformacurri-cularestãoaserbemmais lentos.Aquestãodosobjectivosdeaprendiza-gemvaiseroaspectocentraldoBo-lonhaII,numaagendaparaumanovadécada,até2020.POL. – As instituições de ensinosuperior e asAgências vão traba-lharemconjunto?S.M.S.–Umadasboaspráticasquese temvindoa identificar emmuitospaíses europeus, no que respeita àgarantiadaqualidade,éapreocupa-çãocomodiálogoentreasAgências

A obrigatoriedade do estabelecimento de sistemas

internos de garantia da qualidade é uma realidade

na totalidade dos países que aderiram ao Processo de

Bolonha

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A Grande Entrevista

felizmente a Agência A3ES defendeuma flexibilidade e significativa sim-plificação de processos a partir doprimeiro ciclo de acreditações, queficará concluído em finais de 2011.Mas as instituições devem tambémserpró-activasedemonstrarquesãoeficazes no seu controlo interno dequalidade, através de mecanismosqueoptimizemaaplicaçãode recur-sos e promovam continuamente aqualidade.POL.–Aqualidadeécara?Oesfor-çofinanceiroenvolvidocompensa?S.M.S.–Aqualidadeénaturalmentecara, e osmecanismosdegarantiada qualidade, tanto internos comoexternos,sãoigualmentecaros.Emtermosdeefectivamelhoriadossis-temasdeensinosuperior,hádúvidassobreseoesforçofinanceirodispen-dido compensa realmente, o efeitomais imediatodasacreditaçõeses-tá na garantia do cumprimento dosrequisitos mínimos exigíveis. Se oesforço for colocado predominante-mente no interior das instituições,atravésdoapoioaodesenvolvimen-to de sistemas internos orientadospara amelhoria contínua, aliviandoconcomitantementeacargadeava-liação externa, os resultados serãoem princípiomais positivos em ter-mosdeumamelhoriaefectivaesus-tentável. Na prática, preconiza-secentrar nas instituições o esforço

financeiro para a garantia da quali-dade,comaconsciênciadequeasestruturas e processos de garantiainterna da qualidade exigemmeiosfinanceirosconsideráveis.POL.–AoseremfinanciadaspelosEstados as Agências não perdemautonomiaeindependência?S.M.S. – A autonomia e indepen-dência da Agência não se joga a

níveldofinanciamento,massimemoutros aspectos, como o facto deos membros dos órgãos da Agên-cia serem inamovíveis durante osseus mandatos e, principalmente,na independência da Agência nanomeação dos membros das equi-pasdeavaliação,seminterferênciasdasinstituiçõesoudopoderpolítico,e a independência dessas equipasnaformulaçãodosseusjuízos.POL.–AindependênciadasAgên-ciasécertamenteumaquestãoim-portante?S.M.S.–AindependênciadasAgên-cias é um requisito indispensávelpara a suaparticipaçãonaENQAeaquestãodofinanciamentopeloEs-tado não tem comprometido a acei-tação dasAgências no seio dessesorganismos.Aliás,deacordocomosdadosdeuminquéritoefectuadoem2008, 78% dasAgências europeiassãomaioritariamentesuportadaspe-loEstadoe41%sãoexclusivamentesuportadasporfundospúblicos.POL. – As agências de avaliaçãotambémvãoseravaliadas?S.M.S.–Éfundamentalqueosejam,paradar o exemplo, dentro doprin-cípio “take your ownmedicine”. Es-te é, igualmente, um dos requisitosobrigatórios para a participação dasAgênciasnaENQAeparaoseure-gistonoEuropeanQualityAssuranceRegister(EQAR).

"Éfundamentalqueasinstituiçõesdisponibilizeminformaçãoactualizada,imparcialeobjectiva,tantoquantitativacomoqualitativa,acercadoscursosegrausoferecidos"

78% das Agências europeias são maioritariamente

suportadas pelo Estado e 41% são exclusivamente suportadas por fundos

públicos

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O Protagonista

48 Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Nopalcode todasasintervenções

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O Protagonista

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João BritesOrevolucionárioteatral

Possuinoolharaquelebrilhocaracterísticodaspessoasquevivememfunçãodeumideal.JoãoBrites,ofundadordogrupodeTeatroOBando,continuafielaosprincípiosqueo levaramaexilar-senaBélgicanosAnos60; transgressãopermanentedosmodelosvigentes.NaquintadeValedeBarris,emPalmela,oseuredutoactual,continuaarecriar-secomosempreofez,encenandoumteatrodiferentedosoutros.

Textos de Paulo Silveiro

OTEATROemqueapostaéaqueleque faça as pessoas reconhecer aarteemsítiospoucoconvencionais,equeasleveaencontrarasrespos-tasparaassuasprópriasquestões.Eéesseteatrodeconteúdosexplí-citose implícitosque transmiteaosseus alunos da Escola Superior deTeatroeCinema.

Artista plástico, cenógrafo, ence-nador e dramaturgista, João Britesdesdecedocomeçouarevelaroseucarácterdeintervenção.

Nasceu em Torres Novas em1947, filho de um pai que era mé-dico e de umamãe professora pri-mária,comdoisirmãosmaisnovos,um rapaz e uma rapariga, passoua infância no Cacém onde os paistrabalhavam.OliceufoifeitonoPe-droNunes, relembra as viagens nocomboioda linhadeSintra,aindaacarvão,ondeconheciamuitagente.Oseuapegoà terraeaossaberespopulares surgiu na infância, quan-dopassavaasfériasnosPimentéis,numa lezíriaemTorresNovaseviaomoinhodeáguadosavós.Ociclodaspedrasamoer a farinha, o ba-rulhodaáguaeoscheiros,desper-tavamneleumamagiasó igualávelno outro local onde passava férias,aNazaré.Aíeraomarqueo fasci-nava,opai,umaficionadopelapes-ca transmitiu-lheogosto,masparaJoãoBrites,apescaéumadesculpaparaestarhorasafioacontemplaromar.Adoracozinhar,principalmenteumamassadepeixe,aprecia igual-mentecomidaTailandesa.

Gostadeler,principalmentelite-raturaportuguesasemprecomoin-

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Ronda das Escolas

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O Protagonista

JoãoBritescomamãeem1948

NaBélgicaem1968

UMdiaJoãoBritesleunoDiáriodeLis-boa,comgrandeespanto,quetinhasidopreso.A notícia dava conta de que umtal Feliciano estava nasmãos daPide.Feliciano,era,defacto,oseupseudóni-moclandestinonoPCP,masquemtinhasidopresonãoeraele,masumcolegaseuque,comapenas15anos,aguentou

duranteseismesesatorturadapolíciapo-líticasemnuncaodenunciar.

Asuavezchegouporém.Foipresodu-ranteumamanifestaçãonacidadeuniver-sitária,levaram-noparaaprisãodeCaxias,ondepassouanoite,aísentiuomedodoquelhepoderiaacontecer.Foisóumsustolibertaram-nopelamanhã.

Nuncaenvolveuosseuspaisnassuasactividadesclandestinas,paraosproteger.

Em 1966 foi para a Bélgica comorefugiado político, viveu em Bruxelasonde frequentou os cursos de pintura egravura na Ecole Nationale Superieured’ArchitectureetdesArtsVisuelsde “LaCambre”.Aíviveodilemadeserumartis-tacomumalinguagemartísticaabstractacontinuandocomassuaspreocupaçõessociaisdemudança.

AsuavidaemBruxelaseradifícil,noprimeiro ano ainda foi bolseiro da Gul-benkian, depois a Pide descobriu queele era um refractário e cortou-a. Te-ve de ir trabalhar nas limpezas. Come-çou por fazer gravurasmas acabou porabandoná-lasporserumtrabalhosolitá-rio.Oseucarácterdeprovocaçãolevou-o a realizar umasgravuras abstractas acoresacompanhadasde textosdeMarxe Engels. Era uma figura muito conhe-cida nomeio académico, gostava de seapresentarcomoumpintorvindodePor-tugal,envergavaumacapadeestudanteesfarrapada e usava uma boina. ViveuintensamenteoMaiode68,participounaocupaçãodaescolaeprotestoucontraaguerradoVietname.ChegouaseractornaEscoladeCinemadeBruxelas,ondeconheceu uma aluna da área de teatro,aJacqueline,comquemcasou.Foicomelaqueiniciouumteatroparaa infânciade rua.Passoudagravuraparaaceno-

PrisãoemCaxiaseexílio

tuitodemontarumapeça.VêSaramagocomo um provocador, admira-o por serumapessoaquenuncaabdicadassuasconvicções. Do cinema relembra os ci-closdeFellini, IngmarBergmaneAnto-nionni,apreciaocinemaIranianoeRus-so. Gosta de viajar pelos sítios menosturísticos,gostoudaTurquia,gostavadeirà ÍndiaeaoOriente.Nãoé religioso,acreditanoHomemenasuacapacidadepara ultrapassar as dificuldades. Gostademeter as mãos na terra e de podarasoliveiras,otrabalhomanualajuda-oaserenaramentesempreemebulição.Éumhomemdegostossimples.Omelhorconvívioéàmesa,numaconversaani-madacomosamigos,acompanhadaporumaboarefeiçãoeporbomvinho.

Aos16anos,eramembrodopartidocomunistaelançavapanfletosnocimodo

elevador deSanta Justano1.º deMaiode1963.O feito chegoua ser noticiadona Rádio Moscovo. Foi recrutado peloPCP por pertencer ao grupo daqueles

quequestionavamaexistência deDeusequequeriammudarasociedade.Tam-bém o facto de participar em reuniõesclandestinasofascinava.

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O Protagonista

grafia, tendo começado a articular assuasconvicçõesestéticas,filosóficasepolíticas com a sua prática. Sentia-serealizadonasuafunçãosocial,aolidarcom as crianças, como educador dementalidades.Ficoudesconfiadoquan-do recebeu a notícia da revolução deAbril,lembra-sedeirparaopontomaisaltodacidadedeBruxelasouvirarádioemondascurtas.E foiaí,aoouvirascançõesdeZecaAfonso,queacreditouqueascoisastinhammudadoemPor-tugal.Decidiuvoltarcomafamíliaqueentretanto já tinha sido alargada comumfilhocomdoisanos,oNicolas.

Quando pisou a sua terra Natal aofim de oito anos de exílio absorveu aetnologia do fenómeno popular comouma fonte inspiradora para um artistacontemporâneo.Portugaleraummuseuvivo.Amemória colectiva do povo por-tuguês, conjugada com o ambiente detransgressão total que reinava levou-oa uma embriagues artística. Foi aí quenasceuOBando,emOutubrode1974,quenoinícioeraumteatrodeinterven-ção,orientadoparaosespectáculosdi-reccionadosparacrianças.ApartirdaquiopercursodeJoãoBritesfunde-secomogrupodeteatro.Andavamdeterraemterra, realizando espectáculos sobre ascooperativas,convivendocomaspesso-asdopaísrealeconvidando-asapartici-pareaexpressarassuasideias. JoãoBritesnaadolescência

NaBélgicaem1966 OpintorquefoidePortugalem1971

naBélgica

Anos passados sobre a prisão e oexílio, o destino pregou-lhe outra parti-da.Em1978oSecretáriodeEstadodaCultura, David Mourão-Ferreira, sus-pende-lhesosubsídiooqueosobrigaasediarem-seemVilaReal.Estafoiumaexperiênciamarcante,duranteseisme-ses viveram ao ritmo da comunidade,levantavam-se àmesma hora das pes-soasque iamparaoscampos.FoiaquiqueorganizaramosprimeirosJogosPo-pularesTransmontanos,emcooperaçãocomumconjuntodeassociaçõeslocais.Relembraahistórica chegadeboisemVilaReal, quemovimentoumilhares depessoas e que foi noticiada commuitoentusiasmo pelo Baptista Bastos. Es-te tipo de iniciativas deuaogrupoumagrandevisibilidade tendochegadoa re-ceberamedalhadacidade.

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O Protagonista

O Bando é uma cooperativa compostaactualmenteporvintepessoas.Estetipodeinstituiçõesestápraticamenteextinta,hojeexistemmaisempresaseassocia-çõesculturais.Pordetrásdetudoexisteumidealdecolectivismoquesefoimo-dificando ao longo do tempo. No iníciotodososelementoseramiguais,tinhamomesmosalário,discutia-semuitoese-guiam os mesmos ideais. Actualmenteparaalémdoscooperantes,quenãosãoobrigatoriamente assalariados, existeum conjunto de pessoas com funçõesespecíficasequenãoseintegraramnoidealdogrupo.

O órgão máximo da cooperativa é aassembleia-geraldoscooperantesquetempoder para destituir a direcção e aprovar

NoFestivalPercursos,em2002,noCentroCulturaldeBelém

Noensaiodoeventocomunitário,inseridonaFaroCapitaldaCultura,emQuerençanoanode2005

Um

O tipo de teatro desenvolvido pel' OBandofoialvodeumaconstanteevolução.Noinícioeraumteatropoucoexigenteemtermosestéticos, cujo objectivo era cons-

truir uma estética resultante do contactogenuínocomaspessoasecomascrian-ças.Continuouaserumgrupo itinerante,percorrendo várias localidades do país,

Em1975noespectáculo"OOvo",comJoãoMota

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O Protagonista

teatrosingularemprocessocolectivoprogramas.Existe igualmenteadirecçãoar-tísticaconstituídaporumconjuntodepessoasdeváriosquadrantescomoaarquitectura,amúsica,aesculturaoualínguaportuguesa.

JoãoBriteséolíderdestaequipa,odi-rectorartístico,masasdecisõessãotoma-dasdepoisdetodosseteremexpressado.

Umaquestãopeculiaréopreçodosbi-lhetes, existemescalões que seadaptamàspossesdaspessoas,sendoque todasficamsentadasnasmesmascondições.

NoseiodoGrupocontinua-seadiscutirorumoatomar,tendoemcontaqueofrutodoteatroésingularmasqueresultadeumprocesso colectivo. João Brites aposta nodesenvolvimento do colectivo, tudo o quesefizernofuturoseráconsequênciadotra-balhodoscooperantesd'OBandosempre

numprocessoaberto.Oencenadorassumequeoseutrabalhotemumaspectopolíticomasnãopartidário.Aartenãoéconsensualepodeserummeioparadespertarconsci-ências,eestaéasuadimensãopolítica.Aposiçãodoprofessordeveserade incutiraresponsabilizaçãosocialeadefesa,mo-mentânea,daquiloemqueacredita.

Apesardeterestadoligado,nasuaju-ventude,aopartidocomunista,actualmen-te vê-o como um ideal romântico. Houveumapercadereferênciaemrelaçãoàrea-lidadeconcretaporpartedosdirigentesdopartido.Acreditaqueàsvezesénecessárioexistirumcerto radicalismo razoávelparaqueascoisasestejamnosítiocerto,reco-nhecendoquenosúltimoscemanostodasas regalias sociais que foram sendo ad-

quiridaspelostrabalhadores,foramfrutodeumpensamentomarxista.Hojesentequetemumamentemaisaberta,apesardecontinuaradefenderocolectivismoeaajudaaosmaisdesfavorecidos.

Mas todoesteespírito, ondeopoderestádiluídonumgrupo,nãoimpedeJoãoBritesdereconheceradependênciad'OBandoemrelaçãoaoEstadoparaasobre-vivênciadoGrupo.Seosubsídiodeixardeexistirtêmquefecharasportas.Oprofes-sordaESTCentendequeoEstadodeve-riaapoiarmaisnaexportaçãodosgruposdeteatro,atéporqueseriaumaformaderentabilizaroqueinvesteneles.Narealida-deasparticipaçõesd'OBandoemeven-tosnoestrangeiroousãoporconvitedasorganizaçõesousãoporiniciativaprópria.

Em1975noespectáculo"OOvo",comJoãoMota

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ComaprimeiramulherJaquelineeofilhoNicolasem1975

ComamulherRosaeafilhaSofiaemTrás-os-Montesnoanode1985

DefériascomosfilhosSofiaeJoãoRafael,emSetúbal,noanode1993

semprecomgrandesdificuldadesemencontrar espaços para actuar, che-garam a estar instalados num auto-carrodaCarrisdedoisandares.

Finalmente, em 1984 foram paraa Comuna tendo ficado cinco anosnacasadoJoãoMota.Ogrupofoi-seconsolidandocomo tempo.Osseusespectáculos eram apreciados porcríticos como o Jorge Listopad, naalturapresidentedacomissãoinstala-doradaEscolaSuperior deTeatroeCinema, que resolveu convidar JoãoBrites,em1990,paraleccionarnains-tituição.O “artesão do teatro”, comolhechamavaodirigentedaescoladoInstitutoPolitécnicodeLisboa,hesitouporquequeriacontinuaroseupercur-so criativo.A solução passou por fi-caremtempoparcial.NoínicioJoãoBrites encontrou uma Escola, aindasediadanoedifício doConservatórioNacional,comumambientefantásticoondeprofessorescomooJoãoMotaeaNatáliadeMatosconseguiamumagrandesimbiosecomosalunos.Elesforamosseuscúmplicesnoprojectopouco ortodoxo que desenvolveu naEscola.Noiníciochegavaaperguntaraosseusalunosseestessabiamco-zinharoucoserbotões.Pensavaque

aspessoasquepertencemaumaso-ciedadetêmobrigatoriamentequesa-berresolverosseusproblemasmaisbásicos.Tentavaqueosseusalunosfossem independenteseaescolaos

preparasseparatodososaspectosdavidafutura.Assumiaqueoseuteatronãoeraconvencional,noinvernoda-vaaulasnapraianosareaisdesertos,procurandoretiraraartedasuamol-durahabitual.ParaJoãoBritesaartedeveserfrutodanossacuriosidadeenãoapreciadosópelo factodeestarnummuseu. Mas a Escola SuperiordeTeatroeCinematambémlheensi-noualgo.Anteriormenteoseudiscur-soera repletodeadjectivos,nãoex-plicava,apenasdavavazãoaosseusimpulsos e convicções,mas peranteosalunostinhaquejustificarassuasopções.Passouasermaisconcreto,permitindo ao actor perceber aspec-tosmaisprecisos.

João Brites quer reconhecer-senaquilo que os seus alunos fazem,o teatroé representaçãoémaisqueumaimitaçãodarealidade,éalgoquecomunicaconnoscoatravésdoartifi-cio. No fundo, a Escola permitiu-lhedesenvolver umensinomais susten-tado relativamente à consciência doactoremcena.

Actualmente,aossessentaedoisanos, JoãoBrites continuaa fazer oesforço para conseguir ensinar daformacomoofaz,emcontínuomovi-mento,tentandodaraosfuturosacto-

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O PRIMEIRO filho de João Brites,Nicolas, nasceuduranteo seuexí-lionaBélgica,em1972,frutodoseuprimeiro casamento com Jacqueli-ne.ApesardeternascidonaBélgicaNicolas Brites, que veio para Por-tugal com apenas dois anos, sem-pre viu o pai ligado ao teatro ten-do crescidono seiodoGrupod'OBando. Foi durante a adolescênciaque começou a tomar consciênciada importância do trabalho do pai,acabando por interiorizar os seusideaispolíticoseogostopeloteatro.Actualmenteéactord'OBandoedeoutras companhias, e lecciona ain-daaulasdeexpressãodramática.OpaifoioúnicoavetarasuaentradanoGrupoparanãoocomprometer.JoãoBriteséumpaifrontaleclaro,semprecomasuacabeçaocupadanumprojecto.

Amortedasuaprimeiramulher,em1980,despertouJoãoBritespa-raoproblemadarepresentaçãodamortejuntodascrianças.Em1986,abordouoassuntonumespectáculoparaainfância“NósdeUmSegre-do”,quegeroupolémicaechegouagerardebatescompsicólogosso-brecomosedeviaabordaro temajuntodascrianças.Tornouacasarem1982comaRosa,dequemte-vedoisfilhos,aSofiaem1984eoJoãoRafaelem1990.NicolasBri-tesentendequeoseupaicontinua

Ofilhoqueseguiuaspegadasdopai

aserorebeldequedefendiaassuasideiascomunhasedentes.

Aidadetrouxe-lheumamaiorma-turidade, passando da realização deespectáculos provocadores, para aescrita onde tenta preservar para ofuturoosseusideaisculturaiseartís-ticos.Tambémo seu feitio tornou-semaisdiplomata, jánãosezangaco-moaconteciafrequentementequandoeramaisnovoduranteosensaios.Aexigência, essa,mantém-se. NicolasBritesentendequeopai,atépelo ti-po de trabalho provocatório que faz,nãotemoreconhecimentoqueoutros

encenadores da sua geração tive-ram.JoãoBriteseoTeatroOBandotentampôraspessoasapensarporsi próprias estimulando-lhe o inte-lecto.Daíasconversasnosfinsdosespectáculos, o objectivo é que aspessoassequestionemsobreoqueviram,não lhes fornecendoas res-postas,essassãoelasqueas têmque encontrar. Para Nicolas, JoãoBriteséumoradornato,naspales-tras várias por ele proferidas podeconstatar isso, quando se dirigiamaelemanifestandoocontentamentopeloquetinhamouvido.

OfilhoNicolasBritesnoTeatroNacionalD.MariaII

"Oqueéparasiafelicidade?",naseded'OBando,emPalmela,noanode2003

resconhecimentosquenãooslimitemnumaforma,masque lhespermitemfazeroseuprópriocaminho,quepa-raalgunsdelesfoiodeintegraremOBandoabraçandooprojectodoGrupocomocooperantes.

Também em relação ao percur-sodaEscoladeTeatroeCinema, oencenador tem uma visão evolutiva.Apesar de alguns momentos ondeexistiu uma tensão a escola acaboupor se adaptar aos professores quetem, João Brites questiona tambéma necessidade do ensino artísticopossuirumregimediferente.Defendequeaescola,paraseracutilante,devetermais professores que conjuguem

FotodePedroPina

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Nummomentodeleituraereflexão

NoTeatroOBando ComGonçaloAmorimno23.ºaniversáriodogrupodeteatro

acarreiraacadémicacomaprofissio-nal.Poroutroladoadirecçãodeveterumafortecomponenteartística,enãomeramente administrativa, que con-

juntamentecomosprofessorestraceumrumoartísticoparaaEscola.

Apesar da sua vitalidade, oen-cenadorreconhecesermuitodifícil

conciliarasaulascomotrabalhon'OBandoeasváriaspalestrasquerealiza,masno fundoéassimquegostadeviver.

FotodeAngelofernandes

Fotodearquivod'OBando

Fotodearquivod'OBando

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JOÃO Brites e O Bando ocupama quinta de Vale de Barris desde1999. Quando ainda estavam nu-mas instalações na Estrela, e oencenador era o director dos es-pectáculos da Expo 98, tinha aconsciência que o grupo era umaplanta num vaso que tinha de sermudada.Depoisdeprocuraremumlocalqueseadequasseao tipodeteatro que faziam, encontraram aquintadeValedeBarris,umaantigaexploraçãodesuínos.Comoapoiodo Ministro da Cultura da época,queeraoManuelMariaCarrilhoedo presidente da Câmara de Pal-mela,oCarlosSousa,pediramuminvestimento partilhado ao banco.No início foi uma opção arriscadaporqueexistiampessoasdoGrupoquemanifestaramo receiodefica-remnumdesertosempúblico.Hojeesse receio está ultrapassado e aquintaéumespaçoagradável,comumasalaprincipalcom120lugares,outrasecundáriaparapeças infan-tis, um salão de acolhimento, umacozinha,armazéns,oficinaseescri-tórios. Praticam tambémuma agri-culturaparaconsumo interno,prin-cipalmenteazeite.Umanexoservederesidênciaparaoscriadoresquequeiramrealizarumretiroartístico.

Para JoãoBrites ir ao teatro éumaviagem,aspessoasdeslocam-seaolugarnãosóparaassistiraoespectáculomas tambémpara fa-laremsobreoqueviram.Naquin-tadeValedosBarrisodiálogoeapartilha estão sempre presentes,chegaram-se a organizar almoçosaos sábados onde se discutiamtemas como a felicidade. Apare-ciam pessoas tão díspares comoum pastor ou um coreógrafo, queconversavamsobreoseuconceitode felicidade e que curiosamentetinham denominadores comuns.No fundo, sentadosàmesmame-sa aquelas pessoas, à partida demundostãoopostos,paraalémdepartilharem a refeição partilhavamasuaprópriaexistência.

ABaladadoValedeBarris

FotodeVanessadeSousaGlória

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EUGÉNIA Vasques, professora daEscolaSuperior deTeatro eCinemae crítica de teatro é uma profundaconhecedoradopercursoartísticodeJoãoBritesedogrupoOBando.Co-nheceuambosemfinaisdosanosse-tentan'AComuna,quandofrequenta-vaasaulas,ministradasporactoresd'OBandoed'AComuna,paraquemquisesse tomar contacto com o tea-tro. Eugénia Vasques caracteriza OBandocomoumGrupoqueseintegrano movimento mundial denominado“Teatro deAmbiente”. O ambiente éaqui entendido como a estética dotrabalho sobre o corpo dos actores,a relaçãocomopúblicoeoespaço.Estemovimentoestético,oriundodosanos sessenta, foi seguido pelos ar-tistas plásticos da geração do JoãoBrites,quandoeleestudavapinturaegravuranaBélgica.EugéniaVasquessente-seorgulhosapor,serumadasraraspessoasdopaís,apossuirumapintura do JoãoBrites, resultante deumtrabalhoescolarfeitoemBruxelas.

No textoque integrao livro “Tea-troOBandoafectosereflexosdeumtrajecto”, uma compilação de textosresultantes do encontro que decor-reuentre15e18deOutubrode2004naquintadeValedeBarris,EugéniaVasquesdefineogrupodeJoãoBri-tes como um exemplo de teatro deambiente(artisticamentepróximodasdemandasgeracionaisdaearth arteda lanscape art de artistas plásticoscomoChristo,DeVries,Provos,etc)no território das artes performativasemPortugal.

AprofessoradaESTCafirmaqueJoãoBritesgostaquepensemo tra-balho dele sem sentimentalismos.Relembra uma ocasião em que ele,durante uma palestra, afirmou queoscríticoseramunslamechas,apro-pósito de um ciclo de espectáculosrealizados pel' O Bando que erammuito sensoriais, chegaram a con-feccionarcomidaemcenaquenofimosespectadorescomiam.JoãoBritesnãoqueriaboascríticasqueriaqueaspessoas fizessemumaauto reflexãoe não se limitassem a sentir. Eugé-niaVasques realça igualmenteo im-

OBandoeo“TeatrodeAmbiente”portante factodeJoãoBritesserumprofessor de teatroede ter sidoumdosrarosquecriouumapropostademetodologia sistémica. Ele teoriza econceptualizaoseumododeensinar.Nofundotrabalhaemdoisplanos,umdepedagogiaartísticaeoutrodecria-çãocénicacomacompanhiaOBan-do.Masoqueodistinguedosoutrosprofessores criadores é a separaçãoentreosdoisplanos.Comopedagogoemetodólogoelepropõeumameto-dologia,quetesta,centradanaperso-nagemintermédia.Estaéumaques-tão muito problemática e polémica,quecolocaosalunosnumasituaçãode não perceberem aonde ele querchegar.Esteprocessodeterquepen-

sar situações para alunos, levou-o aquestionar-sesobrealgunsdosseuspressupostosdecriadorteatral.

JoãoBriteséumprofessormuitodirecto, pouco convencional devidoàsua formaçãocomoartistaplásti-co, brusco até, que leva os alunosaproblematizar-seatécompreende-remaondeelequerchegar.Apesardisso,EugéniaVasquesdefini-oco-moumhomemafectivoqueescondeassuasemoçõesatrásdasmásca-ras grotescas.Umadas dimensõesmais assustadorasdaestética d'OBando é a permanente ligação aotemadamorte.JoãoBritestransfor-maasamarguraseas tristezasemvitalidadeeemarte.

EugéniaVasqueseJoãoMotasempreacompanharamopercursodeJoãoBrites

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Parar para Pensar

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Sons da Frente

NunoPinto:clarineteemportuguêsAMisoRecordslançouemfinaisde2009umimportanteCDdoclarinetistaNunoPinto (Vila Real, 1976), integralmente preenchido com obras portuguesas paraclarinetesolo,algumasemprimeiragravaçãomundialeváriasoutrasdedicadasaoprópriointérprete.

Texto de Sérgio Azevedo

NUNO Pinto estudou clarinete comSaulSilva,AntónioSaiote,MichelAr-rignoneAlainDamiens,emPortugaleFrança.Frequentouaindamaster-classesorientadaspelosclarinetistasGuyDangain,WalterBoeykens,Ho-ward Clug, Robert Fontaine e AloisBrandhofer.Émembrofundadordosgrupos de câmara Camerata SenzaMisura,TrivmdePalhetaseClarine-tes Ad Libitum e ainda membro daOrchestrUtopica, do Grupo MúsicaNova e do Sond’Ar-te Electric En-semble, paraalémde tocaremduocomapianistaElsaSilva.

Paraalémdeterestadopresenteemmais de 80 estreias de compo-sitores contemporâneos nacionaise estrangeiros, Nuno Pinto estevetambém na origem de um númerosignificativo de novas obras paraclarinete,muitasdasquaislheforamdedicadas.ÉactualmenteprofessordeClarineteedeMúsicadeCâmaranaEscolaSuperiordeMúsicaeAr-tesdoEspectáculo,noPorto.

Dadasascredenciaisdeumtalin-térprete,estediscoafigura-se-noslo-godeiníciocomoumaimportantíssi-macontribuiçãoparaoconhecimentodorepertórioparaclarinetesoloescri-tonosúltimosanosemPortugal,ideiaque é confirmada pela escolha daspeças,querepresentamamaioriado

quedemais importante seescreveuparao instrumento.AsobrasdeAle-xandreDelgado,JoãoPedroOliveira,PauloBrandão,ClotildeRosa,AntónioPinhoVargas,RicardoRibeiro,SérgioAzevedo,VirgílioMeloeCândidoLi-ma são, com efeito, bastante repre-sentativas damultiplicidade de esté-ticas característica do último quarteldoséculoXX,multiplicidadequede-morouachegaraomeiomusicalpor-tuguês(atavicamenteatrasado),masque, ainda assim, chegou para ficar.Escritasentre1985(Pinho-Vargas)e2008 (Azevedo), o leque estende-sedaexploraçãointervalardeOliveiraeRibeiro,atéaoessencialismotelúricodeCândido Lima, passando pela in-fluênciadojazzedorockemDelga-do eAzevedo, pelo lirismo dePauloBrandãoeClotildeRosa,eterminanareferência a técnicas renascentistasdeVirgílioMelo.

A completar o panorama de ex-celência deste CD, todas as obrassão defendidas de forma magistralporumintérpretequenãoselimitaaentrar emestúdioparagravarmaisum disco. Ao contrário de outrosmúsicos, que se precipitam para oestúdio,NunoPintosóofazdepoisde amadurecer as peças em con-certosaovivo,eoresultadoestáàvista,oumelhor,aoouvido:obrasdetranscendentevirtuosidade(amaiorparte das que constituem esteCD)soam naturalmente “fáceis”, dadoo completo domínio técnico de ummúsicoímpar,emboraaindabastan-tejovem,músicoquetemconstruídoumasólidacarreiraquejáéumare-ferênciadomeiomusicalportuguês,no qual, não obstante as dificulda-desesobressaltosdetodaaordem,aindaassimnãoháfaltadeexcelen-tesclarinetistas.

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Parar para Pensar

60 Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Para Reflectir

Umahistóriadeproveitoeexemplo

Aordemdolivroedaleituranassociedadestipográficas

O livro como objecto e a leitura como prática surgem como elementos centraisna configuração das sociedades tipográficas, definindo figuras como a do autore inscrevendoasuaacção–vistamuitasvezescomocivilizadora–em regimesde circulação de ideias verdadeiras e essenciais ao desenvolvimento e àdemocraticidade.Longedeseestabelecerdemaneiralinear,esteprocessocarregatensõesecontradiçõesqueconstituemaprópriamatrizdasdenominadassociedadestipográficas.

Texto de Nuno Medeiros

de progresso. Origem e destino dasfaculdadesdeescritaeleitura,olivroemergeemantém-sesolidamenteco-mosímbolodecivilização,comomar-cadeordenamentodomundoecomocunhodedomesticaçãoefixaçãodopensamento,inscrevendo-sefrequen-temente–atéemmuitadatradiçãodepesquisanestaárea–numexercíciode comparação, quantas vezes evo-lucionista, entre sociedades letradase pré-letradas.O texto é, então, fre-quentementevistocomomonumento,fixação hierática que estabelece porsimesmaumahierarquiaentreestru-

turassociaisconsoanteopredomínioda cultura escrita ou da cultura oral.Estas assentariam na volatilidadetextual,distinguindo-sedasprimeiraspor demonstrarem incapacidade deestabilizaçãonarrativa.No centro dacultura escrita,mais ainda impressa,radica-se o homo scrivens, configu-rando-seaideiaeapráticaescrituraiscomopenhordeavançonocontextodasfaculdadesefeitoshumanos,co-morazãodocontrolodasideiascomoelementodecontrolodomundo.

Édestaconjunçãoqueresultaumadascaracterísticasmaistípicasdasso-

UM dos atributos quemelhor carac-terizam as designadas sociedadescontemporâneas,conquanto lhesse-ja concedido umgrau de desenvol-vimentomaterial e o funcionamentopolítico que se baseie em grandemedida na noção de espaço pú-blicodecirculaçãodasideias,éode que são sociedades tipográ-ficas, grandemente definidase ordenadas pelo objectomaterial e conceptual livro –objectoelevadoaparadigmadoimpressoedotornadopúbli-co.Evidentementequeo vocábulo“tipográficas” com que se nomeiaestetipodesociedadesé,noquadrotecnológicoactual,alargadoaoutroscamposdeexpressãoescrita,editadaepublicada,dafotocópiaàdesmate-rialização e virtualização do texto.Arelevância do livro enquanto expres-sãomáximadeumaculturasuporta-danotextoescritoenacapacidadedasuadescodificaçãomedianteoexer-cício da leitura é a trave-mestra deumuniversocomplexoecontraditório,nisso residindo, aliás, parte substan-cialdoseuinteressenoqueàobser-vaçãoereflexãodizrespeito.

Neste quadro, no que concerneàdimensãodasuanatureza tipográ-fica, a contemporaneidade conferejustamente ao domínio da escrita eda leitura o estatuto de ferramentasessenciais ao desenvolvimento eaprofundamento de um factor social

dos atributos quemelhor carac-terizam as designadas sociedadescontemporâneas,conquanto lhesse-ja concedido umgrau de desenvol-vimentomaterial e o funcionamentopolítico que se baseie em grandemedida na noção de espaço pú-blicodecirculaçãodasideias,éode que são sociedades tipográ-ficas, grandemente definidase ordenadas pelo objectomaterial e conceptual livro –objectoelevadoaparadigmadoimpressoedotornadopúbli-co.Evidentementequeo vocábulo“tipográficas” com que se nomeiaestetipodesociedadesé,noquadrotecnológicoactual,alargadoaoutroscamposdeexpressãoescrita,editadaepublicada,dafotocópiaàdesmate-rialização e virtualização do texto.Arelevância do livro enquanto expres-

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Parar para Pensar

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Para Reflectir

ciedadestipográficas,adafixaçãotex-tualcomocauçãodeverdade.Atravésdeumlongopercursohistóricoqueatérecentemente procurou circunscreverostextoseosautoreseleitosparapu-blicaçãoaumcluberestrito,muitasve-zescomumcunhoeruditoeassociadoaoquedemaisbelooespíritohumanoproduziu, consolidou-se a crença ge-neralizada que o processo de publi-cação, como processo de selecção,constituiriaporsisóumagarantiafidu-ciária para o leitor. Este, confrontadocom o escrito não mais clandestino,porquepublicado,consignar-lhe-iaumvalordeconfiança,asseguradodequeoconteúdotornadopúblicoseriasinó-nimodecorrecção,afinamento,depu-ração,elevação.Emsociedadesassimconfiguradas,otipográficosignificaau-tonomiaevalidaçãodeumtextoedasuaautoria.Porserpublicadoe,des-semodo,terpassadoporumsupostoprocessodeescolhaeescrutínio,umtexto passadoa livroganhaessepo-dermágicodotransportedeverdade,instituindoaculturatipográfica–e,decertaforma,aculturadocopismoma-nuscritoantesdela–comoregimedeautoridade.Emsuma,otextoeditado

–pressupondoporissoactuaçãoedi-torial–évistocomoverdadeiroe re-comendável.

Aculturaescritae,comumainten-sidademaior,aculturaimpressasou-beramedificar-seemtornodaideiadequeénacapacidadedelereescreverque reside grande parte do acessoa este regimede verdadee aos be-nefícios que resultam desse acesso.Se esta asserção valeu aos círculosletrados durante séculos um estatu-toderedutodeiluminação,agrandetransformaçãonaperspectivadolivrocomoagentedetransformaçãosocialocorredoutrinariamentecomoadven-todaépocamoderna.Apesardeserdetectável anteriormente,a ideologiadacapacitaçãoindividualpelocontac-tocomolivroe,atravésdeste,comaescritae,sobretudo,aleituraacentua-

se com a generalização justamenteentreascomunidadesde iluminadosdeumaapologiadeaquisiçãoescolardas faculdades de decifração e par-ticipação na cultura impressa comoformadeinserçãonomundodopen-samentoautónomoedoconhecimen-to. O projecto de fabrico do homemmoderno passaria, então, por dotarosexcluídosde instrumentaçãocon-trolada pelos poderes públicos e deacordo com os seus propósitos pelaviadeumaescolarizaçãooperadape-loEstadoousupervisionadaporeste.

A escola oitocentista, alfabetizado-ra, uniformizadora e tendencialmentemassificante, procura puxar o númeromáximo de pessoas para o processodeconstruçãodeumEstadomodernocomrecursoàcoligaçãodeumprogra-maedeummétodoeducativoassentenodomínioda leituraedaescrita,co-ligação essa que se assumiria comopromotorada formaçãoesolidificaçãodeumconjuntocomumdereferênciasdesejavelmenteem todaapopulação.Esta proposta doutrinária, ideologiamesmo, foi um dos grandes funda-mentosdaexpectativapolíticaque seimiscuiu gradualmente na acção e no

discurso dos agentes governativos eespecializadosdequeacorrelaçãoen-tre uniformidadeeducativauniversal eahomogeneidadedaspráticasdeco-nhecimento e recreação baseadas nodomíniodaescritaedaleiturahaveriadeconstituiraplataformasocialdepar-ticipaçãodecadavezmaispessoasnaesferadeactuaçãopúblicae,portanto,doEstado.Amatriz liberalemquesecaldeou este pensamento não deixoude trazer consequênciasaonexoquetendealigar,frequentementedemodoinevitável,adifusãodolivroedaleitu-raàexpansãodeumespíritocríticoeinformadocomorecursodedesenvolvi-mentoedemocracia.

As sociedades tipográficas viabili-zam, nesta medida, a hegemonia doacesso à informação, com diferentesníveisdedensidadeeprofundidadecrí-

As sociedades tipográfi cas viabilizam, nesta medida, a hegemonia do acesso à informação, com diferentes níveis de densidade e profundidade crítica, pela via da leitura do

que é publicado

tica,pelaviadaleituradoqueépublica-do,promovendoumavisãoqualificadade leituraereduzindoapolissemiadoconceito,quenãoabarcanumquadroreferenciallivrescoformasemodosdelervistoscomodesqualificados,margi-naisoumesmoinvisíveis.Estaposiçãodominanteemtornodaarticulaçãoen-tredescodificaçãodalinguagemescritaeprogresso,sustentadanaproduçãoenoconsumolivrescoedecorrendo,porisso,deumatradiçãoeruditaebibliófila,éportadoradeumindisfarçávelpendorimpositivo – e, desse ponto de vista,simbolicamenteviolento–davaloriza-ção política da leitura nas sociedadesassentes em regimes democráticoscomo fulcrodepercepçãoeaplicaçãodovectorcidadania-hábitosdeleitura.Éesteopanodefundodeumdosatribu-tosmaisconsistentementeantagónicosdassociedades tipográficas,enquantofautoras demodernidade no que estadeveàconstituiçãodeEstadosdemo-cráticosemercadoalargadoeindustrialde cultura num quadro de permanen-tes assimetrias sociais: a tensão, pro-vavelmente insanável, que preside àcoexistênciaentreumaculturalivrescaqueseprocuramassificardemaneirauniformizadoraeapossedelivrosedehábitos de leitura como um dosmaisforteseixosdedistinçãoediferenciaçãoentrepessoas,suscitandoumcontínuodecomportamentosquevãodaosten-taçãoaorepúdio.

*Sociólogo e docente na Escola Su-periordeTecnologiadaSaúdedeLisboa

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Estante

OPAPEL interventivodaspolíticaseuropeias,nasúl-timasdécadas,emassun-

toscomooequilíbrioentreo trabalho profissional, avidafamiliareprivadadosindivíduos e a promoçãodaigualdadedossexosnasociedade,justificaoapa-recimento,emsociedadesocidentais,deumaculturanova que tenta reforçar opapel do homem, não sóna vida social, mas tam-bémnavidaprivada.Exis-te, agora uma necessida-dedeanalisaropapeldosexo masculino na socie-dade familiar, as relaçõesque estemantém com osseusfilhoseosnovosmo-

delosdeumavidafamiliarmaisigualitária.

Opresentelivroéumainvestigação do centro depesquisa sobre temas deigualdade(K.E.O.I)intitula-dode“Opapeldospaisnoequilíbriodavidalaboralefamiliar-pessoal”quepar-tedapesquisaquantitativae qualitativa dos factoresque determinam o papeldesempenhado pelos paisna actual família grega.Pesquisa-se para alémdasfunçõesconcretasqueo pai desempenha na fa-mília,aprópriaconcepção

dos pais gregos sobre opapelpaternal.

Este estudo pretendetambém contribuir com assuasconclusõesparaain-formação e sensibilizaçãodoshomensgregosnoâm-bito do projecto “ParceirosIguais: Repensar o PapeldosHomensnoTrabalhoenaVidaPrivada”queestáacargodoKETHIeconsisteem analisar resultados doestudo de três países par-ceiros do projecto (Grécia,PortugalePolónia)einiciara realização de propostasdeintervenção.

CrónicasdeFernandoSantoemlivroAparceriaentreacolecçãoEngenhariaeaTSFdeuorigemàpublicaçãodascrónicassemanaisdoex-BastonáriodaOrdemdosEngenheiros.FernandoFerreiraSanto,noprograma“NaOrdemdoDia”,daquelaemissora.AcompilaçãoreúneasreflexõesfeitasaosmicrofonesdaquelarádioentreOutubrode2005eMaiode2008.

Texto de Matilde Roque

A OBRA “Na Ordem do Dia”, à se-melhança do programa que lhe deuorigem,pretendematerializar,ainter-vençãopúblicaqueoautordesenvol-veuduranteoseumandatocomobas-tonáriodaOrdemdosEngenheiros.

O engenheiro Fernando Ferrei-raSanto teveaoportunidadeatravésdesta edição de expor publicamentetemas de interesse comumaos cida-dãosdeumpaíse,nãosó,deâmbitoestritodeumaassociaçãoprofissional.

Oplaneamentodoterritório,are-abilitação dos edifícios, a qualidadedosistemadeensino,aexigênciaderigornasqualificaçõesprofissionais,ea defesa da não intervenção políticanas decisões de ordem técnica, sãoalgumasdasquestõesabordadasnolivroqueajudamaperceberarelevân-ciadaáreadaEngenhariaparaode-senvolvimentodopaísemgeral.

Oautorpossuiumavastaexperi-êncianossectoresdeEngenhariaedeGestãosendodocentenoInstitutoSuperiordeEconomiaeGestão,des-

de2002,numcursodePós-Gradua-çãoetendodesempenhadofunçõesnos Ministérios das Obras Públicase daHabitação. FernandoSantos élicenciado emEngenharia Civil peloInstituto Superior Técnico, tem for-

mação em Gestão na UniversidadeNovadeLisboaeéEspecialistaemDirecção e Gestão da ConstruçãopelaOrdemdosEngenheiros.

Chegouaserdirector-geraldasSo-ciedadesJardinsExpoeExpoDomusdesde1995a1999edaEPUL-Empre-sa Pública da Urbanização de Lisboade1999a2004paraaqualfoinomea-doadministradoraDezembrode2009.

NopresenteépresidentedoCon-selho Nacional das Ordens Profis-sionais(CNOP)eémembrodoCES- Conselho Económico e Social, emrepresentação do CNOP. Realizouvários artigos sobre áreas da cons-trução,obraspúblicasedoimobiliárioelivrosdeespecialidadeecontribuiucomasuaexperiêncianaáreaprofis-sionalparaváriasconferênciaseen-controstécnicoseprofissionais.

Foieleitobastonáriodaordemdosengenheiros em 27 de Fevereiro de2004ereeleitoem28deFevereirode2007paraosegundomandatoquefi-nalizouaMarçode2010.

Opapeldospais

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Estante

A FORMAÇÃO dos educa-doreseprofessoreséotemacentral da obra “promoção

decompetênciasemeduca-ção”daDoutoraIsabelDias,investigadora e docente doEnsino superior, promovidapelo Instituto de Investiga-ção e Desenvolvimento deEstudosAvançados do Ins-tituto Politécnico de Leiria,que pretende colmatar aslacunas na formação doseducadores e professoresfaceàsnovasexigênciasso-ciaisdaeducação.Assumin-doaimportânciadosistemaeducativo para o progressoeevoluçãodasociedade,opresente manual pretendeservirdeinstrumentoparaa

formaçãodeprofissionaisdeeducaçãodequalidade.

NotrabalhodesenvolvidopelaDoutora IsabelSimõesDias, é evidente a apostana qualidade da formaçãode educadores de infância,partindodoprincípiodequeuma educação pré-escolardequalidadecontribuiparaosucessofuturodoindivíduo.É essencialmente ao nívelda formação dos educado-resqueotrabalhodaautorase promove enquanto alvodeaplicaçãoempírico.

Nesta obra a autoradestaca,numaprimeirafa-

se,algumascompetênciascomo o desenvolvimen-to do self, comunicaçãointerpessoal, gestão daagenda pessoal, trabalhoem equipa, resolução deproblemas, observação eplanificação. De seguidarefere as exigências me-todológicas, acentuandoastécnicascognitivo-com-portamentaiseosrecursosmateriais.Analisa ainda opapel do formador no de-senvolvimento de compe-tências e a avaliação doprogramadepromoçãodecompetências.

FormarparaEducar

EraumavezosTelégrafosdoReino…“HistóriadasTelecomunicaçõesemPortugal"–daDirecçãoGeraldosTelégrafosdoReinoàPortugalTelecom–éolivropromovidopelaFundaçãoPortugalTelecomparacomemoraroseu7.ºaniversário.Apublicação,daautoriadeMariaFernandaRollo,éoresultadodeumtrabalhodeinvestigaçãodeparceriaentreaFundaçãoPortugalTelecomeoInstitutodeHistóriaContemporâneadaFaculdadedeCiênciasSociaiseHumanasdaUniversidadeNovadeLisboa.

Texto de Matilde Roque

A OBRA foca-se na evolução dosectordastelecomunicaçõesdesdeoséculoXIXatéàconstituição,em1994,daPortugalTelecom.APTéhoje umamultinacional portuguesaque presta serviços a 70 milhõesde clientes nos cinco continentes.Actualmente a empresa depara-secom ummomento de mudança aointroduzir um novo paradigma denegócio baseado na nova rede: afibraóptica.

Opresente livroéumacompila-çãodedocumentaçãodaFundaçãoPT, oriunda de uma investigaçãopor uma equipa do IHC – Institutode História Contemporânea, coor-denada por Maria Fernanda Rollo,de espólios e arquivos nacionais eestrangeiros,sobreaimplantaçãoedesenvolvimento das telecomunica-çõesemPortugalenasex-colóniasdesdeoséculoXIX.

Aobracontaahistóriadas tele-comunicaçõesnonossopaísquere-montaàintroduçãodatelegrafiaem

Portugal compreendendo a criaçãoeaactividadedasempresasqueastêm desenvolvido e que marcaramahistóriadastelecomunicaçõesemPortugal.Na verdade, a história doGrupo Portugal Telecom e do con-junto de empresas que lhe deramorigem confunde-se com a históriado sector das telecomunicaçõesdesdeosseusprimórdiosemPortu-galatéàactualidade.

A iniciativa em criar esta publi-caçãotevecomoobjectivodivulgaro património e a história doGrupoPT, e das telecomunicações emPortugal juntodopúblicoemgeral.Esta obra dá a conhecer a impor-tância das telecomunicações nonossopaíseasuainfluêncianode-senvolvimento económico e socialdomesmo, assim como a relevân-ciadasuaevoluçãonamodelaçãodonossofuturocolectivo.

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Amanhã será notícia

MarianoGagoalertacientistasparaaresponsabilidadesocial

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, alertouparaa responsabilidade social quedeveexistir entreos cientistas, considerandoextremamente importante o contributo da ciência para a fixação de uma culturade avaliação na sociedade. A intervenção aconteceu durante um simpósio naUniversidadeNovadeLisboa,apoiadopeloInstitutoPolitécnicodeLisboa.

Texto de Jorge Silva l Fotos de Clara Santos Silva

NumsimpósioapoiadopeloIPL

OministrodaCiênciaTecnologiaeEnsinoSuperior,MarianoGagoeJoãoRodriguesdaANICT,noencerramentodosimpósio

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Amanhã será notícia

NUMA sociedade permeável à crendi-ce, lembrouoministro,adiferenciaçãofaz-seatravésdasfontesdeautoridade,ondeseincluiaciência.MarianoGagofalavanoencerramentodoSimpósiodaAssociaçãoNacionalde InvestigadoresemCiênciaeTecnologia,queserealizou

A ASSOCIAÇÃO Nacional de In-vestigadoresemCiênciaeTecno-logia (ANICT) é um projecto quenasceuapartirdeumgrupodein-vestigadoresauxiliares,daUniver-sidade do Minho, que resolveramcriar uma associação que repre-sentassetodososinvestigadoresatempointeiroemPortugal.

Segundo o presidente da co-missão instaladora, Nuno Cerca,pretende-se estabelecer contactoscomasinstituiçõesquedeterminamapolíticadaciência,promoveraau-tonomia e a excelência na investi-gaçãoemtodasasáreasdosabere, por fim, potenciar a divulgaçãodo conhecimento científico para opúblicoemgeral.ParaMiguelJor-ge,vice-presidentedaANICT,esteúltimoobjectivoéaquelequeodis-tinguedasoutrasassociaçõescon-géneres.Essaseriaaacçãoqueaassociação gostaria de se dedicarnofuturo,depoisdetodososoutrosproblemasjáestaremresolvidos.

AANICT, fundada em Janei-ro de 2010, conta commais de

Investigadoresorganizam-se

nopassadodia8deMaio,nareitoriadaUniversidade Nova de Lisboa, com oapoiodoInstitutoPolitécnicodeLisboa.

Oministroapelouparaqueospro-fessoresformemalunoscomespíritocrítico, que questionem a autorida-de, semdeixaremdeaprender tudo

duzentos membros, portugueses eestrangeiros, que se encontram arealizar investigação em Portugal.Este primeiro simpósio foi um es-paço de discussão a nível nacio-nal onde, nos respectivos painéis,foram abordados aspectos como apolítica científica, a carreira de in-vestigação, a transferência de tec-nologia e o empreendorismo, e acomunicação e a disseminação doconhecimentocientífico.

Os cerca de trezentos parti-cipantes, puderam colocar ques-tões a um conjunto alargado depalestrantes,ondesedestacaramoReitordaUniversidadedeNovadeLisboaepresidentedoConse-lhodeReitoresdasUniversidadesPortuguesas, António Rendas, opresidente da Fundação para aCiênciaeTecnologia,JoãoSentiei-roeváriosinvestigadorescompro-vasdadasnopanoramacientífico.

aquiloquelheséimportante.Outrospontosfocadosforam,aaberturadaciência à internacionalização, nemquesejaparaaprendercomosquesãomelhoresquenós,eapromoçãoda cultura científica na sociedade.Duranteosúltimosvinteanosassis-timosaumdesenvolvimentocientífi-coportuguês,úniconaEuropa,queassentounaconvicçãodapopulaçãoportuguesa,comíndicesdeescolari-dadebaixíssima,notrabalhopositivoqueoscientistastêmfeito.Efoiessaconsciência social, na necessidadedeapostarnumaeducaçãosuperior,quepermitiuaaplicaçãodaspolíticascientíficas,porvezesemépocasdegravescrisessociais,equelevouaodesenvolvimentocientífico.Eéesseelánque,paraMarianoGago,temdecontinuaraexistirentreapopulaçãoportuguesaeoscientistas,devendoestesdemonstrardisponibilidadepa-ra ajudar a sociedade nas suas vá-riasáreasdeactuação.

Daesq.paraadir.:JoãoCaraça,FrankWagner,NicolaLori,JoãoSentieiroeMariaArméniaCarrondo

NunoCercaeMiguelJorge,presidenteevice-presidentedaANICT,respectivamente

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66 Politecnia n.º 24 Maio / 2010

Tribuna Livre

HABITUADAdesdehámuitoaes-crever essencialmente textos deíndole científica, fiquei um poucopensativa sobre o que escrevernuma chamada Tribuna Livre darevistaPolitecniadoInstitutoPoli-técnicodeLisboa.Depoisdealgu-mareflexãoeponderaçãoemquetemaabordar,decidi-mepeloqueintitulareide“Algumasreflexões”.

Talvez tenhasidoo tempoac-tual que se vive nas escolas e,particularmentenaminha,quemelevouaofimde todosestesanosdeprofissão,jápassamdostrintaetrês,aescreveroquesesegue.

Pertenço a uma Escola cujasorigensremontamaoséculoXVIII,mais concretamente ao ano de1759,tempodoMarquêsdoPom-bal,quecomvisãodefuturocriouaAuladoComércio,vocacionadafundamentalmente para a prepa-raçãodehomensdenegócios.

Ao longo dos anos, váriasforam as reformas ou altera-ções que aEscola sofreu, querao nível dos cursos e matériasleccionadas, quer ao nível daspedagogiasemetodologiasutili-zadas.Passou-sedeumaEsco-ladeensinovocacionadaparaapreparaçãodecomoconduzirosnegócios, para outra, que davaacesso a uma profissão, a decontabilista ou a uma carreiracomo controlador financeiro oude técnico superior na adminis-traçãopública.

JáemplenoséculoXXI,maisconcretamentenoanolectivode2006/2007, com a adopção dochamado processo de Bolonha,houve alteração de paradigmanosistemadeensino/aprendiza-gem. Até então, o processo deensinocentrava-senoprofessor,doqualirradiavaparaosalunos.ComBolonhaocentrodaactivi-dade do ensino passou a ser oaluno,entendendo-seestecomoum “operário” do estudo/apren-dizagem, cabendo-lhe, assim, amaior fatia do trabalho. Até en-

AlgumasreflexõessobreoISCAL

Com Bolonha o centro da

actividade do ensino passou

a ser o aluno, entendendo-

se este como um “operário”

do estudo/aprendizagem,

cabendo-lhe, assim, a maior

fatia do trabalho

MariaManuelaRebeloDuarte*

tãooprofessorfuncionavacomotransmissor de conhecimentosqueosalunosdeveriamassimilarerelacionar.

DeacordocomBolonha,osalu-nosdevemadquirircompetências,cabendo ao professor orientar aspedagogiasemetodologiasdeen-sinodemododiferente,atravésdaapresentação, abrindo caminhose referindo pistas, que os alunosdeverãotrilhareexplorar,sempreorientados e supervisionados, de

modoacolmatarfalhas,incapaci-dades,motivaçõesounecessida-des de avançar na aquisição decompetências,rumoaoseufuturoeinserçãonavidaactiva.

Mas como se prepararam osprofessores para tão grande al-teraçãodeparadigma?Seráqueelesprópriosadquiriramascom-petênciasparatãoárduae,simul-taneamente, nobre e motivantetarefa? Como sempre e nestascircunstâncias,tambémaquihou-vequem,entendendoodesafio,otransformasse em oportunidade,adquirindoosgrausacadémicos,as competências necessáriase até a prestação de provas emconcurso público, mas tambémquem se acomodasse, desligan-do-sedequalqueresforçodeen-riquecimentopessoalecurricular.

Face a este tipo de atitude,julgodever suscitar, com todaapremência, a questão da cida-dania académica, também aquitida por um acervo de direitos,mas igualmentede responsabili-dadeseobrigações,nãoapenasao nível da docência, mas en-volvendo os demais actores doprocessoeducativo,acompanha-da da exigência ética, do cons-tante aperfeiçoamento de com-petênciaseda transparênciadoexercício que, no seu conjunto,devemconstituirofundamentoeaessênciadoensino,bemcomopautarocumprimentodamissãodaescola.

Neste momento, veio-me àmente o que Mário de Andradeescreveu, há já longo tempo, “jánão tenho tempo para lidar commediocridades, nem quero estarem reuniões ondedesfilamegosinflamados. Inquieto-me com in-vejosos tentando destruir quemelesadmiram,cobiçandoseuslu-gares,talentoesorte”.

*Presidente do Conselho DirectivodoInstitutoSuperiordeContabilidadeeAdministraçãodeLisboa

FotodeSofiaGuerra