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Page 1: Document3

1. Regressando atrás na sua memória, recorda ainda a sua partida dessa pequena aldeia, que, depois, a sua fama trouxe para a ribalta?

Esse momento é inesquecível. Foi há mais de quarenta anos, quando aquele velho navio se distanciou do cais de Lisboa, fazendo a sua última viagem antes de se transformar em cargueiro. Pensei que não ia aguentar. Era o adeus a tudo: à História, aos amigos, à Língua… Nos primeiros seis anos, só se chora, com saudades por aquilo que fi cou para trás!

2. E como foi a chegada?Nós fomos em etapas. Do mais velho

para o mais novo. O meu pai já lá estava. Quando me abraçou, no Cais de Santos, disse-me: “Graças a Deus, estamos juntos!” Essas palavras marcaram-me muito!

3. Como amainava essa fome do passado?

Juntávamo-nos na Portuguesa dos Desportos, um clube desportivo paulista, fundado por emigrantes portugueses, que era uma espécie de continuidade da nossa

cultura. Mas, também, na Casa de Portugal, em São Paulo… Esta é a vida de todos os que emigram: fazem núcleos para matar a saudade, algo unicamente português.

4. Como foram esses primeiros anos? E o regresso?

Durante um bom tempo, fica-se anestesiado pelo fascínio de conquistar terra nova. Mas, depois, vem a sede natural de beber água na fonte e a vontade imensa de rever aquilo que ficou para trás. No momento em que se alcança algum sucesso, nasce o desejo de rever a sua terra e o seu país. Regressei ao fi m de 15 anos, quando já era um sucesso no Brasil. Primeiro, vieram os meus pais, porque lhes tinha prometido que era a primeira coisa que iria fazer! Mas o regresso? Foi uma loucura! Já nada era como dantes. Graças a Deus!

5. É um pouco um cidadão com duas nacionalidades…

No Brasil, sou português e aqui sou brasileiro. Foi o que senti na altura e o que escrevi numa música minha. Mas, hoje, estou em paz comigo e com ambos os países.

O próprio tempo e o trabalho vão resolvendo tudo!

6. A tendência histórica de emigração portuguesa para o Brasil inverteu-se, acontecendo hoje, precisamente, o contrário. Como vê o crescente número de imigrantes brasileiros no nosso País?

O Brasil é um país que parece um continente, na forma e na riqueza. Infelizmente, é um país que vive do improviso, algo que revolta os brasileiros que acabam por sair chateados, porque sabem que estão a abandonar um grande país que, ainda, só é um país grande. Mas, ultimamente, tem melhorado, isto a meu ver!

7. E o papel dos brasileiros na

sociedade portuguesa? Quer comentar?

Há brasileiros que têm contribuído muito para Portugal, como antes os portugueses o fizeram pelo Brasil. A própria “TV Record” presta um serviço importante aos imigrantes brasileiros que, assim, estão mais próximos da sua pátria. No meu tempo, recordo-me que tinha de pedir aos comandantes da TAP um jornal português, para saber o que se passava no meu País.

8. Depois de um percurso de sucesso no Brasil, regressou d e f i n i t i v a m e n t e a Portugal. Como aconteceu esse regresso? E como vê o Portugal de hoje?

Não foi fácil ao início! Nos últimos anos, andava cá e lá. Mas, já sofremos tanto com saudades que não o vamos

fazer mais. A essência de um país é o seu povo. Sou um otimista. Um povo que sabe receber como os portugueses sabem só pode ser uma grande Nação. Na minha opinião, precisávamos de ter uma relação mais forte com os nossos

irmãos de expressão portuguesa. Muito mais importante do que descobrir é amar o que foi descoberto, de forma saudável, porque o nosso povo é excecional! A maior riqueza de um povo é a sua Língua, as suas palavras… E Portugal é um país lindíssimo!

9. É um homem feliz?Completamente! Estou em paz comigo

mesmo, com a minha família e com aqueles que mais amo!

10. Qual é o lugar que Deus ocupa na sua vida, no seu dia--a-dia?

Deus está presente em todos os momentos, principalmente naqueles em que nos quer mostrar que conseguimos, que somos capazes de fazer, de melhorar e de renascer no seio das difi culdades. Deus é esperança e força. É tudo!

ROBERTO LEAL10 PERGUNTAS a

PEDRO CATIVELOS(cedida pela revista Plenitude)

An tó n i o J o a q u i m Fernandes nasceu em Vale da Porca, em 1951, e, aos 13

anos, emigrou para o Brasil, com os pais e dez irmãos. Em São Paulo, depois de trabalhar como sapateiro e vendedor de doces, iniciou a sua carreira de cantor de fados e músicas românticas. Graças ao sucesso alcançado na década de 70, apresentou-se como embaixador da cultura portuguesa no Brasil. Vendeu mais de 17 milhões de discos, tem mais de 300 canções gravadas, fez sucesso nos programas de auditório e chegou a participar num fi lme sobre a sua própria vida, “O Milagre”, o qual bateu recordes de bilheteira.

ROBERTO FOI SEMPRE LEAL NA SAUDADE QUE SENTIA DO CHÃO QUE LHE DEU UMA RAZÃO PARA QUERER SER ALGUÉM, PARA LÁ DO ANONIMATO DO QUOTIDIANO

“DEUS É ESPERANÇA E FORÇA. É TUDO!”

A PRÓPRIA ‘TV RECORD’ PRESTA UM SERVIÇO IMPORTANTE AOS IMIGRANTES BRASILEIROS, QUE ASSIM ESTÃO MAIS PRÓXIMOS

DA SUA PÁTRIA

| 3 DOMINGO05 • SETEMBRO • 2010entrevista

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