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4. A integração do Castelo de Paderne em Território Português

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Título Caderno do Aluno - Castelo de Paderne

1.ª edição Novembro 2008

Coordenação, edição e produção Direcção Regional de Cultura do Algarve; IGESPAR, I.P.

Textos e Desenhos Técnicos Natércia Magalhães, Octávio Câmara, Jair Gonçalves, Paulo Quitério

Ilustração Mariana Canelas

Maquetização Francisco Canelas

Revisão Gráfica Sandra Gonçalves

Impressão Gráfica Comercial

ISBN 978-989-95125-1-1

Depósito Legal n.º 283674/08

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CADERNO DO ALUNO3º CICLO

UM SAFARI FOTOGRÁFICO PATRIMONIAL NO CONJUNTO

ARQUITECTÓNICO, ARQUEOLÓGICO E PAISAGÍSTICO

DO CASTELO DE PADERNE

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Escola________________________________________________

Nome_________________________________________________

N.º____ Turma____ Data da visita____/____/____

Foto da turma ou do aluno e dos amigos durante a visita

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INTRODUÇÃO

Ruínas arqueológicas, monumentos, edifícios, paisagens, obras de arte ou artefactos de umantigo ou mais recente quotidiano fascinam-nos porque:

· São testemunhos físicos e simbólicos do passado,· Trazem selada a identidade e o modo de vida dos seus criadores,· São matéria humanizada ou história materializada e feita presente.

Mas, acima de tudo, são um privilegiado veículo de informação, que requer, da nossa parte, umcomplexo processo de interpretação ou a realização de um percurso para o seu conhecimento. É essepercurso que te convidamos a iniciar com a utilização deste “Caderno do Aluno”.

O safari fotográfico patrimonial que, nele te propomos, pode ser realizado individualmente ou emgrupo. Destina-se a que possas fotografar o Conjunto Arquitectónico, Arqueológico e Paisagístico doCastelo de Paderne na perspectiva de um conhecedor do enorme valor que este tem enquantoPatrimónio Histórico e Cultural.

Durante o safari abordaremos oito temas, a saber:

1. Cronologia e Implantação do Castelo;

2. Os construtores Almóadas;

3. Portugal e os Almóadas;

4. A integração do Castelo no território de Portugal;

5. Observando a muralha: planta, técnica e elementos construtivos;

6. Observando o urbanismo e as construções no interior do castelo;

7. A paisagem e o seu valor cultural;

8. Porque é o Castelo de Paderne um património a conhecer e a preservar.

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Para estes oito temas, programou-se um conjunto de actividades que te possibilitarão a autodescoberta deste bem patrimonial, estruturadas em três fases distintas:

Fase 1- Antes da visita, deverás:

· Ler os temas 1, 2, 3 e 4.· Preencher todos os itens antecedidos da palavra pesquisa (páginas 10,14 e 15).· Discutir, com o teu professor e os teus colegas de grupo de trabalho, as dúvidas que te surgiram

durante a leitura e pesquisa.

Fase 2- Durante a visita, deverás:

· Não esquecer de levar o teu caderno.· Ler os temas 5, 6 e 7.· Só depois, entrar no espaço interno do castelo.· Fazer o conjunto das 23 fotos que correspondem às 23 legendas pré-definidas. Se preferires

poderás substituir as fotos por desenhos.

Fase 3- Depois da visita, deverás:

· Imprimir as fotos que realizaste.· Ler o tema 8.· Escolher o teu melhor enquadramento, correspondente a cada uma das legendas e colar, no

espaço demarcado, a respectiva fotografia.· Redigir os três comentários solicitados nas folhas 8, 16 e 45.

E está pronto o álbum que documentará a tua visita ao Conjunto Arquitectónico, Arqueológico ePaisagístico do Castelo de Paderne. Só te resta partilhá-lo com os teus amigos e família.

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1. Cronologia e Implantação do Castelo

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1.1- Cronologia de fundação:

O castelo de Paderne foi, no Período Almóada, um pequeno hisn, ou seja, um pequeno povoadofortificado que era o centro de um território rural.

Data de 1189, o primeiro testemunho escrito da sua existência, quando é enumerado entre oscastelos islâmicos do Algarve, no texto de um cruzado anónimo que, a caminho da Terra Santa,participou na primeira conquista de Silves.

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Fotografia 1 - O Castelo

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É, no contexto de um estado de guerra contínuo (com movimentos militares por mar e por terra,fronteiras volúveis e grandes massas de refugiados a afluírem ao sul) mas sustentado por uma economiaem que o ouro almóada africano se alçou a moeda forte nos mercados mediterrâneos, que a estruturadefensiva e urbana de Paderne foi erguida de raiz.

(Nota: O Período Almóada ocorre, na Península Ibérica, entre a 2ª metade do século XII e iníciosdo século XIII. No território magrebino foi mais longo.)

Fotografia 2 - Vista geral da envolvente do castelo

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1.2 - Local de implantação:

Planta de localização

Localiza-se, estrategicamente, no cimo de uma colina de 90 m de altitude que corresponde ummeandro bem demarcado do percurso da ribeira de Quarteira. As encostas, NO, SO e SE, adjacentes àmuralha, são íngremes, com inclinações de cerca de 33%.

O controlo visual realiza-se, a N, até à Portela de Messines e ao Castelinho de Mem Martins e, aS, apesar da obstrução causada por cerros mais altos, sobre parte do vale da Ribeira de Quarteira.

As características do solo e do clima ameno, de tipo mediterrâneo, favoreceram, desde sempre,a existência da piteira, da palma e do esparto. Os terrenos prestam-se, ainda, à produção de cereais,porém, a riqueza agrícola da região tem-se baseado, principalmente, na exploração de alfarrobeiras,figueiras e amendoeiras.

A N e a NO, localizam-se os terrenos mais férteis, onde se situam as hortas e os pomares. Hámantos de águas subterrâneas e fontes naturais, como a fonte de Paderne.

Comentário 1:

Após a visita, com base nas tuas observações e no texto, dá-nos a tua opinião sobre asrazões que motivaram a escolha deste local para a implantação desta estrutura militar e urbana

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2. Os Construtores Almóadas do Castelo de Paderne

Os almóadas foram uma dinastia berbere (moura), originária da região do Sus (Marrocos),que tomou aos almorávidas o poder, em Marraquexe.

O primeiro dos seus governadores, Abd al-Mundin sediou a capital naquela cidade e, tomou parasi e seus descendentes o título de califa. Um seu exército cruzou o estreito de Gibraltar, em 1147, a pedidode governantes locais como Ibn Qaci de Silves, e impôs-se aos divididos emires muçulmanos das taifasibéricas.

Apesar da vitória de Alarcos, em 1195, os almóadas revelavam as mesmas inaptidões de queacusavam os Almorávidas, entre as quais a incapacidade de mobilizar e organizar um grande exércitoafricano-berbere-andalusí que pudesse erradicar a ameaça que os exércitos portugueses, castelhanos earagoneses exerciam, continuamente, a Norte.

Em 1212, os almóadas sofreram derrota definitiva em Navas de Tolosa, e retiraram-sepaulatinamente da península ibérica, dando lugar ao 3.º período das taifas.

1 em 11452 em 11473 em 11524 em 1160

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Pesquisa 1 : Define Berbere

Pesquisa 2: Define califado

Pesquisa 3: Colar a reprodução de uma moeda de um dinar ou meio dinar de ouro almóada.

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3. Portugal e os Almóadas

Mouros e Cristãos- Reprodução das Cantigas de Santa Maria

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A Reconquista está relacionada com a oposição de Castela e Leão, Aragão, Navarra e Portugal àsdinastias almorávida (1042-1145) e almóada (1145-1262), ambas de etnia berbere, de religião muçulmanae provenientes de Marrocos.

Quando, em 1147, os almóadas chegaram ao al-Andalus, determinados a substituir no poder osalmorávidas, Portugal era recém-nascido como domínio político independente.

Afonso Henriques (1128-1185) acabara de obter de Afonso VII de Leão o seu reconhecimentocomo rei (Tratado de Zamora/1143), prestara vassalagem ao Papa Inocêncio II, e, estava decidido aestabelecer a viabilidade do seu reino, expandindo-se estrategicamente pela conquista territorial, fosse elaem territórios cristãos ou muçulmanos.

No último caso, Afonso Henriques contou com ao auxílio das cruzadas da Europa Setentrional, acaminho da Terra Santa, que por exemplo o ajudaram a conquistar Lisboa e Sintra, em 1147. Mas osalmóadas também têm sucessos, em 1184, uma grande ofensiva de Abu Ya’qub Yusuf, no Alentejo,reconquista território até à linha do Tejo, e permite-lhe atacar Lisboa, por mar, e Santarém, por terra.

O confronto não foi só terrestre, entre 1178-1182, regista-se uma guerra naval, no Atlântico, entrea frota almóada e a frota portuguesa, comandada por Dom Fuas Roupinho. Após a morte deste último, aolargo de Ceuta, dá-se o desaire marítimo português e a sequente interrupção do poderio naval português.

Sancho I (1185-1211) segue a política de seu pai e conquista, para os portugueses, com o auxílioda 3 ª Cruzada, Alvor e Silves (1189), esta última a mais importante cidade muçulmana a ocidente do rioGuadiana. Mas, em 1190-1191, em contra-ofensiva, Ya’qub al-Mansur, recupera Alcácer do Sal e Silves,bem como a região ocidental do Alentejo e assedia Palmela e Almada.

Afonso II (1211-1223), não abandonando a primitiva linha política de expansão, integra comsucesso Alcácer do Sal, em território português.

Sancho II (1223-1248), com o apoio da Ordem de Santiago e, beneficiando do caos que a derrotade Navas de Tolosa (1212) impôs aos almóadas, realiza várias ofensivas. São anexadas Elvas, em 1226;Beja, Juromenha, Serpa e Moura em 1230; Aljustrel e Mértola, em 1234. No caminho para o sul, osexércitos que os portugueses enfrentaram quando das conquistas de Ayamonte e Cacela, em 1240, e deTavira, Alvor, Silves e Paderne, em 1242, já não são almóadas, porque em 1234, com aqueles fora daPenínsula Ibérica, é fundada a Taifa de Niebla que integra o Algarve (3º período das taifas).

Há que esperar que Afonso III (1247-1279), com o auxílio da Ordem de Santiago, conclua aconquista do Algarve, em 1249-50, com Faro, a última grande cidade a cair.

(Nota: Cronologia com base na obra de Christophe Picard “Le Portugal Musulman (VIII –XIII siècles)”,Maisonneuve et Laurose, Paris, 2000).

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4.1 - Subsistem, por imprecisão das crónicas, dúvidas quanto à data exacta da conquista doCastelo de Paderne. Para alguns, o castelo e povoação de Paderne integraram-se no Reino de Portugal,em 1242, durante o reinado de D. Sancho II, para outros, no reinado de Afonso III entre 1249-50, quandoda derradeira campanha para incluir o enclave mouro sobrante, no reino de Portugal. Mas, em qualquerdas versões, os principais protagonistas são os Cavaleiros da Ordem de Santiago, monges-guerreiros,sob comando do Mestre D. Paio Peres Correia.

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Pesquisa 4: Reprodução de um Cavaleiro da Ordem de Santiago

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4.2 - Afonso X de Castela (O Sábio) reclama, junto do Papa, em 1250, o direito sobre os castelosdo Algarve, entre os quais o de Paderne. O castelo entra na posse de D. João Aboim e de seu filhocomo “garantes” das obrigações do rei de Portugal para com Castela.

É a “Questão Algarvia” conflito de território e fronteiras que terminará, em 1267, com o Tratadode Badajoz e com a entrega incondicional de Paderne (e dos castelos de Faro, Loulé, Silves e Aljezur) aAfonso III que, em 1268, usará, pela primeira vez, o título de Rei de Portugal e do Algarve.

4.3 - Em 1 de Janeiro 1305, D. Dinis doou o castelo de Paderne ao mestre da Ordem Militar deSão Bento de Aviz, D. Lourenço Anes.

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Pesquisa 5: Reprodução do Símbolo da Ordem de Aviz.

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4.4 - O Castelo de Paderne e a Bandeira de Portugal

Uma das primeiras tarefas de Afonso III, quando subiu ao trono, após a guerra civil, foi concluir aconquista do Algarve, o que fez sem dificuldade (1249-50).

Foi, igualmente, Afonso III que introduziu, na bandeira de Portugal, uma bordadura vermelhacastelada a ouro.

A tradição, corroborada por vários cronistas quinhentistas, pretendia que os castelosrepresentassem as fortalezas mouras conquistadas no Algarve, associando assim a integração doterritório mouro na coroa portuguesa.

As dinastias que se seguiram mantiveram os castelos, sempre em número variável, no brasão dearmas da monarquia. A República, implantada em 1910, ao propor um novo desenho para a bandeiranacional, baseou-se precisamente nessa teoria para justificar heraldicamente, quer a presença, quer osignificado de sete castelos na bandeira republicana.

Comentário 2

Investiga e dá-nos a tua opinião se o Castelo de Paderne está representado na Bandeira de

Portugal

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Bandeira de Afonso III Bandeira da República Portuguesa

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5. Observando a Muralha:Planta, Técnica e Elementos Construtivos

5.1- Planta topográfica do Castelo

A edificação do castelo foi previamente projectada e a sua implantação criteriosamentemarcada antes de iniciada a construção.

Tem um único recinto amuralhado de forma trapezoidal irregular que não ultrapassa um hectare.Possui um único acesso ao interior, defendido por uma torre albarrã de planta quadrangular

(largura 6 m, altura 9,5m) que se une à muralha através de um adarve de 2,15m de largura, que compõeum imponente arco.

5.2- Construir Muralhas com Taipa Militar : A Técnica Construtiva

A construção de muralhas considerou-se, desde a antiguidade, um capítulo diferenciado noâmbito da história da disciplina de arquitectura.

A taipa devido à sua versatilidade, qualidade, simplicidade de execução e abundância de matériaprima (terra ou solo), adaptou-se, graças ao aumento da percentagem de cal, às grandes obras deconstrução de muralhas de taipa militar promovidas pelo Estado.

A dinastia almóada foi exímia na construção de muralhas em taipa militar.

N

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5.2.2. Na taipa militar a estabilização é obtida:

· Pelo preenchimento do vazio, entre as partículas de terra, com o ligante cal. Ocorre umaformação em cadeia, que une intimamente as partículas do solo;

· Pelo processo mecânico da compactação, que reforça ainda mais, a ausência de vazios;· Pelo lento processo de carbonatação da cal misturada na terra. Com o tempo, a lenta oxidação da

cal faz com que solo ganhe a resistência de uma dura pedra e ofereça uma notável resistência aosagentes erosivos (chuvas, ventos, impactos, etc.).

Assim sendo, é devido à sábia conjugação de um processo mecânico, duma alteração físicae de uma reacção química que o Castelo de Paderne construído, há mais de oito séculos, em terracrua, chegou até a nós.

5.2.3. A taipa é uma técnica construtiva que se fazpor módulos.

Realiza-se colocando uma cofragem (módulo),denominada taipal e vertendo no seu interior camadas de 10cm deespessura de argamassa (terra, cal aérea e gravilha) que secompactam por golpes sucessivos de um pilão.

Uma vez terminado o módulo de um bloco de taipa,recupera-se o taipal que é recolocado para se acrescentar umnovo módulo à fiada que se pretende executar.

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5.2.1 A taipa militar é terra crua (solo) estabilizada com cal aérea.

Chamamos estabilização ao processo pelo qual se modificam as propriedades de um solo de modoa conseguirmos melhorar as características do mesmo, o que se faz alterando propositadamente aestrutura/textura do solo. A estabilização pode ser:

· Mecânica, quando com o auxílio de equipamento, rearrumamos as partículas do solo, sem quesejam colocadas outras substâncias no mesmo;

· Física, quando se altera a textura do solo, através da mistura controlada de grãos ou da adição defibras;

· Química, quando um produto químico é introduzido para alterar as características iniciais do soloutilizado, fazendo ocorrer reacções entre as partículas do solo e o material usado;

· Mista, quando se utiliza uma combinação de alguns dos tipos de estabilização supramencionados.

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Fotografia 3 - A face de um módulo almóada (sendo visível, a altura e o comprimento do taipal e osorifícios deixados pelas agulhas)

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5 .2.4- São características definidoras da taipa:

5.2.4.1- A cofragem

Quando observamos uma muralha de taipa como a de Paderne o que observamos são osmódulos que se alinham ao lado uns dos outros.

O que percebemos são os sinais deixados pela uniformidade métrica da altura dos sucessivostaipais, as uniões no comprimento, os buracos das agulhas que os sustentaram e o negativo das tábuasque os compunham.

A cofragem ou taipal é a grande responsável pela imagem destas construções porque cadamódulo guarda, em si, o negativo dos elementos que compõem a cofragem

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O taipeiro posiciona-se no interior do caixotão formado pelos taipais e inicia o apisoamento, sempredos extremos do taipal para o centro.

O pisão (de 8 a 12 kg) é preso com ambas as mãos, desce de uma altura superior à cabeça dooperário, sobre a argamassa a acompactar de modo que, quando a atinge, as mãos ficam à altura da cintura.Aenergia e cadência do golpe é registada em documentos antigos que enumeram uma garrafa de vinho comomeio auxiliar de repor as forças aos oficiais tapeiros.

5.2.4.2 -Acompactação

A operação de apisoamento ou compactação é característica das obras de taipa e diferenciaesta de outras técnicas que também usam cofragem.

Causa a redução da porosidade e das variações de volume da terra devido à presença de água,melhora a resistência mecânica do solo e a coesão das partículas do solo entre si, reduz os vazios entre elas eaumenta a resistência ao vento e à chuva.

Impõe condições ao material: consistência semi-seca das argamassas (terra, cal e inertes) e oenchimento por capas ou tongadas (10cm) para obter a melhor compactação possível.

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5.2.5- As agulhas

As agulhas são réguas de madeira que atravessam, na horizontal, o muro e servem de apoio aostaipais, designam-se por inferiores ou superiores. As últimas podem ser substituídas por cordas que seapertam com um torniquete ao garrote.

Na confecção de uma taipa de grande espessura, como uma muralha, eram utilizadas meiasagulhas, mais fáceis de manobrar e mais económicas no dispêndio de material. Cortá-las, aparelhá-las,cravá-las no muro e, por último, serrar a sua cabeça, depois de concluído o módulo e retirado o taipal, eraum trabalho especializado.

As agulhas ficaram, durante séculos, no interior da muralha e, com o tempo, deram lugar àsfilas sequenciais de orifícios, que são parte integrante da imagem das muralhas de taipa.

Fotografia 4 - Agulhas num módulo restaurado

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5.2.6 - Simulação de juntas de grandes silhares na taipa almóada

Faixas de reboco que simulam as juntas de grandes silhares são, ainda hoje, visíveis, na faseexterior das muralhas califais hispano-mouriscas (período das dinastias magrebinas, no al-Andalus). Essasfaixas, muito características do período, eram realizadas com uma técnica próxima do estuque.

Os viajantes muçulmanos que as descreveram, tomaram-nas, com frequência, por estruturas dealvenaria de pedra.

No Algarve, temos exemplos desses silhares em Silves e Paderne, perderam-se os de Salir,devido a uma incorrecta intervenção.

Fotografia 5 - Falso silhar de alvenaria marcado na muralha de Paderne

(Silhar : Pedra aparelhada utilizada na construção de uma parede de um castelo)

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5.2.7- A cura da taipa

No dia seguinte à execução de um módulo de taipa, aquele passa a ser regado diariamente (demanhã ou ao fim do dia de trabalho) e tapado com uma serapilheira.

A secagem da taipa necessitava de ser lenta, para evitar a retracção e a expansão dos materiais e,o consequente aparecimento de fissuras, na sequência de variações súbitas de humidade e temperatura. Aoperação de regar e proteger realizava-se, no mínimo, durante 2 a 3 meses.A produção da taipa deve ser evitada em épocas chuvosas ou de calor excessivo.

5.2.8 – Elementos Construtivos

Fotografia 6 - Torre albarrã (exterior) que defende o acesso à porta e ao interior

(Albarrã - O termo provêm da palavra árabe al-barrāniya que significa do lado de fora ou exterior. São torresdesligadas da muralha e unidas a esta por um passadiço superior, um arco de volta perfeita ou um pano de muromais ou menos extenso. Estas torres, que se projectavam para o exterior das muralhas, permitiam aos defensoresatacar os agressores pelas costas.)

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Fotografia 7 - Adarve que liga a muralha à torre albarrã

( Adarve - O termo provém da palavra árabe al-darb que significa caminho, beco, ruela. Corresponde a uma plataformano topo das muralhas, destinada à circulação de pessoas e ao transporte de materiais e armas.)

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Fotografia 8 - Vão de acesso ao interior

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(Vão - Espaço aberto nas paredes para iluminação e arejamento ou para colocação de portas e janelas; espaçoaberto entre arcos, arcadas e pilastras.)

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Fotografia 9 - Muralha norte exterior

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Fotografia 10 - Muralha poente interior

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Fotografia 11 - Muralha nascente interior.Marcas negativas de antigas construções adossadas à muralha

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6. Observando o urbanismo e as construções no interiordo castelo

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6.1- Os vestígios arqueológicos, no interior do castelo, correspondem ao urbanismoislâmico da sua fundação e à posterior ocupação medieval cristã.

As campanhas arqueológicas apontam para uma ocupação humana, iniciada em meados doséculo XII, associada a um plano urbanístico pré-definido e implantado de raiz.

O espaço interior, sob a protecção da muralha, foi premeditadamente estruturado em bairros ouquarteirões, o que pressupõe a existência de um poder político apto a delinear um programa urbanístico econstrutivo e a executá-lo com rapidez.

Foi criado um sistema de ruas, com uma rua principal cortada por ruas laterais.

Ao mesmo tempo, foi executado um ramificado sistema de canalizações que, partindo dashabitações, percorria os arruamentos e terminava nas muralhas. Muitas vezes as lajes de cobertura dascanalizações funcionavam como pavimento das ruas.

A drenagem das águas residuais fazia-se, para o exterior do castelo, por aberturas deescoamento, colocadas com regularidade métrica.

Para recolha e abastecimento de água potável haviam cisternas, grandes reservatórios de águapotável que eram imprescindíveis à vida quotidiana da população.

As habitações apresentam as especificidades características das construções almóadas,organizavam-se em torno de um pátio central, descoberto, ao qual acediam todas as salas, os murosseriam de taipa com um embasamento de alvenaria pobre. Algumas das habitações adossadas àmuralha, ganharam espaço escavando nichos naquela.

Após a conquista, uma nova população com conceitos e vivências distintas do que era o espaçodoméstico, procedeu à adaptação ou alteração do modelo inicial.

Há ainda as ruínas de uma ermida (construída no século XIV, com uma última fase deremodelação, no século XVIII).

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Fotografia 12 - Cisterna pública almóada (junto à entrada do castelo)

Esta cisterna é contemporânea da construção do castelo, apresenta uma abertura quadrangular,em tijoleira, associada a um pequeno canal, escavado no pavimento para recolher as águas. Uma moedade Afonso V (meados do século XV), encontrada sobre o pavimento, poderá dar-nos uma pista quanto àépoca da sua desactivação.

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Fotografia 13 - Casa almóada com o seu pátio central

As casas almóadas organizavam-se em torno de um pátio central, descoberto, em redor do qual sedistribuíam os compartimentos: salão, cozinha, alcova e, por vezes, a latrina. O pátio era o coração dacasa, local de reunião e peça fundamental à iluminação e à ventilação dos demais compartimentos.

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Fotografia 14 - Arruamento almóada e lajes da canalização

As ruas organizavam o espaço interno do castelo. Conhecem-se, por enquanto, três ruas. Todasapresentam, escavada na rocha, uma cloaca (canalização principal) coberta por grandes lajes que sãoparte integrante do pavimento da rua. Unem-se à cloaca as canalizações secundárias que vêm dashabitações.

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Fotografia 15 - Abertura de escoamento das águas do interior do castelo

Há 9 aberturas de escoamento originais, visíveis na taipa da muralha, distando 12m entre si. Oitoapresentam forma rectangular, são delimitadas, no seu topo superior, por um lintel de pedra.

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Fotografia 16 - Cisterna particular

Localiza-se, adossada à muralha, do lado oposto à entrada do castelo. Apresenta uma abóbadasaliente, em relação ao restante pavimento. As águas que nele caíam eram drenadas para o interior dacisterna. Nota-se, no seu aparelho, um núcleo central que posteriormente foi alargado com outro tipo demateriais.

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Fotografia 17 - Forno e silo

O Forno circular com um pavimento de ladrilhos, na proximidade, o bocal de um silo de armazenamento

(Silo - tulha subterrânea, construção impermeável, para a conservação de cereais e de forragens verdes.)

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6.2-A Ermida de N.ª Senhora do Castelo ou de N.ª Senhora da Assunção

A ruína da ermida de N.ª Senhora da Assunção localiza-se junto da entrada do castelo.

A primeira referência escrita a um edifício para o culto cristão, aparece-nos nos estatutos da Séde Silves, datados de 1263 (Afonso III).

Sabemos que D. Dinis doou o padroado da Igreja de N.ª Senhora do Castelo, a Lourenço Annes,mestre da Ordem de Avis, por carta régia de 1 de Janeiro de 1305, que, em 1321, quando foram taxadosos benefícios do Bispado do Algarve, a primitiva sede de freguesia de Paderne situava-se dentro docastelo.

A igreja conservou-se como Igreja Paroquial, até 1506, altura em que se iniciou na actualPaderne, a construção da nova Igreja Matriz que, em 1554, continuava em obras.

Uma descrição da ermida de 1716, confirma que já teria a configuração actual. É possível que, àsemelhança das muralhas e da torre albarrã, o edifício tenha sido muito afectado pelo grande Terramotode 1755. Hipoteticamente, em obras de remodelação e/ou reconstrução posteriores, foi construído oanexo/sacristia e aberto um vão num altar lateral desactivado.

Em 1858, a ermida do castelo encontrava-se abandonada. O livro de actas da Junta regista adeliberação de retirar as telhas e as madeiras da igreja do castelo para as obras de reedificação daermida do Pé da Cruz, arruinada devido ao terramoto de 1856.

Pesquisa 6: Pesquisa o significado de padroado

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Fotografia 18 - Fachada principal da capela, delimitada por cunhais, apresentando umóculo sobre a área do portal

(Óculo - abertura circular, oval ou moldurada, aberta na parede de um edifício para ventilação ou iluminaçãodo interior; Cunhal - ângulo formado pelo encontro de duas paredes.)

(Cunhal – esquina, ângulo saliente formado pelo encontro de duas paredes que, sendo um ponto fraco daconstrução, deve ter a resistência necessária às cargas que sustenta, pelo que exige materiais de melhorqualidade e um aparelho bem trabalhado.)

(Portal – porta monumental de um edifício; ombreira da porta ou do portão.)

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Fotografia 19 - Vista da fachada norte com um contraforte

(Contraforte - Pilastra adossada a uma parede para lhe dar maior solidez e aumentar a estabilidade.)

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Fotografia 20 - Vão aberto no arco de um altar lateral entaipado

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(Arco – Elemento estrutural que cobre um vão e que transmite a carga que suporta às paredes onde se apoia.)

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Com a população cristã, os enterramentos (períodos medieval e moderno) passaram a realizar-se no interior do castelo, junto à Igreja Matriz.

A população islâmica, anterior, teria o cemitério (maqbara) extramuros, onde enterrava os seusmortos em tumbas estreitas (20 a 35cm), com os corpos, em posição de perfil, orientados para Meca.

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Fotografia 21 - Sepultura antropomórfica escavada na rocha e parcialmente exumada.

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7. Reconhecer a paisagem como um valor cultural apromover

Uma paisagem é como um museu vivo. É um património «memória» que contribui para aidentidade local e regional.

A evolução duma paisagem é o resultado da interacção, no tempo, entre o homem e a natureza, oua evolução da interacção mais directa entre a economia humana e a natureza.

As paisagens herdadas da história, como a presente, requerem que se estabeleça um equilíbrioentre a protecção e as oportunidades de desenvolvimento.

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Fotografia 22 - A Azenha

(Azenha - Sistema tradicional de moagem que aproveitava a água da ribeira para laborar. Asazenhas são engenhos mais antigos que os moinhos de vento e constituem uma herança doPeríodo Islâmico.)

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Fotografia 23 - Ponte e matagais mediterrâneosNum vale a sudoeste, a ponte sobre a Ribeira de Quarteira, tem inscrita a data 1711.

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8. Porque é o Castelo de Paderneum património a conhecer e a preservar ?

Sabias que o Castelo de Paderne é património histórico classificado, pelo Estado Português?Foi distinguido com o grau de Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto N.º 516/71 de 22-11, e,

beneficia de uma Zona Especial de Protecção, nos termos da Portaria n.º 978/99, Diário da República (2.ªsérie), porque:

· Na sua estrutura arquitectónica foi utilizado um único processo construtivo: taipa militar.· É um caso, quase único, porque chegou a nós, mantendo uma só técnica construtiva e o desenho

que lhe deram os seus fundadores, no século XII.· Os vestígios arqueológicos, no interior do castelo, correspondem ao urbanismo islâmico da

fundação, às posteriores ocupações medieval e moderna e à ruína de uma capela que teria a actualconfiguração, em inícios do séc. XVIII.

· A relação entre o espaço fortificado e a paisagem na qual se insere, é património. A envolvente docastelo mantém o cunho rural associado à sua origem, bem como a continuidade das espéciesarbóreas e do estrato arbustivo.

Comentário 3:

Agora que conheces bem, após a tua visita, o Conjunto Arquitectónico Arqueológico ePaisagístico do Castelo de Paderne, dá-nos a tua opinião sobre a importância de o conhecer e de opreservar.

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A Memória em Boas Mãos

O que é Património Cultural? É o conjunto de bens naturais ou materiais, móveis ou imóveis,produzidos pelo homem, que são testemunhos de conhecimentos ou de mudanças de uso e costumes epor isso formaram e atestam a identidade de um povo.

O que é preservar? É cuidar, é manter, é valorizar, é conservar, é reparar, é proteger os bens devalor histórico-cultural de uma comunidade, por meio de acções colectivas públicas ou privadas.

Como preservar? Só se preserva efectivamente quando uma comunidade conhece os seus benshistórico-culturais e os incorpora afectivamente na memória colectiva.

Com o objectivo de assegurar a existência e a permanência do património arquitectónicoportuguês, cria uma mensagem publicitária ou um tag (rótulo, legenda) que promova o usoapropriado, a conservação e a manutenção dos edifícios históricos, pelos próprios cidadãos.

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Notas:

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