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Octávio Páscoa Dias cap.4-1 EAPS - Curso de Engenharia Electrónica e de Computadores 4 – Conversão Analógica/Digital n No mundo real a operação de amostragem, discutida no capítulo 2, é realizada por intermédio de um circuito amostrador-retentor (sample and hold – S/H) que amostra e mantém o nível da tensão amostrada, entre duas amostras consecutivas (figura 4.1). Figura 4.1 – Sistema Sample and Hold.

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Octávio Páscoa Dias cap.4-1

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4 – Conversão Analógica/Digital 4 – Conversão Analógica/Digital

n No mundo real a operação de amostragem, discutida no capítulo 2, é realizada por intermédio de um circuito amostrador-retentor (sample and hold – S/H) que amostra e mantém o nível da tensão amostrada, entre duas amostras consecutivas (figura 4.1).

Figura 4.1 – Sistema Sample and Hold.

Octávio Páscoa Dias cap.4-2

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V

4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Da operação de amostragem resulta um sinal em degrau, com a forma típica ilustrada na figura 4.2.

n A etapa que se segue à amostragem, consiste em quantificar os valores das amostras do sinal analógico. A operação de quantificação é realizada por um conversor analógico para digital (analog to digital converter –ADC).

Figura 4.2 – Sinal em degrau na saída do Sample and Hold.

Octávio Páscoa Dias cap.4-3

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V

4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n A quantificação pode ser interpretada como uma classificação das amostras do sinal, relativamente a níveis de tensão pré-determinados. Por exemplo, para classificar as amostras da figura 4.2 em dois grupos, pode escolher-se um nível “a” como se mostra na figura 4.3.

Figura 4.3 – Quantificação das amostras relativamente a 1 nível.

Octávio Páscoa Dias cap.4-4

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V

4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

Assim, todas amostras acima ou iguais ao nível “a” pertencem, por hipótese, ao “grupo 1”, e aquelas cujos valores se encontram abaixo do nível “a” pertencem ao “grupo 0”. Com base neste critério, as amostras geram a sequência de zeros (0s) e uns (1s), ilustrada na figura 4.4, que constitui um exemplo da quantificação das amostras utilizando um único bit.

Figura 4.4 – Quantificação com 1 bit.

Octávio Páscoa Dias cap.4-5

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V

4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Se forem usados dois bits para quantificar as amostras do sinal analógico, são definidos quatro níveis de tensão, que podem ser igualmente espaçados, para quantificar os valores das amostras (figura 4.5). O sinal pode assim, ser quantificado em quatro grupos (00, 01, 10, 11), como se mostra na figura 4.6.

Figura 4.6 – Quantificação com 2 bits.Figura 4.5 – Quantificação com quatro níveis.

V

Octávio Páscoa Dias cap.4-6

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4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Dos exemplos apresentados pode concluir-se que quanto maior for o número de níveis usados na quantificação, maior é a precisão com que é descrito o sinal analógico, isto é, mais precisa é a conversão A/D. Deste modo, se forem usados ADCs de 10 bits ou de 12 bits, as amostras podem ser quantificadas em 210 (1024) ou 212 (4096) níveis.

nAssim, para um sinal analógico que varie entre 0 e 5 volts o bit menos significativo (least significant bit - LSB), ou seja, um único bit, corresponde a 4,88 mV para um ADC de 10 bits, e a 1,22 mV para um ADC de 12 bits, uma vez que,

mVemV 22,14096

5,88,41024

5==

Octávio Páscoa Dias cap.4-7

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4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Comparando os níveis quantificados com o sinal analógico original, pode avaliar-se o erro introduzido pela conversão A/D (figura 4.7). Estes erros produzem um efeito designado por ruído de quantificação.

Figura 4.7 – Erro de quantificação.

V

Octávio Páscoa Dias cap.4-8

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4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Os exemplos referidos até agora, relacionam-se com a quantificação uniforme, assim designada pelo facto dos níveis estarem igualmente espaçados (figura 4.8).

Figura 5.8 – Quantificação uniforme.

Octávio Páscoa Dias cap.4-9

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4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Porém, nem sempre, a utilização da quantificação uniforme conduz aos melhores resultados para a conversão A/D. De facto, por exemplo na língua inglesa, numa conversação, existem sons tipicamente de maior amplitude, por exemplo as vogais, e outros de muito menor amplitude, como as consoantes. Na figura 4.9 apresenta-se a forma de onda típica de uma conversação.

Figura 4.9 – Forma de onda típica de uma conversação.

Octávio Páscoa Dias cap.4-10

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5 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 5 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Para o exemplo da figura 5.10, a quantificação uniforme (figura 4.11) pode assegurar uma representação adequada para as amplitudes elevadas, mas revela-se inadequada para as amplitudes mais reduzidas que acabariam por ser quantificadas num mesmo nível, isto é, representadas pelo mesmo valor binário.

Figura 5.10 – Forma de onda típica de um discurso. Figura 5.11 – Quantificação uniforme de um discurso.

Octávio Páscoa Dias cap.4-11

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4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Isto significa que uma quantificação que codifique diferentemente as componentes de maior amplitude e as de menor amplitude de um mesmo sinal conduz a uma melhor qualidade do sinal obtido à saída da cadeia de processamento. Para sinais com as características do que se representa na figura 4.12, a quantificação não-uniforme (figura 4.13) pode constituir uma solução possível.

Figura 4.12 – Amplitude das componentes de um discurso típico Figura 4.13 – Quantificação não-uniforme do discurso.

Octávio Páscoa Dias cap.4-12

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4 – Conversão Analógica/Digital (cont.) 4 – Conversão Analógica/Digital (cont.)

n Na prática é usual a utilização da quantificação uniforme acompanhada pela compressão das componentes do sinal com maior amplitude, deixando quase inalteradas as componentes de amplitudes mais reduzidas.

n O resultado final é semelhante ao da quantificação não-uniforme. Após o processamento, o sinal é restaurado à saída usando a descompressão das componentes do sinal previamente comprimidas.

n Este processo de compressão e de descompressão é designado por companding (COMpressing and exPANDING).

Octávio Páscoa Dias cap.4-13

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4.1 – Tipos de ADCs4.1 – Tipos de ADCs

n Existem diversos tipos de ADCs disponíveis no mercado, contendo alguns deles o S/H já incluído no circuito intrgrado. Em seguida é feita a descrição do princípio de funcionamento de alguns dos tipos ADC mais populares.

ADC FlashADC Flash

n O método flash utilitiza circuitos comparadores que realizam a comparação das tensões de referência com o sinal analógico de entrada. Quando a tensão analógica excede a tensão de referência num dadocomparador a saída desse comparador assume o valor “alto”.

n A figura 4.14 mostra um conversor AD flash de 3 bits, que utiliza sete circuitos comparadores para realizar a conversão.

Octávio Páscoa Dias cap.4-14

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ADC Flash (cont.)ADC Flash (cont.)

Figura 4.14 – Conversor AD flash de 3 bits.

Octávio Páscoa Dias cap.4-15

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n Este tipo de conversor não necessita de comparador para detectar a tensão analógica que corresponde ao zero, uma vez que nessa situação todos os sete comparadores têm a saída a zero, sendo portanto suficientes para interpretar o nível zero da tensão analógica na entrada. Do mesmo modo, um ADC flash de 4 bits necessita de 15 circuitos comparadores. Seguindo este raciocínio, pode concluir-se que os conversores de analógico para digital do tipo flash (ADC flash) necessitam de 2n-1comparadores para realizarem a conversão A/D com um código binário de n- bits.

n A tensão de referência para cada comparador é fixada por um divisor de tensão. A saída de cada comparador é ligada à entrada de um codificador com prioridade (priority encoder).

ADC Flash (cont.)ADC Flash (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-16

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n As tensões analógicas na entrada do codificador são amostradas por intermédio de um impulso de relógio aplicado na entrada enable do codificador, e um código de n-bits representa o valor do sinal analógico presente na saída dos comparadores. A palavra binária correspondente à tensão codificada é determinada pelo nível “alto” de maior ordem na entrada da coluna de comparadores.

n O ritmo do sinal de relógio que amostra o sinal analógico determina a precisão com que a sequência de palavras digitais representam a entrada analógica do ADC. De facto, quanto maior for o número de amostras tomadas do sinal analógico, maior é a precisão com que o sinal analógico é representado na forma digital.

ADC Flash (cont.)ADC Flash (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-17

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Exemplo 4.1

Determine as palavras binárias de 3 bits de saída do ADC flash, que representam cada uma das amostras

do sinal analógico, tomadas no flanco ascendente do impulso de relógio, como mostra a figura 4.15.

Figura 4.15 – Amostragem de um AD flash de 3 bits para o exemplo 4.1.

Octávio Páscoa Dias cap.4-18

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Solução:

Figura 4.16 – Codificação do conversor AD flash do exemplo 4.1.

Octávio Páscoa Dias cap.4-19

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ADC de Aproximações SucessivasADC de Aproximações Sucessivas

n O ADC de aproximações sucessivas produz um código binário de n-bitspor intermédio da comparação do sinal de entrada, xs(t), com a saída de um conversor digital-analógico (digital to analog converter – DAC). A figura 4.17 mostra o diagrama básico de blocos de um ADC de aproximações sucessivas, de 4 bits. O diagrama é constituído por um DAC, um registo de aproximações sucessivas (sucessive aproximation-register – SAR) e por um comparador.

n A operação básica deste tipo de ADC é a seguinte:

Os bits de entrada do DAC são sequencialmente colocados a “1”, começando pelo bit de maior peso (most significant bit - MSB). De cada vez que um bit é colocado a “1” a saída do comparador indica se a entrada analógica é maior ou menor do que a saída do DAC.

Octávio Páscoa Dias cap.4-20

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ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)

Se a tensão produzida pelo DAC é maior do que o valor do sinal analógico, a saída do comparador coloca a “0” o último bit da entrada do DAC que assumiu o valor “1”. Se a saída do DAC é inferior ao sinal analógico, então o último bit do DAC colocado a “1” é mantido naquele valor. Estes procedimentos repetem-se para cada bit de entrada do DAC, começando pelo MSB, em seguida o próximo bit mais significativo e assim por diante, até ao bit de menor peso (least significante bit – LSB).

n Para ilustrar o modo de operação do ADC de aproximações sucessivas, considere-se o exemplo de uma conversão de 4 bits, que a figura 4.18, mostra passo-a-passo.

Octávio Páscoa Dias cap.4-21

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ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)

Neste exemplo, considera-se a conversão de uma tensão analógica de 5,1 V.A conversão é realizada por intermédio de um ADC de aproximaçõessucessivas, de quatro bits, com as seguintes características: VO=8 V para o bit 23 (MSB), VO= 4 V para o bit 22, VO=2 V para o bit 21 e VO=1 V para o bit 20 (LSB).

A figura 4.18 (a) mostra o primeiro passo do ciclo de conversão com o MSB igual a 1. Nesta situação a saída do DAC é de 8 V. Como a saída do DAC é maior do que o sinal analógico (5,1 V), então a saída do comparador coloca o MSB do SAR a “0”;

Octávio Páscoa Dias cap.4-22

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A figura 4.18 (b) ilustra o segundo passo do ciclo de conversão com o bit 22

colocado a “1”. Assim, o valor da saída do DAC é de 4 V, que sendo inferior a 5,1 V (tensão analógica), faz com que a saída do comparador retenha este bit no valor “1”;

A figura 4.18 (c) representa o terceiro passo da conversão com o bit 21 igual a “1”. A saída do DAC tem agora o valor de 6 V, uma vez que os bits 22 e 21

estão colocados a “1” o que conduz a 4+2=6 V. Como a saída do DAC é superior ao valor do sinal analógico, a saída do comparador fixa em “0” o bit 21;

A figura 4.18 (d) mostra o quarto passo, último para a conversão de quatro bits, com o bit 20 colocado a “1”. A saída do DAC é de 5 V uma vez que os bits 22 e 20 têm o valor “1”; logo: 4+1=5 V.

ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-23

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ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)

n Após os quatro bits terem sido testados o ciclo de conversão fica completo, e assim, o sinal analógico foi codificado com a palavra binária0101, que corresponde, aproximadamente, ao valor da entrada analógica, que é de 5,1 V.

n O fim de um ciclo de conversão, determina o inicio de outro, com a repetição do processo básico acabado de descrever.

n No início de cada ciclo de conversão o SAR é colocado a zero.

n Quanto maior for o número de bits do DAC maior será a precisão da conversão.

Octávio Páscoa Dias cap.4-24

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ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)

Figura 4.17 – Diagrama de blocos do ADC de Aproximações Sucessivas.

Octávio Páscoa Dias cap.4-25

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ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)ADC de Aproximações Sucessivas (cont.)

Figura 4.18 – Conversão AD segundo o método de aproximações sucessivas.

Octávio Páscoa Dias cap.4-26

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ADC de Rampa SimplesADC de Rampa Simples

n O ADC de rampa simples utiliza um gerador de rampa linear para produzir uma tensão de referência em rampa com declive constante. A figura 4.19 representa o diagrama de blocos deste tipo de ADC.

n No início do ciclo de conversão o contador está colocado a “0” e a saída do gerador de rampa tem o valor de 0 V. Nesta situação, a entrada analógica é superior à tensão de referência (saída do gerador de rampa), o que faz com que a saída do comparador se encontre na saturação positiva (L+), o que permite a operação do contador e do gerador de rampa. A tensão em rampa crescerá até que o seu valor iguale a tensão analógica de entrada. Neste ponto, a saída do comparador comuta para a saturação negativa (L-), fazendo com que a rampa seja colocada a zero ( reset da rampa), e o código correspondente ao valor da tensão analógica seja armazenado nos registos.

Octávio Páscoa Dias cap.4-27

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n Assuma-se que o declive da rampa é de 1V/ms e que a tensão analógica de entrada tem o valor de 2 V no instante da comutação da saída do comparador. Nestas condições, a tensão da rampa tem o valor de 2 V e o gerador funcionou durante 2 ms, dado que o declive da rampa é de 1 V/ms.

n Assumindo que a frequência do relógio é de 100 kHz, foram contados 200 impulsos no intervalo de tempo de 2 ms. Deste modo, no instante em que a tensão da rampa igualou a entrada analógica, o número binário do contador corresponde ao número decimal 200, que pode ser apresentado num display na forma 2.00.

n Alguns tipos de voltímetros digitais usam este princípio de conversão A/D.

ADC de Rampa Simples (cont.)ADC de Rampa Simples (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-28

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Figura 4.19 – Diagrama de blocos do ADC de Rampa Simples.

ADC de Rampa Simples (cont.)ADC de Rampa Simples (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-29

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ADC de Rampa DuplaADC de Rampa DuplaA figura 4.20 mostra o diagrama de princípio de operação de um conversor A/D de rampa dupla. Este tipo de conversor, embora lento, apresenta uma resolução elevada (12 a 14 bits).

Figura 4.20 – Diagrama de principio de funcionamento do conversor A/D de Rampa Dupla.

Octávio Páscoa Dias cap.4-30

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O principio de operação do conversor A/D de rampa dupla usa a quantidade de carga armazenada por um condensador durante um intervalo de tempo fixo, mas com o declive do regime de carga variável, e a respectiva descarga, feita durante um tempo variável mas com o declive do regime de descarga constante.

O condensador inicia a carga a partir de zero e carrega durante o tempo fixo T1 (figura 4.21) ligado à tensão analógica, vA a converter para a forma digital. Terminado o intervalo de tempo T1 o condensador é ligado a uma tensão fixa, Vref, e descarrega até atingir de novo os 0 Volts. O tempo de descarga é contado por um contador digital, cujo valor final da contagem é proporcional à tensão vA.

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-31

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Para analisar, com pormenor, o seu modo de operação assuma-se que a tensão analógica de entrada, vA, é negativa. Antes de iniciar o ciclo de conversão o interruptor S2 deve fechar para descarregar o condensador C e fazer v1=0. O ciclo de conversão inicia-se com a abertura de S2 e o fecho do interruptor S1. O fecho de S1 coloca a tensão analógica, vA, na entrada do integrador.

Dado que se assumiu que vA é negativa, então esta tensão dá origem a uma corrente I=vA/R, com o sentido integrador → S1.

Tendo em conta que, Q=CV=It, então, V=(I/C)t. Deste modo, a tensão v1cresce linearmente com o declive,

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

CIm =1

Octávio Páscoa Dias cap.4-32

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ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

e como,

RvI A=

obtém-se,

RCvm A=1

como se ilustra na figura 4.21.

Em simultâneo a lógica fica configurada para permitir que o contador inicie a contagem dos impulsos fornecidos pelo relógio (clock). Esta fase de conversão (Fase I) continua durante o tempo fixo, T1, e termina quando o contador atinge o valor de uma contagem pré-fixada, nref.

Usualmente, para um ADC de N bits, tem-se nref=2N.

Octávio Páscoa Dias cap.4-33

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)( 1m

)( 2m)( pV

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Figura 4.21 – Método de conversão A/D com rampa dupla.

Octávio Páscoa Dias cap.4-34

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ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Designando por Vp o valor de pico da tensão, v1, presente na saída do integrador, pode escrever-se,

11 T

VRCvm pA ==

uma vez que o valor de Vp é alcançado no final de T1 (figura 5.21).

No final da Fase I (final de T1), o contador é colocado a zero (reset).

A Fase II da conversão inicia-se no instante t=T1. Nesse instante o interruptor S1 liga a tensão positiva de referência, Vref, à entrada do integrador. Assim, a corrente no integrador inverte de sentido, passando a fluir no sentido S1→ integrador. Esta corrente é agora calculada pela expressão, I=Vref /R.

Octávio Páscoa Dias cap.4-35

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ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

como se mostra na figura 4.21.

Recordando de novo que a carga no condensador é dada por, Q=CV=It, o que implica a igualdade, V=(I/C)t. Deste modo, a tensão v1 decresce linearmente com o declive,

CIm =2

e dado que,

RV

I ref=

então,

RCV

m ref=2

Octávio Páscoa Dias cap.4-36

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ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Simultaneamente a lógica de controlo permite que o contador inicíe a contagem dos impulsos fornecidos pelo clock. Quando a tensão na saída do integrador atinge o valor v1=0 V, a saída do comparador faz parar a contagem do contador.

Designando por T2, o tempo de duração da Fase II pode escrever-se (figura 4.21),

RCV

TV

m refp ==2

2

Da equação,

11 T

VRCvm pA ==

Octávio Páscoa Dias cap.4-37

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Conclui-se que,

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

RCvTV A

p 1=

E da equação,

RCV

TV

m refp ==2

2

Retira-se a conclusão de que,

RCV

TV refp 2=

logo,

ref

ArefA

refA

VvTTVTvT

RCV

TRCvT 122121 =⇒=⇔=

Octávio Páscoa Dias cap.4-38

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ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Uma vez que a leitura, nref, do contador no final de T1 é proporcional a T1,

onde fclk é a frequência do relógio (clock).

E a leitura n, no final de T2, é proporcional a T2,

1Tfn clkref =

2Tfn clk=então,

ref

A

clk

refclk

ref

Aclk V

vfn

fnVvTfn =⇔= 1

ref

Aref V

vnn =logo,

Octávio Páscoa Dias cap.4-39

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Assim, a contagem no final do processo de conversão (final de T2) é o equivalente digital de vA.

O ADC de dupla rampa apresenta uma precisão elevada, dado que o ceucomportamento é independente de R e de C.

Embora, de algum modo, constitua uma repetição do que atrás foi descrito, por se considerar um bom exercício para a assimilação do funcionamento deste tipo de ADCs, mostram-se, nas figura 4.22 a 4.25, as principais etapas da operação de um conversor AD, no qual se assume que a tensão de entrada, Vin, é positiva, e, por consequência, com a tensão de referência, Vref, negativa.

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-40

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No início da conversão o contador e o integrador (gerador da rampa), A1, estão colocados a “0”. A tensão analógica é aplicada à entrada do comutador, SW, que é actuado pela lógica de controlo.

Dado que na entrada inversora de A1 está presente uma massa virtual, e assumindo que a tensão de analógica de entrada, Vin, é constante durante um dado intervalo de tempo, então a corrente através da resistência R, é constante, e assim, a corrente que no condensador é também constante.

O condensador, C, carrega linearmente, uma vez que a corrente de carga é constante, e assim, a saída de A1 produz uma rampa linear de tensão com declive negativo (figura 4.22), que é proporcional à corrente de carga, a qual, por sua vez, é proporcional à tensão Vin.

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-41

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O contador é colocado a zero quando atinge um valor pré-fixado de contagem, e a lógica de controlo comuta SW, fazendo com que a tensão de referência –Vref. seja aplicada à entrada de A1 (figura 4.24). Nesta situação o condensador descarrega linearmente devido à corrente constante fornecida por –Vref. Esta descarga linear, produz uma rampa de tensão com declive positivo (figura 4.25) na saída de A1, com o valor inicial de –V. O declive da descarga depende de –Vref, sendo independente do valor de –V.

No final da carga de C, o contador é colocado a “0”. Durante a descarga do condensador o contador incrementa a contagem até a descarga se completar. O tempo que o condensador leva a completar a sua descarga, depende do valor inicial da tensão –V, o qual é proporcional a Vin, dado que o declive da característica de descarga é constante.

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-42

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Quando a tensão de saída do integrador A1 atinge o valor 0 V, o comparador A2 comuta para L-, o que faz com que o contador cesse a contagem.

A palavra binária produzida pelo contador é proporcional a Vin, uma vez que o tempo que o condensador leva a descarregar depende apenas do valor inicial, -V, o qual depende de Vin, e o contador incrementa a contagem (a partir de “0”) durante o tempo da descarga de C.

O ciclo de conversão termina com o armazenamento da palavra binária nos registos.

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-43

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Figura 4.22 –Diagrama de blocos do ADC de Rampa Dupla.

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-44

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Figura 4.23 – ADC de Rampa Dupla. Etapa1: carga do condensador (intervalo de tempo fixo e rampa variável).

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-45

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Figura 4.24 – ADC de Rampa Dupla. Etapa2: fim do intervalo de tempo fixo e comutação para –Vref.

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-46

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Figura 4.25 – ADC de Rampa Dupla. Etapa3: descarga do condensador (intervalo de tempo variável e rampa fixa).

ADC de Rampa Dupla (cont.)ADC de Rampa Dupla (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-47

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ADC de Rampa em DegrauADC de Rampa em Degrau

n A figura 4.26 mostra o diagrama de blocos do método de conversão A/D por rampa em degrau ou rampa digital.

n No início do ciclo de conversão o contador e o DAC estão colocados a zero. Quando a tensão analógica de entrada excede a tensão de referência (saída do DAC) o comparador comuta para L+, permitindo que os impulsos de relógio passem pela gate AND e activem o contador. A acção de contagem gera a tensão de rampa em degrau (tensão de referência).

n O contador incrementa a contagem até a tensão de referência alcançar a tensão analógica. Nesta situação, o comparador comuta para L-, o que bloqueia os impulsos de relógio na gate AND, e pára a contagem do contador.

Octávio Páscoa Dias cap.4-48

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ADC de Rampa em Degrau (cont.)ADC de Rampa em Degrau (cont.)

No ponto em que o contador cessa a contagem, a palavra binária é igual ao número de degraus da tensão de referência, que foram necessários para alcançar a tensão analógica de entrada. Assim, o valor binário do contador corresponde ao valor analógico da entrada. A lógica de controlo carrega a palavra binária nos registos e faz o reset do contador, preparando-o para o início de novo ciclo de conversão.

A figura 4.27 ilustra uma conversão de 4 bits, sendo de realçar que, para cada amostra, o contador tem de incrementar a sua contagem a partir de “0” até ao ponto em que em que a tensão de referência alcança o valor da tensão analógica.

O tempo de conversão varia com o valor da amostra a converter para a representação binária.

Octávio Páscoa Dias cap.4-49

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ADC de Rampa em Degrau (cont.)ADC de Rampa em Degrau (cont.)

Figura 4.26 – ADC de Rampa em Degrau.

Octávio Páscoa Dias cap.4-50

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ADC de Rampa em Degrau (cont.)ADC de Rampa em Degrau (cont.)

Figura 4.27 – Conversão de 4 bits pelo método da rampa em degrau.

Octávio Páscoa Dias cap.4-51

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ADC TrackingADC Tracking

O método tracking usa um contador up/down. Este tipo de conversor A/D é mais rápido que o método de rampa em degrau, uma vez que não é feito o reset ao contador no final de cada conversão. De facto, este método consiste em fazer com que a tensão de referência atinja rapidamente o valor da tensão analógica.

A figura 4.28 mostra o diagrama de princípio de funcionamento de um ADC tracking (tracking counter ADC), que se processa com a seguir se descreve.

Enquanto a tensão de referência, vr, for menor do que a tensão analógica de entrada, va, a saída, vC, do comparador está no estado L+, fazendo com que o contador incremente o valor da palavra binária (up mode).

Octávio Páscoa Dias cap.4-52

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ADC Tracking (cont.)ADC Tracking (cont.)

Figura 4.28 – Diagrama de blocos de um ADC tracking (tracking counter ADC).

⎪⎪⎪

⎪⎪⎪

av

cv

rv

Octávio Páscoa Dias cap.4-53

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Deste modo, a tensão em degrau na saída, vr, do DAC aumenta até atingir o valor de va. Quando vr alcança a tensão analógica, o comparador comuta para o estado L-, fazendo com que o contador decremente uma contagem (down mode).

Se a tensão analógica está a diminuir, então o contador continua a decrementar até alcançar de novo a tensão de entrada.

Se a tensão de entrada está a aumentar, o contador após decrementar uma contagem (por ter alcançado a tensão analógica), volta a incrementar o valor da palavra digital até atingir o novo valor da tensão de entrada.

Se a tensão analógica é constante o contador decrementa uma contagem quando alcança o valor da tensão de entrada.

ADC Tracking (cont.)ADC Tracking (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-54

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A tensão de referência é agora inferior à entrada analógica, o comparadorcomuta para L+, e o contador incrementa a contagem. Logo que a palavra digital é incrementada, a tensão de referência fica superior à entrada analógica e de novo o comparador comuta para L-, o que faz com que o contador decremente uma contagem. Esta acção incrementa/decrementa mantém-se enquanto a tensão analógica permanecer constante, provocando a oscilação da saída entre dois estados binários. Este comportamento constitui uma desvantagem deste tipo de conversão A/D.

n A figura 4.29 mostra a acção de tracking deste modo de conversão, para um ADC de 4 bits.

ADC Tracking (cont.)ADC Tracking (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-55

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ADC Tracking (cont.)ADC Tracking (cont.)

Figura 4.29 – Conversão por um ADC tracking de 4 bits.

Octávio Páscoa Dias cap.4-56

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ADC por Redistribuição de CargaADC por Redistribuição de Carga

A técnica de conversão AD por redistribuição de carga é particularmente indicada para ser implementada por intermédio da tecnologia CMOS. A figura 4.30, mostra o esquema eléctrico de princípio de operação deste tipo de conversor, na qual, se pode identificar o conjunto de condensadores ligados em paralelo, cujas capacidades têm ponderação binária, um comparador de tensão, e os interruptores analógicos, os quais são activados por um bloco de controlo lógico, que a figura não representa.

O circuito da figura 4.30 ilustra um conversor de 5 bits, cujos pesos binários são assegurados pela relação entre as capacidades dos condensadores. De facto, cada uma das capacidades pode ser determinada pela expressão,

NicomCC Nbi ,.......,2,1;2 )1( =×= −−

Octávio Páscoa Dias cap.4-57

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ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

onde Cbi é a capacidade do condensador que implementa o bit i e C é a capacidade do condensador que implementa o peso do MSB. Deste modo, para um conversor de 5 bits (figura 4.30), tem-se,

CCCCCCMSBbit

CCCCCCbit

CCCCCCbit

CCCCCCbit

CCCCCCLSBbit

=⇒=⇒×=≡

=⇒=⇒×=≡

=⇒=⇒×=≡

=⇒=⇒×=≡

=⇒=⇒×=≡

−−

−−

−−

−−

−−

304)55(

5

314)45(

4

323)35(

3

232)25(

2

141)15(

1

22)(5

2224

4223

8222

1622)(1

Octávio Páscoa Dias cap.4-58

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ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

av

refVAS

5S 4S 3S 2S 1S

C×−− )55(2

5bit 4bit

C×−− )45(2 C×−− )35(2

3bit

C×−− )25(2

2bit)(LSB

C×−− )15(2

C 2C 1bit

)(MSB 4C

8C

16C

comparador

Ov

Figura 5.30 – Valor dos condensadores de um conversor AD de 5 bits, por redistribuição de carga.

A contribuição de cada um dos bits para a tensão vO, que é aplicada à entrada do comparador, pode ser determinada ligando o bit em teste à tensão de referência Vref, e os restantes à massa.

Octávio Páscoa Dias cap.4-59

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ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

Assim, a contribuição de tensão do bit i para a tensão vO, pode ser determinada por intermédio do circuito representado na figura 4.31, de onde se conclui que,

∑=

==∆⇒−+

=∆N

iitotal

total

irefbO

itotali

irefbO CCcom

CCVV

CCCCVV

ii1

,)(

itotal CC −

refV iC

comparador

ibOO Vv ∆=

ibOV∆

Figura 4.31 – Contribuição de bi para vO.

Octávio Páscoa Dias cap.4-60

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A operação do conversor pode ser dividida em três fases distintas, que se ilustram nas figuras 4.32, 4.33 e 4.34, sendo de realçar que o condensador CT tem a função de terminar o paralelo dos condensadores ponderados, fazendo com que a capacidade total, Ctotal, seja igual a 2C.

Na fase de amostragem (figura 4.32), o interruptor SB fecha para ligar à massa o terminal superior dos condensadores o que faz com que a tensão vO seja colocada a zero (vO=0 V). Em simultâneo o interruptor SA liga a tensão analógica va ao terminal inferior do paralelo de condensadores, fazendo com que a capacidade total de 2C fique com o valor que a tensão va apresenta nesse instante, dando origem a uma carga armazenada Q=2C×va. Deste modo, durante a fase de amostragem, é tomada uma amostra de va sendo armazenada na bateria de condensadores uma carga proporcional ao valor que a tensão analógica apresenta nesse instante.

ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-61

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ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

5S 4S 3S 2S 1S

)(MSB )(LSB

Figura 4.32 – Operação do ADC por redistribuição de carga (Fase de Amostragem).

Octávio Páscoa Dias cap.4-62

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Na fase de retenção (figura 4.33), o interruptor SB abre enquanto os interruptores S1 (LSB) a S5 (MSB) e o interruptor ST comutam para o terminal de massa. Assim, a carga adquirida pelos condensadores na fase de amostragem, permanece constante e igual a 2CvA, uma vez que os condensadores ficam em circuito aberto. Deste modo, o terminal superior dos condensadores ficam com a tensão –vA.

É de realçar que durante esta fase, o interruptor SA é ligado à tensão de referência, Vref, o que faz com que o circuito fique preparado para a fase de distribuição de carga.

ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-63

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ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

)(MSB

5S 4S 3S 2S1S

)(LSB

Figura 4.33 – Operação do ADC por redistribuição de carga (Fase de Retenção).

Octávio Páscoa Dias cap.4-64

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ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

A fase de distribuição de carga (figura 4.34), é iniciada pela comutação do bit mais significativo, S5 (MSB), para o terminal de Vref, o que faz com o circuito fique configurado como um divisor de tensão capacitivo, constituído pela tensão de referência, Vref, e pelo condensador C em série com o paralelo dos restantes. Agora, se o módulo de va for maior do que Vref/2 (contribuição do bit 5) a tensão vO negativa. Assim, comparadorpermanece no mesmo estado e o interruptor S5 é deixado na sua nova posição (ligado a Vref). Porém, se o módulo de va for inferior a Vref/2, a tensão vO torna-se positiva o que faz com que o comparador mude de estado, e faça com que a lógica de controlo comute S5 para aposição anterior (ligado à massa).

Octávio Páscoa Dias cap.4-65

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ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

Em seguida é testado o bit 4, isto é, o interruptor S4 é ligado a Vref, o que faz com que a tensão va sofra uma variação positiva igual a Vref/4(contribuição do bit 4).

Se vO continuar negativa, S4 é deixado na sua nova posição. Se tal não acontecer, ou seja, se vO se tornar positiva, S4 volta à posição anterior e a lógica de controlo passa ao teste de S3, repetindo o mesmo procedimento para todos os bits.

É de realçar que durante a fase de redistribuição de carga, o valor do módulo da tensão, vO, vai diminuindo incrementalmente até zero. A posição dos interruptores no final desta fase, fornece a palavra digital que codifica a tensão analógica na entrada do conversor.

Octávio Páscoa Dias cap.4-66

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ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

De facto, um interruptor comutado para a massa, indica que o bitcorrespondente é “0”, enquanto que, se o interruptor se encontrar ligado a Vref , significa que o bit respectivo tem o valor “1”. No caso particular do exemplo indicado na figura 4.34, a palavra digital é, D=0110.

Repare-se que no final da fase de redistribuição de carga, toda a carga se encontra armazenada nos condensadores correspondentes aos bits colocados a “1”, uma vez que os condensadores ligados aos bits colocados a “0” foram descarregados, dado que o terminal inferior destes condensadores tem a tensão zero (massa) e a tensão nos terminaissuperiores de todos os condensadores é também nula (vO=0).

Octávio Páscoa Dias cap.4-67

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A precisão deste método de conversão A/D é independente do valor das capacidades parasitas ligadas às placas inferiores dos condensadores. De facto, isto ocorre porque as placas inferiores são ligadas tanto a Vref como à massa, o que faz com que as correstes de carga/descarga destascapacidades parasitas não circulem pelo paralelo dos condensadores.

Porém, as capacidades parasitas associadas às placas superiores dos condensadores podem provocar um desvio no valor final de vO, o que faz com que este tipo de conversão seja utilizada em conversores A/D até 10 bits.

ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

Octávio Páscoa Dias cap.4-68

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5S 4S 3S 2S 1S)(MSB )(LSB

ADC por Redistribuição de Carga (cont.)ADC por Redistribuição de Carga (cont.)

Figura 4.34 – Operação do ADC por redistribuição de carga (Fase de Redistribuição).

Octávio Páscoa Dias cap.4-69

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4.2 – Características de Desempenho dos Conversores A/D4.2 – Características de Desempenho dos Conversores A/D

A resolução (resolution) de um conversor analógico/digital pode ser caracterizada pelo seu número de bits ou pelo valor da cada degrau de tensão em que a tensão analógica de entrada pode ser discritizada, sendo determinada pela relação,

resoluçãoresolução

12 −= N

FSVresolução

onde N é o número de bits do ADC e VFS é o valor máximo da tensão que pode ser aplicada ao conversor.

Como exemplo, um ADC de 10 bits com VFS=5 V, tem uma resolução de 5/(210-1)=4,88 mV, o que significa que a tensão de entrada deve variar pelo menos 4,88 mV para que o ADC distinga o novo nível de tensão.

Octávio Páscoa Dias cap.4-70

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precisãoprecisão

A precisão (accuracy) de um conversor analógico/digital avalia o desvio entre o comportamento teórico e o comportamento real do ADC.

De facto, a precisão depende de diversos parâmetros que caracterizam o desempenho do ADC nomeadamente (1) o erro de quantificação, (2) o erro de desvio do zero (offset), (3) o erro do ganho e (4) as não-linearidades.

Usualmente a precisão de um ADC é especificada por uma fracção do LSB, sendo, normalmente indicada como “melhor do que ± 1/2 LSB”.

Octávio Páscoa Dias cap.4-71

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erro de quantificaçãoerro de quantificação

O erro de quantificação (quantization error) mede a diferença máxima entre o nível usado para representar a tensão de entrada e o valor real dessa tensão.

Por exemplo, se um conversor A/D tem os níveis de quantificação separados por 1 V (figura 4.35), então o valor de tensão correspondente ao LSB é também de 1 V. Assim, no caso da tensão analógica de entrada ter o valor de 2,5 V, o código binário de saída será 1 0, que corresponde ao valor 2 na base 10. O erro cometido nesta quantificação será de 0,5 V= ½ LSB.

Se o valor da tensão de entrada pertencer ao intervalo 2,001 V e 3 V(figura 4.36) a palavra binária de saída será também 1 0 ( 2 decimal).

Octávio Páscoa Dias cap.4-72

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erro de quantificaçãoerro de quantificação

Deste modo, mesmo que o conversor tenha uma precisão perfeita, a palavra de saída pode apresentar um erro de 1 V ou seja 1 LSB. De facto, o erro de quantificação pode descrever melhor a precisão a esperar do ADC.

Figura 4.35 – Conversor paralelo de 4 bits. Figura 4.36 – Códigos binários do conversor paralelo de 4 bits.

Octávio Páscoa Dias cap.4-73

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O erro de desvio do zero (offset error) mede o desvio entre a curva de transferência ideal e a curva de transferência real, para o menor nível de transição, de um ADC, (figura 4.37).

erro de desvio do zeroerro de desvio do zero

Figura 4.37 – Característica de saída com erro de desvio do zero.

Octávio Páscoa Dias cap.4-74

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O erro de ganho (gain error) mede a diferença entre os declives das curvas de transferência ideal e real do ADC, para o valor máximo do código binário (figura 4.38).

erro de ganhoerro de ganho

Figura 4.38 – Característica de saída com erro de desvio do zero.

Octávio Páscoa Dias cap.4-75

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não-linearidade diferencialnão-linearidade diferencial

O erro de linearidade diferencial ou não-linearidade diferencial (differential nonlinearity) descreve as variações na tensão analógica entre pares de códigos adjacentes, em toda a gama das palavras digitais de saída. Se a largura de cada degrau de transição é exactamente 1 LSB, o erro de não-linearidade diferencial é nulo.

Uma não-linearidade diferencial menor do que ± 1LSB, garante que não se perdem de códigos.

Por exemplo, se a transição entre códigos consecutivos é de 1LSB±1LSB, o que corresponde um erro de linearidade diferencial de ±1LSB, existe a possibilidade de se perderem códigos. No exemplo da figura 4.39 a saída digital passa de 0011 para 0101 perdendo-se o código 0100.

Octávio Páscoa Dias cap.4-76

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1 LSBDNL1 LSB

não-linearidade diferencial (cont.)não-linearidade diferencial (cont.)

Figura 4.39 – Característica de saída com não-linearidade diferencial.

Octávio Páscoa Dias cap.4-77

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INL1 LSB

não-linearidade integralnão-linearidade integral

Figura 4.40 – Característica de saída com não-linearidade integral.

O erro de linearidade integral ou não-linearidade integral (integral nonlinearity), é definido como a diferença máxima entre as curvas de transferência ideal e real, do conversor A/D (figura 4.40)

Octávio Páscoa Dias cap.4-78

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A gama dinâmica (dynamic range – DR) de um conversor A/D é a razão entre o nível mais elevado e o menor nível da quantificação digital. A DRé usualmente expressa em decibeis (dB). Para um conversor de N bits tem-se,

NDRNDRDRDR Nn

02,62log202log2022log20 0 =⇒=⇔=⇒=

não-linearidade integralnão-linearidade integral

O tempo de conversão (conversion time) de um ADC corresponde ao tempo necessário para o conversor produzir o código na saída, que corresponde à tensão analógica de entrada.

Em aplicações exigentes quanto à velocidade de conversão são usados conversores paralelo (flash).

tempo de conversãotempo de conversão

Octávio Páscoa Dias cap.4-79

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4.3 – Erros associados à variação do sinal4.3 – Erros associados à variação do sinal

Em aplicações que exigem uma conversão A/D muito rápida, pelo facto do sinal analógico variar rapidamente, podem ocorrer erros graves na conversão. De facto, como se ilustra na figura 4.41, se o valor do sinal analógico variar significativamente durante o tempo de conversão, a palavra digital de saída pode corresponder ao valor do sinal no início do ciclo de conversão, no fim do ciclo de conversão ou qualquer outro valor intermédio, dependendo do método de conversão utilizado.

Uma vez que o erro de tensão, ∆V, é função da rapidez da variação do sinal, o erro das palavras digitais de saída é variável, sendo, por isso, muito difíceis de corrigir.

Octávio Páscoa Dias cap.4-80

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Este tipo de erros pode ser eliminado ou significativamente reduzido, por intermédio de um circuito de amostragem e retenção (sample and hold –S/H). A figura 4.42, representa um exemplo simples, deste tipo de circuitos, onde se pode identificar o interruptor analógico, implementado por intermédio de um transístor MOS, e o respectivo condensador de amostragem, que se destina à retenção do valor das amostras tomadas do sinal analógico. O circuito S/H é estudado na próxima secção, e a análise do interruptor analógico é desenvolvida no capítulo 5 deste texto.

Figura 4.41 – Variação de vi durante o tempo de conversão. Figura 4.42 – Circuito sample and hold.

4.3 – Erros associados à variação do sinal (cont.)4.3 – Erros associados à variação do sinal (cont.)