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    Provrbiosintroduoe comentrio

    Derek Kidner

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    PROVRBIOS

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    PROVRBIOSIntroduo e Comentrio

    por

    R. Derek Kidner, M. A.Diretor, Tyndale House, Cambridge

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    Ttulo do original em ingls:

    PROVERBSAn Introduction and Commentary

    Copyright 1964 pelaINTER-VARSITY PRESSLondres, Inglaterra

    Srie: TYNDALE COMMENTARY

    Traduo:Gordon ChownPrimeira edio: 1980 4.000 exemplares

    Publicado no Brasil com a devida autorizaoe com todos os direitos reservados pelas Editoras:SOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVAeASSOCIAO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTOSo Paulo, SP, Brasil

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    PREFCIO GERAL

    As boas-vindas dadas srie de Comentrios Tyndale do NovoTestamento,e muitos pedidos, nos animam a lanar volumes adicionais,tendo como alvo uma srie de comentrios para todo o Antigo Testamento.

    O alvo desta srie equipar o estudante da Bblia com um comentrio conveniente e atualizado sobre cada Livro, ressaltando-se em primeiro lugar a exegese. As questes crticas de maior importncia sediscutem nas introdues e notas adicionais, mas detalhes tcnicos desnecessrios foram evitados. O tamanho de alguns livros do Antigo Testamento no permitir um tratamento pormenorizado, j que estes comentrios tm de ficar dentro de um espao e preo moderados; mesmoassim, consideraes que visam estimular o pensamento devocional nose excluem inteiramente, para o bem do estudante da Bblia e do pregador.

    Embora todos os autores sejam unidos na sua crena quanto inspirao divina, fidedignidade essencial e relevncia prtica das Sagradas Escrituras, os autores individuais fizeram livremente as suas

    prprias contribuies. Nenhuma uniformidade detalhada de mtodo foi

    imposta quanto ao modo de tratar livros que variam muito quanto aoassunto, forma e ao estilo como os do Antigo Testamento.No Antigo Testamento, especialmente, nenhuma traduo sufi

    ciente, por si mesma, para refletir o texto original. Os autores destescomentrios, portanto, citam livremente vrias verses, ou oferecem sua

    prpria traduo, na tentativa de tornar significantes em nossos diasas passagens ou palavras mais difceis. Quando h necessidade, palavras

    do Texto Massortico hebraico (e aramaico) que subjazem estes estudosso transliteradas. Desta maneira, o leitor que talvez no tenha familiaridade com as lnguas semticas, ser ajudado a identificar a palavrasob discusso, podendo, assim, acompanhar o argumento. Outros observaro que estas transliteraes seguem um padro bem reconhecido(conforme se emprega, por exemplo, no Novo Dicionrio da Bblia,

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    1962). A cada passo nestes comentrios, pressupe-se que o leitor tenha

    mo uma boa verso da Bblia em portugus, ou at mais.H sinais de um interesse renovado no significado e na mensagem

    do Antigo Testamento, e espera-se que esta srie venha a promovero estudo sistemtico da revelao de Deus, da Sua vontade e dos Seuscaminhos conforme se vem nestes registros. a orao do editor e daeditora, como tambm dos autores, que estes volumes ajudem muitas

    pessoas a compreenderem a Palavra de Deus e a corresponderem a

    ela hoje.D. J. Wiseman

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    NDICE

    Prefcio Geral 5Prefcio do Autor 9Abreviaturas Principais 11Introduo 13

    O Livro de Provrbios e a Sabedoria de Israel 13A Sabedoria no Mundo Antigo 17A Estrutura, Autoria, Data e Texto de Provrbios 22

    Estudo de Assuntos 30Deus e o Homem 30A Sabedoria 35O Insensato 37O Preguioso 41O Amigo 42Palavras 44A Famlia 49A Vida e a Morte 51

    Anlise 55

    Comentrio 56Uma Breve Concordncia de Provrbios (ARA) 179

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    PREFCIO DO AUTOR

    Na multido de palavras no falta transgresso (Pv 10:19 ARC);quando se trata de sessenta mil delas, um prefcio nada far paramelhorar a situao. Mesmo assim, desejo agradecer queles que me

    indicaram vrias notas e estudos de assuntos no Livro de Provrbiosque, doutra forma, teria deixado passar em branco. Nos meus temposde estudante, meus ps foram dirigidos para este caminho pelo ProfessorD. W. Thomas, para maior benefcio meu; no se deve pensar, porm,que meu progresso errtico seja culpa dele. Em tempos mais recentes,tambm desfrutei do estmulo e conselho de membros do Grupo Vetero-testamentrio da Comunidade Tyndale, especialmente do Professor D.

    J. Wiseman e do Sr. K. A. Kitchen mas eles, tambm, devem serinocentados de qualquer cumplicidade pelas concluses que tirei, sendoelas minhas prprias.

    Pede-se ao leitor que tenha pacincia com discusses que s vezesse tomam um pouco tcnicas, pois mesmo num comentrio breve, a

    primeira preocupao tem de ser o significado do texto. Mesmo assim,para formar um contrapeso a esta ateno a detalhes, inclu duas ajudaspara a navegao, mediante as quais se torna mais fcil a exploraode Provrbios de fio a pavio. A primeira uma coleo de estudos deassuntos, na qual oito tpicos principais de ensino, espalhados peloLivro inteiro, tm suas respectivas matrias juntadas; a segunda umabreve concordncia que talvez servir para o propsito duplo de localizarditados que nos escapam memria (num Livro onde, bem se sabe,h dificuldade em fixar a posio de provrbios individuais), e de providenciar os incios de estudos adicionais por assunto. Por tais meios,

    possa a negligenciada riqueza dos Provrbios achar seu caminho paramuitas mos novas.

    Derek Kidner

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    ABREVIATURAS PRINCIPAIS

    AASOR

    AIBBANET

    ARAARCAV

    BDB

    BWL

    DOTT

    E.T.FritschHeb.

    IB

    ICC

    m i

    A

    JTS

    Annual of the American Schools o f Oriental Research(Anurio dos Colgios Americanos de Pesquisas Orientais).

    Almeida, Verso da Imprensa Bblica Brasileira.Ancient Near Eastern Texts2(Textos do Antigo OrientePrximo) por J. B. Pritchard, 1955.Almeida Revista e Atualizada.Almeida Revista e Corrigida.Verso Inglesa Autorizada da Bblia (Rei Tiago).

    Hebrew-English Lexicon o f the Old Testament(Dicionrio

    Hebraico-Ingls do Antigo Testamento) por Brown, Driver and Briggs, 1907.

    Babylonian Wisdom Literature (Literatura SapiencialBabilnica) por W. G. Lambert, 1960.

    Documents from Old Testament Times (Documentos dosTempos do Antigo Testamento), editado por D. W. Thomas, 1958.

    Traduo em ingls de uma obra estrangeira.Ver IB, abaixo.Hebraico.

    Interpreters Bible (Comentrio Bblico para Intrpretes), Vol. 4 (Salmos, Provrbios), 1955: Exegese por C. T.Fritsch.

    International Critical Commentary: Proverbs (Comentrio

    Crtico Internacional: Provrbios), por C. H. Toy, 1899.Journal of Biblical Literature (Revista da Literatura Bblica).Journal o f Egyptian Archaeology(Revista da ArqueologiaEgpcia).

    Journal o f Theological Studies (Revista de Estudos Teolgicos).

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    KB Lexicon in Veteris Testamenti Libros (Lxico dos Livros

    do Antigo Testamento), por Khler-Baumgartner, 1953.Knox Uma Nova Traduo (para o Ingls) do Antigo Testamento,tirada da Vulgata Latina por Ronald A. Knox, 1949.

    LXX A Septuaginta (verso grega pr-crist do Antigo Testamento).

    Martin Proverbs (etc.) (Century Bible), 1908: Comentrio por G.C. Martin.

    mg. Margem (traduo alternativa na margem).Moffatt Uma nova traduo da Bblia, por James Moffatt, 1935.TM Texto Massortico.NCB O Novo Comentrio da Bblia, editado por F. Davidson,

    A. Stibbs, E. Kevan, 1953. Edies Vida Nova.Oesterley Ver WC, abaixo.OTMS The Old Testament and Modem Study (O Antigo Testa

    mento e o Estudo Moderno), editado por H. H. Rowley,1951.

    OTS Oudtestamentische Studien (Estudos no Antigo Testamento).

    RV Verso Revista da Bblia em Ingls, 1885.RSV Verso Padronizada Americana Revista da Bblia, 1952.SP Sumerian Proverbs (Provrbios Sumerianos), por E. I.

    Gordon, 1959.Sir. A Pesita (Traduo do Antigo Testamento em Siraco).Targ. O Targum (Traduo do Antigo Testamento Em Ara-

    maico).Toy Ver ICC, supra.Vulg. A Vulgata (Traduo da Bblia em Latim, por Jernimo).VT Vetus Testamentum.

    WC Westminster Commentaries: Proverbspor W. O. E. Oesterley, 1929.

    WIANE Wisdom in Israel and in the Ancient Near East (A Sabedoria em Israel e no Oriente Prximo Antigo), editado porM. Noth e D. W. Thomas, 1955.

    ZA W Zeitschrift fr die alttestamentliche Wissenschaft.

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    INTRODUO

    I. O Livro de Provrbios e a Sabedoria de Israel.

    Faz com que as pessoas ms sejam boas, e que as boas sejam agradveis. Esta foi, segundo se diz, a orao dalguma criana. Com brevidade proftica, transmite a verdade de que h detalhes de cartersuficientemente pequenos para escapar s malhas da Lei e aos violentosataques dos profetas, sem deixarem de ser decisivos no convvio pessoal.O Livro de Provrbios ativo neste setor, e pergunta como uma pessoa quando se tem que conviver com ela, ou ser empregador dela; comotrata dos seus negcios, do seu tempo e de si mesma. Esta senhoraexcelente, por exemplo ser que fala demais? Aquele homem toanimado suportvel de manh cedo? E para aquele amigo quesempre est fazendo visitas aqui h algum conselho para ele . . . e

    para aquele rapaz um pouco desprovido de alvos na vida. . .Este, porm, no um lbum de retratos, nem um livro sobre boas

    maneiras: oferece uma chave vida. As amostras de comportamentoque espalha diante das nossas vistas so aquilatadas, todas elas, porum nico critrio, que poderia ser resumido na pergunta: Isto sabedoria ou estultcia? Esta uma abordagem que unifica a vida, porquese adapta aos campos mais corriqueiros tanto quanto aos mais exal

    tados. A sabedoria deixa a sua assinatura em qualquer coisa bemfeita ou bem julgada, desde uma observao apropriada at ao prpriouniverso, desde uma poltica sbia (que brota de uma introspeco

    prtica) at uma ao nobre (que pressupe discernimento moral eespiritual). Noutras palavras, fica igualmente bem encaixada nos ambientes da natureza e da arte, da tica e da poltica, sem mencionar outros,2 forma uma base nica de julgamento para eles todos.

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    PROVRBIOS

    Uma abordagem deste tipo poderia ter o efeito de abaixar tudoat um nvel comum, se a sabedoria fosse o equivalente do clculo

    egosta. H, de fato, certa quantidade de clculo em Provrbios, poish muitas exortaes no sentido de contarmos o custo ou a recompensa das nossas aes, e de estudarmos os modos de conseguirmosfazer as coisas; mesmo assim, a sabedoria que aqui se ensina se centraliza em Deus, e mesmo quando mais prtica consiste no manuseiosbio e sadio dos seus negcios no mundo de Deus, em submisso Sua vontade.1

    Provrbios no o nico livro do gnero. Um grupo especfico emIsrael estudava a vida deste ponto de vista, e se reconhecia como umdos canais principais da revelao. Havia um ditado, citado em Jeremias18:18, que no h de faltar a lei ao sacerdote, nem o conselho aosbio, nem a palavra ao profeta; e o tom da voz deste segundo grupo

    pode ser ouvido nalguns dos Salmos, mas especialmente nos trs LivrosSapienciais do Antigo Testamento: J, Provrbios e Eclesiastes. Nestes

    dois volumes que acompanham Provrbios, a nfase muda de declaraes para perguntas ou, para dizer a mesma coisa noutras palavras,de perguntas que comeam com Qual? (Quais so as qualidades deuma esposa excelente?, Quais so os perigos do viver imoral?, eassim por diante, para as que comeam com Como? e Por qu?

    perguntas a respeito dos caminhos de Deus e o propsito da vida.A tradio da sabedoria continuou no judasmo, deixando seus

    depsitos mais notveis em dois livros que se acham na Apcrifa: Eclesistico (conhecido, de modo mais conveniente, pelo nome do seu autor,Ben Siraque) e a Sabedoria de Salomo. Ben Siraque (cerca de 180 d.C.)segue a tradio de Provrbios, mas mais discursivo e mais distintamente judaico. A Sabedoria de Salomo (sculo primeiro a.C.) temalcance mais largo do que Ben Siraque, mormente ao desenvolver o temada sabedoria personificada de Provrbios 8, a respeito da qual emprega

    linguagem que parcialmente uma antecipao dos termos cristolgicosdo Novo Testamento, e parcialmente aquilo que se pode chamar umflerte platnico com o pensamento grego. Quanto a este segundo aspecto, logo seria ultrapassada pelo judeu alexandrino, Filo. "

    1 Este fato se estuda mais profundamente no assunto: "Deus e o Homem, pgs.31ss.

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    INTRODUO

    Alm disto, podemos seguir o curso do elemento sapiencial emIsrael at tempos bem antigos. Antes de Salomo dar a ele o estmuloimenso do seu prprio gnio e o influxo do talento estrangeiro, havia

    conselheiros permanentes na corte do seu pai (1 Cr 27:32, 33), e reputaes no oficiais que se espalhavam por grandes distncias. Em 2Samuel 14 encontramos a sbia de Tecoa, e outra em Abel em 20:16ss.,que declarou que a prpria cidade era famosa pelo seu conselho. E hevidncia melhor do que reputaes, pois h ditados que sobreviverama partir daqueles tempos nos estilos caractersticos da sabedoria. Davicitou um provrbio (maal)dos antigos (1 Sm 24:13), Sanso props

    seu enigma (hid;Jz 14:14; cf. 1:6), Joto sua fbula (Jz 9:8ss.) umaforma favorita no mundo antigo e Nat props sua parbola (2 Sm12:lss.). A maior parte destes exemplos se forma de modo belo: a percia prova eloqente do vigor de uma tradio viva.

    Podemos perguntar, tambm, qual foi exatamente o alcance destemovimento. Alguns suspeitam que existe alguma rivalidade entre os

    profetas e esta escola, e certo que h alguns ataques dos profetascontra os sbios (e.g. Is 29:14; Jr 8:8). Mas no havia verdadeira lutade interesses; os homens que foram assim denunciados estavam fazendoemprego errneo dos seus poderes, assim como os profetas e sacerdotesfalsos abusavam dos seus. A verdadeira sabedoria e a verdadeira profecia comearam do temor do Senhor, e ambas trabalhavam muito paralevar Israel apensar.Foi um profeta que disse: O meu povo est sendodestrudo, porque lhe falta o conhecimento; e seus companheiros fizeram eco a isto (Os 4:6; cf. Is 1:3; 5:13; Jr 4:22; etc.). Foi, apropriadamente, um sbio o prprio Salomo que disse, a respeito da

    profecia: No havendo profecia o povo se corrompe (29:18). At astcnicas dos sbios eram empregadas na profecia: cf. a seqncia marcante que comea com as palavras: Andaro dois juntos . . .?, emAms 3:3-8, e vrios termos e passagens em Jeremias (e.g. 17:5ss.).2

    Indo mais alm, podemos ver a sabedoria como sendo um fio quepercorria a totalidade do tecido do Antigo Testamento. J que Deus consistente consigo mesmo, aquilo que Sua vontade sempre se podeexpressar como sendo aquilo que a sabedoria dita, e os temas da hist-

    2 Ver mais em J. Lindblom, Wisdom in the Old Testament Profets (Sabedornos Profetas do Antigo Testamento), em WIANE, pgs. 192ss.

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    PROVRBIOS

    ria, da lei, da profecia e da apocalptica podem todos ser transpostospara este estilo. A queda do homem era a escolha daquilo que mostrouboa probabilidade de dar entendimento (Gn 3:6), mas que desres

    peitou o primeiro princpio da sabedoria, a saber: o temor do Senhor.Contrastando-se com isto, o ltimo retrato em Gnesis a imagem vivado sbio de Provrbios, na pessoa de Jos, que (citando G. von Rad3)atravs da disciplina, da modstia, do conhecimento, do controle--prprio e do temor a Deus (Gn 42:18) dera uma forma nobre totalidade do seu ser . . . Diante de Fara, comprova que um conselheirosbio, e diante dos seus irmos, aquele que sabe guardar silncio, . . .e, finalmente, que aquele que cobre todas as transgresses comamor (10:12). Outra vez, Deuteronmio apresenta a lei como sendoa vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos(Dt 4:6), e coloca diante de Israel os mesmos dois caminhos de vida emorte, que so um tema favorito de Provrbios. A apocalptica no exceo, pois mostra que o destino humano foi mapeado pela sabedoriadivina, e que o mapa se l pelos sbios (Dn 2:20, 21; 12:10). Na era do

    porvir, mais uma vez, so os sbios que resplandecero como o fulgordo firmamento; e esta apenas outra expresso para indicar aquelesque a muitos conduzem justia (Dn 12:3).

    Finalmente, no devemos parar na antiga aliana. Algum maiordo que Salomo haveria de vir, que escolheu para Seus ensinamentosas formas e os ritmos dos sbios, elevando o ma/4 sua perfeio finalnas Suas parbolas. Quanto Sua Pessoa, enquanto o Novo Testamentoretomava a linguagem da Lei e dos Profetas para descrever Seu ofcioentre Seu povo, como Sacerdote, Profeta e Rei, voltava-se aos Provr

    bios (ver 8:22ss.) e para as formas de pensamento dos sbios, na procurade termos para expressarem Sua relao com o universo e Sua identidade com o Pai, como Aquele em Quem todas as coisas foram criadase consistem, em Quem jazem ocultos todos os tesouros da sabedoria

    e do conhecimento; Cristo, de fato, como a Sabedoria de Deus.

    3 Teologia do Antigo Testamento I, pg. 405/6. ASTE, SP.

    4 Para este termo, ver o comentrio sobre 1:1; para a aplicao dele s parbolasdo nosso Senhor, cf. Mt 13:35 com SI 78:2.

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    INTRODUO

    II. A Sabedoria no Mundo Antigo

    A Bblia muitas vezes faz aluso sabedoria e aos sbios dos vizi

    nhos de Israel, especialmente os do Egito (Atos 7:22; 1 Reis 4:30[TM5:10]; Is 19:11, 12), do Edom e da Arbia (Jr 49:7; Ob 8; J 1:3; 1 Rs4:30), da Babilnia (Is 47:10; Dn 1:4, 20, etc.) e da Fencia (Ez 28:3ss.;Zc 9:2). Embora o Antigo Testamento desprezasse a magia e.superstioque aviltavam boa parte deste pensamento (Is 47:12, 13), e o orgulhoque o insuflava (J 5:13), pode falar dos sbios gentios com um respeitoque nunca demonstra para com os sacerdotes e profetas deles. Salomo

    os ultrapassava, mas este fato para nos impressionar; e Daniel foi maisexcelente do que os sbios da Babilnia como aquele que ficou na liderana da prpria profisso deles (Dn 5:11, 12). Reconhecia-se que foiDeus Quem deu compreenso sobrenatural a estes israelitas; mas oAntigo Testamento claramente d a entender que um homem ainda

    pode pensar de modo vlido e falar com sabedoria, dentro de um campolimitado, sem revelao especial. A histria de Aitofel coloca isto fora

    de dvida; o conselho dele continuava a ser procurado como respostade Deus a uma consulta, mesmo depois de ele se ter tomado traidor(2 Samuel 16:23; 17:14).

    O modo rpido de a reputao de Salomo se espalhar, bem comoo grande nmero de visitantes estrangeiros que vinha ouvi-lo (1 Rs4:34; 10:1-13, 24), ilustram o clima intelectual daqueles tempos, tanto

    fora como dentro de Israel. Era coisa corriqueira os sbios visitaremcortes estrangeiras para mutuamente se testarem a sagacidade e a sabedoria. Se Salomo no fez visitas para retribuir as que recebia, pelomenos despertava-se interesse na sua corte ao comparar-se os ditadosdele com as palavras dos seus visitantes (1 Rs 4:30, 31), e Provrbiosdemonstra pelo seu contedo que os sbios de Israel estavam dispostosa peneirar e assimilar parte destas riquezas importadas (ver abaixo,

    Estrutura e Autoria, pgs. 22ss.).Uma quantidade suficiente desta sabedoria antiga sobreviveu para

    nos dar uma idia dos seus interesses principais e da sua qualidade,e fica imediatamente claro que estava buscando (entre outras coisas)respostas s mesmssimas perguntas que ocupam os livros bblicos sapi-enciais de J, Provrbios e Eclesiastes. Na Mesopotmia, a perplexidadea respeito do govemo moral do mundo vinha de longa data: citandoW. G. Lambert: O problema do justo que sofre, certamente estava

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    PROVRBIOS

    implcito a partir da poca da Terceira Dinastia de Ur5 e isto foimil anos antes de Salomo. J nos dias dos patriarcas escreviam-se

    poemas sobre este tema,6 e obras de vulto s vezes chamadas O JBabilnio (Ludlul bei nemeqi) e O Eclesiastes Babilnio (A Teo-dicia um dilogo acrstico a respeito da misria humana) foramcompostas, conforme parece, antes dos dias dos Juizes israelitas, nocaso da primeira, e a ltima, provavelmente pelos tempos de Davi.7

    A sabedoria prtica, mais semelhante de Provrbios, tem umahistria ainda mais longa (sua pr-histria discutida de modo interes

    sante em: von Rad, Teologia do Antigo Testamento, I, pgs.394ss.). Pode se achar includa em composies continuas, algumasdelas sendo extremamente antigas (Os Ensinos de Ptahhotep, doEgito, c. 2450 a.C., no o nico manual de conselhos que precedeu Abrao por vrios sculos), ou pode tomar a forma de ditadosnuma coletnea exclusiva. Sendo que estes ltimos sempre serviamde matria excelente para cpias escolares, sobreviveram em gran

    des nmeros nos exerccios de ortografia de geraes de escribas quese treinavam.Por exemplo: duas grandes coletneas de aforismos registrados

    no comeo do segundo milnio a.C. foram desenterradas em Nipur,perto da Babilnia8 demonstrando a mesma mistura de moralidadesadia, moralidade duvidosa, humor astuto e simples bom-senso quese encontra nos ditos populares de qualquer nao (juntamente com

    alguns dos ingredientes menos agradveis do politesmo). A maior partedestes aforismos observa mais do que moraliza: satirizam o jactanciosoou o preguioso, ou os oficiais do palcio, ou o sacerdote, e cristalizamas lies da experincia. Quanto ao viver dentro dos proventos, porexemplo:

    Edifica como um senhor, anda como escravo!

    Edifica como um escravo, anda como senhor!9s vezes, porm, falam num nvel mais profundo, com igual acerto:

    5BWL, pg. 10.6BWL, pgs. 10,11; WIANE,pgs. 170ss.7BWL,pgs. 15, 67;Dott,pg. 97.%Sumerian Proverbs (Provrbios Sumerianos), editados por E.I. Gordon (1959);

    doravante abreviado comoSP.9 SP,pg. 270.

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    INTRODUO

    Quem andou com humildade a felicidade o tesouro dele ;10e, outra vez:

    Aquele que andou com a verdade gera vida.11Esta veia mais sria reaparece em vrios tipos de literatura da

    Mesopotamia, desde hinos e lamentos at coletneas de preceitos, nodecurso dos sculos. Uma coletnea deste tipo,As Palavras de Ahikar(um sbio assrio do sculo sete a.C.), que virtualmente granjeou famamundial, tem interesse especial sendo que contm alguns ditados quese aproximam em muito de alguns similares em Provrbios.12

    Os manuais egpios de conselhos, mencionados supra, so receitaspara o sucesso na vida alguns deles especificamente para o sucessoprofissional. Muitas vezes o conselho no passa de uma expresso dasabedoria segundo o mundo: aqui temos Ptahhotep que fala acerca do

    jantar com o superior:

    Aceita aquilo que ele der, quando colocado diante do teu

    nariz . . . No o crives com muitas olhadas . . . Ri depois deele rir, e ser muito agradvel ao corao dele;

    e acerca de tratar com quem traz uma petio:

    O peticionrio gosta da ateno que se presta s palavrasdele mais do que do cumprimento daquilo em prol do qualveio. . . escutar bem acalma o corao. 13

    Isto tato, e o tato pode ser bondoso, ou praticado em sangue frio.No h, no entanto, ambigidade alguma na lembrana persuasiva aum jovem, naInstruo de Ani,no sentido de ele retribuir os sacrifciostia sua me, e de alimentar o respeito-prprio da sua esposa.

    10 SP, pg. 41, citando S. N. Kramer, Sumerian Lexical Texts (Textos LexicaisSumerianos),AASOR, 1944.

    11 SP,pg. 41 (mas cf. Th. Jacobsen, ibid.pg. 448).12 Ver o comentrio sobre 24:17; 25:17; 27:10. J que os dois ltimos destes ditados

    Nilo de Salomo, claro que no foram tomados por emprstimo de Ahikar, um contemporneo de Ezequias. Mesmo assim, a comunidade de interesses entre este conselheirotlc Senaqueribe e os homens do seu inimigo Ezequias, ao colecionarem provrbios antigos(ver 25:1), ilustra vividamente quo correntes eram os ditados de sabedoria, em escala

    Internacional.13ANET,pgs. 412,413.

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    PROVRBIOS

    No deves fiscalizar (por demais perto) a tua esposa na casadela, quando sabes que ela eficiente . . . reconhece as capacidades dela. Qo feliz quando a tua mo est com ela!14

    Os preceitos morais bsicos esto nestes escritos advertnciascontra a fraude, a calnia, o adultrio, etc., e estes (como em Provr

    bios) se apresentam s vezes como assuntos de prudncia, s vezes comoautnticos por si mesmos, e s vezes como a vontade do cu, que abomina qualquer violao deles. De vez em quando o conselho atingealturas morais considerveis ocasionalmente, sem dvida, somentepara nos decepcionar com um motivo indigno, mas freqentementeh sinceridade. Seria difcil escrever uma mxima melhor do que esta

    para um soberano (o Rei Mericare):

    Faze com que tua memria perdure pelo amor a ti . . .Como tua recompensa, Deus ser louvado;15

    ou esta atitude para com um mau elemento, proposta por Amenemope:

    Pois no agiremos como ele Levanta-o, d-lhe tua mo;Deixa-o nas mos do deus;Enche seu estmago com o po que tens,

    A fim de que seja saciado e possa abaixar o seu olho. . . 16A tonalidade destes ensinos, embora eles sejam geralmente mais

    prticos do que este, e tambm pouca coisa digam ao homem comum, sadia e humana: ditados como o seguinte da Mesopotmia (oHinoa Shamash):

    Aquele que no recebe suborno, mas toma o partido dosfracos, agradvel a Shamash, e prolongar a sua vida. 17

    UANET,pgs. 420, 421.15ANET,pg. 415.

    16DOTT,pg. 177.17DOTT,pg. 109.

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    INTRODUO

    ou este do Egito (Ptahhotep outra vez):

    A justia grande, e durvel a sua apropriabilidade . . .18se acham mais facilmente do que aqueles que tm sabor decinismo.

    Mesmo depois de termos dito tudo isso, permanece o fato de queuma luz totalmente mais forte e estvel brilha em Israel. Aqui, no huma pluralidade de deuses e demnios para distrair a ateno, nenhumainfluncia da magia, nenhuma licena cltica dada imoralidade, como

    na Babilnia e em Cana, para sufocar a voz da conscincia. Pode serque os detalhes do modo de o Senhor agir no mundo permaneamocultos, e J e Eclesiastes deixam de satisfazer nossa curiosidade, mash certeza final no fato de que o Seu caminho perfeito e Sua vontade revelada de modo suficiente.19Assim, ficamos livres da reflexo parali-zante no J Babilnio:

    Gostaria de saber que estas coisas so agradveis ao deus!20

    (pois, por tudo aquilo que poderia perceber, o certo humano era oerrado divino), e livres, tambm, da concluso estranha da Teodiciade que os homens se atormentam porque foi da vontade dos deusesfaz-los assim:

    Com mentiras, e no com a verdade, os dotaram para sempre.21

    Semelhantemente, no ambiente da conduta, que o campo especialde provrbios, o Senhor nico faz conhecida a Sua vontade, e, assim,um padro nico daquilo que sbio e certo, e um motivo para pro-cur-lo que satisfaz. Dessa forma, um senso de propsito e de vocaoergue o ensino de Provrbios acima da busca do sucesso ou da tranqi-Jidade, bem longe dos limites de uma tica de classe ou de um moralismo

    seco, para o ambiente de conhecer o Deus vivo em todos os seuscaminhos.

    18ANET,pg. 412.

    19 Cf. Dt. 29:29; Pv30 5, 6.20Ludlul,33 (cf. 34ss.); BWL. PG. 41.21DOTT,pg. 102.

    21

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    PROVRBIOS

    III. A Estrutura, Autoria, Data e Texto de Provrbios.

    O Livro nos informa que obra de vrios autores. Trs destes somencionados por nome (Salomo, Agur e Lemuel), enquanto outrosso aludidos coletivamente como Sbios, e pelo menos uma seo doLivro (a ltima) annima. H uma nota de redator (25:1) para dizerquando foi compilada uma das sees, mas nada se diz quanto data emque as coletneas foram juntadas.

    a. A Estrutura e a Autoria.

    As sees so as seguintes:Ttulo, Introduo e Lema: 1:1-7I. Um Pai Louva a Sabedoria: 1:8-9:18II. Provrbios de Salomo: 10:1-22:16Illa. Palavras dos Sbios: 22:17-24:22Illb. Mais Palavras dos Sbios: 24:23-34IV. Mais Provrbios de Salomo (A Coletnea de Ezequias):

    25:1-29:27V. Palavras de Agur: 30:1-33VI Palavras do Rei Lemuel: 31:1-9VII. Um Abecedrio da Esposa Excelente: 31:10-31.

    O ttulo (1:1), Os Provrbios de Salomo, pode ser um ttuloda seo que abrange os captulos 1-9, ou o ttulo do redator, aplicvel

    ao Livro inteiro. Adoto a segunda interpretao.22Segundo este pontode vista, Salomo mencionado de incio como sendo o autor principal,embora a prpria coletnea de provrbios dele s chegar com o captulo10, onde o ttulo repetido. (Se os captulos 1-9 consistissem em provrbios de Salomo, esperaramos que 10:1 declarasse: Estes tambmso provrbios de Salomo, conforme o padro de 24:23 e 25:1.)

    Os prprios provrbios de Salomo so adiados, pelo justo motivo

    que o leitor precisa de ser preparado para tirar o devido aproveitamentodeles. Desta forma, a introduo(1:2-6), uma extenso do ttulo, deixaclaro que este Livro no uma antologia, mas um curso de educaona vida de sabedoria. O lema (1:7) vai imediatamente at ao coraodo assunto, e Seo I (1:8-9:18) o expe numa srie de dissertaes

    22 Para outra opinio, ver E. J. Young,Introduo ao Antigo Testamento(EdiVida Nova, 1964, pg. 327).

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    INTRODUO

    paternas que ilustram e ressaltam para o aluno a escolha fatdica quetem de fazer entre a sabedoria e a estultcia. Agora, porm, o leitor tem

    condies de se orientar no bosque de ditados individuais em que eleentra na Seo II(10:1-22:16), vendo em cada aforismo calmo e objetivoum desenvolvimento especfico e em miniatura da sabedoria e da estultcia cujo decurso inteiro j viu espalhado diante dele na Seo I.

    Na Seo III (a. 22:17-24:22; b. 24:23-24) o estilo de ensinamentovolta menos expansivamente do que nos captulos 1-9, mas mesmoassim em ditados que se expandem em pargrafos inteiros e que falam

    diretamente ao leitor. Mais uma vez, h uma mo sobre nosso ombro.Desde 1923, os estudiosos tm debatido a relao entre esta seoe o livro egpcioEnsinos de Amenemope, que foi publicado naqueleano por Wais Budge. Conforme mostraro as referncias no comentrio, os pontos de contato entre ambos so por demais estreitos e numerosos para se tratar de coincidncia. Quase a totalidade de Provrbios22:17-23:14 (que constitui uma subseo de Illa, conforme sugere o

    novo incio no versculo 15) tem paralelos quase exatos em ditados quese espalham largamente emAmenemope. (As excees so 22:23, 26,27; 23:13,14.) Depois desta concentrao h mais um paralelo na SeoIII, em 24:29, e, no restante de Provrbios, uns sete avulsos, confinadoss duas coletneas de Salomo (12:22; 15:16, 17; 16:11; 20:23; 25:21;26:9; 27:1).

    O fato de que Amenemope, nestes ditados que h em comum, s

    vezes sobe at alturas que so mais apropriadas para um israelita e umcristo do que para um politesta e buscador da traqilidade, cria apressuposio inicial de que ele quem toma emprestado. O escrutniopreciso das palavras e dos contextos dos paralelos, no entanto, levouquase todos os estudiosos concluso oposta, sendo que o textohebraico que tende a ser esclarecido quando lido ao lado do seu paralelo egpcio mais detalhado. (Ver o comentrio sobre 22:20 para um

    exemplo marcante disto, que soluciona um problema bem antigo detraduo.) Embora alguns estudiosos, no seu entusiasmo, chegaram aexagerar a situao, fazendo o texto hebraico se conformar de mododesnecessrio ao texto egpcio23 esquecendo-se da liberdade do

    23 E.g. na recenso de D. C. Simpson (JEA, 1926, pgs. 232ss.), quase metade doseus paralelos introduzem emendas; e J. Gray continua a manter uma leitura de 23:4

    que se baseia em Amenemope, embora reconhea que isto agora lexicograficamentedesnecessrio (The Legacy of Canaan (OLegado de Cana), 1957, pg. 195).

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    autor hebraico o argumento permanece forte. E. Drioton abriu aquesto de novo em 1957 e 1959,24 tirando numerosos exemplos paradefender o argumento de que o texto egpcio fosse uma mera traduode um original hebraico; no considerou, porm, que Provrbios fosseo original, mas somente outra cpia de uma fonte anterior; e, de qualquer maneira, parece que seus argumentos lingsticos foram refutadosde modo eficaz por R. J. Williams, que produziu paralelos egpciosde todos os alegados semitismos.25

    O argumento de que Provrbios fez uso de Amenemope (e no viceversa) foi grandemente fortalecido, se no comprovado, pela evidnciacronolgica. Um straco, no Museu do Cairo, com um extrato dos

    Ensinamentosparece mostrar que a data de Amenemope deve ser bemantes do tempo de Salomo: W. F. Albright sugere o sculo doze,26 eJ. M. Plumley c. de 1300 a.C.27Em termos da histria de Israel, estasdatas significam os dias dos Juizes ou de Moiss, e ningum sugeriuque Salomo estava escrevendo naquela poca! (Quanto questo de

    probabilidade de Israel empregar matria prima estrangeira, pode seindicar que o ttulo, Palavras dos Sbios, d a entender, ou pelomenos concorda, que houve alguma diversidade quanto s fontes, eque as Sees V e VI foram de origem estrangeira; ver tambm o relatoda Sabedoria no Mundo Antigo, pgs. 17ss.) Se Provrbios, porm, esttomando emprestado aqui, no se trata de cpia servil mas de empregolivre e criativo. As jias egpcias, como na ocasio do xodo, foramengastadas de modo melhor por peritos israelitas, e empregadas para

    propsitos mais nobres.Seo IV (captulos 25-29) tem o toque do prprio Salomo nos

    ditados breves (concisos), como na Seo II. Os escribas de Ezequias,no entanto, introduziram mais grupos de ditados do que a seo anterior

    pode mostrar (e.g. reis e cortesos, 25:2-7 (mas cf. 16:10-15); estultos,26:1, 3-12; preguiosos, 26:13-16; perturbadores da ordem, 26:17-28);tambm empregaram alguns ditados mais compridos, e (a no ser nocaptulo 28) menos antteses.

    24 Mlanges Bibliques (Miscelneas Bblicas), 1957, pgs. 254ss.; Sacra Pagin1959, pgs. 229ss.

    JEA,1961, pgs. lOOss.

    26 WIANE,pg. 13.27DOIT ,pg. 173.

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    Sees V (captulo 30) e VI (31:1-9) ambas se originam de no-israelitas, talvez rabes de Mass (ver o comentrio). A linguagem de30:4 e a ortografia da palavra Deus em 30:5 fazem lembrar o Livrode J, que tem sua ao na mesma regio. Nada sabemos acerca destesdois autores. Na LXX estas sees esto deslocadas (o que demonstra,talvez, que houve poca quando circulavam independentemente28), paraatravessar as Palavras Adicionais de Sbios em 24:23ss., e paraaumentar o captulo 24 at 77 versculos.

    Seo VII(31:10-31), um acrstico alfabtico, annima: na LXX separada da seo anterior por cinco captulos (ver a nota supra).Seu retrato de uma esposa excelente termina de modo condigno esteLivro acerca da vida sadia, mostrando uma famlia unida (31:28ss.),honrando aquela que, em Deus, pode contribuir mais para edificar ocarter louvado nestas pginas.

    b. A data.

    At meados deste sculo, a opinio dos crticos concordava, demodo geral, que os Sbios chegaram tardiamente no cenrio israelita,

    para produzirem o volume principal da sua obra depois do Exlio. Reconhecia-se que Provrbios continha alguma matria pr-exlica, mas oconceito mais maduro acerca da sabedoria nos captulos 1-9 pareciadever demais ao pensamento persa29ou grego30para poder ter assumido

    seu formato antes do quinto at ao terceiro sculo a.C.; e este argumentofoi reforado pela teoria de Gunkel, acerca do desenvolvimento internodo ensino da sabedoria, declarando que, quanto mais curta cadaunidade, tanto mais antiga deve ser; e, quanto mais comprida e espiritual, tanto menos antiga.

    O aumento do conhecimento dos ensinamentos egpcios e babil-nicos do milnio antes de Salomo, no entanto, e da literatura fencia

    de Ugarite (Ras Shamra) do sculo catorze a.C. tornou claro que ocontedode Provrbios (seja qual for a data da sua redao final) pertence mais ao mundo do Israel primitivo do que ao judasmo ps-exlico

    28 Ver, para uma teoria diferente, C. C. Terrey,JBL,1954, pgs. 93ss.29 O. S. Rankin,Israels Wisdom Literature(A literatura de Sabedoria de Israel)

    (1936), pg. 252.30 C. H. Toy,Proverbs (ICC),pg. xxii.

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    PROVRBIOS

    no seu pensamento, vocabulrio, estilo, e, muitas vezes, suas formasmtricas. A idia de que o movimento sapiencial em Israel pertencesseao perodo persa posterior ou ao perodo grego anterior agora se revelacomo mito curioso dos nossos tempos, e o critrio de forma adotadopor Gunkel (que desmentido por estas literaturas antigas), comocamisa de fora que j foi tolerada por tempo demais.31O elementode maior alcance nesta reavaliao geral o reconhecimento de que oscaptulos 8 e 9 (at agora considerados como sendo a parte mais recentedo Livro), tm a maior proximidade do pano de fundo cananita de

    Israel, recuando-se, talvez, at data de Salomo. Quando acrescentamos a probabilidade de que a data de Amenemope deve ser colocadaem ou antes dos dias dos Juizes (ver supra, pg. 24), revela-se que ocontedo das duas maiores colees de Provrbios sem data (captulos1-9 e 22:17-24:33), que, incidentalmente, contm alguma matria damais corajosa, quanto doutrina e tica, do Livro inteiro, mostramais claramente a influncia das fontes antigas. As duas colees de

    Salomo (10:1-22:16, e os captulos 25-29) anunciam suas prpriasdatas, e s nos resta considerar os captulos 30-31. Quanto a estes, nadase pode dizer com certeza. Pode valer a pena indicar, porm, que osditados tirados da natureza, no captulo 30, so exemplos de um assuntoque atraa Salomo de modo especial (1 Rs 4:33). 31:1-9 no d indicao alguma quanto sua data; 31:10-31 igualmente indeterminado:sua forma acrstica pode ser antiga ou mais recente (a Teodiciababil

    nica de c. de 1000 a.C. um acrstico bastante elaborado), e o vislumbre de Abigail que recebemos em 1 Samuel 25 nos lembra que haviagrandes damas na terra mesmo nos dias de Saul, que se vestiam derica escarlata. . . (2 Sm 1:24; 31:21).

    Quanto redao, Provrbios nos d uma declarao (25:1),que mostra que o Livro ainda estava sendo compilado c. de 700 a.C.,cerca de 250 anos depois de Salomo. uma suposio razovel, mas

    nada mais do que isto, que os captulos 30-31 foram acrescentadosmais tarde como coletneas existentes, e que os captulos 1-9 foramcolocados pelo redator final, como introduo totalidade (ver supra,Estrutura e Autoria, pgs. 22ss.)Fica em aberta a pergunta: os captulos1-9 tm uma histria de desenvolvimento interno? As nicas indicaesso, de um lado, a evidente antiguidade de (especialmente) captulos

    31 W. F. Albright, em WIANE,pg. 4.

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    INTRODUO

    8 e 9, j discutida, e, do outro lado, a ocorrncia de uma palavra, provavelmente baseada no grego, que significa linho em 7:16. Este ltimofato pode indicar que o Livro ainda estava crescendo durante o perodogrego (i.e., 330 a .C. em diante); no , porm, necessrio tirar estaconcluso, pois nomes deste tipo viajavam juntamente com o comrcio.Outros argumentos so igualmente incapazes de levar a uma concluso:e.g. o estilo paternal destes captulos pode se comparar ou com Ben Sira-que (c. de 180 a.C.), ou com Amenemope, mil anos antes deste. No

    podemos definir se o Livro foi completado no reinado de Ezequias, ou

    apenas um sculo ou mais antes de Ben Siraque, que fez uso dele; tudoquanto se pode dizer que seu contedo inteiro pode ter existido,embora sem ser reunido num s livro (ver, outra vez, 25:1), quandoSalomo ainda estava com vida.

    c. O texto.

    Quem l Provrbios em certas edies modernas em ingls (esp.RSV) ver na maioria das pginas um certo nmero de notas de correes e de leituras preferidas de Gr. Sir. Vg. e Tg., ou seja, datraduo grega chamada Septuaginta (freqentemente aludida comoLXX) que comeou a ser feita no sculo terceiro a.C., a Pesita siraca(que dependia do texto hebraico e da LXX), que comeou no sculo

    primeiro a.C., a Vulgata latina, traduzida por Jernimo no sculo

    quarto d.C., a partir do hebraico (mas com a ajuda de tradues existentes em grego e latim), e, finalmente, os Targuns, que eram traduesaramaicas (algumas delas bastante livres) do hebraico, para uso nassinagogas, em forma oral primeiramente, mas que foram registrados

    por escrito a partir do quinto sculo d.C. O Targum dos Provrbios estentre as tradues mais fiis.

    O apelo freqente que se faz a estas verses pode dar a impresso

    de que o Texto Hebraico (chamado o TM i.e., o Texto Massortico)est em ms condies em Provrbios, mas isto no a verdade. Devez em quando, encontramos uma frase que parece to fora da gramtica ou to inapropriada que postulamos um erro do copista, e apelamos

    para as verses: isto, porm, ocorre raras vezes. Pode ser assunto deopinio, definir exatamente qual o alcance desta raridade, e pode-seindicar trs fatos acerca disto:

    1. Nosso entendimento de hebraico incompleto. O aumentoconhecimento das lnguas e literaturas afins j lanou luz sobre muitas

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    palavras que antes eram consideradas impossveis pelos tradutores (ver,e.g., a nota sobre 26:23), e deve nos encorajar a considerar que um textodifcil aguarda maiores explicaes ao invs de precisar de correo.

    2. As Verses antigas so imperfeitas. Estas verses, especialmentea LXX, lanam luzes valiosas sobre o texto hebraico que ficava diantedos tradutores em tempos antigos; estas janelas no entanto, tm suas

    prprias peculiaridades. Pode parecer indevidamente severo dizer: ASeptuaginta pertence mais histria da exegese do Antigo Testamentodo que do texto do Antigo Testamento,32mas uma lembrana sadiaque sua verso de Provrbios est entre as tradues livres, s vezes

    parafraseadas,33 que acrescenta muitos ditados seus, e que faz vriasomisses, e, conforme demonstrou G. Gerleman,34 tende a adaptar oestilo e contedo do original ao ponto de vista algo helenizado dotradutor. Quando, portanto, a LXX oferece uma anttese mais formosaou uma smile menos violenta do que o hebraico, bem provvel queoferece um retoque judicioso, e no um texto mais puro.

    3. Nossas regras de estilo no so aquelas dos autores. As mos

    modernas tm comicho no sentido de querer alisar irregularidades e muitas vezes deixam de perceber que um provrbio assimtrico podeser mais rico do que um simtrico, pois contm uma anttese subentendida e uma anttese declarada (ver a nota sobre 15:2). O amor boaordem lgica uma tendncia moderna e ocidental, como a de nogostar de metforas mixtas; no serve como orientao para saber o quecerto autor hebreu escreveu em certo trecho.

    Neste comentrio, portanto, d-se ao texto hebraico o beneficio dadvida, quando o sentimento pelo menos possvel. Talvez seja necessrio acrescentar que este texto consistia apenas em consoantes, sendoque as vogais eram lembradas por tradio enquanto o hebraico era umalngua viva, e, finalmente, sinais que as representavam foram colocadosacima e abaixo das consoantes. Assim, o texto consonantal nossavinculao de escrita com os autores, e, a despeito da tenacidade da

    32 G. Bertram, citado por E. Wrthwein, The Text o f the Old Testament(O Textodo Antigo Testamento) (1957), pg. 50.

    33 H. St. J. Thackeray, Grammar of Old Testament Greek according to the LXX(1909), I, pg. 13 (citado por G. Gerleman, The LXX Proverbs as a Hellenistic Document (O Livro de Provrbios na LXX, como Documento Helenstico), em OTS,

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    memria judaica quanto s vogais, podemos supor que h um poucomais de probabilidade de se entrarem erros de pronncia (e, assim, de

    significado), do que as mudanas de consoantes. Onde, pois, parecenecessria uma mudana de vogais, temos mais disposio para apelarpara ela do que para uma mudana de consoantes; temos procurado,no entanto, jogar o menos possvel o jogo fascinante da emenda con

    jectural.

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    ESTUDO DE ASSUNTOS

    DEUS E O HOMEM1

    Quando abrimos o Livro de Provrbios a esmo, procurando amostras da sua sabedoria, podemos ficar com a impresso de que seucontedo religioso parco e indefinido. Boa parte das suas mximase declaraes teolgicas poderia ser transplantada para um terrenono israelita e no bblico,2 e somos tentados a perguntar se aqui se

    pressupe algo to especfico como um relacionamento com Deus atravs da aliana. Um leitor hostil poderia ir mais alm, perguntando se overdadeiro Deus e mestre neste Livro no o prprio homem, sendoa prosperidade o alvo verdadeiro.

    Embora se possa dar uma resposta rpida a esta pergunta, nobasta indicar o lema recorrente: O temor do SENHOR o princpioda sabedoria (9:10 e paralelos); porque at isto poderia ser mero

    conselho de prudncia, um exemplo supremo de uma poltica de agradaras autoridades constitudas. A resposta se v mais no relacionamentoentre consideraes prudentes e a moral, em todas as partes do Livro,e uma resposta clara. Os fatores morais sempre tomam a precedncia.Sem dvida, Provrbios se d ao trabalho de indicar que aquilo que certo e aquilo que vantajoso podem se acompanhar mutuamente poruma boa distncia; mas no nos deixa em dvida alguma quanto quilo

    que devemos seguir quando os caminhos se separam. E.g., na questoda ddivas e propinas, pode chegar a dizer, com toda a franqueza:

    1 Uma reviso e resumo de um artigo em The Tyndale House Bulletin, Julho de1961.

    2 Ver pginas 25-26.

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    DEUS E O HOMEM

    O presente (mattan) que o homem faz alarga-lhe o caminho, e leva-operante os grandes (18:16), mas no ir um passo alm. Em 17:23,declara: O perverso aceita suborno (hoha')secretamente, para perverter as veredas da justia e imediatamente fica claro que a justia,e no o sucesso, nossa preocupao apropriada, e que os inescrupu-losos no vo obter louvor pela sabedoria falsa deles. E necessrio ser

    bom para ser sbio embora Provrbios se ocupe especialmente emindicar o outro lado disto: que necessrio ser sbio para ser realmente

    bom, pois a bondade e a sabedoria no so duas qualidades que se pode

    separar: so dois aspectos de uma s unidade. Levando o assunto ats suas origens, necessrio serpiedoso para ser sbio; e isto no porque a piedade traz vantagens, mas porque a nica sabedoria atravsda qual se pode tratar das coisas da vida diria conforme a naturezadelas a sabedoria atravs da qual foram divinamente feitas e ordenadas. Provrbios 8, que declara isto de modo superlativo, est, portanto, longe de ser um pinculo no funcional da eloqncia do Livro;

    pelo contrrio, uma exposio do arcabouo principal do seu pensamento.Que Deus uma realidade para estes escritores se confirma pela

    conscincia que eles tm do pecado e s o sentido do divino quelana uma sombra desta. Quem pode dizer: Purifiquei o meu corao,limpo estou do meu pecado? (20:9). Em Provrbios, esta no a incomodidade servil que o gentio sentia (Deus, conhecido ou desconhecido

    minhas transgresses so muitas . . . A transgresso que eu cometi No sei . . . No se sabe quando se faz o bem ou quando se faz omal3); se o servio a Deus exigente, pela razo oposta de que Seusservos so conhecidos como homens que conhecem a Sua vontade e quedevem participar do Seu zelo. Livra os que esto sendo levados paraa morte, e salva os que cambaleiam indo para serem mortos. Se disseres:

    No o soubemos, no o perceber aquele que pesa os coraes? . . .

    E no pagar ele ao homem segundo as suas obras? (24:11,12). No setolera evasiva alguma; os exerccios religiosos no compraro favor algum: O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, at a sua orao serabominvel (28:9), e assim tambm ser o seu sacrifcio (15:8;21:27). O pecado deve ser afastado atravs do arrependimento prtico

    3 UmaPrayer To Any God, sumeriana, linhas 24, 26, 53; DOTT, pgs. 113-114.

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    PROVRBIOS

    (pela misericrdia e pela verdade . . . e pelo temor do SENHOR,16:6) e atravs da confisso franca (mas o que as confessa e deixa,alcanar misericrdia, 28:13). Numa palavra, no h transaes sub-

    pessoais.At aqui, j constatamos que Deus no assunto secundrio neste

    Livro, e que a bondade no um parente pobre da astcia. Ser, porm,que ficamos com nada mais forte do que o tesmo moralista?

    Uma indicao da resposta surge to logo que se rebusca todosos ditados que mencionam a Deus. Entre cerca de 100 de tais provrbios,todos, menos uma dzia, empregam o nome de Deus dado na aliana,

    Jav. Quanto terminologia, portanto, o Livro pertence ao povo daaliana, e Deus o Deus que revelou Seu nome a Moiss. Se pudermostambm achar indicaes de que, entre Ele e o homem, pressupe-seum relacionamento estvel filial do lado do homem, e fiel e auto-reve-lador do lado de Deus teramos achado tanta evidncia da alianaquanto se poderia esperar que uma coletnea de provrbios pudesseoferecer.

    Poderemos comear com a lema, perguntando se o temor doSenhor pode dar a entender algo mais do que um respeito sadio paracom o Onipotente. Que isto o caso, fica claro. Em duas passagens,2:5 e 9:10, isto o sinnimo de conhecer a Ele; e este conhecimento marcantemente ntimo. dado atravs da revelao (da sua boca,2:6) e alimentado por aquilo que pode ser chamado a prtica da presena de Deus, conforme se recomenda em 3:6: Reconhece-o em todosos teus caminhos, ou, literalmente: "conhece-o. Isto nos faz lembraro alvo da prpria nova aliana (todos me conhecero), pois aos retostrata com intimidade (3:32), i.e., fazem parte do Seusd, Seu crculontimo.

    Esta comunho em todos os teus caminhos d a entender, almda reverncia e a obedincia, a confiana;e digno de nota que Provr

    bios, apesar de sua nfase no bom senso, exalta a f acima da sagacidade (3:5, 7: Confia no SENHOR de todo o teu corao, e no teestribes no teu prprio entendimento . . . No sejas sbio aos teus pr

    prios olhos . . .); e, apesar de tanto recomendar a prudncia, recusa prudncia a ltima palavra. O planejar, por mais apropriado que seja(Os planos mediante os conselhos tm bom xito; faze a guerra comprudncia , 20:18) os planos esto sujeitos ao Sim ou No da partedeDeus (19:21: Muitos propsitos h no corao do homem, mas odesgnio do SENHOR permanecer); o equipamento no garante nada

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    DEUS E O HOMEM

    (21:31: O cavalo prepara-se para o dia da batalha, mas a vitria vemdo SENHOR); e a cautela pode ser fatal de um modo que no acontece

    com a f (Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia noSENHOR est seguro, 29:25). Tal ensino virtualmente o de Isaasno seu trato com aqueles que buscavam auxlio na Assria ou nos cavalosdo Egito; de fato, um dos autores pode declarar especificamente que oobjetivo das suas mximas alimentar a f, e no a auto-confiana:Para que a tua confiana esteja no SENHOR, quero dar-te hoje a instruo, a ti mesmo (22:19).

    Esta f no se considera o ltimo recurso, ou um hbito mentaltil: aqui e ali em Provrbios, podemos achar as razes dela: um relacionamento slido exatamente do tipo que a aliana estabelecera. Reconhece-se que a aliana apenas se menciona uma s vez no Livro, e mesmoesta aluso mostra o participante humano numa posio por demaiscaracterstica: da mulher adltera . . . a qual deixa o amigo da suamocidade e se esquece da aliana do seu Deus (2:16, 17). Havendo ou

    no uma referncia aliana do Sinai (ver o comentrio), diz-se quese trata do Deus dela, e isto torna especialmente hediondo o pecadodela. O mesmo vnculo pessoal com Deus se destaca nos pensamentosde Agur em 30:7-9, pois ele teme no tanto os pecados isolados (emboraos aborra mesmo) como uma violao da lealdade: para no sucederque . . . te negue pois o Senhor no simplesmente Deus paraele, mas meu Deus. Esta a assncia da linguagem da aliana. A

    quinta-essncia disto se acha na declarao do relacionamento entre paie filho em 3:12: Porque o SENHOR repreende a quem ama, assimcomo o pai ao filho a quem quer bem.

    H, ainda, uma pergunta final. Reconhecendo-se que, em Provrbios, supe-se o relacionamento da aliana, uma ligao particularque no tem lugar para as instituies da religio israelita? Sem dvida,o homem no encarado nestes captulos como o homem israelita em

    primeiro lugar, como tende a ser visto noutras partes do Antigo Testamento. Pressupe-se as instituies, embora no sejam ressaltadas. Horao e sacrifcio, embora a nfase a respeito do emprego deles sejaa dos Profetas: Exercitar justia e juzo mais aceitvel ao SENHORdo que sacrifcio (21:3). H tambm revelao. Embora Provrbiosnormalmente apresente o ensino ou tr do sbio ao pupilo como"minha tr, avulta-se por detrs dela a tr",majestosa e absoluta.

    Somente a perversidade moral pode rejeit-la: Os que desamparama lei louvam o perverso (28:4). Quanto a um povo que no possui a

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    PROVRBIOS

    revelao, 29:18 oferece pouca esperana a ele: No havendo profeciao povo se corrompe, mas o que guarda a lei (a outra forma principalda revelao do Antigo Testamento), esse feliz .

    Terminar com esta nota, porm, seria disfarar o fato de que amatria explicitamente religiosa tem de ser selecionada com cuidadodo meio de uma grande quantidade de ditados nos quais a religio apenas implcita. E prestaramos um pobre servio a Provrbios seconsegussemos vesti-lo com a estola sacerdotal ou com o manto do profeta, pois um Livro que poucas vezes leva a pessoa igreja. Comosua prpria figura da Sabedoria, chama a voc na rua, para lhe falaracerca de algum aspecto da vida diria, ou indica coisas no lar. Suafuno nas Escrituras vestir a piedade com roupas de trabalho; mencionar o comrcio e a sociedade como esferas dentro das quais devemosnos comportar de modo a sermos um crdito ao nome do Senhor, procurando sempre o treinamento que Ele d.

    Se pudssemos analisar as influncias que edificam um carterpiedoso at atingir a maturidade, bem provvel que descobriramosque os agentes que poderamos chamar de naturais so vastamente maisnumerosos do que aqueles que chamamos de sobrenaturais. O Livro deProvrbios nos assegura que isto, se for a verdade, no diminui a eficincia da graa de Deus, porque as duras realidades da vida, que arrancam com fora as nossas manhas, so as realidades de Deuse a escola

    para formar o nosso carter que Ele mesmo estabeleceu; no so alternativas Sua graa so meios dela: pois tudo vem mesmo da graa,desde o poder para saber at o poder para agradecer. O ouvido queouve, e o olho que v, o SENHOR os fez assim um como o outro(20:12).

    Mesmo assim, embora todos freqentem a escola de Deus, poucosaprendem ali a sabedoria, porque o conhecimento que Ele visa transmitir o conhecimento dEle mesmo; e este, tambm, o prmio final.

    somente atravs da submisso a Sua autoridade e majestade (ou seja,no temor ao Senhor) que podemos comear e continuar a nossa educao; e, atravs da busca diligente pela sabedoria como por tesourosocultos que acharemos o nosso prmio numa intimidade crescentecom o mesmo Senhor. Ele o incio; Ele tambm o fim, pois o alvo: Ento entenders o temor do SENHOR, e achars o conhecimentode Deus (2:5).

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    A SABEDORIA

    A SABEDORIA

    I. As Multas Facetas da Sabedoria.

    O livro de Provrbios comea ao analisar a luz clara da sabedoria(hokm),dividindo-a no seu arco-ris de cores que a constituem. Todasestas vo se fundindo uma na outra, e qualquer uma delas pode serempregada para representar a totalidade; h, porm, certo valor emv-las analisadas e agrupadas por um momento.

    1. Instruoou treinamento(msar; 1:2a, 3a), (ensino [ARA]),um termo que est longe de ser esttico, o primeiro sinnimo, avisandodesde logo que a sabedoria ser conquistada com dificuldade, umaqualidade do carter tanto quanto da mente. Esta palavra, usualmente(mas no invariavelmente ver e.g. 4:1) contm uma nota de severidade, desde a advertncia (e.g. 24:32), at ao castigo (seja pelo Senhor,3:11, ou pela vara, 23:13; cf. a instancia suprema, Is 53:5). Seu compa

    nheiro freqente correo, ou repreenso (tkahai[; 1:23; 3:11, etc.),um substantivo cuja derivao ressalta uma persuaso mais verbal doque fsica: um apelo razo e conscincia (cf. Is 1:18; cf. Jo 16:8 coma palavra grega equivalente de tkahatna LXX). Os dois termos juntos

    podem ser resumidos como sendo disciplina; lembram-nos que a sabedoria no se obtm atravs do estudo extra-curricular: somente paraos discpulos.

    2. O segundo sinnimo em Provrbios 1 o entendimento, ouintrospeco (bin, 1:2b; tebn, 2:2, etc.). A idia que subjaz estaspalavras (embora nem sempre ocupe o primeiro plano) pode ser aquilatada pelo fato de que ambas se derivam do verbo discernir, e quea preposio entre tem uma estreita relao. Salomo juntou as duas

    palavras em 1 Rs 3:9: para que prudentemente discirna entre obeme o mal. (Cf Fp 1:9, 10; Hb 5:14.) Outra palavra (leb, corao,

    i.e., mente) tambm se interpreta como entendimento como em6:32; 10:13 (ARC); cf. Os 7:11. Tambm pode ser traduzida senso(10:13, ARA).

    3. O terceiro sinnimo sbio proceder(os derivados da raizs-k-l:haskel, 1:3a; maskil, 10:5; sekel, 12:8), i.e., bom senso, sabedoriaprtica, savoir-faire. Sua natureza especfica se revela na sua formaverbal, que muitas vezes significa ter sucesso. Eva, no jardim, enten

    deu erroneamente que fosse sofisticao (Gn 3:6); Abigail, porm, odemonstrou de modo excelente ao contornar uma crise (1 Sm 25:3).

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    PROVRBIOS

    Sua expresso suprema (desmentindo Eva) est no triunfo no mundanodo Servo do Senhor: Isaas 52:13. Ao aparecer pela primeira vez emProvrbios, reivindicado para o senhor justo ao ser vinculado coma justia, o juzo, e a eqidade (1:3b). Um termo que faz companhiaa este tUyy(e.g. 2:7a; 8:14; ls 28:29c),sabedoria sadia.

    4. Neste mesmo ambiente de sentidos h as expressesprudncia(orm, 1:4a) e discrio (mezimm, 1:4b) a primeira destas se vnas mos do inimigo em Gnesis 3:1, e a segunda (que significa, nas

    palavras de C. H. Toy, a capacidade de formar planos) se degenerato freqentemente em meras intrigas que pode ser empregada, isoladamente, num mau sentido (e.g. 12:2) mais vezes do que no bom sentido.Estas qualidades, porm, no precisam se corromper, e o Livro se ocupaem grande parte para demonstrar que o homem piedoso , no melhorsentido, um homem de negcios, que se d ao trabalho de saber comoatuar, e de planejar de modo realista o seu caminho (cf. 22:3: O prudente v o mal, e esconde-se; mas os simples passam adiante e sofrem a

    pena). Empregando o sentido literal que subjaz habilidade (tahbult,1:5), ele entende do riscado .

    5. Um quinto grupo se compe das palavras conhecimento (da'at)e aprendizagem (sabedoria ARC,prudncia ARA) (leqah, 1:5)4;a primeira d a entender, mais do que uma mente bem informada, oconhecimento da verdade e, de fato, do prprio Deus (2:5; 3:6), e a segunda tende a ressaltar que a doutrina algo dado e recebido, ou

    assimilado.II. A Obteno da Sabedoria.

    A sabedoria para qualquer pessoa que a deseja. Os estultos e ossmplices recebem um convite pessoal para a festa dela, que to livrequanto a da estultcie (9:4,16).

    Ao mesmo tempo, to custosa como o carter. Sua generosidade no espalhada reservada para os retos, para os homensde sinceridade, para santos (2:7-9).

    4 A palavra leqahse deriva do verbo "tomar; pode, portanto, significar persuasvidade em certos contextos, como em 7:21a; 16:21, 23. O escritor ficou encorajado

    quando descobriu que D. W. Thomas faz uma comparao semelhante (WIANE,pg. 284).

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    O INSENSATO

    Colocando a anttese numa forma diferente: a sabedoria vem atravs da revelao(Porque o SENHOR d a sabedoria, da sua boca vema inteligncia e o entendimento, (2:6); Nada acrescentes s suas

    palavras , (30:6)); vem, tambm, atravs do discipulado; o versculo2:6, que acaba de ser citado, segue uma conclamao busca esforadaem 2:1-5, como a tesouros escondidos (4), que a busca do prprioDeus (5). As exigncias desta busca se resumem conforme se segue.

    1. A converso: o desviar-sedo mal pois o temor do SENHOR(que o princpio da sabedoria, 9:10) aborrecer o mal (8:13; cf.

    3:7b) o abandonar a independncia to querida, aquele caminhoque ao homem parece direito (14:12); positivamente, virar-se emdireo luz; de fato, em direo salvao da parte de Deus. Volte-se

    para aqui , diz a sabedoria (9:4), e o alcance do seu convite antecipa aoferta do evangelho: Vinde . . . comei . . . bebei . . . deixai . . . vivei.. . andai (9:5, 6).

    2. A devoo. A sabedoria para os que tm nsia humilde

    quase se poderia dizer, para o apaixonado, o pretendente " . . . velandodia a dia s minhas portas (8:34). No para o homem que sbioaos seus prprios olhos: pensa que j chegou ao alvo, e, de fato, chegouat ao ponto final, pois nunca avanar mais um passo. Seu problemano intelectual; no um insensato: Maior esperana h no insensatodo que nele (26:12; cf. 3:7). que no tem desejo srio de ser uma

    pessoa melhor; o homem sbio, pelo contrrio, passvel de ser ensinado

    at ao fim (9:9), aberto aos mandamentos de Deus (10:8) e disciplina(3:llss., ver tambm supra, I (1)), e aos conselhos e crticas humanos(13:10; 17:10); isto porque estima a verdade suficientemente para pagaro preo de obt-la (23:23).

    III. A Preeminncia da Sabedoria.

    Sendo que o captulo 8 se dedica inteiramente a este tema, .bastachamar a ateno do leitor a ele, e aos comentrios sobre ele.

    O INSENSATO

    Neste Livro, achamos o insensato com vrios nomes. Ser conve

    niente tratar deles separadamente, mas alguns dos termos (especialmente na seo II) so virtualmente intercambiveis.

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    PROVRBIOS

    I. O Simples.

    A palavra hebraica peti.O verbo que se forma com esta palavrasignifica enganar ou seduzir (como em 1:10: se os pecadores queremseduzir-te), e opeti , assim, o tipo de pessoa que facilmente desviada, ingnua, boba. Mentalmente, ingnua (O simples d crditoa toda palavra, mas o prudente atenta para os seus passos, 14:15;cf. 22:3); moralmente, teimoso e irresponsvel (Porque o desvio dossimples os matar, 1:32).

    Por causa do seu descuido preguioso, pode precisar de uma ajudavisual para lev-lo ao arrependimento (Quando ferires ao escamecedor,o simples aprender a prudncia, 19:25). Se a recusar, regredir auma condio mais sria: Os simples herdam a estultcia (iwweletver 11(2), abaixo), mas os prudentes se coroam de conhecimento(14:18); isto porque ningum fica imvel: o homem com cabea vaziaacabar tendo uma cabea errada. De fato, para as cabeas vazias,aqueles que Provrbios chama de hasar-lb, insensatos, a estultcia alegria (15:21), pois nada melhor tm para fazer seno correr atrsde cousas vs (12:11).

    O trecho clssico que trata do simples o captulo 7, onde vistono seu aspecto mais tpico: sem alvo, inexperiente, caindo na tentao

    realmente, quase a corteja. Uma pessoa que est neste estado (e oleitor no encorajado a pensar que est alm de semelhante estultcia)

    no ir longe antes de se encontrar com uma tentadora, ou (como eml:10ss.), tentadores, que sabem o que querem e o que ele quase quer.Em poucas palavras, o simples (e seu irmo mais velho, o insensato) no nenhum dbil mental; uma pessoa cuja instabilidade poderia serretificada, mas que prefere no aceitar a disciplina na escola da sabedoria (1:22-32).

    n . O Insensato.Em Provrbios trs palavras so traduzidas insensato :1. k estt. Este o mais comum dos trs termos, e ocorre quase

    vezes. Pela sua derivao, parece significar aquele que estpido eobstinado; sempre, porm, deve se ter em mente que o Livro considerao ponto de vista escolhido do homem, mais do que seu equipamento

    mental. Aqui vemos o k esil como em si mesmo, em primeiro lugar,e, depois, como na~ sociedade.

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    O INSENSATO

    Em si mesmo, no tem idia alguma da procura paciente pelasabedoria: no possui a concentrao para isto (os olhos do insensato

    vagam pelas extremidades da terra, 17:24), mas imagina que objetode compra (De que serviria o dinheiro na mo do insensato paracomprar a sabedoria, visto que no tem entendimento? 17:16). Assim,vai engolindo suas opinies sem refletir (ver a nota sobre 15:14), eas derrama livremente (15:2), sem ter a conscincia de que est apenasdemonstrando sua insensatez como um comerciante espalha as suasmercadorias (13:16). Suas observaes que visam ser sbias ou caem por

    terra ou se viram contra ele (26:7, 9); mas ele nunca reconhecer isto,pois no pode imaginar que est errado. Mais fundo entra a repreensono prudente, do que cem aoites no insensato (17:10).

    A raiz do seu problema espiritual, e no mental. Elegostada suaestultcia, voltando a ela Como o co que torna ao seu vmito (26:11);no reverencia a verdade, e prefere iluses confortveis (ver 14:8, com anota). No fundo, o que ele rejeita o temor ao Senhor (1:29): isto que

    faz dele um insensato, e isto toma trgica a sua complacncia, porqueaos loucos a sua impresso de bem-estar os leva perdio (1:32).Na sociedade o insensato , numa s palavra, uma ameaa. Na

    melhor das hipteses, desperdia seu tempo: porque nele no divisarslbios de conhecimento (14:7); e pode ser uma perturbao sria. Sefica com uma idia na cabea, nada o impedir: Melhor encontrar-seuma ursa roubada dos filhos, do que o insensato na sua estultcia

    (17:12) seja aquela estultcia uma travessura que j no brincadeira(10:23), ou uma briga que insiste em provocar (18:6) para correr at morte (29:11). Deve-se passar por ele bem de largo, pois o companheiro dos insensatos se tomar mau (13:20), e se voc quiser mand-loembora, no o mande com um recado (26:6)!

    Algumas pessoas, porm, no podem recusar-se a reconhec-locomo seu; a tragdia delas. O insensato traz tristezas para seu pai e

    sua me (10:1; 17:21), bem como amargura (17:25) e calamidade(19:13). o preo de am-lo; isto, porm, no lhe di na conscincia despreza-os (15:20).

    2. ewil (19 vezes). Como k esl acima, esta palavra sugere estpidez e teimosia; e o fato de que a estultcia do k esilquase semprese chama 'iwwelet (da mesma raiz que ewil) mostra que estes doisnomes para o insensato so virtualmente o mesmo. Se, porm, h dis

    tino, este termo ainda mais sinistro do que k esil, conforme seuemprego em Provrbios.

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    PROVRBIOS

    O insensato, com este nome ou com o outro, se revela to logo queabre a boca (17:28; 24:7; cf. 10:14), e to briguento como o outro

    pois no se deixa refrear (20:3; 12:16) e no tem senso de proporo

    (27:3; 29:9). O aspecto que se destaca mais a sua insolncia moral:desde a primeira vez que aparece, no tolera qualquer conselho (1:7;10:8; 12:15; 15:5), e seu ponto de vista leviano se cristaliza na frasefamosa: Os loucos zombam do pecado (14:9). No de se admirarde que sua estultcia a no ser que seja tirada dele com fora na

    juventude (22:15) no seja virtualmente erradicvel. Ainda que piseso insensato com mo de gral entre gros pilados, no se vai dele a sua

    estultcia (27:22).3. nabal. Esta palavra ocorre apenas trs vezes em Provrbios (verbo, 30:32, ocorre uma vez), e acrescenta pouca coisa ao quadro que

    j foi composto, a no ser um pouco mais de peso de grosseria (17:7,ver a nota; 30:22). No deixa, porm, de sublinhar a verdade de que oinsensato, seja qual for o nome dado a ele, , por definio, algum cujamente fechada, pelo menos por enquanto, para Deus (como o nabal

    do SI 14:1) e para a razo (como o Nabal de quem disse a sua esposa:No h quem lhe possa falar, 1 Sm 25:17), visto que rejeitou o primeiro princpio da sabedoria, o temor do Senhor.

    ITT. O Escarnecedor.

    O escarnecedor (ls)surge cerca de dezessete vezes no Livro, e con

    trastado com os sbios, ou juntado com os insensatos, de tal modo quemerece um lugar prprio na galeria dos insensatos. Sua presena ali torna claro de modo cabal que a atitude mental, e no a capacidade mental, que classifica o homem. Compartilha com seus companheiros em terforte averso pela correo (9:7, 8; 13:1; 15:12), e isto, mais do quequalquer falta de inteligncia, que bloqueia qualquer avano que faz emdireo sabedoria (14:6). A desordem que ele faz no o dano a esmo

    feito pelo insensato comum; o dano mais profundo daquele que desfazde tudo quanto bom, e que deliberadamente causa problemas (21:24;22:10; 29:8). Cria impresses sobre os impressionveis, enquanto tem

    permisso para fazer o que quer (19:25; 21:11); sua influncia m,porm, fica clara maioria dos homens (24:9). Dos juzos preparadospara os escamecedores (19:29), o ltimo e mais esmagador umadose forte do seu prprio remdio: Ele (o Senhor) escarnece dos escar-

    necedores (3:34).

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    O PREGUIOSO

    O PREGUIOSO

    I. O Carter do Preguioso.

    A figura do preguioso em Provrbios uma figura da tragico-mdia, com sua preguia totalmente animal (ele mais do que ancorado sua cama atado a ela comgonzos,26:14), suas desculpas preps-teras (um leo est l fora 26:13; 22:13) e sua incapacidade final.

    1. Ele no comea a fazer nada.Quando perguntamos a ele (6:9,10) Por quanto tempo . . .? Quando . . estamos sendo por demais definidos para ele. Ele no sabe. Tudo quanto conhece sua sonolncia deliciosa; tudo quanto pede um pouco mais de tempo: um

    pouco . . . um pouco . . . um pouco. No se compromete com umarecusa total, mas se engana com o tamanho pequeno dos seus adiamentos. Assim, por centmetros e minutos, suas oportunidades vo sedeslisando.

    2. Ele no acaba de fazer nada. O esforo raro de iniciar algo foidemais para ele; o impulso vai morrendo. Assim, a sua caa apodreceantes de ele a preparar (12:27, ver o comentrio), e sua refeio se esfriaantes de ele com-la (19:24; 26:15).

    3. Ele no enfrenta nada. Chega a acreditar nas suas prpriasdesculpas (talvez haja mesmo um leo l fora, 22:13), e achar boasrazes para a sua preguia; porque mais sbio o preguioso a seus

    prprios olhos do que sete homens que sabem responder bem (26:16).Porque faz o hbito da escolha fcil (no lavra por causa do inverno,20:4, ver o comentrio) seu carter sofre tanto quanto seus negcios,de tal modo que se atribui a ele em 15:19 (ver o comentrio) a desonestidade fundamental. (Uma sugesto quanto maneira de ele se descreverse faz no comentrio sobre 26:13-16.)

    4. Conseqentemente, inquieto (13:4; 21:25, 26) com seu desejo

    insatisfeito; incapaz diante do entranado dos seus negcios, que como que cercado de espinhos (15:19); e intil de modo dispendioso (18:9) e exasperador (10:26) para quem o empregar.

    II. A Lio do Preguioso

    1. Pelo exemplo. O trecho clssimo 6:6ss.: Vai ter com a fmiga . . . pois ela deixa o preguioso duplamente envergonhado.

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    PROVRBIOS

    Primeiro, ela no precisa de fiscal (7) enquanto eleprecisa ser cutucado; isto que espera, resignado e defensivo. Segundo, ela conhece os tem

    pos. Para ele, todos os tempos so iguais: o vero e a ceifa (8) sugerem

    dias longos e lnguidos (cf. 10:5) e no o tempo de crise durante o qualo trabalho do ano ser coroado ou cancelado, e a batalha contra o inverno ser decidida (cf. Jr 8:20). Como o fara de Jeremias 46:17, deixou passar o tempo adequado; como os vigias dormentes de Isaas56:9-12, seu lema : o dia de amanh ser como este, e ainda maior emais famoso.

    2. Pela experincia. Esta lio chega tarde demais. Despert

    de repente para ver que a pobreza chegou (como um ladro . . . comoum homem armado , 6:11), e no se pode negar isto. Por meio de evitaro trabalho pesado, qualificou-se para a posio de escravo (justamentequando seu amigo mais dedicado e ativo foi promovido a deveres maiscompensadores, 12:24); e, atravs da procrastinao a desordem da suavida se tomou irreversvel: tudo deserto (24:30,31).

    Tendo-o visto, considerei; vi, e recebi a instruo (24:32). O

    sbio aprender enquanto ainda h tempo. Sabe que o preguioso no nenhum anormal freqentemente um homem comum que fezdesculpas demais, recusas demais, e adiamentos demais. Tudo foi toimperceptvel, e to agradvel, quanto o adormecer.

    O AMIGO

    I. Amigos e Vizinhos

    A palavra mais comum para representar amigo (rea') tambmsignifica vizinho; tem o sentido de colega e companheiro. Numextremo, significa meramente a outra pessoa; no outro, representaalgum com quem temos estreita comunho. O contexto revelar o sentido preciso. Num momento, o rea' um oponente num processo jurdico (18:17); noutro, aquele que ama em todo tempo (17:17). Oemprego do termo em Levtico 19:18 (amars teu reacomo a ti mesmo) sugere que Deus quer que invertamos o processo de despersoni-ficao que o emprego da palavra reflete. (Mesmo a palavra mais forte,'oheb, aquele que ama , pode ser rebaixada da sua posio alta em,e.g. 18:24b e 27:6, para se referir aos sicofantas de 14:20.)

    Provrbios, do outro lado, enfatiza que uns poucos amigos ntimosso melhores do que uma multido de conhecidos, e que formam um

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    O AMIGO

    grupo destacado. (O relacionamento entre nosso Senhor e o discpuloamado apia este fato.) Portanto, consideraremos em primeiro lugaro bom vizinho, e, em segundo lugar, o bom amigo.

    a. O Bom Vizinho.

    As qualidades do bom vizinho que Provrbios ressalta diante doleitor so, na sua totalidade, nada menos do que o amor, embora esta

    palavra, propriamente dita, no se destaque aqui. Ele tem de ser notavelmente um homem de paz: no somente indisposto para comearcontendas (3:29) ou para espalh-las (25:8, 9) como tambm bondosoao ponto de desarm-las (ver a seqncia que se aumenta em 24:17,19; 25:21, 22), e generoso nos seus julgamentos. Reconhecer que osilncio muitas vezes mais sbio do que a crtica (11:12); que uma

    pessoa que fracassou deve atrair nossa ajuda e no nosso desprezo(14:21); e que a averso que algum tem para com seu prximo podeser atribuda mais ao corao maldoso daquele do que deste (21:10).Apesar disto, sua bondade no deve se desequilibrar at se transformarem sentimentalismo: deve saber guardar distncia de algumas pessoas(22:24, 25), e tambm dizer no a uma transao insensata (6:1-5;ver as notas) to rapidamente quanto dir sim a uma sugesto apro

    priada (3:27, 28). O padro que sustenta (12:26) far tanto bem ao seuprximo como as coisas boas que ele distribui.

    b. O Bom Amigo.

    1. A constncia sua primeira caracterstica. Em Provrbios, amigos de tempos prsperos so muitos (e.g. 14:20; 19:4, 6, 7), mas hamigo mais chegado do que um irmo (18:24), e que ama em todotempo (17:17). Caso o leitor pense apenas no tipo de amizade que

    espera receber, ele conclamado a dar este tipo de lealdade (27:10),especialmente ao velho amigo da famlia que pode facilmente ser deixado de lado na procura de novas convivncias, mas cuja lealdadevenceria qualquer prova.

    2. Franqueza. Leais so as feridas feitas pelo que ama (27:6);porque O homem que lisonjeia a seu prximo, arma-lhe uma rede aospassos (29:5). Davi evitou seu dever para com Adonias, seu filho

    (Jamais seu pai o contrariou, dizendo: Por que procedes assim? 1 Rs1:6), e isto acabou causando a morte daquele filho. , porm, provvel

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    que quaisquer agradecimentos que um amigo receber por tais serviosestejam sujeitos a adiamentos: tem de se sujeitar a esperar at depois(28:23).

    3. Conselho. Dois ditados no captulo 27 descrevem os dois ladosdo conselho: o efeito animador do companheirismo (27:9, ver a nota;como quando Jnatas fortaleceu a confiana de Davi no Senhor, 1 Sm23:16), e a contenda sadia entre personalidades e pontos de vista (27:17).Uma amizade verdadeira deve ter ambos os elementos, o que consolae o que estimula.

    4. Tato: o respeito para com os sentimentos alheios; a recusa detirar vantagem da afeio de outrem. Os exemplos em Provrbios sode lapsos por demais familiares: ficar hospedado por tanto tempo quese acaba o bom acolhimento (ou forar algum a ficar em sua com

    panhia), 25:17; ser jovial na hora errada, quando tal atitude no desejada (27:14) ou at cruel (25:20); e no saber quando a brincadeira j est indo longe demais (26:18,19).

    II. A Vulnerabilidade da Amizade.

    Acontece que o termo mais forte para um amigo, allp, o amigodo corao, usualmente ocorre no Antigo Testamento em situaesde traio (como em 2:17) ou de desavena (16:28; 17:9), como paranos lembrar que at a amizade mais ntima precisa ser conservada. As

    tenses que surgem da falta de considerao (como em I(4)) so asmenores; o perigo verdadeiro advm da malcia: o deleite do difamadorem causar discrdia (16:28), ou o prazer daquele que possui uma vantagem, em persegui-la at ao fim (17:9). Revela-se que as qualidadesdo pacificador exigidas no bom vizinho (ver Ia) no so de modo algumtomadas desnecessrias pelos vnculos da afeio. A integridade de umaamizade depende tanto dos recursos espirituais quanto depende a do

    indivduo.

    PALAVRAS

    Das sete abominaes alistadas em 6:16-19, trs (uma proporogrande) so exemplos do emprego errado de palavras: tal a impor

    tncia que se atribui a elas em Provrbios. O que se ensina a respeitodelas pode se agrupar sob trs ttulos.

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    I. O Poder das Palavras.

    A morte e a vida esto no poder da lngua (18:21). Este poderbrota primariamente de duas qualidades.

    1. A penetrao.O que se faz contravoc nada comparado comaquilo que se faz emvoc, e este ltimo pode ser para o bem ou parao mal. Ossentimentos, ou moral, podem ser lacerados por um golpecruel ou desajeitado (como pontas de espada, 12:18a), e o espritoabatido quem o pode suportar? (18:14); da mesma forma, podem ser

    revitalizados por uma boa palavra falada na hora certa (12:18b, 25),e o corpo inteiro os acompanha (doces para a alma, e medicina parao corpo, 16:24; 15:30). A atitude de algum para com outra pessoa

    pode ser profundamente afetada por um mero sussuro de maledicncia,inesquecvel depois de ter sido acalentado (18:8), e o amor prpriopodeser insuflado de modo prejudicial pela lisonja (que enreda as suas vtimas, 29:5, pela dependncia que induz e pelas aes impensadas que

    provoca). Acima de tudo, crenas e convicesse formam por palavras,e estas ou destroem o homem ou o edificam (11:9; 10:21).2. A propagao.J que as palavras implantam idias nas mentes

    de outras pessoas, h uma ramificao dos seus efeitos tambm para obem ou para o mal. A conversa do depravado como que fogo ardente.O homem perverso espalha contendas (16:27b, 28a). Como em 6:14,onde anda semeando contendas, sua atuao como o incendimento

    de Sanso, e tudo pode ser feito atravs de procedimentos silenciosose clandestinos . . ., indicaes, sugestes, provocaes e sinais (C. H.Toy sobre 6:12-14), e.g. pelo sinal bem sincronizado dos olhos ou doslbios que se nota em 10:10 e 16:30. Assim, tambm, o homem bom-vai ver que suas palavras produzem fruto no somente no bem que voltapara ele (12:14), como tambm nos benefcios que alcanam muitasoutras pessoas, sendo para elas manancial de vida (10:11; cf. 18:4) e

    rvore de vida (15:4). Estas ltimas duas metforas tiram o assuntototalmente fora da esfera temporal, colocando-o na eterna (cf. SI 36:8, 9;Gn 3:22-24).

    II. A Fraqueza de Palavras.

    1. No servem como substituto dos atos.O contraste entre o trbalho e meras palavras , em 14:23 (um ditado que merece ser colo-

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    cado numa moldura e pendurado nas salas de conferncias), contrabalana a seo I de modo eficaz.

    2. No podem alterar os fatos. O encanto mais impenetrvel noresiste, em ltima anlise, os fatos que disfara (26:23-28); e, pensandoagora no fim de tudo, as negaes mais descaradas (28:24) e as desculpas mais fortes (24:12), no faro impresso alguma no Juiz final.

    3. No podem compelir uma resposta. O servo no se emendarcom palavras, porque, ainda que entenda, no obedecer (29:19);da, h o apelo no sentido de o ouvinte fazer sua prpria busca dasabedoria (e.g. 2:3, 4), como algo que o professor no pode transmitiraos apticos. (Mais fundo entra a repreenso no prudente, do quecem aoites no insensato 17:10). O outro lado do assunto que

    palavras ms so sujeitas mesma desvantagem. O mexerico maisapimentado somente tem influncia sobre o ouvinte na medida de elemesmo ser malfeitor, andando na falsidade, em quem o gosto pelacarnia ultrapassa o amor verdade. O malfazejo atenta para o lbioinquio; o mentiroso inclina os ouvidos para a lngua maligna (17:4).

    /III. Palavras na sua Melhor Condio.

    Provrbios d ensinamento sobre (a) as caractersticas, e (b) acomposio de tais palavras.

    a. As Caractersticas Delas.1. Sero honestas. Os lbios justos so o contentamento do rei

    (16:13) uma das coisas boas que os homens importantes no podemcomprar, nem podem se dar ao luxo de passarem sem ela. Cf. 24:24-26,onde uma resposta reta (26) literalmente direta ou honesta. Cf. tambm 25:12; 27:5,6; 28:23.

    2. Seropoucas. Este fato ressaltado de modo irnico em 17:28(At o estulto, quando se cala, tido por sbio), e h bases suficientemente slidas para ele noutros trechos. Em nosso prprio interesse,quanto menos falamos, tanto menos h para os adversrios nos lanarem no rosto (10:14; 13:3); para o bem do nosso prximo, a reticncia

    pode salvar uma amizade (11:12,13); e, quanto ao nosso relacionamentocom Deus, quando as palavras de algum vo se disparando, levam-no

    at estultcia e ignorncia; No muito falar no falta transgresso(10:19).

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    PALAVRAS

    3. Sero calmas. Acha-se em 17:27 um vnculo com o pargrafoanterior, declarando-se que o emprego reservado de palavras a marcade um esprito sereno, o que destaca um homem de inteligncia.Podem-se achar trs razes para louvar-se a calma: em primeiro lugar,

    permite tempo para se escutar o assunto inteiro com eqidade (18:13;cf. vers. 17); em segundo lugar, deixa os nimos se serenarem (15:1:A resposta branda desvia o furor); e, em terceiro lugar, sua influncia poderosa: a lngua branda esmaga ossos (25:15).

    4. Sero aptas. Uma verdade que no faz impresso alguma como

    uma generalizao, pode ser fixada na mente de modo indelvel quando ajustada ocasio e moldada para a sua tarefa. Vislumbra-se o deleitedo artfice alm do daquele que recebe a obra pronta em 15:23: Ohomem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra a seu tempo,quo boa ! O mesmo prazer esttico brilha na linguagem de 10:20(Prata escolhida a lngua do justo) e 25:11 (Como mas de ouroem salvas de prata); cf. 25:12; 22:11; 10:32.

    b. A Composio Delas.

    1. Estudo. 15:28 declara aquilo que o pargrafo anterior d a entender. O corao do justo medita o que h de responder, mas a bocados perversos transborda maldades. Uma verdade semelhante se ressalta em 15:2. Quando acrescentamos a isto as implicaes de 2:6 e,

    talvez, de 16:1, estamos chegando perto da declarao clssica emIsaas 50:4 (O SENHOR Deus me deu lngua de eruditos. . .).2. Carter.Alguns dos ditados no Livro que parecem ser chaves

    (e.g. 14:5; 12:17) surgem da sua insistncia em dizer que aquilo que ohomem dizbrota daquilo que ele ter o valor que ele mesmo tem.Desta forma, a lnguado justo posta na balana contra o coraodos perversos e seus valores (prata escolhida e muito pouco) se

    comparam diretamente (10:20). A expresso mais contundente destefato se acha no bem-conhecido ditado de 4:23: Sobre tudo o que sedeve guardar, guarda o teu corao, porque dele procedem as fontesda vida . Desta declarao at quela de nosso Senhor: A boca falado que est cheio o corao (Mt 12:34), falta s um passo.

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    A FAMLIA

    I. 0 Esposo e a Esposa.

    Embora os reis se dessem ao luxo duvidoso da poligamia, os israelitas comuns raramente apelavam a ela, e, no Livro dos Provrbios,mostra-se claramente que a unio entre um homem e uma mulher a norma, tanto pela ausncia de qualquer aluso s discrdias da poligamia (embora encontremos outros problemas domsticos, desde a infidelidade at a implicncia), como pelo vnculo totalmente pessoal que

    sempre pressuposto entre o marido e a mulher. Ambos compartilhamdo treinamento das crianas, e pressupe-se que falem de modo unssono (1:8, 9; 6:20, etc.); o homem conclamado a ser no apenas lealcom sua companheira, como tambm ardente, embriagando-se semprecom as suas carcias (5:19); o voto nupcial violado um pecado contrauma amiga da mocidade (2:17) a palavra aqui allp, que sempredescreve as amizades mais ntimas (cf. 16:28; 17:9; SI 55:13). Esteconceito fica bem longe da idia antiga muito comum, de ser a esposauma escrava e produtora de filhos, mas no uma companheira. Amulher, longe de ser uma nulidade, aquela que ou edifica ou arruinao seu marido (ela um bem dado por Deus, 18:22; 19:14; a coroado marido; seno, como podrido nos seus ossos, 12:4). A estabilidade da famlia depende principalmente da sua sabedoria femininaconstrutiva (14:1), e, no caso de possuir ela habilidades especiais, ter

    bastante escopo para elas: em 31:10ss., a esposa capaz administradora, comerciante, artfice, altrusta e orientadora, cuja influncia seespalha bem alm do seu lar, embora se centralizem ali e embora suasrealizaes sejam (conforme ela mesma desejaria) estimadas sobretudo

    pela sua contribuio fortuna e boa posio social do seu marido(31:11,23).

    Em contraste com um conceito to alto do casamento, o pecadosexual se apresenta nas cores mais sombrias. o esbanjamento de forasque existem em funo de edificar uma famlia verdadeira reservada,

    bem entrosada, e abenoada por Deus (5:9-23). Troca a verdadeiraintimidade pela sua pardia (5:19, 20), abre mo da honra pessoal(5:9; 6:33) e da liberdade (23:27, 28). jogar no lixo os melhores anosda vida (5:9, 11), e, possivelmente, tudo quanto possui (29:3; 6:26, ver

    a nota). atrair o perigo fsico e a vergonha social (6:26, 32-35); e issono tudo. Os que pensam que podem assim explorar a vida flertam

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    A FAMLIA

    com a morte. No se trata de mero desvio do melhor caminho: , narealidade, um beco sem sada: porque a sua casa se inclina para a

    morte, e as suas veredas para o reino das sombras da morte; todos osque se dirigem a essa mulher no voltaro, e no atinaro com as veredas da vida (2:18, 19). Mudando a figura, um pecado que chamusca o pecador de modo inescapvel: Tomar algum fogo no seio,sem que as suas vestes se incendeiem? Ou andar algum sobre brasas,sem que se queimem os seus ps? (ver 6:27*29,33b).

    II. Pais e Filhos.

    Provrbios bem conhecido por seu louvor vara. Sua mxima:O que retm a vara aborrece a seu filho (13:24) o corolrio da suadoutrina sria da sabedoria; se, pois, a sabedoria a prpria vida(8:35, 36), um caminho penoso para atingir a ela melhor do que uma

    caminhada tranqila at morte (Tu a fustigars com a vara, e livrarsa sua alma do inferno, 23:14; cf. 19:18). O caminho forosament