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40º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS SPG 22 – Pensamento social: perspectiva e questões Sessão 1: Comparação Brasil / América Latina a partir de outros ângulos Olhares periféricos: crítica e sociologia no ensaísmo de Roberto Schwarz e de Beatriz Sarlo 1 Maria Caroline Marmerolli Tresoldi Mestranda em Sociologia PPGS / IFCH / UNICAMP CAXAMBU/MG 2016 1 Este trabalho apresenta e discute hipóteses de pesquisa que estão sendo desenvolvidos no interior de um projeto em andamento, com o mesmo título dessa comunicação, orientado pela Profa. Dra. Mariana Miggiolaro Chaguri e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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40º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

SPG 22 – Pensamento social: perspectiva e questões

Sessão 1: Comparação Brasil / América Latina a partir de outros ângulos

Olhares periféricos: crítica e sociologia no ensaísmo de Roberto Schwarz e de Beatriz Sarlo1

Maria Caroline Marmerolli Tresoldi Mestranda em Sociologia PPGS / IFCH / UNICAMP

CAXAMBU/MG – 2016

1Este trabalho apresenta e discute hipóteses de pesquisa que estão sendo desenvolvidos no interior de um projeto em andamento, com o mesmo título dessa comunicação, orientado pela Profa. Dra. Mariana Miggiolaro Chaguri e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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OLHARES PERIFÉRICOS: CRÍTICA E SOCIOLOGIA NO ENSAÍSMO DE ROBERTO SCHWARZ E DE BEATRIZ SARLO

Maria Caroline Marmerolli Tresoldi

Uma das funções da arte, como escreve Jorge Luis Borges (1975), é legar

o passado à memória dos homens. Ao discutir a formação do sistema literário

brasileiro, Antonio Candido (2007) argumenta no mesmo sentido, indicando que

os sentimentos que os homens do passado experimentaram e as observações

que fizeram em nossa literatura compõem o imaginário coletivo de nossa história,

formando nossa sensibilidade e visão de mundo e, não por acaso, constituem vias

de acesso para a própria interpretação do país.

Ainda que o estudo da literatura em regiões periféricas à experiência

europeia, como adverte Candido (2007), possa ser marcado pelo “desinteresse e

menoscabo”, uma vez que estaríamos “fadados” a depender da experiência de

outras letras e de outras culturas, estudar literaturas como, por exemplo, a latino-

americana, significa mergulhar em processos estéticos e sociais detentores de

sutilezas e especificidades que interessa a um “espírito crítico” desvendar.

Essa é a tarefa a que se propõe, para a vida literária brasileira, o cientista

social e crítico literário Roberto Schwarz, e, no caso argentino, a crítica literária e

cultural Beatriz Sarlo. Buscando investigar a origem dos impasses e das

ambivalências que marcam a experiência brasileira e argentina e o modo como a

matéria local e os modelos estéticos emprestados das formas europeias se

imbricam no tecido de nossa vida cultural, estes críticos tomam as artes, e

notadamente a literatura, como pontos de partida para analisar suas respectivas

sociedades. Assim, por meio da articulação entre literatura e sociedade, crítica e

sociologia, estética e política, Schwarz e Sarlo desempenham o papel de

intelectuais críticos no espaço público, construindo versáteis interpretações

sociais ou, em termos mais amplos, modos críticos de sentir, pensar e atuar em

seus países.

É principalmente a partir de um estudo detido das obras de Machado de

Assis e Jorge Luis Borges, convertidos em autores fundamentais dos cânones

literários do Brasil e da Argentina e, atualmente, reconhecidos como “clássicos”

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da literatura mundial, que Roberto Schwarz e Beatriz Sarlo se consagraram como

dois dos maiores críticos latino-americanos. Em decorrência da relevância teórica

e empírica de seus trabalhos sobre nossos escritores, que se desdobram em

importantes debates sobre as mediações entre literatura e sociedade / crítica e

sociologia, assim como sobre as reflexões acerca da modernidade e do

capitalismo visto desde sua periferia, essa comunicação apresenta aproximações

e distanciamentos no percurso formativo que trilharam e em algumas reflexões

que desenvolveram ao longo das últimas décadas.

Busca-se, em particular, reconstruir a trajetória intelectual de Schwarz e

de Sarlo, mapeando suas origens, suas formações acadêmicas, as influências

teóricas a partir das quais eles formulam seus temas e problemas de pesquisa, e

o contexto histórico-social no qual se inseriam. Por meio desse movimento

analítico – que leva em consideração a complexa relação entre as trajetórias

intelectuais e os processos sociais mais amplos nos quais as ideias foram

formuladas – visa-se problematizar o modo como eles constroem, teórica e

metodologicamente, suas interpretações críticas sobre literatura e sociedade,

estética e política. Em seguida, lançam-se hipóteses para pensar as reflexões que

desenvolvem em seus ensaios sobre Machado de Assis e Jorge Luis Borges,

mestres na periferia do capitalismo.2

Crítica e sociologia como pontos de vista

Ninguém sabe melhor do que tu, sábio Kublai, que nunca se deve confundir a cidade com o discurso que a descreve. No entanto, há uma relação entre ambos (Ítalo Calvino).

Com essa epígrafe Antonio Candido abre seu livro O discurso e a cidade

(1993). Ela arma analiticamente o problema ao qual o crítico se dedicou ao longo

de sua trajetória intelectual: existe a sociedade e existe a literatura, mas há uma

2As reflexões apresentadas aqui, referem-se ao primeiro movimento analítico realizado em minha pesquisa de mestrado: a análise das trajetórias intelectuais dos críticos, mapeando as influências teóricas e os contextos a partir dos quais constroem seus trabalhos. O segundo movimento analítico dessa pesquisa, que será apresentado de modo parcial na segunda parte desse trabalho, é dedicado ao estudo dos ensaios de Schwarz e Sarlo sobre Machado e Borges, com vistas a qualificar os sentidos possíveis que a ideia de “periferia” assume na obra do crítico brasileiro e da crítica argentina.

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relação entre elas. E a tarefa do crítico, para Candido, é encontrar as mediações

entre a realidade do mundo e as narrativas ficcionais, e tal como o sábio, não

confundir a realidade com a exposição estética da realidade nas obras literárias.

No entanto, não são todos os críticos das obras de arte em geral, e das

obras literárias em particular, que têm a ambição de perceber como o recado do

escritor é construído a partir do mundo, e “gera um mundo novo, cujas leis fazem

sentir melhor a realidade originária” (Candido, 2010, p.9). Muitas tradições da

crítica literária estudam o texto apenas tomando a linguagem e estrutura literária

como focos de análise (a partir dos quais desdobram os estilos dos autores e das

escolas literárias). Ainda que Candido reivindique a autonomia relativa dos textos

literários e comece a construir uma identidade intelectual como crítico literário, a

sociologia nunca deixou de ser um ponto de vista relevante em seus trabalhos.

O problema colocado por Candido pode ser deslocado para pensar que,

tal como existe a literatura e a sociedade, também existe a crítica e a sociologia.

E para alguns críticos há uma imbricada relação entre elas. Partindo dessa

perspectiva, o texto literário não pode ser objeto de uma crítica apenas formal,

tampouco objeto estritamente sociológico. O que interessa, como sugere o

argumento de Candido, são as mediações entre crítica e sociologia, mediações

que procuram compreender o sentido ao mesmo tempo estético e social das

formas literárias.

Dentre os críticos que problematizam as relações entre literatura e

sociedade combinando a crítica e a sociologia como pontos de vista, encontram-

se, além de Antonio Candido que é um dos principais formuladores dessa relação

no pensamento latino-americano, o crítico brasileiro Roberto Schwarz e a crítica

argentina Beatriz Sarlo. Os dois ensaístas, que têm uma trajetória compartilhada

no tempo, não se furtaram em dialogar com temas e problemas de sua época,

transitando entre os campos da crítica literária e da sociologia.

A trajetória acadêmica de Roberto Schwarz é marcada no campo

intelectual das ciências sociais e no das letras. Ele nasceu em 1938 na Áustria, e

apenas com alguns meses de idade imigrou ao Brasil com seus pais, intelectuais

de esquerda e judeus, que fugiam do nazismo. Embora tenha vivido na infância e

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na adolescência imerso na linguagem e na cultura alemãs, superou a tensão que

dividia entre os dois idiomas e escolheu investigar as peculiaridades e as fontes

das contradições da sociabilidade brasileira.

Com um duplo olhar, de quem é ao mesmo tempo de fora e de dentro –

que intelectuais de países periféricos adquirem com esforço (Candido, 2007b) –

Schwarz entrou, em 1957, para o curso de Ciências Sociais na Universidade de

São Paulo (USP), num momento no qual as discussões sobre o país estavam na

ordem do dia. Na ocasião, o crítico participou do famoso “Seminário de Marx”,

iniciativa de um grupo de jovens professores e de alguns alunos que se reuniam

para ler O Capital de Karl Marx com vistas a interpretar os sentidos do atraso e

do progresso no Brasil.3

Além da experiência no Seminário, as discussões sobre o país que

tiveram peso significativo em sua formação acadêmica foram os debates travados

com o professor Antonio Candido, no último ano que o então sociólogo ministrava

aulas como assistente da cadeira de Sociologia II da USP. Em 1958, Candido

passou a ensinar literatura brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras

de Assis, interior do estado de São Paulo, e Schwarz, mirando-se em seu

exemplo, foi fazer uma visita a ele para pedir conselhos, “pois gostava mesmo era

de literatura” (Schwarz, 2012b, p.284).

Antes da visita ao professor, Schwarz já escrevia crítica literária para o

suplemento literário do jornal Última Hora, e estava “desiludido” com os rumos

que as ciências sociais tomavam, empenhadas em pesquisas quantitativas, com

levantamento de dados e tabulações4 (Schwarz, 2012b). Como para ensinar em

Letras era necessário um título apropriado, Candido aconselhou que o aluno

fizesse um mestrado em literatura no exterior, para que no retorno se tornasse

seu assistente na cadeira de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP que

3 O seminário de leitura d’O Capital ocorreu entre o final da década de 1950 e início de 1960, tendo como participantes os professores José Arthur Gianotti, da Filosofia; Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni, das Ciências Sociais; Paul Singer, da Economia; Fernando Antonio Novais, da História; entre outros, e os alunos Michael Löwy, Bento Prado, Francisco Weffort e o próprio Schwarz. Sobre o tema ver: Schwarz (1999) e Rodrigues (2012). 4 Trata-se de trabalhos, como os de Florestan Fernandes, que impulsionavam a pesquisa empírica e monográfica, de modo a se contrapor com o ensaísmo das décadas anteriores, e estabelecer um padrão “mais científico” para as ciências sociais.

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Candido, então, ajudava a fundar. Assim, entre os anos de 1961 e 1963, Schwarz

se pós-graduou em Literatura Comparada na Yale University, e no ano seguinte,

em 1964, passou a ser instrutor do curso de Teoria Literária e Literatura

Comparada na USP5.

A rotina desse curso, como conta Davi Arrigucci (2011), também

assistente de Candido, misturava uma parte teórica sobre a natureza e a função

da literatura, e outra prática, com a análise de importantes textos literários. Na

parte teórica eram discutidos textos de Georg Lukács, Walter Benjamin, Theodor

Adorno, Erich Auerbach, autores do New Criticism, entre outros. Na parte prática,

eram lidos os principais autores da literatura moderna e da literatura brasileira. De

1964 até o ano de 1968 Schwarz foi assistente de seu “mestre-Açu Acê” 6 e deu

diversas aulas nessa cadeira, mas em decorrência da repressão da ditadura civil-

militar brasileira aos intelectuais de esquerda, deixou o país e se exilou em Paris,

em 1969, onde permaneceu até 19787.

Aproveitou a estadia na França para estudar e aprofundar suas reflexões

sobre o Brasil, escrevendo em jornais e revistas (como Les Temps Modernes)

sobre a cultura e a política brasileiras; dando aulas sobre literatura latino-

americana; e defendendo sua tese de doutorado em 1976, em Estudos Latino-

Americanos pela Université de Paris III, Sorbonne, sobre as origens do romance

brasileiro nas obras de José de Alencar e da primeira fase de Machado de Assis8.

No retorno ao Brasil em 1978, Schwarz foi contratado como professor de

Teoria Literária no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual

de Campinas (UNICAMP), por intermédio de Antonio Candido, então coordenador

5 Schwarz (2012b) lembra que antes de ir para o mestrado em 1961, participou em Assis do “II Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária”, que foi decisivo para os rumos que pretendia seguir. Nessa ocasião, Antonio Candido fez uma comunicação na qual anunciava seu programa crítico posterior à Formação da literatura brasileira (1959), que combinava crítica literária e sociologia, e mostrava que elementos da vida social se estruturaram e atuavam no interior das obras literárias como forma. Essa comunicação recebeu o título de “Crítica e Sociologia” e foi publicada posteriormente em Literatura e Sociedade (1965). 6 Utilizando a palavra tupi “açu”, que significa magnitude, e as iniciais de Antonio Candido “A e C”, Schwarz utiliza essa expressão para se referir ao professor como um grande mestre. 7 Schwarz precisou deixar o país pois fazia parte do projeto da revista Teoria e Prática da USP,

que recebeu censura da ditadura militar brasileira. Arrigucci (2011) observa que Schwarz colocou o endereço da redação da revista em um apartamento que tinha em seu nome, e a polícia apareceu por lá. Para não ser preso, teve que se esconder na casa de amigos e deixar o país. 8 A tese de doutorado foi publicada no Brasil em 1977, com o título de Ao vencedor as batatas.

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do Instituto, onde permaneceu até sua aposentadoria em 19929. Após a

aposentadoria, continuou presente no debate público, seja na universidade,

participando de encontros e conferências, seja fora dela - é notável, nesse

sentido, a atuação de Schwarz no comitê editorial da revista Novos Estudos do

Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).

A trajetória acadêmica de Beatriz Ercilia Sarlo Sabajanes, por sua vez, é

marcada principalmente pelos estudos literários. Ela nasceu em 1942 na

Argentina, descendente de famílias de imigrantes, mas de origens diferentes. Do

lado materno, é descendente de italianos e espanhóis, que tiveram alguma

ascensão social, principalmente por meio da educação (já que sua mãe e suas

tias eram professoras), e do lado paterno de “criollos antigos” que não recordavam

sua ascendência.

Na infância e na adolescência aprendeu francês, frequentava

mensalmente museus e era instigada pelos pais a ler literatura. Nesse período,

também estudou em um colégio inglês de excelência, marcado por padrões

pedagógicos que não eram comuns na Argentina. Com um ensino exigente nesse

colégio, teve a possibilidade de estabelecer uma relação com a cultural europeia,

lendo no original grandes clássicos literários, como Shakespeare (cf. Sarlo, 2009).

Anos mais tarde, no início da década de 1960, ingressou na Faculdad de

Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires (UBA), no curso de Filosofia.

Como percebeu que seus interesses se voltavam com dedicação a temas

literários, abandonou a Filosofia e passou para o curso de Letras, e mais

especificamente, para os estudos literários, concluindo-o em 1966.

Durante os anos na faculdade, em um momento de grande efervescência

intelectual, cultural e política na universidade e fora dela, Sarlo participou de

discussões travadas nos cursos de psicologia e sociologia, este último marcado

pela presença de Gino Germani (um dos mais importantes sociólogos argentinos

9 No processo institucional de Schwarz na UNICAMP, há documentos que mostram que Antonio Candido foi o responsável por sua contratação. Além disso, nesse processo é possível encontrar as disciplinas lecionados por Schwarz no período, notadamente sobre literatura brasileira, e uma síntese dos inúmeros congressos, eventos e revistas que ali foram organizados pelo crítico mais novo. O processo de “vida funcional” é composto por dois volumes e foi cedido à pesquisadora pelo IEL/UNICAMP.

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do período); e frequentou um grupo de estudo com o professor de literatura

inglesa Jaime Rest, adjunto de Jorge Luis Borges, no qual eram discutidas as

obras de importantes críticos culturais, como Raymond Willians, Ronald Barthes

e Richard Hoggart.

Ainda durante a graduação, Sarlo desenvolveu atividades junto à Editora

da Universidade de Buenos Aires (EUDEBA), e quanto a editora foi fechada em

1966 pela ditadura argentina, migrou para o grupo editorial Centro Editor de

América Latina (CEAL), fundado por Boris Spivacow, o mesmo editor na

EUDEBA. As experiências nessas editoras, segundo a crítica, serviram como uma

forma de pós-graduação, devido a um projeto de estudo sistemático e coletivo (cf.

Sarlo, 2009).

As etapas seguintes de sua vida foram marcadas pelo intenso debate

político argentino, mas longe da universidade, que sofria com a censura da

ditadura. Nos anos de 1970, Sarlo atuou principalmente em revistas argentinas

que construíam espaços de notável fermentação intelectual. No período de 1972

a 1976, a crítica fez parte da direção da revista cultural e política Los Livros,

trabalhando na tradução de importantes obras de crítica literária e do pensamento

social e político europeu. Com a experiência adquirida na revista, e com seu

encerramento em 1976 pelo governo militar argentino, Sarlo se juntou a Carlos

Altamirano e Ricardo Piglia, seus colegas na revista, para esboçar, de modo

semiclandestino, um novo empreendimento: a revista Punto de Vista.

Inaugurada em 1978, com financiamento de uma organização política

chamada “Vanguarda Comunista”, e com a finalidade de reestabelecer vínculos

entre os intelectuais oriundos das ciências sociais e da crítica literária, essa

influente revista divulgava questões da história literária e cultural argentina e

latino-americana, bem como os novos métodos críticos e teorias sociais que

surgiam. Como nos primeiros números da revista a sociedade argentina ainda era

controlada pelo Estado autoritário, que impunha inúmeras restrições aos

intelectuais, suas primeiras publicações foram assinadas por pseudônimos.

Apenas em 1981, no processo de transição para a democracia, saiu o primeiro

editorial no qual o grupo de intelectuais que dirigia a revista foi apresentado,

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dentre os quais Beatriz Sarlo10 - editora da revista do início até seu encerramento,

em 200811.

Esse editorial defendia a liberdade do pensamento e a ampla circulação

de ideias na Argentina. Tratava-se de uma luta contra a censura e o regime

autoritário. Não por acaso, a revista colocava em circulação diversos materiais,

tais como resenhas de obras literárias, teorias sociais ou filmes (nacionais ou

estrangeiros); entrevistas com importantes intelectuais (como Antonio Candido,

Raymond Willians, Richard Hoggart etc.); textos que debatiam o vínculo entre

prática intelectual e política; reflexões sobre a cultura popular e a cultura de

esquerda (e suas relações com o peronismo); dentre outros temas (cf. Olmos,

2004). Em poucas palavras, a revista formava novo (e decisivo) “campo

intelectual” argentino.12

Concomitantemente a atuação na revista, que servia como um

“laboratório de ideias” para pensar o país e os movimentos da sociedade

contemporânea, Sarlo começou a dar aulas na Faculdad de Filosofia y Letras da

UBA. Ela voltou à universidade apenas 1983, com o final da ditadura militar, para

ministrar aulas de Literatura Argentina, e permaneceu como professora até o ano

de 200313.

10 Nos primeiros números da revista Punto de Vista, Sarlo utilizava o pseudônimo de Silvia Niccolini. É curioso notar que Roberto Schwarz, quando escrevia para a revista Teoria e Prática nos primeiros anos da ditadura militar brasileira, também assinava seu nome com um pseudônimo, o de Bertha Dunkel. 11 Na experiência brasileira, segundo Olmos (2004), a revista Novos Estudos do CEBRAP exerceu um papel semelhante à revista Punto de Vista, uma vez que também atuou na difusão da produção cultural e teórica num contexto marcado pela democratização da sociedade. É oportuno lembrar que o primeiro editorial da revista Novos Estudos é firmado por Roberto Schwarz, que colaborou periodicamente com o empreendimento. Nesse ponto é possível estabelecer uma aproximação entre Sarlo e Schwarz, já que ambos exerceram trajetórias semelhantes no processo de redemocratização de nossas sociedades, participando de projetos intelectuais (e editoriais) coletivos, que visavam reestabelecer a prática de uma crítica política da cultura. Em outras palavras, sugere-se que Schwarz e Sarlo, cada qual a sua maneira, foram importantes intérpretes de períodos autoritários no Cone Sul. 12Sarlo (2016) observa que no ano de 1983 o suplemento “Cultura y Nación” do jornal Clarín, utilizou a ideia de novo “campo intelectual” argentino para se referir à revista. A expressão, cuja referência se encontra na obra de Pierre Bourdieu, foi considerada uma vitória entre os integrantes de Punto de Vista, que colocaram em circulação traduções da obra do sociólogo francês. Os integrantes da revista se orgulhavam, como observa Sarlo, pois acreditavam dar um passo adiante na geração anterior, composta pelos críticos Davi Vinãs e Adolfo Prieto, que faziam parte da revista literária Contorno, considerada a maior influência entre eles. 13 Sarlo também foi professora convidada da Universidade de Cambridge (na Inglaterra), e das universidades da Califórnia, Columbia, Maryland e Chicago (nos Estados Unidos). Desde sua

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Na universidade Sarlo procurou ensinar, além de textos clássicos de

escritores argentinos, as maneiras possíveis de se ler a literatura. Essa questão

foi problematizada ao longo de seus cursos a partir de autores como Georg

Lukács, Walter Benjamin, Jean-Paul Sartre, Lucien Goldman, Raymond Willians,

Pierre Bourdieu, Richard Hoggart, Antonio Candido, entre outros, que já eram

objetos de leitura da crítica nas revistas das quais fez parte, mas que agora

deixavam de ser “leituras clandestinas” e ganhavam um “canal institucional”14.

Recuperando as trajetórias de Roberto Schwarz e de Beatriz Sarlo,

percebe-se que ambos tiveram uma formação importante na infância e na

adolescência, que os permitiu pensar seus países com um duplo olhar: de dentro

da experiência brasileira e argentina, com um olhar para fora, em particular, para

a tradição cultural europeia (com estudo de línguas, leituras de grandes clássicos

literários etc.).

Nota-se, também, que os críticos trilharam caminhos diferenciados em

suas trajetórias intelectuais. O crítico brasileiro, com uma formação acadêmica

nas ciências sociais, foi aos poucos passando para as letras, e ao longo de sua

trajetória sempre esteve ligado à universidade (mesmo quando precisou deixar o

país durante a ditadura militar brasileira). Sarlo, formada em letras, foi se

aproximando da sociologia como curiosa e autodidata, principalmente a partir da

recepção da obra de importantes tradições sociológicas na Argentina (como a

obra do sociólogo francês Pierre Bourdieu), e teve uma vida intelectual ativa

principalmente fora dos âmbitos acadêmicos.

Ao olhar para essas trajetórias, vale chamar atenção para pelo menos

dois elementos que contribuem para a relação profunda que estabelecem entre a

literatura e as ciências sociais. Em primeiro lugar, é oportuno salientar que os

trabalhos oriundos da crítica literária no Brasil e na Argentina, a partir de meados

do século XX, dialogavam com temas de pesquisa das ciências sociais praticadas

nesses países, em que se pese, particularmente, os problemas de formação

aposentadoria na UBA, Sarlo tem participado de encontros e seminários em diversos países, para falar sobre cultura e política na Argentina e na América Latina, e se tornou figura constante nos periódicos e nos programas de televisão argentinos para debater problemas contemporâneos. 14 Informação concedida à pesquisadora por meio de conversas por correio eletrônico no mês de março de 2016.

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cultural e da modernização da sociedade nos dois países. Além disso, nos dois

casos e concomitantemente, a crítica literária passou a incorporar instrumentos

advindos da sociologia, num esforço de se legitimar como disciplina científica (cf.

Jackson; Blanco, 2014).

Dentre os intelectuais responsáveis por inovadores programas de

pesquisa na crítica literária no Brasil e na Argentina, encontram-se as figuras de

Antonio Candido e Adolfo Prieto. Ainda que com programas de pesquisa distintos,

sobretudo em relação ao peso ocupado pelas relações entre texto literário e

conteúdo social15, ambos foram pioneiros ao tratar no campo acadêmico sobre a

formação literária de seus países, inaugurando projetos de estudos ambiciosos

que tiveram continuidade, em alguma medida, com o ensaísmo de Roberto

Schwarz e de Beatriz Sarlo16.

Em segundo lugar, é importante observar que ao mapear a trajetória dos

críticos nota-se algumas afinidades eletivas a partir das quais Schwarz e Sarlo

estabelecem “trocas literárias”17. Autores como Lukács, Benjamin, Adorno,

Willians, Candido, entre outros, ligados a uma tradição materialista da crítica

literária e cultural (ainda que Candido seja mais discreto em suas afirmações

metodológicas), propõe uma análise que procure estabelecer articulações entre

15 Vale notar que Prieto se aproxima mais de uma “sociologia da literatura”, tomando a literatura como um fato social como outros, enquanto Candido permanece no âmbito da crítica de caráter sociológico que, reconhecendo a autonomia da literatura, procura encontrar as mediações entre as obras e o mundo social. 16Em relação a Roberto Schwarz e Antonio Candido há uma proximidade clara, conforme apresentado anteriormente. Como recorda Candido (1974), tendo em vista que Schwarz mostrava gosto pelo estudo da literatura, ele foi recrutado para formar a equipe que desenvolveu as atividades no ensino de Teoria Literária. Com respeito à relação de Adolfo Prieto e Beatriz Sarlo, a ligação se estabeleceu mais tardiamente, quando Sarlo já se firmava como crítica literária nas revistas das quais fez parte. É inegável, entretanto, que o programa de pesquisa em sociologia da literatura de Prieto teve continuidade na principal vertente da crítica literária argentina das últimas décadas, expressa nas obras de Beatriz Sarlo e Carlos Altamirano e nos demais integrantes da revista Punto de Vista (cf. Jackson; Blanco, 2014). 17 Empresta-se a ideia de “trocas literárias” de Carlo Ginzburg (2004). Interessado pelos “indícios” e pelas “pistas” de que haveria uma afinidade teórica e metodológica entre escritores de diferentes regiões, o crítico italiano verifica o modo como se estabelece um complexo “regime de trocas literárias” entre o continente europeu e as ilhas britânicas, trocas essas que teriam contribuindo decisivamente para a formação da literatura inglesa. Essas trocas revelam que, embora produzidas socialmente, as ideias também viajam, como chama atenção Schwarz (2008a:137), de modo a colocar e recolocar em circulação um conjunto de conhecimentos e informações expressos em livros, jornais, revistas, entrevistas, conferências etc. No caso aqui tratado, as afinidades – temáticas, conceituais, metodológicas – ajudam a perceber o salto analítico dado pelos críticos a partir dos autores que os inspiram.

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as formas estéticas e os processos histórico-sociais e interessa ao projeto de

interpretação proposto pelos críticos.

Schwarz, por exemplo, confessa em seu Memorial, redigido em 1986,

para reclassificação no departamento de Teoria Literária da UNICAMP, e no

prefácio ao livro Um mestre na periferia do capitalismo, três principais linhas

de inspiração para seus trabalhos: (i) os pontos de vista sobre a experiência do

romance na literatura brasileira desenvolvidos por Antonio Candido; (ii) a

interpretação histórico-sociológica das formas praticada pela “tradição

contraditória”18 formada por Lukács, Adorno, Benjamin; e (iii) as explanações

históricas feitas por Auerbach a partir dos textos literários. Combinando essas

referências literárias às reflexões desenvolvidas pelos integrantes do “Seminário

de Marx”, Schwarz parte para análise – literária e social – da obra machadiana

(cf. Tresoldi, 2015).

A crítica argentina, por sua vez, salienta no prefácio de Modernidade

Periférica a importância crucial que os ensaios de Roland Barthes, Raymond

Willians e Walter Benjamin têm na construção de suas notas sobre literatura,

cultura e política (Sarlo, 2010) 19. A figura de Antonio Candido também é sempre

lembrada por ela como uma referência incontornável no estudo das mediações

na análise literária (Sarlo, 2009)20.

A despeito das marcantes diferenças entre si, o conjunto desses autores,

para Schwarz e Sarlo, propõem uma discussão refinada sobre o funcionamento e

a substância social das formas estéticas e culturais, fornecendo importantes

ferramentas teórico-metodológicas para o exame das obras de arte. Justamente

por isso, eles vão construindo interpretações críticas que combinam, de modo

contingente e avesso às fórmulas prontas, ferramentas oferecidas por esses

18 A expressão é do próprio Schwarz (2012d). O termo sugere, como lembra Ricupero (2013), que existem diferenças nas formulações dos autores que constituem essa tradição, e também indica uma dedicação ao “método dialético”. 19 Dada a importância do autor para seus trabalhos, Sarlo escreveu diversos ensaios sobre o autor, reunidos no livro Siete ensayos sobre Walter Benjamin. 20 Sarlo chama a atenção, em particular, para o ensaio de Candido “A passagem do dois ao três”, apontando-o como uma das contribuições mais relevantes para o estudo das obras literárias. A crítica argentina escreveu sobre ele na revista Punto de Vista em 1980. Para fazer a reportagem visitou o Brasil e entrevistou o crítico brasileiro. Na ocasião, participando das “Jornadas de Literatura Latino-Americana”, no Instituto de Estudos da Linguagem na UNICAMP, também conheceu Schwarz, de quem se tornou amiga.

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autores. Em outros termos, estabelecem, de modo dialético e criativo, um regime

de trocas com essa tradição crítica, trocas essas que desenham um projeto de

análise literária em íntima relação com a reflexão e crítica social.

Ao recorrer a ideia de “trocas literárias”, mais do que assinalar as

afinidades – temáticas, conceituais e metodológicas – que fazem parte da crítica

social feita por Schwarz e por Sarlo a partir dos autores que os inspiram, sugere-

se que é no interior dos diálogos que os críticos estabelecem com essa tradição

crítica, que eles constroem a originalidade de seus trabalhos: pensar os desafios

teóricos e empíricos criados pela experiência social e literária nas margens da

experiência europeia.

Trata-se de uma originalidade crítica pois Sarlo e Schwarz não aplicam

nenhum desses autores para pensar os problemas literários de seus respectivos

países, mas incorporam temas, problemas e conceitos formulados por eles no ato

crítico, de modo a problematizar as tensões e contradições entre a empiria local

e os modelos emprestados das formas europeias que marcam nossa vida cultural.

Em poucas palavras, a partir de um regime de trocas literárias, mas com

imaginação dialética, Schwarz e Sarlo constroem as bases de suas interpretações

sociais e culturais,21 enfrentando os desafios teóricos e os dilemas empíricos

criados pela modernidade e pelo capitalismo periférico.

Esse movimento é notável nos ensaios de Schwarz “Pressupostos salvo

engano da ‘dialética da malandragem’”, reunido no livro Que horas são? (2012c

[1987]) e “Adequação nacional e Originalidade Crítica”, presente em Sequências

Brasileiras (1999). Nesses ensaios, que estão em diálogo com os trabalhos de

seu professor Antonio Candido, respectivamente, “Dialética da Malandragem” e

“De cortiço a cortiço”, Schwarz destaca que a tarefa do crítico é construir o

processo social em teoria, por meio de uma análise dialética da forma literária,

uma vez que “antes de intuída e objetivada pelo romancista, a forma que o crítico

21 Nessas intepretações, a forma ensaísta é um componente essencial. Recuperando a ideia de “o ensaio como forma” proposta por Adorno (2003), Schwarz (2012b) argumenta que o ensaio é uma forma crítica de conhecer e falar sobre a realidade social. Para Sarlo (2016), vinculada à tradição ensaística argentina, o ensaio aparece tanto como forma de ataque como de defesa para se falar da sociedade, da história e da política.

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estuda foi produzida pelo processo social, mesmo que ninguém saiba dela”

(Schwarz, 2012c, p. 141).

Trata-se, em poucas palavras, de descobrir (isto é, pressentir e depois

demonstrar) na constelação de temas e problemas figurados nos romances e nos

textos literários, aqueles que são os mais significativos do processo histórico, ou

seja, a forma que contém as mediações (estéticas e sociais) a partir das quais é

possível sentir a totalidade da vida social. É uma postura que implica “espírito

crítico”, ou seja, exige a tomada de posição do próprio crítico das obras de arte

diante da teoria e da realidade social; postura que está na chave da tradição crítica

composta por Lukács, Adorno e Benjamin, para os quais o caráter histórico das

formas estéticas tem potencial heurístico de interpelar temas e problemas sociais.

Esses dois ensaios de Schwarz são os que mais sistematizam a

compreensão do crítico sobre as mediações entre literatura e sociedade, e

demostram que ele é herdeiro tanto das preocupações de Candido, quanto dos

temas e problemas formulados pela “tradição contraditória”. E essas notas críticas

constituem o chão teórico-metodológico a partir do qual ele analisa os romances

machadianos nas obras complementares Ao vencedor as batatas (2012a

[1977]), Um mestre na periferia do capitalismo (2012d [1990]) e Duas meninas

(1997b).

Nesses livros, Schwarz procura esclarecer o modo como Machado de

Assis, o maior romancista brasileiro, trabalhou com os ajustes e desajustes entre

a matéria local brasileira e o modelo do romance europeu, numa obra que permite

uma profunda visão do Brasil oitocentista. Mas os livros não tratam apenas da

força dos romances machadianos. São, também, interpretações a partir e por

meio da obra de Machado de Assis do nosso século XIX – com ecos ainda na

contemporaneidade.

Isso porque, para introduzir o estudo dos romances brasileiros, Schwarz

problematiza o que é “a matéria local”, ou seja, “um conjunto de relações

altamente problemático, originários da Colônia, solidamente engrenado,

incompatível com o padrão da nação moderna, ao mesmo tempo um resultado

consistente da evolução do mundo moderno, a que serve de espelho ora

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desconfortável, ora grotesco, ora utópico” (Schwarz, 1997a, p.8)22. Uma matéria

social que, no argumento do crítico, foi ordenada esteticamente nos romances

machadianos; mas que extrapola o plano da formação nacional e nos leva a

questionar a “modernização conservadora” durante a trajetória não democrática

do país e o processo de transição democrática ao longo do século XX – que até

hoje parece não ter se encerrado (cf. Bueno, 2008).

Ainda que Beatriz Sarlo tenha trabalhado principalmente com a crítica

literária, estudando importantes nomes da literatura argentina como Sarmiento,

Cortázar e Borges, a sociedade e o ponto de vista sociológico não deixam de

ocupar um lugar especial em seus ensaios. Não por acaso, escreveu três livros,

ao lado do sociólogo Carlos Altamirano, que problematizam as mediações entre

sociologia, literatura e sociedade: Literatura/sociedad (1983), Ensayos

Argentinos (1997 [1983]) e Conceptos de sociología literária (1990).

No conjunto desses livros, que são diferentes entre si, Sarlo e Altamirano

vão mapeando diferentes possibilidades de falar e investigar as relações entre

literatura e sociedade. Acionando autores como Lukács, Adorno, Benjamin,

Goldman, Willians, Barthes, os formalistas russos, entre outros, constroem léxicos

incontornáveis para o estudo dessas conexões, e sistematizam problemas

teóricos e metodológicos para a investigação do “caráter social do texto”, assim

como “o caráter cultural-simbólico do social por meio da literatura” (Saro, 2009).

Literatura/sociedad, por exemplo, expressa já em seu título a dívida intelectual

com Antonio Candido. No apêndice do livro é incluído um texto de Candido, como

um exemplo de “leituras sociológicas” que Sarlo e Altamirano procuram levar a

sérios em seus trabalhos de crítica literária.

Em poucas palavras, para Sarlo (2009), na tradição crítica que leu ao

longo de sua trajetória e a qual se filia, o tecido das perspectivas sociais é muito

difícil de ser desfeito no ato crítico. Por isso, a sociologia se torna uma importante

ferramenta para qualificar o processo social figurado pela arte, e aprofundar os

diálogos entre a produção de ideias, sua circulação e os processos sociais mais

22 Argumentos de “natureza sociológica” são usados aqui para explicar pequenos gestos literários que possuem capacidade generalizadora – uma vez que explicam a realidade social tematizada pelo romancista – e, com isso, tornam-se vias de acesso para se refletir sobre o processo social.

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amplos. Nessa linha, encontram-se os mais importantes trabalhos da crítica,

dentre os quais, três principais: Modernidade periférica (2010 [1988]), Jorge

Luis Borges, um escritor na periferia (2008 [1993]) e A paixão e a exceção

(2005 [2003]).

Esses três livros versam, cada qual a sua maneira, sobre uma figura

central: o nacional e cosmopolita Borges. Partindo de uma visão corrente de que

Borges pouco (ou nada) teria a ver com a história nacional, Sarlo busca

desconstruí-la, mostrando como o “supranacional” Borges se ocupou dos temas

nacionais; como se intrigou com o progresso vertiginoso e com a decadência de

bairros tradicionais de Buenos Aireis e formalizou aquela experiência em seus

contos, tematizando o arcaico e o moderno; enfim, como ele trabalhou, a partir da

tradição literária anterior de seu país, também com temas universais. Em poucas

palavras, é a partir dessa figura que a crítica explora os diversos sentidos que o

“periférico” assumiu e foi formalizado, avançando em sua compreensão sobre a

“modernidade periférica” e mostrando que, por meio de Borges, pode-se pensar

a Argentina, já que o escritor seria um “axioma” da vida intelectual argentina.

O conjunto de ensaios de Roberto Schwarz e de Beatriz Sarlo recuperado

aqui, que são momentos decisivos23 de suas produções intelectuais, dão indícios

de que, apesar de existir a crítica e a sociologia, ambas ganham quando são

combinadas como pontos de vista.

Os giros da modernidade e do capitalismo periférico a partir dos olhares

de Schwarz e de Sarlo

Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia (Leon Tolstói).

Talvez a aproximação mais instigante que se pode estabelecer entre

Schwarz e Sarlo é que ambos se dedicaram ao estudo sistemático de dois dos

maiores escritores latino-americanos, reconhecidos como clássicos da literatura

23 Tratam-se dos textos mais debatidos dos críticos, que inclusive contribuíram para a consagração de ambos no terreno da crítica literária e da história intelectual, no Brasil, na Argentina e na América Latina de modo geral.

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mundial. Enquanto Schwarz tem nos romances de Machado de Assis, produzidos

no final do século XIX no Brasil, seu objeto empírico de estudo, Sarlo se dedica à

análise dos contos de Jorge Luis Borges, escritos na primeira metade do século

XX na Argentina.

Os escritores, na leitura dos críticos, refletem, cada um à sua maneira, ao

seu tempo, em seu país e em sua língua, sobre os dilemas e as tensões entre os

esquemas importados e a empiria local e, nesse sentido, suas obras se tornam

lócus privilegiado para interpretação de suas respectivas sociedades. A

possibilidade de interpretar o país a partir de suas obras se deve ao fato de que

Machado e Borges, ao lerem a tradição literária anterior de seus países,

marcadamente nacionalista, cuja característica principal era figurar “a cor local”,

procuraram superar as armadilhas criadas por tais tradições, reivindicando a

“universalidade das matérias”, sem, contudo, deixar de “pensar o seu tempo e o

seu país”24.

O que significa, do ponto de vista estético, formalizar tanto a problemática

nacional quanto as múltiplas trocas do local com outras culturas e suas

assimilações (em que se pese especialmente a cultura ocidental, herança de

nossos processos de colonização). Em termos mais amplos, nossos escritores,

seguindo a leitura de Schwarz (2012d) e Sarlo (2008), tencionaram os dilemas

entre o local e o universal, o nacional e o cosmopolita e, por isso, seriam mestres

na “periferia” do capitalismo, nas margens da cultura ocidental.

A ideia de “periferia” aparece no título do segundo livro de Schwarz sobre

Machado de Assis: Um mestre na periferia do capitalismo (1990), e no principal

escrito de Sarlo sobre Borges: Jorge Luis Borges: um escritor na periferia

24A assertiva é de Machado de Assis ao discutir questões da literatura brasileira em “Notícias da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade” (1873). Neste ensaio, Machado (2008) observa que se deve exigir de um escritor, antes de tudo, certo sentimento íntimo, que o torne homem de seu tempo e de seu país, mesmo quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço. Borges em “El escritor argentino y la tradición” assume a mesma linha de Machado, afirmando que o escritor argentino não deve se ocupar apenas de assuntos locais, das “orillas”, mas de uma mescla dos assuntos locais com toda a cultura ocidental e, desse modo, pensar de modo mais complexo melhor seu país. Sobre a aproximação entre os dois escritores ver: Perrone-Moisés (2000).

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(1993),25 e tal ideia é o fio condutor a partir do qual os críticos investigam seus

objetos de estudo.

Nesse ponto, circunscreve-se a hipótese de que, na análise desenvolvida

por Schwarz e Sarlo, o termo “periferia” é, por um lado, um lugar social – que é a

um só tempo um espaço físico, político e cultural – a partir do qual o escritor

brasileiro e o argentino produziram suas obras e, por outro lado, assume uma

conotação para além do espaço, expressando-se, para os críticos, como um

desafio metodológico. Ou seja, em uma chave de leitura preliminar, sugere-se que

o termo periferia possui uma dupla dimensão na interpretação social e literária

que os críticos fazem das obras de Marchado e Borges: é tanto um espaço social

em que se desenvolveu uma forma sui generis do capitalismo, resultado de um

processo de colonização, como é um meio pelo qual se pode compreender e

interpretar a experiência moderna a partir e pelas margens.

Isso porque, na leitura de Schwarz, Machado produziu uma forma literária

para explicar as particularidades da experiência brasileira em nosso Oitocentos,

ou seja, um “dispositivo literário que capta e dramatiza a estrutura do país”

(Schwarz, 2012d, p.11), interpretando a sociedade em sua heterogeneidade,

dependência, desigualdade e especificidade diante do quadro geral traçado pelo

capitalismo - que combinava as lógicas do liberalismo com a escravidão e as

relações de favor. Nessa interpretação, nossa modernidade não alimenta ilusões,

“ela só lhe aumenta a miséria, pois, sem elogiar o atraso, desqualifica o progresso

de que aquele faz parte” (Schwarz, 2012d, p.185-186).

Em linha semelhante, Sarlo atenta para o fato de que Borges “se indagou

como ninguém sobre a forma da literatura numa das margens do Ocidente”,

fazendo das margens / da periferia uma estética (Sarlo, 2008, p.16). Assim, em

seu texto, se faz presente o conflituoso processo de pensar a tradição literária

25 O livro foi publicado primeiramente em inglês, em 1993, com o título Jorge Luis Borges: a writer on the edge. No mesmo ano foi vertido e revisto pela autora para a edição argentina, sob o título de Jorge Luis Borges: un escritor en las orillas. Na tradução do livro para o português foi utilizada a ideia de periferia para não perder o sentido atribuído pela autora - e também por Borges -, em que confluem não apenas o âmbito urbano, mas também o social, o político e o cultural. É curioso notar que o livro é resultado de conferências que Sarlo fez em universidades estrangeiras, indicando que um certo distanciamento do lugar no qual os contos de Borges foram produzidos levou a crítica argentina a perceber a originalidade do escritor para tratar dos problemas da sociedade argentina de meados do século XX.

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argentina, ao mesmo tempo em que se lê a literatura ocidental, o que o possibilita,

no argumento da crítica, tencionar as relações entre campo e cidade, arcaico e

moderno, nacional e estrangeiro e, a partir disso, compreender de modo mais

complexo as múltiplas experiências modernas vividas pela sociedade argentina

no início do século XX.

A partir dessas interpretações, Schwarz e Sarlo intervêm tanto nos

debates no interior da crítica literária de seus países, quanto no terreno da crítica

internacional. Em relação à crítica de seus países, procuram explicar a grandeza

do clássico nacional demostrando que a composição literária dos escritores se faz

por meio da formalização artística do conjunto da vida social. No que se refere a

crítica internacional, Schwarz e Sarlo criticam as leituras que “universalizaram os

autores”, mediante as quais a reputação internacional é estabelecida apenas pela

“qualidade estética” de suas obras. Isso porque, o sucesso internacional vem “de

mãos dadas com o desaparecimento da particularidade histórica”, de forma que

“o autor entra para o cânon, mas não o seu país, que continua no limbo” (Schwarz,

2012b, p.22).

Essas duas matrizes distintas de recepção crítica de Machado e Borges

– tanto de Sarlo e Schwarz quanto dos estudos praticados nas universidades

centrais – não se prendem só a questões estéticas, como sugere Schwarz

(2012b). As distinções também têm uma dimensão política na geografia do mundo

contemporâneo. Uma dessas dimensões é o que o crítico brasileiro chama de

“luta inconclusa” da ex-colônia por sua formação moderna, contra o

subdesenvolvimento, o atraso, a marginalidade, a exclusão, a desigualdade etc.

Ora, o que se coloca em questão é a problematização de que as obras

de arte também precisam ser compreendidas em seu contexto histórico, e que a

crítica de arte não é alheia à reflexão social, pelo contrário, é parte substantiva

dela e, por esse motivo, a presença de uma “cor local” nas obras de Machado e

Borges não é mera ornamentação estilística e deve ser estudada em seus efeitos,

sob pena de rebaixamento artístico.

Dito em poucas palavras, e em uma chave de leitura preliminar, para os

críticos, falar em “formas universais” (como são qualificados os textos de

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Machado e Borges nas universidades centrais), só faz sentido se essas formas

derem conta das matérias locais, retirar tais matérias de seu confinamento

histórico e mostrar a constelação social de problemas que elas formam.

Justamente nessa direção, a ideia de “periferia” passa a ser não apenas uma

“condição social”, mas também uma categoria analítica fundamental para

problematizar e interpretar o “chão social” no qual as obras foram pensadas.

Ao apostar nessa leitura de Machado de Assis e Jorge Luis Borges,

sugere-se que na interpretação tecida pelos críticos se valoriza a periferia como

um lugar indispensável (embora não exclusivo) para compreender o “movimento

da sociedade contemporânea”. Se o cientista social e crítico literário brasileiro

aposta na “viagem das ideias” e busca problematizar o descompasso entre as

ideias produzidas no centro do capitalismo com a empiria do processo social

periférico26; a crítica argentina vai na mesma direção, na medida em que se utiliza

da ideia de “modernidade periférica” como categoria analítica que permite

investigar as tensões e os conflitos inevitáveis entre as diferentes culturas e

sociedades.27

Assim como Machado e Borges não reduzem local e universal a

essências singulares, Schwarz e Sarlo pensam e problematizam teoricamente o

26A problematização da periferia como método de análise da realidade é cara ao pensamento

social tecido pela “escola sociológica paulista”, em particular, pela figura de Florestan Fernandes e pelo grupo de seus assistentes (dentre os quais, Fernando Henrique Cardoso, que foi colega de Schwarz no “Seminário de Marx”). A partir dos anos de 1960, o termo “periferia”, antes usado para se referir ao espaço social latino-americano, torna-se um desafio metodológico para pensar o sentido da emancipação às margens da experiência europeia. Utilizando esse aporte teórico-metodológico, segundo Bastos (2002), compreende-se os conflitos sociais em sua heterogeneidade, levando em conta a dinâmica arcaico-moderno e pobreza-riqueza, uma vez que “a partir da periferia percebe-se melhor o movimento da sociedade, possibilitando a verificação dos princípios que a estruturam” (Bastos, 2002:189, grifos da autora). Este ponto, retomado por Schwarz a partir de suas interpretações do país, bem como de sua leitura d’O Capital, na qual Marx aponta na mesma direção, será explorado com maior profundidade nos próximos passos de minha pesquisa. Como aproxima-se Schwarz e Sarlo, procurar-se-á também qualificar, de modo mais rigoroso, a maneira conforme a autora faz uso do termo. 27 A ideia de “modernidade periférica” surgiu após Sarlo acabar seu livro, em conversas com Carlos Altamirano. Essa ideia já estava desenvolvida, segundo a crítica, nos trabalhos de Schwarz, em particular no ensaio “As ideias fora do lugar”, que abre o livro Ao vencedor as batatas. Ainda que essa categoria não apareça em nenhuma das páginas do livro, ela arma o problema ao qual a crítica se dedica: compreender os processos de modernização pelos quais a Argentina passou no início do século XX, que combinavam intensa urbanização, alfabetização, crescimento da mídia etc., com contradições de fundo, que indicavam a “inadequação” das ideias importadas. A consequência foi a formação de uma “cultura de mescla”, ou seja, uma mistura de marcos culturais locais com ideias europeias (cf. Sarlo, 2010).

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moderno e a periferia, ambos articulados a partir e por meio de suas diferenças -

diferenças que desnudam as contradições do desenvolvimento moderno e

capitalista. Pensando a periferia nestes termos, além de reconhecer que o lugar

de onde se fala não é neutro, visa-se demostrar que “a análise da parte pode

iluminar, de ângulo inusitado, a natureza e a evolução do todo, a crítica da parte

pode vir a ser a crítica do todo, vale dizer, da cultura, do capitalismo e da política

mundiais” (Brandão, 2010, p.142, grifos meus).

Perquirindo as consequências dos efeitos diversos que as ideias centrais

podem assumir em diferentes contextos, as formulações do crítico brasileiro e da

crítica argentina, seguindo as pistas de Maia (2009) podem oferecer ferramentas

teóricas e metodológicas para interpelar o debate contemporâneo sobre a

polarização do conhecimento entre países centrais, “produtores de teoria”, e

periféricos, produtores de “pensamento social”, ou aclimatadores das produções

do centro (cf. Lynch, 2013). Se a divisão internacional do trabalho intelectual,

como lembra Botelho (2013), parecia nos renegar ao papel de reprodutores

acríticos das teorias centrais, as interpretações críticas tecidas por Schwarz e por

Sarlo são exemplos de que se pode sim teorizar no Brasil e na Argentina, na

periferia do sistema econômico, cultural e intelectual.28

Em poucas palavras, sugere-se que a partir dos pontos de vista de

Schwarz e de Sarlo, temos pistas e indícios de como problematizar as dinâmicas

mais gerais do capitalismo global visto a partir das margens. Assim, a figura

programática de Machado de Assis e também de Jorge Luis Borges, de serem

homens do seu tempo e do seu país – cujas formulações tratam questões de

ordem mundial, mesmo quando não as trata diretamente, – é reafirmada por

Roberto Schwarz e por Beatriz Sarlo por meio da figura de um intelectual crítico

no espaço público, revelando a atualidade teórica e metodológica que os estudos

latino-americanos podem ter para a teoria social contemporânea.

28Nessa linha, João Maia (2009) aponta que os estudos desenvolvidos pelo pensamento brasileiro – e acrescente-se o latino-americano – podem ser articulados aos estudos contemporâneos de crítica ao eurocentrismo, dado nossa imaginação teórica sobre problemas “pós-coloniais” e, por isso, trabalhos como os de Schwarz (e também o de Sarlo) seriam incontornáveis, uma vez que apontam para a importância da empiria colonial associada à problemática da modernidade, isto é, pensam “o moderno e o global de forma descentrada, sem reduzir a periferia a simples receptáculo do centro” (Maia, 2009, p.193).

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