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4.2.3 “O POVO ESTÁ NA PERIFERIA”: COMUNIDADE POPULAR CHICO MENDES (MCP) A nossa Comunidade Popular Chico Mendes encontra-se na comunidade 286 com o mesmo nome: Chico Mendes, que fica na Pavuna. Quem não ouviu falar ainda, talvez a conheça pelo nome “Chapadão”, o nome que é usado na mídia. A nossa comunidade popular hoje é composta por um espaço comunitário que encontra-se no alto do morro e serve para a realização de uma diversidade de atividades da nossa comunidade popular. Nós fazemos parte do Movimento das Comunidades Populares (MCP) que atua a nível nacional, atualmente com trabalhos em dez estados brasileiros (Alagoas, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Góias, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul). Como as outras comunidades populares, desenvolvemos os nossos trabalhos aqui no Rio seguindo as orientações do movimento. Estas são elaboradas por todo o movimento através de encontros regionais e nacionais onde colocamos em prática o nosso princípio da democracia participativa. As Comunidades Populares são construídas considerando as necessidades do povo, que correspondem a dez colunas nas quais desenvolvemos trabalhos nas comunidades populares: Sobrevivência econômica, Religião libertadora, Família, Saúde, Moradia, Escola, Esporte, Arte, Lazer e Infraestrutura 287 (Figura 9, p. 338). Cada comunidade popular procura, no decorrer do tempo e conforme seja possível, desenvolver trabalhos no maior número possível de colunas, seguindo as orientações do nosso Plano Nacional de Lutas e Atividades (PNLA). Este plano foi elaborado através de consultas das bases do movimento discutindo quatro perguntas básicas: Quais são nossos problemas? Por que existem estes problemas? O que já fizemos para resolver? O que vamos fazer? A partir desta consulta foram formuladas as orientações para cada coluna. Para avaliar o trabalho na comunidade popular, para saber como estamos conseguindo 286 Neste texto quando falamos “comunidade” estamos falando da favela “Chico Mendes” como um todo. Aqui as pessoas usam pouco o termo favela e usamos mais “comunidade”. Quando falamos do nosso trabalho concreto aqui na comunidade, falamos de “comunidade popular”. 287 Estas dez colunas são organizadas por quatro setores, como visualizado pela figura no final do texto. 326

4.2.3 “O POVO ESTÁ NA PERIFERIA”: COMUNIDADE … · nosso trabalho concreto aqui na comunidade, falamos de “comunidade popular”. 287 Estas dez colunas são organizadas por

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Page 1: 4.2.3 “O POVO ESTÁ NA PERIFERIA”: COMUNIDADE … · nosso trabalho concreto aqui na comunidade, falamos de “comunidade popular”. 287 Estas dez colunas são organizadas por

4.2.3 “O POVO ESTÁ NA PERIFERIA”: COMUNIDADE POPULAR CHICO

MENDES (MCP)

A nossa Comunidade Popular Chico Mendes encontra-se na comunidade286 com o

mesmo nome: Chico Mendes, que fica na Pavuna. Quem não ouviu falar ainda,

talvez a conheça pelo nome “Chapadão”, o nome que é usado na mídia. A nossa

comunidade popular hoje é composta por um espaço comunitário que encontra-se

no alto do morro e serve para a realização de uma diversidade de atividades da

nossa comunidade popular. Nós fazemos parte do Movimento das Comunidades

Populares (MCP) que atua a nível nacional, atualmente com trabalhos em dez

estados brasileiros (Alagoas, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Góias, Rio de

Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul). Como as outras

comunidades populares, desenvolvemos os nossos trabalhos aqui no Rio seguindo

as orientações do movimento. Estas são elaboradas por todo o movimento através

de encontros regionais e nacionais onde colocamos em prática o nosso princípio da

democracia participativa. As Comunidades Populares são construídas considerando

as necessidades do povo, que correspondem a dez colunas nas quais

desenvolvemos trabalhos nas comunidades populares: Sobrevivência econômica,

Religião libertadora, Família, Saúde, Moradia, Escola, Esporte, Arte, Lazer e

Infraestrutura287 (Figura 9, p. 338).

Cada comunidade popular procura, no decorrer do tempo e conforme seja possível,

desenvolver trabalhos no maior número possível de colunas, seguindo as

orientações do nosso Plano Nacional de Lutas e Atividades (PNLA). Este plano foi

elaborado através de consultas das bases do movimento discutindo quatro

perguntas básicas:

Quais são nossos problemas?Por que existem estes problemas?O que já fizemos para resolver?O que vamos fazer?

A partir desta consulta foram formuladas as orientações para cada coluna. Para

avaliar o trabalho na comunidade popular, para saber como estamos conseguindo

286 Neste texto quando falamos “comunidade” estamos falando da favela “Chico Mendes” como umtodo. Aqui as pessoas usam pouco o termo favela e usamos mais “comunidade”. Quando falamos donosso trabalho concreto aqui na comunidade, falamos de “comunidade popular”.287 Estas dez colunas são organizadas por quatro setores, como visualizado pela figura no final dotexto.

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ECONOMIA FAMÍLIARComunidades rurais/urbanas

ECONOMIA COLETIVAGrupos de Investimento Coletivo (GIC) Grupos de Produção Coletiva (GPC)Grupos de Compra e Venda Coletiva (GVC)Grupos de Trabalho Coletivo (GTC)

ECONOMIA COMUNITÁRIAIndígena, Quilombola, Camponesa, Operário-Popular

SAUDE COMUNITÁRIA E PÚBLICA

ESCOLA COMUNITÁRIA E PÚBLICA

FAMILIA COMUNITÁRIA

RELIGIÃO LIBERTADORA

ESPORTE

ARTE

LAZER

MORADIA

SANEAMENTO

INFRAESTRUTURA

AS DEZ COLUNAS DO MOVIMENTOOS 4 SETORES

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Figura 9: MOVIMENTO DAS COMUNIDADES POPULARES (MCP)Os 4 setores e as 10 colunas das Comunidades Populares

Observações: Um quinto setor é o Setor Sindical. Importante também a Frente Popular, através da qual é feita o trabalho de articulação e colaboração com outros grupos e movimentos sociais. Elaborado à base do Plano Naciona de Lutas e Atividades (PNLA) do Movimento das Comunidades Populares (MCP) de 2012.

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colocar em prática o PNLA e para decidir sobre próximos passos, periodicamente

discutimos outras três perguntas:

Quais destas orientações [do plano] estamos colocando em prática?O que precisa melhorar?Como criar o que ainda não temos em nossa comunidade?

Neste texto queremos refletir o nosso trabalho e compartilhar as nossas

experiências aqui na Comunidade Popular Chico Mendes. Para entender como e por

que iniciamos o trabalho aqui, é necessário contar um pouco mais da história do

MCP288. Este somente tem este nome à partir de 2011, mas os nossos militantes

mais experientes já estão juntos na luta há mais de quatro décadas. Nesse percurso,

o movimento reorganizou-se algumas vezes, buscando adaptar as estratégias às

realidades nas quais os militantes estavam inseridos. Esse processo bem se

expressa nas mudanças do nome do movimento.

“Por que cada passo desse era uma história,...”.

Foi ainda no final da década de 1960 que, ainda bem jovens e como parte da

Juventude Agrária Católica (JAC), realizamos um seminário na Bahia onde

decidimos constituir um movimento com uma proposta anticapitalista e formamos o

Movimento de Evangelização Rural (MER). No MER lutamos durante mais de uma

década e meia, boa parte sob a ditadura militar para construir uma proposta de

democracia participativa para fortalecer o nosso povo na base. Em 1986 realizamos

uma Atividade Nacional e com uma nova bandeira de luta, contra o pagamento da

dívida externa, passamos a chamar o nosso movimento de Corrente dos

Trabalhadores Independentes (CTI). Nós nos organizamos em comissões nas

fábricas. A gente fazia boletins para falar dos problemas dos trabalhadores.

Tínhamos que fazer o trabalho de forma clandestina por causa da forte repressão,

mas mesmo assim, aqui no Rio de Janeiro, conseguimos formar 12 comissões em

diferentes fábricas.

Com as mudanças do processo da chamada “redemocratização”, vimos que mesmo

com as lutas ganhando força, a organização nas bases estava enfraquecida. A partir

da década de 1990, a luta nas fábricas estava tornando-se cada vez mais difícil, com

288 Nesta parte utilizamos como uma referência o projeto de pesquisa da historiadora MarianaAffonso Pena (UFF), cujo trabalho “À procura da comunidade perdida”: Histórias e Memórias doMovimento das Comunidades Populares (1969 – 2011)” encontra-se me fase de conclusão.

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os sindicatos se burocratizando, perdemos cada vez mais espaço nas bases nos

nossos lugares de trabalho. Com o aumento do desemprego, também vimos que o

povo estava cada vez mais fora das fábricas e começamos a projetar mais o

movimento em si através do trabalho nas comissões, menos pela atuação nas

entidades. Em 1990 mais uma vez avaliamos e reestruturamo-nos para continuar a

luta como Movimento das Comissões de Luta (MCL) a partir de 1990. Os nossos

princípios mais importantes que já vínhamos desenvolvendo e que temos até hoje,

vêm dessa época: a independência política, a inserção de forma democrática em

meio às massas e a autonomia (política e econômica).

“[O] conceito de autonomia,… Não é só o fato de ser independente, mas é andar comas próprias pernas, criar (…) sua forma como conduzir, né, pensar com a própriacabeça sem, necessariamente, ficar atrelado a orientações de fora.”

As comissões que organizamos a partir daí eram em torno dos problemas mais

sentidos pelo povo. Podemos dizer que as comissões de então viraram hoje as dez

colunas. Uma discussão intensa sobre a necessidade de irmos para as periferias já

tinha começado antes:

“Já começou em '86 essa discussão”

“[E] em '90 (…), '91, '92, houve uma discussão no movimento – que atuava nasfábricas, né – e aí quando muda de CTI para MCL é feita essa discussão, de atuar nosbairros, nas periferias, que é onde o povo está.”

“Por que, na verdade, a nossa preocupação sempre era, a gente tem que [estar] ondeo povo [está]. Com as fábricas cheias tínhamos que estar nas fábricas... hoje [a]conjuntura mudou, e buscamos resgatar o que tinha de bom em cada fase. Hoje, amassa não está na fábrica.”

“Mas aí foi quando começou a discussão da gente passar para a periferia. Largar ossindicatos, (…) por que não tava tendo esse resultado esperado que a gente [queria],e em questão dessa análise que a gente fez e achou que a gente deveria sair dessasituação dos sindicatos, deixar de projetar o sindicato e fazer um trabalho em periferia,projetando o movimento, (...) a independência, a autonomia, todos aqueles itens quetem no movimento. (…) foi quando eu vim para cá.”

“Se o povo está na periferia, é onde a gente tem que ir.”

Em nenhum momento nessa construção do movimento trabalhamos numa

perspectiva de formar base do PT e fomos acusados de “atrasados” por não

participar do que tinha de “mais novo” no Brasil.

“Muita pauleira que nós sofremos (…) nossa!”

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Mas seguimos o nosso caminho. Gelson foi o primeiro que veio para cá em 1994. Já

estava morando no Rio, mas somente veio para a comunidade neste ano. A escolha

do morro para iniciar uma Comunidade Popular não foi aleatória.

“Você ir realmente onde há a ausência do poder público (...) era procurar as periferias,as favelas mais distantes (…) desse poder público, E aqui, [no] caso desse morro aqui,ainda tinha a questão que estava fora completamente do foco do..., tinha as favelasfamosas, como tem até hoje, (…) ... hoje mudou um pouco [com a] violência [asfavelas aqui chamam mais atenção]... mas não tem ONG, projetos, igual em lugarescomo a Maré, aqui fora desse foco da imprensa, longe da Zona Sul, …”

A proposta da Comunidade Popular é de ser construída pelo povo, pelas pessoas

que se aproximam, começam uma ou outra atividade e que depois decidem fazer

parte de forma mais regular. E essas pessoas trazem suas experiências de vida e

luta para o movimento.

“Trabalhar a questão da periferia, no sentido [de] que a libertação, o crescimento doprocesso da consciência do povo de periferia já tem que nascer de lá. Tem que vim delá. Tem que sair de dentro para fora. Ao contrário de muitos que acham que a periferiaé carente, que vem de fora, que tem que ajudar, mas não se preocupem em resgatar oque já existe. Existe muita coisa boa.”

Janduí foi a segunda militante que veio para cá. Ela veio de São Paulo onde já

estava envolvida em trabalho de base comunitária.

“Onde eu morava, em São Paulo, [no conjunto habitacional Águia de Itaia] (...) nãotinha asfalto, ganhamos as casas (…) [mas] não tinha asfalto, não tinha infraestrutura.Aí, a gente foi lutar, formamos uma comissão a partir do problema. Fomos fazer todauma luta e conseguimos asfaltar todo o conjunto.”

Quando conquistava o objetivo pelo qual a comissão tinha sido criada, viam-se quais

outros problemas a enfrentar na comunidade. Nem todo mundo ficava na comissão

depois de uma conquista, às vezes faltava formação política para as pessoas

continuarem. Mas aí, Janduí, em 1997, saiu de São Paulo e veio para o Rio:

“Vim pro Rio, conheci aqui o morro, gostei”.

Porém, a decisão do nosso movimento de ir para as periferias para muitas

companheiras e companheiros não foi fácil de acompanhar. E nas nossas famílias

nem todos aceitaram a decisão.

“Para mim, assim, primeiro a minha família reagiu (...) Meus irmãos, então quando eufalei que a gente tinha uma discussão no movimento que era que a gente tinha quemorar onde o povo mora e ir para a favela. Então eles: 'que loucura é essa!' Então,toda a reação dos meus irmãos (…), da minha família. Eu falei: 'Não, não é loucura

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não. A gente tem que ir sentir o que o povo está sentindo lá na periferia. Fazer otrabalho de longe, de ir e voltar, não é a mesma coisa de estar ali (…) para mim, euachava, que – eu me identifiquei (...) eu não tinha uma pensamento assim o que queeu ia encontrar lá, entendeu, eu fui e me identifiquei com o povo. Por que eu acho quena verdade eu já era, sempre fui povo. Eu fui morar numa favela la em São Paulo,Lamartine, uma favelinha lá em Santo André e aí fiquei em contato com o presidente –tinha uma associação de moradores, então já fizemos São João na rua assim que eucheguei lá, então, já fui, começamos uma escola, a [minha filha] já tinha nascido (...)então foi uma facilidade grande, então não tive problema assim. E hoje eu acho que foia questão mais acertada, essa discussão no movimento, por que é muito complicadofazer o trabalho de fora.”

“A opção era morar onde o povo mora (…) morando junto” … “Fazer o trabalho político” “A opção era para morar na favela, então isso era um choque...”

“Essa decisão (...) aconteceram coisas forte no nosso movimento. Primeiro, osmilitantes em relação às famílias, houve muita separação do militante da família, nomeu caso a minha família não aderiu (…) não toparam. Aí, e sem falar que dentro dopróprio movimento aconteceu um racha enorme. Tipo, um terço dos militantes domovimento caíram fora, em função disso.”

Mas a gente que, à época, foi para a periferia e até hoje com certeza não se

arrepende. Vivemos aqui em “meio ao povo, igual o peixe em meio à água”, como

diz um lema do nosso movimento que significa que fora da água não sobrevivemos,

e estamos bem com essa decisão. Mesmo originalmente não vindo de cidade

grande e sim do campo no nordeste, aliás, como muita gente aqui do morro, nos

identificamos com a vida aqui na comunidade.

“Eu na verdade (...) sempre fui pobre, assim como ela, passamos por uma vida muitosofrida. Então, ao chegar-se na periferia a gente se achou, por que aqui é o nossojeito.”

Assim, como aqui, a maioria das Comunidades Populares hoje situa-se em periferias

urbanas, mas também tem comunidades em áreas rurais. A proposta da comunidade

popular funciona tanto na cidade quanto no campo, por que quem decide como fazer

as coisas é a própria comunidade conforme as necessidades em cada local. E tanto

no campo quanto na cidade estas necessidades do povo são muitas. A proposta de

participar em uma comunidade popular é aberta a todos os moradores de uma área

onde a construímos. Com mais de quinze anos de experiência nos trabalhos de

base no MCL e depois de consultas com as bases, em 2011 reafirmamos a nossa

estratégia e iniciamos a quinta etapa do movimento. Foi aí que passamos a atuar

enquanto Movimento das Comunidades Populares (MCP).

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Mas voltamos para a nossa história aqui na Chico Mendes. O trabalho que o Gelson

começou aqui no morro em 1994 foi com o futebol, já tinha um campo aqui, aí foi

possível começar logo com os treinos. No início os pais estranhavam, por que um

homem que veio sozinho para morar na comunidade estaria interessado em fazer

algo para os jovens?

“Foi complicado (...). Não foi fácil, mas, como o esporte é uma coisa muito [popular],(...) foi possível. Isso em '94, final de '93”

Mas, conversando com o presidente da associação e criando laços com os jovens,

essa desconfiança inicial foi superada rapidamente e muitos jovens participaram dos

treinos e formaram os times. As decisões eram tomadas juntas e o time que

chamamos “Tiradentes” organizou-se para jogar contra times em outras favelas.

Acabamos assumindo durante um tempo toda a organização esportiva do morro.

As reuniões do time eram feitas na frente da casa do Gelson e o futebol continuou

durante muito tempo, só em 2008 que perdeu fôlego. Uma questão que contribuiu

para pararmos com o futebol foi que o movimento, a nível nacional, por causa dos

muitos problemas causados pelo álcool nas nossas famílias, decidiu iniciar uma

campanha contra a bebida alcoólica e passamos a realizar todas as nossas

atividades sem o uso de bebida alcoólica. Como a cerveja depois dos jogos era algo

comum e tinha jogadores que discordaram de abrir mão desse hábito de beber

depois do futebol, foi mais uma razão para focar em outros trabalhos.

Pessoalmente, Gelson quando chegou tinha certa facilidade de se integrar à

comunidade e conhecer as pessoas.

“ (…) eu tinha uma coisa muito forte a meu favor, (…) eu consertava geladeira, ar-condicionado, coisas do povo. Aí, fiz muita amizade com esse trabalho paralelo aí.”

E as amizades e boas relações certamente foram muito importantes para que,

nesses mais de vinte anos que estamos construindo essa Comunidade Popular,

pudéssemos avançar pouco a pouco com a nossa proposta e mais pessoas foram

integrando o movimento.

“É o trabalhinho de formiguinha. É isso que a gente faz.”

Não podemos ter pressa, mas temos determinação.

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“[Queremos] mudar a realidade (…) fazendo.”

A participação aqui é aberta para qualquer morador da favela que tem interesse em

participar. Como trabalhamos a partir das nossas necessidades concretas, não

fazemos assim um trabalho de propaganda. Falamos do nosso trabalho para as

pessoas pelo que fazemos.

“Socialismo a partir da prática (…) ninguém é chamado a vir participar da comunidade,você participa porque tá nela, mora, tá na vivência do mesmo problema, entendeu, evocê vai se engajando (…) e aí se você acha que (…) é com isso que você seidentifica, você vai se tornando o movimento. Agora se você acha que não, também[para de participar sem problema], (...) ninguém tem que dar satisfação a ninguém.”

Assumimos o espaço onde construímos a nossa casa da comunidade popular em

2000. Já morávamos aqui bem perto e viramos amigos com a família que morava

aqui onde hoje é a nossa base. Por uma série de questões envolvendo o aumento

da violência aqui na favela, a família decidiu sair daqui. Quando saíram, eles

pediram para que a gente cuidasse da casa. Depois quando decidiram não voltar

ofereceram pra gente comprar por R$ 6.000,00 para adquirir o terreno com a casa

que estava inacabada. Compramos o terreno com o apoio da Associação Nacional

de Apoio às Comunidades Populares (ANACOP), gerida pelo MCP. E ainda

levantamos 1.000,00 por conta própria. Fizemos muita feijoada na época... A

ANACOP recebe um apoio de solidariedade internacional da Europa289. Esse recurso

hoje é usado para possibilitar encontros a nível nacional ou outras tarefas de

articulação. As comunidades em si têm que se autossustentar. A autonomia

financeira é um princípio muito importante, assim a construção da nossa casa da

comunidade ficou por conta da nossa própria comunidade. Com mutirões e dinheiro

de campanhas aqui na comunidade conseguimos construir a casa. Fizemos muita

feijoada naquela época... Hoje temos um espaço com dois andares e duas salas

grandes além de outras salas menores e uma cozinha.

“(...) não existe poder popular só com uma camada social, [uma faixa etária]. Você temque trabalhar com crianças, com jovens, o povo, né.”

Aqui no espaço funciona uma escolinha com três horas de reforço escolar para

crianças e adolescentes todo dia à tarde. As pessoas identificam a escolinha com a

Janduí, assim aqui no morro a escolinha é conhecida como “Escola da Janduí”, até a

289 Há informação, em francês, sobre este apoio solidário da Action Solidaire Tiers Monde nainternet: <http://astm.lu/projets-de-solidarite/amerique-du-sud-2/anacop/>.

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rua é chamada assim, “Rua da Janduí”. Começamos a escolhinha pouco depois de

formar o time de futebol, em 1997. A novidade para os moradores era que

começamos a cobrar uma pequena taxa pela escolinha. Mas as pessoas valorizam

pelo que pagam e essa taxa desde então garantiu a autonomia financeira e a

continuidade do trabalho. Começamos com três alunos. Os bancos de madeira que

construímos na época estão aqui no espaço até hoje.

Foto 1: Gelson e Janduí no espaço comunitário da Comunidade Popular ChicoMendes em entrevista em 2012. Na frente o banquinho de madeira construído noinício da atividade de escolinha. Foto: Timo Bartholl

Como a luz aqui no morro era muito instável, muitas vezes os alunos estudavam à

luz de vela. Além do reforço escolar, fazemos aqui encontros comunitários, todo

último domingo por mês tem um almoço coletivo do qual participam crianças, jovens

e idosos igualmente. Sempre discutimos algum tema nestes almoços. Também tem

uma salinha onde funciona o Grupo de Investimento Coletivo (GIC), uma forma

coletiva de poupar dinheiro, que também pode ser emprestado para fazer um

investimento pelos participantes. Este GIC funciona desde 2003 e hoje em dia um

bom número de moradores fazem parte.

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“A nossa estratégia é criar o poder popular. Então, de que forma que a gente acha queestá criando poder popular? A gente está criando poder popular à medida que a genteestá administrando um banco popular aqui, então, o GIC é uma das coisas que mostraque a gente é capaz de administrar, então, a gente faz divisão de tarefas (...) – e comhonestidade e sem corrupção – porque isso é a primeira coisa que a gente tem quecombater entre nós é a questão do dinheiro, é a questão da corrupção. O capitalismocorrompe todo mundo.”

Aqui no espaço ainda tem um mercadinho, gerido por um Grupo de Vendas

Coletivas (GVC). Fazemos as compras a atacado fora da favela e revendemos os

produtos no mercadinho. O dinheiro que entra é pago aos integrantes do coletivo

pela hora trabalhada, todos recebendo o mesmo valor. Começamos o mercadinho

com nada mais de R$ 170,00 investidos por seis pessoas e depois devolvidos a

elas.

Onde há cooperação, não há exploração.

Foto 2: Júnior e Lúcia do mercadinho apresentam o trabalho deste Grupo deVendas Coletivas no encontro da Rede Economias Coletiva em 2013. Foto: AdenildoDaniel

Hoje, o mercadinho tira dois salários mínimos por mês e, como outros dos nossos

grupos econômicos, oferece uma renda regular para os integrantes do coletivo. Uma

dificuldade no mercadinho é que não temos um transporte próprio. Aí temos que

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fazer as compras pagando frete para uma kombi trazer, já que táxis não sobem o

morro aqui.

Em frente à casa da Comunidade Popular tem outro espaço nosso onde funciona

uma creche comunitária. As educadoras são muito dedicadas, têm muito trabalho.

As primeiras crianças chegam às 5h20 da manhã e as últimas vão embora às 19h30

da noite. Como o espaço é pequeno e por muito tempo funcionou sem ar-

condicionado, no verão era difícil aguentar o calor. Como aqui muitas crianças

somente têm mãe ou os dois pais têm que trabalhar, esta creche é muito importante

para as famílias. As mulheres que trabalham na creche identificam-se com o

trabalho, não só trabalham pelo dinheiro, que é pouco por que os pais não podem

pagar muito, mas também por que sabem que a creche, além de ser o lugar onde

seus filhos podem ficar, é um bem da comunidade. Atrás da escolinha funcionou

durante um tempo um conserto de máquinas de lavar e oferecíamos cursos

profissionalizantes de hidráulica e de conserto de máquinas. Hoje não tem muita

procura entre os moradores, assim este trabalho parou. Em termos do trabalho

coletivo tivemos mais uma conquista recentemente: conseguimos um novo espaço

para abrir uma loja de material de construção, também autogerido por moradores

que participam da comunidade popular.

Boa parte dos moradores aqui do morro vieram diretamente ou são descendentes de

nordestinos, alguns poucos são de Minas Gerais também. A maioria que tem

trabalho, trabalha na construção civil, na área de serviços como restaurante,

lanchonete, empregadas domésticas. Conforme alguém vai participando com

regularidade de nossas atividades aos poucos pode assumir mais responsabilidade

e consequentemente fazer parte de algum dos grupos. Tem também um Grupo de

Produtos de Limpeza, um Grupo de Produção Coletiva (GPC), que recebe e recolhe

óleo de cozinha usado e com ele faz produtos de limpeza. Também, quando

recebem muito óleo o vendem para uma empresa que compra este óleo para fazer

biodiesel. Quem entrega óleo recebe em troca os produtos de limpeza produzidos

pelo grupo. Uma igreja aqui no local ofereceu o uso de um terreno bem perto para

poder fazer um galpão, mas ainda falta verba ( ficou faltando complemento, imaginei

que fosse essa a palavra) para conseguir construir o telhado. Mas, já usamos o

terreno para guardar o óleo usado. Assim, estamos dando pequenos passos há mais

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de vinte anos, construindo o poder popular aqui na comunidade. Os diferentes

trabalhos todos correspondem a uma das dez colunas e sempre que possível

tentamos ampliar o trabalho, sempre com cautela e sem sobrecarregar ninguém. Um

trabalho para ter continuidade e para ser bom para as pessoas tem que ser

desenvolvido com calma.

O nosso trabalho mesmo não sofre nenhuma intervenção por lado de algum grupo

que controla as áreas aqui, por que trabalhamos com as crianças de muitas famílias,

então todos aqui no morro entendem a importância do trabalho e confiam na gente.

Mas uma realidade muito dura é a convivência com a violência. A polícia quando

sobe aqui é um perigo para a vida de todas e todos. Não são poucos os meninos

que em algum momento acabam se envolvendo com o tráfico, somente alguns

poucos conseguem sair depois, se 'salvam' entrando para a igreja. Fizemos um

levantamento desde que chegamos aqui iniciando o trabalho do futebol. De todas as

crianças que já participaram de algum dos nossos trabalhos, muitas já morreram.

Todos meninos! É muito duro e muito triste ter que viver com isso.

E mesmo que enfrentemos tamanha injustiça e vemos como muitas coisas não

melhoram ou até pioram, temos que ter a paciência para ver a transformação que

precisa e fazer a nossa pequena parte No pequeno, fazemos o possível, mas

sabemos o limite do nosso alcance, afinal, as mudanças têm que vir pela luta do

povo, por isso o nosso lugar somente pode estar em meio ao povo.

“A hora de avançar e recuar o próprio povo que vai dizer.”

O povo nas periferias que sofre a opressão, ele mesmo está buscando seu caminho

para se livrar dela. Os opressores, como sabem bem disso, fazem tudo que possível

para reprimir as pessoas para que elas não se emancipem. Precisamos estar junto

ao povo, para aprender e para lutar junto.

Antes de ensinar o povo, devemos aprender com ele.

Esse lema é importante para todas as comunidades populares do MCP e o

entendemos como tarefa diária do nosso trabalho.

“A importância do povo é se dar conta do que é o poder popular, então essa é a nossapreocupação. É o poder popular nas favelas e na periferia (...)”

337

Page 13: 4.2.3 “O POVO ESTÁ NA PERIFERIA”: COMUNIDADE … · nosso trabalho concreto aqui na comunidade, falamos de “comunidade popular”. 287 Estas dez colunas são organizadas por

Temos algumas datas que são importantes para a gente e onde todo ano fazemos

atividades. Dia 19 abril, fazemos uma atividade de homenagem à luta indígena, no

1° de maio à luta dos trabalhadores urbanos. Uma grande festa acontece em junho

ou julho com o arraiá da comunidade, que é realizada há mais de vinte anos. Muita

gente participa, tem apresentações culturais, dos grupos dos jovens, tem quadrilha e

tem um bingo para todo mundo. Para a festa sempre vêm também companheiras e

companheiros de outros grupos e movimentos e é um momento de muita alegria

junto às famílias e aos amigos. Com essa festa comemoramos o dia 23/6, dia da luta

camponesa. Já no dia 20 de novembro, outra data muito importante, articulamos

uma atividade em homenagem à resistência negra.

A cultura em geral é importante para o nosso movimento. Temos uma diversidade de

músicas que cantamos nos nossos encontros. O hino do MCP expressa bem os

nossos objetivos:

338

Figura 10 - Foto 3:

Arraiá 2015 na Comunidade Popular Chico Mendes

Foto: Alexandre Samis

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A luta é a nossa vidaLiberdade pra nossa naçãoAcabar com a fome e misériaEm cada mesa não faltar o pãoTrabalho para os desempregadosSaúde, Escola, HabitaçãoTerra para poder plantarMata a fome da população

Liberdade, liberdade, ainda que tarde

Nossa tarefa é organizar o povoConstruir o Poder PopularesEconomia deve ser coletivamenteDemocracia é participar

Consciência deve ser comunitáriaSó assim ninguém vai nos enganarUnidade e trabalho de baseLeva o povo a conseguir se libertar

Liberdade, liberdade, ainda que tarde

Governar de baixo para cimaÉ o que nós devemos aprenderNa Associação, Movimento e SindicatoO povo diz o que nós vamos fazermosCom união, transparência e honestidadeO sistema nós vamos combaterNosso exemplo vala mais que palavraSó assim o povo vai vencer

Liberdade, liberdade, ainda que tarde

Pra gente, vamos pra frenteTrabalhadores fazendo sua históriasÍndios, negros, camponeses, operáriosTodos vão conquistar a sua glóriaA Juventude Popular e as criançasVão gravar conscientes na memóriaCom a experiência da mulher e do idosoA gente vai conquistar muitas vitórias

Liberdade, liberdade, ainda que tarde

O trabalho cultural com adolescentes nos últimos anos, no entanto diminuiu. Em

geral tem ficado cada vez mais difícil envolver os adolescentes nas atividades. As

redes sociais, horas em frente ao computador ou no celular, temos que descobrir

como melhor dialogar com esses jovens. Em geral vemos que os movimentos

sociais têm uma crise com as gerações da juventude.

No nosso movimento a fé e a religião libertadora são importantes, mas não

concordamos muito com a prática da maioria das igrejas, como atuam. Elas podem

ajudar as pessoas para se livrar do alcoolismo e outros vícios, para ganhar alguma

estabilidade quando estão muito fragilizadas, mas o que questionamos é que a

maioria das igrejas contribui com a divisão da comunidade. O trabalho é somente

para dentro e não há preocupação com a comunidade como um todo.

Muito importante para o nosso trabalho também são pesquisa e estudo. Quando

queremos avaliar uma situação na comunidade ou avaliar o nosso trabalho sempre

trabalhamos com perguntas que as pessoas respondem ou que respondemos em

grupos. No início de 2015 tivemos três perguntas bem simples para decidir em qual

área precisávamos conseguir mobilizar para melhorar a situação. Perguntamos:

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Quais os problemas que estamos enfrentando hoje na comunidade?O que já foi feito para enfrentar esses problemas?O que podemos fazer para melhorar a situação?

O resultado mostrou que o atendimento de saúde do posto aqui era muito precário e

fizemos uma pequena mobilização para pressionar por melhorias. Em um dos

almoços coletivos de domingo, junto aos idosos, discutimos a situação e muitos

reclamaram dos problemas, da falta de médicos, da grande demora em conseguir

uma consulta. A saúde é um grande problema para as pessoas aqui. Estamos

participando das reuniões mensais do Colegiado Gestor da Clínica da Família para

tentar melhorar esta situação. Levamos para o Colegiado as posições que tiramos

coletivamente.

Fazemos estudos para a nossa formação e junto às companheiras e companheiros

de outros movimentos. Convidamo-los este ano para participar do nosso seminário

nacional, onde em cada região estudamos a luta de uma classe popular no Brasil:

quilombolas, indígenas, camponeses e operários. Cada resultado do grupo de

estudo regional vai ser apresentado em 2016 no seminário nacional e depois vamos

fazer uma apresentação aqui no Rio para discutir o acúmulo dos seminários.

“No Brasil, atualmente, o povo não tem uma opção nas urnas.”

Em fases de campanha de eleição não apoiamos nenhum partido, mas construímos

a nossa própria dinâmica de consultar as pessoas o que são as demandas. Fizemos

isso junto a outros movimentos sociais em 2012 durante as campanhas para as

eleições municipais. Juntamos a nossa proposta de Congressos Municipais com a

proposta da Outra Campanha dos Zapatistas, que alguns grupos e movimentos aqui

no Rio apoiam e consultamos as pessoas em diferentes favelas e ocupações

urbanas, fizemos uma assembleia com as bases e publicamos o conjunto das

reivindicações em um jornal.

Estamos sempre abertos a receber visita aqui na comunidade para trocar

experiências e aprender com outros grupos e movimentos. Aqui no Rio participamos

de várias articulações, construímos a Rede Economias Coletivas e mais

recentemente integramos a Articulação de Grupos Autônomos. O MCP aqui no Rio

de Janeiro tem também um trabalho em Campo Belo, Nova Iguaçu, onde mora o

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companheiro Bezerra que participou do movimento de ocupações no centro e junto

aos outros ocupantes foi despejado. Eles foram enviados para um bairro bem longe,

assim que ele chegou a Campo Belo.

Não usamos muito a internet para divulgar o nosso trabalho, mas o MCP tem um

jornal, a “Voz das Comunidades” que sai periodicamente e informa sobre os

trabalhos do MCP e a diversidade de lutas nas bases. Na capa do “Voz das

Comunidades” de Julho a Outubro de 2015 é resumido, em poucas palavras, o

objetivo do nosso trabalho:

Do ponto de vista estratégico, precisamos entender que o Capitalismo é o nossoinimigo n°1.

Do ponto de vista tático, precisamos construir o Poder Popular, a partir da base, para enfrentar o Capitalismo e construir uma sociedade comunitária.

Foto 4: Almoço coletivo na Comunidade Popular Chico MendesFoto: Movimento das Comunidades Populares (MCP)

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