26
132 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As influências nas decisões 4.2.5.1.1 - Influência das organizações As organizações procuram influenciar as decisões, como é da sua natureza. Ora, procurou-se identificar a medida dessa influência por parte das organizações mais participativas, na sequência das perguntas 7 e 8, combinadas. Procurou-se saber se esta influência é baixa, média ou elevada (Figura 4.24). Figura 4.24 - Influência das organizações mais participativas nas decisões municipais (%) (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40 50 60 70 Baixa Média Elevada A grande parte dos inquiridos (Figura 4.22) considera que a influência das organizações mais participativas nas decisões municipais (ver 4.2.3.2.2) é média (63,1%) ou baixa (21,9%). Uma percentagem de 15,0% diz que esta influência é elevada. Os resultados são, portanto, mitigados mas com tendência geral a destacar para uma influência média-baixa. O reconhecimento da influência das organizações sociais na tomada de decisões a nível local ainda está, portanto, por ser demonstrado. De facto, os partidos políticos, as associações desportivas e as de solidariedade (para citar aquelas que são mais referidas pelos inquiridos) são as estruturas mais participativas, mas que, de todo, não exercem uma influência de tal forma contundente que possa ser notada pelos inquiridos. A

4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

132

4.2.5 – Influências e tomada das decisões

4.2.5.1 - As influências nas decisões

4.2.5.1.1 - Influência das organizações

As organizações procuram influenciar as decisões, como é da sua natureza. Ora,

procurou-se identificar a medida dessa influência por parte das organizações mais

participativas, na sequência das perguntas 7 e 8, combinadas. Procurou-se saber se esta

influência é baixa, média ou elevada (Figura 4.24).

Figura 4.24 - Influência das organizações mais participativas nas decisões municipais (%)

(Pergunta 8)

21,9

63,1

15

0

10

20

30

40

50

60

70

Baixa Média Elevada

A grande parte dos inquiridos (Figura 4.22) considera que a influência das

organizações mais participativas nas decisões municipais (ver 4.2.3.2.2) é média

(63,1%) ou baixa (21,9%). Uma percentagem de 15,0% diz que esta influência é

elevada. Os resultados são, portanto, mitigados mas com tendência geral a destacar para

uma influência média-baixa.

O reconhecimento da influência das organizações sociais na tomada de decisões a nível

local ainda está, portanto, por ser demonstrado. De facto, os partidos políticos, as

associações desportivas e as de solidariedade (para citar aquelas que são mais referidas

pelos inquiridos) são as estruturas mais participativas, mas que, de todo, não exercem

uma influência de tal forma contundente que possa ser notada pelos inquiridos. A

Page 2: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

133

instrução da tomada de decisão não contara, afinal, com as organizações representativas

dos cidadãos ou de parte destes.

4.2.5.1.2 - Influência dos cidadãos sobre os funcionários

Perguntar-se-á então se os cidadãos conseguem, por seu turno, influenciar as

decisões que são tomadas sobre os assuntos de interesse para o colectivo comunitário. A

máquina burocrática e, especialmente dentro desta, o corpo de funcionários, intervém no

processo decisório, quer a montante, na preparação das peças para a informação junto

do decisor, ou durante o processo decisório, alterando as mesmas peças dos dossiers;

quer a jusante, na execução e no controlo da decisão. Porquanto, os funcionários são

elementos imprescindíveis a todo o processo decisório. Convém, pois, verificar se, na

opinião dos respondentes, os cidadãos conseguem alcançar alguma influência na

decisão, quando estes contactam os funcionários. Isto é, se conseguem alterá-las. A

pergunta15 (Figura 4.25) permite satisfazer esta interrogação. Os contactos com os

funcionários são, por vezes, alternativos (ou complementares) à campanha e ao próprio

voto (Verba e Nie, 1972). Ora, verifica-se que a maioria dos inquiridos considera que

quando os cidadãos contactam os funcionários, estes, por vezes (66%), conseguem

influenciar as decisões. Mas quase um terço dos respondentes diz que estes nunca

(32,7%) o alcançam.

Provavelmente, os inquiridos terão querido sancionar as intervenções dos

cidadãos que junto dos funcionários procuram aliá-los às suas causas na obtenção de

favores ou de serviços.

Figura 4.25 - A influência dos funcionários nas decisões (%)

(Pergunta15)

1,3

66

32,7

0

10

20

30

40

50

60

70

Sempre Por vezes Nunca

Page 3: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

134

4.2.5.1.3 - Influência dos cidadãos sobre as decisões

Procurou-se apurar o volume de decisões alterado em função das diversas

participações dos cidadãos e, especificamente, se este é baixo, médio ou alto (Figura

4.26). Em síntese, o inquérito revela que pouco mais de metade dos respondentes

consideram que o volume de decisões alterado é baixo (56,7 %). E 40,1 % dizem que na

sua opinião o volume de alteração é médio. A correspondência dos projectos iniciais

com os finais será, portanto, elevada ou muito elevada, a confiar nas respostas dos

inquiridos. Situação que, aliás, não desmente a literatura quando esta relativiza a

influência da participação dos cidadãos na elaboração das decisões (Verba e Nie,1972),

sendo certo que o incremento dessa participação interfere (mesmo que com baixa ou

média intromissão) nas decisões finais. O papel dos cidadãos na tomada de decisões

ainda faz defeito.

Figura 4.26 - Decisões alteradas devido à participação dos cidadãos (%)

(Pergunta 19)

56,7

40,1

3,2

0

10

20

30

40

50

60

Baixo Médio Alto

4.2.5.1.4 - Influência dos estratos sociais

4.2.5.1.4.1 - Estrato social mais participativo

A tipificação da maior participação, por estratos sociais, permite identificar qual

destes exerce, porventura, maior influência na tomada de decisões a nível local (vide

4.2.5.1.4.2). O tratamento das respostas à pergunta 10 revela, porquanto, alguma

tendência (Figura 4.27).

Page 4: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

135

Figura 4.27 - Estrato social mais participativo (%)

(Pergunta10)

16,1

78,7

5,2

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Estrato baixo Estrato médio Estrato alto

Os inquiridos que responderam a esta pergunta (96,3% do universo de

respondentes) declaram (78,7%) que é o estrato médio que mais participa, sendo que

outros dizem que é o estrato baixo (16,1 %) e o estrato alto (5,2%). Esta conclusão

contraria em parte a literatura científica que demonstrou serem, de facto, as classes mais

abastadas, as mais participativas. Referimos, atrás, que são estas que revelam maior

intrusão nas associações de voluntariado, nos partidos políticos, nas actividades

comunitárias e nas campanhas eleitorais (Verba e Nie, 1972: 263).

De facto, como vimos atrás, para se poder participar é necessário, a

montante, dispor de recursos (financeiros e intelectuais) que permitam essa participação

cívica. Isto é, que permitam a abdicação de períodos de trabalho ou de lazer, para os

dedicar à participação e à tomada de decisões. Naturalmente que desta participação, os

estratos sociais retiram as suas vantagens directas ou indirectas, em termos de ocupação

de lugares elegíveis, de cargos públicos, maiores remunerações, privilégios, etc.

Demonstrou-se, mais atrás, que são estas classes também que melhor se organizam para

defender os seus interesses de grupo e influenciar as decisões. Ora, os inquiridos, da

presente investigação, indicam o estrato social médio como o mais participativo nos

municípios portugueses (Figura 4.28). Note-se, igualmente, algo de surpreendente,

porque contraria a literatura, a participação do estrato social baixo que, na opinião de

16,1% dos respondentes, é a classe mais participativa, antecedendo, inclusive, o estrato

social alto, com uma opinião de (5,2%).

Page 5: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

136

Faltará relacionar esta questão com a dimensão dos municípios respondentes,

que a Figura (4.26) vai plasmar. Assim, nos municípios até 100 000 eleitores,

encontramos os estratos médios como mais participantes, sendo que pensam desta

forma, em média, 79,9 % dos respondentes.

Mas depara-se com duas situações: nos de menor dimensão, isto é, entre 10 000

e 50 000 eleitores, o estrato baixo mantém os mesmos valores representativos.

Na categoria de municípios entre 50 001 e 100 000 eleitores, verifica-se um

aumento da participação do estrato social alto (14,3%), o maior desempenho deste

estrato, nas três categorias.

Nos municípios de mais de 100 001 eleitores, apura-se que o estrato mais alto

não é referido pelos respondentes mas, quebrando com a tendência apresentada

anteriormente, sobressai o estrato social baixo (55,5%) e o médio (44,5%) como os mais

participativos. Assim, o estrato social baixo conhece, tendencialmente, uma participação

decrescente até aos 100 000 eleitores (passando de 15,0 % para 7,1 %). O estrato médio

de 81,7 % para 78,6 %. O estrato alto de 3,3 % até os 14,3 %.

Na categoria de mais de 100 001 eleitores, esta tendência inverte-se e o estrato

baixo suplanta os outros dois, fazendo desaparecer a participação do estrato alto, nesta

categoria de municípios.

Em conclusão, pode afirmar-se que, paralelamente ao aumento do número de

eleitores, nos municípios até 100 000, existe a tendência de deslocação de uma maioria

participativa constituída pelos estratos médio-baixo para médio-alto. Nos municípios de

mais de 100 001 eleitores, esta tendência desaparece para deixar lugar a outra de sentido

baixo-médio.

Porventura, esta realidade, plasmada no tratamento dos dados recolhidos,

consubstancia a composição social das grandes cidades portuguesas dos nossos dias,

constituídas por camadas sociais baixas e médias, em oposição às cidades pequenas e

médias onde predomina a participação dos estratos diversificados, diminuindo

tendencialmente com a dimensão das mesmas.

Page 6: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

137

Figura 4.28 - Estrato social mais participativo e dimensão dos municípios (%)

(Relacionamento das perguntas nº 10 e 35)

0

20

40

60

80

100

Até 10 000 15 81,7 3,3

De 10 001 a 50 000 14,7 79,4 5,9

De 50 001 a 100 000 7,1 78,6 14,3

Mais de 100 001 55,5 44,5 0

Estrato baixo Estrato médio Estrato alto

4.2.5.1.4.2 - Influência efectiva nas decisões

Se um estrato social se destaca na participação cívica ou política não quererá

dizer, necessariamente, que influencie as decisões tomadas. Ora, é precisamente esta

vertente que reflecte a Figura (4.29).

Figura 4.29 - Influência do estrato social mais participativo (%)

(Pergunta 11)

18,4

71,5

10,1

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Sim Por vezes Não

A pergunta 11 é complementar da imediatamente anterior, na medida em que

permite avaliar a influência do estrato social médio na tomada de decisão. Na realidade,

os respondentes, na sua maioria, consideram que esta influência acontece por vezes

Page 7: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

138

(71,5%), isto é, que o estrato médio (vide 4.2.5.1.4.1) consegue influenciar, mas nem

sempre, os decisores e as decisões. Mais à frente, aborda-se a influência dos

funcionários (vide 4.2.5.1.2) e de outras pessoas que o líder consulta (ver 4.2.5.1.5.1).

A influência do estrato social médio e o tipo de pessoas que o líder ausculta são

duas questões que podem ser relacionadas (vide a seguir, Quadro 4.16), no sentido de

apurar uma correspondência, e verificar o tipo de influência sobre o líder e o grau de

contribuição esperada (Verba de Nie, 1972) expressa pelos respondentes.

Esta fase do estudo permite tratar de uma vertente das hipóteses colocadas (ver

1.2), ou seja, a verificação da influência dos cidadãos nas decisões nas câmaras

municipais e, complementarmente, quem influencia o líder na assunção das decisões. O

Quadro (4.18) responde, em parte, à primeira premissa. Assim, nos municípios onde a

maioria dos respondentes considera que o estrato social médio tem influência nas

decisões, ou somente por vezes, o líder declara, por seu lado, consultar vereadores,

cidadãos, funcionários e organizações. Mas, nos municípios onde os inquiridos dizem

que o estrato social médio não influencia as decisões, os mesmos dizem que não

consultam funcionários nem organizações.

Os respondentes terão, assim, a percepção de que o estrato social médio,

influenciando de facto ou em parte as suas decisões, procuram auscultar, para além dos

vereadores e cidadãos, outros intervenientes (no caso, funcionários e organizações). No

caso inverso, isto é, quando o estrato social médio não é percepcionado como

influenciador das decisões, os respondentes não consultam outros intervenientes, para

além dos internos à câmara.

Em síntese, a participação do estrato social, que influencia as decisões dos

líderes, condiciona o comportamento dos mesmos quanto à auscultação de outros

intervenientes, para além dos que habitualmente sempre consulta, vereadores e

cidadãos. Provavelmente, os decisores procuram desta forma sustentar as decisões,

alargando o leque de consultados, quando verificam que um estrato social influencia as

decisões.

Conclui-se que a participação efectiva dos estratos sociais na tomada de decisões

é tanto mais importante quanto obriga os decisores a associar à decisão outros parceiros

Page 8: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

139

que sem essa influência, não seriam consultados. Uma sociedade civil mais

interveniente e responsável concorre, naturalmente, para o aperfeiçoamento das

decisões políticas.

Quadro 4.18 - Influência do estrato social mais participativo e auscultação por parte do

líder (Relacionamento das perguntas 11 e13) Na discussão dos projectos o líder do município consulta mais (%)

Vereadores Cidadãos Funcionários Organizações Outros Total

Sim 76,2 14,2 4,8 4,8 - 100

Por

vezes 77,9 11,6 5,8 3,5 1,2 100

O estrato

social médio

tem efectiva

influência

nas decisões Não 75,0 16,7 - - 8,3 100

Questionados sobre qual a classe social das pessoas mais influentes junto dos

decisores, os inquiridos dizem (89,8%) que estas são pertencentes da classe média

(Figura 4.30). Não se sabe, na verdade, quais as interpretações agremiadas nesta

resposta. Mas o conceito de classe média é demasiado abstracto ou amplo para poder

tirar ilações mais específicas quanto ao número muito elevado de respondentes que a

seleccionaram. Um facto ainda se pode aferir é a ausência, na realidade, das classes

pobres, nos processos de tomadas de decisões. Uns míseros 2,7% dos inquiridos

consideram que são desta categoria social as pessoas que mais os influenciam. Ora,

estudos recentes revelam, de facto, este afastamento, ou exclusão, das categorias mais

pobres da sociedade, da tomada de decisões a nível dos governos, situação crítica que

engendra “uma percepção demasiado distante, inacessível e corrupta, das instituições

em geral e as do Estado em particular” (Gaventa, 2001: 2). Fica a interrogação se as

autarquias locais responderão ao desafio inclusivo destas classes ou participarão,

também elas, na sua exclusão, aumentando o fosso interclassista e o afastamento destas

em relação às instituições democráticas.

A confluência da informação relativa à classe social mais influente com a do

estrato social mais participativo permite confirmar (Quadro 4.19) que, efectivamente, a

classe média sobressai como estrato social que mais participa, na opinião dos

respondentes (79,1%), e mais influi nas decisões (89,6%). Mas pode-se estranhar que a

classe baixa, que na opinião de 16,1% dos inquiridos é a classe mais participativa (vide

Page 9: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

140

4.2.5.1.4.1), apresenta um desempenho menor quanto à sua influência nas decisões

(2,7%).

Figura 4.30 - Classe social das pessoas mais influentes (%)

(Pergunta 23)

2,7

89,8

7,5

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Classe baixa Classe média Classe alta

Significaria que a classe dos mais pobres, apesar de participar bastante mais do

que a classe alta, tem menos influência do que esta nas decisões. Uma

desproporcionalidade que mereceria ser investigada.

Quadro 4.19 - Classe social mais influente e mais participativa

(Cruzamento das perguntas 23 e 10)

Que estrato social é mais

participativo? (Casos)

Estrato

baixo

Estrato

médio

Estrato

alto

Total

Classe

baixa 3 1 0 4

Classe

média 19 109 1 129

De que

classe social

são as

pessoas mais

influentes? Classe

alta 1 4 6 11

Total 23 114 7 144

Uma relação que é possível estabelecer diz respeito à classe social mais influente

(pergunta 23) e às pessoas que o líder mais consulta (pergunta 13). Pois, este

cruzamento (Quadro 4.20) reforça a classe média (88,9%) como a principal influência

nas decisões.

Page 10: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

141

Quadro 4.20 - Classe social mais influente e consulta por parte do líder

(Cruzamento das perguntas 23 e 13)

Na discussão dos projectos municipais, o líder do município consulta mais

(Casos)

Vereadores Cidadãos Funcionários Organizações Outros Total

Classe

baixa 2 1 0 0 0 3

Classe

média 76 12 4 3 2 97

De que

classe social

são as

pessoas

mais

influentes?

Classe

alta 5 2 2 0 0 9

Total 83 15 6 3 2 109

4.2.5.1.5 - As consultas por parte do líder

O líder do município consulta, porventura, outros intervenientes no processo de

decisão. Propõe-se que os inquiridos escolham de uma série de opções (vereadores,

cidadãos, funcionários, organizações ou outro) aquela que coincida com a sua opinião

quanto ao facto de saber quem consulta mais, na realidade, quando se trata de discutir os

projectos municipais (Figura 4.31). Procura-se, nesta questão, medir a existência

eventual de sub-líderes, ou organizações-âncora, que estabeleçam um elo de ligação

com o decisor principal municipal, no momento ou ocasiões em que este procura obter

opiniões, a montante da tomada de decisão.

São os vereadores (76,9%) que os inquiridos dizem que consultam mais para a

discussão dos projectos municipais. Os vereadores, na qualidade de membros do

executivo municipal, surgem como as pessoas que o líder mais consulta. Na qualidade,

naturalmente, de pares do órgão colegial mais activo, e local onde os projectos

estratégicos são apresentados e discutidos, confirmando o funcionamento democrático

municipal e a instituição onde se encontrarão, provavelmente, os sub-líderes do sistema.

Page 11: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

142

Figura 4.31 - Quem é que o líder consulta mais (%)

(Pergunta 13)

76,9

12,45 4,1 1,7

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Vereadores Cidadãos Funcionários Organizações Outros

De salientar que a segunda categoria mais consultada são os cidadãos (12,4%).

Trata-se da verificação, provável, de que na escada de participação dos cidadãos, de

Arnstein (Swindel, 1998), e como se focou acima (ver 3.2.2), esta “consulta” aos

cidadãos situar-se-á no que é descrito como o quarto nível, de um total de oito.

De salientar que, a seguir aos cidadãos, são os funcionários (5,0%) que aparecem

em terceiro lugar, apesar de estes serem remunerados para prestar serviço aos órgãos e

autarcas municipais, nomeadamente na tomada de decisão. Finalmente, as organizações

(4,1%) ocupam o pouco invejável quarto lugar. Convirá notar que as organizações,

apesar de defensoras de interesses colectivos, não são consultadas com a intensidade

com que o são os cidadãos (pressupõe-se que estes o são a título individual). É uma

referência que reforça a noção da existência de uma relação interpessoal que se

estabelece entre os detentores do poder decisório e os eleitores in persona e não

enquanto organizações.

4.2.5.2 - A tomada das decisões

4.2.5.2.1 - Intervenientes na tomada de decisões

Um conjunto de respostas analisadas é referente aos momentos “on going” da

tomada de decisão. Procura-se avaliar as etapas da intervenção ou da interferência dos

cidadãos na decisão ou pelo menos, como aliás fora adiantado, nas hipóteses

académicas deste trabalho, se as decisões são tomadas tendo em conta as observações

dos munícipes ou ao arrepio destes. As observações anteriores introduziram já este nível

Page 12: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

143

da pesquisa. A pergunta 20 objectiva verificar como é que as decisões importantes do

município são tomadas e com que tipo de intervenientes.

Na opinião dos respondentes, as decisões sobre assuntos importantes do

município são tomadas com todo o executivo autárquico (88,3 %). Apenas 11,7 % dos

inquiridos dizem que é em grupo restrito de pessoas do executivo que estas são

tomadas. Não houve respostas algumas para o item b) “a solo – pelo presidente.

Também não houve respostas ao item d) “em grupo de pessoas externas ao executivo

municipal”. A assunção das decisões mais importantes, nas câmaras municipais, será,

assim, o resultado de um trabalho interno, no órgão colegial que, legalmente, tem esta

competência. Apenas um em cada dez presidentes decidirá em grupo mais restrito deste

universo orgânico.

Figura 4.32 - Tomada das decisões políticas importantes (%)

(Pergunta 20)

88,3

11,7

0102030405060708090

100

Com todo o executivo municipal Em grupo restrito de pessoas doexecutivo municipal

A relação das perguntas 20 e 13 vai permitir a confirmação das conclusões atrás

apresentadas. Assim (ver Quadro 4.21), a maioria dos respondentes (74,5%), de facto,

diz que consultam os vereadores quando procuram discutir os projectos municipais,

situação que se apurou acima quando se tratou deste tema. Os presidentes de câmara

limitam as suas consultas ao círculo restrito dos seus pares, pressupondo-se com

idêntica sensibilidade política. Na realidade esta última acepção não fora colocada no

inquérito, porquanto trata-se de uma simples conjectura.

Page 13: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

144

Quadro 4.21 - Tomada das decisões e consultas pessoais

(Perguntas 20 e 13)

Na discussão dos projectos municipais, o líder do município consulta mais

(Casos, %)

Vereadores Cidadãos Funcionários Organizações Outros Total

Com todo o

executivo

municipal

76

(74,5)

13

(12,7)

6

(5,8)

5

(4,9)

2

(1,9)

102

(85,7) Como é que

as decisões

políticas

importantes

são tomadas?

Em grupo

restrito de

pessoas do

executivo

municipal

15

(88,2)

2

(1,9) 0 0 0

17

(14,3)

4.2.5.2.2 - Grupos mais influentes

O presidente da câmara municipal, na qualidade de principal decisor, é objecto

de influências múltiplas, provenientes de diversas origens, do interior da estrutura

municipal e do exterior social e económico. Analisado na perspectiva sistémica, esta

situação parece exequível mas não será demais procurar situar os grupos de maior

influência nas decisões. Assim sendo, a pergunta 21 tem esse particular escopo (ver

Quadro 4.22), sendo que a escala de medição exige dos respondentes uma ordenação

numérica das respostas alternativas, da mais importante (5) à menos importante (1).

Verifica-se que são os políticos que mais influenciam as decisões (nível 5 da

escala de medição), na opinião de 81,3% dos inquiridos. Esta categoria de

intervenientes encerra os membros do executivo municipal (vereadores) que, com o

presidente da câmara, perfazem o colégio decisório por excelência. Esta dedução carece,

todavia, de controlo pois na pergunta não se submetia ao inquirido a hipótese de

explicitar com mais pormenor a sua resposta, isto é, não se pedia o tipo de políticos,

pelo que pressupõe-se que estes referem os de maior proximidade da gestão municipal.

Todavia, relembra-se que, no espectro local, são vários os tipos de políticos, nos níveis

autárquicos e nas próprias estruturas municipais. Mas outra pergunta colocada permitiu

concluir que, efectivamente, são os vereadores que dois terços dos inquiridos dizem

consultar mais para a discussão dos projectos municipais (vide 4.2.5.1.5.1).

Page 14: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

145

A segunda categoria mais influente nas decisões (nível 4 na escala de medição) é

a dos técnicos municipais, 60,3% dos inquiridos, colocando-a imediatamente a seguir à

dos políticos. Resultado que contraria uma conclusão anterior e que relegava para um

papel residual a consulta, por parte do líder, aos funcionários. Relembra-se (na pergunta

13) que estes se posicionam (5,0%) atrás dos cidadãos (12,4%) no ranking dos mais

consultados pelo líder. Uma contradição que subsiste, portanto, a merecer uma

explicitação, que o presente estudo não permite, pois carece de aprofundamento. Podia-

se adiantar uma razão para esta dessintonia quanto ao momento em que esta pergunta é

feita na estrutura do questionário. Se a pergunta 13 se referia à discussão dos projectos,

aquela que agora se analisa (pergunta 21), refere-se à maior influência nas decisões, isto

é, na formatação ou na tomada das decisões. Dois momentos diferentes e sequenciais

que poderão, em parte, desculpar as respostas aparentemente divergentes dos

respondentes. Se, no Estado Novo, “o chefe da secretaria exercia um acentuado

ascendente funcional sobre os membros da câmara municipal” (Montalvo, 2003: 167)

isto nos nossos dias não se poderá verificar mais, atendendo a que os técnicos

municipais se assumem, por vezes, como mediadores entre eleitos e cidadãos. No

entanto, com a politização dos altos funcionários municipais, verifica-se que o “spoils

system” local (idem supra: 175), conduz a situações muito semelhantes à situação

referida.

A terceira categoria mais influente é a dos dirigentes associativos (46,5%), muito

próxima da dos empresários (40,0%), esta como quarta categoria. Por fim, os cidadãos

indiferenciados fecham o círculo com o nível menor de importância na influência das

decisões (40,0% dos inquiridos atribuem-lhe o nível 1). Este último estádio, ocupado

pelos cidadãos, indicia, na realidade, a influência praticamente nula que os inquiridos

dizem que estes têm quanto às decisões, situação que, aliás, fora já adiantada quando

mais atrás (vide 4.2.4.1.1), pouco mais de dois terços dos respondentes afirmaram que

os projectos estratégicos eram, “por vezes”, objecto de discussão pública. A fragilidade

da sociedade civil está aqui bem patente e testemunhada pelos respondentes, situação

que, aliás, estudos recentes também identificam em outros países, favorecendo a

“fraqueza ou a falta de compromisso com a democracia local”(Clarke e Stewart citado

em Gaventa, 2001: 2).

Page 15: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

146

Quadro 4.22 - Grupos de maior influência nas decisões

(Pergunta 21) Grupos com mais influência (*)

5 4 3 2 1 (**)

Políticos 81,3 10,1 4,3 0,7 3,6 (86,3) 139 Técnicos municipais 16,2 60,3 14,7 5,9 2,9 (84,5) 136 Dirigentes associativos 0,9 20,2 46,5 26,3 6,1 (70,8) 114 Cidadãos indiferenciados 4,4 9,6 15,8 29,8 40,4 (70,8) 114 Empresários 1,8 14,5 40,0 25,5 18,2 (68,3) 110

(*) Ordenação numérica das categorias, sendo 5 o item mais importante,

4 de importância seguinte, etc.

(**) Percentagem e número de inquiridos respondentes/161

Quadro 4.23 - Grupos de maior influência nas decisões

(síntese da pergunta 21) Nível de importância Grupos de maior influência nas

decisões 5 + Políticos

4 Técnicos municipais 3 Dirigentes associativos 2 Empresários

1 - Cidadãos indiferenciados

4.2.5.2.3 - Frequência desta influência

No seguimento da inquirição anterior, a pergunta 22 (Figura 4.33) permite

avaliar a frequência da participação dos grupos sociais adiantados anteriormente. Assim,

questionados se essa frequência é baixa, média ou elevada, a maioria dos respondentes

(62,7%) diz que esta é média e 18,4% destes qualificam-na de baixa e quase um quinto

(19,0%) acham que esta é alta.

Em síntese, pode afirmar-se que a participação dos políticos, técnicos municipais

e dirigentes associativos, para referir apenas os mais importantes, essa participação não

é alta, situação que contraria o esperado, pois se a câmara municipal é um órgão

colegial, parece desadequado os inquiridos declararem que a participação de políticos e

técnicos municipais não acompanha de forma aturada as decisões. Haverá aqui algum

defeito processual ou uma intenção de não associação de parceiros no processo de co-

decisão.

Deve considerar-se, mesmo assim, que estas deduções não podem, em rigor, ser

estabelecidas pois a pergunta é demasiadamente abrangente no que concerne ao número

Page 16: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

147

dos “grupos” visados pelo que exigiria uma reformulação da mesma, porventura, mais

eficaz na objectivação.

Figura 4.33 - Frequência da participação das pessoas mais influentes (%)

(Pergunta 22)

18,4

62,7

19

0

10

20

30

40

50

60

70

Baixa Média Alta

4.2.6 - Execução das decisões

4.2.6.1 - A associação dos cidadãos

4.2.6.1.1. – Associação dos cidadãos a título individual

Nesta parte, aborda-se a participação dos cidadãos a jusante da tomada da

decisão. Na pergunta 25 questiona-se a associação dos cidadãos no acompanhamento da

implementação das decisões municipais. Dos 156 respondentes, 80,8% consideram que,

por vezes, os cidadãos são associados na fase de implementação das decisões. Mas

10,2% dizem que tal nunca acontece e somente 9,0% declaram que esta situação

acontece sempre (Figura 4.34).

Ora, pode-se considerar que os respondentes, na sua maioria, mostram-se muito

cautelosos nas suas respostas. Se, de todo, não aceitam (91%) que os cidadãos sejam

sempre associados à implementação das decisões, a realidade é que somente acontece,

por vezes, que estes sejam integrados nesta fase. Os cidadãos, pouco ou não escutados a

montante da tomada de decisão, conservam este mesmo estatuto de menoridade, a

jusante da decisão.

Page 17: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

148

Figura 4.34 – Associação dos cidadãos à execução das políticas (%)

(Pergunta 25)

9

80,8

10,3

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Sempre Por vezes Nunca

4.2.6.1.2 – Associação dos cidadãos a título colectivo

A participação dos cidadãos na implementação das decisões pode ser encarada a

título pessoal ou colectivo, sendo que na opinião de 92,2% dos respondentes (Figura

4.35) não há organizações de munícipes que avaliem as políticas postas em prática. Não

haverá, portanto, na opinião dos inquiridos, formas organizadas de alguma espécie que

actuem a este nível.

Verifica-se, portanto, que, se por um lado, os inquiridos consideram não haver

associação dos cidadãos na implementação das decisões, por outro, eles próprios,

entenda-se os presidentes de câmara e os vereadores, apenas procuram por vezes

associá-los, situação que, naturalmente, não favorece a emergência de comportamentos

associativos pós-decisionais.

Figura 4.35 - Organizações de munícipes para avaliar as políticas praticadas (%)

(Pergunta 26)

7,8

92,2

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Sim Não

Page 18: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

149

Diga-se, em boa verdade, que parece que todos concorrem para que os cidadãos

fiquem de fora na fase da implementação das políticas municipais. Os poucos

inquiridos, que responderam favoravelmente a esta questão, deixaram registados os

nomes das estruturas existentes, para o exercício deste controlo (Quadro 4.24). Os

conselhos consultivos e os movimentos cívicos obtêm maior número de citações.

Quadro 4.24 - Nomes de estruturas de munícipes para avaliar a implementação das decisões

(Pergunta 26)

Denominações (número de citações) Conselhos consultivos (4) Movimentos cívicos, ambientais (2) Comissões de moradores Associações empresariais

Comissões de inquérito Políticos da oposição Associações de pais Total citações: (11)

4.2.6.1.3 - O provedor dos munícipes

A personificação do receptor de petições ou reclamações na figura do provedor

do munícipe é o desiderato da pergunta 32 à qual responderam 159 dos 161 inquiridos

(Figura 4.36).

Em conclusão, e tal como afirmam 96,9% dos respondentes, os municípios não

possuem tal figura. De facto, este figurino intermediário independente entre os cidadãos

e os órgãos autárquicos não merece muito interesse por parte dos respondentes, quiçá

uma interferência, livre de tutela, que poderia apresentar uma série de inconvenientes

para os edis, muitos dos quais habituados a decidir e a responder perante os eleitores,

apenas em períodos eleitorais, situação aliás registada no questionário pelo pulso de um

dos respondentes. Mas, se é verdade que nos países membros da OCDE, se verifica um

grande incremento das políticas de governância, em que modelos de políticas inclusivas

e participativas estão substituindo os sistemas tradicionais “de cima para baixo”

(OCDE, 2002), em Portugal, tais propósitos ainda são incipientes, ao nível da

administração local, pelo menos, como aqui se comprova.

A ausência do provedor dos munícipes é exemplo desta incipiência, um

indicador da muito diminuta preocupação dos autarcas, no que concerne à participação

Page 19: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

150

dos seus administrados, através deste figurino, que assegura uma das formas dessa

participação, pelo menos no tocante a reclamações (vide 4.1.2.2).

Figura 4.36 - Existência de provedor dos munícipes (%)

(Pergunta 32)

3,1

96,9

0

20

40

60

80

100

120

Sim Não

Dos 5 respondentes (3,1%), que dizem possuir provedor dos munícipes,

apenas dois referem, concretamente, o nome da instituição (provedor do deficiente) ou

da pessoa que materializa esta missão (“M.C.” iniciais registadas no próprio

questionário). São, portanto, dois casos nos 161 questionários devolvidos. Os

municípios portugueses ainda não auguram uma acessibilidade à participação que

permita a intersecção de uma pessoa ou instituição, independentes, nos assuntos

municipais. A relação dos munícipes ainda é realizada pelo crivo político do presidente

da câmara ou dos vereadores, ou dos seus gabinetes de apoio, ou o filtro técnico,

exercido pelos funcionários e os serviços.

4.2.6.2 - A estrutura municipal

4.2.6.2.1 - Estrutura de avaliação da implementação das

decisões

Na opinião dos inquiridos, a avaliação externa das decisões municipais é fraca

ou inexistente. Como será, então, a avaliação do ponto de vista interno e,

nomeadamente, existirão dentro das câmaras municipais estruturas de acompanhamento

e avaliação da implementação das decisões? A pergunta 27 procura uma resposta a esta

questão (ver Figura 4.37).

Page 20: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

151

Fica-se a saber que, na opinião de 69,5% dos inquiridos, não existe uma

estrutura de avaliação da implementação das decisões. Esta existirá apenas em pouco

mais de um terço (30,5%) dos municípios respondentes.

Os municípios não dispõem, portanto, de uma estrutura própria de avaliação

mas, porventura, consegui-la-ão de forma sui generis. Questiona-se, efectivamente,

como será exercida a reincorporação da informação decorrente da avaliação da

execução das decisões, na ausência de estrutura competente. Supõe-se que os autarcas

remetam esta competência para os dirigentes dos serviços, ou que eles próprios

procedam a esta tarefa. Esta conclusão resulta da leitura e tratamento dos dados

recolhidos por questionário o que, naturalmente, tem de ser relativizado quanto à

realidade verificável nas câmaras, trabalho de investigação por desenvolver para poder

objectivar-se melhor neste domínio.

Figura 4.37 - Existência de uma estrutura interna ao município que avalia

a implementação das decisões (%)

(Pergunta 27)

30,5

69,5

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Sim Não

Quanto aos inquiridos que dizem (pouco menos de um terço dos respondentes)

possuir uma estrutura de avaliação da implementação das decisões, as denominações

registadas por estes nos questionários são as indicadas no Quadro (4.25). Devem-se

salientar, por ordem do número de citações, os gabinetes de apoio à presidência, os

dirigentes municipais, as assembleias municipais, os executivos camarários, e os

vereadores com pelouros. Ora repare-se na função essencialmente política da avaliação

da implementação das decisões, executada por pessoas ou órgãos de direcção

Page 21: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

152

essencialmente política. Os directores de departamento ou de divisão (cargos providos

por nomeação do presidente da câmara) surgem em segundo lugar. Confirma-se,

portanto, o carácter essencialmente político e, sobremaneira, interno desta avaliação.

Quadro 4.25 - Estruturas municipais de avaliação da implementação das decisões

(pergunta 27) Denominações (número de citações) Denominações (número de citações)

Gabinete da presidência (9) Chefes de departamento ou divisão (8) Assembleia municipal (6) Executivo camarário (4) Vereadores com pelouros (4) Sector da organização e auditoria (3) Serviço de estudos e planeamento (2)

Vereadores e técnicos (2) Assessor municipal Controlo de qualidade Gabinete do plano estratégico Gabinete de apoio à vereação Técnicos da área de intervenção Total citações (43)

A relação entre a existência de uma estrutura de avaliação da implementação das

decisões e a dimensão dos municípios, cruzados os dados das perguntas 27 e 35 (Figura

4.38), permite salientar que os grandes municípios (mais de 100 000 eleitores) serão os

que mais dizem possuir uma estrutura de avaliação, pois a sua representação na resposta

sim é superior em mais duas vezes à sua representatividade dimensional. Quanto mais

pequenos os municípios, mais os respondentes dizem não possuir essa estrutura.

Figura 4.38 - Estrutura municipal de avaliação da implementação das decisões

e dimensão dos municípios (%)

(Cruzamento das perguntas 27 e 35)

26

47,8

10,915,2

41,144,1

4,92,1

0

10

20

30

40

50

60

10001 a 50001 a

-10000 50000 100000 100001 +

SimNão

Page 22: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

153

4.2.6.2.2 - A publicitação das decisões

4.2.6.2.2.1 - A afixação das actas

Relativamente à publicidade das actas da câmara municipal (Figura 4.39), 158

respondentes disseram que estas são afixadas para conhecimento público, na totalidade

(70,3%) ou em parte (20,9%). Mas registe-se que 8,9% não o fazem apesar da lei

obrigar. Portanto, em síntese, as câmaras informam os munícipes sobre as suas decisões

colegiais, o que, diga-se, respeita uma das funções sociais e legais dos órgãos políticos

democráticos: a exteriorização das decisões.

A cedência da informação ao público, no poder local, condiz com o modo

consultivo de governo da democracia local (vide 2.2.1) de Assens e Phanuel (2001),

mas também complementa outro dos componentes, relativo ao carácter passivo e

fragmentado da cidadania (portuguesa) que se verificou acima (ver 4.2.6.1.2) A

afixação de per si, das actas do executivo, não isentará os presidentes de câmara de

procurarem ir mais além no desempenho da democracia local.

A Comissão Europeia estimula, aliás, a divulgação da informação mas também,

em paralelo, a facilitação do acesso à mesma (CE, 2001), ambas as metas para uma

governância responsável. Por outro lado, a informação é um dos patamares que Arnstein

considera como sendo de não-participação (vide 3.2.2) porque, quando a câmara

informa, está a executar um acto unívoco em direcção aos cidadãos, sem aguardar

destes uma resposta ou uma intervenção.

Figura 4.39 - Afixação das actas das câmaras municipais (%)

(Pergunta 28)

20,9

70,3

8,9

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Sim, em parte Sim, na totalidade Não

Page 23: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

154

4.2.6.2.2.2 - A divulgação pública

A divulgação das decisões camarárias, viu-se acima, representa, ainda, um

desafio a nível europeu, mas como será no universo dos municípios portugueses? A

pergunta 29 foi idealizada com esse propósito. Mais de dois terços dos respondentes

(68,65%) dizem que as decisões da câmara são impressas e divulgadas aos cidadãos

(Figura 4.40), o que não se verifica nas restantes, onde 28,2% dizem fazê-lo por vezes e

3,2% afirmam nunca o realizar.

Ora, se uma em cada três câmaras municipais não dispõe de um sistema

rotineiro de impressão e divulgação das suas decisões, a democracia local fica tanto

mais estropiada quanto mais esta situação perdurar.

Figura 4.40 - Decisões impressas e divulgadas aos cidadãos (%)

(Pergunta 29)

68,6

28,2

3,20

1020304050607080

Sempre Por vezes Nunca

No que concerne ao relacionamento entre a impressão e divulgação das decisões

e a dimensão dos municípios, efectuou-se o cruzamento das perguntas 29 e 35 (vide

Figura 4.41) e concluiu-se que é nas câmaras municipais mais pequenas que poderá

verificar-se a tendência para haver menos preocupação com a impressão e a afixação

das decisões do órgão executivo, no sentido da sua divulgação junto dos cidadãos. Nos

municípios maiores, esta situação não se verificará, pois as taxas de respostas positivas

(imprimem e divulgam sempre) ultrapassam a representatividade das respectivas

categorias estabelecidas, com o número de eleitores como factor de ponderação.

Em resumo, na opinião dos respondentes, as câmaras municipais maiores serão

mais assíduas na difusão das suas decisões junto dos cidadãos. Um universo muito

Page 24: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

155

pequeno em face do número de municípios que dizem fazê-lo “por vezes” ou “nunca”,

com maior evidência (54,8%) nos respondentes dos municípios com 10 001 até 50 000

eleitores.

Figura 4.41 - Impressão e divulgação das decisões e dimensão dos municípios (%)

(Cruzamento das perguntas 29 e 35)

0

10

20

30

40

50

60

Até 10000 40,6 38,1 50

De 10001 a 50000 40,6 54,8 50

De 50001 a 100000 9,4 7,23 0

Mais de 100001 9,4 0 0

Sempre Por vezes Nunca

4.2.6.2.2.3 - O órgão de informação municipal

A pergunta 30 foi concebida como de controlo da 18 b). Recorda-se que, nesta

última, solicitava-se esclarecimento quanto à utilização de um meio de comunicação

próprio para contactar com os cidadãos, sendo que mais de 40% dos respondentes

afirmaram utilizar este meio para este fim.

Na pergunta 30 solicita-se, igualmente, a periodicidade deste órgão próprio. Para

dois terços dos respondentes, a informação é disponibilizada mensalmente (24,4%) ou

bimensalmente (8,5%), isto é, de quinze em quinze dias de espaçamento. Um outro

grupo de inquiridos (20,7%) disse fazê-lo de forma bimestral. Os restantes afirmam que

os periódicos têm saída muito mais espaçada, entre 3 e 12 meses. As discrepâncias

verificadas entre as declarações às perguntas 18 b) e 30 (Figura 4.43) revelam

porventura um descuido dos respondentes na resposta à pergunta 18b, sendo certo que

esta continha uma orientação bem específica, pois tratava-se de inferir sobre o

estabelecimento de contactos com os cidadãos, em uma pergunta de escala ordinal,

contexto que poderá ter perturbado os respondentes. Provavelmente uma deficiência dos

inquéritos, realizados à distância, em que não se proporciona um contacto directo com

os inquiridos.

Page 25: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

156

Os municípios na sua grande maioria (86,3%) renderam-se à publicação de um

boletim municipal de informação (vide Figura 4.42) e os que ainda não dispõem deste

meio representam 13,8% do universo em estudo.

A informação é o primeiro grau de participação dos cidadãos mas não é

suficiente. Há, por exemplo, “o acolhimento mais cidadão e menos burocratizado”

(Pontier, 1997: 444) e os instrumentos de consulta ao cidadão são meros dispositivos de

consulta e não de tomada de decisão, sendo certo que esta pertence ao político, eleito

para este efeito. O nível local é o mais adequado para aprofundar a participação,

existindo, todavia, o risco de os autarcas se servirem da participação para os seus

programas em vez de democratizá-la.

Podem-se relembrar os diversos tipos de participação dos cidadãos (vide 2.3.1)

e, especificamente, a política de legitimação, que muitos dos municípios procuram neste

investimento, sendo que maior espaçamento da periodicidade de um órgão de

informação autárquico pode ser considerado como uma resultante dessa atitude.

Figura 4.42 - Existência de um órgão informativo municipal (%)

(Pergunta 30)

86,3

13,8

0

20

40

60

80

100

Sim Não

A pergunta 30 contém uma alínea para especificação da periodicidade do

boletim municipal. Na sua maioria, os respondentes (36,6%) afirmam que a

periodicidade é trimestral e 20,0% que é mensal.

Page 26: 4.2.5 – Influências e tomada das decisões 4.2.5.1 - As ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3243/5/Capítulo 4.2.5 e... · (Pergunta 8) 21,9 63,1 15 0 10 20 30 40

157

Figura 4.43 - Periodicidade dos órgãos de informação próprios (%)

(Comparação das respostas às perguntas 18 b) e 30)

05

10

15202530

3540

P18b (%) 8,5 24,4 20,7 22 12,2 11 1,2

P30 (%) 1,7 1,7 8,7 20 6 36,5 5,2 13 6 0,8

Diariament

Semanal

Bimensal

Mensal

Bimestral

Trimestral

Quadrimes

Semestral

Anual Irregular

Verifica-se que 61,5% dos respondentes declaram que a periodicidade dos seus

boletins municipais é de um trimestre até um ano, ou seja, períodos possivelmente

demasiado longos para a eficácia da informação. Uma vez mais, a convicção de que se

trata de uma situação de participação simbólica, segundo a escada de Arstein (ver

3.2.2.1).

Capítulo 5 – Conclusões

A participação dos cidadãos cedo apareceu na teoria política e da ciência

administrativa como uma prerrogativa essencial ao fortalecimento dos sistemas

democráticos e da renovação dos paradigmas da gestão dos assuntos públicos.

A incorporação dos administrados nos assuntos que lhes dizem respeito surgiu,

portanto, como estratégia para os sistemas políticos encontrarem as soluções mais

adaptadas às reivindicações das populações.

Paulatinamente, e por vezes promovida pelas organizações sociais mais

participativas, e portadoras de aspirações democráticas e comunitárias, a cooperação da

sociedade civil assume um desafio novo nos anos noventa, com o surgimento de

inovadoras formas de governo, quer em termos internacionais, como nacionais e,

sobretudo, a nível da administração local.