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45ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DE NATAL EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL – RN A QUEM ESTA COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL. URGENTE Resultado das análises laboratoriais realizadas pelo NUPPRAR/UFRN dos efluentes lançados diretamente no solo/aquífero, oriundos de estrutura inacabada e não estanque de armazenamento e tratamento de esgotos da Unidade de Conservação – Parque da Cidade de Natal/RN. Coleta realizada em 19/03/2018 = esgotos sanitários in natura. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pela representante que esta subscreve, vem muito respeitosamente perante Vossa Excelência, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, em especial, com base no art. 129, III, da Constituição Federal, e, ainda, nas disposições da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR em face do MUNICÍPIO DE NATAL, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na Rua Ulisses Caldas, 81, Centro, Natal, RN, representado pela Procuradoria Geral do Município, com endereço para citação na Rua Princesa Isabel, 799, Cidade Alta, CEP 59025-400, Natal, RN, pelos fatos e fundamentos que passa a tecer: 1-DOS FATOS 1

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45ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DE NATAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA

PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL – RN A QUEM ESTA COUBER POR DISTRIBUIÇÃO

LEGAL.

URGENTE

Resultado das análises laboratoriais realizadas pelo NUPPRAR/UFRN dos efluentes lançadosdiretamente no solo/aquífero, oriundos de estrutura inacabada e não estanque de armazenamento e

tratamento de esgotos da Unidade de Conservação – Parque da Cidade de Natal/RN. Coleta realizadaem 19/03/2018 = esgotos sanitários in natura.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DONORTE, pela representante que esta subscreve, vem muito respeitosamente perante

Vossa Excelência, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, em especial, com

base no art. 129, III, da Constituição Federal, e, ainda, nas disposições da Lei 7.347/85

(Lei da Ação Civil Pública) propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR

em face do MUNICÍPIO DE NATAL, pessoa jurídica de direito público interno, com sede

na Rua Ulisses Caldas, 81, Centro, Natal, RN, representado pela Procuradoria Geral do

Município, com endereço para citação na Rua Princesa Isabel, 799, Cidade Alta, CEP

59025-400, Natal, RN, pelos fatos e fundamentos que passa a tecer:

1-DOS FATOS

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1.1. Objeto, importância e urgência da presente demanda

A presente demanda almeja provimentos judiciais tanto urgentes,

quanto definitivos destinados a impedir o armazenamento inadequado e a continuidade do

lançamento de esgotos sanitários não tratados, diretamente no solo, oriundos de um

sistema de tratamento improvisado que foi precariamente instalado na Unidade de

Conservação Parque da Cidade, que por sinal, está inserido no campo dunar de recarga

do aquífero destinado ao abastecimento de água potável da população das regiões sul,

leste e oeste desta cidade de Natal.

O mapa a seguir aponta exatamente o local onde foi detectado o

lançamento continuado de efluentes sem tratamento no solo – flagrado nas vistorias

realizadas nos dias 15/03/2018 e 19/03/2018 – bem como o local dos poços de

abastecimento de água, que são utilizados pela Companhia de Abastecimento de Água e

Esgotos do Estado do Rio Grande do Norte – CAERN, para abastecer a população de

Natal. Como se pode observar, a situação é grave e demanda providências urgentes, uma

vez que o aquífero de Natal é dunar, poroso, absorvendo rapidamente a poluição.Mapa de localização dos poços de captação da CAERN e da Estação de Tratamento de

Esgotos – ETE (inacabada e inativa) do Parque da Cidade, onde estava ocorrendo ovazamento de esgotos diretamente para o solo.

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A solução do problema demanda providências judiciais urgentes que

não foram alcançados de forma extrajudicial pelo Ministério Público, junto ao Município de

Natal, mesmo após uma verdadeira “via crucis” de tentativas, como se observará.

A possibilidade dessa poluição por lançamento de esgotos no solo foi

antevista pelo Ministério Público, que desde o ano de 2014, quando chegou a expedir a

RECOMENDAÇÃO, datada de 19/11/2014, nos seguintes termos:

Com fundamento no artigo 27, inciso IV da Lei Federal 8.625/93 e noartigo 69, inciso IV da Lei Complementar Estadual 141/96, oMINISTÉRIO PÚBLICO RECOMENDA À SEMURB, QUEVIABILIZE A ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DA ESTAÇÃO DETRATAMENTO DE ESGOTOS INSTALADA NO PARQUE DACIDADE, de modo a atender as normas técnicas, a legislaçãoambiental pertinente; não possibilitando qualquer forma deinfiltração de esgotos no solo e observando o disposto no art.8º da Lei Municipal 4.664/95. Concede o prazo de 90 (noventa)dias para o atendimento da presente RECOMENDAÇÃO (fl. 293)

Vários ofícios foram encaminhados ao Município, com o alerta para o

problema e para a necessidade de solução. Há nos autos vários ofícios encaminhados à

SEMURB. No dia 10/08/2017, esta 45ª Promotoria chegou a mandar para a Procuradoria

Geral do Município a íntegra do inquérito civil que apurou o problema (autuado sob o

número 15/2011 e que se encontra em anexo à presente petição), com a solicitação e

com a RECOMENDAÇÃO para solucionar o problema.

A despeito disso, nada foi realizado por parte do Município de Natal

para solução do problema de esgotamento constatado.

Consta na investigação realizada que a própria equipe de

administração da Unidade de Conservação (Parque da Cidade) chegou a encaminhar à

SEMURB os memorandos nº 023/2014, 031/2014, 013/2015, 089/2015 e 14/2016,

datados de 22/10/14, 8/12/14, 11/3/15, 10/12/15 e 14/3/16 (fl. 356), solicitando urgência

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para solução dos problemas de esgotos do Parque da Cidade. Todavia, mesmo assim

nada foi realizado.

No dia 15/03/2018, em vistoria realizada no local, a equipe técnicaministerial flagrou, in loco, o lançamento de esgotos in natura vazando de um dostanques utilizados para armazenamento de esgotos do Parque, diretamente no solo,como registrado em fotografias e filmes anexados à Informação Técnica correspondente,

que também segue em anexo à presente petição.

Tanque vazando esgoto diretamente para o solo – dia 15 de março de 2018.

1.2. Flagrante de vazamento dos esgotos sanitários oriundos do Parque da Cidade

Ao chegar ao local, mesmo constatando que todas as características

do efluente extravasado eram, visivelmente, de esgotos sanitários, principalmente

relativas ao odor, coloração e presença de sólidos – revelando flagrante de poluiçãoambiental – para se confirmar a situação, este órgão ministerial solicitou à UFRN, através

do Laboratório do Núcleo de Processamento Primário e Reúso de Água Produzida e

Residuos – NUPPRAR/UFRN, uma análise laboratorial para identificar se os efluentes

que estavam sendo lançados ao solo eram efetivamente, ESGOTOS SANITÁRIOS.

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Diante da solicitação, o Laboratório da UFRN aprazou a coleta para

ser realizada no dia 19/03/2018 às 8 horas.

No dia 19/03/2018, a assistente ministerial desta 45ª Promotoria

voltou ao local, ocasião onde constatou e registrou, mais uma vez, a continuidade dovazamento de esgotos de um tanque (NÃO ESTANQUE) de acumulação de esgotos

provenientes do Parque. Na ocasião, mais uma vez, externou a preocupação com o fato

aos responsáveis pela administração do Parque, que foram chamados para também

constatarem a situação.

Tanque vazando esgoto diretamente para o solo – dia 19 de março de 2018.

Ainda no dia 19/03/2018, a equipe do Laboratório do

NUPPRAR/UFRN realizou a coleta dos efluentes que estavam vazando de um dos

tanques que estava servindo para acumular esgotos do Parque. A coleta foi acompanhada

pela Assistente Ministerial, bem como pelo administrador da Unidade de Conservação,

CARLOS EDUARDO DA HORA, que, também, realizou registros fotográficos e informou

que comunicaria o fato à SEMURB para conseguir o esgotamento dos reservatórios

naquele mesmo dia.

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Coleta dos esgotos que estavam vazando diretamente para o solo, no interior do parqueda Cidade.

1.3. Confirmação por análise laboratorial de que o vazamento no Parque é deesgotos – presença de elevadas concentrações de coliformes termotolerantes eNitrogênio Amoniacal

No dia 20/03/2018, o Ministério Público recebeu a confirmação das

análises laboratoriais realizadas, que detectaram a presença de coliformes termotolerante

e Nitrogênio Amoniacal, em valor considerável, CONFIRMANDO ASSIM O

LANÇAMENTO NO SOLO, ÁREA DUNAR, DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, DE ESGOTOS

IN NATURA ORIUNDOS DO PARQUE DA CIDADE.

As amostras coletadas foram analisadas na Central Analítica doNUPPRAR. Os resultados obtidos parcialmente (CMP2018.03-43-A1) indicam que a provável origem do efluente é domésticadevido à elevada concentração dos parâmetros de Coliformestermotolerantes e Nitrogênio Amoniacal

Vale salientar que em nível nacional, o Conselho Nacional do Meio

Ambiente – CONAMA não editou resolução especificando padrões de lançamento de

esgotos sanitários para infiltração no solo. Também importa mencionar que na área em

apreço, não é possível qualquer lançamento de efluente no solo. 6

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Todavia, a título de informação, para se ter ideia da gravidade da

poluição que está sendo provocada no aquífero pelo ente demandado, importa esclarecer

que a Resolução CONAMA nº 430/2011, em seu art. 16, registra que os efluentes de

qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados diretamente no corpo receptor,

por exemplo, uma concentração de nitrogênio amoniacal total de até 20 mg/L. Embora

nessa resolução o CONAMA não especifique um padrão de lançamento em corpo hídrico

para esse parâmetro quando se tratar de efluentes oriundos de sistemas de tratamento de

esgotos sanitários, o valor encontrado para nitrogênio amoniacal total de 126,78mg/L para infiltrar no solo é muito elevado, e tem um grande potencial decontaminar o lençol de água subterrânea local com elevação da concentração denitrato, ainda mais quando se sabe que o solo local é constituído predominantemente de

areia dunar e que é fonte de abastecimento público de água potável para a população de

natal.

Nota-se que os resultados laboratoriais obtidos para coliforme

Termotolerantes foram de 1600000,0 NMP / 100mL, valor elevadíssimo que demonstra

que os efluentes são de esgoto bruto lançados em local que é utilizado em área de

captação de água para abastecimento humano.

Para se ter ideia, a Portaria do Ministério da Saúde 2.914, de

12/12/122), que dispõe sobre a qualidade de água para consumo humano e seus padrões

de potabilidade, não admite a existência de coliforme na água para abatecimento

humano.

Nas águas doces (de rios e lagoas) que servem para abasteciimento

humano, antes de serem tratadas, o valor máximo permitido de coliformes fecais

termotolerantes é de 200 por mililitros (art. 14 da Resolução 410/209 atualizada).

Sobre os coliformes termotolerantes, é importante mencionar que a

sua existência está ligada ao principal indicador de contaminação fecal. MARCOS VON

SPERLING1 explica que São um grupo de bactérias indicadoras de organismos1 Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Princípios do Tratamento Biológico de

Águas Residuárias. vol. 1. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – DESA UniversidadeFederal de Minas Gerais, p. 107.

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originários predominantemente do tato intestinal humano e outros animais. Este grupo

compreende o gênero Escherichia e, em menor grau, espécies de klebsiella, Enterobacter

e Citrobacter (WHO, 1993) (...) recentemente se prefere denominar os coliformes fecais

por coliformes termotolerantes, pelo fato de serem bactérias que resistem à elevada

temperatura do teste, mas não são necessariamente fecais.

A Resolução CONAMA 357/05, atualizada pela Resolução 410/2009 e

pela 430/2011 também traz a definição nos seguintes termos:

Art. 2º.(...)XI- coliformes termotolerantes: bactérias gram-negativas, em formade bacilos, oxidase-negativas, caracterizadas pela atividade daenzima B-galactosidase. Podem crescer em meios contendoagentes tenso-ativos e fermentar a lactose nas temperaturas de 44º- 45ºC, com produção de ácido, gás e aldeído. Além de estarempresentes nas fezes humanas e de demais animais homeotérmicos,ocorrem em solos, plantas ou outras matrizes ambientais que nãotenham sido contaminados por material fecal.

1.4. Necessidade de urgência para avaliar a estanqueidade das estruturas usadaspara armazenar os esgotos oriundos do Parque

Importa esclarecer que no dia da coleta das amostras, a 45ª

Promotoria do meio ambiente foi informada, via Whatsapp, pelo representante do Parque,

Carlos da Hora que:

foi iniciado ontem o esgotamento de 20m3 e concluido hojecom mais 20m3 de esgotos, totalizando 40m3 realizado nosreservatórios da entrada candelária e cidade nova. Segundo ochefe do setor de manejamento Uilton Campos, queacompanhou a operação, parou o vazamento do reservatóriocandelária (ETE). Segundo informações do departamentofinanceiro da SEMURB o esgotamento vai passar a ser feitoagora mensalmente.

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A despeito dessa providência de “limpeza” do local que está sendo

acumulado os esgotos do Parque, ficou nítida a desídia do Município de Natal com a

questão. A não estanqueidade da estrutura que existe no local ficou evidente.

Ficou nítido, ainda, que o Município precisa consertar, com urgência

as estruturas não estanques (que permitem vazamento) utilizados para armazenar os

esgotos gerados na área do Parque (banheiros etc); que não realizou a instalação do

sistema de tratamento de esgotos conforme licenciado e que precisa adequar toda a

estrutura existente.

Ficou comprovado, ainda, que o Município é poluidor e que precisa

encerrar, com urgência essa fonte de poluição.

1.5. Como deveriam ser e como estão sendo acumulados e destinados os esgotosprovenientes da Unidade de Conservação - Parque da Cidade

1.5.1. Como deveria ser o sistema de esgotamento do Parque

Como se observa à fl. 76 dos autos, em 14/12/2010, a SEMURB

expediu uma Licença de Instalação para implantação dos equipamentos de apoio da

Unidade de Conservação de Proteção Integração, na categoria de Parque Natural

Municipal, com área correspondente a 62,20ha.

Entre as condicionantes da Licença Ambiental expedida, no que se

refere aos esgotos gerados no Parque, consta na Licença de Instalação – LI o que segue:

10 – fica proibida a infiltração de efluentes sanitários (brutos,tratados ou resultantes de reúso) no interior da ZPA-1;

11 – A emissão da Licença Ambiental de Operação estácondicionada a efetiva implantação de estrutura de reúso quegaranta a não infiltração dos efluentes sanitários no interior daZPA-1. Caso o reuso não seja viabilizado, que seja garantido olançamento de esgotos em uma rede coletora de esgotos da

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CAERN. O projeto final deverá ser submetido ao DLOS, paraanálise e provação técnica.

12 – O empreendedor deverá construir um reservatório paraarmazenamento dos esgotos tratados como medida desegurança em caso de pane no sistema. Este reservatóriodeverá ter uma capacidade mínima para armazenar o volume deesgotos produzidos em um dia e deverá ser totalmenteimpermeabilizado.

13 – o funcionamento contínuo do Sistema de EsgotamentoSanitário deverá ser garantido por grupo gerador, enquantofonte de energia elétrica;(LICENÇA DE INSTALAÇÃO (RENOVADA) 240/2011, fl. 76, dosautos do inquérito civil n. 15/2011.)

Como visto, pela Licença expedida, o esgoto gerado nos

equipamentos do Parque da Cidade deveria ser destinado ao sistema público de

esgotamento da CAERN.

Em caso de impossibilidade de encaminhamento para a rede pública

instalada e em operação pela CAERN, o Município teria que instalar um sistema de

tratamento dos esgotos gerados e reutilizar o efluente desse esgoto nas próprias

instalações sanitárias do Parque. Em nenhuma hipótese, o esgoto poderia ser lançado no

ambiente. Nem esgotos tratados.

A Unidade de Conservação fica na área de captação de águapotável para abastecimento da população de Natal

Apesar das condicionantes impostas na licença de instalação, desde

o ano de 2012, este órgão ministerial tem realizado/requisitado diligências ao Parque da

Cidade. A despeito disso, nunca foi constatada a operação do sistema de esgotamento

sanitário como projetado.

O quadro a seguir revela e detalha a improvisação do sistema instala-

do no local, constatada através de informações realizadas pela SEMURB, pelo IDEMA e

pelo Ministério Público:

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QUADRO SÍNTESE – HISTÓRICO DO FUNCIONAMENTO DO SIST. DE ESGOTAMENTO DOPARQUE DA CIDADE

Órgão/ Data SITUAÇÃO DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO DO PARQUESEMURB - Junho

de 2012 -“A Estação de Tratamento não vem operando por não haver fluxo intensonas instalações sanitárias do Parque e de acordo com a demanda a mesmaé drenada por imunizadora contratada;” 2.

SEMURB – Maio de2013

“A ETE existente não está em funcionamento; e que não foi possívelidentificar para onde são direcionados esses efluentes, uma vez que amaioria dos banheiros estão desativados ou não foram concluídos;”3.

MPRN – Novembrode 2014

“O esgoto gerado no Centro de Visitas e no Pórtico Omar O’Grady éarmazenado em duas caixas de passagem que ficam do lado de fora daETE com capacidade de 10m3 (valor relatado pelo técnico da TECONPAV),e que depois é retirado”4

“(…) a frequência dessa coleta seria de apenas uma vez por mês, tendo emvista que o parque voltou a funcionar recentemente.”“Já os efluentes gerados no Pórtico Cidade Nova estão sendoarmazenados na caixa de passagem doo sistema e devido ao poucovolume gerado, ainda não foi realizado o esgotamento do local.”

IDEMA – Novembrode 2014

“Atualmente, os esgotos gerados no parque são encaminhados para duascaixas que antecedem a ETE, e periodicamente retirados por caminhãolimpa-fossa;”5

SEMURB –Setembro de 2016

“(…) o esgoto gerado no Parque está sendo direcionado à Estação deTratamento que foi implantada no local; todavia, a estação não estárealizando o tratamento de esgotos; não está em operação.Justificaram que a Estação de Tratamento não está em operação em razãoda quantidade de esgotos que é gerada no Parque; que não sabem dizer ovolume de esgotos que é gerado no Parque; (…) Que, atualmente, osesgotos ficam acumulados na Estação, como um reservatório e osadministradores do Parque acionam a CAERN para recolherem o esgoto doreservatório do Parque.”6

IDEMA – agosto de2016

“Os esgotos gerados no parque são encaminhados para dois pontos dearmazenamento, um localizado na ETE e outro próximo ao Pórtico deEntrada – Cidade Nova, de onde são retirados periodicamente porcaminhão limpa-fossa. Os esgotos produzidos no ponto de descanso E sãoenviados para a unidade de armazenamento próximo ao Pórtico de entrada– Cidade Nova e os demais esgotos produzidos nos pontos de descansos,B e D, juntamente com a torre e centro de visitantes são encaminhadospara a ETE, a qual encontra-se paralisada.”7

2 Oficio n. 1153/2012-SG/SEMURB, fl 116/117 dos autos do inquérito civil n. 15/2011.3 Relatório de fiscalização ambiental 058/2013/FAIC, fl 161/166 dos autos do inquérito civil n. 15/2011.4 Relatório de vistoria, fl. 275/281 dos autos do inquérito civil n. 15/2011.5 Relatório de vistoria, fl. 289/291 dos autos do inquérito civil n. 15/2011.6 Ata de audiência, fl. 325/326 dos autos do inquérito civil n. 15/2011.7 Ata de audiência, fl. 333, dos autos do inquérito civil n. 15/2011.

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1.5.2. Para onde estão indo os esgotos do Parque, atualmente?

Diversamente do que foi licenciado, os esgotos do Parque estão sen-

do armazenados, sem qualquer tratamento, em estruturas sem comprovação de estan-

queidade, que deveriam servir apenas para passagem e tratamento.

Estrutura, que antecede a Estação de Tratamento de Esgotos (inativa), sendo utilizadapara o armazenamento de esgotos (15/03/208).

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Tanques da Estação de Tratamento de Esgotos (inativa) sendo utilizados para oarmazenamento de esgotos gerados no Parque da Cidade.

Os croquis a seguir demonstram de forma esquemática como está

sendo o armazenamento inadequado dos esgotos, atualmente e como deveriam ser:

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1.6. Importância da área – Unidade de Conservação de proteção integral

O local onde foi detectado o lançamento de esgotos in natura, trata-se

de uma Unidade de Conservação e proteção integral, na categoria Parque Natural Munici-

pal, criado pelo Decreto Municipal 8.078/2006. O Decreto Municipal 9.481/2011 alterou o

nome da Unidade de Conservação para “Parque Natural Municipal da Cidade do Natal”,

conhecido também como Parque da Cidade ou Parque Don Nivaldo Monte.

A área também é de importância ímpar para o abastecimento de água

potável da população da cidade de Natal. A água dos poços da CAERN que ficam nas

proximidades da UC abastece as seguintes localidades/Bairros da cidade: Candelária, La-

goa Nova, Cidade da Esperança, Cidade Nova, Nazaré, Bom Pastor, km. 6, Felipe Cama-

rão, Nova Cidade, Neópolis, Capim Macio, Cidade Jardim, Parque das Colinas, San Vale,

Conjunto Jiqui. Jiqui, Potilândia.

1.7. Histórico do problema sanitário do Parque e tentativa extrajudicial de impedir apoluição detectada no local

Além das Notas Técnicas e laudos laboratoriais que seguem em

anexo à presente petição, consta, também, em anexo, a íntegra do Inquérito Civil 15/2011

que foi instaurado desde 9/11/2011, com vistas a investigar a situação do esgotamento

sanitário do Parque da Cidade, uma vez que a questão sempre foi uma preocupação do

Ministério Público, pelo fato do Parque ser uma unidade de conservação que foi instituída

exatamente para a proteção do aquífero que existe na área e que é utilizado para o

abastecimento público de água para a população.

Como se pode analisar nos documentos juntados, até o ano de 2014,

não havia muita visitação no Parque, razão pela qual a questão sanitária não apresentava

tanto risco. Consta às fls. 170/178 dos autos, cópia do contrato celebrado entre a

SEMURB e a empresa TECONPAV para os serviços de restauração e construção do

Parque (datado de 12/08/2013).

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Com a inauguração ocorrida no ano de 05/06/2014 (Dia Mundial do

Meio Ambiente), as estruturas sanitárias tornaram-se imprescindíveis. Houve a

necessidade de regulamentar as atividades do parque, o que foi realizado através da

Portaria 28/2014, como se observa à fls. 256 e segs. Ressalta-se que no art. 28, VIII da

Portaria, consta a proibição de “descartar quaisquer tipo de efluente que possam infiltrar

e contaminar o solo, exemplo: os decorrentes de lavagem de veículos e equipamentos,

óleos, graxas lubrificantes e tintas”

Há nos autos (fls. 211/220) informações sobre várias atividades e

eventos que costumam ocorrer no local, tais como festivais literários, atividades em sala

de aula do centro de educação ambiental, entre outros. À fl. 332 por ex., consta a

informação de que em 2015, o Parque recebeu 220.000 visitantes.

O Município chegou a realizar diversos investimenteos em melhorias

das instalações do Parque. Mas, apenas melhorias de instalações visíveis, como no

próprio monumento que identifica o Parque (que é de Oscar Niemeyer), nos elevadores,

nos banheiros, no auditório etc.

Os próprios gestores do Parque, como se observa à fl. 332 dos autos,

em ofício datado de 15/03/2016 revelaram a precariedade do destino dos esgotos do

Parque à SEMURB, registrando:

“em 2015 o Parque da Cidade recebeu mais de 220.000 visitantes.Esta demanda de pessoas gera um expressivo volume deesgotos devido principalmente à utilização dos banheiros doCentro de Visitantes e dos pontos de apoio nas trilhaspavimentadas. Atualmente, para o esgotamento sanitário dessasestruturas, existe no parque uma rede com tanques deacumulação que necessitam de esvaziamentos periódicos. (…)Pelo exposto, dada nossa necessidade urgente, solicitamos deV, Sa disponibilização de caminhões de esgotamnto a váculopara o esvaziamento e transporte de cerca de 40m3 de esgotosacumulados nos tanques situados nas estradas e nas trilhaspavimentadas do Parque.

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45ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DE NATAL

Do ano de 2016 para a presente data, o Ministério Público intensificou

a cobrança para que o Município adequasse o sistema de tratamento de esgotos,

realizasse a implantação do sistema conforme licenciado. Para tanto, como já relatado,

realizou audiências, vistorias e uma recomendação.

Infelizmente não houve o investimento necessário nas estruturas que

são relativas ao sistema de tratamento de esgotos, que, embora não visíveis para o

público, são essenciais e dizem respeito à própria fundamentação que justifica a

instalação do Parque, que é a proteção do aquífero.

Nem mesmo com solicitações, requisições e recomendação

ministerial foi possível que o Município de Natal assumisse a responsabilidade

constitucional e legal que é de cuidar do ambiente e de não poluir, principalmente na área

que abastece a cidade de Natal

2. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

2.1. Base constitucional para os pleitos

A qualidade do meio ambiente é um direito fundamental da pessoa

humana, garantido de forma ampla na Constituição Federal. Como diz JOSÉ AFONSO

DA SILVA,8 a Constituição Federal é eminentemente ambientalista. Assumiu o tratamento

da matéria em termos amplos e modernos (...) a questão permeia todo o seu texto,

correlacionada com os temas fundamentais da ordem constitucionais.

Realmente, a Constituição, além de dedicar um Capítulo inteiro ao

meio ambiente (Cap. VI, do Título VIII), refere-se à matéria, explícita e implicitamente, em

vários outros dispositivos; ou seja, os valores ambientais estão presentes em todo o seu

texto.

De todo o arcabouço traçado pela Constituição, vale destacar o art.

225, que precisa ser considerado de modo especial, uma vez que vincula a qualidade do

meio ambiente à sadia qualidade de vida, como se pode observar:8 Direito Ambiental Constitucional. Malheiros, 1997.

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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamenteequilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadiaqualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade odever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futurasgerações.

Também, o direito à saúde precisa ser enfatizado como um direito

constitucional da pessoa humana, nos seguintes termos:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantidomediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dorisco de doença e de outros agravos e ao acesso universal eigualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção erecuperação

No que diz respeito ao saneamento ambiental, por exemplo, a

Constituição Federal trata da matéria de modo integrado, abordando os preceitos

relativos à saúde, ao meio ambiente e ao bem estar da população, relacionando-os ao

desenvolvimento e à própria noção de cidade (arts. 21, XX, art. 182, art. 200, IV e VIII;art.225).

Não se pode negar que o conceito de saneamento ambiental está

entrelaçado com a própria noção de saúde. Com efeito, a Organização Mundial de Saúde,

OMS, que é uma organização internacional especializada, ligada à Organização das

Nações Unidas, ONU e que tem por objetivo levar todos os povos ao nível de saúde mais

elevado possível, definiu saúde como o estado de completo bem estar físico, mental e

social e não apenas a ausência de doença ou de qualquer afecção. Como se observa, a

definição da OMS associa o saneamento ao controle dos fatores do meio físico do

Homem que exercem efeito nocivo sobre o seu bem-estar físico, mental e social.

Importa acrescentar que a área que está sendo poluída é uma

Unidade de Conservação da Natureza ou seja, é um espaço territorial especialmenteprotegido, nos termos do art. III do art. 225 da Constituição, sendo “vedada qualquer

utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção”.

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2.2. Descumprimento pelo município do seu dever constitucional de proteger omeio ambiente

A proteção do meio ambiente e o combate à poluição são imperativos

constitucionais que cabem a todos os entes públicos realizar, inclusive ao Município.

Realmente, a Constituição é clara ao estabelecer:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do DistritoFederal e dos Municípios:VI- proteger o meio ambiente e combater a poluição emqualquer de suas formas

O dispositivo, como afirmam os doutrinadores constitucionalistas, diz

respeito à competência material, ao dever de prestação de serviços, de tomada de

providências para a proteção ambiental.

O art. 30 da Constituição Federal, em seu inciso V também preconiza

a obrigatoriedade do Município, quanto às questões relativas aos serviços públicos de

interesse local, nos seguintes termos:

Art. 30. Compete aos Municípios:(...)V- organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão oupermissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o detransporte coletivo, que tem caráter essencial.

No caso dos autos, o Município tem agido tanto por omissão, por

deixar de adotar todas as providências possíveis para conter a poluição na área, quanto

por ação, tendo em vista que ele não apenas se omitiu, no tocante ao dever de cuidado

dessa área especialmente protegida. O próprio Município, na situação presente é opróprio causador da poluição que tem o dever constitucional de proteger!

Já que não foi possível a solução extrajudicial da situação (muitas

vezes tentada, como demonstrado nos autos), a única forma de solucionar a poluição

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detectada é recorrendo-se ao Poder Judiciário para garantir à à população de Natal o seu

direito fundamental de ter o meio ambiente hígido, com base no art. 5º, XXXV, cabe

proporcionar a garantia desse direito.

2.3. Caracterização do Município como poluidor, nos termos da legislação em vigor

A competência para legislar sobre a proteção do meio ambiente e

controle da poluição é da União, em razão da competência legislativa concorrente que,

nos termos do §2º do art. 24 da Constituição Federal, cabe estabelecer as normas gerais,

como se observa:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federallegislar concorrentemente sobre:VI- florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meioambiente e controle da poluição.

Conforme preleciona JOSÉ AFONSO DA SILVA:

à União resta uma posição de supremacia no que tange à proteçãoambiental. A ela incumbe a Política Geral do Meio Ambiente, oque já foi materializado pela Lei 6938/81.

O art. 3º da Lei 6938/81 também traz o conceito de poluição nosseguintes termos:

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:(…)III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante deatividades que direta ou indiretamente:a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar dapopulação;b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrõesambientais estabelecidos;

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O Município não realizou um sistema de esgotamento sanitário

adequado no na área da Unidade de Conservação. Instalou de forma precária umas

caixas de acumulação de esgotos. Deixou extravasar esgotos diretamente no solo.

Com essas ações e omissões, o Município de Natal passou a ser

considerado, de acordo com a definição legal como POLUIDOR, tendo em vista que

lança matérias em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos, além de

contribuir negativamente para a saúde da população.

A conduta do Município em instalar de modo precário um sistema de

tratamento de efluentes de um Parque Municipal, que é aberto à visitação e possui fluxo

intenso de pessoas, que possui banheiros para os visitantes e para a parte administrativa

é grave. Tornou-se mais grave ainda pelo fato de que tanto setores técnicos do Município,

quanto a Procuradoria Geral do Município teve ciência do problema e recebeu até mesmo

RECOMENDAÇÃO para providenciar a solução do problema. E nada foi realizado!

2.4. Responsabilidade do Município pela poluição ocasionada no local

As condutas comissivas e omissivas do município de Natal – de

realizar de forma precária um sistema de acumulação dos esgotos do Parque Municipal

de Natal, ocasionando lançamento de esgotos no solo, local utilizado para abastecimento

público de água tem causado poluição, como já explicitado.

O art. 225 da Constituição Federal faz referência à responsabilidade

pelas condutas lesivas ao meio ambiente nos seguintes termos:

Art. 225(...)§3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meioambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, asanções penais e administrativas, independentemente da obrigaçãode reparar os danos causados.

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No patamar infraconstitucional, é essencial mencionar o que diz o art.14 §1º da Lei 6938/81:

Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislaçãofederal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidasnecessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danoscausados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará ostransgressores:(...)§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas nesteartigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existênciade culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meioambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O MinistérioPúblico da União e dos Estados terá legitimidade para propor açãode responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meioambiente.

A conduta do Município de Natal, portanto, consistente em instalar em

uma Unidade de Conservação (da categoria Parque Municipal) um sistema insuficiente e

precário de acumulação de esgotos chamou para si a obrigação de reparar os danos

decorrentes, em razão da responsabilidade objetiva que norteia as questões ambientais.

Infringiu, ainda, dispositivos da Constituição Federal, da Legislação Federal e da

Municipal, como visto.

Além dos dispositivos já citados, importa destacar o art. 3º da Lei

6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente), porque este dispositivo traz a definição de

poluidor, nos seguintes termos:

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:(…)IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ouprivado, responsável, direta ou indiretamente, por atividadecausadora de degradação ambiental;

De acordo com o conceito legal, tem-se que o ente público municipal,

ora demandado é poluidor, uma vez que, com suas ações e omissões, tem prejudicado a

saúde, a segurança e o bem-estar da população, criado condições adversas às atividades

sociais e econômicas, afetado as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente.

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Ou seja, o Município de Natal, ao invés de estar combatendo a

poluição em todas as suas formas, como é seu dever constitucional, está dando causa à

poluição constatada. Com tal proceder o Município de Natal tem interferido negativamente

na saúde, no bem-estar e na qualidade de vida da parcela da população que reside no

trecho afetado pelos alagamentos.

2.5. Da obrigação do Município de reparar o dano ocasionado

Como já mencionado, a responsabilidade pelo dano ambiental é

objetiva, nos termos do § 1º do art. 14 da Lei 6.938/1981, quando afirma que (...) “é o

poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os

danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade ”. Reforça-se

tal proposição legal com as disposições do art. 4º dessa mesma lei, quando insere entre

os objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente a obrigação, imposta ao poluidor e ao

depredador, de recuperar e/ou indenizar os danos causados, seguindo-se assim a matriz

constitucional do § 3º do art. 225 da Constituição Federal.

Basta, assim, demonstrar, como já foi vastamente realizado no relato

dos fatos, que o dano ambiental adveio da ação ou omissão atribuída ao réu,

prescindindo-se de elementos subjetivos.

A previsão legal da obrigação de reparar/indenizar sem se aquilatar o

elemento culpa, portanto, consta no art. 225, § 3º, da Constituição Federal e arts. 4º, inc.

VII, e 14, § 1º, da Lei 6.938/1981, que não destoam das disposições do parágrafo único

do art. 927 do Código Civil, que institui a obrigação de reparar, independentemente de

culpa, nos casos especificados em lei. Tais dispositivos legais, aliados aos arts. 1º e 3º da

Lei Federal 7.347/85, que disciplina a ação civil pública, possibilitam a cumulação de

pedidos reparatórios, indenizatórios e compensatórios com os de obrigação de fazer ou

de não fazer9.

9 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo:Revista dos Tribunais. 2000. p. 217.

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A defesa da qualidade do meio ambiente tem natureza metaindividual

e ao serem agredidos resultam em danos para a coletividade. Por terem sido afetados de

forma significativa e relevante pela conduta dos réus, ensejam uma reparação.

2.6. Natureza jurídica da área atingida pela poluição – Unidade de Conservação daNatureza – categoria Parque Municipal

Importa ressaltar que a poluição detectada está ocorrendo no local

onde existe uma Unidade de Conservação da natureza, que tem proteção constitucional e

legal.

Com efeito, o espaço é regido pela Lei Federal 9.985/2000, que

institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

Nos termos do art. 2º, inciso I da mencionada Lei, uma Unidade de

Conservação é um espaço de grande relevância ambiental e seu objetivo é garantir a

proteção de seus recursos ambientais, inclusive hídricos, como se observa:

Art. 2º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursosambientais, incluindo as águas jurisdicionais, comcaracterísticas naturais relevantes, legalmente instituído peloPoder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sobregime especial de administração, ao qual se aplicam garantiasadequadas de proteção;

O Decreto Municipal 8.078/2006, que criou o Parque da Cidade de

Natal, Unidade de Conservação e proteção integral na categoria Parque Natural Munici-

pal, estabeleceu expressamente a aplicação das normas previstas na Lei Federal

9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Proteção da Natureza, SNUC.

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2.7. Da necessidade de adequar o sistema de esgotamento sanitário do ParqueMunicipal segundo direcionamento do órgão ambiental estadual

O sistema sanitário do Parque precisa ser adequado e devidamente

licenciado para poder ser considerado ambientalmente legalizado. As regras do

licenciamento ambiental, no âmbito federal, são estabelecidas na Política Nacional do

Meio Ambiente, Lei 6938/81 e na Resolução CONAMA 237/97.

No município de Natal, o órgão responsável pelo licenciamento da

atividade é a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, SEMURB. Ocorre que

é a própria SEMURB que administra o Parque e que não realizou a adequação do

sistema existente no local.

Em razão disso, torna-se necessária uma atuação subsidiária do

órgão ambiental estadual, nos termos do art. 2º, II da Lei Complementar 140/2011 , que,

no Estado do Rio Grande do Norte, é o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio

Ambiente – IDEMA para avaliar a situação atual do sistema e indicar a solução adequada

para a adequação do mesmo.

2.8. Proibição de lançamento de qualquer efluente no solo na área do Parque eentorno

Importa registrar, ainda, que na área do Parque não é possível lançar

qualquer efluente líquido sanitário ou industrial no solo. Além de ser uma Unidade de

Conservação, como já esclarecido, a área é de interesse para o abastecimento público e

insere-se na Zona de Proteção Ambiental – ZPA – 1, que é regulamentada pela Lei

Municipal 4.664/1995, por ser um campo dunar.

Importa salientar, ainda que de acordo com o art. 8º da mencionada

Lei “Fica proibida a instalação de quaisquer empreendlmentos que resultem na formação

de resíduos líquidos poluidores ou de quaisquer outros que possam vir a provocar

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degradação ambiental na Área, segundo parecer do órgão que trata do meio ambiente no

Município de Natal.

A Licença de Instalação (fls. 76) prevê expressamente na

condicionante de número 10, que “Fica proibida a infiltração de efluentes sanitários

(brutos, tratados ou resultantes de reúso) no interior da ZPA 1” .

No caso dos autos, o sistema projetado para o local foi de reúso,

portanto, não possibilitando qualquer lançamento de resíduos no solo. Sistema do tipo

fossa séptica com infiltração dos esgotos efluentes no solo através de sumidouros ou

valas de infiltração, portanto não é possível no local, porque resulta em efluentes para

o solo. A adequação do sistema, assim só é possível diante as seguintes possibilidades:

1) com a implantação de um sistema eficiente, contemplando o reúso do efluente que

teria que ser tratado de acordo com a legislação ambiental correspondente e devidamente

licenciado, sem lançamento no solo; 2) com a interligação dos esgotos à rede da CAERN,

que por sua vez precisa estar instalada e operando, ou seja, levando os esgotos para

uma Estação de Tratamento de Esgotos.

3. PEDIDOS EM SEDE DE LIMINAR

Avaliando os requisitos para concessão da antecipação de tutela em

caráter liminar autorizada pelo art. 12, caput, da Lei 7.347/85 (Ação Civil Pública), bem

como as amparadas pelo arts. 300 e segs do novo Código de Processo Civil, pode-se

afirmar que os elementos que evidenciam a probabilidade do direito e o perigo da demora

e/ou a urgência são de fácil percepção.

Com certeza, pela análise dos fatos relatados e devidamente

comprovados nos elementos do Inquérito Civil, com destaque para as vistorias e

resultados dos laudos laboratoriais realizados, que seguem em anexo, a proteção

ambiental e à saúde humana, aqui pleiteada encontra completo respaldo jurídico e,

consequentemente, a plausibilidade do direito substancial encontra-se palpável.

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Como já demonstrado, os preceitos Constitucionais e

infraconstitucionais que amparam o pleito são robustos. As providências necessárias à

eliminação da poluição continuada, por acumulação de esgotos em local improvisado,

com vazamento (não estanque) e, também, pelo lançamento de esgotos sem tratamento

no solo, na área de abrangência do aquífero que é utilizado para extração de água

potável e abastecimento de grande parte da população da cidade de Natal é premente.

A área onde fica a Unidade de Conservação - Parque da Cidade é o

principal local de recarga do aquífero e principal (último) manancial subterrâneo de água

para abastecimento humano e que ainda contém água de qualidade e com NITRATO em

níveis permitidos pela Organização Mundial da Saúde e pela Portaria do Ministério da

Saúde que trata da potabilidade da água para consumo humano. (em razão dessas

qualidades, a área foi qualificada e implementada como Unidade de Conservação). A

região contribui com mais água para o sistema de abastecimento público da cidade do

que a própria Lagoa do Jiqui. A CAERN explora o manancial através de poços de

captação que levam água para o sistema, como demonstrado no mapa do tópico 1 da

presente peça.

A medida visa a garantir a sadia qualidade de vida da população

difusamente considerada, bem como tem foco na saúde, na vida e no bem-estar dos

moradores das regiões sul, leste e oeste da cidade, que dependem da água potável da

região para o seu abastecimento.

A efetivação do direito fundamental à vida está em foco. O direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado é, em síntese, um desdobramento do Direito

mor, que é o direito à vida. Os preceitos constitucionais e infraconstitucionais trazidos aos

autos respaldam com fartura o direito defendido.

Tudo o que foi alegado foi robustamente comprovado. O flagrante

realizado nas instalações de armazenamento de esgotos com vazamento foi registrado

por fotografias tanto no dia 15/03/2018, quanto no dia 19/03/2018, com esgotos

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vazando de forma continuada da estrutura improvisada de armazenamento deesgotos do Parque. Importa mencionar que a estrutura encontra-se, portanto, não

estanque, tendo em vista que o que foi flagrado foi o vazamento pela lateral da estrutura

de um tanque e não por cima de um tanque (se fosse por cima seria extravasamento por

excesso de esgotos).

O resultado das análises laboratoriais foi enfático em demonstrar que

os efluentes são ESGOTOS NÃO TRATADOS. Foram assustadores os resultados

encontrados em relação a COLIFORMES TERMOTOLERANTES (1600000,0 NMP) E

NITROGÊNIO AMONIACAL 126,78 mg/L, revelando, portanto grave poluição provocada

pelo Município na área de recarga do aquífero e de extração de água potável para a

população de Natal.

As amostras coletadas foram analisadas na Central Analítica doNUPPRAR. Os resultados obtidos parcialmente (CMP2018.03-43-A1) indicam que a provável origem do efluente é domésticadevido à elevada concentração dos parâmetros de Coliformestermotolerantes e Nitrogênio Amoniacal

Quanto ao perigo da demora (periculum in mora), forçoso é convir

que esse quesito também se encontra atendido. A demora para eliminar as causas dos

vazamentos da estrutura de armazenamento e de tratamento de esgotos oriundos do

Parque da Cidade ocasiona a poluição continuada do solo e do aquífero exatamente da

região de onde se extrai água para o abastecimento da população da cidade. E essa

poluição é de difícil e até mesmo, dependendo do grau, de impossível remediação.

Principalmente na área de onde se extrai água para o abastecimento humano da

população de Natal.

No caso, para eliminar a poluição, o Município precisa realizar

diligências urgentes, além das definitivas. As urgentes são no sentido de eliminar a fonte

poluidora, que inclui os reparos das instalações não estanques (que estão vazando).

Torna-se premente, inclusive, fazer um teste de estanqueidade em todas as instalações,

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tubulações, tanques e todas as demais estruturas, para se detectar a existência de outros

vazamentos, Este teste não é complexo, costuma e deve ser realizado com

acompanhamento técnico (engenheiro sanitarista) e na presença do órgão ambiental.

Nesse caso deve ser o IDEMA (que é o órgão ambiental estadual) já que a SEMURB

(órgão ambiental municipal) é que tem dado causa e/ou contribuído para a poluição

detectada.

Como ficou comprovado, em razão gravidade e da urgência dos fatos

constatados, além da solução definitiva – que é de adequação do sistema, ficou clara a

necessidade do Município de Natal realizar ações emergenciais para impedir a

continuidade do lançamento de esgotos in natura no solo / aquífero.

Assim, as diligências urgentes consistem, em primeiro lugar, no

imediato esvaziamento do local onde se encontram acumulados os esgotos do Parque.

Em seguida, na realização do Teste de Estanqueidade para se aferir onde há vazamento

para que seja realizado o conserto imediato dos locais não estanques. Também impera

que sejam interditados os banheiros e instalações hidrossanitárias existentes no local

para impedir o lançamento indevido de líquidos e esgotos nas caixas instaladas de forma

improvisada para acumulação dos esgotos do Parque.

Desse modo, atendidos os requisitos legais, o Ministério Públicovem requerer a Vossa Excelência, EM RAZÃO DA URGÊNCIA, DA GRAVIDADE DASITUAÇÃO E DA NECESSIDADE DE CESSAR, COM URGÊNCIA O VAZAMENTO DEESGOTOS GERADOS NO PARQUE EM RAZÃO DE ESTRUTURAS NÃO ESTANQUES,a concessão de medida liminar, para obrigar o Município de Natal a:

1. Realizar o esvaziamento total imediato do local onde estão sendoarmazenados os esgotos oriundos da Unidade de Conservação – ParqueNatural Municipal da Cidade do Natal (Parque da Cidade), localizado na RuaPrefeito Omar O´grady, no Bairro de Pitimbu/Candelária, nesta cidade deNatal, utilizando empresas devidamente licenciadas para realização da

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atividade, com garantia de que os esgotos serão lançados em localambientalmente adequado e devidamente licenciado, com acompanhamentodo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN –IDEMA ;

2. Realizar teste de estanqueidade em todas as estruturas de armazenamento etratamento de esgotos, com acompanhamento do Instituto deDesenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN – IDEMA (ressalta-seque o flagrante do vazamento dos esgotos do Parque foi realizado na lateralde um tanque não estanque. Outras estruturas podem também apresentarvazamentos não visíveis);

3. suspender temporariamente a utilização dos banheiros e demais estruturashidrossanitárias existentes no Parque, instalando banheiros químicos nolocal e/ou suspendendo a visitação no local, até a regularização ambiental eadequação do sistema de tratamento de efluentes do Parque (que não podelançar efluentes no solo, mesmo após tratamento) e/ou até a interligação dosesgotos oriundos do Parque à rede da CAERN instalada e em regularoperação (essa rede coletora ainda não existe);

4. que seja requisitada uma vistoria do IDEMA, órgão ambiental estadual,localizado na Avenida Almirante Alexandrino de Alencar, 1701. Tirol, Natal, RNpara que, a título de atuação subsidiária, realize um parecer técnicoinformando a esse Digno Juízo quais as providências faltantes para que osistema de esgotamento do Parque da Cidade seja regularizadoambientalmente, de forma a não lançar efluentes no solo.

Requer, outrossim:

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45ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DE NATAL

5. Com fulcro no art. 12, § 2º, da Lei 7.347/85, a imposição de multa diária pelonão cumprimento das medidas liminares concedidas, devendo o respectivomontante ser revertido para o fundo de que trata o art. 13 da Lei 7.347/85;

6. a intimação pessoal do Prefeito de Natal para ciência da demanda e dasdecisões correspondentes, para efeitos de responsabilização pessoal futura,em caso de descumprimento.

4- DOS PEDIDOS CONCLUSIVOS

Diante de todo o exposto, além da ratificação dos pedidos acima

arrolados, o Ministério Público requer:

1. a citação da parte demandada, pelo seu representante legal, no endereço jáindicado, para contestar ou concordar com o pedido;

2. a procedência dos pedidos, para, além dos pedidos já arrolados em sedeliminar, determinar, também, à parte demandada:

2.1 na obrigação de fazer: realizar a adequação ambiental do sistemade tratamento de esgotos sanitários do Parque da Cidade, devidamentelicenciado, de modo a impedir o lançamento de efluentes (mesmotratados) no solo, com a implantação de um sistema eficiente,contemplando o reúso do efluente que teria que ser tratado de acordocom a legislação ambiental correspondente e devidamente licenciadoou realizar a interligação dos esgotos à rede da CAERN, que por suavez precisa estar instalada e operando, ou seja, levando os esgotospara uma Estação de Tratamento de Esgotos.2.2. Na obrigação de fazer consistente em reparar a área degradada pordespejo ilegal de esgotos, conforme providências a serem apontadaspelo IDEMA.

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45ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DE NATAL

3. a publicação de edital em consonância com o art. 94 da Lei 8.078/90, c/c oart. 21 da Lei 7.347/85, a fim de dar conhecimento a terceiros interessados eao público em geral, considerando, notadamente o caráter erga omnes daação civil pública:

4. a juntada dos autos do inquérito civil em anexo;

5. a produção de todas as provas permitidas no Direito;

6. a condenação dos demandados aos honorários de peritos, que porventuraforem necessários e verbas sucumbenciais de praxe.

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 para efeitos fiscais.

Termos em que, espera deferimento

Natal, 21 de março de 2018.

GILKA DA MATA45ª Promotora de Justiça de Defesa de Meio Ambiente em Natal

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