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47 cenas de um romance familiar
andré vianna 47 cenas de um romance familiar romance
Capa Paula Vianna Cláudia Carneiro Revisão Cláudia Carneiro Projeto Gráfico e Diagramação Cláudia Carneiro Paula Vianna
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vianna, André 47 cenas de um romance familiar : romance / André Vianna. -- São Paulo : PerSe, 2011. ISBN 978-85-64280-06-9 1. Ficção brasileira I. Título.
11-04984 CDD-869.93
Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93
em memória de meus pais
aos queridos Paulo Sérgio, Cecília e Paula,
sempre, e Gabriela e Emílio,
para que tomem gosto pelas palavras
“Ao crescer, o indivíduo liberta-se da autoridade dos pais,
o que constitui um dos mais necessários, ainda que mais dolorosos,
resultados do curso do seu desenvolvimento. Tal liberação é primordial e presume-se que
todos que atingiram a normalidade lograram-na pelo menos em parte.
Na verdade, todo o progresso da sociedade repousa sobre a oposição entre as gerações sucessivas.”
Sigmund Freud,
Romances familiares (1914). In “Gradiva” de Jensen e outros trabalhos,
Ed. standard das obras completas, v. IX, p. 219. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
“ ... o romance familiar merece amplamente seu crédito e a fortuna
que manifestamente o aguarda quando seu epíteto cair no esquecimento: ele introduz no conflito típico da infância,
nessa crise que, para além de todas determinações particulares,
é o sinal distintivo do humano, não decerto uma solução, mas o mais simples,
mais engenhoso, mais genial dos expedientes.”
Marthe Robert,
Romance das origens, Origens do romance.
São Paulo: Cosacnaify, 2007, p.42.
sumário
prólogo brevíssimo, 13 o de óleo-de-fígado-de-bacalhau, 15
a canequinha, 21 como abotoar uma camisa, 25
visitas, 29 sinceridade, 31
a bola de Pedro, a bola de Paulo, 33 o ribeirão ou a bola de Paulo, 37
a mulher gorila, 41 Lello & irmãos, 43
latinista, 47 o nome da mãe, 49
maré alta, 59 turpilóquio, 63
a cerveja estragada, 65 o primeiro carnaval, 71
inveja, 73 a escolha do nome, 77 vertigem da maré, 81
ato falho, 85
a bondade de maria, 87
a filha, a mãe e o pediatra, 91 bondade infinita, 93
o pai, o natal e o livre arbítrio, 95 uma cajadada, dois coelhos, 101
presente de aniversário, 103 tiroteio, 107
cólera, modo de tratar, 109 festa de aniversário, 113
aprender a votar, 119 Pedro ganhou do pai uma câmara fotográfica, 123
igualdade, 127 Dalila, 129
anorexia, 135 quem é Pedro Paulo?, 137
vingança, 141 Xodó, 143
casmurro, 149 nunca mais cacei, 151
instinto, 157 insólita visita, 161 autobiografia, 167
aula de ciências, 169 aprender o essencial, 171
doce gratidão, 173 perfume, 175
menino escritor, 177 amor é isso, 179
13
prólogo brevíssimo
Meu nome é Pedro e espero alguma
generosidade por parte do possível leitor, que ele não desanime e não desista logo no primeiro episódio, julgando-o demasiado fútil. Apenas o cenário completo ⎯ este conjunto de cenas ⎯ pode revelar a ideia do romance familiar que agora vem a público.
Os quadros podem ser lidos ⎯ e relidos, se convier ao leitor complacente ⎯ em qualquer ordem, e o sentido do romance não se perderá.
Desnecessário alertar que qualquer semelhança com a realidade... Embora, num certo sentido, os romances familiares sejam sempre verdadeiros.
15
o de óleo-de-fígado-de-bacalhau
⎯ E se o pai não gostar? ⎯ Nem pensar. Vamos seguir nosso plano
que tudo vai dar certo. ⎯ Mas se ele não gostar?... ⎯ Você deixa que eu falo, você apenas
concorda comigo, precisa concordar, fica do meu lado, você não está do meu lado?, preciso você do meu lado!, balança a cabeça para mostrar que pensa como eu, tá bom?
⎯ Tá. ⎯ Será amanhã cedo, na hora de sempre,
pouco antes do café. ⎯ Eu sei. ⎯ Então, combinado. O diálogo entre os dois meninos foi mais ou
menos assim. O mais velho, com 6 anos, o mais novo com 5, Pedro e Paulo os seus nomes. Diante de uma situação calamitosa, insuportável de uns tempos para