48650193 Monografia Musicalizacao de Adultos Por Zelia Pimenta Uemg

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ESMU ESCOLA DE MSICA CURSO DE PS-GRADUAO PRINCPIOS E RECURSOS PEDAGGICOS EM MSICA

MUSICALIZAO DE ADULTOS: ABORDAGEM SEMELHANTE ADOTADA NO PROCESSO DE MUSICALIZAO INFANTIL

ZLIA PIMENTA DA SILVA

BELO HORIZONTE 2009

MUSICALIZAO DE ADULTOS ABORDAGEM SEMELHANTE ADOTADA NO PROCESSO DE MUSICALIZAO INFANTIL.

Por Zlia Pimenta da Silva

______________________

Monografia submetida ao Curso de PsGraduao da Universidade do Estado de Minas Gerais como requisito parcial obteno do ttulo de Especialista em Princpios e Recursos Pedaggicos em Msica. Orientadora: Professora Betnia Parizzi.

Belo Horizonte 2009

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus que me fortaleceu, transmitindo a confiana necessria para prosseguir, mesmo diante das adversidades que surgiram. minha famlia pelo carinho e ateno durante todo o processo, em especial minha me, Maria Zzima da Cunha, pelo apoio incondicional. Professora Betnia Parizzi pela orientao, direo e confiana e Professora Gisele Marino pelas sugestes enriquecedoras. direo do Ncleo Villa-Lobos de Educao Musical e Professora Simone Teles Lopes pela pacincia durante o trabalho de campo nas aulas de musicalizao que embasaram esta pesquisa. Por fim, queles que de uma forma ou de outra colaboraram efetivamente para a finalizao desta monografia.

Toda teoria pedaggica tem seus fundamentos baseados num sistema filosfico. a filosofia que, expressando uma concepo de homem e de mundo, d sentido Pedagogia, definindo seus objetivos e determinando os mtodos da ao educativa. Nesse sentido, no existe educao neutra. Ao trabalhar na rea de educao, sempre necessrio tomar partido, assumir posies. E toda escolha de uma concepo de educao , fundamentalmente, o reflexo da escolha de uma filosofia de vida.

Hayd

RESUMO

A observao que se tem feito que a tradicional forma de insero do adulto nos estudos musicais tem sido um pouco rude ao longo do tempo e, na maioria das vezes, sem um prvio processo de musicalizao. Esse processo priorizado na fase infantil, na qual os resultados, em sua maioria, tm provado o quanto imprescindvel e eficaz no fazer musical de todo musicista. Essa pesquisa investiga como uma proposta de abordagem semelhante adotada num processo de musicalizao infantil pode influenciar na descontrao e espontaneidade de alunos adultos numa experincia de musicalizao. O jogo o facilitador da abordagem dos contedos e o aspecto ldico o suporte para tornar essa iniciao musical mais atraente e motivadora. O objetivo tentar encontrar uma orientao pedaggica estimulante para essa faixa etria. O adulto traz consigo facilidades em relao criana tais como assimilao rpida e agilidade no raciocnio que proporcionam maior velocidade, reduzindo quase que pela metade o tempo do aprendizado. Fatores diversos explicam isso, cognio um deles. As adaptaes acontecem pelas naturais diferenas. A reflexo sobre a forma tradicional de insero do adulto na msica toma propores ainda maiores, frente aos resultados alcanados com essa pesquisa. A metodologia utilizada para a realizao dessa pesquisa foi a observao de oito aulas de musicalizao de duas turmas de crianas, nvel I (iniciantes) e nvel II. Todas as aulas foram registradas e, posteriormente, ministradas a uma turma de adultos para que fosse possvel verificar o alcance dessa abordagem. Os resultados apontaram que a proposta pedaggica adotada na musicalizao infantil mostra-se eficaz no contexto de ensino de msica para adultos. A hiptese de que a descontrao e espontaneidade dos adultos so influenciadas positivamente validada, com resultados relevantes. Entre eles, a surpreendente elevao da auto-estima dos participantes ao se sentirem aptos a aprender o que proposto de forma simples. Portanto, a sugesto que se priorize tambm o processo de musicalizao na fase adulta e nos moldes do infantil, nos quais o jogo e o aspecto ldico, aliados descontrao e espontaneidade so fatores primordiais para garantir motivao no aprendizado, pois musicalizar construir a base para uma melhor competncia musical.

Palavras-chave:

Adulto,

Musicalizao,

Abordagem,

Descontrao,

Espontaneidade, Motivao.

SUMRIOINTRODUO................................................................................................... 08

CAPTULO 1 - COMPARAO ENTRE AS PROPOSTAS PEDAGGICAS DE JACQUES DALCROZE, EDGAR WILLEMS, HANS JOACHIM KOELLREUTTER E MURRAY SCHAFER 1.1 - Introduo..................................................................................................11 1.2 - Jacques Dalcroze......................................................................................11 1.3 - Edgar Willems............................................................................................13 1.4 - Hans Joachim Koellreutter.........................................................................14 1.5 - Murray Schafer ..................................................................................16

1.6 - Quadro Comparativo dos Mtodos de Propostas de Educao Musical..17

CAPTULO 2 - MUSICALIZAO, COGNIO NA FASE ADULTA E APRENDIZADO 2.1 - Musicalizao ...........................................................................................18 2.2 - Cognio na Fase Adulta ........................................................................ 21 2.3 - Aprendizado ..............................................................................................23

CAPTULO 3 - ATIVIDADES DO PROCESSO DE MUSICALIZAO INFANTIL E SUA FORMA DE ABORDAGEM 3.1 - Delineamento Metodolgico .................................................................... 25 3.2 - Sntese das Aulas de Musicalizao ....................................................... 26 3.3 - Consideraes Gerais ............................................................................. 30

CAPTULO 4 SEMELHANTE INFANTIL

- MUSICALIZAO DE ADULTOS - ABORDAGEM ADOTADA NO PROCESSO DE MUSICALIZAO

4.1 - Introduo ................................................................................................ 32

4.2 - Musicoterapia e Atividades de Relaxamento............................................ 33 4.2.1 - Descrio e Esquema das Sesses de Musicoterapia ......................... 33 4.3 Resultados............................................................................................... 34 4.4 - Metodologia de Ensino de Msica para Adultos .......................................34 4.5 - Consideraes Finais ...............................................................................36

CAPTULO 5 CONCLUSO .........................................................................37

8

INTRODUO

Ao longo do tempo, educadores musicais tm abordado a importncia do processo de musicalizao, porm, com nfase na maioria das vezes, na fase infantil. O que se nota uma dissociao da importncia dessa etapa, quando o indivduo inicia os estudos de msica na fase adulta. Em virtude disso, observa-se que uma grande maioria no teve a chance de vivenci-lo. Tampouco, os que tiveram no o experimentaram atravs de uma didtica diferenciada, como no processo de musicalizao infantil. Contudo, mesmo que de forma ainda lenta, a musicalizao j tem sido defendida por muitos educadores como etapa essencial da formao musical, independentemente da faixa etria em que se encontra o aluno.

O processo de musicalizao infantil normalmente desenvolvido atravs de uma abordagem metodolgica criativa, onde o jogo favorece a mesma, tendo no aspecto ldico um suporte essencial para transformar a aprendizagem num processo mais agradvel e atraente. Todavia, o que se percebe, que a descontrao1 e a espontaneidade2 das crianas surgem como fortes aliados para que se atinjam os bons resultados alcanados com essa metodologia. No caso do adulto, essa descontrao e espontaneidade ficam supostamente comprometidas em decorrncia de vrios fatores. Com base nesse detalhe, pressupe-se que se utilizasse uma metodologia que influenciasse na descontrao e espontaneidade do adulto ao iniciar os estudos de msica sendo o processo de musicalizao o ponto de partida a iniciao musical nessa fase seria, provavelmente, to motivadora quanto na fase infantil.

Na suposio da viabilidade dessa metodologia na fase adulta, ser investigado como uma proposta de abordagem semelhante adotada no processo de musicalizao infantil promovida pelo Ncleo Villa-Lobos de Educao3, em Belo Horizonte poderia influenciar na descontrao e1 2

Desembarao; desenvoltura; falta de constrangimento. Naturalidade; simplicidade; originalidade. 3 Escola que, h 38 anos, oferece um trabalho de educao musical para crianas e jovens de Belo Horizonte, sendo pioneira no ensino de msica para crianas menores de cinco anos.

9

espontaneidade de alunos adultos durante um processo de musicalizao e conseqentemente o grau de motivao alcanado com essa experincia. Esse interesse partiu da percepo adquirida ao longo dos anos, do quanto rude a forma tradicional de insero do adulto nos estudos musicais, tornando-se, s vezes, desestimulante, levando muitos a desistirem precocemente dos estudos. Portanto, o objetivo dessa pesquisa tentar encontrar caminhos que possam contribuir para uma orientao pedaggica voltada para essa faixa etria, e principalmente, que esses caminhos sejam to motivadores como no processo infantil.

O primeiro captulo dessa monografia traz uma comparao das propostas metodolgicas de educao musical, surgidas ao longo do sculo XX e desenvolvidas pelos educadores musicais Dalcroze, Willems, Koellreutter e Schafer que muito contriburam para a evoluo do ensino da msica, promovendo reflexes para uma nova prtica pedaggica no campo musical, desde o final do sculo XIX.

O segundo captulo traz consideraes sobre o tpico musicalizao que incitam a uma reflexo sobre a importncia de tal processo e a abrangncia que se alcana com ele, proporcionando objetivos outros que vo aqum dos parmetros musicais beneficiando de forma relevante todos aqueles que o vivenciam. Na seqncia abordada a cognio na fase adulta, aspecto merecedor de atentas observaes por parte de todos aqueles preocupados e envolvidos com a responsabilidade de ensinar. Em seguida, encerra-se o captulo com informaes importantes sobre o aprendizado como processo fundamental no desenvolvimento humano.

No terceiro captulo so descritas algumas atividades aplicadas no processo de musicalizao infantil, os objetivos propostos em cada uma e a respectiva abordagem adotada com um grupo de crianas entre sete e nove anos de idade, realizada no Ncleo Villa-Lobos de Educao Musical, onde atravs de um trabalho de campo, foram registrados detalhes que dariam embasamento ao tema da pesquisa, identificando aspectos que fossem tpicos da metodologia utilizada nesse processo, quais os recursos para a abordagem dos

10

assuntos e os resultados alcanados com a criana para posterior comparao entre as duas faixas etrias.

O quarto captulo o foco da pesquisa. So descritas as mudanas necessrias e possveis ocorridas durante a experincia de maneira que tornasse mais vivel o seu desenvolvimento. Em seguida, ter-se- a explicao das razes pelas quais tiveram que acontecer tais mudanas e entre elas, o porqu da insero e utilizao do tpico Musicoterapia - de maneira coadjuvante - como mais um recurso didtico que contribusse para uma importante base da pesquisa. Sero apresentados os resultados dessas mudanas e um esboo de uma metodologia de ensino de msica voltada para uma populao adulta, visando proporcionar-lhes melhor nvel de qualidade no processo de musicalizao. E, por fim, a impresso derivada dos fenmenos psicolgicos, sucedidos com o indivduo, com a experincia emocional ao se expor diante do grupo.

O quinto e ltimo captulo traz as concluses gerais da pesquisa. Sero mencionados os objetivos atingidos e se houve validao da principal hiptese durante todo o trabalho. Contudo, pode-se adiantar que essa investigao contribuir para uma maior reflexo por parte dos educadores musicais sobre a importncia da musicalizao tambm na fase adulta, porm, com a mesma preocupao de oferecer ao adulto o que tem sido oferecido, quase que exclusivamente, s crianas: uma iniciao musical estimulante e motivadora.

11

CAPTULO 1

COMPARAO ENTRE AS PROPOSTAS PEDAGGICAS DE JACQUES DALCROZE, EDGAR WILLEMS, HANS JOACHIM KOELLREUTTER E MURRAY SCHAFER.

1.1 Introduo

Nos estudos de msica, por vrios sculos, o ensino musical tinha como principal objetivo o virtuosismo em detrimento da formao de msicos. Ainda hoje, persiste tal tendncia. Todavia, com o surgimento de novos pensamentos, correntes filosficas, psicolgicas, e novos paradigmas que apareceram ao longo do sculo XX, ainda presentes nos dias de hoje, contribuiu decididamente para influenciar o ensino musical do novo sculo, pois a vivncia dos elementos musicais foi resgatada (CAMPOS apud COMINI, 2005, p. 07).

Este captulo tem como objetivo descrever os mtodos de educao musical de alguns dos principais pedagogos dos ltimos tempos. O texto trar tambm consideraes sobre suas origens, principais idias metodolgicas e os objetivos propostos por cada um. Ao trmino, ser inserido um quadro, onde se podero comparar as principais idias de cada proposta.

1.2 Jaques Dalcroze

Dalcroze nasceu na Sua em 1865 e faleceu em 1950. Sua proposta metodolgica foi denominada de Eurritmia ou Ginstica Rtmica. Essa proposta teve incio a partir das experincias desenvolvidas por ele no Conservatrio de Genebra, aps a confirmao de que o ensino musical mantinha duas vertentes; um ensino de msica em escolas primrias, atuando como um passatempo e um ensino nas escolas de msica que enfatizava o virtuosismo, leitura e a escrita, a anlise e a classificao, os exerccios de harmonia, corretos, mas estereotipados (DALCROZE, 1967 apud GUIA; FONSECA, p. 06). Com a constatao dessas duas vertentes, o educador concluiu que isso gerava uma prtica mecnica, desprovida de um efetivo

12

desenvolvimento da sensibilidade e da imaginao auditiva (GUIA; FONSECA, 1995, p.06).

Assim sendo, a proposta que se baseie a educao musical na audio compreendendo que atravs de todo o corpo, da ativao do sistema nervoso, que essa se opera no cultivo de sensaes tteis e auditivas combinadas (GUIA; FONSECA, 1995, p.06-07). Dalcroze acreditava que os sons so percebidos por outras partes do organismo humano alm do ouvido (GUIA; FONSECA, 1995, p.07).

No mtodo Dalcroze, a conscincia rtmica fundamental, tanto que a meta da Eurritmia seria desenvolver as sensaes no lugar das conceituaes, dando ao aluno atravs da vivncia corporal a oportunidade de sentir no lugar de dizer: eu sei (GUIA; FONSECA, 1995, p.07). A Eurritmia se caracteriza da seguinte forma: expresso e conscientizao do ritmo natural de cada um, porm antes da abordagem dos ritmos externos; expresso da msica atravs do corpo, segundo as relaes do espao, tempo e energia, sendo uma experincia individual; representao dos fenmenos musicais utilizando o corpo; capacidade de criao e de resposta criao de outros (GUIA; FONSECA, 1995, p.07).

Jaques Dalcroze com sua proposta, exerceu influncia direta em inmeras pessoas ligadas ao trabalho corporal, ao ensino de dana e a mtodos de musicalizao como o de Willems, Orff e outros elaborados no Brasil (PEREIRA e MIGNONE apud GUIA; FONSECA, 1995, p.07). O grande anseio de Dalcroze era que um dia os professores de msica dessem mais importncia ao despertar das emoes vitais e na conscincia de estados mentais, apoiando menos na anlise abstrata (GUIA; FONSECA, 1995, p. 07).

13

1.3 Edgar Willems (1889-1978)

Edgar Willems nasceu na Blgica, no dia 13 de outubro de 1889, e faleceu aos 89 anos em 1978. Formou-se primeiramente em Artes Plsticas. Aprendeu msica, inicialmente de forma autodidata, formalizando mais tarde seus estudos no Conservatrio de Msica em Genebra, onde se tornou professor no ano de 1929 (GUIA; FONSECA, 1995, p.02).

Nesse perodo, surge na Europa uma nova pedagogia com intuito de combater o materialismo, apontando para a necessidade de unir o desenvolvimento intelectual ao desenvolvimento sensorial. Em conseqncia, a msica passa a ser considerada fator cultural indispensvel, por lidar com questes sensveis do homem. Por essas razes, o que era denominado ensino da msica substitudo por educao musical. Essa substituio ocorreu devido s influncias diretas que vieram por parte da psicologia e em especial a de Freud. A msica tambm teve a sua importante contribuio nessas mudanas, pois estava passando por grandes transformaes nessa poca. Willems, preocupado com a questo humana na educao musical, passa a enfoc-la, no priorizando, portanto, a performance (Idem, p.02).

O mtodo Willems tem como ponto de partida canes tonais que so utilizadas como recurso didtico e o desenvolvimento auditivo, que trabalhado com a utilizao de recurso material sensorial apropriado (GUIA; FONSECA, 1995, p.02). No seu mtodo, o educador enfatiza que as canes:

Desempenham o papel mais importante na educao musical de principiantes; agrupa de maneira sinttica - ao redor da melodia - o ritmo e a harmonia; o melhor meio de desenvolver o ouvido interno, chave de toda verdadeira musicalidade (WILLEMS, 1956, p. 24).

Ele criou uma teorizao sobre percepo musical e estabeleceu trs domnios distintos: 1) Nvel sensorial; que tem como caracterstica a atividade do rgo auditivo em reao ao som. 2) Nvel afetivo; pela relao existente, segundo ele, entre a afetividade e os intervalos de uma melodia. 3) Nvel da inteligncia

14

auditiva;

reconhecimento

intelectual

de

acordes,

funes

harmnicas,

polifonias, etc. (GUIA; FONSECA, p.02).

O argumento de que os princpios de ao educativa no mudam, por isso se torna importante segui-los. Basta uma adaptao do ensino por cada professor, porm, partindo de elementos de vida [...] (ROCHA, 1990, p.16 apud COMINI, 2005, p.14-15). Ao apoiar seu mtodo nos princpios psicolgicos e filosficos, estabelecendo com isso relaes entre os elementos fundamentais da msica e os da natureza humana, Willems prope o seguinte esquema4, ilustrado no quadro abaixo:

MSICAHOMEM

RITMOVIDA FISIOLGICA AO

MELODIAVIDA AFETIVA SENSIBILIDADE

HARMONIAVIDA MENTAL CONHECIMENTO

Quadro 1

Entre vrios pontos importantes no mtodo de Willems, um dos mais relevantes que a vivncia deve sempre preceder o conhecimento terico. Segundo ele: a vida precede a conscincia (GUIA; FONSECA, 1995, p.02). Ele trouxe enorme contribuio para a educao musical quando compreendeu que no deveramos separar a natureza humana da natureza musical. O prprio autor concluiu que:A educao, bem entendida, no somente uma preparao para a vida; em si mesma, uma manifestao permanente e harmoniosa da vida. Deveria ser assim para todo estudo artstico e particularmente para a educao musical, que apela para a maioria das faculdades sensoriais do ser humano (Willems, 1956, p.11).

1.4 Hans Joachim Koellreutter (1915)

4

Retirado do material elaborado por Maria Betnia Parizzi e Rosa Lcia Mares Guia para Curso de Formao de Professores em Educao Musical do Ncleo Villa-Lobos de Educao Musical.

15

Hans J. Koellreutter nasceu na Alemanha, em 1915. Compositor, regente, concluiu seus estudos no Conservatrio de Musique, Genebra. Em 1937 chega ao Rio de Janeiro. Passado um ano da sua chegada, realiza seu primeiro recital no Brasil, no Conservatrio Mineiro de Msica, em Belo Horizonte, ministrando nessa mesma instituio um curso de interpretao musical (KATER, et al, 1997, p. 09). Para Koellreutter, na sociedade moderna, a arte, como arte funcional, envolve o homem e deixa sua marca na vida diria. Segundo suas prprias palavras:

Somente um tipo de educao e ensino musical capaz de fazer justia a essa situao: aquela que aceita como funo a tarefa de transformar critrios e idias artsticas numa nova realidade resultante de mudanas sociais. Surgir um tipo de ensino musical para o treinamento de musicistas que, futuramente, devero estar capacitados a encarar sua arte como arte aplicada, isto , como um complemento esttico aos vrios setores da vida e da atividade do homem moderno. Acima de tudo, musicistas que devero estar preparados para colocar suas atividades a servio da sociedade (Idem, p. 39).

A sua proposta pedaggica conhecida como educao musical funcional. Proposta que idealiza uma integrao entre arte e sociedade, conscientizando o artista que sua funo tambm social. Ele afirma que:

Enquanto os nossos estabelecimentos de ensino musical ainda se orientarem pelas normas e pelos critrios em que estavam baseados os programas e currculos dos conservatrios europeus do sculo passado, servindo a outros interesses que no aos culturais de nosso pas, as chances profissionais para os alunos sero escassas (p. 39).

A sugesto como alternativa a esse problema um programa de extenso na Universidade para aqueles que se interessam por atividades musicais sem a pretenso de pratic-las como profissional. Como por exemplo, a criao de um centro independente, contendo animaes e criatividade musical [...]. Um verdadeiro local para se aprender msica atravs de atividades ldicas, com caractersticas populares, onde se fizesse msica sem limites ou restries, valorizando mais as atividades e o processo do que o resultado em si. E ainda, ensinar instrumentos mais populares apenas com a teoria bsica musical para

16

dar ao jovem a oportunidade de se dedicar exclusivamente msica popular (Kater et al, 1997, p. 41).

1.5 Murray Schafer

Murray Schafer nasceu em Ontrio, Canad, em 1933. Mesmo tendo grande interesse pelas artes plsticas, dedicou a maior parte do seu tempo ao ensino de msica. Com sua proposta, Schafer transforma no apenas o mundo da msica, mas o mundo sonoro de forma geral. Atravs de uma pesquisa ampla e minuciosa intitulada de The World Sound Scape, ele prope uma nova maneira para ouvir, na verdade:

Um desafio para um novo olhar sobre o mundo, que seja capaz de se deter nas mnimas e inesperadas sonoridades e que se alimente tanto dos rudos estridentes das metrpoles, quanto dos silncios dos lugares escondidos, do som da neve, das folhas, do badalar dos sinos, dos sons primordiais da natureza do ar, da gua, da terra, do fogo e tambm da recuperao de sons que hoje esto esquecidos (GUIA; FONSECA, 1995, p. 01).

Schafer, ao trmino de sua pesquisa, chega concluso que se torna urgente uma postura cuidadosa e crtica quanto paisagem sonora do atual mundo em que vivemos. Dessa forma ser possvel alcanar conscincia quanto a esse problema, capacitando-nos a encontrar uma soluo para tal. Ele sugere clariaudincia nas escolas para eliminar a audiometria nas fbricas. Limpeza de ouvidos, em vez de entorpecimento de ouvidos (SCHAFER, 1991, p. 14).

Murray Schafer no trata da educao musical em termos de msica tonal. A proposta pedaggica de Schafer prope um trabalho que pode abranger o ensino formal ou informal de msica. Conforme Schafer:

O principal objetivo de seu trabalho tem sido o fazer musical criativo, e embora seja distinto das principais vertentes da educao, concentradas, sobretudo no aperfeioamento das habilidades de execuo de jovens msicos, nenhuma dessas atividades pode ser considerada substituta da outra (SCHAFER, 1991, p. 280).

17

Ele direciona a sua proposta pedaggica para trs campos de ao:

Descoberta do potencial criativo das crianas, com objetivo de tornlas independentes no fazer musical; Apresentao dos sons do meio ambiente, tratando a paisagem sonora como uma composio musical, sendo o homem o seu principal compositor, fazendo com que ele o critique para que assim possa melhorar a sua qualidade;

Encontrar um ponto de unio onde todas as artes se encontrem e se desenvolvam harmoniosamente (GUIA; FONSECA, 1995, p. 01).

1.6 Quadro Comparativo dos Mtodos de Propostas de Educao Musical5.

OBJETIVOS Proporcionar vivncia corporal dos fenmenos musicais. Musicalizar a criana, respeitando as relaes psicolgicas entre a msica e a criana. Educar o ser humano atravs da msica. Corpo

CENTRO DA AO ELEMENTOS PEDAGGICA EXTRAMUSICAIS Movimento

DALCROZE

WILLEMS

Material sensorial apropriado

Cano

Willems era contra a utilizao de elementos extramusicais. Integrao das Artes

Utilizar tudo que possa soar.

Criao e improvisao

SCHAFER

Propiciar um trabalho musical criativo dentro ou fora do ensino formal de msica; conscientizar a todos de sua responsabilidade pelo ambiente sonoro em que vivemos.

Paisagem Sonora

Ambiente Sonoro

Criao de texto, representao teatral e visual.

Quadro 2

5

Extrado do material produzido por Maria Betnia Parizzi e Rosa Lcia Mares Guia para o Curso de Formao de Professores em Educao Musical do Ncleo Villa-Lobos de Educao Musical, 1998.

18

CAPTULO 2

MUSICALIZAO, COGNIO NA FASE ADULTA E APRENDIZADO

2.1 Musicalizao

Musicalizao segundo Gainza tornar o indivduo sensvel e receptivo ao fenmeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de ndole musical (GAINZA, 1988, p.101). Depois de garantido o vnculo, a msica naturalmente far a maior parte do processo de musicalizao, penetrando no homem, transpondo barreiras diversas, permitindo a abertura de canais de expresso e comunicao a nvel psicofsico, causando atravs das suas prprias estruturas internas alteraes relevantes no mental humano. Gainza acredita que a partir de uma mobilizao primria, movimento como sinnimo de vida, de crescimento, as respostas no sero apenas de ndole musical e sonora posto que nisso consiste a funo educativa da msica (Idem).

J conforme Penna a musicalizao um momento de educao musical, e mesmo que inserida em uma formao mais prolongada [...] tem importante significado prprio [...] (PENNA, 1990, p. 37). E defende que essa musicalizao em si mesma significativa e necessria, indispensvel ao desenvolvimento de uma competncia musical slida (Idem). Com isso conclui que a musicalizao um processo educacional orientado que [...] efetua o desenvolvimento dos instrumentos de percepo, expresso e pensamento necessrios decodificao da linguagem musical [...]. O que se visa com isso maior participao do sujeito na cultura socialmente produzida, capacitando-o a apreender de forma crtica os diversos estilos musicais disponveis em seu ambiente (PENNA, 1990, p. 37). Na concepo da autora:[...] Este o objetivo final da musicalizao, onde a msica o material para um processo educativo e formativo mais amplo, dirigido para o pleno desenvolvimento do indivduo, enquanto sujeito social (Idem).

Os procedimentos racionais para a musicalizao, capazes de orientar prticas pedaggicas flexveis e diferenciadas conforme as necessidades, so revistas

19

no campo da psicologia, da pedagogia e da prpria educao musical. Os estudos de Jean Piaget, sobre o desenvolvimento cognitivo, e de Jerome Bruner, que props a aprendizagem pela descoberta, conforme Penna:Evidenciaram a importncia da atividade sobre o meio na formao de estruturas de pensamento e na aquisio de conhecimentos, indicando, para a musicalizao, a necessidade de fundamentar sua prtica sobre a atuao ativa do aluno, no contato com o material sonoro (PENNA, 1990, p.46).

Para Piaget (apud PENNA), as funes do processo adaptativo, que regem a interao do indivduo com seu ambiente a assimilao (do novo ao velho) e a acomodao (do velho ao novo) so caractersticas que abrangem todas as idades (PENNA, 1990, p. 45-46). Sendo assim:O sujeito concebido como uma entidade sempre organizada que acomoda seus esquemas (unidades bsicas desta organizao) realidade exterior, medida que assimila a realidade dos esquemas (FLAWELL, 1975, p.267 apud PENNA, 1990, p.46).

O contato com a msica proporciona a formao dos conceitos e o aperfeioamento dos esquemas perceptivos, fundamentando o entendimento do discurso musical. O domnio do cdigo, antes perpassa pelo aprendizado dos conceitos, promovendo uma comparao progressiva das estruturas musicais, percebidas inicialmente de forma geral, adquirindo com o tempo mais complexidade.

Sendo a percepo o principal fator para que ocorra a mudana dos esquemas perceptivos, necessrio que a descoberta dos conceitos acontea internamente, atravs da prpria percepo do aluno. Cabendo nesse caso ao professor promover atividades que o levem a essa descoberta, dando a orientao cabvel no processo de conscientizao da aquisio do conceito e de sua formulao, facilitando ainda mais ao fornecer a terminologia prpria para design-lo. Penna afirma que:

O planejamento das atividades no campo da percepo deve ser capaz de indicar focos seletivos para a ateno do indivduo necessrios para desencadear os processos

20

mentais de tratamento da informao sensorialmente (PENNA,1990, p. 48).

captada

Delimitar os conceitos fundamentais mais amplos que revelem a estrutura da linguagem musical, uma forma que o educador musical possui de facilitar para o aluno a descoberta desses conceitos (PENNA, 1990, p. 48). Quanto mais fundamental ou bsica for a idia (conceito) que tenha aprendido, maior ser a amplitude de sua aplicao a novos problemas (RONCA E ESCOBAR, 1980, p.27 apud PENNA, p. 48), a novas experincias musicais (Idem).

Os conceitos musicais so [...] os contedos da musicalizao, enquanto procedimento educativo e formativo. Esses conceitos esto relacionados questo metodolgica que dar a forma da ao pedaggica, selecionando e organizando contedos e por sua vez, planejando atividades para sua aquisio (PENNA, 1990, p. 49). A autora diz que:Para os objetivos da musicalizao, a representao simblica necessria ao domnio dos conceitos pode ser respondida por diversos tipos de simbolizao grfica, gestual etc que podem (e devem) preparar para o aprendizado da notao, principalmente na escola especializada.

Segundo Penna, a musicalizao se baseia na vivncia do fato sonoro, na experincia musical concreta, formando os conceitos, como referenciais para a apreenso das estruturas musicais enquanto elementos musicais (PENNA, 1990, p. 52). Se a musicalizao for realizada atravs de uma ao pedaggica, possvel prever, planejar e realizar as experincias necessrias que impulsionem todo o processo. Compreender como se d o domnio do cdigo da linguagem musical e da formao dos conceitos imprescindvel para a construo de uma pedagogia orientada de forma racional, com embasamento nas diversas reas de conhecimento existentes.

Penna na procura de alternativas metodolgicas diversificadas, capazes de atender s necessidades de cada situao, encontrou o que denominou de eixo bsico comum, delineado por ela da seguinte forma:

21

-

-

A base a vivncia musical, que permite a atividade perceptiva (Piaget); A direo a formao dos conceitos fundamentais da linguagem musical, o reconhecimento e identificao dos elementos bsicos da msica; As atividades devem promover a formao de imagens auditivas e de representaes simblicas; As atividades de expresso so necessrias, como aplicao dos conceitos formados (PENNA, 1990, p. 53).

A musicalizao segue os mesmos princpios para qualquer faixa etria, com suas devidas adaptaes quanto linguagem, motivao, repertrio, entre outros, sendo necessrio considerar tambm as experincias de cada faixa e a capacidade de abstrao, que depende do estgio cognitivo que se encontra (PENNA, 1990, p. 53).

Um processo pedaggico de musicalizao antes dos estudos de teoria musical pode construir gradativamente as condies, at ento pressupostas, que possibilitariam maior eficincia aos mencionados estudos. Se toda formao musical tem como objetivo musicalizar, nesse caso a escola especializada poderia promover uma educao mais ampla, [...] apurando cada vez mais o cdigo, possibilitando a apreenso de forma mais aprimorada da linguagem musical e assim sucessivamente. Mas para isso, as metodologias que ainda perduram no ensino da notao, da teoria, da tcnica instrumental, entre outras, teriam que passar por transformaes, da mesma forma que as concepes que as fundamentam. Os estudos desses contedos teriam que ser vistos como meios de musicalizar, e no como finalidade por si mesmos [...], servindo-lhes o processo educativo de musicalizao como base, sem pretender a transformao do sistema geral (PENNA, 1990, p. 58).

2.2 Cognio na Fase Adulta

Cognio derivada da palavra latina cognitione, que significa a aquisio de um conhecimento atravs da percepo. Oriunda da psicologia cognitiva em que pode haver, pelos indivduos, uma viso unitria dos processos mentais, onde o aprendizado se d pela apreenso dos dados e do conhecimento imediato de um objeto mental. o conjunto dos processos mentais usados no pensamento e na percepo, tambm na classificao, reconhecimento e compreenso

22

para o julgamento atravs do raciocnio para o aprendizado de determinados sistemas e solues de problemas (Wikipedia, 20066).

Os processos de construo de conhecimento e de aprendizagem dos adultos so [...] pouco explorados na literatura psicolgica, quando comparados ao das crianas e adolescentes. Palcios (Apud OLIVEIRA, p. 01) em um artigo que sintetiza a produo em psicologia a respeito do desenvolvimento humano aps a adolescncia, comenta como a idade adulta tem sido tradicionalmente vista de forma estabilizada e com ausncia de mudanas, e aponta a importncia de se considerar a vida adulta como uma continuidade do desenvolvimento. Releva tambm a influncia de fatores culturais na definio das caractersticas dessa fase [...] (PALACIOS, 1995, p. 315 apud OLIVEIRA, 1999, p. 1-2). No que diz respeito ao funcionamento intelectual do adulto, o mesmo autor afirma que:

As pessoas humanas mantm um bom nvel de competncia cognitiva at uma idade avanada (desde logo, acima dos 75 anos). Os psiclogos evolutivos esto, por outro lado, cada vez mais convencidos de que o que determina o nvel de competncia cognitiva das pessoas mais velhas no tanto a idade em si mesma, quanto uma srie de fatores de natureza diversa. Entre esses fatores pode-se destacar, como muito importantes, o nvel de sade, o nvel educativo e cultural, a experincia profissional e o tnus vital da pessoa (sua motivao, seu bem estar psicolgico...). o conjunto de fatores e no a idade cronolgica per se, o que determina boa parte das probabilidades de xito que as pessoas apresentam, ao enfrentar as diversas demandas da natureza cognitiva (PALACIOS, 1995, p. 312, idem, p. 02).

Mesmo faltando uma boa psicologia do adulto e a construo desse fator esteja de certa forma, muito ligada a fatores culturais, podem-se relacionar algumas caractersticas da etapa da vida adulta que distinguiriam, de maneira geral, o adulto da criana e do adolescente. O adulto faz parte de um contexto diferenciado, trazendo consigo uma histria mais longa [...] de experincias diversas, com conhecimentos acumulados sobre o mundo em geral, sobre si e sobre os outros. Quando num processo de aprendizagem, as diferenas dessa etapa da vida promovem habilidades e dificuldades (em relao criana) e,6

Web site

23

provavelmente maiores condies de reflexo sobre o conhecimento e seus prprios processos de aprendizagem (OLIVEIRA, 1999, p.02).

2.3 Aprendizado

No processo do desenvolvimento humano o aprendizado aparece como processo fundamental, pois por ele que o ser humano transforma as suas possibilidades de ao em formas ajustadas, que o assimilem ao grupo cultural. Por isso no hesita Dashiell em afirmar que nenhum outro aspecto apresenta maior relevncia, no estudo da natureza humana, que o do aprendizado (AMORIM e VITA, 1956, p. 74).

Certamente o aprendizado um processo de ajustamento gradativo por parte do indivduo, frente a uma situao problemtica, na qual os obstculos que possam surgir sejam vencidos pela utilizao direta de comportamentos preexistentes, naturais e j adquiridos. Os resultados so evidenciados, quando esse indivduo, em situaes similares, apresente maior eficcia para lidar com tais situaes, agindo assim, com sensvel diferena (Idem, p. 74). Conforme AMORIM e VITA dessa concepo geral [...] decorrem os grandes problemas do aprendizado sendo:a) motivao, ou fora ativa, que leve ao exerccio e ajustamento final; b) ajustamento primrio, ou inicial, por ensaios, com variabilidade de respostas ou acomodao; c) eliminao de reaes perturbadoras ao ajustamento final, com maior adequao de todo o comportamento; d) fixao ou reteno, com possibilidade do aproveitamento das mesmas formas de ao, ou de formas similares, em novas situaes, idnticas ou prximas da situao inicial considerada (p. 74).

A motivao abrange um grande captulo da Psicologia geral e no somente da Psicologia Pedaggica, e atravs dele se tenta explicar todos os

comportamentos, em se tratando de suas causas ou condies [...]. A motivao deve ser encarada como um processo circular: a necessidade que leva a agir, que muda o organismo, tornando-o diferente, quando diante de novas situaes similares (AMORIM; VITA, 1956, p. 74-75). Devido motivao inicial, se considera o aspecto variabilidade de respostas. Segundo Dashiell (apud AMORIM; VITA, 1956, p. 75), o organismo motivado:

24

Desde que encontre um obstculo, despende maior e mais variada atividade, at que, por meio de uma dessas variaes, chegue a venc-lo; a atividade expressa cessa, mas o comportamento futuro se apresentar modificado, no sentido desse ajustamento; e em face de situaes similares, o ajustamento individual revelar, ento, nveis crescentes de direo e de eficincia, com economia de esforo e de tempo (p.75).

Esses processos conduzem o indivduo eliminao o mais rpido quanto possvel, das reaes perturbadoras, para maior integrao de todo o comportamento [...]. Para Loureno Filho (Apud AMORIM; VITA, 1956, p. 76), o aprendizado pode ser compreendido como processo de modificao do comportamento, pela experincia, com um sentido de adaptao progressiva, ou de valor positivo na integrao de todo organismo (AMORIM; VITA, 1956, p.75-76).

A partir da, so observados os resultados de estabilizao, fixao, conservao, retentiva das novas relaes de comportamento encontradas (Idem, p.76). Para embasar tal situao, no se deve esquecer da prpria origem do termo: aprender vem de apreender, apanhar, adquirir, conservar para si (p.76). Segundo os autores, tais resultados so apreciados, agora, como:

Expresses de memria, hbito, associao, condicionamento, inclinaes ou tendncias adquiridas, complexos de expresso individual, atributos culturais, personalidade [...]. O aprendizado um ato novo, em cada instante ensaiado sob nova modalidade, sempre que necessrio (AMORIM e VITA, 1956, p. 76).

25

CAPTULO 3 ATIVIDADES DO PROCESSO DE MUSICALIZAO INFANTIL E SUA FORMA DE ABORDAGEM

3.1 Delineamento metodolgico

Essa pesquisa teve o propsito de observar, registrar e analisar, durante oito semanas, as aulas de musicalizao infantil, dos nveis I e II, aplicadas a um grupo de alunos de sete a nove anos de idade, realizada no Ncleo Villa-Lobos de Educao Musical, situado em Belo Horizonte.

A turma de nvel I iniciou a musicalizao no ano de 2006 e a turma de nvel II teve a continuidade dos trabalhos iniciados em 2005. Essas aulas tm como suporte para os alunos, uma apostila denominada Caderno de apoio s atividades de escrita, leitura e automatismos. Sendo a escrita o ltimo passo do processo, pois s depois da vivncia musical que passam a pratic-la. Todo esse trabalho qualitativo proporcionou s crianas uma experincia sensorial de apoio, pulsao, ritmo, reconhecimento de som curto e longo, forte e piano e a memorizao do nome das notas atravs de vrios tipos de automatismos. Normalmente, depois da etapa sensorial os alunos passam a conhecer os devidos conceitos daquilo que aprenderam atravs da vivncia.

Essas oito aulas de musicalizao foram apenas observadas, sem nenhuma participao ativa. Contudo, algumas interferncias foram necessrias, devido s dvidas que surgiam no decorrer dos trabalhos. As atividades foram registradas de forma sistematizada para que as mesmas fossem

posteriormente revisadas. Todas as informaes foram coletadas com os seguintes objetivos:

Adquirir embasamento para o tema da pesquisa, observando o tipo de metodologia utilizada no processo de musicalizao infantil;

26

Verificar quais os recursos utilizados para a abordagem dos contedos e se isso melhorava o nvel natural de descontrao e espontaneidade que possui a criana;

Analisar a eficcia dessa abordagem com a criana, para posterior comparao entre as duas faixas etrias.

3.2 Sntese das aulas de musicalizao

A experincia vivida com essas aulas tornou-se primordial para a pesquisa, pois atravs dela foi possvel ter contato com uma abordagem diferenciada num processo de musicalizao infantil. Concludas as observaes, no houve necessidade de relatar as aulas por nveis, pela semelhana de algumas atividades e os objetivos almejados. Entretanto, algumas, por diferir a atividade devido ao contedo, tero os nveis informados. Segue, pois, a seqncia de forma sinttica de todas as aulas acompanhadas das turmas de nvel I e II, no perodo de oito semanas, no Ncleo Villa-Lobos de Educao Musical, em Belo Horizonte.

Musicalizao - aula n 1

Nessas aulas, foram vrios os contedos trabalhados com as crianas. Por exemplo, durao do som, reconhecer sons curtos e longos. Para tal, a professora dizia: tu, tu, tu, tuu, tu e repetia para que as crianas escutassem e conferissem. Depois elas tinham que identificar se o que ouviam correspondia ao que estava no grfico da apostila utilizada por elas como suporte. Concentrao, prontido, som e forma, automatismo de notas, movimento sonoro, som grave e agudo, ritmo, pulsao, altura e leitura relativa (nvel II) tambm foram assuntos nessa aula. Foram utilizados pela professora como recursos didticos: voz, piano, aparelho de som, cano (Cachorrinho est batendo) e cartas.

27

Musicalizao - aula n 2

Nessas aulas, os assuntos abordados foram ritmo, prontido, concentrao, memorizao, intensidade, pulsao, automatismo de notas, altura, sons curtos e longos e cnone. Foi informado pela professora, que algumas atividades seriam aplicadas apenas para a turma do nvel II, devido aos prvios conhecimentos e dos contedos especficos do nvel. Mesmo assim, eram mantidas as atividades antigas a ttulo de reviso da matria. Foram usados os seguintes recursos didticos: piano, cano (Papagaio louro), madeiras de vrios tamanhos, cartas, pandeiro e xilofone.

Musicalizao - aula n 3

Nessa terceira aula a professora iniciou os trabalhos com a atividade de cnone de movimento. Utilizando o pandeiro e com os alunos circulando pela sala - depois de dividido os grupos - pediu ao primeiro grupo de crianas que iniciassem um determinado movimento quando ela batesse forte no pandeiro, em seguida um novo movimento, logo aps esse procedimento, o segundo grupo de crianas foi orientado a comear pelo primeiro movimento feito pelas crianas do primeiro grupo e assim sucessivamente. Interessante foi perceber que as crianas tinham bastante facilidade para memorizao dos movimentos a serem feitos. Os outros assuntos tratados foram movimento sonoro, grave e agudo, ritmo, pulsao, percepo de timbre (violino), intensidade,

automatismo de notas, concentrao, apreciao musical, leitura. Os recursos didticos usados foram: piano, cano (Marcha Soldado), aparelho de som, cartas e instrumentos de percusso.

Musicalizao - aula n 4

Nessa aula foi apresentada uma nova atividade para os dois nveis. Foi pedido aos alunos que formassem uma roda. Cada um deveria prestar bastante ateno no colega da direita, pois o movimento corporal que ele fizesse, seria o movimento a ser repetido, mas isso, s depois que esse colega tivesse terminado completamente o movimento. Nessa atividade, enquanto se fazia os

28

movimentos, cantava-se a msica Tic, tac, Pop durante o exerccio. O objetivo foi trabalhar cnone, prontido, concentrao, coordenao, entre outros. As crianas da primeira turma tiveram muita dificuldade e no conseguiram acompanhar o que lhes foi proposto. Porm, foi esclarecido que, por ser a primeira vez, essas dificuldades eram normais. J a segunda turma, apesar das dificuldades iniciais, de um modo geral, conseguiu assimilar mais o que era pedido, naturalmente pelas experincias j adquiridas. Os outros assuntos foram: som grave, mdio e agudo, percepo de planos de altura, leitura, pulsao, ritmo, automatismo de notas, orquestra de desenho, cano (Atirei o pau no gato), som e forma. Os recursos didticos utilizados foram: piano, instrumentos de percusso e grficos.

Musicalizao - aula n 5

Os trabalhos nessa quinta aula enfatizaram os assuntos pulsao e ritmo. A professora utilizou como recurso para atingir tais objetivos a msica Sapo jururu. Para que se encontrasse a pulsao foi pedido aos alunos que usassem a palma e para o ritmo que batessem palmas juntamente com a voz. Depois a professora separou dois grupos para que um marcasse a pulsao na perna e o outro marcasse o ritmo com a palma. Foram invertidas as funes para que todos vivenciassem os dois parmetros. Outra atividade muito interessante foi a orquestrinha, na qual as crianas demonstraram bastante interesse em participar. As crianas de nvel I usam partitura com desenhos dos instrumentos. Essa partitura tem quatro compassos quaternrios, contendo, em cada compasso, o desenho dos instrumentos de percusso a serem tocados. Nessa atividade os alunos fizeram o acompanhamento da msica Atirei o pau no gato, tocada pela professora. Essa atividade priorizava concentrao, ritmo, compasso, pulsao, intensidade. Outros temas

apresentados nessa aula para ambos os nveis foram composio e apreciao. Para tal foi utilizada a pea de Mozart Sonata em C. Os alunos de nvel II tiveram, pela primeira vez, a apresentao das claves de Sol e F e lhes foi informado que, a partir daquele momento, os dois smbolos determinariam o nome das notas na pauta. Foram tpicos dessa aula tambm: som grave, mdio e agudo, movimento sonoro, altura relativa, automatismo de

29

notas e ditado rtmico. Os recursos didticos usados foram: piano, instrumentos de percusso, aparelho de som e cartas.

Musicalizao - aula n 6

A primeira atividade dessa aula foi o reconhecimento por parte das crianas de som grave e agudo. Utilizando um agog, a professora pediu para os alunos que andassem para frente ao ouvirem o som grave e para trs o som agudo. Elas no tiveram nenhuma dificuldade nesse exerccio. Outra atividade foi o enfileiramento, por altura do grave para o agudo, de sete sinos, cada um com uma altura detalhe: a diferena entre as alturas era mnima, mas a percepo dos alunos foi muito satisfatria. O objetivo foi trabalhar reconhecimento de alturas. Assuntos como: pulso, pulsao, ritmo, automatismo escrito, prontido, alternncia de pulso para pulsao (nvel II) e ditado meldico foram mencionados. Recursos utilizados nessas aulas: Agog, sinos, cartas e bola.

Musicalizao - aula n 7

A atividade inicial dessa aula foi O cego em busca do seu guia. Alguns alunos caminhavam pela sala tocando um instrumento de percusso, enquanto outros, de olhos fechados, guiados apenas pelo som, tinham que encontrar esse colega que estava tocando. Concentrao e timbre eram os objetivos propostos para essa atividade. Foi apresentada para a turma I a pausa de semnima atravs de um exerccio em que batiam palmas depois que falavam alguns nmeros, com a palma enfatizando o silncio. Foram trabalhados tambm, automatismo ascendente e descendente, prontido, coordenao motora, memorizao, altura e escrita. Recursos dessas aulas: instrumentos de percusso, voz, corpo, grficos, cano (Ao claro da lua).

Musicalizao - aula n 8

Essa aula teve incio com uma atividade chamada morto-vivo, o objetivo era o reconhecimento de som grave e agudo. Utilizando o piano, a professora tocava em vrias regies, sempre dando nfase ao grave e ao agudo. Quando os

30

alunos ouvissem o som grave tinham que deitar e ao ouvirem o som agudo tinham que levantar. Em outro momento, com a cano Grilo saltador, a professora trabalhou pulsao e pausa de semnima. Houve tambm a apresentao da pauta bigrama - conjunto de duas linhas sobrepostas - para a turma do nvel I, com objetivo de automatismo de linha e espao e leitura relativa. Para a turma de nvel II a novidade foi uma colcheia pontuada seguida de uma semicolcheia, um novo padro rtmico. Outros assuntos foram: altura, grafia, ditado de altura, notas no pentagrama (nvel II), apreciao musical, escrita na pauta e leitura relativa. Foram usados os seguintes recursos: piano, cano, grfico e corpo.

3.3 Consideraes Gerais

A abordagem nesse processo de musicalizao teve sempre como referncia algum jogo e no aspecto ldico o ponto principal das atividades. O estmulo das crianas para aprender tornou-se evidente ao longo de todo o processo. O material didtico utilizado oferece recursos diversos para que o aluno possa assimilar o aprendizado necessrio, tornando a memorizao, via associao, internalizada. A linguagem utilizada para facilitar essa memorizao simples e criativa. No caso de denominar as figuras e pausas, por exemplo, utilizam-se apelidos. Chama-se a semnima de vou, duas colcheias de corro, quatro semicolcheias de ligeirinho e a pausa da semnima de Z calado. Nas atividades de automatismos, usa-se o termo Vou subir, vou descer. No jogo de cartas, a palavra chefe (tnica) usa-se para determinar uma nota como sendo a principal nos exerccios de automatismos, entre outros. Mesmo os alunos j dominando alguns conceitos, a professora mantinha os apelidos, o que no implicava no objetivo das atividades. Pelo contrrio, isso reforava a memorizao dos contedos.

As aulas tinham durao total de uma hora e durante esse perodo eram dadas apenas trs atividades para cada nvel, devido ao possvel cansao e facilidade de disperso por parte da criana. Os detalhes descontrao e espontaneidade nessa fase so extremamente naturais. Contudo, o tipo de abordagem utilizada, evidenciou o aumento desses dois aspectos atingindo um grau

31

satisfatrio para se alcanar os bons resultados. Outra evidncia que as crianas, durante as atividades, no demonstram constrangimento com erros, provavelmente por no possurem senso de julgamento. Isso certamente proporciona-lhes maior liberdade para aprender sem culpa ou vergonha. Porm, um detalhe importante de se registrar, que a criana menos espontnea para aprender, parecia possuir conscincia desse senso de julgamento, pois em determinadas atividades demonstrava um suposto medo de errar. Mas, no geral, a maioria assimila com bastante facilidade, devido eficiente metodologia aplicada. Contudo, a descontrao e espontaneidade so pontos essenciais para resultados to positivos.

32

CAPTULO 4

MUSICALIZAAO

DE

ADULTOS

ABORDAGEM SEMELHANTE

ADOTADA NO PROCESSO DE MUSICALIZAO INFANTIL

4.1 Introduo

Necessrio se faz um constante questionamento sobre educao. Para isto, o educador deve estar mais aberto, inquieto, vivo, poroso, ligado, refletindo sobre o cotidiano pedaggico e se perguntando sobre o seu futuro [...]. Rever velhos problemas ou novas dvidas, que sejam vistas em uma nova perspectiva, preocupaes pendentes de todos aqueles envolvidos em educao; pais, educadores, estudantes [...] e, sobretudo, professores [...] (HOWARD, 1963, p. 05). Segundo Howard, o nico compromisso do educador com a dinmica e que uma postura esttica a garantia do no crescimento daquele a quem se prope educar (Idem, 1963, p. 05). importante que tenhamos conscincia dos propsitos da Educao e tambm, da sua abrangncia. Kemp afirma que:A Educao no uma disciplina unitria. O seu estudo conduz naturalmente s reas da filosofia, da psicologia e da sociologia, alm da antropologia, da histria e dos estudos comparados, que podem contribuir com esclarecimentos importantes. Os educadores musicais vem-se solicitados muitas vezes em reas cada vez mais alargadas, isto porque a msica tambm possui o seu corpo de disciplinas (KEMP, 1992, p. 13).

Este captulo o foco da Pesquisa e os dados colhidos no trabalho de campo foram utilizados como suporte para o seu desenvolvimento. As oito aulas descritas e assistidas no Ncleo Villa-Lobos foram aplicadas com os adultos, aproveitando os mesmos contedos, porm com suas devidas adaptaes. No foi observada nenhuma implicao ou dificuldade relevante, quanto realizao dos objetivos propostos. Todavia, em relao ao foco principal, houve a necessidade da insero de um outro recurso didtico que contribusse para um melhor rendimento da experincia com os adultos.

33

Essa necessidade surgiu da observao, quanto ao receio de exposio por parte da maioria que participava da experincia. Isso trouxe conscincia que, antes de qualquer atividade, seria necessrio utilizar algum recurso que trabalhasse a confiana do grupo, proporcionando assim, uma base importante para a pesquisa. A partir da, trinta minutos antes do incio das aulas de musicalizao, aplicava-se um trabalho de relaxamento, tendo como recurso a Musicoterapia. Contudo, recurso aplicado de maneira coadjuvante.

O objetivo principal desse procedimento foi promover melhor interao e comunicao entre eles, para que adquirissem confiana uns nos outros, confiana essa que foi o elo principal percebido entre as crianas, que conservou a descontrao e espontaneidade natural das mesmas durante o processo de aprendizagem. Foram feitos tambm outros delineamentos metodolgicos para que o nvel de qualidade no processo de aprendizagem dessa faixa etria no fosse afetado.

4.2 Musicoterapia e Atividade de RelaxamentoMusicoterapia a utilizao da msica e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) [...] com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicao, relao, aprendizagem, mobilizao, expresso, organizao e outros objetivos teraputicos relevantes, no sentido de alcanar necessidades fsicas, emocionais, mentais, sociais, e cognitivas. A musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e/ou restabelecer funes do indivduo para que possa alcanar uma melhor integrao intra e/ou interpessoal [...] (REVISTA BRASILEIRA DE MUSICOTERAPIA N 2, 1996).

4.2.1 Descrio e Esquema das Sesses7 de Musicoterapia

A cada encontro - 30 minutos antes do incio das aulas de musicalizao eram feitas as sesses de relaxamento, tendo como critrio os seguintes procedimentos:

7

Essas sesses foram adaptadas e baseadas nas sesses de relaxamento realizadas por Leonita Becker e Sidirley de Jesus Barreto, aplicada a um grupo de alunos para avaliar o rendimento e a melhoria num processo de aprendizagem.

34

Organizao do grupo para as boas vindas; Colocao de cada participante de forma confortvel no grupo; Incio da audio da msica escolhida; Conduzir a respirao para relaxamento; Observao de como se comportava cada um durante a sesso; Retorno ao estgio inicial, conduzido com calma e serenidade; Relatos espontneos sobre a experincia vivida.

4.3 Resultados

No incio dos trabalhos com o adulto, percebeu-se que ele traz consigo atuante senso crtico, principalmente quando inserido numa dinmica de grupo, na qual surge a suposio de que ser colocada em teste sua capacidade intelectual. As crianas, ao contrrio, quando se encontram se expressam exatamente como so, surgindo da uma confiana mtua, quase que instantnea, levando a inferir que a interao entre elas quase automtica. Sendo assim, as atividades de musicalizao podem ser aplicadas imediatamente sem nenhum outro recurso didtico prvio.

J com o adulto isso difere devido sua suposta faculdade de julgar. Todavia, os resultados alcanados com as sesses de musicoterapia foram satisfatrios dentro dos propsitos objetivados. Houve uma melhora na interao e comunicao dentro do grupo. Os procedimentos durante cada sesso dependiam dos acontecimentos do momento, mas em cada uma o foco era mantido para que o grupo no dispersasse. Foi notvel maior liberdade entre eles, a cada encontro, contribuindo bastante para o resultado final.

4.4 Metodologia de Ensino de Msica para Adultos

Foram necessrias e possveis as seguintes metodologias de ensino no processo de musicalizao dos adultos: Atividade (adaptao); Linguagem Intercalada; Quantidade de Atividades.

35

Atividades (adaptao) Essas adaptaes ocorreram basicamente em alguns movimentos corporais existentes em algumas atividades - morto-vivo, por exemplo - que no caso da criana em nada implica por ela possuir uma massa corprea mais leve e gil em comparao do adulto, podendo assim, adaptar-se facilmente a praticamente todos os tipos de movimentos corporais propostos nos exerccios. As atividades que tinham como objetivo o reconhecimento do som grave, o movimento de deitar, foi alterado para bater palma e o reconhecimento do som agudo, ao invs de levantar, foi substitudo para balanar a cabea. Essa adaptao foi considerada a mais significativa, por ter alertado, quanto aos cuidados que devem ser tomados na utilizao de movimentos corporais com adultos.

Intercalando Conceito versus Vivncia

Devido maior capacidade de abstrao do adulto, foi possvel intercalar informaes na maioria das atividades. Ao ser utilizada a abordagem semelhante do processo infantil, intercalavam-se imediatamente os conceitos versus vivncia durante a atividade. Nos exerccios de automatismo, por exemplo, o vou subir e descer intercalou-se versus ascendente e descendente e a palavra chefe, versus tnica, a nota principal. No de ritmo, os apelidos vou, corro e ligeirinho versus semnima, colcheia e semicolcheia e o Z calado versus pausa da semnima, entre outros. Com isso, obviamente, acelerou-se o processo, no sendo necessrio esperar o tempo que se espera com a criana para conceituar o que se est vivendo.

Quantidade de Atividades

Com as crianas, em mdia, eram aplicadas trs tipos de atividades por hora. J com os adultos, foi possvel dobrar essa quantidade e em algumas situaes, dependendo do parmetro a ser trabalhado, foi possvel ampliar um pouco mais essa quantidade. Os parmetros como prontido, concentrao, memorizao, jogo de automatismo e ritmo so algumas das atividades que permitem essa ampliao pela facilidade de assimilao dessa faixa etria.

36

4.5 Consideraes Finais

O recurso musicoterpico utilizado para as sesses de relaxamento proporcionou a base para uma melhor interao, comunicao e confiana entre os participantes. Auxiliou, da mesma forma, na reduo do

constrangimento, fator principal manifestado pela maioria, no decurso das atividades. As situaes constrangedoras mais notveis ocorriam no mbito da cognio, sendo as mais comuns: a perda clara do raciocnio; a perturbao de idias e o esquecimento de informaes importantes, previamente reportadas. No campo de ao do controle corporal, raramente aconteciam situaes de embarao merecedoras de algum destaque.

O mais evidente, durante as atividades ldicas, era a diminuio do constrangimento por parte do grupo e, conseqentemente, o aumento da descontrao e espontaneidade de todos. Todavia, parece que o nvel de descontrao e espontaneidade, manteve-se justamente com o aspecto ldico e a abordagem semelhante utilizada no processo de musicalizao infantil. Quando os jogos eram iniciados, havia o momento de maior descontrao e espontaneidade das aulas, a ponto, inclusive, de encorajar algum participante a caoar do prprio erro na ocasio do mesmo. Tal postura causava euforia, conscientizando o grupo que erros fazem parte de qualquer processo de aprendizagem. O auge da experincia transcorria nas atividades do parmetro durao em que os apelidos correspondentes s figuras rtmicas eram mencionados, tais como: vou (semnima), corro (duas colcheias), ligeirinho (quatro semicolcheias) e Z calado (pausa da semnima).

Nessa conjuntura, pode-se admitir por hiptese, que o adulto, ao envolver-se totalmente com as brincadeiras, parece resgatar uma criana adormecida dentro de si, que atenua, perceptivelmente, o constrangimento e a dificuldade de aceitar os prprios limites, quando expostos para alguma, presumida, avaliao.

37

CAPTULO 5

CONCLUSO

A proposta dessa pesquisa partiu, primeiramente, da suposio de que a insero do adulto nos estudos musicais acontece de forma muito rude. A partir disso, considerou-se a hiptese de que se o adulto experimentasse um processo de musicalizao, nos moldes do infantil, a descontrao e espontaneidade poderiam influenciar de forma positiva no processo de aprendizagem, proporcionando uma iniciao musical mais agradvel e estimulante para essa faixa etria. Para tal, foi investigado como uma proposta de abordagem semelhante adotada no processo de musicalizao infantil - promovida pelo Ncleo Villa-Lobos - influenciaria nessa descontrao e espontaneidade dos adultos envolvidos na experimentao e quais resultados seriam alcanados.

Com isso, concluiu-se que a musicalizao de adultos vivel e eficaz com a proposta de abordagem semelhante do processo infantil, que tem no jogo um facilitador dessa abordagem e no ldico a contribuio para um aprendizado mais estimulante. Porm, possvel, desde que sejam feitas as devidas adaptaes. Essas adaptaes, em nada afetaram a principal hiptese levantada nessa pesquisa de que a metodologia adotada influenciaria nos aspectos descontrao e espontaneidade dessa faixa etria. Pelo contrrio, ficou evidenciado que o adulto responde plenamente a esse tipo de abordagem. Inclusive, alcanando um grau de motivao que pode ser considerado bem positivo num mbito geral, incitando necessidade de refletir sobre a insero tradicional do adulto nos estudos musicais.

As dvidas comearam a surgir aps a constatao de que o fator confiana do grupo no era o bastante para que as atividades flussem naturalmente como fluem no infantil. A partir disso, sentiu-se a necessidade da insero das sesses de relaxamento - recurso musicoterpico - como auxlio para uma melhor interao entre os participantes, na tentativa de aumentar a confiana entre eles. A importncia da insero desse recurso no deixou dvidas do

38

quanto foi relevante para o melhor rendimento da experincia. Sem confiana entre adultos envolvidos nesse tipo aprendizagem - inevitavelmente os aspectos descontrao e espontaneidade ficam comprometidos e

conseqentemente a qualidade do que se prope a realizar. Por outro lado, constatou-se que existem outras formas para se atingir esse objetivo, depender muito do conhecimento e da criatividade do Educador Musical.

As propostas dos educadores musicais mencionados estiveram todas de alguma forma influenciando a metodologia adotada nesse trabalho de musicalizao. A vivncia corporal dos fenmenos musicais, proposta de Dalcroze foi bem explorada. Todavia, a vivncia constituiu-se em fator principal da musicalizao, proposta criada pelo educador Edgar Willems. Mesmo que tenha sido ela direcionada criana, sua aplicao demonstrou grande eficcia com o adulto, pois a cano tonal um recurso didtico extremamente rico que possibilita trabalhar vrios parmetros musicais com qualquer faixa etria.

Sabe-se que estudar msica requer muita disciplina, determinao e persistncia, porm, se ao incio de tudo, se constri uma base bem estruturada, tendo na musicalizao o ponto de partida, as dificuldades naturais que surgiro nas prximas etapas, certamente sero superadas com mais facilidade. Assim, lacunas to comuns observadas na formao de muitos musicistas que poderiam ter sido preenchidas com um processo de musicalizao bem estruturado, poderiam ser evitadas.

Em sntese, pode-se ampliar a concluso dessa pesquisa inferindo que a metodologia tradicional utilizada para a iniciao musical dos adultos, na maioria das vezes, sem um prvio processo de musicalizao, alm de lhes provocar certo desconforto para aprender, ainda contribui para uma errnea concluso de que no existe uma forma mais motivadora de iniciao musical. Com os adultos que vivenciaram essa experincia, o que ficou bem explcito, foi uma elevao da auto-estima por se sentirem aptos a aprender o que era proposto de forma simples, mesmo tendo eles que superarem suas inseguranas ao longo do processo.

39

Portanto, o que se sugere ao trmino dessa pesquisa que se priorize tambm o processo de musicalizao na fase adulta, da mesma forma que na fase infantil, obviamente com suas devidas adaptaes. Porm, tendo os jogos como facilitadores da abordagem dos contedos e no ldico o suporte eficaz para proporcionar a essa faixa etria uma alfabetizao musical diferente do que tem sido at hoje, muitas vezes, desestimulante. O adulto tambm merecedor de uma educao musical abrangente e quem sabe, porventura, em conformidade com que justo.

Que fique a reflexo: Em se tratando de aprendizagem, alunos, so sempre alunos: Sem rtulos.

40

REFERNCIAS:AMORIN, Zita Alves de e VITA, Luis Washington. Introduo Pedagogia Musical: So Paulo: Ricordi, 1956. BARRETO, Sidirley Jesus; BECKER, Leonita. REVISTA Recrearte n. 03. A Importncia da Musicoterapia na Reduo do Estresse Escolar. Arquivo capturado em 01 de Setembro de 2006. COMINI, Doalcei Jos Bencio. As aulas de musicalizao e suas aplicaes no processo de ensino - aprendizagem de um instrumento musical. Monografia submetida ao curso de Licenciatura em Msica da Universidade do Estado de Minas Gerais, 2005. FONSECA, Maria Betnia Parizzi e GUIA, Rosa Lcia dos Mares. Apostila de Atividades para o Curso de Formao de Professores em Educao Musical, promovido pelo Ncleo Villa-Lobos de Educao Musical; Material no publicado, 1993 2003. GAINZA, Violeta Hemsy. Estudos de Psicopedagogia Musical. Sammus Editorial, So Paulo, 1982. HOWARD, Walter. A Msica e a Criana; Sammus Editorarial, 1963. HOUAISS, Instituto Antnio. Dicionrio da Lngua Portuguesa. Editora Objetiva Ltda. Rio de Janeiro, 2001. KATER, Carlos. Educao Musical: Cadernos de Estudo nmero 06. Belo Horizonte: Atravez Escola de Msica: Federal/SEA/Fapemig, 1997. KEMP, Anthony. Introduo investigao em Educao Musical: Ed. da fundao Calouste Gulbenkian: Lisboa, 1995. OLIVEIRA, Marta Kohl. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Arquivo capturado em 14 de Julho de 2006. PENNA, Maura L. Reavaliaes e Buscas em Musicalizao. Edies Loyola, So Paulo, Brasil, 1990. REVISTA Brasileira de Musicoterapia n. 02, 1996. Definio de Musicoterapia. Arquivo capturado em 01 de Setembro de 2006. SCHAFER, Murray. O Ouvido Pensante. Editora UNESP, So Paulo, 1991. WIKIPEDIA, Enciclopdia. Cognio. Arquivo capturado em 17 de Julho de 2006. WILLEMS, Edgar. Las Bases Psicolgicas de La Educacion Musical. EUDEBA Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1956.