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4ª e 7ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA
DA COMARCA DE JEQUIÉ-BA
Rua Elizeu Mário de Jesus, nº 155, Bairro Campo do América, Jequié-BA 1 CEP 45.203-600 – (73) 3526-5661 / 3525-6346
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA
VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE JEQUIÉ-BA.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, pelos
Promotores de Justiça que a esta subscrevem, no uso das
atribuições previstas pelo artigo 129, III, da Constituição da
República, art. 5º, I, da Lei n. 7.347/85, Lei n. 8.429/92 e
pelos artigos 4º, 98, I, 201, V e VIII, e 208, VII, do
Estatuto da Criança e do Adolescente, e lastreados no
Procedimento Preparatório de Inquérito Civil nº
608.0.171305/2015, vem, à presença deste Juízo, mui
respeitosamente, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, C/C MEDIDA CAUTELAR DE
AFASTAMENTO, em face de:
TÂNIA DINIZ CORREIA LEITE DE BRITTO, brasileira,
divorciada, médica, RG 6.734.669-3 SSP/MG, CPF
124.227.115-53, exercendo o cargo de Prefeita do
Município de Jequié-BA, com endereço
profissional na Praça Duque de Caxias, s/n,
Jequiezinho, Jequié/BA; e
JOÃO MAGNO CHAVES, brasileiro, solteiro,
contador, RG 01928512-41 SSP/BA, CPF
125.372.255-20, exercendo o cargo de Secretário
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Municipal de Educação de Jequié-BA, com endereço
profissional na Praça da Bandeira, n.º 172,
Jequié-BA, pelos fundamentos de fato e de
direito que passa a expor:
DOS FATOS:
1 - Conforme Procedimento Preparatório de Inquérito
Civil n. 608.0.171305/2015, instaurado no âmbito da 7ª
Promotoria de Justiça da Comarca de Jequié-BA, 74(setenta e
quatro) turmas de alunos deste município permaneceram sem aula
até o dia 11 de agosto do corrente ano, e outras 03(três)
permaneceram sem aulas pelo menos até o dia 14/09/2015 (fls.
197/201), fato atribuído à inércia, negligência, falta de
eficiência dos gestores acionados;
1.1 – Das 74 turmas acima mencionadas, 38 estão na
zona rural e totalizam 482 alunos. As outras 36 turmas
prejudicadas estão da sede do município, e sequer a Secretaria
Municipal de Educação foi capaz de quantificar o número de
alunos prejudicados. O Conselho Municipal de Educação estima
que MAIS DE DOIS MIL ALUNOS TENHAM SIDO PREJUDICADOS pela
atitude irresponsável dos Acionados (fls. 193/194);
2 – Em 27/08/2015, compareceu à Promotoria de
Justiça a Sra. Lais Lania Nascimento Silva informando que seu
filho, a criança Mateus Silva Santos, matriculado na Escola
Municipal Curral Novo, estava sem aula até a referida data por
falta de professor, solicitando providências do Ministério
Público. Ou seja, conforme termo de declarações de fls. 03, o
ano letivo 2015 não havia sequer sido iniciado até então;
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3 – Como primeira diligência, foi expedido ofício
n. 177/2015 (fl. 06) ao Secretário Municipal de Educação
solicitando informações e justificativas a respeito do quanto
noticiado pela mãe de aluno. O Secretário, ora acionado, foi
questionado ainda se a mesma situação se estendia a outras
escolas e quantos alunos teriam sido prejudicados pela falta
de aulas;
3.1 – O Secretário informou então (fl. 07), em
09/09/2015, que as aulas teriam iniciado em 11 de agosto,
justificando o atraso da seguinte forma: “Como é de ciência
desta promotoria passamos por um processo seletivo em nosso
Município, o REDA, que foi resultado de um processo judicial e
que por questões de tramites burocrático (SIC), o ano letivo
para algumas turmas começou com atraso.” Deixou contudo de
informar se a situação se estendia a outras escolas e quantos
alunos estariam prejudicados;
4 - No mesmo dia, a Signatária realizou inspeção na
Escola Municipal do Curral Novo, tendo constatado, entre
outras coisas, a partir da entrevista com a Diretora da
escola, Sra. Jeires Freire Ribeiro, o seguinte:
1) após a apresentação dos professores aprovados
no último REDA, em 30/07/2015, todas as turmas
estavam em aula;
2) de fato, o ano letivo para sete turmas foi
iniciado com estagiários(as), e que para pelo
menos duas turmas as aulas só iniciaram após
30/07/2015;
3) está aguardando o envio do calendário de
reposição das aulas pela Secretaria de
Educação;
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4) o aluno MATEUS SILVA SANTOS está matriculado no
turno vespertino no projeto LER MAIS, uma das
turmas que ficou sem aula no primeiro semestre;
5) foi tentado o contato telefônico com a mãe de
MATEUS SILVA SANTOS para avisar sobre o início
das aulas, porém não tiveram êxito.(Relatório
de fls. 08/18).
4 – A partir de então, e tendo em vista a
declaração da Sra. Lais Lania Nascimento Silva no sentido de
que a mesma situação se estendia a outras escolas, passamos a
reiterar o ofício dirigido ao Secretário de Educação, ora
acionado, em busca de informações acerca de outras escolas e
alunos prejudicados pela falta de professor durante todo o
primeiro semestre de 2015, expedindo os Ofícios n. 193/2015,
202/2015 e 222/2015, fls. 19, 25 e 34, respectivamente;
4.1 – Como se vê no ofício acostado às fls. 37, da
lavra do Acionado, recebido apenas em 22/10/2015, o mesmo
limitou-se a responder que “o calendário de reposição ainda
não foi analisado pelo Conselho Municipal de Educação, assim
que obtivermos o parecer do referido conselho, encaminharemos
o calendário, juntamente com a relação de escolas e número de
alunos que o mesmo atenderá”, negando portanto ao Ministério
Público acesso a informações imprescindíveis para propositura
de ação civil pública, o que inclusive importa, em tese, no
crime capitulado no art. 10 da Lei n. 7.347/85, in verbis:
“Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3
(três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o
retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à
propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério
Público";
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5 – As mesmas informações foram então buscadas
junto ao Conselho Municipal de Educação, sendo estes
Signatários surpreendidos pelo fato de que os dados
solicitados foram informados pelo próprio Secretário ao
referido Conselho, restando clara a intenção de obstaculizar o
acesso do Ministério Público aos referidos dados e
consequentemente de ser responsabilizado pela sua inércia e
incompetência a frente do cargo;
5.1 – Mesmo quando ouvido na Promotoria de Justiça
(fls. 76/77), como se verá a seguir, o Secretário acionado
deixou de fornecer informações reiteradamente requisitadas
pelo Ministério Público;
6 - Conforme informações oriundas do Conselho
Municipal de Educação e documentos anexos (fls. 189/216):
A) 74 escolas foram atingidas pela falta de
professor derivada do atraso na realização do processo
seletivo;
B) mais de 482 alunos da zona rural permaneceram
fora de sala de aula até agosto do corrente ano em razão da
falta de professor. Ressalte-se que não foi informada a
quantidade de alunos prejudicados das últimas quatro escolas
relacionadas às fl. 198;
C) mais de 28 alunos permaneceram sem aula até
pelo menos 14/09/2015 (data da edição do documento de fl. 198,
que indica 05 turmas sem aula, porém só informa o quantitativo
de alunos referente a duas turmas);
D) até o presente momento não há calendário de
reposição de aulas, pois os acionados não disponibilizaram
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sequer espaço físico para reposição de algumas turmas;
E) até o presente momento, as aulas só estão sendo
repostas em 03 turmas, vez que por falta de professores
substitutos, de espaço físico, de alimentação escolar ou de
coordenador de núcleo, ainda não foi viabilizado o início do
turnão para reposição das aulas.
7 - Não bastasse, pelo Conselho Municipal de
Educação foi informado ainda que vem solicitando à Secretaria
Municipal de Educação informações pertinentes para a aprovação
do calendário de reposição (ofício enviado em 08/09/2015 e
reiterado em 16/10/2015, fls. 195/196), sem resposta até
então;
8 - O absurdo atraso para o início do ano letivo
nas escolas deste Município, como visto, é atribuído à
necessidade de contratação temporária de professores e ao
atraso na realização do processo seletivo, chamado de REDA;
8.1 - A contratação temporária de professores em
si, nos termos do art. 37, IX, da Constituição Federal não é o
problema, ao contrário, apresenta-se como solução para suprir
a necessidade do município em suprir vacâncias temporárias dos
cargos, como por exemplo, as decorrentes de licença
maternidade, licenças prêmios ou de ocupação de cargos
comissionados;
8.2 - Para tanto, numa gestão responsável, espera-
se um prévio e cuidadoso estudo acerca das necessidades a
serem supridas e a realização de processo seletivo com
antecedência suficiente para justamente evitar atrasos no
calendário estudantil;
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8.3 - Infelizmente, não é o que se verifica no
município de Jequié;
8.4 - Em 2014, conforme autos n. 0300795-
92.2014.8.05.0141, o Ministério Público ingressou com ação
civil pública contra o Município de Jequié justamente para
questionar a legalidade do processo seletivo realizado naquele
ano. As irregularidades do pleito, tais como subjetividade na
avaliação e excesso de contratação a título temporário, foram
reconhecidas de plano pelo então Magistrado, que inclusive
deferiu a suspensão do concurso de forma liminar, fls.
120/123;
8.5 - Diante do evidente prejuízo para o alunado, o
ilustre Magistrado, com aquiescência do Ministério Público, em
audiência realizada em 30/10/2014 (fls. 122/123), reviu a
decisão mencionada acima para permitir a recontratação dos
professores aprovados no REDA 2014 exclusivamente para
conclusão do ano letivo de 2014;
8.6 - Ressalte-se que, consoante inicial (fls.
100/119), decisão liminar naqueles autos (fl. 120/123),
revisão desta decisão (fls. 124/125), nenhum impedimento
judicial havia para realização de novo REDA para o ano de
2015;
8.7 - Assim, a justificativa oposta pela Prefeita e
Secretário acionados sequer explica, quiçá justifica, o
irresponsável atraso e demora na realização e conclusão da
contratação temporária de professores para 2015;
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8.8 – Conforme defesa escrita e oral da Sra.
Prefeita, o atraso na realização do REDA de 2015 se deu em
função do atraso do final do ano letivo 2014, que invadiu o
ano de 2015, e da autorização judicial para realização de novo
REDA em 2015 ter sido editada apenas em março do corrente ano.
8.8.1 – É fato que o atraso no término do ano
letivo 2014 resultou no atraso do início das aulas em 2015,
Contudo, conforme declarações do próprio Secretário (fl.
76/77), o ano letivo 2015 foi iniciado em 23/03/2015 para a
maioria dos alunos;
8.8.2 – No que se refere à autorização judicial
para realização de novo REDA, como dito acima, desde a
primeira decisão judicial nos autos da ação civil pública em
trâmite nesta mesma Vara, o ilustre Magistrado deixa clara a
possibilidade de realização de novo REDA. In verbis:
“(...) Até a data especificada no item 01 a
Administração poderá, caso entenda necessário,
realizar novo procedimento REDA unicamente para as
vagas especificadas no item anterior com seleção
simplificada através de prova ou prova e títulos,
vedada a existência de critério classificatório
subjetivo.” (grifo nosso)(fl. 123)
“(...) Em hipótese alguma os servidores
contratatados através deste REDA poderão iniciar o
ano letivo de 2015, salvo se aprovados em novo
processo seletivo.” (grifo nosso) (fl. 125)
“(...)Entretanto, já na primeira decisão foi
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autorizada a realização de novo REDA, observando-se
critérios objetivos.” (grifo nosso) (fl. 133)
8.8.3 - Não havia como ser diferente, eis que a
ação proposta impugnava um processo seletivo específico (REDA
2014) não podendo se estender a casos futuros.
Repetindo, na própria decisão de fls. 133/134, o
Juiz afirma: “Entretanto, já na primeira decisão foi
autorizada a realização de novo REDA, observando-se os
critérios objetivos”.
Diante disso, a decisão acima referida, proferida
em 11/03/2015, mais se aproxima de um “empurrão” para que os
gestores acionados não prejudicassem ainda mais o alunado, do
que de uma autorização propriamente dita.
Ressalte-se que o Município de Jequié representado
pela Prefeita acionada, naquela ação, em nenhum momento
requereu autorização para realização de novo REDA, ao
contrário, declarou que seria necessária e disse que o faria
(fls. 126/132), em petição protocolada em 02/03/2015. In
verbis: “Certamente é o que poderá ocorrer no ano de 2015,
pois com o fim da validade do REDA de 2014, necessário será
contratar professores para efetivar a substituição em comento,
sendo que a Secretaria Municipal de Educação, através de
apuração específica e detalhada da quantidade de profissionais
a serem substituídos, certificará o número de vagas a ser
estipulada no certame”.
Prova maior de que o Município não aguardava pela
decisão judicial para realizar novo REDA é o fato de que os
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parâmetros definidos na referida decisão NÃO foram seguidos.
Conforme decisão, o Município poderia disponibilizar apenas 20
vagas de cuidadores. Conforme edital, foram oferecidas 55
vagas de cuidadores (fl. 165). O documento de fls. 188/190,
extraído de outro inquérito civil em trâmite na 7ª Promotoria
de Justiça informa que foram nomeados 52 cuidadores.
8.9 - Conforme documentos de fls. 162/163, o edital
do referido processo seletivo apenas foi publicado em
15/05/2015, e o resultado homologado em 13/07/2015, o que
resultou no absurdo prejuízo para tantos alunos;
9 - Não bastasse o imenso atraso no início do ano
letivo, por mais um mês, diversos desses alunos já
prejudicados ficaram sem ir a escola em razão da paralisação
do transporte escolar;
9.1 - É que, consoante termos de declarações de
fls. 146/161, colhidos no âmbito de outros procedimentos
ministeriais (SIMP n. 608.0.76368/2013 e IC-PRM
1.14.008.000062/2015-95), que investigam as deficiências do
transporte escolar deste Município, o transporte escolar foi
interrompido em 25/09/2015 em razão da falta de pagamento dos
motoristas por três meses consecutivos. Tais motoristas estão
vinculados à empresa RIO UNA Transportes Ltda., contratada
pelo município de Jequié para execução do transporte escolar.
Conforme motoristas, a referida empresa estaria sem receber
pagamento do município de Jequié há quatro meses;
9.2 – Da mesma forma, o Município vinha atrasando o
pagamento dos estagiários, muitos dos quais atuam como
auxiliares de classe e, por vezes, substituem o professor em
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sala de aula (a Diretora da Escola do Curral Novo confirmou
que sete turmas iniciaram o ano letivo com estagiários). Tal
fato foi confirmado pelo Secretário Municipal de Administração
(fl. 138) e pelo CIEE (fls. 141/142), entidade responsável
pela intermediação da contratação dos estagiários;
9.3 - Vê-se assim que o descaso dos gestores
acionados com a educação ultrapassa a questão acerca da
contratação de professores;
10 - Despiciendo afirmar o enorme prejuízo causado
à vida de mais desses alunos que permaneceram sem aulas por
mais de cinco meses e que, novamente amargaram o cerceamento
do direito à educação pela falta do transporte escolar;
10.1 - O retardamento no início das aulas
certamente acarretou a evasão escolar para diversos dos
alunos, que, desestimulados, acabam por desistir no ano
letivo, muitas das vezes, iniciando-se em algum trabalho;
10.2 - Ademais, como se pode constatar na relação
de fls. 199/201, diversas das turmas prejudicadas, senão a
maioria delas, são multisseriadas, o que, por si só, salvo
melhor juízo, já representa significativa perda para os
alunos, e ainda sediadas na zona rural do Município, ou seja,
dependentes do transporte escolar, restando, pois, triplamente
prejudicados;
10.3 - Não se pode perder de vista que ainda que
seja viabilizado calendário de reposição dos dias (ou horas)
letivos, este jamais terá o condão de efetivamente compensar o
atraso, haja vista a tamanha carga horária a ser reposta.
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Conforme tabelas propostas pela municipalidade (fls. 93 e 95)
por diversos dias os alunos teriam aulas durante todo o dia,
não havendo como afirmar que a aquisição de conteúdo será
garantida da mesma forma que nas condições normais e esperadas
num ano letivo;
10.4 – Ressalte-se que, conforme Conselho Municipal
de Educação, a reposição somente está sendo viabilizada em
três turmas. Sendo assim, em verdade, o ano letivo está
inviabilizado para todos os demais alunos, tendo em vista que
não há mais tempo hábil para reposição!;
11 - Outrossim, a extensão das aulas para dois
turnos e para além do período que deveria ser de férias
acarretará necessariamente em maior dispensação de merenda
escolar e na prorrogação do transporte escolar, o que
implicará, por óbvio, em maior gasto de dinheiro público. Ou
seja, a atitude ineficiente e irresponsável dos Acionados, não
bastasse ofender o direito à educação de expressiva parte do
alunado jequieense, ainda acarretará prejuízo ao erário!;
12 – A oitiva dos Acionados (fls. 40/41 e 76/77) na
Promotoria de Justiça evidenciou o verdadeiro caos criado
pelos mesmos. Os acionados continuaram a sonegar informações
ao Ministério Público, declarando desconhecer a extensão do
problema, deixando, mais uma vez, de quantificar escolas e
alunos prejudicados pela irresponsabilidade dessa
Administração e de esclarecer como se dará (ou daria) a
reposição das aulas;
Outra não pode ser a conclusão, visto que à
Prefeita não é dado o direito de desconhecer e permanecer
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alheia a problema de tamanha extensão, como se fosse possível
a delegação total de sua resolução para o Secretário da pasta.
Idem em relação ao Acionado que afirma desconhecer
até mesmo as informações encaminhadas por ele próprio para o
Conselho Municipal de Educação: não sabe informar a quantidade
de escolas e alunos atingidos pela falta de professor; não
sabe que ainda existem alunos sem aula; não sabe que a
reposição de aulas não foi iniciada para a maioria dos alunos;
não sabe como se dará a reposição das aulas (a informação de
que o aluno da zona rural, dependente do transporte escolar,
irá almoçar em casa e voltar para aula à tarde é irreal);
13 - É induvidoso, destarte, que os acionados
violaram princípios da Administração Pública e incidiram, às
escâncaras, em atos de improbidade administrativa, previstos
na Lei n.º 8.429/1992;
14 – Mais do que isso, a falta de cuidado dos
acionados com a educação da parcela mais carente da sociedade
de Jequié gera sentimento de indignação e descrédito de alunos
e pais com o sistema público de ensino, restando evidenciada,
ainda, a existência de dano moral coletivo, que deve ser
reparado por meio da fixação de indenização em valor que
desestimule esse tipo de conduta dos gestores públicos do
Município.
DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:
15 - Segundo José dos Santos Carvalho Filho1, a par
do poderes de que goza, o administrador público está sujeito a
1 Manual de Direito Administrativo, 11ª ed., Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2005, pp. 52 a 55.
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três deveres principais: o dever de probidade, talvez o mais
importante, a partir do qual a sua “atuação deve, em qualquer
hipótese, pautar-se pelos princípios da honestidade e
moralidade, quer em face dos administrados, quer em face da
própria administração”; o dever de prestar contas,
consequência natural do encargo de gerir bens e interesses da
coletividade; e o dever de eficiência, significando que o
administrador deve tornar mais qualitativa a atividade
administrativa.
16 - Tal é a importância sobretudo do primeiro
dever (de probidade) que a Constituição da República, no art.
37, § 4º, estabeleceu severas punições a serem aplicadas a
quem o viola. Conferindo densidade semântica ao referido
dispositivo constitucional, a Lei n.º 8.429/92 (Lei de
Improbidade Administrativa) produziu uma verdadeira revolução,
ao disciplinar os atos de improbidade administrativa e as
respectivas sanções.
17 - De acordo com a lei citada, são três as
modalidades de atos de improbidade administrativa, numa
distribuição topográfica dos mais para os menos graves, a
saber: os atos que geram enriquecimento ilícito (art. 9º); os
atos que causam prejuízo ao erário (art. 10); e os atos que
atentam contra os princípios da administração pública (art.
11).
18 - Deitando vistas sobre a previsão legal dos
atos de improbidade, não é difícil concluir que as condutas
praticadas pelos acionados se enquadram perfeitamente ao
quanto disposto no art. 11, caput e incisos II e IV, da Lei de
Improbidade Administrativa, por violar frontalmente princípios
administrativos.
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19 - O mencionado art. 11 da Lei de Improbidade
Administrativa contém o seguinte enunciado:
“Art. 11 - Constitui ato de improbidade
administrativa qualquer ação ou omissão que viole
os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade e lealdade às instituições, e
notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou
regulamento ou diverso daquele previsto, na regra
de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem
ciência em razão das atribuições e que deva
permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso público;
VI - deixar de prestar contas quando esteja
obrigado a fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao
conhecimento de terceiro, antes da respectiva
divulgação oficial, teor de medida política ou
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria,
bem ou serviço”.
20 - Assim como ocorre com as modalidades previstas
nos arts. 9º e 10, o legislador utilizou-se, no caput do
referido artigo, de previsão genérica, exemplificando algumas
condutas violadoras nos respectivos incisos. Basta,
entretanto, a adequação da conduta ao caput para a
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configuração de ato violador de princípios, sem necessidade de
se demonstrar a sua incidência em qualquer das modalidades
exemplificativas dispostas no incisos.
21 - Neste sentido, convém colacionar o ensinamento
do emérito Carlos Frederico Brito dos Santos, ao comentar o
art. 9º da LIA (que foi escrito com a mesma técnica
legislativa dos arts. 10 e 11, aos quais tem a mesma
aplicação), in verbis:
“Como podemos perceber pela redação do caput, os
incisos são meramente exemplificativos e dispensam
maiores comentários, bastando, para a
caracterização do ato de improbidade administrativa
que importa em enriquecimento ilícito, a subsunção
de qualquer fato à norma descrita no caput do art.
9º, pouco importando que não encontre encaixe em
qualquer dos doze incisos ali elencados”2.
22 - Não há dúvidas de que os acionados
descumpriram os deveres inerentes ao administrador público
probo, o qual deve respeitar as normas jurídicas, ser justo,
ético, imparcial e leal.
23 - Como trazido na descrição fática, os
demandados descumpriram o princípio da legalidade (art. 5º,
II, combinado com o art. 37, caput, da Constituição da
República), o princípio da eficiência (art. 37, caput, da
Constituição da República), o princípio da publicidade (art.
37, caput, da Constituição da República) e o princípio da
moralidade (art. 37, caput, da Constituição da República).
2 Improbidade Administrativa: reflexões sobre a Lei n.º 8.429/92. 2ª ed., Rio de Janeiro : Forense, 2007, p. 49.
4ª e 7ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA
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24 - O primeiro princípio citado apresenta uma
configuração bastante peculiar no que se refere à
administração pública, na medida em que, se ao particular é
permitido fazer tudo aquilo que a lei não lhe proíbe, o
administrador público só pode fazer aquilo que lhe for
expressamente permitido. Como ensina Celso Antonio Bandeira de
Mello:
“Assim, o princípio da legalidade é o
da completa submissão da Administração às leis.
Esta deve tão-somente obedecê-las, cumpri-las, pô-
las em prática. Daí que a atividade de todos os
seus agentes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto
é, o Presidente da República, até o mais modesto
dos servidores, só pode ser a de dóceis,
reverentes, obsequiosos cumpridores das disposições
gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é
a posição que lhes compete no direito brasileiro”3.
24.1 - Os acionados violaram flagrantemente o
referido princípio, quando deixaram de adequar o calendário
escolar às peculiaridades escolares e ao não observarem o
dever de disponibilizar, a todos os alunos municipais, os 200
(duzentos) dias letivos.
24.2 – Com efeito, o art. 24, I, da Lei n.º
9.395/1996 estabelece que a educação básica, nos níveis
fundamental e médio, será organizada com a carga horária
mínima de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de 200
(duzentos) dias de efetivo trabalho escolar, in verbis:
3 Curso de Direito Administrativo. 11ª ed., São Paulo : Malheiros, 1999, p. 59/60.
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Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental
e médio, será organizada de acordo com as seguintes
regras comuns:
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias
de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo
reservado aos exames finais, quando houver;
24.3 - Tal dispositivo deve ser interpretado em
conjunto com o disposto no art. 23, § 2º, da referida Lei, que
estabelece que o calendário escolar deve se adequar às
peculiaridades locais, sem prejuízo do número de horas letivas
previsto naquele corpo normativo:
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em
séries anuais, períodos semestrais, ciclos,
alternância regular de períodos de estudos, grupos
não-seriados, com base na idade, na competência e
em outros critérios, ou por forma diversa de
organização, sempre que o interesse do processo de
aprendizagem assim o recomendar.
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos,
inclusive quando se tratar de transferências entre
estabelecimentos situados no País e no exterior,
tendo como base as normas curriculares gerais.
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às
peculiaridades locais, inclusive climáticas e
econômicas, a critério do respectivo sistema de
ensino, sem com isso reduzir o número de horas
letivas previsto nesta Lei.
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24.4 – Como averbado na descrição fática, o descaso
dos acionados com a educação pública municipal acarretou
prejuízo irremediável para centenas de alunos, cujo ano letivo
está praticamente inviabilizado, a menos de dois meses do
final deste ano, sequer existindo calendário aprovado para o
cumprimento da carga horária prevista em lei.
25 – O princípio da eficiência, como fartamente
demonstrado, foi fustigado pelos demandados, justamente em uma
das principais, senão a principal, tarefa que é incumbida ao
Estado, a de disponibilizar educação gratuita, universal e de
qualidade.
25.1 – Embora aleguem que o atraso no ano letivo se
deu por conta da impugnação do Processo Seletivo para
Contratação por Regime Especial de Direito Administrativo, do
ano de 2014, o que se verifica é que, em verdade, tal situação
se deve única e exclusivamente à flagrante desorganização
administrativa vivenciada neste Município.
25.2 – Como já adiantado, o Juízo de Direito desta
2ª Vara Cível e Comercial da Comarca de Jequié já vinha
alertando, em suas sucessivas decisões proferidas no bojo dos
autos da Ação Civil Pública n.º 0300795-92.2014.8.05.0141, que
a suspensão daquele procedimento seletivo em nada impedia a
realização de novo procedimento para o ano letivo de 2015.
25.3 – Cabia aos acionados, Prefeita e Secretário
Municipal de Educação, a adoção de todas as medidas
necessárias, com a devida antecedência, para garantir o
funcionamento adequado do serviço público de educação.
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25.4 – Além disso, iniciado o processo seletivo
para contratação temporária, no mês de março de 2015, seleção
essa que se presume ter maior agilidade do que um concurso
público para provimento de cargo efetivo, os acionados somente
conseguiram disponibilizar professores para início das aulas
no mês de agosto, atraso esse, de igual forma, inaceitável.
25.5 – Deve-se observar que os acionados vêm se
aproveitando da desorganização administrativa para justificar
a má prestação do serviço municipal de educação, ou seja,
beneficiando-se da própria torpeza, sendo que, mesmo estando
no final do ano letivo, ainda não existe sequer calendário
aprovado para o cumprimento da carga horária, como consignado
alhures. Caso aprovada pelo Conselho Municipal de Educação, a
proposta da Secretaria Municipal de Educação, sequer haverá
salas para a realização das aulas, a carga horária diária
ultrapassará a ideal para aprendizado e haverá (como inclusive
foi reconhecido pelo Acionado quando ouvido na Promotoria de
Justiça), presume-se, maiores gastos públicos com transporte
escolar e com alimentação.
26 – Os acionados, ainda, negaram publicidade aos
atos de ofício. Além de o acionado não responder aos
questionamentos feitos pelo Ministério Público por ofícios que
lhe foram dirigidos, ao serem ouvidos, ambos continuaram a
sonegar informações ao Ministério Público, declarando
desconhecer a extensão do problema e deixando, mais uma vez,
de quantificar escolas e alunos prejudicados pela
irresponsabilidade dessa Administração e de esclarecer como se
dará (ou daria) a reposição das aulas.
26.1 – Sabe-se que um dos princípios mais
importantes da administração pública é o da publicidade, pois
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é o que permite o controle social dos atos da Administração,
como doutrina José dos Santos Carvalho Filho:
“O último princípio mencionado na Constituição é o
da publicidade. Indica que os atos da Administração
devem merecer a mais ampla divulgação possível
entre os administrados, e isso porque constitui
fundamento do princípio propiciar-lhes a
possibilidade de controlar a legitimidade da
conduta dos agentes administrativos. Só com a
transparência dessa conduta é que poderão os
indivíduos aquilatar a legalidade ou não dos atos e
o grau de eficiência que se revestem.”4
26.2 – É de se ver que a negativa de informações
claras e precisas ao Ministério Público, além de dificultar a
resolução do problema criado pela grave omissão dos acionados,
evidencia o dolo com que ambos vêm agindo, restando claro o
interesse de menoscabar os direitos educacionais de centenas
de estudantes da educação básica.
27 - Os acionados faltaram, ainda, com o dever de
lealdade, abrangido pelo princípio da moralidade, ao Município
de Jequié, ao não observarem o que era melhor para os
administrados e ao deixar de tomar as medidas administrativas
corretas para o bom funcionamento da máquina pública.
27.1 - Ao se referir a tal dever, o doutrinador
Emerson Garcia obtempera:
“O dever de lealdade em muito se aproxima da
4 Manual de Direito Administrativo, 12ª ed., Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2005, pp. 18/19.
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concepção de boa-fé, indicando a obrigação de o
agente: a) trilhar os caminhos traçados pela norma
para a consecução do interesse público e b)
permanecer ao lado da administração em todas as
intempéries.”5 Mais adiante, citando Pedro T.
Nevado-Batalha Moreno, complementa que “o dever de
lealdade abrange: o dever de neutralidade e
independência política no desenvolvimento do
trabalho; o respeito à dignidade da administração;
o respeito ao princípio da igualdade e da não
discriminação; e o respeito aos particulares no
exercício de seus direitos e liberdades públicas”6.
27.2 – Ora, em vez de adotar todas as providências
para garantir as aulas a todos os alunos no ano letivo de
2015, os acionados se omitiram gravemente e, ao serem ouvidos
na Promotoria de Justiça, alegaram desconhecimento da situação
e demonstraram apatia na resolução dos problemas existentes,
os quais tentaram escamotear do Ministério Público.
28. Os elementos colhidos nos autos comprovam,
muito adequadamente, o descumprimento absolutamente doloso dos
princípios administrativos, incidindo os acionados,
firmemente, no ato de improbidade administrativa previsto no
art. 11, caput e seus incisos II e IV, da Lei n.º 8.429/1992.
28.1 – Importante ressaltar que, conforme
entendimento sedimento no Eg. Superior Tribunal de Justiça,
para configuração do ato de improbidade administrativa é
suficiente a presença do dolo genérico, consistente no pleno
5 ALVES, Rogério Pacheco e GARCIA, Emerson. Improbidade Administrativa, 2ª, Rio de Janeiro : Lumen
Juris, 2004, p. 291.
6 Loc.cit.
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conhecimento da ilegalidade e evidenciado pela omissão em
saná-la. A título de exemplo, transcreve-se ementa de acórdão
recente:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. FABRICAÇÃO DE MEDICAMENTOS
FITOTERÁPICOS SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL. ARTIGO 11 DA
LEI 8429/92. VIOLAÇÃO A PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS.
ELEMENTO SUBJETIVO. REVISÃO. REEXAME DE MATÉRIA
FÁTICO PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça
é no sentido de que não se pode confundir
improbidade com simples ilegalidade. A improbidade
é a ilegalidade tipificada e qualificada pelo
elemento subjetivo da conduta do agente. Assim,
para a tipificação das condutas descritas nos
artigos 9º e 11 da Lei 8.429/92 é indispensável,
para a caracterização de improbidade, que o agente
tenha agido dolosamente e, ao menos, culposamente,
nas hipóteses do artigo 10.
2. Os atos de improbidade administrativa descritos
no artigo 11 da Lei nº 8429/92 dependem da presença
do dolo genérico, mas dispensam a demonstração da
ocorrência de dano para a Administração Pública ou
enriquecimento ilícito do agente.
3. Na hipótese dos autos, verifica-se que a Corte a
quo, com base no conjunto fático e probatório
constante dos autos, reconheceu que a recorrente
atuou com dolo, ao consignar que "tendo o
conhecimento de que a empresa estava fabricando e
lançando no comércio medicamentos sem autorização,
devia cumprir o seu papel e interromper as
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atividades, o que não ocorreu no presente caso". A
reversão do entendimento exposto no acórdão exige,
necessariamente, o reexame de matéria fático-
probatória, o que é vedado em sede de recurso
especial, nos termos da Súmula 7/STJ.Agravo
regimental não provido.7
Na mesma esteira, o posicionamento reiterado do Eg.
Tribunal de Justiça do Estado da Bahia:
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. SENTENÇA
IMPROCEDENTE. INCONFORMISMO DO AUTOR. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. ART. 11, INCISO VI DA LEI 8.429/92.
EX GESTOR QUE TINHA A OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR O
SISTEMA DA SIOPS SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE
ORÇAMENTOS PÚBLICOS EM SAÚDE. MUNICÍPIO
IMPOSSIBILITADO DE REALIZAR CONVÊNIO COM O GOVERNO
ESTADUAL E FEDERAL. CONDIÇÃO DE INADIMPLENTE
PERANTE A SIOPS. ABERTURA DE INQUÉRITO CIVIL PARA
APURAÇÃO DA IRREGULARIDADE. NOTIFICAÇÃO DO APELADO.
DETERMINAÇÃO PARA ALIMENTAR O REFERIDO SISTEMA.
OBRIGAÇÃO REALIZADA PELO APELADO, APÓS QUASE DOIS
ANOS DO FIM DA SUA GESTÃO. CUMPRIMENTO APÓS
DETERMINAÇÃO PELO ORGÃO MINISTERIAL. DOLO GENÉRICO
CONFIGURADO. CONDENAÇÃO. ART. 12, INCISO III DA LEI
8.429/92. SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS. MULTA
CIVIL. PROIBIÇÃO DE CONTRATAR COM O PODER PÚBLICO
OU RECEBER INCENTIVOS FISCAIS. AUSÊNCIA DE PROVA DE
DANO AO ERÁRIO PÚBLICO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL
7 STJ - AgRg no REsp 1526589 / ES – Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141) - DJe
28/09/2015.
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(Apelação Cível n.º 0003292-82.2005.805.0137 -
Jacobina, Relatora Des.ª MARIA DA GRAÇA OSÓRIO
PIMENTEL LEAL, v.u., p. em 24.01.2014)
29. Por via de consequência, os acionados estão
sujeitos às sanções previstas no art. 12, III, da Lei de
Improbidade Administrativa:
Art. 12. Independentemente das sanções penais,
civis e administrativas previstas na legislação
específica, está o responsável pelo ato de
improbidade sujeito às seguintes cominações, que
podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de
acordo com a gravidade do fato: (Redação
dada pela Lei nº 12.120, de 2009).
(...)
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento
integral do dano, se houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de três a
cinco anos, pagamento de multa civil de até cem
vezes o valor da remuneração percebida pelo agente
e proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de três anos.
29.1 - A par das medidas punitivas, seguindo o
comando genérico contido no art. 273 do Código Civil, a Lei de
Improbidade Administrativa determina, no art. 5º, o integral
ressarcimento do dano, consoante o seguinte enunciado, in
verbis:“Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou
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omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á
o integral ressarcimento do dano”. A mesma amplitude foi
repetida nos incisos do citado art. 12, que se referem,
outrossim, ao “ressarcimento integral do dano”.
29.1.1 - Quando os citados dispositivos utilizam o
termo “dano”, deve-se entender que abrangem o dano moral, que
guarda pertinência com a noção de “lesão ao patrimônio
público”. Deveras, a noção de patrimônio público não se
restringe ao erário, abrangendo outros valores.
29.1.2 - Na precisa definição de José dos Santos
Carvalho Filho,
“o dano moral se caracteriza pela ofensa a padrões
éticos dos indivíduos, no caso em foco dos
indivíduos componentes dos grupos sociais
protegidos. Sendo assim, pode-se afirmar que não
apenas o indivíduo, isoladamente, é dotado de
determinado padrão ético. Os grupos sociais,
titulares de direitos transindividuais, também o
são”8.
29.1.3 – Como averbado alhures, a falta de cuidado
dos acionados com a educação pública do Município de Jequié,
gerando atraso injustificado no calendário escolar e
consequente inobservância do número mínimo de dias letivos,
acarreta sensação de descrédito em relação ao Poder Público e
de indignação. Ressalte-se que a ação ímproba dos acionados
fere a justa expectativa da população, em sua camada mais
necessitada, de ter uma transformação por meio da educação.
8 Ação Civil Pública. 6ª ed., Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2007, p. 14.
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29.1.4 - É de se alinhavar que nosso direito
positivo consagra, expressamente, a reparabilidade do dano
moral. Com efeito, além do citado art. 273 do Código Civil, o
art. 1º da Lei n.° 7.347/85, com redação atribuída pela Lei
n.° 8.884/1994, repetindo o que já era previsto pelo art. 6º,
VI, do Código de Defesa do Consumidor, faz referência expressa
à responsabilidade por dano moral nas demandas coletivas.
29.1.5 - Nestas ações, a obrigação de reparar o
dano moral, cujo valor incumbe à devida prudência do
Magistrado, cumpre, com muita propriedade, sua função
pedagógica, evitando-se novos agravos ao interesse público.
Colha-se, novamente, o escólio de José dos Santos Carvalho
Filho:
“Em nosso entender, as dificuldades na configuração
do dano moral quando há ofensa a interesses
coletivos e difusos devem ser cada vez mais
mitigadas, de forma a ser imposta a obrigação
indenizatória como verdadeiro fator de
exemplaridade e de respeito aos grupos sociais,
sabido que a ofensa à dignidade destes tem talvez
maior gravidade do que as agressões individuais.”9
29.1.6 - A Jurisprudência já começa a reconhecer a
reparabilidade do dano moral coletivo, como se pode verificar
no seguinte julgado, relativo ao direito do consumidor, mas
aplicável ao presente caso mutatis mutandis, oriundo do Eg.
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, in verbis:
9 Op.cit., pp. 14/15.
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EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MINISTÉRIO PÚBLICO -
LEGITIMIDADE - DIREITO DIFUSO - PROPAGANDA ENGANOSA
-VIAGENS PARA QUALQUER LUGAR DO PAÍS - DANO MORAL
COLETIVO. A propaganda enganosa, consistente na
falsa promessa a consumidores, de que teriam
direito de se hospedar em rede de hotéis durante
vários dias por ano, sem nada pagar, mediante a
única aquisição de título da empresa, legitima o
Ministério Público a propor a ação civil pública,
na defesa coletiva de direito difuso, para que a ré
seja condenada, em caráter pedagógico, a indenizar
pelo dano moral coletivo, valor a ser recolhido ao
Fundo de Defesa de Direitos Difusos, nos termos do
art. 13 da Lei nº 7.347/85. (Proc. n.°
1.0702.02.029297-6/001(1), Rel. Guilherme Luciano
Baeta Nunes, j. em 23.06.2006, p. em 01.08.2006,
v.u.)
29.1.7 - Destarte, requer, desde logo, sejam os
acionados condenados, solidariamente, ao pagamento de
indenização, no valor de R$100.000,00 (cem mil reais), pelo
dano moral coletivo causado por suas ações ímprobas, devendo o
valor relativo ser recolhido ao Fundo Estadual de que trata o
art. 13 da Lei n.° 7.347/85.
DA MEDIDA CAUTELAR DE AFASTAMENTO:
30 - A partir da descrição fática acima exposta,
não há dúvida de que a manutenção dos acionados no exercício
da função de Prefeita e Secretário Municipal de Educação é
totalmente inconveniente, constituindo sério risco ao
andamento do processo. Imprescindível é a adoção da medida
cautelar de afastamento, impedindo-os de exercer suas funções,
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de modo que os atos processuais possam ser praticados sem
percalços.
31 - A medida que se pleiteia é prevista
expressamente do art. 20, parágrafo único, da Lei n.º
8.429/92, que contém a seguinte dicção:
“Art. 20. A perda da função pública e a suspensão
dos direitos políticos só se efetivam com o
trânsito em julgado da sentença condenatória.
Parágrafo único. A autoridade judicial ou
administrativa competente poderá determinar o
afastamento do agente público do exercício do
cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
remuneração, quando a medida se fizer necessária à
instrução processual.”
32 - Os requisitos para a concessão da medida, o
fummus boni iuris e o periculum in mora, estão devidamente
presentes, como será demonstrado.
33 - Deveras, como fartamente demonstrado pela
documentação que acompanha esta inicial, os acionados vem
sonegando dados imprescindíveis à fiscalização dos atos
relacionados à educação pública do Município de Jequié,
colocando em risco a efetividade das medidas judiciais que
podem vir a ser adotadas na presente ação. Preenchido,
destarte, o fummus boni iuris.
34 - De outro giro, os acionados são, como diversas
vezes mencionado, Prefeita e Secretário Municipal de Educação,
tendo obviamente muita proximidade com e poder sobre os
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responsáveis pelas escolas públicas, podendo, inclusive,
intimidar testemunhas ou destruir documentos que constituam
prova para a presente ação judicial que se propõe. Preenchido
está o requisito do periculum in mora.
34.1 – Ressalta-se mais uma vez que os Acionados
tentaram obstaculizar a instrução do procedimento ministerial,
deixando de fornecer informações imprescindíveis à propositura
desta ação, evidenciando dessa forma o risco de também
dificultarem a instrução processual.
35 - Como ensina Rogério Pacheco Alves:
“Por intermédio do afastamento provisório do
agente, busca o legislador fornecer ao juiz um
importantíssimo instrumento com vistas à busca da
verdade real, garantindo a verossimilhança da
instrução processual de modo a evitar que a dolosa
atuação do agente, ameaçando testemunhas,
destruindo documentos, dificultando a realização de
perícias etc., deturpe ou dificulte a produção dos
elementos necessários à formação do convencimento
judicial”10.
36 - Assim sendo, preenchidos os requisitos legais
exigíveis para qualquer medida cautelar (fummus boni iuris e
periculum in mora), requer a decretação do afastamento dos
acionados, impedindo-os de exercer as funções de Prefeita e
Secretário Municipal de Educação até ulterior deliberação.
10 GARCIA, Emerson & ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa, 2ª ed., Rio de Janeiro :
Lumen Juris, 2004, p. 813.
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DOS PEDIDOS:
37 - Ante todo o exposto, requer o Ministério
Público:
a) seja decretado o afastamento cautelar dos
acionados, impedindo-os de exercer as funções de Prefeita e
Secretário Municipal de Educação enquanto durar o processo, na
forma do art. 20, parágrafo único, da Lei de Improbidade
Administrativa;
b) sejam notificados os acionados para, querendo,
oferecer manifestação escrita, na forma do art. 17, § 7º, da
Lei de Improbidade Administrativa;
c) seja recebida a inicial;
d) sejam citados os acionados para, assim
entendendo, apresentar suas respectivas respostas, no prazo
legal, sob a cominação dos efeitos materiais e processuais da
revelia;
e) seja notificado o Município de Jequié, para que
se viabilize a aplicação do quanto disposto no art. 17, § 3º,
da Lei de Improbidade Administrativa (redação dada pela Lei
n.º 9.366/96);
f) seja, ao final, julgado procedente o pedido,
para condenar os acionados pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no art. 11, caput, da Lei n.°
8.429/92, submetendo-os às sanções previstas no art. 12, III,
4ª e 7ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DA COMARCA DE JEQUIÉ-BA
Rua Elizeu Mário de Jesus, nº 155, Bairro Campo do América, Jequié-BA 32 CEP 45.203-600 – (73) 3526-5661 / 3525-6346
da referida Lei, a saber:
f1) o ressarcimento do dano moral coletivo
provocado pelos atos ímprobos praticados, solidariamente, no
valor de R$100.000,00 (cem mil reais);
f2) a perda da função pública;
f3) a suspensão dos direitos políticos de três a
cinco anos;
f4) o pagamento de multa civil de até cem vezes o
valor da remuneração percebida;
f5) a proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três
anos;
g) a condenação dos acionados no pagamento das
custas e dos demais ônus da sucumbência;
h) a dispensa do pagamento de custas processuais,
nos termos do art. 51, IV do Decreto Estadual n. 28.595/81.
Provará o alegado pelas provas admitidas em
Direito, em especial o depoimento pessoal dos demandados, a
documental, a testemunhal e a pericial.
Atribui à causa o valor de R$100.000,00 (cem mil
reais).
Pede deferimento.
Jequié, 17 de novembro de 2015.