50 anos em 05

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    50 anos em 0516 June 2013 at 22:13

    50 ANOS EM 05 FOTOS (e mais uma)

     

    Tá vendo essa imagem?

     

    É o Comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964. Eu tinha menos de dois

    anos. Sabe o que aconteceu depois? O Jango caiu e veio o Golpe.

     

    Tá vendo essa outra aqui?

     

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    É a Passeata dos 100 Mil em 26 de junho de 1968. Sabe o que veio em seguida?

    O AI-5. E deram aula de Moral e Cívica até a faculdade.

     

    Essa outra:

     

    é o Comício pelas Diretas Já em 16 de abril de 1984. Dizem que teve 1 milhão e

    meio de pessoas. Se você olhar com cuidado, ali perto daqueles carrões brancos

    no centro, mais pro lado direito, depois da árvore, sou eu. Conhece o fim? A

    emenda das diretas não passou, deu nó nas tripas do avô do Aécio e o presidente

    do Brasil foi o José Sarney.

     

    Em 1989: todo mundo cantando "Sem Medo de Ser Feliz" pra eleger o Lula

    metalúrgico.

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     Deu Collor.

     

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    Depois que o cortejo passou, e uma hora ele tem que passar, a poeira tomando

    assento, a gente foi dar de cara com uma planície a perder de vista. Chamava

    cotidiano (é nesse lugar, o mais horizontal que existe, que as consequências e os

    resultados - ou a ausência deles - aparecem). As forças contra as quais nos

    insurgíramos ainda continuavam todas a postos, cochichando assim, entre si, masalto o suficiente pra gente escutar: "a luta continua, companheiro". Essas forças

    existem - de verdade! não são uma invenção da Indústria Cultural - e vêm dando

    sustentação às mais profundas injustiças desde o Descobrimento. Coerentemente.

    Disseminadamente. Todo dia. Sem faltar um só. É o "lado da Força" que se

    organiza no mundo através de uma visão "vertical".

     

    Esse negócio de gigante adormecido que acordou, olhar essas fotos, veja bem: o

    tal do gigante tem um histórico de levantes considerável. Acontece que pro pessoal

    ir pra rua em peso precisa aglutinar energia, não é nem um pouco fácil. É, aliás,coisa rara. Aquilo que a Marina Silva explica naquele vídeo dela, que a

    organização é "horizontal", não tem novidade, todo movimento que atravessa a

    sociedade só pode atravessar horizontalmente, cada ponto de rede, por ser

    simétrico a todos os outros, conta. Demanda tempo. Não funciona por decreto.

    Não é vertical. Tem que disseminar. A Carta de Princípios que funda o MPL, por

    exemplo, está escrita desde janeiro de 2005. O Black Bloc surgiu na Alemanha dos

    anos 70. O Lula andou o Brasil por uns bons 10 anos antes de se eleger em 2002.

    O Alckmin está formatando a corporação não é de hoje. Essa figura de linguagem

    do "povo anestesiado em casa vivendo a vida pelos olhos da mídia", pensandobem, é elitista até o caroço.

     

    Os jovens, por sua vez, são mesmo "o sal da terra"? A "luz do sol que impede que

    a humanidade apodreça no bolor da mediocridade"? Os manifestantes "nos

    obrigam", mesmo, a olhar "para dentro das nossas próprias vidas" e, com isso,

    "descobrimos" (mesmo?) "que desaprendemos a sonhar"? Quer dizer que houve

    um tempo em que sabíamos todos sonhar? Quando? Quando éramos jovens? A

    passagem do tempo é, mesmo, assim devastadora? A juventude passa, o cortejo

    passa e o problema permanece? Por essa lógica, pra que lutar, então, se a gentevai acabar desistindo daqui a pouquinho?

    Será que a gente não está projetando imagens ideais demais sobre esses

    "jovens"? Será que a gente não está exagerando na retórica? Fantasiando com

    gigantes e heróis?

     

    Se a gente, pra sentir motivação de tirar o notebook do colo e colocar um lençol

    branco na janela, um gigante precisa levantar, não é caso de verificar o peso que a

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    bunda acumulou ao longo dos anos? Ou, que tamanho ela tinha originalmente pra

    ter ficado grande assim, tipo um gigante?

     

    A rapaziada se organizou (aos poucos), aglutinou forças (com sacrifício), saiu pra

    rua, tomou bomba, tiro e borrachada e isso é só o começo. Eles são mais umponto de uma trajetória que começou lá com os primeiros atos de resistência de

    índios, os primeiros levantes de escravos, cruzou mais de cem anos de República

    e segue em frente. De crise em crise, com um monte de cotidiano besta no meio.

    Neste exato instante, enquanto escrevo, as notícias não param de chegar e

    mostram que as negociações estão em andamento, fatos novos estão surgindo,

    novas configurações estão tomando forma. Nossas fantasias verbais e nossos

    lençóis brancos serão bem vindos e podem ajudar a impulsionar o movimento.

    Como refrões, como pregões, como gritos de guerra e acenos de incentivo. Não

    são úteis para que os velhos acertem contas com seus passados e nem servirãopara garantir o futuro. O Bussunda, humorista do meu tempo, que dizia que as

    pessoas precisam conjugar mais o verbo 'me fudi', também falava: - o futuro do

    pretérito a Deus pertenceria.