Upload
irajamenezes
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/17/2019 50 anos em 05
1/5
50 anos em 0516 June 2013 at 22:13
50 ANOS EM 05 FOTOS (e mais uma)
Tá vendo essa imagem?
É o Comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964. Eu tinha menos de dois
anos. Sabe o que aconteceu depois? O Jango caiu e veio o Golpe.
Tá vendo essa outra aqui?
8/17/2019 50 anos em 05
2/5
É a Passeata dos 100 Mil em 26 de junho de 1968. Sabe o que veio em seguida?
O AI-5. E deram aula de Moral e Cívica até a faculdade.
Essa outra:
é o Comício pelas Diretas Já em 16 de abril de 1984. Dizem que teve 1 milhão e
meio de pessoas. Se você olhar com cuidado, ali perto daqueles carrões brancos
no centro, mais pro lado direito, depois da árvore, sou eu. Conhece o fim? A
emenda das diretas não passou, deu nó nas tripas do avô do Aécio e o presidente
do Brasil foi o José Sarney.
Em 1989: todo mundo cantando "Sem Medo de Ser Feliz" pra eleger o Lula
metalúrgico.
8/17/2019 50 anos em 05
3/5
Deu Collor.
8/17/2019 50 anos em 05
4/5
Depois que o cortejo passou, e uma hora ele tem que passar, a poeira tomando
assento, a gente foi dar de cara com uma planície a perder de vista. Chamava
cotidiano (é nesse lugar, o mais horizontal que existe, que as consequências e os
resultados - ou a ausência deles - aparecem). As forças contra as quais nos
insurgíramos ainda continuavam todas a postos, cochichando assim, entre si, masalto o suficiente pra gente escutar: "a luta continua, companheiro". Essas forças
existem - de verdade! não são uma invenção da Indústria Cultural - e vêm dando
sustentação às mais profundas injustiças desde o Descobrimento. Coerentemente.
Disseminadamente. Todo dia. Sem faltar um só. É o "lado da Força" que se
organiza no mundo através de uma visão "vertical".
Esse negócio de gigante adormecido que acordou, olhar essas fotos, veja bem: o
tal do gigante tem um histórico de levantes considerável. Acontece que pro pessoal
ir pra rua em peso precisa aglutinar energia, não é nem um pouco fácil. É, aliás,coisa rara. Aquilo que a Marina Silva explica naquele vídeo dela, que a
organização é "horizontal", não tem novidade, todo movimento que atravessa a
sociedade só pode atravessar horizontalmente, cada ponto de rede, por ser
simétrico a todos os outros, conta. Demanda tempo. Não funciona por decreto.
Não é vertical. Tem que disseminar. A Carta de Princípios que funda o MPL, por
exemplo, está escrita desde janeiro de 2005. O Black Bloc surgiu na Alemanha dos
anos 70. O Lula andou o Brasil por uns bons 10 anos antes de se eleger em 2002.
O Alckmin está formatando a corporação não é de hoje. Essa figura de linguagem
do "povo anestesiado em casa vivendo a vida pelos olhos da mídia", pensandobem, é elitista até o caroço.
Os jovens, por sua vez, são mesmo "o sal da terra"? A "luz do sol que impede que
a humanidade apodreça no bolor da mediocridade"? Os manifestantes "nos
obrigam", mesmo, a olhar "para dentro das nossas próprias vidas" e, com isso,
"descobrimos" (mesmo?) "que desaprendemos a sonhar"? Quer dizer que houve
um tempo em que sabíamos todos sonhar? Quando? Quando éramos jovens? A
passagem do tempo é, mesmo, assim devastadora? A juventude passa, o cortejo
passa e o problema permanece? Por essa lógica, pra que lutar, então, se a gentevai acabar desistindo daqui a pouquinho?
Será que a gente não está projetando imagens ideais demais sobre esses
"jovens"? Será que a gente não está exagerando na retórica? Fantasiando com
gigantes e heróis?
Se a gente, pra sentir motivação de tirar o notebook do colo e colocar um lençol
branco na janela, um gigante precisa levantar, não é caso de verificar o peso que a
8/17/2019 50 anos em 05
5/5
bunda acumulou ao longo dos anos? Ou, que tamanho ela tinha originalmente pra
ter ficado grande assim, tipo um gigante?
A rapaziada se organizou (aos poucos), aglutinou forças (com sacrifício), saiu pra
rua, tomou bomba, tiro e borrachada e isso é só o começo. Eles são mais umponto de uma trajetória que começou lá com os primeiros atos de resistência de
índios, os primeiros levantes de escravos, cruzou mais de cem anos de República
e segue em frente. De crise em crise, com um monte de cotidiano besta no meio.
Neste exato instante, enquanto escrevo, as notícias não param de chegar e
mostram que as negociações estão em andamento, fatos novos estão surgindo,
novas configurações estão tomando forma. Nossas fantasias verbais e nossos
lençóis brancos serão bem vindos e podem ajudar a impulsionar o movimento.
Como refrões, como pregões, como gritos de guerra e acenos de incentivo. Não
são úteis para que os velhos acertem contas com seus passados e nem servirãopara garantir o futuro. O Bussunda, humorista do meu tempo, que dizia que as
pessoas precisam conjugar mais o verbo 'me fudi', também falava: - o futuro do
pretérito a Deus pertenceria.