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    www.FilosofiaEsoterica.com

    Fabricando um AvatarComo a Sociedade de Adyar Organizou a Volta do Cristo

    Carlos Cardoso Aveline

    000000000000000000000000000000000000000000000000000000000O artigo Fabricando um Avatar foi publicado pela primeira

    vez na revista teosfica Fohat, do Canad, nas pginas 64 a 68da edio de outono de 2007 (primavera de 2007 no Brasil). Ottulo original The Making of an Avatar - examining Adyars

    attempt to fabricate the return of Christ. A presentetraduo publicada pelo website www.filosofiaesoterica.com.

    00000000000000000000000000000000000000000000000000000000000Ante-ontem noite foi-me dada umaviso geral das sociedades teosficas.

    Eu vi alguns poucos teosofistasconfiveis, em uma luta mortal

    com o mundo em geral e com outrosteosofistas, que eram nominalmente

    teosofistas, mas ambiciosos.[ H. P. Blavatsky, em uma carta para William Judge.Ver The Friendly Philosopher, Robert Crosbie,

    Theosophy Co., Los Angeles, 1945, pgina 389.]

    Um axioma mstico afirmaque o erro est condenado a imitar a verdade. Emconsequncia desta lei oculta, cada aprendiz deve enfrentar e vencer por mrito prprioum nmero quase infindvel de testes e provaes que se alimentam de aparnciasenganosas.

    Pelo mesmo motivo, a verdadeira Teosofia tem sido sempre rodeada por vrias formasbrilhantes, quando no espetaculares, de pseudo-teosofia. Um exemplo marcante destatendncia histrica ocorreu no sculo vinte com a criao de um culto teosfico em

    http://www.filosofiaesoterica.com/http://www.filosofiaesoterica.com/http://www.theosophycanada.com/http://www.theosophycanada.com/http://www.filosofiaesoterica.com/
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    torno do avatar Jiddu Krishnamurti (1895-1986). Mesmo agora o cultokrishnamurtiano ainda existe, embora atue de modo discreto ; e a sra. Radha Burnier presidente da Sociedade Teosfica de Adyar desde 1980 est entre os seus principaislderes.Krishnamurti tinha 14 anos de idade quando foi localizado em Adyar por umclarividente desidhisinferiores, C. W. Leadbeater. Naquela poca, Annie Besant eLeadbeater costumavam manter longas conversas imaginrias com algo a que chamavamde Senhor Cristo. Pouco depois da descoberta de Krishnamurti, o garoto foioficialmente apresentado ao mundo como sendo alto Iniciado e um futuro avatar oveculo ou instrumento para a volta do Messias.

    Em relao expectativa sobre uma volta de Cristo, H.P. Blavatsky escreveu no sculo19 palavras bastante claras:Duas coisas ficam evidentes para todos (....): (a) a vinda de Cristo significa a presenade CHRISTOS em um mundo regenerado, e no, de modo algum, a vinda literal ecorporal de Jesus Cristo ; e (b) este Cristo no deve ser buscado nos desertos, nemnas cmaras interiores, nem no santurio de qualquer templo ou igreja construda pelohomem; porque o Cristo o verdadeiro SALVADOR esotrico no homemalgum, mas o PRINCPIO DIVINO em cada ser humano. Aquele que tenta fazer aressurreio do Esprito crucificado em si mesmo por suas paixes terrestres, e enterradoprofundamente no sepulcro da sua carne pecaminosa; aquele que tem fora suficientepara fazer rolar de volta apedra da materialidadepara longe da porta do seu prpriosanturio interior, este conseguiu despertar Cristo em si mesmo. (Pois vocs so o

    templo do Deus vivo

    II Cor., 6: 16)[1]A abordagem de H.P.B. sobre as expectativas messinicas simples e profunda. oprincpio crstico da sabedoria divina que deve renascer, e no um Messias de carne eosso. Mas o pior cego aquele que no deseja ver. Os lderes da Sociedade Teosficade Adyar estavam to ocupados com a fabricao de um Avatar que no tinham tempopara levar em conta o que dizia a Teosofia autntica.Foi organizada, portanto, uma Igreja Catlica Liberal que deveria servir comoinstrumento para Krishnamurti, o Cristo. Ao lado dela, Ordem da Estrela seria a

    principal organizao do Messias. A Sociedade Teosfica e a Escola Esotrica de Adyarforam transformadas em instrumentos auxiliares do Advento. O catecismo do novo

    Mestre deveria ser o pequeno livro Aos Ps do Mestre, escrito por Leadbeater, masapresentado ao pblico em 1910 como sendo resultado das instrues dadas por umMestre de Sabedoria ao seu discpulo Krishnamurti. Supostamente, o garoto teria feitoanotaes dos ensinamentos do Mestre.

    Mary Lutyens, ntima amiga de Jiddu Krishnamurti e autora das suas principaisbiografias, relata que as supostas anotaes feitas por Krishnamurti desapareceram. Odetalhe significativo que os nicos originais disponveis eram os datilografados por C.

    W. Leadbeater. [2]

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    Krishnamurti esperou demasiado tempo para romper com a farsa. Ele finalmentenegou-se a continuar fazendo o papel de Cristo e afastou-se da Sociedade de AnnieBesant no final da dcada de 1920, quando j tinha mais de 30 anos de idade. Ele negouque fosse a autor de Aos Ps do Mestre e o livreto foi retirado da lista das suas obras.As atuais Fundaes Krishnamurti no o vendem. Mesmo assim, sua autoria ainda

    atribuda a Krishnamurti pelas editoras vinculadas Sociedade de Adyar.

    A verdade que a pequena obra no s est escrita no estilo de redao de Leadbeater,mas tambm repete um a um os seus graves erros conceituais sobre a filosofia teosfica.Desde a sua primeira edio, o livreto foi colocado em um lugar muito especial nachamada literatura promovida por Adyar. Milhares de leitores ainda acreditam naautenticidade do livro. Poucos conhecem o testemunho do ex-secretrio particular de C.W. Leadbeater e ex-secretrio internacional da Sociedade de Adyar, Ernest Wood. Emsua autobiografia, Wood conta a histria de Subrahmanyam, um jovem teosofista quemorou na sede internacional da Sociedade, na ndia. Subrahmanyam era um jovem

    lder influente, at que em 1910-1911 foi testemunha de uma conversa que mudoucompletamente o seu destino. Ele ouviu um dilogo muito direto entre JidduKrishnamurti e o seu pai. Quando perguntado sobre quem era o autor de Aos Ps do

    Mestre, Krishnamurti, ento com 15 anos, respondeu no idioma Telugu:O livro no meu. Eles que jogaram sobre mim a paternidade da obra.Subrahmanyam ficou profundamente surpreso. Ele logo relatou o dilogo a ErnestWood, de quem era amigo pessoal. Notcias ruins andam rpido, e assim que apresidente mundial Annie Besant foi informada do assunto ela convocou o jovem

    Subrahmanyam a seu gabinete.Besant afirmou a Subrahmanyam que era impossvel que Krishnamurti tivesse dito umatal coisa, e colocou-o diante de uma alternativa radical: ou ele faria um desmentidoimediato da conversa entre Krishnamurti e seu pai, ou seria sumariamente expulso dasede internacional da Sociedade, em Adyar, onde morava.Subrahmanyam no era hipcrita. No estava disposto a viver em um mundo defalsidades. Resistindo presso, ele no se retratou e foi obrigado a deixar Adyar. Eleretornou sua cidade natal, e Ernest Wood conta que morreu l pouco tempo depois,

    ainda pouco mais que uma criana. [3]Desde o seu lanamento, o famoso livreto Aos Ps do Mestre vinha sendo um best-seller, e tambm era visto como um fato espetacular em si mesmo. O seu sucesso deuimpulso ao surgimento da organizao messinica Ordem da Estrela no Oriente. Doponto de vista da sra. Besant, a criao de um novo Messias no poderia ser perturbadapor fatos como o dilogo testemunhado por Subrahmanyam. A prpria idia de que umgaroto de 14 ou 15 anos houvesse escrito um texto como aquele era descrito como umfenmeno extraordinrio. Parecia a muitos uma evidncia concreta de que Cristo havia,de fato, decidido voltar. Tudo o que as pessoas deviam fazer era acreditarna exibio

    brilhante de maravilhas imaginrias.

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    s custas da vitalidade do movimento teosfico e graas ao estmulo da expectativamessinica, a Ordem da Estrela crescia com rapidez no mundo todo. Ernest Woodescreve:

    Milhares de membros da Sociedade Teosfica se apressavam a entrar no novomovimento. Alguns, entre os quais eu, ficavam parte. Alguns poucos criticavam omovimento, com vrios argumentos. Um ou dois diziam que Krishnamurti no tinhaconhecimento suficiente de ingls para escrever as frases do livro. Eu concordavacompletamente com eles, mas explicava a mim mesmo esta dificuldade dizendo que oprlogo anunciava que Krishnamurti no havia escrito ele prprio a obra as palavraseram do Mestre. Havia ainda a dificuldade de que Krishnamurti no teria sabido montaras frases nem feito uma pontuao to boa. Ele tampouco teria sabido fazer aqueleprlogo, em minha opinio. Eu deixava estes problemas em suspenso. Ns podamosmuito bem esperar e ver se o Mestre viria. [4]

    Ernest Wood percebeu que o livro tinha um contedo demasiado simples e demasiadolimitado para ser motivo de tanto destaque e propaganda. Ele narra uma conversa queteve com C. W. Leadbeater:Expressei minha opinio. Era um livrinho agradvel, mas muito simples. Seriam asinstrues contidas nele suficientes para levar algum at o Caminho propriamentedito, at a Primeira Iniciao que a sra. Annie Besant havia descrito no livro dela? Sim,disse o sr. Leadbeater, e ainda mais, se aquelas instrues fossem completamente postasem prtica, elas levariam a pessoa at o prprio Adeptado.

    Leadbeater falava a Wood como se fosse um grande sbio. Vale a pena mencionar queas fantasias de auto-importncia eram to fortes em Adyar naquela fase da histria quealguns anos mais tarde, em 1925, Annie Besant anunciaria de modo solene um fatoextraordinariamente absurdo: C. W. Leadbeater, J. Krishnamurti, George Arundale, elaprpria e alguns outros haviam alcanado todos o Adeptado e eram agora Mestres eIniciados do quinto crculo. verdade que, devido ao seu carter evidentementefantasioso, nem todos levaram o anncio a srio e a pretenso caiu no esquecimento.[5]Ernest Wood prossegue a narrativa da sua conversa sobre Aos Ps do Mestre comCharles Leadbeater:Eu disse que havia duas ou trs coisas curiosas em relao ao manuscrito. O texto estavamuito escrito no estilo do prprio sr. Leadbeater, e at havia algumas frases exatamenteiguais ao livro dele que j havamos preparado para a grfica. Ele me disse que teria sidocapaz, realmente, de escrever ele mesmo aquele livro. Quanto s frases que mencionei,ele disse que ele normalmente estava presente quando Krishnamurti recebia as lies do

    Mestre no plano astral; ele lembrava daqueles pontos... [6]Leadbeater apresentou desculpas e explicaes para cada indcio de que o verdadeiroautor do livrinho era ele mesmo. Quanto a Annie Besant, ela certamente acompanhava o

    processo de perto, porque Ernest Wood informa que foi ela prpria quem decidiu pelottulo Aos Ps do Mestre. Naturalmente, quela idade, Krishnamurti no estava muitointeressado em livros ou em escrever. Tudo o que se esperava dele era que cumprisse o

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    papel aparente de um jovem Iniciado e futuro Messias. A sra. Jean Overton Fuller,teosofista inglesa e autora de uma biografia sobre Krishnamurti, relatou uma conversaque teve com Mary Lutyens:Falei com Mary Lutyens sobre isto. Ela tinha uma tendncia a pensar que o texto haviasido escrito, em uma parcela muito grande, por Leadbeater. [7]Algumas das principais evidncias sobre a autoria do livrinho esto no seu contedo. Apalavra Deus, por exemplo, usada grande nmero de vezes no texto. Pois Deustem um plano, diz o livreto. Se [algum] est ao lado de Deus, um dos nossos,insiste. [8] O livreto tambm afirma: Pois tu s Deus, e tu queres somente o que Deusquer. [9]

    No prlogo, que supostamente teria sido escrito por Krishnamurti, h esta frase:Estas palavras no so minhas; so do Mestre que me ensinou.Vale a pena, ento, examinar o que este mesmo Mestre de Sabedoria, que segundoLeadbeater ditou o livreto a Krishnamurti, ensinou de fato sobre Deus, em sua famosaCarta 88 de Cartas dos Mahatmas.

    O verdadeiro Mahatma escreveu:Nem a nossa filosofia, nem ns prprios, acreditamos em um Deus, e muito menos emum Deus cujo pronome necessita de uma inicial maiscula. [10] O Deus dos telogos simplesmente um poder imaginrio, un loup garou [um bicho-papo] ( ...). Nossa

    principal meta libertar a humanidade deste pesadelo, ensinar ao homem a virtude pelobem da virtude, e ensin-lo a caminhar pela vida confiando em si mesmo, ao invs dedepender de uma muleta teolgica que por eras incontveis foi a causa direta de quasetoda a misria humana. [11]O texto do livreto, supostamente ditado por um Mestre, afirma:

    Deves penetrar fundo dentro de ti mesmo para encontrar Deus dentro de ti e ouvir a Suavoz, que atua voz. (p. 20)Por outro lado, o verdadeiro Mestre ensina, em uma das suas Cartas:Um sentimento constante de dependncia abjeta de uma Divindade vista como a nicafonte de poder faz com que um homem perca toda autoconfiana e o impulso para aatividade e a iniciativa. Tendo comeado por criar um pai e um guia para si, ele se tornacomo um menino e permanece assim at a idade avanada, esperando ser conduzido pelamo tanto nos pequenos como nos grandes acontecimentos da vida. [12]Aos Ps do Mestre afirma:

    Deus tanto Sabedoria como Amor; e quanto mais sabedoria tiveres mais Ele poder semanifestar por teu intermdio. ( p.30)

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    Enquanto isso, na famosa Carta de Prayag, documento nmero 30 em Cartas dosMahatmas, vemos as seguintes palavras de um dos dois Mestres de Sabedoria queinspiraram diretamente a criao do movimento teosfico:A f em Deuses ou em Deus e outras supersties atraem milhes de influnciasalheias, entidades vivas e poderosos agentes para perto das pessoas, e nos veramosobrigados a usar algo mais do que o exerccio comum de poder para afast-los. Nsdecidimos no faz-lo. No consideramos necessrio nem proveitoso perder o nossotempo travando uma guerra com [ espritos - N.Trad.] planetrios atrasados que sedeliciam personificando deuses... [13]

    O Mestre explica, assim, que os Adeptos dificilmente podem chegar perto de pessoasque acreditam em supersties como Deuses e Deus. Como se explica um contrasteto profundo entre os dois pontos de vista?

    Na verdade, C. W. Leadbeater o mestre de Krishnamurti e verdadeiro autor do livreto havia fracassado em seu discipulado pouco depois de ser colocado em provao, nosanos 1880. Como consequncia disso, ele nunca foi admitido Escola Esotrica de H.P. Blavatsky, enquanto ela viveu.De fato, quando Leadbeater foi morar novamente em Londres depois de vrios anos nasia, H.P.B. tambm vivia em Londres. Porm, ao invs ter acesso Escola Esotricadirigida por H.P.B., Leadbeater ingressou no grupo interno do sr. Alfred Sinnett,conforme Sinnett revela em sua Autobiografia.[14]

    Naquele momento, as Cartas vindas dos Mestres haviam cessado. Como tantos outros,Alfred Sinnett falhara. Naquele momento, o grupo de Sinnett j era um duro adversriodo trabalho desenvolvido por H. P. Blavatsky. E foi no grupo de Sinnett que Leadbeaterdesenvolveu seus siddhis inferiores, durante sesses mesmricas e medinicas nas quaiseles falavam com falsos Mestres. Trs anos depois da morte de H.P.B., Annie Besantjuntou-se em 1894 quele mesmo grupo de pessoas iludidas. Talvez no seja porcoincidncia que, no mesmo ano, comeou a perseguio poltica contra William Judge,que era leal proposta original de trabalho de HPB. neste contexto de abandono das suas fontes originais e autnticas que a Sociedade

    Teosfica de Adyar adota, com Annie Besant, um discurso teolgico semelhante ao dosjesutas e do Vaticano. A crena ou no em Deus est ligada a uma questo tcnica eprtica de grande importncia para a filosofia esotrica. A crena em um Deus todo-poderoso assim como a adorao emocional de Mestres imaginrios mas de poderilimitado um ponto essencial na verso falsificada de discipulado que Annie Besante Charles Leadbeater criaram durante a sua tentativa messinica. Segundo eles, aautonomia individual deve ser deixada de lado por devoo. Nisso, como em outrosaspectos, eles pensavam como qualquer sacerdote cristo.

    Ponto por ponto, Aos Ps do Mestre contradiz a verdadeira Teosofia. O livreto

    afirma, por exemplo, que uma extrema limpeza fsica de grande importncia para oaprendizado espiritual. Besant e Leadbeater eram quase obsessivos em relao a isso.

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    Aos Ps do Mestre faz a seguinte recomendao para todos os aspirantes aodiscipulado:O corpo teu animal o cavalo sobre o qual montas. Portanto deves (.....) aliment-locorretamente, s com bebidas e alimentos puros, e mant-lo sempre minuciosamentelimpo, sem o menor resqucio de impureza. Pois sem um corpo perfeitamente limpo esaudvel, no podes realizar a rdua tarefa de preparao, nem podes suportar o seuincessante esforo. (pp. 22-23)Lembremos bem da recomendao de Aos Ps do Mestre em relao ao corpo fsico mant-lo sempre minuciosamente limpo enquanto examinamos o que os prpriosMestres escrevem a respeito da higiene no plano fsico. Nas Cartas dos Mahatmas,um Adepto explica ao sr. Sinnett:Os nossos melhores adeptos, os mais eruditos e os mais santos so das raas dostibetanos sebentos e dos Singhs do Punjab voc sabe que o leo proverbialmenteuma fera suja e agressiva, a despeito da sua fora e coragem. [15]A palavra Singh usada neste pargrafo um nome mstico e simblico usado pelomesmo Mahatma que escreve a carta. A identidade metafrica entre o Mestre e os leesvem do fato de que, em snscrito, a palavra Singh significa leo. A partir disso podemos concluir com segurana que os Mestres dos Himalaias so comfrequncia fisicamente sebentos e sujos. Os discpulos regulares deles s vezes atse recusam a usar roupas limpas, segundo o Mestre menciona na mesma carta. De fato,

    um dos seus discpulos recusou-se terminantemente a entregar uma mensagem paraAlfred Sinnett. A razo foi que H.P.B havia pedido a ele que se apresentasse com umaaparncia pessoal mais limpa, para no ofender os preconceitos ocidentais de Sinnettcontra pessoas sujas. O Mestre explica a Sinnett que o jovem discpulo no aceitavaa idia de atuar como os discpulos de seitas ilegtimas e rivais, que realmenterecomendam uma grande higiene fsica. (pp. 58-59)

    O episdio mostra que tanto os Mahatmas como os seus discpulos do escassa ateno limpeza ou sujeira fsica. Ele tambm demonstra que um verdadeiro Mestre preservainteiramente a autonomia de um discpulo, que portanto autorizado a manterseus

    prprios preconceitoscontra a higiene.Na mesma carta, alm de admitir o erro do seuchela, o Mestre tambm oferece um exemplo ocidental da santa resistncia contra alimpeza:

    Novamente preconceitos e letra morta. Durante mais de mil anos diz Michelet ossantos cristos nunca se lavaram! (p. 59)Qual ento a verdadeira razo algum pode perguntar para que Leadbeaterrecomende tamanha fobia mstica contra qualquer sujeira corporal? Em seu ensaioTotem e Tabu, Sigmund Freud nos oferece uma explicao psiquitrica. Esta fobia,

    diz o fundador da psicanlise, est ligada neurose compulsiva: O mais comum destesatos obsessivos lavar com gua (obsesso com gua). [16]

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    Na realidade, o discipulado ou a aprendizagem esotrica um processo interno que nos preserva mas aumenta a autonomia do aprendiz. E isso exatamente o oposto do quese pode encontrar em Aos Ps do Mestre e em outros tantos livros do perodo deAnnie Besant (1895-1933). O problema estaria limitado ao passado, se as iluses deBesant e Leadbeater j tivessem sido devidamente eslarecidas e descartadas.De acordo com a maior parte dos autores da Sociedade de Adyar, o candidato adiscpulo deve desenvolver uma obedincia automtica em relao ao suposto Mestre.Isso, dizem eles, deve ser feito por um sentimento de devoo. Na verdade, este

    apenas oprincpio da obedincia cegaque manda fazer tudo o que o Mestre quer. Aidia tem sido muito conveniente para os lderes de Adyar, que se colocam comointermedirios entre os seus Mestres imaginrios e o resto do movimento, e assimconcentram todo o poder em suas prprias mos.At o comeo da dcada de 1950, ordens diretas de supostos Mestres eram recebidas

    atravs dos lderes da Sociedade de Adyar e da sua escola esotrica. O sistema operouat o final da poca de C. Jinarajadasa. Formalmente, estas ordens cessaram a partirdo comeo da liderana de N. Sri Ram em 1953. Mesmo assim, o poder continuouconcentrado at hoje nas mos dos sucessivos presidentes internacionais e dirigentes daescola esotrica, os quais, segundo o costume iniciado por Besant, devem ser tratadoscomo Papas pelo resto dos membros da Sociedade de Adyar, e se comportam como sefossem representantes dos Mestres.Em Aos Ps do Mestre, como em outras obras que seguem a mesma linha depensamento, pode-se ver uma recomendao direta de automtica obedincia

    devocional e de renncia ao pensamento prprio:Quando te tornares um discpulo do Mestre, poders sempre pr a prova a verdade deteu pensamento colocando-o ao lado do Seu. Pois o discpulo uno com o seu Mestre, enecessita somente voltar seu pensamento para o do Mestre para ver imediatamente seambos esto de acordo. Se assim no for, o pensamento do discpulo est errado, e eledeve modific-lo instantaneamente, pois o pensamento do Mestre perfeito, porque Elesabe tudo. Aqueles que ainda no foram aceitos por ele no podem fazer issoperfeitamente; mas eles podem ajudar grandemente a si mesmos parando para pensar:O que pensaria o Mestre a este respeito? O que diria ou faria o Mestre nestas

    circunstncias? Pois nunca deves fazer, dizer ou pensar o que no possas imaginar oMestre fazendo, dizendo ou pensando. (pp. 35-37)As vrias premissas falsas presentes no trecho acima merecem um exame atento.* Primeiro, o texto supe que um discpulo capaz de entender plenamente aconscincia e os pensamentos do seu Mestre. Para que isso fosse verdade, seria precisoque no houvesse diferena nem em amplitude de horizonte mental, nem em carma entre um Mahatma e o pobre discpulo ignorante que est sendo treinado por ele.

    * Segundo, o texto supe que um discpulo deve imitar mecanicamente seu Mestre,tratando de copiar seus pensamentos, suas palavras e suas aes. Na realidade, devidoao fato de que o Mestre e o discpulo so dois seres diferentes, que possuem quantidades

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    radicalmente diferentes de sabedoria e vivem em situaes crmicas muito distantesuma da outra, os dois devem inevitavelmente pensar, falar, e agir de modos muitodiversos.* Em terceiro lugar, este suposto discpulo desiste totalmente de pensar por si mesmo, oude ser responsvel por sua prpria vida e suas aes. Ele se esconde atrs do queimagina que seriam os pensamentos do seu Mestre. Naturalmente, para tornar odiscipulado mais fcil, tais pensamentos dos Mestres sero transmitidos ao aprendizpelas autoridades de Adyar. Aqui temos a manipulao de poder.

    Na realidade, o aprendizado esotrico autntico ocorre em um nvel muito mais profundoe muito mais democrtico, tambm.

    verdade que os estudantes no podem comparar os seus pensamentos individuais comos pensamentos individuais de qualquer Mahatma. Por outro lado, eles podem facilmentecomparar a sua viso do discipulado com os ensinamentos gerais dos Mestres sobre omesmo tema, tal como eles esto corretamente registrados nas Cartas dos Mahatmas,nas Cartas dos Mestres de Sabedoria e em outras obras.Este estudo comparativo uma experincia reveladora, se no for revolucionria. O queos Mestres ensinaram de fato sobre discipulado absolutamente o oposto do que seafirma na obra Aos Ps do Mestre e em muitos outros livros mais recentes da literaturaesotrica em geral. J em 1882, os Mestres estavam combatendo diretamente aheresia da obedincia cega, que tambm pode ser chamada de princpio da preguiamental, algo que se alimenta da submisso mecnica, se no medinica, a um Mestre

    imaginrio. Um Adepto dos Himalaias escreveu:... Voc tem uma carta minha em que explicopor que ns nuncaguiamos nossos chelas(mesmo os mais avanados; nem os avisamos antecipadamente, mas deixamos que osefeitos produzidos pelas causas criadas por eles ensinem-lhes uma melhor experincia.Por favor, leve em conta aquela carta em especial. Antes que o ciclo termine, cadaconcepo errnea deveria ser eliminada. Eu confio e dependo de voc para esclarec-las inteiramente nas mentes dos membros de Prayag. [17]Este princpio pedaggico central, o princpio da autonomia do aprendiz, ensinado e

    mencionado por toda parte nos escritos de H.P.B. e dos Mestres. No volume Cartasdos Mestres de Sabedoria, por exemplo, podemos ler este apelo, feito por um Mahatmaa uma certa senhora de intenes altrustas:Voc est pronta para fazer sua parte no grande trabalho de filantropia? Voc ofereceu-se para a Cruz Vermelha; mas, Irm, existem doenas e feridas da alma que no podemser curadas pela arte de nenhum cirurgio. Ir auxiliar-nos a ensinar humanidade queos doentes-da-alma devem curar a si prprios? Sua ao ser a resposta. [18]A responsabilidade consciente do indivduo diante da Vida a condio bsica e

    fundamental para qualquer estudante de Teosofia, se ele quiser obter uma quantidaderazovel de xito em seus esforos. O mesmo se aplica aos discpulos leigos e aosaspirantes ao discipulado leigo.

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    Embora a tentativa messinica do sculo vinte promovida por Adyar tenha falhadocomo projeto, as suas falsas noes e o seu apego a iluses confortveis ainda intoxicammentes e coraes de teosofistas em todo o mundo. As tendncias mayvicas queresultam daquele momento histrico tambm influenciam a muitos que no pertencem Sociedade de Adyar. Mesmo agora, mais da metade das pessoas que se consideramteosofistas aceita indiretamente as mesmas iluses avatricas e clarividentes criadasnas primeiras trs dcadas do sculo 20. Isso no algo de importncia secundria parao movimento esotrico. O perigo de ser iludido uma das razes pelas quais o lema detodo verdadeiro teosofista deve ser, como H.P.B. escreve em sis Sem Vu Eu no aceito de modo automtico o ponto de vista de homem algum, esteja ele vivoou morto! [19]De algum modo, o movimento deve renovar amplamente a si mesmo para tomar ospassos necessrios e avanar em direo ao ano, aparentemente distante, de 2075.Felizmente, podemos confiar no fato de que os meios para esta auto-renovao surgirono tempo correto e da maneira adequada talvez invisveis, quase desapercebidos epouco a pouco; mas ainda assim to inevitavelmente quanto a chegada de um novo dia.

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    NOTAS:

    [1] The Esoteric Character of the Gospels, H.P.Blavatsky, em The CollectedWritings of Helena P. Blavatsky, TPH, Adyar, volume VIII, p. 173.[2] Vida e Morte de Krishnamurti, Mary Lutyens, Ed. Teosfica, Braslia, 1996, 296pp., ver p. 34, nota de rodap.[3] Is This Theosophy?, livro autobiogrfico de Ernest Wood, Londres, Rider & Co.,1936, Paternost House, E.C., reimpresso em edio facsimilar por Kessinger Publishing,

    LLC, MT, USA, 319 pp., ver p. 163.[4] Is This Theosophy?, pgina 162.[5] Vida e Morte de Krishnamurti, Mary Lutyens, Ed. Teosfica, Braslia, 1996, verpp. 85 a 88.[6] Is This Theosophy?, Ernest Wood, p. 161.[7] Krishnamurti and the Wind, de Jean Overton Fuller, The Theosophical PublishingHouse, London, 2003, 300 pp., ver p. 23.

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    [8] Aos Ps do Mestre, Editora Teosfica, Braslia, edio de bolso, 148 pp., 1999,ver pp. 16 e 17.[9] Aos Ps do Mestre, p. 20.[10] Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett,Editora Teosfica, Braslia, dois

    volumes, 2001, ver volume II, Carta 88, pp. 53-54.[11] Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett, Carta 88, p. 55.[12] Cartas dos Mestres de Sabedoria, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosfica,Braslia, 1996, ver a Carta 43 da primeira srie, pp. 103-104.[13] Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett, volume I, Carta 30, p. 166. Esta carta um documento de grande importncia para que se possa entender a posio da filosofiaesotrica sobre a questo de Deus.

    [14] Autobiography of Alfred Percy Sinnett, Theosophical History Centre, London,1986, 65 pp.[15] Cartas dos Mahatmas, volume I, Carta 5, p. 57.[16] Totem and Taboo - Resemblances Between the Psychic Lives of Savages andNeurotics, de Sigmund Freud, Dover Thrift Editions, Dover Publications, Inc.,Mineola, New York, USA, 1998, 138 pp., ver p. 25.

    [17] Cartas dos Mahatmas, Carta 95, volume II, p. 151.[18] Cartas dos Mestres de Sabedoria, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosfica,Braslia, 1996, ver a Carta 72 da segunda srie, p. 248. A edio brasileira comete umerro, corrigido aqui. A palavra certa Irm, e no Filha. O mestre chama de irm apessoa a quem a carta dirigida.

    [19] Isis Unveiled, H. P. Blavatsky, Theosophy Company, Los Angeles, vol. I, p. X.00000000000000000000Para saber mais sobre a revista canadense Fohat, que publicou o artigo acima emingls, visite o website www.theosophycanada.com .

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